2009
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CURSO DE IMUNOHEMATOLOGIA – 2009
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parte interna, formando um grupo de proteínas que constituem uma espécie de
“cito-esqueleto“.
Os carboidratos podem estar ligados aos fosfolipídios sob a forma de glicolipídios
ou às proteínas sob a forma de glicoproteínas.
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Algumas proteínas membranárias apresentam atividades enzimáticas
importantes no metabolismo e em mecanismos de defesa do organismo.
3- Modelo de Biomembranas:
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4- Representação 3D da matriz fosfolipídica da membrana:
5- Síntese de proteínas:
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Vamos recordar brevemente o processo de biosíntese de proteínas e o mecanismo
de inserção das proteínas membranárias.
Precedendo a “5‟ UTR” está uma região receptora de sinais que dirigem e
controlam a expressão do gene, chamada “Região Promotora”.
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A maioria dos genes eucarióticos é transcrita pela enzima chamada “RNA
polimerase II”, cuja ativação depende de uma série de fatores de transcrição que
se unem, em uma ordem precisa, ao redor de uma seqüência específica da região
promotora (25 bases antes do ponto de iniciação), chamada “TATA-Box”.
A fita dupla de DNA que constitui um gene é formada de duas fitas simples
complementares em sentidos opostos, sendo a fita codificadora aquela que se
alonga no sentido do carbono 5‟ para o carbono 3‟ da desoxirribose. A fita
complementar à codificadora (3‟–5‟) serve de modelo no processo de
“Transcrição” para construção de um RNA-nuclear, que tem a mesma seqüência
da fita codificadora no gene (incluindo exons e introns). Posteriormente, por um
processo chamado “RNA–splicing” que elimina os segmentos não-codificadores
(introns), o RNA-nuclear é transformado em RNA-mensageiro (mRNA) que é
representado por uma seqüência somente de exons. Considere que a base
pirimídica Timina no DNA é substituída por Uracila no RNA. Uma vez formado, o
mRNA migra para o citoplasma celular e vai dirigir a síntese protéica feita pelos
ribossomos no sistema retículo-endoplasmático rugoso.
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funciona como um sítio de ligação para TF-IIF (F) e a RNA-polimerase II que, em
seguida, é ativada por TF-IIE (E) e fosforilada por TF-IIH (H).
O ritmo da transcrição depende de dois outros grupos de fatores de transcrição
chamados co-ativadores e ativadores, sendo que as proteínas co-ativadoras se
ligam em fatores de base já fixados na região promotora, enquanto as proteínas
ativadoras se ligam em regiões do DNA, distantes da região promotora, chamadas
“Enhancers”. A interação entre proteínas ativadoras e subunidades das proteínas
co-ativadoras na região promotora aumenta o ritmo de transcrição.
Quando um tipo de proteína chamada “Repressora” se liga em regiões do DNA
chamadas “Silencers” adjacentes aos “Enhancers”, as proteínas ativadoras não
conseguem mais ligar ao DNA e o processo de transcrição é interrompido.
Uma vez que a RNA-polimerase II se fixou sobre a região promotora, a fita dupla
de DNA começa a se desemparelhar nesta região, expondo a fita modelo (3‟-5‟)
complementar à fita codificadora (5‟-3‟), que é a única que contem as
seqüências corretas da região promotora. Em seguida a primeira base de RNA é
transcrita no “Ponto de Iniciação” da fita modelo e inicia o processo de
alongamento. Nucleotídios RNA são adicionados seqüencialmente a partir deste
ponto, até que a RNA-polimerase II atinja o final da fita modelo e libere uma fita
simples de RNA-nuclear, que contem a mesma seqüência de bases da fita
codificadora (5‟-3‟) de DNA do gene expresso, incluindo os segmentos de exons e
introns. Vale recordar que a base Timina no DNA é substituída por Uracila no RNA.
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Antes de deixar o núcleo celular e migrar para o sistema reticulo endoplasmático
rugoso para ser traduzida em proteína pelos ribossomos, a fita transcrita de RNA-
nuclear sofre algumas modificações:
Uma molécula CAP (Catabolite gene Activator Protein) consistindo de uma
GTP (Guanosina trifosfato) modificada é incorporada ao terminal 5‟, servindo
como um sinal de reconhecimento para os ribossomos.
Uma seqüência de mais de 150 bases de Adenina (poli-A) é incorporada ao
terminal 3‟, para estabilização do RNA.
Os segmentos de introns são removidos por um processo chamado “RNA-
splicing”.
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O processo de “Tradução” consiste em decifrar o código genético contido na fita
de mRNA e produzir uma proteína de acordo com este código. Este processo
ocorre fora do núcleo em estruturas chamadas ribossomos, produzidas pelos
nucléolos.
Cada unidade de ribossomo é formada de duas subunidades de diferentes pesos
moleculares e separadas uma da outra, exceto quando produzindo uma proteína.
Nas células eucarióticas, a subunidade maior é designada 60S e a menor 40S,
sendo “S” o coeficiente de sedimentação em ultracentrífugas.
Existem dois tipos básicos de ribossomos, os livres e os aderidos ao “Retículo
Endoplasmático Rugoso” (RER). Toda síntese protéica começa nos ribossomos
livres e dependendo da presença de certas seqüências de sinal na proteína em
formação, os ribossomos se ligam ao RER. As proteínas formadas no RER são
secretadas para fora da célula ou são integradas em organelas como a membrana
celular ou lisossomos, enquanto aquelas produzidas em ribossomos livres
integram mitocôndrias e o “citosol” (matriz citoplasmática).
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crescente cadeia peptídica. A proteína estará pronta quando o ribossomo
encontrar um stop códon (UAA, UAG ou UGA).
Núcleo
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7- Papel fisiológico das proteínas membranárias:
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O slide acima apresenta um modelo 2D de representação das proteínas da
membrana eritrocitária, de acordo com o tipo de inserção membranária e os
antígenos de grupos sanguíneos carreados por elas.
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10- Coleções de Antígenos Eritrocitários (ISBT):
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As coleções contêm antígenos relacionados sorológica, bioquímica e
geneticamente, mas que não atendem a todos os critérios requeridos para serem
sistemas. Conhecemos, atualmente, 6 coleções de antígenos eritrocitários.
Observem a nova coleção criada VEL (211), contendo dois antígenos relacionados
de alta freqüência VEL1 e ABTI (VEL2).
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12- Antígenos da Membrana Eritrocitária:
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como plasma sanguíneo, saliva e líquido pericárdico, sob a forma de
glicoproteínas solúveis.
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nos exons 6 e 7 criam uma diversidade de alelos ABO, que por sua vez, produzem
glicosiltransferases com diferentes especificidades e capacidades variáveis de
transporte do açúcar específico. Como resultado, temos fenótipos comuns ABO
(A1, A2, B, A1B, A2B e O) produzidos pelos alelos comuns correspondentes (A1, A2,
B e O) e os fenótipos ditos raros (A3, Aend, Ax, Am, Ay, Ael, B3, Bx, Bm, Bel, B(A) e
cis-AB) produzidos pelos alelos raros correspondentes (A3, Aend, Ax, Am, Ay, Ael, B3,
Bx, Bm, Bel, B(A) e cis-AB).
Os antígenos ABO são bem distribuídos no organismo, mas com uma função não
muito clara. Como são açucares, glicosilam proteínas membranárias formadoras
do chamado “glicocalix”, que funciona como um escudo de cargas negativas que
protege a célula contra potenciais elétricos externos.
Não existe uma associação direta entre doenças e a ausência de antígenos ABO,
mas pode-se verificar que a vulnerabilidade à algumas doenças infecciosas
bacterianas, é maior em determinados grupos sanguíneos que em outros. Isso se
deve ao fato de bactérias apresentarem em suas membranas, estruturas similares
aos antígenos ABO.
A síntese dos antígenos ABO e H das hemácias ocorre quando os glóbulos são,
ainda, eritroblastos e possuem núcleos celulares. Nas hemácias maduras,
encontramos cadeias glicídicas sobre proteínas e, principalmente, sobre
fosfolipídios da matriz membranária, construídas pelas glicosiltransferases do
eritroblasto.
Nas representações gráficas mostramos uma seqüência de açucares em azul, que
foram adicionados à cadeia glicídica por glicosiltransferases produzidas por genes
que não sofreram mutações (selvagens) e que, portanto, todos os indivíduos os
possuem. Assim sendo, a seqüência de açúcares em azul forma uma “substância
de base” comum em todos os indivíduos.
Os açúcares terminais foram adicionados pelas glicosiltransferases ABO e H,
produzidas pelos genes ABO e H respectivamente, sendo o antígeno H uma L-
fucose, o antígeno A uma N-acetil-galactosamina e o B uma D-galactose.
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16- Biosíntese dos antígenos ABO e seus associados diretos:
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Para compreendermos o processo de biossíntese de uma cadeia glicídica
contendo antígenos Lewis, além dos antígenos ABO e H, vamos estudá-lo numa
glicoproteína solúvel produzida por células da mucosa salivar.
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17- Genes ABO e Glicosiltransferases produzidas:
Vamos estudar mutações sofridas pelo gene ABO, que levam a produção de
diversos alelos deste gene e as conseqüências das mutações na estrutura das
glicosiltransferases produzidas. Vamos considerar como padrão o alelo A1, que
produz a glicosiltransferase A1.
Se compararmos as seqüências de bases de nucleotídios dos diversos alelos ABO
com a seqüência do alelo padrão A1 e compararmos, também, as
glicosiltransferases produzidas por estes alelos com aquela produzida pelo alelo
A1, vamos identificar os pontos de mutações nos alelos e suas conseqüências para
a estrutura e funcionalidade das glicosiltransferases.
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Dessa maneira, por este “background” genético, a glicosiltransferase B apresenta
4 aminoácidos diferentes da glicosiltransferase A 1, nas posições 176Arg>Gly,
235Gly>Ser, 266Leu>Met e 268Gly>Ala, sendo que as trocas de aminoácidos nas
posições 266 e 268 são consideradas críticas.
O alelo O, se comparado com A1, apresenta uma mutação por deleção de uma
base (Guanina) na posição 261 do gene. Isto provoca um “frameshift” na
decodificação do gene e como resultado, a proteína produzida pelo alelo O não
apresenta atividade enzimática, por isso o grupo sanguíneo O não possui nenhum
dos dois açúcares ABO.
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Vejamos representações gráficas dos “backgrounds” genéticos mais comuns na
produção de subgrupos ABO.
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O alelo B3 em relação ao B, apresenta uma mutação “missense” na posição
1054C>T, implicando em troca de aminoácido na posição 452Arg>Trp da enzima
B3. As hemácias de subgrupo B3 apresentam características sorológicas similares
ao A3, ou seja, dupla população ou campo misto numa reação com anti-B.
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Neste experimento, F. Yamamoto estudou o efeito da troca de aminoácidos na
posição 268 das glicosiltransferases ABO.
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19- Outras determinações genéticas para grupos e subgrupos no sistema ABO:
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Os anticorpos no sistema ABO são, principalmente, de ocorrência natural e são
chamados “regulares” porque se um antígeno está ausente, o anticorpo
correspondente está sempre presente.
Pelo fato dos anticorpos ABO serem regulares, a fenotipagem neste sistema deve
ser feita pela pesquisa dos antígenos globulares (Prova Direta) e dos anticorpos
naturais correspondentes (Prova Reversa).
A produção dos anticorpos ABO, aos 3 a 6 meses de vida, não acontece por
estímulos antigênicos dos glóbulos vermelhos, mas por bactérias da flora
intestinal em formação, uma vez que estes microorganismos possuem antígenos
ABO em suas membranas celulares. A maior concentração destas aglutininas
ocorre entre 5 a 10 anos de idade, mantendo-se estável na idade adulta e
declinando gradativamente em idades avançadas.
Alguns indivíduos podem produzir altas concentrações de IgGs anti-A, -B, -AB
quando expostos aos antígenos ABO de hemácias, leucócitos e plaquetas em
transfusões sanguíneas ou por injeção de substâncias grupo-específicas A ou B
contidas em vacinas bacterianas.
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21- Sistema P-relacionados (ISBT: 003-P / 028-GLOB / 209-GLOB):
Três antígenos, P1, P e Pk, pertencentes ao sistema P (ISBT: 003 – P), ao sistema
Globosídio (ISBT: 028 – GLOB) e à coleção GLOB (ISBT), respectivamente,
constituem o que denominamos “Sistema P-relacionados”. A combinação destes
três antígenos caracteriza 5 fenótipos neste sistema.
A via de síntese do antígeno P1 não é a via do globosídio (Pk e P), mas sim do
paraglobosídio que é o substrato sobre o qual a glicosiltransferase produzida pelo
gene P1, vai adicionar uma alfa-galactose e formar o antígeno P1.
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22- Fenótipos no sistema P-relacionados e possíveis anticorpos:
De acordo com a presença ou ausência dos antígenos P1, P e Pk, podemos definir
os seguintes fenótipos:
P1 (75%) – Os antígenos presentes são P1 e P (construído sobre Pk). Os
anticorpos estão ausentes porque neste fenótipo todos os antígenos estão
presentes.
P2k (raro) – O antígeno presente é Pk. Este fenótipo tem, também, presença
constante de anti-P hemolítico.
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23- Associação com doenças:
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O sistema Rh (ISBT- 004 – RH) é o mais importante na prática transfusional depois
do sistema ABO, pela imunogenicidade de seus antígenos, particularmente do
RhD.
É um sistema protéico complexo e o mais polimórfico de todos os sistemas de
grupos sanguíneos, em função da organização de seus genes no cromossomo, que
facilita as recombinações genéticas.
Conhecemos 49 antígenos no sistema Rh. Embora tenhamos antígenos
classificados pela nomenclatura ISBT até o número 56, sete (Rh13, Rh14, Rh15,
Rh16, Rh24, Rh25, Rh38) se tornaram obsoletos.
Os demais antígenos deste sistema são carreados por variantes das proteínas RhD
e RhCE, produzidas por genes RhD e RhCE que sofreram algum tipo de mutação,
desde pontuais por simples trocas de bases (missense) até recombinações
genéticas com trocas parciais ou totais de exons entre os genes.
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26- Evolução dos genes Rh:
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RhD e RhCE são homólogos e ligados (haplótipo), cada um contendo 10 exons e se
estendendo por cerca de 60 kb de DNA genômico.
Estes dois genes são transcritos em RNA-mensageiros (mRNA: seqüência de exons),
cada um com 1558 nucleotídios, que são traduzidos nas duas proteínas do sistema
Rh (RhD e RhCE), com 417 aminoácidos cada uma. Cada exon de um gene
constrói um segmento da proteína, de maneira que os 10 exons produzem a
proteína integral.
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A função de transporte não está clara nas hemácias humanas, mas proteínas
produzidas por genes homólogos em microorganismos (bactérias) são
transportadoras de amônia.
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Por um processo de “permuta desigual”, uma recombinação das “Caixas Rhesus”
entre haplótipos Rh mal-alinhados (in trans), suprime o gene RhD, gerando um
haplótipo sem RhD. Um indivíduo que herda este haplótipo em dose dupla
(homozigose) é de fenótipo RhD-negativo. Este é o “background genético” mais
comum entre as populações mundiais de fenótipo RhD-negativo.
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Como vimos, o fenótipo RhD-negativo é, freqüentemente, produzido por
haplótipos Rh com supressão do gene RhD.
Vimos, também, que algumas proteínas híbridas já não expressam seus antígenos
correspondentes. Isto significa que alguns indivíduos, ainda que sejam capazes de
produzir a proteína RhD, não expressam o antígeno RhD e são sorologicamente
RhD-negativos.
Foram definidos diversos tipos de alelos variantes do gene RhD, que produzem
fenótipos RhD-parciais, de acordo com trocas totais ou parciais de exons (genes
híbridos) e trocas pontuais de bases nitrogenadas (mutação missense).
Observamos que em todos os alelos descritos foram conservados os exons 4, 5 e 7
ou pelo menos um deles.
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muitos epítopos do antígeno RhD e que, por conseqüência, se imunizam
facilmente quando transfundidos com sangue RhD-positivos.
Os produtos destes 6 alelos RhD híbridos são proteínas RhD híbridas que
produzem os fenótipos RhD-parciais: DIVb, DVa, DVI, DFR, DBT e DHar que
expressam, respectivamente, os antígenos imunogênicos de baixa freqüência
Rh37 (Evans), Rh23 (Dw), Rh52 (BARC), RH50 (FPTT), Rh32 e Rh33.
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Os indivíduos DIIIc, no entanto, se imunizam contra antígenos RhD completos.
Isto significa que mudanças na estrutura peptídica da proteína, ainda que sejam
em regiões trans ou intramembranárias, podem afetar “loops” extracelulares e
criar novos epítopos antigênicos.
O fenótipo parcial DII e diversos outros que, também, apresentam simples trocas
de aminoácidos em “loops” externos da proteína RhD, são menos susceptíveis aos
eventos de imunização.
Hoje, sabemos que a expressão do antígeno Rh12 (G) está ligada à presença de
uma serina, comum em ambas as proteínas Rh, na posição 103 do “loop” 2. Por
isso, este antígeno está presente nos indivíduos que expressam os antígenos RhD
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e/ou RhC. A troca da serina por prolina na posição 103 da proteína RhD, cria um
fenótipo RhD-parcial que não expressa o antígeno Rh12 (G), explicando os casos
de indivíduos que são RhC-negativos e que, apesar de serem RhD-positivos, são
Rh12 (G)-negativos.
Por esta bateria de testes com 9 anticorpos monoclonais contra epítopos de RhD,
podemos observar que o RhD categoria VI (DVI) só apresenta 3 epítopos típicos de
RhD. Se analisarmos a tabela estendida com testes de detecção de 30 epítopos
de RhD, o DVI apresenta apenas 6 epítopos típicos de RhD. Os testes negativos
significam que estes epítopos de RhD estão ausentes, porque foram substituídos
por epítopos de RhCE.
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O fenótipo RhD-parcial categoria VI (DVI) é o de maior freqüência entre os D-
parciais e devido à ausência da maioria dos epítopos típicos de RhD, indivíduos
DVI se imunizam facilmente, quando transfundidos com sangues RhD-positivos,
produzindo anticorpos anti-RhD contra os epítopos ausentes.
O “kit” comercial acima, com 6 soros monoclonais contra epítopos de RhD pode
identificar as categorias mais importantes de RhD-parciais.
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com a freqüência com que aparecem na população, sendo os números mais
baixos, os mais freqüentes. Mencionamos alguns dos tipos melhor caracterizados.
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RhD-parcial fraco apresenta uma concentração reduzida de sítios antigênicos por
membrana (quantitativamente reduzido) e, além disto, é uma variante
qualitativa da proteína RhD com um ou mais epítopos antigênicos não típicos de
RhD.
37- Proteínas RhCE produzidas pelos diferentes alelos RhCE x proteína RhD:
Comparando as estruturas das proteínas RhCE produzidas pelos alelos Rhce, RhCe,
RhcE, observamos os pontos de trocas de aminoácidos que caracterizam os
antígenos RhC, Rhc, RhCw, RhE e Rhe, carreados pela proteína RhCE em suas
respectivas configurações (Rhce, RhCe e RhcE).
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Os pontos de polimorfismo que geram as diferenças entre os antígenos RhC e Rhc,
estão nas posições 16, 60, 68 e 103 da proteína RhCE, sendo apenas a posição 103
localizada em um “loop” externo (“loop” 2). Nesta posição, o antígeno RhC
apresenta o aminoácido serina, enquanto o Rhc apresenta uma prolina. O
aminoácido arginina, na posição 51 (“loop 1”), caracteriza o antígeno RhCw, uma
vez que RhC e Rhc apresentam glicina nesta posição.
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Entretanto, genes RhCE híbridos contendo partes do gene RhD, por
recombinações entre exons correspondentes (in cis), podem ser produzidos. O
resultado pode ser a produção de haplótipos RhCE total ou parcialmente
silenciosos, dependendo da extensão da recombinação, ou seja, se os exons 4, 5
e 7 foram todos substituídos ou se algum deles foi conservado.
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A glicoproteína Rh50 (RhAG) tem um papel primordial na formação do complexo
Rh na membrana eritrocitária. Na ausência desta proteína, as proteínas Rh não se
integram à membrana celular.
Mutações no gene Rh50 (RhAG) podem ocorrer por mecanismos de deleção e/ou
substituição de bases nitrogenadas (missense), produzindo proteínas mais curtas
e incapazes de se integrarem à membrana eritrocitária, gerando fenótipos “Rh-
nul” de tipo regulador. Eventualmente, são de tamanho normal, mas com uma
troca de aminoácido que dificulta sua integração à membrana e geram fenótipos
chamados “Rh-mod”.
Os anticorpos no sistema Rh, via de regra, não são naturais e nem regulares, o
que significa que não ocorrem sem um estímulo conhecido, seja transfusional ou
feto-materno. Conhecemos, entretanto, vários exemplos de anti-RhE e outros
raros de anti-RhD de ocorrência natural.
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apresentando especificidade e reagindo contra todas as hemácias humanas,
exceto as de fenótipo “Rhnul”.
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Em termos funcionais, esta glicoproteína é uma enzima com estrutura homóloga
à das endopeptidases zinco-dependentes da família das “Neprilisinas”. Estas
enzimas são capazes de clivar uma proteína integral chamada “Big-endotelina 3”
e gerar peptídios ativados como a “Endotelina 3” (ET-3), que é um potente
agente de vasoconstrição.
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Na posição 281, a especificidade “Kpb” é caracterizada pelo aminoácido arginina,
que ocorre na maioria dos indivíduos. A presença de triptofano ou glutamina
nesta posição produz, respectivamente as especificidades de baixa freqüência
“Kpa” e “Kpc”.
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O polimorfismo da posição 281 (Kpb, Kpa, Kpc) é produzido por mutações
“missense” no exon 8 do gene KEL.
Originalmente, a posição 961 do gene apresenta uma citosina e o antígeno
produzido é Kpb (arginina na posição 281 da proteína), que é uma especificidade
de alta freqüência (público). Quando a citosina é substituída por timina, o
antígeno produzido é Kpa (triptofano na posição 281 da proteína) que é de baixa
freqüência (privado).
Na posição 962 (exon 8 do gene KEL), a presença de uma guanina é típica do
alelo de alta freqüência Kpb. A troca da guanina por adenina, nesta posição, cria
o alelo de baixa freqüência Kpc, que produz o antígeno privado Kpc (glutamina na
posição 281 da proteína).
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Com exceção do antígeno K (Kell), que apresenta uma freqüência próxima aos
10%, os demais antígenos do sistema são públicos ou privados, entendo-se por
“públicos” os antígenos de alta freqüência (> 99%) e “privados” os de baixa
freqüência (< 1%).
Pacientes que se imunizam contra os antígenos privados não representam
problemas transfusionais, mas imunizações contra os antígenos públicos podem
significar grandes obstáculos transfusionais, se não dispomos de doadores
fenotipados.
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A associação Kell-XK pode ser observada em hemácias, mas não em outras células,
já que a glicoproteína Kell parece restrita aos tecidos eritróides.
Na DHRN, os anticorpos do sistema Kell estão muito mais envolvidos com uma
anemia fetal grave por supressão da eritropoiese, do que com a hemólise imune.
Isto porque os antígenos Kell se expressam prematuramente durante a
eritropoiese.
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anti-Km podem ser produzidos. O anti-Km é produzido pelos indivíduos McLeod
que não apresentam “granulomatose crônica” (CGD) e é capaz de reagir com
hemácias de qualquer fenótipo corrente Kell, mas não com K0 (KEL nul) ou outro
McLeod. O anti-KL (anti-Kx + anti-Km) é produzido por indivíduos McLeod que
apresentam CGD e é capaz de reagir fortemente contra hemácias K 0 (KEL nul),
fracamente contra hemácias de fenótipos correntes Kell e não reage contra
fenótipos McLeod.
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MGSA, por isso a denominação “DARC” (Duffy Antigen Receptor for Chemokines).
Postula-se que a função de um receptor de quimiocinas de diferentes classes,
como é o caso da glicoproteína Duffy, na membrana eritrocitária, seja remover o
excesso destas quimiocinas liberadas na circulação sanguínea.
Fyx não é um antígeno, mas um fenótipo caracterizado pela baixa expressão dos
antígenos Fyb, Fy3 e Fy6 em caucasianos. Isto se dá em função da diminuição da
quantidade de glicoproteína Duffy integrada à membrana eritrocitária,
acarretada pela simples troca dos aminoácidos Arginina por Cisteina na posição
intracelular 89.
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raça branca. Anti-Fy3 é raríssimo na raça negra e, normalmente, acompanhado
de um anti-Fya.
Os antígenos Fy4 e Fy5 não estão muito bem caracterizados, pela raridade dos
soros anti-Fy4 e anti-Fy5.
Assim como o Fy3, o antígeno Fy5 está ausente nos fenótipos Fy(a-b-), mas Fy5
apresenta a particularidade de estar ausente, também, nos fenótipos Rhnull. A
razão desta associação entre Duffy e Rh não é conhecida. O anticorpo anti-Fy5
tem sido encontrado em indivíduos politransfundidos da raça negra, sendo
responsáveis por reações transfusionais tardias.
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A base genética para o polimorfismo Fy a – Fyb, caracterizado por uma simples
troca de aminoácidos na posição 42 da proteína (Fy a/Gly-42-Asp/Fy b), está ligada
a uma mutação “missense” no exon 2 do gene FY na posição 125, onde a base
adenina foi substituída por guanina.
O fenótipo Fy(a-b-) ocorre por diferentes mecanismos genéticos nas raças branca
e negra. Na raça branca, este fenótipo é muito raro e, normalmente, produzido
por indivíduos que apresentam dose dupla (homozigose) de alelos mutantes que
produzem proteínas truncadas que não são incorporadas em membranas celulares.
Estes indivíduos são capazes de produzir um anticorpo de especificidade anti-Fy3
de alta reatividade.
Na raça negra (africanos e afro-descendentes), o fenótipo Fy(a-b-) é de alta
freqüência e produzido por um mecanismo genético que envolve uma troca de
base na região promotora do gene Fyb na posição -33, onde a base timina foi
substituída por citosina. A presença da citosina altera o sítio de ligação do fator
eritroide de transcrição chamado GATA-1, impossibilitando a transcrição do gene
em mRNA nos eritroblastos, resultando na ausência da glicoproteína Duffy nas
hemácias destes indivíduos. Como GATA-1 é um fator de transcrição
especificamente eritroide, podemos detectar a glicoproteína Duffy (Fyb) em
outros tecidos (rim, baço, coração, pulmão, músculo, cérebro) destes indivíduos
negros.
Considerando o mecanismo genético que acabamos de explicitar, podemos
compreender porque os indivíduos Fy(a-b-) de raça negra, quando imunizados,
produzem anti-Fya mas não anti-Fyb e nem anti-Fy3.
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As tabelas acima mostram as freqüências relativas dos diferentes antígenos e
fenótipos eritrocitários Duffy. Os antígenos Fya e Fyb são polimórficos nas raças
branca e negra.
Na raça branca, os antígenos Fy3, Fy5 e Fy6 são de alta freqüência, uma vez que
só estão ausentes nos raros indivíduos de fenótipo Fy(a-b-). O antígeno Fy4 é
polimórfico nos indivíduos brancos e só está presente no fenótipo Fy(a-b-).
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Uma vez presentes, os anticorpos anti-Duffy, que são principalmente da
subclasse IgG1, são capazes de provocar reações transfusionais severas. Podem
fixar complemento e ativá-lo até a formação de C3b que, também, irá opsonizar
a membrana eritrocitária dos glóbulos transfundidos, permitindo que sejam
reconhecidos por macrófagos com receptores de IgG e C3b, produzindo hemólise
mais severa.
As doenças hemolíticas do recém-nascido (DHRN) por anticorpos anti-Duffy são
pouco freqüentes e raramente graves.
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A primeira evidencia da função desta glicoproteína veio do fato das hemácias do
raro fenótipo silencioso Jk(a-b-) serem resistentes à lise em uma solução de uréia
2M, enquanto hemácias de fenótipos normais, que apresentam antígenos Kidd,
hemolisam pelo rápido fluxo de uréia para dentro da célula.
58
54- Bases genéticas do polimorfismo no sistema Kidd:
59
maneira, indivíduos que herdam este gene em dose dupla, serão do fenótipo
Jk(a-b-).
O antígeno Jk3 (Jk total) é de alta freqüência e só está ausente nos raros
indivíduos do fenótipo silencioso Jk(a-b-).
Diferentes mecanismos genéticos (acima discutidos) podem produzir o fenótipo
Jk(a-b-) que, embora seja muito raro na população caucasiana, ocorre em cerca
de 0,9% dos indivíduos na Polinésia.
60
Devido a uma certa tolerância imunológica aos antígenos Jka e Jkb, que são pouco
imunogênicos, a freqüência de imunizações de pacientes com estes antígenos é
baixa. Os anticorpos anti-Jka e anti-Jkb ocorrem, principalmente em
politransfundidos e aparecem juntamente com outros alo-anticorpos,
dificultando a seleção de sangues compatíveis para transfusões.
O anti-Jk3 é um anticorpo muito raro, uma vez que apenas os indivíduos Jk(a-b-)
podem produzi-lo. Este anticorpo reage contra hemácias Jk(a+) e/ou Jk(b+),
sendo somente compatíveis, hemácias do mesmo fenótipo Jk(a-b-).
61
O sistema Diego é constituído por 21 antígenos, representados por pontos de
simples troca de aminoácidos ao longo da proteína Diego (AE1, Banda 3).
Os antígenos Dia - Dib e Wra - Wrb são os dois pares antitéticos do sistema,
enquanto os demais antígenos, que são todos de baixa freqüência e, também,
representados por simples trocas de aminoácidos, não são pares antitéticos.
62
58- Principais pontos de polimorfismo na glicoproteína Diego (AE1):
O par antitético mais importante do sistema Diego é Dia – Dib, caracterizado por
uma troca de aminoácidos na posição 854, no sétimo “loop” externo da proteína,
onde o antígeno de referência Dib apresenta uma prolina, enquanto o antígeno
Dia teve este aminoácido substituído por leucina.
O outro par antitético do sistema é Wra – Wrb, sendo Wrb o antígeno de referência
e caracterizado pela presença do aminoácido glutamato na posição 658, no
quarto “loop” externo da proteína. No antígeno Wra, o aminoácido desta posição
foi substituído por lisina.
63
As variantes chamadas “Memphis” da glicoproteína Diego (AE1), que apesar de
apresentarem mobilidade eletroforética anormal, são assintomáticas, podem ser
de dois tipos. A variante “Memphis I” está ligada a uma troca de aminoácidos na
posição intracelular 56, onde uma lisina foi substituída por glutamato. A variante
“Memphis II” está ligada à mesma troca de aminoácidos que gerou a
especificidade Dia, ou seja, prolina trocada por leucina na posição 854 da
proteína. Desta forma, podemos afirmar que todo fenótipo Di(a+b-) só expressa
proteína Diego (AE1) variante Memphis.
A maioria das células possui membranas quase impermeáveis aos íons de cloro e
bicarbonato. As hemácias, no entanto, em função da alta concentração de
glicoproteína Diego (AE1) em suas membranas, transportam eficientemente estes
íons. Esta etapa é parte do processo de transporte do CO 2 no sangue.
64
Nos capilares dos pulmões, o oxigênio entra no glóbulo, por simples difusão
-
através da matriz fosfolipídica e íons de carbonato ácido (HCO3 ) são
transportados, novamente, para dentro das hemácias pela glicoproteína Diego
-
(AE1), em troca por íons de cloro (Cl ) que saem da célula. A hemoglobina libera
+
o próton H e se liga ao oxigênio (O2). A anidrase carbônica catalisa, agora, a
+ -
combinação do H liberado com os íons de carbonato ácido (HCO3 ) para formar
CO2 + H2O. O CO2 difunde-se para fora das hemácias e é expirado.
65
61- Freqüência relativa dos antígenos do sistema Diego:
Fenótipos Di(a-b-) não tem sido descritos e, possivelmente não serão, uma vez
que a ausência da glicoproteína Diego (AE1) não é compatível com a vida, a não
66
ser sob condições de intenso e constante suporte médico e hemoterápico, como
em raros exemplos na literatura.
Os anticorpos anti-Dia e anti-Dib são, via de regra, das subclasses IgG1 e IgG3 e
alguns raros exemplos da classe IgM. Exceto em alguns raros casos, podemos
considerá-los como Coombs dependentes.
67
O anti-Dib, como é direcionado contra um antígeno de alta freqüência (público)
nas populações mundiais, é um anticorpo raro e, por isso quando presente em um
paciente, cria problemas para compatibilidade. Está envolvido com reações
transfusionais (imediatas e tardias) e com doenças hemolíticas do recém-nascido
menos severas.
68
glicoforina (GPB), ambas altamente glicosiladas e ricas em ácido siálico, por isso
denominadas sialoglicoproteínas. São proteínas exclusivamente eritrocitárias.
69
Os principais pontos de polimorfismo das glicoforinas A e B, que geraram os
antígenos mais comuns do sistema MNS, estão representados no slide acima.
As glicoforinas A (GPA) e B (GPB) são produzidas por genes com um alto grau de
similaridade (GYPA, GYPB e GYPE), possivelmente resultantes da duplicação de
um gene ancestral. O haplótipo 5‟-GYPA-GYPB-GYPE-3‟ está localizado no
cromossomo 4, na região 4q28-q31, estendendo-se por 350 kb de DNA e com uma
organização cromossômica que facilita as recombinações genéticas comuns neste
sistema.
70
Os pontos de trocas de aminoácidos na glicoforina A (GPA) que geraram os
antígenos antitéticos M e N (M= 1-serina, 5-glicina / N= 1-leucina, 5-glutamato),
foram produzidos por mutações “missense” no gene GYPA, nas posições 59C>T,
71G>A e 72T>G.
O ponto de troca de aminoácidos na glicoforina B (GPB) que gerou os antígenos
antitéticos S e s (S= 29-Metionina / s= 29-Treonina), foi produzido por uma
mutação “missense” no gene GYPB, na posição 143T>C.
71
como a ausência da GPB, são eventos de maior incidência em certas populações
negras.
A glicoforina A (GPA) carreia, em seu domínio extracelular, um conjunto de
determinantes antigênicos de alta freqüência conhecidos como En a (MNS28),
ausentes dos raros fenótipos En(a-) e Mk.
72
Observa-se um forte “efeito de dose” na reação dos anticorpos anti-M e anti-N
com seus respectivos antígenos. O anti-M reage melhor com hemácias de
fenótipo MM e o anti-N com hemácias NN, mas ambos podem não reagir ou
apresentarem “dupla população” com hemácias MN, quando presentes em baixas
concentrações.
Os anticorpos contra os antígenos S e s são, via de regra, imunes (IgG), com raros
exemplos de anti-S naturais. São capazes de fixar complemento e opsonizar
hemácias com a fração C3b, embora a grande maioria dos anti-s não apresentem
esta capacidade.
O anti-S é mais freqüente que o anti-s e ambos estão envolvidos com reações
transfusionais e doenças hemolíticas do recém-nascido severas, ocorrendo em
politransfundidos e, eventualmente, em multíparas.
Os indivíduos, normalmente da raça negra, que não expressam a GPB (U- S- s-),
são capazes de produzir um anticorpo dirigido contra o antígeno U (MNS5). O
anti-U é um anticorpo imune, de classe IgG e está envolvido com reações
transfusionais e doenças hemolíticas do recém-nascido de moderadas a severas.
Em função da raridade do fenótipo U- (1% na raça negra), unidades de sangue U-
são, normalmente, obtidas de centros de referência que tenham programas de
fenotipagem de doadores e, eventualmente, unidades congeladas.
73
O sistema Gerbich é constituido de 3 antígenos de alta freqüência (Ge2, Ge3 e
Ge4) e 5 antígenos raros (Wb, Lsa, Ana, Dha e GEIS), localizados ao longo de duas
sialoglicoproteínas de único passo na membrana eritrocitária, a glicoforina C
(GPC) e a glicoforina D (GPD).
O mesmo gene GYPC produz as duas glicoforinas GPC e GPD. O mRNA produzido
pelo gene GYPC, apresenta dois “pontos de iniciação”, ou seja um códon “AUG”,
na posição 1 e um códon “AUG” alternativo na posição 66. A proteína produzida a
partir do ponto de iniciação AUG-1 é a GPC, com 32 kDa de peso molecular e a
proteína produzida a partir do ponto alternativo AUG-66 é a GPD, que não possui
os primeiros 21 aminoácidos e com 23 kDa de peso molecular.
Assim como a glicoforina A (GPA), a glicoforina C (GPC) pode servir como porta
de entrada de merozoitas do Plasmodium falciparum nas hemácias, através da
sua combinação com a proteína EBA-140 do parasita.
74
Como vimos anteriormente, as GPC e GPD apresentam a mesma forma de
inserção na membrana eritrocitária, sendo a GPD um pouco mais curta que a GPC
(menos 21 aminoácidos). Ambas combinam com as proteínas banda 4.1 e p55 do
citoesqueleto, contribuindo para a manutenção da integridade celular.
Anticorpos contra antígenos Gerbich são raros. São de classe IgG (mesmo quando
naturais) e bem detectados em provas de Coombs. Raramente são hemolíticos.
Os primeiros casos de anticorpos anti-Gerbich foram registrados em testes de
Coombs direto de recém-nascidos, que não necessitaram de tratamentos
especiais.
75
O fato da glicoproteína Lutheran se expressar tardiamente na eritropoiese,
sugere seu envolvimento no processo de migração dos glóbulos vermelhos
maduros, da medula óssea para a circulação periférica.
O gene LU, localizado no cromossomo 19 (19q13.2), com 15 exons e se
estendendo por cerca de 12 kb de DNA, produz as duas “isoformas” da
glicoproteína Lutheran (“splicing” alternativo).
76
Apesar dos antígenos do sistema Lutheran serem descritos de LU1 até LU21, os
antígenos LU10 e LU15 se tornaram obsoletos e conhecemos 19 antígenos neste
sistema. A maioria destes antígenos é de alta freqüência (públicos) e os
antígenos LU9 (antitético de LU6) e LU14 (antitético de LU8) são de baixa
freqüência (privados). O par antitético Aua(LU18)/Aub(LU19) é polimórfico, sendo
Aua (~50%) menos freqüente que Aub (80-90%).
77
principalmente em leucócitos (linfócitos e monócitos), mas não pertence à
superfamília das imunoglobulinas (IgSF).
O gene CD44 está localizado no braço curto do cromossomo 11, na posição 11p13
e se estende por cerca de 50 kb de DNA. Possui 19 exons, sendo 10 variáveis em
função de “splicing” alternativos de RNA, o que possibilita a produção de
diferentes “isoformas” da proteína CD44, em diferentes tecidos. A proteína de 80
kDa representa a “isoforma” mais comum em hemácias e leucócitos.
78
A aquoporina 1 (AQP1), também chamada CHIP-28 (Channel Forming Integral
Protein), é uma glicoproteína membranária de multipasso (6x) e 28 kDa de peso
molecular, presente nas hemácias e outros tecidos (dutos renais e biliares,
capilares). Forma canais que facilitam o transporte seletivo de água através da
matriz fosfolipídica da membrana celular, de acordo com o gradiente osmótico.
79
77- Acetilcolinesterase (AChE) – Sistema Yt (ISBT: 011 – YT):
O antígeno Yta (YT1) é de alta freqüência (acima de 99%) e Ytb (YT2) de baixa
freqüência (~8%) em caucasianos. Entre indivíduos Israelitas (judeus e
muçulmanos) a freqüência do antígeno Ytb (YT2) pode chegar aos 26%.
Nos casos de hemoglobinúria paroxística noturna de tipo III (HPN III), onde a
âncora de GPI não é produzida ou apresenta um déficit importante, não
detectamos na membrana eritrocitária, as proteínas ligadas a GPI, inclusive a
acetilcolinesterase (AchE). Nestes casos, os indivíduos apresentam um fenótipo
Yt (a-b-).
Os anticorpos contra os antígenos Yt (anti- Yta, - Ytb) são imunes, de classe IgG e
detectados por testes de Coombs, sendo o anti-Yta menos raro que o anti-Ytb.
80
Embora tenhamos relatos de anticorpos anti-Yt envolvidos com reações
transfusionais em politransfundidos, são, via de regra, considerados benignos.
78- CR1 (Complement Receptor 1) / CD35 – Sistema Knops (ISBT: 022 – KN):
81
Mutações pontuais de tipo “missense” geraram os alelos que produzem os 8
antígenos conhecidos no sistema Knops: Kna (KN1), Knb (KN2), McCa (KN3), McCb
(KN6), Sl1 (KN4, antigo Sla), Sl2 (KN7), Sl3 (KN8, ainda provisório) e Yka (KN5).
79- DAF (Decay Accelerating Factor) / CD55 – Sistema Cromer (ISBT: 021 – CROM):
82
É formada por 4 seqüências peptídicas repetitivas (região amino-terminal), com
aproximadamente 60 aminoácidos em cada uma e uma seqüência de 67-70
aminoácidos, rica em serina/treonina e altamente O-glicosilada, ligada em uma
âncora de “glicosilfosfatildilinositol” (GPI) na membrana celular. Uma simples
molécula de açúcar (N-ligada) está presente entre as duas primeiras seqüências
peptídicas repetitivas.
83
O gene DAF está localizado no braço longo do cromossomo 1, na posição 1q32 e
possui 11 exons em cerca de 40 kb de DNA genômico. O último exon codifica a
seqüência peptídica da região hidrofóbica C-terminal que é eliminada, após a
síntese protéica, criando o domínio de ligação à âncora de GPI.
Mutações de tipo “missense”, ao longo do gene DAF, produziram simples
substituições de aminoácidos na cadeia peptídica da proteína DAF, criando os 13
antígenos conhecidos no sistema Cromer (CROM). Dez antígenos são de alta
freqüência (públicos): Cra, Tca, Dra, Esa, IFC, WESb, UMC, GUT1, SERF, ZENA e 3
de baixa freqüência (privados): Tcb, Tcc, WESa.
84
Pela via clássica de ativação do complemento, complexos “antígeno-anticorpo”
iniciam a fixação do complemento e formam uma C3-convertase representada
pela combinação das frações ativadas C4b + C2a, gerando C4b2a. Pela via
alternativa, a fixação do complemento é iniciada por microorganismos invasores
que são reconhecidos por moléculas de C3b circulantes (ativadas,
fisiologicamente, por hidrólise de C3) e formam uma C3-convertase representada
pela combinação de C3b + Bb (fator B ativado), gerando C3bBb.
85
81- MIRL (Membrane Inhibitor of Reactive Lysis) / CD59:
86
Não existem pontos de polimorfismo na proteína MIRL que caracterizam
antígenos de grupos sanguíneos, mas anticorpos monoclonais murinos anti-MIRL
foram produzidos com o objetivo de detectar a presença desta proteína na
membrana eritrocitária, para o diagnóstico de HPN.
A proteína MIRL (CD59) protege a membrana eritrocitária contra a lise por dois
mecanismos:
- Liga-se em C8 nos sítios de ligação de moléculas C9, impedindo a inserção
destas moléculas.
- Liga-se em moléculas de C9, que tenham se fixado sobre C8 e impede sua
polimerização.
87
83- Considerações finais:
Quando nos referimos a certas estruturas membranárias como antígenos, que são
reconhecidos por anticorpos específicos e que podem representar obstáculos na
prática transfusional ou no controle da relação feto-materna, estamos fazendo
uma abordagem “imunológica” dos grupos sanguíneos.
Vimos que estes antígenos de grupos sanguíneos são representados por pontos de
polimorfismo, com simples troca de aminoácidos ou de seqüências de
aminoácidos, nas cadeias peptídicas de proteínas membranárias que
desempenham funções fisiológicas importantes. Esta é uma abordagem
“bioquímica” dos grupos sanguíneos.
88