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Ai eu coitada!
Como vivo em gran desejo
Por meu amigo
Que tarda e non vejo!
Muito me tarda
O meu amigo na Guarda! (D.Sancho – século XII)
- O DESCONCERTO CAMONIANO
Os Lusíadas: sinfonia e réquiem de Portugal
E também as memórias gloriosas
Daqueles reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da morte libertando:
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte. (Canto I)
A Índia será, ou cuido que já o é, uma doença de Portugal. Queira Deus que
não mortal doença. (José Saramago – Que farei com este livro?)
Mais dez anos de barões e regime da matéria, e infalivelmente nos foge deste
corpo agonizante de Portugal o derradeiro suspiro do espírito. Creio nisto
firmemente. Mas ainda espero melhor todavia, porque o povo, o povo povo,
está são. Os corruptos somos nós, os que cuidamos saber e ignoramos tudo.
(Almeida Garrett)
E a nossa grande Raça partirá em busca de uma Índia nova, que não existe
no espaço, em naus que são construídas “daquilo de que os sonhos são
feitos”.
(Fernando Pessoa - Trechos de A Nova Poesia Portuguesa – 1912)
Os índios da Índia inglesa dizem que são índios, os da Índia portuguesa que
são portugueses. Nisto, que não provém de qualquer cálculo nosso, está a
chave de nosso possível domínio futuro. Porque a essência do grande
imperialismo é converter os outros em nossa substância, o converter os
outros em nós mesmos. (Fernando Pessoa - Fragmentos do “livro” inacabado
Comentário maior às profecias do Bandarra)
Estamos juntos.
E moçambicanas mãos nossas
dão-se
[...]
com os olhos incendiados
nos poentes do Mediterrâneo
recordamos as noites mornas na praia da polana
e a beijos sorvo a tua boca no Senegal
e depois tingimos mutuamente
os lábios das negras amoras de Jerusalém [...] (José Craveirinha – Canto do
nosso amor sem fronteira, 1995)
Quitandeira de ananases
eu gosto dos teus olhos
quando me fitas assim
tímida e suplicante
a expiar crimes
sofrendo por ter sofrido
Gosto dos teus olhos
que me segredam o tudo está consumado
do teu calvário
e me indicam
o caminho do ressurgimento. (Agostinho Neto – Vendedeira de ananases,
1987)
- O PESO DA HISTÓRIA
Lá vai o português, diz o mundo, quando diz, apontando umas criaturas
carregadas de História que formigam à margem da Europa. Lá vai o
português, lá anda. Dobrado ao peso da História, carregando-a de facto, e
que remédio – índias, naufrágios, cruzes de padrão (as mais pesadas). Labuta
a côdea de sol-a-sol e já nem sabe se sonha ou recorda. Mal nasce deixa de
ser criança: fica logo com oito séculos. (José Cardoso Pires – E agora José?)