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UNIDADE 2 TÓPICO 2

OS FUNDAMENTOS E A PREVIDÊNCIA PRIVADA

1 INTRODUÇÃO
Vimos que a previdência social tem uma capacidade limitada para atender aos
anseios e necessidades de renda da população. Por isso, ela precisa definir tetos que
não alcançam renda suficiente para que as pessoas mantenham um padrão de vida
condizente com aquele que possuíam quando estavam em plena atividade. Além
disso, não se pode permanentemente esperar que o governo seja o provedor de todas
as necessidades e soluções de sua população. No Brasil, para todo trabalho formal é
obrigatório contribuir para a Previdência Social. Assim, de modo facultativo e
complementar, podemos dispor de um mecanismo que nos possibilite, a partir de
contribuições individuais, acumular recursos para formar uma reserva financeira e
consequente renda adicional.

A previdência complementar, também conhecida como previdência privada,


consiste em um sistema que permite ao cidadão guardar uma parcela de recursos ao
longo do tempo para garantir uma renda futura melhor para si mesmo e sua família.
Em outras palavras, é uma forma de poupança de longo prazo, que proporciona um
melhor padrão de vida na aposentadoria, além de cobertura em casos de morte e
invalidez. É, portanto, um seguro previdenciário adicional, que proporciona ao
cidadão um benefício programado (aposentadoria) ou de risco (morte, invalidez e
outros) conforme sua necessidade e sua vontade (PREVIDÊNCIA SOCIAL, 2016).

Ao longo de nossas vidas estamos sujeitos à possibilidade de morte prematura,


de invalidez, ou de chegar à velhice em condição financeira desfavorável em relação
ao tempo em que estávamos trabalhando. Os sistemas públicos universais de
previdência e assistência social oferecem proteção para isso, mas com limites que nem
sempre suprem as reais necessidades dos indivíduos. Por esse motivo, são criadas,
regulamentadas e crescem em interesse as modalidades privadas.

Seguindo este raciocínio, Viot (2016) comenta que a Previdência


Complementar representa uma alternativa de poupança, de caráter exclusivamente
privado, destinada à manutenção do poder aquisitivo, caso haja perda da capacidade
laborativa, ou então, ela pode ser vista, simplesmente, como uma forma alternativa de
investimento. Em linhas gerais, aquele que contrata um plano deseja garantir,
principalmente na aposentadoria, uma renda próxima àquela que recebia quando
estava na ativa. É importante ter em mente que, para qualquer país, a poupança é

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fundamental, pois é a origem do investimento. Para ocorrer qualquer investimento, a
condição indispensável é que se tenha prévia ou simultaneamente

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uma poupança. É nesse contexto de formadora e mantenedora de poupanças de


médio e de longo prazo, portanto, de grande proporcionadora de investimentos,
que se insere a Previdência Complementar.

Uma maneira de se precaver contra o risco de não haver recursos na


aposentadoria é guardar uma parte do salário, acumulando os recursos em
fundos individuais, para usufruir dos valores acumulados na aposentadoria.
Este é o princípio de funcionamento dos planos de complementação de
aposentadoria. Assim, enquanto na previdência social brasileira tem-se um
modelo de repartição (os contribuintes dividem a conta dos benefícios pagos e
não acumulam recursos individuais), na previdência privada tem-se um modelo
de acumulação (os recursos poupados são individuais e se acumulam ao longo
do tempo).

Quando patrocinada pelos empregadores, a Previdência Complementar


também se apresenta como uma excelente alternativa para a necessidade, cada
vez mais evidente, que as empresas têm de atrair, reter e desenvolver talentos,
capazes de trabalhar em equipe e com comprometimento. Contratar e reter bons
funcionários passou a ser uma importante tarefa para qualquer companhia,
visando, sobretudo, evitar uma grande rotatividade, que pode comprometer o
seu sucesso, especialmente se a perda de qualquer um de seus colaboradores for
para uma empresa concorrente. Nesse caso, além da perda de um funcionário
que custou tempo e dinheiro para ser treinado. Além disso, a oxigenação dos
colaboradores é um dos motivos mais fortes que levam as empresas a criar
planos de Previdência Complementar. Eles tornam possível manter, ou mesmo
aumentar, a competitividade no mercado, por intermédio da substituição dos
funcionários mais velhos e com maior dificuldade em acompanhar padrões de
produtividade e criatividade. Com a complementação da aposentadoria, esses
funcionários mais antigos acabam aceitando com tranquilidade a decisão de se
aposentar, uma vez que seu padrão de renda se manterá próximo de quando na
ativa (VIOT, 2016).

Deste modo, dentro de um conjunto de benefícios que compõem a


remuneração total que um empregado pode ter (salário e adicionais,
remuneração variável, plano de saúde e odontológico, bonificações etc.), o plano
de Previdência Complementar é um dos itens mais significativos a ser
considerado. Na era da tecnologia e do conhecimento, as pessoas passaram a ser
o ativo mais importante das organizações. Para as empresas, máquinas e
equipamentos de alta performance já não são suficientes. São necessárias pessoas
de alta performance. E a certeza de uma aposentadoria digna contribui
significativamente para isso.

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2 HISTÓRICO DA PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR BRASILEIRA

De modo geral, vimos que as preocupações com a necessidade de renda


em caso de velhice, doença ou acidente ficaram restritas às famílias ou grupos
assistenciais e depois aos governos. Assim, a estruturação de programas de
previdência complementares aos disponibilizados pelos governos é
relativamente recente.

Já sabemos que algumas iniciativas, no sentido de instituir planos de


previdência no Brasil, ocorreram no final do século XVIII e início do XIX. Os
fundos de pensão tiveram seu marco inicial em 1904, quando surgiu a Caixa de
Montepio dos Funcionários do Banco do Brasil, antecessora da Caixa de
Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil (PREVI). Ela foi criada por
poucos funcionários do banco, com o objetivo de proporcionar aos seus
dependentes o pagamento de uma pensão a partir de seu falecimento. Outras
iniciativas de criação de fundos de pensão ocorreram durante a década de 1970,
em face do crescimento econômico que ocorria no país (VIOT, 2016).

A regulamentação da previdência complementar no Brasil, em relação às


entidades fechadas (fundos de pensão de determinadas categorias), ocorreria
com a promulgação da Lei 6.435, de 1977, que passou a dispor sobre as
entidades de Previdência Privada. No que diz respeito às entidades abertas, a
regulamentação ocorreu no ano seguinte, através do Decreto-Lei 81.402/78, por
resoluções do Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) e por circulares
da Superintendência de Seguros Privados (SUSEP). Sua normatização era
inspirada na experiência norte-americana do Employee Retirement Income Security
Act (ERISA). Na época, havia necessidade de regulamentação dos montepios e
de canalização da poupança previdenciária para o desenvolvimento do mercado
de capitais no país. Além disso, também era necessário disciplinar o
funcionamento de algumas entidades de previdência privada ligadas ao setor
estatal (VIOT, 2016; PENA, 2008).

Viot (2016) observa que até o início da década de 1980, os planos de


previdência disponíveis ao público eram administrados, em sua maior parte, por
entidades sem fins lucrativos e ligados a setores de atividades relativas ao
funcionalismo público ou outras atividades relacionadas às profissões liberais. A
falta de regulamentação específica e de fiscalização adequada, aliada ao
desconhecimento e embasamento técnico-atuarial insuficiente, havia criado nos
participantes um conjunto de frustrações em relação aos produtos adquiridos e,
consequentemente, um descrédito em relação a esses produtos.

Com a criação de regulamentação específica, no decorrer da década de


1980, verificou-se a introdução de novos planos previdenciários no mercado e o
aparecimento de administradores especializados, além de seguradoras que se

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estruturaram para operar esses produtos no mercado. Conforme Pena (2008), o


sistema de fundos de pensão nasceu pela administração de planos de
aposentadoria na modalidade de benefício definido em que se tem o risco
atuarial. Nas décadas de 1980 e 1990, o sistema evoluiu para as empresas
privadas e para os planos de contribuição definida e planos mistos, nos quais os
riscos atuariais foram mitigados. De forma voluntária, baseado na constituição
de reservas (regime de capitalização) e acoplado ao regime geral de previdência
social, o sistema de previdência complementar evoluiu muito bem nos anos
seguintes, passando por regulações quantitativas.

Com o advento das Leis Complementares 108 e 109, de 2001, a


previdência complementar ganhou novo impulso com o alinhamento às
melhores práticas internacionais em termos de novos instrumentos, novos tipos
de entidade de previdência complementar, transparência, boa gestão financeira e
aperfeiçoamento na governança dos fundos de pensão. Após passar por relativa
estagnação na segunda metade da década de 1990 (por conta de eventos
societários das empresas patrocinadoras), a partir das novas leis, houve um
revigoramento do sistema com a regulamentação dos novos mecanismos, como
a portabilidade dos recursos, que permitiu ao trabalhador levar sua poupança
previdenciária ao trocar o vínculo profissional, e aos investidores de planos
abertos migrar de produto, conforme ficar conveniente (PENA, 2008).

Considerando a necessidade de reforma da Previdência Social,


estabelecendo novos critérios para o tempo mínimo de contribuição, idade
mínima de aposentadoria e limites para os benefícios, a previdência
complementar tende a ganhar cada vez mais impulso e popularização.

3 A REGULAMENTAÇÃO DA PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR

Do mesmo modo que ocorre com o mercado de seguros, o setor de


previdência complementar envolve poupança popular. Por diversas razões, mas
especialmente por esta, as operadoras não podem simplesmente criar produtos e
comercializar mediante critérios próprios, sem a devida regulamentação e
controle do Estado.

Ao tratar da estrutura do sistema, Pena (2008) informa que ela é operada


por entidades de Previdência Complementar, que têm por objetivo principal
instituir e executar planos de benefícios de caráter previdenciário. Essas
entidades são classificadas em abertas e fechadas. As chamadas Entidades
Abertas de Previdência Complementar (EAPC) são aquelas constituídas
unicamente sob a forma de sociedades anônimas, que têm por objetivo principal
instituir planos que podem ter coberturas de morte, invalidez ou sobrevivência.

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UNIDADE 2 | A PREVIDÊNCIA E A CAPITALIZAÇÃO

A Lei Complementar 109/2001 permitiu que as sociedades seguradoras


que operem exclusivamente no ramo de seguro de pessoas sejam autorizadas a
comercializar planos de Previdência Complementar. Por essa razão, alguns dos
grandes grupos seguradores mantêm, dentro de suas organizações, companhias
com razão e objetivos sociais distintos, de forma a poder operar tanto com
seguros de pessoas e previdência, como com seguros de ramos elementares.

As EAPC estão subordinadas ao Ministério da Fazenda e têm suas


atividades normatizadas e fiscalizadas pelo Conselho Nacional de Seguros
Privados (CNSP) e a Superintendência de Seguros Privados (SUSEP). Os planos
das entidades abertas podem ser contratados sob a forma individual ou coletiva.
Os planos individuais são aqueles acessíveis a quaisquer pessoas físicas,
enquanto os planos coletivos são aqueles destinados a pessoas físicas vinculadas,
direta ou indiretamente, a uma pessoa jurídica. Neste caso, a empresa
contratante pode participar ou não do custeio do plano, conforme disposições
estabelecidas no contrato (VIOT, 2016).

Por outro lado, as Entidades Fechadas de Previdência Complementar


(EFPC) são aquelas organizadas sob a forma de fundação ou sociedade civil, sem
fins lucrativos. Elas são acessíveis exclusivamente aos empregados de uma
empresa (ou grupo de empresas) e aos servidores da União, dos estados, do
Distrito Federal e dos municípios (chamados de patrocinadores) ou aos
associados/membros de pessoas jurídicas de caráter profissional, classista ou
setorial (chamados de instituidores) (VIOT, 2016).

As entidades fechadas encontram-se subordinadas ao Ministério da


Previdência e Assistência Social e têm como órgão normativo o Conselho
Nacional de Previdência Complementar (CNPC) e órgão fiscalizador a
Superintendência Nacional de Previdência Complementar (PREVIC).

• A Lei Complementar 109/01 restringiu a constituição das


entidades abertas unicamente à forma de sociedades anônimas, o que
representou um avanço no controle e na transparência.
• A Lei Complementar 109/01 ampliou a figura do patrocinador,
ao incluir nessa categoria a União, os estados, o Distrito Federal e os
municípios, quando estes instituírem suas entidades de Previdência
Complementar.
• A Lei Complementar 109/01 passou a permitir que pessoas
jurídicas de caráter profissional, classista ou setorial (os instituidores)
optem por criar uma entidade fechada de Previdência Complementar
para seus associados ou membros.
• A Lei 12.154 de 2009 criou a Superintendência Nacional de
Previdência Complementar (PREVIC), autarquia de natureza especial
vinculada ao Ministério da Previdência Social que atua como entidade
de fiscalização e de supervisão das atividades das entidades fechadas
de Previdência Complementar (VIOT, 2016, p. 29).

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TÓPICO 2 | OS FUNDAMENTOS E A PREVIDÊNCIA PRIVADA

Concluindo, Viot (2016) apresenta os fundos multipatrocinados, que


foram criados como uma alternativa às pequenas empresas e com vistas à
expansão do sistema previdenciário. Tais fundos, à semelhança dos fundos de
pensão, são constituídos e administrados sob a forma de sociedade civil, sem
fins lucrativos. Neles, é permitida a participação de empresas inteiramente
distintas, porém, preservando as características individuais de cada plano de
benefícios estabelecido, de forma que cada um deles se mantenha adequado à
realidade de cada empresa. Assim, cada uma tem seu próprio estudo atuarial, o
que propicia a apuração de custos em função do perfil demográfico de cada
empresa e dos benefícios existentes em cada plano.

O Fundo Multipatrocinado também é uma Entidade Fechada de


Previdência Complementar (EFPC), porém, toda a gestão do plano é
terceirizada, feita pelo administrador de um condomínio (que reúne planos e
patrocinadores diferentes sem solidariedade entre si). Este é o melhor veículo
para empresas que queiram ter um plano administrado por intermédio do fundo
de pensão, mas que não queiram se envolver no dia a dia de sua administração.
Com essa alternativa, pequenas empresas podem enfrentar, em conjunto, os
altos custos de operação e manutenção do fundo.

FIGURA 7 - ORGANOGRAMA DA PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR NO BRASIL

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UNIDADE 2 | A PREVIDÊNCIA E A CAPITALIZAÇÃO

FONTE: Viot (2016, p. 31)

A Lei Complementar 109/2001 vetou a constituição de entidades abertas sem fi ns


lucrativos. As que existiam antes da lei continuam operando.

Quanto aos aspectos tributários, considera-se que as políticas


estabelecidas consistem em elementos-chave para o estabelecimento de um
sistema de Previdência Privada. A possibilidade de dedução das contribuições
na base de cálculo do Imposto de Renda devido se justifica em função dos efeitos
positivos da formação de reservas técnicas e, consequentemente, de poupança
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TÓPICO 2 | OS FUNDAMENTOS E A PREVIDÊNCIA PRIVADA

interna e investimentos. Em 1995, através das Leis 9.249 e 9.250, o Governo


Federal deu os primeiros passos no sentido de incentivar a Previdência
Complementar, com vistas a estimular a formação de poupança de longo prazo.
Essas leis previam que:

• As contribuições para as entidades de Previdência Privada


domiciliadas no país, cujo ônus fosse do contribuinte – pessoa física –,
destinadas a custear benefícios complementares assemelhados aos da
Previdência Social, poderiam ser deduzidas na determinação da base
de cálculo sujeita à incidência mensal do Imposto de Renda.
• Foi estabelecido que essas contribuições poderiam ser
deduzidas, para a apuração da base de cálculo do imposto devido no
ano-calendário, desde que houvesse, também, o recolhimento de
contribuições para o Regime Geral de Previdência Social, ou para
regimes próprios, devendo ser observado o limite de 12% do total dos
rendimentos computados na determinação da base de cálculo do
imposto devido na declaração de rendimentos.
• O valor das despesas com contribuições para a Previdência
Privada, cujo ônus fosse da pessoa jurídica, poderia ser deduzido no
momento da determinação do lucro real e da base de cálculo da
contribuição social sobre o lucro líquido, não podendo exceder, em
cada período de apuração, 20% do total dos salários dos empregados e
da remuneração dos dirigentes da empresa vinculados ao plano de
Previdência (VIOT, 2016, p. 30).

Viot (2016) ressalva que o benefício fiscal deve ser entendido como um
diferimento do imposto, visto que a renúncia fiscal do presente será paga no
futuro, no momento do resgate. Além disso, somente as pessoas que utilizam o
modelo completo de declaração anual do Imposto de Renda é que fazem jus ao
diferimento fiscal. Em 2004, a Lei 11.053, que teve por objetivo disciplinar a
tributação do Imposto de Renda em aplicações financeiras e Previdência
Complementar, definiu novo critério de tributação para os planos
previdenciários estruturados na modalidade de contribuição variável e para
seguros de vida com cobertura por sobrevivência.

Esse novo critério é denominado Regime de Tributação por Alíquotas


Decrescentes. Até então, não existia um incentivo fiscal, mas simplesmente um
diferimento fiscal. O novo critério tributário previu que o resgate de recursos ou
o recebimento do benefício estarão sujeitos à incidência, na fonte, e de forma
definitiva, de Imposto de Renda calculado com base em alíquotas decrescentes,
de acordo com o prazo de acumulação, conforme quadro a seguir.

QUADRO 4 - ALÍQUOTAS DECRESCENTES PREVISTAS NA LEI 11.053/2003


Prazo de Até 2 De 2 a 4 De 4 a 6 De 6 a 8 De 8 a 10 Acima de
acumulação dos anos anos anos anos anos 10 anos
recursos*
Alíquota do 35% 30% 25% 20% 15% 10%
imposto de renda

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UNIDADE 2 | A PREVIDÊNCIA E A CAPITALIZAÇÃO

na fonte
FONTE: Viot (2016, p. 80)

Em março de 2005, a Instrução Normativa Conjunta 524/05, elaborada


pelas Secretarias da Receita Federal, de Previdência Complementar e pela
Superintendência de Seguros Privados (SUSEP), regulamentou a contagem do
prazo de acumulação utilizado no novo regime tributário.

Com relação à Lei 11.053/2004, Viot (2016, p. 81) sintetiza seus aspectos
principais:

• Introduz de forma facultativa a opção pelo Regime de


Tributação por Alíquotas Decrescentes para os planos
estruturados na modalidade de contribuição variável.
• A opção pelo regime de tributação por alíquotas
decrescente é irretratável.
• A antecipação de 15% não se aplica aos planos de
benefício definido.
• Condiciona a dedutibilidade das contribuições pagas à
entidade de Previdência à contribuição para o Regime Geral da
Previdência Social.
• No caso de o cliente contribuir para dependentes
menores de 16 anos, a dedução fica condicionada ao
pagamento do INSS pelo cliente em seu nome.

Viot (2016, p. 81) continua sua análise trazendo a seguinte situação:


A Lei 11.053/2004 também alterou a forma de tributação dos saques
antecipados dos planos enquadrados no regime de tributação antigo,
sujeitos à tabela progressiva do IR. Nesse regime, ao sacar os recursos
do plano, independentemente do valor, a pessoa física terá uma
tributação, na fonte, de Imposto de Renda calculado na base de 15%,
como antecipação do imposto devido na declaração de ajuste anual,
sendo que as diferenças, a maior ou a menor, serão acertadas por
ocasião da declaração anual, com base na tabela progressiva.
A possibilidade de escolha entre dois regimes tributários fez com que
as entidades de Previdência alterassem suas propostas de inscrição,
com o objetivo de permitir que seus clientes fizessem a opção pelo
regime tributário que melhor lhes conviesse no momento da
contratação do plano.

Pesquisando na internet sobre simuladores de previdência privada a


respeito de “imposto sobre previdência privada”, você poderá conhecer melhor
as formas de tributação, suas vantagens e desvantagens. Da mesma forma, se
você pesquisar sobre “simuladores de previdência privada” ou “cálculo de
previdência privada”, encontrará várias opções para saber mais sobre o assunto.

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TÓPICO 2 | OS FUNDAMENTOS E A PREVIDÊNCIA PRIVADA

Um corretor de seguros ou um especialista em previdência também poderão


apresentar várias alternativas e simulações.

Vimos que o mercado de previdência privada ou complementar é


fortemente regulamentado e fiscalizado pelo Governo. Isto ocorre desde o
desenvolvimento e aprovação de produtos até a forma de tributação. Afinal de
contas, trata-se de investimento de longo prazo e as pessoas que canalizam seus
recursos para esta opção precisam sentir-se protegidas com relação ao futuro de
suas economias.

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a)

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UNIDADE 2 TÓPICO 3

PLANOS DE PREVIDÊNCIA PRIVADA ABERTA

1 INTRODUÇÃO
Em nosso estudo nos concentraremos nos planos de Entidades Abertas de
Previdência Complementar (EAPC). Eles são estruturados com a finalidade de
conceder benefícios a pessoas físicas, vinculadas ou não a uma pessoa jurídica, que
preencham as condições estabelecidas para participação no plano. Podem oferecer,
isoladamente ou em conjunto, coberturas de morte e/ou invalidez total e permanente
e/ou cobertura por sobrevivência. Os planos com cobertura por sobrevivência têm por
objetivo conceder ao próprio participante que sobreviver ao prazo de diferimento
contratado o recebimento de um benefício à vista ou sob a forma de renda. Em
contrapartida, os planos com cobertura de morte têm por objetivo conceder um
benefício, à vista ou sob a forma de renda, aos beneficiários indicados, em decorrência
da morte do participante ocorrida durante o período de cobertura, desde que tenha
sido cumprido o período de carência estabelecido pelo plano, se houver (VIOT, 2016).

Os planos com cobertura de invalidez total e permanente têm por objetivo


conceder um benefício, à vista ou sob a forma de renda, ao próprio participante, em
decorrência de sua invalidez total e permanente, ocorrida durante o período de
cobertura, desde que tenha sido cumprido o período de carência estabelecido pelo
plano, se houver.

Independentemente do tipo de cobertura, os planos podem ser contratados de


forma individual (qualquer pessoa física) ou coletiva (pessoas físicas vinculadas,
direta ou indiretamente, a uma pessoa jurídica contratante). A vinculação indireta
refere-se exclusivamente ao caso de contratação por uma associação representativa de
pessoas jurídicas, envolvendo pessoas físicas vinculadas a suas filiadas. O plano
coletivo deverá estar disponível, obrigatoriamente, a todos os componentes do grupo
que mantenham vínculo jurídico de mesma natureza com a instituidora/ averbadora.
No entanto, a adesão é facultativa, podendo ser admitidos como participantes o
cônjuge, o companheiro, os filhos e os enteados menores considerados dependentes
econômicos do componente do grupo (VIOT, 2016). O mesmo autor ainda (p. 39)
acrescenta que nas contratações coletivas existem dois tipos de planos:

• Plano coletivo averbado – plano em que a pessoa jurídica propõe a


contratação, ficando investida de poderes de representação exclusivamente

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para contratá-lo, sem participar do custeio do plano. Nesse caso, a pessoa
jurídica é denominada averbadora.

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TÓPICO 3 | PLANOS DE PREVIDÊNCIA PRIVADA ABERTA

• Plano coletivo instituído – plano em que a pessoa jurídica propõe a


contratação, ficando investida de poderes de representação
exclusivamente para contratá-lo, participando, total ou parcialmente,
do custeio do plano. Nesse caso, a pessoa jurídica é denominada
instituidora.

As coberturas dos planos de Previdência Complementar Aberta, de


acordo com Viot (2016), estão estruturadas na forma de benefício definido ou na
forma de contribuição variável. Na cobertura estruturada na forma de benefício
definido, o respectivo valor é pago de uma única vez ou sob a forma de renda e
os valores de contribuição são estabelecidos previamente na proposta de
inscrição.

Na cobertura estruturada na modalidade de contribuição variável, o


valor e o prazo de pagamentos das contribuições podem ser definidos
previamente na proposta de inscrição. O valor do benefício (pagável de uma
única vez ou sob a forma de renda) será calculado ao final do período de
diferimento, com base no saldo acumulado na provisão matemática de
benefícios a conceder e no fator de cálculo (VIOT, 2016).

IMPORTANTE

• As coberturas de morte e invalidez total e permanente são sempre


estruturadas
na modalidade de benefício definido. A cobertura por sobrevivência também pode ser estruturada nessa
modalidade.
• Na modalidade de contribuição variável só pode ser estruturada a cobertura
por sobrevivência. • O fator de cálculo é utilizado para a obtenção do
benefício a ser pago sob a forma de renda. É calculado mediante a
utilização de taxa de juros e da tábua biométrica prevista no plano.

Como vimos, os planos previdenciários têm por objetivo garantir ao


participante (ou seus beneficiários) uma indenização (pecúlio) em caso de um
infortúnio, como a morte ou a invalidez, ou uma renda, em caso de
envelhecimento, perda ou redução da capacidade laboral. Com relação aos
prazos ou períodos de recebimento dos benefícios, torna-se importante conhecer
as seguintes expressões:

Para as coberturas por sobrevivência:

• Período de diferimento é aquele compreendido entre a data de início


de vigência da cobertura por sobrevivência e a data prevista no
contrato para início do pagamento do benefício. Em outras palavras,
corresponde ao período de contribuição do participante.

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UNIDADE 2 | A PREVIDÊNCIA E A CAPITALIZAÇÃO

• Período de pagamento do benefício é aquele em que o assistido fará


jus ao recebimento do benefício sob a forma de renda, podendo ser
vitalício ou temporário.
• Período de cobertura é o prazo correspondente aos períodos de
diferimento e/ou de pagamento de benefício, sob a forma de renda.
Para as coberturas de morte e invalidez:

• Período de cobertura é aquele durante o qual o participante (no caso


de invalidez) ou os beneficiários (no caso de morte do participante)
farão jus aos benefícios contratados.
• Período de pagamento do benefício é aquele em que o assistido fará
jus ao recebimento do benefício sob a forma de renda, podendo ser
vitalício ou temporário (VIOT, 2016, p. 42).

A contratação de qualquer plano de Previdência Complementar Aberta


se dará mediante preenchimento e assinatura de uma Proposta de Inscrição que
será protocolada, analisada e aceita (ou não). A Entidade Aberta de Previdência
Complementar (EAPC) poderá fixar limites mínimo e máximo de idade; exigir
comprovação de renda; declaração de saúde, relatórios ou exames médicos,
perícia médica, entre eventuais outros critérios de aceitação. Em se tratando de
menor de idade, este terá que ser assistido pelos pais ou responsáveis, na forma
da lei. O prazo máximo de análise da proposta é de 15 (quinze) dias. Não
havendo recusa ou solicitação formal de outros documentos dentro deste prazo,
a proposta terá aceitação automática. Uma vez aceita a proposta, será emitido o
Certificado do Participante.

Conforme Viot (2016), chama-se contribuição o valor correspondente aos


aportes feitos pelo participante para custeio do plano. Nos planos em que sejam
oferecidas diversas coberturas, deverão ser discriminados, na proposta de
inscrição, no certificado de participante, no extrato e nos documentos de
cobrança, os valores destinados ao custeio de cada uma das coberturas
contratadas. O valor e a periodicidade de pagamento das contribuições poderão
ser definidos na proposta de inscrição, sendo facultado ao participante, no caso
de cobertura por sobrevivência estruturada na modalidade de contribuição
variável, efetuar pagamentos adicionais a qualquer tempo. Entretanto, a EAPC
pode estabelecer limites máximos de valor para os aportes extraordinários.

Nos planos coletivos instituídos, o documento de cobrança deverá


discriminar os valores a serem pagos pela instituidora e pelos participantes,
quando for o caso. Sob sua exclusiva responsabilidade perante os participantes,
a EAPC poderá delegar à instituidora/averbadora o recolhimento das
contribuições, ficando esta responsável pelo repasse das contribuições, nos
prazos contratualmente estabelecidos. Entretanto, a ausência de repasse à EAPC
de contribuições de responsabilidade de participantes, recolhidas pela
instituidora/averbadora, não poderá prejudicá-los em relação a seus direitos.
Quando a cobertura contratada for estruturada na modalidade de benefício
definido e custeada integralmente pela instituidora, o não pagamento de

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TÓPICO 3 | PLANOS DE PREVIDÊNCIA PRIVADA ABERTA

contribuição ensejará o cancelamento da cobertura, respondendo a EAPC pelo


pagamento dos benefícios cujo evento gerador venha a ocorrer até a data da
formalização do cancelamento (VIOT, 2016).

Os chamados Valores Garantidos, segundo Viot (2016), representam


direitos dos participantes e/ou dos beneficiários, previstos em determinadas
modalidades de planos. Nos planos com cobertura por sobrevivência é
obrigatória a previsão de dois valores garantidos: resgate e portabilidade. O
resgate corresponde ao direito que os participantes (ou quando possível os
beneficiários) têm de, durante o período de diferimento (observadas
determinadas regras) retirar os recursos da provisão matemática de benefícios a
conceder. Já a portabilidade é o direito garantido aos participantes de, durante o
período de diferimento (observadas determinadas regras), movimentar os
recursos da provisão matemática de benefícios a conceder para outros planos.

2 OS PLANOS DE SOBREVIVÊNCIA
Neste item, veremos quais são os tipos de planos existentes que tenham
como característica principal a cobertura por sobrevivência. Num primeiro
momento, os planos se mostram distintos pelas suas características no período
de acumulação de recursos, ou seja, o período de diferimento.

O primeiro e mais popular entre todos é o Plano Gerador de Benefício


Livre (PGBL). Ele é um produto do tipo unit link (unidade de conta), onde se
vincula a acumulação de recursos de uma conta individual à performance de um
fundo de investimento financeiro especialmente constituído (FIE) sem qualquer
tipo de garantia de rentabilidade (sobre a provisão matemática de benefícios a
conceder durante a fase de acumulação). Como sempre são estruturados na
modalidade de contribuição variável, o participante pode fazer aportes variáveis
de acordo com sua conveniência, respeitando apenas o eventual limite máximo
que a EAPC tenha estabelecido no seu regulamento.

Importante observar que, com a regulamentação do PGBL, o participante


passou a contar com transparência no cálculo e na divulgação da rentabilidade
de cada plano, idêntica à do respectivo FIE em que foi aplicado o montante das
contribuições. Isso permite o acompanhamento diário da rentabilidade dos
diversos fundos e a comparação de rentabilidade entre os tipos de PGBL,
apresentados a seguir:

• PGBL soberano: neste tipo, a carteira de investimentos do FIE é


composta unicamente por títulos de emissão do Tesouro Nacional
e/ou do Banco Central do Brasil e créditos securitizados do Tesouro
Nacional.
• PGBL renda fixa: neste tipo, a carteira de investimentos do FIE é
composta por títulos de emissão do Tesouro Nacional e/ou do

17
UNIDADE 2 | A PREVIDÊNCIA E A CAPITALIZAÇÃO

Banco Central do Brasil, por créditos securitizados do Tesouro


Nacional e por investimentos de renda fixa, nas modalidades e
dentro dos critérios da regulamentação vigente.
• PGBL composto: neste tipo, a carteira de investimentos do FIE
admite investimentos em renda variável de, no máximo, 49% do
seu patrimônio líquido, sendo admissível o estabelecimento de
percentual mínimo de aplicação em renda variável (VIOT, 2016, p.
56).

No que diz respeito às principais características dos planos


previdenciários por sobrevivência, Viot (2016) sintetiza que:

• O Plano com Remuneração Garantida e Performance


(PRGP) tem como característica garantir aos
participantes, durante o período de diferimento,
remuneração por meio da contratação de índice de
atualização de valores e de taxa de juros, e a reversão,
parcial ou total, de resultados financeiros.
• O Plano com Atualização Garantida e Performance
(PAGP) tem como característica garantir aos
participantes, durante o período de diferimento, por
meio da contratação de índice de preços, apenas a
atualização de valores e a reversão, parcial ou total, de
resultados financeiros.
• O Plano com Remuneração Garantida e Performance
sem Atualização (PRSA) tem como característica
garantir aos participantes, durante o período de
diferimento, remuneração por meio da contratação de
taxa de juros e a reversão, parcial ou total, de
resultados financeiros e sempre estruturados na
modalidade de contribuição variável.
• O Plano de Renda Imediata (PRI) garante, mediante
contribuição única, o pagamento do benefício por
sobrevivência, sob a forma de renda imediata.
Finalmente, os chamados Planos Tradicionais são os
planos com cobertura por sobrevivência, estruturados
na forma de benefício definido ou de contribuição
variável, com a característica de garantirem, durante a
fase de acumulação dos recursos (período de
diferimento), algum tipo de remuneração mínima
garantida (normalmente IGPM + 6% a.a.). Além disso,
era comum nesses planos a possibilidade de reversão
de resultados financeiros (excedentes) durante a fase
de acumulação e/ou de pagamento do benefício sob a
forma de renda.

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TÓPICO 3 | PLANOS DE PREVIDÊNCIA PRIVADA ABERTA

QUADRO 5 - PLANOS DE PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR ABERTA DURANTE A FASE DE


ACUMULAÇÃO

Período de Acumulação dos Recursos - Período de Diferimento

Plano Modalidade Atualização


Remuneração (Taxa Reversão de Resultados
(Índice de
de Juros) Financeiros
Preços)
PGBL CV Baseada na Não há Não há, pois a
rentabilidade da totalidade da
carteira do FIE em que rentabilidade é
estão aplicados os repassada ao
recursos participante
PRGP CV ou BD Contratada até 6% a.a. Com base em é obrigatória, com base
índice de preços em percentual
contratados contratado
PAGP CV ou BD Não há Com base em é obrigatória, com base
índice de precos em percentual
contratados contratado
PRSA CV Contratada até 6% a.a. Não há é obrigatória, com base
em percentual
contratado
Planos CV ou BD Contratada até 6% a.a. Com base em Pode ser prevista
Tradicionais índice de precos
contratados
CV - Contribuição Variável. BD -
Benefício Definido
FONTE: Viot (2016, p. 57)
Encerrada a fase de acumulação de recursos (período de diferimento), o
participante pode optar por receber (à vista) o saldo que foi acumulado em sua
provisão matemática de benefícios a conceder ou transformá-la em algum tipo
de renda. Se for esta a sua opção, o valor da renda é calculado em função da
idade, da modalidade de renda escolhida e dos parâmetros técnicos do plano
contratado (taxa de juros e tábua biométrica). De acordo com Viot (2016, p. 58),
as principais modalidades de renda são:

• Renda Mensal Vitalícia – consiste em uma renda mensal a ser paga


vitalícia e exclusivamente ao participante a partir da data escolhida
para concessão do benefício. O pagamento da renda cessa com a
morte do participante.
• Renda Mensal Temporária – consiste em uma renda mensal a ser
paga temporária e exclusivamente ao participante, cessando com o
seu falecimento ou com o fim da temporariedade contratada, o que
ocorrer primeiro.
• Renda Mensal Vitalícia com Prazo Mínimo Garantido – consiste em
uma renda paga vitaliciamente ao participante a partir da data
escolhida para concessão do benefício. No entanto, se durante o
período de percepção da renda ocorrer o falecimento do

19
UNIDADE 2 | A PREVIDÊNCIA E A CAPITALIZAÇÃO

participante, antes de ter completado o prazo mínimo de garantia


escolhido, a renda será paga aos beneficiários pelo período restante
do prazo mínimo de garantia.
• Renda Mensal Vitalícia Reversível ao Beneficiário Indicado –
consiste em uma renda mensal paga vitaliciamente ao participante
a partir da data escolhida para concessão do benefício. Ocorrendo o
falecimento do participante, durante a percepção dessa renda, um
percentual do seu valor estabelecido na proposta será revertido
vitaliciamente ao beneficiário indicado. Na hipótese de falecimento
do beneficiário, antes do participante e durante o período de
percepção da renda, a reversibilidade da renda estará extinta, sem
direito a compensações ou devoluções dos valores pagos.
• Renda Mensal Vitalícia Reversível ao Cônjuge com Continuidade
aos Menores – consiste em uma renda mensal paga vitaliciamente
ao participante a partir da data escolhida para concessão do
benefício. Ocorrendo o falecimento do participante durante a
percepção dessa renda, um percentual do seu valor estabelecido na
proposta será revertido vitaliciamente ao cônjuge e, na falta deste,
será reversível temporariamente aos menores até que o mais novo
complete uma idade para maioridade estabelecida no regulamento
do plano.
• Renda Mensal por Prazo Certo – consiste em uma renda mensal a
ser paga por um prazo preestabelecido ao participante/assistido. O
participante indicará na proposta de inscrição o prazo máximo,
contado a partir da data de concessão do benefício, em que será
efetuado o pagamento da renda. Se, durante o período de
pagamento do benefício, ocorrer o falecimento do
participante/assistido antes da conclusão do prazo indicado, o
benefício será pago ao beneficiário (ou beneficiários), na proporção
de rateio estabelecida, pelo período restante do prazo determinado.
O pagamento da renda cessará com o término do prazo
estabelecido.

Enquanto que nos seguros de vida o risco garantido é a morte (quando a


indenização a ser paga deverá prover recursos aos dependentes financeiros do
segurado), nos planos de previdência o risco é a sobrevivência do participante
(quando a entidade irá pagar o recurso acumulado à vista ou prover renda
durante determinado período). Quanto maior a sobrevida, maior o período de
necessidade de renda. Deste modo, quando o participante optar pelo
recebimento de renda, existirão quatro importantes fatores que irão influenciar o
valor a ser auferido mensalmente: os parâmetros técnicos; as taxas de
administração; a modalidade de renda e a idade da aposentadoria e o montante
acumulado.

Em síntese, a renda a ser auferida será calculada em função da idade do


participante, da modalidade de renda escolhida e dos parâmetros técnicos do
plano contratado, que são a taxa de juros e a tábua biométrica (também
conhecidas como tábuas de mortalidade). Com relação à taxa de juros, a
regulamentação estabelece que, no período (ou períodos) em que houver
garantia mínima de remuneração, a taxa de juros contratualmente prevista

20
TÓPICO 3 | PLANOS DE PREVIDÊNCIA PRIVADA ABERTA

deverá respeitar o limite fixado pela SUSEP, observado o máximo de 6% a.a., ou


seu equivalente efetivo mensal. A regulamentação também estabelece que a
tábua biométrica a ser utilizada para cálculo do fator de renda será aquela
definida no plano que foi submetido à aprovação da SUSEP, devendo ser
observado o limite máximo da taxa de mortalidade da tábua AT-1983 Male
(VIOT, 2016).

Viot (2016) observa que a regulamentação impõe limites, tanto para a


taxa de juros quanto para a tábua biométrica, que podem ser utilizados na
estruturação de um plano de Previdência Complementar Aberta com cobertura
por sobrevivência. Esse cuidado decorre do risco que a EAPC tem no caso de
uma melhora na expectativa de vida e/ou de uma redução dos juros reais.
Quanto maior a expectativa de vida, maior a probabilidade de pagamentos por
longos períodos. E quanto menor a taxa de juros real, menor a rentabilidade da
EAPC sobre os recursos acumulados que serão necessários para fazer frente a
tais pagamentos. Esse eventual desequilíbrio, sem limites preestabelecidos,
poderia comprometer a saúde financeira da EAPC e, por consequência, o
recebimento dos benefícios pelos participantes e/ou beneficiários. Como as
tábuas biométricas mais recentes refletem o aumento da expectativa de vida, o
comparativo a seguir mostra a diferença de valores que teriam que ser
acumulados (conforme a tábua a ser usada para o cálculo) para fazer frente a
uma determinada renda vitalícia.

QUADRO 6 - PROVISÃO EM FUNÇÃO DA TÁBUA BIOMÉTRICA E DA TAXA DE JUROS


Provisão matemática de benefícios a conceder necessária para pagar R$ 1.000,00 de renda mensal
vitalícia a uma pessoa de 60 anos de idade
AT-49 Male AT-83 Male AT-2000 Male

0% a.a. 221.106,41 270.785,15 294.501,79


1% a.a. 197.774,71 237,759,15 256.268,96
2% a.a. 178.158,84 210.663,01 225.266,37
3% a.a. 161.542,31 188.222,50 199.866,59
4% a.a. 147.366,02 169.470,62 178.851,57
5% a.a. 135.188,36 156.666,98 161.300,96
6% a.a. 124.659,13 140.239,90 146.512,99
FONTE: Viot (2016, p. 59)
A maioria dos planos de Previdência possui, ao menos, duas taxas de
administração. A taxa de carregamento, que incide sobre as contribuições e
cobre as despesas administrativas, tais como envio de extratos, manutenção de
uma central de atendimento, contabilidade. A taxa de administração de ativos
incide sobre o patrimônio do fundo e cobre despesas com a administração dos
recursos. Com relação à modalidade de renda escolhida e seus reflexos sobre o
valor a ser recebido, Viot (2016, p. 60) apresenta o seguinte exemplo: um homem

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UNIDADE 2 | A PREVIDÊNCIA E A CAPITALIZAÇÃO

com 60 anos possui cônjuge com 58 anos e um filho de 10 anos. Supondo que
esse homem tivesse um plano de Previdência (as bases técnicas do plano são AT-
2000 e 3% a.a.) com saldo acumulado de R$ 1.000.000,00 e desejasse simulações
em várias das modalidades de renda, receberia os resultados a seguir, que
demonstram as diferenças em função dos compromissos que a EAPC teria que
assumir com os beneficiários, conforme a opção escolhida:

a) Renda mensal vitalícia apenas para o participante: R$ 5.141,30.


b) Renda mensal vitalícia ao participante e reversível 100% ao cônjuge: R$
4.255,38.
c) Renda mensal vitalícia ao participante, reversível 100% ao cônjuge com
continuidade de 100% aos menores: R$ 4.240,64.
d) Renda mensal vitalícia ao participante com prazo mínimo garantido de 15
anos:
R$ 4.871,03.
e) Renda mensal temporária de 15 anos ao participante: R$ 7.439,24.

Finalmente, é evidente que quanto maior o montante acumulado até o


momento da aposentadoria, maior será o valor do benefício. Assim, Viot (2016)
chama atenção para a importância de os participantes ficarem atentos aos custos
envolvidos na contratação do plano, bem como na rentabilidade auferida pelo
plano durante a fase de acumulação. Quanto menores os custos de
administração do plano, maior será a parcela da contribuição destinada à
formação da provisão matemática de benefícios a conceder. Também terá forte
influência no total a ser acumulado o perfil do plano escolhido (apenas renda
fixa ou com renda variável etc.) e a rentabilidade do respectivo fundo de
investimento. Os simuladores de previdência privada, disponíveis na internet ou
a assessoria de um especialista poderão demonstrar diferenças com relação aos
produtos existentes no mercado.

Quanto ao primeiro dos valores que são garantidos no período de


contribuição, o participante poderá solicitar, independentemente do número de
contribuições pagas, resgate parcial ou total de recursos do saldo da provisão
matemática de benefícios a conceder, após o cumprimento de período de
carência, que deverá estar compreendido entre 60 dias e 24 meses, a contar da
data de protocolo da proposta de inscrição na EAPC.

Outro valor garantido é a portabilidade. Independentemente do número


de contribuições pagas, o participante poderá solicitar a portabilidade, total ou
parcial, para outro plano de Previdência Complementar, de recursos do saldo da
provisão matemática de benefícios a conceder, após o cumprimento do período
de carência a contar da data de protocolo da proposta de inscrição na EAPC.
Não poderão ser solicitadas portabilidades com intervalo inferior a 60 dias,
exceto quando se tratar de portabilidades entre planos de Previdência com

22
TÓPICO 3 | PLANOS DE PREVIDÊNCIA PRIVADA ABERTA

cobertura por sobrevivência da mesma EAPC, quando poderão ser estabelecidos


períodos inferiores (VIOT, 2016).

3 OS PLANOS DE RISCOS
Os planos com cobertura de risco incluem as garantias de morte e/ou
invalidez total e permanente. As coberturas de morte têm por objetivo conceder
um benefício (à vista ou sob a forma de renda) aos beneficiários indicados, em
decorrência da morte do participante ocorrida durante o período de cobertura,
desde que tenha sido cumprido o período de carência estabelecido pelo plano, se
houver. Já os planos com cobertura de invalidez total e permanente têm por
objetivo conceder um benefício (à vista ou sob a forma de renda) ao próprio
participante, em decorrência de sua invalidez total e permanente ocorrida
durante o período de cobertura, desde que tenha sido cumprido o período de
carência estabelecido pelo plano, se houver.

“Entende-se como invalidez total e permanente aquela para a qual não se pode
esperar a recuperação ou reabilitação com os recursos terapêuticos disponíveis no momento
de sua constatação” (VIOT, 2016, p. 71).

De acordo com Viot (2016), é comum, nos planos com cobertura de morte
e/ou de invalidez total e permanente, o estabelecimento de período de carência.
Esse período é contado a partir da data de início de vigência e durante o mesmo
não existe cobertura em caso de ocorrência do evento gerador (morte ou
invalidez total e permanente). Portanto, se o sinistro ocorrer dentro do período
de carência, o participante ou seus beneficiários não terão direito a receber os
benefícios contratados. O período de carência, quando existir, será fixado na
nota técnica atuarial e no regulamento do plano, não podendo ser maior que
dois anos. Entretanto, a critério da EAPC, o período de carência pode ser
dispensado, mediante declaração pessoal de saúde ou exame médico. O período
de carência também deixará de ser considerado se a morte ou invalidez total e
permanente for causada por acidente.

Viot (2016, p. 71-72, grifos do original) apresenta os principais planos de


riscos existentes no mercado brasileiro, iniciando pelos que pagam benefícios
por invalidez:

Plano de Renda por Invalidez


Esse plano tem por objetivo a concessão de renda mensal vitalícia ao
próprio participante, em decorrência de sua invalidez total e

23
UNIDADE 2 | A PREVIDÊNCIA E A CAPITALIZAÇÃO

permanente ocorrida durante o período de cobertura e após cumprido


o período de carência estabelecido em cada plano.
Ocorrendo o falecimento do participante, antes ou após a concessão da
renda por invalidez, o benefício ficará automaticamente cancelado,
sem que seja devida qualquer devolução ou indenização de qualquer
natureza.

Plano de Renda por Invalidez com Prazo Mínimo Garantido


Esse plano tem por objetivo a concessão de renda mensal vitalícia,
com prazo mínimo garantido, ao próprio participante, em decorrência
de sua invalidez total e permanente, ocorrida durante o período de
cobertura e após cumprido o período de carência estabelecido em
cada plano.
Ocorrendo falecimento do participante após o início do recebimento
do benefício e antes do término do prazo mínimo garantido, a renda
será revertida ao(s) beneficiário(s) indicado(s), na proporção
estabelecida pelo participante, até que se esgote o referido prazo.
Havendo mais de um beneficiário e ocorrendo o falecimento de
qualquer um, a renda será rateada proporcionalmente à participação
dos remanescentes pelo número de meses faltantes para completar o
prazo mínimo garantido.
Se não houver beneficiários remanescentes, a renda será paga aos
sucessores legítimos, na forma da lei, até o término do prazo mínimo
garantido, podendo a EAPC quitar os benefícios futuros em uma
única parcela.
Ocorrendo falecimento do participante antes da concessão da renda
por invalidez com prazo mínimo garantido ou após o término do
prazo mínimo garantido, o benefício será automaticamente cancelado,
sem que seja devida qualquer devolução ou indenização de qualquer
natureza.

Plano de Pecúlio por Invalidez


O objetivo desse plano é a concessão de um pecúlio ao próprio
participante, em decorrência de sua invalidez total e
permanente ocorrida durante o período de cobertura e após
cumprido o período de carência estabelecido em cada plano.

Entretanto, existem situações em que o regulamento do plano pode


prever situações em que o benefício por invalidez total e permanente não será
devido. Seguem algumas das situações comumente estabelecidas nos
regulamentos. Não é devido o benefício de invalidez total e permanente quando:

• A invalidez total e permanente do participante decorrer


de doença, lesão ou sequelas preexistentes à contratação do
plano, não declaradas na proposta de inscrição e
comprovadamente de conhecimento do participante ou
decorrente de evento gerador ocorrido durante o período de
suspensão da cobertura por inadimplência, quando for o caso.
• A invalidez total e permanente do participante for
consequência:o do uso de material nuclear para quaisquer fins,

24
TÓPICO 3 | PLANOS DE PREVIDÊNCIA PRIVADA ABERTA

incluindo a explosão nuclear provocada ou não, bem como a


contaminação radioativa ou exposição a radiações nucleares ou
ionizantes; o de atos ou operações de guerra, declarada ou não,
de guerra química ou bacteriológica, de guerra civil, de
guerrilha, de revolução, agitação, motim, revolta, sedição,
sublevação ou outras perturbações de ordem pública e delas
decorrentes; o direta ou indireta de quaisquer alterações
mentais consequentes do uso do álcool, de drogas, de
entorpecentes ou de substâncias tóxicas; o de furacões, ciclones,
terremotos, maremotos, erupções vulcânicas e outras
convulsões da natureza; o de ato reconhecidamente perigoso,
que não seja motivado por necessidade justificada e da prática,
por parte do participante, de atos ilícitos ou contrários à lei; o
de qualquer tipo de hérnia e suas consequências;
o de perturbações e intoxicações alimentares de qualquer

espécie, bem como de intoxicações decorrentes da ação de


produtos químicos, drogas ou medicamentos, salvo quando
prescritos por médico, em decorrência de acidente coberto; o de
tentativa de suicídio nos primeiros 24 meses de vigência do
contrato; e o choque anafilático e suas consequências (VIOT,
2016, p. 72-73).

Apesar de as situações acima serem comuns nos planos de invalidez total


e permanente, não se considera como risco excluído a invalidez do participante
decorrente da utilização de meio de transporte mais arriscado, da prestação de
serviço militar, da prática de esporte ou de atos de humanidade em auxílio de
outrem. Com relação aos planos que pagam benefício por morte, Viot (2016, p.
7475, grifos do original) destaca:

Plano de Pensão ao Cônjuge ou Companheiro(a)


Esse plano tem por objetivo a concessão de uma renda mensal vitalícia
ao cônjuge ou companheiro(a), em decorrência da morte do
participante, ocorrida durante o período de cobertura e após
cumprido o período de carência estabelecido em cada plano.
O participante indicará, nominalmente, na proposta de inscrição,
somente um beneficiário para esse benefício, que deverá ser o cônjuge
ou companheiro(a) legalmente reconhecido(a).
Caso o beneficiário venha a falecer antes do participante ou perca a
condição de cônjuge ou companheiro(a), o benefício será
automaticamente cancelado.
Caso o beneficiário venha a falecer após o início da percepção do
benefício, este será extinto.
O participante poderá alterar, por escrito, o beneficiário anteriormente
indicado, mediante recálculo, se for o caso, das respectivas
contribuições. No caso de o participante indicar outra pessoa que não
seja o cônjuge ou companheiro(a), não reconhecida legalmente, tal
pessoa não terá direito ao benefício contratado.

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UNIDADE 2 | A PREVIDÊNCIA E A CAPITALIZAÇÃO

Plano de Pensão aos Menores


O objetivo desse plano é a concessão de uma renda mensal temporária
aos beneficiários indicados, menores de 21 anos, na condição de filhos
ou dependentes econômicos, em decorrência de morte do participante
ocorrida durante o período de cobertura e após cumprido o período
de carência estabelecido em cada plano.
O participante indicará, nominalmente, na proposta de inscrição, um
ou mais menores de 21 anos, na condição de filho ou dependente
econômico para fins de imposto de renda.
O participante poderá alterar, por escrito, os beneficiários
anteriormente indicados, mediante recálculo, se for o caso, das
respectivas contribuições.
Caso todos os beneficiários venham a falecer antes do participante ou
tenham atingido a idade de 21 anos antes da ocorrência do evento
gerador, o benefício estará automaticamente cancelado sem que seja
devida qualquer devolução ou indenização de qualquer natureza.
Caso o participante, no momento da contratação do benefício ou da
proposta de inscrição, venha a indicar como beneficiário outra pessoa
menor de 21 anos, que não seja filho ou dependente econômico para
fins de imposto de renda, tal pessoa não terá direito ao benefício
contratado.

Plano de Pensão por Prazo Certo


O objetivo desse plano é a concessão de uma renda mensal por prazo
certo ao(s) beneficiário(s) indicado(s), em decorrência da morte do
participante ocorrida durante o período de cobertura e após cumprido
o período de carência estabelecido em cada plano.
Estando os beneficiários em fase de recebimento do benefício, quando
um deles falecer, será realizado um novo rateio de benefício,
proporcionalmente à participação dos beneficiários remanescentes.
Não havendo beneficiários remanescentes, a renda será paga aos
sucessores legítimos na forma da lei.
Com o término do prazo certo, extingue-se o benefício, desobrigando-
se a EAPC do pagamento de quaisquer valores.

Plano de Pecúlio
O objetivo desse plano é a concessão de um pecúlio ao(s)
beneficiário(s) indicado(s), em decorrência da morte do participante
ocorrida durante o período de cobertura, após cumprido o período de
carência estabelecido em cada plano.

Em síntese, vimos que os planos de previdência complementar possuem


muitas variações e alternativas. Eles podem contemplar apenas a preservação da
renda após certa idade (planos de sobrevivência), como também podem prever
benefícios para o titular, em caso de invalidez, ou para os seus dependentes em
caso de morte (planos de risco). Vimos também que, além de definir quais as
garantias que deseja, o contratante precisa questionar e avaliar outras variáveis
importantes, tais como: a forma de remuneração do capital, a taxa de
administração do gestor, a tábua biométrica ou de mortalidade do plano e o
tratamento tributário. São análises relativamente complexas e, por isso, o
interessado precisa buscar apoio e orientação dos especialistas em previdência,
sejam eles funcionários das entidades, dos bancos ou corretores de seguros.

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