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A partir das décadas de 50 e 60, influenciado pelos movimentos europeus e

estadunidenses, o movimento sanitarista brasileiro passou a repensar a saúde pública.


Esse movimento, todavia, não representou uma mudança na percepção do objeto da saúde,
que com o advento da ciência biológica, centrava suas ações não no indivíduo que possuía
uma doença, mas na própria doença em si, numa visão medicalizada e biologicista.
A aproximação das ciências humanas na década de 70 do campo da saúde
impulsionou mudanças nesse modo de fazê-la, a partir de críticas ao modelo vigente na
época. Nasceu assim, a Saúde Coletiva, numa tentativa de ampliar e aprofundar o
entendimento dos processos-saúde doença, considerando diversas dimensões, como a
social, a subjetiva e até mesmo a espiritual. Para isso, inauguraram termos como:
determinantes de saúde, que pensam as causas psicossociais que influenciam os
processos de saúde-doença; as necessidades de saúde, que vão para além da queixa; as
tecnologias de cuidado, refletindo sobre as possibilidades de ação, entre outras.
Foi durante esse momento de mudança que a Psicologia se aproximou da Saúde
Coletiva. Para tal, precisou e ainda precisa repensar suas próprias questões
epistemológicas, não acabadas. Suas raízes no fundamentalismo norte americano, por
exemplo, pouco auxiliaram nesse processo de inserção na Saúde Coletiva, uma vez que a
atuação na área foge do campo individual, de consultório psicoterapêutico e da adaptação
do sujeito ao modelo de produção capitalista. Modelo este estritamente ligado ao processo
de adoecimento dos indivíduos.
Mesmo com as questões particulares mencionadas, a Psicologia se fez e faz um
serviço necessário e útil dentro da Saúde Coletiva. Esse reconhecimento começa junto à
Reforma Psiquiátrica brasileira, que inseriu os profissionais na assistência direta aos
indivíduos ou em outros níveis, como na educação em saúde e na própria gestão do
sistema.
Mesmo com a atuação da Psicologia vigente, o processo de adaptação à Saúde
Coletiva ainda permanece inconcluso. Não se admite aqui, que possa ocorrer uma
adaptação ideal ou plena, mas se trata de um caminho ainda longo para as psicólogas
percorrerem e ocuparem um lugar de atuação mais próximo, ao menos, dos princípios e
diretrizes da Saúde Pública, e para tal precisam antes tratar de seus entraves
epistemológicos.
Talvez uma alternativa seja incluir nos currículos bases de formação disciplinas e
estágios voltados para o campo da Saúde Coletiva, aos modos da UFSC. Um bom modelo
para se pensar esses componentes no currículo seria tratar a prática psicológica como um
núcleo especializado, que contém seus conhecimentos específicos, mas que atua em um
campo, que é construído coletivamente entre os outros saberes, não se limitando à junção
deles, como defendido no texto de Campos (2000).
Para além das técnicas e saberes, mesmo quando executadas de maneira
multiprofissional, o campo da Saúde Coletiva exige flexibilidade dos núcleos. A atuação
dada dessa forma, pode ao menos se aproximar de dar conta das singularidades e os
processos coletivos e todos os outras relações dialéticas que tornam o modo de produção
de saúde tão complexos e dinâmicos. E a Psicologia necessita ainda descobrir formas mais
efetivas de se inserir nesse processo.

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