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Curso

EDUCAÇÃO ESPECIAL E
INCLUSIVA

Disciplina
AÇÃO EDUCATIVA NA
EDUCAÇÃO INCLUSIVA
2

Curso
EDUCAÇÃO ESPECIAL
E INCLUSIVA
Disciplina
AÇÃO EDUCATIVA NA
EDUCAÇÃO INCLUSIVA

Edla TROCOLI
Elaine FILIZOLA

www.avm.edu.br
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Olá, estimados colegas! Meu nome é EDLA TROCOLI. E foi com


muito prazer que escrevi essa aula para vocês. Gosto muito do
meu trabalho: dar aulas, pesquisar, me relacionar com os alunos.
Sou pedagoga, especialista em Educação Especial e pós-graduada
em Docência do Ensino Superior. Comecei a atuar na área de
Educação Especial há alguns anos atrás e tive a oportunidade de
ser diretora-fundadora de um grande Centro Integrado de
Educação Especial, no Município de Valença-RJ, entre outras
atividades exercidas dentro da área. Atualmente luto por uma
Sobre as autoras

Escola Inclusiva e acredito que um dia teremos realmente uma


Escola Para Todos. Neste ano, completo 5 anos de vínculo com o
Instituto A Vez do Mestre com muito respeito pelo trabalho que
presta à nossa educação. Um grande abraço!

ELAINE BRITTO FELIZOLA, graduada em Fonoaudiologia pela


Universidade Veiga de Almeida no ano de 1985. Trabalhei com
Fonoaudiologia clínica na APAE (Associação de Pais e Amigos dos
Excepcionais) de Niterói, atendendo ao ambulatório e a
estimulação precoce, e com fonoaudiologia educacional na
Associação Educacional Plínio Leite, onde atuava como educadora
psicomotora e fonoaudióloga.
Ministrei cursos de capacitação de professores de educação infantil
junto às prefeituras de Niterói (Fundação Municipal de Educação,
2001 e 2002) e Santa Maria Madalena (2001, 2002 e 2004)
Fiz especialização em Educação infantil e desenvolvimento na
Universidade Candido Mendes (do Instituto A Vez do Mestre) e em
Literatura Infanto Juvenil na Universidade Federal Fluminense
(UFF).
Hoje atuo como fonoaudióloga educacional (Colégio Pluz) e clínica.
4
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07 Apresentação

Aula 1

09 O aluno com necessidades


educacionais especiais no
contexto da comunidade escolar

Aula 2
47 O ajuste da escola para todas as
crianças

Aula 3
87 Princípios da cultura inclusiva no
âmbito da comunidade escolar

Aula 4
Reflexões sobre a formação do
117
Sumário

professor para a educação


inclusiva

Aula 5
A sala de aula inclusiva: o
149 cotidiano professor-aluno na
inclusão

Aula 6
O envolvimento familiar na
181 educação do aluno com
necessidades educacionais
especiais

AV1
209 Estudo dirigido da disciplina

AV2
212 Trabalho acadêmico de
aprofundamento

214 Referências bibliográficas


CADERNO DE
ESTUDOS
Princípios
Metodológicos da
Educação Inclusiva
Apresentação

Neste caderno estão reunidas as principais referências de


discussão sobre a educação inclusiva e as necessidades
educacionais dos alunos especiais. Mas também, procuramos
destacar outros aspectos, como: o papel da escola na garantia da
interatividade entre os alunos, a adequação curricular, o papel do
professor, e o conhecimento das deficiências e dificuldades dos
alunos.

Este caderno de estudos tem como objetivos:


Objetivos gerais

 Discutir o papel da escola como oportunidade de inclusão dos


alunos na sociedade;
 Analisar os principais fatos históricos que marcaram a evolução
do conceito de inclusão que beneficiou os portadores de
necessidades educacionais especiais;
 Discutir os princípios que norteiam uma educação inclusiva
(justiça, imparcialidade, igualdade, aceitação da diversidade;
 Refletir sobre o papel do professor na educação inclusiva e nos
novos paradigmas educacionais que exigem práticas
pedagógicas dinâmicas e diversificadas;
 Compreender o papel da família de colaboração no âmbito
escolar, tanto no processo de aprendizagem quanto nas
relações vinculares de seus filhos.
O Aluno com

1
Necessidades
Especiais no Contexto

AULA
da Comunidade
Escolar
Edla Trocoli
Apresentação

Nesta aula iremos abordar sobre o trabalho de construção de uma


educação que esteja baseada no princípio da não segregação, ou
seja, da inclusão de todos, quaisquer que sejam suas limitações e
possibilidades individuais e sociais. Neste sentido, proporcionar à
pessoa com deficiência maior independência, qualidade de vida e
inclusão escolar e social, através da ampliação de sua
comunicação, mobilidade, controle de seu ambiente, habilidades
de seu aprendizado, trabalho e integração com a família, amigos e
sociedade.

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja


capaz de:
Objetivos

 Conhecer as possibilidades de atuação da escola com relação à


inclusão e à integração, que demanda uma abordagem holística
do portador de deficiência e revela seu contexto de vida (da
família, da escola e da sociedade);
 Discutir a necessidade de alteração da visão social e do
atendimento escolar dos portadores de deficiência, através:
sensibilização e capacitação dos profissionais, elaboração de
projetos, realização de reuniões pedagógicas e etc.;
 Compreender que o papel da educadora que busca a resolução
de problemas funcionais, no dia a dia da escola, que mesmo
sem o saber está produzindo tecnologia assistiva.
Aula 1 | O aluno com necessidades educacionais especiais no contexto da 10
comunidade escolar

Introdução

Já sonhamos juntos semeando as canções no


vento, quero ver crescer nossa voz no que falta sonhar.
Já choramos muito, muitos se perderam no caminho,
mesmo assim não custa inventar uma nova canção que
venha nos trazer SOL DE PRIMAVERA (Guedes, 1980).

Para
navegar Hoje, no Brasil, milhares de pessoas com algum
tipo de deficiência estão sendo discriminadas nas
Acesse o manual
produzido pelo comunidades em que vivem ou sendo excluídas do
Ministério Público
Federal – “O Acesso
convívio escolar e social. O processo de exclusão social
de Alunos com de pessoas com deficiência ou alguma necessidade
Deficiência às
Escolas e Classes especial é tão antigo quanto a socialização do homem.
Comuns da Rede
Regular”.

http://pfdc.pgr.mpf. A estrutura das sociedades, desde os seus


gov.br/grupos-de-
trabalho primórdios, sempre incapacitou os portadores de
deficiência, marginalizando-os e privando-os de
liberdade. Essas pessoas, sem respeito, sem
atendimento, sem direitos, sempre foram alvo de
caráter preconceituoso e ações insensíveis.

Nos últimos anos, ações isoladas de educadores


e de pais têm promovido e implementado a inclusão,
nas escolas, de pessoas com algum tipo de deficiência
ou necessidade especial, visando resgatar o respeito
humano e a dignidade, no sentido de possibilitar o
pleno desenvolvimento e o acesso a todos os recursos
da sociedade por parte desse segmento.

Acreditamos que construir uma educação que


abranja todos os segmentos da população e cada um
dos cidadãos implica uma ação baseada no princípio da
não segregação, ou, em outras palavras, da inclusão de
todos, quaisquer que sejam suas limitações e
possibilidades individuais e sociais. Todavia, para a
conquista da educação escolar que não exclua qualquer
educando, particularmente os portadores de deficiência,
Aula 1 | O aluno com necessidades educacionais especiais no contexto da 11
comunidade escolar

é preciso que se entenda que a inclusão e a integração


não se concretizam pela simples extinção ou retirada de
serviços ou auxílios especiais de educação. Para alguns
alunos, tais recursos continuam a serem requeridos no
próprio processo de inclusão e integração, enquanto
para outros eles se tornam dispensáveis. O ponto
fundamental é a compreensão de que o sentido de
integração pressupõe a ampliação da participação nas
situações comuns para indivíduos e grupos que se
encontravam segregados. Portanto, é para os alunos
que estão em serviços de educação especial ou outras
situações segregadas que prioritariamente se justifica a
busca da integração. Para os demais portadores de
Dica de
deficiência, deve-se pleitear a educação escolar leitura

baseada no princípio da não segregação ou da inclusão.


A presença da
educação especial,
O entendimento, já exposto, de que nem todo na LDBEN 9394/96,
certamente reflete
portador de deficiência necessita de serviços certo crescimento da
área em relação à
educacionais especializados, devendo, neste caso, estar educação geral, nos
sistemas de ensino,
na escola comum em situação regular de ensino, desde principalmente nos
últimos 20 anos. Na
o início de sua escolarização, reflete a aplicação do Constituição de
1988, que contém
princípio da inclusão ou da não segregação. Nessa vários dispositivos
relacionados às
abordagem se propõe que somente quando estiverem pessoas com
esgotadas todas as possibilidades de ensino comum é deficiência, destaca-
se, na educação, o
que se deverá dispor ou lançar mão de serviços e inciso III do Artigo
208, definindo como
auxílios especiais. E, isto não é novidade para os dever do Estado o
“atendimento
profissionais que atuam em Educação Especial. Por isso educacional
especializado aos
mesmo, é importante que não se entenda a Educação portadores de
deficiência,
Especial como um mal a ser evitado. Pelo contrário, preferencialmente
na rede regular de
acreditamos que, para um significativo segmento da ensino”. Procure ler
a LDBEN.
população escolar, ela constitui o único recurso que lhe
possibilita a Educação em organizações escolares
comuns ou especiais. Vale lembrar que os auxílios e
serviços educacionais especiais representam conquista
que custou muito tempo e muita luta para que sejam
levianamente descartados por autoridades escolares e
outros profissionais.
Aula 1 | O aluno com necessidades educacionais especiais no contexto da 12
comunidade escolar

A educação dos alunos com necessidades


educacionais especiais, é importante lembrar, tem os
mesmos objetivos da educação de qualquer cidadão.
Algumas modificações são, às vezes, requeridas na
organização e no funcionamento da educação escolar
para que tais alunos usufruam dos recursos escolares
de que necessitam para o alcance daqueles objetivos.
Em razão disso, são organizados auxílios e serviços
educacionais especiais para apoiar, suplementar e, em
alguns casos, substituir o ensino comum ou regular
como forma de assegurar o ensino para esse alunado.
Tais auxílios e serviços educacionais são planejados e
desenvolvidos para assegurar respostas competentes
por parte do sistema e da unidade escolar, ainda que
especiais, às necessidades educacionais especiais ou
diferenciadas apresentadas por determinados alunos no
contexto escolar em que se encontram. As
necessidades educacionais especiais são definidas e
identificadas na relação concreta entre o educando e a
educação escolar. Assim, os recursos educacionais
especiais requeridos em tal situação de ensino-
aprendizagem é que se configuram como Educação
Especial e não devem ser reduzidos a uma ou outra
modalidade administrativo-pedagógica como classe
especial ou escola especial.

EXERCÍCIO 1

Temos que rever nossa posição ou lugar frente a esses


alunos, outrora excluídos, que agora fazem parte do
todo ao qual pertencemos. Incluir significa aprender,
reorganizar grupos, classes; significa promover a
interação entre crianças de outro modo. Você
concorda? Dê sua opinião.
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Aula 1 | O aluno com necessidades educacionais especiais no contexto da 13
comunidade escolar

Outro aspecto relevante diz respeito à


identificação das necessidades educacionais como
especiais e às conseqüentes decisões e orientações
sobre o atendimento dos alunos que as apresentem.
Tais atividades requerem a avaliação criteriosa por
parte dos profissionais envolvidos, bem como da família
de cada aluno. Uma grande parte das necessidades
educacionais dos alunos portadores de deficiências
poderá ser atendida, apropriadamente, sem a afluência
de ações e recursos especiais, na própria escola comum
com os recursos regulares. Todavia, a presença de
necessidades educacionais especiais, cujo atendimento Para refletir

esteja além das condições e possibilidades dos


O que você pensa de
professores e dos demais recursos escolares comuns, uma criança
portadora de
demandará a provisão de auxílios e serviços deficiência numa
sala com vários
educacionais propiciados por professores especialmente
alunos? Uma
preparados para atendê-las. Por outro lado, as alternativa à terapia
é o espaço
necessidades educacionais especiais são, às vezes, terapêutico na
própria escola? Em
acompanhadas de necessidades especiais de outras que aspectos uma
equipe
ordens e que requerem também a intervenção da multidisciplinar pode
auxiliar a nossa ação
escola no sentido de encaminhar, orientar ou viabilizar educativa?

o atendimento necessário, ainda que do âmbito


multidisciplinar, de forma indireta, cooperativa e
integrada à educação escolar.

A prática da inclusão de portadores de


deficiência deve ser parte integrante de planos
nacionais de educação, que objetivem atingir educação
para todos. A inclusão social traz no seu bojo a
equiparação de oportunidades, a mútua interação de
pessoas com e sem deficiência e o pleno acesso aos
recursos da sociedade. Cabe lembrar que uma
sociedade inclusiva tem o compromisso com as
minorias e não apenas com as pessoas portadoras de
deficiência. A inclusão social é, na verdade, uma
medida de ordem econômica, uma vez que o portador
de deficiência e outras minorias tornam-se cidadãos
produtivos, participantes, conscientes de seus direitos e
Aula 1 | O aluno com necessidades educacionais especiais no contexto da 14
comunidade escolar

deveres; diminuindo, assim, as despesas sociais. Dessa


forma, lutar a favor da inclusão social deve ser
responsabilidade de cada um e de todos coletivamente.

DESENVOLVIMENTO

O conhecimento da atuação da escola com


relação à inclusão e à integração exige uma abordagem
holística do portador de deficiência que revele seu
contexto de vida (da família, da escola e da sociedade).
Apenas a título de ilustração deste enfoque, serão
apontados, a seguir, alguns aspectos importantes para
o desenvolvimento de atitudes favoráveis à inclusão
escolar e à integração.

EXERCÍCIO 2

É fundamental trabalhar a auto-estima do aluno, mas


esta condição sozinha não pode ser responsável pelo
fracasso, que é o somatório de pobreza, carência
afetiva, despreparo da escola e dos professores em
atender a todo e qualquer aluno e também, falta de
conhecimento e apoio da família. O que a Escola
Inclusiva vem fazendo para superar estas dificuldades?
O que você tem observado?

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No âmbito da sociedade, é importante destacar


a necessidade de se rever a concepção sobre o
portador de deficiência e o papel da escola, seja pelas
pessoas individualmente, por grupos organizados para
defesa da cidadania, pelos serviços estruturados, pelas
campanhas de esclarecimento da população etc. e, ainda
Aula 1 | O aluno com necessidades educacionais especiais no contexto da 15
comunidade escolar

é preciso redimensionar as diretrizes norteadoras da


ação dos órgãos públicos, da ação governamental
global, dos investimentos financeiros etc., a partir da
visão dinâmica das condições do portador de
deficiência.

Quanto à escola, duas dimensões devem ser


focalizadas: o sistema de ensino e a unidade escolar.
Assim, é oportuno ressaltar que um conjunto de
indicações, de instruções coerentes e precisas se faz
necessário para permitir que as ações educativas,
sejam em situações comuns ou especiais, se
desenvolvam de modo a preservar a organicidade e
coerência que caracterizam um sistema escolar e ao
mesmo tempo assegurar ao professor as condições
necessárias ao desenvolvimento de seu trabalho, de tal
modo que o seu papel de educador não seja diminuído.

Na "Declaração de Salamanca", da qual


transcrevemos, a seguir, pontos importantes, que
devem servir de reflexão e mudanças da realidade
atual, tão discriminatória.

Acreditamos e proclamamos que:

 Toda criança tem direito fundamental


à educação e deve ser dada a
oportunidade de atingir e manter o
nível adequado de aprendizagem;
 Toda criança possui características,
interesses, habilidades e
necessidades de aprendizagem que
são únicas;
 Sistemas educacionais deveriam ser
designados e programas educacionais
deveriam ser implementados no
sentido de se levar em conta a vasta
diversidade de tais características e
necessidades;
 Aqueles com necessidades
educacionais especiais devem ter
acesso à escola regular, que deveria
acomodá-los dentro de uma
pedagogia centrada na criança, capaz
de satisfazer tais necessidades;
Aula 1 | O aluno com necessidades educacionais especiais no contexto da 16
comunidade escolar

 Escolas regulares, que possuam tal


orientação inclusiva, constituem os
meios mais eficazes de combater
Para refletir
atitudes discriminatórias, criando-se
comunidades acolhedoras,
Toda criança na construindo uma sociedade inclusiva
Escola! De um lado e alcançando educação para todos;
a lei - Educação além disso, tais escolas provêem
direito de todos e
uma educação efetiva à maioria das
dever do Estado e
da Família. Direito crianças e aprimoram a eficiência e,
fundamental a ser em última instância, o custo da
garantido com eficácia de todo o sistema
prioridade à criança
educacional.
e ao adolescente.
Direito subjetivo
público. A inclusão escolar, fortalecida pela Declaração
De outro lado, a
realidade que de Salamanca, no entanto, não resolve todos os
conduz à lógica da
exclusão. problemas de marginalização dessas pessoas, pois o
Desigualdades
dramáticas. Políticas
processo de exclusão é anterior ao período de
públicas
escolarização, iniciando-se no nascimento ou
direcionadas a
conveniências e exatamente no momento em que aparece algum tipo
oportunidades.
Famílias de deficiência física ou mental, adquirida ou hereditária,
desestruturadas.
Escolas insensíveis em algum membro da família. Isso ocorre em qualquer
frente aos fracassos
repetidos quase que tipo de organismo familiar, sejam as tradicionalmente
de forma
programada. Como estruturadas, sejam as produções independentes e
quebrar ou conciliar
esse antagonismo? congêneres e em todas as classes sociais, com um
agravante para as menos favorecidas.

A falta de conhecimento da sociedade, em geral,


faz com que a deficiência seja considerada uma doença
crônica, um peso e um problema. O estigma da
deficiência é grave, transformando as pessoas cegas,
surdas e com deficiências mentais ou físicas em seres
incapazes, indefesos, sem direitos, sempre deixados
Para refletir
para o segundo lugar na ordem das coisas. É
necessário muito esforço para suplantar este estigma.
A Constituição
Federal de 1988,
que garante a Essa circunstância se intensifica junto aos mais
“todos”, e não
apenas a alguns, o carentes, pois a falta de recursos econômicos diminui
direito à educação e
ao acesso à escola as chances de um atendimento de qualidade. Tem-se aí
sem discriminações
e adjetivações, um agravante: o potencial e as habilidades dessas
poderia dispensar
todos os “aparatos” pessoas são pouco valorizados nas suas comunidades
legais para uma
Educação Inclusiva?
de origem, que, obviamente, possuem pouco
esclarecimento a respeito das deficiências.Onde estão
Aula 1 | O aluno com necessidades educacionais especiais no contexto da 17
comunidade escolar

as causas da exclusão dessas pessoas no Brasil?

No plano de governo, o que se vê são


programas, propostas, projetos, leis e decretos com
bonitas e melodiosas siglas que ficam, na maioria das
vezes, só no papel. Programas idênticos e simultâneos
são lançados em duas ou três pastas, sem que haja
integração de objetivos e metas entre eles.

Muitas vezes acontecem ações paralelas entre o


governo e a iniciativa privada, que ficam desintegradas,
superpostas, sem consistência e dirigidas a pequenos
grupos, gastando verbas sem modificar o quadro de
exclusão existente.

Essas ações não são permanentes, pois a cada


mudança de governo são interrompidas, esvaziadas,
perdendo a continuidade e a abrangência, sendo que
outras aparecem em seus lugares para "fixar" a
plataforma de quem está no poder.

Nos estados e municípios não existe uma política


efetiva de inclusão que viabilize plano integrado de
urbanização, de acessibilidade, de saúde, de educação,
de esporte, de cultura, com metas e ações convergindo
para a obtenção de um mesmo objetivo: resguardar o
direito dos portadores de deficiência. Para pensar

As dificuldades são imensas para sensibilizar Há meio século


ocorrem
executivos de empresas privadas, técnicos de órgãos experiências e
relatos de pessoas
públicos e educadores sobre essa questão. Um que vivenciaram as
dificuldades da
sentimento de omissão aparece, consciente ou inclusão e estão
vivendo suas vidas e
inconscientemente, em técnicos, executivos e
exercendo seus
burocratas, quando necessitam decidir sobre o papéis sociais. Por
que não ouvi-las
atendimento às necessidades dos portadores de para implementar
uma política de
deficiência. inclusão
responsável? Você
concorda?

No plano dos atendimentos específicos, a


realidade é a seguinte:
Aula 1 | O aluno com necessidades educacionais especiais no contexto da 18
comunidade escolar

 Saúde: os locais de atendimentos na área de


saúde são pequenos, superlotados e sem
infra-estrutura. As políticas de prevenção, às
vezes, ficam restritas a algumas campanhas
de vacinação e os programas de diagnóstico
precoce são insuficientes. Os testes com
aparelhos de última geração são destinados a
poucos; as clínicas de terapias e fisioterapias
oferecem poucas vagas em relação à
demanda; a obtenção de próteses e órteses
são difíceis e as filas de espera são enormes
para quem não tem poder aquisitivo;
 Área social: os programas para as pessoas
com alguma deficiência são, em geral, os que
possuem as menores verbas, não existe
trabalho efetivo junto às comunidades mais
carentes e os grupos de orientação e
atendimento estão sempre superlotados;
 Mercado de trabalho: poucos são os
empregadores que se dispõem a absorver
esse segmento, apesar da legislação
existente. O portador de deficiência é o último
a ser contratado e o primeiro a ser demitido,
sendo que sua faixa salarial é, em média,
menor que a de seus colegas de profissão;
 Nas áreas de lazer, esportes, cultura e
transportes, não existem projetos
abrangentes que atendam a todos os tipos de
deficiência e, nas áreas de comércio, indústria
e serviços, a acessibilidade inexiste ou é
inconsistente;
 Na educação também não é diferente, pois só
as grandes cidades possuem algum tipo de
atendimento. A realidade tem mostrado que
os ciclos do ensino fundamental, com sua
passagem automática de ano, e a falta de
formação de professores, de recursos técnico-
pedagógicos, de estímulo suplementar, de acom
Aula 1 | O aluno com necessidades educacionais especiais no contexto da 19
comunidade escolar

panhamento de equipe multidisciplinar


(fonoaudiólogos, assistentes sociais,
psicólogos, terapeutas ocupacionais, de salas
e de professores de apoio), deixam a questão
da inclusão escolar sem estrutura eficiente,
bonita apenas na teoria.
Para pensar

Em nome da igualdade de atendimentos, muitos


Tradicionalmente, a
teóricos radicais defendem a inclusão escolar de forma participação de
crianças com
simplista: é só colocar esse aluno na classe comum e deficiências
cognitivas ou de
tudo se resolve. Entretanto, suas teses não refletem a
outra natureza em
realidade de que as pessoas com deficiência possuem atividades comuns
com seus pares em
necessidades educativas especiais e, assim, pouca contextos
educacionais tem
contribuição tem trazido para todos os envolvidos na sido chamada de
"integração". Tal uso
questão. Também em nome da igualdade de do termo
"integração" se
atendimentos, muitos deles negam veementemente as constitui a partir da
premissa implícita
experiências positivas de escolas e de classes especiais, de que as crianças
com deficiências não
que souberam desenvolver o potencial de seus alunos pertencem ao
conjunto de crianças
e, dessa forma, contribuíram para a sua inclusão junto
e que foram
à sociedade. Negar os trabalhos positivos do passado é reunidas com outras
crianças, foram
esquecer que a construção do conhecimento está "integradas" a elas
— devido à boa
baseada no acúmulo de experiência adquirida. vontade dos
membros da
sociedade. Esta é a
diferença entre
Deve-se lembrar, sempre, que o princípio “integração” e
“inclusão”?
fundamental da sociedade inclusiva é o de que todas as
pessoas portadoras de deficiência devem ter suas
necessidades especiais atendidas. É no atendimento
das diversidades que se encontra a democracia. O que
fazer diante deste quadro? O primeiro passo é
conseguir a alteração da visão social e do atendimento
escolar através:

 De um trabalho de sensibilização contínuo e


permanente por parte de grupos e instituições
que já atingiram um grau efetivo de
compromisso com a inclusão de portadores
de necessidades especiais junto à sociedade;
Aula 1 | O aluno com necessidades educacionais especiais no contexto da 20
comunidade escolar

 Da capacitação de profissionais de todas as


áreas para o atendimento das pessoas com
Importante
algum tipo de deficiência;
 Da elaboração de projetos que ampliem e
O que é necessário
rever no Projeto inovem o atendimento dessa clientela;
Pedagógico da
Escola? Por quê?  Da divulgação da Declaração de Salamanca e
Porque assim como
o mundo mudou, o outros documentos congêneres, da legislação,
público da escola e a
função que ela de informações e necessidades dos
deveria assumir
também mudaram. portadores de deficiência e da importância de
Mas, nem sempre,
os Projetos sua participação em todos os setores da
Pedagógicos das
escolas refletem tais
sociedade;
transformações.
 Da realização de Reuniões Pedagógicas de
Vencer a resistência
à mudança e Estudo e Planejamento com os professores;
ancorar-se na
esperança é tarefa  Da organização e Planejamento dos Planos de
imprescindível para
que a escola Estudos e Reformulações de acordo com o
enfrente, de
maneira corajosa, os Projeto Político-Pedagógico;
problemas que lhes
são colocados.  Da articulação com diversos Projetos
É preciso mudar o
“velho Projeto Pedagógicos;
Pedagógico”,
marcado
 Do estudo, redação e organização do material
principalmente pela
para construção do Regimento Escolar.
centralidade do
aspecto cognitivo na
tarefa educativa e
conceber um “novo A reestruturação das instituições não deve ser
Projeto Pedagógico”
voltado para o apenas uma tarefa técnica, pois depende, acima de
desenvolvimento de
competências e para tudo, de mudanças de atitude, de compromisso e
a promoção de
valores humanos e disposição dos indivíduos. O primeiro passo no processo
éticos, bem como
comprometido com de inclusão social é o da inclusão escolar.
saberes práticos.

Ao entrarem para a escola, as crianças que


possuem alguma necessidade educativa especial terão
que se integrar e participar obrigatoriamente de três
estruturas distintas da dinâmica escolar: o ambiente de
aprendizagem, a integração professor-aluno, e a
interação aluno-aluno.

A partir da análise e da adequação destas


estruturas e do levantamento de alternativas que
favoreçam o desenvolvimento dos alunos, em geral, e
dos portadores de necessidades educativas especiais,
em particular, é que a inclusão escolar deve ter início.
Aula 1 | O aluno com necessidades educacionais especiais no contexto da 21
comunidade escolar

Assim, é necessário analisar se o ambiente de


aprendizagem é favorecedor, se existe oferta de
Quer
recursos audiovisuais, se ocorreu a eliminação de saber mais?
barreiras arquitetônicas, sonoras e visuais de todo o
prédio escolar, se existem salas de apoio pedagógico “O mundo está
competitivo?
para estimulação e acompanhamento suplementar, se Certamente que
sim! Entretanto, isso
os currículos e as estratégias de ensino estão
não significa que
adequados à realidade dos alunos e se todos os que todos devam viver
de modo competitivo
compõem a comunidade escolar estão sensibilizados - tampouco que seja
necessário
para atender o portador de deficiência com respeito e encaminhar a
educação dos alunos
apreço. de modo a ensinar a
competitividade. Se
o mundo está assim,
Para que haja a adequada integração professor- ele por si só já
ensina isso aos mais
aluno, é necessário que o professor da sala regular e os novos. Cabe, então,
às escolas, que têm
especialistas de educação das escolas tenham como um de seus
principais papéis, o
conhecimento sobre o que é deficiência, quais são seus caráter formativo,
apresentar aos
principais tipos, causas, características e as alunos justamente o
que o meio social
necessidades educativas de cada deficiência. O
atual não apresenta:
professor precisa, antes de tudo, ter vasta visão desta a vida em
cooperação e a
área, que deve ser procedente de sua formação possibilidade - rica,
por sinal - de
acadêmica. Hoje, poucas escolas e universidades, que convivência com a
diversidade”. Para
formam professores, abordam adequadamente a saber mais visite o
site da Revista
questão da deficiência em seus currículos. Brasileira de
Educação Especial.
Necessitamos mudar essa realidade. A atualização
http://www.scielo.br
periódica também é imperativa, devendo ocorrer por
/scielo.php/script_sc
meio de cursos, seminários e formação em serviço. i_serial/lng_pt/pid_1
413-6538/nrm_iso

É importante que os professores tomem ciência


do diagnóstico e do prognóstico do aluno com
necessidades educativas especiais, entrevistem pais ou Para pensar
responsáveis para conhecer todo o histórico de vida
desse aluno, a fim de delinear estratégias conjuntas de É no espaço da
relação entre
estimulação família-escola, solicitem orientações e professor e aluno
que a formação do
encaminhem para profissionais como psicólogos, cidadão se realiza,
efetivando a missão
fisioterapeutas, fonoaudiólogos que estejam atendendo maior da educação.
Que tal levantar uma
ou que já atenderam esses alunos, solicitando discussão com seus
colegas sobre essa
relatórios e avaliações, e pesquisem várias técnicas, afirmação?
métodos e estratégias de ensino, em que varáveis
como o desenvolvimento da linguagem, o desenvolvimen
Aula 1 | O aluno com necessidades educacionais especiais no contexto da 22
comunidade escolar

to físico e sobretudo as experiências sociais estejam


presentes.

A integração professor-aluno só ocorre quando


há uma visão despida de preconceito, cabendo ao
professor favorecer o contínuo desenvolvimento dos
alunos com necessidades educativas especiais. Não é
trabalho fácil, mas é possível. Quando ocorre, torna-se
uma experiência memorável para ambos.

A interação aluno-aluno traz à tona as diferenças


interpessoais, as realidades e experiências distintas que
os mesmos trazem do espaço familiar, a forma como
eles lidam com o diferente, os preconceitos e a falta de
paciência em aceitar o outro como ele é. Todos os
alunos das classes regulares devem receber orientações
sobre a questão da deficiência e as formas de
convivência que respeitem as diferenças, o que não é
tarefa fácil, mas possível de ser realizada. Levar os
alunos de classes regulares a aceitarem e respeitarem
os portadores de deficiência é um ato de cidadania.

EXERCÍCIO 3

Os critérios de adaptação curricular são indicadores do


que os alunos devem aprender, de como e quando
aprender, das distintas formas de organização do
ensino e de avaliação da aprendizagem com ênfase na
necessidade de previsão e provisão de recursos e apoio
adequados. Por que nosso sistema educacional não
utiliza tais critérios?

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Aula 1 | O aluno com necessidades educacionais especiais no contexto da 23
comunidade escolar

Cabe a todos profissionais de escolas especiais,


de classes especiais, de salas de apoio a portadores de
necessidades especiais, aos teóricos da educação
inclusiva, aos profissionais das escolas regulares e às
equipes multidisciplinares e de saúde o papel primordial
da integração de ações, da otimização dos recursos e
dos atendimentos, da criação de caminhos de
comunicação que considerem a questão da inclusão
social como prioritária e posterior à inclusão escolar.

As adaptações curriculares, propriamente ditas,


são modificações do planejamento, objetivos,
atividades e formas de avaliação, no currículo como um
todo, ou em aspectos dele, para acomodar os alunos
com necessidades especiais.

A realização de adaptações curriculares é o


caminho para o atendimento às necessidades
específicas de aprendizagem dos alunos. No entanto,
identificar essas “necessidades” requer que os sistemas
educacionais modifiquem não apenas as suas atitudes e
expectativas em relação a esses alunos, mas que se
organizem para construir uma real escola para todos,
que dê conta dessas especificidades.

A inclusão de alunos com necessidades especiais


na classe regular implica o desenvolvimento de ações
adaptativas, visando à flexibilização do currículo, para
que ele possa ser desenvolvido de maneira efetiva em
sala de aula, e atender as necessidades individuais de
todos os alunos. De acordo com o MEC/SEESP/SEB
(1998), essas adaptações curriculares realizam-se em
três níveis:

 Adaptações ao nível do projeto pedagógico


(currículo escolar) que devem focalizar,
principalmente, a organização escolar e os
serviços de apoio, propiciando condições
estruturais que possam ocorrer ao nível de sala
Aula 1 | O aluno com necessidades educacionais especiais no contexto da 24
comunidade escolar

de aula e ao nível individual.

 Adaptações relativas ao currículo da classe,


Para refletir que se referem, principalmente, à
programação das atividades elaboradas para
Como política de
educação, a inclusão sala de aula.
de alunos que
apresentam
 Adaptações individualizadas do currículo, que
necessidades
focalizam a atuação do professor na avaliação
educacionais
especiais na rede e no atendimento a cada aluno.
regular demanda
não apenas a
matrícula do aluno
Para a estimulação da pessoa com deficiência, a
ou a permanência
física junto com tecnologia da informação é fundamental, pois a
aqueles
considerados velocidade da renovação do saber e as formas
normais, mas
representa a interativas da cibercultura trazem uma nova esperança
possibilidade de
revermos de educação para essa clientela. É necessário, portanto,
concepções e
paradigmas, num criar serviços e propostas educativas abertas e flexíveis
profundo respeito
pelas suas que atendam às necessidades de transformação.
diferenças. Conviver
com as diferenças -
não será esta uma A cibercultura não só demonstra que a maior
das maiores
dificuldades da parte dos conhecimentos adquiridos por uma pessoa no
humanidade e,
portanto, da escola? início de sua vida educacional estará ultrapassada ao
final de certo tempo, como também aponta novas
formas de habilitação e reabilitação de pessoas com
necessidades educativas especiais. Esse fenômeno de
captação de mutações constantes deve ser posto ao
alcance das pessoas com necessidades especiais.

O terceiro passo para a inclusão social de


portadores de deficiência é a criação de mecanismos
fortalecedores desses direitos, tais como destinação de
maiores verbas públicas para os projetos que atendam
a esse segmento e participação de entidades de defesa
de deficientes e para deficientes nos processos
decisórios de todas as áreas diretamente envolvidas no
atendimento dessa população.

A mídia não pode ser esquecida, pois possui um


papel essencial na promoção de atitudes positivas no
sentido da inclusão de pessoas portadoras de deficiência
Aula 1 | O aluno com necessidades educacionais especiais no contexto da 25
comunidade escolar

na sociedade. A criação de equipes de intercessão em


sistemas junto aos conselhos de defesa da pessoa Para
pesquisar
deficiente, que mostrem ao governo, à sociedade e à
mídia os acertos e desacertos da inclusão social e
É preciso identificar
escolar e seus prognósticos para curto, médio e longo barreiras que
estejam impedindo
prazo, devem ser considerados. ou dificultando o
processo educativo.
A avaliação
A prática da desmistificação de portadores de educacional, ao
contrário do modelo
deficiência deve ser parte integrante de planos clínico, tradicional,
classificatório,
nacionais de educação, que objetivem atingir educação deverá sinalizar o
processo de
para todos. A inclusão escolar traz no seu bojo a desenvolvimento e
aprendizagem - o
equiparação de oportunidades, a mútua interação de potencial do aluno,
os conhecimentos já
pessoas com e sem deficiência e o pleno acesso aos adquiridos e aqueles
recursos da sociedade. Cabe lembrar que uma que estão em
processo. Dentro da
sociedade inclusiva tem o compromisso com as perspectiva de
Vygotsky, temos de
minorias e não apenas com as pessoas portadoras de estar atentos aos
conhecimentos que,
deficiência. A inclusão escolar é, na verdade, uma através das
interações, vão se
medida de ordem econômica, uma vez que o portador construindo. Quais
são as barreiras a
de deficiência e outras minorias tornam-se cidadãos remover para a
inclusão do aluno no
produtivos, participantes, conscientes de seus direitos e processo
pedagógico?
deveres, diminuindo, assim, os custos sociais. Dessa
forma, lutar a favor da inclusão escolar deve ser
responsabilidade de cada um e de todos coletivamente.

No ambiente escolar em especial, um meio físico


acessível pode ser extremamente libertador e pode
transformar a possibilidade de integração entre as
crianças e o seu desempenho. Os ambientes
inacessíveis são fator preponderante na dificuldade de
inclusão na escola para as pessoas com deficiência e
podem determinar que alguns sejam excluídos também
do mercado de trabalho. O meio pode reforçar uma
deficiência valorizando um impedimento ou torná-la
sem importância naquele contexto. Pode tornar-nos
mais eficientes, hábeis ou independentes.

As escolas passaram a receber um contingente


de alunos que apresentam diferentes formas para
caminhar, deslocar-se, escrever, brincar. E se espera das
Aula 1 | O aluno com necessidades educacionais especiais no contexto da 26
comunidade escolar

instituições, que seus professores, seu espaço, seu


mobiliário estejam adequados a recebê-los. No entanto,
não é essa a realidade que encontram, por exemplo,
Para refletir
crianças que apresentam algum comprometimento
motor ou que chegam em seu primeiro dia de aula em
Depoimento de uma
diretora de escola cadeiras de rodas.
pública do nordeste
do Brasil: “Antes, eu
não tinha coragem
Ao se receber os alunos com barreiras, que
de aceitar um aluno
surdo na escola impedem alguns ao simples acesso à sala de aula, ao
porque não sabia
como ajudá-lo e o computador ou à ida ao banheiro com autonomia, está
que fazer. Agora,
não tenho coragem instaurado um poderoso fator de exclusão social e não
de recusar a
matrícula”. haverá inclusão de fato, baseada unicamente na
A fala dessa diretora
que participava de dedicação e boa vontade dos professores e
um curso de
atualização docente funcionários, que se desdobram para que ela aconteça.
expressa sua
mudança de É preciso que a infra-estrutura da escola seja coerente
postura, a partir do
com os princípios de inclusão, e espelhe o respeito a
conhecimento e da
identificação de estes alunos, através do cuidado com instalações aptas
necessidades
educacionais a recebê-los sem restrições, em um meio ambiente
especiais, referentes
ao alunado com atento às suas diferenças.
deficiência auditiva.
A explicitação dos
recursos existentes É grande o desafio que se coloca à escola de
e nem sempre
disponíveis, o encontrar formas de responder efetivamente às
reconhecimento de
mecanismos de necessidades educativas de uma população escolar
marginalização,
segregação e cada vez mais heterogênea, de construir uma Escola
exclusão contribuem
para o desvelamento Inclusiva, uma escola que aceite todos e trate de forma
e a superação de
preconceitos, diferenciada.
estereótipos e
estigmas.A
compreensão das Assim, segundo Correia, 1997, para que o
representações e do
imaginário social processo de Inclusão se verifique levantam-se uma
acerca da surdez
série de questões:
poderá contribuir
para a distinção
entre necessidades
intrínsecas à  “Que tipo de mudanças será
deficiência e seus necessário efetuar na classe regular
efeitos na quanto à sua organização, gestão e
perspectiva cultural apropriação curricular?
que a envolve.
Concorda?  Que formação (inicial, especializada,
contínua) para o professor (do ensino
regular, da educação especial)?
 Que tipo de recursos humanos e
materiais têm que ser considerados
(técnicos especializados – psicólogos,
terapeutas, técnicos dos serviços
sociais etc. – dentro da classe regular
Aula 1 | O aluno com necessidades educacionais especiais no contexto da 27
comunidade escolar

quando necessário; financiamento


apropriado)?
 Que tipo de legislação deve ser
criada?
 Que tipo de atitudes e expectativas
devem mudar?”

Sabe-se que essa mudança há muito vem sendo


tentada, reconhece-se que estas grandes mudanças
não se fazem de um dia para o outro. Mas uma análise
sistemática permite apontar para três níveis de
investimento:

NÍVEL POLÍTICO

 Flexibilidade / Rigidez do sistema educativo.


 Legislação e medidas alternativas previstas.
 Recursos materiais e humanos, apoios
complementares.
Importante
 Formação de professores.
 Critérios de transição e retenção (avaliação). Propor um programa
eficiente orientando
pais, educadores e
NÍVEL ESCOLAR desenvolvendo
habilidades antes
não conhecidas ou
 Gestão e administração escolar, defesa de ignoradas, faz com
que toda ação
uma política de inclusão. educativa seja
direcionada para
 Organização social escolar. três eixos
primordiais (escola,
 Recursos educativos e apoios família e
comunidade) para
complementares. qualquer estudante,
seja ele deficiente
 Relação escola/família/comunidade. físico, deficiente
visual, deficiente
auditivo ou
NÍVEL DE SALA DE AULA deficiente mental.
Não podendo negar
essa afirmação.
 Atitudes e sensibilidade do professor.
 Diversificação de estratégias, atividades,
materiais.
 Aprendizagem cooperativa e ensino
cooperativo.
 Os colegas como suporte social.
Aula 1 | O aluno com necessidades educacionais especiais no contexto da 28
comunidade escolar

Há responsabilidades da escola à altura de:

 Planejamento adequado e que permita uma


comunicação saudável entre o aluno, o
professor, os pais e a comunidade (não atirar
Para refletir o aluno para a classe regular sem qualquer
apoio coordenado).
O silêncio diante da  Sensibilização e ajuda aos pais e à
deficiência
/diferença que comunidade que permita o seu envolvimento
acompanha algumas
pessoas é tão grave com vista ao desenvolvimento global do
quanto um discurso
sobre a deficiência aluno.
que, defendendo a
sua inclusão, relega  Flexibilidade para perceber o fato de que nem
o agudo olhar
multicultural atendo- todos os alunos atingem os objetivos
se somente ao
aspecto curriculares ao mesmo tempo, considerando
metodológico e à
feitura das
uma multiplicidade curricular que se adapte
adaptações às características individuais de cada aluno.
curriculares no
interior da escola. A  Formação do professor, do diretor, de outros
questão aqui não é
negar o aspecto técnicos que poderá ser ao nível de instituição
técnico da
consecução da de ensino superior ou ao nível de formação
prática educativa
inclusiva, mas contínua.
pensar essa prática
como um momento
de entrever a São necessárias mudanças tanto a nível
construção da
identidade da conceitual como estrutural, para que todos os alunos
pessoa com
deficiência na busca completem com sucesso uma educação “básica”
da superação de
estereótipos e através de um acesso similar ao currículo comum.
preconceitos. Você
já pensou nisto?
Como diz Wang (1997), alguns alunos necessitam de
mais tempo e de um nível elevado de apoio para
conseguirem dominar o currículo comum e outros
precisam de menos tempo e de menos ensino direto.
Conseqüentemente, conseguir atingir a meta da
igualdade educativa para todas as crianças e jovens,
incluindo as que têm necessidades educativas
especiais, exige a mudança de um sistema determinado
para um sistema flexível, capaz de garantir a igualdade,
na “oportunidade de aprender”, a todos os alunos.

As descobertas das últimas investigações assim


como o conhecimento dos resultados da implementação
de alguns programas inovadores nas escolas ajudam a com-
Aula 1 | O aluno com necessidades educacionais especiais no contexto da 29
comunidade escolar

preender melhor como se pode tornar o ensino mais


eficaz e a forma como pode ser melhorada a
aprendizagem dos alunos. Estas descobertas apontam
estratégias alternativas aos serviços de apoio
tradicionais, as quais são substancialmente mais
eficazes. “Baseados na riqueza das descobertas das
investigações das últimas décadas sobre a eficácia”, é
possível imaginar uma variedade de programas
experimentais que poderão provocar a capacidade das
escolas em responder de forma mais eficiente à
diversidade entre os alunos e a uma eqüidade nos
resultados da sua aprendizagem” (Ainscow,1991;
Hegartty,1993; Wang, Reinolds e Walberg, 1987/91,
citados por Bueno, 1997).

Além dos valores e crenças das pessoas envolvidas


na educação escolar, outros fatores internos, tais
como a organização (administrativa e disciplinar), o
currículo, os métodos e recursos humanos e
materiais da escola comum são os principais
determinantes das condições para a inclusão ou
não-segregação, para a integração ou até mesmo
para a segregação de alunos portadores de
deficiências. Entretanto, é importante observar que
a escola é apenas uma dentre as instituições sociais.
Ela pode até desencadear internamente mudanças
para a obtenção de resultados mais imediatos, mas,
isoladamente pouco poderá fazer ou mesmo mudar
de fato, enquanto as atitudes do meio circundante
permanecerem não problematizadas e continuarem
se exercendo como já instaladas. O que não significa
ignorar a "potencialidade dinâmica da educação
escolar como impulsionadora das mudanças
estruturais".
O que você poderia discutir sobre o assunto com seu
grupo de estudo?

Como diz Porter (1997), nesta nova abordagem


da educação de todos os alunos com necessidades
especiais, é fundamental que o professor acredite e
seja capaz de aceitar a responsabilidade do progresso
de todos os alunos. A averiguação demonstra
claramente que as atitudes e as expectativas dos
professores têm um impulso significativo no
autoconceito e no sucesso dos alunos.
Aula 1 | O aluno com necessidades educacionais especiais no contexto da 30
comunidade escolar

Um programa inclusivo implica serviços


organizados com base numa abordagem de apoio
colaborativo que substituam o modelo tradicional
baseado na avaliação do aluno, na prescrição, no
ensino especializado. Isto implica também que o
professor do ensino regular deve acreditar e aceitar que
os alunos com necessidades educativas especiais
pertencem à educação regular; e deve confiar que eles
serão capazes de aprender nesta situação.

Muitas das dificuldades em conseguir um ensino


mais eficaz passam pela dificuldade de caracterização
das diferenças individuais e respectiva informação, que
muitas vezes não serve de ajuda para a tomada de
decisões educativas. Na prática corrente, a forma de
lidar com a diversidade no processo de ensino e de
aprendizagem e com as necessidades de apoio dos
alunos passa pela classificação das diferenças,
utilizando termos como “crianças com dificuldades de
aprendizagem”, “crianças com perturbações sócio-
Para pensar
emocionais” ou “crianças em risco”. Estes “rótulos” não
trazem nenhuma informação útil aos professores e
Toda mudança nos
assusta? Será que diretores para ajudá-los a proporcionar o currículo e
nós seremos
capazes de instrução adequados às necessidades do aluno.
construirmos uma
escola inclusiva?
Teremos controle Segundo Wang (1997), “os programas para os
sobre a situação,
sendo responsáveis alunos com necessidades específicas são muitas vezes
por tudo? A
mudança, se baseados num currículo e num método educativo
acontecer, no que
poderá nos afetar? simplificado que minimiza os problemas (Scardamalia e
A resposta é
enfrentar! As
Beréiter, 1989). Muitas vezes, parece ser suficiente ter
pessoas incluídas
conseguido manter ordem na classe, reduzir o currículo
têm o direito e a
opção pela ao ensino de competências simples e diminuir o envio
mudança, são dadas
as oportunidades. A dos alunos ao gabinete do diretor. Há uma tendência
mudança é
inevitável. para negligenciar as matérias fundamentais e a
experiência demonstra que os alunos que foram
encaminhados para programas destinados a responder
às suas necessidades particulares de aprendizagem
recebem menor quantidade de instrução (Allington e
Johnston, 1986; Haynes e Jenkins, 1986)".
Aula 1 | O aluno com necessidades educacionais especiais no contexto da 31
comunidade escolar

Segundo a mesma autora, muitas vezes as


estratégias convencionais utilizadas para apoiar a
diversidade das crianças contribuem para agravar os
seus problemas de aprendizagem. Assim, ao tentar-se
a igualdade de oportunidades educativas, sem
assegurar um igual acesso ao currículo normal, só
estará a contribuir-se para a desigualdade. Não basta,
pois, compensar as diferenças na aprendizagem através
duma facilitação do sucesso escolar para grupos
selecionados de alunos; é importante que os alunos
aprendam mais e mais, desenvolvendo o seu processo
de aprendizagem.

A Educação Inclusiva, entendida sob a dimensão


curricular, significa que o aluno com necessidades
especiais deve fazer parte da classe regular,
aprendendo as mesmas coisas que os outros – mesmo
que de modos diferentes – tocando ao professor fazer
as necessárias adaptações (UNESCO, s/d).

Um currículo que leve em conta a diversidade


Para pensar
deve ser, antes de tudo, flexível, e passível de
adaptações, sem perda de conteúdo. Deve ser De que tipos de
desenhado tendo como objetivo geral a “redução de recursos ou apoios
diferentes alunos,
barreiras atitudinais e conceituais, e se pautar em uma com diferentes tipos
de necessidades
reestruturação do processo de aprendizagem na sua especiais (deficiência
visual, auditiva e /ou
relação com o desenvolvimento humano”. cognitiva, distúrbios
de comportamento,
múltiplas
deficiências, altas
Não se trata apenas de pequenas modificações habilidades),
precisam para que
pontuais que o professor venha a fazer em termos de possam estudar em
escolas inclusivas
métodos e conteúdos. Pelo contrário, implica, com aproveitamento
sobretudo na “reorganização do projeto político- acadêmico?

pedagógico” de cada escola e do sistema escolar como


um todo, levando em consideração “as adaptações
necessárias para a inclusão e a participação efetiva de
alunos com necessidades especiais em todas as
atividades escolares”.
Aula 1 | O aluno com necessidades educacionais especiais no contexto da 32
comunidade escolar

Como ensinar ao aluno com deficiência junto


com os demais é o grande nó e desafio da Educação
Inclusiva, pois é neste aspecto que a inclusão deixa de
ser uma filosofia, uma ideologia ou uma política, e se
torna ação concreta em situações reais envolvendo
indivíduos com dificuldades e necessidades específicas.
Pois, pelo menos em nosso país, a inclusão que se
ambiciona ocorrerá em um contexto de uma escola

Importante deficitária (as estatísticas de repetência, fracasso e


evasão escolar mostram que o problema não atinge
Na escola inclusiva apenas os chamados alunos com necessidades
deve haver uma
mudança na especiais), um professor que não foi formado para lidar
postura, na
transmissão direta com a diferença, e alunos com grandes dificuldades de
do conhecimento
para a construção aprendizagem devido a deficiências reais sensoriais,
coletiva; o
desenvolvimento da intelectuais, psicológicas e/ou motoras, sem contar as
competência
didática do sócio-econômicas e culturais.
professor, a
apropriação do
saber valorizado Poderemos então perguntar: O que é que ajuda
devem ser avaliados
pela qualidade do os alunos a aprenderem?
que produzem e não
pela quantidade do
que foi feito, deve Os alunos com necessidades
haver mudança nas
relações da educativas especiais, tal como os
comunidade. outros alunos, necessitam de um
Mais do que criar ensino bom ou claramente eficaz, de
condições para os modo que se consiga que atinjam
deficientes, a
inclusão é um maior sucesso.
desafio que provoca (Wang,1997)
mudar a escola
como um todo, no Apresentamos aspectos importantes a serem
projeto pedagógico,
na atitude diante repensados para que a inclusão possa se realizar, com
dos alunos, na
filosofia, valorizando sucesso, no nosso sistema educacional:
as particularidades
de cada um, sem
nenhum tipo de
distinção.  A importância da formação continuada dos
professores;
 A necessidade da Educação de Jovens e
Adultos (EJA) para alunos mais velhos;
 O grande número de alunos em sala de aula
como aspecto desfavorável;
 A existência de pouco tempo para que os
professores preparem suas atividades com
qualidade;
Aula 1 | O aluno com necessidades educacionais especiais no contexto da 33
comunidade escolar

 O projeto de educação inclusiva definido


como um “mal necessário”;
 A dependência da “boa vontade” dos
professores;
 Certo “mal-estar” inicial, porém com apoio
externo a situação em sala de aula passou a
se tornar positiva;
 É importante que as turmas de inclusão
sejam menores;
 A importância dos intercâmbios entre Você sabia?

professores, educadores especiais e os


O crescimento das
professores das salas de recursos. tecnologias e de
seus recursos nem
sempre são
A inclusão digital acompanhados pela
sua democratização,
assim como a
Em informática, programas que provêm evolução das
práticas de Direitos
acessibilidade são ferramentas ou conjuntos de das pessoas com
necessidades
ferramentas que permitem que portadores de especiais?
Há uma defasagem
deficiências (as mais variadas) se utilizem dos recursos no campo da
utilização de
que o computador oferece. Essas ferramentas podem recursos
tecnológicos e de
constituir Impressoras Braille para deficientes visuais, informação para as
teclados virtuais para portadores de deficiência motora pessoas com
necessidades
ou com dificuldades de coordenação motora, especiais no Brasil?
Enquanto temos
sintetizadores de voz para pessoas com problemas de uma profusa
produção de
fala. recursos (de
softwares
educacionais, de
A palavra "tecnologia" encontra-se hoje com a hardware adaptado,
de tecnologia
mesma difusão de outrora das palavras "democracia e auxiliar ou assistiva,
tanto nacional como
liberdade". O homem chamado moderno não pode se importada) não se
constata uma real
desprender destes significados e significantes tão distribuição de sua
utilização e difusão
próximos, embora ainda com uma certa dose de utopia
eqüitativa por todo o
na sua realização. As novas tecnologias já ultrapassam território nacional?

o campo do visível e das ferramentas, são também


meios e métodos de intervenção na vida de todos nós.

O sucesso de alunos com deficiência pode ficar


afetado pela falta de recursos e soluções que os
auxiliem na superação de dificuldades funcionais no
ambiente da sala de aula e fora dele. É o que se observa
Aula 1 | O aluno com necessidades educacionais especiais no contexto da 34
comunidade escolar

nas escolas, a partir das situações e necessidades


específicas destes alunos, cujo aprendizado e a
realização de atividades próprias da rotina escolar,
junto com toda a turma, são desafiadores para eles,
seus familiares, colegas e professores. Os recursos e as
alternativas disponíveis são considerados algo caro e
pouco acessíveis para todos. Por isso, torna-se
necessário disseminar esse conhecimento e fomentar a
produção de tecnologias assistivas.

A educadora que busca a resolução de


problemas funcionais, no dia a dia da escola, mesmo
sem o saber, produz tecnologia assistiva. Por exemplo,
ao engrossar o lápis para facilitar a preensão e a escrita
ou ao fixar a folha de papel com uma fita aderente para
possibilitar que não deslize com a movimentação
involuntária do aluno. Ou ainda, ao projetar um assento
e um encosto de cadeira que garanta equilíbrio postural
e favoreça o uso funcional das mãos. Ao fazer isso, a
professora cria soluções e estratégias, a partir do
reconhecimento de um universo particular. Assim, a
tecnologia assistiva deve ser compreendida como
resolução de problemas funcionais, em uma perspectiva
de desenvolvimento das potencialidades humanas,
valorização de desejos, habilidades, expectativas
positivas e da qualidade de vida.
Aula 1 | O aluno com necessidades educacionais especiais no contexto da 35
comunidade escolar

EXERCÍCIO 4

No âmbito das concepções sobre o tema poderíamos


preliminarmente buscar a compreensão sobre os
conceitos de inclusão /exclusão digital, numa tentativa
de identificar possíveis posições epistemológicas,
ideológicas e sociopolíticas, através da seguinte
questão:

Considerando que a concepção de exclusão pressupõe


uma subseqüente inclusão, que relações poderiam ser
identificadas a partir dos binômios: inclusão / exclusão
(social / escolar / digital)?

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____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

Da análise sobre a tecnologia na educação,


surge o conceito de educação inclusiva como paradigma
que absorve e articula todos os fatores relativos à ética
da tecnologia, fazendo possível alargar a relação entre
tecnologia e educação, demonstra no avanço evidente
da expressão "tecnologia educativa" à expressão
"tecnologia na educação". Esta expressão enfatiza no
impacto da geração e uso da tecnologia nos diversos
campos de ação educativa propondo atingir um balanço
positivo entre inovação e atualização tecnológica e
científica junto ao desenvolvimento de valores que
iluminem o rumo da ética da tecnologia em função de
um desenvolvimento humano global.

Determina-se, assim, o ambiente da tecnologia


na educação como conhecimento aplicado na formação
das pessoas para sua participação qualificada científica e
Aula 1 | O aluno com necessidades educacionais especiais no contexto da 36
comunidade escolar

eticamente na produção, transformação,


comercialização e utilização de bens e serviços,
sobretudo naqueles referentes à informação e
comunicação.

Tecnologia Assistiva é um termo ainda novo


utilizado para identificar todo o arsenal de Recursos e
Serviços que contribuem para proporcionar ou ampliar
habilidades funcionais de pessoas com deficiência e
conseqüentemente promover Vida Independente e
Inclusão.
Para refletir

Os Recursos são todo e qualquer item,


“Precisamos buscar equipamento ou parte dele, produto ou sistema
informações que
transformem a fabricado em série ou sob medida utilizado para
sociedade, utilizando
as produções aumentar, manter ou melhorar as capacidades
tecnológicas e os
meios de funcionais das pessoas com deficiência. Os serviços são
comunicação de
forma responsável e definidos como aqueles que auxiliam diretamente uma
com a suavidade e
ternura de homens pessoa com deficiência a selecionar, comprar ou usar
que buscam
sinceramente os recursos acima definidos.
aprender a
aprender, não se
RECURSOS
contentando com
apenas a invenção
de novas técnicas ou Podem variar de uma simples bengala a um
ferramentas, mas
sim invenção de complexo sistema computadorizado. Estão incluídos
sentido”. (Dr. Jorge
Márcio Pereira de brinquedos e roupas adaptadas, computadores,
Andrade, Psiquiatra,
presidente e softwares e hardwares especiais, que contemplam
fundador do DEFNET
– Centro de questões de acessibilidade, dispositivos para adequação
Informática e
Informações sobre da postura sentada, recursos para mobilidade manual e
Paralisias Cerebrais
– RJ).
elétrica, equipamentos de comunicação alternativa,
chaves e acionadores especiais, aparelhos de escuta
assistida, auxílios visuais, materiais protéticos e
milhares de outros itens confeccionados ou disponíveis
comercialmente.

OBJETIVOS DA TECNOLOGIA ASSISTIVA

Proporcionar à pessoa com deficiência maior


independência, qualidade de vida e inclusão escolar e
social, através da ampliação de sua comunicação, mobi
Aula 1 | O aluno com necessidades educacionais especiais no contexto da 37
comunidade escolar

lidade, controle de seu ambiente, habilidades de seu


aprendizado, trabalho e integração com a família,
amigos e sociedade.

Modalidades especializadas como sala de recursos,


por exemplo, se devidamente organizadas e integradas na
proposta pedagógica da escola, são um excelente
instrumento de apoio ao professor que tem alunos com
deficiências em sua classe. A existência no sistema escolar
desse tipo de apoio traz ao professor de classe regular
certa segurança pedagógica, que lhe permite lidar com o
desconhecido e, então, aceitar o desafio de forma mais
tranqüila.

PRINCIPAIS TIPOS, SEGUNDO ÁREAS DE


APLICAÇÃO

 Adaptações para Atividades da Vida Diária:


Dispositivos que auxiliam no desempenho de
tarefas de autocuidado, como o banho, o
preparo de alimentos, a manutenção do lar,
alimentar-se, vestir-se, entre outras.
 Sistemas de Comunicação Alternativa:
Permitem o desenvolvimento da expressão e
recepção de mensagens. Existem sistemas
computadorizados e manuais. Variam de
acordo com o tipo, severidade e progressão
da incapacidade.
 Dispositivos para Utilização de
Computadores: Existem recursos para
recepção e emissão de mensagens, acessos
alternativos, teclados e mouses adaptados,
que permitem às pessoas com incapacidades
físicas operar em computadores.
 Unidades de Controle Ambiental: São
unidades computadorizadas que permitem o
controle de equipamentos eletrodomésticos,
sistemas de segurança, de comunicação, de
iluminação, em casa ou em outros ambientes.
Aula 1 | O aluno com necessidades educacionais especiais no contexto da 38
comunidade escolar

 Adaptações Estruturais em Ambientes


Domésticos, Profissionais ou Públicos: São
dispositivos que reduzem ou eliminam
barreiras arquitetônicas, como por exemplo,
rampas, elevadores, entre outros.
 Adequação da Postura Sentada: Existe um
grande número de produtos que permitem
montar sistemas de assento e adaptações em
cadeiras de rodas individualizadas. Permitem
uma adequação da postura sentada que
favorece a estabilidade corporal, a
distribuição equilibrada da pressão na
superfície da pele, o conforto, o suporte
postural.
 Adaptações para Déficits Visuais e Auditivos:
São os ampliadores, lentes de aumento, telas

Para refletir aumentadas, sistemas de alerta visuais e


outros.
As barreiras para a  Equipamentos para a Mobilidade: São as
inclusão de
deficientes talvez cadeiras de rodas e outros equipamentos de
estejam mais em
nossas cabeças do mobilidade, como andadores, bengalas,
que em problemas
efetivos. Como muletas, e acessórios. Ao selecionar um
durante muito
tempo os deficientes dispositivo de auxílio à mobilidade, este deve
estiveram
segregados, a ser adequado à necessidade funcional do
sociedade acabou
por reforçar seus
usuário, avaliando-se força, equilíbrio,
preconceitos e nos
coordenação, capacidades cognitivas,
acostumamos a
mantê-los sempre medidas antropométricas e postura funcional.
isolados e
marginalizados.  Adaptações em Veículos: Incluem as
Como será que
conseguimos modificações em veículos para a direção
manter, por tanto
tempo, tantas segura, sistemas para acesso e saída do
pessoas à margem
da sociedade, sem veículo, como elevadores de plataforma ou
acesso à educação,
a emprego e ao dobráveis, plataformas rotativas, plataformas
consumo? Como
responderemos a
sob o veículo, guindastes, tábuas de
esta pergunta?
transferência, correias e barras.
Aula 1 | O aluno com necessidades educacionais especiais no contexto da 39
comunidade escolar

A AVALIAÇÃO

A Educação traz para a avaliação, segundo o


nosso ponto de vista, a visão de homem e de sociedade
que a inspira. Se esta visão é rígida, classificatória e
calcada em padrões “normalizantes” – como a da maior
parcela da nossa sociedade – a avaliação dela
decorrente é a que vivenciamos na realidade escolar:
meritocrática e discriminatória. Neles ainda prevalece o
culto aos padrões estabelecidos de beleza, de aptidão e
de intelectualidade.

EXERCÍCIO 5

É importante que os alunos se auto-avaliem e nesse


sentido o professor precisa criar instrumentos que os
exercitem /auxiliem a adquirir o hábito de refletir sobre
as ações que realizam na escola e como estão
vivenciando a experiência de aprender. Você acredita
que a auto-avaliação é importante no processo ensino e
aprendizagem?

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____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

Uma avaliação que leva em conta as


diversidades, da mesma forma que o currículo, precisa
sofrer adaptações. Trata-se de desenvolver uma
perspectiva crítica quanto à avaliação, incluindo questões
como: “Quais os objetivos iniciais do processo ensino -
aprendizagem?” “O que estamos realmente avaliando?”
“Para quê?” “Quais os aspectos que podem ser
modificados (em que âmbito e com qual prioridade)?”
“Quais as estratégias de mudança decorrentes da avalia
Aula 1 | O aluno com necessidades educacionais especiais no contexto da 40
comunidade escolar

ção realizada?” “Qual a participação do aluno nesse


processo avaliativo” (será ele apenas o objeto da
avaliação?), entre outros.

O aluno portador de necessidades educacionais


especiais é um indivíduo que se desenvolve de forma
qualitativamente diferente, mas não pode ser
considerado inferior ou incapaz de aprender.

Deve ser mudada a tendência vigente de avaliar


apenas o que o aluno realiza sozinho, e se passar a
avaliar também o que ele é capaz de realizar em grupo,
ou com o auxílio do professor.

A avaliação deve ser realizada


consecutivamente, evitando-se o uso apenas de “cortes
Dica da avaliativos” transversais. Estes podem sofrer a
professora
influência de variáveis que intervêm no processo só

A avaliação deve naquele momento, mascarando assim o desempenho


servir para ajudar o
desenvolvimento do
dos alunos. É fundamental que o professor utilize
aluno, partindo de registros, para que a longitudinalidade, citada
ações do professor
como: observação, anteriormente, ocorra. Principalmente na realidade
questionamento,
registro e feedback, educacional do nosso país, em que predominam as
tendo alguns
indicadores como turmas numerosas, os registros permitem que o
parâmetro para todo
o processo. É assim professor não perca os dados da avaliação.
que temos avaliado
nossos alunos?

É preciso assinalar que a educação inclusiva não


pode ser uma forma de negar as necessidades
educativas especiais específicas de cada aluno.
Sugerimos que não se fale em inclusão para todos e
sim para cada um. A individualização do processo
ensino-aprendizagem é a base em que se constitui um
currículo inclusivo. E isso implica se reconhecer as
características e dificuldades individuais, para, então,
determinar que tipo de adaptações são necessárias, ou
não, para que o aluno aprenda.
Aula 1 | O aluno com necessidades educacionais especiais no contexto da 41
comunidade escolar

Conclusão

Para refletir
A escola inclusiva “é a que propicia ao aluno,
com necessidades especiais, a apropriação do
Superar o sistema
conhecimento escolar, junto com os demais. Se essa tradicional de
ensinar e de
dimensão for minimizada ou mascarada, o aluno aprender é uma
finalidade que temos
acabará aprendendo menos que no sistema especial, de efetivar
urgentemente nas
mesmo que socialmente ele se desenvolva e amplie salas de aula, pois
são elas as
seus horizontes”. incubadoras do novo
e de onde sairão os
que vão
No desenvolvimento da dinâmica cotidiana, definitivamente
constituir as bases
devemos considerar importante que as aulas incluam do futuro de nossa
sociedade – as
diferentes alternativas para abordar o assunto do dia, crianças e jovens de
hoje.
de forma que os vários “estilos” e interesses de Recriar o modelo
educativo refere-se,
aprendizagem tenham vazão. O professor deve primeiramente, ao
que ensinamos aos
aprender a planejar as suas aulas de maneira alunos e a como os
ensinamos para que
diversificada, para que cada aluno tenha oportunidade cresçam e se
desenvolvam sendo
e possibilidade de participação e, ao final, contribua
seres éticos, justos
para a aprendizagem geral do grupo. Independente da e revolucionários,
pessoas que têm de
composição da turma, o professor deve ser capaz de reverter uma
situação de que não
preparar e coordenar as atividades de sala de aula, demos conta, ou
seja, transformar o
imprimindo às mesmas uma dinâmica mais compatível mundo e torná-lo
mais humano.
com a realidade social e menos enfadonha para os
alunos. Além disso, em uma aula inclusiva atividades
de caráter comparativo e competitivo devem ser
substituídas por aquelas que incentivem a cooperação
entre os alunos.
Aula 1 | O aluno com necessidades educacionais especiais no contexto da 42
comunidade escolar

EXERCÍCIO 6

Julgue os itens abaixo:

a) As adaptações curriculares, propriamente ditas,


são modificações do planejamento, objetivos,
atividades e formas de avaliação, no currículo
como um todo, ou em aspectos dele, para
acomodar os alunos com necessidades especiais.
b) A realização de adaptações curriculares é o
caminho para o atendimento às necessidades
específicas de aprendizagem dos alunos.
c) A inclusão de alunos com necessidades especiais
na classe regular implica o não desenvolvimento
de ações adaptativas, visando à flexibilização do
currículo.
d) Um currículo que não leve em conta a diversidade
deve ser, antes de tudo, flexível e passível de
adaptações, sem perda de conteúdo.
e) Há uma tendência para negligenciar as matérias
fundamentais e a experiência demonstra que os
alunos que foram encaminhados para programas
destinados a responder às suas necessidades
particulares de aprendizagem recebem menor
quantidade de instrução.
Estão certos apenas os itens:

( A ) a, c, d;
( B ) a, d, e;
( C ) c, d, e;
( D ) a, b, e;
( E ) b, c, e.
Aula 1 | O aluno com necessidades educacionais especiais no contexto da 43
comunidade escolar

EXERCÍCIO 7

Julgue os itens abaixo:

a) Cabe a todos os profissionais de escolas especiais,


de classes especiais, de salas de apoio a
portadores de necessidades especiais o papel
primordial da integração de ações, da otimização
dos recursos e dos atendimentos, da criação de
caminhos de comunicação que considerem a
questão da inclusão social como prioritária e
posterior à inclusão escolar.
b) Para a estimulação da pessoa com deficiência, a
tecnologia da informação não é fundamental, pois
a velocidade da renovação do saber e as formas
interativas da cibercultura trazem uma nova
esperança de educação.
c) A cibercultura demonstra que a maior parte dos
conhecimentos adquiridos por uma pessoa no
início de sua vida educacional não estará
ultrapassada ao final de certo tempo.
d) A prática da desmistificação de portadores de
deficiência deve ser parte integrante de planos
nacionais de educação, que objetivem atingir a
educação para todos.
e) No ambiente escolar em especial, um meio físico
acessível pode ser extremamente libertador e
pode transformar a possibilidade de integração
entre as crianças e o seu desempenho.

Estão certos apenas os itens:

( A ) a, b, d;
( B ) a, d, e;
( C ) b, c, d;
( D ) b, d, e;
( E ) c, d, e.
Aula 1 | O aluno com necessidades educacionais especiais no contexto da 44
comunidade escolar

EXERCÍCIO 8

Explique o que são as Adaptações das Atividades da


Vida Diária.
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EXERCÍCIO 9

Em relação às mudanças necessárias na educação


inclusiva existem três níveis de investimento. Descreva
o nível político.

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____________________________________________
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RESUMO

Vimos que:

 A inclusão social traz no seu bojo a


equiparação de oportunidades, a mútua
interação de pessoas com e sem deficiência e
o pleno acesso aos recursos da sociedade;
Aula 1 | O aluno com necessidades educacionais especiais no contexto da 45
comunidade escolar

 É oportuno ressaltar um conjunto de


indicações, de instruções coerentes e precisas
que se faz necessário para permitir que as
ações educativas se desenvolvam de modo a
preservar a coerência do sistema escolar e ao
mesmo tempo assegurar ao professor as
condições necessárias ao desenvolvimento de
seu trabalho, de tal modo que o seu papel de
educador não seja diminuído;

 As crianças que com necessidade educativa


especial terão que se integrar e participar de
três estruturas distintas da dinâmica escolar:
o ambiente de aprendizagem, a integração
professor-aluno, e a interação aluno-aluno.
Assim, a inclusão escolar inicia.
2
O Ajuste da Escola

AULA
para todas as
Crianças
Edla Trocoli
Apresentação

Esta aula aborda a idéia de que a inclusão repousa em princípios


como o da conduta ética, o da aceitação das diferenças; o da
valorização das diversas formas de sentir, pensar e agir no
mundo; o do acesso aos bens e serviços disponíveis; o da
aprendizagem que garanta o pleno desenvolvimento; o da procura
inquieta por novas possibilidades de ação.

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja


capaz de:
Objetivos

 Destacar a importância de uma escola inclusiva que reflita e


apresente um bom projeto pedagógico que valorize a cultura, a
história e as experiências anteriores dos alunos;
 Discutir o papel da escola que promove a interatividade entre
os alunos, entre as disciplinas curriculares, entre ela própria e
seu entorno, entre as famílias e o projeto escolar;
 Compreender as principais formas de deficiência e dificuldade
dos alunos para garantir a inclusão e enfrentamento das
necessidades destes.
Aula 2 | O ajuste da escola para todas as crianças 48

Introdução

Temos o direito de acreditar que ainda


não é demasiado tarde para
empreender a criação da nova utopia
da vida, onde ninguém possa decidir,
excluir nem decidir por outro, até a
forma de morrer ou viver. Onde as
estirpes condenadas a Cem Anos de
Solidão tenham, por fim e para
sempre, uma segunda oportunidade
sobre a terra.
(Gabriel Garcia Márquez)
Para refletir
Além de fazer adaptações físicas, a escola
As crianças com precisa oferecer atendimento educacional especializado
qualquer deficiência,
independente de paralelamente às aulas regulares, de preferência no
suas condições
físicas sensoriais, mesmo local, para que todas as crianças se ajustem à
cognitivas ou
emocionais, são escola. Assim, uma criança cega, por exemplo, assiste
crianças que têm
necessidade e às aulas com os colegas que enxergam e, em outro
possibilidade de
conviver, interagir,
horário, treina mobilidade, locomoção, uso da
trocar, aprender,
linguagem braile e de instrumentos como o soroban,
brincar e serem
felizes, algumas para fazer contas. Tudo isso ajuda na sua integração
vezes, de forma
diferente. Essa dentro e fora da escola.
forma diferente de
ser e agir é que as
torna ser único,
singular. Cumprir o dever de incluir todas as crianças na
escola supõe, portanto, considerações que extrapolam
a simples inovação educacional e que implicam o
reconhecimento de que o outro é sempre e
implacavelmente distinto, pois a diferença é o que
existe e a valorização das diferenças impulsiona o
progresso educacional.

Integrar não significa simplesmente colocar a


criança numa escola regular, constitui uma mudança de
postura da escola, na forma de perceber este aluno e
preparação sistemática do professor.

O primeiro passo é sensibilizar e habilitar todos


os funcionários da instituição: professores, orientadores
e todo o pessoal que trabalha no local. É
importantíssimo também mobilizar os pais — sobretudo
Aula 2 | O ajuste da escola para todas as crianças 49

os dos não-deficientes. Todos devem desempenhar um


papel ativo no processo de inclusão.

Na realidade, e embora de uma forma


exagerada circunscrita ao nível do universo de Para pensar

interventores no processo educativo, têm acontecido


numerosos debates avulsos, dos quais parece resultar O sistema
educacional
claro que a tal Escola Inclusiva é um dado adquirido, brasileiro ainda não
se modificou o
enquanto opção filosófica e metodológica. Mas, como suficiente para
atender às
sempre acontece quando se perspectivam mudanças de especificidades e
necessidades
fundo, subsistem oposição e equívocos que, no mínimo, educativas dos
alunos com
tornam emergente a necessidade de aprofundar a deficiências graves.
Em virtude disso, o
contestação, no sentido de esclarecer conceitos e Referencial
Curricular Nacional
solidificar estratégias.
(1998) e as
estratégias e
orientações para a
Não podemos esquecer que o nosso Sistema educação de
crianças com NEE na
Educativo está firme numa estrutura pesada, Educação Infantil
(2001) recomendam
contagiada de referenciais conservadores, que só o trabalho conjunto.
A parceria e o apoio
recentemente começou a denotar alguma inclinação dos serviços
especializados para
para anuir, na plenitude deste conceito, às novas avaliação, o
atendimento às
teorias e correntes pedagógicas. necessidades
específicas e a
orientação para
Não será de estranhar, portanto, que, quando se adaptações e
complementações
fala de Escola Inclusiva, ainda se coloquem com curriculares, visando
o acesso desses
freqüência questões do gênero: alunos ao currículo
desenvolvido na
escola comum.
Concorda?
Não será só uma questão de “moda”?

A Escola Inclusiva poderá vir a ser uma


realidade ou não passa de meras proposições de
teóricos de ocasião?

Será que a Escola Inclusiva, entendida num


quadro estritamente normativo, garante só por si a
igualdade de oportunidades?

Estas questões, por mais incoerentes que


possam parecer, exigem um conjunto de respostas que
Aula 2 | O ajuste da escola para todas as crianças 50

passam, necessariamente, pela conceituação por parte


de todos os agentes educativos dos referenciais básicos
que devem estar subjacentes à constituição da escola
que pretendemos para todos. E o primeiro passo, talvez
tenha a ver com a necessidade de sinalizar ou
esclarecer alguns equívocos que, em nossa opinião,
contrariam na prática um discurso aparentemente
harmonioso e tranqüilo.

EXERCÍCIO 1

A proposta pedagógica, numa visão construtivista do


conhecimento, tem no aluno e nas suas possibilidades o
centro da ação educativa. Assim, o processo
pedagógico é construído a partir das possibilidades, das
potencialidades, daquilo que o aluno já dá conta de
fazer. É isto que o motiva a trabalhar, a continuar se
envolvendo nas atividades escolares, garantindo,
assim, o sucesso do aluno e sua aprendizagem.
Nosso sistema educacional age assim? Você acha que
seria necessária esta mudança de comportamento?

____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

O primeiro dos equívocos tem a ver com o


próprio conceito de Escola Inclusiva, que não pode
continuar a ser confundido com um modelo
organizativo, estritamente funcional, de promover a
igualdade de oportunidades. Deve satisfazer a uma
orientação filosófica do sistema, entendida num sentido
lato e dinâmico. Uma concepção redutora da Escola
Inclusiva equivale a aceitar como condição única e
suficiente a transferência de todos os alunos para o
sistema regular, sem salvaguardar previamente que es-
Aula 2 | O ajuste da escola para todas as crianças 51

tão reunidas as condições para uma acessibilidade


efetiva à igualdade de oportunidades.

Outro dos equívocos tem provavelmente a ver


com uma idéia errada sobre o contexto e condições que
estão subjacentes à segregação. Se não forem tomadas
as devidas cautelas, algumas medidas educativas
assumidas a pretexto de hipotéticas integrações podem
acabar por produzir efeitos contrários, designadamente
num sistema como o nosso, onde a tendência é ignorar
dificuldades e premiar capacidades.

Para que possamos vislumbrar uma escola para


todos, também, se faz necessário dizer que a inclusão
não deve ser de interesse somente dos pais e seus
filhos, deve ser de interesse de todos, pois é uma
proposta irreversível para os que compreenderam o
papel da escola no momento atual e para aqueles que a
tem colocado em prática. Qualquer pessoa pode ser
uma grande peça deste quebra-cabeça. "Tudo depende
de qual lado estamos e de quais princípios se acredita"
(Mantoan, 1995).

Para pensar
A garantia do direito da educação em escolas
que não excluem as pessoas sob nenhum pretexto é
A professora precisa
um sinal de desenvolvimento comunitário e de elevação compreender que a
criança com
de seus valores e atitudes, princípios e ideais. deficiência pode ser
mais lenta para agir
e dar respostas, por
isso, é preciso dar
Sabemos que é possível, urgente e indispensável mais tempo para
mudar a educação, com novos paradigmas, princípios, que ela se expresse
e realize as
ferramentas, tecnologias e que o momento é de atividades. Dessa
maneira, devem-se
abandonar as soluções paliativas e encarar seriamente buscar formas
positivas de
e com obstinação essa transformação. interação e trocas
comunicativas com a
criança, tais como
toque, olhar, gestos,
A inclusão é um processo cheio de imprevistos, posturas, palavras
adequadas ou
sem fórmulas prontas e que exige aperfeiçoamento símbolos que
expressem a
constante. "Do ponto de vista burocrático, cabe ao situação.
corpo diretivo buscar orientação e suporte das associações
Aula 2 | O ajuste da escola para todas as crianças 52

de assistência e das autoridades médicas e


educacionais sempre que a matrícula de um deficiente
é solicitada", explica Cláudia Dutra, secretária de
Educação Especial do Ministério da Educação.

"Do ponto de vista pedagógico, a construção


desse modelo implica transformar a escola, no que diz
respeito ao currículo, à avaliação e, principalmente, às
atitudes", complementa Maria Teresa Mantoan,
coordenadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas
em Ensino e Diversidade da Universidade de Campinas.
"Não podemos continuar segregando essas crianças em
escolas especiais, que oferecem um ensino pouco
Para refletir estimulante." Quem enfrenta o desafio garante: quando
a escola muda de verdade, melhora muito, pois passa a
Nos últimos anos, o
conceito de acolher melhor todos os estudantes (até os
qualidade de ensino
vem gerando
considerados "normais").
polêmica entre os
educadores e
pesquisadores DESENVOLVIMENTO
preocupados com a
precariedade da
escola brasileira.
Todos concordam Uma criança com necessidades
que a escola que educacionais especiais, antes de ser
temos precisa elevar
a sua qualidade,
alguém impedido por uma deficiência,
porém há é alguém capaz de aprender.
divergência quanto (A. D.)
aos indicadores de
qualidade, o que
implica uma Práticas inclusivas fazem parte de um processo
compreensão do
papel da educação que diz respeito não só à educação, mas à sociedade
no processo de
desenvolvimento do como um todo. O processo de inclusão social contribui
país.
Se para alguns, seu para a construção de um novo tipo de sociedade,
papel é o de formar
cidadãos conscientes aquela que pretende modificações estruturais no
e participativos
capazes de ajudar a
sistema para que as necessidades dos indivíduos
transformar as possam ser atendidas nas suas demandas. A inclusão
estruturas injustas
da sociedade, para repousa em princípios como o da conduta ética, o da
outros, a educação é
concebida como a aceitação das diferenças; o da valorização das diversas
possibilidade do país
sair da crise em que formas de sentir, pensar e agir no mundo; o do acesso
se encontra e como
estratégia de aos bens e serviços disponíveis; o da aprendizagem que
desenvolvimento
econômico. garanta o pleno desenvolvimento; o da procura inquieta
Você também
concorda? por novas possibilidades de ação. Esses pontos
envolvem uma complexidade pragmática que perpassa
Aula 2 | O ajuste da escola para todas as crianças 53

por muitos vieses, como: melhorias das condições de


vida e de salários dos profissionais; formação genérica
e especializada; compromisso e prazer no desempenho
do trabalho; mas, fundamentalmente, "mudança no
olhar" o mundo e os sujeitos do mundo. Assim, o
tempo que não temos, o valor que não recebemos, o
estudo no qual não investimos... tudo isso passa a ser
um problema de luta, de luta política contra qualquer Dica de
leitura
manifestação excludente por parte dos indivíduos ou do
poder público. A exclusão tem que ser concebida como "Desculpe, não
estamos preparados
um problema que afeta a todos e, não somente, a para receber seu
filho." Essa é a
grupos específicos: a inclusão tem que ser um desejo, resposta que muitos
pais ouvem ao
uma necessidade de todos. Nesse sentido, aqueles, que
tentar matricular um
assim se posicionam, devem clamar, gritar, denunciar, filho com deficiência
na escola regular.
comprometer-se com o processo de transformação que Realmente, muitas
escolas privadas não
afetará a todos nós. podem manter os
custos do
atendimento
educacional
Especificamente no que tange à Educação, um especializado e as
públicas não
sistema educacional inclusivo é aquele que, através de recebem recursos e
capacitação. Mas
suas políticas públicas, garante a aprendizagem e o recusar a matrícula
é crime. Em seu
desenvolvimento dos envolvidos no processo – alunos,
livro, DIREITOS DAS
professores, gestores, comunidade, família etc. PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA, (1ª
ed., Rio de Janeiro:
WVA, 2004),
O que faz uma escola ser inclusiva é apresentar Eugênia Fávero lista
medidas a serem
um bom projeto pedagógico que começa pela reflexão. tomadas pela
escola: eliminar as
Um bom projeto valoriza a cultura, a história e as barreiras
arquitetônicas
experiências anteriores dos alunos. As práticas (adaptando
banheiros e
pedagógicas também precisam ser revistas. Como as instalando rampas,
por exemplo);
atividades são selecionadas e planejadas para que
estabelecer práticas
todos aprendam? Atualmente, muitas escolas pedagógicas que
valorizem a
diversificam o programa, mas esperam que no fim das diversidade e que
não avaliem para
contas todos tenham os mesmos resultados. Os alunos excluir ou
categorizar as
precisam de liberdade para aprender do seu jeito, de crianças; e fazer
parcerias. Você
acordo com as suas condições. E isso vale para os conhece casos
semelhantes a este?
estudantes com deficiência ou não. Ensinar é marcar Que medidas podem
ser tomadas caso
um encontro com o “outro” e a inclusão escolar isto aconteça em
escolas que
provoca, basicamente, uma mudança de atitude diante
trabalhamos?
do “outro”, esse que não é mais um sujeito qualquer, com
Aula 2 | O ajuste da escola para todas as crianças 54

o qual encontramos simplesmente na nossa vivência ou


com o qual convivemos certo tempo de nossas vidas.
Mas alguém que é fundamental para a nossa
constituição como pessoa e como profissional e que nos
mostra as nossas limitações e nos faz ir adiante.

A escola inclusiva pressupõe:

 Escolas que correspondam às demandas


educacionais de sua comunidade;
 Adaptação curricular às necessidades
educacionais dos alunos;

(...) os métodos, os procedimentos de


ensino, os materiais pedagógicos e
todas as ferramentas de aprendizagem
devem ser os mesmos indicados para
crianças normais, é claro que é muito
importante compreender o processo de
desenvolvimento de cada aluno,
sobretudo para que a escola não
transfira a culpa para a criança ou
para a síndrome pela falta de sucesso,
quero dizer que se a criança não está
aprendendo faz-se necessário,
também por parte do professor, um
(re)exame da sua abordagem e
método de ensino.
(Inclusiva, On-line, 21/05/03)
Para refletir
 Avaliação e investigação contínuas do
Algumas vezes, o processo;
maior obstáculo
para o aprendizado
é que a quantidade
ou a extensão do (...) processo de avaliação não deve
material é opressiva ser classificatório, mas uma condição
para o aluno. O que proporcione ao professor e ao
aprendizado é como
segmentar para
aluno o reconhecimento das
baixo (ou dividir em necessidades, avanços e dificuldades
partes) o material para que juntos possam estabelecer as
em tamanhos mais metas de aprendizagem, evidenciando
administráveis, pois
assim a tarefa se
sempre o que a criança ou o jovem é
torna mais capaz de realizar, ou seja, o enfoque
realizável. não deve ser na deficiência e sim nas
Concorda? possibilidades das pessoas.
(Inclusiva, On-line, 22/05/03)
Aula 2 | O ajuste da escola para todas as crianças 55

 Garantia de atitude crítica, por parte dos


envolvidos, em relação aos conhecimentos;
 Oportunidade de interação e diálogos
constantes entre alunos, professores,
gestores, família, comunidade...

A escola tem um poder transformador?


Sim. Por quê? Porque está em contato
quase direto... A escola tem que se
comunicar com o pipoqueiro que está
na frente... muitas vezes dentro da
escola está se fazendo um trabalho
bonito... e aquele pipoqueiro é quem
vende a droga... estabelecer parcerias
no sentido de fazer com que a
educação tenha um respaldo lá fora
com aquelas pessoas com quem os
alunos se comunicam.
(GTs, Oficina, 24/03/03)

A questão da formação do professor


tem que ser voltada para o conteúdo
sim, mas oportunizar e incentivar a
necessidade dele dialogar mais com a
família, com a criança...
(GTs, Oficina, 24/03/03)

Mudança de atitude exige espaços


dialógicos, espaços nos quais possam
dizer, inclusive, ‘eu não quero ter esse
aluno comigo’ e que isso não seja
objeto de censura, porque do contrário
a pessoa se inibe e mascara a rejeição.
(GTs, Oficina, 24/03/03)
Para pensar

O espaço escolar, que compreende inclusive o


Podemos observar
mobiliário, deve ser preparado de forma a receber todo uma sala de aula e
constatar que, sua
e qualquer aluno, oferecendo condições propícias para organização
mantém-se
o aprendizado, troca e interação das pessoas, futuros essencialmente a
mesma há muito
cidadãos. É fundamental pensar este espaço de
tempo.
maneira que permita a inclusão, viabilizando a recepção Se quisermos, de
fato, reformar o
e o acolhimento dos alunos e suas diferentes formas ensino, a questão
central a nosso ver
físicas, ou de expressão, de comunicação, de é: como criar
contextos
aprendizado.... Enfim, tratando de todos igualmente em educacionais
capazes de ensinar a
suas singularidades, com respeito e dignidade, como todos os alunos?

prevê a legislação.
Aula 2 | O ajuste da escola para todas as crianças 56

As situações que envolvem a pessoa com


deficiência são inusitadas, algumas vezes
constrangedoras. Normalmente, demonstram
preconceito e discriminação, apontando uma sociedade
que exclui as diferenças antes até de reconhecer as
semelhanças.

Conforme documento do Centro Brasileiro de


Construções e Equipamentos Escolares CEBRACE
(1978), o mobiliário escolar é definido como conjuntos
de elementos, que são:

 Conjuntos para trabalhar e sentar – são as


carteiras escolares, assentos e mesas,
bancadas;
 Conjuntos para guardar – são objetos para
estocagem e armazenamento dos materiais,
como armários e estantes. No mobiliário pré-
escolar este conjunto é também considerado
como elemento de apoio à realização de
tarefas didáticas, acrescentando funções
como expor os materiais;
 Conjuntos para expor – são os elementos que
ficam dispostos na vertical, quadro de giz,
mural, quadro de projeção, cavaletes etc.

Em 1997, a ABNT – Associação Brasileira de


Normas Técnicas - publicou as normas técnicas NBR
14006 e NBR 14007, a primeira padroniza as classes e
dimensões para assentos e mesas escolares e a
segunda fixa condições mínimas exigíveis para
encomenda, fabricação e fornecimento de assentos e
mesas escolares, usados em instituições de todo o país,
com exceção das escolas especiais.

O mobiliário escolar é dimensionado


considerando o uso coletivo, sem se considerar a
especificidade do público a que se destina. Sua definição
Aula 2 | O ajuste da escola para todas as crianças 57

em seguido ao padrão médio, no entanto esta


referência é abstrata e arbitrária. Para refletir

A evolução do mobiliário vem acontecendo Quantas vezes na


sua sala, ao
paralelamente aos métodos de ensino empregados. organizar trabalhos
em grupo, a menina
Historicamente, o professor era o foco do sistema rechonchuda ou o
garoto negro foram
educacional e toda a dinâmica do espaço escolar era isolados pelos
colegas? E na aula
voltada para isto. Hoje, temos um sistema onde a aula de educação física,
quantos foram
é concebida como um exercício em conjunto, onde desconhecidos por
professor e aluno caminham juntos. não serem
jogadores
abalizados?
A discriminação não
Assim, objetos estáticos, baseados em carteiras ocorre apenas entre
os estudantes.
fixas e enfileiradas, deram origem a mobiliário passível Muitas vezes as
avaliações servem
de utilização de forma dinâmica, que favorece o ensino mais para ver quem
se encaixa nos
integrado e inclusivo. padrões de aluno
ideal do que para
medir o progresso
de cada um, dentro
A eliminação das barreiras físicas de locomoção de suas
e a facilitação dos acessos são determinantes para o possibilidades.
Você também pensa
pleno uso dos espaços físicos, em geral, por todos os assim?

indivíduos, como idosos, gestantes, obesos, cardíacos,


crianças, sejam alunos, professores e/ou familiares. O
desenho universal, apontado por arquitetos e
Para
designers, recomenda a elaboração prévia de estudo da pesquisar
acessibilidade na realização de todo e qualquer projeto,
seja de edificações, seja de mobiliário, na direção de Você já fez um
passeio por sua
um desenho capaz de incluir a todos. cidade para observar
se existem
adaptações para
portadores de
A questão do mobiliário, assim como a dos necessidades
especiais? Existem
materiais pedagógicos, é apontada como fundamental rampas de acesso a
repartições públicas,
para viabilizar a presença do aluno na escola. Quando bancos? Telefones
se trata de aluno com deficiência, este fator é de adaptados para
deficientes físicos e
significativa importância já que, por fugirem do padrão, visuais? Ônibus
adaptados? Que
independentemente do local, estas crianças têm sua outras observações
você faria?
autonomia facilitada pelos equipamentos e objetos Precisamos estar
atentos à
auxiliares disponíveis ao seu uso. acessibilidade para
cobrarmos das
autoridades o
cumprimento da
Segundo o Centro de Informação ICTA (1988), legislação.
que trabalha junto às organizações Rehabilitation interna-
Aula 2 | O ajuste da escola para todas as crianças 58

cional (RI) e o Institute for Handicapped, da Suécia,


Tecnologia Apropriada “é aquela que agrega uma
situação particular ao que será usado, satisfaz as
necessidades das pessoas, pode ser desenvolvida na
hora e no local, usando recursos locais, e não custa
mais do que a comunidade pode dispor.” Esta
tecnologia, que se traduz pela produção das chamadas
ajudas técnicas apropriadas, considera os aspectos
sociais, econômicos e culturais, além dos técnicos,
visando ao portador de deficiência e seu meio.

Condições adequadas de acessibilidade


beneficiam a todos (idosos, cardíacos, obesos,
gestantes, mães com carrinho de bebê, pessoas com
dificuldades temporárias de locomoção, pessoas
carregando pacotes) e não "apenas" pessoas com
deficiência.

A população brasileira que tem algum tipo de


incapacidade ou deficiência corresponde a 14,5% da
população total (equivalente a 25 milhões de pessoas).

No Brasil, mais pessoas vivem por mais tempo.


A idade traz limitações; é preciso garantir a qualidade
de vida dessas pessoas, cuidando das condições de
acessibilidade.

O ambiente pode piorar a forma de


funcionamento de uma pessoa.

Exemplo: restaurante com pouco espaço entre


mesas = garçons e clientes precisam ser
“malabaristas”, podem acontecer cotoveladas; há
pouca privacidade e alta probabilidade de acidentes.

Embora os fatores ambientais não constituam


barreiras para os que não têm deficiência, sua
eliminação favorece a todos. Quando o ambiente se torna
Aula 2 | O ajuste da escola para todas as crianças 59

acessível, pois adota os critérios, ele possibilita a


inclusão e, conseqüentemente, as pessoas com Para
navegar
deficiência podem ter Vida Independente e exercer a
Cidadania. Sobre acessibilidade
existe vasta
informação oficial de
normas e
Para Werner (1998), “ajudas técnicas regulamentos no
apropriadas podem fazer uma grande diferença em site abaixo
discriminado:
termos de determinação pessoal, integração social e
http://www.mj.gov.
sobrevivência. Porém, para criar equipamentos br/sedh/ct/CORDE/d
pdh/corde/normas_a
apropriados, precisamos trabalhar junto à pessoa com bnt.asp

deficiência. Devemos considerar a combinação única


desta pessoa no que diz respeito às suas experiências,
aos seus desejos, às oportunidades, à renda e às
motivações, assim como às possibilidades pessoais e do
meio. O design deve ser diferente de acordo com os
recursos locais, custo, acessibilidade, meio de
transporte para a escola ou trabalho, e os sistemas de
suporte, além da família e comunidade”.

A sala de aula é o grande termômetro pelo qual


se mede o grau de febre das mudanças educacionais e
é nesse micro espaço que as reformas verdadeiramente
se efetivam ou fracassam. Embora a palavra de ordem
seja reformar o nosso ensino, em todos os seus níveis,
o que verificamos quase sempre é que ainda Para
navegar
predominam formas de organização do trabalho escolar
que não se alinham na direção de uma escola de Na página da
Secretaria de
qualidade para todos os alunos.
Educação Especial
http://portal.mec.go
v.br/seesp,
Pensamos que uma escola se distingue por um você conhece as
estatísticas, as leis e
ensino de qualidade, capaz de formar dentro dos as políticas públicas
nacionais voltadas à
modelos requeridos por uma sociedade mais evoluída e inclusão.

humanitária, quando promove a interatividade entre os


alunos, entre as disciplinas curriculares, entre a escola
e seu entorno, entre as famílias e o projeto escolar. Em
suas práticas e métodos, predominam as co-autorias de
saber, a experimentação, a cooperação, protagonizadas
por alunos e professores, pais e comunidade. Nessas es-
Aula 2 | O ajuste da escola para todas as crianças 60

colas, o que conta é o que os alunos são capazes de


aprender hoje e o que podemos lhes oferecer para que
se desenvolvam em um ambiente rico e
verdadeiramente motivador de suas potencialidades.
Em uma palavra, uma escola de qualidade é um espaço
educativo de constituição de personalidades humanas,
autônomas, críticas, uma instituição em que todas as
crianças aprendem a ser sujeito.

Nesses ambientes educativos, ensinam-se os


alunos a valorizar a diferença pela convivência com
seus semelhantes, pelo exemplo dos professores, pelo
ensino ministrado nas salas de aula, pelo clima sócio-
afetivo das relações estabelecidas em toda a
comunidade escolar - sem tensões competitivas, mas
solidário, participativo e colaborativo. Escolas assim
determinadas são contextos educacionais capazes de
ensinar a todos, num mesmo espaço.

A construção da Escola Inclusiva passa, num


primeiro momento, por uma mudança de mentalidades,
ajustada com a disponibilidade de um conjunto de
recursos humanos e físicos que possam equilibrar
desvantagens e corrigir assimetrias no desenvolvimento
do processo de ensino e aprendizagem. E quanto maior
for a variedade e a qualidade dos meios disponíveis,
tanto maiores serão as probabilidades de cada
indivíduo ter acesso à resposta que mais se lhe
apropriar.

A educação brasileira tem de entender que é


preciso dar ao aluno aquilo que ele pode aprender - e
não o que ela gostaria de ensinar. É preciso aceitar
essa diversidade. Isso implica admitir uma pedagogia
para os alunos mais modestos, tal como fizeram alguns
países ao adotarem a seguinte orientação: deve-se
ensinar de forma que o aluno mais fraco consiga
entender e, ao mesmo tempo, deve-se ter uma alterna-
Aula 2 | O ajuste da escola para todas as crianças 61

tiva para os outros que não são tão fracos. Pensar o


ensino é pensar o que se passa em sala de aula. Se a
Para pensar
gente não fizer isso, não vai a lugar nenhum. Isso
também pede atenção especial a materiais pré-
Vamos pensar
trabalhados, conteúdos, livros etc. É, a nossa sala de juntos? Se
quisermos, de fato,
aula está ultrapassada. Professores não aprenderam a reformar o ensino, a
questão central a
ensinar. E a receita ideológica acaba se apresentando nosso ver é: como
criar contextos
como uma solução muito mais fácil do que a educação educacionais
capazes de ensinar
baseada em evidências. Temos o resultado: nossos todos os alunos?
Outras interrogações
alunos perdem muito tempo decorando ou copiando do derivam desta
questão principal,
quadro-negro, em vez de aprender a pensar. tais como: que
práticas de ensino
ajudam os
O apoio ao aluno dentro de sala regular se dá professores a
ensinar todos os
por dois caminhos: o formal e o informal, variando este alunos de uma
mesma turma,
de acordo com a orientação da família e possibilidades atingindo a todos,
apesar de suas
de recursos financeiros. Vale interrogar: que suporte diferenças? De que
qualidade e de que
estamos dando hoje para a inclusão das pessoas com tipo de escolas está
se falando, quando
necessidades especiais no ensino regular? Algumas nos referimos a
essas reformas?
ações já em prática no nosso Sistema de Ensino:

 Sala de recurso;
 Professor itinerante;
 Centros de apoio; Para refletir

 Classes Hospitalares;
Melhorar as
 Encaminhamento à Equipe Multidisciplinar. condições da escola
é formar gerações
mais preparadas
para viver a vida na
Muitos ainda acham que a inclusão é uma ilusão. sua plenitude,
livremente, sem
A utopia sempre é algo a realizar, é um projeto para o
preconceitos, sem
futuro. Na medida em que ela denuncia a ordem empecilho. Não
podemos nos
existente, pode transformar valores da nossa contestar nem
mesmo adiar
sociedade. soluções, mesmo
que o preço que
tenhamos de pagar
seja bem alto, pois
Quando um deficiente chega à sala de aula nunca será tão alto
quanto o resgate de
regular, seu problema geralmente já foi identificado uma vida escolar
marginalizada, uma
antes. Pais, professores e orientadores pedagógicos fuga, uma criança
estigmatizada, sem
estão informados a respeito e articulam modos de
causa.
incluir a criança na escola.
Aula 2 | O ajuste da escola para todas as crianças 62

Certos problemas, porém, só se manifestam


quando o aluno já está na escola, e muitas vezes são
confundidos com preguiça, indisciplina ou desinteresse.

Veja abaixo as principais características de


muitas das dificuldades que podem aparecer na sua
sala de aula:

DIFICULDADES NA FALA:

 Início tardio da fala;


 Frases gramaticalmente incorretas;
 Dificuldades de colocar o pensamento em
palavras;
 Inversão de palavras, do tipo: "coração de
ataque" em vez de "ataque do coração";
 Inaptidão para se concentrar e compreender
o que ouve;
 Expressão escrita melhor do que a falada;
 Usa frases entrecortadas, balbucia quando
está cansado, não pronuncia direito palavras
longas.
Para refletir
DIFICULDADES NA ESCRITA:
A boa notícia é que
a escola tem  Expressão oral superior à escrita;
deixado de ser um
problema só de  Dificuldade em ordenar uma sentença: frases
pedagogos para se
tornar tema de incompletas e incorreções gramaticais;
preocupação de
vários setores da  Repetidos erros ortográficos;
sociedade.
Percebeu-se que, ao  Inabilidade de copiar perfeitamente;
somar escola ruim,
alunos  Escrita lenta, letra distorcida e má orientação
desinteressados e
espacial.
jovens fora das salas
de aula, o Brasil
acumula falta de
mão-de-obra DIFICULDADES DE LEITURA:
qualificada, além de
cidadãos
despreparados para  Leitura lenta, fraca memorização e
enfrentar os
problemas de um compreensão precária;
país ainda em
 Problema na identificação dos pontos
desenvolvimento.
importantes de um texto;
Aula 2 | O ajuste da escola para todas as crianças 63

 Confusão de palavras e dificuldade de


assimilar vocabulário novo.

DIFICULDADE MATEMÁTICA:

 Inversão de números;
 Confusão nos símbolos operacionais,
sobretudo o + e o x;
 Dificuldade em compreender a proposição de
problemas.

COSTUMAM APRESENTAR HABILIDADES COMO:

 Têm excelente memória a longo prazo para


experiências, lugares e rostos;
 Pensam mais com imagens e sentimentos do
que com palavras;
 Podem ser ambidestros, mas confundem
direita com esquerda;
 Têm talento para artes, música, teatro,
esportes, desenho;
 São intuitivos, curiosos e perspicazes.

ALGUMAS DICAS PARA LIDAR COM A TURMA:

 Dê ao aluno um resumo do curso; se ele já foi


diagnosticado, forneça esse material antes da
Importante
matrícula;
 Detalhe, logo no início das aulas, todas as Você saberia pensar
exigências, as datas de provas e as formas de sobre o assunto?

avaliação; Quando se afirma


que a informática
 Estimule as atividades artísticas; não é um
instrumento, mas
 Valorize as iniciativas individuais para um fundamento, isto
significa que as
aumentar a auto-estima do aluno; novas tecnologias
são uma parte
 Use vários materiais de suporte na aula: integrante do
processo de ensino-
lousa, projetor de slides, vídeos e aprendizagem?
demonstrações práticas;
Aula 2 | O ajuste da escola para todas as crianças 64

 Incentive o uso de gravadores para auxiliar a


memorização;
 Sempre que der uma instrução oral, repita-a
por escrito e vice-versa;
 Anuncie as tarefas de leitura com bastante
antecedência;
 Crie alternativas, fora da sala de aula, para
trabalhos de leitura como dramatizações,
entrevistas e trabalhos de campo;
 Use métodos alternativos para avaliar o
conhecimento: provas orais ou gravadas,
trabalhos feitos em casa;
 Autorize o uso de calculadoras simples,
rascunhos e dicionários durante as provas;
 Aumente o limite de tempo para as provas
escritas.

Segundo relatório da ONU, todo mundo se


beneficia da educação inclusiva. Veja as vantagens:

ESTUDANTES COM DEFICIÊNCIA:

 Aprendem a gostar da diversidade;


 Adquirem experiência direta com a variedade
das capacidades humanas;
 Demonstram crescente responsabilidade e
melhor aprendizagem através do trabalho em
grupo, com outros deficientes ou não;
 Ficam mais bem preparados para a vida
Para refletir
adulta em uma sociedade diversificada:

Eu acredito no entendem que são diferentes, mas não


processo de inclusão
inferiores.
dos alunos com
necessidades
educacionais
especiais? O que eu ESTUDANTES SEM DEFICIÊNCIA:
posso fazer para
melhorar este
processo ou o que
está faltando?  Têm acesso a uma gama bem mais ampla de
papéis sociais;
Aula 2 | O ajuste da escola para todas as crianças 65

 Perdem o medo e o preconceito em relação


ao diferente; desenvolvem a cooperação e a
tolerância;
 Adquirem grande senso de responsabilidade e
melhoram o rendimento escolar;
 São mais bem preparados para a vida adulta
porque desde cedo assimilam que as pessoas,
as famílias e os espaços sociais não são
homogêneos e que as diferenças são
enriquecedoras para o ser humano.

Na educação inclusiva, não se espera que a


pessoa com deficiência se adapte à escola, mas que
esta se transforme de forma a possibilitar a inserção
daquela.

Para isso, algumas orientações são úteis.

AUDITIVA

Sempre fale de frente.

Você sabia?
A escola precisa providenciar um instrutor para a
criança que não conhece a Língua Brasileira de Sinais
A meta brasileira
(Libras), mas cujos pais tenham optado pelo uso dessa definida no plano
nacional de
forma de comunicação. Esse profissional deve estar educação é fazer
com que, até o ano
disponível para ensinar os professores e as demais de 2011, metade
das crianças de até
crianças. O ideal é ter também fonoaudiólogos três anos esteja em
creches, e 80%
disponíveis. daquelas entre
quatro e seis anos,
nas pré-escolas.
Números da
Sugestões:
campanha nacional
pelo direito à
educação mostram
 Consiga junto ao médico do estudante que, apesar de ter
havido progressos
informações sobre o funcionamento e a nos últimos anos, a
meta é ousada. Para
potência do aparelho auditivo que ele usa; isso acontecer, será
preciso criar cinco
 Garanta que ele possa ver, do lugar onde vezes mais vagas
nas creches.
estiver sentado, seus lábios. Ou seja, nunca
fale de costas para a classe;
Aula 2 | O ajuste da escola para todas as crianças 66

 Solicite que o estudante repita suas


instruções para se certificar de que a
proposta foi compreendida;
 Use representações gráficas para introduzir
conceitos novos;
 Oriente o restante da classe a falar sempre de
frente para o deficiente.

VISUAL

Material específico.

A escola deve solicitar à mantenedora o material


didático necessário — regletes (régua para escrever em
braile) e soroban —, além da presença de um
profissional para ensinar a criança cega, os colegas e os
professores a ler e escrever em braile. O deficiente
deve contar com tratamento oftalmológico e receber,
na rede ou em instituições especializadas, instruções

Para
sobre mobilidade e locomoção nas ruas. Deve também
navegar conhecer e aprender a utilizar ferramentas de
comunicação, como sintetizadores de voz que
Em 1998, começou
a vigorar no Brasil o possibilitam ao cego escrever e ler via computador. Em
Fundo de
Manutenção e termos de acessibilidade, o ideal é colocar cercados no
Desenvolvimento do
Ensino Fundamental chão, abaixo dos extintores de incêndio, e instalar
e Valorização do
Magistério, o
corrimão nas escadas.
FUNDEF.
Esse fundo visava
ampliar o acesso ao Sugestões:
Ensino Fundamental
e, para isso,
determinava que
estados e municípios  Pergunte ao aluno e à família quais são as
aplicassem mais da
metade da verba possibilidades e necessidades dele;
destinada à
educação nesse  A melhor maneira de guiar o cego é oferecer-
nível do ensino. Com
isso, diminuiu muito lhe o braço flexionado, de forma que ele
o investimento em
Educação Infantil.
possa segurá-lo pelo cotovelo;
Saiba mais sobre o  Descreva os ambientes com detalhes e não
FUNDEF, acessando
o site do Ministério mude os móveis de lugar com freqüência. Os
da Educação:
recursos didáticos aconselhados são: lupa,
http://portal.mec.go
v.br/ livro falado e materiais desportivos como bola
de guizo;
Aula 2 | O ajuste da escola para todas as crianças 67

 Busque na turma colegas dispostos a ajudá-


lo;
 Substitua explicações com gestos por
atividades em que o deficiente se movimente.
Por exemplo, forme uma roda com a
criançada para explicar o movimento de
translação da Terra.

FÍSICA

Adaptar os espaços.

Toda escola precisa eliminar as barreiras


arquitetônicas, mesmo que não tenha jovens com
deficiências matriculados. As adaptações do edifício
incluem rampas de acesso, instalação de barras de
apoio e alargamento das portas. No caso de haver
deficientes físicos nas classes, a modelagem do
mobiliário deve levar em conta as características deles.
Entre os materiais de apoio pedagógico necessários
estão pranchas ou presilhas para prender o papel na
carteira, suporte para lápis, computadores que
funcionam por contato na tela e outros recursos
tecnológicos.

Sugestões: Para pensar

O governo brasileiro
 Pergunte ao aluno e à família que tipo de ajuda deveria rever a
questão do fracasso
ele precisa, se toma medicamentos, se tem escolar em
cooperação com
horário específico para ir ao banheiro, se tem
todos os
crises e que procedimento adotar se isso interessados. Isto
não deveria ser
ocorrer; considerado um
“problema do
 Aqueles que andam em cadeira de rodas aluno”, mas antes
uma questão
precisam mudar constantemente de posição relacionada com a
escola e o currículo.
para evitar cansaço e desconforto; Você concorda?

 Informe-se sobre a postura adequada do aluno,


tanto em pé quanto sentado, e garanta que ele
não fuja dela;
Aula 2 | O ajuste da escola para todas as crianças 68

 Se necessário, fixe as folhas de papel na


carteira usando fita adesiva. Os lápis podem
ser engrossados com esparadrapo para
auxiliá-lo na escrita, caso ele tenha pouca
força muscular;
 Ouça com paciência quem tem
comprometimento da fala e não termine as
frases por ele.

MENTAL

Tarefas individuais.

Geralmente, os deficientes mentais têm


dificuldade para operar as idéias de forma abstrata.
Como não há um perfil único, é necessário um
acompanhamento individual e contínuo, tanto da
família como do corpo médico. As deficiências não
podem ser medidas e definidas genericamente. Há que
levar em conta a situação atual da pessoa, ou seja, a
condição que resulta da interação entre as
características do indivíduo e as do ambiente. Informe-
se sobre as especificidades e os instrumentos
adequados para fazer com que o jovem encontre na
escola um ambiente agradável, sem discriminação e
capaz de proporcionar um aprendizado efetivo, tanto do
ponto de vista educativo quanto do social.

Para ler:
"Para Sara, Raquel, Lia e para todas as crianças"
(CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE)
Eu queria uma escola que cultivasse a curiosidade de
aprender que é em vocês natural.

Eu queria uma escola que educasse seu corpo e seus


movimentos: que possibilitasse seu crescimento físico
e sadio. Normal.

Eu queria uma escola que lhes


ensinasse tudo sobre a natureza,
o ar, a matéria, as plantas, os animais, seu próprio
corpo. Deus.
Aula 2 | O ajuste da escola para todas as crianças 69

Mas que ensinasse primeiro pela observação, pela


descoberta,
pela experimentação.

E que dessas coisas lhes ensinasse não só o conhecer,


como também a aceitar, a amar e preservar.

Eu queria uma escola que lhes


ensinasse tudo sobre a nossa história e a nossa terra
de uma maneira viva e atraente.

Eu queria uma escola que lhes


ensinasse a usarem bem a nossa língua, a pensarem
e a se expressarem com clareza.

Eu queria uma escola que lhes


ensinassem a pensar, a raciocinar, a procurar
soluções.

Eu queria uma escola que desde cedo usasse materiais


concretos para que vocês pudessem ir formando
corretamente os conceitos matemáticos, os conceitos
de números, as operações... pedrinhas... só
porcariinhas!... fazendo vocês aprenderem
brincando...

Oh! Meu Deus!


Deus que livre vocês de uma escola em que tenham
que copiar pontos.

Deus que livre vocês de decorar


sem entender, nomes, datas, fatos...

Deus que livre vocês de aceitarem


conhecimentos "prontos",
mediocremente embalados
nos livros didáticos descartáveis.

Deus que livre vocês de ficarem


passivos, ouvindo e repetindo,
repetindo, repetindo...

Eu também queria uma escola


que ensinasse a conviver, a
cooperar, a respeitar, a esperar, a saber viver em
comunidade, em união.

Que vocês aprendessem


a transformar e criar.

Que lhes desse múltiplos meios de vocês expressarem


cada
sentimento, cada drama, cada emoção.

Ah! E antes que eu me esqueça:

Deus que livre vocês


de um professor incompetente.
Aula 2 | O ajuste da escola para todas as crianças 70

Sugestões:

Estimule o desenvolvimento de habilidades


interpessoais e ensine-o a pedir instruções e solicitar
ajuda;

Trate-o de acordo com a faixa etária;

Só adapte os conteúdos curriculares depois de


cuidadosa avaliação de uma equipe de apoio
multidisciplinar;

Avalie a criança pelo progresso individual e com


base em seus talentos e suas habilidades naturais, sem
compará-la com a turma;

O pensamento subdividido em áreas específicas


é uma grande barreira para os que pretendem, como
nós, inovar a escola. Nesse sentido, é imprescindível
questionar esse modelo de compreensão que nos é
imposto desde os primeiros passos de nossa formação
escolar e que prossegue nos níveis de ensino mais
graduados.

O pensamento subdividido em áreas específicas


é uma grande barreira para os que pretendem, como
nós, inovar a escola. Nesse sentido, é imprescindível
questionar esse modelo de compreensão que nos é
imposto desde os primeiros passos de nossa formação
escolar e que prossegue nos níveis de ensino mais
graduados.

O ensino curricular de nossas escolas,


organizado em disciplinas, isola, separa os
conhecimentos, em vez de reconhecer as suas inter-
relações. Contrariamente, o conhecimento evolui por
recomposição, contextualização e integração de
saberes, em redes de entendimento, não reduz o comple-
Aula 2 | O ajuste da escola para todas as crianças 71

xo ao simples, tornando maior a capacidade de avaliar


e de apreender o caráter multidimensional dos
problemas e de suas soluções.

As adaptações curriculares propostas pelo


MEC/SEF/SEESP para a educação especial visam
promover o desenvolvimento e a aprendizagem dos
Para pensar
alunos que apresentam necessidades educacionais
especiais, tendo como referência a elaboração do
Em todo o mundo,
projeto pedagógico e a implementação de práticas cada vez mais gente
se conscientiza de
inclusivas no sistema escolar. Baseiam-se nos que só há um jeito
de mudar o Brasil:
seguintes aspectos: envolver a sociedade
para melhorar a
qualidade do ensino.
 Atitude favorável da escola para diversificar e Você concorda?

flexibilizar o processo de ensino-


aprendizagem, de modo a atender às
diferenças individuais dos alunos;
 Identificação das necessidades educacionais
especiais para justificar a priorização de
recursos e meios favoráveis à sua educação;
 Adoção de currículos abertos e propostas
curriculares diversificadas, em lugar de uma
concepção uniforme e homogeneizadora de
currículos;
 Flexibilidade quanto à organização e ao
funcionamento da escola para atender à
demanda diversificada dos alunos;
 Possibilidade de incluir professores
especializados, serviços de apoio e outros não
convencionais, para favorecer o processo
educacional.

Os critérios de adaptação curricular são


indicadores do que os alunos devem aprender, de como
e quando aprender, das distintas formas de
organização do ensino e de avaliação da aprendizagem
com ênfase na necessidade de previsão e provisão de
recursos e apoio adequados. Os sistemas escolares
também estão montados a partir de um pensamento que
Aula 2 | O ajuste da escola para todas as crianças 72

recorta a realidade, que permite subdividir os alunos


em “normais” e com deficiência. A lógica dessa
organização é marcada por uma visão determinista,
mecanicista, formalista, reducionista, própria do
pensamento científico moderno, que ignora o subjetivo,
o afetivo, o criador, sem os quais não conseguimos
romper com o velho modelo escolar, para produzir a
reviravolta que a inclusão impõe. Essa reviravolta
exige, em nível institucional, a extinção das
categorizações e das oposições excludentes –
iguais/diferentes, normais/deficientes – e em nível
Para
pesquisar
pessoal, que busquemos articulação, flexibilidade,
interdependência entre as partes que se conflitavam
Leve esta questão nos nossos pensamentos, ações, sentimentos. Essas
para discutir com
seus colegas de atitudes diferem muito das que são típicas das escolas
estudo ou de
trabalho: Você (ou tradicionais em que ainda atuamos e em que fomos
sua escola) tem tido
algum suporte para formados para ensinar.
lidar com os casos
de inclusão? Se sim,
de quem? Como
As ações educativas inclusivas que propomos
você avalia o
suporte que tem têm como eixos o convívio com as diferenças, a
recebido?
aprendizagem como experiência relacional,
participativa, que produz sentido para o aluno, pois
contempla a sua subjetividade, embora construída no
coletivo das salas de aula.

É certo que relações de poder presidem a


produção das diferenças na escola, mas a partir de uma
lógica que não mais se baseia na igualdade, como
categoria assegurada por princípios liberais, inventada
e decretada, a priori, e que trata a realidade escolar
com a ilusão da homogeneidade, promovendo e
justificando a fragmentação do ensino em disciplinas,
modalidades de ensino regular, especial, as seriações,
classificações, hierarquias de conhecimentos.

Por tudo isso, a inclusão é produto de uma


educação plural, democrática e transgressora. Ela
provoca uma crise escolar, ou melhor, uma crise de iden-
Aula 2 | O ajuste da escola para todas as crianças 73

tidade institucional, que, por sua vez, abala a


identidade dos professores e faz com que seja
repensada a identidade do aluno. O aluno da escola
inclusiva é outro sujeito, que não tem uma identidade
fixada em modelos ideais, permanentes, essenciais.

O direito à diferença nas escolas destrói,


Para pensar
portanto, o sistema atual de significação escolar
excludente, normativo, elitista, com suas medidas e
Como trabalhar o
mecanismos de produção da identidade e da diferença. preconceito dentro
da escola? Você tem
alguma experiência
ou sugestão?
Se a igualdade é referência, podemos inventar o
que quisermos para agrupar e rotular os alunos como
PNEE, como deficientes. Se a diferença é tomada como
parâmetro, não fixamos mais a igualdade como norma e
fazemos cair toda uma hierarquia das igualdades e
diferenças que sustentam a “normalização”. Assim, para
que as escolas possam acolher a diversidade do alunado,
reconhecendo e valorizando as diferentes capacidades,
competências, habilidades que existem em uma sala de
aula, elas precisam ser revistas inteiramente e mudar suas
práticas usuais, marcadas pelo conservadorismo,
excludentes e inadequadas para o alunado que já temos
hoje nas escolas, em todos os seus níveis. Entre essas
práticas, a avaliação da aprendizagem é das mais
antiquadas e ineficientes e precisa ser urgentemente
redefinida e mudada. De fato, não podemos mais
categorizar o desempenho escolar como bom, regular,
excelente etc., a partir de instrumentos/medidas/ Para pensar

terminalidades arbitrariamente estabelecidos pela escola.


“A escola, como
Esse modo de avaliar tem sido a grande sustentação dos instrumento de
renovação social, é
que defendem o ensino escolar dividido em especial e
ainda tão-somente
regular, pois é com base nessas avaliações, entre outras, uma esperança. E é
preciso muito
que um aluno é considerado apto ou não apto para esforço para
transformá-la em
freqüentar uma dessas modalidades de ensino, realidade” (Anísio
Teixeira).
principalmente quando se trata de alunos com deficiência
mental.
Aula 2 | O ajuste da escola para todas as crianças 74

Para que crianças e jovens com deficiência (ou


outro tipo de limitação) possam freqüentar a escola e
estar incluídos, de verdade – não só presentes na sala de
aula – é preciso ter acessibilidade no prédio escolar, no
recreio, nas calçadas perto da escola, no transporte para
ir e voltar de casa para lá. Mas só isso não basta: os
professores, funcionários, colegas e pais das crianças
precisam ter corações e mentes acessíveis.

A operacionalização da escola inclusiva é


focalizada em termos da transferência de recursos e de
serviços de apoio especializados para o ensino regular.
Neste sentido, a educação especial é concebida como
modalidade de educação escolar complementar e
necessária para que alunos com necessidades
educacionais especiais alcancem os fins da educação
geral. Este é o viés que permeia as proposições
contidas no documento lançado pelo MEC para orientar
a ação pedagógica dos educadores quanto às
adaptações curriculares que visam à inserção, no
sistema escolar, de alunos com deficiências físicas,
sensoriais, mentais, altas habilidades, condutas típicas
e outras peculiaridades. Tal viés é justificado na
afirmação de que:

A análise de diversas pesquisas


brasileiras identifica tendências que
evitam considerar a educação especial
como um subsistema à parte e
reforçam o seu caráter interativo na
educação geral. Sua ação transversal
permeia todos os níveis - educação
infantil, ensino fundamental, ensino
médio e educação superior, bem como
as demais modalidades - educação de
jovens e adultos e educação
profissional.
(Parâmetros Curriculares Nacionais:
Adaptações Curriculares
MEC/SEF/SEESP 1998: 21).

Em contraposição, outras correntes teóricas


sustentam que:
Aula 2 | O ajuste da escola para todas as crianças 75

O que define o especial da educação


não é a fragmentação dos sistemas
escolares em modalidades diferentes,
mas a capacidade de a escola atender
às diferenças nas salas de aula, sem
discriminar, sem trabalhar à parte com
alguns, sem estabelecer regras
específicas para se planejar, para
aprender, para avaliar (currículos,
atividades, avaliação da aprendizagem
especiais). (...) Em outras palavras,
este especial qualifica as escolas que
são capazes de incluir os alunos
excluídos, indistintamente,
descentrando os problemas relativos à
inserção total dos alunos com
deficiência e focando o que realmente
produz essa situação lamentável de
nossas escolas.
(Mantoan)

Planejamento, projeto, proposta. Palavras afins,


Dica da
mas com significados diferentes, ainda mais se professora

acompanhadas, respectivamente, dos qualificativos


“dialógico”, “político-pedagógico” e “pedagógico”. Daí a Participando do
planejamento
sua importância na transformação para um ambiente coletivo, o professor
passa da condição
inclusivo na escola. de executor para a
de sujeito do
processo. Agora,
sozinho, cabe a você
Lembramos que realizar planos e planejamentos definir o que
pretende fazer ao
educacionais e escolares significa exercer uma longo do ano.
Novamente é
atividade engajada, intencional, científica, de caráter preciso escolher os
objetivos, desta vez
político e ideológico e isento de neutralidade. Planejar,
os de cada
em sentido amplo, é um processo que visa a dar disciplina, ou seja,
as competências de
respostas a um problema, através do estabelecimento que o aluno precisa
desenvolver naquela
de fins e meios que apontem para a sua superação, série ou ciclo. Mãos
à obra!
para atingir objetivos antes previstos, pensando e
prevendo necessariamente o futuro, mas sem
desconsiderar as condições do presente e as
experiências do passado, levando-se em conta os
contextos e os pressupostos filosófico, cultural,
econômico e político de quem planeja e de com quem
se planeja.

O resultado do processo do planejamento será


influenciar e provocar transformações nas instâncias e nos
Aula 2 | O ajuste da escola para todas as crianças 76

níveis educacionais que, historicamente, têm ditado o


como, o porquê, o para que, o quando e o onde
planejar. Num sentido mais específico, pensar o
planejamento educacional e, em particular, o
planejamento visando ao projeto político-pedagógico da
Importante escola é, essencialmente, exercitar nossa capacidade
de tomar decisões coletivamente. O projeto político-
Os recursos físicos e pedagógico da escola pode ser inicialmente entendido
os meios materiais
para a efetivação de como um processo de mudança e de antecipação do
um processo escolar
de qualidade cedem futuro, que estabelece princípios, diretrizes e propostas
sua prioridade ao
desenvolvimento de de ação para melhor organizar, sistematizar e significar
novas atitudes e
formas de interação, as atividades desenvolvidas pela escola como um todo.
na escola, exigindo
mudanças no Sua dimensão político-pedagógica caracteriza uma
relacionamento
pessoal e social e na construção ativa e participativa dos diversos segmentos
maneira de se
efetivarem os
escolares — alunos e alunas, pais e mães, professores
processos de ensino e professoras, funcionários, direção e toda a
e aprendizagem.
comunidade escolar. Ao desenvolvê-lo, as pessoas
ressignificam as suas experiências, refletem as suas
práticas, resgatam, reafirmam e atualizam os seus
valores na troca com os valores de outras pessoas,
explicitam os seus sonhos e utopias, demonstram os
seus saberes, dão sentido aos seus projetos individuais
e coletivos, reafirmam as suas identidades,
estabelecem novas relações de convivência e indicam
Para refletir
um horizonte de novos caminhos, possibilidades e
propostas de ação. Decidem o seu futuro. Esse
O argumento do
despreparo dos movimento visa à promoção da transformação
professores não
pode continuar necessária e desejada pelo coletivo escolar e
sendo desculpa para
impedir a inclusão comunitário. Nesse sentido, o projeto político-
escolar de pessoas
com deficiência, não pedagógico é práxis, ou seja, ação humana
estamos preparados,
precisamos transformadora, resultado de um planejamento
urgentemente nos
preparar. E uma dialógico, resistência e alternativa ao projeto de escola
verdadeira
preparação começa e de sociedade burocráticas, centralizadas e
com a possibilidade
descendentes. Ele é movimento de ação-reflexão-ação
e pelo desafio de
acolher as que enfatiza o grau de influência que as decisões
diferenças na sala
de aula e pela busca tomadas na escola exercem nos demais níveis
de novas respostas
educacionais. educacionais. Os objetivos e as metas do PROJETO
PEDAGÓGICO devem ser elaborados a partir das neces-
Aula 2 | O ajuste da escola para todas as crianças 77

sidades, limitações, expectativas e potencialidades da


comunidade, dos alunos, da equipe escolar, levando em
conta os recursos pedagógicos e materiais existentes
na escola.

Deve conter, no mínimo, as seguintes


informações:

 As competências e habilidades que os alunos


Para
precisam desenvolver; navegar
 Os conceitos integradores e os conceitos
significativos; “Nossa missão é
transformar a
 Os contextos significativos; sociedade em um
ambiente inclusivo,
 As informações e conhecimentos anteriores que por meio de ações
de direito e de
possuem, tanto os alunos quanto os comunicação,
assumindo a
professores; diversidade humana
como um valor
 Os materiais e procedimentos a serem inquestionável para
que pessoas com e
utilizados;
sem deficiência
 A organização do espaço e as relações na sala exerçam seu direito
à participação desde
de aula; a infância” (Claudia
Werneck).
 As relações interpessoais; Para saber mais,
visite o site:
 A organização do tempo;
http://www.escolade
 Os projetos a serem desenvolvidos. gente.org.br/

A criação de um ambiente educacional


informatizado aberto, que propicia uma intensiva
participação criativa e cooperativa dos alunos com
necessidades educacionais especiais, tem apresentado
resultados tais como uma "...maior motivação e
entusiasmo dos alunos para atividades educacionais",
"...aumento da interação do aluno com o meio em que
vive", além do "...desenvolvimento do seu raciocínio
lógico-dedutivo" (Galvão Filho, 1995).

Trabalhando desta maneira, o aluno estará


utilizando diferentes recursos computacionais, mas
dentro de um mesmo paradigma valorizador de suas
capacidades e iniciativa. E o computador será utilizado
como recurso ou como um ambiente (em se tratando de
Aula 2 | O ajuste da escola para todas as crianças 78

Internet), através dos quais esse aluno irá construindo o


seu conhecimento. É superada, portanto, a concepção do
computador como uma "máquina de ensinar", na qual

Importante
eram introduzidas informações, para que depois fossem
repassadas, "ensinadas" ao aprendiz. Com essa
O capítulo V – da metodologia, não é, portanto, o computador que ensina
Educação Especial,
da Lei de Diretrizes o aluno, mas sim o aluno que aprende "ensinando o
e Bases da Educação
Nacional - lança, computador", ou seja, criando, desenvolvendo novos
tanto para a escola
como para toda a projetos.
sociedade, um
desafio muito
grande no que se Outro recurso proporcionado pelas novas
refere à inclusão.
Falamos em tecnologias para a autonomia, para o processo de
sociedade, pois a
escola está inserida aprendizagem e para a inclusão social da pessoa com
em um contexto
social o qual se necessidades educacionais especiais, são as adaptações
modifica com o
desenvolvimento de de acessibilidade e tecnologias assistivas.
sua gente, de sua
tecnologia, de sua
ciência, envolvidos A professora que busca a resolução de problemas
em uma estrutura
globalizada. funcionais, no dia a dia da escola, mesmo sem o saber,
produz tecnologia assistiva. Por exemplo, ao engrossar o
lápis para facilitar a preensão e a escrita ou ao fixar a
folha de papel com uma fita adesiva para possibilitar que
Para pensar não deslize com a movimentação involuntária do aluno.
Ou, ainda, ao projetar um assento e um encosto de
Acessibilidade cadeira que garanta estabilidade postural e favoreça o
significa não apenas
permitir que pessoas uso funcional das mãos. Ao fazer isso, a professora cria
com deficiências
participem de soluções e estratégias, a partir do reconhecimento de um
atividades que
incluem o uso de universo particular. Assim, a tecnologia assistiva deve ser
produtos, serviços e
informação, mas a compreendida como resolução de problemas funcionais,
inclusão e a
extensão do uso em uma perspectiva de desenvolvimento das
destes por todas as
parcelas presentes potencialidades humanas, valorização de desejos,
em uma
determinada
habilidades, expectativas positivas e da qualidade de vida.
população, com
restrições às
mínimas possíveis. A Da mesma forma, diferentes alunos fazem uso
tecnologia, de um
modo geral, é uma de outras adaptações, em função das necessidades
forma de
acessibilidade para específicas de cada um, tais como: máscaras de teclado
os portadores de
necessidades (colméias), estabilizador de punho, abdutor de polegar,
educativas
especiais? simuladores de teclado, simulador de mouse, opções de
acessibilidade do Windows e outras.
Aula 2 | O ajuste da escola para todas as crianças 79

Se, por um lado, é verdadeiro que esse acesso


ainda não é majoritário no caso da realidade brasileira, por
outro lado, tudo leva a crer que, assim como ocorreu
com outras tecnologias (TV, vídeo etc.), este acesso
tende a popularizar-se e a massificar-se rapidamente.
Esse raciocínio é confirmado também por diversas
políticas oficiais que visam o barateamento e o acesso
massivo às novas tecnologias, tanto na educação como
em outros setores da sociedade brasileira.

Sabemos que uma ampla utilização de novas


tecnologias poderá facilitar o processo de inclusão de
crianças e jovens com deficiência, principalmente
aqueles considerados mais "difíceis": os deficientes
múltiplos, autistas, surdos, cegos e com enfermidades
graves. Para tanto se fazem necessárias a demolição e
a transposição de algumas barreiras e processos
invisíveis que favorecem a ignorância, o preconceito, a
segregação e o isolamento destes deficientes.

A avaliação do aluno é outro aspecto importante Para


pesquisar
para a educação inclusiva.

“O aluno deverá
É impossível pensar numa avaliação tradicional, proceder à auto-
avaliação continuada
onde se mede a quantidade de conteúdos que o aluno e permanente,
utilizando como
"aprendeu", seja por um teste, uma prova ou um referência o
instrumento de
trabalho feito em casa e apresentado na escola.
avaliação da área
Estes instrumentos de avaliação não levam em em que se
encontra”.
consideração o processo que o aluno percorreu, mas Ora, sendo a auto-
avaliação um
medem (e mal) um determinado momento. processo que
permite ao aluno
Nesta avaliação, o foco não está na aprendizagem do fazer a avaliação do
seu rendimento e de
aluno, mas na suposta assimilação (simples decoreba?) sua aprendizagem,
surge aqui uma
daquilo que o professor quis ensinar. Isso significa que o outra interrogação:
Por que utilizar o
foco está no conteúdo e, não, no desenvolvimento de instrumento como
referência para a
competências dos alunos.
auto-avaliação? Ao
utilizá-lo, não
estaremos criando
Por esses e outros motivos, temos que pensar redes para o
controle? O que
numa nova forma de avaliar. Temos que pensar na
você acha?
avaliação como mais uma oportunidade de
aprendizagem para o aluno. Mas como isso pode ser fei-
Aula 2 | O ajuste da escola para todas as crianças 80

to? Primeiramente, precisamos saber qual o nosso objeto


de avaliação.

No meio corporativo, a avaliação - utilizada o


tempo todo, em diversos os âmbitos - não é encarada
como um fim em si mesma. Pelo contrário, ela serve
para rever metas, estratégias, analisar resultados (para
rever as metas e estratégias) e, mesmo quando o
objeto da avaliação é um profissional, sua avaliação é
feita com
o objetivo de que tenha uma melhor produção e, não
apenas, uma pontuação.

É importante que comecemos a pensar


diferente... E, para isso, temos que rever os fins da
avaliação.

A avaliação da aprendizagem deve ter como


principal objetivo mais aprendizagem -
qualitativamente falando. Isso significa que o processo
de avaliação deve trazer novas oportunidades de
aprendizagem, permitindo que o aluno reflita sobre o
seu desenvolvimento (auto-avaliação) e, partindo de
intervenções externas - do professor - possa ter uma
atitude pró-ativa, avançando no seu ciclo de
desenvolvimento. Ou seja, a avaliação deve deixar de
ter um fim em si mesma ou ser apenas um instrumento
Importante
de medição e rotulação, para ser um instrumento de

Reconhecer as
aprendizagem.
diferenças é
essencial no
caminho da Temos dois caminhos a seguir: ou saímos da
integração e,
principalmente, da rotina como sugere FREIRE e buscamos inovar a prática
inclusão, onde se
espera que o pedagógica diante da inclusão, ou ficamos discutindo
professor não faça
da turma uma que a mesma não é viável, jogando a culpa no sistema
homogeneidade,
trabalhando como se de ensino, nos ombros do governo, na família e em
todos tivessem a
mesma capacidade todos os setores da sociedade. Que garantias temos de
na sua construção
do conhecimento.
que a Inclusão terá sucesso? Ou quando essas
mudanças ocorrerão na prática? Essas respostas
somente serão respondidas quando passarmos dos discur-
Aula 2 | O ajuste da escola para todas as crianças 81

sos e dos debates para a prática em toda sua plenitude.

Conclusão

A luta em se ter uma escola inclusiva de verdade


é grande, de nada adianta colocar a criança especial
dentro de uma classe comum se a deixarem segregada,
exclusa, vegetando em sala de aula. A pessoa com
deficiência tem que se sentir valorizada, importante,
inteligente, capaz, igual aos demais estudantes. Cada
um possui limites, até os “ditos normais” também os
possuem, o que o professor não pode é enfatizar a
limitação das pessoas e sim mostrar-lhes que são
capazes de evoluir sempre, que cada conquista não é o
ponto final, é apenas o estímulo para buscar cada vez
mais.

Segundo César Coll, a organização dos aspectos Para pensar

didáticos e o desenvolvimento de metodologias


Que caminhos
específicas em sala de aula requerem ainda muitos vamos trilhar e
escolher para a
estudos e pesquisas, há muito que se produzir neste nossa escola? Que
outras perguntas
sentido. A organização curricular tradicional dificulta o necessitamos fazer
para construir o
ensino adaptado, pois currículos amplos com volume nosso PPP e a nossa
excessivo de conteúdos dificultam a implementação de PP? Este é o nosso
desafio: pensar a
estratégias que respondem à diversidade. A limitada nossa prática,
refletir sobre ela e,
capacidade da escola de implementar o ensino num permanente
movimento de ação-
adaptado decorre, em parte, da falta de políticas reflexão-ação, dar a
nossa contribuição,
públicas eficientes, capazes de suprir as demandas por mais singela que
possa parecer, para
necessárias para este fim (formação continuada de criarmos a escola
cidadã que
professores, recursos materiais, debate social sobre a queremos para nós
e para os nossos
qualidade de ensino na escola básica entre outros). alunos. O desafio
está posto. Vamos
enfrentá-lo juntos?
O ensino inclusivo não tem como foco Vamos fazer e
escrever a nossa
unicamente os alunos com dificuldades de história?

aprendizagem ou com necessidades educativas


especiais, todos os alunos devem ser objeto de uma
adaptação das formas de ensino que lhes permita
avançar ao máximo em sua aprendizagem.
Aula 2 | O ajuste da escola para todas as crianças 82

A capacidade das escolas de atender


satisfatoriamente às necessidades educativas extremas
Para refletir
de alguns grupos de alunos é claramente limitada.
Esses alunos requerem, muitas vezes, uma atenção em
A formação do
professor para o diversos âmbitos (social, sanitário, cultural, familiar
trabalho em equipe,
o conhecimento
etc.) que vai além das possibilidades reais de atuação e
sobre o currículo e
de compensação da educação escolar e exige a
as possíveis
adaptações implementação de políticas mais amplas, que incluam a
curriculares cabíveis
às necessidades educação, mas que não se limitem a ela.
individuais dos
alunos, o
conhecimento sobre
o conteúdo, a O movimento da escola inclusiva por mais que
metodologia de
ensino e as seja ainda muito contestado, pelo caráter ameaçador
possibilidades de
reflexão sobre as de toda e qualquer mudança, especialmente no meio
ações realizadas na
sala de aula são
educacional, é irreversível e convence a todos pela sua
questões a serem
lógica, pela ética de seu posicionamento social.
trabalhadas por toda
a equipe da
instituição escolar, e
não somente pelo A inclusão está apontando o abismo existente
professor que recebe
a criança com entre o velho e o novo no sistema escolar brasileiro. A
alguma dificuldade
ou necessidade inclusão é reveladora dessa distância que precisa ser
especial.
O que você pensa a preenchida com as ações que relacionamos
respeito?
anteriormente.

Assim sendo, o futuro da escola inclusiva está,


ao nosso ver, dependendo de uma expansão rápida dos
projetos verdadeiramente imbuídos do compromisso de
modificar a escola, para se adaptar aos novos períodos.
Aula 2 | O ajuste da escola para todas as crianças 83

EXERCÍCIO 2

Marque a resposta incorreta. As adaptações curriculares


propostas pelo MEC/SEF/SEESP para a educação
especial visam:

(A) Promover o desenvolvimento e a aprendizagem


dos alunos que apresentam necessidades
educativas especiais;
(B) A implementação de práticas inclusivas no
sistema escolar;
(C) A adoção de currículos abertos e propostas
curriculares diversificadas;
(D) A concepção uniforme e homogeneizadora de
currículos;
(E) Avaliar e apreender o caráter multidimensional
dos problemas e de suas soluções.
Aula 2 | O ajuste da escola para todas as crianças 84

EXERCÍCIO 3

Marque a resposta incorreta. Não podemos negar a


importância do planejamento para o sucesso escolar
porque:

(A) É um processo que visa a dar respostas a um


problema, através do estabelecimento de fins e
meios que apontem para a sua superação;
(B) Atingem objetivos antes previstos, pensando e
prevendo necessariamente o futuro, mas sem
desconsiderar as condições do presente e as
experiências do passado;
(C) Nem sempre leva em conta os contextos e os
pressupostos filosófico, cultural, econômico e
político de quem planeja e de com quem se
planeja;
(D) Exercita nossa capacidade de tomar decisões
coletivamente;
(E) Visa à promoção da transformação necessária e
desejada pelo coletivo escolar e comunitário.

EXERCÍCIO 4

Cite e comente duas sugestões de trabalho com


deficientes visuais.

____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Aula 2 | O ajuste da escola para todas as crianças 85

EXERCÍCIO 5

Segundo relatório da ONU, todo mundo se beneficia da


educação inclusiva. Cite três vantagens.

____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

RESUMO
Vimos que:

 É possível, urgente e indispensável mudar a


educação, com novos paradigmas, princípios,
ferramentas, tecnologias e que o momento é
de abandonar as soluções paliativas e encarar
seriamente e com obstinação essa
transformação;
 É fundamental pensar o espaço escolar de
maneira que permita a inclusão, viabilizando
a recepção e o acolhimento dos alunos e suas
diferentes formas físicas, ou de expressão, de
comunicação, de aprendizado, de todos
igualmente em suas singularidades, com
respeito e dignidade, como prevê a
legislação;
 As ações educativas inclusivas devem propor
como eixos o convívio com as diferenças, a
aprendizagem como experiência relacional,
participativa, que produz sentido para o
aluno, pois contempla a sua subjetividade,
embora construída no coletivo das salas de
aula.
Princípios da Cultura

3
Inclusiva no Âmbito

AULA
da Comunidade
Escolar
Elaine Filizola
Apresentação

Esta aula tem como propósito apresentar um histórico da


educação brasileira e da inserção dos portadores de necessidades
especiais nesse processo. Também são discutidos os quatro
pilares da educação para o século XXI, e aspectos como
integração e inclusão social

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja


capaz de:
Objetivos

 Conhecer a história do processo de escolarização brasileira e


das pessoas portadoras de necessidades educacionais
especiais;
 Discutir a importância da escola inclusiva que representa um
novo paradigma do sistema educacional, pois reconhece as
necessidades individuais dos alunos, portadores ou não de
deficiência;
 Analisar os princípios da cultura inclusiva no âmbito da escola
com: aceitação da diversidade, justiça e imparcialidade
Aula 3 |Princípios da cultura inclusiva no âmbito da comunidade escolar 88

Introdução
Dica de
leitura

A Conferência Mundial sobre Educação para


Declaração de
Todos (1990) e a Declaração de Salamanca (1994)
Salamanca (1994):
representam marcos históricos e fundamentais uma vez
 “toda criança tem
direito que decretam, orientam e indicam os caminhos para a
fundamental à
educação, e deve Educação Inclusiva. Vale ressaltar, no entanto, que
ser dada a
oportunidade de apenas a elaboração de leis e diretrizes não garantem
atingir e manter o
nível adequado de seu sucesso e sua efetivação.
aprendizagem”;
 “toda criança
possui
características,
A inclusão interessa não só ao portador de
interesses,
necessidades educacionais especiais, uma vez que
habilidades e
necessidades de possibilita a expressão de suas capacidades, mas
aprendizagem que
são únicas”. também ao homem dito “normal”, visto que o convívio
Seria interessante
conhecer a permite a compreensão das diferenças e
declaração na
íntegra. subjetividades, eliminando toda forma de preconceito.
Reconhecendo as contribuições dos portadores de
necessidades educacionais especiais, o indivíduo está
desta forma colaborando com a adaptação destes à
sociedade, assim como da sociedade a estas pessoas. A
inclusão toma, então, uma dimensão muito maior,
ultrapassando o âmbito escolar e alcançando a
sociedade como um todo.

Na área institucional, é fundamental, entretanto,


a remoção de algumas barreiras e equívocos existentes
que emperram e inviabilizam a inclusão.

Um breve histórico sobre os caminhos


percorridos pela educação brasileira e sobre o processo
de escolarização das crianças portadoras de
necessidades educacionais especiais – ambos
historicamente excludentes - faz-se necessário para
que possamos entender o conceito de Educação
Inclusiva e analisar os princípios que a norteiam:
igualdade, aceitação da diversidade, inserção, justiça e
imparcialidade.
Aula 3 |Princípios da cultura inclusiva no âmbito da comunidade escolar 89

Breve histórico

A ESCOLARIZAÇÃO BRASILEIRA

A chegada dos jesuítas ao Brasil marca o início


da história da educação brasileira.

A princípio com a missão de catequizar os Para refletir

indígenas, a Companhia de Jesus abraçou, com o


Observando a
decorrer do tempo, a tarefa de educar os indivíduos da pirâmide social
brasileira dessa
classe dominante brasileira. época, teríamos: no
topo, os senhores de
engenho,
O nível de escolarização era compatível com a proprietários de
áreas de terras; no
classe socioeconômica à qual o indivíduo pertencia: meio, setores do
clero, pequenos
ensino de nível elementar para os filhos de alguns proprietários de
terras e
colonos brancos, ensino de nível médio aos homens comerciantes; na
base da pirâmide,
pertencentes à classe dominante, educação mais encontramos os
escravos negros,
aprofundada como preparação para a carreira cuja mão de obra
sustentava a
eclesiástica e ensino superior para os sacerdotes. economia colonial.
Eram chamados de
Àqueles indivíduos da classe dominante, que
os “pés” e as “mãos”
desejassem cursar o nível superior, restava como opção dos senhores de
engenho.
partir para Portugal a fim de cursar a universidade, de Desenvolvendo a
reflexão: que
onde voltavam advogados. Esse tipo de educação, mudanças
significativas
porém, não tinha utilidade prática para a vida da podemos observar
hoje na pirâmide
colônia. Eram advogados numa terra sem justiça e social brasileira?

sacerdotes sem os elementares princípios de caridade e


humanismo cristão diante da escravidão.

O filho primogênito e as mulheres permaneciam


alheios a esse processo educacional, pois ao primeiro
restava a incumbência de substituir, no futuro, o
senhor de engenho na direção da família patriarcal. A
elas apenas a direção dos serviços domésticos da casa
grande.

A partir da segunda metade do século XVIII, um


novo ciclo inicia-se na história da educação brasileira.
Aula 3 |Princípios da cultura inclusiva no âmbito da comunidade escolar 90

Procurando modernizar o sistema educacional, o


Marquês de Pombal expulsa a Cia. de Jesus dos
domínios do reino português, mas a estrutura
conservadora dos padres jesuítas durante dois séculos
já estava muito sedimentada, o que dificultou
mudanças consideráveis.

O setor educacional brasileiro, durante o 1º


reinado, a regência e o 2º reinado, sofreu pouca
evolução. Era uma educação desvinculada da realidade
social e servia apenas como demonstração de status.

Você sabia?
Durante a última fase do reinado de D. Pedro I,

A Escola Nova era a percentagem de analfabetos era de quase 70%, fato


um movimento de
âmbito este que desvela o desinteresse pela educação do povo.
internacional. Suas
bases filosóficas
assentavam-se nos
A luta pela escolarização em massa remonta o
progressos
efetuados, ainda início da República, intensificada na virada do século.
neste século, pela
psicologia, biologia e
outras ciências,
aplicadas no terreno A situação econômica do país dependia da
da educação. Este
movimento habilitação do trabalhador para e atividade industrial.
influenciou e mudou
métodos
educacionais.
O crescimento da área administrativa requeria
domínio do idioma e de conhecimentos técnicos e
científicos mínimos. Essas habilidades exigiam um novo
aparelho educacional.

A consolidação da classe média, em decorrência


do avanço da industrialização e da modernização
econômica e administrativa do país, aumenta a
escolarização dos grupos urbanos.

Só na década de 20 surgiu um movimento


educacional renovador.

Influenciados pelo pensamento norte americano,


em particular por John Dewey, pedagogos fundam o
movimento Escola Nova. Esse movimento caracterizou-
Aula 3 |Princípios da cultura inclusiva no âmbito da comunidade escolar 91

se pela crítica à educação tradicional, opondo-se ao


ensino destinado somente à formação da elite. Visando
a escolarização em massa da população, propunham
um ensino voltado à difusão da tecnologia e com
conteúdo pragmático e estímulo à atividade de
pesquisa, tarefas estas que deveriam ser assumidas
pelo Estado a fim de tornar a educação universal e
homogênea.
Dica de
leitura

O governo revolucionário de Vargas propôs uma


Erasmo de
nova estrutura de ensino: tornou a educação primária
Rotterdam escreveu
obrigatória, deu lugar de destaque ao ensino técnico e o clássico ELOGIO
DA LOUCURA e
instituiu os cursos superiores (Universidade de São classificou-o como
“Patrimônio
Paulo, 1934; Universidade do Brasil, 1937). Universal da
Humanidade”.
Vale a pena a leitura
do clássico e a
A educação passa a ser uma meta importante a reflexão sobre esta
expressão.
ser alcançada para que se torne possível remover
resíduos do atraso herdado nas fases anteriores da
história.

O PROCESSO DE ESCOLARIZAÇÃO DAS PESSOAS


PORTADORAS DE NECESSIDADES EDUCACIONAIS
ESPECIAIS

Os indivíduos que não conseguem se adaptar às


normas ou aos valores estabelecidos e aceitos pela
maioria são considerados loucos, diferentes ou
anormais.

Você sabia?
A presença desses transtornos é histórica, sendo
possível encontrar inúmeras referências a eles já nas O velho testamento
cita personagens
sociedades primitivas, onde eram tratados com ritos como Saul, que vivia
deprimido e dizia-se
curativos, métodos simbólicos, com uso de drogas perseguido.

alucinógenas para purificação do espírito e indícios de


trepanação.

Os “loucos” circulavam livremente pelos campos


e cidades, em convivência harmônica com a sociedade e
Aula 3 |Princípios da cultura inclusiva no âmbito da comunidade escolar 92

sobreviviam à custa de donativos públicos. Devido às


precárias condições de vida, morriam cedo, com
exceção dos que pertenciam a famílias abastadas. Eram
grupos minoritários e divergentes da sociedade.

O processo de escolarização de crianças com


transtornos mentais ou com algum tipo de deficiência
iniciou-se mundialmente, no final do século XVII, com a
fundação de instituições especializadas na França.
Outras instituições surgiram, tendo por base os
princípios da Revolução Francesa: igualdade, liberdade
e fraternidade.

Essas iniciativas foram importantes, pois


possibilitaram novas formas de pensar a deficiência e o
dito diferente.

Procurou-se humanizar o atendimento pessoal e


educacional, buscando-se uma adequação ao convívio
social, mesmo estando essas pessoas confinadas em
instituições especiais.
Importante
Pestalozzi e Pinel passaram a defender mais
Peztalozzi deu enfaticamente os direitos e deveres das pessoas
importantes e
exemplares impulsos portadoras de necessidades especiais e defendiam que
social-pedagógicos
interessando-se pelo deveriam ser tratadas como seres humanos doentes e
atendimento e
educação às dignos em vez de considerá-los animais.
crianças esquecidas
das classes de baixa
renda. O número de instituições de saúde mental e
educação especial aumentaram consideravelmente com
o objetivo de oferecer a essa população específica um
atendimento mais adequado e mais humanizado.

Só na década de 50 é possível observar, em


alguns países, algum reconhecimento do valor humano
e os direitos legítimos desses indivíduos. No Brasil,
cria-se a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais
(APAE) que defendia os direitos das pessoas com
necessidades especiais e buscava oferecer-lhes
educação especial.
Aula 3 |Princípios da cultura inclusiva no âmbito da comunidade escolar 93

Esses indivíduos, porém, continuavam


pertencendo a um grupo discriminado e eram
segregados em instituições específicas, constituídas de
outras pessoas com o mesmo tipo de transtornos.

Enquanto que na década de 80 se discutia sobre


a integração das crianças especiais em poucas escolas
regulares – que ainda segregavam - na década de 90,
iniciavam-se discussões sobre a inserção destas
crianças em salas regulares.

No final da década de 90, o termo “integração”


começa a ser abandonado, avançando as discussões
sobre “inclusão” e os benefícios desta não só a nível
cognitivo, mas principalmente a nível social.

ESCOLA INCLUSIVA

Importante
A escola inclusiva representa um novo
paradigma do sistema educacional, onde se atende e “Uma escola
inclusiva não
reconhece as necessidades individuais dos alunos que “prepara” para a
vida. Ela é a própria
por alguma razão apresentam dificuldades de vida que flui,
devendo possibilitar,
aprendizagem, portadores ou não de deficiência. do ponto de vista
político, ético e
estético, o
A escola inclusiva deve garantir direito ao desenvolvimento da
sensibilidade e da
acesso, ao ingresso e à permanência com sucesso em capacidade crítica e
construtiva dos
escolas de boa qualidade, que leve o aluno em direção alunos-cidadãos que
nela estão (...).”
dos quatro pilares para educação do século XXI
propostos pela Unesco: aprender a conhecer, aprender
a fazer, aprender a ser e aprender a conviver. Isso
implica necessariamente provisão de recursos tais
como valorização profissional do professor,
aperfeiçoamento da escola, aperfeiçoamento do pessoal
docente pelo trabalho em equipe e pelas adaptações
curriculares.
Aula 3 |Princípios da cultura inclusiva no âmbito da comunidade escolar 94

Os quatro pilares da educação para o


século XXI

APRENDER A CONHECER

Muitas vezes agimos como se os educandos


soubessem o valor e a importância que o conhecimento
tem em suas vidas e na sociedade. O conhecimento
produzido pela humanidade é patrimônio de todos,
independente da camada social. Apropriar-se desse
conhecimento, que foi transformado pelas diferentes
sociedades e gerações, possibilita a compreensão, por
Para refletir
parte da criança, do mundo que a rodeia, favorecendo
a análise crítica, percebendo-se como membro desse,
“Sou sobrevivente
de um campo de como herdeiro e protagonista.
concentração. Meus
olhos viram o que
nenhuma pessoa
deveria presenciar. A escola trata o conhecimento de forma
Câmaras de gás
construídas por organizada e intencional.
engenheiros
ilustrados. Crianças
envenenadas por Aprender a conhecer nada mais é do que
médicos instruídos.
Bebês mortos por compreender como o processo de aprendizagem se
enfermeiras
treinadas. Mulheres inicia, se efetiva e quais condições o facilitam.
e bebês mortos a
tiros por ginasianos
e universitários.
Assim desconfio da APRENDER A FAZER
educação. Meu
pedido é o seguinte:
ajudem os seus
discípulos a serem Este pilar é conseqüência do primeiro e dele
humanos. Os seus
esforços nunca
indissociável. O que importa hoje é mais
deverão produzir desenvolvimento do desejo de aprender a aprender do
monstros cultos,
psicopatas hábeis ou que o acúmulo de conhecimentos. Está ligado com a
Eichmans instruídos.
Ler e escrever, capacidade de o indivíduo relacionar conhecimento com
saber história e
Aritmética só são as ações concretas, ou seja, colocar os conhecimentos
importantes se
servem para tornar em prática. Num mundo cheio de desigualdades e de
nossos estudantes
humanos.” (autor conflitos, não basta formar profissionais. É
desconhecido)
Pausa para pensar: imprescindível que se formem cidadãos, pessoas que
Seria esse o objetivo
tenham potencialidades e capacidade de transformá-las
dos pilares da
educação? em ações.
Aula 3 |Princípios da cultura inclusiva no âmbito da comunidade escolar 95

APRENDER A CONVIVER
Dica de
leitura

Conviver = viver com. Para a construção de uma


Uma ótima sugestão
sociedade justa, é preciso permitir e valorizar a
literária para o
participação de todos. trabalho com a
diversidade, junto a
crianças e jovens, é
o livro de
Aprender a conviver é desenvolver a BARNABAS e
KINDERSLEY,
compreensão e a descoberta do outro e de si mesmo, é Anabel. Crianças
como você: uma
estimular a percepção das interdependências. É emocionante
celebração da
fundamental a transmissão de conhecimento sobre a infância no mundo.
São Paulo: Ática,
diversidade humana, promovendo o trabalho conjunto, 2003, em associação
com o Fundo das
estimulando a cooperação, preparando o indivíduo para
Nações Unidas para
gerir conflitos. a Infância.

APRENDER A SER

Este pilar visa ultrapassar a visão puramente


instrumental da educação, buscando o desenvolvimento
total do indivíduo: espírito, corpo, inteligência,
sensibilidade, sentido estético, responsabilidade pessoal
e espiritualidade. Trata-se do reconhecimento da
realidade que cerca o indivíduo e da capacidade deste
em lidar de forma construtiva com seus talentos,
potencialidades e limites.

Princípios da cultura inclusiva no âmbito


escolar

IGUALDADE

Declaração Universal dos Direitos Humanos

Artigo 1º - “Todos os seres humanos


nascem livres e iguais em dignidade e
em direitos. Dotados de razão e de
consciência, devem agir uns para com
os outros em espírito e fraternidade”.
Aula 3 |Princípios da cultura inclusiva no âmbito da comunidade escolar 96

Artigo 2 – “Todos os seres humanos


podem invocar os direitos e as
Para refletir liberdades proclamados na presente
Declaração, sem distinção alguma,
nomeadamente de raça, de cor, de
“Como nas outras sexo, de língua, de religião, de opinião
esferas da vida
social, os negros política ou outra, de origem nacional
(pretos e pardos) ou social, de fortuna, de nascimento
são também ou qualquer outra situação (...)”.
penalizados no plano
da educação:
enfrentam maiores Igualdade democrática pressupõe: igualdade
dificuldades de
acesso e perante reconhecimento dos direitos em relação às
permanência na
escola, assim como necessidades básicas (saúde, educação, lei, trabalho
freqüentam escolas
de pior qualidade, etc.).
redundando em
maior índice de
reprovação e atraso
escolar do que A igualdade defendida na Declaração dos direitos
aquele observado
entre os brancos”
humanos diz respeito aos direitos legais de todo
(Rosenberg 1998). cidadão e não pode ser confundida com uniformidade
Estas desigualdades
derivam entre seres humanos. Somos todos diferentes. Nenhum
principalmente das
oportunidades indivíduo é igual ao outro sob nenhum aspecto:
desiguais de
ascensão após a orgânico, social, cultural, étnico, religioso etc.
abolição da
escravidão.
A imigração teve
como objetivo o Ainda hoje muitas pessoas têm dificuldade de
embranquecimento
da população conseguir participação igualitária na sociedade.
brasileira. Com a
chegada dos
imigrantes, os A igualdade de oportunidades passa
negros foram
marginalizados e necessariamente pela tomada de consciência dos
concentraram-se
nas regiões direitos e necessidades de cada cidadão, bem como da
economicamente
menos colaboração que cada um é capaz de oferecer.
desenvolvidas, com
menores
oportunidades
ocupacionais e A cultura excludente da educação brasileira e a
educacionais.
tradição conservadora vêm gerando um grande número
Desenvolvendo a
reflexão: que lugar
de excluídos. E quem são estes excluídos? São os que
ocupam hoje na não conseguem ingressar nas escolas, e que mesmo
sociedade os
afrodescendentes? matriculados não exercitam seus direitos da cidadania e
Estes indivíduos
somados com os da construção de conhecimento.
pobres e deficientes
estão sendo capazes
de exercer a
cidadania plena? Os alunos das camadas populares são os que
mais sofrem com as desigualdades históricas da
sociedade brasileira, fato este, que gera grandes
desigualdades.
Aula 3 |Princípios da cultura inclusiva no âmbito da comunidade escolar 97

Não é possível falar em igualdade em educação


Dica de
enquanto grupos em desvantagem continuam leitura

excluídos.
Livros de literatura
infanto-juvenil que
A dificuldade de acesso dos negros à educação, abordam as
questões das
ou à educação de qualidade, somada às desigualdades desigualdades e
diversidades, e
de oportunidades educacionais oferecidas confirmam poderão ser
um maior número de reprovações, atraso e evasão que utilizados em sua
prática pedagógica.
atingem esta população.
DIOUF, Sylviane;
EVANS, Shane W.
O fracasso escolar, muitas vezes, vem Tradução de COSAC,
Charles. As tranças
acompanhado de termos como incompetência, pobreza, de bintou. São
Paulo: Cosac & Naif,
desinteresse, família desestruturada, deficiência ou 2004.

doença, conceitos estes que mascaram e desviam o MACHADO, Ana


Maria. Menina bonita
foco de reflexão que seria a próprio sistema do laço de fita. São
Paulo: Ática, 1997.
educacional. O aluno assume, assim, o papel de único
LIMA, Heloisa Pires.
culpado pelo fracasso. Histórias da preta.
2ª ed., São Paulo:
Cia. das Letrinhas,
Eqüidade e redução das desigualdades são 2006.
compatíveis com a educação inclusiva. Nela, o currículo MUNDURUKU,
Daniel. Kabá
não é imutável tampouco uma estrutura fixa e Darebu. São Paulo:
definitiva, uma vez que passa por revisões e Brinque-Book, 2002.

direcionamentos constantes para atender as


necessidades de seus alunos. Sob este ponto de vista,
não cabe ao aluno adaptar-se currículo, e sim este ao
aluno. Importante

Eqüidade em educação significa diversificá-la,


Declaração de
respeitando-se as necessidades individuais, as Salamanca

peculiaridades únicas e a subjetividade. “Uma pedagogia


centrada na criança
pode impedir o
Rosita Edler Carvalho (2004) defende que para desperdício de
recursos e o
que possamos ter uma escola democrática que seja enfraquecimento de
esperanças, tão
espaço de exercício de cidadania precisamos lutar: freqüentemente
conseqüências de
uma instrução de
baixa qualidade e de
-“ por melhores condições de trabalho e uma mentalidade
de salário de nossos professores; educacional baseada
- por maiores investimentos na sua na idéia de que “um
tamanho serve a
formação, permitindo-lhes apropriarem- todos”.
se de novos saberes e das tecnologias
que possam estar a serviço da
educação escolar;
Aula 3 |Princípios da cultura inclusiva no âmbito da comunidade escolar 98

- pela realização sistemática de


avaliações do processo ensino-
aprendizagem, muito mais útil aos
educadores do que as infindáveis e
muitas vezes indecifráveis estatísticas
de desempenho dos sistemas
educacionais;
- pela capacitação dos gestores com
vistas à administração compartilhada;
- pela constante reflexão de todos os
educadores acerca dos sentidos da
educação num mundo globalizado e
em permanente mudança;
-pela educação na diversidade,
ampliando-se e aprimorando-se as
oportunidades de aprendizagem por
toda a vida;
- por constantes (semanais?) relações
dialógicas entre professores dentro das
escolas e entre escolas (mensais?);
- para que o direito à educação seja
entendido como um bem essencial que
deve ser extensivo a todos”.

ACEITAÇÃO DA DIVERSIDADE

Para pensar
A sociedade brasileira é historicamente
excludente, conseqüentemente, a escola vem ao longo
Será que nós
mesmos, consciente dos anos desempenhando um papel que disseminou
ou
inconscientemente, valores e desenvolveu práticas que acentuaram as
também buscamos
nos aproximar do desigualdades, gerando categorias marginalizadas,
padrão vigente de
“normalidade”? Que estigmas e preconceitos.
padrão é este?

Larroza Perez de
A prática pedagógica da escola tradicional é
Lara (in Carvalho
Edler) pautada na idéia de padronização. Se falamos de
“(...) o louco
confirma nossa padrão, falamos em um tipo “ideal” (de beleza, de
razão; a criança
nossa maturidade; o comportamento, de raça, de cultura) construído por
selvagem a nossa
civilização; o um grupo dominante, e a partir do qual os indivíduos
marginal a nossa
integridade; o são comparados. Desta comparação surgem conceitos
estrangeiro nosso
país; o deficiente a como normal, anormal, aprovados, reprovados, aptos,
nossa normalidade”.
inaptos, incluídos e excluídos.

Algumas diferenças ou desvios do padrão “ideal”


são considerados normais e não interferem nas
relações interpessoais, já outros geram sentimentos de
piedade, caridade, assistencialismo, sentimentos estes que
Aula 3 |Princípios da cultura inclusiva no âmbito da comunidade escolar 99

evidenciam a cultura excludente que ainda persiste em


nossa sociedade, eliminando aquelas pessoas que não
se “encaixam” no padrão preestabelecido, não
conferindo independência nem tão pouco autonomia a
esses indivíduos, potencializando desigualdades.

Para que a escola cumpra sua função social e


política, é imperioso que supere a visão de que basta a
escolha de uma metodologia eficaz para a transmissão
de conhecimento, como se este fato por si só
modificasse as representações negativas construídas a
respeito dos diferentes em nossa sociedade. Para refletir

O educador deve
O paradigma da escola inclusiva reconhece, promover uma
discussão com seu
respeita, aceita e valoriza as diferenças, colocando-as grupo para definir
normas gerais de
no centro do processo educativo. conduta individuais
e coletivas. Assim,
além de vivenciar o
Ainda é um grave problema social a processo
democrático, os
permanência e a efetivação da aprendizagem dos jovens se
comprometem a
alunos ditos “diferentes”. É preciso que a escola cumpri-las. Somente
regras claras,
desperte para a diversidade. precisas,
exaustivamente
discutidas podem
ajudar os jovens a
Se tomarmos como embasamento teórico a respeitá-las.
Seria interessante
perspectiva sociointeracionista de Vygotsky, veremos que fossem
registradas e, se
que é impossível negar as diferenças existentes entre necessário, que
indivíduos de uma determinada cultura, uma vez que, ficassem expostas.

na concepção do psicólogo russo, organismo e meio


determinam-se mutuamente. Ou seja, ocorre uma
interação dialética entre o homem e seu meio sócio-
cultural. De acordo com esta teoria, a estrutura
fisiológica humana (inata) não é suficiente para
produzir o indivíduo humano, se não houver o ambiente
social. O modo de agir, de pensar, de sentir, os valores,
os conhecimentos, a visão de mundo dependem da
interação do ser humano com o meio físico e o social. O
homem é visto como alguém que transforma e é
transformado pelo meio.
Aula 3 |Princípios da cultura inclusiva no âmbito da comunidade escolar 100

As funções psicológicas superiores, assim como


as singularidades e subjetividades do sujeito humano,
se dão a partir das interações com o meio social em
Para pensar que vive. Por exemplo, uma criança, que não tenha
nenhum contato com um ambiente letrado, não se
“Democracia?” É dar
a todos o mesmo alfabetizará.
ponto de partida.
Quanto ao ponto de
chegada, isso
depende de cada Apoiados nesse pressuposto, para que possamos
um. (Mário
Quintana) conhecer as crianças com as quais estamos
trabalhando, é imprescindível que respeitemos o meio
social e o físico dos quais ela é proveniente, e que
vejamos, possibilidades de enriquecer nossa prática
pedagógica.

Mas como será que essa diversidade está sendo


tratada no âmbito escolar?

Muitas vezes, tentando gerar a igualdade, a


escola acaba confundindo diferenças com
desigualdades.

A diferença, aquilo que marca nossa identidade,


é inerente ao ser humano, enquanto que as
desigualdades são socialmente produzidas.

A grande dificuldade que se impõe hoje é


possibilitar a aprendizagem num contexto de respeito à
diversidade.

Tente responder estas perguntas: como as


escolas estão gerindo aprendizagem na diversidade?
Que papel cada segmento da escola vem assumindo?
Como é possível a gestão educacional na diversidade
quando ainda existe – herança da escola tradicional -
uma busca pela homogeneização e padronização?

Para que possamos modificar essa realidade, é


preciso que entendamos a constituição das diferenças
humanas sem negá-las, e que o trabalho com a
heterogeneidade passe a nortear as práticas escolares.
Aula 3 |Princípios da cultura inclusiva no âmbito da comunidade escolar 101

É necessário que a escola assuma seu papel


como espaço de socialização, considerando o contexto
social e o âmbito plural em que os alunos estão
inseridos.

De acordo com Skliar (2000):

 (...) “As diferenças não devem ser


entendidas como um estado não
desejável, impróprio, de algo que
cedo ou tarde voltará à
normalidade”;
 ”A existência de diferenças existe
independentemente da autorização,
da aceitação, do respeito ou da
permissão outorgada da
normalidade”;
 “As diferenças se constroem
histórica, social e politicamente”.

Um trabalho pautado no respeito à diversidade


requer mudanças nas ações pedagógicas em sala de
aula e no cotidiano, pois estas ainda são programadas
sob a hegemonia da normalidade.

Toda a comunidade escolar deve estar voltada


para a prática de ações mais democráticas no
acolhimento a todos os alunos. Entre estas práticas,
Rosita Edler, 2006 p. 107 destaca:
Importante
 sala de aula (aspectos físico,
arquitetônico e afetivo, revisão da
Estando atento e
metodologia didática); receptivo, tentando
 adequação do vocabulário do compreender o que
professor; os seus alunos
querem dizer com
 mais escuta dos alunos;
suas letras de
 adoção de recursos da tecnologia músicas,
informática, preparação do material questionamentos,
didático; sugestões, críticas e
silêncios, você
 adoção de pesquisa como estratégia
estará mais próximo
de ensino/aprendizagem; do mundo deles,
 organização das adaptações condição essencial
curriculares; para desenvolver
um bom trabalho
 substituição do “dever” de casa pelo educativo.
PRAZER de casa;
 revisão dos procedimentos de
avaliação do processo ensino-
aprendizagem;
 participação da família e da
comunidade na condição de
cúmplices.
Aula 3 |Princípios da cultura inclusiva no âmbito da comunidade escolar 102

A educação na diversidade requer a introjeção


dos direitos à inclusão e a participação dos alunos com
Para pensar
necessidades educacionais especiais, não por dó ou
A pesquisa oferece filantropia, mas sim como reconhecimento do direito de
às crianças e aos
jovens a cidadania desses indivíduos.
oportunidade de
aprender a se
orientar diante das
diferentes
Educar na diversidade é fazer do diferente um
informações
elemento enriquecedor e explorá-lo em toda sua
disponíveis e a
selecionar as mais riqueza.
adequadas para
aquilo que querem
conhecer.
INSERÇÃO

Inserir = introduzir, implantar.


Integrar = completar, tornar inteiro.
Incluir = envolver, compreender,
abranger.
(Dicionário Michaellis)

INTEGRAÇÃO SOCIAL

Um equívoco ainda presente é associar a


inclusão apenas aos portadores de deficiências.

:: Mainstreaming:
Como foi discutido no histórico no início desta
Refere-se à aula, foi a partir da década de 70 que se intensificaram
integração temporal,
institucional e social as discussões na busca de integrar os indivíduos com
do PNE elegível com
crianças normais, de necessidades educacionais especiais no sistema regular
forma progressiva,
baseada em estudos
de ensino. Nesta década e na seguinte, porém,
e avaliações criavam-se salas especiais em poucas escolas
individuais.
regulares. Apesar das boas intenções, essas salas
também segregavam, pois, apesar de integradas às
escolas, formavam núcleos de exclusão, uma vez que
os alunos não experimentavam reciprocidade nas
interações com a comunidade escolar (alunos,
professores, funcionários).
Aula 3 |Princípios da cultura inclusiva no âmbito da comunidade escolar 103

Segundo Sassaki (1997, pp.30, 31),

A idéia de integração surgiu para


derrubar a prática da exclusão social a
que foram submetidas as pessoas
deficientes por vários séculos. E a
exclusão ocorria em seu sentido total,
ou seja, as pessoas portadoras de
deficiência eram excluídas da
sociedade para qualquer atividade
porque antigamente elas eram
consideradas inválidas, sem utilidade
para a sociedade e incapazes para
trabalhar, características estas
atribuídas indistintamente a todos que
tivessem alguma deficiência.

O modelo de integração supõe que os


portadores de necessidades especiais devem se adaptar
ao ambiente escolar e não o contrário.

Para refletir
Para Mantoan (1998, p.5),

De acordo com
a integração escolar, cuja metáfora é o Magda Soares,
sistema de cascata, é uma forma comentando
condicional de inserção em que vai criticamente a
ideologia do dom:
depender do aluno – ou seja, do nível “na ideologia do
de sua capacidade de adaptação às dom, as causas de
opções do sistema escolar - a sua fracassos e sucessos
integração, seja em uma sala regular, na escola devem ser
buscadas nas
em uma classe especial ou mesmo em características do
instituições especializadas. Trata-se de indivíduo (...), a
uma alternativa em que tudo se escola oferece
mantém, nada se questiona do “igualdade de
oportunidades” ; o
esquema em vigor. bom aproveitamento
dessas
oportunidades
Sob esta ótica, a deficiência é vista como um dependerá do dom –
aptidão, inteligência,
problema do indivíduo, e a ele cabe a tarefa de talento - de cada
um (...).
adaptar-se à sociedade. Para Sassaki, o modelo médico
A função da escola,
da deficiência é o pano de fundo do modelo integrativo, na ideologia do dom,
seria, pois, a de
gerando resistências por parte da sociedade, uma vez adaptar, ajustar os
alunos à sociedade,
que este considera os indivíduos doentes, inválidos ou segundo suas
aptidões e
incapazes. De acordo com este modelo, a sociedade características
individuais”.
aceita-os desde que sejam capazes de: moldar-se aos (SOARES, Magda.
Linguagem e Escola.
requisitos, acompanhar procedimentos tradicionais, Uma perspectiva
social. São Paulo:
contornar obstáculos, lidar com atitudes Ática, 2005).
discriminatórias e desempenhar papéis sociais com
autonomia, mas não com independência.
Aula 3 |Princípios da cultura inclusiva no âmbito da comunidade escolar 104

A integração social, assim, é um movimento


unilateral, pois exige pouco da sociedade e muito dos
portadores de necessidades especiais e de seus aliados.

Ainda, segundo o autor, a integração social


ocorria e ainda ocorre:

 Pela inserção pura e simples


daquelas pessoas portadoras de
necessidades educacionais especiais
que conseguiram ou conseguem, por
méritos pessoais e profissionais
próprios, utilizar os espaços físicos e
sociais, bem como seus programas e
serviços, sem nenhuma modificação
por parte da sociedade, ou seja, da
escola comum, da empresa comum,
do clube comum.
Para refletir
 Pela inserção daqueles PNEs que
necessitavam ou necessitam de
A metáfora para o algumas adaptações específicas no
processo de inclusão espaço físico comum ou no
social é o procedimento da atividade comum a
caleidoscópio.
fim de poderem, só então, estudar
O caleidoscópio trabalhar, enfim, conviver com
precisa de todos os pessoas não PNEs.
pedaços que o  Pela inserção de pessoas PNEs em
compõem. Quando
ambientes separados dentro dos
se retira algum
pedaço, o desenho é sistemas gerais. Por exemplo: classe
menos rico. especial numa escola comum, setor
separado dentro de uma empresa
Desenvolvendo a
comum.
reflexão: que
relação tem esta
metáfora com a Dessa forma, a escola oculta seu fracasso,
educação?
integrando apenas aqueles que não representam a
ameaça à sua competência.

INCLUSÃO SOCIAL

De acordo com Sassaki (1997, p.41), inclusão


social é:

O processo pelo qual a sociedade se


adapta para poder incluir, em seus
sistemas sociais gerais, pessoas com
necessidades especiais e,
simultaneamente, estas se preparam
para assumir seus papéis na sociedade.
A inclusão social constitui, então, um
processo bilateral no qual as pessoas,
ainda excluídas, e a sociedade buscam,
Aula 3 |Princípios da cultura inclusiva no âmbito da comunidade escolar 105

em parceria, equacionar problemas,


decidir sobre soluções e efetivar a
equiparação da oportunidade para
todos. Para
pesquisar

Ainda, segundo Sassaki (1997, p.47), o modelo


de inclusão social tem como pano de fundo o Modelo Promova espaços de
reflexão. Estimule
Social da Deficiência. De acordo com este modelo, para seus alunos a
relacionar suas
que ocorra a inclusão das PNEs, cabe à sociedade satisfações e
insatisfações,
modificar-se, compreendendo as individualidades e reconhecer o que de
bom a escola tem a
necessidades destes indivíduos, removendo todas as oferecer e para
propor alternativas
barreiras físicas, programáticas e atitudinais, para mudanças.
favorecendo seus desenvolvimentos pessoal, social,
educacional e profissional.

Integração social é, portanto, a inserção das


pessoas com necessidades educacionais especiais num
ambiente escolar e social que se adapte às suas
necessidades.

A declaração de Salamanca orienta que “as


escolas deveriam acomodar todas as crianças,
independentemente de suas condições físicas,
intelectuais, sociais, emocionais, lingüísticas e outras
(...) deveriam incluir crianças deficientes e
superdotadas, crianças de rua e que trabalham,
crianças de origem remota ou de população nômade,
crianças pertencentes a minorias lingüísticas, étnicas e
culturais, e crianças de outros grupos desavantajados
ou marginalizados.”

JUSTIÇA

O princípio de justiça nos remete ao da


diversidade.

Imagine um professor preparando um


planejamento rígido e inflexível antes das aulas
começarem e antes mesmo de conhecer sua turma. Na
preparação deste planejamento, o professor “imagina” um
Aula 3 |Princípios da cultura inclusiva no âmbito da comunidade escolar 106

tipo de aluno que supõe que irá adaptar-se ao


planejamento.
Dica do
professor
Agora imagine este mesmo professor – com este
Um bom mesmo planejamento - diante de uma sala heterogênea
planejamento é
aquele que leva em com 20/30 alunos, cada um com uma história de vida,
consideração:
- fundamentação - o vindos de comunidades, famílias e com saberes e
porquê da proposta.
- caracterização do habilidades diferentes. Alguns, por exemplo,
grupo – para quem?
- objetivos – para provenientes de famílias que fazem uso de materiais
que?
impressos, e outros filhos de pais analfabetos.
- descrição das
atividades – o quê?
- metodologia –
como? Como implementar um planejamento dentro de
- recursos materiais
– o que será usado? um padrão rígido e homogeneizador frente a esta
- acompanhamento
e avaliação - como diversidade? Não surgiriam comparações? Estas
as ações se
desenvolveram e comparações não seriam injustas diante das
quais os resultados
obtidos. desigualdades?

Mas a escola, empunhando a bandeira da


justiça, poderia se justificar alegando estar oferecendo
uma escola igual para todos. Porém, justiça não
Para pensar
significa oferecer processos uniformizadores. É, antes

Cada um de nós disso, a valorização das diferenças, o conhecimento da


desenvolve, de
acordo com nossa
história de cada aluno, seus jeitos de ser, suas
história, certo senso necessidades. Justiça é valorizar as diferenças, é querer
de ética e justiça,
que nos induz a que os alunos pensem de forma diferente, é buscar
julgar as coisas
como justas ou estratégias pedagógicas que contemplem a todos, é
injustas, certas e
erradas, mas é buscar meios de dialogar.
importante
considerar do ponto
de vista do bem
comum. O indicativo do que o aluno sabe e já vivenciou,
assim como o estágio de aprendizagem em que se
encontra, só será possível a partir do momento em que
e escola se propuser a ouvi-lo.

Precisamos reinventar as relações humanas que


se dão na escola, para que todos tenham vez, para que
todos tenham direito à expressão característica de sua
raça, cor, credo, só assim poderemos ver surgir um
povo menos humilhado e uma sociedade menos
desigual. Isto é justiça.
Aula 3 |Princípios da cultura inclusiva no âmbito da comunidade escolar 107

O que deveria nortear toda ação pedagógica é a


consciência de que o tempo e o ritmo de aprendizagem
de crianças social e culturalmente heterogêneas não
podem ser o mesmo.

O aluno precisa participar do processo de


aprendizagem e a escola precisa escutá-lo em suas
necessidades e urgências. Isto, além de ser justo e
democrático é muito mais eficaz.

A escola tem de estar ajustada à realidade do


aluno e não o contrário, se não quisermos correr o risco
de educar para a submissão e para a obediência cega,
em vez de educar para a emancipação, o
questionamento, a cooperação, a transformação e para
o diálogo.

Se o cotidiano da escola for marcado por


práticas antidemocráticas, se os currículos, as normas,
a disciplina e o relacionamento interpessoal
expressarem a opressão e o autoritarismo, qualquer
discurso democrático será demagogia. Não é possível
aprender democracia com métodos autoritários.

No seu livro Pedagogia do Oprimido, Paulo Freire


analisa dois tipos de educação: a educação bancária e a
educação problematizadora.

Na concepção bancária, o saber é uma doação,


um depósito (como o feito nos bancos) dos sábios
(educadores) aos que nada sabem (os educandos).
Nesta concepção, o educador prescreve sua opção e o
educando segue a prescrição, o educador escolhe o
conteúdo programático sem ouvir o educando nessa
escolha, cabendo a estes a opção de acomodar-se. O
educador é, assim, o sujeito do processo, enquanto os
educandos são objetos. A educação bancária nega a
dialogicidade.
Aula 3 |Princípios da cultura inclusiva no âmbito da comunidade escolar 108

EXERCÍCIO 1

Paulo Freire, falando do diálogo como estratégia para


respeitar o saber do aluno, relata um fato que
aconteceu com ele na periferia de Belo Horizonte:
Um jovem em resposta ao que seria estudar responde:
“em primeiro lugar, não se estuda só na escola, mas no
dia- a- dia da gente. Dois homens, continuou, iam
numa camioneta carregando frutas. De repente se
defrontaram com um atoleiro. O que dirigia parou a
camioneta. Desceram os dois. Tentaram conhecer
melhor a situação, Atravessaram o atoleiro, pisando de
leve no chão sob a lama, Depois, discutiram um pouco.
Juntaram pedaços de galhos secos e pedras com os
quais forraram o chão. Finalmente, atravessaram sem
dificuldade o atoleiro. Aqueles homens estudaram”,
disse ele. “Estudar é isso também”.

Desenvolvendo a reflexão:

Você concorda com Paulo Freire que diz que os alunos,


quando chegam à escola, também têm o que dizer, e
não apenas estudar?

____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

A educação problematizadora funda-se


justamente na relação dialógico-dialética. O diálogo é
uma exigência existencial que possibilita a
comunicação. Para colocar em prática o diálogo, o
educador não pode colocar-se na posição de detentor
de todo saber, mas na posição humilde de quem sabe
que não sabe tudo, reconhecendo em seu aluno alguém
que tem toda uma experiência de vida e por isso
também é portador de um saber.
Aula 3 |Princípios da cultura inclusiva no âmbito da comunidade escolar 109

O educador precisa acreditar na capacidade do


aluno organizar sua própria aprendizagem e reconhecê-
lo como senhor dela. A educação, por sua vez, deve ser
centrada no educando, não no professor ou no ensino.

O princípio de igualdade de direitos não significa


oferecer uma escola igual para todos, sem garantir
condições dignas de aprendizagem a cada um,
valorizando as diferenças.

A padronização de regras, ações e critérios


avaliativos (geralmente quantitativos) vêm gerando
exclusão.
Dica do
professor
Muitas vezes por estarem inseridos em um
contexto onde estas regras, normas e regimentos Respeite
verdadeiramente as
padronizados norteiam e cerceiam suas ações, os crianças e não
apenas recomende
educadores cometem injustiças. respeito; faça-as
perceber e refletir
quando estão tendo
comportamentos
Para exercer o princípio de justiça, é preciso preconceituosos e as
convide a criar e a
transformá-la em ações e em tomada de posições que experimentar
defendam os direitos dos alunos, impedindo que situações que
expressem
continuem acontecendo injustiças. Isto requer comportamentos
opostos a esses.
coragem, sensibilidade, tolerância e humildade.

IMPARCIALIDADE

Importante
Vivemos em uma sociedade exigente e
competitiva, onde são exaltados os valores individuais
Procure criar
em detrimento dos sociais e dos coletivos. Os grupos momentos em que
possa ter uma
sociais tendem a se relacionar em função de seus
relação mais direta e
status social e cultural, evitando ou marginalizando os pessoal com cada
educando, no
que não compartilham de suas normas e de suas sentido de conhecê-
lo, de valorizar seus
regras. pontos fortes e de
apoiá-lo na busca de
superação dos
obstáculos.
O princípio da imparcialidade nos remete mais
uma vez aos princípios de diversidade e de justiça.
Aula 3 |Princípios da cultura inclusiva no âmbito da comunidade escolar 110

Uma escola que pretenda educar sobre o


preceito da imparcialidade não deve selecionar alunos,
muito menos priorizar os que possuem melhores
condições sob quaisquer aspectos. Deve ter como
princípio educar as crianças sem fazer distinção,
acolhendo-as com igualdade de direitos. Deve ser um
local de encontros entre alunos de diferentes origens
sociais, familiares e culturais. Espaço compartilhado de
socialização, no qual se conheça o outro e se aprenda
com ele, construindo valores de respeito, tolerância e
solidariedade.

Os professores, por sua vez, devem estar


cientes de que, nas relações que se estabelecem nas
salas de aula, estão criando um mundo de relações
afetivas.

Vivemos em uma sociedade desigual e


constantemente nos deparamos com atitudes, gestos,
palavras preconceituosas.

O primeiro passo para se tratar o preconceito é


admitir que ele existe e que a escola não escapa disso,
uma vez que historicamente não se pode negar a
seletividade presente na prática escolar e o seu caráter
Importante elitista.

 Impeça
manifestações que Preconceito = conceito antecipado e sem
gerem
fundamento razoável; opinião formada sem
sentimentos de
humilhação e ponderação. (Dicionário Michaellis).
vergonha.
 Mude possíveis
imagens de
fracasso. Como, então, se processa a produção da
 Valorize as
conquistas. diferença, do preconceito e da distinção?
 Construa uma
relação de
confiança.
 Crie O que ocorre com o preconceito é a necessidade
oportunidades
para que que temos em destruir o outro que é diferente. A
apareçam
intolerância é nossa incapacidade de admitir o outro
competências.
como tal. O outro existe.
Aula 3 |Princípios da cultura inclusiva no âmbito da comunidade escolar 111

No âmbito da escola inclusiva, a imparcialidade


consiste em admitir a liberdade da existência do outro e
o direito de ser diferente sem com isso sofrer nenhum
tipo de pré-conceito ou pré-julgamento que venha
dificultar ou mesmo impedir sua participação no
processo de aprendizagem.

Conclusão

Nesse novo milênio que se inicia, a sociedade


inclusiva e a escola inclusiva têm sido motivo de
seguidos debates e estudos. Mesmo ainda enfrentando
resistências, felizmente, vêm cada vez mais atraindo
simpatias da sociedade em geral.

Para pensar
Os seres humanos, desde o nascimento, estão
em constante e contínuo desenvolvimento. A esse
“Uma escola
processo de formação ampla, de busca e descoberta de transformadora é,
pois, uma escola
possibilidades chamamos de educação, a qual deve ser consciente de seu
papel político na luta
a principal – mas não única – ferramenta para a contra as
desigualdades
formação de cidadãos. sociais e econômicas
e que, por isso,
assume a função de
proporcionar às
Ela deve contribuir para a inserção social de
camadas populares,
novas gerações, favorecendo a participação do através de um
ensino eficiente, os
educando na vida social. Porém, ela não acontece só na instrumentos que
lhes permitam
escola, mas na família, na comunidade etc. conquistar mais
amplas condições de
participação cultural
e política e de
A escola é um espaço fundamental para a reivindicação social”.
(SOARES, Magda.
formação de nossa sociedade, sendo promotora da Linguagem e Escola:
uma perspectiva
ligação entre o saber formal e o saber da comunidade. social. São Paulo:
Ática, 2005).
Para isso deve propiciar o estabelecimento do maior
número de relações entre este universo e os
conhecimentos, e acima de tudo garantir aprendizagens
e habilidades, bem como a vivência de valores para a
vida em sociedade, pois a dignidade das condições de
vida está diretamente ligada à garantia dos direitos de
cada cidadão.
Aula 3 |Princípios da cultura inclusiva no âmbito da comunidade escolar 112

O conceito de educação inclusiva ainda é alvo de


inúmeros equívocos. Entre eles, o de que se destina
aos portadores de deficiência.

A escola inclusiva é para todos que, por alguma


razão, encontram-se excluídos e incapacitados de
exercerem seu direito de cidadania.

Entretanto, apenas a inserção – vista como


mero introduzir alguém em algum lugar - não garante a
inclusão. É preciso que estes indivíduos possam
participar do processo de ensino-aprendizagem,
integrando-se com os colegas, professores e com a
sociedade.

Para refletir
Vale ressaltar que a escola está contextualizada
com a sociedade na qual está inserida e é reflexo dela.
Em uma sociedade
etnocêntrica, ser Por outro lado, é ela que forma os cidadãos que
diferente das classes
dominantes significa compõem esta sociedade. Sendo assim, influenciam-se
ser inferior.
Pense a respeito. mutuamente.
Quando as
diferenças se
transformam em É, portanto, impossível pensar em mudanças
deficiências, em
carência? significativas na constituição de uma sociedade, sem
mudarmos a educação.

No âmbito educacional, a Conferência sobre


Educação para Todos realizada em1990, na Tailândia, e
a Declaração de Salamanca, em 1994, na Espanha,
orientam as buscas para uma nova educação,
ampliando os espaços educativos e conseqüentemente
a construção de uma sociedade mais justa.

A escola inclusiva é aquela que tem como


objetivo – claro e incontestável – oferecer uma escola
de boa qualidade pra todos, sem discriminações,
independente de sua condição orgânica, cultural,
étnica, econômica ou psicossocial, onde todos devem
ser tratados com dignidade e respeito, cada um em sua
singularidade.
Aula 3 |Princípios da cultura inclusiva no âmbito da comunidade escolar 113

A educação inclusiva está fundamentada nos


princípios de igualdade, justiça, respeito à diversidade,
inserção e imparcialidade. A comunidade escolar deve
ficar atenta para que estes princípios se efetivem em
seu ambiente, evitando que as diferenças causem
discriminações, garantindo e criando oportunidades de
aprendizagem para que os educandos tenham acesso à
diversidade de conhecimentos e mediando a interação
destes alunos com os objetos do conhecimento.

Para refletir
O educador precisa ressignificar, adequar, fazer
modificações pertinentes, tendo ciência de que, em um
Que tipo de cultura
mundo que se transforma rapidamente, o a escola valoriza? A
das classes
desenvolvimento da capacidade de identificar dominantes ou a das
classes dominadas?
problemas e buscar respostas criativas, desenvolvendo Quando um aluno
proveniente das
competência para viver melhor a vida, é mais eficiente classes dominadas
fracassa, a
do que acumular saberes.
responsabilidade por
este fracasso cabe a
quem?

EXERCÍCIO 2

Dois marcos foram fundamentais e nortearam a


educação inclusiva. São eles:

( A ) Lei de Diretrizes e Bases/Estatuto da Criança e


do Adolescente;
( B ) Constituição Federal/Declaração dos Direitos
Humanos;
( C ) Declaração dos Direitos Humanos/Estatuto da
Criança e do Adolescente;
( D ) Declaração de Salamanca/Lei de Diretrizes e
Bases;
( E ) Conferência Mundial sobre Educação Para
Todos/Declaração de Salamanca.
Aula 3 |Princípios da cultura inclusiva no âmbito da comunidade escolar 114

EXERCÍCIO 3

O princípio de justiça na escola inclusiva significa:

( A ) Buscar estratégias pedagógicas para tornar a


turma homogênea, facilitando, assim, o processo
de aprendizagem;
( B ) Preparar antecipadamente um planejamento
rígido, ao qual todos devem adaptar-se;
( C ) Valorizar as diferenças, levar os alunos a
pensarem de forma diferente e buscar estratégias
que contemplem a todos;
( D ) Oferecer uma escola igual para todos sem
distinção e sem considerar a história de vida de
cada um;
( E ) Oferecer processos uniformizadores, garantindo
mais eficácia na aquisição de conhecimentos.

EXERCÍCIO 4

Escreva sobre o princípio da IGUALDADE da cultura


inclusiva no âmbito escolar.

____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Aula 3 |Princípios da cultura inclusiva no âmbito da comunidade escolar 115

EXERCÍCIO 5

Em relação aos quatro pilares da educação para o


século XXI descreva o “APRENDER A CONHECER”.

____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

RESUMO

Vimos que:

 É necessário modificar a cultura excludente


da educação brasileira e da tradição
conservadora que vêm gerando um grande
número de excluídos;
 A escola inclusiva deve garantir direito ao
acesso, ao ingresso e à permanência com
sucesso em escolas de boa qualidade, que
leve o aluno em direção aos quatro pilares
para educação do século XXI propostos pela
unesco: aprender a conhecer, aprender a
fazer, aprender a ser e aprender a conviver;
 A educação inclusiva está fundamentada nos
princípios de igualdade, justiça, respeito à
diversidade, inserção e imparcialidade,
portanto, a comunidade escolar deve ficar
atenta para que estes princípios realmente
sejam efetivados, evitando que as diferenças
causem discriminações, garantindo e criando
oportunidades de aprendizagem para que
todos possam ter acesso ao conhecimento.
Reflexões sobre a

4
Formação do

AULA
Professor para a
Educação Inclusiva
Edla Trocoli
Apresentação

Nesta aula discute-se o papel do educador e a necessidade de


reflexão sobre sua formação atual para atender a educação
inclusiva. Entendendo que educar não se limita a repassar
informações, mas é permitir que o aluno tome consciência de si
mesmo, dos outros e da sociedade.

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja


capaz de:
Objetivos

 Discutir sobre o papel político do educador que deve


problematizar a educação, buscando em sua tarefa evidenciar e
trabalhar o conflito, com o intuito de sua superação dialética;
 Compreender o novo papel professor que passou a ser um
importante aliado dos alunos e dos pais, tanto para ensinar
quanto para trabalhar valores e estabelecer vínculos capazes
de educar além da sala de aula;
 Destacar que a aprendizagem deve proporcionar avanços no
desenvolvimento, deve significar acréscimo no crescimento dos
sujeitos, do contrário não haverá aprendizagem.
Aula 4 | Reflexões sobre a formação do professor para a Educação Inclusiva 118

Introdução

Já temos conhecimento de que vivemos um


momento de intensas transformações. Não sabemos ao
certo para onde caminhamos e nem qual o caminho a
trilhar. A sociedade atual encontra-se em pesada crise,
na qual somos levados a repensar nossos valores e
atitudes. Como nos aponta Gramsci, citado por Gadotti
(1998, p. 86), «vivemos um momento histórico no qual
Para pensar
o bloco hegemônico dominante entra em crise, frente à
ameaça de um novo bloco histórico».
A inclusão deve
abranger não só os
portadores de
deficiência. Ela tem Educadores e educadoras precisam engajar-se
que atingir todos os
alunos e fazer com social e politicamente, percebendo as possibilidades da
que todos
compartilhem e ação social e cultural na luta pela transformação das
aprendam. Cabe ao
professor ser o estruturas opressivas de nossa sociedade. Para isso,
facilitador desta
antes de tudo, necessitam conhecer a sociedade em
inclusão, criando
estratégias que atuam e o nível social, econômico e cultural de
inclusivas, através
de um novo olhar seus alunos e alunas.
sobre os alunos e
sabendo ouvi-los.
Concorda? Há necessidade de questionamentos de caráter
reflexivo quanto à influência da formação dos
professores que estão trabalhando em escolas
regulares com proposta de inclusão. Abrange questões
importantes para que se compreendam as dificuldades
e/ou as facilidades de alguns profissionais. Muitas
vezes, a situação esbarra em questões que vão além de
metodologias e práticas pedagógicas inadequadas.

Justifica-se pela necessidade de abrir um novo


horizonte frente aos questionamentos que por vezes
não conseguem sair de um “senso comum”. Buscar
novas maneiras de “olhar” este professor que se insere
num processo, o qual não consegue romper devido às
barreiras que sua condição de sujeito lhe impõe diante
da realidade proposta. Indaga-se como o professor,
com suas múltiplas ações dentro e fora da sala de aula,
torna-se a cada dia o vínculo mais importante no
processo de inclusão.
Aula 4 | Reflexões sobre a formação do professor para a Educação Inclusiva 119

A formação de professores é, hoje, uma


preocupação constante para aqueles que acreditam na
necessidade de transformar o quadro educacional
presente, pois da forma como ele se apresenta fica
certo que não condiz com as reais necessidades dos
que procuram a escola com a finalidade de aprender o
saber, para que, de posse dele, tenham condição de
reivindicar seus direitos e cumprir seus deveres na
sociedade.

Para pensar
O professor é o componente chave do processo
ensino-aprendizagem, devendo ser encarado como um
Você já pensou que
elemento essencial e fundamental. Quanto maior e o sistema ideal de
ensino é aquele em
mais rica for sua história de vida e profissional, maiores que o professor
procura as mais
serão as possibilidades dele desempenhar uma prática variadas formas e
estratégias, medida
educacional consistente e significativa. Não se quer sobre sua prática
para atingir a todos?
dizer, com isso, que o professor seja o único
E que a melhor
responsável pelo sucesso ou insucesso do processo forma para que isto
seja alcançado é o
educativo. No entanto, é de suma importância sua ação agrupamento?

como pessoa e como profissional.

Educar não se limita a repassar informações ou


mostrar apenas um caminho, aquele caminho que o
professor considera o mais correto, mas é ajudar a
pessoa a tomar consciência de si mesma, dos outros e
da sociedade. É saber aceitar-se como pessoa e saber
aceitar os outros. É oferecer várias ferramentas para
que a pessoa possa escolher, entre muitos caminhos,
aquele que for compatível com seus valores, sua visão
de mundo e com circunstâncias adversas que cada um
irá encontrar.

Nosso objetivo é a reflexão a respeito do papel


do professor no processo de inclusão, fazendo
referência às suas experiências anteriores, observando
sua condição de sujeito co-autor e participante ativo de
sua própria história, visando nortear uma nova
concepção de escola inclusiva, ser mais objetivo quanto
Aula 4 | Reflexões sobre a formação do professor para a Educação Inclusiva 120

às questões subjetivas, e pode utilizar-se de


instrumentos fidedignos já existentes, com profissionais
conscientes e convictos de sua importância.

Para refletir Outro objetivo não menos importante é


questionar se a inclusão não começa na inserção da
Os dois principais
princípios de uma criança especial em uma escola regular ou quando essa
educação, que
procura ser
escola e seus professores sabem exatamente o que
inclusiva, e que se possuem em si para dar ao outro. Do contrário, a
instituem, por um
lado, na promoção superficialidade embutida em determinados métodos e
da convivência e
aprendizagem técnicas continuará a ser o meio mais fácil de receber
comum de crianças
com e sem estes educadores.
deficiência, sem, por
outro, negligenciar a
elaboração de uma
pedagogia escolar A proposta é, também, a de tomar pontos
que vá ao encontro
de tais obrigações. específicos na compreensão de alguns aspectos
importantes. São eles:

 Investigar a formação acadêmica de professores


inseridos no contexto da inclusão;
 Provocar uma reflexão sobre a necessidade de
rever as ações que o professor vem tomando
frente a sua realidade;
 Entender até que ponto tais considerações são
pertinentes na relação do professor/aluno.

DESENVOLVIMENTO

A inclusão baseia-se em dois importantes


argumentos: ela mostra ser benevolente para a
educação de todos os alunos, pois ambos aprendem
independentemente de suas habilidades ou
dificuldades; baseia-se em conceitos éticos de direitos e
deveres de todo cidadão - escolas são construídas para
gerar acima de tudo cidadania e quebrar paradigmas
preestabelecidos. A aprovação da Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional 9394/96 estabeleceu,
entre outros princípios, o de “igualdade e condições
para o acesso e a permanência na escola” e adotou nova
Aula 4 | Reflexões sobre a formação do professor para a Educação Inclusiva 121

modalidade de educação para “educandos com


necessidades especiais”. Desde então, a temática da
Inclusão vem testemunhando, tanto no meio acadêmico Para pensar

quanto na própria sociedade, novas e acaloradas


O sistema escolar
discussões, embora ainda carregue consigo sentidos
para construir uma
alterados. Quando a lei dita igualdade educacional em comunidade escolar
inclusiva é preciso
escolas regulares, ela está involuntariamente abrindo um planejamento e
o desenvolvimento
uma passagem para a reflexão sobre questões que de um currículo que
conduza aos
transcendem à sala de aula: falar de inclusão é resultados
esperados pelo
estimular elementos que socialmente estão Estado e pelos
setores
entranhados em nossa vida cotidiana. A inclusão social educacionais.
Preparar um grupo
é o processo pelo qual a sociedade e o portador de para trabalhar de
maneira cooperativa
deficiência procuram adaptar-se mutuamente, tendo
e dividir
em vista a equiparação de oportunidades e, conhecimentos para
melhorias para um
conseqüentemente, uma sociedade para todos. A progresso contínuo.
Aquisição em
inclusão na sociedade, no trabalho, no lazer, nos tecnologia para dar
apoio, servindo
serviços de saúde significa que a sociedade deve como um importante
amplificador da
adaptar-se às necessidades da pessoa com deficiência comunicação para
acoplar a escola à
para que esta possa desenvolver-se em todos os comunidade e o
ensino dos
aspectos de sua vida. No entanto, apenas a lei resultados
esperados, além de
fundamentar este fato não significa que as
grupos de docentes
transformações serão imediatas; pelo contrário, esta é agindo como
planejadores,
uma mudança que não se restringe ao espaço escolar, educadores e
avaliadores de
socialmente ainda estamos presos a modelos, padrões programas que
transportem a uma
estereotipados - sejam de beleza, comportamento ou ação pedagógica
inclusiva. Nosso
mesmo educacionais. Aquilo que é belo está sempre sistema educacional
está preparado para
unido a algo que não difere, que não destoa do ideal esta escola?
que a própria sociedade determina. As condutas são
previstas e desejadas, esperando que as crianças
evoluam conforme as “teorias de desenvolvimento” e, o
mais decisivo, são os padrões educacionais onde a
escola “insere a todos, mas não as inclui”.

Felizmente, a inclusão, em termos legais, deixou


de ser uma proposta utópica e passou a ser real, ela
existe e já urge uma reformulação de seus ideais
indicados. Em 1994, na Espanha, a assinatura da
“Declaração de Salamanca” contribuiu de maneira decisi-
Aula 4 | Reflexões sobre a formação do professor para a Educação Inclusiva 122

va para o avanço deste debate, abordando questões


que embora privilegiassem a educação, não deixavam

Para refletir de mencionar o aspecto social. “...Escolas regulares


que possuam tal orientação inclusiva constituem os
A aprendizagem, meios mais eficazes de combater atitudes
assim como a
formação, é um discriminatórias, criando-se comunidades acolhedoras,
procedimento que se
estende por toda construindo uma sociedade inclusiva e alcançando
vida. Da mesma
forma, a docência educação para todos; além disso, tais escolas provêem
indica aprendizagem
constante, na qual o uma educação efetiva à maioria das crianças e
professor vai
estruturando seus aprimoram a eficiência e, em última instância, o custo
conhecimentos e
alicerçando sua
da eficácia de todo o sistema educacional” (Declaração
carreira. O de Salamanca, 1994). A “educação para todos” tem
desenvolvimento é
permanente, se faz uma abrangência muito maior do que levar crianças
de diversas formas e
em diferentes especiais para dentro de escolas regulares, todos temos
lugares, tendo assim
um sentido mais o dever e, por que não dizer, o direito de conhecer o
extenso,
compreendendo novo. Quando uma criança especial entra numa escola
toda a vida.
Formação vasta é a de classe regular, ambas (especiais e “normais”) estão
que engloba
informações aprendendo: cada uma está satisfazendo sua
adquiridas em vários
espaços e de
necessidade enquanto pessoa; estão se tornando parte
diferentes formas. de um universo que passa a ser compartilhado e não
Você já havia
pensado sobre isto? mais específico de cada um. A inclusão é ambivalente:
uma criança com necessidades especiais está também
auxiliando na construção ou, quem sabe,
desmoronando uma sociedade fechada e, muitas vezes,
preconceituosa.

EXERCÍCIO 1

Rubem Alves diz que a escola não leva em consideração


o desejo de aprender e está longe de responder às
perguntas das crianças. Você concorda? Reflita sobre a
importância do professor para responder essa
pergunta.
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Aula 4 | Reflexões sobre a formação do professor para a Educação Inclusiva 123

Obviamente que a inclusão depende largamente


da atitude dos professores face aos alunos com
necessidades especiais, das suas percepções sobre as
diferenças na sala de aula e da sua vontade de lidar,
eficazmente, com essas diferenças. A atitude dos
professores foi indicada como um fator decisivo na
construção de escolas mais inclusivas. Se os
professores não aceitarem a educação de todos os
alunos como parte integrante do seu trabalho, tentarão
que alguém (muitas vezes o professor especialista)
assuma a responsabilidade pelos alunos com NEE e
organize uma segregação “dissimulada” na escola (por
exemplo, classe especial).

Falar do papel de educadores e educadoras na


sociedade atual demanda entender como esse foi se
constituindo através do caminhar da educação
brasileira. Segundo Gadotti (1998), os cursos de
formação de professores, mais especificamente o curso
de pedagogia, é regulamentado no Brasil, em 1969, no
período da ditadura militar, fato este que remete a
pensar em um educador passivo, apolítico, técnico, sem
preocupações sociopolíticas, com um agir totalmente
desvinculado da realidade na qual se inseria. Dessa
forma, oferece habilitações para supervisão, orientação,
administração, inspeção e planejamento com
conotações totalmente tecnicistas, apoiadas no
treinamento desses profissionais para atuarem nas
escolas com toda a objetividade possível.

Para entender a forma que o curso de pedagogia


foi regulamentado no Brasil, faz-se necessária a
compreensão de como essa mentalidade, mesmo que
de forma implícita, ainda permeia o agir de educadores
e educadoras no momento atual, pois a formação do
profissional da educação não se inicia, ao contrário do
que se imagina, quando esse ingressa em um curso de
formação de professores, mas sim desde o primeiro dia
Aula 4 | Reflexões sobre a formação do professor para a Educação Inclusiva 124

em que esse ingressa na escola como aluno. Suas


representações e significados de educação, vivificados
enquanto estudantes, são muito mais influenciados pela
sua vivência escolar do que com as teorias que venha a
entrar em contato com sua formação acadêmica.

Para refletir
Grande parte dos educadores e educadoras que
se encontram em sala de aula atualmente passou por
Quantos professores
educam seus alunos, todo esse sistema repressivo da ditadura militar e
por que,
primeiramente, os foram alunos de professores e professoras que
ajudam? Eu sou uma
líder educadora? Sou trabalhavam sobre o escudo desse momento histórico.
capaz de educar
qualquer pessoa? Carecem sempre refletir, questionar e rever sua prática
Tenho real desejo de
ajudá-las? pedagógica para não cair em um ciclo vicioso de
Educando-as?
reprodução dessa ação castradora.

Paulo Freire já proclamava desde os anos 60, e


de acordo com Gadotti (1998, p.72), que a educação
não é neutra. Ou se educa para o silêncio, para a
submissão, ou com o intuito de dar a palavra, de não
deixar calar as angústias e a necessidade daqueles que
estão sob a responsabilidade, mesmo que temporária,
de educadores e educadoras nos âmbitos escolares.
Sendo assim, métodos e técnicas precisam ser
reformulados na discussão sobre a educação, o que se
deve atentar prioritariamente é sobre a vinculação
«entre o ato educativo, o ato político e o ato
Para refletir
produtivo».

Platão, na República,
já alertava a Nesse prisma, professores e professoras têm um
importância do papel
do professor na papel, sobretudo político e precisam problematizar a
formação do
cidadão. O que é educação, buscando o porquê e o para que do ato
ser,
verdadeiramente, educativo; mais que isso, sua tarefa é a de quem
educador?
Procure conversar
incomoda, de quem evidencia e trabalha o conflito, não
com seus colegas o conflito pelo conflito, mas o conflito para sua
sobre esta questão.
superação dialética.
Aula 4 | Reflexões sobre a formação do professor para a Educação Inclusiva 125

No entanto, pergunta-se, até que ponto pode-se


dizer que esse fazer dialético, questionador, está
presente no cotidiano escolar? Estão nossos professores
e professoras problematizando as questões ou
continuam se calando diante das injustiças? Trabalham
para quem? A favor de quem? Estabelecem uma
relação dialógica com o saber, buscando uma sociedade
democrática e coletiva ou reproduzem a lógica do
sistema no interior das escolas através de seleções, de
exclusões, de estímulo à individualidade e à
competitividade?

Gadotti (1998, p. 74) entende que não há uma


educação tão somente reprodutora do sistema e nem
uma educação tão somente transformadora desse
sistema. Essas duas tendências coexistem no plano
educacional numa perspectiva dialética e conflituosa.
Sendo assim:

[...] há uma contradição interna na


educação, própria da sua natureza,
entre a necessidade de transmissão de
uma cultura existente – que é a tarefa
conservadora da educação – e a
necessidade de criação de uma nova
cultura, sua tarefa revolucionária. O
que ocorre numa sociedade dada é que
uma das duas tendências é sempre
dominante.

Sendo assim, o papel dos profissionais da


educação necessita ser repensado. Esses não podem
mais agir de forma neutra nessa sociedade do conflito,
não podem ser ausentes, apoiando-se apenas nos
conteúdos, métodos e técnicas; não podem mais ser
omissos, pois os alunos pedem uma posição desses
profissionais sobre os problemas sociais, não com o
intuito de preocupação ideológica de suas crenças, mas
como alguém que tem opinião formada sobre os
assuntos mais emergentes e que está disposto ao
diálogo, ao conflito, ao questionamento do seu saber.
Aula 4 | Reflexões sobre a formação do professor para a Educação Inclusiva 126

Atualmente, não se pode mais se apoiar em


Dica de
leitura
teses que apregoam que a educação não pode mudar
enquanto não houver mudanças estruturais no sistema.
Paulo Freire enfatiza Faz-se necessário acreditar, com Gadotti, que apesar
a necessidade de
uma reflexão crítica da educação não poder sozinha transformar a
sobre a prática
educativa, sem a sociedade em questão, nenhuma mudança estrutural
qual a teoria pode
se tornar apenas pode acontecer sem a sua contribuição. As
discurso e a prática
uma reprodução
transformações sociais, que muitos almejam para uma
alienada, sem
sociedade mais justa, com menos desigualdades, onde
questionamentos.
Defende ainda que a todos tenham voz e vez, só será possível a partir do
teoria deve ser
adequada à prática momento que se evidenciem o conflito, não tentando
cotidiana do
professor, que passa escondê-lo ou minimizá-lo, mas que o traga à tona,
a ser um modelo
influenciador de para que assim a educação não contribua como
seus educandos,
ressaltando que na mecanismo de opressão, buscando a superação e não a
verdadeira formação
docente devem estar manutenção do status quo.
presentes a prática
da criticidade ao
lado da valorização
Não é raro ver dentro do ambiente escolar a
das emoções.
FREIRE, Paulo. presença de profissionais que, com uma visão
Pedagogia da
Autonomia. Rio de estereotipada, produzem o “destino” de muitas crianças
Janeiro: Paz e Terra,
1996. que não se enquadram no ideal que a escola
supostamente havia previsto. A prática de rotular e
categorizar crianças, nitidamente baseada nas “faltas”,
reforça o fracasso e perpetua a desigualdade entre os
indivíduos.

É importante ressaltar que a inclusão não


acontece por acaso, muito esforço deve ser depositado
para que ela seja efetiva, a diversidade só inclui
quando todos se sentem integrados.

Para pensar
Entretanto, cabe lembrar que tais esforços já
permitem a abertura de espaço para essas mudanças,
Ser mestre é
encantar, é muito já se alcançou. Atualmente, as escolas não
surpreender.
Emocionar... negam seus esforços para atender ao que a lei
Por que nem todo o
professor vira determina, porém, um longo percurso ainda precisa ser
mestre?
trilhado e vencido para que se atinja a completude de
direitos humanitários tão desejados por essas pessoas
especiais.
Aula 4 | Reflexões sobre a formação do professor para a Educação Inclusiva 127

A inclusão não está apenas exigindo acesso à


escola regular, não devemos esquecer que é lá onde a
criança começa a exercer valores de cidadania e
respeito pelo outro. Exercitar esse relacionamento
proporcionará no futuro uma quebra de paradigmas, e
ressignificará os relacionamentos. O papel da escola
inclusiva não se encerra no conteúdo que ela explora,
essa é apenas uma pequena parcela de seu papel.

Historicamente, a figura do professor sempre


representou a materialização do saber, alguém com
autonomia suficiente para ministrar conhecimento. Era
ele o responsável pela estruturação social, pois através
do conhecimento adquirido na escola era possível
estabelecer divisões de poder e de cultura. Com isso,
sua importância esteve vinculada, por um longo tempo,
Para refletir
a uma autoridade soberana diante do saber desejado.

Quando pensamos
nos costumeiros
O professor atendia a uma demanda social, seu
apelidos que
papel era bem definido e a escola exercia uma função circulam nos lábios
infantis: “Quatro-
específica de transmitir conhecimentos com objetivos olhos”, “Baleia
Assassina”, “Negão”,
bastante característicos ao contexto, ou seja, inculcar “Olívia Palito”,
“Cegueta”, “Bicho-
necessidades que estavam vinculadas a valores pré- de-goiaba” etc.,
estamos muito perto
existentes na hierarquização dos papéis sociais - seja da resposta. A
presença de
para gerar alunos submissos/trabalhadores com preconceitos e a
decorrente
capacidade de agregar na mão-de-obra ou para formar discriminação vivida,
ainda com mais
líderes, capazes de governar em favor de sustentar o
intensidade, pelos
monopólio do poder. portadores de
necessidades
educativas especiais,
impede-os, muitas
Como descrito anteriormente, a figura do
vezes, de vivenciar
professor tinha uma representação de grande não só direitos de
cidadãos, mas de
supremacia, porém, os anos se passaram e a sociedade vivenciar
plenamente sua
sofreu transformações, algumas positivas e outras nem própria infância.
Você já presenciou
tanto. Atualmente, observa-se a figura do professor cenas como estas?
Como reagiu ou
como alguém capaz de superar suas próprias forças, reagiria perante tal
fato? Como o
um batalhador persistente. Isso porque se vive num professor interfere
diante de fatos como
período onde a sociedade gera demandas sucessivas, este?
urgentes - é a era do mundo globalizado, onde tudo é
compartilhado, mas nada é dividido.
Aula 4 | Reflexões sobre a formação do professor para a Educação Inclusiva 128

A escola passou a ser um espaço de socialização


em massa: todos têm direito à escola, e todos que
conseguem, o têm. O professor, ao contrário de outras
épocas, passou a ser desvalorizado, continuou detendo
um conhecimento, mas deixou de ser o único, e com
isso perdeu sua identidade.

Importante
Dentro do contexto educacional, o professor
Como nós, deixou de estar apenas em sala de aula, suas
educadores,
pertencentes a um atividades passaram a estar direcionadas para vários
sistema educacional,
que tem uma momentos no âmbito escolar; suas horas de trabalho
proposta plural e
inclusiva, podemos
não são contadas juntamente com seu salário, e seu
transformar um ser
desempenho exige mais de sua profissionalização. Por
humano em um
“estigma”? esse motivo, sua posição está socialmente além
Já pensou nisto?
daquela estabelecida pela escola, ou seja, apenas “dar
aula” deixou há muito tempo de ser sua única
atribuição. O professor passou a ser um agente de
transformação, alguém capaz de promover mudanças e
permitir renovações em seus alunos.

O professor vem recebendo encargos cada vez


maiores com o passar dos anos, pois a sociedade evolui
com velocidade. É possível perceber, então, seu
crescimento exasperado e que vem contribuindo para o
surgimento de inúmeras lacunas, que vão desde uma
reorganização familiar até o aparecimento de uma
tecnologia em favor de interesses “pseudo-
globalizantes”.

A família deixou de ser a estrutura fundamental


na construção de valores. Educar filhos antes era tarefa
específica das mulheres, que por sua vez, não
trabalhavam, e hoje já não ocorre mais. Com a entrada
das mulheres no mercado de trabalho, muitas
mudanças foram geradas.
Aula 4 | Reflexões sobre a formação do professor para a Educação Inclusiva 129

O tempo passou a ser o grande adversário neste


contexto - trabalha-se mais, convive-se menos. Mesmo
as crianças já são inseridas neste ritmo, desde cedo
aprendem que são necessárias inúmeras atividades
extracurriculares, sejam elas para acrescentar num
“currículo” futuro ou porque precisam de uma atividade
integral para preencher seu “tempo” enquanto seus
pais trabalham.

Para refletir
O professor passou a ser o companheiro nessa
jornada do aluno e os pais, mesmo quando não falam
Cada criança pensa,
diretamente, esperam isso do professor - que ele possa age e reage de
forma diferente, o
ser alguém “suficiente” aos seus filhos, tanto para que exige concepção
de que a forma de
ensinar quanto para inculcar valores. E esse é o novo trabalhar com cada
um também precisa
papel do professor - ser alguém capaz de ministrar ser diferenciada.
Nesse sentido, a
conhecimento, mediar informações e, sobretudo,
prática auxilia no
estabelecer vínculos capazes de educar além da sala de olhar do professor
sobre seus alunos,
aula. identificando as
necessidades e
desejos de cada um.
Assim, a prática
Vivenciamos uma sociedade carente de afeto, de surge para a
professora como
uma estrutura familiar sólida, referenciais pessoais e, elemento
fundamental na
com isso, a busca por satisfação é constante. Um competência para
ensinar alunos
paradoxo que intriga - nunca foi tão fácil o acesso a incluídos. Assim, fica
muito claro o
informações e, com o advento da tecnologia/internet, o
trabalho do
mundo encurtou distâncias e a vida parece não ter mais professor, não?

limites.

Wallon acredita que o sujeito se constitui através


de sua interação afetiva com o meio, é por intermédio
dessas construções que as crianças buscam referenciais
positivos para agregar seus valores. O indivíduo passa,
então, a ser sujeito, passa a receber e doar inúmeras
informações de si, estabelecendo trocas, modificando e
ressignificando sua história.
Aula 4 | Reflexões sobre a formação do professor para a Educação Inclusiva 130

EXERCÍCIO 2

Partindo do princípio de que o educador não é um mero


transmissor de conhecimentos, mas alguém que
desenvolve as potencialidades dos alunos, é primordial
que encare esta profissão com responsabilidade,
comprometimento, criatividade e iniciativa para que,
desta forma, possa desempenhar seu trabalho de modo
mais produtivo.
Qual a responsabilidade do educador diante da
inclusão?

____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

Com tanta novidade muito se perdeu, o


paradoxo referido acima se fez ainda mais angustiante,
pois num mundo com tantas aproximações nunca se
falou tanto em solidão. Pessoas sem referenciais ou
com estes distorcidos, crianças e jovens insatisfeitos e
com atitudes desenfreadas. A escola passou a ser lugar
de desabafo, tanto de pais quanto de alunos - pais que
buscam respostas às atitudes de seus filhos e alunos
que procuram modelos para a construção de suas
identidades.

Com o vislumbre deste quadro, a relação


professor-aluno passou a ser algo ainda mais intenso,
pois deixou de ser uma relação fragmentada e tornou-
se algo explicitamente dual. Cabe ressaltar que a
aprendizagem ocorre quando esse processo está sadio,
do contrário teremos uma relação ameaçada e fadada
ao fracasso. Uma relação que não se sustenta, onde se
estabelecem apenas regras de convivência, não pode ser
Aula 4 | Reflexões sobre a formação do professor para a Educação Inclusiva 131

considerada inclusiva - relacionar-se tem um sentido


mais profundo, não é tão simples, mas deveras
transformador.

Conseqüentemente, a educação não age de


maneira isolada quando procura, por intermédio de
metodologias e didáticas, estabelecer normas de
aprendizado. Um conjunto de fatores contribui para que
este processo seja realmente algo real e positivo.
Para pensar
Considerando que todo esse processo é antes de
qualquer coisa constituído por indivíduos, articulado por
O aluno incluído não
professores que são sujeitos inscritos na sociedade com pode passar à sala
regular e
histórias e contextos pessoais diversificados, não faria permanecer sendo
atendido como se
sentido ater-se apenas a formas enigmáticas e estivesse na classe
especial ou sala de
revolucionárias de aprendizagem. Não convém ignorar recursos, é
necessário então
toda essa construção, e a ação do professor nesse criar meios para
trabalhar com todos
sentido é sem dúvida reveladora. Quando o aluno os alunos. Nesse
sentido, creio que a
chega à escola e procura ocupar seu espaço, não vem promoção de
atividades lúdicas,
sozinho. Todas as aprendizagens o acompanham
interativas
permanentemente, dando origem a suas atitudes e contribuem para a
aprendizagem
ações de intencionalidades, sejam elas diretas ou através da
cooperação e do
indiretas, a si mesmo ou em relação ao outro. respeito às
diferenças
individuais.
Com o professor não é diferente. A escolha por Concorda?

esta profissão faz parte de uma história. Em algum


momento, esse indivíduo se posicionou por estar
exercendo essa ocupação, muitas vezes uma escolha
positiva, outras casualmente negativa. Daí essas
informações serem tão relevantes quando entendemos
que ser professor é, a priori, ser sujeito num processo
ativo e constante de relacionamento com o outro.
Conseqüentemente, visto que de antemão essas
relações se referem a sujeito-aluno e a sujeito-
professor, faz-se imperativo entender em que
circunstâncias estão acontecendo essas construções, e
quais são as possíveis interferências inerentes a cada
um que está movendo esse processo de ensino e de
aprendizado, no seu mais amplo sentido, não somente
no tocante aos conteúdos.
Aula 4 | Reflexões sobre a formação do professor para a Educação Inclusiva 132

Aspectos objetivos são facilmente diagnosticados


e/ou reconhecidos no outro, contudo, não são apenas
esses que abastecem essa relação, há fatores
subjetivos, ou seja, aqueles que ficam inscritos em
nossa personalidade e são transferidos para nossa
relação com o outro. Esses, por sua vez, tornam-se
ainda mais relevantes quando nos referimos ao
professor das classes inclusivas. Quando se fala de
sujeitos, não é possível ficar preso a um único sentido
de sua completude, antes, deve-se compreendê-los
como indivíduos de pequenas construções que vão de
um nível social até o psíquico. Neste sentido, o homem
é resultado de várias combinações (histórica, social,
cultural, psíquica). Por este motivo, suas construções
são marcadas pelo poder de transformação e de
reestruturação.

Para
navegar O homem, à medida que se desenvolve, passa
na relação com o outro a construir sua própria
A formação do
professor, inicial e existência. Partindo desse raciocínio, é extraordinária a
continuada, tem sido
motivo de constante maneira como o homem adquire consciência da
preocupação da
Secretaria Especial importância de sua existência, pois é por meio desse
de Educação
Especial/MEC,
círculo de relações que ele busca responder as suas
fornecendo angústias. O homem passa, então, a ser herdeiro dos
instrumentos e
recursos para a desejos dos outros, isto é, a construir sua história com
escola trabalhar com
a diversidade, e referenciais que o outro lhe dará.
para realizar uma
gestão, articulada
com a família e a
comunidade, que Tais comprovações nos transportam à
busque respostas
para as grandes compreensão de um homem social e culturalmente
questões. Para saber
mais, acesse o site: situado, fazendo, com freqüência, um movimento entre

http://portal.mec.go
o seu desejo e o que querem que ele deseje. Dessa
v.br/seesp forma, o professor, que tem por objetivo profissional
interceder por um determinado conhecimento, passa a
exercer outra atividade enquanto sujeito inserido num
contexto social repleto de lacunas.
Aula 4 | Reflexões sobre a formação do professor para a Educação Inclusiva 133

Após ter vislumbrado tais considerações, é


importante retomar a questão central deste trabalho - o
professor enquanto sujeito nas escolas inclusivas. Pois,
considerando os comentários feitos até o presente
momento, tem-se como ponto inicial a relação que vem
sendo estabelecida desse professor frente à
especificidade dessas crianças. Não é raro ver
sentimentos de insegurança, de rejeição, de pena, de
amor, dentre tantos outros, pairando sobre o cotidiano
desses professores.

Mas por que estes sentimentos são tão Para refletir


marcantes nestas relações? É importante saber como
este professor se sente frente a esta nova condição e O professor não
precisa ser
entender que seus desejos podem refletir expectativas, preparado para a
diversidade e sim
adaptar atitudes as quais são intrínsecas à sua história. para a inclusão, pois
para essa não existe
Silenciosamente, o professor transmite suas intenções procedimento
pronto. O educador
em relação ao outro, aquilo que não é dito traduz o que terá que olhar seu
aluno sob outro
ele espera e como o vê. foco, entendendo-o
e buscando escolhas
e apoio necessário.
A condição em que a criança especial se insere O professor deve ter
uma atitude afetiva,
no mundo está vinculada a uma série de informações flexível, dinâmica e,
acima de tudo, com
que já lhe foram passadas. Quando inicia sua vida muita
suscetibilidade,
escolar, muito de sua existência já lhe foi pré-dita e tolerância e
dedicação, construir
transmitida pelo seu núcleo de relacionamentos. E a o seu trabalho diário
de modo confiante,
partir daí, quando entra na escola e aumenta seu adequado e
transformador,
círculo de relações, tendo o professor como imagem contribuindo
categoricamente
central no espaço educativo, ela vai iniciar um novo
para a superação
processo de relação com o aprender, com o saber. das estruturas
excludentes ainda
tão presentes na
nossa sociedade,
A história desse professor passa a ser integrante com investimentos
expressivos, a fim
nessa relação. Todas as suas aprendizagens serão de melhorarem as
respostas
expostas perante esse relacionamento, nesse momento educacionais das
escolas para todos
ele passa a confrontar a si mesmo, e a ser co os alunos,
identificando e
responsável pela inserção desse sujeito na escola e na removendo
obstáculos para
sociedade. Partindo dessa referência, decorre o fato de
aprendizagem.
que o olhar direcionado para as crianças é tido como
nosso objeto de desejo, aquela que é capaz de me forne-
Aula 4 | Reflexões sobre a formação do professor para a Educação Inclusiva 134

cer algo suficiente para que o sujeito se complete. Isso


ocorre porque sempre se está em busca de preencher
os espaços vazios da história de cada um e, como dito
anteriormente, é nessa relação com o outro que será
possível disparar essa busca.

Sendo assim, a criança, que é especial, não por


uma boa condição, mas pelo fato de receber um termo
específico para sua condição já a coloca num outro
patamar, alguém que merece ter esse “princípio” para
ser identificada. Isso se faz visivelmente necessário por
ser diferente do modelo esperado, o que conduz ao
seguinte raciocínio: quem, num nível inconsciente,
deseja, ou mesmo, de fato crê poder receber algo
dessas crianças? Será que algum professor, enquanto
pai ou mãe de fato deseja ter um filho “especial?”
Porém, o que se encontra é uma grande máscara,
ainda que sem a intenção, para minimizar essa relação.

Para refletir
Algo que não é restrito apenas aos professores
das classes inclusivas, mas que está impregnado na
As linhas da Escola
Para Todos nossa sociedade e alimentando nossas construções
traduzem princípios
fundamentais de psíquicas. Passa-se a desejar aquilo que é saudável aos
uma educação
inclusiva. Visam olhos, imita-se o que é instituído belo, separa-se o
assegurar o acesso e
a trajetória diferente, ou inclui permitindo que o console por sua
escolares bem
sucedidos a todos os condição. Assim como se deseja aquilo que possa
educandos em uma
escola
completar a cada um, todos estão sujeitos a rejeitar
qualitativamente aquilo que não lhes agrega.
capaz de contestar
aos desafios da
desigualdade. Para
isto, a noção de Abreu & Masetto (1990) citam alguns
educação, como
direito, deve ser comportamentos para o estabelecimento de um clima
concebida e
interpretada em sua facilitador de aprendizagem para o aluno. Assim, o
plenitude, como
herança inegociável professor:
na constituição da
cidadania.
 Favorece situações em classe nas
quais o aluno se sente à vontade
para expressar seus sentimentos;
 Faz com que a composição dos
grupos de estudo varie no decorrer
do curso;
Aula 4 | Reflexões sobre a formação do professor para a Educação Inclusiva 135

 Tenta evitar que poucos alunos


monopolizem a discussão;
 Compartilha com a classe na busca
de soluções para problemas surgidos
com o próprio professor, como o
curso ou entre alunos;
 Expressa aprovação pelo aluno que
ajuda colegas a atingirem os
objetivos do curso;
 Respeita e faz respeitar diferenças de
opinião, desde que sejam opiniões
bem fundamentadas;
 Expressa aprovação pelo aluno que
toma iniciativa, desde que estas
contribuam para o crescimento da
classe;
 Usa vocabulário que é claramente
compreendido pelo aluno.

A análise, até o presente momento, indica que a


relação entre o professor e o aluno depende,
fundamentalmente, do clima estabelecido pelo
professor, da relação empática com seus alunos, de sua
capacidade de ouvir, refletir e discutir sobre o nível de
compreensão dos alunos e da criação das pontes entre
o seu conhecimento e o deles. Indica, também, que o
professor, educador da era industrial com raras
exceções, buscou educar para as mudanças, para a
autonomia, para a liberdade possível numa abordagem
global, trabalhando o lado positivo das crianças e para
a formação de um cidadão consciente de seus deveres
e cônscio de suas responsabilidades sociais.

Para refletir
Todos têm um lugar reservado na escola e na
sociedade. Isso porque o que se deseja está
Segundo a
prontificado a determinar e a estabelecer normas e professora Fátima
Alves, para entender
condutas. Tais posturas, como já mencionado, estão na o que o indivíduo
tem a dizer é
maioria das vezes num nível inconsciente, o que importante o
educador escute.
autoriza determinadas atitudes. Por isso, muitas vezes, Reflita: nós,
educadores, temos o
depara-se com uma sala de aula tão delimitada. E hábito de escutar
esses limites não se fazem apenas num espaço físico, nossos alunos?

são cadeiras que ficam reservadas em cada professor.


Reserva-se espaço para o bagunceiro, para o inteligente,
para o desatento, e agora com a inclusão, para o
deficiente.
Aula 4 | Reflexões sobre a formação do professor para a Educação Inclusiva 136

Aprendeu-se que, para cada sujeito, uma construção se


fez específica: se o deficiente entra nesse espaço, o
pessoal, algo deverá ser dado.

As interfaces desse relacionamento vão traduzir


o que está guardado, o que o professor pode ser,
enquanto pessoa, para o outro. Embora não sejam
claramente expostas, essas crianças especiais são um
grande desafio para os professores - elas ativam um
mecanismo de ansiedade que lhes permitem perceber
suas fragilidades frente àquilo que não conhecem. O
inconsciente é, muitas vezes, desconhecido de cada
sujeito e nesse contato ele torna-se mais ativo.

Quando a criança encontra um professor que se


sente constrangido, ou mesmo eufórico, em trabalhar
com sua especificidade, deixa-se de questionar em que
momento de sua vida é remetido a esse episódio, a
Para refletir
ponto de tal sentimento se fazer tão presente. O
conceito de sujeito é amplo, e sua abordagem sugere
Não podemos perder
de vista que a um estudo bastante aprofundado e minucioso. No
qualificação do
profissional de entanto, esse subitem buscará fazer algumas reflexões
educação para lidar
com os alunos com pertinentes ao tema sugerido e buscará não perder sua
deficiência é
elemento acionador profundidade, mas se atendo a explicações sólidas para
para que a educação
inclusiva saia do basear esta análise.
papel e realmente se
materialize,
transforme-se em
Em educação, a necessidade de mudança urge
realidade e, assim,
possamos ter como por transformações significativas, nesse caso, entender
probabilidade uma
sociedade mais justa as particularidades de cada um junto as suas
e igualitária já que a
educação é a singularidades e especificidades renova a visão de
alicerce do
desenvolvimento de educar. De uma maneira bastante transformadora,
uma nação. A
preparação pensar o outro permite abrir espaço para compreender
adequada de todos
os educadores as necessidades subjetivas e intrínsecas de cada um,
constitui um fator-
chave no acesso de
até por que agir nesse intuito, involuntariamente, implica
avanço no sentido
reconhecer a si próprio, se perceber e a partir do outro
do estabelecimento
de escolas perceber a fragilidade de cada um em sua existência.
inclusivas.
Concorda?
Aula 4 | Reflexões sobre a formação do professor para a Educação Inclusiva 137

Por fim, é possível perceber que tais


considerações apontam para uma concepção de relação
baseada em diálogos subjetivos, uma perspectiva
diferente do habitual, cabe a compreensão desse. A
relação professor-aluno deverá aclarar novas práticas
de relacionamento. As transformações sociais e
comportamentais geram práxis diferenciadas e isso
repercute em um novo tipo de envolvimento entre
professores e alunos. Significa que a sala de aula
deixou de ser o espaço destinado apenas a dar aulas -
o relacionamento entre os integrantes da comunidade
escolar passou a dar novos rumos à educação e à
aprendizagem. Por meio desse movimento, a
aprendizagem foi ressignificada. Essa relação entre
professores e alunos vai além do que é possível
transmitir num relacionamento de prática didática
direta, muito se transmite direta e indiretamente, de
maneira que as marcas dessa relação podem abrir ou
fechar todo um percurso do educando.

EXERCÍCIO 3

A construção de uma escola inclusiva não é


responsabilidade somente da educação especial, mas
de todos os profissionais envolvidos no processo e no
sistema educacional? Tente responder.

____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

Professores e alunos participam de momentos


diferentes em suas vidas, cada qual, enquanto sujeitos,
pertencem a espaços sociais, dimensões de
individualidade e subjetividade distintas, cada um
carrega uma identidade própria, o que significa dizer que
Aula 4 | Reflexões sobre a formação do professor para a Educação Inclusiva 138

ao se encontrarem em um espaço comum de sala de


aula, seus papéis, que já estão preestabelecidos
socialmente, passam a ganhar outra função, o
professor deverá exercer o ofício, que já está
designado, de ensinar e seus alunos de aprender, e é
nesse momento que as relações se cruzam. Isso
significa que a relação entre professor e aluno pode
definir o percurso de todo um aprendizado, o que,
conseqüentemente, pode ter um resultado positivo e/ou
negativo na trajetória desse educando. É importante
destacar neste item que, independente de como seja
esse professor, ele será sempre alguém para ser
lembrado, um referencial que deixará marcas na vida
de seus alunos - independente do que sua profissão
estabeleça, não é por ela que será lembrado. Paulo
Freire diz: “O professor autoritário, o professor
licencioso, o professor competente, sério, o professor
incompetente, irresponsável, o professor amoroso da
Importante
vida e das gentes, o professor mal-amado, sempre com
raiva do mundo e das pessoas, frio, burocrático,
Fazer uma
checagem na nossa racionalista, nenhum deles passa pelos alunos sem
prática pedagógica?
Oferecemos o deixar sua marca.” É por esse motivo que a relação
mesmo currículo
escolar para todos deve ser bem estabelecida, amparada por bons
os nossos alunos?
Temos incluído princípios de lealdade, cumplicidade, respeito e, acima
nossos alunos com
deficiências em
de tudo, tolerância. A sala de aula não traduz mais os
todos os
conteúdos didáticos simplesmente - exemplos
procedimentos
realizados pelos comportamentais e afetivos estão sendo cada vez mais
demais alunos?
presentes nessa relação entre professores e alunos.

A relação professor-aluno precisa ser revista e


analisada com cautela, pois, por intermédio desse
vínculo é possível estabelecer outro nível de
cumplicidade com o saber e com o conhecimento. Esse
passa a ser objeto de desejo e torna-se saudável sua
aquisição. E quando o professor retira de si a imagem
de alguém superior e deixa de ostentar seu saber pode
promover uma relação de troca, onde ambos são
construtores e cooperadores no aprendizado. Segundo
Gadotti (1999: 2):
Aula 4 | Reflexões sobre a formação do professor para a Educação Inclusiva 139

Para pôr em prática o diálogo, o


educador não pode colocar-se na
posição ingênua de quem se pretende
detentor de todo o saber; deve, antes,
colocar-se na posição humilde de
quem sabe que não sabe tudo,
reconhecendo que o analfabeto não é
um homem “perdido”, fora da
realidade, mas alguém que tem toda a
experiência de vida e por isso também
é portador de um saber.

Por fim, o ato de aprender é um fato atrelado à


relação que se estabelece entre professores e alunos, o
que significa dizer que despertar a curiosidade, aguçar
o desejo de aprender está basicamente preso ao
comportamento do professor. Proporcionar o bem-estar
nessa comunicação pode refletir positivamente numa
quebra de paradigmas, desfazendo a visão homogênea
da sala de aula.

Vimos que as relações se constroem de forma


integrada, onde os indivíduos coletivamente exercem
funções uns sobre os outros.

É com essa visão que professores e alunos Dica da


professora
tornam-se sujeito em interação, passam a trocar
individualidades, a trocar subjetividades, alterando o Para que haja
inclusão do aluno
rumo das relações. Nesse momento, deixam de ser deficiente, é
necessário que os
aluno dialogando com o professor e passam a ser indivíduos
envolvidos no
sujeito interagindo com outro sujeito. Dessa maneira, a processo
relação entre sujeitos passa a ter uma profundidade educacional façam
um arrebatamento,
ainda maior, pois é quando ambos passam a no sentido de se
livrarem de modelos
compartilhar fragmentos de suas personalidades, de pré-determinados de
homem, de
suas histórias. Tudo isso permite que ambos possam entenderem a
seriedade para que
fazer uma leitura de suas emoções, mesmo que de o aluno realize suas
próprias
forma inconsciente. Essas emoções são representadas elaborações, para
que compartilhe
em forma de incompatibilidades, afinidades, suas dúvidas, suas
descobertas e seu
resistências e tudo mais de sentido abstrato onde, de poder de resolução.
uma maneira bastante perspicaz, é trocado com o
outro.
Aula 4 | Reflexões sobre a formação do professor para a Educação Inclusiva 140

O relacionamento entre sujeitos compreende


essa integração de emoções e ações sujeitas a uma
necessidade que está condicionada ou não ao querer de
cada indivíduo - isso passa também a servir de
parâmetro para as relações em grupo ou não. Em todos
os momentos, sujeitos são induzidos por suas
necessidades e conduzidos por suas emoções para que
interajam entre si dando assim, sentido às ações.

Em todo tempo, o ser humano está aprendendo,


isso porque sua condição de sujeito inserido em
culturas e espaços sociais diferentes permite essa
constante mutação. Segundo Vygotsky, “...As funções
psíquicas humanas como a linguagem oral, o
pensamento, a memória, o controle da própria conduta,
a linguagem escrita, o cálculo, antes de se tornarem
internas precisam ser vivenciadas nas relações entre as
pessoas: não se desenvolvem espontaneamente. Não
existe no indivíduo como uma potencialidade, mas são
experimentadas inicialmente sob a forma de atividade
interpsíquica (entre pessoas) antes de assumirem a
forma intrapsíquica (dentro da pessoa).”

Para refletir A aprendizagem surge, nesse momento, como


sendo algo que transcende a sala de aula, aprender vai
Uma prática
inclusiva é participar muito além de adquirir conteúdos metodológicos e/ou
na seleção e no uso
de materiais didáticos, a aprendizagem apresentada aqui ilustra uma
instrutivos
apropriados,
constante aquisição de vivências, dentro e fora da sala
equipamentos, de aula, mediante outro, capaz de auxiliar nesse
materiais e outros
recursos que sejam processo. É nesse sentido que a aprendizagem ganha
necessários numa
prática efetiva. Esta uma dimensão muito maior de aquisição de
é uma prática nas
nossas escolas? conhecimento, a partir da compreensão de que a
necessidade do “saber” estimula a curiosidade de
praticar o aprendido; quando o educador percebe que é
possível dividir esses eixos de interesses, pode estar
abrindo um novo caminho para uma aprendizagem
mais significativa.
Aula 4 | Reflexões sobre a formação do professor para a Educação Inclusiva 141

A aprendizagem deve proporcionar avanços no


desenvolvimento, deve significar acréscimo no
crescimento dos sujeitos, do contrário não haverá
aprendizagem. Em continuidade ao raciocínio,
determinadas situações devem ser ligadas ao assunto,
principalmente quando se trata de uma escola com o
caráter de integradora. É importante compreender que
cada vez mais o espaço educacional está sendo
preenchido por crianças de diversas condições culturais
e intelectuais, isso permite que o educador reformule
sua concepção de aprendizagem, saindo de uma
posição estática para a compreensão de que indivíduos
são sujeitos com especificidades diferentes.

A inclusão, num sentido bastante amplo, deverá Para refletir


conduzir ao questionamento e à reflexão do real
significado desse novo modo de enxergar a escola. Ao Na escola inclusiva,
o professor deixa de
abordar o tema inclusão na sala de aula, é necessário ser o instrutor para
se tornar professor
entender o que vem a ser inclusão. Nesse sentido, a pesquisador,
mediador e
inclusão representa a plena integração dos sujeitos em coordenador do
processo de ensino,
uma escola que possa, por sua vez, estar atendendo às numa relação
dialógica com os
suas necessidades, em vários níveis de alunos. A
qualificação
desenvolvimento. A inclusão em sala de aula demonstra profissional
um passo de grande evolução para esses sujeitos, pois concebida como
formação acadêmica
atualmente é praticamente impossível ignorar a distanciada da ação
pedagógica é
existência e a permanência em escolas regulares de superada, e o foco
principal passa a ser
sujeitos portadores de necessidades especiais. Mais que a formação
permanente em
uma necessidade, a inclusão em sala de aula tem se serviço, referenciada
nas experiências
tornado essencial ao pleno desenvolvimento desses individuais e
coletivas vividas na
cidadãos. sala de aula e no
interior do sistema
escolar.
Tudo isso representa uma nova perspectiva de Você acha possível
este tipo de
transformação, tanto em termos de escolarização qualificação?

quanto de humanização. A inclusão em sala de aula não


se reduz apenas à inserção de alunos “especiais”, mas
transporta todos a uma mudança de postura e de
comportamento frente aos novos paradigmas. A
proposta de mudança, que a inclusão permite refletir,
representa uma possibilidade de reconstruir o pensar so
Aula 4 | Reflexões sobre a formação do professor para a Educação Inclusiva 142

bre a compreensão de um mundo estereotipado e


preconceituoso, e isso se torna mais efetivo quando
iniciado pelas próprias crianças. Existe ainda uma
grande dificuldade em sala de aula, tanto dos alunos
quanto do professor - esses, em especial, pelo fato de
estarem frente a algo que poderá despertar algum tipo
de desconforto. Pois, ao entender o outro, ele se
percebe enquanto sujeito\profissional incompleto nas
suas próprias necessidades e desejos de atendê-los.

O diferente e o estranho nos apontam para a


fragilidade humana. A inclusão na sala de aula levanta
questões que merecem reflexão. Para Merch,

A Psicanálise revela que quando


nós excluímos os outros, excluímos
também a nós mesmos. Apenas os
outros podem nos trazer os outros
olhares a respeito de como pensamos,
sentimos, somos. Quando nós
excluímos estes outros olhares,
excluímos também a possibilidade de
incorporar as diferenças, as
Para refletir discordâncias.

Com base nesse raciocínio, é possível entender a


Atender à
heterogeneidade, fragilidade e a dificuldade posta sempre de maneira
possibilitar a cada
aluno desenvolver defensiva pelos professores quando lidam com a
suas potencialidades
para aprender inclusão. Em sala de aula, faz-se necessário entender
implica conhecer
quem é o sujeito a
que a educação precisa sair de uma inércia, de uma
quem se destina o visão unidirecional pela qual fragmenta as ações
fazer profissional do
educador. pedagógicas em sala e repercute no desenvolvimento
do aluno dentro e fora desse contexto educacional. Por
conseguinte, esbarra-se num outro problema, bastante
presente - mesmo que não se poupe esforço para
modificar tal visão, o preconceito ainda está presente,
mas de uma maneira mais subjetiva, com uma
compreensão além do senso comum. A psicanálise vem
tratar o preconceito como narcisismo, nome este
originado do mito de Narciso, que descreve a fascinação do
sujeito por ele mesmo, dificultando o olhar para qualquer
outro ser diferente dele, quando esse sujeito apai-
Aula 4 | Reflexões sobre a formação do professor para a Educação Inclusiva 143

xona-se por ele próprio gera uma expectativa grande


em desejar a imagem que lhe assemelha. No entanto, a
inclusão representa uma tentativa de quebra desse
paradigma, ela significa mudança, uma transformação
que move com o desejo dos sujeitos. Isso faz com que,
muitas vezes, o professor se encontra com algo que o
surpreende enquanto sujeito nesse processo.

Por fim, após ponderar sobre tais considerações,


cabe refletir a inclusão de uma maneira pessoal, como
está acontecendo a inclusão na concepção de cada
sujeito, um fundamento intransferível, pessoal e que
conduz a uma sinceridade consigo próprio. O início da
inclusão não ocorre na aquisição de uma turma, ela
deve iniciar no sujeito/professor, no âmago de desejar
a ponto de estar preparado o necessário para Importante
compreender essa nova visão de sala de aula. Para
Aranha (2001), a inclusão escolar “...prevê O que mais interfere
na ação pedagógica
intervenções decisivas e incisivas, em ambos os lados do educador é a
sensação de
da equação: no processo de desenvolvimento do sujeito despreparo, de não
ter recursos
e no processo de reajuste da realidade social (...)”. suficientes para
receber o educando
Assim, “além de se investir no processo de com deficiência,
sendo que, em
desenvolvimento do indivíduo, busca-se a criação muitos casos, já
vinha se sentindo
imediata de condições que garantam o acesso e a impotente para
participação da pessoa na vida comunitária, através da atender alunos ditos
“normais”. Você
provisão de suportes físicos, psicológicos, sociais e também se sente
assim?
instrumentais”. Supostamente, estaria preparada tal
momento.

O professor precisa entender que especialistas


se aperfeiçoam em seus estudos teóricos, e isso
certamente é valioso, no entanto, as diversas
linguagens que os sujeitos possuem podem significar
uma forma de comunicação bastante pessoal,
intransferível, e com uma eficácia que está longe da
sua formação.
Aula 4 | Reflexões sobre a formação do professor para a Educação Inclusiva 144

Os professores, de uma maneira geral, sentem-


se fracos, sem destino em sua profissão, porém este é
um aspecto que está mais ligado à forma como esse
sujeito lida com seus desejos do que com sua profissão.
Entende-se que sujeitos de baixa auto-estima,
dificilmente, poderão contribuir na quebra de
preconceitos e estigmas.

É preciso que o professor venha se desvencilhar


dessa imagem de desvalorizado e pouco reconhecido, e
assumir seu papel e recuperar sua identidade, do
contrário, as novas aquisições de trabalho, irão fazer
com que se sinta ainda mais cobrado e injustiçado. É
necessário que ele busque em sua história que tipo de
recompensa realmente espera, onde seus desejos estão
sendo frustrados. “O professor, enquanto tipo humano,
Para pensar
representa o espelho no qual o aluno se mira para se

A avaliação
reconhecer ou rejeitar as imagens de si e do seu
formativa destaca-se
mundo ali refletidas. Esse fenômeno do espelhamento,
pelo processo de
humanização. Não tão bem compreendido por Brecht no seu conto, é a
se reduzem apenas
à análise do base da relação professor-aluno. Enquanto função na
desenvolvimento do
conhecimento do estrutura das relações, o professor terá que se
aluno, mas a
evolução pessoal e constituir do ideal do ego do aluno; ele terá que
social, inclusive do
conjunto da escola. representar para o aluno suas aspirações mais
Sendo que por meio
dos registros, em elevadas, seus projetos, o ideal de si mesmo que
forma de pareceres
descritivos, resulta o
persegue e procura alcançar.
crescimento pessoal
e grupal. Concorda?
A incerteza do professor quanto a sua função,
seu papel e sua importância, gera, de uma maneira
inconsciente, uma incerteza em seus alunos, a busca
do conhecimento deve ser uma busca concreta, o aluno
precisa saber o que está buscando.

Sujeitos com necessidades especiais precisam


encontrar em uma escola inclusiva professores com
histórias bem resolvidas, cientes de seus desejos e,
principalmente, trabalhado em suas frustrações,
somente assim poderá assumir seu lugar.
Aula 4 | Reflexões sobre a formação do professor para a Educação Inclusiva 145

Conclusão

O professor inclusivo fica responsável por


garantir a educação, sem se preocupar só em transmitir
conhecimentos, mas também com a “amorosidade”, a
relação afetiva com seus alunos.

Dica da
professora
Devemos lembrar da importância de sensibilizar
e capacitar qualquer funcionário pertencente ao quadro
Educar não consiste
da escola, lembrando que todos devem agir de uma em treinar as
capacidades e
mesma forma e que todos desempenham função acrescentar
conhecimentos
educativa. Portanto, funcionários preparados facilitam o instrumentais, mas
estimular o aluno a
trabalho docente e tranqüilizam a família que tem pensar, respeitando
o seu nível evolutivo
conhecimento que o indivíduo estará bem cuidado, e o seu potencial.
Desenvolver a sua
desde o professor até todos os outros funcionários da autonomia para lidar
escola. com os limites e os
valores no ato
social. Isto é
EDUCAR?
Deixamos claro que o professor não deve ser um
mero aplicador de métodos e técnicas de ensino. Ao
contrário, ele precisa ter postura de pesquisa, análise
de sua prática pedagógica para reformulá-la sempre
que necessário e quando as circunstâncias exigirem.
Deve estar aberto a fazer revisões no seu referencial
teórico, acompanhando as descobertas e o
desenvolvimento do aluno.

Pensar a capacitação dos educadores é um dos


modos de começarmos a mudança na qualidade de
ensino, com o objetivo de criar contextos inclusivos,
capazes de oferecer a aprendizagem a todos os alunos.

Concluindo, a prática docente competente


pressupõe a preparação do professor no campo de
conhecimento sobre a identificação e características dos
alunos e sobre as alternativas de atendimento possíveis
em cada situação concreta.
Aula 4 | Reflexões sobre a formação do professor para a Educação Inclusiva 146

O educador inclusivo não necessita ser um


especialista em domínios específicos do conhecimento,
Para pensar fragmentando o fazer, o saber pedagógico, mas
necessita de uma formação que articule o saber
Educação Inclusiva
significa repensar a
pedagógico com os conteúdos curriculares e as
educação, minimizar
necessidades de todos os alunos, porém não
os mecanismos de
exclusão e assegurar esquecendo das especificidades dos que não ouvem,
a todos com
deficiência o direito não vêem e que precisam de recursos de comunicação
a se beneficiarem. É
buscar um com o universo.
paradigma novo,
que resgate a
educação como bem
Além dos conhecimentos apreendidos, o
social e enfrente as
dificuldades da educador deverá ter uma personalidade rica de
técnica escolar,
compreendendo a atributos como espontaneidade, confiança,
deficiência sob uma
nova perspectiva, experiências, segurança, equilíbrio emocional, sentido
valorizando a pessoa
do professor e, de auto-renovação, atualização constante, entusiasmos
sobretudo a
educação. pela aprendizagem e flexibilidade para se adaptar a
situações diferentes.

EXERCÍCIO 4

A inclusão depende largamente da atitude dos


professores face aos alunos com necessidades
especiais: Neste sentido, marque a resposta que difere
das atitudes importantes:

(A) Conhecer as percepções sobre as diferenças na


sala de aula e lidar, eficazmente, com as
mesmas;
(B) Aceitar a educação de todos os alunos como
parte integrante do seu trabalho;
(C) Assumir a responsabilidade pelos alunos com
NEE;
(D) Organizar uma segregação “dissimulada” na
escola (por exemplo, classe especial);
(E) Desempenhar uma prática educacional
consistente e significativa.
Aula 4 | Reflexões sobre a formação do professor para a Educação Inclusiva 147

EXERCÍCIO 5

Marque a alternativa incorreta.


A relação entre o professor e o aluno depende:

( A ) Do clima impessoal estabelecido pelo professor;


( B ) Da relação empática do professor com seus
alunos;
( C ) Da capacidade do professor em ouvir, refletir e
discutir no nível de compreensão dos alunos;
( D ) Da criação das pontes entre o seu conhecimento
do professor e o dos alunos;
( E ) Do espaço para o bagunceiro, para o inteligente,
para o desatento, e agora, com a inclusão, para o
deficiente.

EXERCÍCIO 6

Caracterize o novo papel do professor.

____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

EXERCÍCIO 7

Explique por que a inclusão renova a visão da


educação.
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Aula 4 | Reflexões sobre a formação do professor para a Educação Inclusiva 148

RESUMO

Vimos que:

 O professor tinha uma representação de


grande supremacia, mas, com o passar dos
anos a sociedade sofreu transformações, e,
atualmente observa-se o professor
enfrentando a superação de suas próprias
forças, para atender demandas sucessivas e
urgentes da era do mundo globalizado;

 Em educação a necessidade de mudança por


transformações significativas é urgente,
sendo necessário entender a singularidade e
as especificidades que renovam a visão do
educador. Para compreender as necessidades
subjetivas e intrínsecas de cada um e
reconhecer a si próprio;

 O ato de aprender é um fato atrelado a


relação que se estabelece entre professores e
alunos, o que significa dizer que despertar a
curiosidade, aguçar o desejo de aprender está
relacionado ao comportamento do professor.
Proporcionar o bem estar nessa comunicação
pode refletir positivamente numa quebra de
paradigmas, desfazendo a visão homogênea
da sala de aula.
A Sala de Aula

5
Inclusiva: o Cotidiano

AULA
Professor-aluno na
Inclusão
Edla Trocoli
Apresentação

Nesta aula serão abordados os aspectos relacionais entre


professor e aluno, com destaque para reflexão do processo
ensino-aprendizagem crítico e autêntico. Portanto, a metodologia
de ensino, o planejamento educacional e o processo avaliativo são
essenciais de serem aqui questionados.

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja


capaz de:
Objetivos

 Discutir a necessidade de o professor ter compromisso e


responsabilidade social, tanto nos conteúdos de sua disciplina
quanto em sua postura perante os alunos;
 Analisar a diversidade como um recurso pedagógico do
professor, tendo em vista que todos os alunos têm aptidão de
aprender;
 Compreender que no processo de avaliação o aluno estabelece
seus objetivos de aprendizagem e formas de avaliar seu
progresso em termos da própria aprendizagem.
Aula 5 | A sala de aula inclusiva: o cotidiano professor-aluno na inclusão 150

Introdução

Vygotsky concebe o desenvolvimento humano a


partir das relações sociais que a pessoa estabelece no
decorrer da vida. Nesse referencial, o processo de
ensino-aprendizagem também se constitui dentro de
interações que vão se nos dando diversos contextos
sociais.

A sala de aula deve ser considerada um lugar


privilegiado de sistematização do conhecimento e o
professor um articulador na construção do saber.

Desde o nosso nascimento, somos socialmente


dependentes dos outros e entramos em um processo
histórico que, de um lado, nos oferece os dados sobre o
mundo e as visões sobre ele e, de outro lado, permite a
construção de uma visão pessoal sobre este mesmo
mundo.

Dica da
professora O processo de ensino-aprendizagem inclui tanto
aquele que aprende, o aluno como aquele que ensina, o
Tenha sempre em professor. O ato de ensinar e de aprender acontece
mente uma meta a
ser atingida pela sua entre “pessoas”. Podemos dizer que não há ensino e
escola e seus
alunos. Faça com aprendizagem sem que haja uma relação entre esses
que todos conheçam
tal objetivo e se sujeitos. E que a aprendizagem depende do
comprometam com
ele. Dificilmente relacionamento entre eles e dos fatores que envolvem
você encontrará algo
tão motivador para essa relação, tais como a afetividade, o anseio, o
suas aulas.
carinho, uma boa comunicação. E mais: os alunos
trazem com eles elementos muito importantes (desejo
de saber, de ser valorizado, de ser amado). Por outro
lado, o professor, também, tem desejos, como o de ser
valorizado pelos colegas, pelos pais dos alunos e de ter
o seu conhecimento reconhecido pelos alunos.

Quando nós mencionamos o valor das interações


em sala de aula, é importante pensarmos que este
referencial não compactua com a idéia de classes
socialmente homogêneas, onde uma determinada classe
Aula 5 | A sala de aula inclusiva: o cotidiano professor-aluno na inclusão 151

social organiza o sistema educacional de forma a


reproduzir seu campo social e sua visão de mundo.
Também não aceitamos a idéia de sala de aula
arrumada, onde todos devem ouvir uma só pessoa
transmitindo informações que são acumuladas nos
cadernos dos alunos de forma a repetir um
determinado saber eleito como importante e básico
para a vida de todos.

Quando imaginamos uma sala de aula em um


procedimento interativo, estamos acreditando que
todos terão probabilidade de falar, de levantar suas
teorias e, nas negociações, chegar a conclusões que
ajudem o aluno a se perceber parte de um processo
eficaz de construção.

A metodologia envolve, freqüentemente, aula


expositiva e demonstrações do professor. O professor
fala, o aluno escuta, e reproduz o que lhe foi passado.
O magistério passa a ser concebido como uma arte
centrada no professor. Cabe ao professor manter o
aluno interessado e atento. Todos os alunos são
tratados igualmente, todos apresentam o mesmo ritmo
e adquirem os mesmos conhecimentos. Umas
disciplinas são consideradas mais importantes do que
outras, possuindo uma carga horária maior.

Para refletir
As relações professor e aluno se constituem
como relações autoritárias, onde o professor impõe ao
O princípio da
aluno a sua tarefa, permanecendo heterônomas as inclusão apela,
assim, para uma
atividades intelectual e moral do aluno. escola que tenha em
atenção a criança
como um todo, não
só criança-aluno, e
A avaliação é empregada para medir a que, por
conseguinte,
quantidade e a exatidão de informações que se acredite no seu
desenvolvimento
consegue reproduzir. Provas, argüições têm um fim em
acadêmico,
si mesmas, mantendo um ritual eficiente e satisfatório socioemocional e
pessoal.
para o modelo autoritário deste tipo de sociedade.
Aula 5 | A sala de aula inclusiva: o cotidiano professor-aluno na inclusão 152

A metodologia deveria envolver aulas dinâmicas


que respeitassem o ritmo diferenciado dos alunos,
porém ainda se mantém no modelo tradicional, ou seja,
na aula expositiva e nas demonstrações do professor. O
magistério passa a ser concebido como uma arte
centrada no aluno. Cabe ao aluno responder ao
processo de ensino em que está inserido. Diferenciam-
se os alunos: cada um tem um compasso de
aprendizagem. Algumas disciplinas ainda são
consideradas mais importantes do que outras,
possuindo uma carga horária maior.

Procura-se quebrar a relação autoritária entre


professor e aluno, onde o professor se aproxima do
mesmo para compreender seu ritmo de aprendizagem,
buscando-se uma autonomia na atividade intelectual e
moral do aluno.

A avaliação é empregada para verificar o que


cada um aprendeu. É o maior recurso utilizado para
dizer quem aprende ou quem não aprende, quem é o
“bom aluno” e quem é aquele outro que deve ficar à
margem do processo educacional.

A inclusão, por sua vez, caracteriza-se pela


preocupação alimentada principalmente pela ciência e
pela tecnologia em se melhorar as condições de vida de
todas as pessoas, através da simplificação do acesso de
todos aos recursos disponíveis, tendo como princípio o
dado da heterogeneidade como característica maior da
existência humana.

A escola que quer constituir uma proposta


dentro do modelo de inclusão, onde se ressignificam as
práticas desenvolvidas no seu cotidiano, como
exigência da reorganização do trabalho escolar. A
inclusão consiste numa significativa mudança na atitude
do professor e propõe a construção de um novo perfil de
Aula 5 | A sala de aula inclusiva: o cotidiano professor-aluno na inclusão 153

escola que, a partir de então, objetiva contemplar e


estimar a singularidade de cada um dos sujeitos,
trabalhando para uma visão de conjunto e parceria na
Para pensar
busca da adaptação do ideal para o real.

A riqueza da
Com a inclusão, podemos visualizar novos aprendizagem está
no fato de poder
horizontes nos níveis escolares e da práxis social. A contar com cada
aluno, com colegas
coerência das relações é repensada, passando a partilhando de
experiências, de
horizontalidade a sobrepor-se à verticalidade. iniciativas, de
potencialidades,
Rediscute-se o papel dos administradores, dos
onde cada um atua
especialistas, dos corpos docente e discente, dos como elemento
formador do outro.
funcionários e pais. Todos se tornam co-agentes da
prática pedagógica e da vida escolar. São parceiros,
vivendo em sincronia, coerentes com o momento
histórico e com a realidade sociocultural. A inclusão
reitera diretrizes e práticas decorrentes da concepção
de que a educação é um processo histórico e tem,
como locus específico, o espaço escolar inserido no
contexto social.

Para refletir
No contexto escolar, o planejamento constitui
uma tarefa docente que inclui tanto a previsão das
Na integração, ainda
atividades didáticas, em termos da sua organização e prevalece o modelo
tradicional de
coordenação em face dos objetivos propostos, quanto a educação, porém se
evidencia a
sua revisão e adaptação no decorrer do processo de diferença no
desenvolvimento do
ensino. processo
pedagógico.
Concorda?
O planejamento passa a ser participativo e
coletivo, constituindo o substrato teórico-metodológico
que norteia toda a prática pedagógica, fortalecendo a
interação escola, realidade social, teorias e práticas
educacionais.

Os objetivos contemplam a construção do


conhecimento pelos alunos, o que sabe e o que precisa
saber, levando em consideração sua realidade sócio-
econômico-cultural.
Aula 5 | A sala de aula inclusiva: o cotidiano professor-aluno na inclusão 154

Na organização e na seleção de conteúdos, de


metodologias e de recursos, o trabalho individual e
solitário do professor cede lugar ao trabalho em grupo.
Buscam-se coletivamente as soluções e alternativas
pedagógicas, bem como a conjugação de recursos
didáticos e de metodologias convencionais com
recursos alternativos e metodologias inovadoras.

O professor assume-se como um intermediário


na construção do conhecimento e não mais como um
mero transmissor de conteúdos estanques e
desvinculados da realidade. Os alunos sentem-se mais
motivados, participativos, exercitando o diálogo e a
criatividade, atuando como co-autores de uma escola
onde todos são cidadãos críticos e autônomos.

Desenvolvimento

Obviamente que a inclusão depende


amplamente da atitude dos professores face aos alunos
com deficiência, das suas percepções sobre as
diferenças na sala de aula e da sua vontade de lidar,
eficientemente, com essas diferenças. A atitude dos
professores foi indicada como um fator decisivo na
construção de escolas mais inclusivas. Se os
professores não aceitarem a educação de todos os
alunos como parte integrante do seu trabalho, tentarão
que alguém (muitas vezes o professor especialista)
assuma a responsabilidade pelos alunos com deficiência
e organize uma segregação “disfarçada” na escola (por
exemplo, classe especial).

A escola, apesar de ser um espaço onde as


diferenças convivem, nem sempre reconheceu sua
existência ou considerou-a na sua complexidade, em
todos os elementos do processo pedagógico.
Aula 5 | A sala de aula inclusiva: o cotidiano professor-aluno na inclusão 155

A escola tem que ser o reflexo da vida do lado


de fora. O grande ganho, para todos, é viver a Importante
experiência da diferença. Se os estudantes não passam
por isso na infância, mais tarde terão muita dificuldade Os professores
concordam que os
de vencer os preconceitos. A inclusão possibilita aos alunos fixam muito
melhor o conteúdo
que são discriminados pela deficiência, pela classe da aula quando a
mesma é ministrada
social ou pela cor que, por direito, ocupem o seu em uma sala
convencional... Cor,
espaço na sociedade. Se isso não ocorrer, essas som, movimento e
uma participação
pessoas serão sempre subordinadas e terão uma vida ativa são elementos
que estimulam os
cidadã pela metade. Você não pode ter um lugar no
sentidos! Concorda?
mundo sem considerar o do outro, apreciando o que ele
é e o que ele pode ser. Além disso, para nós,
professores, o maior ganho está em garantir a todos o
direito à educação.

Diferentemente do que muitos possam pensar,


inclusão é mais do que ter rampas e banheiros
adaptados. A equipe da escola inclusiva deve discutir o
motivo de tanta repetência e indisciplina, de os
professores não darem conta do recado e de os pais
não participarem. Um bom projeto valoriza a cultura, a
história e as experiências anteriores da turma. As
práticas pedagógicas também precisam ser verificadas.
Como as atividades são selecionadas e planejadas para
que todos aprendam? Atualmente, muitas escolas
diversificam o programa, mas esperam que no fim das
contas todos tenham os mesmos resultados. Os alunos
precisam de liberdade para aprender do seu modo, de
acordo com as suas condições. E isso vale para os
estudantes com deficiência ou não.

Constata-se a existência de três diferentes


concepções nos discursos da escola sobre diversidade,
três formações ideológicas que bem caracterizam as
atitudes humanas diante da diferença: a da exclusão, a
da integração e a da inclusão, identificadas,
respectivamente, como os paradigmas do isolamento,
da visibilidade e da acessibilidade (Marques, 2001), sendo
Aula 5 | A sala de aula inclusiva: o cotidiano professor-aluno na inclusão 156

que cada uma delas implica um olhar sobre o processo


pedagógico.

Durante muito tempo, negou-se a existência do


diferente no processo pedagógico. Constituiu-se, assim,
uma prática pedagógica de isolamento, configurando a
formação ideológica da exclusão. A diferença era
percebida como “desvio”, tendo como referencial a
dicotomia normalidade versus anormalidade,
demarcando a existência de fronteiras entre aqueles
que se encontravam dentro da média e os que estavam
fora desta.

Para refletir Os diferentes foram, assim, historicamente


discriminados. Vítimas da rejeição e/ou da compaixão
Escolas consideradas
de qualidade ainda social estiveram sempre à margem do convívio com os
são as que centram
a aprendizagem no cidadãos considerados normais, sendo, inclusive,
conteúdo e que
avaliam os alunos,
segregados, em muitos dos casos, em instituições
quantificando
limitativas, como são os casos dos asilos, das escolas
respostas padrão.
Seus métodos e especiais.
práticas preconizam
a exposição oral, a
repetição, a
memorização, os Nós estamos vivendo um momento hoje em que
treinamentos, o
livresco, a negação a diversidade é muito grande, as possibilidades de
do valor do erro.
São aquelas escolas conhecimento são ilimitadas e as fontes de
que estão sempre
preparando o aluno conhecimento e de informação são múltiplas. De
para o futuro: seja
este a próxima série
repente, nós precisamos criar uma nova mentalidade,
a ser cursada, o
acentuamos todos os nossos sentidos, ligados nas
nível de escolaridade
posterior, o exame possibilidades do momento atual. Isso faz com que
vestibular!
essa metodologia seja, realmente, interessante, seja
rica, seja fértil.

A organização da escola ainda não está pronta


para esse novo momento. É uma organização antiga,
data de muitos séculos. Nesse sentido, precisamos ter
uma análise sobre as dificuldades colocadas aqui pelas
pessoas com deficiência. É uma dificuldade que nos
antecede, mas exige, de nossa parte, um envolvimento
muito grande: a escola do jeito que está organizada
reflete valores que não são os que estão colocados aqui,
Aula 5 | A sala de aula inclusiva: o cotidiano professor-aluno na inclusão 157

como valores básicos, porque é uma escola


individualista, que coloca um determinado
conhecimento como aquele que é o correto, que é o
Para pensar
exato, que é o necessário. Então, ela não está, ainda,
aberta o suficiente para agregar determinados valores Nesse sentido,
poderíamos situar
novos que estão surgindo. esse problema como
uma questão do
conhecimento, quer
dizer, qual é a nova
Quais são os conhecimentos necessários aos relação com o
professores em formação para poderem exercitar a conhecimento que
está sendo criado?
função docente em salas inclusivas? Que nível de
envolvimento educacional do aluno, que faz
licenciatura, é necessário para uma boa formação?

Muitos professores mobilizam os seus saberes


para garantir um conhecimento significativo. Acreditam
e se empenham na busca de novas estratégias e na
construção dos espaços que garanta um ensino de
qualidade.

Diante disso, cabe outra reflexão: como as


escolas estão organizando os seus espaços e
disponibilizando recursos para facilitar o trabalho do
professor? Essa preocupação é pertinente para quem
quer garantir um ensino que seja ‘expressivo’ para o
aluno. Dessa forma, cada profissional precisa ter o
compromisso e a responsabilidade para desenvolver
seu trabalho. Ao mesmo tempo em que pode ser
cobrado, precisa ser estimulado a colocar, em prática,
novas estratégias e a refletir sobre os conteúdos que
“necessitam” ser trabalhados. Na medida em que as
regras estiverem claras, o ambiente estará mais
predisposto ao desenvolvimento de um trabalho
pedagógico sólido.

O primeiro passo parece ser construir,


lentamente, um clima de relacionamento afetivo com
os alunos, fazendo com que eles descubram em seu
professor um efetivo ajudante, disposto a fazê-los
caminhar com eficiência e segurança. Guardando-se as de-
Aula 5 | A sala de aula inclusiva: o cotidiano professor-aluno na inclusão 158

vidas dimensões, a relação emocional que necessita


unir o médico ou o fisioterapeuta ao paciente precisa
integrar a interação entre professor e aluno. É sabido
que os êxitos de uma cura se restringem também ao
clima afetivo que integra o paciente a aquele que o
trata e nada nos faz acreditar que, na criação e
progresso de relação entre aluno e professor, seja
diferente, pois o vínculo emocional será sempre um
suporte aos aspectos essenciais de um trabalho
cognitivo. É importante realçar, porém, que a criação
desse clima emocional não pode jamais despencar para
a informalidade no trato, no desrespeito às relações. O
professor é um profissional e como tal precisa se
insurgir da interação com o aluno; está ali para ajudar,
contribuir, estimular, mas essas metas não podem
abrigar a redução ao estabelecimento de limites e o fim
de uma hierarquia de respeito, indispensável entre
quem oferece ajuda e quem a aceita. Além dessa posição
de dignidade envolvendo os integrantes do processo
interativo, cabe destacar a responsabilidade do
professor em relação aos elementos específicos do
conteúdo do programa que está trabalhando. Em última
análise, o professor não vai intervir na ZDP do aluno
apenas para fazê-lo pensar e aprender, mas para
pensar e aprender fundamentos e elementos da
disciplina que trabalha, na série em que a trabalha.
Dica de
leitura
Esse seria um primeiro passo, mas outros virão

FÁVERO, Eugênia para servir de sugestão ao estilo trilhado pelos


Augusta. Direitos das
pessoas com caminhos de Vygotsky.
deficiência: garantia
de igualdade na
diversidade. Rio de Não é possível se refugiar no comodismo a fim
Janeiro: WVA, 2004.
MANTOAN, Maria de garantir uma pretensa “imparcialidade”. Há
Teresa Eglér.
Inclusão Escolar: O implicações decorrentes das nossas escolhas. Não é
que é? Por quê?
Como fazer? São possível negar as responsabilidades que se têm em
Paulo: Moderna,
2003. relação aos alunos e à sociedade em geral. Em nossas
ações não cabe o discurso da neutralidade.
Aula 5 | A sala de aula inclusiva: o cotidiano professor-aluno na inclusão 159

Quando o docente ensina um conteúdo, elabora


uma estratégia ou avalia o seu trabalho, está sempre
investindo numa extensão formativa. Os alunos têm
necessidade de adquirir habilidades e competências
para enfrentar o dia-a-dia. Não basta a preocupação
com apropriações de conteúdos restritos. O ser humano
só se desenvolve em sua plenitude quando articula bem
as suas múltiplas potencialidades. E o conhecimento
escolar é fundamental nesse processo.
Importante

O ato educativo, portanto, não é um ato isolado


ou neutro. Pode-se optar por ter filiações partidárias, Envolva a
comunidade. Não
mas o comportamento pessoal e profissional de todo permita que sua
escola seja
professor possui, sim, uma dimensão política. Apelo a estanque, isolada do
mundo lá fora.
Libâneo para confirmar essa idéia de que: “(...) a Quanto mais seus
alunos se
prática educativa e, especialmente, os objetivos e misturarem com a
realidade, melhor.
conteúdos do ensino e o trabalho docente estão Concorda?

determinados por fins e exigências sociais, políticas e


ideológicas”. (1994, p.18).

O professor precisa ter compromisso e


responsabilidade social. O seu trabalho não se restringe
à sala de aula. A sua postura perante os alunos, a
forma como trabalha os conteúdos de sua disciplina e
as interações que articula na sociedade provocam
interferências maiores ou menores. A escola e o
professor, bem ou mal, estão ajudando a preparar os
alunos para enfrentar o cotidiano. Pode-se dizer, então,
que não há neutralidade em nenhuma de suas atitudes,
somos parte fundamental nessa composição coletiva.
Novamente, retomo Libâneo para afirmar que: “(...)
Nos trabalhos docentes, sendo manifestação da prática
educativa, estão presentes interesses de toda ordem –
sociais, políticos, econômicos, culturais – que precisam
ser compreendidos pelos professores”.
Aula 5 | A sala de aula inclusiva: o cotidiano professor-aluno na inclusão 160

A escola e o professor não podem deixar de


refletir criticamente sobre as finalidades de seus
trabalhos. Não podem se restringir ao simples
cumprimento do ano letivo e dos rituais burocráticos.
Há muito tempo, os docentes reivindicam uma jornada
de trabalho compatível com as necessidades de
formação, número de alunos que possibilite uma
organização melhor das atividades em sala de aula e
salários que permitam uma sobrevivência íntegra para
o exercício da docência.

Com muita perseverança, muitos professores


enfrentam essas barreiras e procuram garantir um
ensino significativo para os seus alunos. Não é possível
alienar-se e conformar-se com essa situação.
Lembramos ainda que a atividade do magistério, como
outras, leva a uma dimensão política que, direta ou
indiretamente, atinge a sociedade. Quando se perde
essa dimensão, a prática educativa deixa de ter
importância social.

Os alunos, também, não precisam apreender


todos os mesmos conteúdos, pois são pessoas
diferentes, com interesses e aptidões diversas. O
Dica da fundamental é que desenvolvam a curiosidade, o
professora
espírito investigativo, o raciocínio lógico, a

A proposta de se
concentração, o pensamento abstrato, a capacidade
ensinar a turma crítica, e possam aprimorar seus interesses e
toda,
independentemente habilidades.
das diferenças de
cada um dos alunos,
implica a passagem
de um ensino A escola é hoje o lugar de maior convívio de
transmissivo para
uma pedagogia crianças e jovens e, por isso, tem a importante função
ativa, dialógica,
interativa, que se social de ser um lugar onde seja promovido o debate de
contrapõe a toda e
qualquer visão idéias. Um lugar onde todos possam se expressar,
individualizada do
saber. Concorda?
enfrentando suas dúvidas e inseguranças. Onde todos
tenham lugar, com seus recursos e suas deficiências.
Aula 5 | A sala de aula inclusiva: o cotidiano professor-aluno na inclusão 161

Para se ensinar a turma toda, temos de propor


atividades abertas, diversificadas, isto é, atividades que
possam ser abordadas por diferentes níveis de
compreensão e de desempenho dos alunos e em que
não se destaquem os que sabem mais ou os que sabem
menos, pois tudo o que essas atividades propõem pode
ser disposto, segundo as possibilidades e interesses dos
alunos que optaram por desenvolvê-las. Debates,
pesquisas, registros escritos, falados, observação,
vivências são processos pedagógicos indicados para
realizar essas atividades, além, evidentemente, dos
conteúdos das disciplinas, que vão sendo chamados
espontaneamente a esclarecer os assuntos em estudo.

Para pensar
Ela deve ser, portanto, essencialmente inclusiva,
e ajudar seus alunos a conviver com a diversidade,
A investigação em
sendo mais cooperativos uns com os outros. Grande sala de aula deve
ser voltada para a
parte das queixas dos professores em relação ao prática. Não é um
trabalho acadêmico
individualismo dos alunos vem do modelo e puramente teórico.
A expressão
extremamente competitivo que algumas escolas pesquisa-ação,
criada por ele e
adotam, com lemas como “faça parte do time dos divulgada por seus
vitoriosos”. Quando chegam ao mercado de trabalho, seguidores, quer
dizer exatamente
percebem que ser produtivo está muito mais ligado à isso: pesquisa que
se faz do fazer e
capacidade de trabalhar em equipe e ter empatia com para melhorar o
fazer do professor
os outros do que a um desempenho individual. ou de outros
profissionais. Dentro
dessa concepção,
você se considera
Além do mais, é preciso que os alunos um pesquisador?
compreendam que todos somos responsáveis pelo
mundo em que vivemos. É função da escola promover a
solidariedade, a cidadania e desenvolver nos alunos a
noção de responsabilidade social.

Para esse modelo de ensino ser viável, é preciso


que os educadores repensem seu papel e façam
mudanças profundas na escola, tanto na forma de
ensinar quanto no conteúdo e na forma de avaliação,
que deve ser feita para identificar os progressos de
cada aluno e não para rotulá-los.
Aula 5 | A sala de aula inclusiva: o cotidiano professor-aluno na inclusão 162

A legislação atual dá um grande amparo para


essas mudanças, pois, de acordo com a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação, as escolas têm total
liberdade quanto à forma de avaliação dos alunos, e a
organização em turmas não precisa ser feita com base
no rendimento, ao contrário, pode ser feita de acordo
com critérios bastante amplos como idade, afinidade
por projetos. Quer dizer, alunos com diferentes níveis
de desenvolvimento podem perfeitamente conviver na
mesma classe e aprender de acordo com seus desejos
e possibilidades.

E, afinal, são nossos desejos que nos movem,


que gravam lembranças a ferro e fogo na nossa
memória e nos fazem aprender.

EXERCÍCIO 1

Que práticas de ensino ajudam os professores a ensinar


os alunos de uma mesma turma, atingindo a todos,
apesar de suas diferenças? Ou como criar contextos
educacionais capazes de ensinar todos os alunos? Mas
sem cair nas malhas de modalidades especiais e
programas vigentes que nada têm servido para que as
escolas mudem para melhor.

____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

Mas como mudar o sistema sem propor uma


mudança nos seus membros?
Aula 5 | A sala de aula inclusiva: o cotidiano professor-aluno na inclusão 163

Primeiramente, há de se entender que fatores


internos à estrutura escolar tais como a organização
(administrativa e disciplinar), o currículo, os métodos e
os recursos humanos e os materiais da escola são
determinantes para a inclusão desses alunos com
deficiência.
Para refletir

Contudo, a figura do professor neste contexto é


Não mate a
ainda mais relevante, uma vez que este é quem curiosidade. A escola
e seus professores
desenvolve as ações mais diretas no processo de devem ser flexíveis
o suficiente para
inclusão, quais sejam lidar com as diferenças e os responderem às
dúvidas dos alunos,
preconceitos por parte de pais e alunos; com as mesmo que não
tenham a ver com o
perspectivas e possíveis frustrações dos familiares programa das
matérias ou grade
portadores de deficiência; com as limitações e alcances curricular.
dos próprios portadores, entre outras.

Neste novo paradigma, onde se verifica o


surgimento de novas e maiores responsabilidades,
parece clara a necessidade de uma formação mais
eclética para o professor, que inclua conhecimentos
teóricos específicos com fundamentos médicos,
psicológicos, pedagógicos e sociológicos.

Alguns fatores que podem favorecer a inclusão


escolar:
 O projeto pedagógico da escola construído
coletivamente;
 O espírito de cooperação e interação grupal;
 Ambiente escolar estimulante;
 Organização flexível do trabalho pedagógico;
 Interação com as outras crianças;
 Relação da escola com as famílias;
 A possibilidade de formação em serviço;
 Diálogo e interlocução com segmentos
envolvidos;
 Problematização, registro e avaliação
contínuos;
 Abertura da escola para aprender e assumir
desafios.
Aula 5 | A sala de aula inclusiva: o cotidiano professor-aluno na inclusão 164

A diversidade em sala de aula pressupõe uma


pedagogia diferenciada e esta se baseia em dois
fundamentos. O primeiro constitui-se no conhecimento
das necessidades, das formas de aprender e das
extensões psicológicas, materiais e socioculturais dos
alunos. Isso permite que o professor, ao reconhecer a
Você sabia
diversidade, saiba usar recursos variados na sala de
aula para que todos os alunos vejam sentido nos
Preconceito é
"qualquer opinião ou conteúdos de aprendizagem.
sentimento,
favorável ou
desfavorável,
concebido sem O segundo fundamento é a assimilação positiva
exame crítico,
conhecimento ou com a diversidade, pois, compreendendo-a, o
razão"?
professor, além de modificar seus recursos didáticos,
consegue também extrair utilidade da própria
diversidade entre seus alunos como um recurso de
aprendizagem.

O conhecimento da diversidade em sala de aula


nos dá uma lição: ser diverso, diferente não pode - e
não deve - justificar tratamentos parciais ou a
distribuição de melhoramentos.

Independente das diferenças, os alunos


precisam aprender determinados conteúdos e construir
um conjunto de competências para viverem como
cidadãos plenamente. A escola é o lugar em que os

Importante alunos acreditam aprender aquilo que sua cultura e


categoria de vida não conseguem ensinar-lhes.
Não podemos
esquecer o que nos
ensinou Paulo Freire Fazer da diversidade um recurso pedagógico é
em idos de 1978: “A
educação autêntica, acima de tudo mostrar que todos são iguais, porque
repitamos, não se
faz de ‘A’ para B’, ou todos possuem a aptidão de aprender. Cabe, então, ao
de ‘A sobre B’, mas
de ‘A’ com ‘B’, educador, não desistir de educar os alunos, e sim
mediatizados pelo
mundo”. inventar as mais diferentes formas de ensinar para que,
assim, não haja iguais mais iguais do que os outros.
Aula 5 | A sala de aula inclusiva: o cotidiano professor-aluno na inclusão 165

O professor que trabalha no processo de


inclusão, não raro, direciona suas ações em sala de
aula por meio de um anseio enorme de acertar, busca
soluções por meios abstratos e que transcendem alguns
limites, é um batalhador que pensa com as mudanças.

As carências no tocante à extensão de seus


conhecimentos teóricos são muitas, mas ainda
consegue lidar com questões como identificação de
limites e alcances cognitivos, motores e afetivos, pois
para conhecer as dificuldades dos processos de ensino
e de aprendizagem das pessoas com deficiência
necessitamos da ciência médica, da psicológica, da
sociológica e da pedagógica.

Ainda existem vazios entre os ideais propostos e


a prática existente nas escolas, é preciso que, para
além dos ideais proclamados e das garantias legais, se
conheçam o mais profundamente possível as condições
reais de nossa educação escolar. A partir daí, torna-se
possível identificar e dimensionar os principais pontos
da mudança necessária para o alcance da qualidade
Para refletir
que se espera da educação escolar.

Temos de desconfiar
Os conhecimentos teóricos trazem apoios das pedagogias que
se dizem de bons
importantes e permitem ao professor motivar suas propósitos, mas que
desmembram as
ações. A ausência destes conhecimentos limita as crianças em turmas
especiais para
mudanças, restringindo também os papéis que a favorecer a
criança portadora da deficiência pode representar tanto aprendizagem e o
ensino. Precisamos
na escola como na sociedade. nos conscientizar de
que as turmas
escolares queiram
ou não, são e serão
O professor precisa estar consciente da sua sempre desiguais.
importância e da função que desempenha perante este
momento tão importante. Como se vê, é na relação
concreta entre o educando e o professor que se localiza o
elemento que possibilita decisões educacionais mais
acertadas, e não somente no aluno ou na escola. O
sentido delicado da educação consiste no amor e no res-
Aula 5 | A sala de aula inclusiva: o cotidiano professor-aluno na inclusão 166

peito ao outro, que são as atitudes mediadoras da


competência ou da sua busca para melhor favorecer o
crescimento e o desenvolvimento do outro.

Outro dado importante é o conhecimento de


uma abordagem holística, no sentido de integração e
de revelação do contexto de vida do portador de
deficiência. A relação com seus pais pode revelar
expectativas e/ou frustrações, com os irmãos pode
determinar sentimentos positivos como grande
afetividade ou negativos como vergonha, e amigos, que
pode trazer informações sobre preconceitos e
conquistas de espaço.

Para refletir
Ter acesso aos outros profissionais, como
fonoaudiólogos e fisioterapeutas envolvidos no
Quem gosta de
lecionar, o faz com desenvolvimento deste indivíduo, pode também trazer
confiança. E não fica
se "prendendo", contribuições significativas para as ações do professor
procurando
desculpas para evitar em sala de aula.
certas tarefas como
pesquisas,
preparação de aulas,
desenvolvimento de
Tal constatação aponta, necessariamente, para
projetos e um melhor planejamento da formação dos recursos
semelhantes.
humanos, entendemos como profissionais envolvidos,
com vistas a criar uma cultura de base a respeito das
deficiências e, também, dos referenciais teóricos
tocantes à inclusão, que permita, uma vez combinada
organizadamente com o conhecimento e a experiência
prática desses educadores, alcançar novos patamares
de qualidade no decorrer do processo de inclusão.

O avanço do processo torna-se mais evidente e


significativo na medida em que o profissional toma
posse dos conhecimentos, sente-se mais seguro e
confiante para compreender os limites individuais,
independente até das deficiências que os alunos
possam apresentar, e consegue explorar as
potencialidades que os mesmos certamente possuem.
Aula 5 | A sala de aula inclusiva: o cotidiano professor-aluno na inclusão 167

Não menos importante é preparar a turma para


receber o aluno. Antes dele chegar à turma, deve ser
esclarecido a respeito de sua deficiência e como todos
podem se ajudar mutuamente. É de extrema
importância criar um clima de expectativas positivas
com relação às possibilidades de aprendizagem do
aluno e agrupá-los desde o primeiro dia de aula.

O processo de inclusão/integração de crianças com


deficiência no ensino regular possibilita-lhes
interagir espontaneamente em situações
diferenciadas, enquanto adquirem conhecimento e
se desenvolvem. Essa integração, entretanto, não
deve ser facilmente resolvida a partir de uma
resolução de cunho legal ou teórica, uma vez que
variáveis relacionadas a processos grupais e reações
de preconceito podem influenciá-la, seja facilitando
ou dificultando a integração dessas pessoas com
aquelas ditas "normais". Por exemplo, são
conhecidos os casos de pais que tiram suas crianças
de escolas que aceitam alunos "diferentes" por
medo de "contágio" ou rebaixamento do nível de
aprendizagem de seus filhos. Pode-se questionar, a
partir desse exemplo corriqueiro, se as próprias
crianças "normais" não teriam uma reação ao
estranho. Ou ajudariam seu novo e diferente colega,
movidos por sentimentos de piedade ou compaixão.
Podemos pensar, também, em como ocorreriam
suas interações fora do controle da professora em
sala de aula, no recreio.

Ainda que as necessidades específicas de cada


aluno possam resultar em adaptações necessárias das
atividades realizadas em sala de aula, o mais
importante é torná-los ciente da diversidade mas,
também, das possibilidades de crescimento individual e
coletivo em razão dessas diferenças.

Na interação com o aluno, o professor poderá


observar se há alguma alteração visual, auditiva,
motora que modificariam a forma de perceber as
coisas. Através de uma relação dialógica, é possível
entender como se estrutura o pensamento do sujeito
que está aprendendo ou não, bem como quais as suas
habilidades, interesses, valores e vínculos; que medos, con
Aula 5 | A sala de aula inclusiva: o cotidiano professor-aluno na inclusão 168

flitos, defesas, ansiedade está vivenciando; como se


relaciona com o saber anterior e o novo e qual o seu
modelo de aprendizagem, seu método. O significado, a
razão de aprender para ele e para sua família, como
cada um valoriza a escola e que expectativas têm em
relação ao trabalho desenvolvido na instituição,
também, são dados que o professor poderia obter para
organizar seu trabalho visando a favorecer a
aprendizagem.

Para ensinar a turma toda, parte-se da certeza


de que as crianças sempre sabem alguma coisa, de que
todo educando pode aprender, mas no tempo e do jeito
que lhe são convenientes.

As atividades propostas em sala de aula devem


considerar a motivação e o interesse de cada
estudante. Para isso, o docente deve conhecer cada
aluno individualmente (experiências, história de vida,
habilidades, necessidades) e o plano de aula deve
prever e incentivar a participação dos estudantes tanto
nas tomadas de decisão acerca das atividades
realizadas na classe como no enriquecimento e
flexibilização do currículo. Por exemplo, o aluno pode
fazer escolhas de conteúdos, estabelecer prioridade de
aprendizagem, sugerir atividades e formas de
agrupamento ou conteúdos para serem abordados.

A resolução CNE/CEB n° 02, de 11 de fevereiro de


2001, defende que “os sistemas de ensino devem
matricular todos os alunos, cabendo às escolas
organizar-se para o atendimento aos educandos com
necessidades educacionais especiais, assegurando as
condições necessárias para uma educação de
qualidade para todos”. Outrora, um aluno ingressava
na escola e tinha de se adaptar ao ambiente. A partir
da resolução, que são as diretrizes nacionais de
educação especial que aconteceram em 2001, o
sistema de ensino é que se organiza para receber o
aluno da educação especial. Concorda?
Aula 5 | A sala de aula inclusiva: o cotidiano professor-aluno na inclusão 169

É fundamental que o professor alimente uma


elevada perspectiva em relação à competência dos
alunos de florescer e não desista nunca de buscar meios
que possam ajudá-los a vencer as barreiras escolares.

O sucesso da aprendizagem está em descobrir


talentos, atualizar possibilidades, desenvolver
predisposições naturais de cada aluno. As dificuldades e
limitações são reconhecidas, mas não dirigem/reduzem
o processo de ensino, como freqüentemente acontece.

Para ensinar a turma toda, independentemente


das diferenças de cada um dos educandos, temos de
passar de um ensino transmissivo para uma pedagogia
ativa, dialógica, interativa, que se contrapõe a toda e
qualquer visão unidirecional, de transferência única,
particularizada e hierárquica do conhecimento.

O ensinar e o aprender são processos


interdependentes, que ocorrem a partir de e na relação
entre o professor e o aluno.

Cabe a nós, professores, conhecer cada aluno


nosso: em suas peculiaridades de existência e de
funcionamento. A elaboração de nosso plano de ensino
depende de informações sobre como se caracteriza o
aluno nas diferentes áreas do conhecimento
objetivadas, de como se caracteriza seu processo de
construção de conhecimento, de quais são suas
necessidades educacionais específicas.

Somente com tais informações é que podemos


planejar o ensino, levando em conta a totalidade da
diversidade que constitui nosso grupo de alunos.

Somente assim podemos fazer os ajustes


pedagógicos que se mostram necessários para um
ensino mais eficiente e eficaz.
Aula 5 | A sala de aula inclusiva: o cotidiano professor-aluno na inclusão 170

E somente verificando os resultados obtidos a


partir das adaptações que implementamos, podemos
saber o que fazer em seguida: se conseguimos auxiliar o
aluno a construir o conhecimento em foco ou se devemos
buscar novas estratégias...

Adaptar o método de ensino às necessidades de


cada aluno é, na realidade, um procedimento
fundamental na atuação profissional de todo educador,
já que o ensino não ocorrerá, de fato, se o professor
não atender ao jeito que cada um tem para aprender.
Faz parte da tarefa de ensinar procurar as estratégias
que melhor respondam às características e às
necessidades peculiares a cada aluno.

Muitas vezes, para responder efetivamente às


necessidades educacionais especiais dos alunos, faz-se
necessário modificar os procedimentos de ensino, tanto
introduzindo atividades alternativas às previstas, como
introduzindo atividades complementares àquelas que
originalmente planejadas.

Segundo a UNESCO (2004, p. 13), o currículo é


constituído pelo “que é aprendido e ensinado
(contexto); como é oferecido (métodos de ensino e
aprendizagem); como é avaliado (provas, por
exemplo) e os recursos usados (ex. livros usados
para ministrar os conteúdos e para o processo
ensino-aprendizagem). O currículo formal [baseia-
se] em um conjunto de objetivos e resultados
previstos (.), o informal ou currículo oculto [diz
respeito] à aprendizagem não planejada que ocorre
nas salas de aula, nos espaços da escola ou quando
os estudantes interagem com ou sem a presença do
professor(a)”.

Assim, por exemplo, um mesmo conteúdo


deverá ser descrito verbal e minuciosamente para
alunos com baixa visão ou para alunos cegos, enquanto
que para alunos surdos, cuja perda auditiva impede a
realização de associações e análises da mesma forma
que as pessoas ouvintes, recursos visuais alternativos de-
Aula 5 | A sala de aula inclusiva: o cotidiano professor-aluno na inclusão 171

vem ser sempre utilizados para que não haja prejuízo


na aprendizagem; assim, o professor pode ter que
utilizar textos escritos, além de mostrar as
características do objeto em questão; pode, também,
ter que usar diferentes formas de comunicação como,
por exemplo, gestos, mímica, dramatização, desenhos,
ilustrações, fotografias, recursos tecnológicos (vídeo,
TV, retroprojetor, computador, slides), leitura labial. Já
para alunos com grande dificuldade de abstração, a
utilização de material concreto, bem como a promoção
de oportunidades diversificadas de se abordar o mesmo
assunto, podem ser eficazes para o alcance dos
objetivos pedagógicos postos. Por outro lado, para
crianças com dificuldades de atenção concentrada, o
professor pode utilizar jogos dos quais elas gostam
para introduzir e elaborar idéias. Alunos com
superdotação podem necessitar de oportunidades para
desenvolver estudos de observação, de descrição
sistemática e mesmo experimentos em laboratório,
tratando do conteúdo em um nível funcional mais alto
do que o comum na classe.

Outra adaptação ao método de ensino é a


modificação do nível de complexidade das atividades.
Nem todos os alunos conseguem apreender um
determinado conteúdo se este for tratado, pelo
professor, de uma forma única. Alguns necessitam que
o conteúdo lhes seja apresentado passo a passo; o
próprio “tamanho” dos passos pode ser diferente,
variando de um aluno para outro. Assim, o professor
tanto pode precisar eliminar componentes da cadeia
que constitui a atividade, como reconstruir a tarefa,
dividindo a cadeia em passos menores, com menor
dificuldade entre um e outro.

Outra categoria de adaptação ao método de


ensino encontra-se representada pelo ajuste de
materiais utilizados. São vários os recursos e materiais
Aula 5 | A sala de aula inclusiva: o cotidiano professor-aluno na inclusão 172

que podem ser úteis para atender às necessidades


especiais de vários tipos de deficiência, seja ela
permanente, ou temporária.

O professor poderá também ter que fazer


modificações na seleção de materiais que havia
inicialmente previsto, em função dos resultados que
esteja observando no processo de aprendizagem do
Para pensar
aluno. O ajuste de suas ações pedagógicas tem

A inclusão é sempre que estar atrelado ao processo de


considerada como
uma única aprendizagem do aluno.
modalidade
educativa que
envolve todos os Outro aspecto que deverá preocupar as
membros da
instituição no instituições e, principalmente, os professores é a
processo de
atendimento à avaliação. Uma prática mais humana e justa,
diversidade. Como
implicação, requer formativa, reflexiva e não-excludente encorajará os
que as escolas se
modifiquem para as alunos a encararem os seus resultados, suas falhas e a
pessoas com
deficiência em prosseguirem sem medo de fracassar, de errar, de
classes regulares
independentemente crescer, pois
das condições
intelectuais, físicas,
sociais e culturais o erro não é um corpo estranho, uma
destes, enfim de falha na aprendizagem. Ele é
todos que estão em
essencial, faz parte do processo.
busca de
desenvolvimento. Ninguém aprende sem errar. O homem
tem uma estrutura cerebral ligada ao
erro, é intrínseca ao saber-pensar a
capacidade de avaliar e refinar, por
acerto e erro, até chegar a uma
aproximação final.
(DEMO, 2003)

Na prática de ensino inclusivo, o processo de


avaliação é contínuo, no qual os estudantes
estabelecem seus objetivos de aprendizagem e formas
de avaliar seu progresso em termos da própria
aprendizagem. A avaliação tem um papel fundamental
na revisão contínua da prática pedagógica e,
conseqüentemente, na melhoria do trabalho docente,
porque oferece ao professor dados sobre como usar as
metodologias de ensino dinâmicas para abordar
conteúdos curriculares de forma diversificada e acessível
a todos os educandos.
Aula 5 | A sala de aula inclusiva: o cotidiano professor-aluno na inclusão 173

O professor que ensina a turma toda


compartilha com seus alunos a autoria dos
conhecimentos produzidos em uma aula; trata-se de
um profissional que reúne humildade com empenho e
competência para ensinar, pois o falar e o ditar não são
mais os seus recursos didático-pedagógicos básicos. O
Para refletir
ensino expositivo não cabe nas salas de aula em que
todos interagem e participam ativamente da construção Ser diferente não
significa mais ser o
de idéias, conceitos, sentimentos, valores. oposto do normal,
mas apenas "ser
diferente". Este é,
Fonte: http://www.bancodeescola.com/turma.htm - com certeza, o dado
acesso 17/04 inovador: o múltiplo
como necessário ou,
ainda, como o único
Estar na caminhada rumo a uma educação universal possível.

inclusiva constitui o primeiro e decisivo passo rumo à


transformação tão sonhada e tão necessária. Trata-se
de um desafio de grande dimensão, mas de
viabilidade plena e necessária. Os problemas são
inúmeros; muitos deles antigos e ainda sem solução.
Precisamos criar novas formas para lidar com eles,
pois sabemos que a modernidade não deu conta de
resolvê-los. Enfrentar os velhos problemas com as
velhas estratégias significa não sair do lugar,
representa olhar o velho cenário com os mesmos
óculos, significa trilhar um caminho conhecido com os
mesmos sapatos, ou seja, representa apostar
novamente no fracasso do empreendimento.
Precisamos, sim, ressignificar o cotidiano escolar
através da construção de novos diálogos, de cujo
contexto ninguém esteja excluído, de onde emerge e
se consolide o maior de todos os valores da
atualidade: o reconhecimento e o respeito pela
diversidade humana como base de uma sociedade
mais justa e mais solidária.
Aula 5 | A sala de aula inclusiva: o cotidiano professor-aluno na inclusão 174

Conclusão

A formação oportuniza o professor não só o


saber em sala de aula. Ele precisa conhecer as
questões da educação, as diversas práticas analisadas
na perspectiva histórica e na sociocultural. E, ainda,
precisa conhecer o desenvolvimento do seu aluno nos
seus múltiplos aspectos: afetivo, cognitivo e social,
bem como refletir criticamente sobre seu papel diante
de seus alunos e da sociedade.

A pergunta que surge agora é como a educação


inclusiva pode desafiar as fragmentações impostas
pelos sistemas educacionais? Não se pode ter a
consciência ingênua de que o problema da inclusão
esteja apenas ligado às crianças com deficiência
como aponta o texto legal da Constituição de 1988
que, em seu artigo 208, prevê como dever do Estado
o “atendimento educacional especializado aos
portadores de deficiência, preferencialmente, na
rede regular do ensino”, ou a Lei nº. 7.853, de 1989,
que reafirma a oferta obrigatória e gratuita de
Educação Especial em escolas públicas; também o
Estatuto da Criança e do Adolescente, de 1990, ao
registrar o direito do portador de deficiência à
educação e à profissionalização e proteção no
trabalho. Ainda mais recentemente, a política de
cotas estabelecida pelo governo para o serviço
público, a qual destaca a criação de cotas iguais de
20% para negros e para mulheres e 5% para
deficientes, por exemplo, em cargos do Ministério da
Justiça, em empresas terceirizadas e entidades
conveniadas. Há também a oferta de bolsa de
estudos para 20% de negros com “vocação” para
ingressar na carreira diplomática e, mais
recentemente, o governo do Estado do Rio de
Janeiro decretou 40% de vagas em suas
universidades (UERJ e UENF Darcy Ribeiro) para
“negros e pardos”, deixando que as mesmas
estabelecessem seus critérios de seleção.

Portanto, as mudanças são fundamentais para a


inclusão, mas exigem esforço de todos possibilitando
que a escola possa ser vista como um ambiente de
construção de conhecimento, deixando de existir a
discriminação de idade e de capacidade. Para isso, a
educação deverá ter um caráter amplo e complexo, favo-
Aula 5 | A sala de aula inclusiva: o cotidiano professor-aluno na inclusão 175

recendo a construção ao longo da vida, e todo


aluno,independente das dificuldades, poderá beneficiar-
se dos programas educacionais, desde que sejam dadas
as oportunidades adequadas para o desenvolvimento
de suas potencialidades. Isso exige do professor uma
mudança de postura além da redefinição de papeis que
possa assim favorecer o processo de inclusão.

O professor precisa ter compromisso e


responsabilidade social. O seu trabalho não se restringe
à sala de aula. A sua postura perante os alunos, a
forma como trabalha os conteúdos de sua disciplina e
as interações que articula na sociedade provocam
interferências maiores ou menores. A escola e o
professor, bem ou mal, estão ajudando a preparar os
alunos para enfrentar o cotidiano. Pode-se dizer, então,
que não há neutralidade em nenhuma de suas atitudes,
somos parte fundamental nessa composição coletiva.

Para que a inclusão seja uma realidade, será


necessário rever uma série de barreiras, além da
política e práticas pedagógicas e dos processos de
avaliação. É necessário conhecer o desenvolvimento
humano e suas relações com o processo de ensino-
aprendizagem, levando em conta como se dá este
processo para cada aluno. Devemos utilizar novas
tecnologias e investir em capacitação, atualização,
sensibilização, envolvendo toda comunidade escolar.
Focalizar a formação profissional do professor, que é
relevante para aprofundar as discussões teóricas e
práticas, proporcionando subsídios com vistas à
melhoria do processo ensino-aprendizagem. Assessorar
o professor para a resolução de problemas no cotidiano
na sala de aula, criando alternativas que possam
beneficiar todos os alunos. Utilizar currículos e
metodologias flexíveis, levando em conta a
singularidade de cada aluno, respeitando seus interesses,
suas idéias e desafios para novas situações. Investir na pro
Aula 5 | A sala de aula inclusiva: o cotidiano professor-aluno na inclusão 176

posta de diversificação de conteúdos e práticas que


possam melhorar as relações entre professor e alunos.
Avaliar de forma continuada e permanente, dando
ênfase na qualidade do conhecimento e não na
quantidade, oportunizando a criatividade, a cooperação
e a participação.

Valorização maior das metas e não dos


obstáculos encontrados pelo caminho, priorizando as
questões pedagógicas e não apenas a questão
biológica, com expectativa de que tudo será resolvido
pela saúde.

Não temos nenhuma proposta de inclusão que


possa ser generalizada ou multiplicada, pois ainda é
incipiente, no entanto é de consenso que esse processo
é de responsabilidade de toda a sociedade e portanto é
preciso que a escola esteja aberta para a "escuta",
favorecendo, assim, as trocas para a construção do
processo de inclusão escolar.

Concluímos que, para o processo de inclusão


escolar é preciso que haja uma transformação no
sistema de ensino que venha beneficiar toda e qualquer
pessoa, levando em conta a especificidade do sujeito e
não mais as suas deficiências e limitações.
Aula 5 | A sala de aula inclusiva: o cotidiano professor-aluno na inclusão 177

EXERCÍCIO 2

Marque a única alternativa incorreta.


Na interação com o aluno, o professor deve observar:

( A ) Se há alguma alteração visual, auditiva, motora


que modificam a forma de perceber as coisas;
( B ) Como se estrutura o pensamento do sujeito que
está aprendendo ou não;
( C ) Como o aluno se relaciona com o saber novo sem
se preocupar com o anterior.
( D ) Quais as habilidades, interesses, valores e
vínculos dos alunos;
( E ) Que medos, conflitos, defesas, ansiedade o aluno
está vivenciando.

EXERCÍCIO 3

Marque a única alternativa incorreta.


Para que a inclusão seja uma realidade, será
necessário:

( A ) Conhecer o desenvolvimento humano e suas


relações com o processo de ensino aprendizagem;
( B ) Utilizar novas tecnologias;
( C ) Investir em capacitação, atualização,
sensibilização, envolvendo toda comunidade
escolar;
( D ) Focar na formação profissional do professor, que
é relevante para aprofundar as discussões
teóricas práticas;
( E ) Utilizar currículos e metodologias agressivos.
Aula 5 | A sala de aula inclusiva: o cotidiano professor-aluno na inclusão 178

EXERCÍCIO 4

Como a escola está se inserindo numa sociedade plena


de contradições?

____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

EXERCÍCIO 5

Se todos possuem a aptidão de aprender, então, toda


escola é uma escola inclusiva? Justifique sua resposta.

____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

RESUMO
Vimos que:

 A diversidade em sala de aula pressupõe uma


pedagogia diferenciada que se baseia em dois
fundamentos: um constitui-se no
conhecimento das necessidades, das formas
de aprender e das extensões psicológicas,
materiais e socioculturais dos alunos, e, outro
é a assimilação positiva com a diversidade,
compreendendo-a, além de modificar seus
recursos didáticos, consegue também extrair
utilidade da própria diversidade entre seus
alunos como um recurso de aprendizagem;
Aula 5 | A sala de aula inclusiva: o cotidiano professor-aluno na inclusão 179

 A avaliação tem um papel fundamental na


revisão continua da prática pedagógica e,
conseqüentemente, na melhoria do trabalho
docente, porque oferece ao professor dados
sobre como usar as metodologias de ensino
dinâmicas para abordar conteúdos
curriculares de forma diversificada e acessível
a todos os educandos;

 É necessário ressignificar o cotidiano escolar


através da construção de novos diálogos, de
onde emerge e se consolide o maior de todos
os valores da atualidade: o reconhecimento e
o respeito pela diversidade humana como
base de uma sociedade mais justa e mais
solidária.
O Envolvimento
Familiar na Educação

6
do Aluno com

AULA
Necessidades
Educacionais
Especiais
Edla Trocoli
Apresentação

Nesta aula aborda-se o papel da família, uma vez que esta


promove as primeiras aprendizagens da criança, no campo
afetivo, intermediando com a cultura. Particularmente, procura-se
pensar sobre a especificidade das crianças com necessidades
educacionais especiais que demandam uma maior aproximação
entre a família e a escola.

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja


capaz de:
Objetivos

 Discutir o papel da família nos espaços de aprendizagem com


destaque para a educação inclusiva e especial;
 Apresentar formas pelas quais os pais podem facilitar o
desenvolvimento da comunicação do filho e com o filho
deficiente;
 Compreender o papel da integração, como um processo
dinâmico que possibilita ao portador de deficiência interagir,
conviver e comunicar-se, em relação à família, à escola e a
sociedade.
Aula 6 | O envolvimento familiar na educação do aluno com necessidades 182
educacionais especiais

Introdução

A aprendizagem decorre da ação do aluno sobre


o mundo e dos elementos deste mundo que agem
sobre ele, caracterizando uma ação lógica.

O sujeito da aprendizagem nasce um ser


biológico e, a partir das interações com a pessoa que
fará o papel de mãe, intermediária da cultura, começa
a fazer aprendizagens iniciais.

As primeiras aprendizagens estão relacionadas


aos aspectos afetivos, pois nessa interação a criança
começa a criar vínculos com a mãe, a seguir, com as
pessoas, com o mundo e com a cultura.

A família não pode mudar a condição genética,


física ou fisiológica de seu bebê com deficiência. Mas
pode dar a ele as chances de que precisa, o ambiente e
o amor necessários para o desenvolvimento de todo o
seu potencial. É impossível predizer até onde chegarão
essas crianças.

Diante dessas questões, família e escola


necessitam caminhar juntas para um melhor
desempenho de seu filho e aluno. Com ajuda mútua,
com certeza, alcançarão seus objetivos com muito
menos angústia, insegurança ou sofrimento.

Papel da família

O mundo é um lugar organizado por regras


sociais (senso comum). Ensinar o filho a seguir essas
regras é ajudá-lo a adaptar-se ao mundo e a ter um
comportamento socialmente aceitável. Desse modo, ele
aprende a ter noção dos direitos dos outros e a
respeitar esses direitos. Essa atitude mostra que os pais
Aula 6 | O envolvimento familiar na educação do aluno com necessidades 183
educacionais especiais

estão preocupados com o comportamento do filho e


ele, conseqüentemente, vai interpretá-la como uma
expressão de amor. Os pais devem estar atentos a
essas reflexões, desde a infância de seu filho, porque à
medida que ele cresce, os comportamentos vão se
cristalizando e tendem a se acentuar na adolescência.

A família é o primeiro e talvez o principal grupo


social em que vivemos. É nela que aprendemos a
construir nossa individualidade e independência. Por
isso é muito importante o contato com outras famílias
que enfrentam, ou não, problemas com necessidades
especiais.

Os pais precisam estar conscientes e


mobilizados para participar, apoiar, trabalhar em
conjunto, com união e harmonia. Devem também
cuidar para que não haja, em relação ao filho com
necessidades especiais, superproteção, posto que esta
em pouco ou nada contribua para o desenvolvimento
da autonomia da pessoa.

Essa adaptação de Tereza Pacheco do texto de Sara


M. Monteiro é uma boa reflexão para iniciar esta
aula:
Se a escola e a família fossem uma orquestra, seria
impossível ouvir a sinfonia da compreensão humana.
Como pode haver sinfonia se cada músico está com
seu instrumento em um tom?
Onde está o autor da sinfonia? Ou será que a
orquestra é que não quer tocá-la?
A orquestra está desafinada.
E os ouvintes por que não gritam? Estão surdos?
Não! Não sabem gritar.
E você? Também é músico nessa orquestra?
A escola e a família serão uma orquestra se cada
músico se afinar.
Os músicos devem interpretar a partitura da
compreensão humana para atender a cada ouvinte
em sua individualidade.
Não basta simplesmente tocar.
A harmonia entre os músicos e os ouvintes é o amor,
a compreensão, o entendimento.
Reaja diante da música.
Se um tom lhe soar desafinado, pare!
O ponto de espera é calmo e longo, com sua música,
virá outra música.
Com certeza será o início da verdadeira orquestra.
Aula 6 | O envolvimento familiar na educação do aluno com necessidades 184
educacionais especiais

Quando o foco de debate é o papel dos pais na


escolarização dos filhos e suas implicações para a
aprendizagem, na escola, há aspectos a serem
ressaltados. A família como impulsionadora da
produtividade escolar e do aproveitamento acadêmico e
o distanciamento da família, podendo provocar o
desinteresse escolar e a desvalorização da educação,
especialmente nas classes menos favorecidas.

A FAMÍLIA E O PORTADOR DE DEFICIÊNCIA

Os pais encontram na comunidade escolar o


apoio de que necessitam para continuar o trabalho de
integração de sua criança portadora de deficiência.

A família é a principal responsável pelas ações


do seu filho com deficiência. É ela que lhe oferece a
primeira formação. Na inclusão escolar, o aluno, com a
orientação dos profissionais e da família, poderá
adquirir competência profissional e pessoal.

A partir de 1854, a Educação Especial começou


sua trajetória no Brasil, com base nos estudos
desenvolvidos na Europa, com modelos de internatos e
de escolas especiais e, nos Estados Unidos, com a
inserção de classes especiais na escola comum e as
conquistas dos movimentos organizados de pais de
pessoas com necessidades especiais, que levaram
avante progressos na legislação, no amparo financeiro
e na melhora dos serviços necessários a seus filhos.

Após 1960, as escolas especiais, os centros de


habilitação e de reabilitação, as oficinas protegidas de
trabalho, os clubes sociais especiais e as associações
desportivas especiais começaram a surgir no Brasil.

A Educação Especial surgiu, então, como


cuidados assistenciais às pessoas com deficiência, sepa
Aula 6 | O envolvimento familiar na educação do aluno com necessidades 185
educacionais especiais

radas da educação comum. Atualmente, uma nova


tendência propõe uma abordagem diferenciada para
essa modalidade de Educação.

Para pensar
A Educação Especial, em conformidade com a
Política Nacional de Educação Especial do MEC (1994, Você Concorda?
Cada deficiência
p. 17): acaba acarretando
um tipo de
comportamento e
... é um processo educacional que visa suscitando
diferentes formas de
promover o desenvolvimento das
reações,
potencialidades de pessoas com preconceitos e
necessidades especiais, condutas inquietações. As
típicas, altas habilidades, e que deficiências físicas,
tais como paralisias,
abrange os diferentes níveis e graus
ausência de visão ou
do sistema de ensino. Fundamenta-se de membros,
em referenciais teóricos e práticos causam
compatíveis com as necessidades imediatamente
apreensão mais
específicas de seu alunado.
intensa por terem
maior visibilidade. Já
a deficiência mental
O processo deve ser integral, fluindo desde a e a auditiva, por sua
vez, são pouco
estimulação essencial até os graus superiores de
percebidas
ensino. Sob o aspecto sistemático, a Educação Especial inicialmente pelas
pessoas, mas
integra o sistema educacional vigente, identificando-se causam mais
estresse, à medida
com sua finalidade, que é a de formar cidadãos que se toma
consciência da
conscientes e participativos. realidade das
mesmas.
A falta de
conhecimento da
Por natureza, toda pessoa tem suas sociedade, em geral,
faz com que a
necessidades. Aqueles que apresentam desvio físico, deficiência seja
considerada uma
intelectual, sensorial, social e de comportamento muito
doença crônica, um
acentuado, que não podem beneficiar-se dos peso ou um
problema. O estigma
programas da educação comum, necessitam de ensino da deficiência é
grave,
ou serviços especiais, através da modificação ou apoio transformando as
pessoas cegas,
ao programa educacional comum, de maneira que eles surdas e com
deficiências mentais
próprios se tornem capazes de satisfazer suas ou físicas em seres
incapazes,
necessidades. É preciso adequar a estrutura do ensino, indefesos, sem
direitos, sempre
os conteúdos e os métodos ao ritmo e as características deixados para o
segundo lugar na
do aluno, a fim de lhe facilitar a construção de
ordem das coisas. É
conhecimentos. necessário muito
esforço para superar
este estigma.

Nesta conjuntura, surgem as propostas de


educação inclusiva e de sociedade inclusiva, ou seja, a
educação e a sociedade caminhando juntas para promo-
Aula 6 | O envolvimento familiar na educação do aluno com necessidades 186
educacionais especiais

ver o que se chama de uma sociedade para todos, sem


distinções de raça, cor, religião ou necessidades. No

Para refletir
entanto, acredita-se que a sociedade não esteja
preparada para promover a inclusão da pessoa com
Tanto no discurso necessidades especiais. Por isso, devemos trabalhar,
geral como no
discurso da escola, a ainda mais, a inclusão.
integração das
populações
diferentes e das
crianças deficientes DESENVOLVIMENTO
é ponto pacífico. Se
em ambos os
discursos Na eloqüência do momento pós-impacto do
reconhecem que
esta integração na Documento de Salamanca sobre as rodas de debates
sociedade dos
adultos ou na das brasileiros e internacionais que discutem os direitos das
crianças nem
sempre é pessoas com necessidades especiais, bem como as
plenamente
realizada, a formas de exercer e garantir esses direitos,
integração daqueles
que são diferentes notadamente nos anos de 1996 a 1999, uma série de
dos outros é
considerada em pensamentos sobre a questão da inclusão se explicitou,
todos os casos como
uma finalidade a
seja através de artigos publicados, seja através de
atingir. eventos para discussão.

A família e a escola devem encontrar formas


criativas de convencer a comunidade a participar,
através de parcerias, da manutenção para a inclusão.

Quando há a conscientização das pessoas


envolvidas, o destino toma seu rumo, ou seja, quando
os alunos estão bem incluídos nas salas de aula, é
porque isto está acontecendo.

INCLUSÃO X EXCLUSÃO

Algumas das questões mais preocupantes em


relação à inclusão, hoje, são que:

 Ao invés de os alunos especiais estarem


integrados/incluídos, estejam segregados ou
excluídos;
Aula 6 | O envolvimento familiar na educação do aluno com necessidades 187
educacionais especiais

 A falta de preparação de professores de


classe comum pode trazer prejuízos aos
alunos especiais; Importante
 Nem todos os portadores de deficiência são
aptos para a integração/inclusão, alguns A partir da década
de 70, a educação
precisam de atendimento individual e especial deu um
salto, possibilitando
especializado; que a pessoa com
necessidades
 A atenção dos governantes para com a especiais tivesse
mais oportunidades
educação é escassa; de sociabilidade,
embora se todos têm
 A participação da família, que é de grande suas necessidades,
por que marginalizar
relevância, tem ficado aquém do necessário.
o mais necessitado?
Será que a sociedade
está preparada para
Às vezes, é criado um mundo à parte para as receber o mais
necessitado ou é a
pessoas com deficiências. Porém elas podem ter sua sociedade que está
em déficit para
casa, sua escola, seu trabalho, seu lazer como qualquer normalizar esta
situação?
outra pessoa. Nesse sentido, muitos pais e educadores
procuram fazer um trabalho de integração. Deve-se ter
o cuidado para não excluir a pessoa com deficiência.

Num passado ainda recente, a exclusão ocorria


em seu sentido quase que total, as pessoas com
deficiência eram excluídas da sociedade para a maioria
de atividades porque "antigamente" elas eram
consideradas inválidas, sem utilidade para a sociedade
e incapazes de trabalhar, características essas
atribuídas indistintamente a todos que tivessem alguma
deficiência.

As instituições foram se especializando para


atender pessoas por tipo de necessidade, passando-se
a praticar uma segregação institucional. A idéia era a
de dispor, dentro das instituições, de todos os serviços
possíveis já que a sociedade não aceitava receber
pessoas com necessidades especiais nos serviços
existentes na comunidade.

Sempre que nos deparamos com casos


diferentes na vida é que nossos valores irão se somar às
Aula 6 | O envolvimento familiar na educação do aluno com necessidades 188
educacionais especiais

grandes qualidades e nos tornará modelos para as


decisões do futuro.

ENVOLVIMENTO DA FAMÍLIA NO PROCESSO DE


INCLUSÃO ESCOLAR DO FILHO/ALUNO COM
NECESSIDADES ESPECIAIS:

Dica da
professora  Quanto ao envolvimento da família nas
atividades escolares do filho, os pais são
As propostas de
educação inclusiva e conscientes de que os filhos serão beneficiados
de sociedade
inclusiva, ou seja, a pelas atividades escolares. Alguns são
educação e a
sabedores de que o desenvolvimento é muito
sociedade
caminhando juntas lento. Outros acham que já fizeram tudo o
para promover o que
se chama de uma que seria necessário para o desenvolvimento
sociedade para
TODOS, sem do filho com deficiência;
distinções de raça,
cor, religião ou  Quanto ao relacionamento da família com os
necessidades. No
entanto, acredita-se professores, conclui-se que há
que a sociedade não
esteja preparada relacionamento, pelo mínimo, com um
para promover a
inclusão da pessoa membro da família. Portanto, as famílias têm
com necessidades
especiais. Por isso,
relacionamento com os professores. A família
devemos trabalhar, costuma participar das reuniões convocadas
ainda mais, a
integração/inclusão. pelos professores;
CONCORDA?
 Quanto ao relacionamento da família com
outras famílias, algumas têm esse tipo de
convivência normalmente. Outras interagem
com as demais famílias. Acontece de em
alguma se sentir o abandono do pai, a mãe
alega que não tem como se relacionar com
outras famílias, pois a dela está incompleta. A
família em que os pais têm mais idade é
humilde e, às vezes, o filho é rejeitado pelos
colegas. Assim, estes pais podem alegar ser
difícil o relacionamento de seu filho com as
outras pessoas. Existe caso em que a mãe é
solteira e sente vergonha de relacionar-se
com outras famílias.
Aula 6 | O envolvimento familiar na educação do aluno com necessidades 189
educacionais especiais

Estes exemplos comprovam que há


envolvimento das famílias com a escola dos filhos, com
seus professores e das famílias entre si. Esse
envolvimento partiu da integração/inclusão que as
famílias tiveram com a escola. Há casos em que os
pais, embora um pouco inibidos, conseguem fazer um
bom trabalho para seus filhos. Nos casos em que os
pais estão sempre ativos e participantes, observa-se
um maior desenvolvimento dos filhos/alunos.

Isso mostra que, no momento em que as


famílias estão envolvidas, independentes da obrigação,
do desejo, da inspiração, conseguem alcançar os
objetivos indicados para seus filhos.

Por outro lado, destaca-se que a nossa escola


ainda não está suficientemente preparada para atuar
com alunos portadores de deficiência. Cada caso é um
caso diferente. Para o professor, é um grande desafio,
mas com a competência e a boa vontade da família,
onde cada um colabora como pode, fará muito para a
Educação Para Todos.

“... é um processo educacional que visa promover o


desenvolvimento das potencialidades de pessoas
com necessidades especiais, condutas típicas, altas
habilidades, e que abrange os diferentes níveis e
graus do sistema de ensino. Fundamenta-se em
referenciais teóricos e práticos compatíveis com as
necessidades específicas de seu alunado".
O processo deve ser integral, fluindo desde a
estimulação essencial até os graus superiores de
ensino. Sob o enfoque sistêmico, a educação
especial integra o sistema educacional vigente,
identificando-se com sua finalidade, que é a de
formar cidadãos conscientes e participativos.

FAMÍLIA X ESCOLA X DIREITOS

Uma das maiores angústias vividas pelos pais de


crianças deficientes é o encaminhamento de sua
escolaridade. A rigor, desconhecem seus direitos e não
possuem, portanto, argumentos quando uma porta esco-
Aula 6 | O envolvimento familiar na educação do aluno com necessidades 190
educacionais especiais

lar lhes é fechada. A lei é bastante clara ao afirmar que


toda criança tem direito à escola, mesmo as que
possuem deficiências.

Muitas são as histórias de pais que escondem


seus filhos em casa, por vergonha ou desespero;
muitos desconhecem as instituições especializadas ou
não, públicas e particulares que podem atender a
crianças especiais. Cabe aos governantes a
responsabilidade de divulgar as ofertas educativas
existentes, facilitando aos pais a busca de serviços
especializados.

Nos grandes centros urbanos, tais serviços são


mais numerosos e heterogêneos e podem ser
encontrados em suas diversas modalidades de
atendimento: escolas especiais, classes especiais, e a
inclusão nas classes regulares, com acompanhamento
especializado em salas de recursos.

Portanto, a possibilidade de escolha, por parte


dos pais, é muito maior nos grandes centros. Essa
escolha deverá refletir o tipo de visão que a família tem
da diferença de sua criança e do encaminhamento a ser
dado.

Nas escolas especiais, ela tem a possibilidade de


conviver com pessoas com as mesmas questões; nas
escolas comuns, ela estará inserida junto às crianças
diferentes. É fundamental, em ambos os casos, o
envolvimento familiar. Seja qual for a escolha, a família
deverá estar atuando na base de sustentação de sua
escolaridade e sociabilidade.

Os serviços educacionais iniciam-se pela


Educação Infantil, no programa de estimulação precoce
e na pré-escola.
Aula 6 | O envolvimento familiar na educação do aluno com necessidades 191
educacionais especiais

SUPORTE SOCIAL E INCLUSÃO

É conhecido o fato de as famílias das crianças


deficientes serem particularmente vulneráveis à
experiência do estresse. As nossas experiências nos
mostram que as famílias que apresentam menos
estresse são as que recebem ajudas de várias fontes.
Os parentes e amigos podem desempenhar um papel
fundamental na promoção do alargamento das
interações sociais das famílias com crianças deficientes.

Também os profissionais são um apoio


Para refletir
importante com que as famílias deverão contar, embora
a história das relações entre pais e profissionais nem
A escola CONTINUA
sempre tenha sido positiva. Assim, se a diversificação a tarefa familiar de
educar a criança
dos sistemas sociais de apoio parece conduzir à para a vida e,
especialmente, para
redução do estresse familiar, não tem mais sentido o trabalho. O que
não fazemos é levar
continuar a entender a individualização e diferenciação em conta este dado
até as últimas
na ótica reducionista da simples adaptação do currículo conseqüências.
às necessidades e níveis de desenvolvimento do aluno.

Os movimentos de inclusão visam a plena


participação de todas as pessoas em todos os âmbitos
da sociedade e a busca por parte de ambos - sociedade
e pessoas com deficiências - de maneiras práticas de
correlacionar seus direitos e deveres na construção de
uma sociedade para todos, objetivando o pleno
exercício de uma cidadania, à qual todos nós temos
direito. Para que este movimento ganhe mais força e
venha a se concretizar, é preciso que a sociedade
conheça melhor a realidade da Educação Especial, esse
complexo universo que ainda é desconhecido, para
melhor acompanhamento e interação. Neste sentido,
hoje já se tem um melhor controle de fatores
biomédicos, aconselhamento genético, planejamento
familiar, detecção de problemas metabólicos, controle
de fatores da mãe e outros, mas a população de
crianças vulneráveis e com dificuldades de aprendizagem
Aula 6 | O envolvimento familiar na educação do aluno com necessidades 192
educacionais especiais

tende a aumentar por carências afetivas, falta de


esclarecimentos, relações familiares perturbadas, entre
Você sabia?
outras causas. A conscientização da família, no sentido
de que ela faz parte de um contexto social, que exerce
O deficiente é
produzido pelo influências sobre o indivíduo, preparando-o para o
ambiente de
carências afetivas, mundo escolar é essencial. Também a conscientização
sociais, econômicas e
culturais. Um ser dos educadores não só em saber trabalhar com o aluno,
humano que requer,
talvez, mais que os mas também em promover o desenvolvimento familiar,
outros, orientação,
apoio e carinho. de forma que a família se torne um agente ativo no
processo de integração/inclusão, deve ser buscada.

O PAPEL DA FAMÍLIA NO INÍCIO DA


ESCOLARIZAÇÃO

Nesta etapa, compete aos pais possibilitarem à


criança deficiente:

 Segurança

A aceitação da criança pelos pais e familiares e a


crença nas suas potencialidades fazem com que ela se
sinta segura e adquira maior confiança em si mesma e
se aceite melhor, procurando auto-suficiência e
emancipação, mesmo quando estiver na escola, longe
de casa.

 Carinho

Tão importante quanto a necessidade de


segurança é a necessidade de carinho que, quando
suprida, possibilita o desenvolvimento da capacidade
de contato afetivo adequado com outras pessoas e o
estabelecimento de comunicação.

 Comunicação

Desde o nascimento, os pais devem estabelecer


comunicação com seu filho, devem conversar com ele a
Aula 6 | O envolvimento familiar na educação do aluno com necessidades 193
educacionais especiais

respeito do que está acontecendo e do que vai


acontecer, cuidando, porém, para que a criança fique
atenta a quem está conversando com ela. Portanto, a
família é um elemento facilitador do processo de
desenvolvimento da comunicação do filho.

Os pais, bem orientados pelos serviços


educacionais, sabem que precisam desenvolver a
linguagem de seu filho, ou seja, sabem que as crianças
já nascem com capacidade para expressar o que
quiserem, por meio do corpo, principalmente dos
gestos e por meio das palavras.

A família passa, então, a agir normalmente com


a criança deficiente:

 Comunicando-se com ela o tempo todo, como


qualquer mãe o faz com seu bebê, antes de ele
aprender a falar;
 Fazendo perguntas, e respondendo por ela, nos
primeiros meses de vida;
 Cantando para ela;
 Contando histórias infantis, contando fatos
acontecidos e que estão acontecendo.

A família desenvolve essas atividades todos os


dias, normalmente, independentemente de a criança
responder ou não ao que está sendo comunicado.

FACILITANDO A VIDA DO PORTADOR DE


DEFICIÊNCIA

Os pais facilitam o desenvolvimento da


comunicação do e com o filho deficiente quando:

 Expressam, no rosto, os sentimentos de dor,


de alegria, de surpresa, enquanto estão
falando;
Aula 6 | O envolvimento familiar na educação do aluno com necessidades 194
educacionais especiais

 Falam exclusivamente a respeito da situação


em que estão vivendo ou dos objetos que
estão mostrando;
 Falam naturalmente, com voz normal, num
Para pensar
nível moderado de velocidade, sobre o que
estão fazendo no momento:
A família que
superprotege uma
criança com  Da alimentação;
deficiência atrapalha
a inclusão social  Do banho;
dela?
Claro que atrapalha,  Das brincadeiras;
pois a família precisa
ser trabalhada junta  De levantar, deitar.
nesse processo. A
autonomia, a
autodeterminação  Usam palavras simples, familiares, do
que é a capacidade
de gerenciar e cotidiano;
comandar sua vida é
 Usam frases curtas, simples e completas;
adquirida ao longo
dela. Não é porque  Solicitam à criança, respostas às suas
você completou 21
anos que agora você perguntas;
é autônomo,
responsável,  Dão as mesmas ordens, no dia-a-dia,
assertivo. Se você
não teve uma ajudando a criança a executá-las, num
educação que
proporcionou isso, primeiro momento;
você vai ser um
adulto tutelado. E o  Ajudam a criança a compreender e a
problema da
segregação é aprender palavras novas, tais como:
exatamente isso: de
tutelar a pessoa com
deficiência, as  Nomes de pessoas;
instituições decidem
 Nomes dos objetos comuns do lar,
por ela. A família
decide por ela. Isso é brinquedos, animais, vestuário, cores;
terrível porque
quando essa pessoa  Nomes das ações que ela pratica (verbos);
vai para o mercado
de trabalho tem  Circunstâncias de lugar e tempo.
sérios problemas de
adaptação.
CONCORDA?
 Parabenizam a criança quando tenta emitir
palavras novas e/ou corretamente;
 Corrigem a fala distorcida, devolvendo o
modelo correto;
 Reservam uma parte do dia para cuidar da
educação do filho para:

 Repetir os exercícios propostos pela equipe


multidisciplinar ou professor;
Aula 6 | O envolvimento familiar na educação do aluno com necessidades 195
educacionais especiais

 Vivenciar novas experiências à medida que


vão falando sobre elas;
 Cantar e dançar com ela, batendo palmas
para acompanhar o ritmo.

QUANTO AO DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL

Os pais, ajudados também pelos professores,


devem educar a criança para que tenha um
comportamento socialmente adequado, incluindo
noções de higiene, de moral e de religião. Cabe aos
pais proporcionar ao filho oportunidades de se
desenvolver socialmente ao se relacionar com eles, com
os familiares, com os professores e com outras crianças
e adultos, para que a criança aprenda a participar de
todas as atividades, adquirindo responsabilidade e
equilíbrio emocional.

Durante os dois primeiros anos, devido às


limitações naturais do ser humano, os pais precisam
dispensar toda uma série de cuidados necessários ao
bom desenvolvimento da criança que, por isso, se sente
o “centro do universo”.

À medida que a criança vai adquirindo mais


recursos, espera-se que os cuidados dos pais sejam
diminuídos, gradualmente, o que dará lugar à
caminhada da criança para a autonomia.

O egoísmo, às vezes, aparece porque a criança


se acostuma a receber tudo e entende que isso é
obrigação dos outros, passando inclusive a cobrar da
família esse tipo de atenção. Surge, então, um juízo de
valor: “só serve, só é bom o que me agrada”.

Esse juízo de valor pode acompanhar o portador


de deficiência ao longo de seu desenvolvimento e até pro-
Aula 6 | O envolvimento familiar na educação do aluno com necessidades 196
educacionais especiais

vocar outras formas de distorção como a dificuldade em


aceitar limites e respeitar normas.

Para refletir
A expectativa dos pais é também fator
A escola continua a importante para o desenvolvimento emocional do filho.
tarefa familiar de
educar a criança
para a vida e,
especialmente, para A criança, certamente, procurará corresponder à
o trabalho. O que
não fazemos é levar expectativa das pessoas que admira. Acreditar em sua
em conta este dado,
até as últimas capacidade é fundamental.
conseqüências.

A ÁRDUA TAREFA DE EDUCAR

Educar é tarefa importante e difícil e não há


receita que ensine como se relacionar com um filho
portador de deficiência ou não. Porém, algumas
atitudes apresentam resultados positivos, quais sejam:

 Vê-lo como uma “criança normal”, embora, às


vezes, necessite de uma atenção particular;
 Acreditar nas capacidades do seu filho;
 Procurar facilitar-lhe a percepção e a
compreensão global das situações que
Importante
ocorrem no ambiente, mantendo-o informado

Envolvimento dos do que está se passando;


pais em atividades
que afetam a  Dar o exemplo é a forma mais segura para a
aprendizagem e o
aproveitamento
criança portadora de deficiência entender as
escolar em casa.
regras sociais, pois ela aprende com o que vê
Caracteriza-se pelo
emprego de e/ou com o que ouve;
mecanismos e
estratégias que os  Contribuir sempre para aumentar a
pais utilizam para
acompanhar as autonomia e a segurança do filho com
tarefas escolares,
agindo como deficiência a fim de que tenha mais facilidade
tutores, monitores e
/ou mediadores, para enfrentar o mundo com sua capacidade e
atuando de forma
independente ou sob seus recursos pessoais, porque não terá os
a orientação do
professor. Você
pais por perto o tempo todo, disponíveis para
conhece alguma
resolver suas dificuldades;
escola que adote
medida semelhante?  Estabelecer limites e regras claras, objetivas,
adequadas e dosadas.
Aula 6 | O envolvimento familiar na educação do aluno com necessidades 197
educacionais especiais

Assim, como qualquer ser humano, os


portadores de deficiência lutam para conseguir
estabilidade e equilíbrio psicológicos.

Os pais devem encontrar a resposta às suas


dúvidas e preocupações em seu próprio filho, uma vez
que educar é uma arte difícil e delicada, integrada por
um pouco de ciência, muito bom senso e, sobretudo
muito amor.
Quer saber
mais?
É importante que os pais não tenham vergonha
de buscar ajuda profissional para eles e para as Obrigações
essenciais dos pais.
crianças. Numa clínica multidisciplinar, ao identificar Reflete as ações e
atitudes da família
problemas na aprendizagem, trabalha-se não o ligadas ao
desenvolvimento
conteúdo escolar, mas o inconsciente infantil, com integral da criança e
histórias, artesanato e brincadeiras. A idéia é fortalecê- à promoção da
saúde, proteção e
las internamente para que saibam lidar com os dilemas repertórios
evolutivos. Além da
familiares. capacidade de
atender às
demandas da
criança,
INTEGRAÇÃO considerando sua
etapa de
desenvolvimento
para inserção na
As crianças portadoras de deficiência têm direito escolarização
formal, é tarefa da
a participar da vida familiar, de uma escola comum e família criar um
da comunidade, mesmo que em cada um desses ambiente propício
para a
momentos mereçam uma atenção diferenciada das aprendizagem
escolar, incluindo
suas necessidades especiais. acompanhamento
sistemático e
orientações
contínuas em
A Integração depende, entre outros fatores, de relação aos hábitos
de estudos e às
uma comunidade que esteja preparada para conviver e tarefas escolares.
aceitar aqueles que são diferentes.

Integração é um processo dinâmico que


possibilita ao portador de deficiência interagir, conviver
e comunicar-se com outras pessoas. Essa integração
pressupõe atitudes de cooperação e de harmonia e
evolui de acordo com as tendências internacionais e
nacionais.
Aula 6 | O envolvimento familiar na educação do aluno com necessidades 198
educacionais especiais

O processo de integração se baseia no princípio


de “normalização”, que significa “oferecer aos
portadores de necessidades especiais modos e
condições de vida diária o mais semelhantes possível às
formas e condições de vida do resto da sociedade”
(Política Nacional de Educação Especial/MEC, 1994).

Para pensar
ESSE PROCESSO OCORRE NOS SEGUINTES
CONTEXTOS
Você concorda?
Obrigações
essenciais da escola.  Na família
Retrata as diferentes
formas e estratégias
adotadas pela escola
com o intuito de Os pais e demais membros da família incluem
apresentar e discutir
os tipos de
sua criança, deficiente ou não, nas atividades
programas cotidianas do lar desde o seu nascimento.
existentes na escola
e evidenciar os
progressos da
criança, em Nessas atividades, a família trata a criança
diferentes níveis,
para os pais ou deficiente de forma natural, contando histórias,
responsáveis. As
formas de comentando fatos, corrigindo erros.
comunicação da
escola com a família
variam, incluindo
desde mensagens, Essa atitude é o modelo adequado de
jornais, livretos,
convites e boletins
comportamento que termina por influenciar
até observações na positivamente toda família e vizinhança.
agenda do aluno. A
explicitação das
normas adotadas,
do funcionamento  Na escola
geral da escola, dos
métodos de ensino e
de avaliação e a
abertura de espaços, Os pais encontram na comunidade escolar o
onde os pais possam
participar apoio de que necessitam para continuar o trabalho de
ativamente e dar
suas opiniões sobre integração de sua criança portadora de deficiência.
estes temas, é
estratégica.
Se a criança inicia sua educação por meio do
Programa de Estimulação Precoce, os pais tomam,
desde cedo, consciência da importância de seu papel
como principais agentes de integração e como
elementos, indispensáveis, de ligação entre sua criança
e a comunidade escolar.
Aula 6 | O envolvimento familiar na educação do aluno com necessidades 199
educacionais especiais

Os profissionais que atuam nesse programa de


estimulação precoce oferecem aos pais apoio e
encorajamento necessários, orientando-os sobre as Para refletir

atividades a serem desenvolvidas em casa, para


continuar, no lar, a desenvolver o programa curricular É possível e
necessário um
demonstrado na escola. trabalho de
conhecimento do
bairro e de sua
Durante a pré-escola e a alfabetização, pais e população, para que
cada uma das
profissionais da educação propiciam a integração da escolas possa
adequar seus
criança deficiente, ao viabilizar momentos de interação planejamentos às
expectativas e
conjunta com seus colegas e demais membros da condições reais de
vida e de trabalho
comunidade escolar. das famílias que lhes
fornecem a clientela.
E isto, creio, aplica-
No que se refere à inserção de um deficiente em se a qualquer
escola, de todo e
classe comum do ensino regular, pais e professores qualquer bairro.

devem participar de uma escola inclusiva.

Essa escola procura desenvolver uma pedagogia


centrada na criança, deficiente ou não, respeitando as
diferenças de todos os seres humanos. A proposta de
escola inclusiva é não só dispensar uma educação de
qualidade para todos, como também mudar atitudes de
discriminação da sociedade no que se refere às pessoas
portadoras de deficiência.

Portanto, é necessário que professores, diretores


e outros segmentos da escola desenvolvam habilidades
e ações que explorem os diferentes níveis de
experiências, conhecimento e oportunidades dos pais,
visando uma implementação mais efetiva do
envolvimento família / escola. Para isto, a percepção
que os professores possuem da família como agente
educativo desempenha papel preponderante.

 Na sociedade

A integração social do portador de deficiência é o


resultado de todo o processo que teve início com a
estimulação precoce.
Aula 6 | O envolvimento familiar na educação do aluno com necessidades 200
educacionais especiais

Se os pais e profissionais da educação


possibilitarem condições para o portador de deficiência
ter acesso ao sistema educacional, se assegurarem seu
Para pensar direito a uma atividade produtiva, como qualquer
cidadão, estarão contribuindo para sua verdadeira
Um dos papéis integração no contexto social.
principais da família
é a socialização da
criança, isto é, sua
inclusão no mundo O processo de integração social é contínuo e
cultural mediante o
ensino da língua torna-se mensurável à medida que o portador de
materna, dos
símbolos e regras de deficiência se conscientiza de seu papel de cidadão com
convivência em
grupo, englobando a pleno direito à escolha de vida pública e privada.
educação geral e
parte da formal, em
colaboração com a
O PAPEL DA FAMÍLIA DURANTE A
escola. Você
concorda? ESCOLARIZAÇÃO

A escolarização inicia-se a partir da constatação


da deficiência da criança, por meio do atendimento em
programas de “estimulação precoce” e deve prosseguir
na Educação Infantil, Educação Fundamental, Ensino
Médio e 3º grau à semelhança daquela oferecida a
qualquer aluno, acrescida da complementação
curricular específica (atendimento educacional
especializado).

Os serviços educacionais estão à disposição dos


pais do portador de deficiência, principalmente em
algumas instituições especializadas, governamentais e
não-governamentais, na rede regular de ensino, tanto
para atendimento acadêmico da criança quanto para
seu atendimento especializado.

O atendimento especializado inicia-se na


Educação Infantil (estimulação precoce e pré-escola),
perdura na Educação Fundamental, no Ensino Médio e
Tecnológico e, às vezes, encerra-se somente no Ensino
Superior.
Aula 6 | O envolvimento familiar na educação do aluno com necessidades 201
educacionais especiais

A FAMÍLIA E O PROCESSO DE ATENDIMENTO


EDUCACIONAL DO PORTADOR DE DEFICIÊNCIA
NA FAIXA DE ZERO A TRÊS ANOS

Importante
A família deve participar do processo
educacional do filho portador de deficiência, desde a A relação
família/escola é
anamnese inicial, quando, por meio de uma entrevista, fundamental no
processo educativo.
coloca os profissionais da educação (diretor, professor, Porém, na nossa
sociedade, nem
psicólogo) a par da sua história de vida e da vida da sempre essa relação
se complementa.
criança. Pelo contrário, é
comum a escola se
queixar da ausência
da família e vice-
Cabe aos pais: versa. Concorda?

 Realizar a escolha filosófica e metodológica


para o atendimento educacional de seu filho;
 Participar ativamente do processo de
Educação Infantil da criança;
 Levar a criança à escola, duas ou mais vezes
por semana, para que possam ver a atuação
do profissional com a criança e ser por ele
orientados;
 Confeccionar e utilizar material didático
similar ao utilizado pelo professor, para dar
Para refletir
continuidade, no lar, ao programa de
estimulação;
Para superar as
 Acompanhar o desenvolvimento de sua descontinuidades
entre os ambientes
criança em todos os aspectos de sua familiar e escolar, é
necessário conhecer
personalidade; os tipos de
envolvimento entre
 Conhecer os tipos de atendimento que a pais e escola e
estabelecer
criança recebe e quais seus objetivos. estratégias que
permitam a
concretização de
objetivos comuns.
O acompanhamento da vida escolar do portador Será que nossas
escolas têm atuado
de deficiência deve ser contínuo, perdurar nos demais
assim?
níveis de ensino, com modalidades diferenciadas, de
acordo com a apresentação das próximas unidades.
Aula 6 | O envolvimento familiar na educação do aluno com necessidades 202
educacionais especiais

A importância e a influência da família como


agente educativo são inquestionáveis. Por exemplo, o
estabelecimento de um vínculo afetivo saudável entre
os pais e seus filhos pode desencadear o
desenvolvimento de padrões interacionais positivos e
de repertórios curativos para enfrentar as situações
cotidianas, o que permite um ajustamento do indivíduo
aos diferentes ambientes em que ele participa,
incluindo a própria escola. Por outro lado, filhos cujos
pais vivenciam freqüentemente situações de estresse,
ansiedade e medo têm dificuldades em interagir com
outras pessoas e exibem um repertório de
comportamentos limitado para lidar com o seu
ambiente.

Conclusão

Quando a família e a escola mantêm boas


relações, as condições para um melhor aprendizado e
desenvolvimento da criança podem ser maximizadas.
Assim, pais e professores devem ser estimulados a
discutirem e buscarem estratégias conjuntas e
específicas ao seu papel, que resultem em novas
opções e condições de ajuda mútua.

A escola deve reconhecer a importância da


colaboração dos pais na história e no projeto escolar
dos alunos e auxiliar as famílias a exercerem o seu
papel na educação, na evolução e no sucesso
profissional dos filhos e, concomitantemente, na
transformação da sociedade.

Cada vez mais cedo, a escolarização se torna


presente na vida das crianças e tem finalizado mais
tarde. A introdução de modelos e maneiras de propiciar
a interação entre a família e a escola, reconhecendo a
contribuição e os limites da família na educação formal
são fundamentais para diversificar os sistemas de ensino
Aula 6 | O envolvimento familiar na educação do aluno com necessidades 203
educacionais especiais

e envolver, nas parcerias educativas, as famílias e os


diversos atores sociais.

Para refletir
Reconhece-se que a escola, hoje, ainda não está
preparada para lidar com o envolvimento familiar. Para
Hoje, poucos são os
que isto ocorra, deve haver, primeiramente, o casos em que família
e escola
reconhecimento do meio familiar como um verdadeiro compartilham a
responsabilidade
aliado da escola na sua iniciativa educacional, não se sobre a educação
escolar. Em geral, a
restringindo a escola à concepção paternalista e de escola promove
reuniões para dar
mera tutoria das atividades e orientações familiares. explicações - para
não dizer fazer
queixas - sobre o
A qualidade da instrução, a organização escolar, desempenho e o
comportamento dos
as metodologias de ensino, o número de alunos em escolares. Assim,
sala e o apoio pedagógico fornecido aos professores são uma a duas vezes
por semestre, às
evidenciados como aspectos que podem contribuir para vezes por ano, os
pais são convidados
a melhoria do sistema escolar. Mesmo quando a para uma dessas
reuniões. Resumem-
instituição escolar planeja e implementa um bom se nisso, quase
sempre, as relações
programa curricular, a aprendizagem do aluno só é família-escola. No
mais, os pais
evidenciada quando este é cercado de atenção da mantêm-se e são
mantidos bastante
família e da comunidade. Neste caso, a família e a afastados dos
acontecimentos na
comunidade devem ser orientadas quanto às novas
esfera escolar.
abordagens utilizadas no ensino, visando acompanhar o
progresso e as necessidades do aluno.

Não podemos deixar de mencionar a diversidade


entre os ambientes da família e da escola. Além do
reconhecimento de que esses dois contextos, onde o
aluno realiza sua aprendizagem, são diferentes e
diversificados, é importante também identificar e lidar
com as similaridades e diferenças entre eles. Na escola,
costumes, espaços, recursos, expectativas,
experiências, linguagem e valores podem ser diferentes
da família ou, quando similares, podem diferenciar-se
em grau. E estas diferenças são, em geral, decorrência
da condição sócio-econômica, dos valores e crenças,
das deficiências ou mesmo das diferenças culturais.
Entretanto, tais diferenças não constituem (ou não
deveriam constituir) um impedimento para o
envolvimento e o estabelecimento de relações entre a fa-
Aula 6 | O envolvimento familiar na educação do aluno com necessidades 204
educacionais especiais

mília e a escola. Interligar estes dois contextos torna-se


uma tarefa decisiva para o estabelecimento de políticas
Para pensar
e implementação de programas educacionais.

O que você pensa


sobre esta
Para estimular e implementar a participação dos
afirmação?
Normalmente, na pais de modo a fortalecer uma nova cultura de
escola, o espaço
torna-se mais frio, participação, deve-se estabelecer, no projeto
distante, impessoal
e altamente pedagógico da escola, espaço físico e estratégias
competitivo quando
comparado ao diferenciadas. O primeiro passo para isto é a
espaço da família. A
linguagem adotada e identificação eficaz do tipo de envolvimento da família
os símbolos
empregados se com a escola que, por sua vez, depende do
estruturam de
maneira reconhecimento e da descrição sistemática dos padrões
descontextualizada,
e modelos de relação constituintes de tal envolvimento.
ignorando-se as
características
familiares.
Em síntese, os pais devem participar ativamente
da educação de seus filhos, tanto em casa quanto na
escola, e devem envolver-se nas tomadas de decisão e

Para refletir em atividades voluntárias, sejam esporádicas ou


permanentes, dependendo de sua disponibilidade. No
Vamos meditar sobre entanto, cada escola, em conjunto com os pais, deve
o envolvimento dos
pais no projeto encontrar formas peculiares de relacionamento que
político da escola.
Reflete a sejam compatíveis com a realidade de pais,
participação efetiva
dos pais na tomada professores, alunos e direção, a fim de tornar este
de decisão quanto às
metas e aos projetos espaço físico e psicológico um fator de crescimento e de
da escola. Retrata os
diferentes tipos de
real envolvimento entre todos os segmentos.
organização, desde o
estabelecimento do
colegiado e da É importante ter em mente que, em todos os
associação de pais e
mestres até tipos de envolvimento família-escola, a qualidade dos
intervenções na
política local e relacionamentos é mais importante que a quantidade.
regional. Concorda?
Em algumas escolas, o relacionamento é rígido e gera
certo incômodo, com os pais mostrando certa relutância
em manter contato com outros pais e professores e,
também, insegurança em discutir questões não
acadêmicas. Os sinais de desconforto dos pais são
evidenciados por interações curtas, formais e rígidas
com a escola.
Aula 6 | O envolvimento familiar na educação do aluno com necessidades 205
educacionais especiais

É importante, também, considerar as


peculiaridades dos papéis dos pais, dos professores,
dos coordenadores, dos diretores e de outros
componentes da escola. Uma avaliação consistente e
sistemática, que indique os diferentes graus de
participação de cada um deles na escola, auxilia a
compreensão e a identificação das diferentes formas de
participação dos pais nas atividades escolares e fornece
informações sobre a dinâmica da família e dos
processos evolutivos dos alunos.

Conhecer os processos que permeiam os dois


contextos e suas inter-relações possibilitaria uma visão
mais dinâmica do processo educacional e, certamente,
intervenções mais precisas e efetivas, e uma ampla
discussão de modelos de articulação entre esses dois
agentes educacionais, considerando as condições
brasileiras.

EXERCÍCIO 1

No início da escolarização, compete aos pais


possibilitarem à criança deficiente:

( A ) Aceitar a criança e acreditar nas suas


potencialidades fazendo com que ela se sinta
segura e adquira maior confiança em si mesma e
se aceite melhor;
( B ) Dar carinho para possibilitar o desenvolvimento
da capacidade de contato afetivo adequado com
outras pessoas e o estabelecimento de
comunicação;
( C ) Estabelecer comunicação com seu filho;
( D ) Conversar com seu filho a respeito do que está
acontecendo e do que vai acontecer no ambiente
escolar;
(E) É elemento facilitador do processo de
desenvolvimento da comunicação do filho.
Aula 6 | O envolvimento familiar na educação do aluno com necessidades 206
educacionais especiais

EXERCÍCIO 2

A integração do portador de deficiência:

( A ) Depende de uma comunidade que esteja


preparada para conviver e aceitar aqueles que são
diferentes;
( B ) Depende de um processo dinâmico;
( C ) Possibilita ao portador de deficiência interagir,
conviver e comunicar-se com outras pessoas;
( D ) Pressupõe atitudes de cooperação e desacordo;
( E ) Evolui de acordo com as tendências internacionais
e nacionais.

EXERCÍCIO 3

Qual a importância do envolvimento parental na


educação inclusiva?
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

EXERCÍCIO 4

Comente: Conforme o tempo passa, os pais ficam mais


exigentes e começam a insistir nos seus direitos de serem
consultados em todas as fases de decisão relativas ao seu
filho.

____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Aula 6 | O envolvimento familiar na educação do aluno com necessidades 207
educacionais especiais

RESUMO
Vimos até agora:

 Quando existe envolvimento das famílias com


a escola dos filhos, com seus professores e as
famílias entre si é porque houve
integração/inclusão das famílias com a escola.
Os pais, então, são ativos e participantes e
observa-se um maior desenvolvimento dos
filhos/alunos;

 Os movimentos de inclusão visam a plena


participação de todas as pessoas em todos os
âmbitos da sociedade e a busca por parte de
ambos - sociedade e pessoas com deficiências
– de maneiras práticas de correlacionar seus
direitos e deveres na construção de uma
sociedade para todos, objetivando o pleno
exercício de uma cidadania que todos têm
direito;

 É importante a influência da família como


agente educativo e o estabelecimento de um
vínculo afetivo saudável entre os pais e seus
filhos pode desencadear o desenvolvimento
de padrões interacionais positivos e de
repertórios curativos para enfrentar as
situações cotidianas, o que permite um
ajustamento do indivíduo aos diferentes
ambientes em que ele participa incluindo a
própria escola.

GABARITO DAS QUESTÕES OBJETIVAS:


AULA 1 – 6D; 7B. AULA 2 – 2D; 3C. AULA 3 – 2E; 3C. AULA 4 – 4D; 5A. AULA 5 – 2C; 3E.
AULA 6 – 1A; 2D.
AV1 – Estudo Dirigido da Disciplina
CURSO: Educação Especial e Inclusiva
DISCIPLINA: Ação Educativa na Educação Inclusiva
ALUNO(A): MATRÍCULA:

NÚCLEO REGIONAL: DATA: _____/_____/___________


QUESTÃO 1: Os critérios de adaptação curricular são indicadores do que os alunos
devem aprender, de como e quando aprender, das distintas formas de organização
do ensino e de avaliação da aprendizagem com ênfase na necessidade de previsão
e provisão de recursos e apoio adequados. Por que nosso sistema educacional não
utiliza tais critérios?
Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:

Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:


endereço eletrônico) – OPCIONAL:

Resposta (com as suas palavras):

QUESTÃO 2: A proposta pedagógica, numa visão construtivista do conhecimento,


tem no aluno e nas suas possibilidades o centro da ação educativa. Assim, o
processo pedagógico é construído a partir das possibilidades, das potencialidades,
daquilo que o aluno já dá conta de fazer. É isto que o motiva a trabalhar, a
continuar se envolvendo nas atividades escolares, garantindo, assim, o sucesso do
aluno e sua aprendizagem. Nosso sistema educacional age assim? Você acha que
seria necessária esta mudança de comportamento?
Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:

Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:


endereço eletrônico) – OPCIONAL:

Resposta (com as suas palavras):


QUESTÃO 3: Que práticas de ensino ajudam os professores a ensinar os alunos de
uma mesma turma, atingindo a todos, apesar de suas diferenças? Ou como criar
contextos educacionais capazes de ensinar todos os alunos? Mas sem cair nas
malhas de modalidades especiais e programas vigentes que nada têm servido para
que as escolas mudem para melhor.
Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:

Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:


endereço eletrônico) – OPCIONAL:

Resposta (com as suas palavras):

QUESTÃO 4: Qual a importância do envolvimento parental na educação inclusiva?


Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:

Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:


endereço eletrônico) – OPCIONAL:

Resposta (com as suas palavras):


ATENÇÃO:

Na realização das avaliações (AV1 e AV2), procure desenvolver uma


argumentação com suas próprias palavras.
Observe que é importante você realizar uma pesquisa aprofundada para atender
aos objetivos propostos consultando diferentes autores. No entanto, é
fundamental diferenciar o que é texto próprio de textos que possuem
outras autorias, inserindo corretamente as referências bibliográficas
(citações), quando este for o caso.
Vale lembrar que essa regra serve inclusive para os nossos módulos, utilizados
com freqüência para as respostas das avaliações.
Em caso de dúvidas, consulte o material sobre como realizar as citações diretas
e indiretas ou entre em contato com o tutor de sua disciplina.
AS AVALIAÇÕES QUE DESCONSIDERAREM ESTE PROCEDIMENTO ESTARÃO
SEVERAMENTE COMPROMETIDAS.
AV2 – Trabalho Acadêmico de Aprofundamento
CURSO: Educação Especial e Inclusiva
DISCIPLINA: Ação Educativa na Educação Inclusiva
ALUNO(A): MATRÍCULA:

NÚCLEO REGIONAL: DATA: _____/_____/___________


Atividade Sugerida: Entrevista com um professor envolvido com práticas
de Educação Inclusiva.
Objetivo: Tendo como objetivo geral refletir sobre os princípios que norteiam uma
educação inclusiva (justiça, imparcialidade, igualdade, aceitação da diversidade),
selecione uma escola onde a educação esteja baseada no princípio da não
segregação (inclusão).
Instruções:
a) Elabore um roteiro para a entrevista, selecione e entreviste um
professor envolvido em atividades de inclusão,

b) As questões deverão ser abertas e serão criadas por você, tendo como
base os objetivos indicados.
Para facilitar sua aplicação, elaboramos um roteiro dividido em três tópicos:
- Apresentação:
Identificação do entrevistado (dados pessoais, profissionais...)
- Aspectos Educacionais:
Ações Educativas e Proposta pedagógica (propostas facilitadoras da aprendizagem,
métodos, recursos, formação, ...)
- Aspectos Sociais:
Interação social (interação, desafios, parcerias, ...)

c) Elabore um relatório, contendo os principais aspectos identificados e uma


análise prévia sobre os princípios (identificados na entrevista) que norteiam as
ações inclusivas aplicadas pelo professor.

Algumas dicas:
 Planeje sua entrevista, de forma a que as questões consigam abranger os
objetivos já definidos;
 Adapte a linguagem ao nível do entrevistado;
 Evite questões longas;
 Esteja bem informado sobre o assunto objeto da entrevista;
 Seja imparcial perante o entrevistado e mantenha autocontrole emocional.
 Estabeleça uma relação amistosa e não trave um debate de idéias.
 Não demonstre insegurança ou admiração excessiva diante do entrevistado
para que isto não venha prejudicar a relação entre entrevistador e
entrevistado.
 Seja objetivo, já que entrevistas muito longas podem se tornar cansativas
para o entrevistado.
 Vá anotando as informações do entrevistado, sem deixar que ele fique
esperando sua próxima indagação, enquanto você escreve.
 Caso use um gravador, não deixe de pedir sua permissão para tal.
Lembramos que o uso do gravador pode inibir o entrevistado.

Roteiro/Relatório - PROFESSOR
Objetivo primário da pesquisa: Refletir sobre o papel do professor na educação
inclusiva e nos novos paradigmas educacionais que exigem práticas pedagógicas
dinâmicas e diversificadas.
TÓPICOS BLOCOS DE ASSUNTO

I - Informações Iniciais Nome / Idade:


Nível de Instrução/Formação:
Formação Completar:
Tempo de atuação:

II – Aspectos 1 – Questão: (elabore sua pergunta)


Educacionais Resposta:

2 – Questão: (elabore sua pergunta)


Resposta:

III – Aspectos Sociais 1 – Questão: (elabore sua pergunta)


Resposta:

2 – Questão: (elabore sua pergunta)


Resposta:

Relatório (Análise das Respostas):


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