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o2rzi2018 ‘SEUMA - 10375766 -Oficio (EAE AA 10375766 ‘8016.018784/2018-01 Ministério da Justica e Seguranca Publica Departamento Penitencidrio Nacional Diretoria de Politicas Penitencidrias OFICIO N2 2355/2019/DIRPP/DEPEN/MJ Brasilia, 2 de dezembro de 2019. Aos Gestores Estaduais de Administragao Prisional Assunto: Consulta Publica de Nota Técnica sobre Populacao LGBT! Presa. Senhores (as) Gestores (as), 1 Apés os cumprimentos iniciais, informo sobre consulta publica de nota técnica sobre procedimentos quanto a custédia de pessoas LGBTI no sistema prisional brasileiro, atendendo aos regramentos internacionais e nacionais e também considerando as recentes decisées das Cortes Superiores sobre o tema vinculante para toda a administracao publica. az Ressaltamos que a presente nota técnica é resultado das atividades de grupo de trabalho instituido através da PORTARIA GABDEPEN N2 10, DE 24 DE JANEIRO DE 2019 (7975219), para a apresentacdo de proposta de Manual de Procedimentos para Revista e Busca Pessoal em Populagdo de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuals (LGBT) no sistema prisional brasileiro e de proposta para capacitacéo de agentes prisionais nesse tema (com teoria e pratica voltadas a procedimentos especificos).. 3 Entretanto, a presente nota técnica nao é conclusiva, haja vista que ficara disponivel para consulta publica, até o dia 31/01/2019, através do site deste Depen: http://depen.gov.br/DEPEN/depen- publica-nota-tecnica-com-orientacoes-para-populacao-Igbti-encarcerada, para sugestdes e consideracées pertinentes ao assunto. 4. Ao ensejo, nos colocamos a disposicao para maiores esclarecimentos através do telefone (61) 2025.3833. Atenciosamente, SANDRO ABEL SOUSA BARRADAS Diretor de Politicas Penitencidrias IC: sersdla sv SJDH/Downloads/Oficio_10375786.ntm 12 o2ni2e019 ‘SEUMJ - 10375766 - Oficio .do eletronicamente por SANDRO ABEL SOUSA BARRADAS, Diretor(a) de Politicas SIE & | Penitenciarias, em 02/12/2019, as 14:41, conforme o § 12 do art. 62 € art. 10 do Decreto n® Sages 4 8.539/2015. [5] A autenticidade do documento pode ser conferida no site http://sei.autentica.mj, E: cédigo verficador 10375766 e o cédigo CRC 31DBASFB EO tramite deste documento pode ser acompanhado pelo site http://www. justica.gowbr/acesso-3- ANEXO - NOTA TECNICA PARA CONSULTA PUBLICA - 10078511 Referéncia: Caso responds este Ofcio, Indicar expressamente o Processo nf O8016.018784/2018-01 ‘SEI n® 10375766 SCN Quadra 03 Bloco B Lote 120, Edificio Victéria, ~ Bairro Setor Comercial Norte, Brasilia/DF, CEP 70713-020 Telefone: (61) 2025-3833 - www.justica.gov.br - E-mail para resposta: protocolo@mj.gov.br ‘lex C:/Userssiala sva.SJDH/Downloads/Otelo_10375766.nimi ae oxi22019 ‘SEUMJ - 10078511 - Nota Técnica 10078511 08016.018784/2018-01 MINISTERIO DA JUSTICA E SEGURANGA PUBLICA Nota Técnica n,2 60/2019/DIAMGE/CGCAP/DIRPP/DEPEN/MI PROCESSO N2 08016.018784/2018-01 INTERESSADO: DIAMGE ‘Trata-se de Nota Técnica, por meio da qual a Divisio de Atengio as Mulheres e Grupos Especificos - DIAMGE, vinculada & Coordena¢io-Geral da Cidadania e Alternativas Penais - CGCAP, da Diretoria de Politicas Penitenciérias - DIRPP, do Departamento Penitenciario Nacional - DEPEN, trata dos procedimentos quanto & custédia de pessoas LGBT! no sistema prisional brasileiro, atendendo aos regramentos Internacionais e nacionais e também considerando as recentes decisdes das Cortes Superiores sobre o tema, vinculantes para toda a administragao publica. DAS PRELIMINARES 1 Considerando @ necessidade de se estabelecer procedimentos quanto custédia de pessoas LGBT! no sistema prisional brasileiro, o Departamento Penitencidrio Nacional (Depen) instituiu, através da PORTARIA GABDEPEN N2 10, DE 24 DE JANEIRO DE 2019 (7975219), um Grupo de Trabalho (GT) para a apresentacao de proposta de Manual de Procedimentos para Revista e Busca Pessoal em Populagdo de Lésbicas, Gays, Bissexuais © Transexuals (LGBT) no sistema prisional brasileiro e de proposta para capacitagéo de agentes prisionais nesse tema (com teoria e pratica voltadas a procedimentos especificos). 2 Sabendo que a populagdo LGBT! requer atencdo quanto & prevengdo de todos os tipos de violencia, ‘ratamento e cuidados especificos em salide, respeito ao nome com o qual as pessoas travestis @ transexuais se identifica, 0 uso de vestimentas de acordo com o género com o qual a pessoa se identifica, entre outras necessidades, ‘0 Departamento Penitenciério Nacional convidou a Rede Nacional de Operadores de Seguranca Publica LGBTI+ (RENOSP- LGBTI4) e a Diretoria de Promoso dos Direitos LGBT do Ministério dos Direitos da Mulher, da Familia e dos Direitos Humanos e, também, a Coordenagio de Assisténcia Social e Religiosa da Coordenacéo-Geral de Promocio da Cidadania (COARE), a Escola Nacional de Servigos Penais (Espen/Depen), a Coordenacdo-Geral de Classificagao, Movimentacdo de Presos da Diretoria do Sistema Penitenciério Federal (CGCMP), para comporem o referido Grupo de Trabalho e atuar junto & Divis8o de Atencio as Mulheres e Grupos Especificos (DIAMGGE} do DEPEN, visando a elaborago de um manual, com o intuito de orientar as administragBes estaduais quanto aos procedimentos nas unidades prisionais, para garantir 0 atendimento adequado das pessoas LGBTI presas através da atencdo do Estado as diretrizes fundamentals dispostas em rnormativos nacionais internacionats 3. Com este manual de procedimentos se pensou no entendimento das especificidades da pessoa LGBT! no sistema prisional através de informagSes bésicas sobre os principais aspectos que devem ser observados na custédia dessa populacdo, atendendo as leis vigentes que tratam sobre o tema, Contudo, em medida preliminar ao langamento do referido manual, a presente nota traz & baila a producao do Grupo de Trabalho (GT) com vista a iniciar as atividades de orientagao aos estados quanto as especificidades da custédia das pessoas LGBTI. DAS REFERENCIAS 4. A Constituigao Federal (10165040), no art. 38, inciso IV, dispSe que um dos objetivos fundamentais da Republica Federativa do Brasil € a promogo do “bem de todos, sem preconceltos de origem, raga, sexo, cor, idade € ‘quaisquer outras formas de discriminag3o”. Além disso, estabelece que “todos so iguais perante a lei, sem distingdo de ‘qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pais a inviolabilidade do direito @ vida, 8 liberdade, & igualdade, seguranga e & propriedade” (art. 5°). 5 ‘Também, na Declarago Internacional de Direitos Humanos esta consignado, em seu art. 28, que “todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaragio, sem distingso de ‘qualquer espécie, seja de raca, cor, sexo, idioma, religido, opiniéo publica ou de outra natureza, origem nacional ou social’. 6 Da mesma forma, 0 art. 17 do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Politicos estabelece que: “1. Ninguém poderd ser objeto de ingeréncias arbitrérias ou ilegais em sua vida privada, em sua familia, em seu domicilio ‘ou em sua correspondéncia, nem de ofensas ilegais as suas honra e reputagio”; e “2. Toda pessoa terd direito & ‘ile: /Usersciaa sv SJOH/Downloads/Nota_Tecnics_10076511.him am oari2n019 SEM - 10078641 - Nota Técnica protegio da lei contra essas ingeréncias ou ofensas”. Cabe lembrar que Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Politicos foi promulgado no Brasil por meio do Decreto n® 592, de 6 de julho de 1992. 7, Considera-se, ainda, que o art. 52, inciso LXXVIII, § 2° e 32, da Constituicéo Federal, estabelece que: “§ 28- Os direitos e garantias expressos nesta Constituigao no excluem outros decorrentes do regime ¢ dos principlos por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a Republica Federativa do Brasil seja parte’; e “"§ 38 Os tratados e convencéo internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada ‘Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por trés quintos dos votos dos respectivos membros, serdo ‘equivalentes as emendas constitucionais”. 8. esse sentido, com intuito de proteger os direitos que devem ser garantidos pelo Estado, fol realizada em 2006, na Universidade Gadjah Mada, em Yogyakarta, na Indonésia, uma conferéncia produzisse um documento para {ular os Estados para aplicacio de legislacdo internacional em relacao & orientacdo sexual e diversidade de género. £ esse sentido que se deve entender o produto desta conferéncia,intitulada de “Principios de Yogyakarta” (10162720), como referéncia a “aplicacdo da legislacdo internacional de direitos humanos em relacgo @ orientagao sexual identidade de género". 9. Tais "Principios” "afirmam normas juridicas internacionais vinculantes, que devem ser cumpridas por todos os Estados”. Nesse sentido, em seu principio n® 9, os “Princfpios de Yogyakarta” garante o “direito a tratamento humano durante a detengo”, determinando que: “toda pessoa privada de liberdade deve ser tratada com humanidade © com respeito pela dignidade inerente & pessoa humana. A orientacdo sexual e identidade de género sao partes essenciais da dignidade de cada pesso: 10. Para atendimento desses principios, 6 fundamental que as politicas pdblicas no sistema prisional ndo ignorem as diversidades da populacéo carcerdria e, por Isso, ndo devem dar 0 mesmo tratamento para as pessoas que se encontram presas, mas, sim, consideré-las em suas especificidades. n. Por seu turno, a Lei n® 7.210 de 11 de Julho de 1984 - Let de Execuco Penal (9669446}-, que rege todos (5 aspectos significativos da trajetéria prisional das pessoas privadas de liberdade e estabelece as responsabilidades pela execucéo da pena e sua fiscalizacio, institui miiltiplas formas de assisténcia oferecidas & populacdo carceréria, obedecendo aos principios da humanizacao e da dignidade da pessoa humana. Portanto, em seu art. 10, a Lei de Execuso Penal dispe que "a assisténcia ao preso e ao internado € dever do Estado, objetivando prevenir o crime e orientar o retorno a convivéncia em sociedade, estendendo em seu pardgrafo Unico, a “assisténcia estende-se a0 egresso.” Também, em seu art. 11 é disposto que a assisténcia serd: |- material; i-a saiide; IM -juridica; IV - educacional; V- social; Vi- religiosa DOS CONCEITOS DE ORIENTACAO SEXUAL E IDENTIDADE DE GENERO 2. Na pagina 6 do documento “Principios de Yogyakarta”(2006), a “orientagdo sexual” é compreendida ‘como "uma referéncia a capacidade de cada pessoa de experimentar uma profunda atracdo emocional, afetiva ou sexual or individuos de género diferente, do mesmo género ou de mais de um género, assim como de ter relagGes intimas e sexuais com essas pessoas”. Nesse sentido, segundo este conceito e para os fins desta nota técnica, é possivel existir 2 pessoa: a) heterossexual: capaz de sentir atraciio emocional, afetiva e/ou sexual por individuos do género posto; b) homossexual: capaz de sentir atracéo emocional, afetiva e/ou sexual por individuos do mesmo ‘genero, podendo ser gays (género masculino) ou lésbicas (género feminino). 13, Nesse sentido, a populacdo homossexual é composta por pessoas: a) Lésbicas: denominagio especifica para mulheres que se relacionam afetiva e sexualmente com outras mulheres; b) Gays: denominagdo especifica para homens que se relacionam afetiva e sexualmente com outros homens; ou ©) Bissexuais: pessoas que se relacionam afetiva e sexualmente com ambos os sexos. Ae:JIC:/Usersidiala sive.SJOH/Downloads(Nota_Tecnica_10078511 html amt canzre018 ‘SEINAS - 10078511 «Nota Técnica 14. Jé a “identidade de género” é entendida, também expressa no documento “Principios de Yogyakarta”(2006), como "uma “experiéncia interna, individual e profundamente sentida que cada pessoa tem em relago ao género, que pode, ou no, corresponder ao sexo atribuido no nascimento, incluindo-se af 0 sentimento pessoal do corpo (que pode envolver, por livre escolha, modificagfo da aparéncia ou funcéo corporal por meios ‘médicos, cirdrgicos ou outros) e outras expresses de género, inclusive 0 modo de vestirse, 0 modo de falar e maneirismos’. 15. Assim, quanto a questo relativa a identidade de género, h4, entre outras, as seguintes definicdes: a) travesti: identidade de género autnoma, fora do binarismo de géneros (masculino e feminino), que no se identifica propriamente com o género oposto ao que Ihe foi atribuido no nascimento. Nao se entende propriamente como “hamem” ou como “mulher”, mas como travesti, Nao reivindica a identidade "mulher", apesar de apresentar expresso (performance) de género predominantemente feminina, devendo ser tratada como pertencente ao género feminino. b) transexual: pessoa que se autopercebe e reivindica pertencimento ao género oposto aquele que Ihe foi atribuido no nascimento, sendo: ¢) mulher trans: apesar de ter sido designada com o género masculino no nascimento, identifica-se como sendo pertencente ao género feminino; d) homem trans: apesar de ter sido designado com o género feminino no nascimento, identifica-se como sendo pertencente ao género masculino. e) intersexual: pessoa intersexos é aquela cuja designago do sexo juridico ndo est em conformidade com 0 sexo biolégico por razées de ambiguidade genital, combinagdes de fatores genéticos e aparéncia, e varlagdes cromossémicas sexuais diferentes. Um exemplo de intersexuelidade, dentre outros possiveis, € 0 da pessoa hermafrodita. DAS GARANTIAS 16. Em consonanncia com tais diretrizes e com a legislagdo internacional e nacional de direitos humanos, foi stituida - em Ambito nacional - a Resoluco Conjunta n® 1, de 15 de abril de 2014 do CNPCP e CNCD (9648836), para “estabelecer 0s pardmetros para a custédia de LGBT em privacao de liberdade no Brasil”. Na referida Resoluclo consigna-se que eseguran¢a"e”especial-vulnerabili (art, 32) e que tais espacos “ndo devem se destinar & aplicacéio de medida disciplinar ou de qualquer método coercitivo” (art. 3°, § 12), sendo que “a transferéncia da pessoa presa para o espaco de vivéncia especifico ficard condicionada 8 sua expressa ‘manifestacao de vontade” (art. 32, § 2). vv. A mesma Resolugio preconiza que “as pessoas transexuais masculinas e femininas devem ser ‘encaminhadas para as unidades prisionals femininas” (art. 4°) e que “a pessoa travesti ou transexual em privagio de liberdade serao facultados 0 uso de roupas femininas ou masculinas, conforme o género, e a manutenco de cabelos compridos, se 0 tiver, garantindo seus caracteres secundarios de acordo com sua identidade de género” (art. 58). Também sao assegurados o direito a visita intima, & formacao profissional e educacional, nas mesmas condicdes das outras pessoas presas, e “a atengdo integral a saiide”, dentro dos “pardmetros da Politica Nacional de Satide Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuals ~ LGBT e da Politica Nacional de Atenc3o Integral @ Satide das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional — PNAISP” (art. 72) 18, ais principios deve ser o alicerce de todo o conjunto de estratégias e ages empreendidas pelos gestores ¢ trabalhadores do sistema prisional, assim como da sociedade, por meio de mecanismos de controle € participago socials, e que a sua implementacio se coloca como premente. 19. Nesse sentido, especificamente em rela¢do 8s populagdes vulneraveis no sistema prisional, 0 DEPEN est envidando esforcos para desenvolver uma politica nacional de atencéo aos grupos especificos no sistema prisional, com 0 intuito de transformar as praticas no sistema prisional, possibilitando a visibilizacao das subjetividades das populagées mais vulnerabilizadas no sistema prisional, buscando a promosio da igualdade efetiva e a garantia de direitos considerando as especificidades de idosos, estrangelros, populago LGBT, indigenas e minorias étnico-racials, pessoas com transtorno mental, pessoas com doencas terminais e pessoas com deficiéncia, além das mulheres. DOS PROCEDIMENTOS DE RECEBIMENTO DE PESSOAS PRESAS LGBTI NAS UNIDADES PRISIONAIS 20. A principal e mais importante demanda da populacdo presa LGBTI é a protegdo contra a violéncia, inclusive sexual, perpetrada, nas mais das vezes, por outros privados de liberdade. Segundo o Human Rights Watch (2001), @ populagdo LGBT é, na maioria das situacdes, muito mais vulnerdvel a agressbes sexuais e estupro do que autora desses mesmos atos. O estudo realizado pela Comissdo dos Estados Unidos para Eliminacao da Violéncia Sexual no Sistema Penitencidrio (2005) verificou que 41% dos gays e bissexuais das unidades prisionais deste pais foram vitimas de estupro, por comparacao com os 9% verificados entre a populaco de heterossexuais do sistema. file: yUsersdiaa.sliva SJOHIDownloadsINota_Tecnica_10078511.himi sit o2ri2e01@ SEIN) - 10078541 - Nota Técnica 21, Contudo, ainda que a referida pesquisa seja a respeito de popula¢do LGBTI em solo norte-americano, recentes decisdes de Cortes Superiores do Brasil tm demonstrado preocupacao com a alocagao da populacdo prisional LGBTI, em especial com as travestis e transsexuais. Assim, tem sido comum decisdes judiciais que encaminham pessoas travestis e mulheres trans que ndo passaram ainda pelo processo de redesignacao sexual para a custédia em unidades femininas, 22, esse sentido, é importante destacar para fins de atuagao na execucdo penal as seguintes decisées: I- HC ST) 497.226/RS (9659831), tendo como relator 0 Ministro Rogério Schietti Cruz: concedeu liminar para determinar a colocacio da paciente em espago préprio, compativel com sua identidade de género, separada dos homens e mulheres que cumprem pena no Presidio Estadual de Cruz Alta; Il- ADI STF 4275/DF (9659852) tendo como relator 0 Ministro Marco Aurélio, De 7- 2019: reconhece que aos trangéneros, que assim 0 desejarem, independentemente da cirurgia de transgenitalizagio, ou da realizagio de tratamentos hormonais ou patologizantes, o direito & substituiggo de prenome e sexo diretamente no registro civil; IIL. MC na ADPF STF 527/DF (9659888), tendo como relator o Ministro Lufs Roberto Barroso, Die 28-6-2019: que antecipa eventual decisao sobre arguico de descumprimento de preceito fundamental proposta pela Associacdo Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais ("ALGBT"), tendo por objeto os arts. 32, §§12 e 22, e 42, caput e pardgrafo Unico, da Resolucso Conjunta da Presidéncia da Repliblica e do Conselho de Combate & Discriminagdo n? 1, de 14 de abril de 2014 (“Resolugao Conjunta”); © IV- HC ST) 152,491 (9659920) também tendo como relator o Ministro Lu's Roberto Barroso, DJe 16-2-2018: determina ao Julzo da Comarca de Tupa/SP que coloque o paciente PEDRO HENRIQUE OLIVEIRA POLO (nome social Lais Fernanda) e o corréu Luiz Paulo Porto Ferreira (nome social Maria Eduarda Linhares) em estabelecimento prisional compativel com as respectivas orientages sexuais. DAS RECOMENDACOES 23. Diante do acima exposto, considerando os esforgos do Departamento Penitenciério Nacional em fomentar a politica penitenciaria, com a missdo de induzir, apolar e atuar na execugdo penal brasileira, promovendo a dignidade humana, com profissionalismo e transparéncia, com vistas a uma sociedade justa e democratic, bem como de ser reconhecido camo érgio fomentador da correta Execusio Penal e da plena garantia dos direitos fundamentais de todos os seres humanos envolvidos no fendmeno criminoso. 24. Considerando ainda o objetivo de informar e esclarecer aos érgios estaduais de administra¢o prisional sobre as necessidades de cumprimento de procedimentos apropriados e de rotinas transformadoras do sistema prisional em ambientes adequados para 0 processo de ressocializacdo e de trabalho para a (re) integracéo do cidadao preso a sociedade, com base em normativos nacionais e internacionais, bem como em direcionamentos dos Tribunais Superiores do pais. 25. Ressalta-se ainda a necessidade da observancia aos dispostos na Lei 13.869, de 05 de Setembro de 2019 (10162743), que dispde sobre os crimes de abuso de autoridade, cometido por agente puiblico, servidor ou no, que, no exercicio de suas fung6es, abuse do poder que Ihe tenha sido atribuido, em especial ao Art. 21: “Manter presos de ambos os sexos na mesma cela ou espaco de confinamento: Pena - detenclo, de 1 (um) a4 (quatro) anos, e mutta, 26. Portanto, considerando também o titulo Il, capitulo | da Lei n° 7.210 (9669446)de 11 de julho de 1984, que institui a Lei de Execugao Penal e menciona a atuacSo da Comisséo Técnica de Classificagao (CTC), e que em seu artigo 5° define que "os condenados serio classificados, segundo os seus antecedentes e personalidade, para orientara individualiza¢o da execucso penal’, RECOMENDA-SE 0 seguimento dos procedimentos abaixo relacionados: PORTA DE ENTRADA a) as pessoas presas lésbicas, bissexuais gays - oferecer o mesmo respeito aos(2s) outros(as) presos(as), segundo as leis vigentes, contudo, antes de incluir ofa) preso (a) no convivio com a populacdo prisional, oferecer espaco de vivencia especifico separado dos(as) demais presos(as), garantindo a seguranca dola) preso(a); b) as pessoas presas travestis - considerando que pode haver encaminhamento do Judicisrio de pessoa travesti, unidade prisional feminina ou masculina, independentemente da retificacdo de seus documentos, para cumprimento de ordem judicial, o(a} gestor(a) prisional, responsével pela incluso na unidade ou Comissao Técnica de Classificagso, deve: jerguntar o nome social da pessoa; 2® perguntar como a pessoa se identifica em relacdo a identidade de género; incluir 0 nome social da pessoa em formulério e demais documentos usados na unidade; file: C:fUsersicila sive. SJOHDownloadsiNota_Tecrica_10078511.html ant 21272019 ‘SEUMJ - 10078511 - Nota Técnica 42 promover que todos(as) os(as) agentes prision social; e ‘e demals servidores(as) se reportem 4 pessoa fazendo uso do nome 52 alocar a pessoa em espaco de vivéncia especifico, separada do convivio dos demais presos, se tiver sido ‘encaminhada para unidade masculina, ou das demais presas, se tiver sido encaminhada para a unidade feminina. c) 8s mulheres transexuals presas - considerando que pode haver encaminhamento do Judiciario de mulher transexual, 8 unidade prisional feminina ou masculina, (com ou sem cirurgia e independentemente da retificagao de seus documentos), para cumprimento de ordem judicial, o(a) gestor(a) prisional, responsavel pela incluso na unidade ou Comissao Técnica de Classificacao deve: 12 perguntar 0 nome social da pessoa; 22 perguntar como a pessoa se identifica em relagao a identidade de género; 32 incluir o nome social da pessoa, se tiver, em formulé jo e demals documentos usados na unidade; 42 promover que todos(as) os(as) agentes prisionals e demais servidores(as) se reportem & pessoa fazendo uso do nome social, se o tiver; 52 alocar a pessoa em espaco de vivéncia especifico, separada do convivio dos demais presos, se tiver sido encaminhada para unidade masculina, ou das demais presas, se tiver sido encaminhada para a unidade feminina. 4d) aos homens transexuais presos- considerando que pode haver encaminhamento do Judiciério de mulher transexual, 8 unidade prisional feminina ou masculina, (com ou sem cirurgia e independentemente da retificagao de seus documentos), para cumprimento de ordem judicial, o(a) gestor(a) prisional, responsével pela incluséo na unidade ou Comissao Técnica de Classificacao deve: 12 perguntar o nome social da pessoa; 9 perguntar como a pessoa se identifica em relacdo a identidade de género; 32 incluir o nome social da pessoa em formulério e demais documentos usados na unidade; 42 promover que todos(as) os(as) agentes prisionats e demais servidores(as) se reportem & pessoa fazendo uso do nome social; 52 alocar a pessoa em espaco de vivéncia especifico, separada do convivio das demais presas. «e) as pessoas intersexos - considerando que pode haver encaminhamento do Judicidrio de pessoa intersexo (sem sexo definido}, 3 unidade prisional feminina ou masculina, para cumprimento de ordem judicial, o(a) gestor(a) prisional, responsével pela incluso na unidade ou integrantes de Comissio Técnica de Classificagiio deve: 12 perguntar o nome social da pessoa; 2 incluir o nome social, seo tiver, da pessoa em formulério e demais documentos usados na unidade; 38 solicitar laudo atestando que as caracteristicas fisicas, hormonais e genéticas no permitem a definicdo do sexo da pessoa como masculine ou feminino; 49 no havendo possibilidade de apresentago de laudo, garantir espaco especifico, separada do convivio dos demais presos, se tiver sido encaminhada para unidade masculina, ou das demais presas, se tiver sido encaminhada para a Unidade feminina, até que seja providenciado documento; '52 promover que todos(as) os(as) agentes prisionais e demais servidores(as) se reportem a pessoa fazendo uso do nome social, se o tiver 27. Importante destacar que a pessoa que se identifica como transgénero (trans mulher ou trans homem) é ‘aquele/a que se identifica com o género (feminino, masculino) diferente daquele que Ihe foi atribuido no momento do nascimento, independente de ter sido submetido/a & cirurgia de redesignaco de género/sexo, ou seja, mesmo sem ter passado por cirurgia para alteraco das configuragdes do érgio sexual a pessoa deve ser reconhecida pelo género que se identifica. 28. Ressalta-se também que é assegurado & pessoa transexual, travesti e intersexos em situacao de priséo o ‘acesso & politica nacional de nome social, através do Decreto Federal n? 8.727 de 28 de abril de 2016 (9660818), garantindo-Ihe 0 direito de ser chamada ou chamado por seu nome préprio autoidentificado, mesmo que em desacordo com 0 registro civil. Assim, o registro de admissfio no estabelecimento prisional devera conter campo especifico para abranger a politica de nome social, que indique a identidade reivindicada pela pessoa admitida no estabelecimento prisional. Caso nao conste da Guia de Recolhimento a prisdo, a informacdo deverd ser providenciada, inclusive, com solicitago a0 Julzo da Execugo Penal. 23. Ademais, 6 importante destacar que a Resolu¢ao Conjunta n? 1 de 15 de Abril de 2014 do Conselho Nacional de Politica Criminal e Penitenciéria-CNPCP (9648836), também trata do uso de nome social, jé na porta de entrada de unidades prisionais: ‘les: sUsersciala iva SJDH/DownloadsINota_Tecnica_10078511.html sat oanarote SEIS - 10078541 -Nola Técnica ‘Artigo 22 A pessoa travesti ou transexual em privacéo de liberdade tem 0 direito de ser chamada pelo seu nome social, de acordo com o seu género. Pardgrafo Gnico. O registro de admissio no estabelecimento prisional deveré conter © nome social da pessoa presa. ACESSO A OBIETOS, MATERIAIS E MANUTENCAO DE CABELOS 30. Também, a ResolucSo Conjunta n? 1 de 15 de Abril de 2014 (9648836) trata de uso de roupas, manutencao de cabelos compridos e caracteres secundérios de acordo com a identidade de género das pessoas travestis e transsexuais, conforme o art. 52: ‘A pessoa travesti ou transexual em privacéo de liberdade serdo facultados o uso de roupas femininas ou masculinas, conforme o género, e a manutenco de cabelos compridos, se o tiver, garantindo seus caracteres secundérios de acordo com sua identidade de género. 31, Assim, considerando a Resolugo Conjunta n® 1 de 15 de Abril de 2014 (9648836) e observando as disposigbes gerais de cada unidade prisional que dispdem sobre os objetos e materiais permitidos aos presos e as presas asseguradas as regras de seguranca da unidade, so garantidos as travestis e as mulheres transexuals, tanto nas unidades masculinas, quanto nas unidades femininas, além dos itens a que todos(as) os (as) demais tém acesso: 2a vestimentas de acordo com sua identificagio de género (feminina}; l= Amanutencdo de seus cabelos compridos, inclusive, mega hair, desde que fixo; € IM pingas para extragdo de pélos; e IV- _ produtos de maquiagem. 32 Também, observadas as disposicdes gerais da unidade prisional que dispSem sobre os objetos e materiais permitidos as presas e asseguradas as regras de seguranca da unidade, o homem trans tém o direito de usar os itens a que todas as demais presas tém direito, além de: a) vestimentas masculinas; e b) binder ou topper ~ falxa ou colete de compressao de mamas, 33. Ressalta-se, ainda, que & pessoa intersexos presa deverd ser garantido 0 uso de roupas e 0 acesso controlado a utensilios que preserve suas identidades de género autorreconhecidas, além dos itens garantidos aos(as) demais presos (a5). ‘DA REVISTA PESSOAL EM PESSOAS PRESAS LGBT! 34. Inicialmente, importante destacar a eficiéncia no uso do aparelho de scanner corporal (aparelho moderno que faz uma varredura profunda detectando substincias ou objetos suspeitos) ou detectores de metais em substituico as revistas intimas, evitando eventuals constrangimentos de pessoas travests e transsexuals presos e de servidores, 35. Contudo, considerando os procedimentos operacionais padronizados, e também consolidados organizados pelas administracdes estaduais e bastante difundidos nas unidades prisionais, hd 2 necessidade de especificar como pode ser as abordagens em pessoas presas que se autointitulam LGBTI. A necessidade se dé em virtude de recentes decisdes de Cortes Superiores que tem encaminhado & unidades prisionais pessoas com identidade de género diverso ao especifico das unidades. Assim, tem sido comum o envio de travestis ou mulheres transsexuals que ‘no realizaram procedimento de redesignacdo sexual as unidades femininas. 36. Diante ao fato, surgem questionamentos sobre a atuaco dos servidores nos processos de revista pessoal, ‘em especial, em pessoas presas travestis, mulheres e homens transsexuals. Visando, orientar os gestores estaduais, considerando que os estados possuem autonomia de atuacdo através do pacto federativo e que nao ha lei especifica quanto ao assunto, sugere-se que: |= homens autoidentificados como gays sejam revistados por servidor habilitado a fazer a revista; Il mulheres autoidentificadas como Iésbicas sejam revistadas por servidora habilitada a fazer a revista; lll quando alocadas em unidades femininas, as travestis e mulheres transexuais que no realizaram procedimento de redesignacao sexual, sejam revistadas por 2 (duas) mulheres, seguindo as. normas dispostas a todas as demais presas; IV- quando alocadas em unidades masculinas, as travestis e mulheres transexuals que no realizaram procedimento de redesignagdo sexual, poderdo ser revistadas por hamens, caso no cexistam 2 (duas) servidoras habilitadas para 0 procedimento; ‘ile: C:1Userssila sive. SJOH/DownloadsINota_Tecnica_10078511.himi ant

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