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ESTADO DE MINAS GERAIS ADVOCACIA-GERAL DO ESTADO Procedéncia:; ASSESSORIA JURIDICO-ADMINISTRATIVA — SECRETARIA DE ESTADO DE PLANEJAMENTO E GESTAO - SEPLAG Interessada: SUBSECRETARIA DE GESTAO DE PESSOAS - SEPLAG Parecern.: 15,288 Data: 18 de novembro de 2013 Ementa: RESTITUIGAO E COBRANGA DE PAGAMENTOS INDEVIDOS EFETUADOS PELA ADMINISTRACAO PUBLICA ESTADUAL — SERVIDOR ATIVO OU APOSENTADO QUE VEM A FALECER - SERVIDOR EXONERADO OU DEMITIDO - PRESCRICAO - FORMA DE COBRANCA - NECESSIDADE DE SISTEMATIZACAO E ~—- PROCEDIMENTALIZACAO_— DA COBRANCA. RELATORIO Trata-se de expediente encaminhado a esta Consultoria Juridica da Advocacia Geral do Estado (CJ-AGE) pela Assessoria Juridico-Administrativa da SEPLAG, visando a obter manifestacao desta Casa acerca da matéria tratada no Parecer SEPLAG/AJA n. 0443/2013, originado de demanda da Subsecretatia de Gestdo de Pessoas da SEPLAG. A questio refere-se ao procedimento a ser adotado pela Administragao Publica Estadual para a recuperagéo de valores pagos indevidamente em folha a favor de servidores falecidos ou desligados do servigo piblico. Busca-se uniformizar os procedimentos adotados para tanto, otimizando a recuperagio dos valores mencionados. Os questionamentos foram originalmente assim apresentados: + Em que momemo inicia-se 0 cOmputo do prazo prescricional (prescrigdo quinguenal) para a cobranga dos débitos no caso dos servidores falecidos, Seria a partir da data do falecimento? Seria a partir do envio da cobranca? Ou seria a partir da data em x que a administragdo publica tomou conhecimento do falecimemto do servidor? ESTADO DE MINAS GERAIS ADVOCACIA-GERAL DO ESTADO + Nos casos em que 0 servidor vier a falecer no curso do parcelamento do débito, como fica a reposigao das parcelas restantes que deixaram de ser descontadas em raziio do falecimenw do servidor? + Na maioria dos casos de falecimento, constatamos que os servidores falecidos sito instituidores de pensito previdencidria no IPSEMG. Nestes casos, ha possibilidade legal de o débito deixado por servidor ser compensado na pensiio até sua quitagdio? +E quanto aos servidores que se desligaram, foram demitidos ou exonerados ¢ que devem repor ao erdrio vencimentos recebidos indevidamente: qual 0 procedimento a ser adotado quando 0 ex-servidor é oficialmente notificado sobre 0 débito ¢ nio realiza a sua quitacdo? A prescri¢do quinguenal deve ser observada nessas situagées? Em caso positive, qual seria a vigéncia a ser considerada para a preserigdo, a do desligamento ou da comunicagdo do débito? + Por fim, nos casos em que 0 servidor desligado recusar-se wt quitar a sua divida com 0 erario, seria possivel a cobranga dos débitos pela via judicial? Quais seriam os procedimentos legais que poderiam ser adotados para viabilizar a reposiciio desses valores ao Estado pela via judicial? Tais questionamentos foram enfrentados em fundamentado parecer (Parecer SEPLAG/AJA n. 0443/2013), aprovado pelo Consultor Chefe da AJA/SEPLAG & vieram a esta Consultoria Juridica. Eo breve relatério, passo a opinar. PARECER Jé de inicio urge anotar que nao se entende necessério refazer 0 estudo integral das questées na medida em que tiverem metecido adequado enfrentamemo no Parecer SEPLAG/AJA n. 0443/2013, da lavra de Procuradora do Estado lotada na ESTADO DE MINAS GERAIS ADVOCACIA-GERAL DO ESTADO AJAVSEPLAG, aprovado por Procurador do Bstado que chefia aquele orgio. Neste contexto, considerando que diversas questdes postas pela Subsecretaria de Gestio de Pessoas foram adequadamente enfrentades no referido Patecer, a presente manifestacdo restringir-se-4 a pontuar alguns aspectos laterais, seguindo o tratamento dado as questdes no Ambito da AJA. Outras questées, para as quais se entendeu necessario fazer algumas ponderagdes adicionais, se encontram mais desenvolvidas no presente Parecer. Para todas as questies tangenciadas nesta oportunidade, ¢ imperioso destacar que se teve em mira ofertar uma orientagdo segura & Administragdo Péblica estadual, como compete a esta Consultoria Juridica da Advocacia Geral do Estado, apontando 0 cenfrio das discussées ¢ indicando a solugdo que se reputa mais propicia ¢ cautelosa em prol da prossecugio do interesse pablico. Em matéria de prescrigdo ¢ decadéncia, no enlanto, ndo se pode deixar de pontuar que se poderiam escrever infindaveis linhas, recorrendo-se a igualmente infindiveis manifestagdes doutrindrias ¢ jurisprudenciais a respeito, Nao se seguiu esta senda, néo por se desconhecerem tais manifestagdes ou a profundidade das quesiées que podem surgir nesta matéria, mas pela necessidade de se fornecer a Administragio nio um pega de doutrina, mas sim uma orientagio pritica inteligivel e factivel, De outro giro, é de destacar que tal orientacdo nfo ¢ esgotada no presente Parecer, alguns delineamentos sio fornecidos objetivando iniciar uma discussio no ambito do Estado de Minas Gerais visando a sistematizagéo e procedimentalizacao de cobranca de valores pagos indevidamente a servidores pablicos em diversas hipSteses, 0 que esté a se mostrar necessério e conve nte, quer no Ambito administrativo propriamente dito, quer no ambito legislativo. Feitas estas anotagées iniciais, passa-se 20 exame dos questionamentos apresentados. 1) PRIMEIRO QUESTIONAMENTO Em que momento inicia-se 0 cémputo do prazo prescricional (prescri¢do quinguenal) para a cobranga dos débitos no caso dos servidores falecidos. Seria a partir da data do falecimento? Seria a partir do envio da cobranga? Ou seria a partir da data em que a Administracdo Publica tomou conhecimento do falecimento do servidor? ESTADO DE MINAS GERAIS ADVOCACIA-GERAL DO ESTADG 1.1) INICIO DO PRAZO EXTINTIVO PARA A ADMINISTRACAO PUBLICA ‘Como bem abordado no Parecer SEPLAG/AIA n. 0443/2013, com recurso a ligSes doutrindrias ¢ a manifestagies jurisprudenciais, 0 marco inicial do prazo Jo Poblics estadual de valores rescricional_para_a_cobray indevidamente em favor de servidor ativo ou inativo que vem a falecer deve ser 0 momento em que a Administracao tem ciéncia do falecimento, como sera corroborado ¢ explicitado a seguir. Antes desta ciéncia, a Administragio paga com base em atos vilidos que beneficiam servidor ative ou inativo, mas sempre vivo, titular de Admit los perante a ragéo. Em outras palavras, a Administragio realiza os pagamentos de cardter alimentar no bojo de relagées funcionais ou previdencirias calcadas em fundamentos juridico-normativos que Ihes conferem o cardter de continuidade. Tais pagamentos tém como beneficiério um servidor da ativa ou um servidor aposentado, que € titular do direito de perceber a remuneragdo ou os proventos, cessando tal direito apenas em virtude de algum fato ou ato juridico posterior, como a exoneragdo ou demissio, a morte, a passagem para a inatividade, a controversa renincia & aposentadoria, a cassagao de aposentadoria, etc. De qualquer sorte, devem ser do conhecimento da Administracio Publica tais atos ou fatos juridicos que modificam ou extinguem a relacdo juridica do servidor ativo ou inativo com a Administracdo e, essim, podem fazer perecer o seu direito de receber remuneragio/proventos, tomnando 0 recebimento de valores pablicas, a tal titulo, indevidos. A principio, o marco inicial da prescrigéo seria 0 pagamento indevido de cada quantia, ou seja, se 0 servidor faleceu ¢ nic hd mais fundamento jutidico para o Pagamento, a partir de cada depésito © sua néo devolugéo surgiria a pretenséo da ‘Administragdo e passaria a correr a prescrigfo. Ocorre que, como salientado, os pagamentos inserem-se em relagdes funcionais ou previdencirias continuadas, nao sendo factivel exigir da Administragéo que faca verificagdes exaustivas a cada pagamento, ao revés, incumbe 20s beneficiirios agir de boa-fé perante a Administragio e informar qualquer alteragdo fitica ou juridica que reflita sobre tis relagdes. Assim, nfo havendo o conhecimento da ‘Administragio, ndo hé como se ter como iniciada a prescricio, visto que a Administragao BSTADODE MINAS GERAIS ADVOCACIA-GERAL DO ESTADO. realiza os pagamentos na confianga de que se mantém a condigio juridica do servidor beneficiétio. Reafirma-se a conclusio apresentada no Parecer SEPLAG/AJA n. 0443/2013 no sentido de que o marco inicial do prazo prescricional para que a Administracéo reaveja valores pagos indevidamente a servidor falecido ¢ a cigncia pela Administragio da ‘ocorréncia do falecimento, Nao obstante esta conclusio, ¢ recomendavel que a Administragio estude meios de se manter informada ou de tornar mais efetiva a obrigatoriedade de aviso em caso de falecimento de servidor, visando a protegio do erdtio. Deve-se adotar postura pré- ativa no sentido de propor rapidamente a ago de ressarcimento em caso de falecimento do servidor; isto porque, ainda que haja manifestagdes no sentido de que a prescrigao se inicia com o conhecimento pela Administracdo do falecimento, tal néo deriva de norma expressa ¢ é passivel de discussio. Urge, desta forma, adotar sempre a conduta mais cautelosa e protetora do patriménio piblico. 1.2) NATUREZA DO PRAZO EXTINTIVO - PRESCRICAO E de afirmar, ainda, que se trata de prazo prescricional ¢ nao de prazo decadencial. Nao se entende que se esteja aqui a cogitar de um direito potestative da Administracdo de rever os seus atos, uma vez que no se trata de exercicio da autotela administrativa, ou seja, néo esté em cena quer revogacao quer anulagéo de ato administrativo. Os atos administrativos que fornecem suporte para o pagamento de Temuneragdo ou proventos de servidores ndo se extinguem ou se modificam na hipétese estudada por revogacdo ou anulagio. A revogagio em regra no poderia estar em causa, visto que ligada ao exercicio de competéncia administrativa discriciondria ndo exaurida, por meio da qual se reavalia, em momento posterior emissio de ato, a manutengéo de sua conveniéncia e oportunidade. A anulagio de ato administrative, bem vistas as coisas, também jo_tem lugar quando se fala io indevido realizado ay servidor beneficiério, uma vez que os atos que embasam tal pagamento foram emitidos, se a situagio for regular, sem vici i 10 se transmutando o ato, imen ESTADODE MINAS GERAIS ADVOCACIA-GERAL DO ESTADO de idor, em, desaparecimento_do_benefjcidrio_do ato: _sil |_a_merecer_anulagio. Q que ocorr ilegalidade, varios autores: Parece ser esta a ligho da doutrina, como exemplificam os trechos de “Com a desaparigio do sujeito da relagio juridica o ato deixa de existir, E © que ocorre com o desaparecimento dos beneficiérios dos atos personalissimos, Com a morte do permissiondrio de uso de um bem piiblico, a exemplo de uma cadeira de rodas, extingue-se a permissio. Aqui tampouco se tem de editar qualquer ato declarando a extingéo, nao ha nenhuma indenizagio a ser satisfeita, O que pode ser necessério € a adocéo de certas medidas visando a reintegracéo do bem, vez que aquele que o detém o faz injustamente. Essa medida, vé-se, nio pode ser confundida com a extinggo. Esta, no caso, nem sequer foi Promovida, pois desnecesséria, A extingao € automética. Ademais, é exatamente a extingao do ato que permite a reintegracdo. Dispensa-se, assim, a edigao de qualquer ato para esse fim. Por diltimo, diga-se que 05 entio beneficidrios do ato extinto ndo tém direito a qualquer indenizagao.”! “Certos acontecimentos naturais também levam a extingao ao vinculo que liga o servidor pablico 8 Administragéo Pablica direta, autérquica ou fundacional piblica. Sdo fatos naturais com tal caracteristica a morte, a invalidez e a idade. A morte tudo resolve, ou, como di romanos: mors omnia solvit. A morte do servidor piblico extingue o vinculo que mantinha com uma dessas entidades, sem que seja necessario qualquer manifestagio das partes. Alias, a do servidor piblico, no caso, seria impossivel. Embora nao seja necessaria qualquer manifestacao declarando extinto o vinculo, é indispens4vel que sejam feitas no prontudrio do servidor as devidas anotagdes dessa ocorréncia. Os eventuais direitos, como o saldo de vencimento e férias indenizadas, passam a0s herdeiros do servidor piblico morto. A morte, no caso, pode ctiar uma nova relacgo juridica de natureza assistencial previdenciéria entre a entidade a que se ligava o servidor piblico, ou que Ihe faga as vezes, ¢ sua familia. ..."? “0 falecimento do servidor produz a extingdo automatica do vinculo, como é evidente. A condigio de servidor nfo se transmite aos sucessores, ainda que o falecimento possa gerar o surgimento de relago juridica de outra natureza (tal como a pensio)."* \ GASPARINI, Didgenes. Direito administrative. 11. ed. Sio Paulo: Saraiva, 2006, p. 102. 2 JUSTEN FILHO, Matcal. Curso de dircto adminisirativo, 7.04, Belo Horizonte: Forum, 2011, p. 249. SJUSTEN FILHO, Margal. Curso de direto administrativo. 7.ed. Belo Horizonte: Forum, 2011, p. 932, ESTADO DE MINAS GERAIS ADVOCACIA-GERAL DO ESTADO “Um ato eficaz, extingue-se pelo desaparecimento do sujeito ou objeto da relacdo juridica constituida pelo ato. £ o que se passa com a morte do beneficisrio nos atos intuitu personae. Exemplo: a morte de um fncionatio extingue os efeitos da nomeagao, ...* Também na literatura estrangeira se encontra a morte como um evento natural que coloca fim & relagio de fungao piiblica: “A morte é um fendmeno natural que determina a extinggo da relagdo juridica de emprego dos funciondrios e agentes. A personalidade juridica cessa com @ morte, ... Com a sua ocorréncia, a pessoa fisica perde a qualidade de sujeito de direito, extingvindo-se todas as relagées intuitus personae de que seja titular. A relagdo juridica de emprego é uma das relagdes mais pessoais que existem, pelo que ninguém poderd substituir-se ao funcionério ou agente falecido no desempenho das fungies que Ihe competiam. Consequentemente, com o seu desaparecimento fisico cessa a relagao juridica de emprego estabelecida com a Administragao, sem prejuizo de os direitos de natureza patrimonial jé constituidos se transmitirem aos sucessores do falecido. Para além de causa extintiva da relagéo de emprego, a morte constitu fonte geradora de novas relagies juridicas que tém por sujeito os herdeiros do funciondrio ou agente falecido.”> Tem-se, assim, que 0 falecimento coloca fim & relacio do servidor ativo ou inativo com a Administracao Pablics, extinguindo-se os atos administrativos relativos a tal relagdo que tinhem o servidor falecido como beneficiério. Neste ponto, como se observa, entende-se, com todo o respeito as posigdes distintes, nio haver que se felar em anulacdo de ato administrative na hipdtese discutida, Nao se cogitando, consequentemente, do prazo decadencial aplicdvel a0 exercicio da autotutela da Administragdo. © que ocorre € um pagamento ja sem fundamento uma vez que os atos nos quais se embasava tal pagamento — por exemplo, 0 ato concessério de aposentadoria — extinguem-se com o desaparecimento do benef iirio, Sendo assim, ocorre Pagamento indevido em face do falecimento do beneficiério e, a partir do momento em que a Administragio toma ciéncia do desaparecimento (falecimento) do beneficidrio do ato, * MELLO, Celso Antonio Bandeira de, Curso de diveito administrative. 29.c4, io Paulo: Malheiros, 2012, p. 455. 5 MOURA, Pawlo Veiga e. Funcdo pitlica: regime juridico, diteiios e devers dos funcionérios © agentes. Coimbra’ Coimbra, 199, p. 455, ESTADO DE MINAS GERAIS ADVOCACTA-GERAL DO ESTADO. ‘comeca a corer 0 prazo de prescrigao, prazo para que a Administragao faca valer a sua pretensdo de ressarcimento do valor pago indevidamente € no restituido espontaneamente, Ha que observar, por outro lado, que a relagdo funcional ou previdenciéria existente entre o servidor ou aposentado ¢ 0 Estado, por ser personalissima, se extingue. Nao obstante, ha obrigagdes que dai advém para os sucessores do servidor ou aposentado, uma vez que estes sucedem 0 falecido; 0 esp6lio forma-se pelo patriménio ativo ¢ passivo do de cujus. Além disso, podem surgit novas relagdes jurfdicas com o Estado, acaso haja sucessores do de cujus que tenham direito a pensio, jd aqui tal direito no se confunde ‘com sucesso, como se verd. Por fim, ha que observar que 0s sucessores do de cujus devem informar o Estado sobre seu falecimento, além de ndo poderem se beneficiar de pagamentos que tinham o servidor falecido como titular, Com a morte, se o servidor falecido tinha direitos constituidos em face da Administraco que nao foram pagos, transmitem-se estes haveres aos sucessores, da mesma maneira que eventuais dividas deste servidor falecido em face da Administragio transmitem-se aos sucessores nos limites da heranga, Esta transmissio é situacdo diversa da que surge quando sucessores, familiares do falecido, se apoderam de quantias depositadas em favor do falecido apés o seu falecimento, Se a morte extingue a relagio do servidor com a Administragio, estas quantias ndo so devidas ao servidor, néo se constituindo em haveres nem em dividas suas transmissiveis aos sucessores. O que ha ¢ um comportamento de outros sujeitos, distintos do servidor falecidos, seus sucessores, somente a eles imputivel e que dé ensejo & pretensao ressarcit6ria da Administragio. A Administragio Piblica estadual, tendo ciéncia do falecimento do servidor, néo dispde de meios para efetuar, de modo autocxecutério, a reposigao aos cofres piiblicos de valores pagos apés o falecimento e apropriados por sucessores do falecido. Deverd provocar os sucessores do falecido, para que fagam a devolugio; nao o fazendo estes espontaneamente, tera a Administragao que recorrer ao Poder Judicidrio para efetivar a reposicio dos valores pagos indevidamente, visto que pagos em favor de servidor falecido, ou seja, pagos apés a extingdo do ato que fundamentava a relagio funcional on previdencisria com o servidor. Trata-se assim, como se disse, de prazo prescricional. ESTADODE MINAS GERAIS ADVOCACIA-GERAL DO ESTADO Ratifica 0 que se vem de dizer a ligio de Raquel Melo Urbano de “Jé mos casos em que nio hé regular autorizagio legislativa, nem mesmo urgéncia que justifique qualquer medida autoexecutéria, a Administragio, a fim de obter 0 adimplemento de prestagoes devidas pelos terceiros, io. Como objeivo de viata so prieisi Ao fazé-lo, se nao existirem normas publicas que fixem constitucionalmente prazos especificos da prescriggo da pretensio administrativa, estara 0 Estado sujeito aos prazos prescricionais genéricos do ordenamento, sejam eles de natureza civil ou de natureza penal. Isto porque, se nao hé regras administrativas que fixem os prazos prescricionais das pretens6es da Administragao em face de terceiros, nio séo aplicdveis, por analogia, os dispositives que regulam a prescrigéo das pretensées dos administrados perante 0 Poder Pablico. ...”* (destaques acrescidos) Assenta-se, desse modo, ainda que a questio seja controversa, 0 entendimento segundo o qual se trata de prazo prescricional. 13) DA DURAGAO DO PRAZO PRESCRICIONAL Da citagio transcrita j4 se percebe que, assentado o carter prescricional do prazo em questo, urge enfrentar a questio de sua duracdo. No Parecer SEPLAG/AJA n. 0443/2013, indica-se 0 prazo de 5 anos. Conforme se vers das ligdes abaixo sumariadas, hé discussdo acerca da duracdo deste prazo prescricional, ainda assim, conclui-se no mesmo sentido. Trata-se de prazo prescricional para que a Administracdo persiga em juizo a reposicao de valores pagos indevidamente em favor de servidor ativo ou inativo que vem a falecer. Como dito, com o falecimento, extinguem-se os atos nos quais se funda 0 Pagamento de remuneragio ou proventos de aposentadoria e os pagamentos realizados pela Administragio apés esta extingéo sio pagamentos sem fundamento juridico. Tais pagamentos sio feitos na conta do se: indevidos. jor falecido & devem ser repostos aos coftes piblicos, visto que “CARVALHO, Requel Melo Urbano, Curso de dircito administrative, Salvador: SusPodivm, 2008, p. $36, ESTADO DE MINAS GERAIS ADVOCACIA-GERAL DO FSTADO A primeira pergunta que se coloca é a natureza da acdo a ser manejada pelo Estado visando ao ressarcimento. Como nao hi questio real envolvida, ndo se trata, por Obvio, de agéo real, mas de ago pessoal, No entanto, ha que verificar que se trata de agio pessoal que nio se baseia em divida propriamente dita, visto que néo ha qualquer relacio juridica especifica que ligne a Administragio Piiblica estadual e os sucessores do servidor falecido quanto aos valores pagos indevidamente. O direito da Administragao de buscar em juizo a devolugio de tais valores surge do comportamento ilfcito destes sucessores que, sabendo ndo serem tais valores seus, mas do Estado, visto que falecido o seu beneficiério, mesmo assim ndo 0 devolvem ao Estado, mas deles se apropriam, Exsurge, como se vé, uma situagio de reparagio civil, uma responsabilidade dos sucessores do_servidor falecido de teparar_o Estado por dano que Ihe causacam em virtude de conduta ilicita: tem-se um caso de reparacao civil, de responsabilidade extracontratnal. A explicagio € importante, visto que hé a previsio de prazos especiais, no novo Cédigo Civil no que tange as agdes de reparacdo civil, para as quais a presctigio é menor do que aquela prevista em termos genéricos. Deve-se, desse modo, verificar 0 prazo de duragdo da prescrigio para que o Estado persiga em juizo a reparagio do dano causado pelo ‘comportamento dos sucessores do servidor falecido. A questio, como se verd, ganha novas dificuldades em face da previsto constitucional de imptescritibilidade da agio de ressarcimento em virtude de ato ilicito. Quanto aos prazos prescricionais para a propositura de agdes pelo Estado, hé diversas discussies, acirradas pela edigao do novo Cédigo Civil. Raquel Melo Urbano de Carvalho, em principio, indica um prazo decenal: “As entidades administrativas integrantes da estrutura estatal deverdo tecorter a0 Judicidrio, por meio do érgio de representagéo processual competente, com a finalidade de obler a cobranga forgada dos valores devidos. Mesmo no caso de as dividas serem submetidas & cobranga pelo regime da execucao fiscal previsto na Lei n. 6.830/80 (art. 2.°), no se desnatura a natureza propria de cada obrigagdo. E se ausente a natureza tributéria, tem-se a repercussio desta caracteristica no tocante 08 prazos prescricionais, excluida a incidéncia do CTN na espécie. Afinal, 0 prazo prescricional de 5 (cinco) anos previsto no att. 174 do Cédigo Tributério Nacional diz respeito apenas a ago para cobranga de crédito tributério. J4 0s créditos compreendidos na divida ativa que nao possuem natureza tributéria, como aqueles resultantes de penalidades 1» ESTADO DE MINAS GERAIS ADVOCACIA-GERAL DO ESTADO ambientais, disciplinares ou outros valores devidos por terceiros, submetem-se ao prazo geral previsto no art. 205 do Cédigo Civil de 2002: “A presctigao ocorre em dez anos, quando a lei nao lhe haja fixado prazo menor.’”7 Mais adiante, a autora explicita a discussao existemte na doutrina acerca dos ressatcimentos por danos causados ao erdrio que nfo sejam advindos de atos ilicitos ¢ assim nao se enquadrem na regra da imprescritibilidade constitucional nos seguintes termos: “A discusso que se trava atualmente sobre o prazo de prescrigao adequado a hipétese de prejuizos decorrentes de comportamento de terceiro que nao se enquadra na categoria de agentes pablicos alterna-se entre a incidéncia do prazo trienal previsto no artigo 206, § 3.°, V, do Cédigo Civil02 e a aplicagio de prazo quinguenal, em virtude de interpretagdo anal6gica do artigo 1.° do Decreto n. 20.910/32. Gy ++. com o advento do novo Cédigo Civil (Lei Federal n, 10.406, de 10.01.02), vigente a partir de 11 de janeiro de 2003, restou fixado o prazo prescricional de 03 (trés) anos para as ages de reparagio civil, tendo em vista o artigo 206, § 3°, V, do novo diploma. Para parte da doutrina, este dispositivo, aliado & supressio da regra do artigo 177 do CC/16, implica que, ressalvada excegdo constitucional (artigo 37, § 5° da CR) e da legislagao administrativa especifica (artigo 1.°- C da Lei Federal n. 9.494), qualquer pretensio de reparagio civil passou a se submeter ao prazo prescricional de 03 (trés) anos, sendo irrelevante 0 fato de 0 credor ou devedor da obrigagio de indenizar ser o Poder Paiblico. Invoca-se, como fundamento, o fato de 0 artigo 10 do Decreto Federal n, 20.910/32 estabelecer que as regras nele dispostas, incluindo-se © prazo quinquenal de prescricio do artigo 1, ‘ndo altera as prescrigbes de menor ptazo, constantes das leis e regulamentos, as quais ficam subordinadas dis mesmas regras.”* A autora afasta este entendimento explicande que ha regras especificas de Direito Publico que derrogam esta nova regra geral. Além disso, explica por que as adogio do prazo quinquenal deve se dar tanto nos casos em que a Administragio € autora quanto nos ‘casos em que € ré em ages de reparacao civil. Sendo vejamos: “0 artigo 206, § 3°, V, CC/02 consagra preceito genérico de Direito Civil adequado as hipéteses de reparacéo civil consideradas também sob o prisma geral, sem atentar para as especificidades até mesmo principiolégicas e de interesse pablico do Direito Administrative. J4 0 7 CARVALHO, Raquel Melo Urbano de. Curso de direito adminictrativo. Salvador: SusPodivn, 2009, p. 536-537, * CARVALHO, Raquel Melo Urbano de. Curso de diveito adminisirativo. Salvador: SusPodivm, 2009, p. 354-55. n ESTADO DE MINAS GERAIS ADVOCACIA-GERAL BO ESTADO 19 do Decreto Federal n. 20.910/32 & especifico do regime juridico administrativo, assentado na obrigatoriedade de atingir 0 bem comum, na impossibilidade de admitir desidia no tratamento do patrim6nio péblico e na necessidade de ver prevalecer 0 interesse da sociedade. Nessa esteira e conforme a jurisprudéncia classica e pacifica quando ainda vigente 0 CC/1, 0 att. 1° do Decreto Federal n. 20.910 Gestina-se a todas as agGes pessoais dos terceiros perante 0 Poder Pablico, dentre as quais se incluem as pretensdes indenizatorias em que a Administracdo & acionada devedora. Sendo assim, nao pode um dispositive genérico de Direito Civil (art. 206, $ 3°, V, do CC/02), pelo simples fato de ser temporalmente superveniente, revogar norma especifica do regime juridico administrativo que prescreve prazo de prescrigéo quinquenal (art. 1.° do Decreto federal n. 20.910/32), mormente se idéntica a forga vinculante de ambos os diplomas, considerando-se a hierarquia das normas. Jé se explicitou que uma regra especifica de Direito Administrative prevalece sobre a regra geral de Direito Civil, independentemente da anterioridade temporal da primeira em relacio a segunda. Afinal, nao se pode ignorar a maxima hermenéutica aquela segunda a qual ex specialis derrogat legi generali, ou seja, a norma especial afasta 2 aplicagdo da norma geral. E também impossivel recusar autonomia as regras do Direito Administrativo, por ser incabivel, hodiemmamemte, dar prevaléncia absoluta as normas do Cédigo Civil. om) Neste contexto, é fundamental que se compreenda a repercussio desta concluséo quando se analisa o prazo de prescrigao para o erdrio buscar ressarcimento pelos prejuizos que lhe foram causados por terceiros, os quais ndo se enquadram no artigo 37, § 5°, da CR e nem mesmo artigo 1° C da Lei Federal 9.494, (...) Vale dizer: 0 principio da supremacia do interesse ptiblico impede que se reconhega 20 terceiro prazo prescricional maior para apresentar sua pretensdo ressarcitoria perante a Administragio que 0 prazo de presctigao reconhecido ao Poder Pibtico para aviar sua pretensao indenizatéria perante o terceito, principalmente considerando-se que a natureza ilicita dos comportamentos causadores do dano a mesma. job este prisma, se a0 terceito que pretende ser ressarcido pelo erério do se pode cogitar de reconhecer a0 erdrio lapso temporal inferior a 05 anos para ajuizar sua pretensio indenizat6ria perante um terceiro que, no sendo agente piblico, Ihe cause prejufzo. Assim sendo, e atentando para o fato de que nio existe regra expressa no ordenamento administrative atual para 0 exercicio da pretensio ressarcitéria pelo Poder Pablico perante terceiros, néio é possivel concluir pela incidéncia da regra do Cédigo Civil pertinente 4 reparagdo de danos (artigo 206, § 32, V), Sob a égide do Cédigo Civil de 2002, restringir a aplicagao do 2 ESTADO DE MINAS GERAIS ADVOCACIA-GERAL DO ESTADO. art. 1° do Decreto Federal n. 20.910/32 as situagdes em que terceiros pretendiam ajuizar agdes pessoais perante a Administragio Publica ¢ observar prazo prescricional do artigo 206, § 32, V, do novo CC resultaria na observancia do prazo de prescrigio de 03 anos para as hipoteses em que o Poder Péblico afirma-se credor de indenizagio, Este periods é claramente inferior a0 quinquénio reconhecido aos terceitos, © que compromete norma principiolégica basilar do regime juridico administrativo, G) Por conseguinte, mesmo sendo certo que o pedido de ressarcimento do Estado perante 0 terceiro causador do dano ¢ responsabilidade civil pois_o que se objetiva é a reparagio dos danos suportados_em decorréncia de ilicito cometido pelo tercei i artigo 206, § 3.°, V, do novo Cédigo Civil, Incide, neste caso, 0 prazo prescricional_de 05 anos, aplicivel_analogicamente em razio_da it i igo 1.2 2 tenses dos (erceitos perante o Poder Publico, 0 que se impie por forca dos principios da isonomia_e da supremacia_do_interesse_puiblico.”” (destaques acrescidos) ‘Também advoga a prescrigdo quinquenal Marcal Justen Fill “0 art. 206, § 3°, V, do Cédigo Civil determina que ‘presereve (...) em 3 (trés) anos (...) a pretensio de reparagio civil’. A norma néo estabelece ressalvas e surge a controvérsia sobre a sua aplicagao para as agées de que seja titular 2 Administragio Pablica. ibém_ndo se aplica_no_ Ambit (0 Pablica e particulares porque, tal 1az0 para ri a itularidade da Fazenda Pablic: deve sex idéntico aquele estabelecido para as agdes exercitadas em face & ia. Administracéo. Trata-se de impossibilid: jue as acdes es inistagao. Pabli es do particular prescrevem em cinco anos (tal como exposto adiante), idéntico tratamento deve ser reservado as ages de titularidade da Administracéo Pablica”" (destaques acrescidos) Jacdes entre ‘Como salientado, hé posigbes divergentes, como a de José dos Santos Carvalho Filho: “Se o titular do direito pessoal, contudo for a propria Fazenda, em face do administrado, a prescrigdo se regulard naturalmente pela lei geral, no caso 0 Cédigo Civil - particularmente 0 citado art, 205, que fica o ° CARVALHO, Raquel Melo Urbano de. Curso de diveito administrativo, Salvador: JusPodivm, 2009, p. 5256-557, JUSTEN FILHO, Marca. Curso de drcito admnisrativo. 6.04. Belo Horizonte: Forum, 2010, p. 1244-1245, B ESTADO DE MINAS GERAIS ADVOCACIA-GERAL DO ESTADO ontra oportunidade, pronuncia: prazo genérico de dez anos (quando nao houver prazo diverso especifico expresso na lei). Em consequéncia, discordamos, com a vénia devida, daqueles que, em nome do principio da isonomi advogam a mesma prescrigao quinquenal quando é titular da pretensao a Fazenda em face do administrado. Em nosso entender, a tinica aplicacao do referido principio é para o fim de serem consideradas situagdes desiguais e, portanto, sujeitas a tratamento diverso. O Decreto n, 20,910/1932 visou especificamente a regular a prescriggo de pretensdes de administrados em face da Fazenda, dispensando 2 matéria foros de direito pablico, Como nada foi regulado em telagio a prescrigéo de pretenses da Fazenda em face de administrados, € de aplicar-se a lei geral, no caso o Cédigo Civil. Pode ocorrer que, de lege ferenda, 08 prazos venham a igualar-se, mas enquanto ndo houver lei especifica em tal ditegdo, aplicaveis serio as nonnas da lei civil.”!! Para este autor, 0 prazo prescricional seria, desse modo, de 10 anos, Em tratando das agdes de responsabilidade civil, 0 mesmo autor assim se “O vigente Cédigo Civil, no entanto, introduziu varias alteragGes na disciplina da prescrigio, algumas de inegivel importincia. Uma delas diz respeito a0 prazo genérico da prescri¢ao, que passou de vinte anos (especifica para direitos pessoais) para dez anos (art. 205). Outra é a que fixa 0 prazo de més anos para a prescrigio da pretensdo de reparagdo civil. Vale dizer: se alguém softe dano por ato ilicito de terceiro, deve exercer a pretenséo reparat6ria (ou indenizatéria) no prazo de trés anos, pena de ficar prescrita e nao poder mais ser deflagrada. Como 0 texto se refere 4 reparacéo civil de forma genérica, ser4 forcoso. como as _de direito privado prestadoras de servicos piblicos. Desse m io_derrogados os diplomas acima_no_que_concerne & reparacdo civil. Contudo, as _demais. pretensées_pessoais contra a Decreto n. 20,910/32.” (destaques acrescidos) Observa-se que ha uma certa convergéncia em se aplicar o prazo prescricional geral de 10 anos quando 0 Poder Pablico recorte ao Judiciario; quanto as agdes de reparagio de dano, hé divergéncias, havendo defensores do prazo quinquenal e defensores CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manuat de direito administrativo, 23,04. Rio de Janeito: Lumen Juris, 2010, p. us. 1} CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direto adintstrativo. 23.e¢. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010, p. 625-627. 1a ESTADO DE MINAS GERAIS ADVOCACIA-GERAL DO ESTADO do prazo trienal. Diamte destas afirmagdes, exsurge a questo: deve-se considerar a ago da Fazenda Publica perante os sucessores do servidor falecido como agio pessoal genérica ou como acio fundada na responsabilidade civil? Pois tal questfo poderia levar a que se cogitasse da aplicagio do prazo de 3 anos relativo a reparagao civil. Entende-se, como dito acima, com respeito as posigGes divergentes, que Se trata de ago baseada na reparacdo civil, visto que o Estado nio mantém relagio juridica com os sucessores do servidor faiecido, nao se tratando da cobranga de uma divida advinda de obrigagio contratual ou funcional, por exemplo, mas cobranga de valores irregularmente apropriados por tais sucessores. Em outras palavras, um comportamento ilicito dos sucessores do falecido € que gera 0 dano ao Estado, abrindo a possibilidade para este de pleitear a Feparagio civil. Este entendimento, como se vé, tem repercussGes quanto ao prazo prescricional. Neste ponto, hd que observar que as divergéncias surgidas na doutrina ¢ na propria jurisprudéncia acerca da incidéncia da prescrigio trienal nas demandas de Teparagio civil contra 0 Estado, em virtude do novo Cédigo Civil, foi pacificada por receme decisio do Superior Tribunal de Justica, que se posicionou no sentido da prescrigio quinquenal por forca da especificidade das normas veiculadas pelo Decreto 20.910/32. Seno vejamos: “ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE _CONTROVERSIA (ARTIGO 543-C DO CPC). RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. ACAO INDENIZATORIA. PRESCRIGAO. PRAZO QUINQUENAL (ART. 1° DO DECRETO 20.910/32) X PRAZO TRIENAL (ART. 206, § 3°, V, DO CC). PREVALENCIA DA LEI ESPECIAL. ORIENTACAO PACIFICADA NO AMBITO DO STJ. RECURSO ESPECIAL NAO PROVIDO. 1, A controvérsia do presente recurso especial, submetido a sisteméatica do art. 543-C do CPC e da Res. STI n 8/2008, esta limitada 20 prazo prescricional em ago indenizatéria juizada contra a Fazenda Publica, em face da aparente antinomia do prazo tienal (art. 206, § 8, V, do Cédigo Civil) e 0 prazo quinquenal (art. 1° do Decreto 20.910/32). 2. © tema anelisado no presente caso nao estava pacificado, visto que 0 prazo prescricional nas agées indenizal6rias contra a Fazenda Publica era defendido de maneira antagénica nos ambitos doutrinario ¢ jurisprudencial. Efetivamente, as Turmas de Direito Ptiblico desta 1s ESTADO DE MINAS GERAIS ‘ADVOCACIA-GERAL DO ESTADO Corte Superior divergiam sobre 0 tema, pois existem julgados de ambos os érgios julgadores no sentido da aplicagéo do prazo prescricional trienal previsto no Cédigo Civil de 2002 nas agdes indenizatorias ajuizadas contra a Fazenda Péblica. Nesse sentido, o seguintes precedentes: REsp 1.238.260/PB, 2° Turma, Rel, Min. Mauro Campbell Marques, DJe de 5.5.2011; REsp 1.217.933/RS, 2° Turma, Rel. Min. Herman Benjamin, DJe de 25.4.2011; REsp 1.182.973/PR, 2* Turma, Rel. Min, Castro Meira, De de 10.2.2011; REsp 1.066.063/RS, 1* Turma, Rel. Min, Francisco Falcio, DJe de 17.11.2008; EREspsim 1,066.063/RS, 1* Seco, Rel. Min. Herman Benjamin, De de 22/10/2009), A tese do prazo prescricional tienal também & defendida no Ambito doutrinétio, dentte outros renomados, Goutrinadores: José dos Santos Carvalho Filho ("Manual de Direito Administrativo", 24* Ed., Rio de Janeiro: Editora Lumen Ji 2011, pags, $29/530) © Leonardo José Cameizo da Cunha ('A Fazenda Publica em Juizo", 8° ed, Sio Paulo: Dialética, 2010, pags. 88/90). 3. Entretanto, néo obstante os judiciosos entendimentos apontados, o atual ¢ consolidado entendimento deste Tribunal Superior sobre 0 tema € no sentido da aplicagio do prazo prescricional quinquenal - previsto do Decreto 20.910/32 - nas agdes indenizatérias ajuizadas contra a Fazenda Pablica, em detrimento do prazo trienal contido do Cédigo Civil de 2002. 4. © principal fundamento que autoriza tal afirmagio decorre da natureza especial do Decreto 20.910/32, que regula a presctigio, seja qual for a sua naturezs, das pretensbes formuladas contra a Fazenda Pablica, a0 contrdrio da disposicéo prevista no Cédigo Civil, norma geral que regula o tema de maneira genérica, a qual nao altera 0 cardter especial da legislacio, muito menos & capaz de determinar a sua revogagéo. Sobre 0 tema: Rui Stoco ("Tratado de Responsabilidade Civil". Editora Revista dos Tribunais, 7* Ed. — Sio Paulo, 2007; pags. 207/208) e Lucas Rocha Furtado ("Curso de Direito Administrativo". Editora Forum, 2* Ed. — Belo Horizonte, 2010; pag. 1042). 5. A previsio contida no art. 10 do Decreto 20.910/32, por si s6, nfo autoriza a afirmagio de que o prazo prescricional nas agdes indenizatérias contra a Fazenda Piblica foi reduzido pelo Cédigo Civil de 2002, a qual deve ser interpretada pelos ctitérios histérico € hermenéutico. Nesse sentido: Marcal Justen Filho ("Curso de Direito Administrativo". Editora Saraiva, 5* Ed. — Sio Paulo, 2010; pags. 1.296/1.299). 6. Sobre o tema, os recentes julgados desta Corte Superior: AgRg no AREsp 69.696/SE, 1* Turma, Rel. Min. Benedito Gongalves, DJe de 218.2012; AgRg nos EREsp 1.200.764/AC, 1? Segéo, Rel. Min, Arnaldo Esteves Lima, DJe de 66.2012; AgRg no REsp 6 ESTADO DE MINAS GERAIS ADVOCACIA-GERAL DO ESTADO 1.195.013/AP, 1° Turma, Rel. Min, Teori Albino Zavascki, Die de 235.2012; REsp 1.236.599/RR, 2* Turma, Rel. Min. Castro Meira, Die de 21.5,2012; AgRg no AREsp 131,894/GO, 2* Turma, Rel. Min. Humberto Martins, DJe de 264.2012; AgRg no AREsp 34.053/RS, 1° Turma, Rel. Min. Napoledo Nunes Maia Filho, DJe de 215.2012; AgRg no AREsp 36S17/RI, 2° Turma, Rel. Min, Herman Benjamin, Die de 232.2012; EREsp 1.081.885/RR, 1° Secio, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, Dle de 1°.2.2011. 7. No caso conereto, a Corte a quo, ao julgar recurso contra sentenga que reconheceu prazo trieval em aco indenizatéria ajuizada por particular em face do Municipio, corretamente reformou a sentenga para aplicar a prescticao quinquenal prevista no Decteto 20.910/32, em manifesta sintonia com o entendimento desta Corte Superior sobre 0 tema, 8, Recurso especial néo provide. Acérdio submetido ao regime do artigo $43-C, do CPC, ¢ da Resolugio STJ 08/2008. (STI, REsp 1.251.993/PR, Primeira Segao, Rel. Min, Mauro Campbell Marques, j. 12/12/2012, p. DJe 19/12/2012).” B de consignar que tal decisio trata da prescrigéo das agdes de reparagao de dano propostas em face do Poder Publica, tendo-se assentado 0 prazo de 5 anos. Nao se toca ditetamemte a presctigdo das agdes de reparagao propostas pelo Poder Piiblico em face de particulares. Ainda assim, diante desta decisao, & possivel que ganhe forga o entendimento de que também pare o Estado, quando autor em agdes de reparagio de dano, deve viger 0 prazo quinquenal. O prazo trienal do Cédigo Civil ficaria assim adstrito as demandas de reparagdo civil entre privados e mesmo assim aquelas que néo tangenciem relagies de consumo, regidas pelo Cédigo de Defesa do Consumidor. Se for assim, deve considerar-se quinquenal o prazo prescricional para 0 Estado ajuizar ago para ser ressarcido dos valores pagos em favor de servidor falecido e nfo devolvidos espontaneamente pelos seus sucessores responsiveis pela apropriagio de tais valores. Nao obstante esta conclusio e, como dito, por se cogitar de matéria envolta em davidas ¢ divergéncias doutrinérias ¢ jurisprudenciais, ¢ conveniente_e a rio que se faca o acompanhamento rudencial, a fim de evi ve de corrente jurisprudencial em sentido diverso - por exemplo, le que se aplica a preseri is igo Civil para a a ESTADO DE MINAS GERAIS ADVOCACIA-GERAL DO ESTADO reparacio de dano proposta pelo Estada —, haja prejuizo para o Estado. Nesse sentido, também se devem orientar os setotes competentes para que, na medida do possivel, ingressem com as referidas agdes o mais répido possivel; prevenindo-se a perda da agéo em caso de entendimento jurisprudencial diverso. Nao se deve deixar de referir, ademais, que se poderia aventar, como gizado acima, a aplicacio do prazo prescricional geral de 10 anos, previsto no art. 205 do Cédigo Civil. Em que pese haver esta possibilidade, entende-se aqui, como explicitado, que a cobranga de tais valores de sucessores de servidor falecido tem como fundamento a reparagao civil, j& que advém de ato ilicito de individu que néo entretém com o Estado qualquer relagao funcional ou contratual. Por outro lado, como se ver4, 0 prazo prescricional decenal pode ser tido como cabivel em caso de reposicao de valores em face do proprio ex-servidor, pois neste caso o fundamento é relagao juridica anteriormente existente, ic umida_em_prol reat |_= cor adverténcia acerca da_prescricéo trienal — trimento_da_prescrich 1ém disso, a preocupacio de fazer com que o Estado de Minas Gerais aja de modo répi 1ra_buscar reaver os valores pagos indevidamente, evitando discuss6es judiciais acerca ra¢éo dos dinheiros A prescrigio qilingiienal afirmada refere-se as ages do Estado em face de sucessores de servidores falecidos que se apropriam dos valores pagos pelo Estado em favor do servidor apés sen falecimento, pois entende tratar-se de agéo de reparacio civil, com 08 fundamentos anteriormente apontados. Outta € a situagdo em que o Estado cobra valores dos proprios servidores em virtude de relagao funcional finda por exoneragio ou demissio, ou a situagdo em que o Estado cobra dos sucessores, nos limites da heranga, débitos deixados pelo servidor, Ainda quanto a discussdo acerca do prazo presericional hé que cogitar sobre a imprescritibilidade, prevista no art. 37, § 5°, CRB/88 nos seguintes termos: “*§ 5° - A lei estabelecer4 os prazos de prescrigio para ilicitos praticados por qualquer agente, servidor ou no, que causem prejuizos ao erétio, ressalvadas as respectivas agdes de ressarcimento.” 18 ESTADO DE MINAS GERAIS ADVOCACIA-GERAL DO ESTADO ‘A discusséo atual sobre tal preceito tem se incrementado, genhando forga teses contra uma imprescritibilidade absoluta, Neste sentido, Ieiam-se as seguintes linhas do professor Celso Antonio Bandeira de Mello: “Até a 26. edigtio deste Curso admitimos que, por forga do § 5.° do art. 37, de acordo com o qual os prazos de prescricao para ilicitos causados 20 erario serao estabelecidos por lei, ressalvadas as respectivas agdes de ressarcimento, estas tiltimas seriam imprescritiveis. E certo que aderiamos a tal entendimento com evidente desconforto, por ser dbvio 0 desacerto de tal solugdo normativa, Com efeito, em tal caso, os herdeiros de quem estivesse incurso na hip6tese poderiam ser acionados pelo Estado mesmo decorridas algumas geragées, 0 que geraria a mais radical inseguranca juridica. Simplesmente parecia-nos ndo haver como fugir de tal disparate, ante o teor desatado da linguagem constitucional. J4 no mais aderimos a tal desabrida intefecgao. (..) De fato, o Poder Pblico pode manter em seus arquivos, por periodo de tempo Ionguissimo, elementos prestantes para brandir suas inerepagdes contra terceifos, mas © mesmo nao sucede com estes, que terminariam inermes perante arguigées desfavoraveis que se Ihes fizessem. Nao € crivel que a Constituicdo possa abonar resultados tio radicalmente adversos aos principios que adota no que concerne ao direito de defesa. Dessarte, se a isto se agrega que quando quis estabelecer a imprescritibilidade a Constituicdo 0 fez expressamente como no art. 5.°, incs. LI] e LXIV (crimes de racismo e agéo armada contra a ordem constitucional) e sempre em matéria penal que, bem por isto, nto se eterniza, pois ndo ultrapassa uma vida —, ainda mais se robustece a tese adversa A imprescritibilidade. Eis, pois, que reformamos nosso anterior entendimento na matéria, ‘Como explicar, ento, o alcance do art. 37, § 5.°? Pensamos que 0 que se ha de extrair dele € a intengao manifesta, ainda que mal-expressada, de separar os prazos de prescri¢ao do ilicito propriamente, isto , penal, ou administrative, dos prazos das agdes de responsabilidade, que nio ero porque obrigatoriamente coincidir. Assim, a ressalva pata as agdes de ressarcimento significa que terio prazos auténomos em relacio aos que a lei estabelecer para as responsabilidades administrativa e penal. Qual seria, entdo, 0 prazo prescricional a vigorar nos casos de dano a0 erério? Pensamos que os prazos prescricionais serio os mesmos acima apontados para a decretagio de invalidade dos atos viciados. Cinco anos, quando no houver mé-fé e dez anos, no caso de mé-fé — sempre contados a partir do término do mandato do governante em cujo periodo foi praticado o ato danoso.”!3 © MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Curso de direito adminisirarivo, 29.e0. Sto Paulo: Malheiros, 2012, p. 1080- 1% ESTADO DE MINAS GERAIS ADVOCACIA-GERAL DO ESTADO. Mesmo que néo se espose 0 entendimento explicitado, ¢ nao se esposa, forgoso € reconhecer que a aplicagao da regra constitucional, por ser tao excepcional, deve se dar em termos nfo ampliativos. © preceito constitucional direciona-se a atos ilicitos Praticados por agentes piblicos, servidores ou niio, nao sendo de se aplicar a atos de Patticulares que nao sio agentes piiblicos, como ¢ 0 caso dos sucessores de servidor falecido. Sendo assim, em se tratando de orientagao juridica a nortear a atuagao da Administragio Paiblica estadual, entende-se mais prudente, na auséncia de um posicionamento sup: r genérico, orientar a Administragao a agir tendo em vista um prazo, considerando as dividas prescritiveis como regra, para nfo se corter o risco de deixar escoar 0 prazo e depois perderem-se os recursos piblicos. A imprescritibilidade deve ser tida, no em termos de posicionamento juridico-te6rico, mas em termos priticos, para evitar discussdes judiciais ¢ eventual perda de recursos piblicos, como excegio. A Administragio deve ser diligente ¢ eficaz em promover as medidas judiciais para reaver recursos pablicos. Apenas ‘em iltimo caso, nao tendo conseguido fazé-lo dentro do prazo prescricional deve, segundo as circunsténcias do caso, havendo configuragdo de ilicito de agente pablico, perseguir a Teposigéo valendo-se da tse da imprescritibilidade com fulcro na norma constitucional citada. E com este pano de fundo que se devem compreender as ponderagdes avangadas no Parecer SEPLAG/AJA n, 0443/2013 acerca da imprescritibilidade ¢ de eventual cometimento de crime de estelionato. Neste contexto, néo parece desarrazoado manter 0 entendimento de que se inicia e corre a preseriggo no prazo acima indicado nas situages normais em que, por exemplo, a familia demora um curto lapso temporal ap6s 0 dbito para informar o Estado, uma vez que um falecimento no seio de uma familia implica providéncias a serem tomadas ¢ pode ainda significar uma série de dificuldades de diversa ordem, Tem-se assim que a regra é a prescritibilidade da cobranca destes valores em 5 anos, contando-se_o_prazo_prescricional a partir da ciéncia pela 1081. © A questho devers ser pacificada,jé que se reconheceu repercusso geral no Recurso Extraordinario 669.069 MG, em 22.06.2013, recurso esle que suscita exatamente a questo acerca da interprelagio ¢ do aleance da imprescritbitidade previsia no art; 37, $59, CR. ESTADO DE MINAS GERAIS ADVOCACIA-GERAL BO ESTADO. Administtagdo do Sbito do servidor. A agdo de cobranca deve ser proposta contra aqueles sucessores, familiares do servidor responsdveis pela apropriagio dos valores depositados em prol do servidor apés a seu falecimento. De qualquer forma, é de salientar que havendo saque de valores por familiares da conta do servidor falecido, apés o falecimento deste, parece configurar-se ma- fé, © que deve ser concretamente verificado nas hipsteses reais, exigindo-se que a Administragéo Pblica cientifique 0 Ministério Pablico para a eventual adogio de providéncias em sua esfera de competéncia, Ainda assim, tal conduta ilicita, por nao ser imputada a agente piblico, nao leva a imprescritibilidade prevista no art, 37, § 5.°, CRB/88. Em resumo:_a partir do momento em que a Administragio Pablica toma citncia do falecimento do seu servidor, comeca a correr o prazo prescricional de $ anos para anea judicial dos valores pagos indevidamente aps 0 falecimento, a ser proposta em face dos responsiveis pela apropriacdo de tais valores. 1.4) FORMA DE COBRANCA DE VALORES PAGOS INDEVIDAMENTE EM FACE DOS SUCESSORES DE SERVIDOR FALECIDO Por certo, pode-se ¢ deve-se tentar uma composigdo amigavel do débito, Procurando-se os sucessores do falecido, responsdveis pela apropriagéo dos valores, buscando que (ais valores pagos indevidamente sejam diretamente repostos aos cofres piblicos, com a regular formalizagio deste pagamento. Parece conveniente que se padronize esta conduta estatal nos setores administrativos responséveis, de modo que se adotem sempre 0s mesmos procedimentos, posit jando a reposi¢ao espontinez aos cofres piblicos dos valores pagos indevidamente, A padronizagio referida deve envolver, entre outros, pelo menos, a forma de comunicagio ¢ 0 prazo assinalado para a reposigéo espontinea, podendo ser necesséria a criagio de norma para tanto, Nao obtida reposigio esponténea aos coftes piblicos dos valores pagos indevidamente, urge buscar outros meios de consegui-ta. © principal, como se pode antever & ‘como corretamente indicado no Parecet SEPLAG/AJA n. 0443/2013, € a cobranga judicial a ESTADO DE MINAS GERAIS. ADVOCACIA.GERAL DO ESTADO dos valores a ser levada a cabo pela Advocacia-Geral do Estado, érgéo incumbido da representagio judicial do Estado. Ha inda que consignar que, neste caso, a cobranga dos valores daqueles we 0s obtiveram ilicitamente ndo tem relago com os limites da heranca, uma vez que nfo se de obrigacdo do servidor transmitida a S, Wata-se, outrossim, de obrigat 1 i les que se apropriaram de valores que ndo Ihes pertencem, os valores depositados pelo Estado em conta em favor de servidor apés o seu falecimento ‘A reparacdo pode, assim, ser imputada como obrigagéo de apenas um sucessor do servidor ou de todos eles, conforme tiver ocorride a apropriagio destes valores. © que importa reter & que se trata de obrigacdo propria, cuja responsabilidade deve ser verificada caso a caso. De fato, considerando tratar-se de valores que j4 nfo eram devidos ao servidor, uma vez que pagos apés 0 seu falecimento porque 0 Estado néo tinha ciéncia deste falecimento, nao se tem divida do servidor que é transmitida 2os seus sucessores, trata-se de valores devidos por estes mesmos sucessores em virtude de seu comportamento irregular de apropriagao de valores de que nao sio titulares. Esta observagio importante, pois repercute na forma de cobranga judicial, uma vez que se tera que percorrer a via do proceso de conheci io houver pagamento espontaneo, Nao parece haver no ordenamento atual fundamento legislativo para que © Estado proceda a constituigao deste crédito de modo a poder inscrevé-lo em divida ativa ¢ valet-se da execugdo fiscal para a sua cobranga, Na caréncia deste fndamento, teré o Estado. 0, que recorrer a juizo conhecimento, nma agio em que se vi civil do Estado em face dos sucessores idor falecido, responséveis pela apropriagdo dos valores pagos indevidamente. 2) SEGUNDO QUESTIONAMENTO. Nos casos em que 0 servidor vier a falecer no curso do parcelamento do débito, como fica a reposigdo das parcelas restantes que deixaram de ser descontadas em razdo do falecimento do servidor? ESTADO DE MINAS GERAIS ADVOCACIA-GERAL DO ESTADO. segundo questionamento refere-se ao falecimento do servidor que tem parcelamento de débito junto ao Estado e falece exatamente no curso deste parcelamento. Pergunta-se sobre as providéncias a serem tomadas. Nao séo feitas muitas consideracées acerca de que tipo de débito se trata, mas pode-se inferir que se trata exatamente de débitos relativos a valores pagos indevidamente © que se repéem aos cofres ptiblicos por meio de parcelamento, valores descontados da remuneracio ou dos proventos do servidor. A divida encontra-se reconhecida pelo servidor e apenas nao ¢ integralmente satisfeita por forga de seu falecimento. Neste caso, parece que o que se tem que fazer é cobrar dos herdeitos do servidor o montante total do_débito que havia sido parcelado e que nio foi pago devi falecimento do servidor, ngs limites da heranca. Aqui o débito do servidor, advindo de relacéo anterior com o Estado ¢ no quitado, transfere-se para seus herdeiros nos limites da heranca, Nesta hipétese, 0 prazo prescricional nao tem por fundamento a reparacéo civil, trata-se de cobranga de uma divida advinda da relagdo juridica anteriormente existente ¢ que integra 0 espélio. O prazo prescricional ¢ 0 aplicdvel As agées pessoais em geral. Enlende-se, desia forma, que aqui a prescrigdo seria de 10 anos, a prescrigéo geral revista no art, 205 do Codigo Civil. Nao se deve deixar de registrar, no entanto, a conveniéncia de o Estado ser diligente ¢ tentar perseguir judicialmente estes valores antes deste prazo, uma vez que pode ser que a jurisprudéncia venha se encaminhar no sentido de entender que se as agdes pessoais contra o Estado prescrevem em 5 anos, conforme o Decreto n. 20.910/32, também devem prescrever em 5 anos as ages em favor do Estado. Qutro ponto a ser aqui referenciado e diferenciada da situagao tratada no primeiro questionamento relaciona-se com a possibilidade de inscricao em divida ativa do débito deixado pelo servidor falecido. Neste caso, havendo fundamento normativo", parece possivel fazer-se tal inscrigéo, com as cautelas legais. De toda a forma, aos sucessores do servidor falecido deve ser dada 2 oportunidade de pagamento espontineo — para 0 que se 'S No parece haver, no momento, esta fundamento normative no Ambito do Estado neste sentido, como ocorre, por cxemplo, no Ambito federal; parece conveniente, no entanto,ctiar tal marco normativo estadual, 2B ESTADO DE MINAS GERAIS ADVOCACIA-GERAL DO ESTADO exige a fixagio de procedimento padrdo -, sem o qual deve haver a cobranga judicial por meio da Advocacia-Geral do Estado. Quanto a estes dois primeiros questionamentos, urge anotar que nao licAvel a corrente ji risprudencial que se tem firmado no set sobrar de ‘idor_piiblico valor recebido, como parte de verba alimentar, de maneira indevida, por forca de errénea ou equiv inter, fio da lei. Nestas hipéteses nao i, trata-se de pagamento indevido em virtude da extingio dos atos em falecimento di ifr cobranca de divida id ida ¢ nio pas rvidor_em_razio imer e cogitar de no se col reposi¢io. fres publis v: dor falecido; trata- idéncia obri f 3) TERCEIRO QUESTIONAMENTO Na maioria dos casos de falecimento, constatamos que os servidores falecidos sito instituidores de pensdo previdencidria no IPSEMG. Nestes casos, hé possibilidade legal de 0 débito deixado por servidor ser compensado na pensito até sua quitagio? terceiro questionamento relaciona-se com a possibilidade de se repor 0s cofres piblicos algum valor relativo a débito de servidor falecido diretamente a partir da pensdo paga a dependentes deste mesmo servidor. Neste ponto, a questéo foi bem colocada no Parecer SEPLAG/AJA n. 0443/2013, j4 que 2 pensio é um direito préprio do beneficisrio, néo se confundindo com heranga ou legado em sentido téenico. Sendo assim, no ha viebilidade juridica para que o Estado se pague relativamente a débit rvidor falecido por meio de desconto em pensio de dependente deste servidor, trata-se de titulares distintos de direitos e obrigagbes. Se o it nte obrigacio de ir referem-se ao servidor faleci insferem-se com a heranca nos limites desta. A pensio e 0 direito ao seu recebimento referem-se 208 dependentes do servidor, ndo havendo que se falar de transferéncia da obrigagéo de pagar o débito para os dependentes que recebem a pensio por direito préprio. Fy ESTADO DE MINAS GERAIS ADVOCACIA-GERAL DO ESTADO Quanto a este terceiro questionamento, diante do que se vem de avangar brevemente, ha, assim, que responder negativamente. O Estado nio pode se pagar na pensfo de dependentes de servidores falecidos relativamente a débitos deixados por estes servidores. A pensio € direito préprio do dependente do servidor, com base constitucional ¢ legal. © débito deixado pelo servidor deve ser perseguido na heranca nos limites desta. Por outro lado, ainda que se pudesse pensar em débitos do proprio beneficidrio da pensio, nio parece haver fundamento normativo para a cobranga auto- execut6ria destes débitos pelo Estado diretamente dos valores pagos a titulo de pensio. Esté- se a pensar, como se pode imaginar, no caso em que um sucessor de servidor falecido se apodera de pagamentos indevidos feitos em nome deste servidor em sua conta, apés 0 seu falecimento, ¢, depois, este mesmo sucessor faz jus a pensio previdencidria paga pelo Estado em virtude de ser dependente do servidor falecido, nos termos legais. Bem se vé que o débito € de responsabilidade deste individuo, assim como a pensio, na hipétese aventada, € direito sev. Ainda assim, trata-se de valores com fundamentos distintos, ndo havendo fundamento legal para um pagamento auto-execut6rio da Administragao sobre os valores pagos a titulo de penstio, de cardter alimentar. A Administragao ter que cobrar, como exposto acima, judicialmente, deste sucessor, a teparagio pelo valor indevidamente apropriado e tera que agar, por forga da legislagdo previdencidria, a pensio devida. Neste ponto, ha que salientar ser inaplicével o disposto no Decreto estadual n, 42.758/2002, art. 37; a Administragio nfo pode fazer descontos na pensio para Tepor aos cofres piblicos os valores indevidamente apropriados pelo pensionista apés a morte do servidor. A previséo apenas autoriza estes descontos se tiver ocorrido recebimento indevido de beneficio, 0 que nao é 0 caso. Quanto a prazos € formas de cobranga, remete-se as observagies anteriormente avangadas no segundo questionamento. 4) QUARTO E QUINTO QUESTIONAMENTOS E quanto aos servidores que se desligaram, foram demitidos ou exonerados ¢ que devem repor ao erdrio vencimentos recebidos indevidamente: qual 0 procedimento a ser adotado quando o ex-servidor é oficialmente notificado sobre o débito e ndo realiza a sua quitagdo? ESTADO DE MINAS GERAIS ADVOCACIA-GERAL DO ESTADO. A prescrigito quinquenal deve ser observada nessas situagdes? Em caso positivo, qual seria a vigéncia a ser considerada para a prescrigéo, a do desligamento ou da comunicagdo do débito? Por fim, nos casos em que 0 servidor desligado recusar-se a quitar a sua divida com 0 erério, seria possivel a cobranga dos débitos pela via judicial? Quais seriam os procedimentos legais que poderiam ser adotados para viabilizar a reposigéio desses valores a0 Estado pela via judicial? ‘A quarta e a quinta quest6es a serem respondidas dizem respeito aos débitos de servidores desligados do servico piblico quer por meio de demissdo quer por meio de exoneragio. Pergunta-se qual deve ser a forma de cobranga, qual o prazo prescricional ¢ seu termo a quo. Ha aqui, jé de inicio, que frisar que esta situagdo € bastante diversa das situagoes acima enfrentadas, pois aqui se trata de débito do proprio servidor que, deixando de ter a condigio de servidor, mantém débito junto ao Estado advindo da relagio funcional extinta; i divida a ser satisfeita, depois de terminada a relagdo funcional, pelo proprio ex- servidor. Néo hi aqui, em principio, que cogitar de sucessores, nem de heranga. 0 que ha a possibilidade e a necessidade de 0 Estado cobrar valores pagos indevidamente referentes a uma relagdo funcional extinta em face do préprio titular desta relagio e beneficidrio destes pagamentos indevidos. Nesta hipétese, ha que se distinguir se 0s pagamentos se embasam em atos administrativos viciados, situagao em que a Administragio deverd usar a sua autotutela para fever os atos e, consequentemente, reaver os valores pagos indevidamente. Neste caso, a Administragdo decai do exercicio de sua autotutela, nfo havendo mé-fé do beneficiério do ato, em 5 anos, nos termos do art. 65 da Lei estadual n. 14.184/2002. Interessa aqui 0 exercicio da autotutela para anular atos com vicios insanaveis que tenham ilegitimamente gerado beneficios a servidor, E de consignar que a anulacdo de ato administrativo ampliativo pela propria Administragdo, no exercicio de sua autotutela, hoje conta com dois ESTADO DE MINAS GERAIS ADVOCACIA-GERAL DO ESTADO condicionamentos; 0 primeifo, 0 prazo ~ no caso da lei mineira de procedimento administrativo, trata-se de prazo decadencial de 5 anos se o beneficidrio do ato estiver de boa-fé — ¢ o segundo, a necessidade de procedimento administrativo no qual o beneficiirio do ato tenha a possibilidade de participar exercendo o contraditéric e a ampla defesa. Pois bem, detectada a ilegalidade insandvel, tem a Administraggo que anular © ato ampliativo, desde que o faca em S anos ¢ respeitando o principio do devido Procedimento equitativo que, no caso, importa em garantia de ampla defese e contraditério em prol do beneficidrio do ato antes da sua anulagio pela Administragao. Anulado 0 ato pela inistracéo, dentro do quingu ial, os pagamentos feit at perdem seu suporte juridico e se tornam indevidos. O beneficiério do ato deve, desta forma, restituir 4 Administracdo os valores recebidos em virtude do ato (ou dos atos) anulados, Nao havens stituigdo _espontine: i agio, seja, Administracio_nio conseguindo a i espontanea, Sr Poder Judiciério er as quantias pagas indevidamente, pois que baseadas em ato anulado. Tem-se aqui, considerando haver relagdo travada entre a Administragio € © beneficiério do ato anulado, uma agio que nfo deve ser entendida como agio de reparagio de dano; nio se trata de responsabilidade civil propriamente dita. Em razao desta relagao existente, entende-se que a prescrigio a reger esta agdo € a prescricdo comum prevista no Cédigo Civil, nao havendo norma especifica em sentido diverso. Neste caso, diante das ponderagies acima avangadas acerca da prescrigio, entende-se aplicdvel o prazo prescricional de 10 anos para que a Administracio Pabli juizo cobrar os valores indevidamente pagos em virtude de atos anul: referentes a_relacdes funcionais, e que no foram repostos aos cofres _piblicos espontaneamente, ‘Também neste ponto deve referir-se que 10 anos é um prazo longo e que ‘se entende conveniente que a Administracdo aja sempre o mais répido possivel, nég havendo possibilidade de composicio amigével, visando a evitar derrotas judicisis em face de 2” ESTADO DE MINAS GERAIS ADVOCACIA-GERAL DO ESTADO inis yar _tais valor mesmo que atrelem 0 prazo prescricional_ao_prazo decadencial para o exercicio da autotutela administrativa, De fato, como referido acima, ganha forea a tese da aplicacio do prazo_quinquenal também para o Poder Publico, razio pela qual parece mais seguro que se ajuizem as referidas acdes em 5 anos. Nao se pode deixar de referir, ademais, que se teve como faco valores relativos & relagio funcional e pagos com fundamento em atos que vieram posteriormente a ser anulados pela Administracéo. Outra € a situagio de valores referentes, por exempio, a aplicagio de sangées pecuniérias, que podem ter outros prazos prescticionais, bem como as situagdes de atos ampliatives nos quais houve mé-fé do beneficidrio e as situacées enquadraveis no art. 37, § 5.°, CRB/88. Ainda quanto a hipétese de cobranga, em face de ex-servidores, referente a valores a eles mesmos pagos indevidamente, insta referir que, havendo previsio legal, diferentemente do que se disse acerca de valores a serem cobrados de sucessores de servidores falecidos, pode haver a sua inscrigéo em divida ativa, de modo que o Estado se valha do executivo fiscal para @ cobranga ou mesmo, de meios alternatives de cobranga relativamente a valores menores, Neste ponto, insta esclarecer que hé previséo na Lei n. 869/52 que trata do desconto em caso de exoneracéo a pedido, apresentada justamente para obviar a cobranca de valores devidos ao Estado:!* “Art. 270 - Fora dos casos inclufdos no artigo anterior, a importéncia da indenizagéo poderd ser descontada do vencimento ou remuneragio, ndo excedendo 0 desconto quinta parte de sua importancia Kquida. Pardgrafo Gnico - O desconto poderd ser integral, quando o funcionsrio, Para se esquivar ao ressarcimento devido, solicitar exoneragio ou abandonar o cargo. (Wide § 1° do art. 4° art, 29 da Constituigao do Estado de Minas Gerais.” Observa-se que & possivel o desconto de valores na remuneragio do servidor, havendo, por dbvio, procedimento administrativo prévio. Ocorre que tal desconto € °° sinda de verifica o disposto no art 209 da mesma lei, que tata da cobranarelativa a reparagio civil, Devem ser dobseryados, da mesme forma, quanto a descontos os ants. 136, 205, 282, da Lei esiadual n, 869/52. Verificar, ademais, as previsbes do Decteto estadval n,42.758/2002 quanto a descontos em beneficios previdencistios.

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