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TURISMO CRIATIVO – EXPERIÊNCIAS SOTEROPOLITANA

Sabrina Aguiar Lewandowski1

RESUMO

O turismo apresenta várias vertentes de impacto econômico e social. Intencionando reverter o


impacto negativo e a massificação do destino turístico, surge a possibilidade de desenvolver o
turismo criativo. O trabalho se propõe a realizar uma investigação acerca das atividades
turísticas em Salvador, e sua potencialidade em promover o turismo criativo. O estudo
identificou a economia criativa e o turismo criativo como ferramentas para o desenvolvimento
socioeconômico, cultural e ambiental da cidade. Na pesquisa bibliográfica, embasou-se em
referenciais teóricos de especialistas a fim de dar sustentação ao estudo. Ressalta-se o quão
escassa é a bibliografia sobre o tema em questão, logo este trabalho contribui para o aumento
de uma bibliografia especializada. Conclui-se que o turismo criativo já é realidade em
Salvador, mas a margem de ações dos poderes públicos que desenvolvem políticas para o
turismo. O turista criativo busca experiências ativas e autênticas do destino, e interação com a
população autóctone, com uma proposta de apoio á diversidade cultural, e fortalecimento da
identidade na população, e inserção econômica social.

PALAVRAS-CHAVE: Turismo Criativo, Turismo de Experiência, Salvador Criativa.

1
Mestre em Turismo pela Universidad Miguel de Cervantes, Espanha. Especialista em planejamento
regional e gestão ambiental pela Universidade Salvador. e-mail: aguiar.turismo@gmail.com
RESUMO

El turismo presenta diversos aspectos del impacto económico y social. Destinado para revertir
el impacto negativo y el destino turístico de masas, existe la posibilidad de desarrollar el
turismo creativo. El estudio tiene como objetivo realizar investigaciones acerca de las
actividades turísticas en Salvador, y su potencial para promover el turismo creativo. El estudio
identificó la economía creativa y el turismo creativo como herramientas para el desarrollo
socio-económico, cultural y ambiental de la ciudad. En la literatura, se suscribió en los marcos
teóricos de expertos con el fin de dar apoyo al estudio. Cómo escasa se enfatiza es la literatura
sobre el tema en cuestión, por lo que este trabajo contribuye al aumento de la literatura
profesional. Llegamos a la conclusión de que el turismo creativo es ya una realidad en
Salvador, pero el margen de actuación de los poderes públicos en desarrollo de políticas para
el turismo. El turista creativo buscando experiencias activas y auténticos del destino, y la
interacción con la población local, con una propuesta de apoyo a la diversidad cultural y el
fortalecimiento de la identidad de la población, la inclusión social y econômica.

PALABRAS- CLAVE: Turismo Creativo Turismo de Experiencia, Salvador Creativa.


O turismo como atividade econômica tem a capacidade de gerar emprego nos mais
diversos setores, desde a produção associada ao turismo como também bens e serviços
relacionados direta ou indiretamente com a atividade. Em Salvador, o turismo é uma atividade
recente e seu planejamento organizacional tem sua origem no período pós-ditadura militar.

No decorrer dos anos, criou-se a imagem de que o turismo tem a possibilidade de


transformar drasticamente a economia local sendo um setor econômico caracterizado pela
ideologia de contribuir para amenizar a pobreza e beneficiar a comunidade. Anterior à
implantação de novos empreendimentos são feitos estudos nos quais são apresentados
exemplos de situações similares que mudaram depois da implantação do turismo. Para o
contínuo crescimento do turismo em massa houve a exploração lucrativa de recursos naturais
e culturais sem se preocupar com a manutenção do bem para o futuro.

O crescimento desordenado do turismo pode causar danos irreversíveis para as


culturas e ao meio ambiente, sendo que os impactos que o mau planejamento turístico pode
causar muitas vezes não são avaliados com o mesmo rigor que as cifras monetárias.

Dentro dessa perspectiva, objetiva-se com este trabalho, circunscrever o papel


exercido pelo turista criativo na ressignificação a cultura baiana em Salvador. O crescimento
da atividade turística provoca diversos discursos em meio acadêmico que propõem
compreender melhor e mensurar o impacto desta atividade no meio em que foi implantada.

O turismo estimula a existência e a reabitação de sítios históricos, construção e


reforma de monumentos por meio de sua transformação em recursos recreacionais e também
propicia a revitalização das atividades tradicionais em declínio estimulando a transformação
de antigas habitações em acomodações turísticas mantendo a estrutura e características
originais.

A observação comum a respeito dos impactos culturais é que o turismo tende a reduzir
os povos e as culturas a objetos de consumo e ocasiona desajustes na sociedade receptora. Isto
ocorreu no principal ponto turístico de Salvador, o Centro Histórico Pelourinho. Antigos
casarões foram restaurados e adaptados á atividade turística. Não obstante, para que isto
ocorresse, a população residente em sua maior parte fora expulsa relegando uma área de
usufruo da população a uma área de usufruo somente turístico, caracterizando a gentrificação
local. Talvez nesta situação resida à problemática que em tempos hodiernos o turismo em
Salvador vive.
A população marginalizada para a revitalização do Centro Histórico ainda reside nas
áreas periféricas e ruas abordando turistas de forma exploratória. Já os residentes de outros
bairros não frequentam o Centro Histórico, por insegurança e falta do sentimento de
pertencimento ao local e á história. Logo, a importância deste trabalho repousa em mensurar e
caracterizar a ressignificação do ponto turístico pela população autóctone, que para criar
experiências autênticas oferece aos turistas oficinas de capoeira, percussão, dança, trançados
de cabelo, culinária, reinterpretando sua cultura e história, buscando apresentar aos turistas
locais de autêntica cultura baiana.

O trabalho limita-se á analise da intercessão turística em Salvador. O objetivo da


pesquisa bibliográfica é rever textos de forma crítica e analisar como se deu o processo de
implantação do turismo na cidade, bem como fazer uma análise teórica sobre a Economia
Criativa, em especial sobre o Turismo Criativo, incluindo as experiências criativas na cidade.

A globalização e as inovações tecnológicas e comunicacionais transformaram as


estruturas do mundo contemporâneo e conformaram o que Manuel Castells classifica como ―a
sociedade em rede‖ (CASTELLS, 2000). Para o autor, esta sociedade é sobre tudo,
caracterizada por um profundo processo de reestruturação econômica e social provocada pelas
novas formas de produção, armazenamento e transmissão digital das informações via redes de
computadores. Em geral, são incluídas no escopo das atividades criativas, aquelas resultantes
de ―ato criativo gerador de um produto, bem ou serviço, cuja dimensão simbólica é
determinante do seu valor, resultando em produção e riqueza cultural, econômica e social‖
(MINC,2012).

Embora o termo economia criativa esteja em voga, não há nada de novo na relação
cultura e economia. De fato, desde a antiguidade clássica, pintores, escultores, escritores e
filósofos eram apoiados financeiramente por mecenas das artes. Com o passar do tempo, as
relações comerciais entre artistas e consumidores da arte fortaleceram-se caracterizando a
indústria cultural. Atualmente, pesquisadores e instituições passaram a dar destaque á
criatividade como mola propulsora do desenvolvimento econômico social e urbano. A então
chamada economia da cultura, mais restrita aos campos da arte e do patrimônio, foi ampliada
para abarcar outros setores como arquitetura, moda, designer, passando a ser nomeada como
economia criativa. A economia criativa compreende em seu escopo tanto as atividades
tradicionais relacionadas á cultura, como artes cênicas, cinema, música, da mesma forma que
as atividades que têm como insumo principal a criatividade e geram bens simbólicos.
(UNCTAD, 2010)

A Bahia tem como marca a identificação de um estado que se singulariza por sua
riqueza e diversidade cultural. A cultura pelo que apresenta de mais intrinsecamente
simbólico, da identidade e valores compartilhados, mas também por seu impacto econômico,
e pela geração de um ambiente propício à eclosão da criatividade. A motivação cultural é
responsável por atrair 15% dos turistas nacionais, e 20% dos turistas internacionais que
visitam a Bahia (FIPE, 2009).

Os destinos turísticos buscam novas estratégias para aumentar o número de visitantes,


e sobre tudo conseguir que eles voltem. O turismo criativo já existe em Salvador, mas não se
apropriando desta nomeclatura. Logo, o setor público deveria almejar implantar o turismo
criativo objetivando desenvolver uma estratégia mercadológica, dentro do Eixo Estratégico
Inovação, integrada á todos os segmentos turísticos praticados na Bahia, visando impulsionar
oportunidades de renda a empreendimentos criativos com foco no turismo. Conduzindo
assim, a formulação, a implantação e o monitoramento de políticas públicas para o
desenvolvimento turístico local e regional.

O turismo criativo demanda uma experiência ativa autêntica que propicie o


desenvolvimento pessoal do turista. A criatividade será um diferencial que envolva o
aprendizado do residente para com o turista.

O turismo criativo tem como base a cultura intangível da vida cotidiana. O capital
cultural que transforma as relações no modo de compartilhar da vida de outros. A diversidade
cultural é uma força que deve nutrir a criatividade, a reconciliação e o diálogo. Neste sentido
a somatória cultura, criatividade, turismo geram uma rede de valores. A interatividade do
turista no aprendizado cotidiano faz com que ele prolongue mais tempo no destino visitado.
Ao mesmo momento o turismo criativo coloca novos lugares no mapa, lugares estes, não
frequentados anteriormente pelo turista, aumentando o contato com a cultura local. O turismo
criativo é uma estratégia da segmentação em nichos mais competitivos.

O Turismo é a combinação de bens e serviços que objetiva a promoção, planejamento,


execução de viagens, serviços de recepção, hospedagem e atendimento aos indivíduos e
grupos fora de sua residência habitual. (ANDRADE, 1998, p 38). Possui varias segmentações
a depender do modo como é praticado. Segundo o Marco Teórico do Ministério do Turismo
Brasileiro:
―A segmentação é entendida como uma forma de
organizar o turismo para fins de planejamento, gestão e
mercado. Os segmentos turísticos podem ser
estabelecidos a partir dos elementos de identidade da
oferta e também das características e variáveis da
demanda, em função da motivação do turista, e em
relação à atitude do prestador de serviços, da
comunidade receptora e do turista, sob vários aspectos‖.
(Marcos Conceituais – MTUR, 2010)

Sobre a segmentação Ignarra (1990) afirmam que o turismo cultural compreende uma
infinidade de aspectos, todos eles possíveis de serem explorados para a atração dos visitantes.
A arte é um dos elementos que mais atraem turistas. A pintura, a escultura, as artes gráficas, a
arquitetura, música, dança são elementos procurados pelos turistas.

Assistimos à intensificação do turismo cultural, na medida em que, contando com a


infraestrutura proporcionada pela economia globalizada, essa prática oferece entretenimento
de boa qualidade, não massivo, àqueles que entendem que o global é produto da soma
diferenciada das partes. Desse modo, ao procurar a diferença, o turista cultural propõe-se o
consumo não alienado e menos agressivo.

Explica Leff:

A cultura, entendida como as formas de


organização simbólica do gênero humano remete
a um conjunto de valores, formações ideológicas
e sistemas de significação, que orientam o
desenvolvimento técnico e as práticas produtivas,
e que definem os diversos estilos de vida das
populações humanas no processo de assimilação
e transformação da natureza (Leff, 2000, p. 123).

Nesta vertente de pensamento, surgiu o turismo de experiência. Alguns autores


abordaram de forma inovadora o tema experiência e consumo, sendo que os percursores da
discussão são as obras de Rolf Jensen A sociedade dos sonhos, e B Joseph e Pine II, e James
H Gilmore com a Economia da Experiência. Sendo assim, começa a se redefinir o perfil de
turistas, no qual ―o prazer de viajar está intimamente ligado às experiências autênticas que
viverão durante a viagem, em uma perspectiva individual e personalizada‖. (GAETA, 2010 p.
14)

Trigo (2010) interpreta a viagem como algo acima de um deslocamento geográfico,


cultural ou social, mas uma jornada interior, o que justifica ser uma experiência fundamental
na vida das pessoas.

―A experiência possui conteúdos


importantes. É um mundo em si, que nos é
representado, e o modo como encaramos e
vivemos o mundo é manifestado por nossas
palavras e atitudes. O relacionamento com a
própria experiência envolve memória,
reconhecimento e descrição, todos aprendidos por
habilidades exercidas nas relações interpessoais,
seja em grupos mais restritos, seja na sociedade.‖
(SIMON BLACKBURN, The Oxford Dictionary
of Philosophy. (Oxford: Oxford University, 1996,
p 130).

A economia da experiência esta pautada no desenvolvimento, fortalecimento e


consolidação do arranjo produtivo de pequenos negócios, apoiando os empreendedores legais
na agregação de valor aos produtos turísticos do território, trabalhando o conceito de
Economia de Experiência, visando à inserção de novos mercados. Em outras palavras, é a
comercialização de destinos tendo como principal produto, a experiência turística. ―A criação
da experiência e emoções que o consumo de determinado produto propicia ao consumidor,
oportunizando vivencias individualizadas, e desta forma, singulares‖. (TONINI, 2009 P. 91)

―Para ser uma experiência, a viagem


precisa superar a banalidade, os aspectos triviais,
estereotipados, e convencionais e estruturar-se
como uma experiência que nasça da riqueza
pessoal do viajante em busca de momentos e
lugares que enriqueçam sua história‖ (TRIGO,
2010 p 35).

Ainda são incipientes no Brasil produtos voltados para o segmento da economia da


experiência, tendo em vista que não existe uma definição exata para o conceito de turismo de
experiência. Os produtos e destinos foram pautados no conceito de economia da experiência.

―O risco de não conceituar o turismo de experiência reside na possibilidade midiática


de maquiar uma experiência banal e transformá-la em algo pretensamente relevante ou
simplesmente no ámbito fake e do kistsh, remodelados como produtos turísticos caindo no
modismo comercial.‖ (Trigo, 2010).

A experiência pode alargar o conhecimento humano, pode modificar de forma positiva


o modo de pensar e é um processo intelectual. Isto aplicado ao turismo aumenta a qualidade
da viagem. Neste sentido o turista busca uma experiência contextualizada e ativa.

A cultura como um lugar de inovação e expressão da criatividade faz parte do novo


desenvolvimento econômico, socialmente justo e sustentável (MINC, 2015). As atividades
culturais de vários tipos de produtos e serviços que eles produzem são valorizadas – tanto por
aqueles que os fabricam quanto por aqueles que os consomem – por razões sociais e culturais
que, provavelmente, complementam e transcendem uma valorização puramente econômica.
Essas razões podem incluir considerações estéticas ou a contribuição das atividades para a
compreensão comunitária de identidade cultural. Se tal valor cultural pode ser identificado,
ele poderá servir como uma característica observável pela qual os produtos e serviços
culturais podem ser distinguidos em relação a diferentes tipos de commodities.

Assim, o turismo criativo tem por base a criação de experiências autênticas que
pressupõem uma participação ativa e o envolvimento do consumidor na sua produção.

A criatividade passa a ser um elemento crucial na definição do escopo do segmento


cultural já que o turismo cultural por si só nem sempre consegue criar estas oportunidades
oferecendo uma experiência muito passiva e de contemplação.
Tendo em vista que a política pública em cultura não é suficiente para alavancar o
empreendedorismo cultural, percebe-se que é necessário criar modelo próprio e pertinente
sobre as especificidades do turismo na Bahia, combatendo a pasteurização cultural. O
engessamento da cultura baiana dá-se devido á demanda do capitalismo mercadológico que
repete recriando, e não inovando.

O conceito de Turismo Criativo (Creative Tourism) constitui-se como aquele tipo de


turismo que oferece aos visitantes a oportunidade de desenvolver o seu potencial criativo
através da participação ativa em experiências de aprendizado que são características do
destino de férias. (RICHARDS, 2003)

O advento de turismo criativo resulta de uma sociedade contemporânea mais instruída,


mais exigente, mais experiente, mais independente. Algumas atrações culturais já reorientam
a sua oferta para este novo segmento de público (ou para estas novas motivações e
comportamentos) oferecendo oportunidades de lazer associadas á escrita criativa, a produção
de artesanato local, aos workshops de música, aos ateliers artísticos, entre outros.

O Turismo Criativo tem relação com o lugar, e diferencia o capital do simbólico. Cria
condições para as pessoas fazerem o que elas querem, e de sobreviver com dignidade da sua
arte propiciando a ética da colaboração e troca de conhecimentos.

O surgimento de consumidores enquanto criadores ou coautores de produtos criativos


tem estimulado uma quantidade enorme de interações e intercâmbios culturais. O turismo
criativo surge de acordo com as necessidades que o turista encontra em satisfazer suas
expectativas. Com características marcantes, este turista busca envolvimento e participação na
concepção de um produto mais variado e animado no qual sua ativa participação é parte vital
do processo de construção da atividade turística, implicando na consolidação da atividade e
do processo criativo não só para os produtores culturais, bem como para o próprio turista.
(RICHARDS, apud FILIPE, 2009). Pode-se dizer que o principal diferencial do turismo
criativo não são apenas as atividades e os agentes do segmento, mas sim a vivência, a
expectativa e a participação criativa do indivíduo no processo de desenvolvimento turístico.
Para Richards e Raymond (2000) apud Porto Alegre (2013) o turismo criativo oferece
ao visitante a oportunidade de desenvolver potenciais criativos através da participação ativa
em cursos e experiências de aprendizagem empreendendo as características dos destinos
visitados.
Ainda segundo Richards (2013), o turismo criativo é um processo dinâmico no qual o
indivíduo pode desenvolver determinadas competências que significam um aumento dos seus
conhecimentos e capacidades. Neste aspecto, o segmento possibilita ao visitante a
oportunidade de participar da atividade e desenvolver habilidades como a criatividade
vivendo a realidade da comunidade receptora.

Um dos elementos que se consideram mais relevantes na discussão das ―comunidades


criativas‖ é a questão da autenticidade. Aparentemente, as cidades de sucesso conseguiram a
sua afirmação pela identificação e fortalecimento dos seus fatores de diferenciação em relação
a outros locais, pelo que não é imitável. A cultura afrobrasileira tem uma expressão muito
forte na Bahia, seja na musicalidade, dança, gastronomia ou religiosidade.

A Bahia foi o primeiro estado brasileiro a estruturar o segmento turismo étnico. Esta
vertente do turismo étinco-afro parte da compreensão da ancestralidade do povo baiano, sua
mistura de raças e cultura, que se traduz em diversas expressões culturais autênticas e
específicas da Bahia, todas relacionadas á economia criativa.

As atividades criativas, de acordo com o MINC são definidas como o ato criativo
gerador de um produto, bem ou serviço, cuja dimensão simbólica é determinante do seu valor,
resultando em produção, riqueza cultural, econômica e social.

Atualmente, as atividades culturais estão entre as principais geradoras de ocupação e


renda na economia mundial. De acordo com pesquisa realizada pelo IBGE, e elaborada pela
Secult – Secretaria de Cultura, do Estado da Bahia e Sei – Superintendência de Estudos
Econômicos e Sociais da Bahia Em 2010, o segmento criativo ocupou 57.619 pessoas,
representando 1% das ocupações no Estado da Bahia. Quando se considera o segmento
criativo e as atividades relacionadas, são 111.613 profissionais ocupados em seu trabalho
principal, o qual representa quase 2% no Estado da Bahia, superando setores profissionais tais
como o petroquímico (1,91%) e a construção civil (0,11%). (IBGE, 2010) O setor criativo
possui uma participação relevante ao se analisar os efeitos multiplicadores deste setor na
economia, pois esse incorpora diferentes atividades econômicas. Ainda de acordo com a
mesma pesquisa, as atividades relacionadas á cultura ocupa 50 mil pessoas no Estado da
Bahia.

Nesse caso, é importante mensurar não somente os resultados econômicos da


criatividade, mas também o ciclo de atividade criativa por meio da interação de quatro formas
de capital — social, cultural, humano e estrutural ou institucional — como determinantes
do crescimento da criatividade: o capital criativo.

As atividades culturais são descontinuadas, fazendo com que o profissional das artes
assuma mais de uma função ao mesmo tempo. Por isto, o turismo criativo é uma oportunidade
de o artista incrementar a renda, com a transmissão do seu saber, atuando em sua profissão
artística.

A sensação de autonomia motivada por esses acontecimentos e o processo de


redefinição das identidades culturais provavelmente continuarão a serem influências
significativas no crescimento das indústrias criativas no futuro, contribuindo como insumo
para o desenvolvimento do Turismo Criativo.

Percebem-se em Salvador, bolsões de resistência criativa contra o controle social e


com atitudes éticas de emancipação. Na vanguarda das pesquisas, do Sebrae elaborou um
projeto para conhecer e orientar ações no universo da economia criativa. O Projeto Territórios
se propõe a fomentar os negócios integrantes dos segmentos criativos nos territórios
selecionados, promovendo a competitividade dos pequenos negócios de forma intersetorial e
participativa. Mapearam-se os territórios criativos, com o levantamento e o cruzamento de
informações da cadeia produtiva dos empreendimentos culturais e criativos para avaliar suas
vocações e principais demandas.

A área de abrangência compreende ações em sete territórios criativos de Salvador e


mais um território no recôncavo da Bahia, mais precisamente em Cachoeira e São Felix. Além
desses oito Territórios, o Projeto chegará a Ilhéus e Porto Seguro.

O turismo criativo pautado na criatividade endógena e no capital imaginário baiano


pode ser realizado de inúmeras maneiras e em vários locais, porém requer uma participação
ativa do visitante envolvido numa combinação de consumo qualificado e produção
qualificada.

Dentro da economia criativa, o turismo pode ser inserido na seguinte configuração.


Fonte: O próprio autor

Expressões culturais:

Artesanato: Os artesãos ressignificam as identidades culturais em função do novo


momento histórico, no qual as comunidades populares tentam retomar sua cultura enquanto
recurso para a melhoria sociopolítica e econômica (Yúdice, 2004, p.25). São realizadas pelo
Sesc Artesanato no Pelourinho, oficinas de cerâmica, de renda de bilro, artesanato em vidro
com artesãos de Maragogipe, cidade reconhecida pelo ofício das artes. Outros espaços na
cidade, tais como o Mercado Iaô, no bairro da Ribeira, também realiza oficinas de artesanato
em geral, como promoção da inclusão econômica social da população residente em seu
entorno.

Gastronomia: Pratos da culinária baiana são reconhecidos internacionalmente, o que


levou o acarajé a ser considerado como patrimônio imaterial. Oficinas de culinária baiana, e
africana são realizadas pela Casa do Beni, e alguns restaurantes na cidade com o intuito de
divulgar a cultura afrobaiana.
Cultura:

Afro: O segmento cultural é responsável por atrair 15% dos turistas nacionais e 20%
dos internacionais que visitam a Bahia. Vários aspectos da cultura podem ser transmitidos
através de oficinas, seja de música, dança, festividades, entre outros.

Patrimônio:

Capoeira: A capoeira baiana tem seu reconhecimento internacional, e está presente


em 150 países, em sua grande parte por capoeiristas baianos, embaixadores culturais da
Bahia. Oficinas de capoeira, em suas diversas vertentes, angola, regional são realizadas em
academias de capoeira espalhadas por toda a cidade, por mestres renomados.

Artes:

Música: A musicalidade baiana é reconhecida internacionalmente, sendo responsável


pelo lançamento de vários estilos musicais tais como o Axé Music, Afro reggae (Olodum),
Arrocha. No Pelourinho há várias escolas de percussão tais como Laboratório Musical,
Macambira, Olodum, Axé, oferecendo oficinas de percussão e música direcionadas a turistas.
Em vários ateliers na cidade e também nas academias de capoeira são realizadas oficinas com
os lutiers, de construção de instrumentos musicais, tais como berimbau, caxixi, timbal, entre
outros.

Com o intuito de fortalecer a cultura local e promover internacionalmente a cidade,


Salvador foi lançada em julho de 2015, como candidata ao título de Cidade da Música. Caso
seja selecionada, a capital baiana será a primeira cidade brasileira a fazer parte da Rede de
Cidades Criativas da Unesco no âmbito da música. A ideia é que o título atraia investimentos
no segmento da economia criativa; título dará mais projeção a Salvador e também é uma
oportunidade de mostrar que a cidade investe na música como uma ação social.

Dança: Os espaços de aprendizagem de danças em Salvador são diversificados e


espalhados por toda a cidade. No Pelourinho é possível aprender o samba de roda, o maculelê,
coreografias de axé também em forma de oficinas nas academias específicas de dança, tais
como a Funceb, ou dentro dos blocos afros, tais como Ilê Aiyê, Olodum, Axé, entre outros.

Artes plásticas: Um circuito de artes plásticas foi criado no Centro Histórico, no


bairro do Santo Antônio com oficinas de xilogravura, escultura em madeira e pinturas,
oportunizando que o visitante aprenda com o artista local.
Criações Funcionais

Moda: A moda afrobaiana é referência no modelo das vestimentas, e no colorido das


estampas. Durante o carnaval os blocos afros, tais como o Ilê Aiyê e Dida oferecem oficinas
de amarrações para roupas, e fantasias de carnaval. No entanto, durante todo ano, acontece em
vários espaços da cidade, oficinas de turbantes, e tranças fazendo a cabeça dos turistas que
visitam Salvador.

O Turismo criativo é algo além do material, que os turistas podem levar para casa após
sua viagem, trata-se de lembranças do pensamento, o que irá ajuda o turista a pensar diferente
sobre o mundo e seu lugar nele. (RICHARDS, apud PORTO ALEGRE, 2013).

Discorrer sobre turismo criativo na cidade de Salvador, permite despertar o interesse


de representantes do poder público e privado, da atividade turística, e sua relevância nos
remete á quebra de tabus, no qual o turismo pode ser um real fator de inclusão econômica
social da população autóctone, até então, excluída da atividade.

Sendo a capital do Estado, rica em diversidade cultural, o turismo criativo chega como
uma oportunidade para o desenvolvimento do turismo sustentável, revertendo à massificação
turística e colocando um novo produto no mercado, e fortalecendo a cultura baiana.

A lógica do turismo criativo já é realizada em Salvador, no entanto, não emprega esta


nomeclatura, e, portanto, deixa de utilizar um marketing mercadológico, que reposicione o
produto turístico no mercado. A apropriação do termo turismo criativo, em uma atividade que
já é realizada na cidade, vida potencializar e dar visibilidade para que mais turistas possam
participar das oficinas. A atual forma de divulgação das atividades criativas é feita pelo
próprio artista, que pela capilaridade de contatos, não chega a dar conhecimento, ao turista,
principalmente ao turista internacional.

Neste momento de crise, o Estado encontra uma oportunidade de adaptar-se ás


demandas desta nova estrutura social, concluindo que, no mundo globalizado e
interdependente, o Estado deixa de ser considerado como o autor principal das políticas
públicas e dá lugar a um processo de negociação que envolver diferentes atores sociais,
estruturando o segmento e desenvolvendo uma governança participativa no turismo a fim de
construir uma rede de turismo na qual a criatividade seja uma ponte de conhecimento
coletivo, conectando pessoas através do desenvolvimento de habilidades individuais.
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_______.L. G. G. Turismo básico/ Luiz Gonzaga Godoi Trigo. – 7ª ed.- São Paulo: Editora
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litorais e montanhas. – 2 ed.- São Pulo: Contexto, 2001.- (Coleção Turismo e Contexto).

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