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ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA IRMÃ MARIA

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Leia o poema abaixo e em seguida responda as questões que se pede

Lembrança de Morrer
(Álvares de Azevedo)

Quando em meu peito rebentar-se a fibra,


Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nem uma lágrima
Em pálpebra demente.

E nem desfolhem na matéria impura


A flor do vale que adormece ao vento:
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste passamento.

Eu deixo a vida como deixa o tédio


Do deserto o poento caminheiro...
Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro...

Como o desterro de minh'alma errante,


Onde fogo insensato a consumia,
Só levo uma saudade — é desses tempos
Que amorosa ilusão embelecia.

Só levo uma saudade — e dessas sombras


Que eu sentia velar nas noites minhas...
E de ti, ó minha mãe! pobre coitada
Que por minhas tristezas te definhas!

De meu pai... de meus únicos amigos,


Poucos, — bem poucos! e que não zombavam
Quando, em noites de febre endoudecido,
Minhas pálidas crenças duvidavam.

Se uma lágrima as pálpebras me inunda,


Se um suspiro nos seios treme ainda,
É pela virgem que sonhei!... que nunca
Aos lábios me encostou a face linda!

Ó tu, que à mocidade sonhadora


Do pálido poeta deste flores...
Se vivi... foi por ti! e de esperança
De na vida gozar de teus amores.
Beijarei a verdade santa e nua,
Verei cristalizar-se o sonho amigo...
Ó minha virgem dos errantes sonhos,
Filha do céu! eu vou amar contigo!

Descansem o meu leito solitário


Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz! e escrevam nela:
— Foi poeta, sonhou e amou na vida. -

Sombras do vale, noites da montanha,


Que minh'alma cantou e amava tanto,
Protejei o meu corpo abandonado,
E no silêncio derramai-lhe um canto!

Mas quando preludia ave d'aurora


E quando, à meia-noite, o céu repousa,
Arvoredos do bosque, abri as ramas...
Deixai a lua pratear-me a lousa!

1. Que imagem o poeta utiliza para se referir à vida e à morte na primeira estrofe?

2. Que expressão dessa estrofe sugere que o eu lírico considera a vida um lugar de
sofrimento? Explique por quê.

3. Nas duas primeiras estrofes, o que pede o poeta àqueles que o conhecem?

a) A justificativa para esse pedido aparece na terceira estrofe, em que o eu lírico compara
a morte a duas situações. Quais são elas?

b) Considerando essas comparações, explique de que maneira a morte é vista. c)Por que

essa visão da morte indica a filiação desse poema à segunda geração romântica? 4. A

que se refere os versos a seguir?

"Só levo uma saudade - é desses tempos


Que amorosa ilusão embelecia".

- Explique, a partir de elementos do texto, qual é a visão de amor presente no poema.

5. No poema, o poeta faz referência à mulher amada. Ela tem existência real ou
não? Justifique.

6. Nas duas últimas estrofes, qual é a relação de proximidade e integração entre o


poeta e a natureza?
RESPOSTAS:

1) O eu-lírico utiliza de três imagens para representar a morte, sendo


estas:

1. A fibra que se arrebenta no peito.


2. O espírito que enlaça a dor vivente.
3. A lágrima que cai em pálpebra demente.

Todas as imagens envolvem o corpo do próprio eu-lírico.

Pode-se tomar a expressão "que o espírito enlaça a dor vivente",


pois fica claro que o verso trata de sofrimento ao citar a palavra
"dor". Os outros versos apresentam metáforas desse sentimento,
mas não colocam diretamente a palavra que o representa.

2) O eu-lírico pede que nenhuma lágrima seja derramada e que


nenhuma alegria se cale por meio da tristeza.

a) Pode-se considerar a expressões:

● "Peito rebentar-se a fibra".


● "Espírito enlaça à dor vivente".

b) O eu-lírico vê a morte como algo que acontece repentinamente


(rebentar-se), mas é capaz de rasgar algo considerado firme (a fibra).

c) Esta visão da morte indica a segunda geração romântica, pois


apresenta as características da insatisfação e do pessimismo em
seus versos, para além de ter como principal tema a morte.

3) O eu-lírico de refere a um amor que foi uma ilusão para ele. Nestes
versos, nota-se a presenta do sentimento de nostalgia quando é
colocado "só levo uma saudade". Assim, o eu-lírico sente a nostalgia
de um sentimento que não voltará mais.

O amor colocado é relacionado ao de uma "virgem dos errantes


sonhos" e o eu-lírico desejava gozar dos amores dessa virgem,
contudo, era uma esperança a qual permanece em sentimento de
nostalgia. No entanto, ao fim de sua vida, poderão dizer que o poeta
sonhou e amor na vida.

4) Pode-se concluir que a amada não é real devido ao verso "é pela
virgem que sonhei... que nunca aos lábios me encostou a face linda".

Por outro lado, o poeta pode ter usado da imagem de uma "virgem
dos errantes sonhos" para descrever uma fase de sua "mocidade
sonhadora". Assim, a amada pode ser uma projeção poética da
juventude do eu-lírico.

A mulher é descrita como uma virgem errante e o poeta deseja beijar


a sua "verdade santa e nua", expressão que pode ser referente ao
corpo da virgem.

5) Os versos podem ser considerados ultrarromânticos devido ao


caráter de exacerbação do sentimento de pessimismo e aceitação da
morte. Esta última fica explícita quando o eu-lírico pede as sombras
do vale e as noites da montanha que protejam o seu corpo
abandonado.

A relação com a natureza se demonstra em integridade quando o


eu-lírico invoca nomes como a "preludia ave d'aurora", o céu, os
arvoredos do bosque e os ramos para o deixarem ir, isto é, o levem
em direção à morte. Esta invocação demonstra a proximidade do
eu-lírico com a natureza.

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