Eduardo Fontes
Henrique Hoffmann
REVISÃO DE VÉSPERA
DELEGADO FEDERAL
Autores
Bernardo Santos Cunha Barbosa
Carlos Eduardo Pellegrini
Eduardo Fontes
Isabelle Vasconcellos Kishida
Marcelo Borsio
Márcio Alberto Gomes Da Silva
Maurício Coelho Rocha
Rafael Fernandes Souza Dantas
Rodrigo Perin Nardi
Ulisses Prates Junior
2018
Capítulo 1
DO DIREITO CONSTITUCIONAL
2. PERSPECTIVA SOCIOLÓGICA
Preceitua essa perspectiva que uma Constituição só seria legítima se representasse o
efetivo poder estatal, refletindo as forças sociais que constituem o poder. Nesse sentido,
Ferdinand Lassale afirma que a Constituição seria a somatória dos fatores reais do poder
dentro de uma sociedade.
3. PERSPECTIVA POLÍTICA
Partindo-se do pensamento de Carl Schmitt, o professor José Afonso da Silva afirma
que a Constituição só se refere à decisão política fundamental, ao passo que as leis cons-
titucionais seriam os demais dispositivos inseridos no texto do documento constitucional,
não contendo matéria de decisão política fundamental. Nesse diapasão, há uma distinção
entre a Constituição e a Lei Constitucional.
Dentre da classificação moderna, e com base nos pensamentos de Schmitt, podemos
afirmar que a Constituição se enquadra no conceito de normas materialmente constitucio-
nais, ao passo que a Lei Constitucional está inserida no conceito de normas formalmente
constitucionais.
4. PERSPECTIVA JURÍDICA
Segundo a perspectiva jurídica, que possui como seu representante Hans Kelsen, a
Constituição foi alocada no mundo do dever ser e não no mundo do ser, caracterizando-se
como fruto da vontade racional do homem e não das leis naturais.
O professor José Afonso da Silva preceitua que a Constituição significa norma funda-
mental hipotética, cuja função é servir de fundamento lógico transcendental da validade da
Constituição jurídico-positiva, o que equivale à norma positiva suprema, conjunto de normas
que regula a criação de outras normas, lei nacional no seu mais alto grau.2
5. FONTES FORMAIS
Conforme preceitua balizada doutrina a expressão “fontes do direito” é utilizada no
meio jurídico para se referir aos componentes utilizados no processo de composição do
direito, enquanto conjunto sistematizado de normas. Em uma definição mais singela e de
fácil memorização, as fontes do direito são as origens do direito, ou seja, a matéria prima
da qual ele nasce.
As fontes formais são aquelas pelas quais o direito se manifesta. Como fontes formais
temos os costumes, os princípios gerais do direito, a jurisprudência e a doutrina.
6. CONCEPÇÃO POSITIVA
Por fim, podemos destacar a concepção positivista, segundo a qual apresenta a ideia
de Constituição exclusivamente como norma jurídica. Destaque-se que a principal ruptura
com as demais concepções ocorre na teoria da validade da norma, a qual divide o ser do
dever ser.
De acordo com essa concepção a norma jurídica existe de forma válida quando decorrer
de outra norma jurídica válida superior, até o ponto de se gerar uma premissa de validade
em todo o sistema jurídico, o qual nas lições de Kelsen configuram a norma fundamental.
CONSTITUIÇÃO
IMPORTANTE
Segundo a maioria da doutrina a Constituição Federal de 1988 possui a seguinte clas-
sificação: formal, rígida, escrita, dogmática, promulgada, analítica, dirigente, normativa
e eclética..
Após essa visão panorâmica dos critérios, passaremos à análise mais detalhada da-
queles que foram selecionados pela Comissão de Concursos no edital. Em virtude disso,
analisaremos apenas dois desses critérios. Senão, vejamos.
3. NORMAS CONSTITUCIONAIS
Podemos dizer que as normas constitucionais são normas jurídicas qualificadas, haja
vista serem dotadas de atributos característicos próprios. Dentre esses atributos que qualifi-
cam as normas constitucionais destacam-se três: i) supremacia delas em relação às demais
normas infraconstitucionais; ii) elevado grau de abstração; e, iii) forte dimensão política.
Não obstante existirem diversas obras doutrinárias sobre as normas constitucionais,
em nosso estudo será adotada a clássica teoria do professor José Afonso da Silva, segundo
a qual as normas constitucionais, quanto à sua eficácia e aplicabilidade, dividem-se em:
a) De eficácia plena – é aquela apta a produzir todos os seus efeitos jurídicos direta
e imediatamente após a entrada em vigor do texto constitucional. Portanto, é uma
norma de aplicabilidade direta, imediata e integral (p.ex.: arts. 2.º; 21; 22, dentre
outros da CF).
b) De eficácia contida – conquanto possua também incidência imediata e direta,
a eficácia não é integral, haja vista que poderá sofrer restrições ou ampliações
posteriores por parte do Poder Público. Nesse caso, para que a norma sofra essas
restrições ou ampliações é imprescindível a atuação positiva do Poder Público, ao
qual incumbirá editar norma posterior (p.ex.: arts. 5.º, LVIII; 37, I, dentre outros
da CF);
c) De eficácia limitada – referida norma, desde a promulgação da CF, produz
efeitos jurídicos reduzidos, vez que depende e demanda de uma atuação positiva
e posterior do legislador infraconstitucional. Para que a norma produza todos
seus efeitos esperados é imprescindível que o legislador infraconstitucional edite
a denominada norma regulamentadora (p.ex.: art. 7.º, XX e XXVII, dentre outros
da CF). Ainda que haja inércia por parte do legislador, a norma constitucional
de eficácia limitada produzirá efeitos mínimos (p.ex.: impedirá que norma in-
fraconstitucional contrária a ela seja editada, sob pena de inconstitucionalidade).
Portanto, é norma constitucional de aplicabilidade indireta, mediata e reduzida.
Para o professor José Afonso da Silva as normas de eficácia limitada subdividem-se
em dois grupos:
c.1) Normas de princípio institutivo ou organizativo – destinadas à criação de
organismos ou entidades governamentais, apresentando esquemas gerais de estruturação
orgânica (p.ex.: arts. 113; 121; dentre outros da CF);
c.2) Normas de princípio programático – destinadas à previsão de princípios que
tem a finalidade de ulterior cumprimento pelos órgãos do Estado, apresentando programas
de atuação e com finalidade de efetivação de previsões sociais do Estado, sendo que para
sua concretização é imprescindível a atuação futura do Poder Público (p.ex.: arts.196; 205;
dentre outros da CF).
Capítulo 3
PODER CONSTITUINTE
Em apertada síntese podemos defini-lo como sendo aquele poder capaz de instituir
uma nova ordem jurídica (poder constituinte originário) ou de alterar a ordem jurídica vigente
(poder constituinte derivado).
3. MENDES, Gilmar Ferreira e BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional, p. 103 Ed.
IDP.
34 DIREITO CONSTITUCIONAL • Rodrigo Perin Nardi
IMPORTANTE
O poder constituinte derivado se subdivide em:
1. Poder Constituinte Derivado Reformador – que é o poder de modificar a CF;
2. Poder Constituinte Derivado Decorrente – que é o poder atribuído pelo poder
constituinte originário aos Estados-Membros e ao Distrito Federal para se auto organi-
zarem por meio das respectivas Constituições Estaduais e Lei Orgânica (no caso do DF).
Destaque-se que o DF possui esse poder em virtude do fato de sua competência para
elaborar a Lei Orgânica derivar diretamente da CF (cf. art. 32). Situação diversa ocorre
com os Municípios, pois a competência outorgada a eles para elaboração das respectivas
Leis Orgânicas não decorre exclusivamente da CF.
Não devemos nos olvidar que a sociedade é dinâmica, sendo imprescindível que as
normas também evoluam paralelamente, vez que se não houvesse essa possibilidade have-
riam inevitáveis prejuízos à evolução da sociedade.
Em virtude disso, é que se admite que a Constituição seja alterada a fim de se regenerar,
de preservar sua essência, fazendo-se com que as normas obsoletas sejam extirpadas do orde-
namento jurídico, sendo substituídas por outras mais adequadas à conformação da sociedade.
Esse poder de reforma, conforme já dito anteriormente, é criado pelo Poder Cons-
tituinte Originário, o qual estabelece o tipo de procedimento, bem como as limitações a
serem observadas.
É de se destacar que todas as vezes que houver necessidade em se alterar, adicionar
ou suprimir dispositivos na Constituição Federal, será possível exercer o poder de reforma,
observando-se os procedimentos constitucionais preestabelecidos.
Frise-se que esse poder de reforma abrange tanto o poder de emenda (Emendas à
Constituição – art. 60 da CF), quanto a revisão do texto (Revisão Constitucional – art. 3.º
do ADCT).
Conquanto as Emendas à Constituição e a Revisão Constitucional sejam espécies do
gênero poder de reforma, é importante não confundirmos ambos os institutos.
Isso porque, segundo o próprio art. 3.º do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias previu que a Revisão Constitucional seria “realizada após cinco anos, contados
da promulgação da Constituição, pelo voto da maioria absoluta dos membros do Congresso
Nacional, em sessão unicameral”. Da análise desse dispositivo denota-se que a maneira de
alteração constitucional, naquele momento, foi feita de uma forma mais simples e célere
em relação à tramitação de uma Emenda Constitucional. Em que pese o texto não tenha
sido claro se essa revisão constitucional seria realizada uma única vez ou não, doutrina e
jurisprudência majoritárias afirmam categoricamente que ela somente poderia ser exercida
em uma única oportunidade, como de fato se deu.
De outro vértice, as Emendas à Constituição poderão ser utilizadas a qualquer mo-
mento, sempre que houver necessidade em se modificar o texto constitucional e adequá-lo
à realidade social.
Outra forma de se alterar a Constituição Federal é através da denominada mutação
constitucional, que consiste em um processo informal de alteração constitucional, resultante
de uma evolução dos costumes, dos valores da sociedade, das pressões exercidas pelas novas
exigências econômico-sociais, dentre outros fatos. Mais à frente daremos alguns exemplos
de mutações constitucionais recentes.
A título de conhecimento, até o fechamento da edição deste livro foram editadas 99
(noventa e nove) Emendas Constitucionais. Ademais, como decorrência do disposto no art.
3.º do ADCT, temos outras 06 (seis) Emendas de Revisão (ou Emendas Constitucionais
de Revisão).
EM SÍNTESE
Tanto as Emendas à Constituição quanto a Revisão Constitucional são processos formais
de alteração das normas constitucionais, sendo que as primeiras poderão ser exercidas
a qualquer tempo, ao passo que a revisão constitucional em um momento específico
(cf. art. 3.º do ADCT). A mutação constitucional, por sua vez, é um processo informal
de alteração das normas constitucionais.
Cap. 3 • PODER CONSTITUINTE 37
5. EMENDAS À CONSTITUIÇÃO
A Emenda à Constituição, conforme já visto anteriormente, é uma das formas de
se exercer o Poder Constituinte de Reforma, sempre que houver necessidade em alterar a
Constituição Federal, seja incluindo, seja suprimindo dispositivos constitucionais. Através
da utilização das Emendas Constitucionais é possível adequar a CF à realidade social.
No tópico anterior, ao estudarmos as limitações ao Poder de Reforma, já esmiuçamos
as peculiaridades das Propostas de Emendas Constitucionais, desde os legitimados para sua
propositura, forma de tramitação e votação, bem como as circunstâncias que não poderão
tramitar e as matérias que não poderão ser objeto de deliberação.
A fim de evitarmos repetições desnecessárias, remetemos o aluno ao tópico anterior,
bem como ao art. 60 e parágrafos da CF que tratam sobre as Emendas Constitucionais, dis-
positivos esses de leitura obrigatória àqueles que estão se preparando aos concursos públicos.
Capítulo 4
CONTROLE DE
CONSTITUCIONALIDADE
IMPORTANTE
No final do ano de 2016 a 5.ª Turma do STJ decidiu pela não aplicabilidade do crime
de desacato (art. 331 do Código Penal), haja vista que, ao se valer do controle de con-
vencionalidade, decidiu que a figura típica desse tipo é incompatível com o art. 13 do
Pacto de São José da Costa Rica, do qual o Brasil é signatário (cf. Informativo n.º 596 –
Resp. 1.640.084-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, por unanimidade, julgado em 151216, DJe
01/2/17). Portanto, para referida turma teria ocorrido a descriminalização do desacato.
Entretanto, no mês de maio de 2017, a 3.ª Seção do STJ (reunião dos Ministros da 5.ª
e 6.ª Turmas) ao julgar o HC 379.269/MS decidiu que o desacato continua sendo crime
em nosso ordenamento jurídico brasileiro. Frise-se que até o fechamento desta obra
não houve posicionamento do STF a respeito do caso.
IMPORTANTE
Dada sua atualidade e importância do tema faz-se imperioso mencionar aqui o denominado
“Estado de Coisas Inconstitucional” (ECI). Ele ocorre quando se verifica a existência de
um quadro de violação generalizada e sistêmica dos direitos fundamentais, causado pela
inércia ou incapacidade reiterada e persistente das autoridades públicas em modificar a
conjuntura, de modo que apenas transformações estruturais do Poder Público e a atuação
de uma pluralidade de autoridades podem modificar a situação inconstitucional. Referido
instituto tem origem nas decisões da Corte Constitucional Colombiana (CCC) diante da
constatação de “violações generalizadas, contínuas e sistemáticas” de direitos funda-
mentais. Tem por finalidade a construção de “soluções estruturais” voltadas à superação
desse lamentável quadro de violação massiva de direitos das populações vulneráveis em
face das omissões do poder público. Na sessão plenária de 09/9/15, o STF, ao deferir
parcialmente o pedido de medidas cautelares formulado na ADPF n.º 347/DF, proposta
em face da crise do sistema carcerário brasileiro, reconheceu expressamente a existência
do ECI no sistema penitenciário brasileiro, ante as graves, generalizadas e sistemáticas
violações de direitos fundamentais da população carcerária. Ao deferir parcialmente a
liminar, o STF (a) proibiu o Poder Executivo de contingenciar os valores disponíveis no
Fundo Penitenciário Nacional – FUNPEN (a decisão determinou que a União libere o
saldo acumulado do Fundo Penitenciário Nacional para utilização com a finalidade para
a qual foi criado, abstendo-se de realizar novos contingenciamentos) e (b) determinou
aos Juízes e Tribunais que passem a realizar audiências de custódia para viabilizar o
comparecimento do preso perante a autoridade judiciária, num prazo de até 24 horas
do momento da prisão. Ressalte-se, contudo, que até o presente momento não houve
julgamento do mérito, sendo que em 14/12/17 os autos foram conclusos ao relator.
a) Sistema pela via principal (abstrato ou pela via de ação): a análise de constitucio-
nalidade da norma será o objeto principal da causa, ou seja, a ação é manuseada
com o intuito precípuo de se questionar a constitucionalidade ou inconstituciona-
lidade da norma. No Brasil, no âmbito federal, essa ação deverá ser manuseada
diretamente junto ao Supremo Tribunal Federal.
b) Sistema pela via incidental (via de exceção ou de defesa): o controle é exercido
como questão prejudicial (incidenter tantum) da ação principal. Nesse caso, es-
taremos diante de um caso concreto, em que no bojo da ação principal a parte,
para fundamentar seu pedido principal, suscita a inconstitucionalidade da norma
que embasou o ponto central do questionamento.
Por fim, outra classificação que merece destaque diz respeito ao momento do exercício
do controle de constitucionalidade:
a) Controle preventivo ou prévio: o controle de constitucionalidade é feito durante
o processo legislativo de formação do ato normativo, podendo ser exercido pelos
Poderes Legislativo (p.ex.: pela Comissão de Constituição e Justiça), Executivo
(através do veto) e Judiciário (p.ex.: julgando mandado de segurança impetrado
por parlamentar). Esse controle é realizado antes da norma jurídica ser inserida
em nosso ordenamento jurídico;
b) Controle repressivo ou posterior: é aquele exercido após a norma ter sido in-
serida no ordenamento jurídico. Via de regra, referido controle é exercido pelo
Poder Judiciário. Entretanto, é possível que o controle em questão seja exercido
também pelo Poder Legislativo (cf. arts. 49, V; 62; 68 e 84, IV, todos da Consti-
tuição Federal).
IMPORTANTE
No tocante ao exercício do controle repressivo por parte do Poder Executivo há diver-
gências doutrinárias. No âmbito da jurisprudência, o STJ enfrentou a matéria no ano de
1993 (REsp 23121/GO) tendo consagrado a tese do controle em questão pelo Executivo.
No âmbito do STF, por seu turno, há um único precedente, também do ano de 1993
mencionando a questão de forma superficial, afirmando que os “Poderes Executivo e
Legislativo, por sua chefia, poderão tão só determinar aos seus órgãos subordinados que
deixem de aplicar administrativamente as leis ou atos com força de lei que considerem
inconstitucionais” (cf. ADI 221-MC/DF).
A partir de agora, estudaremos as ações diretas que poderão ser manuseadas pela via
abstrata, com o intuito de defender a supremacia da Constituição Federal. Destaque-se que
elas serão propostas exclusivamente junto ao Supremo Tribunal Federal.
• Ação Direta de Inconstitucionalidade Genérica (ADI ou ADIn Genérica).
• Fundamento: art. 102, I, “a”, CF/88 e Lei n.º 9.868/99.
• Finalidade: impedir que uma norma que viole a Constituição permaneça no or-
denamento jurídico. É uma ação que tem natureza de defesa de todas as normas
constitucionais visando à preservação da supremacia constitucional.
• Características: é ação do controle de constitucionalidade judicial, abstrato e
repressivo.