Você está na página 1de 7

4º BIMESTRE - A luta pela integridade territorial do Amapá

A AFIRMAÇÃO DO IDEÁRIO REPUBLICANO NO AMAPÁ: A REPUBLICA


DE VEIGA CABRAL (FINAL DO SÉCULO XIX)
INTRODUÇÃO: No final do século XIX, precisamente por volta de 1893, com
a descoberta de ouro na área do contestado franco-brasileiro: compreende a faixa
territorial entre o sul do rio Oiapoque e o norte do rio Araguari, teve início o
processo histórico que associado a outros elementos, ajudam a explicar os
conflitos entre brasileiro e guianenses.
No momento em que estamos analisando, o final do século XIX, essa região
estava sendo ocupada por diversos personagens históricos como aventureiros,
quilombolas, desertores militares, escravos e mineradores em busca das minas
que haviam acabado de serem descobertas. Entre esses mineradores,
encontramos grande número de franceses oriundos de caiena e que se
aproveitaram da vigência do acordo de 1841 que tornava a área do contestado
franco-brasileiro, neutra, não estando sob a posse de nenhum dos dois países.
Os conflitos entre brasileiros e franceses seria inevitável, até que em maio de
1895 uma expedição enviada pelo governo de Caiena, aparentemente sem
autorização de Paris, invadiu a vila do Amapá a pretexto de libertar cidadãos
franceses que ali estariam presos; os amapaenses receberam os invasores a tiros e
esse episódio aumentou as tensões, levadas aos dois países: Brasil e França. Ao
mesmo tempo em que ocorriam esses incidentes, na recém instalada republica
brasileira, vários acontecimentos históricos colocavam em perigo o ideal republicano.
As revoltas jacobinas na capital Rio de Janeiro (Revolta da Vacina), a Revolta da
Armada, Guerra de Canudos e a Revolução Federalista. Em meio a todos esses
fatos, os conflitos na área do contestado franco-brasileiro e a mobilização simbólica
em torno da figura de Cabralzinho contra a suposta invasão francesa, ganharam
importância e significado.
O Contestado Franco-Brasileiro
No dia 01 de maio de 1895, na então pequena vila de Amapá, Francisco Xavier
da Veiga Cabral, o Cabralzinho, rechaçou uma invasão francesa ao comando do
capitão Lunier. Este fato foi o mais radical da questão do Contestado do Amapá, que
foi resolvido somente cinco anos mais tarde, através de arbitragem internacional.
Isto aconteceu há 111 anos (Estamos em 2006). Os franceses comandados por
Lunier chegaram para obedecer às ordens do governador de Caiena, Mr. Charvein,
que queria a prisão imediata de Cabralzinho caso este não colocasse em liberdade o
"delegado" francês Trajano, que havia sido feito prisioneiro do Exército Defensor do
Amapá, uma força paramilitar comandada por Cabralzinho.
Por ter defendido a vila de Amapá, Cabralzinho foi consagrado herói nacional
pelas Forças Armadas, que lhe deram o título de General Honorário do Exército
Brasileiro, e pela Maçonaria, a qual Cabralzinho era membro. Eis sua história:
Forma-se o Triunvirato
No tempo da Cabanagem, os franceses construíram uma fortificação nas
imediações de Amapá, mais precisamente numa localidade banhada pelo lago
Ramudo Essa guarnição francesa foi descoberta pelo capitão Harris que,
imediatamente comunicou o fato ao governo imperial do Brasil. Assumindo o Segundo
Império, D. Pedro II resolveu, com o seu colega de França, Napoleão III, neutralizar a
região disputada pelos dois países, hoje a área situada entre os rios Oiapoque e
Araguari.
Assim, a área passou a se chamar Contestado Franco-Brasileiro, com um
representante no Brasil morando em Belém, e outro da França morando em Caiena.
O local-sede do contestado era então a vila do Espírito Santo do Amapá. A
descoberta do ouro no rio Calçoene, em 1894 (há autores que mencionam 1893),
pelos garimpeiros paraenses naturais de Curuçá, Germano e Firmino, veio
despertar maior interesse da França e do Brasil na posse definitiva do Contestado.
Do lado francês é nomeado Trajano, escravo fugitivo de Cametá (no Pará) que
passou a atuar em Cunani como delegado francês. Em Amapá (àquela época vila)
quem representava os interesses da França era Eugene Voissien, que veio mais
tarde proibir o acesso de brasileiros à área aurífera, franqueando o direito apenas
aos "crioulos" de Caiena.
Casa de Cabralzinho - Acervo Edgar Rodrigues
Com a situação criada por Voissien, os amaparinos começaram a reagir e o
primeiro passo foi cassar os direitos do representante francês. Assim, reunida em
26 de dezembro de 1894, a população depôs Voissien e criou um governo triúnviro,
do qual assumiram o cônego Domingos Maltez na presidência, tendo como vices
Francisco Xavier da Veiga Cabral e Desidério Antonio Coelho. A sugestão do
Triunvirato foi de Desidério que, escolhido no dia 10 do mesmo mês para ser o líder
de um governo independente em Amapá, sugeriu uma nova reunião para que a
administração passasse a ser exercida por três pessoas. No dia seguinte é criado o
Exército Defensor do Amapá, para tentar garantir a ordem no local. A formação do
governo triúnviro é comunicada em seguida a Belém.
Trajano é preso em Cunani
Na vila de Cunani, que já foi república independente por duas vezes (1889 a
1902), Trajano continuava com suas atitudes de perseguição aos brasileiros que se
fixassem por lá, chegando até mesmo a rasgar a bandeira brasileira e, em seu
lugar, fazer tremular a francesa, sob os acordes de Marselha.
O cônego Domingos Maltez, nos primeiros anos de 1895, deixa a presidência
do Triunvirato e assume, em seu lugar, o vice, Cabralzinho. Uma das primeiras
providências tomadas por Cabral foi atender a uma carta assinada pela população
de Cunani relatando as atitudes de Trajano no local. Sem procurar instaurar
qualquer inquérito, o que era de praxe nessas situações, Cabralzinho enviou uma
guarnição a Cunani para mandar intimar e prender Trajano. Foi encarregado da
missão o major Félix Antonio de Souza, que levou consigo uma proclamação oficial
do Triunvirato aos brasileiros daquele distrito.
Os franceses invadem a vila
Era uma quarta-feira, 15 de maio de 1895. A população adulta se encontrava
nos seus afazeres diários, seja no centro da vila, seja no campo, tomando conta do
gado ou das "tarefas da roça". Cabralzinho encontrava-se em sua casa descansando,
próximo à Igreja, pois havia chegado de madrugada de uma viagem que fizera, para
atender a uma criança doente na região dos Lagos.
Os franceses desde cedo vinham subindo o rio Amapá Pequeno, a bordo da
canhoneira bengali, que era pilotada por um brasileiro de nome Evaristo Raimundo. O
comando era do capitão-tenente Lunier e a missão tinha a finalidade de prender
Cabralzinho se este resistisse à ordem de soltar Trajano. Após a prisão de Cabral, os
gendarmes deveriam levá-lo para Caiena.
Os invasores desembarcaram às 9 horas e foram logo em direção à residência
de Veiga Cabral. A casa foi cercada por uma patrulha enquanto que outra vinha do
outro lado, deixando um rastro de mortes entre velhos, mulheres e crianças
amaparinas.
As declarações do capitão Lunier foram ouvidas com bastante clareza. Diante da
negativa de Cabralzinho, formou-se o combate. Com poucos minutos os amigos de
Cabral começaram a vir, e oitenta homens, comandados pelo capitão Lunier,
começaram a lutar descontroladamente, talvez por causa da morte de seu
comandante, e preocupados também com a baixa da maré que provocaria, com
certeza, o encalhe da embarcação, que tinha casco muito fundo.
Se Cabralzinho matou ou não Lunier com a própria pistola do gendarme francês,
agora o fato não interessa. A reação dos brasileiros e o massacre de amapaenses
ocorrido na vila apressou de uma vez a resolução do conflito do Contestado, cujas
conclusões saíram no dia 1º de dezembro de 1900, cinco anos depois, pelo
presidente da Suíça, Walter Hauser, que fora escolhido como mediador da questão.
Mas a repercussão dos acontecimentos ocorridos no Amapá foi de grande valia no
cenário da imprensa internacional. No Brasil a Imprensa se movimenta com protestos
contra a pretensão do governador de Caiena, Mr. Charvein, em pretender fuzilar os
brasileiros levados prisioneiros pelos franceses. O próprio governador de Caiena
coloca como prêmio de um milhão de francos a quem capturar vivo Cabralzinho.
As relações diplomáticas entre o Brasil e a França necessitavam de providências
urgentes. O governo francês reconheceu a responsabilidade de Mr. Charvein pelo
massacre ocorrido em 15 de maio de 1895. O seu afastamento do comando de
Caiena foi imediato, valendo-lhe, como "prêmio", uma aposentadoria compulsória.
De 1896 a 1897, Cabralzinho percorre o sul do país como herói nacional e defensor
da Pátria. Mas a imprensa francesa insiste em declarar Cabralzinho culpado. O fato
só foi resolvido com o Laudo Suíço expedido pelo presidente Walter Hauser, em 1º
de dezembro de 1900, em que dá ganho de causa ao Brasil na questão do
Contestado.

Vítimas da Invasão
O jornal paraense "Diário de Notícias", em edição de 12 de junho de 1895,
quase um mês depois do ocorrido, publica a relação das vítimas do massacre, com
indicação de nomes, idade e informações a respeito da morte:
O Diário de Notícias conta ainda que houve quinze brasileiros que se
embrenharam pela floresta ante a fúria dos atacantes, quando começou o
massacre. Os franceses incendiaram as casas comerciais de Manuel Gomes
Franco, Raimundo Macedo de Siqueira, Antônio Carlos Vasconcelos e Daniel
Ferreira dos Santos. Da família de Antônio Carlos Vasconcelos ficaram quatro
crianças e cinco adultos em miséria total, apenas com a roupa do corpo.
Esse foi o movimento macabro da invasão francesa ao Amapá em 15 de maio
de 1895, e o presidente Walter Hauser, da Confederação Suíça, escolhido para
arbitrar a questão, finalmente em 1º de dezembro de 1900, cinco anos mais tarde,
acaba com o litígio, dando ganho de causa ao Brasil, da região do Amapá, hoje com
autonomia e status de Estado da federação brasileira. Francisco Xavier da Veiga
Cabral hoje figura no cenário nacional como um dos heróis, reconhecido pelo
Exército Brasileiro que lhe outorgou a patente de "general honorário", e pela
Maçonaria, a quem pertencia como membro.

O Laudo Suíço
Há cem anos atrás o Barão do Rio Branco, ministro das Relações Exteriores,
conseguiu que fossem estabelecidos os limites territoriais, demarcando a fronteira
entre o Oiapoque e a Guiana francesa. A demarcação das terras, porém, não
significou a separação dos povos que continuaram se relacionando amistosamente.
Jornais Franceses falam sobre conflitos no Amapá - Acervo Edgar
Rodrigues
Nos últimos anos, a relação de cooperação entre brasileiros e franceses, vem se
fortalecendo dia a dia. O espírito de cooperação e participação do governo
amapaense foi, e continua sendo, objeto de atenção de várias personalidades
nacionais e internacionais.
» 01 de dezembro de 1900 O presidente da Suíça (Confederação Helvética),
Walter Hauser, expede o Laudo Suíço dando ganho de causa ao Brasil da Questão
do Contestado Franco-Brasileiro.

República do Cunani
O termo Cunani vem do tupi, e é um dos nomes do tucunaré, peixe da região
amazônica. A atual vila de Cunani é distrito do município de Calçoene. Deve possuir
cerca de 500 habitantes entre os que moram na sede e os da região ribeira. A base
econômica é a pesca e a pequena agricultura. A extração de madeira é outra frente
econômica, mas o trabalho é todo manual, por não existir serraria motorizada. Os
meios empregados são os serrotes, manejados por dois homens, um em cima e
outro em baixo da tora de madeira, suspensa quase dois metros. Este
procedimento já era empregado no século XVIII, período da escravidão negra no
Brasil.
VAMOS EXERCITAR
1– O que gerou o interesse Frances pela região amapaense?
2– O que é o contestado franco-brasileiro?
3 - Por que se formou o triunvirato?
4- Cite e comente um dos fatos ocorrido nos primeiros anos de 1895, na região
do Amapá (Cunani)?
5-– Quais os motivos que levaram Cabralzinho ordenar a prisão de Trajano?
6– Por que os franceses invadiram a vila espírito santo do Amapá?
7- Qual o prêmio oferecido pelo governo francês pela prisão de Cabralzinho?
8– Como ficou visto a imagem de Cabralzinho, para os brasileiros?
9– O que determinou o Laudo Suíço, em relação as fronteiras entre os franco-
brasileiros?
10- Comente com a demarcação das fronteiras, houve também a separação entre os
franco-brasileiros?
11- Explique o que significa República do Cunani.
2ª) analise as afirmativas a baixo e depois marque a opção correta.
2.1 Sobre a República de Veiga Cabral é correto afirmar que:
A( ) Essa República nunca ocorreu de fato, pois, amapaenses e caienenses
viviam no mesmo espaço geográfico e mantinham boa convivência.
B( ) Essa República ocorreu fato tendo como principal fato a expulsão dos
caienenses que moravam nessa região.
C( ) Essa República tinha como um dos objetivos a separação em relação ao
Brasil.
D( ) Essa República ocorreu no final do século XX, tendo como palco a disputa
entre Brasil e França, pela região do contestado.
2.2. Um dos fatos que leva a disputa entre amapaenses e caienense pela posse da
terra que compreende a faixa territorial entre o sul do rio Oiapoque e o norte do rio
Araguari foi:
A( ) a construção de uma usina hidrelétrica na região de forma irregular;
B( ) a descoberta de ouro na nessa região;
C( ) a morte de centenas de índios caienenses que habitavam esse espaço.
D( ) o aumentos dos impostos do governo brasileiro.

2.3- Sobre o Triunvirato é correto afirmar que:


A( ) era composto por dois brasileiros e um francês;
B( ) era composto apenas por franceses.
C( ) era composto por um brasileiro e dois franceses;
D( ) era composto por três brasileiros.

Você também pode gostar