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FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E NEGÓCIOS DE SERGIPE - FANESE

CURSO DE DIREITO

JOYCE BASTOS PEREIRA DOS SANTOS

A (IN) CONSTITUCIONALIDADE DA MORTE DIGNA*

ARACAJU
2021
2

A (IN) CONSTITUCIONALIDADE DA MORTE DIGNA


Joyce Bastos Pereira dos Santos

RESUMO

A constituição Federal de 1988 não instituiu em seu corpo a morte, o que hoje tem sido
motivo de uma vasta discussão acerca da possibilidade de realizar uma morte digna pois, de
um lado encontra-se o príncipio da autonomia, e do outro, o princípio fundamental da garantia
à vida. A divergência entre princípios em nosso ordenamento jurídico sempre foi debatida,
onde a aplicabilidade de um sobre o outro ou até mesmo a ponderação entre eles, ainda se faz
presente em questões do dia a dia, como no caso da eutanásia, distanásia e ortotanásia, esta
última a única permitida pelo ordenamento jurídico brasileiro. Neste sentido, este estudo
objetiva, de forma geral, ponderar sobre a morte digna e sua relação com o direito
fundamental à vida. Este estudo é uma revisão bibliográfica de caráter exploratório e de cunho
qualitativo, onde foram utilizados artigos indexados nas bases de dados do Google acadêmico
e Scielo, bem como de análises da Constituição brasileira, Resolução, Leis e Decretos.
Através deste trabalho, conclui-se que embora a vida esteja acima de todos os demais direitos,
existem situações que permitem a ponderação quanto a não haver necessidade de manter uma
vida em constante sofrimento.

Palavras-chave: Morte digna. Dignidade humana. Direito a vida.

1 INTRODUÇÃO

A morte digna pode ser definida como uma morte livre de dor e sofrimento, que
acontece no momento em que o paciente, titular de direitos, que se encontra em estado de
doença terminal, decide encerrar seu ciclo de vida. A decisão do paciente preserva seus
direitos de liberdade e consequentemente autonomia.
É de extrema importância que se respeite o direito de viver ou morrer do paciente em
estado terminal, uma vez que, somente o titular de direito é capaz de decidir sobre o que é
melhor para si, não devendo o Estado definir o futuro do titular. O fato é que a preservação da
vida apenas com o propósito da dimensão biológica negligenciando a qualidade de vida do
indivíduo não deve mais ser considerada atualmente.
_______________
¹*Artigo apresentado à banca examidora do curso de Direito da Faculdade de Administração e Negócios de
Sergipe, em junho de 2021, como critério parcial e obrigatório para a obtenção do título de Bacharel em Direito.
3

Orientadora: Profª. Ma. Roberta Hora Arcieri Barreto

Diante disso, o problema deste estudo é baseado na seguinte pergunta norteadora: o


que se entende por morte digna e, qual o entendimento da jurisprudência brasileira acerca da
morte digna?
A presente pesquisa objetiva, de forma geral, ponderar sobre a morte digna e sua
relação com o direito fundamental à vida. De forma específica, conceituar morte digna;
elucidar sobre a eutanásia, distanásia e ortotanásia; elucidar sobre a possibilidade de
legalização da eutanásia no Brasil.
O conteúdo deste estudo é divido em 3 partes: a primeira traz informações sobre a
morte digna, a distinção entre eutanásia, distanásia e ortotanásia; a segunda parte traz a relação
entre morte digna e os princípios da autonomia e da dignidade da pessoa humana; na terceira
parte, é tratado sobre a morte digna e o que diz o ordenamento jurídico brasileiro sobre o
assunto.
O que se pretende, com a realização deste estudo, é ponderar as hipóteses de que a
eutanásia, para pacientes com doenças terminais, é uma alternativa para a ocorrência de uma
morte digna, preservando, dessa forma, o princípio fundamental da dignidade da pessoa
humana.
Este estudo é uma revisão bibliográfica de caráter exploratório e de cunho qualitativo,
onde foram utilizados artigos indexados nas bases de dados do Google acadêmico e Scielo,
bem como de análises da Constituição brasileira, Resolução, Leis e Decretos. Onde, a partir
da questão norteadora, foi elaborado o objetivo geral em que todo o estudo foi baseado, com o
propósito de elucidar sobre a temática.

2 A MORTE DIGNA

A morte digna é referida à morte enfrentada conforme a dignidade pessoal de cada


indivíduo. A dignidade independe de conceitos gerais, não havendo consenso entre os
estudiosos, sobre seu conceito pois, ela está relacionada à concepção de cada ser humano. O
fato é que a morte é certa, e faz parte do ciclo de vida de todo ser humano (TOSI; RIBEIRO,
2018).
Desta forma, a morte digna é aquela que acontece no momento em que o próprio
titular da vida escolhe, com o propósito de preservar a dignidade individual. Nessa concepção,
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a morte digna corresponde ao que o indivíduo, que se encontra em estágio terminal da doença,
compreende como digno para a sua própria vida (SOUSA, 2017).
Pouco se sabe sobre a morte; o fato é que ela é inevitável e seu acontecimento é visto
como algo terrível, pois está associada ao medo de morrer e ao sofrimento, e é exatamente por
isso que é preciso transformá-la em digna e humanizada. A tentativa de tornar a morte
confortável evitando o sofrimento é o argumento utilizado para se buscar a dignificação do
momento cheio de inseguranças e medos (TOSI; RIBEIRO, 2018).
Lima (2018) cita que todos têm o direito de ter sua dignidade respeitada durante toda a
vida, merecendo também o devido respeito quando for necessário optar, ao fim da vida, por
uma morte digna e menos dolorosa ou prolongada, com dores e sofrimento físico e
psicológico.
Ao redor do mundo, inúmeras pessoas em estado de sofrimento insuportável
decorrente de doença terminal imploram pelo direito de morrer por não tolerarem mais a
tortura decorrente de dores e limitações. Algumas delas já estão em processo de morte e
pedem pela sua antecipação; outras, a família pede permissão para pôr fim à vida do paciente,
por este se encontrar em quadro vegetativo irreversível (SOUSA, 2017).
Segundo Feroldi (2016), quando um paciente em estado terminal se recusa a realizar
um tratamento terapêutico não está, necessariamente, desistindo da vida. Nesse caso, o
indivíduo está fazendo uma escolha conforme sua visão de vida e arcando com as possíveis
consequências da sua decisão, devendo o terapeuta elaborar medidas que favoreçam o bem-
estar no caso. Se a consequência da escolha for o óbito, não deve haver questionamentos pois
a morte é inerente ao ciclo da vida.
Escolher o momento da sua morte diz respeito à morte digna, devendo estar em um
local específico e ao lado de alguém com quem se tenha um vínculo afetivo. O fato é que a
preservar da vida apenas com o propósito da dimensão biológica negligenciando a qualidade
de vida do indivíduo, não deve mais ser considerada nos dias atuais. O prolongamento da vida
só deve ser justificado caso haja um prognóstico positivo descrito pelo profissional médico
responsável; caso contrário, deve ser respeitada a morte digna (SOUSA, 2017).
Por ser um direito humano, é necessário respeitar o direito do titular da vida de viver
ou morrer, analisando cada caso de maneira que possibilite ao paciente terminal definir o que
seria, para si, uma morte digna, com o propósito de colocá-la em prática, evitando a dor e
angústia. É notável que a dignidade da morte está atrelada ao altruísmo, facilitando a
ocorrência de uma morte tranquila quando da impossibilidade de manutenção da vida (LIMA,
2018).
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Sobre as maneiras de gerar ou evitar a morte, pode-se abordar a eutanásia, distanásia e


ortotanásia, descritas de maneira detalhada no subtópico seguinte.

2.1 DISTINÇÃO ENTRE EUTANÁSIA, ORTOTANÁSIA E DISTANÁSIA

Não obstante exista relação entre eutanásia, distanásia e ortotanásia pois, todas
estarem relacionadas à morte, seja para retardá-la ou prolongá-la, há uma diferença conceitual
que influencia na prática e na vida de quem decidi sobre a própria vida (DINEL; GOMES,
2016).
É ciente que a morte é esperada e o fim da vida é inevitável, restando somente a
possibilidade de torná-la digna e livre de sofrimentos. Sendo assim, com o objetivo de
proporcionar dignidade individual no momento da morte, faz-se uso da eutanásia. O termo
eutanásia surgiu em meados do século XVII é sinônimo de “morte sem dor”; a eutanásia é a
morte sem sofrimento, sendo utilizada por pacientes com diagnóstico de doença terminal e
que não apresenta condições para viver com dignidade (DINEL; GOMES, 2016).
O objetivo do profissional médico responsável pela prática da eutanásia não é ferir ou
unicamente apoiar a morte antecipada, mas sim, proporcionar alívio e conforto ao enfermo
que não está mais suportando viver de maneira indigna. Os requisitos para que seja possível
solicitar a antecipação da morte por meio de um profissional médico são: o paciente ter
diagnóstico de doença incurável, impossível de reverter o quadro clínico e estar em
sofrimento decorrente da doença ou tratamentos (FREITAS; ZILIO, 2016).
A eutanásia é classificada como ativa ou passiva. A primeira, é definida como o ato de
promover a morte com o propósito de eliminar o sofrimento do doente. É uma ação do
profissional capacitado que age sobre o tempo de vida do paciente. A eutanásia ativa se
desdobra em direta, quando a ação praticada tem como finalidade, a morte do paciente, e
indireta, onde é feito o uso de medidas terapêuticas para minimizar o sofrimento e como
consequência leva à morte mais rápida do paciente (SOUZA; BULGARELLI, 2017).
A prática da eutanásia ativa indireta não configura crime no ordenamento jurídico
brasileiro, uma vez que sua prática não tem por finalidade o fim da vida do paciente, sendo
esta, tão somente, uma consequência indireta das ações propostas para aliviar as dores
(SOUZA; BULGARELLI, 2017).
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A eutanásia passiva é a omissão de conduta do profissional. Acontece quando não é


iniciada uma medida terapêutica ou ocorre uma interrupção de uma ação que deveria aliviar o
sofrimento (LIMA, 2018).
Já a ortotanásia, é uma palavra de origem grega, e significa morte no momento certo.
É uma forma de humanização da morte, onde a mesma acontece naturalmente, no tempo
certo, sem esforços para prolongá-la, como na distanásia ou antecipá-la, como na eutanásia. É
uma morte que acontece sem interferências externas, sem uso dos meios tecnológicos
(DINEL; GOMES, 2016).
Muitos doutrinadores defendem que a ortotanásia está ao encontro do princípio da
dignidade da pessoa humana, contido na Constituição Federal pois permite o curso natural da
vida, oferendo apenas cuidados paliativos para alívio da dor e sofrimento. O paciente que
escolhe pela ortotanásia não necessita estar internado em hospital, podendo receber
atendimento domiciliar (FREITAS; ZILIO, 2016).
Através da conceituação e explicitação é perceptível que para que ocorra a ortotanásia,
é preciso que o paciente tenha iniciado o processo de morte, sem nenhuma chance de
tratamento que reverta sua situação clínica. Caso contrário, o médico deve investir no
tratamento da doença com o objetivo de salvar a vida do paciente (FREITAS; ZILIO, 2016).
Quanto à distanásia, é a prática utilizada para promover o adiamento da morte por
meio de recursos medicamentosos e aparelhos que permitem a manutenção da vida. Como
consequência, ocorre o prolongamento da vida, entretanto, costuma gerar dor e sofrimento
para o paciente (SOUSA, 2017).
Muitos estudiosos alegam que a distanásia fere o princípio da dignidade humana pois
não resulta no prolongamento da vida, mas sim o processo de morte. A prática da distanásia
prolonga o sofrimento de pacientes que não têm perspectiva de cura, sendo assim, o foco da
prática está apenas em manter a vida independente de haver qualidade (SOUSA, 2017).

2.2 DIREITO À MORTE DIGNA E OS PRINCÍPIOS DA DIGNIDADE DA PESSOA


HUMANA E DA AUTONOMIA

O direito de morrer de forma digna está diretamente ligado ao princípio da proteção da


dignidade da pessoa humana. Defensores da morte digna argumentam sobre os casos de
pacientes em estado terminal que se submetem a tratamentos terapêuticos inúteis que
prolongam a vida e causam dor e sofrimento (FREITAS; ZILIO, 2016).
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Esse sofrimento físico e psíquico passa a ter importância no ordenamento jurídico


brasileiro, a partir do momento em que atenta contra a dignidade da pessoa humana. Em
muitas situações, há pacientes que optam por morrer com dignidade que sujeitar-se a realizar
tratamentos dolorosos e ineficazes (FREITAS; ZILIO, 2016).
Feroldi (2016) defende a morte com dignidade, entretanto, há quem se oponha,
alegando que ao homem não é cabível pôr fim à vida, uma vez que ela é um direito
fundamental contido no Caput do art. 5º da Constituição Federal:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade [...] (BRASIL, 1988).

Sobre a autonomia, a palavra, que tem sua origem grega, significa “ser seu próprio
dono”; é a capacidade de atuar com conhecimento da situação e sem interferências externas. É
a aptidão de decidir sobre a própria vida de maneira mais conveniente. A autonomia está na
capacidade de realizar escolhas para a vida quando as pessoas se encontram diante de um
estado de enfermidade, independentemente dos resultados, devendo, essas escolhas, serem
respeitadas por familiares e profissionais responsáveis pelos cuidados (SOUZA;
BULGARELLI, 2017).
O princípio da autonomia leva em consideração que as pessoas devem ser tratadas
como entes autônomos e as pessoas que se encontram com autonomia reduzida devem ser
objeto de proteção e, no caso de incapacidade de tomada de decisões, um responsável legal
assume esse papel. O fato é que a ideia de autonomia ainda apresenta lacunas no que diz
respeito ao direito (TOSI; RIBEIRO, 2018).
A liberdade, a autonomia e a dignidade humana apresentam conceitos que se
interligam, sendo a liberdade, fundamento da autonomia. A liberdade é entendida como a
liberdade individual de realizar escolhas relacionadas à esfera particular da sua vida desde que
não gere prejuízos às outras pessoas. Cada ser humano, quando em boas condições mentais, é
o responsável por decidir sobre sua própria saúde (FEROLDI, 2016).
A autonomia é a capacidade de decisão sobre si conforme suas vivências pessoais.
Sendo assim, o homem autônomo age com liberdade conforme o plano escolhido por ele. A
autonomia a que se refere, expressa a dignidade e deriva da liberdade; dessa forma, o respeito
à autonomia e liberdade contribuem com a dignidade. Diante disso, Feroldi (2016), cita que
não caberia ao Estado ou à sociedade definir os caminhos que os indivíduos deveriam seguir
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ou os valores que deveriam ter pois, os indivíduos têm a autonomia de decidir sobre a direção
que suas vidas devem seguir de maneira subjetiva.
Como princípio da Bioética, a autonomia foi consagrada por meio do Relatório de
Belmont, em 1978, nos Estados Unidos. Este Relatório surgiu com o propósito de proteger
ações voltadas para experimentos científicos, porém, elevou-se para um Relatório
principialista da reflexão Bioética, levando em consideração 3 princípios: a autonomia,
beneficência (não causar danos, elevar benefícios e reduzir riscos), e justiça (neutralidade na
distribuição dos riscos) (SOUSA, 2017).

2.3 MORTE DIGNA E A EUTANÁSIA

Depois do conhecimento a respeito da eutanásia e da autonomia, é possível notar que a


eutanásia está relacionada com a autonomia de vontade, que é o entendimento e decisão do
homem sobre questões relacionadas à melhor hora para poder encerrar sua vida. Isso se trata
de exercer o direito à vida pois, quando é decidido sobre o momento de encerrar um ciclo de
vida, também está sendo exercido o direito de viver, no âmbito da autonomia (RIDOLPHI;
RANGEL, 2017).
Ressalta-se, entretanto, que para que ocorra a eutanásia, o “querer” do paciente não é
suficiente pois, pelo fato da vida ser um bem jurídico, seria necessário existir um motivo
inevitável. Situações em que o paciente se encontre com o diagnóstico de uma doença grave,
com prognóstico desfavorável, e de quadro clínico irreversível que justifiquem a adoção da
eutanásia (FEROLDI, 2016).
Dessa forma, a autonomia de vontade é a base para a eutanásia e associa a dignidade à
liberdade, favorecendo a relativização da morte e quebrando paradigmas quanto à
obrigatoriedade de se manter a vida a qualquer custo. A autonomia permite ver a vida
respeitando a visão individual de cada ser, cabendo ao Estado apenas garantir que não ocorra
a inviolabilidade de tal direito (RIDOLPHI; RANGEL, 2017).

3 EUTANÁSIA, ORTOTANÁSIA E DISTANÁSIA NA REALIDADE JURÍDICA


BRASILEIRA

Neste capitulo será discutido sobre a eutanásia, distanásia e ortotanásia e o que diz o
ordenamento jurídico brasileiro sobre a prática de cada uma delas, bem como será
mencionado quanto à lacuna que dificulta a interpretação de tais práticas.
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3.1 Eutanásia e o Ordenamento jurídico brasileiro

A eutanásia enfrenta um conflito no ordenamento jurídico porque embora ela esteja


ligada ao direito à liberdade, existe a defesa do direito à vida, que faz parte dos direitos
fundamentais contidos na Constituição Federal (CF). Trata-se de um tema que não é pacífico
pois a maior parte da doutrina é contra a eutanásia por entender ser um ato que interrompe a
vida, agindo contrário ao direito à vida (SILVA, 2019).
Embora a Constituição Federal não mencione a eutanásia, seja para permitir ou
proibir, ela impõe o direito à vida como direito fundamental, se tornando um obstáculo para a
prática de tal ato pelo Estado. Toda essa análise permite a interpretação de que a eutanásia é
vedada no Brasil haja vista a proteção do direito à vida. Ainda que o direito à morte não seja
regulamentar e a CF não proíba a execução da eutanásia, assegura que os cidadão tenham o
direito de não se submeterem a intervenções médicas ou interrompê-las conforme sua
vontade. Esse direito atenua a ideia de inviolabilidade do direito à vida, assegurando a
liberdade de morrer ou viver de forma digna (TOSI; RIBEIRO, 2018).
Há anos tem-se debatido sobre a legalização da eutanásia de forma que permita ao
indivíduo exercer os direitos de autonomia, dignidade e liberdade ao escolher uma morte
digna. Um outro norte em debate, é sobre não permitir que os direitos fundamentais sejam
absolutos, ou seja, como a vida é um direito de caráter personalíssimo, cabe ao titular fazer
suas escolhas independente dos resultados, desde que não cause danos a terceiros. Sendo o
indivíduo titular da sua vida e com direito à liberdade, não cabe ao Estado interferir em suas
decisões tornando a vida uma imposição, mesmo que isso acarrete em sofrimento. Cabe ao
Estado garantir a proteção à vida, contudo, não deve suprimir direitos e princípios tão
importantes quanto o direito à vida (SOUSA; BULGARELLI, 2019; SILVA, 2019)..
No Brasil, praticar a eutanásia equivale a um homicídio doloso, podendo ter a
classificação de homicídio privilegiado. Nesse caso, ocorre a redução da pena para quem o
pratica, haja visto a motivação decorrente de relevantes valores morais e compaixão diante do
sofrimento da vítima. Dessa forma, a eutanásia pode ser enquadrada na hipótese contida no
artigo 121 do Código Penal, que estabelece:

Art. 121 - Matar alguém: Pena – reclusão, de 6 (seis) a 20 (vinte) anos. Caso de
diminuição de pena: §1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de
relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em
seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um
terço.
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A legislação penal brasileira trata a eutanásia de quarto maneiras: 1) É possível que o


perdão seja concedido; 2) Se o intuito for compassivo, pode haver exclusão de
antijuridicidade; 3) Considerar a ação como delito privilegiado; 4) Ação socialmente
adequada (SILVA, 2019).
O crime de eutanásia pode ser imputado ao profissional responsável pelos cuidados do
paciente nas seguintes hipóteses contidas no artigo 13 §2º do Código Penal:

Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a


quem lhe de causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não
teria ocorrido. [...]
§2º A omissão é plenamente relevante quando o omitente devia e podia agir para
evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: a) Tenha por lei obrigação de
cuidado, proteção ou vigilância. b) De outra forma, assumiu a responsabilidade de
impedir o resultado. c) Com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência
do resultado.

Essa imputação criminal que faz com que o professional da saúde responda como se
atuante fosse, se deve ao fato de que este tem o dever de garantir a vida. Uma outra forma de
eutanásia, é a ativa direta, permitida no ordenamento jurídico brasileiro, e que consiste em
administrar fármacos que aliviem a dor do paciente, contudo, como consequência, catalisa a
morte. Nessa situação, nada pode ser feito, uma vez que prevalence o princípio da
beneficência e com isso, o profissional médico não pode ser responsabilizado criminalmente
pois, não há como se exigir uma conduta diversa da realizada (SILVA, 2019).

3.2 Ortotanásia e o Ordenamento jurídico brasileiro

A ortotanásia é definida como a supressão dos tratamentos ineficazes que apenas


prolongam o sofrimento dos pacientes terminais, dando a eles a autonomia para escolher não
prolonger a vida através de tratamentos dolorosos, permitindo-os morrer com dignidade. Essa
temática traz a seguinte indagação: o que deve ser considerado mais importate, o direito à
vida, ainda que esta acarrete sofrimento, ou a dignidade da pessoa humana? (RIDOLPHI;
RANGEL, 2017).
Nesse cenário, é perceptível que escolher morrer com dignidade seria o mesmo que
renunciar uma morte digna em prol do prolongamento da vida pois, e mambas as situações, o
acontecimento da morte é certo e iminente. Essas são as situações onde pode ocorrer a
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ortotanásia, quando não existem chances de cura do paciente, sendo sua morte certa e
determinada (RIDOLPHI; RANGEL, 2017).
O que é evidente é que optar pela morte digna é também optar pelo direito à vida. Há
indivíduos que lutam pela vida até o ultimo Segundo, ainda que isso cause dor e sofrimento,
entretanto, existem outros que preferem não prolongar a vida pois não suportam o sofrimento,
então escolhem morrer tranquilos ao lado dos familiares; isso é morrer dignamente. O direito
de morrer deve ser uma escolha do paciente, não devendo o Estado intervir (SANSON, 2018).
No ordenamento jurídico brasileiro não há menção a prática da ortotanásia, sendo ela
muitas vezes equiparada, no código penal, com a omissão de socorro (art. 135). Essa
interpretação errônea ocorre porque há omissão das normas de direito, ao não haver
tratamento específico para a ortotanásia (SANSON, 2018).
A primeira Lei no Direito Brasileiro a tartar da ortotanásia foi a Lei Estadual nº 10.241
de 1999 do Estado de São Paulo, conhecida como Lei Covas. Esta levava o nome de um ex-
governador que ao descobrir um câncer terminal, que sem chances de cura, optou por utilizer-
se da Lei para recusar os tratamentos inúteis que serviam apenas para prolongar sua vida
(RIDOLPHI; RANGEL, 2017). A Lei Estadual nº 10.241 de 1999, é objetiva em seu artigo 2º,
inciso XXIII:

Art. 2º - Entre os direitos dos usuários dos serviços de saúde no Estado de São
Paulo, dentre outros, estão os de: [...]
XXIII - recusar tratamentos dolorosos ou extraordinários para tentar prolongar a
vida e o de optar pelo local de sua morte.

Posteriormente, foi criada a Resolução nº 1.805 de 2006, pelo Conselho Federal de


Medicina (CFM), onde há referência a prática da ortotanásia. Na Resolução é consentido aos
médicos a possibilidade de suspender os tratamentos que prolonguem a vida de pacientes
terminais desde que houvesse a permissão do paciente, ou no caso de impossibilidade deste, a
permissão dos seus familiares. Segundo a Resolução nº 1.805 de 2006:
Na fase terminal de enfermidades graves e incuráveis é permitido ao médico limitar
ou suspender procedimentos e tratamentos que prolonguem a vida do doente,
garantindo-lhe os cuidados necessários para aliviar os sintomas que levam ao
sofrimento, na perspectiva de uma assistência integral, respeitada a vontade do
paciente ou de seu representante legal.

Com a omissão do ordenamento jurídico e uma Resolução do CFM dispondo sobre a


temática, começaram a haver debates e dúvidas relacionadas a prática, quanto a possibilidade
de punir quem a realiza e sobre a legalidade ou não da conduta. Com essa Resolução foi
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permitido aos médicos oferecer uma morte digna e tranquila aos pacientes, proporcionando
somente os cuidados paliativos destinados ao alívio das dores (CARDOSO, 2017).
Todavia, nem todos concordaram com a Lei Covas e com a Resolução. A exemplo de
um Procurador Regional do Distrito Federal, que propôs uma ação civil pública nº
2007.34.00.014809, sob o argumento de que não consta, no ordenamento jurídico, a prática da
ortotanásia e que sua autorização estaria estimulando os médicos a praticarem o homicídio.
Também foi argumentado que o CFM não pode decidir sobre o direito à vida pois, trata-se de
matéria de competência exclusiva do Congresso Nacional (CARDOSO, 2017).
A partir de todo esse debate e discordâncias sobre a temática, a ortotanásia passou a ter
uma atenção maior no Congresso Nacional e desde então surgiram inúmeros projetos de Lei
que versam sobre a prática e que ainda tramitam, há anos, no Congresso Nacional (SOUSA,
2017).
O Projeto de Lei nº 3.002 de 2008, fala sobre a regulamentação da ortotanásia no país.
Um outro que dispões sobre o tema é o Projeto de Lei nº 6.544 de 2009, que trata dos
pacientes em estado de doença terminal e seus devidos cuidados. Há também o Projeto de Lei
nº 6.715 de 2009, onde é proposta uma alteração do Código Penal para excluir a ilicitude da
ortotanásia do ordenamento jurídico (CARDOSO, 2017).
Em 2010 passou a entrar em vigor o novo código de Ética Médica, que permite ao
médico ter a liberdade de realizar a ortotanásia em paciente que se encontre em estado
terminal, desde que exista uma prévia autorização deste, ou em caso de impossibilidade, da
família (CFM) (SOUSA, 2017).

3.3 Distanásia e o Ordenamento jurídico brasileiro

O conceito trazido pelo dicionário Aurélio sobre a prática da distanásia, é o de morte


lenta, com grande sofrimento. É um tratamento inútil que consiste no adiamento da morte de
um paciente por meio de métodos invasivos e desnecessários que geram sofrimento mas não
resultam em recuperação. O médico pratica a distanásia quando submete o paciente terminal
ao sofrimento visando prolongar o processo de morte enquanto busca alternativas, muitas
vezes inúteis, de salvar-lhes a vida (JÚNIOR; ALVES, 2015).
Pela distanásia, também denominada por futilidade médica pelos estudiosos que não a
apoiam, tudo deve ser feito ainda que gere sofrimento exagerado ao paciente. O fato é que a
prática não se preocupa com a qualidade de vida do paciente. Embora muitos pacientes optem
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pela distanásia, ela vem sendo um padrão definido pelos médicos, dispensando os pacientes
de fazer escolhas (LIMA, 2018).
Segundo Lima (2018), a distanásia atua em oposição a ortotanásia pois, enquanto essa
busca uma morte digna, esta fere a dignidade do indivíduo. Com isso, o CFM por meio da
Resolução nº 1.931, de 17 de setembro de 2009, aprovou o Código de Ética Médica que
contém em seu capítulo I:

XII. Nas situações clínicas irreversíveis e terminais, o médico evitará a realização de


procedimentos diagnósticos e terapêuticos desnecessários e propiciará sob sua
atenção todos os cuidados apropriados.

O inciso XII mencionado anteriormente é um enorme avanço para a medicina, uma


vez que ele versa contra a prática da distanásia. Já no Capítulo V, artigo 41 do Código de ètica
Médico, é tratado da proibição de antecipar a morte – praticar a eutanásia – e quanto a não
empreender ações que não trazem a cura ao paciente, bem como leva em consideração a
autonomia do paciente ou, na impossibilidade deste, da autonomia do familiar:

Art. 41. Abreviar a vida do paciente, ainda que a pedido deste ou de seu
representante legal.
Parágrafo único. Nos casos de doença incurável e terminal, deve o médico oferecer
todos os cuidados paliativos disponíveis sem empreender ações diagnósticas ou
terapêuticas inúteis ou obstinadas, levando sempre em consideração a vontade
expressa do paciente ou, na sua impossibilidade, a de seu representante legal.

No Brasil, realizar a eutanásia bem como a distanásia é crime, respondendo que lhes
der causa pelo crime de Homicídio Privilegiado, ainda que não exista jurisprudência pacífica
sobre o tema. A pena para quem o pratica é de 12 (doze) até 30 (trinta) anos de reclusão
(SANSON, 2018).
Analisar a distanásia é versar sobre a possibilidade de suspensão de tratamentos
ineficazes, devendo respeitar a manifestação de vontade do próprio paciente ou, no caso de
estar impossibilitado de tomar as decisões, respeitar a decisão dos familiares, amigos ou em
determinados casos, até do Estado, de optar por não realizar um tratamento que não resulta em
cura. Dessa forma, o médico responsável não deve ser responsabilizado, caso por
consentimento prévio, suspenda ou não dê início ao tratamento (JÚNIOR; ALVES, 2015).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Por meio do presente estudo é perceptível que a Constituição Federal Brasileira fala
sobre o direito à vida e dignidade da pessoa humana como bens invioláveis pois, estão
intimamente relacionados com a segurança. Contudo, não aborda sobre a morte, tema bastante
debatido atualmente.
O estudo também destacou a importância de se respeitar a autonomia do paciente que
se encontra em estado terminal, uma vez que todos têm direito de viver, desde que seja de
maneira digna.
Na jurisdição brasileira somente é admitida a morte como ciclo natural e, apenas a
ortotanásia reúne os requisitos que o direito brasileiro e a medicina admitem. Todavia, o
estudo mostra que existem debates envolvendo a ortotanásia por haver conflito de ideias entre
quem concorda com a prática e quem alega que a ortotanásia se trata de omissão de socorro,
além de alegar sua ilegalidade por não constar no ordenamento jurídico brasileiro.
O fato é que através deste trabalho, conclui-se que embora a vida esteja acima de todos
os demais direitos, existem situações que permitem a ponderação quanto a não haver
necessidade de manter uma vida em constante sofrimento, desde que a atuação não seja
destinada a antecipar ou a morte ou mesmo adiá-la sem que o paciente tenha interesse.
Por fim, é válido ressaltar que o direito à vida deve ser analisado sob o prima
individual e não coletivo. E, por haverem lacunas no direito brasileiro acerca da temática, esta
deve ser discutida sem que haja tabus para que ocorra uma uniformização da jurisdição de
maneira que permita respeitar a autonomia do paciente ao escolher morrer de forma digna.

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