Você está na página 1de 3

Parábola do Rico e de Lazaro, na Patrística.

(copiada e editada por Matheus Melquiades).

IRINEU (120 d.C. – 202 d.C.)


Bispo e doutor da igreja primitiva no segundo século, servia a Deus na cidade de Lion,
atualmente cidade da França. Irineu foi um destacado apologista que defendeu a ortodoxia da
igreja contra as heresias do montanismo e do gnosticismo (1). Em sua defesa contra os
gnósticos, afirmou que o ensino contido no evangelho de Lucas, não era uma alegoria, e sim
uma doutrina exposta através de um exemplo histórico, proferido pelo Senhor Jesus (2).

“Sobre estas coisas, então, é plenamente declarado que as almas

continuam a existir, que elas não passam de um corpo ao outro, que

elas possuem a forma de um homem, então elas podem ser

reconhecidas, e retém a memória das coisas deste mundo; entretanto,

que este dom de profecia era possuído por Abrahão, e que cada

classe [de alma] recebe a habitação tal como ela tem merecido, ainda

antes do juízo” (3).

(1) IRINEU. In: GRANDE Enciclopédia Larousse cultural. São Paulo: Nova Cultural, 1998.
p.3226.
(2) ORBE, Antonio. Parabolas evangelicas en San Ireneo. BAC – Biblioteca de Autores
Cristianos 331 e 332. Madri: La editorial Católica, 1976. v.2, p.409.
(3) ORBE, Antonio. Op.cit. p.412.

TERTULIANO (145 d.C. – 220 d.C.)


Bispo de Cartago no norte da África, se destaca por ser um dos primeiros pais da igreja de
latina. Foi talvez o primeiro escritor e doutrinado renovado nessa língua. Como um dos pais da
igreja ocidental (área romana), se destacou como apologista e doutrinador. Sendo considerado
fundamento da doutrina escatológica da igreja latina (1). Tertuliano considerava o “seio de
Abraão” da parábola, como um lugar provisório para os fieis mortos (2). Porém, o “seio de
Abraão” não ficava no céu, e sim em uma região do Sheol (um lugar acima do Sheol dos infiéis,
como descrito por Lucas; 2). Para Tertuliano as almas dos justos permaneceriam ali até a
ressureição dos mortos e a consumação dos séculos. (3).

(1) DALEY, Brian E. Op.cit. p.64.


(2) TERTULLIAN, Tertullian Against Marcion, livro IV, Cap.XXXIV, in ANF, vol. 3, p.406.
(3) ORBE, Antonio. Op.cit. p.384.
ATANÁSIO (295 d.C. – 373 d.C.)
Atanásio foi bispo da importante igreja de Alexandria, considerado um dos pais da igreja grega.
Foi um dos maiores gigantes da fé, lutou no século quatro a favor da ortodoxia, contra o
arianismo. Sobre a parábola em questão, Tertuliano acreditava em sua literalidade. Para ele o
rico sofreu com a fome e sede, porque tinha em abundância em sua vida. Em contrapartida,
Lázaro gozou os prazeres no “seio de Abraão” que lhe foram privados em sua vida (1). Atanásio
foi mais um dos pais da igreja que defendeu a imortalidade da alma (2).

(1) ATHANASIUS, Letter X. Easter, in NPNF (second series), v. 4, p.530.


(2) DALEY, Brian E. Op.cit. p.109.

GREGÓRIO DE NISSA (335 d.C. – 394 d.C.)


Gregório de Nissa (não confundir com Gregório de Nazianzo). Foi bispo nessa cidade e mestre
na doutrina na igreja de fala grega. Gregório advogava pela que a alma e o corpo foram criados
juntos (1). Também acreditava que a alma dos justos era encaminhada ao “seio de Abrão”,
onde aguardava a ressurreição (2). Para ele as características corpóreas se mantinham na
alma, por isso que Abraão, Lázaro e o rico podiam ser reconhecidos. Assim, como próprio rico,
reconheceu a Lázaro (3).

(1) GREGÓRIO DE NISSA. In: GRANDE Enciclopédia Larousse cultural. São Paulo: Nova
Cultural, 1998. p.2822
(2) DALEY, Brian E. Op.cit. p.130.
(3) NISSA, Gregory of., On the Making of Man, cap.XXVII, in NPNF (second series), vol. 5, p.
418.

AGOSTINHO (354 d.C. – 430 d.C.).


Agostinho bispo de Hipona, no norte da África, é considerado um dos maiores teólogos da
história, e talvez o maior de língua latina. Para Agostinho as almas humanas eram julgadas
imediatamente após a morte (1). Os maus eram enviados ao Sheol, e os justos enviados ao
“seio de Abraão” (1). Em citações sobre essa parábola, Agostinho disse:

“O rico homem no evangelho

finalizou suas voluptuosas dores, e veio para o tormento. Mas o homem pobre

finalizou suas dores e chegou em perfeita saúde. Ele fez a escolha nesta vida do que

iria ter na futura”. (2)

(1) 2 DALEY, Brian E. Op.cit. p.200.


(2) AUGUSTIN, St. The Confessions of St. Augustin, livro IX, cap. IV, in NPNF (first series),
vol. 1, p.131.
JERÔNIMO (347 d.C. – 419 ou 420 d.C.)
Padre Jerônimo foi o tradutor da Vulgata latina, e também doutor da igreja latina. Era
conhecido como historiador e gramatico, o que favoreceu a tradução da citada versão. Assim
como Agostinho, também cria na recompensa e castigo imediatamente após a morte (1).
Jeronimo também acreditava na literalidade da parábola, a ponto de usa-la como exemplo
para a vida real, como o trecho que se segue (2):

“... Lea goza de eterna felicidade; ela é bem-vinda aos coros de anjos; ela é confortada

no Seio de Abraão.” Enquanto o cônsul pagão Vécio Agório Pretextato, que também

tinha morrido, está agora “... desolado e nu, um prisioneiro nas trevas mais

imundas... assim como o homem rico da parábola”. (1)

(1) 53 DALEY, Brian E. Op.cit. p.154 e 155.


(2) JEROME, Carta XXIII, in NPNF (second series), vol. 6, p.42.

Conclusão:
Nesses seis exemplos de doutores ortodoxos da igreja, podemos ver o posicionamento geral
sobre o entendimento dessa parábola na igreja patrística. Existe uma aparente
consensualidade sobre a literalidade dessa parábola na transmissão doutrinaria da igreja. Os
exemplos citados compreendem os mais ilustres doutores da igreja entre os séculos II e IV,
período que compreende a formação doutrinaria da patrística. Portanto podemos inferir que a
interpretação literal e histórica da Parábola do Rico e do Lazaro, é tradicionalmente a posição
ensinada por aqueles que estavam mais próximos do período bíblico (Novo Testamento) e do
ensino apostólico.

Bibliografias: O RICO E LÁZARO: UMA INTERPRETAÇÃO HISTÓRICO-EXEGÉTICA DE LUCAS 16:19-


31: FILIPE ANDRÉ SCHIFINO SANTOS JARDIM.

DALEY, Brian E. Origens da escatologia cristã. São Paulo: Paulus, 1996.

Você também pode gostar