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ANTECEDENTES
O Simbolismo surge no contexto finissecular de “mal-estar da cultura”, crise advinda dos
malefícios da Revolução Industrial e da descrença dos métodos de abordagem do real
através da razão e dos presupostos científicos e positivistas. Apreendendo o mundo como
fenômenos e sensações, vários desses autores aderem a uma perspectiva pessimista
comtemplativa e isolada, o chamado Decadentismo.O mundo físico e o espiritual se
relacionam, contudo a transcendência se dá no espaço terrestre. No dizer de Baudelaire, um
dos inspiradores, “a Natureza é um templo”. O poeta vidente é um desregrado, entregue às
forças do inconsciente, motivo pelo qual elege o símbolo como a imagem rica em nuances e
produtora de sensações ambíguas., de sentimentos vagos e imprecisos.
Em Portugal, o Simbolismo é balizado pelo Ultimatum inglês, que obriga os portugueses a
retirarem suas forças do Xire, na África, e pela crise financeira e econômica de 1890-1,
contribuindo para intensificar um sentimento de derrocada, de decadência nacional que já
estava no ar. Duas tendências espirituais opostas, mas ligadas entre si, reagem a esse
quadro. De um lado, uma reação irada dos intelectuais contra a dominação estrangeira,
propiciando um surto nacionalista que alia a renovação da Pátria pelos ideais republicanos à
valorização da terra e das tradições populares, que, inspirada em Garrett, persegue temas
como a terra, o povo, num estilo baseado no oral e no sentimentalismo saudosista.
Prolonga-se do século XIX, com António Nobre, Alberto de Oliveira e outros até o século
XX, num Teixeira de Pascoaes ou mesmo no nacionalismo mítico de Fernando Pessoa.
Diametralmente oposta, surge uma onda derrotista, de atitudes extremadas como o suicídio
de Antero de Quental em 1891, revelando a descrença nos ímpetos revolucionários,
presente no tédio mórbido de Mário Laranjeira ou no misticismo sebastianista de António
Nobre. A própria obra de Eça de Queirós, como se viu, retoma heróis mais positivos,
associados à alma do povo português, simples e forte, ao mesmo tempo em que refina sua
prosa com a descrição plástica da natureza, num esteticismo que lembra a prosa simbolista.
O mais autêntico poeta simbolista é Camilo Pessanha, que soube fazer da poesia um espaço
propício ao registro dos dolentes estados de alma, da melancolia tênue, da dor funda e sem
remédio, evitando o confessionalismo dos sentimentos. Cabe acrescentar, ainda, a poesia de
Cesário Verde, que busca um novo modelo poético – moderno, ocidental - em confronto
com a realidade de crise num Portugal decadente e enfraquecido.
ANTERO DE QUENTAL: mentor da Geração de 70, com as Odes Modernas instaura o
Realismo em Portugal através da polêmica Questão Coimbrã (1865) com Feliciano de
Castilho, que representava o Romantismoe acusava os novos escritores de falta de bom
senso e de bom gosto. Um dos organizadores das Conferências Democráticas do Cassino
Lisbonense (1871), cujo objetivo era divulgar os pressupostos realistas, Antero colocava
em choque o pensamento teórico de progresso material e científico baseado no socialismo
de Proudhon e a problemática conjuntura histórica portuguesa, de atraso e estagnação.
Críticos como António Lopes e José Saraiva dividem sua obra em três fases: a juvenil, em
que predominam poemas com traços românticos (Primaveras românticas, de 1872); a
panfletária das Odes modernas (1865), centradas nos temas da igualdade social e da
justiça, pura poesia de combate, revolta e iconoclastia; e a metafísica, em que os Sonetos
completos (1886) marcam o amadurecimento do poeta no mergulho no ensimesmamento,
na especulação metafísica, cujo idealismo beira o visionário, o onírico. Vê-se nos sonetos,
herdeiros tanto da dialética camoniana como da obsessão pela morte de Bocage, o conflito
insolúvel de quem busca a verdade na ciência e não encontra, tampouco encontra na fé, na
crença de um absoluto, resposta a sua ânsia mística; daí seu pessimismo que o conduz ao
nada e à morte com o suicídio.
O PALÁCIO DA VENTURA
Sonho que sou um cavaleiro andante.
Por desertos, por sóis, por noite escura,
Paladino do amor, busco anelante
O palácio encantado da ventura.
MODERNIDADE E VANGUARDAS
Se entendermos MODERNO como o que é novo e rompe instaurando uma nova tradição,
no início do século XX a obsessão pela ruptura cria uma espécie de TRADIÇÃO DA
RUPTURA, expressa nos mais variados ISMOS e MANIFESTOS que se sucedem, opõem-
se ou até acontecem simultaneamente. Isto surge num contexto de recrudescimento do
Capitalismo, quando grandes corporações buscam o monopólio de mercados, substituindo o
antigo colonialismo pela troca de matérias-primas das nações subdesenvolvidas pelos
produtos industrializados e pela tecnologia das potências, que criam um novo tipo – mais
forte – de dependência econômica. A crise que já vinha do fim do século passado acentua-
se com a Guerra de 14 e o Crack da Bolsa de Nova York em 1929. Com o aumento da
miséria e das desigualdades, o Capitalismo favorece a extinção de partidos moderados e o
surgimento dos partidos radicais que tentarão, cada qual a seu modo, seduzir as massas com
soluções extremadas, seja a promessa do estado forte, com o Fascismo, seja a promessa do
paraíso do proletariado, com o Comunismo. No quadro da cultura, este radicalismo é
alimentado pelas seqüelas do processo de automatização e especialização, que fizeram
nascer a obsessão da VELOCIDADE, das MUDANÇAS, o que afetará as modas. A
propaganda e o desejo insuflado de consumismo atingirão a própria arte, inserindo a
sensação de precoce envelhecimento de tudo.
O FUTURISMO (1909), criado por Marinetti, propunha a violência como forma de
superar o passado – “Queremos exaltar o movimento demasiado agressivo, a insônia febril,
a corrida, o salto perigoso, a bofetada, o soco” -, o que acabou por levar o autor a fazer a
apologia da guerra, considerada a “única higiene do mundo” e depois a aderir ao Fascismo
italiano. Defendia também a destruição de museus e bibliotecas, a seu ver símbolos
inequívocos do passado, erigindo novos símbolos estéticos, como o carro, o avião. Em
termos de linguagem, propôs a abolição da velha sintaxe e dos nexos, usando as palavras
em liberdade, valorizando o aspecto visual do texto contra a página tradicional (vários tipos
e cores, linhas em várias direções e formas), usando verbos no infinitivo e abolindo o
adjetivo e o advérbio e a pontuação, substituída por sinais matemáticos ou musicais.
Com a guerra, apesar dos esforços dos futuristas, surge o DADAÍSMO (1916) a partir do
vocábulo infantil DADA, que exprimia o primitivismo, o começar do zero nas artes. Contra
o bom-gosto, dirigiram um estado de espírito de NÁUSEA contra a mesmice da sociedade
e a destruição da guerra, propondo uma arte que usa o mau-gosto, em direção DO
ABSURDO, DO PRIMITIVO, DA REUTILIZAÇÃO DE OBJETOS DO COTIDIANO
para provocar o burguês entorpecido por uma civilização exausta. Dirige-se, assim, para um
niilismo, representado na poesia pelo poema fruto do mero acaso, ao utilizar colagens e
neologismos sem sentido, como meros gritos tribais ou ruídos. André Breton herda do
Dadaísmo a idéia de que o homem é viciado pela lógica, pelo racionalismo, que lhe
ditavam modos convencionais de conhecer a realidade, mutilando sua imaginação. Funda,
então, o SURREALISMO (1927), baseado na idéia freudiana de INCONSCIENTE, lugar
ideal para a libertação integral da imaginação. O princípio do “automatismo psíquico puro”
legou à modernidade a liberdade de criação artística, originando a escrita automática, a
aproximação inusitada de objetos, a desestruturação interna da coerência sintática, a
invenção de palavras ou de sentidos, revolucionários para a poesia. O movimento decai a
partir de 1949, enfraquecido pela Guerra de 39-45.