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marketing míope: o perigo

de não entender o negócio


do seu cliente

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marketing míope: o perigo
de não entender o negócio
do seu cliente

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introdução

No módulo 2 do seu curso Levitt classificou essa postura


Consultoria de Execução, o professor como “miopia de marketing”, que
Renato Grinberg conta um caso é nada mais que a incapacidade
interessante sobre empresários do do empresário de enxergar o que
setor ferroviário norte-americano seu negócio realmente é. Este é um
quando do advento da aviação. texto fundamental para entendermos
O relato está registrado em um os conceitos de visão e missão, de
artigo clássico de Theodore Levitt, certa forma já um tanto quanto
professor da Escola de Administração banalizados no meio empresarial,
de Empresas da Universidade de mas que são cruciais para a definição
Harvard, falecido em 2006. O texto e execução de estratégias corretas,
foi publicado originalmente em 1960 embora muita gente se confunda na
e até hoje é utilizado como referência hora de definir.
em escolas de negócios de todo o
mundo. Como diz o professor Renato
Grinberg no curso, sem ter clareza
Levitt analisa o fato de os donos sobre a visão e a missão de um
das grandes companhias de trens negócio, não é possível saber o que
da época não terem conseguido ele é nem onde pretende chegar.
enxergar o que realmente faziam e E saber isso de forma objetiva é
terem decidido continuar focados indispensável para você, consultor.
exclusivamente nas estradas de ferro.
O que aconteceu: todos quebraram
ou perderam muito prestígio,
enquanto as aéreas dominaram o
mundo.

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o produto ou o cliente?

É inegável que seu produto precisa


ter uma posição de importância
na estratégia da sua empresa. É
uma entrega de qualidade que vai
sustentar as ofertas e as estratégias
do marketing, bem como garantir
a satisfação e, consequentemente,
a retenção do cliente. Mas é ele,
o cliente, a coluna central do seu
negócio. Tudo que você vai fazer pelo
seu produto é pensando nele. Tudo
que você vai fazer pela sua empresa
é pensando nele.
o produto, não para os clientes”,
afirma Theodore Levitt.
“As ferrovias não pararam de crescer
porque a demanda caiu. Pelo
Até hoje, muitos negócios continuam
contrário, ela cresceu. As ferrovias
cometendo a mesma falha, mais
entraram em crise não porque
comum do que se pensa.
suas necessidades passaram a ser
preenchidas por carros, caminhões,
Imagine, por exemplo, um taxista.
aviões e até telefones. As pessoas
Seu João. Dono de uma licença de
passaram a recorrer a essas opções
táxi há 30 anos, nunca trabalhou
porque as ferrovias não conseguiam
com outra coisa e dirigir seu carro é
mais dar conta do que buscavam. As
o que faz todos os dias para pagar
ferrovias deixaram outros tomarem
suas contas e sustentar a família.
seus clientes porque assumiram que
Foi então que apareceu o Uber, um
eram negócios ferroviários e não
aplicativo que permite motoristas
empresas de transporte. E a razão
comuns fazerem o mesmo trabalho
de terem definido incorretamente
de Seu João, sem a necessidade de
o mercado em que atuavam foi
uma licença de táxi ou qualquer outra
o fato de serem orientadas para

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burocracia. Obviamente, o motorista Quando você olha para o cliente,
do Uber vai fazer viagens por preços orienta seu negócio sempre para o
bem menores e atrair os clientes atendimento da necessidade dele.
de Seu João, que vê a concorrência Quando olha exclusivamente para o
crescer do dia para a noite, num produto, corre o perigoso risco de
ritmo extremamente acelerado e não enxergar a avalanche que vem
difícil de acompanhar. além e ser engolido por ela.

Nosso amigo tem inicialmente duas Voltando aqui para um exemplo


opções na vida, se quiser continuar dado por Levitt, temos o caso de
transportando passageiros como Hollywood. Hoje, inclusive, podemos
sempre fez: fazer uma análise até mais completa
do que pode o pesquisador lá nos
Opção 1 - Esbravejar, reunir outros anos 1960. Quando a TV surgiu, a
amigos taxistas para impedir o Uber indústria de cinema a desdenhou.
de funcionar ou criar barreiras que o Dentro de alguns anos, porém, os
tornem menos competitivo, mobilizar estúdios entraram em crise profunda,
o lobby nas instituições de poder e porque o público estava indo cada
continuar dirigindo seu táxi. vez menos ao cinema e vendo mais
televisão. A miopia dos empresários
Opção 2 - Utilizar o Uber também. do setor poderia ter sepultado
de vez a terra sagrada dos filmes.
Se for orientado para o produto, Seu Ainda bem que depois de levar
João vai continuar dirigindo seu táxi algumas pauladas as empresas deram
e não vai ter nem celular. Vai ficar na ouvidos aos executivos com visão
praça da esquina esperando uma ou mais ampla e que entendiam melhor
outra chamada no rádio. a missão que tinham: promover
entretenimento, não simplesmente
Se for orientado para o cliente, vai produzir filmes. Foi quando o cinema
continuar no seu táxi, pegando os se reergueu e passou a enxergar a
clientes que ainda preferem essa televisão não como uma ameaça, mas
opção e com os quais já construiu uma oportunidade.
uma relação, mas vai também ter o
Uber ligado, bem como o 99Táxis e
outros aplicativos do gênero.

Você compreende a diferença?

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o que você vende?

Imagine que você é dono de Então, enquanto dono de gasolina,


um posto de gasolina. Se eu lhe seu negócio não é vender
perguntasse o que vende, o que combustíveis, mas oferecer maneiras
você me responderia? Se a resposta de seus clientes continuarem
for combustíveis, está errada. Muito dirigindo. “Ah, mas que diferença faz.
errada, na verdade. Seu cliente não Isso aí é viagem de estudioso perdido
compra gasolina, etanol ou diesel. na maionese. Na prática, vendo
Ele compra o direito de continuar gasolina e pronto”. É verdade. Mas
dirigindo. Ele só vai ao seu posto amanhã pode ser que alguém chegue
porque, se não for, não vai ter com uma solução que permita carros
como se locomover. Seu posto não se locomoverem sem precisarem
vai atrair nenhum cliente que ama de combustível. Pode ser que criem
gasolina como amaria um sorvete, um novo combustível que ofereça
por exemplo. Theodore Levitt autonomia três ou quatro vezes
classifica, alegoricamente, o posto maior que os seus.
de gasolina como uma espécie de
cobrador de impostos. E ninguém Caso entenda ser apenas um
gosta de cobradores de impostos. vendedor de gasolina, provavelmente
você vai quebrar quando o mercado
Pense e reflita: caso não precisassem se transformar. Mas se entender
abastecer para continuarem que sua missão é garantir que seus
dirigindo, seus clientes iriam ao clientes se locomovam em seus
seu posto? Talvez dessem uma veículos da maneira mais cômoda
passadinha na conveniência, mas não possível, talvez você seja o próprio
teriam o que fazer nas bombas de agente de mudança e possa sair à
abastecimento. frente dos concorrentes.

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e depois de vender?
Outra tragédia de marketing Hoje existem inúmeras ferramentas,
é a incompreensão da relação estratégicas e tecnológicas, que
entre empresa e cliente. Quantas ajudam a entender seus clientes
organizações pensam que o trabalho e fazer entregas alinhadas com
acaba quando a venda é convertida? o que realmente esperam do seu
Pois é, muitas. Mas, conforme negócio. Mas já facilita muito se sua
destaca Levitt, a venda é, na verdade, organização for muito clara sobre
a cerimônia de casamento. A partir o que pode entregar já no início do
dali é que começa para valer a namoro. Lembre-se: se fez um cliente
relação entre quem vende e quem esperar receber a lua de presente,
compra. E, assim como nas relações você vai ter que entregar. Caso
amorosas, o futuro depende de como contrário, vai gerar uma crise. E uma
a vida a dois vai fluir. Pode ser que série de crises inevitavelmente vai
vivam felizes para sempre. Pode ser levar à separação.
que se divorciem antes do primeiro
aniversário de bodas. Para lidar com tantos clientes
distintos, o ponto chave é ter uma
Qual o segredo de um casamento equipe capaz de lidar com todos. Não
feliz? Se você tem uma resposta se trata simplesmente de volume de
pronta, provavelmente não tem a pessoas disponíveis para o trabalho,
resposta certa. Por quê? Porque o mas de diversidade de habilidades
que vai fazer Maria e João felizes não e uma estrutura organizacional bem
é o mesmo que vale para Ana e José, definida.
como não vale para Antônio e Pedro
ou Estela e Bia. Cada relação é um Imagine que você tem uma loja
mundo, cada lado tem uma história, de celulares. Maria comprou um
expectativas, sonhos. modelo A, João um modelo B e Ana
um modelo C. Antônio se interessa
Você, enquanto empresa, vai pela multiplicidade de aplicativos,
construir várias relações diferentes: Pedro quer um plano para baratear
com Maria, com João, Ana, José, os custos de comunicação com a
Antônio, Pedro, Estela, Bia e tantos família que mora distante, Estela e
outros. E se aplicar a mesma fórmula Bia querem um plano de dados para
a todos pode ser que falhe. assistirem a filmes e séries enquanto

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estão em trânsito. Entendeu a complexidade que
envolve manter um casamento
Para complicar mais ainda o jogo, (aliás, vários!) em harmonia
um terço desses clientes prefere ser e plena felicidade?
atendido por telefone, outro terço via
chat online e o outro gosta receber
atendimento para coisas simples
pelo chat, mas assuntos mais sérios
prefere tratar pelo telefone.

o papel do consultor
nisso tudo
Você notou que até aqui convidamos do negócio. E as fórmulas prontas
você a se colocar no lugar dos muitas vezes mais atrapalham do
empreendedores em todos os que ajudam. Cada consultoria é única
exemplos que demos? Não foi e, por mais que você disponha de
por acaso. Nenhum consultor vai ferramentas e matrizes que ajudarão
resolver de verdade os problemas seu processo, terá que saber
da organização que o contrata se organizá-las e utilizá-las de maneira
não for capaz de se colocar no lugar específica em cada situação,
do dono, do diretor, do gerente, do
colaborador. Muitas empresas têm maneiras de
operar bastante sui generis, que
Para fazer um diagnóstico correto, fogem da cartilha convencional e
propor estratégias eficientes e às vezes assustam consultores mais
conduzir a execução de forma metódicos, mas que até certo ponto
impecável você vai precisar funcionam bem. Em casos assim o
compreender todas as nuances maior erro que um consultor pode

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cometer é querer matar esse DNA e padronizados nos referimos, por
impor métodos que não se encaixam exemplo, à forma de estruturar
na cultura daquela organização. O cargos e funções. A cartilha diz
bom consultor vai ter que entender que todo vendedor precisa de um
aquela estrutura e, a partir dela, supervisor e todo supervisor precisa
propor as EVOLUÇÕES necessárias. de um diretor.
Mas pode ser que em algumas
E aí você deve estar se perguntando: empresas essa hierarquia
mas se o que a empresa faz é um mais atrapalhe do que ajude,
absurdo total, algo que vai levá- burocratizando os processos
la para o abismo, é ilegal ou traz e retardando o crescimento.
qualquer outro risco associado.
Esse não é um caso de “operação Enfim, ser consultor é aprender todos
sui generis que funciona bem”. Essa os dias, desafiar-se todos os dias,
é uma falha grave que precisa ser evoluir todos os dias.
corrigida, porque mais cedo ou mais
tarde vai gerar problemas sérios. Vamos em frente, que você ainda tem
um longo caminho a percorrer aqui
Quando falamos em respeitar as neste curso!
particularidades da organização que
não se encaixam nos modelos

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