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Tecnologia da informação jurídica

A TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO JURÍDICA

Sumário:

APRESENTAÇÃO

1.
ELEMENTOS PARA APLICAÇÃO DE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NO DIREITO

Hugo Cesar Hoeschl

2.
PROTEÇÃO DOS DIREITOS AUTORAIS NA INTERNET: UMA QUESTÃO
JURÍDICA OU TECNOLÓGICA?

Lourdes de Costa Remor

3.
DIREITO, TECNOLOGIA E QUALIDADE

Tânia Cristina D`Agostini Bueno

4.
SIGILO, PRIVACIDADE E INTERCEPTAÇÃO NAS COMUNICAÇÕES DE DADOS.

Orly Miguel Schweitzer

5.
GOVERNO ELETRÔNICO (GOVERNO ON-LINE) - ASPECTOS DE
VIABILIZAÇÃO E OTIMIZAÇÃO DOS SERVIÇOS PÚBLICOS

Eduardo Marcelo Castella

6.
O ENSINO DO DIREITO À CRIANÇA E AO ADOLESCENTE COMO
PRESSUPOSTOS DE CIDADANIA COM USO DE TECNOLOGIAS DA EDUCAÇÃO

Lúcio Eduardo Darelli

7.
RESOLUÇÕES ALTERNATIVAS DE CONFLITOS FRENTE ÀS NOVAS
TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO.

Marco Antonio Machado Ferreira de Mello

8.
FUNDAMENTOS JURÍDICOS PARA O ENSINO POR TELEPRESENÇA

Hugo Cesar Hoeschl e Ricardo Miranda Barcia


9.
E-GOVERNO

Walter Felix Cardoso Junior

10.
GOVERNO ON LINE COMO PRESSUPOSTO DO EXERCÍCIO DA CIDADANIA

Fábio André Chedid Silvestre

11.
DO DESRESPEITO À AUTORIDADE CONSTITUÍDA À DESOBEDIÊNCIA CIVIL
COM VILIPÊNDIO ÀS INSTITUIÇÕES

Antonio Carlos Facioli Chedid

12.
A TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO JURÍDICA E O ENSINO A DISTÂNCIA
COMO FERRAMENTAS PARA A MODERNIZAÇÃO DA ADUANA EM TEMPO DE E-
GOVERNO

Ione Maria Garrido Andreta Lanziani

13.
CONCEITOS DE REPRESENTAÇÃO JURÍDICO-POLÍTICA DIGITAL

Marcio Humberto Bragaglia

14.
Documentação da disciplina "Tecnologia da informação jurídica"

Apresentação

Se você está lendo este texto é porque gosta da associação entre direito e tecnologia. E
nós lhe parabenizamos por isso. Este livro traz consigo uma discussão
inicial: o que é tecnologia da informação jurídica, e para que ela serve. O tema é oriundo
de um fenômeno multidisciplinar, fruto da aproximação de pesquisadores
e profissionais de áreas como a informática, a ciência jurídica, a psicologia, a sociologia, a
biblioteconomia, a administração, a economia, a pedagogia,
a engenharia e outras. As pesquisas estão se materializando e as discussões estão cada vez
mais frequentes e intensas. Os debates sobre a autonomia epistemológica
de qualquer ramo da ciência sempre são muito interessantes, mas geralmente estão
restritos ao círculo acadêmico, e não atingem o público em geral. Se a
tecnologia da informação jurídica possui ou não tal capacidade, saberemos no futuro. Por
ora nos interessa saber que o fenômeno está ocorrendo, e que a
contextualização operada entre Lei e Justiça, de um lado, e Realidade Virtual, Inteligência
Artificial e Internet, de outro, materializa excitantes temas
a serem debatidos.
Então, tentamos resumir um pouco disso tudo para você, neste livro eletrônico, através do
esforço conjunto do IJURIS – Instituto Jurídico de Inteligência
e Sistemas (www.digesto.net/ijuris), e do PPGEP - Programa de Pós-Graduação em
Engenharia de Produção e Sistemas da Universidade Federal de Santa Catarina
(www.eps.ufsc.br).

Este texto possui algumas características:

Foi concebido, desde sua primeira cogitação, para ser lançado no mundo digital. Nunca se
pensou nele como um livro de "átomos", mas sempre como de "bits";

É fruto de intensas discussões científicas travadas durante as aulas do curso com o mesmo
nome, ministrado no Programa da pós-graduação em engenharia de
produção e sistemas da Universidade Federal de Santa Catarina, nas áreas de concentração
"inteligência aplicada" e "mídia e conhecimento";

Possui em certo descompromisso com a metodologia tradicional de apresentação de obras,


em razão de ter sido pensado e realizado em meio digital. Como os
endereços eletrônicos dos autores constam dos textos, qualquer dúvida de ordem
metodológica, referente a fontes de pesquisa e assuntos similares, pode
ser dirimida diretamente com os mesmos, que são responsáveis pelo conteúdo dos
respectivos textos;

Possui um perfil multidisciplinar, pois as discussões foram travadas em ambiente com tal
característica, em grupos de pesquisa que nunca estiveram restritos
aos círculos do mundo jurídico. Isso ocorreu porque o tema central não pode, e nunca
poderá, ser considerado como propriedade acadêmica de um único e específico
ramo da ciência, seja ele o direito, a engenharia ou a computação. As soluções científicas
para a sociedade hipercomplexa do novo milênio virão da multidisciplinariedade;

Os textos aqui reunidos tratam de aspectos técnicos sobre o desenvolvimento de


ferramentas para a tecnologia da informação jurídica, bem como das implicações
jurídicas, éticas e políticas delas decorrentes.

E se você está lendo estes "bits", é porque está engajado no mundo digital. De nossa parte,
escolhemos este caminho porque temos apreço pela vida digital
e pela facilidade que ela apresenta para este simples ato de divulgação científica.

Florianópolis, 12 de outubro de 2000.

Hugo Cesar Hoeschl, Msc, Tania Cristina D`Agostini Bueno, Msc, e Marcilio Dias dos
Santos, Msc – Organizadores.

Lourdes da Costa Remor, Fábio André Chedid Silvestre, Eduardo Marcelo Castela, Orly
Miguel Scheitzer, Marco Antonio Machado Ferreira de Mello, Walter Felix
Cardoso Junior, Antonio Carlos Facioli Chedid, Ione Maria Garrido Lanziani e Márcio
Humberto Bragaglia – Autores.

Ricardo Miranda Barcia, PhD – Orientador

ELEMENTOS PARA APLICAÇÃO DE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NO DIREITO


Hugo Cesar Hoeschl

digesto@digesto.net

1. Introdução

As técnicas que constituem a tecnologia da informação, principalmente a telemática e a


internet, a inteligência artificial e a realidade virtual, oferecem
a possibilidade de desenvolvimento de diversas ferramentas que vão facilitar as tarefas
diárias de formação e aplicação do direito. A instalação de redes,
a emissão de sinais, a comunicação a distância, o desenvolvimento de "softwares"
específicos, a aplicação da telepresença, entre outras atividades, estão
entre as muitas a serem desenvolvidas no cotidiano dos trabalhos jurídicos.

Serão dedicadas algumas linhas aqui às possibilidades oferecidas pela inteligência


artificial e algumas de suas técnicas, comparando-as, quando possível,
a figuras tradicionais do raciocínio jurídico, como, por exemplo, a analogia.

Veja-se, então, uma visão, introdutória e superficial, sobre como possa ser definida a
inteligência artificial (1):

" Inteligência artificial - artificial intelligence

O campo da ciência da computação que busca aperfeiçoar os computadores dotando-os de


algumas características peculiares da inteligência humana, como a capacidade
de entender a linguagem natural e simular o raciocínio em condições de incerteza.

Muitos pesquisadores da inteligência artificial admitem que a IA falhou em alcançar seus


objetivos, e os problemas que impedem seu avanço são tão complexos
que as soluções podem demorar décadas - ou até séculos. Ironicamente, as aplicações da
Inteligência artificial que, antes, eram consideradas as mais difíceis
(como programar um computador para jogar xadrex ao nível dos grandes mestres)
acabaram sendo produzidas com razoável facilidade, e as aplicações consideradas,
a princípio, como mais tranqüilas (como a tradução de Idiomas) têm-se mostrado
extremamente complicadas.

Contudo, as tentativas de dotar os computadores de inteligência foram, sob certos


aspectos, compensadoras: elas comprovaram a quantidade inacreditável de
conhecimentos que os seres humanos utilizam em suas atividades cotidianas, como
decodificar o significado de uma frase falada. Douglas Lenat, pesquisador
de inteligência artificial que está tentando transportar para o computador uma boa parte de
seus conhecimentos de vida, assinala que o computador não consegue
decodificar plenamente nem trabalhar com frases como 'Sr. Almeida está em São Paulo'
sem antes registrar uma infinidade de informações como 'Quando uma
pessoa está numa cidade, seu pé esquerdo também está na cidade'. Se, algum dia, você já
acordou preocupado com a possibilidade de que os computadores estivessem
ficando mais Inteligentes que os seres humanos, este exemplo servirá para tranquilizá-lo".

Fazer uso dessa técnica e tentar desenvolver uma ferramentas computacionais dotadas de
lógica, para auxiliar na tarefa do estudo de dados jurídicos, envolve
um trabalho dificultoso, qual seja, analisar a forma escolhida pelo homem para se
comunicar e materializar suas normas: a codificação da palavra em símbolos
abstratos e rigorosas regras gramaticais.

Tal sistemática é relativamente recente, levando-se em conta a existência humana, e, até a


idade média, ainda estava limitada aos padres e eruditos. Eles
entendiam a codificação, e a maioria das pessoas era analfabeta (2). Nos dias de hoje, o
número de analfabetos ainda é grande e ainda é relativamente restrito
- embora não tanto quanto antes - o universo daqueles que realmente dominam a técnica
da escrita.

Vale lembrar que "a invenção e a difusão da técnica da escritura, somada à compilação de
costumes tradicionais, proporcionam os primeiros códigos da Antiguidade,
como o de Hamurábi, o de Manu, o de Sólon e a Lei das XII Tábuas"(3).

Naqueles tempos, no surgimento das primeiras codificações, estava em curso a maior


mudança do direito ao longo de sua história, quando se passou a considerar
a escrita um mecanismo superior à memória das pessoas para a armazenagem das
normas(4), pelo simples fato de ser uma técnica mais segura. Isso modificou
profundamente o direito e as formas de organização social, e os grandes sábios, líderes e
tiranos deixaram de ser a fonte do direito, passando a ser intérpretes.

Ou seja, o surgimento de uma nova técnica de comunicação e registro de informações foi


o responsável pela maior mudança até então registrada no universo
jurídico, e não, ao contrário do que se possa imaginar inicialmente, a discussão de novos
temas que foram surgindo com o passar dos anos.

Então, dada a posição atual da escrita nas formas de estruturação e armazenagem dos
comandos do direito, o estudo e desenvolvimento de qualquer sistemática
de tratamento automático e inteligente das informações jurídicas envolve, basicamente,
duas tarefas: 1. O TRATAMENTO DA LINGUAGEM NATURAL; 2. A BUSCA DE
NOVAS TÉCNICAS DE ARMAZENAGEM.

Na primeira, é necessária a estruturação de um mecanismo que faça uma leitura de textos


e, devidamente orientado, identifique uma série de características
relevantes para o utilizador, em algumas etapas específicas. Deve buscar referências
superficiais e estáticas, como datas, nomes, números, etc. Deve identificar
assuntos, temas e subtemas. Deve, igualmente, detectar conclusões e lições, destacando-
as. Além, é claro, de outras funções.

Na segunda tarefa, cabe indagar sobre o retorno às origens da linguagem. Explicando: as


primeiras formas de escrita eram pictográficas, e, no âmbito computacional,
o desenvolvimento de linguagens e interfaces está nos permitindo o uso de ícones (formas
pictográficas) (5), um meio de comunicação mais confortável e
prático do que a ortografia.

Isso está nos permitindo idealizar um avanço significativo na comunicação, segundo o


qual "textos escritos vão dar lugar a imagens mentais que apresentam
tanto objetos reais quanto simbólicos e enfatizam a interação e a experiência em
detrimento do aprendizado passivo." (6) (Destacado do original).
2. Inteligência artificial X inteligência natural

No sentido de se buscar, no plano prático, essa evolução anunciada, tem-se um poderoso


referencial: a interseção entre a inteligência natural - IN - e a
inteligência artificial - IA -, onde é possível tentar conciliar a velocidade de
processamento da segunda e a sofisticação da primeira, como apontou EPSTEIN
(7).

A inteligência artificial, dentro do contexto ora delimitado - sem prejuízo da definição já


apresentada - pode ser entendida também, em uma ótica ainda
bastante primária, como "o conjunto de técnicas utilizadas para tentar realizar autômatos
adotando comportamentos semelhantes aos do pensamento humano",
como apontou MORVAN (8).

Sabemos que a IN perde para a artificial na capacidade de busca e exame de opções, mas
é superior em tarefas refinadas e perceptivas, como fazer analogias
e criar metáforas.

Assim, um mecanismo que combine técnicas de IN e IA, buscando uma adequada


manipulação da linguagem natural, permite a identificação de idéias dentro de
um texto jurídico.

Porém, é importante enfatizar que um passo no sentido de se buscar, no corpo de um


escrito, aquilo que uma pessoa "pensou", ou seja, suas idéias e conclusões,
está teleologicamente ligado ao desejo de se buscar aquilo que uma pessoa realmente
"sentiu" ao analisar o tema sobre o qual escreveu.

3. Figuras de raciocínio

Vale frisar que a inteligência artificial é uma figura típica da tecnologia da informação,
praticamente moldada por ela. Para o delineamento da interseção
apontada, vamos destinar breve atenção a algumas figuras ligadas à inteligência natural,
como o raciocínio analógico, pré-existente aos computadores (9):

Raciocínio analógico – analogical reasoning

Uma forma de conhecimento na qual a dinâmica de um fenômeno do mundo real – como


a aerodinâmica de um avião que se pretende construir – é compreendida a
partir do estudo de um modelo do fenômeno. Uma das maiores contribuições da
informática foi reduzir o custo (e aumentar a conveniência) do raciocínio analógico.

"O raciocínio analógico era comum antes do cumputador, conforme atesta o uso de
maquetes de aviões em túneis de vento. Como reduzem muito o custo do raciocínio
analógico, os computadores provocaram uma verdadeira explosão de descobertas
analógicas – e, a propósito, no tempo certo. Os cientistas admitem, cada vez
mais, que a maioria dos fenômenos do universo não se caracteriza pelas simples relações
do tipo f=ma que distinguem as grandes descobertas da física; pelo
contrário, os sitemas complexos – como o sistema imunológico humano, as sociedades
humanas, a ecologia, o clima do mundo e a interação das estruturas cosmológicas
de grande escala – se caracterizam por um comportamento não-linera e caótico, que não
pode ser descrito por equações simples. Esses sistemas não podem
ser entendidos por outros meios que não o raciocínio analógico. Ao permitir que a
humanidade crie modelos analógicos de abrangência sem precedentes, os
computadores possibilitaram o surgimento de uma nova ciência: a ciência da
complexidade".

Esse instituto, anterior aos computadores - como já dito - foi adequadamente incorporado
pela tecnologia da informação, assim como o raciocínio baseado
em casos. É claro, sabemos, o raciocínio baseado em algum caso é algo quase tão velho
quanto o hábito humano de "andar para a frente". Porém, aqui se trata
de uma nova ferramenta da inteligência artificial que utiliza tal nomeclatura, podendo ser
definida como uma "metodologia", que tem como característica
básica buscar em experiências passadas a melhor solução para uma situação atual,
aplicando o conhecimento já consolidado e cuja eficácia já foi validada.

Tais procedimentos, derivados da tecnologia da informação, possuem semelhança


evidente com uma tradicional figura do raciocínio jurídico, a analogia, um
dos mais eficazes e pertinentes instrumentos de integração dos comandos do direito.

Segundo Bobbio (10):

"Entende-se por ‘analogia’ o procedimento pelo qual se atribui a um caso não-


regulamentado a mesma disciplina que a um caso regulamentado semelhante. .

...............

"A analogia é certamente o mais típico e o mais importante dos procedimentos


interpretativos de um determinado sistema, normativo: é o procedimento mediante
o qual se explica a assim chamada tendência de cada ordenamento jurídico a expandir-se
além dos casos expressamente regulamentados." (Destacado do original)
.

A noção é de utilidade indubitável, e a delimitação da análise da semelhança, ponto de


contato entre os casos, é necessária (11):

"Para que se possa tirar a conclusão, quer dizer, para fazer a atribuição ao caso não-
regulamentado das mesmas conseqüências jurídicas atribuídas ao caso
regulamentado semelhante, é preciso que entre os dois casos exista não uma semelhança
qualquer, mas uma semelhança relevante, é preciso ascender dos dois
casos a uma qualidade comum a ambos, que seja ao mesmo tempo a razão suficiente pela
qual ao caso regulamentado foram atribuídas aquelas e não outras conseqüências."
(Destacado do original).

Outras figuras assemelham-se ao contexto apresentado, como a interpretação extensiva e


o silogismo., com as quais não pode ser confundida. O silogismo possui
um mecanismo vertical de obtenção de conclusões, enquanto a analogia e a interpretação
extensiva se valem de um recurso horizontal. Mas, mesmo que próximas
e horizontalizadas, analogia e interpretação extensiva possuem significativa diferença
entre si, apontada pelo mesmo autor (12):

"Mas qual é a diferença entre analogia propriamente dita e interpretação extensiva? Foram
elaborados vários critérios para justificar a distinção. Creio
que o único critério aceitável seja aquele que busca colher a diferença com respeito aos
diversos efeitos, respectivamente, da extensão analógica e da
interpretação extensiva: o efeito da primeira é a criação de uma nova norma jurídica; o
efeito da segunda é a extensão de uma norma para casos não previstos
por esta".

Esta sutil diferença provoca um forte impacto sobre a atividade de construção e


modelagem de sistemas inteligentes na área jurídica, visto que a proposta
não é a construção de sistemas que gerem normas, mas que facilitem a sua aplicação (por
enquanto...).

A comparação dos institutos nos demonstra a importância da análise dos processos


lógicos estruturados em torno do raciocínio de uma área específica, e nos
demonstra, também, que a lógica tem muita contribuição a oferecer à inteligência
artificial, residindo justamente aí um dos mais fortes aspectos favoráveis
da interseção apontada entre IA e IN.

4. Conclusão

O somatório dos instrumentos, espera-se, produzirá bons resultados, e o comparativo tem


a finalidade de demonstrar tal possibilidade, bem como a viabilidade
das interseções, tando da IA com a IN, como das figuras de raciocínio derivadas da
tecnologia da informação com aquelas particulares ao universo jurídico.

Por fim, é certa a necessidade de atenção à produção de ferramentas, enfatizando que tal
atividade - que gerará novos métodos e técnicas de armazenamento
e manipulação de informações - embora não seja diretamente ligada à ciência jurídica, vai
provocar fortes reflexos sobre o direito e a justiça, como a
escrita o fez.

Referências:

1.-PFAFFENBERGER, Bryan. Dicionário dos usuários de micro computadores, p. 347.

2.-Conforme afirmação de Francis HAMIT, in "Realidade virtual e a exploração do


espaço cibernético", p. 36.

3.-A assertiva é de WOLKMER, in "Fundamentos de história do direito", p. 20.

4.-Cf. SUMMER MAINE, citado por WOLKMER, ob. Cit., p. 20.

5.-Segundo constatação de HAMIT, ob. cit., p. 36.

6.-HAMIT, ob. cit., p. 226.

7.- IN "Cibernética", p. 81.

8.-Citado por EPSTEIN, ob. cit., p. 66.

9.-PFAFFENBERGER, Bryan.Ob. cit., p. 572.


10.-BOBBIO, Norberto. Teoria do ordenamento jurídico, p. 151.

11.-BOBBIO, Norberto. Teoria do ordenamento jurídico, p. 151.

12.-BOBBIO, Norberto. Teoria do ordenamento jurídico, p. 151.

Proteção dos Direitos Autorais na Internet: uma questão jurídica ou tecnológica?

Lourdes de Costa Remor

lu@saude.sc.gov.br

Universidade Federal de Santa Catarina

Estrutura:

1 - A Internet e a internacionalização dos direitos autorais

2 - Histórico

3 - Proteção legal dos Direitos autorais na Internet: a difícil aplicabilidade

4 - Proteção Tecnológica dos Direitos Autorais na Internet: a difícil aplicabilidade

Exemplos de países que possuem proteção legal e tecnológica

5 - O futuro do direito autoral na internet - uma questão legal

6 - Conclusão

7 - Bibliografia

1 - A Internet e a internacionalização

dos direitos autorais

A experiência tem nos mostrado que a mudança ou a necessidade de mudanças gera não
só desconforto, mas quase o pânico. Hoje, um dos meios que está propiciando
e acelerando a mudança ou a passagem do mundo pós industrial para o mundo da
informação é essa rede, chamada internet. A internet ou o ciberespaço derrubou
fronteiras territoriais com suas características peculiares, sem dono, sem espaço, sem
bandeira, sem controle, até num certo anonimato. Tais características
têm gerado preocupações relativas aos direitos autorais, devido aos atributos da
virtualidade da rede e também de seus usuários.

A inexistência de controle da rede, se por um lado, parece prejudicial ao autor, por outro,
pode ser-lhe benéfica, na medida em que consiste numa divulgação
das obras com rapidez, abrangência e baixo custo. Pode-se pensar que o aparente prejuízo
seria, em muito, compensado pelas vantagens da propaganda.
A internet nasceu sem pai e leva consigo as marcas desse parto, como a essência mesma
de seu processo. Um arranhão aí poderia descaracterizar, ou mesmo
impossibilitar o uso da rede, pois o usuário já está habituado a essa relativa liberdade, e o
seu sucesso talvez dependa disso.

Contudo, essa relativa liberdade proporcionada pela virtualidade e um certo anonimato,


não foi a causa das violações relativas aos direitos autorais, visto
que, a pirataria (atividade de copiar sem nenhuma autorização nem pagamento) praticada,
hoje, não é privilégio ou malefício único da internet. Ela existe
tanto dentro quanto, fora da internet.

Sabe-se que o prejuízo patrimonial, referente à infração do direito autoral, nos casos de
pirataria, é muito maior para o atravessador do que para o autor.
Nessa discussão, o direito moral da propriedade parece não ser muito considerado.

O plágio, outra preocupação relativa à difusão de obras na internet é considerado também


uma violação do direito autoral. Tanto o plágio como a pirataria
não são frutos da internet. Combatê-los, preservando o direito do autor, deveria ser uma
preocupação de longo tempo e não somente direcionado à internet

Henrique Gandelmann, cita que "vários estudiosos de literatura confirmam que


Shakespeare, em sua dramaturgia, utilizava temas e personagens e até mesmo
a linguagem expressa nos diálogos, de outros autores, alterando seus textos, criando os
personagens que já existiam." [Gandelmann, 1997, p.48]

"Pesquisas recentes comprovam que Galileu utilizou, em seus trabalhos, anotações


provenientes de seus professores do Colégio Romano, que ele freqüentou."[Gandelmann,
1997, p.48.]

Como pensar o conceito de criação atribuído ao autor? O autor é quem criou, inventou ou
descobriu? Jacques Lacan, em seu seminário 23, trata da criação
como sendo a "chamada divina". É senso comum entre os psicólogos que o que se chama
criatividade, não passa de uma imprecisão fraseológica, de que, a rigor,
a criatividade não existe. Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, traz no verbete criador,
como substantivo masculino: aquele que criou; Deus, entre outras.
Portanto esse conceito parece mais ligado a ordem do divino do que a do humano. Assim,
na impossibilidade de considerar o autor como criador, pode se pensar
que tamanho rigor com relação ao plágio, deveria merecer maior atenção, visto que,
supostamente, na natureza nada se cria, conforme o célebre dito de Lavoisier.

Com referência à contrafação, ou seja, a falsificação de produtos, de valores, assinaturas,


ela já existe e é combatida legalmente fora da internet. O delito
aqui citado continua sendo o mesmo, o que mudou foi o meio em que ele é praticado, ou
seja, o meio virtual, que dificultou a sua localização, identificação
e conseqüente aplicação da lei.

Há legislações, brasileira e internacional, os chamados Tratados Internacionais, que tratam


exclusivamente dos direitos autorais. Criar outras leis ou acordos
não acrescentariam maior proteção aos direitos autorais. A questão não é falta de
legislação é aplicabilidade destas leis na virtualidade dos meios.
A Lei Brasileira do Direito Autoral, Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998, concede
proteção legal ao direito autoral, independente de registro, bastando
para tal, a obra ser fruto de capacidade criativa e tenha o requisito da originalidade.

Quanto aos Tratados Internacionais, "A legislação autoral cobre qualquer meio de
comunicação, existente ou que venha a ser inventado, ressalvando assim
o aspecto legal dos direitos autorais. Ela tem como referência e objeto as obras de espírito,
seja qual for o meio de fixação e transmissão, tendo vocação
universal, amparada em convenções que envolvem todos os paises do mundo."[Plínio
Cabral, 1999]

O Brasil faz parte de importantes Tratados Internacionais. E, por esse motivo, os direitos
autorais, no Brasil, do ponto de vista legal, teoricamente não
esbarrariam com o ilimitado espaço territorial alcançado pela internet.

2 - Histórico

O surgimento de problemas ou preocupações relativos aos direitos autorais é bastante


antigo.

Nos tempos romanos as obras eram reproduzidas por meio de manuscritos, e apenas os
copistas eram remunerados pelo seu trabalho. Aos autores só lhe eram
reconhecidas honras e glórias quando lhe respeitavam a paternidade e a fidelidade do
texto original. Havia o direito natural referente as obras.

Com a invenção da impressão gráfica, no século XV, surge o problema da proteção


jurídica do direito autoral, principalmente no que se refere a remuneração.[Gandelmann,
1997, p.28.]

Na Inglaterra, desde 1662, com Licensing ACT, era proibida a impressão de qualquer
livro não registrado devidamente. Era uma forma de censura.

O copyright começa a ser reconhecido na Inglaterra com o "Copyright ACT", de 1709, da


rainha Ana. A coroa protegia por 21 anos, as cópias impressas e por
14 anos as cópias não impressas. O prazo de proteção contava da data da impressão.
[Gandelmann, 1997, p.29.]

Na França, a revolução francesa de 1789, acrescenta a primazia do autor sobre a obra. A


Proteção se estende por toda a vida do autor, e até mesmo após a
sua morte, transferindo-se todos os direitos para seus herdeiros. [Gandelmann, 1997,
p.30.]

No Brasil, a primeira manifestação a respeito encontra-se na Lei de 11 de agosto de 1827,


que instituiu os cursos jurídicos no Brasil.

Em 1830, com a promulgação do direito criminal, surgiu a primeira regulamentação geral


da matéria , no Brasil.[Gandelmann, 1997, p.31.]

Tratados Internacionais: "A dramática e dinâmica explosão tecnológica dos meios de


comunicação do mundo moderno, com a difusão das obras intelectuais cada
vez mais internacionalizada, criou a necessidade de se proteger o direito autoral em todos
os territórios do planeta. Tal fato deu origem aos tratados
internacionais, nos quais se busca dar aos autores e titulares dos paises aderentes aos
convênios a mesma proteção legal que cada país dá a seu autor ou
titular nacional." [Gandelmann, 1997, p.33.]

3 - Proteção legal dos Direitos autorais na Internet:

a difícil aplicabilidade

A veiculação e divulgação de informação de alcances territoriais ilimitados chegou com a


criação da internet. Com ela também chegaram alguns problemas.
Um deles seria a garantia dos direitos autorais num veículo sem território.

Para Stuber "A territorialidade sempre foi um dos elementos essenciais para a aplicação
do Direito, sendo um dos princípios da Soberania dos Estados contemporâneos,
o reconhecimento do poder de aplicação do direito nacional de um Estado, dentro de seu
próprio território."

A descentralização é uma das características da internet, já que não existe um órgão que
controle o fluxo, nem o conteúdo das informações que circulam pela
rede. A informação pode ser lançada na rede, passar por vários servidores e percorrer
vários paises até chegar no destinatário final.[ Stuber, 1998]

Daí surgem as dúvidas sobre a responsabilidade das violações dos direitos autorais na
internet, tais como: a responsabilidade das violações é do servidor
de acesso, ou de quem incorpora conteúdo e os transmite? É possível que o servidor, no
qual o conteúdo pirateado esteja armazenado, se localize em determinado
país; o servidor por cujo intermédio ele é anunciado, em outro; e o vendedor, num
terceiro. [Gandelmann, 1997, p.162.]

Na Web, a identificação só é possível para o provedor e seus clientes, mas o usuário


mesmo pode ser qualquer pessoa física ou jurídica, em qualquer lugar
do mundo. A Compuserve, talvez o maior provedor de acesso do mundo, foi obrigada a
desconectar cerca de 200 clientes da rede porque veiculavam matéria
pornográfica, por decisão de um tribunal alemão. [Gandelmann, 2000]

Ainda que não garantam a proteção dos direitos autorais, devido as características da
internet, existem os tratados internacionais que tratam de legislação
específica no esforço de cobrir o maior espaço territorial possível.

"A adesão de vários paises aos tratados internacionais sobre a proteção dos direitos
intelectuais, dentre eles, os mais importantes, a Convenção de Berna
de 1886 (obras literárias e artísticas) e a Convenção Universal dos Direitos do Autor
(Convenção de Genebra), os direitos autorais recebem um tratamento
mais ou menos homogêneo em todo o mundo." [STUBER, 1998]

"É necessário, no entanto, que os paises aderentes aos tratados internacionais, além das
adaptações que os mesmos estão a exigir, façam também alterações
nas suas legislações internas. Só assim os titulares de direitos autorais de um determinado
país terão os seus direitos assegurados nos outros, e vice-versa."
[GANDELMAN, 1997, p.164.]

No Brasil, a proteção legal aos direitos autorais é abrangente - basta que a obra tenha o
requisito da originalidade, que seja produto da capacidade criativa
do artista, para merecer a proteção dos direitos autorais. Por exemplo, nos Estados
Unidos, há a exigência do registro da obra para que ela tenha proteção
jurídica.[Stuber, 1998]

A não exigência de registro da obra para a concessão do direito autoral no Brasil é de


certa maneira, uma medida inteligente e que vale pensar para a proteção
na internet.

O fato da ausência do registro da obra, nunca tirou do autor a primazia de seu direito,
visto que, mesmo das obras antigas, conhecemos seu autor, ainda
que criadas antes da impressão gráfica.

A disponibilização de obras, na forma digitalizada, não retira o direito da sua autoria, ela
continua a ter vigência no mundo on line da mesma maneira que
no mundo físico, embora o autor levanta um aspecto sobre a definição jurídica da
transmissão eletrônica de obras protegidas pelos direitos autorais, se
ela é uma reprodução ou distribuição? [Gandelmann, 1997, p.154 e 162]

4 - Proteção Tecnológica dos Direitos Autorais na Internet:

a difícil aplicabilidade

Além das leis existentes e em vigor, existem outras formas de proteger o direito autoral,
na internet. São medidas tecnológicas, que dificultariam o acesso
do usuário às informações. Uma delas seria a "utilização de 'tatuagens' do objeto digital,
um tipo de marca ou sinal que acompanhe o objeto digital e seu
conteúdo de forma a permitir a verificação de novas cópias, adaptações, transmissões,
etc."[Santos, 1999]

A Elaboração de códigos de acesso às informações, as chamadas "chaves" eletrônicas,


sem as quais o receptor não poderá ler ou reproduzir, é uma outra forma.

Criptografia, uma escrita enigmática, permite codificar uma informação de forma a tornar
difícil sua decodificação sem a chave adequada.

Uma outra medida seria, inserir no material disponível na rede, mensagens evidenciando a
necessidade do pagamento dos direitos autorais, no caso de uso
e reprodução (acordo de cavalheiros).[Stuber, 1998]

Levantam-se questões: essas medidas tecnológicas não atentam contra a liberdade de


informação? A essência mesma da internet não estaria na característica
da liberdade individual mais do que na do controle, já que não tem dono, nem patrões,
nem controladores?

Se reproduções sem permissões acontecem fora da internet, porque acreditaríamos que ela
funcionaria para a internet?
Podemos perguntar sobre a legalidade da exigência de que todo usuário de criações
intelectuais disponibilizadas no ambiente digital, seja obrigado a se
identificar, e que os objetos digitais assim fornecidos, possam ser posteriormente
localizados, sem se ferir o direito à privacidade do cidadão? [Santos,
1999]

Manoel Pereira dos Santos cita a sustentação de alguns sobre a inexistência de tecnologia
segura que permita associar aos arquivos digitais, licenças e
condições de uso que subsistam após a disponibilização digital da obra, de forma a
controlar usos derivados posteriores. Acrescenta ainda que há uma tendência
no sentido de priorizar as medidas legais como a melhor forma de combater os usos não
autorizados, na rede. [Santos, 1999]

Exemplos de países que possuem proteção legal e tecnológica

(Comércio eletrônico)

Irlanda : Existe proteção legal e tecnológica, no comércio eletrônico

Legal: O regime de comércio eletrônico da Irlanda é muito flexível e orientado para o


consumidor doméstico tanto quanto as empresa. A abordagem utilizada
na legislação e regulação das atividades de comércio eletrônico foi pautada por um
critério de "neutralidade tecnológica", ou seja, um regime que permitisse
a rápida adoção das transações comerciais via internet através da validação de assinaturas
eletrônicas. Contratos e assinaturas realizadas via internet,
são cobertos por legislação formal que dá plena garantia aos termos firmados,
assegurando os negócios conduzidos pelas empresas do ramo.

Tecnológica: Através da criptografia. A orientação adotada foi balançar 4 elementos


cruciais na questão da privacidade da informação.

1 - A preservação dos direitos individuais à privacidade

2 - A necessidade de garantir a segurança nas comunicações

3 - As exigências das Agências governamentais

4 - O desenvolvimento da indústria criptográfica na Irlanda.

Assim, a regulação irlandesa garantiu aos indivíduos a capacidade de escolherem o


método de criptografia preferido, permitindo a produção, implantação e
o uso de produtos criptográficos sem quaisquer restrições legais.

A exportação de produtos criptográficos é regulada por sua vez, de acordo com a


legislação da união européia, de modo que o regime jurídico adotado na Irlanda
segue o chamado "Acordo de Wasenaar", que regula a proteção da privacidade nas
transações eletrônicas em toda a Europa.[Camarero, 2000]

Alemanha: Nos Estados Unidos, a assinatura digital já foi reconhecida, agora a Alemanha
reconhece a validade jurídica das assinaturas eletrônicas na internet,
16/08/2000 - Berlim. Os contratos firmados no comércio eletrônico, através da internet,
terão a mesma validade legal na Alemanha que os contratos comerciais
impressos, segundo um projeto de lei aprovado esta quarta- feira, pelo governo. (Esta
notícia circulou no UOL, em 16/08/2000)

5 - O futuro do direito autoral na internet - uma questão legal

O futuro sempre é desconhecido. Entretanto, é de se pensar no que houve com a invenção


da fotocópia. Falava-se, à época, que o comércio dos livros seriam
prejudicados, ou até que a maioria das obras seriam apenas reproduzidas, sendo que os
direitos autorais estariam correndo grave perigo. A situação da fotocópia,
por baixos preços, se instalou, proliferou e, hoje foi superada pelo computador, antes
mesmo de ser resolvida. Será este também o destino dos direitos
autorais na internet?

Outro fato, levantado por alguns autores, é de que a cópia ou a reprodução de obras
acessadas gratuitamente, via internet, poderá diminuir a produção intelectual.
Isso não parece fazer sentido, posto que a reprodução intelectual já era possível por outros
meios e nunca desfavoreceu a produção. Uma talvez menor margem
de lucro poderia ser compensada pela propaganda. Vale lembrar que o conhecimento
difundido se reproduz, e não diminui.

Quanto à proteção do direito autoral, a aplicação da legislação existente, parece, no


momento, não ser suficiente, contudo ela seria a mais adequada visto
que a aplicação de mecanismos tecnológicos que propiciem um alto grau de segurança
podem traduzir também um alto custo. Isto posto, o encarecimento do
processo, inviabilizaria a difusão da informação e descaracterizaria a essência da internet.

6 - Conclusão

O homem, diferentemente dos animais, é dotado de razão, mas em situações conflitantes


age de maneira irracional, às vezes imprevisível. O surgimento das
questões do direito autoral na internet tem levado o homem a pensar nas diversas
maneiras de proteger esse direito, esquecendo de priorizar a legislação
existente, que já concede ao autor essa proteção.

Essa preocupação exacerbada em controlar, mais do que uma defesa de direitos, mostra-se
uma imposição de poder. É mesmo de se estranhar, que o homem no
seu narcisismo, suportasse por um período de tempo significativo uma rede de
comunicação na qual não houvesse hierarquia vertical, onde não houvesse comandantes
e comandados subordinados. Por isso a caricata preocupação de saber quem controla, de
não entender que o mundo virtual não está em nenhum lugar e ao mesmo
tempo está em todos os lugares, é realmente conflitante com a sua soberba. O homem
parece não conviver bem com enigmas e abstrações, é avesso ao que não
compreende, por não admitir que existam coisas além da sua capacidade de compreensão.

Se o mundo do Direito concede proteção ao autor, das obras difundidas na internet,


porque o bloqueio tecnológico, que descaracterizaria a rede? Segundo
Domenico De Masi, há perigos no progresso tecnológico, porém pesam mais os seus
aspectos positivos.[De Masi, 2000, p.77.]
A grande incógnita relativa aos direitos autorais é se ela emana dos autores ou do
chamado atravessador, que deixaria de ter grandes margens de lucro, por
intermediar as vendas.

A história mostrou que, independente de registro, proteção legal ou tecnológica, o


reconhecimento moral do direito autoral sempre existiu. Parece que a
preocupação em proteger os direitos autorais é meramente comercial. Outras vantagens,
outros meios haverão de ser reconhecidos que compensarão a aparente
perda causada pela internet.

Não seremos nós, a nossa geração, o retrocesso da tecnologia.

7 - Bibliografia

1. CABRAL, Plínio. "Problemas relativos a direitos autorais na obra multimídia". In:


Revista da ABPI, nº 42, set/out/99. p.38-47.

2. CAMARERO, Erik. "Todo mundo fala em internet, mas a Irlanda faz".


www.revistadigital.com.br/radar/06012000.htm, 06/01/2000, em 10/07/2000.

3. DE MASI, Domenico. O Ócio Criativo. Rio de Janeiro: Sextante, 2000.

4. GANDELMAN, Henrique. De Gutemberg à Internet: direitos autorais na era digital.


Rio de Janeiro: Record, 1997.

5. GANDELMAN, Sílvia Regina Dain. A Propriedade intelectual na era digital - a difícil


relação entre a internet e a lei. In: WWW.gilbertogil.com.br/humus/hu_sg.htm,
em 18/08/2000.

6. LACAN, Jacques. Seminário 23. El Sinthoma. "El sínthoma y el padre". Classe 1, de


18/11/75. Inédito.

7. SANTOS, Manoel J. Pereira. "A proteção e o exercício dos direitos autorais sobre obras
intelectuais e fonogramas no comércio eletrônico". In: Revista
da ABPI, nº 42, set/out/1999. p.48-59.

8. STUBER, Walter Douglas e FRANCO, Ana Cristina de Paiva. "A Internet sob a ótica
jurídica". In: RT 749. v. 749, mar/98. p. 60-81.

Direito, Tecnologia e Qualidade

Tânia Cristina D'Agostini Bueno

bueno@eps.ufsc.br

"O nosso universo intelectual comum entrou num processo de fuga, de rejeição do mundo
romântico e irracional do homem pré- histórico. Desde antes de Sócrates
foi necessário rejeitar as paixões, as emoções, para liberar o raciocínio, com o objetivo de
compreender a ordem da natureza, até o momento desconhecido.
Agora é tempo de aprofundar o conhecimento sobre a ordem natural, através da
recuperação daquelas paixões, originalmente rejeitadas. As paixões, as emoções,
e o universo afetivo da consciência humana também fazem parte da ordem natural. Aliás,
são o cerne dessa ordem". Robert Pirsig

Resumo

A perfeição atingida pelos cérebros eletrônicos a muito tempo saiu das páginas da ficção
científica e está sendo absorvida pela realidade. Banco de dados,
sistemas especialistas e principalmente a inteligência artificial estão contribuindo para a
formação de um Poder Judiciário mais célere, eficiente e, seguramente
mais justo. Entretanto, somente a informatização não será capaz de provocar as mudanças
a muito requeridas pela sociedade. É necessário uma atuação mais
efetiva que substituir a máquina de escrever pelo computador, é necessário reestruturar a
Justiça utilizando-se dos novos parâmetros da sociedade tecnológica.
O presente estudo procura apenas apresentar aspectos da questão tecnológica sobre a
mente humana e suas conseqüências para o mundo jurídico, sob a ótica
da conclusão atingida por Robert M. Pirsig, em seu livro "Zen e a Arte da Manutenção de
Motocicletas". Nele o autor joga o impasse filosófico que existe
entre a mente e a matéria para cima daquilo que ele denomina qualidade: "um evento que
torna possível a inter-relação sujeito-objeto, uma ferramenta do
pensamento indispensável para a compreensão do verdadeiro papel da tecnologia na vida
do homem" e, deduz que a visão que o homem tem do mundo - realidade
- não é obtida pelo desenvolvimento do método científico, mas pela visão dessa
"qualidade", que é um "a priori" do qual deriva a mente e a matéria.

Introdução

Existe uma incompatibilidade entre razão e sentimento, que revela algo profundamente
arraigado na mentalidade do homem ocidental, refletindo de uma maneira
negativa no relacionamento entre o homem e a tecnologia, algo que o esta destruindo
lentamente. Descobrir a origem, ou melhor os fundamentos filosóficos
desta crise, é um modo de eliminar aquilo de podre que ainda constitui a mentalidade do
chamado homem "moderno".

Na busca de uma orientação filosófica para a questão e empurrados pelo trabalho recente
na neurociência e na inteligência artificial, filósofos tentam como
nunca, resolver a antiga questão da dualidade corpo e mente, perguntando se há realmente
uma distinção entre ambos e como se processa a interação. A perspectiva
materialista está enraizada na filosofia naturalista: como parte da natureza, os homens são
objetos da ciência e cada fenômeno humano, incluindo a experiência
subjetiva, tem uma causa material. Filósofos como Paul Churchland e Mr. Dennett,
freqüentemente anunciam que o mistério da consciência está resolvido:
o cérebro é para mente, como um computador é para o processamento [The economist,
(1996)]. Inobstante, talvez por respeito a mente, esta perspectiva ainda
é um projeto não um resultado, pois mesmo se a computação prever um bom modelo de
pensamento, poderia ser ele o certo para o sentimento e experiência?
Como poderia a atividade cerebral ser tudo o que existe nos sentimentos de remorso ou
nas sensações de cor? Questões como essas devem ser colocadas com
nova veemência, ou cruéis versões do materialismo serão redescobertas. O objetivismo da
ciência já não serve para resolver questões que o homem sabe serem
reais. É tão falho como qualquer outro processo do conhecimento.
O raciocínio dualista (objetivismo) dominou o homem civilizado de maneira tal, que
quase eliminou as outras opções. E essa é a origem de todas as queixas.

No direito, a visão positivista, ou seja, o direito como ciência jurídica, nos legou um poder
judiciário distante e ineficiente. Este fato que nos levou
a conclusão que a justiça não é simplesmente a aplicação da lei e o juiz não é imparcial na
sua decisão. O universo afetivo que envolve o caso acaba se
manifestando, seja na forma da ideologia dominante, seja em forma de discursos retóricos
que podem ou não ser decisões justas. Então, torna-se primordial
reconhecer que para atingirmos a tão esperada justiça - que muitos buscam nos tribunais,
é necessário dar atenção a este universo afetivo que envolve os
casos. Pois, partindo deste reconhecimento, será possível utilizar as tecnologias
necessárias para a aproximação das pessoas envolvidas na relação jurídica
e tornar o judiciário mais efetivo e eficiente. Este é o primeiro passo para uma visão de
qualidade como resposta para o equilíbrio das relações no universo
jurídico, onde justiça poderá ser sinônimo desta qualidade.

A seguir, veremos como Pirsig busca a "qualidade" e como ela pode trazer soluções para a
estruturação de um papel real e efetivo do direito e da tecnologia
na sociedade.

Razão x sentimento

A lógica tradicional, imposta pela racionalidade do homem ocidental como único modo
para se conhecer a realidade, revelou uma certa incompatibilidade entre
razão e sentimento (corpo e mente), que refletiu de uma maneira direta no relacionamento
do homem com a máquina, impedindo-o de compreender integralmente
o que seja essa tecnologia - não uma exploração da natureza, mas uma fusão entre a
natureza e o espírito humano, numa criação que transcende a ambos.

Quando a lógica tradicional divide o mundo em sujeitos e objetos , está expulsando dele a
qualidade. Então, ao romper com as barreiras do pensamento dualista
para preencher esse vácuo racionalista, Pirsig procurou destruir a base da estrutura do
conhecimento ocidental, construindo um pensamento antiaristotélico.
E é aí, através de uma importante ligação entre as filosofias ocidentais e orientais, entre o
misticismo religioso e o positivismo científico, que ele
encontra uma saída para esse estilo de vida tenso, supermoderno, individualista e egoísta,
que pensa ter dominado o mundo.

Então, utilizando a motocicleta apriorística de Kant - filósofo que ele considera, entre os
montanhistas modernos, aquele que atingiu um dos mais altos
cumes das montanhas do pensamento - Pirsig inicia a sua busca ao conceito de qualidade,
principalmente porque para Kant, a racionalidade de um conhecimento
não reside no objeto que se estuda, mas no modo como se tenta conhecê-lo [Warat,
(1995)].

Na sua tese, Kant considerou os pensamentos apriorísticos independentes dos dados


sensoriais. Infelizmente, Pirsig considera este pensamento dualista a
razão da atual crise social, uma prisão intelectual da qual o raciocínio de Kant também faz
parte, resultado de um defeito genético da razão. Razão que
o homem moderno descobriu ser cada vez mais inadequado para lidar com suas
experiências cotidianas, pois a satisfação de seus desejos não funcionavam de
acordo com as leis da lógica.

Tal relação entre a Qualidade e o mundo objetivo poderia parecer misteriosa, mas não é o
que ocorre, ao colocar a qualidade como a essência da realidade,
desencadeou-se, para Pirsig, uma nova sequência de analogias filosóficas. Hegel já havia
se referido a isso com o seu conceito de Espírito Absoluto, que
também era independente da objetividade quanto da subjetividade, era a origem de tudo,
mas excluiu a experiência romântica desse tudo. A partir daí nada
mudou, e tudo mudou, isto é, mudou-se a visão apriorística, os fatos eram os mesmos,
mas os resultados não. Como aconteceu com a revolução copernicana.

Na busca deste conceito de Qualidade, o autor descobriu vários caminhos que partiam da
vereda principal, levando a um mesmo ponto. Desembocou na Grécia
Antiga.

A grande questão é como adentrar nos universos ultra-racionais, sem o medo de cair no
finisterra, como eliminar a analogia existente entre a razão moderna
e o pensamento medieval da terra chata .

O retorno ao pensamento mítico e a origem da qualidade

Existem questões que preocupam o homem "moderno" mais que outras. Notamos a
incrível evolução tecnológica que surpreende a humanidade, superando aquilo
que é o maior motivo de orgulho do homem, ou seja, a sua racionalidade. Por outro lado,
essa mesma racionalidade se torna cada vez mais inadequada para
lidar com nossas experiências cotidianas, e isso está gerando um ingresso em áreas
irracionais do pensamento - ocultismo, misticismo, experiências com
drogas e coisas semelhantes.

Na sociedade moderna, cada vez mais a tecnologia faz parte do nosso cotidiano, ela
amarra nossas relações e torna-se parte indispensável da nossa vida.
No entanto, subexiste um grande desconforto em relação a essa mesma tecnologia, ao
ponto de gerar um certas pessoas uma completa aversão a qualquer mecanismo
um pouco mais complexo.

Mas, retornemos à Grécia Antiga, ponto no qual encontraremos a base do pensamento


racionalista ocidental, onde iniciou o processo de desligamento entre
a filosofia e o pensamento mítico [Aranha et al, (1993)].

O argumento da preponderância do mythos sobre o logos afirma que a nossa


racionalidade é moldada por lendas, que o conhecimento atual está para essas lendas
assim como uma árvore está para o pequeno broto que já foi. A diferença não está no tipo,
nem na identidade; está apenas nas dimensões.

A Qualidade que Pirsig fala se situa além dos limite do mythos . É a Qualidade que gera o
mythos. "A Qualidade é o estímulo contínuo que nos faz criar o
mundo em que vivemos, na sua integridade, nos mínimos detalhes. O homem inventa
respostas à Qualidade, e entre essas respostas está a compreensão do que
ele mesmo é. Sabe-se alguma coisa, vem o estímulo da Qualidade, a gente tenta trabalhar
com aquilo que já sabe. O estímulo é uma correspondência daquilo
que já se sabe.

A pergunta "o que é qualidade?" havia sido lançada na filosofia sistemática, abrindo um
segundo caminho rumo à Grécia Antiga. A filosofia sistemática é
grega, as origens da dúvida sobre a autenticidade da qualidade tinham que estar
localizadas em algum ponto da Antigüidade grega.

O mundo nem sempre acreditou na superioridade do espírito. A idéia de que a mente é


uma questão de segunda categoria é muito antiga. A crença que a matéria
é a base e a mente veio posteriormente ou sobre o topo era a favorita dos primeiros
gregos. Isto cansou Platão que insistia que aquelas pessoas tinham
almas que sobreviviam à morte do corpo. Aristóteles opôs-se a esta separação entre mente
e corpo, impondo uma potente imagem de uma mente com forma e estrutura,
retornando ao atomismo de Demócrito, que sustentou que a alma era feita de matéria.

Platão desprezava os retóricos. Ao estudar a razão de tal abominação, Pirsig, chegou a


conclusão de que o ódio que Platão voltava aos retóricos fazia parte
de um conflito muito mais amplo, no qual a realidade do Bem, representada pelos sofistas,
e a realidade da Verdade, representada pelos dialéticos, lutavam
sem tréguas pela posse da mente humana. Como a Verdade venceu o Bem, hoje podemos
facilmente aceitar a realidade da Verdade e dificilmente aceitar a da
Qualidade.

Quando se vai apresentar uma idéia nova num ambiente acadêmico, age-se objetivamente,
sem se envolver com ela. Mas a idéia de Qualidade questionava justamente
essa objetividade e esse desinteresse, maneirismos apropriados apenas à razão dualista.
Alcança-se a qualidade dualista através da objetividade; mas com
a qualidade criativa, é diferente.

A voz analítica da razão dualista

Na tradição aristotélica, interpretada pela escolástica medieval, o homem é considerado


um animal racional, capaz de buscar e definir uma vida adequada,
e também de vivê-la . Ao ler Aristóteles, Pirsig concluiu que o mesmo estava
incrivelmente satisfeito com a proeza de identificar e classificar tudo. O
mundo aristotélico começava e terminava com tal proeza. Pirsig adverte: se você entrar
em uma das centenas de milhares de salas de aula de hoje e ouvir
os professores fazerem divisões, subdivisões, estabelecerem relações e princípios e
estudarem "métodos", será o mesmo que escutar o fantasma de Aristóteles,
que fala através dos séculos - voz analítica da razão dualista.

A substância não muda. O método não permanece. Um sistema complexo pode ser
descrito de forma adequada primeiro em termos de suas substâncias: seus subsistemas
e peças que o compõem. Depois, ele é descrito em termo dos métodos: das funções que
desempenha, em ordem.

A qualidade não é uma substância. Tampouco um método. É o objetivo que o método visa
alcançar. Quando tudo se divide em substância e método, assim como
em sujeito e objeto, já não há mais lugar para a Qualidade.
O Direito tornou-se ciência, perdeu-se o sentido da Justiça, o objetivo é a lei. O juiz não
decide mais sobre a vida de pessoas, mas se uma norma se aplica
ou não num determinado caso. Usar recursos tecnológicos onde não há lugar para
sentimentos, é caminhar para as previsões mais cruéis sobre uma sociedade
tecnológica.

O papel da qualidade criativa será criar um ambiente jurídico onde a tecnologia será
utilizada para valorizar o seu humano, diminuindo os entraves burocráticos,
a corrupção e principalmente a incompetência.

Conclusão

Importantes transformações, antes impensáveis pelos teóricos do direito, estão ocorrendo


no mundo jurídico. A tecnologia informática está provocando mudanças
estruturais no ensino do direito, na organização judiciária e, principalmente, em alguns
princípios fundamentais da teoria jurídica, pois os velhos conceitos
jurídicos não serem suficientes para compreender os novos fatos que o complexo mundo
cibernético começam a provocar.

No entanto, a evolução só será possível se a tecnologia informática empregada for


orientada para a busca da qualidade criativa, pois, senão tivermos uma
orientação teórica neste inevitável envolvimento do Direito com a informática, num futuro
não muito distante estaremos a mercê de sistemas informáticos
mal estruturados, no qual os sentimentos de uma sociedade serão considerado de pouca
relevância na elaboração final das leis, sentenças e destino de toda
humanidade.

A "qualidade" poderá ser a ponte de ligação entre o direito e a tecnologia, pois sem
qualidade a tecnologia nada mais é que um amontoado de bits dentro
de um amontoado de peças mecânicas, coisa que, substâncialmente, para quem busca a
Justiça pouco significa.

Bibliografia

PIRSIG, Robert M. Zen e a arte da Manutenção de Motocicletas : uma investigação sobre


valores. Tradução de Celina Cardim Cavalcanti. Rio de Janeiro: Paz
e Terra, 1984.

Science does it with feeling. The economist. july 20th 1996,. p.71 a 73

WARAT, Luis Alberto. O Direito e sua Linguagem.. 2a versão. 2ª ed. Sergio Antonio
Fabris Editor. Porto Alegre. 1995.

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e MARTINS, Maria Helena . Filosofando: introdução


à filosofia. 2ª ed. rev.. SãoPaulo : Moderna, 1993, p.67.

SIGILO, PRIVACIDADE E INTERCEPTAÇÃO NAS COMUNICAÇÕES DE DADOS.

Orly Miguel Schweitzer


orlyms@zaz.com.br

RESUMO

A intensa evolução das comunicações de dados vem apresentando uma constante


necessidade de regulamentação ou de adaptação às normas legais já existentes
em todo o universo, à respeito do sigilo, privacidade, interceptação e ética nas
comunicações de dados. Este artigo aborda como estas questões estão sendo
tratadas no Brasil e em outros países.

INTRODUÇÃO

As comunicações de dados, notadamente pela Internet, avançaram fronteiras entre os


países caracterizando a mundialização das informações virtuais, implicando
na necessidade de medidas regulatórias em cooperação internacional e em organismos de
caráter supranacional. No entanto, considerada a globalização da
informação virtual torna-se difícil a possibilidade de ser conseguido um sistema que
substitua a necessidade de educação, pedagogia e informação dos cidadãos
tanto em relação às implicações de seus atos como em relação aos seus deveres, e ainda
sobre a necessidade de garantir a uns e de observar a outros.

Para tanto, a administração pública federal, estadual, e municipal deverá oferecer


condições de acesso e métodos de obtenção de informações bem como a garantia
do sigilo e privacidade naquelas prestadas aos órgãos públicos pelas pessoas - naturais e
jurídicas - nas informações administrativas pela via eletrônica,
nos procedimentos já existentes. A exemplo de outros países, no Brasil, a legislação
tributária já obriga, ou possibilita em alguns casos, que um grande
número de procedimentos de natureza fiscal e tributária sejam prestados via Internet, tanto
a nível federal como estadual, a exemplo da declaração ao imposto
de renda das pessoas jurídicas e das pessoas físicas, obtenção de certidão negativa federal,
informações econômico-fiscais estaduais, etc.

A interligação entre os diversos órgãos da administração pública através da Internet que


assegure a prestação de informações com as empresas e os cidadãos
deverá garantir o respeito pela privacidade individual, pelos direitos das empresas e
instituições privadas e pela própria segurança do Estado.

Surge então, a necessidade de se criar meios que possibilitem a segurança da informação,


a garantia da privacidade e a possibilidade de cobrança de serviços,
a exemplo, neste último caso, dos cartões bancários. No entanto, há que se assegurar de
que tais medidas não venham se caracterizar em censura.

PROTEÇÃO DO SIGILO E DA PRIVACIDADE NAS COMUNICAÇÕES DE DADOS


DOS INDIVÍDUOS, DAS EMPRESAS E DAS INSTITUIÇÕES, SEM IMPOSIÇÃO DE
CENSURA.

O direito à privacidade, no Brasil, está assegurado na Constituição Federal, em seu artigo


5°, incisos X e XII, que expressam:

"Inciso X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente da sua violação;"

"Inciso XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de


dados, e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso,
por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação
criminal e instrução processual penal;" (o destaque não consta
do texto legal).

No entanto, o mesmo dispositivo legal, expressa outros direitos, que a primeira vista se
contradizem àqueles citados anteriormente, porém, após pequenas
considerações constata-se que não se contrapõem. O mesmo artigo 5° do texto
constitucional, também garante:

"IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;"

"IX- é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica, e de comunicação,


independentemente de censura ou licença;"

Verifica-se que a Constituição Federal, do Brasil, ao garantir direitos impõe


responsabilidades, expressando assim, o consagrado princípio democrático no
qual "o direito de uma pessoa só termina quando inicia o direito de outrem".

A respeito argumenta Gomes Júnior: "Se a vida privada do indivíduo é inviolável, como
admitir que mensagens na Internet possam atingir a honra alheia impunemente?"
1

O doutrinador português JJ. Gomes de Canotilho, ressalta: "não há conflito entre liberdade
de expressão e o direito ao bom nome em caso de difamação". 2

O dispositivo constitucional não inclui em liberdade de expressão (Inciso IV) o direito à


difamação ou injúria (Inciso X).

Os Incisos IV e IX-CF não têm caráter absoluto e irrestrito. Existe a possibilidade de o


Poder Judiciário coibir abusos, inclusive com a proibição de lançamento
de mensagens ofensivas à honra e a imagem de terceiros, sem que caracterize a censura,
porém, deverá haver a iniciativa do ofendido ou de órgãos de proteção
à coletividade como é o caso no Ministério Público. (Inciso "XXXV- a lei não prejudicará
o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;")

O poder do Estado que se fará representar pelo Judiciário, interferirá, então, para evitar
abusos praticados nas comunicações virtuais, como: Propaganda
de racismo; instigação a crimes; ameaças de seqüestro em listas de discussão; receitas de
fabricação de bombas em home pages; pornografia infantil; propaganda
anti-negra ou anti-semita; propaganda enganosa entre outras ilegalidades. Há que ressaltar
que a interferência do Estado se fará exercer, como se afirmou,
pelo Poder Judiciário em processo legal. Nunca sob a forma de censura e sim, sob a forma
de responsabilização.

A censura é a proibição de certos atos e muito usada em regimes governamentais onde


não está evidenciada a democracia. É o exemplo de necessidade de autorização
prévia do órgão censor para publicação de determinada matéria ou exibição de peças
teatrais ou cinematográficas. A responsabilização se faz presente, atualmente,
no Brasil e de forma democrática: A publicação por meios de comunicação como jornais,
revistas e televisão é totalmente livre, porém, os autores responderão
pelos abusos que cometerem em contrariedade com a legislação já existente (CF, Código
Penal Brasileiro, Lei de Imprensa, Código de Defesa do Consumidor,
Estatuto da Criança e do Adolescente e outras).

Sobre a censura na Internet são vários os juristas e doutrinadores que se expressam


totalmente contrários:

a) Opina Georges Charles Fischer: "Não obstante a inegável importância que desperta, a
Internet não pode estar acima da lei, mas a censura não é desejável,
pois no mais das vezes constitui instrumento abominável que serve, quando muito, aos
propósitos políticos e ideológicos dos que a impõem." 3

b) Luis Carlos Cancelier de Olivo (obra já citada), assim se expressa: "Para o Procurador
da Fazenda Nacional e especialista em Informática Jurídica pela
Univali (SC), Hugo Cesar Hoeschel, a liberdade de comunicação, sob qualquer forma, são
mais protegidas pelo direito brasileiro. Isso significa poder publicar
qualquer coisa que se queira. No caso dos veículos de comunicação de massa, há cautelas
e restrições estabelecidas nas esferas constitucional, legal e
regulamentar, principalmente no tocante à proteção da infância e da juventude. Porém,
elas, - as restrições cauteladas - não incidem sobre a Internet,
o que vale dizer que pode ser veiculada qualquer coisa, independente de seu conteúdo,
inclusive a tão discutida pornografia. Na defesa desta posição Hoeschel
utiliza três argumentos: a rede é mundial e nenhuma censura tem seu alcance; o usuário
tem opção de visitar o site que quiser, prevalece a sua vontade;
e a ética que impera na Internet é a da liberdade. Daí que o mecanismo hábil à redução
dos abusos, como pornografia infantil, calúnias e facismo é a responsabilização
e não a censura. A divulgação de material pornográfico, pela Internet, não pode nem ser
capitulada como ofensa ao art. 17 da lei n° 5.250/67 (ofender a
moral pública e os bons costumes), visto que a infração deveria ser cometida "através dos
meios de comunicação e divulgação". A Internet não é definida
como uma das figuras descritas pelo parágrafo único do art. 12 - "são meios de
informação e divulgação, para os efeitos deste artigo, os jornais e outras
publicações periódicas, os serviços de radiodifusão e os serviços noticiosos - hipótese na
qual ela simplesmente não insere-se, argumenta para concluir
que "a censura, a qualquer título e de qualquer tipo, é simplesmente incabível na
Internet... diante da escolha entre censura e pornografia, devemos ficar
com a segunda, pois a primeira prejudicou muito mais a humanidade, ao longo de sua
história."

CENSURA NO E-MAIL

Conforme visto anteriormente, as comunicações virtuais deverão gozar de privacidade. A


Internet é protegida pela maior parte dos países do mundo. No entanto
as mensagens que circulam nas redes corporativas são consideradas de propriedade das
empresas. É considerado crime grampear telefones ou abrir correspondências
de funcionários das empresas e no entanto é permitido ler as mensagens do correio
eletrônico nas empresas. É que ditas mensagens circulam dentro da empresa,
nos aparelhos da empresas e entre funcionários por ela pagos e em horário de trabalho.
Em vários países, estão ocorrendo demissões de funcionários que
fizeram uso indevido de e-mail na empresa, com mensagens contrárias ao direito, como
propaganda racista, textos obscenos piadas preconceituosas, correntes
religiosas, fotos pessoais, cartões virtuais, currículo ao concorrente, comentários sobre a
empresa, comentários sobre os chefes, cantadas a colega de
trabalho, assuntos de futebol e tantos outros. Em outros países, como a Alemanha, a lei
proíbe a violação de correspondência eletrônica corporativa. Se
a empresa quiser espionar terá de obter ordem judicial. Há também uma tolerância em
relação à utilização do e-mail para assuntos particulares, determinando
um número máximo. A tendência é de que os funcionários passem a ser avisados de que
seus e-mail serão lidos pela empresa. Legislação neste sentido, foi
proposta em julho do ano 2000, nos Estados Unidos.

São várias as notícias que se tem sobre o assunto, na atualidade:

21/07/2000 : Proposta apresentada ao Congresso dos EUA a LEI DE AVISO DE


MONITORAÇÃO ELETRÔNICA: As empresas deverão informar a seus funcionários se
monitoram
ligações telefônicas, uso de computadores e e-mails.

BRASIL: Na falta de legislação específica, o mesmo vale para o Brasil.4

ALEMANHA: Lá, a situação é diferente. Conforme Roland Huegel, coordenador de


Internet da Siemens a lei proíbe a violação de correspondência eletrônica corporativa.
Se a empresa quiser espionar terá de obter ordem judicial. Porém, existe uma tolerância
em relação à utilização do e-mail para assuntos particulares.5

INGLATERRA: Aprovada pelo Parlamento Inglês, a lei de Regulamentação de Poderes


Investigatórios (RIP). Falta a assinatura da rainha, para vigência a partir
de 05/10/2000. Concede ao Governo poderes para acessar e-mails e outras comunicações
codificadas na Internet

01/08/2000. O jornal alemão Volkskrant: O serviço secreto de espionagem alemão, o


BVD estaria interceptando e monitorando o tráfego de e-mails entre uma
companhia de software da Alemanha e uma empresa purificadora de água Iraniana, que
estaria envolvida em projetos de energia nuclear.

INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA E DE DADOS NO BRASIL.

A Lei n° 9.296, de 25/07/96, veio regulamentar o inciso XII em sua parte final, do art. 5°
da Constituição Federal, dispondo sobre a interceptação das comunicações
telefônicas para fins de investigação criminal e instrução em processo penal.

O seu artigo primeiro assim se expressa:

Lei n° 9.296/96

Art. 1° A interceptação de comunicações telefônicas, de qualquer natureza, para prova em


investigação criminal e em instrução processual penal, observará
o disposto nesta Lei e dependerá de ordem do juiz competente da ação principal, sob
segredo de justiça.

Parágrafo único: O disposto nesta Lei aplica-se à interceptação do fluxo de comunicações


em sistemas de informática e telemática.

O dispositivo constitucional (art. 5°, XII) determinou a inviolabilidade:

1. absoluta:

1.1 do sigilo da correspondência;

1.2 do sigilo das comunicações telegráficas;

1.3 do sigilo de dados.

2. relativa:

2.1 sigilo da comunicação telefônica. Ocorreu uma vedação parcial, ou seja, permitiu que
em casos de investigação criminal e instrução em processo penal
pudesse ser violada, porém, mediante ordem judicial e na forma que a lei viesse a
estabelecer.

Trata-se de uma lei de grande importância no combate ao crime, quando na atualidade é


muito grande o uso das comunicações telefônicas, tanto para as práticas
lícitas como para aquelas consideradas ilícitas, ou sejam, as práticas criminosas onde os
delitos são praticados, articulados com planejados pela via em
questão. Daí, a necessidade de uma regulamentação legal que possibilitasse e
regulamentasse a forma em que pudesse ser concedida autorização judicial para
a escuta das comunicações telefônicas, permitidas no texto constitucional, já descrito
inicialmente.

A legislação ordinária concebeu uma abrangência que não esta prevista na Constituição
Federal, ou muito ao contrário, está determinantemente proibida, quando
determina: "É inviolável o sigilo ...de dados". Em decorrência desse preceito
constitucional, o legislador ordinário deveria restringir-se a regulamentar
tão somente a escuta telefônica, que no nosso entendimento foi, ali, definida e permitida.
No entanto, a interceptação do fluxo de comunicações em sistemas
de informática e telemática foi recepcionado no parágrafo único do art. 1° da referida lei.

Daí, é grande o número de juristas, doutrinadores e especialistas em informática jurídica


que consideram ser inconstitucional esse disposito:

• O jurista Vicente Greco Filho, (citado por Olivo) define: "Em nosso entendimento é
inconstitucional o parágrafo único do art. 1° da lei comentada, porque
não poderia estender a possibilidade de interceptação do fluxo de comunicações em
sistemas de informática e telemática. Não se trata aqui de aventar a
possível conveniência de fazer interceptação nesses sistemas, mas sim de interpretar a
Constituição e os limites por ela estabelecidos à quebra do sigilo".
• Especialista em Informática Jurídica: HUGO CÉSAR HOESCHEL, em sua dissertação
de Mestrado em Direito na UFSC, sobre "O relacionamento da telemática com
o Direito e seu tratamento jurídico no Brasil" , defende a idéia de que "a comunicação de
dados não pode ser interceptada; o parágrafo único do artigo
1° da Lei 9.296/96 é absolutamente inconstitucional".

• O advogado José Henrique B. M. Lima Neto (citar n° para a obra no rodapé) opina pela
inconstitucionalidade do dispositivo em estudo e afirma: "Toda e
qualquer prova obsoluta através da violação de comunicações em sistemas de informática
ou telemática - nos quais existe tráfego de dados de computador
- deve ser considerada prova ilícita."

CONCLUSÃO

O assunto tratado é bastante controverso. Várias leis já existem no Brasil e no mundo, que
poderão ser aplicadas à Internet e outras haverão de ser editadas.
Deve-se considerar a grande dificuldade se ser alcançada essa regulamentação, eis que são
constantes as transformações das tecnologias e meios de comunicação
e informação. É importante ressaltar que o esforço de legislação de aspectos do mundo
virtual em um país deve obedecer ao conjunto de premissas e diretrizes
que pauta a tradição do direito do país. Há por exemplo clara distinção entre as
abordagens dos EUA e da União Européia face ao desafio da legislação da
Internet. Enquanto nos EUA há uma tendência de "liberdade", na União Européia a
tendência dominante aponta no sentido oposto, criando controles mais rígidos.
Cabe ao Brasil, definir sua política de regulamentação, objetivando sua inserção na
Sociedade da Informação.

BIBLIOGRAFIA

* Livro Verde - A Sociedade da Informação no Brasil. Grupo de implantação da SocInfo.


Agosto de 2000.

* Livro Verde para a Sociedade da Informação em Portugal. Disponível em:


http://www.missao-si.mct.pt

* Olivo, Luis Carlos Cancellier. Direito e internet: a regulamentação do ciberespaço. Ed.


Da UFSC, 1999.

Governo Eletrônico (Governo on-line) - Aspectos De Viabilização E Otimização Dos


Serviços Públicos

Eduardo Marcelo Castella

ragalodu@bol.com.br

Resumo:

No mundo pós moderno não há mais lugar para governantes que trabalham de portas
fechadas. Há a imperiosa necessidade de exercer a cidadania no seu mais
amplo espectro. Coincidentemente ou não, as inovações tecnológicas vêm de encontro a
este anseio, possibilitando fiscalizar, acionar e participar das atuações
governamentais de maneira antes inimaginável. A Internet é dinâmica, veloz, tudo que vai
a Web vai ao mundo. Se o governo precisa mostrar que é capaz de
produzir bons resultados, assim deve fazer também na rede mundial de computadores.
Investimentos precisam ser alocados para o desenvolvimento de "sites"
que não sejam puro "marketing", mas que visem dar atendimento ao público alvo, o
cidadão. Construir meios que possam tornar a vida mais simples. Podendo,
de outro lado, aumentar a arrecadação de taxas e emolumentos através de serviços on-line,
como no caso já utilizado pela Receita Federal em relação ao
IR (imposto de renda), bem como incrementar e agilizar as relações comerciais e
diplomáticas estatais, são o "g to c" (governo para cidadão), "g to b"
(governo para empresas) e o "g to g" (governo para governo). O que este trabalho propõe
é apontar por onde deve o Estado começar, com o objetivo de evitar
a criação de sistemas oficiais que não correspondam as expectativas dos destinatários, seja
frustrando-lhes em não oferecer eficiência, seja por não possuir
atrativos ou por não ter sido colocado em funcionamento há mais tempo.

Introdução:

Para alguns trata-se de assunto que não deve receber grande atenção, vez que os
problemas sociais são imensos e não foram solucionados, sendo eles reais
e não virtuais, podendo-se relegar a um segundo plano a parte eletrônica de um governo.
Porém, os avanços tecnológicos estão abrangendo cada vez mais as
ações governamentais não havendo possibilidade de não se atender ao que está sendo
pesquisado nas universidades e empresas, com repercussão direta nas
atividades oficiais do Estado.

Dentre as inovações tecnológicas, certamente, o que mais vem se destacando é o uso da


Internet para atividades comerciais, pessoais e oficiais, dada a sua
grande mobilidade e poder de penetração, atingindo os grandes centros populacionais até
os mais distantes rincões, do país e do mundo, até mesmo em alto
mar, bastando para isso estarem conectados a uma linha telefônica, forma mais comum de
acesso. A conseqüência disto é a possibilidade de disseminação de
informações em tempo real e para um maior número de pessoas, bem como proporcionar,
no caso de um "site" governamental, a facilidade de acesso também para
serviços.

Evidentemente para que sejam implantados serviços e informações em todo o âmbito


governamental há um longo caminho a percorrer, vez que as atividades são
várias e disseminadas em múltiplos órgãos (previdência social, segurança pública, saúde,
etc., no âmbito do Executivo) e esferas (federal , estadual, municipal),
mas, como disse o poeta, o caminho se faz ao caminhar. E sob esta ótica destacamos
alguns pontos que julgamos importantes.

Implantação:

Para disponibilizar uma página na WEB o governo precisa dimensionar o que e para que
vai montar esta página, especificando quais as informações e serviços
manterá ao alcance dos internautas. Deverá realizar um projeto que vislumbre as
necessidades imediatas e mediatas. Neste aspecto acreditamos que a melhor
maneira de se pensar seja a de Jay Nussbaum, da Oracle, para quem o governo on-line,
governo eletrônico ou "e-government", deve seguir a linha do " Start
small. scale fast, deliver value." Para que não ocorram atropelos e falhas em um projeto
que não venha a atingir todas as possibilidades de uso da tecnologia.
Portanto, um plano bem pensado vale muito mais do que um realizado a "toque de caixa"
apenas para satisfazer uma determinada situação ou momento política.

Dentro desta área deve-se prever a instalação da área física, com a alocação de
equipamentos de informática que atendam eficientemente a demanda, bem como
a extensão da mesma. Se queremos uma rede Federal, devemos estar preparados para
investir em todo o território nacional. Em alguns países isto, de certo
modo, é bem mais fácil, seja porque tratam-se de países "ricos", seja porque possuem
dimensões reduzidas, comparadas às nossas. Exemplos são Singapura
e Inglaterra. Ambos possuem condições financeiras e territoriais propícias ao excelente
desenvolvimento do e-governo. Tanto assim que Singapura está muito
avançada nesta área implementando serviços e atividades governamentais, nas mais
diversas áreas, como governo para cidadão (g. to c.), governo para governo(g.
to g.) e governo para empresa (g. to b.), extraindo o máximo de proveito que a Internet
pode fornecer, implementando continuamente programas de expansão
da rede e facilitação do acesso. Na Inglaterra o primeiro ministro Tony Blair, desenvolve
projeto no sentido de implementar o e-governo, disponibilizando
para toda a população da ilha, com um forte apelo para a previdência social. Como
representante das classes trabalhistas inglesas, acredita Blair que a
Internet pode democratizar e facilitar a vida da população menos favorecida da Inglaterra.
Países da Comunidade Européia, de modo geral, já dispõem de
infra estrutura para a demanda criada, bem como regulamentação sobre transações
comerciais e delitos, havendo legislação semelhante para os Estados integrantes,
fazendo-se mesmo o reconhecimento e validação da assinatura digital, caso da Alemanha.
No mesmo diapasão os Estados Unidos, onde reconheceram a validade
da assinatura digital, anterior a Europa, e proporcionam serviços e informações na Web.

Tratando-se de uma organização gigantesca, apontam os especialistas que a evolução das


redes no serviço público devem progredir passo a passo. Primeiro
um site com um panorama geral, do governo e das suas atividades e serviços. Num
segundo momento comunicação de uma via (one way), onde o usuário já poderá
requerer serviços mas recebe as respostas posteriormente, e.g. via e-mail. E, a terceira, ao
oferecer serviços on-line em tempo real. Tudo isto com sites
cada vez mais objetivos e práticos, não ficando o internauta pesquisando e navegando
pelas páginas até encontrar o link que resolva o problema que o levou
a acessar a rede. Estaríamos apenas retirando-o da fila física e empurrando para a digital.
Deverão prover o site com sistemas de inteligência artificial
onde bastará a explanação da situação e o link indicará a página com a melhor solução.

As iniciativas tanto do governo federal quanto dos governos municipais vêm obtendo
excepcionais resultados. Estes, por serem regionalizados, tem condições
de medir aonde podem ser mais eficientes no atendimento ao cidadão. No mesmo sentido
o governo Federal brasileiro vêm agindo ao implantar páginas de previdência
social e da receita federal, oferecendo informações e serviços que redundem em maior
comodidade para a população, esta última inclusive obtendo índices
extremamente altos para a entrega de declarações de IR via Web.

Manutenção:
A instalação da estrutura física deve obedecer a critérios bastante objetivos, não perdendo
de vista a necessidade de expansão da rede na mesma proporção
que aumenta a demanda. Como corolário temos a manutenção do sistema. Este não pode
ser relegado a um segundo plano ou considerado menos importante. Tudo
que for disponibilizado estará sendo acessado por milhares de pessoas, empresas e
governos. O sistema não pode cometer falhas, vendo-se aí a questão da
segurança. Todo o sistema deve trabalhar integrado ao mesmo tempo que não pode
oferecer riscos aos usuários, seja quanto a invasão por "hackers" seja em
razão de "quedas" ou panes ou mesmo má administração dos equipamentos. Ninguém
quer ver seus dados trafegando pela rede de forma aberta, muito menos saber
que eles foram conseguidos através de um "site" oficial do governo. Mesmo que os
serviços e informações oferecidos oficialmente não proporcionem o retorno
financeiro desejado para o governo, até porque não tem como objetivo o lucro, deverá
investir muito para que não ocorram falhas no sistema eletrônico.
Afinal ter a imagem arranhada pode custar muito mais que o investimento para ver
funcionar adequadamente.

Descontinuidade:

As políticas em inovação tecnológica (IT) não podem ficar restritas a este ou aquele
administrador. Quando falamos em políticas para o desenvolvimento da
tecnologia e para sua implementação, em especial quando já estão em funcionamento, não
podemos ser iconoclastas. Muito fácil é criticar e destruir o que
está feito, sem avaliar as conseqüências que isto trará para o futuro, é a típica visão torpe
do míope que se recusa a usar óculos, enxergando pouco além
do próprio nariz. As inovações tecnológicas continuam e continuarão a avançar e permitir
que uma pessoa ou grupo político, que assuma o poder, em nome
de uma suposta readequação de critérios e ações, venha a desconsiderar o trabalho já
realizado pode ser catastrófico.

Recentemente, na 4ª Conferência Internacional em Política Tecnológica e Inovação (4ª


ICTPI), realizada em Curitiba/Pr no período de 29 a 31 de agosto de
2.000, foram apresentadas diversos trabalhos no quais evidenciou-se que políticas sólidas
e postas em prática trazem excelentes benefícios. Isto nas mais
diversas áreas, tanto na informática quanto no campo (agro negócios). Em Curitiba, por
exemplo, a prefeitura municipal investiu em programas informatizados
nas áreas de saúde e educação. Através de cartões eletrônicos os usuários do sistema
municipal de saúde não precisam carregar vários documentos, ficando
todo o prontuário e dados pessoais armazenados na rede informatizada. Desta forma
facilita-se o atendimento ao agilizar procedimentos, não ficando o usuário,
consequentemente, restrito a um único posto de saúde. Na parte da educação a prefeitura
de Curitiba montou bibliotecas públicas, chamadas de Farol do Saber,
equipando-as com computadores para acesso a Internet, possibilitando que as classes
menos favorecidas tenham a disposição, não apenas o equipamento, mas
também cursos onde aprendem a navegar pela Web, no mesmo sentido na rede municipal
de escolas.

Normalmente o que se vê é a oportunidade em se deixar uma marca, um logotipo, quer-se


preencher um espaço que eventualmente tenha sido deixado aberto, inserindo
um "slogan" que é identificação daquele administrador o qual, ao perder a função, acaba
vendo tudo o que foi feito ser modificado para atender à nova gestão.
Não se pode olvidar que realmente cada governo procura deixar em suas obras sinais e
marcas que os identifiquem, até para que se possa saber quem fez o
que. Mas em hipótese alguma deve ocorrer rompimento nos serviços ofertados, sejam eles
apenas informações sejam transações "on-line" com emissão de documentos.

O que se apresenta é a possibilidade de muitos aproveitarem a alta da Internet para


criarem páginas que possam ser ligadas a seus nomes sem a preocupação,
efetiva, com uma política que venha a dar sustentação e continuidade para a mesma. Deve
ocorrer um intenso comprometimento entre o que for planejado/executado
e a política a ser implementada.

Recursos Humanos:

As novas tecnologias necessitam de mão de obra especializada. Cada vez mais as


empresas necessitam de pessoas com conhecimentos específicos, exigindo qualificação.
Aqueles que não desejam ficar apenas no mercado mas na vanguarda, absorvem os
melhores trabalhadores existentes. Para que se tenha uma página na Web é
importante que todos aqueles que trabalhem na elaboração, manutenção e que dela irão se
servir, tenham recursos para acessar e, principalmente, que saibam
como operar adequadamente os equipamentos.

E aí o e-governo pode encontrar uma significativa barreira.

A tecnologia para o governo pode e deve ser usada de forma muito eficiente, para tanto
tem-se que aprimorar os recursos humanos existentes. O que não pode
ser admitido é a inexistência de uma postura que mantenha as ações já elaboradas,
removendo-se pessoas de setores chave para outros e, colocando, muitas
vezes, alguém despreparado para exercer determinada função técnica, perdendo-se todo o
investimento realizado naquele(s) funcionário(s).

A massa de servidores públicos é imensa em todas as esferas e pensar em capacitá-los


para as novas tecnologias num único momento pode ser inviável. Criar
centros de capacitação e treinamento para grupos que irão gerenciar os bancos de dados
seria o melhor caminho, mas não abandonando aqueles que estão hoje
atrás dos balcões, atendendo direta e pessoalmente o cidadão, estes também precisarão
entender, acessar e fornecer informações por meio eletrônico.

O governo eletrônico também precisa definir quem vai estar diante da máquina
atualizando seus dados e serviços. Mesmo que possua um órgão gestor das informações,
como um banco de dados central, as comunicações entre este e os demais órgãos não
podem ocorrem de forma lenta, burocrática, devem se dar on-line, em intranet,
para que se torne eficiente. E para isto implica em ter mão de obra qualificada.

Para treinar e preparar não basta que sejam montados cursos e oferecidos a todos os
servidores indiscriminadamente, até porque há aqueles que não tem interesse
ou motivação, possuem mesmo aversão a computadores ou equipamentos eletrônicos.
Mas montar equipes, nos diferentes órgãos para que possam, em seus setores
específicos, estarem habilitados a enfrentar os problemas que possam surgir e poder
melhorar o que for realizado.
E, esta equipe não poderá ser simplesmente dissolvida ao ocorrerem mudanças
administrativas, senão por critérios técnicos e devidamente fundamentados. Desta
forma preserva-se o investimento realizado no material humano, procurando mesmo
protege-lo de eventuais retaliações políticas que possam redundar em perda
de capacitação técnica.

Com tais medidas podem ser reduzidos os elevados custos com treinamento de todos os
servidores da administração pública, podendo, ao revés, elevar o nível
de informação e conhecimento daqueles que efetivamente estarão na linha de frente deste
novo serviço, agora virtual.

O Estado enfrenta além da escassez de capacitação técnica também a de funcionários.


Decorre tal da estrutura jurídica do Estado, vez que a administração
pública não pode contratar e demitir servidores livremente. Para tanto deve realizar
concursos públicos, os quais são dispendiosos e lentos e, para demitir,
criar processos administrativo disciplinares, que igualmente costumam arrastar-se por
longos períodos.

Uma empresa, regida pela CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas), possui maior
facilidade em movimentar seus empregados, assumindo prejuízos, com a contratação/demissão,
mas otimizando custos na produção que retornam em forma de lucro. O governo é
administrado não para ter lucro, mas para cumprir com suas obrigações perante
a nação, promovendo o bem estar social. O calcanhar de Aquiles estatal está justamente
no engessamento do funcionalismo, onde um servidor estável pode
significar um salário pago para alguém não trabalhar, trazendo conseqüências desastrosas
para o bom atendimento ao cidadão.

Políticas que facilitem o trânsito na admissão e demissão de funcionários também deveria


estar na pauta do Congresso. Iniciativas foram tomadas, pela então
Ministra Cláudia Costim, mas muito ainda deve ser feito para que os servidores públicos,
federais, estaduais e municipais, venham a atingir os níveis de
qualidade de padrão internacional, a ISO , para que realmente o Estado torne-se eficiente.

Burocracia:

A administração pública torna-se inoperante não por incompetência mas por excesso de
burocracia. Veja-se esta como sinônimo de lentidão, exatamente o que
não deve ocorrer com quem quer estar na Internet, na vanguarda da informação e
tecnologia, pouco importando se é grande ou pequeno, mas sim o tempo que
se leva para demonstrar eficiência.

O Estado por natureza é burocrático. Dividido em inúmeras áreas, secretarias, assessorias,


departamentos, etc., etc. Transforma-se num labirinto sem fim,
onde o cidadão que procura por determinada informação tranqüilamente percorrerá
diversos guiches para chegar ao objetivo. E, internamente, a preocupação
com a forma não é muito diferente. Os órgãos do próprio governo para se comunicarem
também dependem de vários procedimentos; protocolando documentos e
submetendo certos assuntos a análises de vários funcionários.

Resultado disto é a apatia e o descrédito do cliente para com o prestador de serviços, "c to
g".
O que vemos hoje são secretarias de governo desenvolvendo trabalhos na área de Internet,
com "sites" bem elaborados, mas que não cruzam as informações.
Seja por motivo de segurança, seja por total falta de política na área. Temos então a
situação onde alguns avançam muito, porque seus administradores acreditam
nas soluções tecnológicas e apostam nos resultados e benefícios que isto traz. E do outro
lado aquele que não enxerga como bons olhos, seja porque não
os tem seja porque não quer ver, e relega a segundo plano a possibilidade de aproximar-se
daquele que é justamente a razão dele existir, que é o cidadão
para quem presta atendimento.

Tem-se, ainda, os problemas corporativos, decorrentes da verticalidade estrutural do


Estado, fazendo com que seus órgãos sejam estanques. Por exemplo, polícias
Militar e Civil, embora pertençam a mesma pasta, secretaria de segurança pública, não
conversam no mesmo diapasão. Seja por possuírem funções constitucionais
divergentes, seja por não abrirem mão de suas corporações, apesar de ambas serem
polícias. Repetindo-se nas esfera Federal, entre as Forças Armadas, nas
secretarias estaduais e municipais.

Tais divergências e burocracias tornam-se especialmente maiores quando há oposição


política, os partidos que estão no comando não são aliados. Impondo-se,
novamente, a definição e efetiva aplicação de protocolos que subsistam ao momento, que
transponham a barreira das eleições.

Mais precisamente, há a necessidade de que exista um procedimento uniforme e uma


mesma linguagem para todo o sistema público funcionar de maneira rápida
e ágil, tornando-se menos burocrático e mais efetivo.

Segurança:

Ao tratar com informações de milhares de pessoas, gerenciando dados, recebendo e


fornecendo informações, emitindo documentos, tudo deve estar funcionando
com sistemas de segurança que sejam, no mínimo, confiáveis.

Em casa como no trabalho privacidade e sigilo nas comunicações é direito protegido


constitucionalmente, o que torna uma obrigação governamental proporcionar
esta tranqüilidade àqueles que irão dela usufruir. Representando uma significativa parcela
de investimentos, vez que exige tecnologia de ponta e, a nosso
ver, não poderia ser entregue integralmente a empresas do setor privado, devendo o
próprio Estado desenvolver os sistemas a serem utilizados, como garantia
de inviolabilidade. Com efeito, tal alicerça-se nas instituições de ensino e pesquisa
existentes, Universidades e Centros Tecnológicos públicos, que já
desenvolvem trabalhos capazes de atender as necessidades oficiais. Faz-se projetos sob
encomenda, com "softwares" que atendam as diferentes necessidades
dos órgãos a um custo muito menor, reforçando a soberania nacional, ao evitar que
sistemas "alienígenas" rodem nas máquinas estatais.

Acesso

Por outro lado o acesso à Web também tem que ser facilitado, onde não apenas o
computador torna-se um empecilho, mas também as tarifas de ligação telefônica
e dos provedores. Países como o Brasil, onde as disparidades sociais são gritantes, os
partidários da desnecessidade do e-governo, alegam que o acesso
ficaria restrito às classes mais elitizadas da sociedade. Para combater tal argumento alguns
Bancos, tais como Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil,
bem como outros do setor privado, estão abrindo linhas de crédito para aquisição de
equipamentos de informática. Nos Estados Unidos empresas provedoras
de Internet criaram um sistema de fidelidade, onde o cliente assina o contrato com o
provedor por um prazo mínimo de 03 (três) anos, em média, e ganha
o computador. A idéia colheu bons resultados na medida que expandiu o número de
usuários e incrementou o comércio.

Como a informação deve ser livre, se não é possível que todos tenham acesso a Web neste
momento, que seja então, ao menos, disponibilizada esta para que,
a pouco e pouco, através de ações conjuntas, governo/população/empresas, sejam
produzidos novos equipamentos com preços acessíveis à todos que se interessem
pela rede. Ultrapassando a barreira atual dos 5% (cinco por cento) da população que
acessa a Internet.

Concomitante a isto espera-se que o Congresso Nacional aprove legislação que


regulamente as comunicações via computador, fornecendo meios para que posam
ser combatidas as fraudes e delitos que estão sendo praticados bem como fomentando as
negociações e transações comerciais.

Conclusão:

O governo eletrônico, embora esteja iniciando com vários anos de atraso, é um fato
consumado, não há que descartar a sua necessidade. Cada dia que passa
mais e mais pessoas acessam a rede atrás de informações, lazer e conhecimentos. Vários
órgãos estatais já testaram e aprovaram a utilidade da Web como
meio para agilizar ações oficiais. São justamente as obrigações que o poder público tem
para com o cidadão que devem nortear os projetos de e-governo;
proporcionando qualidade e eficiência nos serviços oferecidos, divulgando e promovendo
eventos públicos que realmente façam a diferença, para que todos
possam se sentir não meros administrados, vivendo sob o jugo de um poder central, mas
parte ativa no sistema de governo, acompanhando as ações, resultados
e buscando melhorias.

Chegará o dia em que não será necessário deslocarmos de casa ou do trabalho para obter
uma certidão, requerer uma autorização, fazer uma comunicação de
delito. O acesso ao governo será on-line, em tempo real, tanto o que se procura como a
resposta que buscamos, através de um crescimento contínuo, gradual
e sem interrupção dos sistemas informatizados oficiais.

O ENSINO DO DIREITO À CRIANÇA E AO ADOLESCENTE COMO


PRESSUPOSTOS DE CIDADANIA COM USO DE TECNOLOGIAS DA EDUCAÇÃO

Lúcio Eduardo DARELLI

Abstract:
Desde a promulgação da Constituição de 1988, pouco, ou quase nada se fez em termos de
educação cidadã, ou seja, a escola permaneceu omissa à formação e
ao ensino da cidadania. Em nenhum momento, do desenvolvimento estudantil da criança
ou do adolescente, encontraremos qualquer menção sobre a Constituição
Brasileira inseridos nos currículos. A precariedade da divulgação e do ensino aos níveis
pré-escolares, do primeiro, e do segundo graus, não são compensados,
nem de longe, no nível universitário, haja vista, inexistirem disciplinas específicas que
abordem a matéria, ou mesmo, inclusas como ementas em disciplinas
congêneres. Este trabalho, aborda a necessária introdução da consciência de cidadania
através do estudo da Constituição Brasileira, utilizando-se como
meios, as tecnologias de ponta em ensino a distância e educação com tecnologia aplicada,
como forma de disseminação em massa da educação cidadã.

1. INTRODUÇÃO

"Votar é um direito e um ato de cidadania, pois através de um processo democrático,


escolher-se-á aqueles que irão representá-lo na esfera política em nome
do bem comum."

Esta frase, talvez tenha sido a mais usada nos países democráticos em todos os tempos em
épocas de campanha eleitoral. Usada e ousada!

Usada, porque somente em épocas de campanha eleitoral, aparentemente, se descobrem os


brasileiros como cidadãos, vivendo na plenitude de um Brasil livre
e democrático. Terminada a campanha, não somente os discursos parecem ser
descartáveis, como também o próprio eleitor, ou seja, seu voto.

Ousada, porque votar, nunca foi um ato de cidadania. Enganam-se, e ajudam a enganar,
aqueles que assim o dizem. Votar pois, nada mais é, do que um ato obrigacional,
previsto pela Constituição, e que por esse único motivo, tem, na esfera do direito, seu
argumento maior de cunho meramente "cidadanesco".

Cidadania é antes um exercício, é certo, é uma constante atividade. O homem, ser social
que é, precisa de movimento, precisa produzir sua história, necessita
"fazer e acontecer' para se sentir integrado e participante. É através do outro, que a
"pessoa" - ser social, encontra-se e revela-se como ser social.
A "venda" da imagem de completude no simples ato de votar, é o maior engodo que
alguém pode impingir a outrem. Não há completude no ato de votar, mas,
há completude na solidariedade, que também é ato, e como tal, necessita de atores. É antes
a solidariedade, que impulsiona o ser social a identificar-se
com os problemas que afligem o seu igual. Esta sensação de semelhança, vincula um certo
grau de confiança entre as partes, a solidariedade aproxima e é
compreensiva. A compreensão leva a um certo estado de consciência do fato, assim, há
completude, pois os elementos envolvidos no ato buscam a interação
social.

Deste ponto em diante entendemos que o ato de votar, representado por um pequeno
pedaço de papel, ou por simples apertar de botões, é a sutil demonstração
da confiança de um em relação ao outro. Neste caso, do eleitor e seu candidato. O voto é a
corporificação simbólica da confiança, e nada mais. Esta representação
seria ainda mais significativa não fosse obrigatório o ato de votar.
Resta-nos uma pergunta então: - O que é de fato exercer cidadania?

A resposta, embora possa parecer simplista, está carregada de pressupostos históricos: -


Exercer cidadania é "conhecer e aplicar a Constituição brasileira".
Conhecer, para exercitar diuturnicamente as diretrizes político-sociais afirmadas,
garantidas e conquistadas na Constituição. Este é, o verdadeiro exercício
de cidadania no seu mais alto grau. Como nos diria o "Betinho", que outra coisa não fazia
senão, cidadania, servindo de exemplo vivo em palavras e obras.
Agora, servindo de exemplo memorável.

Os pressupostos são encontrados na história das constituições brasileiras, que foram, nada
menos que oito, desde de D. Pedro I, que nos outorgou a primeira
Constituição, em 1824. Todas, sem exceção, de 1824 à 1988, contam a saga do povo
brasileiro. Nas entrelinhas destas (histórias) constituições, vamos encontrar,
demonstrado e positivado: o jogo político, os interesses de governo, os anseios populares,
as reservas, os medos, as impossibilidades, as impunidades,
os cerceamentos de direitos, as conquistas, a liberdade, a liberalidade, a ineficácia, o
abuso, o desleixo, a inoperância, a manipulação, e, o descontentamento.
A tudo isso, elas próprias autodenominaram ao povo, impingindo-nos como "Direitos e
Deveres" Constitucionais.

Entramos, ou estamos entrando, no século 21 com uma das mais belas constituições que o
mundo livre e democrático já produziu, a Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988.

Afirmam os constitucionalistas, que a nossa Constituição é completa, pois foi


legitimamente gerada, gestada e promulgada segundo a vontade do povo brasileiro,
que, em um processo Constituinte democrático, participou ativamente na engenharia e
arquitetura, do instrumento que seria mais tarde o legítimo diploma
de toda sociedade.

Outras questões, importantes e preocupantes vêm com as considerações que se fez:

- Quantos de nós, conhece realmente a Constituição brasileira?

- Se, ser cidadão, é exercer cidadania, como posso sê-lo, se não conheço o instrumento do
exercício?

- Como posso aprender, se a escola não me ensinou?

São por estas questões, e embasado na certeza que possuímos um dos maiores
instrumentos democráticos para o exercício da cidadania, que a propositura deste
trabalho, encaminha-se no sentido de ofertar um modelo de ensino da cidadania, à criança
e ao adolescente, utilizando como veículo e instrumental didático-pedagógico,
as tecnologias de ensino a distância, ou, as tecnologias de educação.

2. A ESCOLA OMISSA E A FORMAÇÃO PRECÁRIA DA CIDADANIA

Os filósofos entendem que o ser social, a "pessoa" é na realidade uma abstração, parte do
indivíduo, este sim, um ente real, feito de células, músculos,
órgão, matéria enfim.

A pessoa, ao contrário, somente pode ser compreendida na esfera social. É através da


existência do outro que o ser individual encontra-se como pessoa, pois
no ambiente social, lá está o outro para afirmar as existências que se cruzam no cotidiano
da vida. O ser humano percebe-se em grupo, entre iguais, e percebe-se
fazendo e agindo, de acordo com determinados modos e costumes. É Albert Jacquard que
nos ensina a lógica desta constatação:

"(...) A qualidade das interações que são capazes de instalar graças a seus meios de
comunicação é tal que seu conjunto, ou seja, a comunidade humana, tem
poderes muito estranhos e, essencialmente o poder de despertar a consciência em cada um
dos indivíduos, transformá-lo em uma pessoa." (JACQUARD, Filosofia
para não filósofos, pg. 121)

Jacquard nos coloca de forma clara, do ponto de vista filosófico, que a comunidade
humana possui poderes que muitas vezes são incontestes. Porém, o maior
dos poderes sociais é a capacidade de despertar a consciência, uns aos outros, em
atividades, em obras, em palavras e ações. Podemos perceber este despertar
em todos os níveis por onde atua o ser humano. Assim, se falamos da consciência
ecológica, se falamos da consciência cosmológica, da consciência do preconceito,
da consciência urbana, da consciência da própria consciência enfim, estamos falando em
"formas" de convivência humana, por onde as pessoas ou os grupos
humanos buscam identificar-se, crescer e evoluir como pessoas, fazendo da epopéia das
civilizações por onde o homem trilhou, um conjunto de ações única,
que resume a saga da própria aventura humana, de cada um como indivíduo, como peça
absolutamente fundamental no jogo da evolução da espécie.

Com isso, pode-se inferir que a pessoa é uma invenção das mais poderosas, uma vez que,
o conjunto de pessoas formam a sociedade, e esta, a Nação. É precisamente
deste ponto, de onde passamos a analisar a grande importância que tem o Estado nas
relações sociais, sendo este mesmo Estado, abstração, uma outra invenção
a serviço de uma Nação. Precisamos ter claro quem exerce o "poder", e, se em uma
sociedade democrática, esse "poder" pode perder-se para além das pessoas.
Com efeito, em uma sociedade democrática, a exemplo dos ensinamentos (invenção)
herdado dos gregos, o exercício do poder pelo povo, nada mais é, que o
ditame das regras para o convívio social. No contexto do convívio, a sociedade busca
organizar-se para desfrutar das relações sociais. No contexto da aplicação
das regras, a sociedade elege o Estado, para de forma neutra operar a igualdade e a justiça,
ambas, necessitam administração. O poder se faz presente em
esferas de atuação, com reflexos sociais distintos - Legisla, Executa (administra) e Julga.

Exatamente neste contexto, cremos que a escola tornou-se omissa, pois desde o advento
da Constituição de 19888, nada se engendrou, ao nível dos currículos
educacionais qualquer tentativa de resgatar os verdadeiros valores de cidadania. Ensinar e
aplicar, ensinado a ser cidadão. Buscando fórmulas de cumplicidade
na descoberta maior da consciência dos atos, dos direitos e deveres do "Ser Cidadão". A
escola esteve a margem desde rito, nada ensinou, embora algumas
vezes, tenha tentado cobrar. Não se cobra o que não se tem, não se ensina o que não se
aprendeu.
Como então podemos esperar que um país possa sobreviver à sua própria corrupção, se a
maior delas é omitir informações, vedar os olhos do futuro com o véu
da ignorância, apostando no "controle" das leis e na centralização do poder, que embora
corrupto, ainda é poder? Que tirania maior pode haver em esconder-se
o maior dos tesouros - o conhecimento?

Embora tenha se passado 12 anos, não é tarde demais. E tudo pode ser resgatado a tempo,
pois a nosso dispor temos as tecnologias da informação, temos os
serviços informatizados, e temos as tecnologias da educação. É com base nelas, e com
novas metodologias, que poderemos resgatar o tempo perdido. E embora
esteja perdido o tempo, não está ainda, a esperança, pois esta nação é criança, são os
nossos filhos, que nos emprestaram esta terra, e para os quais devemos
a responsabilidade de lhes entregar. Propor medidas e inventar soluções para que eles a
perpetuem, é nossa sina, e nossa maior obrigação.

3. PROPOSTA PARA UMA DISSEMINAÇÃO EM MASSA

Vamos encontrar nos laboratórios de ensino a distância - LED da Universidade Federal de


Santa Catarina, departamento de Engenharia de Produção e Sistemas,
nosso referencial tecnológico de ponta, de onde afluem, para o uso destas tecnologias,
grandes empresas e universidades do mundo inteiro.

Como referencial de cidadania, o foco deste trabalho não poderia ser outro a não ser as
cláusulas constitucionais garantidoras do pleno exercício da cidadania.
Os artigos 1º ao 7º, e notadamente, o artigo 5º, que trata dos direito e deveres individuais e
coletivos, e, o artigo 7º, que trata dos direito e deveres
sociais. Nestas cláusulas constitucionais introdutórias, encontramos a síntese do
verdadeiro exercício da cidadania, que cada brasileiro deveria conhecer
e aplicar.

Se nos parece "in gloria" estender a todos os brasileiros, tais ensinamentos, que o façamos
pelo menos àqueles nossos cidadãos do futuro, nossas crianças
e adolescentes.

Desta forma, acreditamos que a proposta de ensino e a abordagem pedagógica do


laboratório de ensino a distância da Universidade federal de Santa Catarina,
o LED, como é conhecido, pode e deve ser utilizado para a massificação dos
ensinamentos de cidadania. A princípio através dos currículos normais nas escolas
de primeiro e segundo graus. Posteriormente, embora não necessariamente nesta ordem,
as empresas que contratarem serviços do LED, poderiam aderir a uma
espécie de programa, que poderia ser dado como brinde extra, na forma de horas/aula de
cidadania.

Os módulos podem ser elaborados de tal forma que não sejam superiores a 20 h/aula por
módulo, em no mínimo três módulos independentes mas complementares:

Módulo básico - ementa: Conhecendo a Constituição da república Federativa do Brasil.


Conceitos básico sobre lei. Formas de criação das leis. A Constituição
como fonte de direito. Os direitos individuais e coletivos, centrado nos artigos 1º ao 7º.
Cláusulas Pétreas. Elaboração do "ABC" da Constituição para
repasse do aprendizado.
Módulo intermediário - ementa: Constituição Brasileira, conhecendo as divisões internas
da Constituição, tópicos avançados. Legislação trabalhista. Relação
entre os códigos, leis complementares, medidas provisórias e a Constituição. Aspectos
econômicos e de ordem tributária nacional. Elaboração do "ABC" da
Constituição para repasse do aprendizado.

Módulo Avançado - ementa: Estudo e análise das emendas constitucionais. Interação dos
poderes e reflexos constitucionais na sociedade. Legislação político/partidária
e as previsões constitucionais. As relações internacionais, soberania, e divisas. Estudo
comparado de aspectos da constituição de 67. Elaboração do "ABC"
da Constituição para repasse do aprendizado.

Todos os módulos deverão ter o chamado "ABC" da Constituição, que será o trabalho de
final de curso, consistindo em uma espécie de cartilha com os dados
principais e assuntos mais interessantes que foram abordados nas aulas. Esta cartilha será
reproduzida contendo o nome dos participantes daquele módulo
e os mesmos deverão distribuir a todos quantos se interessarem. É uma forma de
disseminar os conhecimentos.

4. Experiência e criatividade - a importância do voto

Foi na disciplina de "Tecnologias da Informação Jurídica" que se pode redescobrir uma


didática, que a muito era aplicada nas escolas pelo Brasil afora,
sem contudo, suscitar o verdadeiro entusiasmo que era sempre esperado, mas, muito
pouco alcançado. Refiro-me ao tedioso método do "debate".

A experiência vivida nesta disciplina, graças a criatividade dos professores Hugo César
Hoeschl e Tânia Cristina Bueno, trouxe-nos uma reflexão extremamente
profunda sobre a eficiência e a eficácia dos métodos pedagógicos e sua didática, além de
constatar algo que foi surpreendente, votar é excitante. E essa
experiência trouxe-nos um grande aprendizado, "que nem sempre precisamos utilizar de
recursos tecnicistas para inserir novos conceitos pedagógicos". Muito
pelo contrário, a experiência mostrou claramente, como devemos e podemos repensar
posturas pedagógicas a partir de novas imposições, ou disposições sociais.
Tratamos o tempo todo de conceitos de tecnologia e suas aplicações para o direito com
ressonância à vida do cidadão. A metodologia aplicada nos debates
propostos tiveram um dado que incrementou e modificou por completo a motivação, que,
de tediosa passou a ser excitante, de inerte passou a ser participativa,
de apática para ardorosa defesa de teses.

A metodologia é a seguinte:

É proposto vários temas à escolha. Duas equipes escolhem o mesmo tema, sendo que uma
irá defender a idéia central do assunto, enquanto que a outra, deverá
atacar ou refutar a validade da idéia central do tema.

Arma-se assim um cenário bastante interessante que lembra um julgamento, onde há uma
turma para a defesa, e, outra para a acusação. As regras para apresentação
são livres, cada equipe pode se utilizar dos recursos que bem entenderem, não podendo
porém, extrapolar o tempo. Aliás, as únicas regras rígidas são os
tempos. No caso de uma equipe citar a outra, nominalmente ou pelo conteúdo abordado,
dá direito ao citado à réplica, para sustentação ou esclarecimento
do exposto.

O seminário tem início, uma equipe se pronuncia, pode começar a defesa, e logo depois o
ataque. Após a exposição de ambos, e terminadas as réplicas devidas,
abre-se o debate ao público, que deve formular perguntas objetivas a qualquer das
equipes. O debate nesta altura já está com grupos divididos também na
platéia. O debate leva em média trinta minutos, podendo ser mais elástico dependendo do
tema em discussão.

A conclusão do debate, é o dado metodológico modificado. Tendo sido encerrado o


debate pelo moderador, a platéia, transforma-se nesse momento em grande
júri, e terá a missão de VOTAR, pelo melhor argumento. Ou seja, o debate tem uma
conclusão formal e válida, e é surpreendente, porque mesmo as opiniões
estando divididas, há uma votação que culmina em resultado do debate. Quem conseguir
os melhores argumentos, as melhores provas, os melhores recursos didáticos
de apresentação, etc... etc..., demoverá o "grande júri". O resultado final passou a ser o
grande motivador para todos os participantes. Aqueles que defendem
as teses, querem fazer o melhor, portanto, pesquisam e elaboram, armam-se de
informações capazes de satisfazerem até o mais crítico dos membros do grande
júri. O público que assiste, e depois se transforma em jurado, precisa não perder nenhum
momento da exposição e das réplicas, porque do seu entendimento
e compreensão do tema, dependerá seu juízo de valor para votar.

Impressionantemente, o ato de votar, foi o dado metodológico que transformou a didática


do ex-enfadonho debate. E nisso estão de parabéns os jovens mestres
professores Hugo e Tânia, pela criatividade e pelo empenho de tentar o novo.

4.1. SEGUINDO O EXEMPLO

O exemplo de nada vale se não for para ser seguido. Sou professor já a quinze anos, tenho
formação em pedagogia, e em minha época o que mais se fez foi
aprender métodos de ensino-aprendizagem. O método do seminário com debate era uma
das opções comuns. Inclusive, como acadêmico pedagogo, em épocas de estágio,
éramos obrigados a elaborar planos de ensino contemplando os debates. Para mim
pessoalmente, o debate, sempre foi uma verdadeira "via crucies" pois os
debates esvaziavam-se em si mesmos, e o papel do moderador era muito mais apartar os
"bate-bocas" do que conduzir o aprendizado. Aliás, pouco aprendizado
havia, uma vez que não havia consenso. Depois que conheci a criatividade do Hugo e da
Tânia mudei de opinião!

Com muita satisfação, adotei em minhas aulas na Universidade do Vale do Itajaí -


UNIVALI, nas disciplinas que leciono: Filosofia e Sociologia Jurídica no
curso de Direito, Informática e Sociologia no curso de Computação e Legislação Social
no curso de Automação de escritórios e Secretariado. Basicamente
os mesmos princípios da metodologia aplicada à disciplina "Tecnologias da Informação
Jurídica" no curso de Mestrado da UFSC, foram adotados em minhas aulas.

Com efeito, o entusiasmo na apresentação comprovou a metodologia como aplicável e


eficaz. E é visível o grau de interesse pela pesquisa, uma vez que ao
final é cobrado um "paper" das equipes, onde constam as anotações de pesquisa, tais
como: recortes, jornais, revistas, xerox, citações, etc... que serviram
para embasamento da apresentação no debate. A conclusão do trabalho nada mais é do
que contar a história do que ali sucedeu-se, e, qual foi a votação,
ou seja, qual dos argumentos tornou-se vencedor. Ao rescrever as histórias que foram
vivenciadas pelos mesmos atores da pesquisa, o aluno, não só apreende
mas compreende da utilidade e da necessidade da pesquisa elaborada. A metodologia
atinge, pois, os objetivos pedagógicos da pesquisa, exposição, reelaboração
e aprendizado concreto. Passei a adotar esta ferramenta didática que a muito tempo havia
abandonado.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Parece bastante claro, que a solução para os problemas do ensino não se esgota apenas em
ensinar nas escolas, mas, principalmente como ensinar, e em que
locais. Educadores por todo país, também precisam ser inseridos nesse contexto de
cidadania que passa, como vimos, pelo aprendizado consciente ao estudo
da Constituição Brasileira. Não se ensina o que não se sabe, por isso mesmo, é preciso
aprender para transmitir o conhecimento. E não é por menos que centramos
nossa proposta no público infantil e adolescente, a quem mais interessa um país de
oportunidades senão aos nossos jovens. Serão eles a garantia do nosso
futuro como Nação, ou somos nós, que lhes devemos garantir os conhecimentos para que
queiram estar nesta Nação?

Podemos e devemos utilizar das tecnologias que aí estão. Elas operam um milagre, o da
multiplicação instantânea das informações. Também pode operar o milagre
da multiplicação do aprendizado. Não precisamos ficar apenas nas escolas, podemos
utilizar meios como a internet, o telefone, o WAP, etc... . Com módulos
didaticamente elaborados para o contexto telemático, a disciplina de cidadania pode
tornar-se uma das disciplinas mais atrativas de todo e qualquer currículo
educativo, mesmo porque, a avaliação não é outra senão a própria aplicação dos
conhecimentos adquiridos. O exercício da cidadania será a nota que cada
um irá tirar, e esta não terá limites máximos, simplesmente porque, exercer cidadania
nunca será demais.

Iniciei este artigo com uma reflexão sobre "votar", e deixamos patente que o ato de votar
em ocasião de campanha eleitoral, de forma inconsciente, como
ocorre hoje em dia com a grande maioria das pessoas, não é sinônimo de exercício de
cidadania, como de fato não o é. Porém, este mesmo ato, executado em
trabalhos didáticos nas aulas, de muitos "Hugos" e "Tânias" por este País afora, são, com
certeza, a mais nobre expressão de cidadania, porque o conhecimento
se completa com a consciência, e esta completude, transforma o cidadão.

6. BIBLIOGRAFIA:

1. JACQUARD, Albert. Filosofia para não filósofos. Trad. Guilherme João de Freitas
Teixeira. Rio de Janeiro: Campus, 1998.

2. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL de outubro de 1988.

3. BRUNAZO FILHO, Amilcar. Artigo apresentado no ITA/CTA, durante o SSI'99.


4. CAMARÃO, Paulo César Bhering. O Voto Informatizado: Legitimidade

Democrática. - São Paulo: Empresa das Artes, 1997.

5. LEGISLAÇÃO ELEITORAL E PARTIDÁRIA- lei 4737/65

6. JAMES, Jennifer. Pensando o futuro. São Paulo: Futura, 1998.

O impacto das novas tecnologias da informação e o papel da mediação no mundo pós-


moderno.

Marco Antônio Machado Ferreira de Melo

marcofm@iaccess.com.br

"Há conflitos porque as pessoas pensam diferente, desejam diferentemente as mesmas


coisas; agem diferente numa mesma situação. Lidar com as diferenças é
o grande segredo da Mediação. Minimizar as diferenças, o grande objetivo. Terminar com
as diferenças, jamais. Posto que as pessoas são eternamente diferentes."

1. Justiça: fornecer respostas tão rápidas quanto a evolução das novas tecnologias.

Não podemos negar que o desenvolvimento tecnológico tem trazido à humanidade


constantes transformações, marcadas por inúmeros acontecimentos no mundo social,
jurídico, institucional, econômico e político dos Estados-Nação. Nestas transformações,
modelos universalmente seguidos são substituídos por novos paradigmas(1).
Em toda nova transformação, a sociedade passa a exigir novas respostas e soluções para
os problemas emergentes diante dos desafios trazidos pela inserção
de tecnologias paradigmáticas. Novos desafios são colocados frente a muitas das ciências,
principalmente das humanísticas, chamadas a absorver e oferecer
respostas às mudanças sócio-político-culturais. O Direito e a Ciência Jurídica estão
constantemente colocados diante de novos e cada vez mais complexos
desafios. São chamados a encontrarem, dentro do sistema jurídico, soluções adequadas
aos novos conflitos, às novas demandas. Se formos rapidamente verificar
a evolução do Direito através do tempo, poderemos entender melhor porque cada vez
mais este sistema jurídico custa a se reorganizar e dar respostas mais
rápidas às questões emergentes deste findar de século. O poder jurisdicional do Estado-
Nação parece combalido diante da velocidade das transformações de
agora e da necessidade de reproduzir tão rapidamente, quantas possíveis, normas capazes
de refletir a necessidade normativa da sociedade. Primeiramente,
deveremos entender porque, no sistema jurídico, há posição distinta entre a Função de
Legislar e a de Jurisdicionar, ou seja, legislador de um lado e Juiz
de outro. Esta distinção autodisciplina o sistema jurídico, impedindo que todas as questões
jurídicas possam ser decididas a partir de um único ponto.
Esta separação da função legisladora da judicante impede que de um único centro as
decisões jurídicas pudessem interferir nos interesses sociais. Há que
se ter normas que reflitam o estágio atual da sociedade. Normas que serão interpretadas
pelo Estado. No mundo antigo, não era bem assim. Este princípio
da diferenciação inexistia. O poder de execução, legislação e jurisdição era concentrado
nas mãos de poucos. Na Idade Média esta forma de diferenciação
tinha, ainda, um significado muito limitado, porque qualquer separação mais profunda
entre Legislar e Jurisdicionar estaria, certamente, pondo em perigo
a unidade do Estado Territorial Político e juridicamente autônomo, governado pelo
Príncipe. No século XVI esta forma de diferenciação do sistema jurídico
aceita a idéia de que qualquer Direito é direito positivo segundo a substância das normas e
sua efetividade. O Direito Natural e o Direito da Razão servem
como referência em questões de justificação, como elemento de argumentação. Há a
redução do Sistema Jurídico onde se aplica somente o Direito Positivo,
ou seja, normatizado.

No século XVII e nas primeiras décadas do século XVIII vive-se a ética estritamente
utilitarista, rompendo-se a superestrutura do Jus-naturalismo, onde
a vontade de Deus era fonte fundamentadora de toda e qualquer moral, para dar lugar ao
aparecimento de uma ruptura. A sociedade passa a ser o viés e fonte
produtora das normas. Na Segunda metade do Século XVIII o sistema jurídico assume o
papel de ser autoconstituinte, uma Lei Constitucional, incluindo fundamentos
de vigência do Direito. Passa a ter importância a positividade da Lei Constitucional como
fundamentadora do Direito e do Poder Estatal. Desta forma a legislação
constitucional em sua reorganização passa a ter uma importante referência externa, "o
povo" como uma solução desta reorganização do Direito, não estando
mais nas "mãos de Deus" ou do despótico Monarca, que o representava aqui na Terra. Há
um processo de codificação legal. No fim do Século XVIII o modelo
sofre nova revisão, passando para um modelo de ordem/obediência, onde há alteração
com vistas à relação legislação e jurisprudência, ou seja, a exegese
ou interpretação da norma. A função jurisdicional do Estado passa a ter a reserva da
interpretação da norma produzida pela função legislativa do Estado.
No Século XIX fica bem caracterizado o espaço público e o privado, tanto na produção
quanto na interpretação da norma. De um lado temos a vontade política,
legislação e de outro a vontade privada, jurisprudência, reconhecida pelos Tribunais. O
grande paradoxo é que o Juiz, fica vinculado à Lei. A norma Constitucional
nos diz que os Juízes são independentes e estão sujeitos à Lei. São independentes sim,
mas nem tanto, estão adstritos aos ditames da Norma Jurídica. Significando
que a separação de legislação e jurisprudência, na prática, trata de uma não-separação,
uma vez que o Juiz, no sistema jurídico, vincula-se à Lei. Este
aspecto da diferenciação das funções manifesta-se enquanto relacionada, materializada e
observada do ponto de vista sistêmico. Por exemplo, ninguém irá
solicitar divórcio ao parlamento ou requerer modificação de Lei ao juízo cível. Esta
diferenciação é importante sim, frente às estruturas do sistema e
da sociedade. Conforme vimos acima que da diferenciação do ponto de vista
organizacional vale como pressuposto de tarefas, por exemplo: legislativa, justiça,
saúde, educação e outras. Por sua vez, a diferenciação do ponto de vista social importa
como unidade, ou seja, "sistema social jurídico", que é operativamente
fechado e reproduz suas próprias operações, abrigando, na sua periferia, o legislador (faz
as leis) e, no centro, o Juiz, aquele a quem cabe compreender
e aplicar a norma jurídica dentro de uma certa discricionariedade.

A modernidade(2), oferece uma visão de mundo própria em que o sistema social, político,
econômico, cultural, jurídico constantemente se inter-relacionam,
cabendo à função legisladora captar, acomodar e positivar as normas, permitindo, assim,
no que se chamou de autopoiesis do sistema jurídico, o filtramento
das irritações vindas do mundo circundante. Isto nos remete à abordagem da "Teoria della
societá" luhmaniana, no sistema jurídico como funcionalmente autopoiético,
autônomo porque produz novos elementos, complexo, dinâmico e operativamente
fechado, porque entra em contato consigo mesmo a cada nova operação. Que em
sua periferia, está relacionando-se com o mundo circundante, numa forte relação de
dependência recíproca, sofrendo "interferências", "irritações" de outros
sistemas. Na metade do século XX, a modernidade dá lugar à mudança de paradigma.
Começa a vigorar nova visão de mundo macro-econômica, geo-política, cultural,
social. O novo paradigma da pós-modernidade(3), determina a falência da Modernidade.
A sociedade torna-se cada vez mais complexa, diferenciada internamente,
onde cada subsistema a constroe segundo perspectivas próprias. Assim subsistemas tais
como economia, família, moral, ensino, política, direito, saúde,
entre outros, estão funcionalmente diferenciados, organizados e, é claro, estruturados
dentro de suas peculiaridades. O capitalismo financeiro toma importância
cada vez maior na diferenciação das sociedades que passam de uma sociedade de massa
para uma sociedade cibernética, cuja seiva é o intercâmbio de informações.
Há deterioração das ideologias, não há mais sentimento. Capital não tem ética. Cada vez
mais há fortalecimento das grandes corporações econômicas, transnacionais
e um enfraquecimento do Estado-Nação, com conseqüente fortalecimento do Direito
Comunitário. Mudam-se as relações internacionais e o poder econômico passa
a concentrar-se nos que detêm a tecnologia da informação. Novos valores aparecem ou
são reforçados nesta nova sociedade, como o sentimento de cidadania,
resgate dos direitos humanos, preocupação ecológica, entre outros. Em todas estas
transformações, existem descompassos gigantescos. Um dos quais e que
mais nos tem chamado a atenção é a do sistema jurídico, que não acompanha a rapidez
das mudanças dos outros sistemas. O caminho do legislar é longo e penoso.
Até que a função legislativa perceba as "interferências" advindas de outros sistemas e sub-
sistemas, positivando-as para que a função judicante interprete
e jurisprudência o percurso, é complexo em processos morosos. "Se é verdade que a
solução jurídica precede a solução tecnológica, também não é menos verdade
de que a solução jurídica para as questões das novas tecnologias, que evoluem
rapidamente, não pode depender de um processo legislativo arcaico, moroso
por natureza, concebido num outro tipo de sociedade. É óbvio que não está mais
atendendo às necessidades da sociedade pós-moderna. O derrame intermitente
de tantas Medidas Provisórias vem, também, denunciar a falência de todo o processo
jurídico-normativo vigente. Há que se encontrar mecanismos de legislação
mais ágeis, caso contrário a nova sociedade terá um modelo tecnológico que não pára de
evoluir e um modelo jurídico envelhecido."(4) Outra questão passa
pelas soluções esdrúxulas encontrada pelos Poderes Executivo e Legislativo, aqui no
Brasil. Assim é que, no intuito de acelerar importantes votações, de
celerizar o processo legislativo e de retirar dos representantes do povo e dos Estados-
Membros sua conciência de opinião, implanta-se o famigerado Voto
de Liderança e do conceito distorcido, maquiavelicamente, de "Fidelidade Pardidária".
Ambos usurpam a liberdade de consciência individual dos parlamentares
que aceitam e se prestam a papéis anti-democráticos, tirados de decisões dos chamados
líderes do governo, que seduzidos por tais ações impositivas do Poder
Executivo, decidem em nome da maioria amordaçada. Sinais dos novos tempos. Nada
mais do que soluções de atalhos, infelizmente, utilizados em grande escala.
Mais importante do que estas observações é ter em mente de que todas estas medidas
destroem a capacidade de formação política e institucional de nossas
representações, deixando muito a desejar a qualidade de nossas normas. Normas, regras
legais, que deveriam dar o suporte necessário ao sustentamento dos
anseios da nova sociedade e, por conseqüência, aprofundarão o agravamento das crises a
longo prazo nos mais diversos setores da economia, saúde, educação,
segurança, dentre outros. Tais ações, com certeza, não fortalecem o processo democrático-
legislativo. Tais práticas desvirtuam suas funções ao sabor dos
interesses e da interferência de outros Poderes. Na pós-modernidade, na prática, o Estado
perde o conceito real de ser tripartide. A nova sociedade vem
exigir respostas mais rápidas deste sistema jurídico, emergido em crise na pós-
modernidade.

Está cada vez mais patente que, contemporaneamente, a evolução tecnológica muda
velhos paradigmas, erigindo outros modelos de comportamento, criando novas
técnicas, surgindo novas Ciências. Por estas razões está a se exigir, numa velocidade cada
vez maior, a adequação de novas regras que dêem guarida à sociedade.
Percebe-se que aquele modelo do Sistema Jurídico fechado e hierarquizado não consegue
responder, na mesma velocidade, às necessidades normativas de uma
sociedade extremamente afetada pelo desenvolvimento tecnológico exacerbado. Há que se
buscar por um direito mais dinâmico, mesmo que alimentado pelos inúmeros
sistemas contemporâneos, de realidade pós-moderna, onde uma verdadeira teia de micro-
sistemas legais, admitidos no sistema jurídico, possam construir,
nas suas inter-relações, a nova realidade técnico-político-juridídico-cultural-social.

Este novo contexto traz a idéia de Justiça Privada que toma importância cada vez maior
por ser mais ágil, menos burocratizada, sem hierarquização, podendo
oferecer respostas mais adequadas aos interessados, a um custo muito mais baixo. Neste
contexto pós-moderno o princípio da diferenciação toma outra conotação:
o poder de execução e jurisdição será desconcentrado. Nesta visão, não cabe somente ao
poder do Juiz a jurisdicionalização e execução da justiça. Novas
técnicas e novos meios produzirão justiça e levarão seus efeitos ao Poder Jurídico Estatal,
eliminando etapas processualísticas complicadas e morosas,
permitindo deixando que as partes decidam, resolvendo o conflito utilizando-se da
Mediação(5) . Na Arbitragem(6), o processo é litigante e ao final é produzida
uma sentença arbitral dizendo com quem está a razão. Será, sem dúvida alguma, o
desafogo dos nossos Fóruns e Tribunais formais, bem como a democratização
da justiça àqueles que têm dificuldades no acesso à justiça estatal.

Não temos dúvida de que a Justiça Estatal irá aos poucos facilitar a Justiça Privada,
principalmente por tratar-se de um sistema ágil, dinâmico, verdadeiro
e mais próximo da sociedade. Com certeza, a Mediação e a Arbitragem encontrarão neste
mundo Globalizado o espaço ideal para a solução de interesses diversos
e adversos, principalmente para as novas questões trazidas pelas novas tecnologias, pelas
novas ciências, pelos novos Direitos. Terão mais liberdade e
estarão mais próximos da realidade social, a lhes oferecer os meios necessários na
formulação de respostas hábeis e velozes aos seus anseios por justiça.

2. Mediação não é uma solução. Uma necessidade.

Neste contexto, há que se redefinir os papéis de uma e de outra Justiça. Há que se dar
espaço para que a Mediação possa cumprir o papel de levar a justiça
nas questões que lhes cabe, democratizando seu acesso a todas as camadas sociais. No
modelo atual do Direito, a resolução de conflitos dá-se na forma do
poder do Juiz, que decide o litígio.De outro lado, a Mediação não pode ser reduzida à
prática jurídica. É uma técnica de resolução de conflitos.

Há conflitos porque as pessoas pensam diferente, desejam diferentemente as mesmas


coisas; agem diferente numa mesma situação. Lidar com as diferenças é
o grande segredo da Mediação. Minimizar as diferenças, o grande objetivo. Terminar com
as diferenças, jamais. Posto que as pessoas são eternamente diferentes.

Estamos atravessando um período de turbulência globalizada, comandadas por novos


paradigmas, onde modelos da modernidade vão mostrando sua falência, dando
lugar a novos modelos político-social-econômicos que impulsionando os Estados-Nação.
Novos modelos de prestação de justiça, menos onerosos e democráticos
ressurgem com muita força diante da necessidade que a sociedade possui de dar respostas
às suas necessidades com maior celeridade. A Mediação torna-se,
na atualidade, um modelo de justiça privada necessária.

Trata-se de um procedimento de criatividade interativo que requer pelo menos duas


pessoas físicas ou jurídicas, podendo ser uma física e outra jurídica,
que estejam em conflito, denominadas de partes(7). Para ajudá-las na resolução do
conflito, elegem pelo menos uma terceira pessoa, o mediador(8).

A Mediação é um processo de resolução de conflitos autônomo e não heterônimo, ou seja,


não necessita de uma terceira pessoa para resolver ou decidir o conflito.
Assim, o poder de busca da justiça passa a ser autônomo, transferindo este poder para as
partes em conflito. O desafio é juntar as pessoas conflitantes
e torná-las parceiras neste processo. Na Mediação não há culpados, há que se buscar
incessantemente o entendimento entre as partes para que resolvam total
ou parcialmente o conflito.

Decidir por si mesmo, este é um princípio regulador da Mediação. As partes tem que ter
autonomia, interesse e solidariedade na solução do conflito.

A mediação tem por objeto principal a minimização do conflito, ajudando a convivência


das pessoas e podendo, inclusive, fortalecer os seus vínculos, na
medida em que cada qual, através do diálogo, reconhece no outro seus limites,
possibilitando acordos que tragam benefícios desejáveis, eficazes e duradouros
por excelência, evitando, com isso, o penoso enfrentamento dos trâmites da Justiça
Estatal.

Trata, portanto, de um processo célere, cercado da confiabilidade e da informalidade, que


não pode se reduzido à prática jurídica.

A Mediação poderá ser Obrigatória(9) ou Voluntária(10). As diferenças aqui são mais de


cunho processuais. Por exemplo: na Mediação Obrigatória os mediadores,
inscritos em um Centro de Mediação, são sorteados para garantir a neutralidade. O acordo
vincula as partes e tem força de sentença, podendo ser executada.
Na mediação voluntária as partes escolhem o Mediador. O melhor tipo de mediação, sem
dúvida, é a voluntária, pois as partes vão predispostas a se aproximarem
de uma solução satisfatória.
O Direito é ciência. A Mediação não é ciência. É uma técnica e como tal utiliza-se de
regras e estratégias na condução de suas sessões. É muito mais a interpretação
de sentimentos do que de normas. Todavia, não pode ultrapassar os limites éticos e
normativos vigentes.

A nova sociedade informatizada está a demonstrar cada vez mais que as mudanças
tecnológicas vêm ocorrendo em passos cada vez mais acelerados, interferindo
na vida de toda a sociedade e, por conseguinte, de todos os cidadãos.

As crises sociais decorrentes das mudanças tecnológica têm demonstrado que o atual
modelo de prestação jurisdicional estatal enfrenta séria crise. Não consegue
acompanhar a necessidade de resolução de problemas na mesma velocidades com que são
gerados. Cada vez mais a justiça estatal fica assoberbada de processos
que, diante de um sistema processualístico moroso, deixa de dar respostas em tempo
compatível. As mudanças tecnológicas que se processam diante de nós
nos permite viver o maior e mais formidável acontecimento de nossa época. Não há
dúvida de que seremos todos afetados de forma direta ou indireta, integrados
ou excluídos nesta nova tecnologia. Há uma nova configuração da atual ordem social.

Cada vez mais a consciência humana globalizada indica-nos a importância do respeito aos
direitos do homem e do cidadão, a preservação ambiental, a constante
necessidade de capacitação, a interdisciplinaridade, o aparecimento de novas ciências, a
mudanção nas relações internacionais, nas relações de emprego
e assim por diante.

A Mediação, com sua técnica de resolução de conflitos, é capaz de oferecer respostas às


mais diversas demandas. Está capacitada a permitir acesso à justiça
a todas as camadas sociais. É célere e altamente democrática. Esta plenamente inserida
neste novo contexto, nesta nova ordem social.

A Mediação não é somente uma solução para os reclamos de justiça, mas uma
necessidade diante da velocidade de mudanças sociais. Tem condições de desempenhar
seu papel, servindo de equilíbrio e mantenedora das liberdades e dos direitos
fundamentais do cidadão, como por exemplo o acesso à justiça. Tem toda condição
de ser instrumento de resolução de conflitos ambientais, tecnológicos, informáticos, bem
como das novas questões trazida pela ciências emergentes, tais
como a biotecnologia, cibernética, telemática, entre outras. Sem dúvida, a Mediação, neste
contexto da sociedade informatizada diante do embate entre o
novo e o antigo, tem nas partes conflitantes o caminho para o entendimento e a melhora
da qualidade de vida de cada um e, por conseguinte, de nosso planeta.
Não está nas mãos de nenhum magistrado, está nas mãos dos maiores interessados, os
cidadãos comum.

Mediador, facilitador da comunicação entre as partes

Mediador - pessoa com formação técnica especializada, treinada e preparada para, com a
máxima imparcialidade coordenar sessões de mediação

Escuta atentamente as partes. O Mediador deve ter todo o tempo do mundo para escutar.
Ter paciência e Ter sempre em mente que se há uma mediação é porque
falhou a comunicação entre as partes. O Mediador possibilita que esta comunicação seja
restaurada. Que as partes tenham o máximo de oportunidade para dialogarem
entre si. É importante que sintam-se escutadas e compreendidas, o que lhes dará maior
confiança no processo. Desta forma, o Mediador dirige a sessão, conduzindo-a
imparcialmente, sem julgar, nem decidir. Sua função é informal e de aproximação das
partes. Controla o processo da mediação sem interferir no seu mérito.
Parafraseia cada parte para demonstrar que entendeu, sem no entanto expor o seu ponto de
vista do conflito. Técnica que serve para simplificar e ordenar,
jamais para decidir ou orientar decisões. O parafraseamento não é obrigatório, porque o
relato da parte pode ser conciso e claro. Todavia, se for necessário,
deve ser realizado com cautela. Não para fazer uma repetição exata do que foi dito e nem
colocar a sua interpretação. Deve assumir o caráter de um resumo,
digamos mais humanizado, onde o mediador deve procurar retirar da fala os pontos
negativos, palavras chulas, ofensivas.

E se o conflito esquentar, as partes passarem a se ofender, deve o Mediador interromper?

O papel do Mediador, como já frisamos, é o de facilitar a comunicação entre as partes.


Nem toda interrupção é negativa. Deve saber discernir o momento adequado.
Todavia, tomar cuidado ao fazer esta interrupção. Nunca entrar no clima das partes,
discutir com elas. Lembrar que a Mediação é um diálogo. Que no diálogo
alguém fala e outra escuta. Que a oportunidade será dada igualitariamente. Poderá
utilizar-se da Sessão Privada(11) com a parte mais agressiva e dar a
mesma oportunidade à outra parte. Porém, observar sempre a regra do sigilo e trabalhar
no sentido de que tudo o que seja tratado nesta sessão, seja trazido
à sessão conjunta pela própria parte. Fundamental para firmar a confiabilidade no
Mediador.

É fundamental que o Mediador saiba as razões do conflito. Por isso tem que trabalhá-lo,
lidando com os receios e as expectativas. Lidar com os segredos
que estão por detrás do conflito.

Se o jurista deve interpretar o segredo da norma, cabe ao mediador interpretar o segredo


do conflito. Interpretar os segredos de cada participante, bem
como os segredos que envolvem as relações. Neste aspecto a mediação é cercada de
infinitos detalhes para os quais o Mediador tem que estar atento. Atentando
para estes aspectos poderá, através de perguntas, abrir novos caminhos não descobertos
pelas partes, escondidos pelas questões mais fortes que os levaram
à mediação. Ter em mente de que tudo faz parte do conflito, incluindo as questões sócio-
econômico-culturais. Por isso é salutar que trabalhe o conflito
tendo a visão de mundo.

Podemos afirmar que o conflito vai além do normativo. No processo jurídico o pretendido
não pode ser modificado. Somente através de novo processo, novo
pedido. O Juiz não pode julgar além do pedido. Na mediação, não há esta estrutura rígida
de poder e de processo. A pretensão pode ser modificada a qualquer
tempo. Alterada ao sabor do entendimento das partes. Ajustada à realidade de cada um.
Mas democrática e distributiva. Tudo porque muita das vezes os interesses
que envolvem o conflito não é a pretensão inicial e sim são desejos ocultos e expressos
que afloram durante a Mediação. Atrás de cada problema, de pedidos
materiais há sempre interesses em jogos. Sejam interesses comuns, compartilhados entre
as partes ou interesses opostos que se chocam. Interesses cuja satisfação
de um é incompatível com a do outro. São interesses incompatíveis que necessitam ser
negociados. Há também interesses diferentes sobre uma mesma questão,
como por exemplo o rompimento de uma sociedade. Um quer permanecer com o negócio
o outro deseja afastar-se. Interesse plenamente negociável. Cabe ao Mediador
detectar os interesses comuns, opostos ou diferentes e trabalhá-los, sem influenciar, sem
sugerir, sem interferir. Ou seja, ajudar as partes para que vejam
seus interesses, que na maioria das vezes nem elas sabem quais são e como trabalhá-los.
O Mediador pode ajudar através de perguntas circulares(12), abertas(13(
ou fechadas(14) . Perguntas que devem ser formuladas com cuidado para que seja mantida
a imparcialidade do Mediador. As perguntas abertas dão melhores
condições de trabalho ao Mediador que adquire uma visão maior do conflito e do que
pensam as partes. Já a perguntas fechadas, se forem usadas em larga
escala poderão dar a impressão de que as partes estão sendo interrogadas, criando um
distanciamento entre Mediador as partes conflitantes. Questionar é,
sem dúvida, a melhor forma de incentivar o diálogo entre as partes fazendo com que
discutam, reflitam e decidam o que fazer e o que transacionar. Pode
chegar inclusive a conclusão de que determinados interesses não podem ser satisfeitos,
seja por questões sociais, ética, morais ou legais. É muito importante
que o Mediador trabalhe sem prever o resultado e sem querer a qualquer custo "fazer" um
acordo ou ter o acordo como um fim. O seu desafio maior é chegar
ao final da Mediação e que as partes se sintam melhor e recompensadas. Para isso o
Mediador deve ser solidário e afetivo, colocar-se como catalisador positivo,
transformador.

O pensamento do mundo jurídico é o de que tudo que não está nos autos não existe. O que
não está no processo, não está no mundo. Se o fato não pode ser
provado não existe. Na mediação não é bem assim, nesta certeza, na plenitude do Direito
moderno. A mediação é revigorada na vivência da incerteza constante,
do dito pelo não dito. Aproximar-se pelo segredo, pelo que está atrás da própria fala do
outro. Não cabe ao Mediador o papel de procurar provas e verdades.
Talvez aqui o aspecto mais difícil da mediação, o de permanecer eqüidistante do mérito
do conflito, sem influenciar nenhuma das partes. Neutralizar-se
sem manipular a mediação e sem oferecer soluções.

Sem dúvida estamos diante de um problema difícil. Como evitar que inconscientemente o
Mediador sutilmente possa persuadir uma das partes ou as partes propondo
soluções, para que firmem um "acordo desejado"? Acordo este desejado por quem? Pelas
partes ou a que o Mediador julga ser? Somente com muita técnica, estudo
e experiências acumuladas permitirão que, ao longo do exercício profissional, o Mediador
desenvolva suas habilidades essenciais, adquirindo técnicas de
comunicação e de condução de sessões que lhes dêem a imparcialidade, a empatia
necessária na condução do processo de mediação. Haverá de desenvolver cada
vez mais a criatividade, saber olhar através e além dos relatos, ter o raciocínio ágil,
flexibilidade, autoridade, segurança e cada vez mais valorizar
sua capacidade de escutar sem opinar. Ter em mente que os conflitantes tornam-se presas
fáceis e vulneráveis a receberem opiniões, "conselhos", por estarem,
de certa forma, predispostos à resolução do conflito.
Um outro fator ético que cerca a profissão do Mediador é o sigilo que deve envolver todos
os procedimentos da mediação. Jamais poderá revelar às partes
o que sabe sobre as mesmas ou da situações que envolvem o conflito quando lhes passado
em Sessão Privada(15), somente se por elas autorizado. Tal procedimento
proporcionará a confiabilidade das partes seja no Mediador ou no processo de mediação.

O Mediador tem, também, a responsabilidade ética de não assumir os problemas de


nenhuma das partes ou seja, não tomar partido. Deverá para isso despir-se
de seus preconceitos para evitar idéias pré-concebidas do conflito ou de atitudes das
partes ou de uma das partes. Bem como fugir daqueles modelos excludentes
na sociedade, tipo modelo sexual, prestígio social, mulher ser sempre a parte frágil e
assim por diante. Na realidade é muito difícil portar-se desta maneira
tão isenta, visto que cada indivíduo está envolto por inúmeros preconceitos que moldam a
sua estrutura cultural, ética, religiosa e moral. A luta para
eliminar os preconceitos deve ser diária, isto evitará rotular uma das partes, bem como
eliminar a possibilidade de proteger a parte que julgar ser a mais
fraca no conflito, em virtude da sua visão dos modelos e estereótipos criados pela
sociedade e absorvido durante a vida.

A Inter-disciplineralidade da Mediação: "Não há nada fixo nas idéias, há um fluxo de


saber"

A Mediação só terá êxito se lhe for garantida a interdisciplinaridade de funcionamento. O


de não ser privilégio de nenhuma classe profissional. Há correntes,
no entanto, que defendem o exercício somente para Advogados. No mínimo um erro de
avaliação e de conhecimento. A destempo de pertencer a esta Classe, creio
ser destemperada tal pretensão. No mínimo uma pretensiosa e desnecessária reserva de
mercado. A visão de conflito por parte do Advogado é diametralmente
oposta à das técnica da Mediação. O advogado vê no conflito um litígio e como tal tenta
resolvê-lo dentro de técnicas pelas quais foi treinado durante
toda sua vida universitária e profissional. Técnicas estas que não se coadunam com as da
Mediação, que não enxerga o conflito sob a ótica litigiosa. O
Advogado foi treinado para interpretar normas. O Mediador é treinado para ver o que está
por detrás dos fatos. Deve escutar sem a preocupação com a razão
jurídica e sim com os interesses em jogo. São, pois, diferentes as técnicas de
comunicação. O advogado tem por princípio tomar as rédeas do litígio e decidir
qual o caminho a trilhar, convencido de ser o melhor para seu cliente. Trabalha num plano
superior ao do cliente e do litígio. O grande "plus" da mediação
é que todos trabalhem num mesmo plano de comunicação. Só assim poder-se-á criar
ambiente propício para escutar e escutar, entender a relação conflituosa,
identificar os interesses de cada parte, os interesses comuns e os interesses ocultos.
Somente numa posição de comunicação mais horizontal, sem interferir
no processo mediatório poderá obter algum sucesso, na vontade única das partes,
solucionando total ou parcialmente o conflito. Vejo na advocacia uma das
profissões mais difíceis de ajustar-se aos princípios e objetivos da mediação, não que seja
impossível, mas porque o advogado, no processo litigioso, está
numa posição de poder, de mando, de controle das decisões e o cliente procurando por
justiça, resignado pela confiança e crença que a capacidade do seu
patrono resolverá o litígio, mesmo este tendo, ainda, que passar por todo o moroso
processo na Justiça do Estado.
De outro lado, o advogado-mediador é de suma importância, pois que dará, com certeza,
maior segurança aos ditames dos acordos. Todavia, para ser mediador
terá que enfrentar treinamento e reformular toda sua conduta, a começar pela visão do
conflito, libertando-se da visão litigiosa, que parte do princípio
do culpado e do inocente. Diante desta dicotomia, arquiteta suas peças jurídicas, onde
muito pouco ou nada existe da participação do cliente, a não ser
pelos relato dos fatos e das provas. Na Mediação, tenta-se diminuir o nível do conflito,
aproximando-se pessoas. Isto não significa que advogados não possam
ser mediadores, como quaisquer outras profissões, desde que todos que desejam
mediarem, indistintamente da profissão que abracem, participem de cursos
de especialização e de curta duração para assimilarem tais técnicas. Há em certos tipos de
mediação, mais específicas, como por exemplos as familiares,
a necessidade de se trabalhar com a técnica da co-mediação(16), ou seja, com mais de um
mediador, sendo que um destes mediadores poderá ser advogado, psicólogo,
assim por diante. Os bons Centros de Mediação devem primar para possuir um quadro
interdisplinar de mediadores. Só assim o Centro terá capacidade de oferecer
mediadores mais qualificados. Necessitamos abrir as portas do próximo milênio para que
todos possam laborar em igualdade de condições, sobressaindo-se
pela melhor capacitação e técnica. Por esta razão, não devemos nos enclausurar,
impedindo a participação, neste processo célere e democrático, de classes
de profissionais. Sabemos que nesta nova Era, liderada pelas tecnologias da informação,
reinará, sem dúvida, a interdisciplinariedade na condução das mais
diversas questões do cotidiano, num mundo globalizado, aproximando-se cada vez mais
do Estado Global, cujos verdadeiros direitos do homem e do cidadão
serão universalmente reconhecidos e tratados sob a ótica solutiva por intermédio da
Justiça Privada Supranacional ou pela Justiça Comunitária. Encastelar
a mediação e arbitragem no privilegiado exercício de uma única profissão é, também,
vedar os olhos da justiça privada, desconhecendo os anseios e necessidades
da nova sociedade da informação. É não ter a visão de mundo, certamente não
vislumbrando as oportunidades multidisciplinares existentes além de seu quintal
.

5. Mediação Transformadora, garantia de melhor qualidade de vida.

A Mediação Transformadora tem por objeto fazer com que os conflitantes detenham o
poder de buscar entre si a melhor das soluções, minimizando o conflito
e alcançando, com isto, uma melhor qualidade de vida. Este é o aporte epistemológico da
Mediação Transfomadora, a oportunidade de transfomação do indivíduo
na direção de uma melhor qualidade de vida.

A melhor qualidade de vida se obtém na medida em que as pessoas não fiquem


aprisionadas ao passado, mas que vejam, na mediação, a possibilidade de se sentirem
fortes para decidir suas vidas e, por conseguinte, o conflito em si mesmo. Portanto, na
Mediação Transformadora as pessoas entendem que não modificarão
seus passados. A grande transformação acontece no presente, prevendo um melhor
comportamento para o futuro. Neste prisma, existe uma importante função
pedagógica na mediação, na medida em que transforma o conflito em busca de uma
melhor qualidade de vida. Quando na Justiça Estatal o Juiz decide um conflito,
não há preocupação com a função pedagógica, ou seja, se as partes se transformaram ou
não. Na Mediação Transformadora há sempre uma preocupação pedagógica
no sentido de que as partes se transformem, de que o conflito minimize sua intensidade ao
mínimo possível, para que tenhamos uma mediação exitosa.

A Mediação Transformadora permite trabalhar com a diferença do outro. A parte se


transforma, colocando-se no lugar da outra. Quando se preocupa com as outras
pessoas está preocupando-se consigo mesmo. Este é um princípio em que na medida, por
exemplo, que analiso e me preocupo com a diferença, com o conflito
do outro, abre-se uma enorme possibilidade de realizar-se a minha transformação. Logo,
possibilitando-me crescer individualmente, a entender o problema
do outro e obter , com isto, uma melhora na qualidade de vida.
O Mediador tem a função primordial de atuar no sentido de que cada parte se coloque
dentro do problema do outro, no intuito de que se modifiquem a partir
desta visão alheia, não para entendê-lo, e sim para entender-se. O objetivo é a
transformação do conflito nas pessoas, realizando a diferença, é produzir
com o outro o novo, ou seja, uma nova diferença. Portanto, o Mediador ajuda as partes a
produzirem um novo através de seus conflitos. Desta forma, o conflito
é transformado por intermédio de uma administração constante. Todavia, o Mediador não
deve incorporar estas diferenças produzidas, elas não se transferem.
A confiança das partes no Mediador é fundamental para o sucesso deste processo
transformativo.

5. Mediação Ecológica, qualidade de vida universal

O homem sempre foi o maior e mais voraz depredador da natureza. Não tem a visão
sistêmica integrada de mundo e tão pouco absorve esta visão do Universo.

Todavia, neste findar de milênio, há uma conscientização para a importância das questões
ambientais.

Danos ambientais, em sua maioria, são irreversíveis, o que requer uma atuação preventiva
rápida e eficaz.

A Mediação tem a possibilidade de ocupar espaço em discussões desta natureza. Com sua
técnica e possibilidade de minimização do conflito, de resolução parcial
ou total, solução buscada pelas partes, agressora ambiental e defensora do meio ambiente,
é possível que todos ganhem em qualidade de vida. Por certo tratar-se-á
de Mediação especializada e como tal requererá muito treinamento por parte do Mediador.
O Mediador deve ter bem claro o que é qualidade de vida, necessita
ter a concepção ecológica da vida. Deve deixar exposto em seu discurso inicial o que é
ecologia; ambiente e Mediação Ecológica. E, se todos estão numa
sessão de Mediação-Ecológica é porque estão preocupados com o meio ambiente e com a
qualidade de vida das pessoas.

O objetivo da Mediação-Ecológica é o princípio regulador da ecologia, dever de cuidado;


viver o máximo possível em melhores condições. A sobrevivência é
um desejo latente no ser humano. Há um desejo de viver bem, melhor e mais. Na medida
em que este desejo de sobrevivência for trabalhado, nascerá o desejo
de lutar para sobreviver. O somatório será o nascedouro do desejo coletivo de preservação
da vida e teremos uma melhor qualidade de vida planetária. As
partes devem ter a consciência, também, de que um dos princípios da Mediação é o dever
de decidir por si mesmo, ou seja, ter autonomia para decidir, interesse
em decidir e solidariedade com a humanidade. Será também aconselhável a realização de
Co-Mediação, visto que as sessões conjuntas são muito mais complexas
porque dela participam muitas partes e estão implícitos múltiplos interesses. Também há
elementos sociais, políticos e econômicos a considerar. Por sua
vez, as partes poderão ter assessoramento, consultores e advogados. Na Mediação-
Ecológica a ecologia pode ser vista sob a forma de um paradigma, uma nova
visão de mundo, tendo como função a de melhorar a qualidade de vida.
Epistemologicamente, consiste na oportunidade de transformação do indivíduo, das partes,
para melhorar suas qualidade de vida. A Mediação-Ecológica tem função mais
pedagógica do que punitiva. Muito mais preventiva e de inserir uma consciência
ecológica. A mediação ecológica tem muito pouco a ver com os ditames das normas, tem
a ver com o que as partes adquiram a verdadeira consciência ecológica.
Para se mediar não há que tomar, necessariamente, o normativo, como prioridade. A
norma existe para ser cumprida, mas se o indivíduo adquirir a consciência
ecológica não necessitará da norma. É satisfatório para o Mediador Ecológico se
conseguir que as partes, ao final da mediação ou co-mediação, adquiriram
um certo grau de consciência de qualidade de vida, compreenderam, entenderam e
aprenderam a importância da ecologia.

Marco Antônio Machado Ferreira de Melo

Notas

(1) Thomas S. Kuhn, in A Estrutura das Revoluções Científicas explica que paradigmas
constituem-se nas realizaçõesuniversalmente reconhecidas que fornecem
problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes da ciência. Dois
divisores de águas , dois paradigmas que mudaram a sociedade planetária.
O paradigma da modernidade: industrialização; o paradigma da pós-modernidade: as
novas tecnologias da informação

(2) A Industrialização ou a chamada Revolução Industrial foi o grande marco, o


paradigma da modernidade. Uma visão de mundo. Uma nova concepção do modelo
econômico. Iniciada no século XVIII, na Inglaterra, quando fatores econômicos, políticos
e sociais da época lhe propiciaram estar à frente e deflagrar
um novo período fértil para a humanidade. Surge o capitalismo, a produção em massa
substitui à produção artesanal. O Estado absolutista e arbitrário dá
lugar ao Estado de Direito. O Estado Constitucionalista, prima pelo equilíbrio dos três
poderes: legislativo - produtor das leis, limitando as tarefas
do executivo; ao judiciário delega o dever de solucionar os conflitos. A Modernidade, no
seu processo evolutivo, interferiu nas relações sócio-econômico-político-sociais
da humanidade até no final da primeira metade do Século XX.

(3) Tem como marco a invenção do primeiro computador, em 1947, Eletronic Integrator
and Caculator-ENIAC, nos estados Unidos. A partir da invenção do micro
chip, nestas três últimas décadas, a informática, aliada às tecnologias das
telecomunicações imprime mudança radical nos modelos econômicos, geo-políticos,
culturais, científicos da humanidade. É a chamada novas tecnologias da informação ou de
revolução digital vêm dar um tom todo especial para este findar
de milênio, na formação de uma nova sociedade estruturada além dos conceitos da
modernidade, onde a velocidade das inovações tecnológicas acontecem em
espaços de tempo cada vez mais curtos e de impacto universal.
(4) Ferreira de Melo, Marco Antônio - Spam - Lixo Eletrônico. Revista da Informática
Jurídica, 04/08/98, http://infojur.ccj.ufsc.br/revista.htm

(5) A Mediação é um processo de resolução de conflitos autônomo e não heterônimo, ou


seja, não necessita de uma terceira pessoa para que resolver ou decidir
o conflito. Assim, o poder de busca da justiça passa a ser autônomo, transferindo este
poder para as partes em conflito.

(6) Processo que requer pelo menos duas pessoas físicas ou jurídicas, ou uma física e
outra jurídica, que estejam em litígio. Para ajudá-las na solução
do litígio elegem pelo menos uma terceira pessoa, árbitro, que através de uma sentença
porá fim ao litígio na área arbitral. Na Arbitragem há um processo
que reveste-se de formalidades. Célere, cercado da confiabilidade e da formalidade
necessárias ao desenvolvimento do processo arbitral. Cabe ao árbitro
conduzir todo o processo, colhendo depoimentos das partes e de testemunhas, provas,
documentos, laudos periciais, para fundamentar sua sentença arbitral.
O árbitro tem o poder de decidir pelas partes. De sua sentença arbitral não cabe recurso,
podendo ser impugnada a chamada Ação de Nulidade, por erro cometido
na condução do processo, mas nunca sobre questões de mérito. A arbitragem tem por
objetivo principal a solução do litígio, evitando, com isso, o penoso
enfrentamento dos trâmites da Justiça Estatal.

(7) Decidem livremente se vão ou não participar da mediação. Possuem o livre arbítrio
para retirarem-se do processo de mediação a qualquer tempo. Desobrigadas
a chegarem a um acordo. O acordo poderá ser total ou parcial e terá o mesmo valor de um
acordo extrajudicial. Podem, mesmo durante o processo da mediação,
optarem por outras formas para resolver seus problemas.

(8) Pessoas com formação especializada, treinada e preparada para, com a máxima
imparcialidade, aplicar técnicas de comunicação acurada e regras para conduzir
as sessões de mediação.

(9) Quando está estipulada em cláusula compromissória. Na sessão obrigatória as partes


podem não querer realizá-la e ir direto para a Arbitragem. De qualquer
forma é instalada a Sessão e lavrado Termo, que vai assinado por todos.

(10) As partes escolhem como meio para derimir o seu conflito a Mediação. Pode ser
realizada sem a presença de advogados.

(11) Reunião realizada entre o Mediador e uma das partes reservadamente. Sessão
sigilosa. Mediador não pode transmitir nada do que ocorreu nesta sessão,
a não ser se autorizado expressamente pela parte. Sendo que se realizada com uma delas,
deve ser realizada uma nova sessão com a outra parte, para manter
a isenção do Mediador. É uma excepcionalidade. Poderá ser solicitada pelas partes ou
sugerida pelo Mediador. Situações em que poderá ser solicitada pelo
Mediador: quando notar que uma das partes está muito agressiva e se puder trabalhar esta
agressividade; quando perceber que uma das partes é por demais
tímida e tem dificuldade de expressar seus pontos de vista; quando perceber que uma das
partes está deliberadamente atrapalhando o andamento da sessão;
para tranqüilizar uma das partes, se esta estiver muito nervosa; quando notar que poderá
detectar interesses ocultos no conflito; para verificar o que
se chama de preço reservado, verificar qual o máximo a parte está disposta a dar e qual o
mínimo que a outra está disposta a receber; para avaliar e fazer
com que uma parte se coloque no lugar da outra; para tocar em aspectos legais que se
trabalhado em conjunto poderia ser demonstrado com quem está a razão,
mesmo porque pode uma das partes pretender direitos indisponíveis. O Mediador tem que
manter sua imparcialidade. Aqui trabalha-se questões da seguinte
forma: você consultou seu advogado sobre sua pretensão? O que o Advogado falou? Por
que sabendo isto você reclama? Por que não consulta um advogado? Podemos
suspender a sessão. Mas nunca dizer com quem está a razão. A Sessão Privada também
pode ser realizada com os advogados das partes, principalmente se estiverem
dificultando a sessão, interrompendo-a constantemente e solicitar-lhes colaboração ou até
mesmo para demonstrar que o advogado está tendo uma visão errônea
do conflito, querendo, por exemplo, propor acordo imediatamente. Mostrar que as partes
devem chegar às suas conclusões.

(12) São perguntas que buscam contextualizar a situação, principalmente quando poderá
ampliar o campo contextualizado. Muito utilizadas em sessões privadas,
sendo viável a aplicação da mesma pergunta a cada uma das partes.

(13) São as que buscam um maior leque de informações. Dá oportunidade para que a parte
se abra mais, saia de dentro de si. Muitas vezes são perguntas que
coloca uma parte no lugar da outra, para que enxergue o problema na ótica do outro.

(14) São aquelas que estão mais focalizada, mais centradas no interesse ou na questão,
esperando respostas mais concretas, do tipo sim e não.

(15) Sessão Privada. Reunião em separado realizado entre uma das partes e o Mediador.
Oportunidade em que a parte envolvida no conflito poderá relatar fatos
mais íntimos ou aspectos que julga ser importantes esclarecer. O sigilo é fundamental e o
Mediador só poderá reportar-se na Sessão conjunta somente naquilo
que lhe for autorizado falar. Caso contrário terá que guardar em absoluto segredo o que
lhe for relatado e não autorizado falar.

(16) Quando mais de um Mediador trabalha em uma mediação. Além da afinidade que
deve existir entre eles, a técnicas utilizadas na co-mediação são as mesmas
da mediação, incorporadas outras para facilitar o trabalho em conjunto, tais como: sempre
que desejarem replanejar ou modificar alguma estratégia na sessão,
devem ausentar-se da sala e estabelecer em conjunto os novos rumos; nunca discutir
questões de condução da sessão na frente dos mediados; sempre falar
no plural; o trabalho é em conjunto e em igualdade de condições. A vantagem da co-
mediação é uma melhor visão do fenômeno, bem como a possibilidade de
multiplicar a visão do conflito.

BIBLIOGRAFIA

BRASIL. Lei no 9307, de 23 de setembro de 1996. Dispõe sobre a arbitragem.

CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. Tradução: Roneide Venâncio Majer. Editora


Paz e Terra, São Paulo, 1999, p. 77
RIBEIRO, Darcy. O Processo Civilizatório: estudos de antropologia da civilização; etapas
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SALES, José Roberto da Cunha. Tratado da Praxe Conciliatória ou Theoria e Prática das
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MAUBERT, Jean-François. Negociar - A Chave para o Êxito. Edições CETOP. Portugal.


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FUNDAMENTOS JURÍDICOS PARA O ENSINO POR TELEPRESENÇA


Hugo Cesar Hoesch

Ricardo Miranda Barcia

....................

"RECONHEÇO QUE, SE PODERIA CAMINHAR COM O EMPREGO DA


INFORMÁTICA PARA AGILIZAR O ANDAMENTO PROCESSUAL, UTILIZANDO-SE A
TELECONFERÊNCIA PARA SE INTERROGAR
RÉUS E TESTEMUNHAS RESIDENTES EM OUTRAS COMARCAS...".

....................

Jesus Costa Lima

Ministro do Superior Tribunal de Justiça

1. Introdução

A utilização da telepresença está destinada a ser uma prática comum para os atos da vida
civil. Muitos avanços positivos estão por vir, mas alguns deles
já estão ao nosso alcance, como, por exemplo, na educação. Algumas Universidades
brasileiras já oferecem cursos regulares - devidamente aprovados, reconhecidos
e homologados nas instâncias competentes e ministrados dentro do campus das
respectivas instituições, em suas respectivas cidades - que contam com a participação
de alunos conectados através das tecnologias da telepresença, de forma tal a que alunos
participem das aulas, interativamente, em salas previamente preparadas,
mediante a transmissão bilateral de imagens, voz e dados, como se estivessem nas salas da
respectiva instituição, configurando a chamada "presença virtual",
a qual é reconhecida como similar à "presença" pelos tribunais brasileiros.

2. Presencial virtual = Presencial.

Presença e telepresença são, juridicamente, iguais, no âmbito de seus efeitos, para os fins
aqui discutidos. O ensino realizado pelo modelo telepresencial
equivale àquele realizado pelo modelo presencial, pois "telepresença" equivale à
"presença", conforme estão decidindo os Tribunais nacionais.

Não se restringindo a decidir sobre o assunto, o judiciário nacional está aplicando a


telepresença em atos judiciais tradicionamente solenes, como, p. ex.,
interrogatórios, conforme se verá mais adiante.

A modalidade de ensino denominada como "presencial virtual" materializa absoluta


interatividade entre os participantes. Seu funcionamento é o seguinte:
câmeras e monitores posicionados nas salas onde se encontram professores e alunos
permitem que todos possam efetivar perfeita comunicação interativa, como
se presentes estivessem. Eles estão "telepresentes entre si", como se estivessem todos no
mesmo lugar.
A telepresença diferencia-se do aparendizado passivo, modelo "telecurso", pois permite o
diálogo imediato entre mestre e aluno, como se estivessem na mesma
sala. Isto é, o aluno pode interromper o professor, a qualquer momento, para esclarecer
dúvidas e efetuar questionamentos, "olho no olho", podendo o mestre
visualisar o aluno e conferir suas ponderações em tempo real, podendo, inclusive, avaliar
seu comportamento em aula, com tranquilidade.

3. Ensino por telepresença é diferente de ensino a distância

Telepresença e ensino a distância são conceitos diferenciados. O uso da telepresença não


pode ser erroneamente confundido com o ensino a distância. A telepresença
não é uma espécie integrante do gênero ensino a distância. Este é normatizado pelo
DECRETO N.º 2.494, DE 10 DE FEVEREIRO DE 1998, o qual, por sua vez,
regulamenta o artigo 80 da LEI 9.394/96, a LDB. O ARTIGO 1º. do referido Decreto
estabelece a noção de ensino a distância:

"Art. 1º Educação a distância é uma forma de ensino que possibilita a auto-aprendizagem,


com a mediação de recursos didáticos sistematicamente organizados,
apresentados em diferentes suportes de informação, utilizados isoladamente ou
combinados, e veiculados pelos diversos meios de comunicação".

Telepresença é outra coisa, mais sofisticada e humanizada. Na telepresença, os homens


conduzem o processo, não as máquinas, eis que ela não se restringe
a uma emissão de sinais que gerarão condições para o aprendizado passivo.

O modelo baseado na telepresença é diverso do descrito no Decreto citado, por diversas


razões. As principais são as seguintes:

I - "...auto-aprendizagem...". O modelo telepresencial não é baseado na auto-


aprendizagem. Não há uma participação passiva do aluno, simplesmente assistindo
às aulas pelo vídeo e respondendo questões em sua apostila. Muito pelo contrário, o
sistema baseado na telepresença é dinâmico, como já foi enfatizado,
no qual o aluno e o professor estão se enxergando mutuamente, cada qual em seu video,
com retorno integral de áudio, imagens e dados, em tempo real;

II - "...veiculados...". A sistemática telepresencial não se resume à veiculação, em vídeo,


do material ditádico, pois promove a conexão, por telepresença,
entre os participantes da aula (professores, alunos e monitores), todos ao mesmo tempo.
Não se trata de uma simples emissão de sinal, passivamente captada
pelo aluno, como se estivesse assistindo a um canal de televisão. Pelo contrário, pois
mestre e aluno estão vendo uns aos outros todo o tempo, enquanto
estiverem conectados telepresencialmente.

Assim, os cursos em tela não podem ser caracterizados como "a distância", mas sim como
"presenciais", sob a modalidade da telepresença.

4. Diretriz Jurisprudencial

O emprego da telepresença é admitido pelos tribunais brasileiros como prática válida,


segura e confiável. Atos nos quais as leis exigem que as pessoas estejam
presentes diante de um magistrado estão sendo praticados mediante a telepresença, como
depoimentos e interrogatórios. Isso está acontecendo em razão da
admissão de que a presença remota, ou telepresença, surte, juridicamente, os mesmos
efeitos que a presença, em situações como as discutidas, nas quais
as pessoas necessitam ver e ouvir, interativamente, umas às outras, podendo dialogar
livremente, debater, questionar e responder, como se estivessem presentes
no mesmo local.

Os depoimentos e testemunhos judiciais são atos pessoais, que exigem a presença da parte
interessada, que será ouvida. Sobre isso, veja-se a seguinte decisão
do egrégio Superior Tribunal de Justiça:

Acórdão: RHC 7462/DF ; RECURSO ORDINARIO EM HABEAS CORPUS


(1998/0022261-8)

Fonte: DJ DATA:22/02/1999 PG:00112

Relator: Min. JOSÉ ARNALDO DA FONSECA

Data da Decisão: 16/06/1998

Orgão Julgador: QUINTA TURMA

Ementa:

"RECURSO EM "HABEAS CORPUS". PROCESSUAL PENAL. EXECUÇÃO.


REGRESSÃO DE REGIME. FALTA GRAVE. INQUÉRITO DISCIPLINAR. AMPLA
DEFESA DO CONDENADO. - Nos termos
da Lei de Execução Penal, faz-se imprescindível a presença física do condenado para ser
ouvido, em audiência, pelo juiz, e desse modo o amplo direito de
defesa pode e deve ser exercitado mediante oposição técnica ao pedido de regressão
requerido a realizar-se por seu patrono, constituído ou integrante da
defensoria pública".

- Recurso conhecido e provido.

Decisão: Por unanimidade, dar provimento ao recurso.

Não há dúvida quanto à necessidade de presença da pessoa diante do magistrado,


conforme reitera o precedente a seguir transcrito, da mesma Corte:

Acórdão: RHC 7459/DF ; RECURSO ORDINARIO EM HABEAS CORPUS


(1998/0022253-7)

Fonte: DJ DATA:31/08/1998 PG:00120

Relator(a): Min. VICENTE LEAL

Data da Decisão: 23/06/1998

Orgão Julgador: - SEXTA TURMA


Ementa:

"EXECUÇÃO PENAL. FALTA GRAVE. APURAÇÃO. REGRESSÃO. PRÉVIA


AUDIÊNCIA DO CONDENADO EM JUÍZO. INDISPENSABILIDADE. LEI Nº 7.210/84,
ART. 118, § 2º. - A Lei
nº 7.210/84, que instituiu entre nós a política de execução penal, incorporou no seu texto
dogmas de elevado conteúdo pedagógico e de grande alcance na
busca do ideal de recuperação e ressocialização do condenado, conferindo, para tanto,
especial relevo à atuação do Juiz da Vara das Execuções Penais. -
Dentro dessa visão teleológica, é de se emprestar rigor à regra do art. 118, § 2º, da LEP,
no sentido de se entender imprescindível a audiência pessoal
do condenado pelo Juiz, após a apuração das ocorrências no inciso I, do citado artigo, para
fins de imposição de regressão de regime prisional. - Recurso
ordinário provido".

Porém, esta presença - imprescindível - pode ser a telepresença, conforme decidiu o


mesmo Superior Tribunal de Justiça, em decisão pontual a seguir apresentada:

Acórdão

RHC 4788/SP ; RECURSO ORDINARIO EM HABEAS CORPUS


(1995/0039109-0)

Fonte

DJ DATA:25/09/1995 PG:31118

Relator(a)

Min. JESUS COSTA LIMA (0302)

Data da Decisão

23/08/1995

Orgão Julgador

QUINTA TURMA

Ementa

"PROCESSUAL PENAL. EXCESSO DE PRAZO NA INSTRUÇÃO.


PECULIARIDADES.

I. IMPETRAÇÃO ALEGANDO EXCESSO DE PRAZO PARA CONCLUIR A


INSTRUÇÃO. O TEMA IMPLICA EM SE CONSIDERAR A ÉPOCA EM QUE FOI
ELABORADO O CÓDIGO DE PROCESSO PENAL,
AS MUDANÇAS OCORRIDAS NO PAÍS E, ESPECIALMENTE, EM SE CUIDANDO
DE PROCESSO INCLUINDO VÁRIOS REUS, AS DIFICULDADES POR ELES OPOSTAS
PARA SEREM CITADOS OU
A DEMORA

NA APRESENTAÇÃO AO JUÍZO, A FIM DE SEREM INTERROGADOS, O QUE


NÃO DEPENDE DO PODER JUDICIÁRIO. RECONHEÇO QUE, SE PODERIA CAMINHAR
COM O EMPREGO DA INFORMÁTICA
PARA AGILIZAR O ANDAMENTO PROCESSUAL, UTILIZANDO-SE A
TELECONFERÊNCIA PARA SE INTERROGAR REUS E TESTEMUNHAS RESIDENTES
EM OUTRAS COMARCAS, COM O QUE SE
EVITARIA, NO CASO DOS REUS, AS COMUNS FUGAS. NO CASO, POR
EVIDENTE, SE NÃO ESTA DEMONSTRADO QUE A COAÇÃO DECORRE DE ATO
PROVOCADO PELO MINISTERIO PUBLICO
E NEM PELO JUIZO DA CAUSA, A DEMORA ENCONTRA-SE JUSTIFICADA. EM
OPORTUNIDADE ANTERIOR SALIENTEI QUE SE TRATA DE REU DE ACENTUADA
PERICULOSIDADE, TENDO
AGIDO COM MAIS DOZE "COLEGAS", INTERCEPTANDO UM CARRO FORTE
COM RAJADAS DE METRALHADORAS E DISPAROS DE REVOLVERES E FUZIS
SUBTRAINDO APRECIAVEL QUANTIDADE
EM DINHEIRO.

II. RECURSO CONHECIDO, MAS IMPROVIDO PELOS PROPRIOS


FUNDAMENTOS DO JULGADO.

Decisão

POR UNANIMIDADE, NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO"

(Destacado).

Note-se que o judiciário não está apenas reconhecendo a validade da telepresença, mais
do que isso, ele está aplicando a tecnologia em seus atos de administração
da justiça.

5. Conclusão

Assim, a admissibilidade do emprego da "presença virtual" para a prática de atos


judiciários eminentemente solenes, materializada por decisão unânime do
Superior Tribunal de Justiça, torna sólido o entendimento de que esta tecnologia é válida e
confiável para atividades que envolvam o contato "vis a vis"
entre os seres humanos, pois ela é permeada pela interatividade, ensejando perfeita
possibilidade de avaliações. Se um magistrado pode "sentir" a segurança
de um depoimento telepresencial, um professor pode avaliar um aluno, em seu mistér
pedagógico, nas mesmas condições. Muitas são, portanto, as aplicações
válidas da telepresença. Entre elas, não há dúvida, estão as atividades pedagógicas, ora em
discussão.

Referências:

http://www.stj.gov.br

http://www.senado.gov.br
http://www.brasil.gov.br

http://www.planalto.gov.br

http://www.mct.gov.br

E-governo

Walter Felix Cardoso Júnior

Na sociedade cibernética que se instala, não é mais o grande que engole o pequeno. Agora
é o veloz que devora o lerdo, e isso vale para as pessoas, empresas,
governos, nações e sistemas.

Mário Henrique Simonsen

O governo está chegando tarde à WEB, embora ela tenha sido criada por sua inspiração,
nos Estados Unidos da América, há cerca de dez anos. Mas, apesar do
atraso, a pressão para recuperar o tempo perdido é muito forte, pois existe um papel
insubstituível a ser exercido pelo governo na internet.

A lógica principal que domina a criação do governo on line, ou e-governo, é bem simples:
se é possível fazer generalizadamente comércio na internet, certamente
é possível exercer ações de governo lá de dentro da WEB.

O governo digital, como está sendo chamado, é um conceito que vem criando cultura
tanto no poder público como na cabeça das populações. Embora a internet
e suas aplicações governamentais possam ser analisadas sob a égide de uma abordagem
incremental, voltada para a melhoria de serviços ou de relacionamentos,
trata-se de ferramental que pode ser conjugado às melhores práticas de administração,
lançando perspectivas inovadoras sobre a forma de organizar e de
gerir a coisa pública.

Sabe-se de antemão que essa grande aspiração de modernidade só dará certo mesmo se o
acesso dos cidadãos ao governo on line for comprovadamente fácil, barato,
descomplicado e seguro. Segurança, neste caso, implica em manter os hackers afastados,
impedindo o congestionamento dos sites e evitando o vazamento dos
dados pessoais dos usuários.

Outro aspecto que deve ser considerado para o desenvolvimento do e-governo é o estágio
de evolução já alcançado pelos diversos grupos sociais dentro do
País. Enquanto encontramos comunidades altamente evoluídas, em termos de tecnologia e
conhecimento, subsistem aquelas parcelas da sociedade que permanecem
intelectual e materialmente atrasadas, sem falar naqueles tantos quantos seres humanos
que ainda se encontram na idade da pedra, literalmente.

Contudo, o que há dez anos era considerado totalmente impossível, agora a emergente TI
- Tecnologia da Informação - tornou exeqüível. Como fazer para licenciar
pela internet um novo negócio, efetivar a venda de um imóvel, ou mesmo registrar uma
criança recém nascida, um óbito, um casamento? O quanto fazer tudo
isso pela internet não mudaria a própria imagem tão desgastada do setor público?
Uma das principais causas da propalada ineficiência do governo é a burocracia -
administração dos bens públicos por funcionário sujeito a hierarquia complexa
e regulamento rígido, e a uma rotina inflexível, o que ocasiona morosidade, ineficiência e
complicações no desempenho do serviço administrativo.

Mas há outros problemas a serem equacionados. Com repartições historicamente


organizadas verticalmente, torna-se difícil obter a colaboração entre os próprios
órgãos governamentais envolvidos em qualquer tipo de empreendimento. Exemplo disso,
são as polícias brasileiras (Federal, Civil e Militar) que praticamente
trabalham de costas umas para as outras, enquanto a criminalidade cresce perigosamente.
Neste caso, infelizmente, o que tem sido observado até aqui é que
mesmo quando existe uma sincera vontade política para reduzir o desencontro na
segurança pública, misteriosas forças internas conspiram para que tudo continue
confuso e ineficaz como sempre foi.

A WEB pode ajudar muito no equacionamento desses problemas. Nesse sentido, ela
facilita e acelera os processos de mudança. As possibilidades de aplicação
da TI na administração pública abrangem um amplo leque de atividades que pode
modernizar as estruturas existentes ou o processo de gestão.

A diversidade de usos que podem ser facultados pela informática compreende as


dimensões da: coleta de informações; fornecimento de informação; prestação
de serviços; interação; e transações.

Dentre as vantagens que podem ser auferidas para a organização governamental estão a
agilidade, o baixo custo operacional e a redução de intermediação.
Por outro lado, para o cidadão, o e-governo poderá propiciar ganhos em comodidade,
economia de tempo, redução de burocracia e transparência. Além disso,
deve ser enfatizado o potencial de aplicação da informática no desenvolvimento de
projetos em nível local, na criação de mecanismos de consulta ao cidadão
e de revigoramento do processo governamental, por meio da expansão das instâncias de
discussão e acesso à informação, proporcionadas pelo próprio governo.

Na terra dos idealizadores da WEB a infra-estrutura já está mais evoluída. Uma pesquisa
realizada entre os norte-americanos, apresentada pelo NIC - órgão
provedor de soluções eletrônicas para o governo, revela que os serviços eletrônicos
oferecidos pelo governo já conquistaram 65% dos internautas adultos.
Entre os serviços mais procurados estão aqueles que permitem a emissão de carteira de
motorista e votar nas principais eleições. Outras experiências avançadas
e bem sucedidas com e-governo também estão sendo realizadas em Cingapura, na
Austrália e no no Reino Unido.

No Brasil, em que pese a nossa histórica defasagem tecnológica, podemos registrar


expressivos avanços cibernéticos no setor público, o que evidencia a existência
de um processo em curso de assimilação renovadora da informática, conjugada a
iniciativas de modernização institucional e de melhoria do atendimento ao
cidadão.

Algumas evidências ilustrativas dos avanços já realizados caracterizam que o site da Rede
Governo, que dá acesso instantâneo a informações e serviços em
todas as áreas da administração federal, está sendo plenamente bem sucedido. As visitas
mensais que recebe são da ordem de 40 mil. O "Comprasnet", que
divulga editais de compras governamentais e auxilia os fornecedores do governo a
participar das licitações, recebe cerca de 30 mil acessos por mês. O site
do Programa Avança Brasil, que apresenta os 365 programas que compõem o Plano
Plurianual 2000-2003, já recebeu 80 mil visitas desde o seu lançamento.

Pesquisas recentes revelam que, de uma maneira geral, a busca de informações junto a
órgãos públicos é uma das 4 maiores motivações de utilização da internet
pelos seus usuários. A expansão e a sofisticação crescente dos serviços oferecidos ao
público já avança em direção ao "e-service concept", com a supressão
da tramitação de papéis e a plena resolutividade dos processos em meio eletrônico. Estes
avanços, todavia, não deixam de contrastar com as ainda persistentes
limitações de acesso da maioria da população aos serviços de telefonia e equipamentos de
informática.

O projeto "E-Receita", da Receita Federal, conta com expressivos resultados na oferta de


serviços por meio da internet: vejam o que ocorreu este ano, quando
as pessoas físicas entregaram cerca de 10 milhões de declarações de Imposto de Renda,
via internet. A certificação digital e o pagamento de tributos por
meio de débito em conta são projetos em fase de implantação.

Quanto à Previdência Social, por sua vez, vem ocorrendo uma experiência assombrosa,
em vista das grandezas envolvidas, representando a maior folha de pagamentos
do país, com 18 milhões de beneficiários, além de recolhimentos mensais de 3 milhões de
empresas e 5 milhões de contribuintes individuais. O Dataprev,
juntamente com o Ministério da Previdência Social - MPS e o INSS vem atuando de
forma integrada na divulgação de informações e oferta de serviços ao público,
desde 1996. A experiência teve início com a disponibilização na internet de estatísticas da
Previdência Social e da recepção eletrônica de mensagens e
de serviço de atendimento. Os serviços evoluíram com a introdução de grande volume de
informações e noticiário, culminando na oferta de serviços diretamente
aos segurados e contribuintes. Estes serviços atualmente abrangem um amplo leque, com
elevada carga de visitas diárias, dentre os quais se destacam: o
cálculo de contribuições em atraso (2.300 acessos); o recebimento de pedidos de CND
(7.900 acessos); o fornecimento de histórico de benefícios (1.500 acessos)
e o acompanhamento de processos de concessão de benefícios (1.300 acessos). A
introdução de serviços de auto-atendimento e a unificação de serviços e informações
no Portal da Previdência Social, são as novas linhas de trabalho em desenvolvimento. O
auto-atendimento está sendo implantado por meio do chamado "Prev-Fácil",
que é um quiosque de atendimento. O Portal deverá integrar todas as informações num
site único.

i. A área de Saúde é outro segmento no qual a oferta de informações de natureza educativa


ao grande público é fundamental. A disseminação de dados dessa
área teve início com a Fiocruz e as páginas na internet sobre a AIDS. A expansão dos
serviços se deu com o progressivo envolvimento de todas as áreas do
MS e da Fundação Nacional de Saúde - FNS e a incorporação das bases de dados do
Ministério, que contém informações sobre serviços hospitalares e dados
demográficos. Atualmente, esta experiência é percebida como em plena maturidade,
adotando a internet como meio natural de relacionamento com a sociedade.
Os serviços hoje oferecidos em 8 sites na área de saúde, não computados os inúmeros
sites estaduais e municipais, contemplam as áreas de vigilância sanitária,
saúde suplementar, epidemiologia, informações em saúde, além da legislação e dos
projetos do Ministério.

No que tange aos Correios, a sua trajetória se situa de forma original entre dois extremos:
de um lado, a entrada da empresa na área de prestação de serviços
"on line", por meio de seu site na internet, e de outro, a preocupação de atender às
necessidades de sua vasta clientela popular, que não dispõe de meios
para aquisição de equipamentos de informática. A solução encontrada tem sido a
conjugação de tecnologias tradicionais e de ponta num mesmo serviço. Com
essa finalidade, os Correios introduziram os serviços de Telegrama e Carta via internet.
Visando o público empresarial, foi criado ainda o Sedex "on line".
Como evidências do potencial desta nova frente de expansão, o volume de vendas de
serviços pela internet já se coloca entre as 100 maiores agências, sendo
que o crescimento dos produtos de internet, como a Carta, foi da ordem de 327%, e o
Telegrama, de 675%, em 1999.

O Serpro, prestador de serviços de informática do Governo Federal, tem procurado


desbravar novas possibilidades de aplicação do conceito de "e-service"
em parceria com seus clientes, representados por órgãos e entidades da administração
pública. A atuação do Serpro está na base de diversas iniciativas
importantes da administração federal que têm explorado este caminho, como o SIAPEnet,
mantido pelo Ministério do Planejamento, que oferece informações
e serviços relacionados com a folha de pagamentos dos servidores federais, registrando
cerca de 169 mil acessos por mês. Outros serviços representativos
deste esforço são o Comprasnet, na área de licitações, também mantido pelo MP e
direcionado principalmente para os fornecedores governamentais. Com a Receita
Federal, o Serpro mantém o Receitanet e o site da Receita, pioneiros e líderes no volume
de acessos e público alcançado, como já mencionado.

Há ainda outros setores governamentais que não podem deixar de ser citados, como
alguns órgãos de direção das Forças Armadas, que usam regularmente a videoconferência
para coordenar ações operacionais. Mas há também as ligações on line que funcionam
plenamente na gestão orçamentária e financeira de qualquer órgão público.
O SIAFI, o SIAPPES, o CABIN (Cadastro de Inadimplentes) e outros. O Banco Central e
o Ministério do Planejamento estão completamente informatizados. Além
disso, o governo tornou-se signatário do Sistema OTAN de Catalogação e vem

cadastrando em massa os fornecedores e produtos nacionais. Muitos sistemas corporativos


vêm sendo implantados nos diversos ministérios. O RENAVAM é um exemplo,
assim como o Cadastro Nacional de Segurança Pública (INFOSEG), que já contém mais
de 400.000 prontuários.

No campo das parcerias entre governo e setor empresarial, o Brasil apresenta


simultaneamente elementos extremados de avanço e de atraso, quando se trata
de avaliar o desenvolvimento do setor de informática e especificamente da internet. São
impressionantes, por exemplo, os indicadores relativos ao porte
do setor de telecomunicações no país, que responde por uma geração de valor da ordem
de US$ 45,8 bilhões, maior do que o PIB de muitos países. Além disso,
o Brasil tem avançado rapidamente no ranking mundial: o n.º de "hosts" na internet
cresceu de 215.086 em janeiro de 1999 para 446.444 um ano depois, em
janeiro de 2000. Com tal intensidade de crescimento, o país evoluiu da 17ª para a 13ª
posição neste curto período. Mas, persistem limites e obstáculos.
Considerou-se significativa barreira à expansão do setor a dificuldade de acesso à
telefonia, apesar do país contar com números não-desprezíveis de 35
milhões de linhas telefônicas, das quais 24,5 milhões fixas e 10,2 milhões celulares, com
expressivo crescimento a partir da privatização.

Um indicador que vem suscitando grande interesse no setor privado é o fato de o acesso à
internet estar ainda restrito a percentuais entre 3% e 5% da população,
equivalente a um contingente de internautas da ordem de 5 milhões, bastante reduzido
face aos 160 milhões de brasileiros. Entretanto, estes cálculos carecem
de um suporte metodológico que seja universalmente aceito, inclusive pelo mercado. O
provedor UOL, por exemplo, trabalha com estimativas mais otimistas,
da ordem de 8 milhões de usuários, supondo a existência em média de 3 usuários por
residência provida de computador. Ainda assim, persistem dúvidas, porque
a dupla contagem e o uso simultâneo no trabalho e na residência, complicam este cálculo.
Sob outros ângulos, os dados podem ser surpreendentes, como o
relativo ao registro de 35 milhões de páginas acessadas por dia, no UOL, ou ao
crescimento no número de domínios na internet, da ordem de 1.250 por dia.
Assim, estabelecer esta metodologia deverá ser uma tarefa necessária ao amadurecimento
deste segmento no mercado.

Para finalizar, podemos enfatizar a coragem e a determinação do governo brasileiro em


realizar as próximas eleições de forma totalmente informatizada (votação
e apuração), enquanto que, nos EUA, apesar de sua confortável situação econômica e
tecnológica, o processo ainda não foi plenamente incorporado. Assim,
entendemos que o governo está caminhando rápido numa direção bastante promissora: a
de uma tecnologia barata, agregadora, simples de usar e efetiva do
ponto de vista da gestão. Não parece haver motivos para mudar de direção.

GOVERNO ON LINE COMO PRESSUPOSTO DO EXERCÍCIO DA CIDADANIA

FÁBIO ANDRÉ CHEDID SILVESTRE

1. INTRODUÇÃO

Dentro do quadro perspectivo do estudo formulado, no módulo de Tecnologia da


Informação Jurídica, julgamos valioso o tema do Governo On Line ou Virtual
como esteio técnico-constitucional capacitador de uma efetiva qualificação das relações
entre os Estado e o cidadão, tudo sob perfil da democracia.

Num país de dimensões continentais, como o Brasil, possuidor de enorme diversidade


social, o encargo de construção de um Estado Democrático, Republicano
e Federativo, onde o equilíbrio sistêmico se dá pela representação popular, pelo voto ou
mesmo diretamente, a dimensão da governabilidade se faz patente.

Tomar o controle do curso de um Estado, bem qualificando as suas funções,


circunscrevendo seus limites e fiscalizando sua executabilidade, já não é tarefa
simples na atualidade. A variedade das demandas populares, acrescidas da manipulação
dos poderes decisórios por elites auto sustentadas no atrelamento
histórico à máquina pública fazem parecer relativa e insuficiente a figura estatal.

Então quando os mecanismos tradicionais de inteligência humana, aplicados à


conformação do Estado-governo (incluam-se aqui os três poderes estatais), a
ética e a lei, já não são suficientes para o atendimento efetivo das demandas públicas, faz-
se mister a busca de soluções em outros campos do saber. Notadamente
aqueles onde a aplicação de técnicas menos sujeitas a processos decisórios humanizáveis (
a vontade moral do governante ou a jurisdicionalidade aplicada)
podem criar um campo mais preciso e imediato de qualificação do indivíduo ou grupo
social voltado à uma interveniente e controladora participação na gestão
da "res pública", estamos a falar das novas técnologias da informação.

A relevância do tema se torna evidente na medida em que o executivo federal,


notadamente o Presidente da República e a Secretaria de Comunicação Social
(Secom), abriram debate e convidaram a sociedade para a constituição de um grande
portal do governo, onde as suas estruturas funcionais, os procedimentos
a elas afetos e a maior publicidade dos atos administrativos serão a tônica.

Entretanto, há que se ter em conta que a adoção de tecnologias de informação não


representam apenas mais um serviço à disposição da comunidade. É que estas
novas possibilidades tecnológicas não estão no mesmo espaço ou universo das
tradicionais atividades do Estado. E pelo que se lê (vide entrevista do Secretário
da Secom, no site da revista Meio e Mensagem de 21/01/2000) o próprio governo ainda
pensa neste processo como um inevitável comportamento geral, porém
declaradamente não conhece os limites, extensão e profundidade das possibilidades.

O presente estudo busca demonstrar que a adoção de um certo sistema tecnológico pode
vir a se constituir numa profunda mudança nas relações de poder entre
o Estado e seus súditos, ultrapassando efetivamente as tímidas expectativas da tecnocracia
federal e depois poderá vir a estender-se, também, para as outras
esferas de governo, estadual e municipal. Numa avaliação superficial, as tecnologias da
informação representam a possibilidade de um serviço padronizado
e simplificado, como já se vê na declaração imposto de renda on line, na expedição de
certidões on line e até nos sites do governo onde este apresenta
seus serventuários, suas atribuições e as normas legais afetas à operacionalidade do orgão.
Só que isto é muito pouco e incipiente, não contém dinâmica
participativa.

Uma das condições históricas de continuidade soberana dos Estados é a sua conformação
aos processos tecnológicos disponíveis às comunidades, pois que os
que detiverem mais conhecimento tenderão, como já é, a dominarem as posições de
vanguarda e participação nos cenários internacionais.

A tese proposta visa, noentanto, demonstrar que a aplicação das tecnologias da


informação poderão estabelecer novos paradigmas no relacionamento do cidadão
com o Estado, mesmo porque este efeito já é sentido nas comunidades privadas que se
apropriaram das ferramentas de informação e comunicação, notadamente
a WordWideWeb, trafegando pela Internet.
Duas, parecem ser, as qualidades fundamentais destas novas técnologias, a uma é que a
Internet é uma linguagem em sí mesma, e a duas é que o universo onde
as informações trafegarão, o Ciberespaço, não está sujeito a uma burocratização material
como a conhecemos.

Ao convite do executivo federal, deverão atender prioritariamente as universidades e


centros de pesquisas eminentemente brasileiros, detentores do material
científico-humano necessário ao desenvolvimento sócio-tecnológico mais apropriado
destes sistemas de informação, sobretudo em contraponto à tendência destas
administrações "neo-libertinas" em franquear acesso sem qualquer pudor às áreas mais
importantes e estratégicas do Estado ao amplo convívio de multinacionais
e governos estrangeiros, sem qualquer interesse real na solução das demandas do Estado e
afrontando continuamente a soberania nacional ainda restante.

O que parece de curial importância é que a tomada de postura visando uma maior
tecnologização das relações informativas entre o Estado e o indivíduo não
pode adotar a conformação predatória das recentes e ainda não cicatrizadas privatizações
dos ativos estatais brasileiros. Esta experiência, ainda viva,
demonstra claramente que a adoção de modelos imediatistas e incalculados de gestão da
coisa pública, mesmo calcados nas legalidades de ocasião, não lhes
confere a legitimidade plasmada na ordem constitucional. Por estar feito, submetemo-nos,
mas não carece de repetição.

O que urge, daí o tema, é que a magnitude da possibilidade de controle do Estado pelo
cidadão através das tecnologias da informação, pode vir a ser relegado
apenas a uma simples licitação e outros remendos, e o conteúdo da informação de
governo continuará a ser aquele vazio colorido, maquiado por publicitários,
não atingindo, como não atinge a nenhum objetivo sistêmico informativo, servindo apenas
à manipulação e relativização dos dados gerenciais do Estado.

O desconhecimento geral das atividades que "acontecem no palácio", por parte dos
súditos, e a impossibilidade de acompanhar em tempo real o movimento da
governança, aliados a um ausente debate público sobre o que, como e o quanto cumpre-se
da Constituição Federal em cada ato administrativo, político ou
não, acaba por produzir um emaranhado de decisões incontroláveis.

Se todos os cidadão capacitados não conseguem de forma imediata saber de tudo o quanto
se passa nas administrações, as verbas públicas e suas destinações,
quem as liberou, se foram efetivamente usadas e procederam das rubricas legais; se há
controle do desperdício, com amplo conhecimento público de onde,
quanto e como poderão serem utilizados os alimentos ensilados, os remédios estocados, as
ferrovias desmontadas, e são apenas exemplos.

É que já não se trata mais de uma luta pelo poder de exercer o poder, para rentabilizar os
próprios interesses e ocupar um privilégio no "wellfare state".
Este Estado-refugo da nova fase do processo industrial (pós-industrial!), como relata
GIDDENS, comporta novas demandas, porquanto "na sociedade industrial
as lutas de classes estão centradas na apropriação de recompensas econômicas, na
sociedade pós-industrial elas referem-se aos efeitos alienativos da subordinação
às decisões tecnocráticas".(grifamos)
A apropriação das linguagens tecnocráticas pelos sistemas legais e complexa
executabilidade procedimental do aparato de gestão pública, cria o falacioso
discurso do campo de dominação exclusiva, onde reina o tecnocrata. Daí que o "tipo
principal de oposição ao controle tecnocrático enfatizará a 'participação'
na tomada de decisões, e assumirá com frequência uma forma cultural ou, como colocam
ROSNAK e outros, 'contracultural'".(grifamos)

Modernamente não há ação sócio-política mais inteligente, informada e principalmente


contracultural do que as novas técnologias da informação, a Internet
e seus desdobramentos.

2. ESPAÇOS PARA O DESENVOLVIMENTO DA DEMOCRACIA


CONSTITUCIONAL

A democracia não é, ainda, democrática.

O aparato público como instituição, posto à disposição das comunidades, calcado numa
imensa malha legislativa e tocado por membros eleitos do povo, sob
os olhos de uma ordem constitucional, não bastam para a efetivação de uma verdadeira
democracia constitucional.

Segundo CASTORIADIS, a instituição "é uma rede simbólica, socialmente sancionada,


onde se combinam em proporções e em relações variáveis um componente funcional
e um componente imaginário".

E na feliz interpretação de COELHO, a "alienação justamente se caracteriza pela


dominância do momento imaginário na instituição, o qual se torna autônomo
e, assim, propicia a autonomização e a dominância da instituição relativamente à
sociedade".

Daí a crise na democracia. Quem domina a instituição domina a sociedade.

É que a superestrutura burocrática criada para a legitimação dos interesses dos grupos
dominantes, o Estado, afastando-se da funcionalidade constitucional,
sua "ratio essendi", passa a ser permeada pelo elemento imaginário, que à tentativa de
justificar os discursos de certas categorias sociais, grupos ou
classes, em face de outras, encabresta a máquina pelo elemento ideológico.

A alienação, nesta esfera de relacionamento social, no Estado, implica na impossibilitação


dos demais grupos ou classes, de se fazerem representar efetivamente,
ou mais apropriadamente, intervirem diretamente na governabilidade para além dos
interesses de tais ou quais grupos.

Então, escorando-se em BOBBIO, a evolução da democracia política para a democracia


social se dará menos pela determinação de quem vota mas principalmente
onde se vota. Por isto "quando se quer saber se houve um desenvolvimento da democracia
num dado país o certo é procurar perceber se aumentou não o número
dos que têm direito de participar nas decisões que lhes dizem respeito, mas os espaços nos
quais podem exercer este direito."(grifamos)
A dominação ideológica do Estado burocrático cria um labirinto propositalmente
preparado para dissuadir a entrada de não iniciados ou dificultar a percepção
dos que se aventuram em contrapor-se à sua ordem. Por obvio, a grande massa votante,
mesmo supondo um livre exercício de direito, não consegue suplantar
o momento do imaginário, pois que não tendo pleno acesso às informações gerenciais
aplicadas à gestão da coisa pública tornam-se alienadas.

Então o que se apresenta mais emergencial é a instrumentalização de mecanismos


objetivos que representem um agigantamento real na possibilidade de participação
dos indivíduos e grupos, um verdadeiro espaço para o exercício da cidadania.

O Ciberespaço.

3. O CIBERESPAÇO

O objetivo do tema não busca a discriminação de proposições técnicas específicas, mas a


apropriação constitucional das tecnologias de informação existentes,
com o objetivo de imprimir efetividade aos princípios e normas do contrato social
elementar.

Imersos num mundo de comunicações, a difusão indiscriminada de toda sorte de


informações, vagando solta e liberada pelos cabos, canais e variadas ondas
de freqüência, tem, desde o início deste século, provocado a sensibilidade do homem. Em
decorrência, difundiu-se a crítica inevitável pela multi-pulverização
dos mais amplos e diversos conceitos, deteriorando o sistema de valores sobre o qual
repousava o consenso, e com isto tem-se quebrado os estereótipos implantados
pelo ensino tradicional da história, filosofia, matemática , literatura, religiões e etc.

Daí, as comunicações abrirem espaço para transformações radicais nas estruturas mentais
e políticas, já que sociedades inteiras se comunicam através do
que Marshall Macluhan, citado por Macel Merle chamou de "gesticulação microscópica",
e que não é o discurso como o conhecemos. Considerada em sua onipresença
universal, as comunicações representam a base da primeira sociedade planetária.
(grifamos)

A terminologia de Macluhan induz ao universo do ciberespaço, que na visão de


HOESCHL "trata-se de um ambiente gerado eletronicamente, formado pelo homem,
as máquinas, a informática e as telecomunicações, onde é possível a prática de atos de
vontade, dotado de limites diversos dos tradicionais, norteado e
dimensionado fisicamente por comprimentos de onda e freqüências, ao invés de pesos e
medidas materiais, e não constituído por átomos, mas por correntes
energéticas".

O que parece bastante relevante é que a percepção desta "nova dimensão" do existir
consciente do homem, não foi idealizado para assim manifestar-se, visionaria
e pré-elaboradamente, o ciberespaço tornou-se, antes e de fato, uma realidade viável.

Desta maneira, toda a orbita capitalista já planeja e executa suas tarefas, desde as mais
elementares até outras de repercução global, dentro da geografia
ciberespacial, com alto grau de efetividade, embora com certa inconsequencia.
Então, não parece absurdo exigir-se dos Estados, vestidos com a carapaça das atitudes
capitalistas, que se ocupem da implantação de mecanismos tecnológicos
capazes de lhes atribuir a mesma dinâmica de existência bidimensional, material e
ciberespacial.

É que no ciberespaço, a tendência à manipulação dolosa de informações terá que vencer,


em tempo real, a vigilância fiscalizatória de uma miríade de sujeitos,
capacitados pela diversidade e em locais mui distintos, dioturnamente. Então o dolo da
corrupção e a indolência do desperdício não terão como se reacomodar
placidamente, logo deixarão de serem sistêmicos.

Parece mesmo uma situação de embate político, pois é neste ponto que se verificará quais
grupos sociais tenderão à exigirem existir de modos mais secretos,
obtusos, obscuros, não participativos, impondo a alienação aos demais grupos
interessados. Esta perspectiva é encontrada em LÉVY, quando afirma que "a
defesa de poderes executivos, das rigidezes institucionais, a inércia das mentalidades e das
culturas podem evidentemente levar a utilizações sociais das
novas tecnologias muito menos positivas, conforme critérios humanistas".

Deste momento do tema, onde os interesses sociais devem ser sopesados, o debate torna-
se constitucional.

4. PERSPECTIVA CONSTITUCIONAL

O espaço reservado para o tema, dentro do escopo constitucional é absoluto, sobretudo


como foi proposto, no sentido de demonstrar que as informações públicas
pertinentes à gestão de um Estado democrático respeitarão, necessariamente, a qualidade
participativa de sua finalidade.

Estabelecendo primazia teleológica, o Preâmbulo Constitucional deixa claro que se está


diante da instituição de um Estado Democrático, destinado a assegurar
o exercício dos direitos que menciona.

E fazendo leitura fria do artigo 1º. e parágrafo, da Carta Política brasileira, poderíamos
dessumir o seguinte:

A República Federativa do Brasil, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem


como fundamentos a soberania, cidadania e a dignidade da pessoa humana,
pois que todo o poder emana do povo que o exerce diretamente.

Seguindo a construção Constitucional, o art. 5º. em seu inciso XXXIII, diz:

todos tem direito a receber dos orgãos públicos informações de seu interesse particular, ou
de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo
da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à
segurança da sociedade e do Estado;

Vale ressaltar que a finalidade informativa do Estado é de tal grau de imponibilidade, que
a lei não poderá limitar senão prazo, o agente público não poderá
negá-la, sob pena de sanção. O que se ressalva é a segurança nacional, coisa de contornos
relativos.
Com isto habilita-se a sociedade como um todo a exercer o direito constante do artigo 5º.
LXXIII, assim:

Qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao
patrimônio público, ou entidade de que o Estado Participe, à
moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural.

O que se quer dizer com isto é que todos os cidadão devidamente informados sobre todas
as coisas do Estado, poderão fazer uso legítimo das prerrogativas
constitucionais reativas.

Como a Carta Magna é proposta em dimensão ao todo, não se deve menosprezar a


potencialidade dos princípios gerais, supondo serem materialmente inatingíveis,
porquanto, algumas vezes intangíveis.

O que se propõe, é que o princípio da moralidade administrativa, agregado ao caráter


informativo de uma democracia seja evidentemente clarificadores das
condições reais em que convivem, em certo momento histórico, uma sociedade
organizada.

E pelo que se dessume, tudo o quanto possa ser realizado para o atingimento dos objetivos
constitucionais, inclusive a aplicação das tecnologias da informação
mais pujantes, deverão assim ser procedidos, pois se há uma forma melhor de fazer
realizar-se o Estado, é a esta que devem submeter-se os governantes.

Tudo o mais é discurso setorial de grupos.

5. CONCLUSÃO

O estado de calamidade por que passam as relações sociais no Brasil indicam um


desequilíbrio sistêmico na participação dos grupos e classes. É bem conhecida
a desigualdade implantada por segmentos ou grupos que insistem na elitização do poder,
pelo cerceamento do saber.

As atrocidades cometidas com a população mais pobre e mesmo com a classe média
produtiva, desprestigiam a continuidade do contrato social, como se encontra.

Os desmandos das elites políticas, calcados não só na prática profissional da corrupção,


fazendo nascer a figura do "governo paralelo" de BOBBIO, através
da intervenção dos "arcana imperii", os agentes do poder invisível, só não são piores do
que sua própria incapacidade governativo-gerencial, embora tudo
nasça da mesma derrota da ética pela vitória da estética, patrocinada pelo capitalismo.

Pensamos objetivamente na implantação de um Portal do Estado, para todas as suas


esferas, e que possa, mais do que vigiar a "mão trêmula" do escroque, diante
da verba pública indefesa, também controlar o desperdício, o desvio de finalidade das
decisões, antecipar debates públicos sobre grandes questões nacionais,
trazer mecanismos plebiscitários para questões que afetem a sociedade com um todo. Em
fim apresentar de uma vez por todas, e com toda a parafernalha interativa,
que torna o saber mais elementar, qual a verdadeira dimensão do Estado que habitamos.
Tudo em tempo real e calcado em lei que imponha sanção ao administrador
omisso, que deixe de apresentar seus relatórios para toda a comunidade, em fim fazer ver
a moralidade administrativa pelo controle tecnologico dos agentes
públicos.

Se é caso de fazer prova do desmando, sob pena de impunidade, melhor não deixar para
terceiros, de outros grupos sociais, aquilo que em verdade cabe a cada
qual, participativamente fiscalizar e exercer o poder da cidadania.

a. BIBLIOGRAFIA

* Antony Giddens. A Estrutura Social das Sociedades Avançadas. Zahar Editores.1975

* Luis Fernando Coelho, em Teoría Critica do Direito, Editora Livros HDV, Curitiba,
1987

* Norberto Bobbio. O Futuro da Democracia,- Uma Defesa das Regras do Jogo. Editora
Paz e Terra .São Paulo. 1987.. 3º. Ed.

* Marcel Merle, Sociologia das Relações Internacionais, Brasília, Editora Universidade de


Brasília, Coleção Pensamento Político, vol. 25, 1987, p. 138.

* Hugo Cesar Hoeschl. O Ciberespaço e o Direito. No endereço da Internet -


digesto.net/ijuris - 25.06.96

* Alvim Toffler. Previsões e Premissas. Ed. Record.1983.

Do desrespeito à autoridade constituída à desobediência civil com vilipêndio às


instituições

*Antonio Carlos Facioli Chedid

Recentes agressões verbais produzidas em nível político entre as autoridades constituídas


legítima e democraticamente, num primeiro momento, parece que
inflamaram a má-imprensa nacional e geraram na internacional declarações
desprestigiosas em relação à seriedade e educação sócio-política de nossas autoridades.

Declarações graciosas em desfavor da moral e da dignidade das instituições e das


autoridades que as representam produziram manchetes extraordinárias em
jornais de circulação nacional e nos telejornais mais importantes, notadamente quando
dirigidas contra o Judiciário e nascidas da Presidência do Senado
Federal. Saímos assim à procura insana dos honestos e dignos, pois apenas os agressores
se arvoram em sê-lo.

Todos os dias, durante longo e infeliz período, acordávamos com declarações, no mais das
vezes panfletárias e graciosas, e acusações de parlamentares contra
magistrados, ministros, outros parlamentares e até contra as autoridades máximas da
Nação, como o Presidente da República, da Câmara dos Deputados e, pasmem
(!) pela ousadia e ineditismo, da Suprema Corte Brasileira, ante a ausência de autoridade
de plantão para ser atacada publicamente ou à falta de outras
do Executivo e do Legislativo. Parece que vivemos em uma época em que as coisas
desnecessárias são as nossas únicas necessidades (Oscar Wilde).

Ameaças e constrangimentos de toda ordem resultaram nas CPIs para apurar o já


ressabido e conhecido, com o escopo de obter publicidade e a adorável paternidade,
de filho incestuoso e extrapolamento de poder com decretação de prisões ilegais (S.T.F. -
MS-23.452-RJ- Rel. Min. Celso Mello – Informativo 162). Rolaram
as CPIs como a bola no gramado, a ponta-pés, chutes, sensacionalismo, porém sem o
espírito esportivo e a fé na certeza de que a vitória seria comemorada
com a lisura de quem tem o melhor domínio e conhecimento da arte e joga com o objetivo
de elevar o nome, a dignidade, a moralidade e o bem-estar comum
da instituição a que serve e da coletividade (o clube e a torcida).

As disputas entre as torcidas talvez decorram da falta de formação técnica e moral e


indisciplina esportiva, com desrespeito às instituições, às autoridades
e à população (time, jogadores e a própria torcida civilizada).

A agressividade nasceu, sem dúvida, da indisciplina, do afastamento dos objetivos


coletivos, da primazia dos interesses particulares e pessoais, da arrogância
e da vaidade eleitoreira, mas, fundamentalmente, do exemplo negativo gerado pelas
autoridades que tinham o dever de demonstrar civilidade, cidadania, tranquilidade,
bom-senso e equilíbrio público.

As agressões produzidas pelo MST, grevistas, grupos organizados e pela população em


geral contra as autoridades públicas, com vaias ao Presidente da República
(autoridade legítima e máxima de uma Nação democrática), e tentativa de agressão ao
Prefeito da maior cidade brasileira e ao Governador do Estado de São
Paulo, entre outras, são fruto do desrespeito e da irreverência produzidos num primeiro
momento, isolado, e ao depois por outras autoridades constituídas,
em especial, contra as instituições democráticas e garantidas pela Constituição vigente.

Assim é que, hoje, a população nem sequer tem o respeito então devotado ao Poder
Judiciário, que se manteve historicamente sempre eqüidistante das disputas
políticas – até por força legal e constitucional - e é o único Poder em que o povo, segundo
as pesquisas e apesar de tudo, ainda crê (88% da população
acredita nos juízes – Diário Catarinense de 23.01.2000).

Os ataques contra o Judiciário como um todo, produzidos durante as CPIs, em face da


constatação pública da prática de atos de improbidade por magistrados,
todos de longa data respondendo ao devido processo legal e judicial, serviram apenas aos
interesses daqueles que, somente com o enfraquecimento da Justiça,
poderão atingir seus desejos e desviar a atenção, reconheço, inteligentemente para o mal,
da sociedade.

O produto social foi e é o exemplo de irreverência, incúria, desídia, desrespeito,


indisciplina, falta de civilidade, permitindo que se acolha a democracia
com o estado de irresponsabilidade, disputa ignóbil de poder, e que a insatisfação em
qualquer nível de vontade ou interesse, ante a ausência de necessidade
de cumprir as normas de conduta social, como ensinam as autoridades que não acreditam
nas instituições a que deveriam servir, leva iniludivelmente o povo
insatisfeito ao desforço físico, à agressão moral, ao desrespeito mútuo, enfim, a toda
ordem de agressividade reprimida.

Apesar da produção industrializada de leis e da reforma constitucional feroz contra um


dos pilares de sustentação da democracia, com o escopo de amordaçar
os juízes, retirando da sociedade a garantia de julgamento imparcial, com a permissão de
demissão administrativa, criação de um código criminal da magistratura,
súmulas que tornaram as decisões cristalizadas pelo ápice, certamente ainda os juízes não
foram agredidos pela sociedade. Contudo, o Judiciário está sendo
agredido, como instituição, em desfavor direto dos interesses maiores mesma da
sociedade. Na verdade, o Judiciário é o mero e fiel representante da sociedade
na difícil missão de manter a harmonia social, mediante a distribuição da justiça e a
preservação dos valores maiores do homem: o direito à vida, à liberdade
e à propriedade.

A punição de parlamentares que foram cassados e de outros que estão presos pela prática
de homicídio (até com uso de moto-serra, instrumento até então desconhecido
para a finalidade), de tráfico de drogas e de fraudes contra o erário não autoriza os
magistrados, que jamais o fizeram, a declarar que há necessidade
de extinção do Congresso Nacional. Ao contrário, na verdade, foi e é o Judiciário que está
ajudando a purificar aquela instituição democrática, processando
e condenando, quando culpados, os parlamentares infratores.

O desrespeito e a indisciplina civil tem preocupado também a OAB e em especial alguns


advogados de nomeado, com se vê da seguinte indigação: "Como brasileiro
e advogado, gostaria mesmo de saber o porquê da orquestração contra a magistratura
nestes tempos de reforma. Que reforma do Judiciário é essa que não sai,
que se transforma na Câmara em uma colcha de retalhos, que, mediante o estardalhaço de
uma comissão, busca a corrupção no Judiciário e descobre apenas
um juiz, que já estava respondendo judicialmente a processo, e o tiro sai pela culatra,
acertando membro do próprio Poder Legislativo?

Quantas notícias foram veiculadas contra o Poder Judiciário. Por que aquela idéia lançada
de que teria de acabar com a Justiça do Trabalho, terminar com
os direitos sociais, que os juízes têm de ser punidos por um órgão externo, que deveria ser
extinto o Superior Tribunal Militar, tudo isso agora completado
com esse ataque ao Supremo Tribunal Federal?

Deve mesmo existir algo no ar. Reflitam, o povo brasileiro, e, em especial as autoridades
que honradamente cuidam deste país. Deve haver algo de negro no
ar " ( José Alberto Couto Maciel – Correio Brasiliense).

Todo o exemplo de irreverência, desrespeito à ordem e às instituições, como o ataque


gracioso e com interesse inescondível ao Judiciário, certamente tem
o escopo maior de produzir na sociedade a sensação de falta de credibilidade na
instituição, notadamente quando é ressabido que os réus das demandas judiciais,
de regra, são os poderosos (em todo o sentido), assim como os detentores do poder
econômico, ou seja, os agressores que vilipendiam as instituições que
certamente examinaram ou examirão sua conduta social.
Sem o respeito mútuo entre os representantes da sociedade e o esforço conjunto para o
aperfeiçoamento das instituições do Estado, com a realização do bem-comum,
fim último de todos, certamente os ataques, o desrespeito, a desordem, a indisciplina e o
descaso à democracia, esta como símbolo imorredouro da liberdade
com responsabilidade, não cessarão e a história registrará mais esta passagem
desarrazoada da vida pública nacional com demonstração inequívoca de que
ainda não sabemos exercitar a democracia e realizar o Estado Democrático de Direito.

*Antonio Carlos Facioli Chedid Juiz do TRT/SC e Professor Universitário nas disciplinas
de Direito Processual Civil, Direito Civil e do Trabalho.

Junho/2.000

A Tecnologia da Informação Jurídica e o Ensino a Distância como ferramentas para a


modernização da Aduana em tempo de e-governo

Ione Maria Garrido Andreta Lanziani

advogada

ionel@matrix.com.br

Resumo

Inicialmente a disciplina "Tecnologia da informação Jurídica" foi percebida no sentido de


aliar a moderna tecnologia da informática ao Direito "stricto
sensu", para melhor aproveitamento e disseminação do conhecimento jurídico. No
decorrer das aulas e, considerando o Governo em seu papel de responsável,
tanto na qualidade de fomentador da inovação e desenvolvimento de projetos, como
também no de disseminador desse conhecimento, descortinou-se a possibilidade
de incrementar as Aduanas de todo o País com uma nova visão do mundo e da realidade
dos dias de hoje, mediante a utilização daquele conhecimento aliado
ao ensino a distância, especialmente considerando o leque de opções que o curso de Pós-
Graduação em Engenharia de Produção visualiza ao estudante. Além
disso, em tempos de globalização, realidade virtual e troca de informações em tempo real,
a Nação cobra uma maior agilidade e transparência nas ações governamentais:
estamos em tempo de e-governo.

1.0 INTRODUÇÃO

Ao realizarmos uma comparação entre a estrutura governamental e a iniciativa privada,


constatamos o quanto a segunda está à frente da primeira em termos
de potencial de trabalho. Enquanto a força de trabalho da iniciativa privada é estimulada
ao aperfeiçoamento contínuo, em um processo de permanente ampliação
do saber, em especial por conhecer da concorrência a ser enfrentada ao longo da vida
profissional, os funcionários públicos, que representam a força de
trabalho governamental, com raras e honrosas exceções, demonstram uma tendência à
estagnação em seu processo de desenvolvimento pessoal, após obterem a
certificação de "aprovados" em um concurso público com nível superior. Superada a etapa
do ingresso na carreira, o funcionário público está tão satisfeito
consigo próprio que se vê como um pequeno "deus", muito poderoso e credor de todo o
respeito. Por alguma razão somente explicável pela psicologia, esse
funcionário graduado "atingiu a sua marca e não há mais nada a fazer para superar a
própria barreira".

Isso é extremamente desastroso para a administração pública. Seu pessoal que foi
selecionado quando do ingresso na carreira, mediante rigoroso critério,
passa a ser de segunda qualidade, em decorrência do desastroso processo de estagnação
pessoal, cultural e profissional.

O problema avoluma-se e ganha destaque quando se fala em globalização, modernização


e custo "Brasil", com destaque para os funcionários da Aduana Brasileira,
órgão que cuida da fiscalização das operações advindas do comércio exterior e que está
subordinado à Secretaria da Receita Federal do Ministério da Fazenda.

Causa impressão o desnivelamento entre os membros do órgão central (Secretário da


Receita e Coordenação do Sistema Aduaneiro) e os funcionários "de ponta",
encarregados de executar as normas. Enquanto os primeiros participam de reuniões em
nível internacional, conhecem a legislação de outros países, especializam-se
nos diversos tipos de procedimento operacional, estudam e implementam mudanças na
legislação para adaptá-la à necessária agilidade do mundo moderno e globalizado,
o segundo grupo contesta essas mudanças, sob a pueril alegação de que as
"modernidades" criam facilidades ao contrabando e prejudicam as empresas nacionais.
Ignoram o fato de que sempre houve contrabando, mesmo em tempos da mais rigorosa
fiscalização, quando estávamos em pleno e assumido protecionismo ao mercado
nacional.

Muitas vezes, por pura ignorância, esses funcionários defendem a manutenção de


esquemas antigos que impõem dificuldades para a importação de determinados
itens tarifários, pensando com isso proteger a indústria nacional, quando, de fato, estão
protegendo a manutenção da ditadura de algumas empresas transnacionais
sobre nosso país, que sonegam informações e utilizam-se da mídia para manter seu status
quo, respaldadas na falta de informações e no despreparo que assola,
especialmente, entre aqueles que, por se julgarem "privilegiados", face à estabilidade de
seus cargos, não se esforçam em saber o que ocorre, de fato,
no mundo real.

Nesse contexto, onde prevalece a visão oblubinada dos agentes do Fisco, o trabalho
desenvolvido pelos órgãos centrais tem sido desgastante e de resultado
quase nulo, no sentido de aniquilar gargalos e reprimir os atrasos na Aduana Brasileira. A
realidade tem demonstrado que apenas o emprego de verbas em
tecnologia não é satisfatório. Não basta Siscomex, automação, informática. É preciso
mais. É preciso investir nos homens para que eles, conhecendo e interagindo
com os avanços tecnológicos, saibam explorar e tirar vantagem de seu uso em prol da
Nação. Transparência e agilidade devem ser o norte de nossos representantes
e seus agentes. É tempo de um e-governo.

2.0 GOVERNO E INTERNET

No mundo de hoje, com a permanente necessidade de atualização para um maior domínio


sobre o conhecimento, a informática, em especial a internet, é uma das
mais importantes armas tecnológicas à disposição do homem.

Apesar de, ainda tímido, o governo vai ocupando alguns espaços, criando "sites" na
internet, os quais, além de imprimir uma maior transparência à administração,
tem prestado inestimável auxílio aos usuários (acompanhamento de processos, consultas à
legislação, concursos, etc.).

Um bom exemplo são as urnas eletrônicas, que deverão garantir maior agilidade e
segurança às eleições.

A própria Receita Federal, já há alguns anos vem estimulando o contribuinte a apresentar


suas declarações e imposto de renda por meio eletrônico, além de
permitir, mais recentemente, o pagamento de impostos pela internet, o que ajuda, entre
outros, a evitar filas bancárias. Na área de Comércio Exterior,
foi implantado o Siscomex (Sistema Integrado de Comércio Exterior), que possibilita
tanto ao importador quanto ao exportador, obter licenças e apresentar
declarações para o despacho de mercadorias, a partir de seu próprio escritório, mediante o
uso de computador interligado ao sistema.

2.1 Globalização e Comércio Internacional

Apesar desse espírito de modernidade que parte da cúpula da Receita, os fiscais e seus
sindicatos permanecem contestando toda e qualquer modernização das
Aduanas. Desconhecem que essa busca por uma maior agilidade, especialmente em se
tratando de comércio exterior, é uma necessidade dos tempos modernos diante
das mudanças provocadas pela globalização.

Por outro lado, ignoram que, a partir de um software com inteligência fiscal, montado
com base em dados simples como despesas com energia elétrica, água
e telefone, número de empregados, poderiam incrementar a fiscalização e obter excelentes
resultados, direcionando o trabalho fiscal para empresas que apresentem
indícios concretos da prática de sonegação e burla à legislação.

Assim, fica claro que não basta ao Governo projetar uma política modernista. O Estado
não se realiza apenas através de seus líderes. Necessita da participação
ativa de seus agentes, que traduzem em realidade os propósitos governistas. Esses
elementos "de ponta" como são chamados, necessitam estar preparados para
o papel que o Governo deseja imprimir à administração.

Atualmente, a postura de alguns fiscais assemelha-se à de ferrenhos inimigos dos


empresários que atuam em comércio exterior. Acreditam que o papel da Alfândega
é dificultar as operações de importação e exportação, como se o exercício empresarial
dessas atividades se constituísse, per si, em prática criminosa.
Do mesmo modo, nota-se que os empresários vêem os fiscais como improdutivos e
pertencentes a uma categoria com elevado grau de corrupção. Assim, as duas
categorias observam-se com extremas restrições e, absolutamente, não confiam uns nos
outros.

A diferença entre essas duas categorias é que o poder está nas mãos dos fiscais. Estes,
mais ainda quando se trata da área de comércio exterior, onde qualquer
atraso provoca perdas significativas (majoração de armazenagem, demourrage,
rompimento de contrato na exportação, perda da validade de carta de crédito,
etc.), em sua maioria comportam-se como deuses inatingíveis, por saberem-se detentores
do poder.

Nesse contexto, o Governo necessita de instrumentos modernos para melhorar a qualidade


de seu quadro funcional enquanto no exercício de atividades extremamente
técnicas, além de atender à necessidade de disseminação de leis, normas e regulamentos,
de forma homogênea pelas Aduanas de todo o País.

Para tanto, o ENSINO A DISTÂNCIA, com o respaldo da TECNOLOGIA DA


INFORMAÇÃO JURÍDICA, constituem-se em ferramentas essenciais nesse processo,
especialmente
considerando a agilidade na obtenção e troca de informações, o enorme banco de dados
para pesquisa, além de, entre outros, a possibilidade de acesso ao
mercado internacional para a segurança no exercício da atividade profissional.

3.0 AS NOVAS TECNOLOGIAS E A MODERNIZAÇÃO DA ADUANA

A crescente expansão e a sofisticação dos serviços oferecidos pela internet (coleta de


dados, informações, prestação de serviços, múltiplas interações e
transações), permitem concluir que a informática avança no sentido de suprimir a
tramitação de papéis e a plena resolução dos processos em meio eletrônico.

Nesse contexto, a educação é, de fato, requisito indispensável para o homem acompanhar


e interagir com o processo de evolução social em que está inserido,
provocando com isso uma intensificação em sua formação profissional, de maneira
continuada e permanente.

Considerando que os funcionários públicos que trabalham nas Aduanas estão espalhados
por todo o território nacional, geograficamente um dos maiores do mundo,
nada melhor do que recorrer a um formato de educação que pode atender, rapidamente, a
uma gama enorme dessa massa: ensino à distância (EAD).

Sobre esse tema, escreveu Landim, em sua obra, "Educação à Distância – Algumas
Considerações" (Rio de Janeiro, [s. n.], 1997, pág. 4, 5 e 32):

"A escola, na sua concepção tradicional, não tem como assumir sozinha o papel de
propulsora do desenvolvimento e do conhecimento humano. Faz-se necessário
que novas formas de abordagem da difusão do saber sejam utilizadas para atender à forte
demanda da sociedade atual, cujas perspectivas sociopolíticas,
econômicas, pedagógicas e tecnológicas, entre outras, apresentam, por sua própria
dinâmica, novos enfoques.

A globalização da economia intensificou a competição. As constantes transformações


culturais e tecnológicas requerem elevação generalizada dos níveis de
educação geral e da capacitação para o trabalho.

Surge então, a necessidade real da educação permanente, considerada uma nova fronteira
da educação e convertida, pelas Organizações Internacionais de Educação
em um tema prioritário em suas Recomendações."
...

"A EAD surge como a modalidade educativa que pode atender aos setores sociais não
alcançados pelo ensino presencial, que constituem um capital humano infra-utilizado,
como, por exemplo: os residentes em áreas geográficas distantes, onde não há escolas
convencionais ou com número insuficiente de vagas para todos; os trabalhadores
adultos que, cumprindo suas jornadas de trabalho, não podem freqüentar a escola
tradicional; os presos, os imigrantes; as pessoas que já não se encontram
na faixa etária de freqüência à escola, mas que podem e desejam continuar seu processo
educativo; os trabalhadores que buscam qualificação ou requalificação
profissional em conseqüência das mudanças tecnológicas e das transformações políticas e
sociais."

...

"Na atualidade, não há distâncias nem fronteiras para o acesso à informação e à cultura.
Os recursos técnicos de comunicação (impressos, áudios, vídeos,
informáticos, etc.) acessíveis à boa parte da população, têm possibilitado o grande avanço
da Educação à Distância e se convertido em propiciadores da
igualdade de oportunidades de acesso ao saber e da democratização das possibilidades da
educação e da democratização das possibilidades da educação."

Esse tipo de ensino está hoje contemplado na Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, especificamente em seu artigo 80 e parágrafos. Sobre esse tema,
o Ministro da Educação, Paulo Renato Souza, publicou carta na internet (
www.mec.gov.br),
manifestando a necessidade e a importância do ensino à distância, diante da realidade da
educação nos dias de hoje:

"O recurso da educação a distância se faz necessário não porque faltem cursos de
formação de professores, mas sim porque a maioria desses cursos são presenciais,
difíceis, portanto, de serem acompanhados por quem já trabalha, ou se localizam nos
centros urbanos, impossibilitando o atendimento personalizado a populações
rurais, dispersas geograficamente. Sendo assim, a educação a distância constitui-se em um
instrumento eficaz de democratização da educação e uma opção
de qualidade para atender a uma vasta demanda por habilitação historicamente reprimida."

Assim, o ensino à distância é visto hoje como uma ferramenta fundamental para
desenvolver saberes num processo didático-metodológico acessível a todo e
qualquer profissional interessado em dar continuidade ao conhecimento científico em
qualquer área.

Ao Governo, que necessita preparar seus funcionários a atuarem como agentes no


processo de modernização do Estado, em caráter de urgência, o ensino à distância
é ferramenta indispensável, considerando que sua utilização vai propiciar, além do
conhecimento em si, uma reprodução homogênea desse conhecimento a todos
os envolvidos, fundamental na formação desses agentes.

Buscando os maiores conhecedores de cada tema, espalhados pelas universidades e meios


acadêmicos em geral, o Governo poderá montar um programa de formação
de excelente qualidade por preço relativamente reduzido, se comparado com o número de
pessoas que irá formar, sem que necessite retirar essas pessoas de
seus locais de trabalho.

Pode ir além e agregar a esse curso, premiações para aqueles que apresentarem melhores
resultados, como por exemplo, viagens culturais, bônus, cursos de
especialização do modelo presencial. Pode o Estado, inclusive, buscar parcerias junto à
iniciativa privada, especialmente com associações comerciais e
industriais de todo o país, como a FIESP, FIESC, FIERGS, etc. Os resultados serão tantos
e tão positivos que após um tempo veremos, espantados, os salutares
resultados.

3.1 Formação Cultural e Humanística

Partindo dessa realidade, é importante ao Fisco melhorar a formação de seus agentes,


tanto no sentido cultural como no humanístico.

Cultural, para que os agentes "de ponta" compreendam que é passado o momento de
fechar as fronteiras. Esse sistema de protecionismo que os países subdesenvolvidos
implantaram na América Latina após 1947, sob a orientação da CEPAL, apesar de eivado
de boas intenções, não deu os resultados esperados, infelizmente.
Algumas concessões às empresas multinacionais contribuíram bastante para que os
projetos de ideais implementados à época deixassem de atingir, em boa parte,
a expectativa aguardada. As últimas estatais nascidas dentro daquela filosofia estão sendo
agora privatizadas ou sucateadas.

Estamos em um novo tempo. É a hora da globalização. Não interessa se gostemos ou não,


se somos contra ou não. Já decidiram por nós muito antes de agora.

Dificultar a circulação de mercadorias em nada contribui para o crescimento de nosso


País. Aos membros do governo que cuidam das fronteiras é hora de derrubar
as burocracias que somente causam entraves aos movimentos decorrentes dessa
globalização. A fiscalização necessita ser ágil, acompanhar o preço das mercadorias
no mercado internacional (valoração aduaneira real), agir de forma a facilitar a circulação
de mercadorias e cuidar apenas para que não se pratiquem concorrências
desleais em nosso mercado.

Retardar ou dificultar o acesso de nosso empresariado ao mercado internacional, seja


comprando, seja vendendo, não traz qualquer benefício à Nação. Num
mercado globalizado é fundamental a troca, o que implica que não iremos exportar se não
importarmos, especialmente porque se ficarmos segregados, deixaremos,
ou melhor, não seremos efetivamente competitivos. O mercado somente está evoluindo
face à concorrência que se instala no País, em que pese a miopia generalizada
que ainda grassa, fazendo com que alguns funcionários esforcem-se por manter o quadro
de protecionismo praticado há décadas, sem visualizar as mudanças
já ocorridas no horizonte internacional.

Em caso recente, tentamos fazer ver a um fiscal da Aduana, que o exportador perderia a
validade de uma carta de crédito no valor de quase um milhão de dólares,
caso não embarcasse a mercadoria objeto do contrato (300.000 camisetas), no próximo
navio. Àquela altura, o fiscal tinha conhecimento de que a mercadoria
não estava pronta porque dependia da liberação de 900.000 botões que foram remetidos
pelo comprador estrangeiro para serem agregados às camisetas. O processo
de admissão temporária desses botões estava estagnado a mais de trinta dias porque o
fiscal entendia tratar-se de hipótese normativa que exigia a apresentação
de contrato de serviço entre as partes, documento este que deveria estar chancelado pela
embaixada brasileira e ainda traduzido por tradutor juramentado.

Apresentamos "proforma" e "ordem de produção". Oferecemos a carta de crédito. Nada


convenceu o fiscal a agir com presteza no caso, pois entendia que estes
documentos não se prestavam a substituir o contrato de serviço exigido pela norma. O
empresário acabou por desistir da admissão temporária e efetuou o
pagamento dos impostos "indevidos".

Nota-se assim, que por mais que a Coordenação Central da Aduana edite normas no
sentido de agilizar os serviços aduaneiros, os fiscais não "vestem a camisa"
desses projetos de modernização. De alguma forma é necessário que esses funcionários
sejam sensibilizados para o seu papel. Comuniquem as dúvidas à Coordenação,
peçam ajuda, externem os problemas, contribuam nas soluções de forma honesta,
transparente, idônea. Busquem atender ao espírito da lei, conscientes do
papel que lhes cabe como agentes do Governo.

Humanística, para que os funcionários aduaneiros assumam seu papel de responsáveis


para com a sociedade, no sentido de que, enquanto membros do Governo,
cabe-lhes revelar o objetivo da política governamental e, para tanto, necessitam divulgar
ao contribuinte as normas legais e administrativas, orientando-os
quanto aos seus direitos e deveres em relação ao Fisco.

Essa visão não é pacífica entre os agentes do Fisco. O discurso que predomina na
atualidade é que não têm quaisquer obrigações em informar ou prestar esclarecimentos
ao empresariado. Ainda sobre o caso relatado acima, quando ponderado de que o atraso na
liberação daqueles botões poderia gerar a quebra de um contrato
de exportação no valor de quase um milhão de dólares, o funcionário responsável disse
que "nada tinha a ver com o problema do contribuinte". No entanto,
a quebra do contrato possivelmente representaria a "quebra" de uma empresa nacional e
ainda o desemprego de uma centena de funcionários.

3.2 Temas para estudo

Finalmente, considerando que o momento exige mudanças não apenas na estrutura física
da Aduana, mas especialmente em seus recursos humanos, uma vez que
sua formação deve estar voltada para a agilização do comércio internacional,
considerando ainda que o momento do protecionismo já está ultrapassado, apresentamos
uma lista de temas, que, apesar de não ser exaustiva, ajuda a pensar sobre qual é, de fato,
o mais grave problema da Aduana Brasileira:

a importância e as conseqüências da globalização;

o reconhecimento de que a área aduaneira tem um importante papel social e não simples
arrecadadora de tributos;
a tomada de consciência de que o momento é de trabalho, e trabalho com
responsabilidade e honestidade, compreendendo o importante papel destinado à Aduana
no processo de globalização;

convencimento de que, assim como é reduzido o número de funcionários desonestos,


também poucos são os criminosos atuando no comércio internacional (a exemplo
do que ocorre na sociedade), não sendo correto julgarem-se todos por poucos;

conscientização dos prejuízos causados pela burocracia alfandegária aos nossos


empresários, e a responsabilidade de cada um nesse processo;

conscientização de que ao criar problemas indistintamente, estão prejudicando


especialmente os empresários brasileiros sem estrutura jurídica de apoio,
eis que os grandes conglomerados, especialmente de multinacionais, fruem do máximo de
privilégios legais concedidos pelo Governo, até porque para serem
informados e orientados não necessitam dos fiscais de plantão;

a possibilidade de redução do custo-Brasil com a agilidade da Aduana: armazenagem,


capatazia, taxas, demourrage, etc

a importância da celeridade das decisões no comércio, especialmente no cenário


internacional (prazos, validade de contratos);

disseminação e estímulo (no sentido de boa orientação) à utilização da legislação relativa


aos regimes aduaneiros especiais e atípicos por se constituírem
em verdadeiras alavancas para o desenvolvimento de qualquer país;

reforço nos estudos de inglês, fundamentais a um bom profissional da área de comércio


exterior;

compreensão das operações financeiras ligadas ao comércio internacional, tais como:


carta de crédito (tipos, características, exigências, responsabilidades),
contrato de câmbio, etc.

transporte internacional, multimodal, agilização e redução de custos;

a importância das negociações internacionais e as dificuldades inerentes, especialmente


em se tratando de empresas pequenas e de médio porte;

ética profissional;

regras de conduta;

o comportamento fora da repartição e seu reflexo na imagem do funcionário;

integridade, honestidade, orgulho de sua atividade profissional como forma de contribuir


para uma sociedade melhor e mais justa;

importância do tratamento a ser dispensado a todos os profissionais que atuam em contato


com o Fisco (seriedade, respeito e isonomia);
o papel do funcionário público no contexto da Sociedade e o reflexo do próprio Governo.

Conjunto de normas que regem o comércio exterior e a obrigação do Fisco em orientar o


usuário;

Obrigação do Fisco em prestar informações e orientar ao contribuinte quanto ao


procedimento adequado.

4.0 CONCLUSÃO

É evidente que a burocracia assola nosso País e pode enterrar a chance de acompanharmos
a evolução em compasso de globalização que ocorre no mundo todo.
Precisamos mudar esse cenário.

Nessa tarefa deverá ter parcela importante o próprio Governo, não só contribuindo com a
educação da população em geral, mas, especialmente, com a formação
de seus agentes,

considerando que a ignorância destes invalida quase todo o esforço por modernização
porventura intentado.

Sem dúvida, a educação é fundamental para concretizar a modernização, pois somente ela
é capaz de promover mudanças efetivas no homem. Para tanto, vale
conhecer o pensamento de um dos maiores educadores do momento, Peter Drucker:

"Vivemos numa economia cujos recursos mais importantes não são instalações e
máquinas, mas conhecimento, e onde os trabalhadores do conhecimento compõem
a maior força de trabalho... a educação já consome uma grande parcela do produto
nacional bruto dos Estados Unidos... o país já está gastando cerca de
1 trilhão de dólares em ensino e formação. Essa cifra vai aumentar rapidamente, mas o
crescimento não deve se dar nas escolas tradicionais, que hoje consomem
cerca de 10% do PNB (do jardim da infância até o ensino médio, 6%; faculdades e
universidades, 4%). O crescimento será visto no setor da educação contínua
para adultos. O gatilho desse crescimento é a transmissão do ensino pela Internet, mas a
demanda por educação vitalícia se deve às transformações profundas
pelas quais a sociedade está passando. Falando em termos mais simples, está aumentando
entre as pessoas que já têm alto nível de instrução e ótimo desempenho
profissional a percepção de que não estão conseguido manter-se em dia com as
mudanças...a maior parte dos alunos é formada por homens e mulheres na casa
dos 40 anos, apontados por suas respectivas empresas como pessoas de alto potencial.
Elas voltaram a estudar porque querem e precisam encontrar novas maneiras
de enxergar o mundo, fora de suas áreas de competência. Querem aprender a ter uma
visão mais global. Muitos estão lá para refletir sobre suas experiências
e enxergá-las de uma perspectiva mais ampla. Eles precisam dessa perspectiva para lidar
com as mudanças econômicas e tecnologias atuais, diante das quais
estão perplexos" (e-ducação – Revista Exame, página 64, 14.06.2000, Editora Abril S/A,
São Paulo).

5 BIBLIOGRAFIA:
-LANDIM, Cláudia Maria das Mercês Paes Ferreira. Educação A Distância: Algumas
Considerações. Copyright ©: Rio de Janeiro, 1997.

-DRUCKER, Peter, em artigo: e-ducação – Revista Exame, página 64, 14.06.2000,


Editora Abril S/A, São Paulo;

-MURTA, Roberto de Oliveira, in Contratos em Comércio Exterior", São Paulo: Editora


Aduaneiras, 1992;

-LUNARDI, Angelo Luiz, Professor de Pagamentos Internacionais da Aduaneiras e


Diretor da Proficam – Consultoria e Finanças e Câmbio, em artigo intitulado
"O contrato comercial na prática", publicado no boletim "Sem Fronteiras", ano 2, nº 89,
de 07.08.2000, da Editora Aduaneiras, São Paulo.

Conceitos de Representação Jurídico-Política Digital

Márcio Umberto Bragaglia

Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção

Universidade Federal de Santa Catarina

mubby@eps.ufsc.br

Abstract

The Electronic Juridical Representation is an ambitious application of theories and


techniques of Artificial Intelligence at the Democracy’s context.

Although our constitutional norms limit the direct exercise of people’s political power to
the cases foreseen in the own Major Law, it is of important interest
the study of models of attendance and electronic procurement in a society that develops
itself into automation as improvement of the productive process,
the quality of the citizens' life and of the increment of the democracy as a stable
institution.

This article intends to present and to briefly discuss some aspects of that polemic theme,
besides introducing elementary technological concepts, with the
objective of alerting the juridical operator for the future possibilities of integration among
the technology, the Law and the organized society itself.

Resumo

A Representação Jurídica Eletrônica é uma ambiciosa aplicação de teorias e técnicas de


Inteligência Artificial no âmbito da Democracia.

Embora nossas normas constitucionais limitem o exercício direto do poder aos casos
previstos na própria Lei Maior, é de relevante interesse o estudo de
modelos de assistência e procuração eletrônica em uma sociedade que evolui no caminho
da automação como melhoria do processo produtivo, da qualidade de
vida dos cidadãos e do incremento da própria democracia.
Esse artigo pretende apresentar e discutir brevemente alguns aspectos desse polêmico
tema, além de introduzir conceitos tecnológicos elementares, com o
objetivo de alertar o operador jurídico para as possibilidades futuras de integração entre a
tecnologia, o direito e a própria sociedade organizada.

Palavras-chave (keywords): Procuradores Digitais, Representação e Democracia


Eletrônicas, Agentes.

INTRODUÇÃO

Nos tempos atuais, a maioria expressiva das nações civilizadas opta pelos sistemas
políticos baseados na democracia, na repartição de poderes e na expressão
da vontade do cidadão através da representação. Logo no início, nossa carta magna já
consagra tal opção, no parágrafo único do art. 1o:

"Parágrafo único - Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes
eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição."

A primeira implicação imediata que pode ser percebida é a capacidade de outorga de


mandato, ou seja, de transmissão consciente de poderes entre o cidadão
alienado da expressão direta de sua vontade e o cidadão habilitado ao exercício coletivo
desta.

A segunda é a viabilidade de exercício do poder político de forma direta.

Ignoremos inicialmente a ressalva relativa aos limites constitucionais do exercício do


poder político, já que a discussão que se pretende apresentar não
está normatizada na Constituição ou em estruturas infraconstitucionais atuais. A ressalva
não atrapalha o desenvolvimento do raciocínio que se segue. Ao
contrário, teremos sempre a possibilidade de argüir a previsão legal futura para nossa
"nova" representação por meio de emenda constitucional.

Analisemos a expressão do poder político sob a ótica da expressão efetiva da vontade,


realizável hipoteticamente em um sistema perfeito no qual cada cidadão
expressa diretamente sua vontade política a respeito de uma questão determinada:
Recentemente, a CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil) promoveu
um plebiscito objetivando consultar a nação interessada na questão da dívida externa a
respeito do seu pagamento. Deve ou não ser realizado?

1. OS OBJETIVOS DA REPRESENTAÇÃO

Podemos perceber com clareza a existência de dois tipos de processos decisórios no


exercício da vontade, sua expressão direta ou através de representação
apropriada.

Surge uma questão de caráter filosófico: sabemos que a representação existe, à priori, em
decorrência da impossibilidade prática de se consultar cada indivíduo
do grupo social para colher sua opinião pessoal. Assim, o tipo de representação que
agrega em um indivíduo faculdades de decidir "em nome" de um grupo
maior é o modelo fundamental da representação política (um vereador, por exemplo,
representa os interesses de um conjunto de pessoas de seu município,
possuindo mandato para concretizar aquilo que julga ser a vontade política de seus
eleitores).

Conclui-se então que um dos objetivos da representação é agregar vontades políticas de


orientação semelhante, em um princípio prático de economia e viabilidade
administrativa do Estado ou da organização que a suporta.

Todavia, é muito comum observarmos a representação unitária, que ocorre quando um


cidadão outorga poderes para que outro o represente. Exemplo clássico
é o do procurador em juízo (advogado), que atua postulando o direito subjetivo de seu
mandante. Aí já não cabe a conclusão de que a representação é uma
medida prática pretendendo viabilizar problemas de ordem de grandeza. O que de fato
podemos inferir é que a representação é a transferência de poderes
por motivos de capacidade restrita do mandante, seja ela apenas formal, de conhecimento
ou de especialidade, ou ainda de interesse. Nesse último caso,
podemos levantar o exemplo de uma pessoa que seleciona um representante para decidir
em seu nome sobre aplicações financeiras de seu patrimônio. Há um
interesse em sentido amplo de que o objetivo "incremento patrimonial" seja alcançado por
meio das atitudes do representante eleito para tanto. Não há,
todavia, um interesse interno, específico, em relação aos mecanismos operacionais que
irão prover tal ganho efetivo. Não interessa saber como será feito,
mas sim que será feito segundo a vontade inicial que fundamenta e dá razão ao mandato.

Logo, a segunda conclusão é de que a representação também objetiva a transferência de


responsabilidades operacionais, ficando reservados os objetivos previstos.

Partindo dessas duas conclusões, podemos formular premissas que irão fundamentar um
modelo de representação eletrônica da vontade do cidadão, cabendo o
modelo proposto tanto no conceito de representação quanto no conceito de exercício
direto do poder político, positivado nos princípios constitucionais
supra-referidos.

Nosso objetivo é demonstrar que em diversas esferas ou contextos, desde a formulação e


validação de um ordenamento jurídico (legislar), quanto em sua fiscalização
e aplicação (administrar), e ainda em relação a jurisdição dos preceitos legislados (julgar),
poderíamos, munidos de devida previsão legal, tomarmos como
representantes sistemas de informação autônomos, personalizáveis e inteligentes, os quais
denominaremos Agentes Jurídico-Políticos.

Nagib Slaibi Filho, ao tratar dos meios de integração entre o povo e o poder apresenta a
seguinte questão, que nos serve como peça de doutrina, demonstrando
que estamos em boa companhia: "somente a Constituição pode criar mecanismos de
participação direta do povo no exercício do poder, em face da restrição
aparente que se encontra no parágrafo único do art. 1º?" – e responde considerando
absurda a resposta afirmativa a tal indagação, pois "teria a conseqüência
de se considerar inconstitucionais todos os mecanismos de democracia a ser exercida
diretamente pelo titular do poder... O próprio caput do artigo dispõe
que é fundamento da atuação do Estado o respeito à soberania (evidentemente do titular
do poder) e à cidadania".
Devemos ter em mente que não se pode limitar a democracia somente ao voto - ato mais
rudimentar de participação, segundo Slaibi, pois ela deve ser algo
muito maior, nas palavras do doutrinador: "a mais ampla integração do indivíduo,
entidades da sociedade civil e do povo no exercício do poder." [SLAIBI1998].

Consideremos justificadas nossas premissas em face de tal percepção ampla do conceito


de organização democrática do exercício e da titularidade do poder
político.

2. EXEMPLIFICANDO

Vamos traçar situações hipotéticas que ilustrem um ambiente dessa natureza. Após
verificarmos os exemplos, descreveremos mais tecnicamente como a Ciência
Computacional e a Engenharia de Produção podem tratar da implementação de tal
modelo, munidas de ferramentas da Inteligência Artificial Aplicada.

Caso 1: Marcos, economista, 35 anos, casado, dois filhos menores de 5 anos.

Marcos tem profundo interesse pela situação econômica e fiscal do país, pela parte do
ordenamento jurídico que diz respeito à proteção de crianças e adolescentes,
é a favor de penas mais brandas para os crimes de baixo potencial ofensivo, é favorável a
absoluta liberdade de expressão e propaganda, é fumante, não
se interessa por política internacional, acha que as escolas deveriam preparar os
adolescentes para o mercado de trabalho ao invés de investirem em cultura
geral.

Caso 2: Bete é médica, homossexual, tem uma companheira há 12 anos, é favorável ao


casamento entre pessoas do mesmo sexo. Gosta muito de tecnologia e acredita
que seu país precisa de mais investimentos em pesquisa e segurança, e menos em geração
de empregos formais. Acredita que a legislação penal é pouco rigorosa.
Acha que toda propaganda de bebidas deveria ser proibida. Gostaria de ver limites mais
rígidos em relação à liberdade de imprensa.

Os cidadãos hipotéticos Marcos e Bete tem posições parecidas em relação a algumas


matérias, e divergem frontalmente em relação a outras. Assim acontece
não apenas em relação às diferenças e semelhanças entre os dois, mas praticamente entre
todos os indivíduos da sociedade em que vivem. São tantos e tão
variados os interesses e desinteresses que seria impossível agregar adequadamente os
mesmos em correntes intelectuais, em definições de "esquerda" e "direita",
em partidos políticos, etc. Quem afinal será apto a representar adequadamente (e
simultaneamente) ambos?

É justo que Bete escolha seu representante (um deputado, por exemplo), só porque ele
atende a algumas de suas opiniões pessoais, mas não à todas ou mesmo
à maioria delas?

Agora imaginemos o seguinte modelo de representação:

Marcos escolhe um representante para tratar de todas as questões relativas aos Direitos da
Criança e do Adolescente. O seu procurador para esse assunto
irá mantê-lo informado a respeito de qualquer iniciativa legislativa na área, irá
acompanhar a jurisprudência e a doutrina sobre a matéria, irá representa-lo
em qualquer votação ou consulta que lhe caiba participar como cidadão. O representante
será, é claro, um especialista estudioso do assunto, em constante
contato com outros procuradores de outras pessoas. Irá inclusive informar a Marcos como
os outros cidadãos interessados na matéria se posicionam perante
questões específicas e coloca-lo, caso deseje, em contato com elas através de seus
procuradores.

Além desse representante, Marcos também outorga mandato para que outro procurador
acompanhe o mercado de ações, auxiliando suas decisões nesse sentido,
além de acompanhar questões tributárias nos tribunais, coletando exemplos que irão
determinar sua conduta, caso venha a demandar o Estado ou ser por este
demandado.

Todavia, Marcos não instituirá representantes para cuidar da fiscalização das verbas
públicas, para acompanhar o que dizem os tribunais sobre a Boa-fé objetiva
no Direito das Obrigações, nem para votar contra medidas que restringem a publicidade
na mídia.

Bete, por sua vez, elege representantes específicos para acompanhar e participar
ativamente do desenvolvimento da legislação referente às uniões entre homossexuais.
Escolhe também um procurador para mantê-la informada sobre o destino e a aplicação das
verbas públicas em atividades acadêmicas de pesquisa e extensão.

Impossível? Inviável do ponto de vista político (sobrecarga de representantes


especializados, superestruturas eleitorais) e econômico (ônus imenso tanto
para o representado quanto para o Estado)? Sim, desde que estejamos tratando da
representação de cidadãos por outros cidadãos. Mas pretendemos aqui imaginar
um modelo de representação por agentes inteligentes de software, específicos para
assuntos selecionados segundo os interesses do cidadão, e tão personalizados
e atados à sua personalidade e ao seu perfil político quanto suas crenças e sua assinatura,
de modo a contribuir para a falência do famoso ditado: "No
Direito, todas as novidades tem duzentos anos".

3. IMPLICAÇÕES

Obviamente, tal implementação requereria inúmeros investimentos de infra-estrutura, uma


vontade política praticamente impossível, já que simplesmente não
seria mais necessário o representante eleito com poderes imensos de decisão e não restrito
à vontade momentânea do eleitor, conforme o modelo vigente,
que é ótimo para o representante e terrivelmente perigoso para o representado, já que o
escopo e a garantia de postura do representante fogem completamente
do poder de sanção ou veto imediatos do representado.

Porém, o objetivo da discussão é apresentar a possibilidade no ponto de vista mais amplo


possível (o próprio ordenamento jurídico em sua concepção abstrata
e em sua concretização prática) para, verificadas e validades as propostas de autonomia
digital da representação, portar o modelo para estruturas mais
simples (sem maiores implicações políticas e resistências emocionais) como por exemplo
a pesquisa jurisprudencial monitorada, a formulação automática de
"ordenamentos jurídicos" para sistemas especialistas (definição das regras), além da
montagem de conteúdo inicial para sistemas inteligentes de raciocínio
baseado em casos (RBC) dinâmicos, de aplicação imediata na tomada de decisão crítica,
concebidos na percepção do problema.

Como se pode perceber, a abordagem pretensiosa se justifica em relação aos subprodutos


viáveis da abordagem utópica ampla.

Como funcionarão esses procuradores digitais, qual será seu escopo de atuação, seus
limites práticos e a segurança de suas decisões ? Tais questões relevantes
do ponto de vista prático demandam a explicação de uma Teoria Básica de funcionamento
dos procuradores, que estarão baseados na ligação de três grandes
tecnologias de inteligência artificial: Agentes Inteligentes, Sistemas Especialistas e
Raciocínio Baseado em Casos.

4. NOÇÕES DE TECNOLOGIAS

Já sabemos que na maioria dos casos um dos requerimentos dos agentes será sua
Especialidade.

Guizoni Teive, em tese de doutoramento (1997), estudou com maior profundidade os


Sistemas Especialistas, e trouxe com ênfase a definição de Bar e Feigenbaum
(1981), que apresentam um sucinto conceito de Sistema Especialista:"é um programa
computacional inteligente que utiliza conhecimento e procedimentos para
resolver problemas que são suficientemente difíceis por requererem significativa
experiência humana para a sua solução". [TEIVE1997].

Logo, devemos estabelecer como pressuposto de um procurador não-genérico um


conjunto de algoritmos e procedimentos operacionais que envolvam técnicas de
Sistemas Especialistas.

Quanto aos sistemas de Raciocínio Baseado em casos, é memorável a definição clássica


(Reisbeck e Schank 1989): " A case-based reasoner solves new problems
by adapting solutions that were used to solve old problems "

Em dissertação de mestrado, Marco Koslosky apresentou conceito de Raciocínio baseado


em casos (RBC) como sendo "uma metodologia recente de resolução de
problemas cuja origem é o trabalho desenvolvido por Schank e Abelson em 1977. Seu
desenvolvimento foi estimulado pelo desejo de entender como as pessoas
recuperam informações e que comumentemente resolvem problemas lembrando como
solucionaram problemas similares no passado." [KOSLOSKY1999].

Podemos também agregar tal característica aos nossos procuradores digitais, objetivando
capacita-los para a otimização de suas decisões, baseadas não somente
nas peculiaridades de um caso concreto mas também no perfil de posições tomadas em
situações prévias similares.

Para a primeira das tecnologias supra-elencadas é necessária uma maior exposição dos
seus fundamentos, de modo a permitir ao operador jurídico a concepção
de um conceito técnico aplicável à solução de problemas conhecidos.
A respeito dos Agentes Inteligentes, em excelente trabalho de doutoramento, Marcelo da
Costa compilou diversas definições de agentes, entre elas a de Maes
(1994), que reproduzimos devido à sua simplicidade:

"Agentes são componentes de softwares que atuam autonomamente de forma a atender os


interesses do usuário".

Outra definição também apresentada por Costa é a de Russel e Norvig (1995), que
introduzem exatamente a qualidade mais importante da representação "justa"
e apropriada da vontade de um cidadão:

"Agente é algo que possui a capacidade de atuar sobre um ambiente através de sua
percepção sobre esse ambiente".

Concordamos com Costa, na seguinte conclusão: essa "percepção do ambiente" significa a


tomada de atitude que almeja "alcançar metas definidas por alguém,
dadas as crenças deste alguém.". Assim, um agente seria um programa de computador
que, portando características peculiares que discutiremos adiante, atua
no sentido de realizar um objetivo de uma pessoa, de acordo com o pensamento e as
opiniões da pessoa sobre um assunto relacionado estritamente ao objetivo.

É porém de Nissen (1995) o mais simples e mais imediato dos conceitos apresentados por
Costa, que "cai como uma luva" para a discussão que hora travamos:
Agente é um software que "atua como um procurador com o propósito específico de
realizar ações que podem ser entendidas como benéficas à parte representada".
[COSTA1999].

Vamos aproveitar as definições escolhidas e traçar um exemplo de um agente de


software :

Bete, através de um sistema em seu computador, cria um procurador que irá circular pelas
redes e sistemas de informações governamentais, colher informações
e envia-las de volta para ela classificadas, votar em seu nome e segundo suas convicções
pessoais e se comunicar com outros agentes de outras pessoas também
interessadas sobre a questão de Empregos Informais. O agente irá se alojar em sistemas
compatíveis com a estrutura de agentes, que estarão disponíveis
em órgãos legislativos, empresas privadas, tribunais de justiça, etc, sempre "falando" em
nome de Bete.

Bete pode delegar ao agente-procurador autonomia absoluta ou relativa, isto é, ela pode
autorizar o agente a tomar posição (votar, por exemplo) por ela
sem consulta-la previamente, somente se baseando no perfil que o agente já traçou de sua
representada no momento de sua definição, ou poderá exigir que
o agente peça sua confirmação antes de exercer qualquer ato em seu nome.

Notamos que tal flexibilidade exclui antecipadamente a possibilidade de erros de


compreensão irrevogáveis devido à tomada imediata de posição, já que se
pode "aprender" e configurar o funcionamento do programa representante com o decorrer
de sua utilização.

5. OBSERVAÇÕES
Percebemos também mais três importantes observações:

Funcionando da forma descrita acima, o agente se comporta segundo nossa segunda


premissa de possibilidades da representação: ela é a transferência de poderes
por motivos de capacidade restrita do mandante, seja ela apenas formal, de conhecimento
ou de especialidade, ou ainda de interesse. Nesse caso, o agente
toma como base algumas considerações iniciais sobre a postura de seu criador (posição
atual sobre a questão, perfil) e o representa de forma especializada
em um interesse de sua escolha.

A segunda observação é fundamental: Como o funcionamento do agente não exige a


interatividade em tempo integral com o representado, este pode outorgar poderes
de representação para inúmeros agentes em diversos assuntos que lhe interessam,
colhendo apenas ocasionalmente a síntese dessas matérias que lhe são interessantes,
incrementando não só seu escopo e poder de posicionamento político direto, como
também o grau de cultura específico sobre as matérias em questão.

Finalmente, percebemos que um sistema no qual a cidadania é exercida segundo


interesses específicos e especializados tende a ser mais rica em resultados
efetivos, dado o nível de satisfação subjetiva com o sucesso e o grau de percepção do
envolvimento subjetivo no fracasso das decisões. Ainda é possível
fotografar a sociedade e sua evolução de posicionamento perante os mais diversos
assuntos, presumindo-se que haja pessoas interessadas em participar de
praticamente qualquer atividade de interesse público. Naquelas nas quais a participação
for mínima, pode-se instituir a representação digital pública,
com poderes especiais outorgados pelos próprios agentes individuais, e revogável na
mesma medida de facilidade.

Para que o leitor se situe melhor em relação as possibilidades dessa tecnologia, faz-se
mister apresentarmos sucintamente algumas das características que
diferenciam os agentes das demais categorias de programas de computador que auxiliam a
tomada de decisão por parte do usuário.

Uma das mais importantes características dos agentes, ainda segundo Costa, é a
Autonomia, referindo-se esta ao princípio de que os agentes agem "baseados
em seus próprios princípios, sem a necessidade de serem guiados por humanos." Tais
softwares são dotados de status e objetivos internos, agindo de maneira
a atingir estes objetivos em favor de seus usuários. "O elemento chave da autonomia é a
pró-atividade, que é a sua habilidade de tomar iniciativas, sem
a necessidade de agir em virtude de uma mudança de seu ambiente"(Wooldridge e
Jennings, 1994).

A Autonomia, para o funcionamento de agentes como procuradores jurídicos, por


exemplo, poderia envolver validação de suas técnicas de posicionamento e tomada
de decisão por entidades de classe especializadas. Poderíamos imaginar uma "Ordem dos
Advogados do Brasil- Digital" como uma entidade certificadora da
tecnologia de inteligência acoplada a tais dispositivos, autorizando-os por meio de
assinatura digital, por exemplo, à feitura de certos atos processuais
que não envolvessem a necessidade de inteligência humana (julgamentos de valor, i.e.).
Outra importante peculiaridade dos procuradores digitais deve ser sua mobilidade, ou
seja, a capacidade de mover-se em estruturas de redes de computadores,
navegando em sistemas de informação aptos à sua acoplagem temporária, munidos ambos
(agentes e sistema de interface) de fortes técnicas de segurança e
de garantia de autenticidade e inviolabilidade, pois podemos imaginar que se é fácil
"corromper" um representante humano, pode ser ainda mais fácil, através
de meios tecnológicos apropriados, hackear um agente e faze-lo tomar decisões
incompatíveis com a vontade de quem representam. Seria a corrupção política
digital. A questão de segurança é uma das mais críticas, que podem inviabilizar toda a
tecnologia e o modelo proposto, caso não se adotem rigorosas técnicas
de criptografia, assinatura eletrônica e protocolos de transações seguras, desde a
concepção in-loco do agente na máquina do cidadão representado até sua
transmissão pela rede, replicação, clonagem e envio de informação agente-representado e
agente-agente. Tal discussão pode se prolongar ad infinitum com
argumentos contra e a favor, fugindo do escopo original deste trabalho. Pretendemos
aprofunda-la em artigo adjacente futuro.

Além dos dotes da autonomia e da mobilidade, uma importante característica adicional


dos procuradores deve ser a comunicabilidade. Devem ser capazes de
"conversar", trocar informações entre si, cooperar (desde que para tanto autorizados) com
fins semelhantes de terceiros, e inclusive entrar em contato
como outras entidades além de procuradores, por exemplo, sistemas de bancos de dados,
bases de conhecimento, e inclusive seres humanos.

Um procurador que investiga a situação jurisprudencial de uma lei em relação à sua


possível inconstitucionalidade pode além de verificar as informações
que outros agentes de terceiros disponibilizam, consultar bases de conhecimento, sites da
internet, e pedir por e-mail um parecer de um advogado ou jurista,
por exemplo.

Obviamente, a compreensão e o tratamento de tais dados e sua efetiva conversão em


informação e conhecimento exigem a aplicação de inúmeras técnicas de conhecimento
e inteligência artificial, modelos matemáticos, análise semântica, compilação, estatísticas,
etc. Porém, podem existir agentes especializados em tais tarefas,
que através do princípio da Cooperação (habilidade que os agentes tem de trabalharem em
conjunto para realizarem tarefas de interesse mútuo) podem fornecer
"serviços" ao ambiente virtual no qual estão inseridos. Nasce então um mercado de troca
de informações e serviços entre procuradores pessoais e agentes
de tecnologia comercial, liberando do usuário a necessidade de dotar seus agentes com
avançadas tecnologias de inteligência. (Não procede do mesmo modo
um advogado que consulta um contador para melhor compreender um caso, ou um juiz
que manda juntar ao processo um laudo pericial, já que o conhecimento
universal foge de sua competência?)

Os agentes ainda possuem outras características que os diferenciam de outros tipos de


programas de computador, como a Aprendizagem (devem ser capazes de
avaliar seu ambiente, decidir e aprender com os erros ou acertos ocasionados pela decisão.
Aí entra a integração com a tecnologia de Raciocínio Baseado
em Casos), e a Reatividade (devem ser capazes de reagir às alterações do ambiente. Ex:
Mudou o sistema de votação em uma câmara legislativa digital. O
agente deve perceber as alterações e se adaptar a elas de modo a continuar operando, e
caso não seja possível, informar seu representado).

Na parte mais técnica, é necessário termos ciência de que existem diversos modelos de
comunicação para agentes, arquiteturas de várias complexidades, protocolos
e regras de funcionamento ambientais, controles de tráfego, "federações de agentes",
linguagens de mensagens, políticas de conversação, entre outras definições.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Obviamente, para que fosse implementada uma democracia com representação eletrônica,
além das centenas, talvez milhares de alterações às quais nosso ordenamento
jurídico deveria ser submetido, várias definições de infra-estrutura deveriam ser
protocoladas, muitas entidades de fiscalização, segurança e controle
criadas, enfim, toda uma estrutura digital e humana voltada para a possibilitação do
exercício direto do poder político deveria ser projetada, indo de
encontro a inúmeros dispositivos legais, formais e regras práticas, o que torna o projeto de
tal empreendimento visionário ao extremo, e, por que não dizer,
absolutamente romântico.

Não obstante tal adjetivação "depreciativa", cabe a lembrança de Nagib Filho, que
enumera diversas instâncias de exercício direto do poder: "O art. 14 da
Constituição de 1988 coloca como instrumentos da democracia o voto direto, secreto e
igual, o plebiscito, o referendo, a iniciativa popular, mas não esgota
aí os instrumentos democráticos, pois são previstos, também, diversos remédios jurídicos
processuais, como a ação popular, ação penal privada subsidiária
da pública (art. 5º, LIX), ação de inconstitucionalidade (art. 103, art. 125, § 2º), bem como
outras formas de participação individual ou de entidades
da sociedade civil no processo de tomada de decisão ou de execução da atividade estatal".
[SLAIBI1998]

Entre essas formas, podemos citar o mandado de segurança coletivo, liberdade na criação
e funcionamento dos partidos políticos (art. 17), cooperação das
associações representativas no planejamento municipal (art. 29, X), iniciativa legislativa
popular (arts. 29, XI, 61, § 2º), participação na administração
da justiça (art. 5º, XXXVIII, 98, 115, 116, 121, 124), gestão democrática no ensino
público (art. 206, VI), todos da Constituição Federal.

Todavia, mesmo fora do âmbito jurídico e da realidade política, o estudo de tais modelos
ideais possibilita o desenvolvimento de metodologias e tecnologias
de consulta popular e expressão da vontade normativa e interpretativa de entidades
detentoras do poder de decisão, podendo ser útil em inúmeros domínios
de aplicação, como por exemplo sistema de determinação de perfil, teorias de coesão de
bancadas, conjuntos de regras formais em sistemas especialistas,
entre outros.

Trata-se porém de possibilidade política remota, mas também de tecnologia e ferramenta


para engenharia de produção e sistemas.

7. REFEFÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
COSTA, Marcelo T. C. Uma arquitetura baseada em agentes para suporte ao ensino à
distância. Florianópolis: UFSC, 1999. (Tese de doutorado em Engenharia
de Produção)

KOSLOSKY, Marco Antônio Neiva. Aprendizagem baseada em casos – um ambiente


para ensino de lógica de programação. Florianópolis: UFSC, 1999. (Dissertação
de Mestrado em Engenharia de Produção)

Maes, P. Intelligent Software: Programs That Can Act Independently Will Ease the
Burdens that Computers Put on People. IEEE Expert Systems, Vol. 11, No.
6, December 1996, pp.62-63,.

Russell, S. e Norvig, P. Artificial Intelligence: A Modern Approach. Englewood Cliffs,


NJ: Prentice Hall, 1995.

SLAIBI FILHO, Nagib. Povo e Poder: Meios de Integração. CD de Doutrinas – Plenum


Informática, 1998.

TEIVE, Raimundo Celeste Guizoni. Planejamento da Expansão da Transmissão de


Sistemas de energia elétrica utilizando sistemas especialistas. Florianópolis:
UFSC, 1997. (Tese de doutorado em Engenharia de Produção)

Wooldridge, M. e Jennings, N. R. Intelligent Agents: Theory and Practice. Submitted to


the Knowledge Engineering Review, 1994.

Documentação da Disciplina: Tecnologia da Informação Jurídica

Professores:

Hugo Cesar Hoeschl, Msc

Tania Cristina D’Agostini Bueno, Msc

Ricardo Miranda Barcia, PhD

1. Ementa: Noções de Tecnologia da Informação Jurídica. Três partes: a)


desenvolvimento de ferramentas de tecnologia da informação no mundo de justiça e
das leis; b) procedimentos para registro e preservação de direitos sobre os projetos e
descobertas na tecnologia da informação; c) esclarecimento sobre
questoes jurídicas da tecnologia da informação, em linguagem acessível.

2. Estratégia: Exposições, seminários, debates e estudo de casos, visando a uma aplicação


efetiva das informações abordadas. Análise de sites temáticos.
Avaliação mediante seminarios, participação e trabalho final.

3. Programa:
Introdução e conceitos operacionais;
Ferramentas de aplicação da TI na justiça. Informática Jurídica;
Sites: Findlaw (
www.findlaw.com.br),
Infojur (
www.ccj.ufsc.br)
Inteligência artificial e direito, I;
Sites: Icail, Giad
Inteligência artificial e direito, II;
Sites: Jurix, Enia
Justiça na web (avaliação dos tribunais);
Site: Tribunal de Justiça da Paraíba (
www.tjpb.gov.br),
Tribunal Superior Eleitoral (
www.tse.gov.br)
Registro de software. O que e como fazer. Pirataria e contra-pirataria;
Site: Abes (
www.abes.com.br)
Registro de direitos autorais, marcas e patentes. O que e como fazer. Montando a empresa
digital (ótica jurídica);
Site: INPI (
www.inpi.gov.br).
O ciberespaço e o direito digital;
Site: Direito Digital (
www.digesto.net/ddigital).
Censura na web e sigilo das comunicações digitais. Ética jurídica e telemática;
Site: Direito Digital (
www.digesto.net/ddigital).
Mediação e arbitragem na internet. Solução rápida de conflitos jurídicos;
Site: NAM Corporation (
www.clicknsettle.com).

Bibliografia on line:

Inteligência artificial e direito:

http://www.digesto.net/ddigital/inteligencia/ia1.htm
http://www.digesto.net/ddigital/inteligencia/ia2.htm
http://www.digesto.net/ddigital/inteligencia/iamed1.htm
http://www.digesto.net/ddigital/inteligencia/iamed2.htm
http://www.digesto.net/ddigital/inteligencia/iamed3.htm
http://www.digesto.net/ddigital/inteligencia/enia99b.htm

Panorama geral:

http://www.digesto.net/ddigital/digital/Panorama1.htm
http://www.digesto.net/ddigital/digital/panorama2.htm

O Ciberesaço e o direito:

http://www.digesto.net/ddigital/digital/ciber1.htm
http://www.digesto.net/ddigital/digital/ciber1.htm
http://www.digesto.net/ddigital/digital/ciber3.htm

Ciberdemocracia:
http://www.digesto.net/ddigital/democracia/orwell1.htm
http://www.digesto.net/ddigital/democracia/orwell2.htm
http://www.digesto.net/ddigital/democracia/orwell3.htm

Direito e telemática:

http://www.digesto.net/ddigital/dt/telematica.htm

Internet e direito:

http://www.digesto.net/ddigital/internet/liberdade1.htm
http://www.digesto.net/ddigital/internet/liberdade2.htm
http://www.digesto.net/ddigital/internet/liberdade3.htm

Justiça e tecnologia da informação:

http://www.digesto.net/ddigital/justica/direitotecnologia.htm
http://www.digesto.net/ddigital/justica/quatro1.htm
http://www.digesto.net/ddigital/justica/quatro2.htm
http://www.digesto.net/ddigital/justica/quatro3.htm
http://www.digesto.net/ddigital/justica/quatro4.htm

Sigilo de dados:

http://www.digesto.net/ddigital/sigilo/telem1.htm
http://www.digesto.net/ddigital/sigilo/telem2.htm
http://www.digesto.net/ddigital/sigilo/telem3.htm
http://www.digesto.net/ddigital/sigilo/principios1.htm
http://www.digesto.net/ddigital/sigilo/principios2.htm
http://www.digesto.net/ddigital/sigilo/principios3.htm

Contratos em sistemas de inteligência artificial:

http://www.nts.com.br/tarcisio/artigos/contratos_em_sistemas.htm

Comentários à lei 9.609 de 19/02/98 (SOFTWARE):

http://www.nts.com.br/tarcisio/artigos/direito_ciberespaco.htm

O Direito do Ciberespaço:

http://www.nts.com.br/tarcisio/artigos/direito_ciberespaco.htm

Páginas de referência:

www.digesto.net (
busca jurídica, Brasil)

www.findlaw.com (
busca jurídica, EUA)
www.clicknsettle.com (
mediação e arbitragem na web)

http://juris.eps.ufsc.br (
inteligência artificial e direito)

Avaliação dos tribunais na web:

www.digesto.net/ijuris

Tecnologia da informação Jurídica - Aula 1 (sumário):

Histórico do Grupo JURIS

Especialização

Mestrado - Direito

Cadeiras EPS

Protótipo

Trabalhos internacionais

Criação da linha de pesquisa

Formação do Grupo

Prêmio 99

Avaliação dos tribunais, 99

Abrangência

Tecnologia da Informação Jurídica em sentido estrito;

Procedimentos Jurídicos na internet;

Impacto social das novas tecnologias;

Ainda : Direito Digital e Democracia Eletrônica

Tecnologia da Informação Jurídica

Sitemas de informação;

Informática Jurídica;

Inteligência artificial e direito.

Desdobramentos
Procedimentos jurídicos na internet:

interação

atos jurídicos digitais (*)

emissão de documentos com fé pública

Impacto social das novas tecnologias:

exclusão

aprendizado baseado na autonomia

soberania, conhecimento científico

Direito Digital

questões jurídicas

atos jurídicos digitais (*)

provas digitaisv

Democracia eletrônica

questionamento da representatividade

escolhas mais constantes

participação mais efetiva

Tecnologia da informação jurídica

Discussão teórica, apresentação de seminários baseados nos textos web e artigos


internacionais;

Apresentação dos protótipos já desenvolvidos pelo grupo:

Avaliação de sites

Metajuris

Sectra

Jurisconsulto

Themis

Próxima aula:
Apresentação do Metajuris;

Debate: validade dos documentos públicos digitais. Assinatura eletrônica e fé pública.

Seleção dos textos para as proximas aulas.

Regras para o debate

Duas pessoas para cada lado (escolhidas hoje);

15 min para cada debatedor, 30 min no total;

réplica e tréplica, 5 min por debatedor, 10 min no total;

Mediadora: Tânia;

Pontos a serem observados na argumentação:

Normatização (Constituição, Legislação, Jurisprudência, normas infra-legais, Doutrina);

Outros países;

Aspectos éticos;

O Futuro.

Ao final, votação.

Resumo do Debate:

"Pesquisadores de tecnologia aprovam documento digital"

"Um grupo multidisciplinar de pesquisadores reuniu-se para debater a validade de


documentos oficiais, com fé pública, emitidos através da internet. O exemplo
típico deste tipo de documento são as certidões negativas emitidas por orgãos públicos. O
debate fez parte das atividades da cadeira "tecnologia da informação
jurídica", do curso de Pós-Graduação em Engenharia de Produção e Sistemas da
Universidade Federal de Santa Catarina. A discussão seguiu o formato de um
julgamento, semelhante a um júri, onde os debatedores tem igual tempo para apresentar
seus argumentos e replicar a tese adversária. Depois da argumentação,
o debate ficou livre entre todos os presentes, mesmo aqueles que não fazem parte do
grupo de pesquisa. Ao final, aconteceu uma votação direta, com voto
universal. Por se tratar de um grupo multidiciplinar, a discussão foi extremamente rica,
com exemplos consistentes a argumentação forte, tanto por parte
dos debatedores como por todo o grupo, composto por profissionais e pesquisadores das
áreas de sistemas computacionais, direito, administração, segurança,
psicologia, biblioteconomia, pedagogia e gestão da informação.

Os debatedores foram:
Lucio Eduardo Darelli e Marcio Bragalia, defendendo a validade, e

Elenice Regina Borges e e Vanessa Luiz Neumzicz, defendendo a necessidade de maior


segurança.

Dentre os argumentos apresentados, merecem destaque os seguintes: A favor: facilidade


administrativa; maior acesso à informação; maior satisfação do interessado
no serviço; possibilidade de adulteração similar ou menor do que os documentos emitidos
em papel; impossibilidade de pagamento de propina; Contra: ausência
de seguranca total; possibilidade de adulteração digital; ausência de efetiva comprovação
da validade dos métodos de criptografia e assinatura eletrônica;
falibilidade ainda não dimensionada dos procedimentos adotados para emitir tais
documentos. O resultado final da votação foi o seguinte: 76,5% dos pesquisadores
consideram válidos os documentos digitais com fé publica, emitidos por mecanismos
digitais, desde que possuam meios de checagem e validação; 23,5% consideram
que ainda não existe seguranca suficiente para aceitar a validade de tais documentos. Ao
final, prevaleceu o entendimento no sentido de que as fraudes
podem ocorrer tanto em meios físicos como digitais, e que este tipo de problema é de
ordem ética e moral, e não pode ser resolvido pelos computadores,
mas eles podem sem dúvida, tornar a nossa vida mais fácil, desde que adotadas as cautelas
necessárias. Uma delas é que a falsificação de uma certidão digital
tem as mesmas consequências jurídicas que a falsificação de uma certidão física. A
cadeira "tecnologia da informação jurídica", da EPS/UFSC, foi criada
pelo Professor Ricardo Miranda Barcia, PhD, professor titular da UFSC. Hugo Cesar
Hoeschl e Tania Cristina D'Agostini Bueno, mestres e doutorandos, atuam
como professores colaboradores. O interessante de se realizar a discussão neste tipo de
formato é que as pessoas vivenciam a experiência de chegar a um
resultado concreto e imediato sobre um determinado tema, o que facilita a descrição do
estado da arte em pontos polêmicos e controversos.

O grupo promete outros eventos similares em breve, e alguns dos temas a serem
futuramente debatidos serão os seguintes: "validade da mediação e arbitragem
pela internet"; "sigilo de dados e interceptação das comunicações"; e "procedimentos de
proteção da propriedade intelectual no ciberespaço". Por enquanto,
resta parabenizar as entidades brasileiras que já realizam este tipo de procedimento,
oferecendo documentos pela internet."

Matéria veiculada no Estado de São Paulo (www.estadao.com.br)

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