Você está na página 1de 115

CURSO DE PROTEÇÃO

a
b
c

FERRAMENTAS DE ANÁLISE PARA ENGENHEIROS E TÉCNICOS DE PROTEÇÃO


3i0

i0 N1

Circuito Equivalente
i0 N1 de Sequência Zero
i0

i0
i0
i0
j.X0

N1.i0 = N1.i0 Edição


3i0 4

Edição MODIFICAÇÃO DATA POR DATA APROV.

CLIENTE

PROJETO DETALHE

CURSO DE PROTEÇÃO Ferramentas de Análise para Engenheiros e Técnicos de Proteção


Direitos Reservados: Autor: Instrutores: Total de Páginas
Virtus Consultoria e Serviços Ltda. Paulo Koiti Maezono Paulo Koiti Maezono
115
CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

SOBRE O AUTOR

Eng. Paulo Koiti Maezono

Formação

Graduado em engenharia elétrica pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo em 1969. Mestre
em Engenharia em 1978, pela Escola Federal de Engenharia de Itajubá, com os créditos obtidos em 1974
através do Power Technology Course do P.T.I – em Schenectady, USA. Estágio em Sistemas Digitais de
Supervisão, Controle e Proteção em 1997, na Toshiba Co. e EPDC – Electric Power Development Co. de
Tokyo – Japão.

Engenharia Elétrica

Foi empregado da CESP – Companhia Energética de São Paulo no período de 1970 a 1997, com
atividades de operação e manutenção nas áreas de Proteção de Sistemas Elétricos, Supervisão e
Automação de Subestações, Supervisão e Controle de Centros de Operação e Medição de Controle e
Faturamento. Participou de atividades de grupos de trabalho do ex GCOI, na área de proteção, com ênfase
em análise de perturbações e metodologias estatísticas de avaliação de desempenho.

Atualmente é consultor e sócio administrador da Virtus Consultoria e Serviços Ltda. em São Paulo – SP. A
Virtus tem como clientes empresas concessionárias, empresas projetistas na área de Transmissão de
Energia, fabricantes e fornecedores de sistemas de proteção, controle e supervisão. Já prestou serviços ao
Departamento de Engenharia de Energia e Automação Elétricas da Escola Politécnica da Universidade de
São Paulo e Instituto Presbiteriano Mackenzie.

Área Acadêmica

Foi professor na Escola de Engenharia e na Faculdade de Tecnologia da Universidade Presbiteriana


Mackenzie no período de 1972 a 1987. Foi colaborador na área de educação continuada da mesma
universidade, de 1972 até 2009.

Foi colaborador do Departamento de Engenharia de Energia e Automação Elétricas da EPUSP – Escola


Politécnica da Universidade de São Paulo, desde 1999 até 2009, com participação no atendimento a
projetos especiais da Aneel, Eletrobrás e Concessionárias de Serviços de Eletricidade.

Introdução e índice 2 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

INDICE

1. NOÇÕES FUNDAMENTAIS DE TRANSFORMADORES ................................................................................ 5


1.1 CONCEITO BÁSICO........................................................................................................................................ 5
1.2 NUM TRANSFORMADOR ............................................................................................................................. 6
1.3 A SATURAÇÃO. FORMA DE ONDA DA CORRENTE DE MAGNETIZAÇÃO .......................................... 8
1.4 MODELO MATEMÁTICO DA MAGNETIZAÇÃO ....................................................................................... 9
1.5 F.E.M. INDUZIDA NO SECUNDÁRIO ........................................................................................................... 9
1.6 CORRENTES DE CARGA. COMPENSAÇÃO DE AMPÈRES - ESPIRAS ................................................. 10
1.7 DISPERSÕES DE FLUXO ............................................................................................................................. 11
1.8 MODELO MATEMÁTICO DE TRANSFORMADOR .................................................................................. 12
1.9 POLARIDADE................................................................................................................................................ 12
1.10 CONEXÃO TRIÂNGULO – ESTRELA DE TRANSFORMADOR TRIFÁSICO OU DE BANCO DE
TRANSFORMADORES .............................................................................................................................................. 13
2. ATERRAMENTO DE SISTEMA......................................................................................................................... 16
2.1 CLASSIFICAÇÃO .......................................................................................................................................... 16
2.2 CURTO CIRCUITO A TERRA EM SISTEMA ATERRADO E EM SISTEMA ISOLADO.......................... 18
2.3 TRANSFORMANDO UM SISTEMA ISOLADO EM SISTEMA ATERRADO ........................................... 21
3. TRANSFORMADOR DE ATERRAMENTO ..................................................................................................... 22

4. REPRESENTAÇÃO DE SISTEMAS DE POTÊNCIA ...................................................................................... 24


4.1 DIAGRAMA UNIFILAR ................................................................................................................................ 24
4.2 DIAGRAMA DE IMPEDÂNCIAS ................................................................................................................. 26
4.2.1 Finalidade ................................................................................................................................................... 26
4.2.2 Fundamento ................................................................................................................................................ 26
4.2.3 Circuitos Equivalentes para Linhas de Transmissão (seqüência positiva) ................................................. 27
4.2.4 Circuito Equivalente para Transformador de 2 enrolamentos ................................................................... 28
4.2.5 Circuito Equivalente para Transformador de 3 enrolamentos ................................................................... 32
4.2.6 Circuito Equivalente para Geradores e Motores Síncronos ....................................................................... 33
4.2.7 Circuito Equivalente para Motores de Indução .......................................................................................... 36
4.2.8 O Diagrama de Impedâncias do Sistema .................................................................................................... 37
5. GRANDEZAS POR UNIDADE ............................................................................................................................ 38
5.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................... 38
5.2 BASE NUM PONTO DO SISTEMA ELÉTRICO .......................................................................................... 39
5.3 ESCOLHA DE BASES PARA UM SISTEMA ELÉTRICO ........................................................................... 40
5.4 DIAGRAMA DE IMPEDÂNCIAS EM P.U. .................................................................................................. 41
5.5 CÁLCULO DE IMPEDÂNCIAS P.U. DE UM TRANSFORMADOR DE TRÊS ENROLAMENTOS NUMA
DADA BASE DE ESTUDO ......................................................................................................................................... 44
5.6 EXEMPLO DE CÁLCULO COM DIAGRAMA DE IMPEDÂNCIAS EM P.U............................................. 47
5.7 EXERCÍCIO PROPOSTO ............................................................................................................................... 49
6. COMPONENTES SIMÉTRICOS ........................................................................................................................ 50
6.1 CONCEITO ..................................................................................................................................................... 50
6.2 CARACTERÍSTICAS DOS COMPONENTES SIMÉTRICOS...................................................................... 52
6.3 PARTICULARIDADES ................................................................................................................................. 57
6.4 CIRCUITOS EQUIVALENTES E IMPEDÂNCIAS SEQUENCIAIS ........................................................... 58
6.4.1 Seqüências Positiva e Negativa................................................................................................................... 58
6.4.2 Seqüência Zero ............................................................................................................................................ 59
6.4.3 Exemplo ....................................................................................................................................................... 63

Introdução e índice 3 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

7. DIAGRAMAS DE SEQUÊNCIA ZERO PARA TRANSFORMADORES DE POTÊNCIA .......................... 65


7.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................... 65
7.2 REATÂNCIAS DE MAGNETIZAÇÃO DE UM TRANSFORMADOR TRIFÁSICO OU DE UM BANCO
TRIFÁSICO.................................................................................................................................................................. 67
7.2.1 Introdução ................................................................................................................................................... 67
7.2.2 Seqüência Positiva (ou Negativa) ............................................................................................................... 68
7.2.3 Seqüência Zero ............................................................................................................................................ 69
7.3 DIAGRAMA DE SEQUÊNCIA ZERO DE TRANSFORMADOR DELTA / ESTRÊLA ATERRADA ........ 74
7.4 DIAGRAMA DE SEQUÊNCIA ZERO DE UM TRANSFORMADOR ESTRELA ATERRADA / ESTRELA
ATERRADA ................................................................................................................................................................ 76
7.5 DIAGRAMA DE SEQUÊNCIA ZERO ENVOLVENDO CONEXÕES ESTRELA ...................................... 78
7.6 DIAGRAMA DE SEQUÊNCIA ZERO DE TRANSFORMADOR ESTRELA ATERRADA – DELTA –
ESTRELA ATERRADA .............................................................................................................................................. 79
7.7 DIAGRAMA DE SEQUÊNCIA ZERO DE TRANSFORMADOR ZIG-ZAG ............................................... 82
8. NOÇÕES DE CURTO-CIRCUITO ..................................................................................................................... 84
8.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................... 84
8.2 TIPOS DE CURTO-CIRCUITO...................................................................................................................... 84
8.3 CAUSAS DO CURTO-CIRCUITO ................................................................................................................ 85
8.4 CURTO-CIRCUITO DE ALTA IMPEDÂNCIA ............................................................................................ 90
8.5 DESLOCAMENTO DE EIXO DA CORRENTE DE CURTO-CIRCUITO.................................................... 92
8.6 CURTO-CIRCUITO ENVOLVENTO TRANSFORMADOR DELTA ESTRELA ....................................... 93
8.6.1 Fase-Terra .................................................................................................................................................. 93
8.6.2 Bifásico........................................................................................................................................................ 93
8.7 TENSÕES E CORRENTES DURANTE UM CURTO CIRCUITO................................................................ 94
8.7.1 Correntes..................................................................................................................................................... 94
8.7.2 Tensões ........................................................................................................................................................ 95
8.8 EXEMPLOS DE REGISTROS GRÁFICOS ................................................................................................... 99
8.8.1 Curto-circuito Fase-Terra........................................................................................................................... 99
8.8.2 Curto-circuito Bifásico.............................................................................................................................. 100
8.8.3 Gráficos de Tensão e Corrente em Subestação 69 kV............................................................................... 101
8.9 OS RELÉS DE PROTEÇÃO E O CURTO-CIRCUITO ................................................................................ 103
8.9.1 Modos de Proteção ................................................................................................................................... 103
8.9.2 Funções de Proteção ................................................................................................................................. 103
8.10 EXEMPLOS DE SAÍDAS DE PROGRAMAS DE COMPUTADOR........................................................... 107
8.10.1 EXEMPLO PARA ANAFAS .................................................................................................................. 107
8.10.2 EXEMPLO PARA CAPE....................................................................................................................... 114

Introdução e índice 4 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

1. NOÇÕES FUNDAMENTAIS DE TRANSFORMADORES

1.1 CONCEITO BÁSICO

d d
Lei de Faraday: e  N  Volts
dt dt
 Fluxo (Weber)

 Fluxo Acoplado (Weber-espira)

Isto é, a Força Eletromotriz Induzida (F.E.M.) corresponde à taxa de variação do fluxo


acoplado, no tempo.

Caso particular: variação senoidal (fenômeno periódico)

máx.
Fluxo (Weber)

0 1/2 1
3/4
1/4

Figura 1.1 – Variação senoidal do fluxo num campo magnético

Ocorre a seguinte variação do fluxo acoplado no tempo:

Fluxo Acoplado Tempo (ciclos)

0 0
|N.máx| ¼
0 ½
|N.máx| ¾
0 1

Isto é, o fluxo acoplado varia de 0 a |N.máx| ou vice-versa, 4 vezes em cada ciclo da


senóide, ou seja, 4.f vezes por segundo.

N = número de espiras f = freqüência

Noções Fundamentais de Transformador 5 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Donde:

E médio = 4.f.N.máx. (pela Lei de Faraday)


E máximo = 4.f.N.máx. = 2  .f.N.máx
2

E eficaz = 2  .f.N.(máx/ 2)

E eficaz = 2  .f.N.eficaz = 4,44.f.N.máximo

1.2 NUM TRANSFORMADOR

Pode-se esquematicamente representar um transformador através da figura a seguir:

imag

V1 e1 e2

N1 N2

Figura 1.2 – Representação Esquemática de Transformador

 Ao se aplicar a tensão V1, impõe-se e1 = V1 (aproximadamente)

 Ao se impor e1, impõe-se o fluxo 

 O fluxo  (webers) flui no núcleo (circuito magnético) de comprimento médio


 (metros) e secção Sefetivo  S físico xKe m2

 O fluxo acopla os dois enrolamentos com N1 e N2 espiras respectivamente.


 A Indução Magnética B imposta no núcleo é: B webers / m2
S efetivo

 O material de que é feito o núcleo impõe a característica B-H conforme se segue:

Noções Fundamentais de Transformador 6 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Webers / m2

H
Amperes-espiras / m

Figura 1.3 – Característica B-H do Núcleo do Transformador

 Assim, se impõe a Intensidade do Campo Magnético H (ampères-espiras / m).

 Daí, tem-se a Força Magneto-Motriz F imposta no enrolamento

Fmag _ 1  H . ampères-espiras

 E a Corrente de Magnetização requerida da fonte (sistema) será então:

Fmag _ 1
imag _ 1  ampères
N1

Conclui-se, para o lado da tensão aplicada, que:

 O fluxo no núcleo depende da tensão aplicada (imposta).

 Dadas as características físicas e magnéticas do núcleo, para que o fluxo se


desenvolva, há necessidade de uma corrente de magnetização.

 A corrente de magnetização (para formar o campo magnético) depende, então de:

- Número de espiras do enrolamento 1 (N1)


- Comprimento do caminho do fluxo 
- Característica B-H do material do núcleo
- Seção do núcleo

- Tensão aplicada. Lembrar que E eficaz = 2  .f.N.eficaz = 4,44.f.N.máximo

Noções Fundamentais de Transformador 7 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

1.3 A SATURAÇÃO. FORMA DE ONDA DA CORRENTE DE MAGNETIZAÇÃO

Quando o valor instantâneo da indução B ultrapassa o joelho da característica B-H, o valor


da intensidade do campo H é maior do que haveria se não houvesse o joelho (isto é, se
não houvesse saturação, com a característica B-H linear).

V, B, 
H, F,
imag

t t
0

Figura 1.4 – Forma de Onda da Corrente de Magnetização em função da Característica B-H

A tensão e1 sendo senoidal, o fluxo  será senoidal (pela lei de Faraday) e


consequentemente a indução B também.

Se a indução máxima ultrapassa o valor do joelho (saturação) da característica B-H do


núcleo, a intensidade do campo H será deformada (senóide deformada) e
consequentemente a força magneto-motriz e a corrente de magnetização também serão
deformadas.

Pela teoria de Fourier, diz-se que a corrente de magnetização é composta de uma senóide
fundamental somada a senóides harmônicas (predominância da terceira harmônica, se a
indução máxima estiver ligeiramente acima do joelho).

Nota: caso, se de algum modo, não for possível para a fonte suprir tal corrente harmônica
(não for possível fornecer corrente deformada), então o fluxo no campo se deformará e
aparecerá no transformador, tensões harmônicas.

Noções Fundamentais de Transformador 8 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

1.4 MODELO MATEMÁTICO DA MAGNETIZAÇÃO

Define-se indutância de um circuito magnético como sendo a relação entre o fluxo


acoplado e a corrente de magnetização desse circuito. Então:

1 N1 .eficaz
L1   Henrys
imag imag

A reatância desse circuito de magnetização será:

N1 .eficaz
X mag  2. . f .L1  2. . f .
imag

imag

e1 jXmag

Figura 1.5 – Modelo do Circuito Magnético

e1  X mag .imag  2. . f .L1  2. . f .N1 .eficaz

1.5 F.E.M. INDUZIDA NO SECUNDÁRIO

O fluxo no núcleo acopla também o enrolamento secundário ou outros enrolamentos que


existirem no mesmo circuito magnético.

Esse acoplamento induzirá tensão no enrolamento secundário:

e 2 = 2  .f.N2.eficaz = 4,44.f. N2.máximo

Essa tensão induzida é conseqüência do fluxo no núcleo e do número de espiras


acopladas no lado secundário.

Daí, sendo: e 1 = 2  .f.N1.eficaz = 4,44.f. N2.máximo

Noções Fundamentais de Transformador 9 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

e1 N1
Tem-se:  que é válido para transformador ideal, sem perdas e sem
e2 N 2
dispersões de fluxo.

1.6 CORRENTES DE CARGA. COMPENSAÇÃO DE AMPÈRES - ESPIRAS

No secundário, tem-se uma tensão induzida. Pode-se alimentar uma carga através desse
enrolamento secundário.

imag + i1 i2
 mútuo

V1 e1 e2 V2 carga

N1 N2

Figura 1.6 – Enrolamento Secundário Alimentando Carga

 A corrente I2 de carga em N2 espiras, gera uma força magneto-motriz de:

F2  N 2 .I 2 ampères-espiras

 Essa FMM estaria associada a uma intensidade de campo H2, indução B2 e fluxo  2

 Mas o fluxo mútuo  mutuo depende da tensão aplicada (Lei de Faraday) e supõe-se que
essa tensão é constante (não muda). Isto é, o  mutuo não pode ser alterado com a
presença da carga.

 Consequentemente, no outro enrolamento (primário) aparecerá simultaneamente uma


força magneto-motriz de:

F1  N 1 .I 1 ampères-espiras de modo que F1  F2  0

Isto é, sem saldo de FMM para alterar o fluxo mútuo que só depende da tensão
aplicada.

 Conclusão: a toda corrente de carga I2, haverá uma corrente no outro enrolamento I1,
de modo que haja compensação de ampères-espiras (compensação de FMM), com:

N1.I1 = N2.I2

Noções Fundamentais de Transformador 10 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

1.7 DISPERSÕES DE FLUXO

Foi verificado que no enrolamento 1 tem-se:

F1  N 1 .I 1 (devido a carga) e F1 _ mag  N 1 .i1 _ mag

E que no enrolamento 2 tem-se:

F2  N 2 .I 2 (devido a carga)

Essas FMM, produzem fluxos que se fecham pelo ar ou por outro caminho que não seja o
núcleo do transformador, que são os chamados fluxos dispersos.

imag + i1 i2
 mútuo

1
V1 e1 e2 V2 carga

2

N1 N2

Figura 1.7 – Fluxos Dispersos no Transformador

Esses fluxos 1 e 2 estarão associados a FEM induzidas, devido ao acoplamento com os


respectivos enrolamentos:

Disp 2 N 2 .2
LDisp 2   Henrys
I2 I2

Disp1 N1 .1
LDisp1   Henrys
I1  imag I1  imag

A “queda de tensão” (FEM) no enrolamento 1, devido à dispersão de fluxo será:

VDisp1  X 1 .I1  imag   2. . f .LDisp1.I1  imag   2. . f .N1 .1 Volts

A “queda de tensão” (FEM) no enrolamento 2, devido à dispersão de fluxo será:

VDisp 2  X 2 .I 2   2. . f .LDisp 2 .I 2   2. . f .N 2 .2 Volts

Noções Fundamentais de Transformador 11 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

1.8 MODELO MATEMÁTICO DE TRANSFORMADOR

Pode-se agora montar o modelo matemático do transformador, considerando todos os


aspectos vistos até agora, mais as perdas por calor.

R1 j X1 R2 j X2
I1 I2

iexc+I1 iperda imag

V1 Rp j Xm e1 e2
V2

N1:N2
Ideal

Figura 1.8 – Modelo Matemático de Transformador

R1 = representa as perdas por calor no enrolamento 1

R2 = representa as perdas por calor no enrolamento 2

Rp = representa as perdas por calor no núcleo

j.Xm = representa o circuito magnético mútuo

j.X1 = representa o fluxo disperso no enrolamento primário

j.X2 = representa o fluxo disperso no enrolamento secundário

1.9 POLARIDADE

É a marcação (uma marca ou uma identificação padronizada) que mostra a referência


(modo de enrolar) daquele enrolamento. Por exemplo:

H1 Y1

Y2
H2

Figura 1.9 – Exemplos de identificação de polaridades

Noções Fundamentais de Transformador 12 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Considerando uma condição de carga, se a corrente em um dado instante entra pela


polaridade do enrolamento do lado da fonte, nesse mesmo instante a corrente do
enrolamento do lado da carga estará saindo pela polaridade. É a tradução prática do
conceito visto de compensação de ampères - espiras.

Quando num transformador, não se conhece (ou se deseja confirmar) as polaridades dos
enrolamentos, se faz o teste da polaridade:

Transformador
sob ensaio

V1 V2

Figura 1.10 – Esquema básico de teste de polaridade

Na figura acima, o voltímetro pode indicar o resultado de V1 + V2 ou o resultado de V1 – V2,


e assim pode-se determinar as polaridades:

Transformador Transformador
sob ensaio sob ensaio

V1 V2 V1 V2

Polaridade Polaridade
“aditiva” “subtrativa”

Figura 1.11 – Resultados possíveis do teste de polaridade

1.10 CONEXÃO TRIÂNGULO – ESTRELA DE TRANSFORMADOR TRIFÁSICO OU DE


BANCO DE TRANSFORMADORES

Exemplo com defasamento de + 30 graus, com o lado estrela adiantado com relação ao
lado delta (conexão Dy1 ou Yd11). Fisicamente as fases são conectadas conforme a figura
a seguir.

Noções Fundamentais de Transformador 13 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

b
A

c
B

a
C

Esquematicamente:

A
a = (A - C)
B
b = (B - A)
C
c = (C - B)

Figura 1.12 – Conexão estrela - triângulo

Com base nas conexões físicas mostradas, pode-se compor o diagrama vetorial das
tensões de linha de ambos os lados:

+30o

c
B

Figura 1.13 – Vetores de tensões de linha para conexão estrela - triângulo

Noções Fundamentais de Transformador 14 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

O mesmo transformador, com outras indicações de fases no lado triângulo, mantendo as


indicações no lado estrela, permitiria outras possibilidades de defasamento, conforme
mostra a tabela e figura a seguir:

Alternativa Defasamento (Lado Estrela com relação ao Lado Delta


1 (a-c) + 30 graus
2 + 150 graus
3 - 90 graus

Alternativa

3 2 1

b c a A

c a b B

a b c C

Figura 1.14 – Alternativas de identificação do lado delta

Mudando a conexão para – 30 graus, ao invés dos + 30 graus mostrados, haveria três
outras possibilidades de defasamento, como mostrado a seguir:

Alternativa invertendo o Delta Defasamento (Lado Estrela com relação ao Lado Delta
1 - 30 graus
2 - 150 graus
3 + 90 graus

Noções Fundamentais de Transformador 15 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

2. ATERRAMENTO DE SISTEMA

2.1 CLASSIFICAÇÃO

A seguinte classificação se aplica à parte do sistema elétrico cuja característica é o modo


de aterramento de neutro de transformadores e máquinas rotatórias desta parte:

 Sistema Solidamente Aterrado


 Sistema Aterrado Através de Resistência
 Sistema Aterrado Através de Reatância
 Sistema Isolado
As figuras a seguir mostram esquematicamente os conceitos de aterramento.

Sist. Solidadamente Aterrado

Sist. Aterrado por Resistência

Sist. Aterrado por Reeatância

Sist. Isolado

Sist. Isolado

Figura 2-1 Sistemas Aterrados e Sistemas Isolados

Aterramento do Sistema Página 16


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

O ponto de aterramento pode ser provido por um gerador, um transformador ou um


transformador de aterramento. A tabela a seguir mostra a diferença entre esses sistemas.

Sistema Corrente de Sobretensões Segregação Pára-raios Obs.


Curto Circuito à Transitórias Automática
Terra em % da do Ponto de
Corrente de Curto
Curto Circuito Circuito
Trifásico
Solidamente Pode ser 100%, Não Excessivo Sim. Permite Tipo Geralmente
Aterrado com variações Seletividade Neutro usado em
para mais ou para Aterrado tensões
menos sobrecorrente primárias de
(tensão
. Distribuição e
nominal
Acima.
Fase –
Neutro) Também para
circuitos
secundários de
600 V e abaixo.
Aterrado por 25 a 100% para Não Sim. Permite Tipo Geralmente
Reatância reatores de baixa Excessivas Seletividade. neutro usado em
reatância aterrado tensões
(Baixa
se primárias de
Reatância)
corrente Distribuição e
Essencialmente superior a Acima.
Solidamente 60%
Também para
Aterrado
circuitos
secundários de
600 V e abaixo.
Aterrado por 5 a 25% para Muito Altas Permite Tipo Não usado
Reatância reatores de alta Seletividade neutro não devido às
reatância. com aterrado excessivas
(Alta Reatância)
dificuldade. sobretensões
(tensão de
transitórias
linha)
Aterrado por 5 a 20% Não Permite Tipo Geralmente
Resistência Excessivas Seletividade neutro não usado para
com aterrado sistemas
dificuldade. industriais de
(tensão de
2,4 a 15 kV.
linha)
Isolado Menor que 1% Muito Altas Não. Tipo Usado apenas
neutro não em ambientes
aterrado restritos, com
baixa
(tensão de
possibilidade
linha)
de
sobretensões
transitórias.

Aterramento do Sistema Página 17


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

2.2 CURTO CIRCUITO A TERRA EM SISTEMA ATERRADO E EM SISTEMA ISOLADO

Curto-circuito Fase-Terra em Sistema Sólidamente Aterrado

Na ocorrência de curto-circuito de uma fase à terra, num sistema solidamente aterrado não
há, praticamente, deslocamento do ponto de terra do neutro para a terra, conforme mostra
a figura a seguir para um curto circuito da fase A para a terra:

Vb
Curto Fase-Terra num
Não há (praticamente)
Sistema Solidamente deslocamento de neutro
Aterrado Vb
N
VaN
=0

Va
Vc
Vc
N

Figura 2-2 Curto Fase-Terra num Sistema Solidamente Aterrado

Isto é, o potencial da fase em curto-circuito vai para o nível de potencial da terra que estará
no nível de potencial do ponto neutro do sistema elétrico.

Neste caso, a corrente de curto-circuito Fase-Terra é relativamente grande, dependendo


do ponto de curto-circuito, com condições de fundir elos fusíveis de proteção ou atuar relés
de proteção.

É o que ocorre numa rede de subtransmissão ou de distribuição de uma empresa


concessionária de serviços de eletricidade.

Curto-circuito Fase-Terra em Sistema Aterrado por Resitência (sistema industrial)

Na ocorrência de curto-circuito de uma fase à terra, num sistema aterrado por resistência
(como num sistema industrial em média tensão), há deslocamento parcial do ponto de terra
do neutro para a terra, conforme mostra a figura a seguir para um curto circuito da fase A
para a terra:

Aterramento do Sistema Página 18


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Curto Fase-Terra num


Sistema Aterrado por Vb
Resistência N
Vb
Deslocamento de
Neutro parcial

VaN
=0
Vc

Va
Vc
N

Figura 2-3 Curto Fase-Terra num Sistema Aterrado por Resistência

Isto é, o potencial da fase em curto-circuito estará com potencial da terra, mas deslocado
do ponto de neutro do sistema elétrico.

Neste caso, a corrente de curto-circuito Fase-Terra é menor do que aquele para sistema
solidamente aterrado (dependendo do valor da resistência de aterramento do neutro do
transformador) dependendo, também, do ponto de curto-circuito. Ainda pode haver
condição de fundir elos fusíveis de proteção ou atuar relés de proteção.

É o que ocorre num ramal / circuito em média tensão de uma instalação industrial.

Curto-circuito Fase-Terra em Sistema Isolado

Na ocorrência de curto-circuito de uma fase à terra, num sistema isolado, a fase em curto
estará no potencial da terra, mas há deslocamento total do ponto neutro para esse
potencial da terra, conforme mostra a figura a seguir para um curto circuito da fase A para
a terra:

Há total deslocamento
de neutro

Vab Vbc
Vb Vb
N
Va

Vc

VaN Vca
=0
Vc
N

Figura 2-4 Curto Fase-Terra em um Sistema Isolado

Aterramento do Sistema Página 19


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Neste caso, a corrente de curto-circuito Fase-Terra é desprezível de ponto de vista de


proteção (não detectado por relé ou elo fusível). Mas há corrente suficiente para causar
danos em animais ou humanos.

É o que ocorre num ramal / circuito em média tensão de uma instalação industrial.

As tensões fase-neutro passarão a valer:

Va = 0 (esta fase estará no potencial da terra)

Vb = Vab (tensão de linha, 3 vezes maior que a tensão de fase-neutro)

Vc = -Vca (tensão de linha, 3 vezes maior que a tensão de fase-neutro)

As tensões de linha, Vba, Vcb, Vac continuarão as mesmas, sendo que as cargas trifásicas
alimentadas por este sistema não percebem o aterramento. Isto é, o sistema continua a
operar normalmente.

Duas das tensões de fase terão um aumento de 73,2%. É porisso que os pára-raios para
sistemas isolados são especificados para tensão de linha e não para tensão de fase.

O risco existe na possibilidade de um segundo aterramento, seja por curto circuito ou por
acidente (humano) em outra fase. Nessas condições se caracterizaria um curto circuito
Bifásico com alta corrente. Assim, torna-se essencial um circuito que detecte quando uma
fase vai à terra e emita o alarme correspondente. O problema é que não se sabe em que
ponto do sistema o curto circuito se encontra.

A corrente de curto circuito existirá em quantidade pequena, devido às capacitâncias do


sistema, conforme ilustra a figura a seguir.

Figura 2-5 Curto Fase-Terra em um Sistema Isolado. Influência das capacitâncias.

Tanto maior a corrente, quanto maior a capacitância do circuito, por exemplo constituído de
cabos isolados.

A corrente é pequena, não detectado por relés de proteção, mas perigosos para humanos
e animais. Portanto um sistema isolado só é recomendado para ambientes controlados

Aterramento do Sistema Página 20


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

(serviço auxiliar de subestação ou sistema industrial), onde a interrupção por um curto


fase-terra simples é indesejado para se manter a continuidade do suprimento.

Em termos de grandezas senoidais, haverá alteração das tensões medidas pelo


registrador oscilográfico caso essas tensões forem Fase-Neutro.

Tensões Fase - Neutro de um Sistema Isolado


com Curto-Circuito da fase A à Terra

Va Vb Vc

Figura 2-6 Curto Fase-Terra em um Sistema Isolado. Tensões fase-terra.

O ângulo entre as fases b e c passará de 120 graus para 60 graus.

2.3 TRANSFORMANDO UM SISTEMA ISOLADO EM SISTEMA ATERRADO

Para transformar um sistema isolado (por exemplo, alimentado por um enrolamento Delta
de um transformador de transmissão), há necessidade de prover um ponto de terra que
possa servir de caminho para corrente de curto-circuito para terra.

Lado sem ponto de terra (Isolado)

Sistema Aterrado (através de TR de Aterramento)

TR Aterramento
Conexão Zig-Zag

Figura 2-7 Sistema Isolado que passa a Aterrado através do TR de Aterramento

Aterramento do Sistema Página 21


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

3. TRANSFORMADOR DE ATERRAMENTO

Trata-se de um transformador que tem a finalidade de prover ponto de terra para um sistema
que era isolado e passa a ser aterrado.

Se o transformador de aterramento não tiver resistência no seu neutro, então o sistema


resultante será “solidamente aterrado”. Se o transformador de aterramento tiver resistência de
aterramento no seu neutro, então o sistema resultante será “aterrado por resistência”.

Há dois tipos de transformador de aterramento:

- O tranformador “Zig-Zag”
- O transformador “Estrela – Delta”

Tanto um como outro providencia o ponto de terra, através do aterramento do seu neutro.
Mas o essencial, tanto para um como para o outro, é que haja sempre uma “compensação de
Ampères x Espiras” para a corrente de terra que irá passar pelo transformador de
aterramento.

Isto é, não pode haver corrente no enrolamento primário de um transformador, sem a


correspondente compensação (corrente) no secundário da mesma fase, de tal modo que
N1.I1 = N2.I2.

Como se sabe, a corrente de terra (a que passa no neutro) é subdividida em 3 correntes


iguais (em módulo e ângulo) nas três fases do sistema. Essa corrente que passa na fase é a
chamada corrente de “seqüência zero”. Ou melhor:

I Terra = 3. I0

A figura a seguir mostra a compensação num TR Zig Zag:


I0

I0

I0

N
I0
Em cada fase:
+N.I0 - N.I0=0 TR Aterramento
I0 Conexão Zig-Zag
N

I Terra = 3.I0

Figura 3-1 Esquema Trifilar de um TR Zig Zag

Aterramento do Sistema Página 22


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

A figura a seguir mostra uma outra representação de TR Zig Zag:

I0 I0 I0

I Terra = 3.I0

Figura 3-2 Outra Representação de TR Zig Zag

A figura a seguir mostra a compensação num TR Estrela – Delta:

I0 I0 I0
I0

I0

I0

I Terra = 3.I0

Figura 3-3 TR de Aterramento Estrela / Delta

Aterramento do Sistema Página 23


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

4. REPRESENTAÇÃO DE SISTEMAS DE POTÊNCIA

4.1 DIAGRAMA UNIFILAR

A finalidade de um diagrama unifilar é fornecer, de maneira concisa, os dados significativos


de um sistema elétrico de potência. Deve apresentar informações na quantidade e
qualidade necessárias, sempre orientadas para o estudo ou o problema em análise.

TIPO DE ESTUDO INFORMAÇÕES NO DIAGRAMA


FLUXO DE POTÊNCIA - Identificação das barras
- Impedâncias das linhas e transformadores
(seq. +)
- Admitância shunt de linhas longas
- Taps dos transformadores
- Potências ativas e reativas, ou potência ativa
em barras determinadas
- Dados para cálculo de valores por unidade
CURTO-CIRCUITO - Identificação das barras
- Impedâncias das linhas e transformadores
(seq. + e seq. 0)
- Admitância shunt de linhas longas (seq. + e
seq. 0)
- Tipos de conexão de transformadores
- Impedâncias de geradores (subtransitórias e
seq. 0)
- Dados para cálculo de valores por unidade
(potências, tensões nominais, etc.) de
impedâncias de linhas, transformadores,
geradores, reatores, etc.
ESTABILIDADE - Identificação das barras
- Impedâncias das linhas e transformadores
(seq. + )
- Admitância shunt de linhas longas (seq. +)
- Impedâncias de geradores (transitórias)
- Dados para cálculo de valores por unidade
- Constantes de inércia de máquinas
- Características dos sistemas de excitação e
reguladores de velocidade de máquinas
- Informações sobre disjuntores e relés de
proteção

Representação de Sistemas 24 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

PROTEÇÃO - Relações de transformação e classe de


exatidão de TC’s e TP’s
- Impedâncias de seqüência positiva e zero de
linhas
- Impedâncias de seqüência positiva e zero de
transformadores e suas conexões
- Tipos básicos de proteção
- TC’s auxiliares
- Disjuntores
- Etc.

Evidentemente, existe uma grande variação entre diagramas unifilares, dependendo da


finalidade dos mesmos. Mesmo dentro de uma única finalidade, a quantidade e qualidade
das informações varia muito, dependendo do estudo e do autor. Porém, a regra é única:
máximo de informações com máximo de simplicidade.

TR1 TR4

G1 M

1 5

TR5 4 6
2
G2 3 7
8
TR2
TR6

G3

9
TR3 10

Figura 2.1 – Exemplo de Diagrama Unifilar para Estudo de Curto-Circuito

Dados:

Geradores / Motores: potência nominal, tensão nominal, X”d, X0

Transformadores: potência nominal, tensões nominais, reatâncias de dispersão, de


seqüência positiva e zero.

Linhas: Impedâncias (R + j.X) e Admitâncias capacitivas (Yc), de seqüência positiva e


zero.

Representação de Sistemas 25 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

4.2 DIAGRAMA DE IMPEDÂNCIAS

4.2.1 Finalidade

A análise do comportamento de um sistema de potência é baseado em cálculos,


atualmente com ampla utilização de computadores digitais. Para possibilitar o cálculo
matemático há necessidade de modelos, ou melhor, de circuitos equivalentes de
sistemas que possam representar, da melhor maneira possível, o comportamento desses
sistemas ou parte desses sistemas.

O diagrama de impedâncias, com os valores p.u. (por unidade) das impedâncias é básico
para esses cálculos.

4.2.2 Fundamento

No estudo de circuitos elétricos polifásicos através de circuitos equivalentes, a


consideração inicial é supor o sistema equilibrado. Nessas condições, pode-se fazer a
modelagem e o estudo de apenas uma das fases, sabendo-se implicitamente que as
condições nas outras fases são as mesmas, a menos do defasamento angular constante
entre fases, considerando ainda uma situação de regime permanente com freqüência
constante.

Nos sistemas trifásicos representa-se, então, apenas uma das fases, com o retorno
através de um fio neutro (ideal). Como num sistema trifásico equilibrado:

Ia + Ib + Ic = 0

Observa-se, que na realidade, não há corrente pelo citado “fio neutro”. Assim, a eventual
impedância deste retorno não é representada.

Para se representar uma situação desequilibrada, de um sistema trifásico, faz-se o


desmembramento do sistema trifásico real em três outros sistemas, cada um deles trifásico
e cada um deles equilibrado, através da teoria de componentes simétricos. Assim,
pode-se fazer uma representação monofásica para cada um desses sistemas equilibrados,
representando, no conjunto, uma situação desequilibrada.

SISTEMA TRIFÁSICO TRIFÁSICO TRIFÁSICO TRIFÁSICO


= EQUILIBRADO + EQUILIBRADO + EQUILIBRADO
DESIQUILIBRADO Seqüência (+) Seqüência (-) Seqüência (0)

Assim, os circuitos equivalentes são representações monofásicas de circuitos


trifásicos.

Representação de Sistemas 26 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

4.2.3 Circuitos Equivalentes para Linhas de Transmissão (seqüência positiva)

R jX

Z = R + j.X

Figura 2.2 – Linhas Curtas (Até aproximadamente 80 km)

R jX

- 2.j XC - 2.j XC

Figura 2.3 – Linhas Médias (Até aproximadamente 200 km) – Modelo Pi

Z = R + j.X

X c = reatância capacitiva (shunt) total da linha

1 1
XC  
2. . f .C YC

Para Linhas de Transmissão Longas

Para as linhas longas, a representação torna-se mais complexa. Pode-se, entretanto, fazer
um modelo  equivalente (como para as linhas médias) com os valores Z e Yc corrigidos:

senh(  . )
Z ' ( corrigido )  Z .
 .

tanh( .  )
Yc' (corrigido)  YC 2

. 2

Onde,  = comprimento da linha de transmissão (km)

  y. z y = Admitância shunt por km z = Impedância série por km (r + jx)

Representação de Sistemas 27 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

4.2.4 Circuito Equivalente para Transformador de 2 enrolamentos

Uma representação relativamente completa para um transformador de dois enrolamentos é


mostrada na figura a seguir.

R1 j X1 R2 j X2

j XM
Rp

N1:N2
Ideal

Figura 2.4 – Circuito Equivalente de um Transformador de Dois Enrolamentos

Onde:

R1, R2 = Resistências representando as perdas nos enrolamentos 1 e 2 (perdas no cobre),


em ohms.

X1, X2 = Reatâncias representando os fluxos dispersos nos enrolamentos 1 e 2, em ohms.

Xm = Reatância de magnetização (representando o fluxo no núcleo), em ohms.

Rp = Resistência representando as perdas no núcleo (perdas no ferro), em ohms.

Essas resistências e reatâncias indutivas podem ser representadas em um dos lados do


transformador:

R1+[N1/N2]2.R2 j (X1+[N1/N2]2.X2)

j XM
Rp

N1:N2
Ideal

Figura 2.5 – Circuito Equivalente visto do Lado Primário

Esta representação, entretanto, é demasiadamente complicada para aplicação nos


cálculos para o sistema de potência. É de senso comum e tecnicamente aceitável e
desejável a simplificação deste modelo.

Representação de Sistemas 28 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Representação Simplificada

R1, R2 e Rp = desprezados, para transformadores de potência

Xm = considerado infinito (corrente de magnetização desprezível com relação à corrente de carga.

j (X1+[N1/N2]2.X2)

N1:N2
Ideal

Figura 2.6 – Circuito Equivalente Simplificado, visto do Lado Primário

Ou, visto do outro lado:

j (X2+[N2/N1]2.X1)

N1:N2
Ideal

Figura 2.7 – Circuito Equivalente Simplificado, visto do Lado Secundário

Ensaio de curto-circuito

As reatâncias indicadas anteriormente podem ser medidas através do ensaio de curto-


circuito como o mostrado na figura a seguir.

Icc2
Icc1

CURTO-
TRAFO TRIFÁSICO CIRCUITO

FONTE
TRIFÁSICA

Figura 2.8 – Ensaio de curto-circuito em transformador trifásico

Representação de Sistemas 29 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Neste ensaio, aplica-se uma tensão Vcc1 para que se tenha corrente nominal do
transformador, isto é:

Icc1 = Inom 1 e Icc2 = Inom 2

j (X1+[N1/N2]2.X2)

Icc1 Icc2 Curto-


Vcc1
circuito

N1:N2
Ideal

Figura 2.9 – Ensaio de curto-circuito pelo lado primário

Vcc1
Xcc1 = [X1 + (N1/N2) .X2] = 2 3 ohms (visto do lado 1)
Inom1

Caso o ensaio de curto-circuito seja feito pelo outro lado do Transformador, teríamos:

j (X2+[N2/N1] 2.X1 )

Curto- Icc1 Icc2


circuito Vcc2

N1:N2
Ideal

Figura 2.10 – Ensaio de curto-circuito pelo lado secundário

Vcc 2
Xcc2 = [X2 + (N2/N1) .X1] = 2 3 ohms (visto do lado 2)
Inom 2

Valor Percentual da Reatância

Nota-se que os valores Xcc1 e Xcc2 são valores em ohms, numericamente diferentes.
Ambos representam a impedância de dispersão total do transformador, referidos a lados
diferentes.

Para se evitar dois valores, a impedância do transformador é indicada em valor


PERCENTUAL (%). Este valor (%) é único para o transformador de dois enrolamentos,
independente do lado.

Representação de Sistemas 30 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Todo valor percentual tem como referência uma BASE. Neste caso, esta base dever ter a
dimensão de impedância (ohms). Para um transformador, toma-se como BASE seus
valores nominais. Assim,
2
Zbase = kVnominal / MVAnominal (ohms)

2
Zbase(lado1) = kV1 /MVAnominal = [ (Vnom1 / 3 ) / Inom1]
2
Zbase(lado2) = kV2 /MVAnominal = [ (Vnom2 / 3 ) / Inom2]

E os valores Xcc1 e Xcc2 podem ser calculados, agora, com relação às respectivas bases:

Xcc1 (%) = [ Xcc1 (ohms) / Zbase1 ] x 100 %

Xcc2 (%) = [ Xcc2 (ohms) / Zbase2 ] x 100 %

Pode-se provar que:

Xcc1 (%) = Xcc2 (%) valor percentual da impedância do transformador.

Xcc1(%) 
Xcc1(ohms ) x100

Xcc1x100

N 2 / N1 xXcc1x100
2
=
Zbase1 Vnom1 3 2 Vnom1 3
( N 2 / N1) x
Inom1 Inom1

Xcc 2 x100 Xcc 2 x100


   Xcc 2(%)
( N 2 / N1).Vnom1 Vnom2 / Inom2. 3
( N1 / N 2). 3.Inom1

Diagrama de Impedância do Transformador em p.u.

Finalmente, como Xcc1 (%) = Xcc2 (%), pode-se representar um transformador de dois
enrolamentos através da sua impedância percentual (ou p.u. = % / 100):

j X (% ou pu)

Figura 2.11 – Circuito Equivalente de Transformador de Potência de Dois Enrolamentos

Representação de Sistemas 31 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

O modelo anterior vale para transformadores de potência.

Para transformadores de menor potência (transformadores industriais e de distribuição),


não se pode desprezar o valor da resistência. Então, o modelo será:

R (pu ou %) j X (pu ou %)

Figura 2.12 – Circuito Equivalente de Transformador de Distribuição de Dois Enrolamentos

4.2.5 Circuito Equivalente para Transformador de 3 enrolamentos

Um transformador de 3 enrolamentos apresenta tem 3 enrolamentos por fase, com 3 níveis


de tensão:

Lado t

Lado p Lado s

Neste caso é como se existissem três transformadores de dois enrolamentos cada:

Lado p Lado s + Lado p Lado t + Lado s Lado t

Xps (pu ou %) Xpt (pu ou %) Xst (pu ou %)

Figura 2.13 – Unifilar de Transformador de Três Enrolamentos

Os valores Xps, Xpt e Xst são determinados através de ensaios de curto-circuito, par a par.

Consequentemente, haverá 3 reatâncias percentuais: Xps (%), Xpt (%) e Xst (%). Esses
valores são referidos a uma mesma potência base:
2
Zbase(p) = kVnom(p) /MVAbase
2
Zbase(s) = kVnom(s) /MVAbase

Representação de Sistemas 32 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

2
Zbase(t) = kVnom(t) / MVAbase

E a representação deste transformador de 3 enrolamentos será:

j Xp j Xs

p s

t
j Xt

Xp + Xs = Xps Xp + Xt = Xpt Xs + Xt = Xst

Figura 2.14 – Circuito Equivalente de Transformador de Três Enrolamentos

Ou:
Xp = ½ (Xps + Xpt – Xst)
Xs = ½ (Xps + Xst – Xpt)
Xt = ½ (Xpt + Xst – Xps)

4.2.6 Circuito Equivalente para Geradores e Motores Síncronos

Um problema importante na determinação das impedâncias seqüenciais de um sistema de


potência refere-se às impedâncias de máquinas. O problema é especialmente difícil pois
as máquinas rotativas são dispositivos bastante complexos para serem descritos
matematicamente, com muitos aspectos a considerar como: velocidade, grau de
saturação, linearidade do circuito magnético e outros fenômenos.

Uma máquina síncrona é as vezes denominada “circuito dinâmico” devido ao fato de ser
constituída de circuitos que estão em movimento entre si, de modo que a impedância vista
por correntes entrando ou saindo de seus terminais muda constantemente. Assim as
indutâncias vistas do ponto de vista do estator variam com o tempo.

Para que os cálculos sejam simplificados, há um método matemático que transforma


valores vistos do lado do estator em valores vistos do lado rotor, denominado
“Transformação de Park” ou método “0-d-q”. Através desse método, as indutâncias que
eram tão complicadas, variando no tempo, são transformadas em constantes.

Para se modelar uma máquina para estudos de curto-circuito ou fluxo de potência, o


circuito equivalente dessa máquina é estabelecido, através da análise de diagramas
fasoriais decorrentes de grandezas derivadas da Transformação de Park.

As constantes típicas (0-d-q) de uma máquina síncrona é mostrada na tabela a seguir:

Representação de Sistemas 33 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Turbo geradores (rotor Geradores hidráulicos Compensador Síncrono Motor Síncrono (Uso
sólido) (com amortecedores) # Geral)
REATÂNC. (p.u.) Baixo Médio Alto Baixo Médio Alto Baixo Médio Alto Baixo Médio Alto
xd 0.95 1.10 1.45 0.60 1.15 1.45 1.5 1.80 2.20 0.80 1.2 1.50
Xq 0.92 1.08 1.42 0.40 0.75 1 0.95 1.15 1.40 0.60 0.90 1.10
X’d 0.12 0.23 0.28 0.20 0.37 0.50 0.30 0.40 0.60 0.25 0.35 0.45
X’q 0.12 0.23 0.28 0.40 0.75 1.00 0.95 1.15 1.40 0.60 0.90 1.10
X’’d 0.07 0.012 0.17 0.13 0.24 0.35 0.18 0.25 0.38 0.20 0.30 0.40
X’’q 0.10 0.15 0.20 0.23 0.34 0.45 0.23 0.30 0.43 0.30 0.40 0.50
Xp 0.07 0.14 0.21 0.17 0.32 0.40 0.23 0.34 0.45
X2 0.07 0.12 0.17 0.13 0.24 0.35 0.17 0.24 0.37 0.25 0.35 0.45
X0 * 0.01 0.10 0.02 0.21 0.03 0.15 0.04 0.27
RESIST. (p.u.)

ra (dc) 0.0015 0.005 0.003 0.020 0.002 0.015


r (ac) 0.003 0.008 0.003 0.015 0.004 0.010
r2 0.025 0.045 0.012 0.200 0.025 0.070
Cte. Tempo (s)

’d0 2.8 5.6 9.2 1.5 5.6 9.5 6.0 9.0 11.5

 ’d 0.4 1.1 1.8 0.5 1.8 3.3 1.2 2.0 2.8

’’d =’’q 0.02 0.035 0.05 0.01 0.035 0.05 0.02 0.035 0.05

 ’a 0.04 0.16 0.35 0.03 0.15 0.25 0.1 0.17 0.3

Notas:

# Para geradores hidráulicos sem enrolamentos amortecedores, o X0 é como mostrado,


sendo que:

X’’d = 0.85 X’d X’’q = X’q = Xq X2 = (X’d + Xq) / 2

* X0 varia de 0.15 a 0.60 de X’’d, dependendo do passo do enrolamento.

Fonte: “Analysis of Faulted Power Systems” – Chapter 6 – Paul M. Anderson.

Terminologia:

xd = reatância síncrona de eixo direto.


xq = reatância síncrona de eixo em quadratura.
x'd = reatância síncrona transitória de eixo direto.
x'q = reatância síncrona transitória de eixo em quadratura.
x'’d = reatância síncrona subtransitória de eixo direto.
x'’q = reatância síncrona subtransitória de eixo em quadratura.

Representação de Sistemas 34 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Xp = reatância
X2 = reatância de sequência negativa.
X0 = reatância de seqüência zero.

’’d =’’q = constantes de tempo do período subtransitório


’ d = constante de tempo do eixo direto – período transitório (armadura curto-
circuitada.
’d0 = constante de tempo do eixo direto – período transitório (armadura aberta).
’ a = constante de tempo da armadura.

Períodos transitório e subtransitório:

a
tempo

Figura 2.15A – Componente AC de corrente de curto circuito aplicado aos terminais de uma
máquina síncrona – Períodos subtransitório e transitório

Se um curto circuito é aplicado a uma máquina em vazio, aparece uma corrente como o
mostrado na figura 2.15A (mostrada sem a componente dc). A corrente tem um alto valor
inicial (0 – c) que decai em alguns ciclos para uma outra faixa com menor taxa de queda (0
– b). Com o tempo a corrente se estabiliza num valor (0-a) – em regime de curto.

O período inicial é denominado subtransitório, com as constantes de tempo ’’ no período


subtransitório e ’ no período transitório.

Não é objetivo desta apostila explicar as constantes da máquina síncrona. Procura-se


apenas mostrar o circuito equivalente para cálculos de curto-circuito envolvendo máquinas
síncronas.

Para proteção e para equipamentos costuma-se calcular a corrente no período


subtransitório.

Representação de Sistemas 35 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Uma máquina síncrona pode, então, ser representada por:

j Xd” ou j Xd’

Figura 2.15 – Circuito Equivalente de uma Máquina Síncrona

Onde os valores X”d e X’d são as reatâncias subtransitória e transitória respectivamente.


Um ou outro valor deve ser utilizado, dependendo do tipo de cálculo que se deseja. Para
curto-circuito utiliza-se X”d. Para estudos de estabilidade, X’d.

O diagrama acima está desprezando a resistência. Se esse valor for significativo, pode-se
incluir no modelo

4.2.7 Circuito Equivalente para Motores de Indução

Quando se aplica um curto-circuito nos terminais de um motor de indução há a remoção da


fonte de alimentação e seu campo decai muito rapidamente. A literatura mostra que essa
queda ocorre com uma constante de tempo aproximada de:

 R   X s  X r  .R Onde:
1 R

Xs = reatância do estator.
Xr = reatância do rotor (com o rotor bloqueado)
Rr = resistência do rotor.
w1 = velocidade síncrona em radianos por segundo.

Esta constante de tempo é, em geral muito pequena (menor que 1 ciclo em 60 Hz).

Então o motor de indução pode e deve ser considerado no período subtransitório, através
do modelo:

j (Xs + Xr)

Em

Figura 2.15B – Circuito Equivalente de um Motor de Indução

Representação de Sistemas 36 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

4.2.8 O Diagrama de Impedâncias do Sistema

Baseado no diagrama unifilar e conhecendo os circuitos equivalentes de cada elemento do


Sistema de Potência, pode-se montar o chamado diagrama de impedâncias. Por exemplo,
para o sistema a seguir:

E A
G1 TR1
B C
TR3
LT

G2 F
TR2 D

A B C
j Xd” E jX R jX
j Xb j Xc

j Xd” jX
j Xd”

j Xd
F j Yc / 2 j Yc / 2 D

Figura 2.16 – Diagrama Unifilar e respectivo Diagrama de Impedâncias

O diagrama de impedâncias mostrado é para condições equilibradas (diagrama de


seqüência positiva - a teoria de componentes simétricos será vista posteriormente).

Representação de Sistemas 37 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

5. GRANDEZAS POR UNIDADE

5.1 INTRODUÇÃO

Para a resolução de um circuito elétrico simples já existe um certo grau de dificuldade se o


mesmo apresenta um ou mais transformadores. Mesmo com um transformador, há
necessidade de referir as impedâncias do sistema a um dos lados do transformador
(lembrando que a impedância vista de um lado é igual à impedância do outro lado
multiplicada pela relação de transformação ao quadrado). Ainda, num sistema trifásico
equilibrado há o fator 3 que relaciona tensões de linha (fase-fase) com tensões de fase
(fase-neutro), bem como as correntes de linha com as correntes de fase (dentro de um
triângulo).

Com a representação das tensões, correntes, potências e impedâncias de um Sistema


Elétrico em valores p. u. (“por unidade”), referidos a BASES (referências) previamente
adotadas para cada grandeza, aquelas dificuldades desaparecem, simplificando
radicalmente os cálculos para um determinado estudo, mesmo para sistemas bastante
grandes (centenas ou milhares de nós). Essa ferramenta de representação associada à
teoria de circuitos elétricos e à matemática matricial permite o uso de computadores para o
cálculo de circuitos elétricos de grande tamanho e complexidade.

Para se calcular o valor p.u. de uma grandeza, tem-se a seguinte expressão básica:

ValorDeFato
Valor _ p.u. 
ValorDaBase Re spectiva

O valor percentual é o valor p.u. multiplicado por 100.

Por exemplo:

a) Uma tensão de 207 Volts numa base de Vbase = 220 V

207 / 220 = 0,941 pu de tensão

b) Uma potência aparente de 80 MVA numa base de 100 MVA

80 / 100 = 0,8 pu de potência aparente

c) Uma potência de 50 MW + j80 MVAr numa base de 100 MVA

(50 + j80) / 100 = 0,5 + j0,8 pu de potência

d) Uma impedância de 30 + j70 ohms numa base de 100 ohms

(30 + j70) / 100 = 0,3 + j0,7 pu de impedância

e) Uma corrente de 1000 A numa base de 4183 A

Grandezas por Unidade 38 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

1000 / 4183 = 0,239 pu de corrente

5.2 BASE NUM PONTO DO SISTEMA ELÉTRICO

A fixação das BASES para um determinado estudo é arbitrária, levando-se em


consideração as relações básicas entre as grandezas elétricas que são:

- Potência / Tensão = Corrente

- Tensão / Corrente = Impedância.

Das duas relações acima, chega-se a:


2
- (Tensão) / Potência = Impedância

Isto é, há quatro grandezas relacionadas em duas expressões básicas. Pode-se, então,


fixar arbitrariamente (num dado ponto do sistema elétrico delimitado por transformadores)
duas das grandezas.

Assim, as BASES para as duas grandezas restantes serão calculadas através das
relações básicas. Deve-se notar que para sistemas monofásicos ou trifásicos, o termo
corrente corresponde à corrente de linha, o termo tensão corresponde à tensão fase-neutro
e o termo potência corresponde à potência de uma fase.

Exemplo:

Num dado trecho do sistema elétrico de potência trifásico, escolhe-se arbitrariamente as


seguintes bases:

Pbase = 100 MVA trifásico = 100.000 / 3 MVA por fase (adotado)

Vbase = 138 kV de linha = 138 kV fase para neutro (adotado)


3
2
138000 
 3 
Zbase  
138 2
Donde:   190,44 ohms por fase (calculado)
100000000 100
3

100000
Ibase  3  100000  418,38 A de linha (calculado)
138 3 x138
3

Assim, para um dado ponto (trecho delimitado por transformadores) num sistema trifásico
pode-se adotar as seguintes fórmulas:

Dados: kVBase (tensão de linha) e MVABase (potência trifásica)

Grandezas por Unidade 39 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Calcula-se:

kVBase 2 kVABase
Zbasse  ohms IBase  Amperes
MVABase 3 xkVBase

5.3 ESCOLHA DE BASES PARA UM SISTEMA ELÉTRICO

Para todo o sistema elétrico adota-se o seguinte roteiro:

a) Escolhe-se uma Potência Trifásica Base arbitrária, que é válida para todo o sistema
elétrico de potência (Nota: costuma-se adotar 100 MVA).

b) Escolhe-se uma Tensão de Linha Base para um dado trecho do Sistema. As tensões
de base em outros trechos se relacionam-se à essa base através das relações de
transformação nominais dos transformadores de interligação dos trechos. (Nota:
costuma-se adotar a tensão Nominal de Operação do trecho).

c) Para cada trecho, tem-se então a Potência Base e a Tensão Base. Para cada trecho
calcula-se a Impedância Base e a Corrente Base, pelas fórmulas anteriores.

Exemplo:

Dado o sistema abaixo, determinar as bases de impedância e de corrente em cada


trecho, adotando-se uma base de potência de 100 MVA (válido para todo o sistema) e
base de tensão de 138 kV no trecho da LT:

TR1 - 35 MVA (Trifásico) TR2 - 35 MVA (Trifásico)


13,2 / 115 kV 115 / 13,2 kV
x = 10% x = 10%
M1
20 MVA - 12,5 kV
A B x”d = 20%
jX = j80 ohms

LT M2
C 10 MVA -12,5 kV
G
D x”d = 10%
30 MVA - 13,8 kV
x”d = 15%

Figura 3.1 – Diagrama Unifilar de Sistema Exemplo

Verifica-se os transformadores têm as seguintes relações de transformação:

Transformador Relação (tensões de linha) Relação


TR1 13,2 / 115 1:8,712
TR2 115 / 13,2 8,712:1

Grandezas por Unidade 40 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Escolha das BASES:

Trecho do Trecho da LT Trecho dos


Gerador Motores
Bases Base de 100 MVA *
ADOTADAS Potência
(*arbitrárias)
Base de Tensão 138 / 8,712 = 138 kV * 138 / 8,712 = 15,84
(kV) de linha 15,84 kV kV
Bases Base de 3.645 418,38 3.645
CALCULADAS Corrente (A) de
como linha
conseqüência
Base de 2,509 190,44 2,509
Impedância ()

MVABase = 100 MVA

KVABase = 100.000 kVA

Base de Impedância = (kVBase)2 / MVABase

Base de Corrente = KVABase / (3 x kVBase)

Nota-se que as bases de tensão em cada trecho são determinadas pelas relações
nominais de transformação dos transformadores, a partir da base inicial adotada
(138 kV) na Linha de Transmissão.

Tendo-se as bases de tensão em cada trecho e a base de potência que é válida


para todo o sistema, usa-se as fórmulas mostradas para calcular as bases de
corrente e de impedância em cada trecho.

5.4 DIAGRAMA DE IMPEDÂNCIAS EM P.U.

Para o mesmo sistema do exemplo anterior, uma vez que as bases em cada trecho já
foram calculadas, calcular as impedâncias em p.u. (por unidade) de todos os
componentes, montando o diagrama de impedâncias em p.u. na base 100 MVA.

O seguinte roteiro deve ser adotado:

a) Com base dos dados nominais (“placa”) dos equipamentos, calcular suas impedâncias
em p.u. (por unidade) na base adotada para o estudo (100 MVA e 138 kV na LT).

b) Conhecidas as grandezas p.u. de todos os componentes do sistema, montar o


diagrama de impedâncias, tomando-se o cuidado de mostrar todas as barras (nós) do
sistema.

Grandezas por Unidade 41 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Para o Gerador:

X”d = 15% a 13,8 kV e 30 MVA (dados de “placa” – nominais)

Lembrando que,:

Valordefato(ohms)
x" d  pu Tem-se:
ZBase(ohms)
2
X”d = 0,15 x (13,8 / 30) ohms (valor de fato)

Impedância pu na BASE DO ESTUDO:

0,15 x13,8 2 2
Valordefato(ohms) 30  0,15 x 100 x 13,8  0,3795 pu
x" d  
ZBasedoEstudo(ohms) 15,84 2 30 15,84 2
100

Para o TR1:

Escolhe-se um dos lados para o cálculo (pode ser qualquer, por exemplo o lado da LT).
2
X = 0,10 x (115 / 35) ohms (valor de fato)

Impedância pu na BASE DO ESTUDO:

0,10 x115 2 2
Valordefato(ohms ) 35  0,10 x 100 x 115  0,1984 pu
x  2
ZBasedoEstudo(ohms) 138 35 138 2
100

Se fosse utilizado o outro lado para os cálculos, teríamos o mesmo resultado:

0,10 x13,2 2 2
Valordefato(ohms) 35  0,10 x 100 x 13,2  0,1984 pu
x 
ZBasedoEstudo(ohms) 15,84 2 35 15,84 2
100

Para a LT (Linha de Transmissão):

O valor dado já é o valor de fato: x = 80 ohms

Impedância pu na BASE DO ESTUDO:

Valordefato(ohms ) 80 8000
x  2
  0,42 pu
ZBasedoEstudo(ohms ) 138 138 2
100

Grandezas por Unidade 42 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Para o TR2:

Escolhe-se um dos lados para o cálculo (pode ser qualquer, por exemplo o lado da LT).
2
X = 0,10 x (115 / 35) ohms (valor de fato)

Impedância pu na BASE DO ESTUDO:

0,10 x115 2 2
Valordefato(ohms ) 35  0,10 x 100 x 115  0,1984 pu
x  2
ZBasedoEstudo(ohms) 138 35 138 2
100

Para o M1:
2
X”d = 0,20 x (12,5 / 20) ohms (valor de fato)

Impedância pu na BASE DO ESTUDO:

0,20 x12,5 2 2
Valordefato(ohms) 20  0,20 x 100 x 12,5  0,6227 pu
x 
ZBasedoEstudo(ohms) 15,84 2 20 15,84 2
100

Para o M2:
2
X”d = 0,10 x (12,5 / 10) ohms (valor de fato)

Impedância pu na BASE DO ESTUDO:

Valordefato(ohms) 0,10 x 12,5 2


x  10  0,10 x 100 x 12,5  0,6227 pu
ZBasedoEstudo(ohms) 15,84 2 10 15,84 2
100

Pode-se agora montar o diagrama de impedâncias em p.u. na base 100 MVA e 138 kV na
LT. Trata-se do diagrama de “seqüência positiva” que representa um sistema trifásico
equilibrado:

A B C D
j 0,3795 j 0,1984 j 0,42 j 0,1984 j 0,6227

j 0,6227

Figura 3.2 – Diagrama de Impedâncias em pu na Base do Estudo

Grandezas por Unidade 43 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

5.5 CÁLCULO DE IMPEDÂNCIAS P.U. DE UM TRANSFORMADOR DE TRÊS


ENROLAMENTOS NUMA DADA BASE DE ESTUDO

Roteiro

Um transformador de três enrolamentos tem potências nominais para cada enrolamento.


Por exemplo:

440/138/13,8 kV
p s p s t
189/150/50 MVA

Figura 3.3– Transformador de três enrolamentos

Observa-se que o enrolamento primário tem potência de 189 MVA enquanto que o
secundário tem 150 MVA. Então, entre o primário e o secundário, a potência está limitada
pelo enrolamento secundário. A mesma coisa ocorre entre o primário e terciário (limitado
pelo terciário) e o secundário e terciário (limitado pelo terciário).

Através de ensaios de curto-circuito podem-se determinar as impedâncias Zps, Zpt e Zst. Os


mesmos podem ser expressos em % ou p.u. em bases de potência diferentes (dados de
placa).

Para a determinação do circuito equivalente:

Zp Zs

p s

t
Zt

Figura 3.4 – Diagrama de Impedâncias em pu na Base do Estudo

e a utilização do mesmo para cálculos, deve-se reduzir os valores à uma MESMA BASE
DE ESTUDO e determinar Zp, Zs, Zt. A seqüência de cálculos é a seguinte:

a) Zps (fato em ohms) = Zps (p.u. na base nominal) x Zbase (base nominal)

Zpt (fato em ohms) = Zpt (p.u. na base nominal) x Z’base (base nominal)

Zst (fato em ohms) = Zst (p.u. na base nominal) x Z’’base (base nominal)

Grandezas por Unidade 44 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Onde Zbase, Z’base e Z’’base são as eventuais bases de impedância, para bases de potência
diferentes (dados de placa – fabricante).

b) Zps (p.u. do estudo) = Zps (fato em ohms) / Zbase (estudo)

Zpt (p.u. do estudo) = Zpt (fato em ohms) / Z’base (estudo)

Zst (p.u. do estudo) = Zst (fato em ohms) / Z’’base (estudo)

Onde Zbase, Z’base e Z’’base (estudo) são as bases de impedância, na potência base adotada
para o estudo, dos lados dos transformadores.

c) Finalmente:

Zp = ½ (Zps + Zpt – Zst) pu

Zs = ½ (Zps + Zst - Zpt) pu

Zt = ½ (Zpt + Zst - Zps) pu

Valores estes que são utilizados no diagrama de impedâncias.

Exemplo:

Para o transformador de três enrolamentos, cujos valores de placa são mostrados a seguir,
calcular as impedâncias em p.u. numa base de estudo de 100 MVA e base de tensão de
69 kV no lado de Alta Tensão.

66 / 13,2 / 2,3 kV
p s p s t
10 / 7,5 / 5 MVA

Figura 3.5 – Exemplo de transformador de três enrolamentos

Desprezando-se as resistências, as impedâncias de dispersão são dadas pelo fabricante:

Zps = 7% numa base de 7,5 MVA – 66/13,2 kV

Zpt = 9% numa base de 5,0 MVA – 66/2,3 kV

Zst = 6% numa base de 5,0 MVA – 13,2/2,3 kV

Determinar as impedâncias p.u. do circuito equivalente de seqüência positiva, para uma


base de 100 MVA – 69 kV no lado p.

Grandezas por Unidade 45 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Solução:

Lado p Lado s Lado t


Base Nominal Tensão 66 13,2 2,3
Potência Dados do fabricante – Valores % numa potência
Base do Estudo Tensão 69 13,8 2,4
Potência 100 MVA

a) Valores em ohms (fato)

66 2
Z ps  0,07 x ohms visto pelo lado p
7,5

2,3 2
Z pt  0,09 x ohms visto pelo lado t
5,0

13,2 2
Z st  0,06 x ohms visto pelo lado s
5,0

b) Valores em p.u. na base do estudo

66 2 2,3 2
0,07 x 0,09 x
7,5 5,0
Z ps   0,8539 pu Z pt   1,6531 pu
69 2 2,4 2

100 100

13,2 2
0,06 x
5,0
Z st   1,0979 pu
13,8 2
100

c) Valores em p.u. do diagrama de impedâncias

Z p  1 ( Z ps  Z pt  Z st )  1 (0,8539  1,6531  1,0979)  0,7045 pu


2 2

Z s  1 ( Z ps  Z st  Z pt )  1 (0,8539  1,0979  1,6531)  0,1493 pu


2 2

Z t  1 ( Z pt  Z st  Z ps )  1 (1,6531  1,0979  0,8539)  0,9485 pu


2 2

Grandezas por Unidade 46 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

5.6 EXEMPLO DE CÁLCULO COM DIAGRAMA DE IMPEDÂNCIAS EM P.U.

Dado o sistema descrito nos itens 3.3 e 3.4 anteriores e considerando que a tensão na
barra comum dos motores esteja em 13 kV (tensão de linha), com cada motor consumindo
10 MVA com f.p. = 0,9 (indutivo), determinar a tensão nos terminais do gerador.

Bases do Estudo

Trecho do Gerador Trecho da LT Trecho dos Motores


Base de Potência 100 MVA *
Base de Tensão (kV) de linha 138 / 8,712 = 15,84 kV 138 kV * 138 / 8,712 = 15,84 kV
Base de Corrente (A) de linha 3.645 418,38 3.645

Base de Impedância () 2,509 190,44 2,509

Nos motores

Vfato = 13 kV

Vm = 13 / 15,84 = 0,8207 /0o pu na base do estudo (trecho do motor)

Pfato = 10 MVA (cada motor)

Pm = 10/100 = 0,1 pu de potência na base do estudo (cada motor)

0,1
im   arccos 0,9  0,1218  25,8 o pu de corrente (cada motor)
0,8207

Para os dois motores: i2 m  2 x0,1218  25,8 o  0,2436  25,8 o pu de corrente

A B C D
j 0,3795 j 0,1984 j 0,42 j 0,1984

i (2 mot) = 0,2436 /-25,8o pu

vg = ? vm = 0,8207 /0o pu

Figura 3.6 – Diagrama p.u e Alimentação de Motores

Cálculos:

v = (j 0,1984 + j 0,42 + j 0,1984) x 0,2436 /-25,8o

v = 0,8168 /+90o x 0,2436 /-25,8o

Grandezas por Unidade 47 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

v = 0,1990 /+64,16o

vg = vm + v

vg = 0,8207 /0o + 0,1990 /+64,16o

vg = 0,8207 + 0,0867 + j 0,1791 = 0,9074 + j 0,1791 = 0,9249 /+11,17o

Como a base de tensão no trecho do terminal do gerador é 15,84 kV, tem-se:

vg = 0,9249 /+11,17o x 15,84 = 14,65 /+11,17o kV de linha

Fator de potência nos terminais do gerador: Cos [-25,8 – 11,17)] = Cos –36,8 = 0,8 indutivo

Observa-se que o problema foi facilmente resolvido mesmo com a existência de dois
transformadores no circuito, com a utilização de grandezas p.u.

Grandezas por Unidade 48 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

5.7 EXERCÍCIO PROPOSTO

Dado o sistema a seguir, calcular as impedâncias em p.u. e montar o diagrama (sequência


positiva) ma base de potência de 100 MVA e 400 kV na LT1.

Considerar a LT1 como longa. Assim, no modelo Pi, corrigir os parâmetros.

TR3
TR1

A1 B C D
LT1

G1 Reator
LT3

A2 E
H
TR5
I
G2
TR2 G F LT2

TR4

G1 = G2 TR1 = TR2 TR3 TR4 TR5

100 MVA 112 MVA 150/150/30 MVA 15 MVA 3X10 = 30 MVA


13,8 kV 13,8 / 400 kV 420/138/13,8 kV 13,8 / 0,22 kV 138 / 69 kV
X”d = 20% X = 10 % X=5% X = 5,5 %
Xpt = 20 % na base 30 MVA
Xst = 40% na base 30 MVA
Xps = 5% na base 150 MVA
p = barra C
s = barra D
t = barra E

LT1 Reator: LT2 LT3

r = 0,1 ohm / km 150 MVA x = 0,5 ohm / km x = 0,4 ohm / km


x = 0,3 ohm / km 400 kV l = 10 km l = 50 km
Xc = 0,18 Mohm.km
l = 300 km

Nota: Admitancia Shunt y = 1/Xc mho / km

Grandezas por Unidade 49 de 115


6. COMPONENTES SIMÉTRICOS

6.1 CONCEITO

Cálculos envolvendo circuitos elétricos polifásicos tornam-se mais simplificados para


sistemas EQUILIBRADOS, uma vez que os modelos (circuitos equivalentes) são feitos
monofásicos, sabendo-se implicitamente que as duas outras fases não representadas têm
o mesmo comportamento daquela fase representada, a menos dos defasamentos
angulares entre elas.

Para SISTEMAS TRIFÁSICOS DESBALANCEADOS os cálculos seriam demasiadamente


complicados caso se procurasse fazer modelo trifásico, analisando fase por fase e o
relacionamento entre elas.

Em 1918 foi desenvolvido um método de cálculo de circuitos polifásicos desbalanceados


pelo Dr. C. L. Fortescue, denominado “Método de Componentes Simétricos Aplicado à
Solução de Sistemas Polifásicos”.

Em resumo, o método consiste em decompor um sistema desequilibrado de N fases em N


sistemas de fasores equilibrados.

Um problema em análise poderia ser estudado e verificado dentro dos N sistemas e


finalmente recompondo os resultados para se obter o resultado final para o sistema
desequilibrado de N fases. No caso particular de sistema trifásico, ter-se-ia:

Componentes de
Sequência POSITIVA (que
é um sistema trifásico
equilibrado)

Componentes de
Sistema Trifásico Solução para o
Sequência NEGATIVA
desequilibrado a Sistema Trifásico
(que é um sistema trifásico
resolver desequilibrado.
equilibrado)

Componentes de
Sequência ZERO (que é
um sistema trifásico
equilibrado)

Aplicação de Fórmulas de Aplicação de Fórmulas de


Transformação Transformação

Figura 4.1 – Solução de Sistemas Desequilibrados

Componentes Simétricos 50 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Observa-se que dentro de cada seqüência (0, + ou -) há um sistema trifásico equilibrado,


podendo-se ter, para cada uma delas, um circuito equivalente monofásico:

Componentes de Impedâncias de seq. (+)


Sequência POSITIVA (que Tensões de seq. (+)
é um sistema trifásico Correntes de seq. (+)
equilibrado)

Componentes de Impedâncias de seq. (-)


Sequência NEGATIVA Tensões de seq. (-)
(que é um sistema trifásico Correntes de seq. (-)
equilibrado)

Componentes de Impedâncias de seq. (0)


Sequência ZERO (que é Tensões de seq. (0)
um sistema trifásico Correntes de seq. (0)
equilibrado)

Figura 4.2 – Cada seqüência é um sistema trifásico equilibrado

Esses circuitos seqüenciais estão inter-relacionados, e o relacionamento depende do


problema em análise no Sistema Desequilibrado.

Verifica-se mais adiante que para um sistema equilibrado, não há componentes de


seqüência zero ou negativa.

Componentes Simétricos 51 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

6.2 CARACTERÍSTICAS DOS COMPONENTES SIMÉTRICOS

A figura a seguir resume as características dos componentes seqüenciais:

ia0
Sequência Zero (0)
ib0
Sistema Trifásico
Fasores iguais (módulo e ângulo) nas três fases.
ic0

ia1

Sequência Positiva (1)

Sistema Trifásico
Fasores iguais em módulo e defasados 120 graus
Sequência de fases a, b, c (original do sistema)

ic1 ib1

ia2

Sequência Negativa (2)

Sistema Trifásico
Fasores iguais em módulo e defasados 120 graus
Sequência de fases c,b,a (inversa ao original)

ib2 ic2

Figura 4.3 – Características dos componentes simétricos

Conhecendo as características das seqüências, verifica-se que basta conhecer apenas


uma das fases de cada seqüência para se determinar as demais fases da mesma
seqüência.

EXEMPLO

Dados: ia0 = 5 /30o pu ia1 = 5 /30o pu ia2 = 5 /30o pu

Determinar os componentes simétricos das demais fases.

Pelas características dos componentes simétricos pode-se compor os seguintes vetores:

Componentes Simétricos 52 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

ic0

ib0
ic1 ia1 ib2 ia2
ia0
30o 30o 30o

ib1 ic2

Figura 4.4 – Exemplo. Dados os componentes de uma fase


determina-se os de outras fases

Assim, tem-se:

Na Fase b: Ib0 = 5 /30o pu ib1 = 5 /-90o pu ib2 = 5 /+150o pu

Na Fase c: Ic0 = 5 /30o pu ic1 = 5 /+150o pu ic2 = 5 /-90o pu

RELAÇÕES

Cada um dos fasores do conjunto desequilibrado original é igual à soma vetorial de seus
componentes:

ia = ia0 + ia1 + ia2

ib = ib0 + ib1 + ib2

ic = ic0 + ic1 + ic2

va = va0 + va1 + va2

vb = vb0 + vb1 + vb2

vc = vc0 + vc1 + vc2

Essas relações são FUNDAMENTAIS. A expressão matricial para essa relação é:

Componentes Simétricos 53 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Va  1 1 1  Va 0 
V   1 a 2 a  x Va1 
 b 
Vc  1 a a 2  Va 2 

Efetuando a multiplicação de matrizes, tem-se:

Va  Va 0  Va1  Va 2

Vb  Va 0  a 2 .Va1  a.Va 2  Vb 0  Vb1  Vb 2

Vc  Va 0  a.Va1  a 2 .Va 2  Vc 0  Vc1  Vc 2

onde a = 1/+120o

a2 = 1/-120o

são os chamados operadores vetoriais. Têm módulo 1 e quando multiplicam um vetor,


rodam esse vetor em 120 graus. Isto é:

- Qualquer fasor multiplicado por a tem como resultante um outro vetor de mesmo
módulo e defasado de +120 graus.

- Qualquer fasor multiplicado por a2 tem como resultante um outro vetor de mesmo
módulo e defasado de - 120 graus.

Assim,

vb1 = a2.va1 vc2 = a2.va2


vc1 = a.va1 vb2 = a.va2

va2
va1

Figura 4.5 – Uso do operador a

As expressões acima, para tensão, são válidas também para corrente.

RELAÇÃO INVERSA

Componentes Simétricos 54 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

A relação inversa, isto é, dados os valores de fase, pode-se calcular os componentes


simétricos através da expressão:

Va 0  1 1 1  Va 
V   1 .1 a a 2  x Vb 
 a1  3 
Va 2  1 a 2 a  Vc 

Efetuando a multiplicação de matrizes, tem-se:

Va 0  1 .Va  Vb  Vc 
3


Va1  1 Va  a.Vb  a 2 .Vc
3


Va 2  1 Va  a 2 .Vb  a.Vc
3

Conhecendo-se os componentes da fase a, pode-se determinar os das demais fases,
como já mostrado.

As expressões acima, para tensão, são válidas também para corrente.

EXERCÍCIO

Dados: Ia = 10 /0o A e Ib = 10 /180o A (Trifásico desequilibrado)

Determinar os componentes simétricos das fases a, b e c.

I a0  1 1 1   100 o 
 I   1 .1 a  
 a1  3  a 2  x 10180o 
 I a 2  1 a 2 a   0 

 
I a 0  1 . 100 o  10180 o  0  0
3

  
I a1  1 100 o  1120 o x10180 o  1  120 o x0  1 . 100 o  10  60 o
3 3

I a1  1 10  100,5  j.0,866  1 .15  j.8,66  5  j.2,898  5,755  30 o A
3 3

  
I a 2  1 100 o  1  120 o x10180 o  1120 o x0  1 . 100 o  10  60 o
3 3

Componentes Simétricos 55 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

I a 2  1 10  100,5  j.0,866  1 .15  j.8,66  5  j.2,898  5,755  30 o A


3 3

Conhecidos os componentes da fase a, pode-se determinar os das demais fases:

Ib2 Ia2 Ic1

30o

Ib1 Ia1
Ic2

Figura 4.6 – Componentes Simétricos das Fases a, b e c

I b0  0 I c0  0

I b1  5,755  150 o I c1  5,755  90 o

I b 2  5,755  150 o I c 2  5,755  90 o

Isto é, houve a transformação de um sistema desequilibrado em componentes simétricos


equilibrados.

Somando-se os componentes simétricos, volta-se aos valores de fase, desequilibrados:

Ic1 Ia2
Ib2
Ib Ia
Ic=0

Ia1
Ic2 Ib1

Figura 4.7 – Determinação dos Valores de Fase a partir dos C. Simétricos

I a  5,755  30 o  5,755  30 o  100 o A

I b  5,755  150 o  5,755  150 o  10180 o A

I c  5,755  90 o  5,755  90 o  0 A

Componentes Simétricos 56 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

6.3 PARTICULARIDADES

Vimos que:

I a 0  1 .I a  I b  I c 
3
Assim, para um sistema trifásico equilibrado onde a soma das três correntes de linha é
zero, tem-se:

I a0  0

Quando de um desbalanço para terra:

I a  I b  I c   I N Donde: I a 0  1 .I N 
3

ou: I N  3.I 0

Vimos também que:


I a 2  1 I a  a 2 .I b  a.I c
3

Num sistema equilibrado: I c  a 2 .I b e I b  a.I c

Donde num sistema equilibrado: I a2  1


3
I a  .I b  I c   0
CONCLUSÃO

- Quando num sistema trifásico existe qualquer desbalanço, com ou sem terra,
aparecem componentes de seqüência negativa.

- Quando num sistema trifásico existe desbalanço para terra, aparecem


componentes de seqüência zero.

Componentes Simétricos 57 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

6.4 CIRCUITOS EQUIVALENTES E IMPEDÂNCIAS SEQUENCIAIS

6.4.1 Seqüências Positiva e Negativa


R jX

Linhas Curtas (Até aproximadamente 80 km)

R jX

- 2.j XC - 2.j XC

Linhas Médias (Até aprox. 200 km) – Mod Pi

j X (% ou pu)

Transf. de Dois Enrolamentos com R desprezada

R (pu ou %) j X (pu ou %)

Transf. de Distribuição de Dois Enrolamentos

j Xp j Xs

p s

t
j Xt

Xp + Xs = Xps Xp + Xt = Xpt Xs + Xt = Xst


Transf. de Três Enrolamentos com R desprezada

Figura 4.8 – Circuitos Equivalentes de Seqüência Positiva e Negativa

Componentes Simétricos 58 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

j Xd” ou j Xd’

Máquina Síncrona – SEQUÊNCIA POSITIVA

j Xd” ou j Xd’

Máquina Síncrona – SEQUÊNCIA NEGATIVA

j (Xs + Xr)

Em

Motor de Indução – SEQUÊNCIA POSITIVA

j (Xs + Xr)

Motor de Indução – SEQUÊNCIA NEGATIVA

Figura 4.9 – Circuitos Equivalentes de Seqüência Positiva e Negativa de Máquinas

6.4.2 Seqüência Zero

Para Linhas de Transmissão, os modelos são iguais aos de seqüência positiva ou


negativa, porém com valores diferentes para R e X:

Componentes Simétricos 59 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

R0 j X0

Linha Curta

R0 j X0

- 2.j X0C - 2.j X0C


Linha Média / Longa

Figura 4.10 – Circuitos Equivalentes de Seqüência Zero de LT’s

Para transformadores de potência, com alguma conexão triângulo, os circuitos


equivalentes de seqüência zero são:

Trafo de 2 enrolamentos -
j X0 Triângulo / Estrêla Aterrada

Trafo de 2 enrolamentos -
j X0 Triângulo / Estrêla Aterrada
3Rn

Rn

Trafo de 2 enrolamentos -
Triângulo / Estrêla

p j X0p j X0s
s

Trafo de 3 enrolamentos -
t Estrela Aterrada / Triângulo / Estrêla Aterrada
j X0t

Figura 4.11 – Circuitos Equivalentes de Seqüência Zero de Transformadores com Delta

Componentes Simétricos 60 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Para transformadores trifásicos sem alguma conexão triângulo, com núcleo envolvido (3
pernas):

j X0 /2 j X0 /2

Trafo de 2 enrolamentos -
jXm0
Estrela Aterrada / Estrêla Aterrada

Núcleo Envolvido

j X0 /2 j X0 /2
Trafo de 2 enrolamentos -
3.Rn Estrela Aterrada / Estrêla Aterrada
jXm0

Núcleo Envolvido
Rn

j X0 /2 j X0 /2
Trafo de 2 enrolamentos -
3.Rn 3.Rn
jXm0 Estrela Aterrada / Estrêla Aterrada

Rn Rn Núcleo Envolvido

j X0 /2

Trafo de 2 enrolamentos -
Estrela / Estrêla Aterrada
jXm0
Núcleo Envolvido

Trafo de 2 enrolamentos -
Estrela / Estrêla Aterrada
jXm0
Núcleo Envolvido

Figura 4.12 – Circuitos Equivalentes de Seqüência Zero de Transformadores Trifásicos com Núcleo
Envolvido

As justificativas para esses diagramas de seqüência zero estão no capítulo 5 do presente


documento.

Componentes Simétricos 61 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Para transformadores trifásicos com núcleo envolvente, ou bancos trifásicos constituídos


de transformadores monofásicos, sem alguma conexão triângulo:

Trafo de 2 enrolamentos -
j X0
Estrela Aterrada / Estrêla Aterrada

Trafo de 2 enrolamentos -
j X0 3.Rn Estrela Aterrada / Estrêla Aterrada

Rn
Núcleo Envolvente

j X0
Trafo de 2 enrolamentos -
3.Rn 3.Rn Estrela Aterrada / Estrêla Aterrada

Rn Rn
Núcleo Envolvente

Trafo de 2 enrolamentos -
Estrela / Estrêla Aterrada

Núcleo Envolvente

Trafo de 2 enrolamentos -
Estrela / Estrêla Aterrada
Núcleo Envolvente

Figura 4.13 – Circuitos Equivalentes de Seqüência Zero de Bancos de Transformadores ou


Transformadores Trifásicos com Núcleo Envolvente

Componentes Simétricos 62 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Para geradores e motores:

Gerador ou Motor Gerador ou Motor


j X0

Gerador ou Motor Gerador ou Motor


j X0
3Rn
Rn

Figura 4.14 – Circuitos Equivalentes de Seqüência Zero de Máquinas

6.4.3 Exemplo

Montar os diagramas de seqüência positiva, negativa e zero do sistema cujo unifilar está
mostrado a seguir:

TR1 TR4

G1 M

1 5

TR5 4 6
2
G2 3 7
8
TR2
TR6

G3

9
TR3 10

Figura 4.15 – Diagrama Unifilar do Exemplo

Componentes Simétricos 63 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Diagrama de Seqüência Positiva:

1 3 4 5

6
7 8

9 10

Figura 4.16 – Diagrama de Seqüência Positiva do Exemplo

Diagrama de Seqüência Negativa:

1 3 4 5

6
7 8

9 10

Figura 4.16 – Diagrama de Seqüência Negativa do Exemplo

Diagrama de Seqüência Zero:

1 3 4 5

2
6
8 9 10

Figura 4.17 – Diagrama de Seqüência Zero do Exemplo

Componentes Simétricos 64 de 115


7. DIAGRAMAS DE SEQUÊNCIA ZERO PARA TRANSFORMADORES DE POTÊNCIA

7.1 INTRODUÇÃO

Para estudos de curto-circuito e outras condições de desequilíbrio no sistema, há


necessidade do conhecimento dos diagramas de seqüência zero de transformadores de
potência.

Este capítulo tem a finalidade de explicar ou justificar os diagramas utilizados, dependendo


dos tipos de conexão e dos tipos de núcleos utilizados nos transformadores trifásicos.

Deve-se lembrar da teoria de componentes simétricos que, para seqüência zero:

I a0  I b0  I c0 e Va 0  Vb 0  Vc 0

O diagrama de impedâncias de uma dada seqüência deve representar o comportamento


do transformador para as condições dessa seqüência. Nos exemplos a seguir, tem-se
algumas condições impostas:

Exemplo 1:

ia

va
Trafo Trifásico
vc vb ou Banco
ib

Fonte Trifásica ic Curto


Equilibrada Circuito

Figura 5.01 – Condição de Seqüência Positiva (ou Negativa) aplicada no Transformador

Neste ensaio de curto-circuito, o transformador está sendo solicitado por uma fonte trifásica
equilibrada:

Va = V /_0o Vb = V /-120 o Vc = V /+120 o

Pode-se considerar então que o mesmo está sendo solicitada por uma condição de
seqüência positiva ou de negativa:

| va | | va |
 Z ou  Z
| ia | | ia |

Diagramas de Seqüência Zero de Transformadores de Potência 65 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Exemplo 2:

ia

Fonte
Monofásica

Trafo Trifásico
ou Banco
ib
Curto
Circuito

ib

va = vb = vc

Figura 5.02 – Condição de Seqüência Zero aplicada no Transformador

Neste ensaio aplica-se uma mesma tensão para as três fases, no ensaio de curto-circuito

Va = V /_0o = Vb = V /0 o = Vc = V /0 o

E caso existam correntes, as mesmas seriam: ia = ib = ic

Isto é, o transformador estaria sendo solicitado por uma condição de seqüência zero.
Portanto:

|v |
 Z0
|i |

Abordagem

Para a verificação do comportamento de um transformador que está sendo “solicitado”


por uma fonte com características de seqüência zero, dois aspectos devem ser
abordados:

a) Corrente de seqüência zero

Para a verificação da possibilidade de existência da corrente de seqüência zero,


duas condições devem ser obedecidas:

 Existência de caminho físico para a corrente.

 Existência de compensação de ampères – espiras entre os enrolamentos de uma


mesma fase, isto é:

N1 x i01 = N2 x i02

Diagramas de Seqüência Zero de Transformadores de Potência 66 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Onde N1 e N2 são os números de espiras dos enrolamentos primário e secundário e


i01 e i02 são as correntes de seqüência zero nos enrolamentos.

b) Corrente de magnetização de seqüência zero

Quando o transformador é submetido a uma fonte de seqüência zero, aparecem fluxos


iguais nos núcleos das 3 fases (fluxos de seq. Zero). Estes fluxos estão associados à
corrente de magnetização de seq. zero:

F01 _ mag  N 1 .i01 _ mag   0 . 0 Onde

F01 _ mag = força magneto-motriz de seqüência zero.

0 = Fluxo de seqüência zero.

0 = Relutância do núcleo para o caminho (circuito magnético) de seqüência zero.

A corrente de magnetização de seqüência zero im0 existirá desde que haja caminho
físico para o mesmo, não necessitando de compensação de ampères-espiras.

7.2 REATÂNCIAS DE MAGNETIZAÇÃO DE UM TRANSFORMADOR TRIFÁSICO OU DE


UM BANCO TRIFÁSICO

7.2.1 Introdução

Já foi visto no capítulo 1 do presente documento que o fluxo mútuo no núcleo de uma fase
de um transformador está relacionado com a tensão aplicada à essa fase
(aproximadamente):

d d
e  N  Volts
dt dt
isto é, se a tensão for periódica senoidal, o fluxo também será periódico senoidal com
defasamento de 90 graus (veja derivada na expressão acima).

Para simplicidade, considera-se o transformador:

 Sem saturação
 Sem perdas

 .
Nestas condições, a corrente de magnetização será: .i1 _ mag  Onde
N1
 = Fluxo (Weber)
 = Relutância do núcleo considerada constante (sem saturação – núcleo linear).

Diagramas de Seqüência Zero de Transformadores de Potência 67 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Com o fluxo senoidal, a corrente de magnetização será senoidal, com o mesmo ângulo do
fluxo (90 graus).

7.2.2 Seqüência Positiva (ou Negativa)

Num transformador trifásico energizado por uma fonte trifásica equilibrada, tem-se:

Va = V /_0o Vb = V /-120 o Vc = V /+120 o

a =  /_-90o b =  /+150 o c =  /+30 o

ima = i /_-90o imb = i /+150 o imc = i /+30 o

ima

Trafo Trifásico
ou Banco
imb

Fonte Trifásica imc


Equilibrada

Figura 5.03 – Corrente de Magnetização para Fonte Trifásica Equilibrada

Nestas condições, os fluxos nas três fases estão defasadas entre si de 120 graus.

ima

a

imb

b

imc

c

Figura 5.04 - Fluxos no Núcleo para Fonte Trifásica Equilibrada para Núcleo Envolvido

Notando-se que a + b + c = 0

Diagramas de Seqüência Zero de Transformadores de Potência 68 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Isto é, os fluxos se cancelam nas partes esquerda e direita do núcleo mostrado na figura
anterior, não havendo fechamento do fluxo pela carcaça ou ar.

Tem-se então um caminho de baixa relutância no circuito magnético, o que equivale a alta
indutância ou alta reatância de magnetização. Com alta reatância, a corrente de
magnetização é muito baixa.

Considerando que a fonte é trifásica equilibrada, essa reatância de magnetização é a de


seqüência positiva.

No caso de um Banco Trifásico composto de Transformadores Monofásicos, como


mostrado na figura a seguir, haveria também alta reatância de magnetização (baixa
corrente de magnetização) pois cada fase tem seu próprio circuito magnético de baixa
relutância:

ima

a

imb

b

imc

c

Figura 5.05 - Fluxos no Núcleo para Fonte Trifásica Equilibrada para Banco Trifásico

Nos modelos utilizados em seqüência positiva ou seqüência negativa, para


transformadores de potência, essas reatâncias de magnetização, sendo muito alta, não
são consideradas nos circuitos equivalentes (adotado valor infinito).

7.2.3 Seqüência Zero

Considerando agora uma fonte com características de seqüência zero energizando um


transformador trifásico, vejamos como se comporta o mesmo para a corrente de
magnetização:

Caso de Núcleo Envolvido (3 pernas)

Transformador de conexão estrela aterrada no lado da energização e estrela (ou estrela


aterrada) no lado aberto:

Diagramas de Seqüência Zero de Transformadores de Potência 69 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Trifásico de Núcleo
Envolvido (3 pernas)
im0a

ou ABERTO
im0b

im0c

Figura 5.06 – Energização em Condição de Seqüência Zero do Lado Estrela Aterrada

Nestas condições: im0(a) = im0(b) = im0(c)

m0(a) = m0(b) = m0(c)

porque v(a) = v(b) = v(c)

No núcleo haveria:

im0a

a

im0b

b

v im0c

c

Figura 5.07 – Fluxo no Núcleo em Condição de Seqüência Zero do Lado Estrela Aterrada

Isto é, três fluxos iguais (módulo e ângulo) que se somam e são obrigados a fechar por fora
(carcaça, óleo, ar).

Tem-se então um caminho de alta relutância magnética, isto é, baixa reatância de


magnetização e consequentemente, corrente de magnetização não desprezível.

Diagramas de Seqüência Zero de Transformadores de Potência 70 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Portanto, em circuitos equivalentes de seqüência zero de transformadores trifásicos


de núcleo envolvido, com conexão estrela aterrada / estrela, deve ser representada a
reatância de magnetização de seqüência zero (da ordem de 6 vezes a reatância de
dispersão do transformador).

Caso de Núcleo Envolvente ou Banco de Transformadores

Transformador de conexão estrela aterrada no lado da energização e estrela (ou estrela


aterrada) no lado aberto:
Trifásico de Núcleo Envolvente
ou BANCO trifásico
im0a

ou ABERTO
im0b

im0c

Figura 5.08 – Energização em Condição de Seqüência Zero do Lado Estrela Aterrada

Nestas condições: im0(a) = im0(b) = im0(c)


m0(a) = m0(b) = m0(c)
porque v(a) = v(b) = v(c)

No núcleo haveria:
Ima ~0

a

imb ~ 0

b

v
imc ~ 0

c

Figura 5.09 – Fluxo no Núcleo em Condição de Seqüência Zero do Lado Estrela Aterrada

Diagramas de Seqüência Zero de Transformadores de Potência 71 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Neste caso de Banco Trifásico composto de Transformadores Monofásicos, haverá alta


reatância de magnetização (baixa corrente de magnetização) pois cada fase tem seu
próprio circuito magnético de baixa relutância para os fluxos de seqüência zero. Neste
caso, então, a reatância de magnetização de seqüência zero não precisa ser representada
no circuito equivalente (valor “infinito”, como no caso de seqüência positiva).

Caso de Conexão Estrela Sem Aterramento ou Delta no Lado de Energização

Caso se aplique condição de seqüência zero (energização) num enrolamento estrela sem
aterramento (ou triângulo), não haveria caminho físico para corrente nem diferença de
potencial aplicada em cada enrolamento (sem fluxo no núcleo):

a

b

v
0

c

a

b

v
0

c

Figura 5.10 –Condição de Seqüência Zero do Lado Estrela sem Terra ou Delta

Assim, não há corrente de magnetização para seqüência zero. A reatância é realmente


infinita (“circuito aberto”).

Caso de Núcleo Envolvido (3 pernas) com conexão delta no lado secundário

Transformador de conexão estrela aterrada no lado da energização e Delta no lado aberto:

Diagramas de Seqüência Zero de Transformadores de Potência 72 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Trifásico de Núcleo
Envolvido
im0a
~0

im0b ABERTO

~0
v

~0
im0c

Figura 5.11 – Energização em Condição de Seqüência Zero do Lado Estrela Aterrada com
Delta no Lado Aberto

Nestas condições: im0(a) = im0(b) = im0(c)


m0(a) = m0(b) = m0(c)
porque v(a) = v(b) = v(c)

Devido à presença do enrolamento em triângulo, haveria condição de compensação de


ampères-espiras:

im0a
~0

a

im0b Im0 ‘

~0

b

v im0c Im0 ‘
Im0 ‘

~0

c

Figura 5.12 – Compensação de ampères-espiras devido ao Delta

Haverá corrente dentro de Delta de tal modo que: N1 .im 0  N 2 .im 0'  0 . para
cada fase.

Diagramas de Seqüência Zero de Transformadores de Potência 73 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Isto é, há uma divisão de corrente nos enrolamentos de cada fase e, no lado da fonte
haverá menos corrente (im0) do que dentro do Delta (im0’ ).

Assim, aparentemente a reatância de magnetização vista da fonte será:

|v|
 xm0 .
| im 0 |

Como a corrente é relativamente pequena, a reatância é aparentemente maior. Assim,


a mesma pode ser considerada “infinita” pois N 2 .im 0' é maior que N1.im 0 pois no
delta, geralmente, a impedância de magnetização é menor.

É porisso que nos transformadores com um enrolamento em delta, a reatância de


magnetização de seqüência zero não é representada, mesmo no caso de núcleo
envolvido.

7.3 DIAGRAMA DE SEQUÊNCIA ZERO DE TRANSFORMADOR DELTA / ESTRÊLA


ATERRADA

Para se determinar o circuito equivalente de seqüência zero deve-se aplicar condições de


seqüência zero no ensaio de curto-circuito para o transformador. Isto é, v(a) = v(b) = v(c).

Ensaio 1

Ensaio de curto circuito aplicando condição de seqüência zero do lado estrela aterrada:

i
i'

i i' i'
3.i
3.i

Figura 5.13 – Ensaio de curto-circuito para condição de seqüência zero

Verificação das condições:

Caminho físico para a corrente

Existe caminho para a circulação da corrente i (lado da fonte). Existe caminho para a
circulação da corrente i’ (dentro do triângulo, pois são correntes iguais).

Diagramas de Seqüência Zero de Transformadores de Potência 74 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Compensação de ampères-espiras

Como é ensaio de curto-circuito e não se trata de energização, deve haver condição para
compensação:

N1 x i = N2 x i’ Havendo caminho físico, essa compensação é possível.

Ensaio 2

Ensaio de curto circuito aplicando condição de seqüência zero do lado delta:

Figura 5.14 – Ensaio de curto-circuito para condição de seqüência zero

Verifica-se que não há caminho físico para a corrente de seqüência zero, no lado da fonte.

Conclusão

Com tensão de seqüência zero aplicada no lado estrela aterrada, há caminho e corrente.
Com a tensão aplicada no lado delta, não há caminho para a corrente.

Com a fonte no lado estrela aterrada, há também corrente de magnetização de seqüência


zero, que pode ser desprezada, como já visto.

Donde, os circuitos equivalentes de seqüência zero para um transformador Estrela


Aterrada / Delta, qualquer que seja a configuração do núcleo, será:

j.X0 = j.X+

Figura 5.15 – Circuito Equivalente de Seq. Zero de Trafo Estrela Aterrada / Delta

Diagramas de Seqüência Zero de Transformadores de Potência 75 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Observação: os ensaios anteriores podem ser representados nesse circuito equivalente


através dos diagramas da figura a seguir:

j.X0 = j.X+ j.X0 = j.X+

Figura 5.16 – Diagramas de Ensaios de Curto para Seq. Zero de Trafo Estrela Aterrada / Delta

7.4 DIAGRAMA DE SEQUÊNCIA ZERO DE UM TRANSFORMADOR ESTRELA ATERRADA


/ ESTRELA ATERRADA

Para se determinar o circuito equivalente de seqüência zero deve-se aplicar condições de


seqüência zero no ensaio de curto-circuito para o transformador. Isto é, v(a) = v(b) = v(c).

Ensaio 1

Ensaio de curto circuito aplicando condição de seqüência zero:

i
i'

i'

i
i'

3.i
3.i 3.i '
3.i '

Figura 5.17 – Ensaio de curto-circuito para condição de seqüência zero

Verificação das condições:

Caminho físico para a corrente

Existe caminho para a circulação da corrente i (lado da fonte). Existe caminho para a
circulação da corrente i’ (lado do curto-circuito)

Compensação de ampères-espiras

Como é ensaio de curto-circuito e não se trata de energização, deve haver condição para
compensação: N1 x i = N2 x i’ Havendo caminho físico, essa compensação é possível.

Diagramas de Seqüência Zero de Transformadores de Potência 76 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Ensaio 2

Ensaio retirando condição de curto circuito:

im0

im0

aberto
im0

3im0 3im0

Figura 5.18 – Ensaio retirando condição de curto-circuito para condição de seqüência zero

Neste caso, é condição de magnetização de seq. Zero como já explicado. Como não há
curto, não há corrente de compensação do lado da fonte.

Conclusão

Os circuitos equivalentes que representam as condições dos ensaios é:

j.X j.X/2 j.X/2

j.X0m =~ 6. j.X

Núcleo Envolvente ou Núcleo Envolvido


Banco Trifásico Trafo Trifásico

Figura 5.19 – Circ. Equivalente de Seq. Zero de Trafo Estrela Aterrada / Estrela Aterrada

Observação: os ensaios 1 e 2 anteriores podem ser representados nos diagramas da


figura a seguir.

Diagramas de Seqüência Zero de Transformadores de Potência 77 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Ensaio 1
j.X j.X/2 j.X/2

i0 i0 i0m i0 i0
j.X0m
i0m

Núcleo Envolvente ou Núcleo Envolvido


Banco Trifásico Trafo Trifásico

Ensaio 2
j.X j.X/2 j.X/2

i0m

i0m j.X0m

Núcleo Envolvente ou Núcleo Envolvido


Banco Trifásico Trafo Trifásico

Figura 5.20 – Os ensaios de curto e em aberto nos diagramas equivalentes

Em qualquer dos ensaios mostrados no item anterior, não havendo o caminho físico
(aterramento da estrela), não haverá caminho para as correntes de seqüência zero, nem
para as correntes de magnetização de seqüência zero.

Isto pode ser compreendido nos diagramas a seguir, através de “chaves” abertas ou
fechadas conforme mostrados nos itens a seguir.

7.5 DIAGRAMA DE SEQUÊNCIA ZERO ENVOLVENDO CONEXÕES ESTRELA

Figura 5.21 – Circuito Equivalente de Seq. Zero em Conexão Estrela - Delta

Diagramas de Seqüência Zero de Transformadores de Potência 78 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

j.X0m j.X0m

Núcleo Envolvido - Núcleo Envolvido -


Trafo Trifásico Trafo Trifásico

j.X0m

Núcleo Envolvido - Núcleo Envolvente ou


Trafo Trifásico BancoTrifásico

Núcleo Envolvente ou Núcleo Envolvente ou


BancoTrifásico BancoTrifásico

Figura 5.22 – Circuito Equivalente de Seq. Zero em Conexão Estrela - Estrela

7.6 DIAGRAMA DE SEQUÊNCIA ZERO DE TRANSFORMADOR ESTRELA ATERRADA –


DELTA – ESTRELA ATERRADA

Para compreender o circuito equivalente de seqüência zero de um transformador estrela


aterrada – delta – estrela aterrada, pode-se efetuar ensaios de curto-circuito em condições
simuladas de seqüência zero, como mostrado a seguir.

Ensaio 1

Tensão de seqüência zero aplicada no lado primário com o lado secundário curto
circuitado. O terciário aberto:

Diagramas de Seqüência Zero de Transformadores de Potência 79 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

i0p
i0t i0t i0s
i0s
i0s
i0p

i0t
i0p

3i0s
3i0p
Np.i0p= = Nt.i0t + Ns.i0s

Figura 5.23 – Ensaio de Seq. Zero entre os lados primário e secundário

Observa-se que há caminho para corrente no lado primário e há caminho de compensação


tanto do lado terciário como do lado secundário.

Ensaio 2

Tensão de seqüência zero aplicada no lado primário com o lado terciário curto circuitado. O
secundário aberto:

i0p
i0t i0t

i0p

i0t
i0p

3i0p
Np.i0p= = Nt.i0t

Figura 5.24 – Ensaio de Seq. Zero entre os lados primário e terciário

Observa-se que há caminho para corrente no lado primário e há caminho de compensação


tanto do lado terciário. Não há caminho físico no lado secundário.

Diagramas de Seqüência Zero de Transformadores de Potência 80 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Ensaio 3

Tensão de seqüência zero aplicada no lado terciário com o lado primário curto circuitado. O
secundário aberto:

Não há caminho físico para


corrente no lado da fonte

Figura 5.25 – Ensaio de Seq. Zero entre os lados terciário e primário

Neste caso, como não há caminho no lado da fonte, não há corrente (circuito aberto).

Conclusão

Um transformador estrela aterrada – delta – estrela aterrada comporta-se como um


conjunto de três transformadores estrela aterrada / delta, estrela aterrada / estrela aterrada
e delta / estrela aterrada num único transformador.

Assim o circuito equivalente de seqüência zero será:

j.Xp0 j.Xs0
p s

j.Xt0 t

Figura 5.26 – Circuito Equivalente de Seq. Zero de trafo estrela aterrada / delta / estrela
aterrada

Observação:

Os ensaios anteriores podem então ser representados utilizando este circuito equivalente:

Diagramas de Seqüência Zero de Transformadores de Potência 81 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

p p p
s s s

i0p i0s
i0p
i0t t i0t t t

Ensaio 1 Ensaio 2 Ensaio 3

Figura 5.27 – Os ensaios de curto nos diagramas equivalentes de seqüência zero

7.7 DIAGRAMA DE SEQUÊNCIA ZERO DE TRANSFORMADOR ZIG-ZAG

Um transformador “Zig Zag” tem a finalidade de prover ponto de aterramento para um


sistema isolado. Sendo assim, deve ser um caminho para a corrente de seqüência zero.

A figura a seguir mostra a conexão trifilar de um transformador zig-zag e as condições de


seqüência positiva nele aplicadas (tensões equilibradas de um sistema):

a b c

-c

-b c

-a

Figura 5.28 – Conexões de Transformador Zig-Zag

No diagrama vetorial estão mostrados, em tracejado, as tensões (f.e.m.) aplicadas em cada


perna do núcleo.

Diagramas de Seqüência Zero de Transformadores de Potência 82 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Para as condições de seqüência zero, o comportamento deste transformador está


mostrado na figura a seguir. Observa-se que, além do caminho físico, há condição de
compensação de ampères-espiras para cada perna do núcleo.
a
b

i0 N1

i0 N1
i0

i0
i0
i0

N1.i0 = N1.i0 3i0

Figura 5.29 – Condições de Seq. Zero para Transformador Zig-Zag

Imaginando este transformador aplicado num sistema isolado (alimentado pelo lado
triângulo de um transformador abaixador), verifica-se que ele proverá ponto de
aterramento, transformando o sistema isolado em aterrado:

a
b
c

3i0

i0 N1

Circuito Equivalente
i0 N1 de Sequência Zero
i0

i0
i0
i0
j.X0

N1.i0 = N1.i0 3i0

Figura 5.30 – Transformando Sistema Isolado em Aterrado

Diagramas de Seqüência Zero de Transformadores de Potência 83 de 115


8. NOÇÕES DE CURTO-CIRCUITO

8.1 INTRODUÇÃO

Curtos-circuitos em sistemas elétricos são eventos que ocorrem dentro de uma faixa
probabilística que depende dos parâmetros de projetos das instalações e equipamentos,
bem como de outros fatores relacionados ao ser humano, meio ambiente e acidentes
diversos.

8.2 TIPOS DE CURTO-CIRCUITO

Podem ocorrer diversos tipos de curto-circuito, sejam como eventos isolados ou também
simultaneamente com outros tipos de faltas ou mesmo outros curtos-circuitos. Um curto
circuito iniciado como um determinado tipo pode evoluir para outros tipos de curtos-
circuitos.

 Fase - Terra
 Bifásico - Terra
 Trifásico - Terra (com desequilíbrio)
 Bifásico
 Trifásico
 Evolutivos, de fase-terra para bifásico-terra, de bifásico para bifásico-terra, etc.
Para a Proteção, a existência ou não de terra, na situação de curto-circuito, importa muito.
Para curtos-circuitos à terra, que são os mais freqüentes, existem proteções específicas,
com cuidados especiais.

O relatório ONS / DPP-GPE 33/2000 de abril de 2000 que efetua a análise estatística dos
dados de 1998 mostra, por exemplo, a seguinte distribuição dos tipos de falhas em linhas
de transmissão:

Natureza Elétrica % das ocorrências


138 kV 230 kV 345 kV 440 kV 500 kV 750 kV Todos
CC Fase – Terra 68,0 85,3 81,4 85,3 91,6 87,3 76,4
CC Bifásico 8,0 4,7 4,3 4,9 3,3 2,9 6,4
CC Trifásico 3,1 1,4 0,4 1,0 0,6 2,9 2,2
CC Bifásico - Terra 12,8 4,8 9,0 1,0 2,3 5,9 9,0
CC Trifásico – Terra 3,1 1,0 1,1 0,3 0,5 0 2,1
Sem Natureza Elétrica 1,1 1,1 3,4 4,4 1,2 1,0 1,2

Observa-se que a incidência de curtos-circuitos à terra é sempre maior.

Noções de Cálculo de Curto Circuito 84 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

8.3 CAUSAS DO CURTO-CIRCUITO

Os itens mencionados no capítulo anterior de “desligamentos forçados” mostram as


diversas causas que podem estar associados ao curto-circuito. Alguns podem ser
minimizados. Mas é impossível evitar, probabilisticamente falando, que ocorram.

Linhas de transmissão e alimentadores aéreos são os componentes mais expostos


ao ambiente e às intempéries. Chuva, vento, descargas atmosféricas, fogo, objetos
carregados pelo vento, pássaros, aeronaves estão entre os eventos que podem
afetar a operação de um circuito de distribuição ou linha de transmissão.

Em subestações ocorrem curtos-circuitos envolvendo barramentos, conexões,


equipamentos de manobra e auxiliares, transformadores de instrumentos, transformadores,
reatores, bancos de capacitores e outros equipamentos.

Descarga Atmosférica
Dos eventos mencionados, o que com maior freqüência pode causar curto-circuito numa
rede aérea é a descarga atmosférica. A descarga em si provoca direta ou indiretamente
surtos de carga elétrica no cabo pára-raios ou nas fases condutoras que, por sua vez,
causam diferenças de potencial que desencadeiam aberturas de arco elétrico entre partes
energizadas da linha e a terra, culminando em curto-circuito à freqüência industrial. Numa
subestação, é muito rara a ocorrência de curto-circuito em instalações energizadas de
potência devido à descarga atmosférica, devido à blindagem (pára raios) existente.

Mecanismo de Abertura de Arco em Isoladores de Linhas devido à Descarga


Atmosférica
Quando um raio atinge um condutor, uma estrutura de linha de transmissão, um poste ou
cabo terra (descarga direta), ou quando atinge um ponto nas proximidades da linha (raio
indireto), aparecem sobretensões na linha. Em ambos os casos as tensões são do tipo
impulsivo, aperiódico, como já mostrado.

Do mesmo modo que se acumulam cargas na superfície terrestre (incluindo aí o cabo


terra), são acumuladas cargas nas linhas de transmissão, em cabos condutores. A figura a
seguir mostra o campo elétrico sobre uma linha de transmissão LT criado por uma nuvem
carregada. O campo consiste de uma região A entre a nuvem e a terra, e a região B entre a
nuvem e a linha isolada.

Noções de Cálculo de Curto Circuito 85 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Nuvem Carregada

LT

Terra - Inclui Cabo Terra

Figura 8-1 – Campo Elétrico de Condutor e Terra para a Nuvem

Quando a nuvem se descarrega para a terra (raio indireto), o campo A desaparece e o


campo B se transforma. A parte principal da energia fica no campo ente a LT e a terra pois
para a nuvem se dirigem poucas linhas de campo, como mostra a figura a seguir.

N u v em C arreg ad a

LT

T erra - In c lu i C ab o T erra

Figura 8-2 – Campo Elétrico após descarga indireta

A intensidade deste campo entre a linha e a terra e por conseguinte a tensão induzida
depende da altura da linha sobre a terra, da intensidade do campo antes do raio indireto e
da rapidez da descarga da nuvem.

A intensidade da tensão induzida pelo raio indireto tem, relativamente, uma velocidade de
crescimento pequena e o valor de pico encontra-se, geralmente, abaixo dos 100 kV.

Frente de Onda pouco inclinada

Figura 8-3 – Frente de onda suave

Noções de Cálculo de Curto Circuito 86 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Estas sobretensões causadas por raios indiretos desenvolvem-se em todas as fases da LT.
As descargas indiretas são inofensivas na maior parte dos casos, para linhas de
transmissão com isolamento para tensão nominal superior a 33 kV.

Por outro lado, o raio direto na LT tem uma severidade maior, caracterizada por uma
velocidade de crescimento do surto bem maior da ordem de 100 a 1000 kV por
microsegundo (frente de onda pouco inclinada). A Linha recebe uma carga muito elevada
que cria, em correspondência, uma tensão muito elevada.

Assim, dependendo da intensidade de corrente de descarga atmosférica (valor estatístico),


a tensão de descarga dos isoladores da linha é alcançada rapidamente.

Para uma descarga direta em condutor de LT, as cargas se movimentam em ambas as


direções.

Figura 8-4 – Descarga Direta em Condutor

Há diferença de potencial elevada (por algumas dezenas de microsegundos) através do


isolador da linha. Dependendo dessa diferença e dependendo do nível de isolação, há
descarga da energia.

Para uma descarga no cabo terra, haverá também diferença de potencial entre o condutor
e a terra e poderá haver descarga de energia para o condutor, caracterizando uma
situação que é chamada de descarga em “marcha a ré”.

Noções de Cálculo de Curto Circuito 87 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Figura 8-5 – Descarga Direta em Cabo-Guarda

Em virtude da descarga, há ionização do ar no caminho da descarga. O ar, tornando-se


condutor, provoca curto-circuito em 60 Hz.

1) Descarga (surto)

2) Ionização do ar

3) curto-circuito fase-terra em 60 Hz.

Figura 8-6 – Arco após Ionização do ar através da cadeia de isoladores

Quanto menor a isolação, maior a facilidade de abertura de arco devido à descarga


atmosférica. Por exemplo, numa linha de transmissão de 138 kV, há uma média anual de 5
a 6 ocorrências de curto-circuito por cada 100 km de exposição. Já numa linha de 69 kV,
espera-se 25 ocorrências de curto devido a descarga por ano, para 100 km de exposição.

Noções de Cálculo de Curto Circuito 88 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Fogo sob a linha de transmissão


Também o fogo sob a linha de transmissão, geralmente devido a queimadas, ioniza o ar
entre condutores ou entre condutor e a terra, facilitando a abertura de arco elétrico,
provoca curtos-circuitos.

1) Fogo sob a linha

2) Ionização do ar

3) curto-circuito

FOGO

Figura 8-7 – Fogo sob a LT

Objetos estranhos, Árvores


Materiais carregados pelo vento, aeronaves, árvores, etc. podem também de modo
acidental, provocar curtos-circuitos de modo direto, sejam em linhas ou em instalações de
subestações. Neste caso, pode haver também rompimento de cabos.

Equipamentos e cabos são especificados e aplicados para suportarem as esperadas


correntes de curto-circuito por um tempo limitado e definido. Após o que, haverá danos.

Uma proteção deve, portanto, ser adequada para detectar de modo rápido e preciso a
natureza elétrica da anormalidade. No caso de curtos-circuitos, deve detectar aqueles entre
fases e entre fase(s) e terra.

Falhas em Cabos Subterrâneos


Para redes subterrâneas, pode também ocorrer curto-circuito, quando de perfuração ou
deterioração da isolação do cabo condutor. Terceiros com escovadeiras ou outras
máquinas , podem causar perfuração de cabos. Pelo fato de os cabos serem isolados,
ocorre, em geral, curtos-circuitos do tipo fase-terra.

A probabilidade de curtos bifásicos ou trifásicos, nos cabos é menor. Tais curtos podem
ocorrer com maior probabilidade em conectores destes cabos a outros dispositivos como
reguladores ou transformadores.

Noções de Cálculo de Curto Circuito 89 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Falha Hidráulica em Linha de Cabos

Caracteriza-se principalmente por problemas relativos à pressão do óleo isolante ao longo


do cabo, em virtude de falhas de montagem, defeitos de fabricação, falhas de operação,
ação do meio e de terceiros sobre acessórios.

São objetos de atenção especial os pontos de conexão existentes entre o cabo


subterrâneo e barramento de subestações, bem como, as capas metálicas e os
pontos de aterramento das mesmas.

Há sistema de Proteção para detecção das anomalias. A manutenção corretiva caracteriza-


se pela retirada em operação do cabo, seja imediatamente após o desligamento do mesmo
pela proteção, seja quanto de sinalização de anomalia no circuito de óleo.

Arcos Internos em Transformadores e Reatores


É possível a ocorrência de arcos internos envolvendo a isolação e conectores. Tais arcos
são caracterizados por pequenas correntes com alto grau de ruídos (conjunto de sinais de
alta frequência) queimando a isolação e o óleo isolante, com possível alteração da
característica desse último.

Caso não seja detectado a tempo, o defeito pode evoluir para uma situação mais grave,
com curto- circuito pleno, com maiores danos.

Falhas em Buchas de Equipamentos (Trafos, Reatores, TP’s, TC’s)


Não muito freqüentes porém possíveis. Danos nas porcelanas e / ou vazamentos de óleo
isolante reduzem a isolação o provocam curtos. Quando ocorrem, são severos,
provocando, às vezes, explosões.

Falhas em Comutadores
Comutadores de taps em transformadores possuem partes móveis que operam sob carga.
Evidentemente este é um fator de desgaste e risco. Portanto, curtos-circuitos podem
ocorrer.

Falhas em Conexões
Conexões são pontos fracos em qualquer circuito elétrico. Aspectos mecânicos estão
envolvidos em conjunto, às vezes, com correntes elevadas com grande potencial de
aquecimento. Eventuais rompimentos e consequentes curtos-circuitos podem ocorrer.

8.4 CURTO-CIRCUITO DE ALTA IMPEDÂNCIA

Curtos-circuitos de alta impedância (alta resistência no caminho da corrente de curto-


circuito) devem merecer atenção especial. Geralmente são curtos entre fase e terra através
de uma árvore, ou queda de cabo em em solo específico. Há o contato com a terra, porém
com baixíssima corrente, sem queda acentuada de tensão. Proteções devem
obrigatoriamente considerar a probabilidade de ocorrências desses curtos, dentro do
possível.

Noções de Cálculo de Curto Circuito 90 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Na rede de Distribuição aérea, curtos-circuitos decorrentes da queda de cabos energizados


ao solo geralmente são de alta impedância (areia, asfalto, paralelepípedo, etc.). O que
pode ser relativamente freqüente numa rede com problemas de instalação.

A intensidade do curto-circuito depende do tipo de solo ou do contato do cabo com o solo.


Pode se iniciar com corrente elevada mas em seguida pode sofrer redução acentuada, por
exemplo, devido a vitrificação com a sílica contida na areia. É um problema que deve ser
considerado com atenção, tendo em vista os problemas de segurança envolvidos.

NÃO SE TRATA APENAS DE PROBLEMA DE PROTEÇÃO

Como é impossível para a proteção detectar correntes abaixo de um certo nível, a


proteção (relés, fusíveis, religadores) servem apenas parcialmente para detectar o curto-
circuito. Então, a providência maior é no sentido de:

MINIMIZAR A PROBABILIDADE DE QUEDA DE CABOS

IMPLANTAR, CASO SEJA VIÁVEL, MODOS DE DETECTAR QUEDA DE CABOS SEM A


MEDIÇÃO DE CORRENTE.

Assim sendo, uma empresa concessionária deve considerar:

Engenharia e Projetos

Uma rede deve ser planejada e implantada visando minimizar essa probabilidade de queda
de cabos (traçados, localização de estruturas, técnicas de emendas ou conexões, etc.).

Para a proteção, deve-se buscar a utilização de relés que possibilitem ajustes sensíveis e
eventualmente, tecnologias distintas para detecção de quedas de cabos.

Engenharia de Manutenção de Rede

Pesquisa de defeitos, de ocorrências e técnicas de reparos devem ser ferramentas


rotineiras para buscar a minimização da probabilidade de queda de cabos.

Materiais e Ferramentas para Manutenção

Os materiais de ferramentas contribuem para introdução de pontos fracos na rede.

Operação

O ajuste dos elementos de terra de religadores e relés devem ser sensíveis, no limite do
desbalanço natural da rede. Deve-se também buscar a utilização de relés que possibilitem
ajustes sensíveis e eventualmente, tecnologias distintas para detecção de quedas de
cabos.

Noções de Cálculo de Curto Circuito 91 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

8.5 DESLOCAMENTO DE EIXO DA CORRENTE DE CURTO-CIRCUITO

Todo chaveamento ou curto-circuito em circuito indutivo ou capacitivo em corrente


alternada está associado ao aparecimento do chamado “componente dc”.

Essas parcelas são mostradas na figura a seguir:

i (t)
i (t) t (s)

t (s)

Figura 8-8 – Componente DC e Componente AC de um Chaveamento de Circuito LR

A figura a seguir mostra o resultante dessas duas componentes:


i (t)

t (s)

Figura 8-9- Corrente de Chaveamento de Circuito RL

Na ocorrência de curtos-circuitos no sistema elétrico, os componentes DC sempre


aparecerão. Com mais intensidade em partes do sistema próximas à geração.

Noções de Cálculo de Curto Circuito 92 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

8.6 CURTO-CIRCUITO ENVOLVENTO TRANSFORMADOR DELTA ESTRELA

8.6.1 Fase-Terra

Vamos supor um curto circuito fase-terra no lado da baixa tensão de um transformador em


derivação, conforme figura a seguir.

Lado
Fonte

Figura 8-10 – Curto fase-terra no lado da BT de um transformador triângulo-estrela

Haverá corrente em uma fase do lado estrela aterrado e corrente em duas fases do lado da
linha, fora do triângulo. A compensação de ampères espiras (princípio de funcionamento
do transformador) explica este fato.

8.6.2 Bifásico

Vamos supor um curto circuito bifásico no lado da baixa tensão de um transformador em


derivação, conforme figura a seguir.

Figura 8-11 – Curto bifásico no lado da BT de um transformador delta - estrela

Haverá corrente em DUAS fases do lado estrela aterrado e corrente nas três fases do lado
da linha, fora do triângulo, sendo que em uma delas a corrente é o dobro das outras duas.
A compensação de ampères espiras (princípio de funcionamento do transformador) explica
este fato.

Noções de Cálculo de Curto Circuito 93 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

8.7 TENSÕES E CORRENTES DURANTE UM CURTO CIRCUITO

8.7.1 Correntes

Em geral a corrente de curto-circuito é maior que a corrente de carga (corrente que havia
antes do curto circuito, portanto chamada de corrente de “pré falta”).

A corrente resultante durante o curto-circuito é a soma da corrente de falta com a corrente


de pré falta.

Assim sendo, em geral as correntes serão maiores nas fases afetadas.

Tipo de curto Corrente na Fase Corrente de Terra Observação


Afetada (residual)
Fase - Terra Em geral, aumenta na Aparece corrente de
fase em curto-circuito. terra, quando antes não
havia (sistema Pode existir curto que a
Bifásico - Terra Em geral, aumenta nas corrente é pequena e
equilibrado).
duas fases em curto- pode não ser percebido
circuito. Ou o desequilíbrio o aumento.
original sobre alteração
A corrente de curto se
devido ao curto-circuito.
soma à corrente de
Bifásico Aumenta nas duas fases Não há ou o carga que havia antes
em curto-circuito. desequilíbrio original (soma vetorial).
Trifásico Aumenta nas fases. permanece.

Local de Medição da Corrente de Curto-Circuito

A medição de corrente de curto circuito é feita sempre nos terminais da própria linha,
instalação ou equipamento onde ocorreu a falta.

Correntes medidas em outras linhas, ramais ou equipamentos serão apenas uma parcela
do total.

Sinalização das Proteções

Haverá sinalização das proteções nas fases afetadas desde que as proteções detectem o
curto-circuito. Se não houver detecção, não haverá sinalização.

Devem ser consideradas, sempre, as proteções do circuito, do ramal, da instalação ou do


equipamento onde houve o curto-circuito.

As proteções de outros circuitos ou equipamentos, mesmo que próximos da ocorrência


apresentam apenas informações complementares.

Noções de Cálculo de Curto Circuito 94 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Nem sempre a proteção detecta o curto-circuito. Assim sendo, utilizar apenas a sinalização
da proteção para tentar determinar o tipo de curto-circuito é temerário.

Oscilografia

Os registros oscilográficos (dos relés de proteção e dos registradores oscilográficos) são


os melhores meios de se determinar a natureza elétrica.

No caso de curto-circuito, a oscilografia é o único meio realmente confiável para determinar


a natureza elétrica da falta. E mesmo assim, há casos onde há dificuldade para
diagnosticar.

Eles medem as correntes com uma resolução grande ou seja, num intervalo de tempo
pequeno (de alguns ciclos a 0,5 s por exemplo). É possível discriminar eventos com até ¼
de ciclo (4 ms) de precisão.

Registradores de Corrente (Gráficos de Corrente) nas subestações

Os registradores gráficos de corrente digitais utilizados nas subestações e nos sistemas de


supervisão têm a finalidade de registrar correntes em condição de operação. Entretanto há
registradores que têm resolução com escala em ms, o que também é conveniente para
medir correntes durante um curto-circuito e sua duração, se não for instantâneo.

Outros registradores convencionais, geralmente de tinta e pena, não têm resolução nem
velocidade para registrar correntes de falta.

8.7.2 Tensões

Em geral a tensão (fase-neutro) da fase afetada pelo curto-circuito é menor que a tensão
de pré falta (que havia antes do curto-circuito). E uma boa indicação de que o curto-circuito
afetou essa fase.

A(s) fase(s) não afetada(s) podem permanecer com o valor de pré falta mas também
podem aumentar de módulo, dependendo do nível de aterramento do sistema. Um sistema
solidamente aterrado não apresenta sobretensão apreciável nas fases boas, mas um
sistema aterrado ou um sistema isolado pode apresentar sobretensões apreciáveis.

Noções de Cálculo de Curto Circuito 95 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Tipo de curto Tensão na fase Tensão nas fase boa Observação


afetada
Fase – Terra Geralmente cai. Iguais ou superiores à Quando o curto é com
tensão de pré falta. alta impedância, a
tensão afetada pode não
cair sensivelmente.
Bifásico As duas tensões das Mais ou menos igual à
fases afetadas não tensão de pré falta.
caem a zero, mas
juntam (módulo e
ângulo) num valor menor
que a nominal, no ponto
de curto circuito.
Bifásico - Terra As duas tensões das Igual ou superior à
fases afetadas caem a tensão de pré falta.
zero no ponto de curto
circuito.
Trifásico A tensão cai nas três
fases.

Local de Medição da Tensão

A medição da tensão é feita nos terminais da linha ou instalação afetada, através dos TP’s
de linha, caso existam. Ou, pode haver TP’s de barra que medem a tensão na subestação.

Quanto mais distante é o ponto de curto-circuito, menor é a corrente. Isto é, quanto mais
se afasta do ponto, a tensão vai aumentando. A figura a seguir mostra o nível de tensão ao
longo do sistema para faltas fase-terra, trifásicas e bifásicas – terra.

FONTE A A B FONTE B

G G

A B

100% 100%
FEM Gerada FEM Gerada
Na SE A Na SE B
Visto pelo Visto pelo
relé A relé B

No Ponto
de CC

Figura 8-12 – Perfil de tensão no sistema para curto-circuito trifásico

Noções de Cálculo de Curto Circuito 96 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Caso haja sistema radial, o perfil de tensões seria o seguinte:

Radial
FONTE A A B (Subtransmissão
ou Distribuição)

A B

100%
FEM Gerada
Na SE A Na SE B
Visto pelo Visto pelo
relé A relé B

No Ponto
de CC

Figura 8-13 – Perfil de tensão no sistema para curto-circuito trifásico – com sistema radial.

Para faltas bifásicas o perfil é o seguinte:

FONTE A A B FONTE B

G G

A B

100% 100%
FEM Gerada FEM Gerada
Na SE A Na SE B
Visto pelo Visto pelo
relé A relé B

No Ponto
de CC

Va
Va Va Va Va

Vc Vb Vc Vb Vc Vb
Vc Vb Vc Vb

Figura 8-14 – Perfil de tensão no sistema para curto-circuito bifásico.

Noções de Cálculo de Curto Circuito 97 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Caso haja sistema radial, o perfil de tensões seria o seguinte:

FONTE A A B

A B

100% Na SE B Na
FEM Gerada Visto pelo Subtransmis
Na SE A relé B são radial
Visto pelo
relé A

No Ponto
de CC

Va
Va Va Va Va

Vc Vb Vc Vb Vc Vb Vc Vb
Vc Vb

Figura 8-15 – Perfil de tensão no sistema para curto-circuito bifásico – com sistema radial.

Isto é, o desequilíbrio de fases causada pela falta bifásica no lado da fonte seria sentido
em todo o sistema radial.

Sinalização das Proteções

Não há, exclusivamente para tensão, sinalização da proteção.

As sinalizações das funções de distância são influenciadas pelo nível de tensão no local de
aplicação da proteção.

Oscilografia

Os registros oscilográficos (dos relés de proteção e dos registradores oscilográficos) são


os melhores meios de se determinar o nível de tensão de cada fase, naquele intervalo de
tempo muito pequeno, de duração do curto-circuito (0,07 a 0,50 s).

No caso de curto-circuito, a oscilografia é o único meio realmente confiável para determinar


o nível de tensão de cada fase durante a falta.

Noções de Cálculo de Curto Circuito 98 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Registradores de Tensão nas subestações

Os registradores gráficos de tensão digitais utilizados nas subestações e nos sistemas de


supervisão têm a finalidade de registrar tensões em condição de operação. Entretanto há
registradores que têm resolução com escala em ms, o que também é conveniente para
medir tensões durante curto-circuito e sua duração, se não for instantâneo.

Outros registradores convencionais, geralmente de tinta e pena, não têm resolução nem
velocidade para registrar variações rápidas de tensão.

8.8 EXEMPLOS DE REGISTROS GRÁFICOS

8.8.1 Curto-circuito Fase-Terra

Ia Juanchito Ib Juanchito Ic Juanchito In Juanchito Ua Juanchito Ub Juanchito Uc Juanchito


2000
0
-2000
2000
0
-2000
2000
0
-2000
2000
0
-2000

4 8 12
Cycles

Figura 8-16 – Curto fase-terra. Oscilograma real

Todo oscilograma registra a condição de pré falta, isto é, as correntes e tensões antes do
curto-circuito.

E depois do curto-circuito ser eliminado pela abertura de disjuntores ou religadores, o


registro continua a haver por um certo tempo (ajustável).

No oscilograma acima se verifica que houve aumento da corrente de fase (Fase A) e


aparecimento de corrente de terra (N). Nota-se também que a tensão caiu para um valor
mínimo, indicando que a falta ocorreu num local muito próximo do relé que adquiriu o
oscilograma.

Observa-se também que o curto circuito durou cerca de 4 ciclos ou seja 67 ms (0,067 s) –
tempo de relé + disjuntor.

Noções de Cálculo de Curto Circuito 99 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

8.8.2 Curto-circuito Bifásico

IA IB IC 3I 0 VA VC VB
5000
0
IA

- 5000
5000
0
IB

- 5000
5000
0
IC

- 5000
2000
1000
3I0

-0
25
VC VB VA

0
- 25
25
0
- 25

4 8 12
Cy c e
ls

Figura 8-17 – Oscilograma de curto-circuito bifásico

No oscilograma acima se verifica que houve aumento da corrente nas fases B e C, como
oposição de fases. E também que as tensões VB e VC estão quase próximas em módulo e
ângulo. Isso significa que o curto-circuito foi bifásico.

Observa-se também que o curto circuito durou cerca de 4 ciclos ou seja 67 ms (0,067 s) –
tempo de relé + disjuntor.

IA IB IC IG VA(kV) VC(kV) VB(kV)


250
IA

0
-250
250
IB

0
-250
250
IC

0
-250
0
V A ( k V )I G

-200

50
V C ( kV ) V B ( kV )

0
-50
50
0
-50
2,5 5,0 7,5 10,0 12,5 15,0
Cycles

Figura 8-18 – Oscilograma de curto-circuito bifásico entre na linha Pombal – Jericó 69 kV em 20/01/2007

Noções de Cálculo de Curto Circuito 100 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

O oscilograma é de curto bifásico registrado na LT Pombal – Jericó 69 kV, registrado no


relé do disjuntor 12N3.

Observa-se também que o curto circuito permaneceu até que o oscilógrafo parou de
registrar (limite de tempo).

8.8.3 Gráficos de Tensão e Corrente em Subestação 69 kV

Às 09:20 horas do dia 26/06/2006 houve um abalroamento na estrutura número 166 da LT


Mussuré II – Mangabeira 69 kV, correspondente a uma distância de cerca de 83,3% da LT
(10,7 km), a partir da SE Mussuré II.

Em função do abalroamento, houve curto-circuito na LT MSD – MBG 69 kV, com atuação


correta da proteção referente ao disjuntor 12J8 de Mussuré II e atuação incorreta da
proteção referente ao disjuntor 12J7 de Ilha do Bispo.

Na tentativa de religamento automático da linha MSD – MGB, houve persistência do curto


bifásico, como mostra o gráfico de tensão de Mussuré Dois 69 kV:

Figura 8-19 - Gráfico de Tensão de Fase (Fase-Neutro) na SE Mussuré II em 26/06/2006

Observa-se que inicialmente tem-se;

VA = 1,2 a 1,28 pu aproximadamente (47,8 a 51,0 kV)

VB = 0,92 pu aproximadamente (36,6 kV)

VC = 0,8 a 0,88 pu aproximadamente (31,9 a 35 kV)

A seguir:

VA = 0,73 pu aproximadamente (29,1 kV)

VB = 0,98 pu aproximadamente (39 kV)

VC = 0,57 pu aproximadamente (22,7 kV)

Noções de Cálculo de Curto Circuito 101 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Após abertura do disjuntor 12J8 e quanto da tentativa de religamento automático,


persistiram as tensões citadas.

Figura 8-20 - Gráfico de Correntes do 04T2 (lado 69 kV) na SE Mussuré II em 26/06/2006

Observa-se que inicialmente tem-se;

IA = 480 A aproximadamente

IB = 500 A aproximadamente

IC = 700 A aproximadamente

A seguir:

IA = 1050 A aproximadamente

IB = 630 A aproximadamente

IC = 1420 A aproximadamente

Após abertura do disjuntor 12J8 e quanto da tentativa de religamento automático,


persistiram as correntes citadas.

Pelo gráfico observa-se que a duração de cada evento foi de aproximadamente 1300 ms
(1,3 s).

Noções de Cálculo de Curto Circuito 102 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

8.9 OS RELÉS DE PROTEÇÃO E O CURTO-CIRCUITO

8.9.1 Modos de Proteção

As categorias de proteção utilizadas para a detecção de curto-circuito são:

Rede de Distribuição

- Chaves fusíveis com elos (nos ramais e nos transformadores de distribuição)

- Religadores automáticos (nos troncos ou ramais da rede ou na subestação)

- Disjuntores com relés nos alimentadores saindo das subestações.

Rede de Subtransmissão ou Transmissão

- Disjuntores com relés nas saídas de linha das subestações

8.9.2 Funções de Proteção

As funções de proteção para detecção de curto-circuito são, basicamente, os seguintes:

- Sobrecorrente

- Distância (impedância)

- Diferencial

- Comparação de Fases

- Tensão Residual

FUNCÃO DE SOBRECORRENTE

Usado para linhas, rede de distribuição primaria e secundária, transformadores de


distribuição, transformadores de potência, linhas de transmissão, bancos de capacitores,
motores e geradores, transformadores auxiliares, etc.

A função de sobrecorrente mede a corrente na linha, alimentador ou equipamento que está


sendo protegido e atua quando o valor dessa corrente ultrapassa um valor ajustado.

A função de sobrecorrente é implementada através de:

- Chaves com elos fusíveis

Usado para transformadores de serviços auxiliares nas subestações, rede e


equipamentos de distribuição e linhas e transformadores de subtransmissão. E em
qualquer instalação de baixa tensão, seja industrial, comercial ou residencial.

- Religadores automáticos

Noções de Cálculo de Curto Circuito 103 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

Usado para rede de distribuição, seja na subestação como nos troncos e ramais.
Possui embutidos relés de sobrecorrente.

- Relés com Disjuntores

Usado para alimentadores primários de distribuição nas subestações, para linhas,


geradores e equipamentos de potência (transformadores, reatores e bancos de
capacitores) na geração e na transmissão.

A função de sobrecorrente é implementada de dois modos complementares:

- Medição de corrente de fase (Função de Sobrecorrente de Fase 50 ou 51)

Essa função deve ser ajustada ACIMA do valor de carga que passa pela linha,
alimentador ou equipamento protegido. Portanto não detecta curtos-circuitos cujos
valores de corrente sejam próximos ou inferiores ao valor de corrente da carga
máxima.

- Medição de corrente de terra (Função de Sobrecorrente de Terra 50N ou 51N)

Essa função deve ser ajustada o mais sensível possível, pois mede a corrente de terra
(de neutro ou residual dos TC’s). A única limitação é que não deve detectar desbalanço
natural da rede (maior para a Distribuição).

Note que um elo fusível só mede corrente de fase e, portanto, não pode ter
sensibilidade de função 51N.

FUNÇÃO DE DISTÂNCIA

A função de distância mede a impedância (Tensão / Corrente) na linha que está sendo
protegida e atua quando o valor dessa impedância se torna igual ou menor a um valor
ajustado.

A função de distância é implementada através de:

- Relés de Distância ou Relés digitais multifuncionais.

É utilizada para proteção de linhas de transmissão ou subtransmissão, principalmente


para aquelas não radiais.

Há dois tipos básicos de função de distância:

- Função de Distância de Fase (21F)

Esta função serve para detectar curtos-circuitos bifásicos ou trifásicos, medindo valores
de linha (entre fases AB, BC e CA).

- Função de Distância de Terra (21N)

Esta função serve para detectar curtos-circuitos à terra (Fase-Terra e Bifásico-Terra),


medindo valores de fase (AN, BN e CN).

Noções de Cálculo de Curto Circuito 104 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

A figura a seguir mostra conexões de TP’s e TC’s para as funções de sobrecorrente de


fase, terra e funções de distância.
IA

IB Ia

IC Ib

Ic
In = Ia + Ib + Ic

51 51 51 51
N A B C

Vcn
21/21N Vbn
Van

Figura 8-21 – Conexão de TC’s e TP’s.

FUNÇÃO DIFERENCIAL

A função diferencial mede e compara as correntes que entram e saem do equipamento ou


da instalação ou da linha de transmissão protegida

A função diferencial é implementada através de:

- Relés Diferenciais ou Relés digitais multifuncionais.

É utilizada para proteção de linhas de transmissão ou subtransmissão, barramentos e


todos os equipamentos de potência, bem como para grandes geradores ou motores.

FUNÇÃO DE COMPARAÇÃO DE FASES

A função de comparação de fases mede e compara os defasamentos (ângulos) entre


correntes que entram e saem da linha de transmissão protegida

A função de comparação de fases é implementada através de:

- Relés de Comparação de Fases.

É utilizada para proteção de linhas de transmissão ou subtransmissão, apesar de não


freqüente.

FUNÇÃO DE TENSÃO RESIDUAL

A função de tensão residual (também chamada de tensão de deslocamento de neutro)


mede a soma das tensões Fase-Neutro do sistema, através de TP’s (Trifásicos)
conectados em estrela – aterrada ou em “delta aberto”.

A figura a seguir mostra a conexão dessa função:

Noções de Cálculo de Curto Circuito 105 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

OPÇÃO PARA
RELÉ DIGITAL

Vcn
Vbn
VN = Van + Vbn + Vcn Van

OPÇÃO PARA
RELÉ
CONVENCIONAL

R_estab

59
VN = Van + Vbn + Vcn N

Figura 8-22 – Conexão de TC’s e TP’s.

É utilizada para detecção de curto-circuito fase-terra em sistema isolado ou sistema


aterrado com alta resistência (quando o deslocamento de neutro é grande).

Noções de Cálculo de Curto Circuito 106 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

8.10 EXEMPLOS DE SAÍDAS DE PROGRAMAS DE COMPUTADOR

Dois tipos de programas são utilizados para cálculo de curto-circuito em empresas


concessionárias de serviços de energia no nosso país.

Um deles é o programa denominado ANAFAS que foi elaborado e é atualizado pelo


CEPEL (Centro de Pesquisas Elétricas da área Federal) e utilizado por todas as
concessionárias NO Brasil. O ONS (Operador Nacional do Sistema) prepara bases de
dados dentro do formato estabelecido para o programa ANAFAS e distribui para as
concessionárias. Evidentemente, os dados são consolidados com a participação da
concessionária.

O segundo tipo de programa computacional é opcional para a empresa. Geralmente é um


programa de origem estrangeira (Americana ou Européia). Há dois programas muito
usados pelas concessionárias brasileiras: o CAPE e o ASPEN. As facilidades que esses
programas oferecem incluem a interatividade e a interface visual no ambiente Windows, o
que é bastante conveniente.

Mostra-se aqui, exemplos do ANAFAS e do CAPE.

8.10.1 EXEMPLO PARA ANAFAS

O programa ANAFAS é mantido pelo CEPEL e sua base de dados é um arquivo do tipo
texo (ou ASC II), com formação padrão de 80 colunas que era utilizado no passado quando
os dados eram inseridos através de cartões perfurados. Essa herança ainda permaneceu
pois o programa é uma adaptação daquele do passado adaptado para ambiente Windows.

A base de dados é um arquivo texo do tipo “.ana”. Por exemplo, o arquivo:

BR0612.ana

É um arquivo organizado e distribuído pelo ONS, referente ao ano de 2006 e mês de


dezembro.

Ele é constituído de vários módulos, cada um com sua finalidade. Por exemplo, módulo de
barras, de circuitos, de impedâncias mútuas, etc.

8.10.1.1 Estrutura do Arquivo .ana


Início

0
P
1 1
ONS = SISTEMA INTERLIGADO = CONFIG DEZ/2006 = VERSAO 30/11/2004-BR0612PL.ANA
2 1
==============================================================================
2 2
CICLO DO PAR ANO 2005 / 2007
2 3

Noções de Cálculo de Curto Circuito 107 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

BASE DE DADOS BR0612PL.ANA GERADO A PARTIR DA BASE DE DADOS BR0512PL.ANA DE


2 4
30/11/2004, APLICANDO-SE OS ARQUIVOS DE ALTERACOES NNE612PL.ANA;SE612PL.ANA
2 5
E SUL612PL.ANA - INCLUIDO ATE2 COM DADOS CORRIGIDOS EM FEVEREIRO DE 2006
2 6
=============================================================================
BARRAS

38
(NB C M BN VBAS IA
(--- - - ------------ ---- --
1 1 T#FU 345 13A 16
2 FURNAS 345 345 16
3 FURNAS 13A 13.8 16
4 FURNAS 138 138 16
5 1 T#FU 345 13B 16
6 FURNAS 13B 13.8 16
7 M.MORAES345 345 16
8 1 T#MM 345138A 16

.
.
.
Etc.
.
7400 GNN 230KV 230 21
7401 1 GNN FCT 04T1 21
7402 GNN 69KV 69 21
7403 GNN13.8 04T1 13.8 21
7404 GNN13.8 RLT1 13.8 21
7405 1 GNN FCT 04T2 21
7406 GNN13.8 04T2 13.8 21
7407 GNN13.8 RLT2 13.8 21
7410 MRD 230KV 230 21
7411 1 MRD FCT 04T1 21
7412 MRD 69KV 69 21
7413 MRD13.8 04T1 13.8 21
7415 1 MRD FCT 04T2 21
7416 MRD13.8 04T2 13.8 21
7418 MRD13.8 02T4 13.8 21
8010 CMA 230KV 230 21
8011 1 CMA FCT 04T1 21
8012 CMA 69KV 69 21
8013 CMA13.8 04T1 13.8 21
8014 1 CMA FCT 04T2 21
8015 CMA04T2 13.8 13.8 21
.
.
Etc.
.
.
.

9999

Noções de Cálculo de Curto Circuito 108 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

CIRCUITOS

37
(BF C BT NC T R1 X1 R0 X0 CN IADEF KM
(--- - ====----=------======------======------ --=== ====
652 654 516 904 1015 2353CER 1
812 655 -89 -89CER 1
813 655 -184 -184CER 1
651 656 25 65 545 212CER 1
811 656 263 668 583 2248CER 1
0 657 999999999999 4063CER 1
.
.
.
Etc.
.
.
0 7410 999999999999 130304T3 21
0 7410 2 999999999999 118904T4 21
0 7411 999999999999 -6004T1 21
7410 7411 1380 138004T1 21
0 7412 999999999999 901102A1 21
7410 7412 130399999999999904T3 21-30
7410 7412 2 125399999999999904T4 21-30
7411 7412 -6099999999999904T1 21-30
7411 7413 1340 134004T1 21
0 7415 999999999999 -12404T2 21
7410 7415 1422 142204T2 21
7412 7415 -12499999999999904T2 21 30
7415 7416 718 71804T2 21
0 7418 999999999999 3000002T4 21
7412 7418 3000099999999999902T4 21
.
.
.
Etc.
.
.
.
7920 8010 218 1168 955 360904M6 21
0 8011 999999999999 -10304T1 21
8010 8011 1398 119804T1 21
0 8012 999999999999 840202A1 21
8011 8012 -10399999999999904T1 21
8011 8013 2759 284204T1 21
0 8014 999999999999 29804T2 21
8010 8014 1364 94804T2 21
8012 8014 -5699999999999904T2 21
8014 8015 756 29604T2 21
.
.
.
Etc.
.
.
9999

Noções de Cálculo de Curto Circuito 109 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

IMPEDANCIAS MUTUAS EM CIRCUITOS PARALELOS

39
(BF1 C BT1 NC1 BF2 BT2 NC2 RM XM IA
(--- - ----====---- ----====------====== --
143 863 801 863 1234 5552 1
652 822 652 827 190 1121 1
652 868 652 870 1228 5636 1
656 865 884 865 349 2059 1
658 660 660 738 163 766 1
658 664 658 661 1696 7712 1
658 664 661 662 1020 4640 1
658 664 662 663 901 4097 1
658 738 658 660 1470 6891 1
.
.
.
Etc.
.
.
.
9999
DADOS DE MOV EM BANCOS DE CAPACITORES SERIE

36
(BF C BT NC VBAS Ipr Imax Emax Pmax
( (kV) (A rms) (A rms) (MJ/fas) (MW/fas)
(--- - ====---- ==== -------- ======== -------- ========
( SE COLINAS
4650 4651 500 3900
4650 4652 500 3900
4650 4653 500 3900
4650 4654 500 3900
.
.
.
Etc.
.
.
.

9999

8.10.1.2 Processamento
- Deseja-se por exemplo, o cálculo de curto circuito na barra CMA 69 kV.

- Abre-se o programa ANAFAS e se executa a seguinte seqüência de comandos:

- Executar Estudo

- Estudo Individual Orientado a Ponto de Falta (há 8 opções de estudo)

- Resolver Sistema – Solução Interativa (há solução para emissão de relatório, também).

Noções de Cálculo de Curto Circuito 110 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

- Formato de Arquivo (PECO / ANAFAS)

- Ler arquivo .ana (base de dados)

- Defeito Shunt em Barra (há outras opções como defeito intermediário, abertura de
extremidade, etc.)

- Especificar a barra em curto (por exemplo, 8012 – CMA 69 kV)

- Escolher tipo de defeito shunt (por exemplo Fase – Terra)

- Escolher fase (por exemplo A)

- Voltar (“End”)

- Especificar Grandezas (se kV, p.u., ampere, etc)

- Especificar barra de contribuição (solução na barra 8012 por exemplo)

8.10.1.3 Resultado na Tela


Tela 1

CEPEL - Centro de Pesquisas de Energia Elétrica

ANAFAS - Programa de Análise de Faltas Simultâneas Pag.

ONS = SISTEMA INTERLIGADO = CONFIG DEZ/2006 = VERSAO 30/11/2004-BR0612PL.ANA

TENSOES E CORRENTES DE CONTRIBUICAO

Bar. 8012 (CMA 69KV ) TEN.(kV)

mod. ang. mod. ang.

A 0.0 0.0 Z 27.1 -178.4

B 54.0 -138.7 P 33.5 0.7

C 52.5 140.6 N 6.4 176.6

Bar. 0 (-REFERENCIA-) TEN.(kV) Cir. 1 (02A1 ) CORR.( A ) p/ 8012

mod. ang. mod. ang. mod. ang. mod. ang.

A 39.8 0.0 Z 0.0 0.0 A 677 -88.4 Z 677 -88.4

B 39.8 -120.0 P 39.8 0.0 B 677 -88.4 P 0 0.0

C 39.8 120.0 N 0.0 0.0 C 677 -88.4 N 0 0.0

Bar. 8011 (CMA FCT 04T1) TEN.(pu) Cir. 1 (04T1 ) CORR.( A ) p/ 8012

mod. ang. mod. ang. mod. ang. mod. ang.

Noções de Cálculo de Curto Circuito 111 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

A 0.668 1.6 Z 0.000 0.0 A 939 -88.1 Z 0 0.0

B 0.937 -110.9 P 0.834 0.6 B -469 -88.1 P 469 -88.1

C 0.919 111.3 N 0.166 176.7 C -469 -88.1 N 469 -88.1

<ENTER> OK <ESC> Cancela

Tela 2 após ‘Enter’

CEPEL - Centro de Pesquisas de Energia Elétrica

ANAFAS - Programa de Análise de Faltas Simultâneas Pag.

ONS = SISTEMA INTERLIGADO = CONFIG DEZ/2006 = VERSAO 30/11/2004-BR0612PL.ANA

Bar. 8014 (CMA FCT 04T2) TEN.(pu) Cir. 1 (04T2 ) CORR.( A ) p/ 8012

mod. ang. mod. ang. mod. ang. mod. ang.

A 0.673 1.6 Z 0.000 0.0 A 929 -88.1 Z 0 0.0

B 0.938 -111.0 P 0.837 0.7 B -465 -88.1 P 465 -88.1

C 0.920 111.5 N 0.164 176.7 C -465 -88.1 N 465 -88.1

Bar. 8479 (CRM DER 02J1) TEN.(kV) Cir. 1 (02J5 ) CORR.( A ) p/ 8012

mod. ang. mod. ang. mod. ang. mod. ang.

A 0.6 -12.2 Z 26.5 -178.1 A 317 -88.6 Z 277 -87.9

B 53.7 -138.2 P 33.5 0.6 B 257 -87.5 P 20 -93.4

C 52.0 140.3 N 6.4 176.6 C 257 -87.5 N 20 -93.4

<ENTER> Continua ...

Tela 3 após ‘Enter’

CEPEL - Centro de Pesquisas de Energia Elétrica

ANAFAS - Programa de Análise de Faltas Simultâneas

BARRA DE CONTRIBUICAO

Número/Nome da Barra? <*> (<F1> HELP, <ESC> Cancela)

Isto é, o programa pergunta em qual outra barra se deseja contribuição, para o


mesmo curto circuito.

Entrando por exemplo, com 8010 (CMA 230 kV), tem-se:

CEPEL - Centro de Pesquisas de Energia Elétrica

Noções de Cálculo de Curto Circuito 112 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

ANAFAS - Programa de Análise de Faltas Simultâneas Pag.

ONS = SISTEMA INTERLIGADO = CONFIG DEZ/2006 = VERSAO 30/11/2004-BR0612PL.ANA

TENSOES E CORRENTES DE CONTRIBUICAO

Bar. 8010 (CMA 230KV ) TEN.(kV)

mod. ang. mod. ang.

A 109.5 1.7 Z 0.0 0.0

B 128.8 -115.2 P 121.1 0.8

C 125.9 115.8 N 11.8 172.2

Bar. 7920 (MLG 230KV ) TEN.(kV) Cir. 1 (04M6 ) CORR.( A ) p/ 8010

mod. ang. mod. ang. mod. ang. mod. ang.

A 126.8 0.2 Z 0.0 0.0 A 280 -88.4 Z 0 0.0

B 131.5 -118.8 P 129.8 0.1 B -140 -88.4 P 140 -88.4

C 131.1 118.9 N 3.0 175.8 C -140 -88.4 N 140 -88.4

Bar. 8011 (CMA FCT 04T1) TEN.(pu) Cir. 1 (04T1 ) CORR.( A ) p/ 8010

mod. ang. mod. ang. mod. ang. mod. ang.

A 0.668 1.6 Z 0.000 0.0 A -282 -88.1 Z 0 0.0

B 0.937 -110.9 P 0.834 0.6 B 141 -88.1 P -141 -88.1

C 0.919 111.3 N 0.166 176.7 C 141 -88.1 N -141 -88.1

<ENTER> OK <ESC> Cancela

Etc.

Este é o modo interativo. Há modos de relatório onde se especifica um conjunto de barras


e características das contribuições desejadas, e pode-se ter relatório de c. circuito com
todos os casos processados.

O formato é sempre o mesmo, conforme mostrado.

Noções de Cálculo de Curto Circuito 113 de 115


CURSO DE PROTEÇÃO

FERRAMENTAS DE ANÁLISE

8.10.2 EXEMPLO PARA CAPE

O programa CAPE foi desenvolvido e é mantido pela Electrocon International Inc. de


Michigan, EUA. Ele serve para modelar proteções de linhas de transmissão e distribuição e
efetuar estudos diversos, inclusive de seletividade. Como o programa já foi desenvolvido
para o ambiente Windows, sua flexibilidade é bem maior que o do Anafas, permitindo uma
interatividade maior.

Possui vários módulos de proteção e também de fluxo de potência e cálculo de curto


circuito – também chamado SC ou “Short Circuit”.

A base de dados é do tipo “.gdb” (por exemplo BR0612_R6.gdb) e não é do tipo texto. Está
residente numa estrutura estabelecida pelo sistema de base de dados denominado
Interbase. É altamente detalhado para registrar dados não apenas do sistema analisado
(estudos de curto-circuito e fluxo de potência) mas também das instalações de proteção
incluindo relés, TP’s, TC’s e painéis.

8.10.2.1 Processamento
Inicialmente se prepara um diagrama unifilar do trecho do sistema que se deseja estudar.

Por exemplo, para CMA 230 / 69 kV e região:

Em seguida, se faz estudo de curto-circuito, interativamente, estabelecendo a barra e o tipo


de falta.

O Gráfico a seguir dá o resultado, por exemplo de uma falta fase-terra na barra 8012, isto
é, CMV 69 kV:

Noções de Cálculo de Curto Circuito 114 de 115


Noções de Cálculo de Curto Circuito
8013 CMA13.8 04T1 8026 UCR 2.4 06G1 8020 UCR 69KV
13.8 kV 2.4 kV 69.0 kV
IA: 0.0 @0 IA: 574.5 @-93 IA: 161.5 @91
7920 MLG 230KV
IA: 574.5 @87 3IZ: 0.0 @0
230.0 kV 3IZ: 0.0 @0 3IZ: 424.9 @92
8010 CMA 230KV
230.0 kV 8012 CMA 69KV 3IZ: 0.0 @0
69.0 kV 8027 UCR 2.4 06G2
IA: 279.6 @-88 IA: 281.6 @-88 IA: 938.8 @92
6 IA: 676.7 @92 2.4 kV
3IZ: 0.0 @0 3IZ: 0.0 @0 3IZ: 0.0 @0 3IZ: 2030.2 @92 IA: 567.3 @-93 IA: 155.2 @91
3IZ: 0.0 @0 3IZ: 406.8 @92
IA: 567.3 @87y
3IZ: 0.0 @0

IA: 280.9 @-88 IA: 278.8 @-88 IA: 929.5 @92


6
8479 CRM DER 02J1
3IZ: 0.0 @0 3IZ: 0.0 @0 3IZ: 0.0 @0 69.0 kV
IA: 316.8 @-89
3IZ: 831.6 @-88
IA: 0.0 @0
3IZ: 0.0 @0 8022 CRM 69KV
IA: 316.8 @-89
69.0 kV
13.8 kV 0.0 @0
3IZ: 831.6 @-88
8015 CMA04T2 13.8

115 de 115
FERRAMENTAS DE ANÁLISE
CURSO DE PROTEÇÃO

Você também pode gostar