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A TEORIA ÉTICA DE KANT

Kant defendia que o valor moral das acções depende unicamente da intenção com que são
praticadas. Porque sem conhecermos as intenções dos agentes não podemos determinar o valor
moral das acções. Na verdade, uma acção pode não ter valor moral apesar de ter boas
consequências.

A intenção tem valor moral ou é boa quando o propósito do agente é cumprir o dever pelo dever.
O cumprimento do dever é o único motivo em que a acção se baseia. Ex: Não roubar porque esse
acto é errado e não porque posso ser castigado.

O que é uma acção com valor moral?

É uma acção que cumpre o dever por dever. Cumpre o dever sem «segundas intenções». Deveres
como não matar inocentes indefesos, não roubar ou não mentir devem ser cumpridos porque não
os respeitar é absolutamente errado.

ACÇÕES CONFORMES AO DEVER VERSUS ACÇÕES FEITAS POR DEVER.

EX: dois comerciantes praticam preços justos e não enganam os clientes. Estão a agir bem?
Estão a cumprir o seu dever? Aparentemente sim. Suponhamos que um deles - João - não
aumenta os preços apenas porque tem receio de perder clientes. O seu motivo é egoísta: é o
receio de perder clientes que o impede de praticar preços injustos. A sua acção é conforme ao
dever mas não é feita por dever . Suponhamos agora que o outro comerciante – Vicente - não
aumenta os preços por julgar que a sua obrigação moral consiste em agir de forma justa. A sua
acção é feita por dever. As duas acções – exteriormente semelhantes – têm a mesma
consequência – nenhum deles perde clientes – mas não têm o mesmo valor moral.

ACÇÕES CONFORMES AO DEVER

Acções que cumprem o dever não porque é correcto fazê – lo mas porque se evita uma má
consequência – perder dinheiro, reputação – ou porque daí resulta uma boa consequência - a
satisfação de um interesse. João não age por dever. Ex: Não roubar por receio de ser castigado ou
praticar preços justos para manter ou aumentar a clientela.

ACÇÕES FEITAS POR DEVER


Acções que cumprem o dever porque é correcto fazê – lo. O cumprimento do dever é o único
motivo em que a acção se baseia. Vicente age por dever. Ex: Não roubar porque esse acto é
errado em si mesmo ou praticar preços justos simplesmente porque assim é que deve ser.

A LEI MORAL E O DEVER


Lei que nos diz qual é a forma correcta de cumprir o dever. Princípio ético fundamental que
exige que eu cumpra o dever por dever, sem qualquer outra intenção ou motivo. Norma geral de
natureza puramente racional que exige que a vontade domine as inclinações sensíveis - desejos,
interesses e sentimentos – e cumpra o dever de forma pura.
Ouvir a voz da lei moral é ficar a saber como cumprir de forma moralmente correcta o dever.
Essa lei diz-nos de forma muito geral o seguinte: «Deves em qualquer circunstância cumprir o
dever pelo dever». Esta exigência é um imperativo categórico ou absoluto porque não se
subordina a condições.

Pense em normas morais como «Não deves mentir»; «Não deves matar»; «Não deves roubar». A
lei moral, segundo Kant, diz-nos como cumprir esses deveres, qual a forma correcta de os
cumprir. Assim sendo, é uma lei puramente racional e puramente formal. Não é uma regra
concreta como «Não matarás!» mas um princípio geral que deve ser seguido quando cumpro
essas regras concretas que proíbem o roubo, o assassinato, a mentira, etc.

O Imperativo Categórico de Kant


O filósofo buscou estabelecer uma fórmula moral para a resolução das questões relativas à ação.
O Imperativo Categórico, ao longo das obras de Kant, aparece formulado de três maneiras
diferentes.

Cada uma das três formulações se complementam e formam o eixo central da moral kantiana.
Nela, as ações devem ser orientadas pela razão, sempre saindo do particular, da ação individual,
para o universal, da lei moral:

1. Age como se a máxima de tua ação devesse ser erigida por tua vontade em lei
universal da Natureza.
Na primeira formulação, a ação individual deve ter como princípio a ideia de poder se tornar
uma lei da Natureza

As leis da Natureza são universais e necessárias, todos os seres a cumprem, não há alternativa.
Como a lei da gravidade, os ciclos de vida e outras leis que submetem todos os seres e é
inquestionável.

A razão humana é capaz de julgar, independentemente de determinações externas (religião ou


leis civis), se uma ação é correta para todos.

2. Age de tal maneira que trates a humanidade, tanto na tua pessoa como na
pessoa de outrem, sempre como um fim e nunca como um meio.

Nessa segunda formulação, Kant reforça a ideia de que a humanidade deve ser sempre o objetivo
da ética. Todas as ações devem estar subordinadas ao respeito à humanidade.

Essa humanidade é representada tanto na pessoa do agente, aquele que pratica a ação, como nas
pessoas que sofrem a ação direta ou indiretamente. Respeitar a si e respeitar o outro é uma forma
de respeito à humanidade.

Deste modo, um ser humano jamais pode ser entendido como um instrumento para se alcançar
qualquer tipo de objetivos. A humanidade é o fim das ações e nunca um meio.

Kant, nesse momento contraria, por exemplo, a ideia de que "os fins justificam os meios" ou
qualquer visão utilitária da ética.

3. Age como se a máxima de tua ação devesse servir de lei universal para todos os
seres racionais.

A terceira e última formulação dá conta da racionalidade humana, da capacidade de julgar e de


agir determinado por um fim.
O CUMPRIMENTO DO DEVER COMO O CUMPRIMENTO DO DEVER COMO
IMPERATIVO CATEGÓRICO IMPERATIVO HIPOTÉTICO
1. O cumprimento do dever uma ordem 1. O cumprimento do dever é uma ordem
nao condicionada pelo que de condicionada pelo que de satisfatório
satisfatório ou proveitoso pode resultar ou proveitoso pode resultar do seu
do seu cumprimento. cumprimento.
2. A palavra “imperativo” quer dizer 2. A palavra “imperativo” quer dizer
obrigação. Com a palavra “categorico’, obrigacao. Com a palavra “hipotético”,
Kant está a referir-se a obrigações Kant está a referir-se às obrigacoes que
absolutas – que temos sempre. adquirimos apenas na condicao – ou
3. A obrigação de salvar uma pessoa do hipótese – de termos um certo desejo
afogamento, se estiver ao nosso alance ou projecto, mas não sempre.
faze-lo, não hipotética. Ano depende de 3. So tenho a obrigacao de estudar
termos certos desejos, projectos ou meicina na condicao de quere ser
sentimentos particulares. O mesmo medico. Caso mude de ideias e
acontece com a obrigacao de não tratar abandone o projecto de vir ser medico,
os outros apenas como meios e sim também a obrigacao de estudar
como pessoas. medicina desaparece. Apenas adquiro a
4. Praticar preços justos é uma obrigacao obrigacao de saber o codico da estrada
absoluta. se quiser tirar a carta de conducao. Se
não for esse o meu projecto (ou não for
esse o meu desejo), esta obrigação
deixa de existir.
4. Praticar preços justos é um dever se for
meu interesse.
Conclusão

No presente trabalho conclui-se que a ética de Kant fundamenta-se única e exclusivamente na


Razão, as regras são estabelecidas de dentro para fora a partir da razão humana e sua capacidade
de criar regras para sua própria conduta.

Isso garante a laicidade, independência da religião, e a autonomia, independência de normas e


leis, da moral kantiana. Kant buscou substituir a autoridade imposta pela Igreja pela autoridade
da Razão

Bibliografia

MENEZES P., A Ética de Kant e o Imperativo Categórico, disponível em:


https://www.todamateria.com.br/etica-kant-imperativo-categorico/

RODRIGUES Luís de Sousa, A teoria ética de Kant, 2012. Disponível em:


https://pt.slideshare.net/LRSR1/a-teoria-tica-de-kant-11894791

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