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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3

2 O ENVELHECIMENTO ............................................................................... 4

3 SAÚDE E DOENÇA MENTAL .................................................................... 6

4 DEMÊNCIA ................................................................................................. 7

5 CRITÉRIOS PARA DIAGNÓSTICOS ......................................................... 9

6 INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO .......................................................... 11

7 TIPOS DE DEMÊNCIAS ........................................................................... 13

8 DOENÇA DE ALZHEIMER ....................................................................... 15

9 FISIOTOLOGIA ......................................................................................... 17

10 EVOLUÇÃO CLÍNICA ............................................................................ 19

11 ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO ..................................................... 21

12 INTERVENÇÕES FARMACOLÓGICAS................................................ 21

13 INTERVENÇÕES NÃO FARMOLÓGICAS ............................................ 22

14 QUAL A LIGAÇÃO ENTRE DEMÊNCIA E DOENÇA DE ALZHEIMER . 24

15 QUAL A CAUSA DA DOENÇA DE ALZHEIMER?................................. 25

16 QUAIS OS FATORES DE RISCO PARA A DOENÇA DE ALZHEIMER?


26

17 COMO REDUZIR O RISCO DE DESENVOLVER DOENÇA DE


ALZHEIMER OU OUTRO TIPO DE DEMÊNCIA? .................................................... 27

18 COMO É FEITO O DIAGNÓSTICO DE DOENÇA DE ALZHEIMER? ... 29

19 QUAL É A IMPORTÂNCIADE UM DIAGNÓSTICO PRECOCE? .......... 30

20 COMO É QUE A DOENÇA DE ALZHEIMER PROGRIDE? .................. 33

21 TRATAMENTO e medicação PARA A DOENÇA DE ALZHEIMER? ..... 35

21.1 Incapacidade cognitiva .................................................................... 36

22 COMO SE SUSPEITA DE DEMÊNCIA? ............................................... 38

1
23 QUAIS SÃO OS CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS PARA DEPRESSÃO,
DELIRIUM E DOENÇA MENTAL? ............................................................................ 40

23.1 Quedas............................................................................................ 45

24 DEFINIÇÃO ........................................................................................... 45

25 EPIDEMOLOGIA ................................................................................... 46

26 FATORES RELACIONADOS A QUEDAS ............................................. 48

27 BIBLIOGRÁFIA ...................................................................................... 55

2
1 INTRODUÇÃO

Prezado aluno!

O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante


ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que
lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

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2 O ENVELHECIMENTO

Fonte::drvictorsorrentino.com.br

No estudo do envelhecimento populacional, é preciso levar em conta a questão


de gênero. A população idosa brasileira é, em sua maioria, feminina. As mulheres, por
terem o benefício de uma expectativa de vida maior, assumem o papel de cuidadoras
e, nas grandes cidades, tendem a viver sozinhas depois da viuvez. Camarano, Kanso
e Mello (2004, apud Felix, 2018) alertam para o risco de desvantagem que pode trazer
esta situação dependendo da condição laboral experimentada durante a vida.

A proposta de envelhecimento ativo surgiu pela Organização Mundial da


Saúde1 com o objetivo de melhorar a qualidade de vida, oportunizando saúde física e
psicológica a esta população através de três pilares basilares: saúde, segurança e
participação. O envelhecimento ativo também preconiza que as pessoas idosas
participem na sociedade de acordo com as suas necessidades, desejos e
capacidades (SOUZA, et al. 2018).

O envelhecimento ainda é caracterizado pelo progressivo abrandamento da


atividade do sistema nervoso e de toda a ação humana dele dependente, no processo
de envelhecimento, podemos considerar com algum sentido a existência de várias
idades, a idade biológica, que se refere ao funcionamento dos sistemas vitais do
organismo humano e é especialmente importante para a consideração dos problemas

4
de saúde, pois a capacidade de auto regulação do funcionamento dos diferentes
sistemas diminui com o tempo (SOUZA, et al. 2018).

A idade psicológica, que tem como base as capacidades de natureza


psicológica que as pessoas utilizam para se adaptarem às mudanças de carácter
ambiental, o que inclui sentimentos, memória, emoções, inteligência e motivações que
sustentam a autoestima e o controle pessoal, a idade sócio cultural, que diz respeito
ao conjunto de papéis sociais que os indivíduos adotam relativamente a outros
membros da sociedade e à cultura a que pertencem, idade essa que é julgada com
base nos comportamentos, hábitos e estilos de relacionamento, etc. (BIRREN, 2001;
apud FARIA et al., 2014).

Assim, devemos considerar que o processo de envelhecimento se reveste de


vários componentes, sendo os principais, o biológico, o social e o psicológico. Estes
componentes incorporam características próprias: a biológica reflete uma
vulnerabilidade crescente e de onde resulta uma maior probabilidade de morte; a
social é relativa aos papéis sociais apropriados às expectativas da sociedade para
este nível etário; a psicológica é definida pela capacidade de auto regulação do
indivíduo face ao processo de senescência.

Segundo Faria, 2014 neste âmbito podemos ainda abordar diferentes padrões
de envelhecimento, que sumariamente abordamos: o primário, o secundário e o
terciário. Envelhecimento primário refere-se às mudanças intrínsecas ao processo de
envelhecimento que são de todo irreversíveis e que corresponde ao conceito e à
imagem que fazemos do envelhecimento. Envelhecimento secundário refere-se às
mudanças causadas pela doença que estão correlacionadas com a idade, mas que
podem ser reversíveis ou prevenidas. Envelhecimento terciário “refere-se às
mudanças que ocorrem de forma precipitada na velhice, o que sugere um
envelhecimento rápido que precede imediatamente a morte. O envelhecimento
constitui um dos maiores desafios de saúde pública, exigindo do poder político e da
sociedade que as necessidades resultantes de uma população cada vez mais
envelhecida sejam contempladas de forma satisfatória.

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3 SAÚDE E DOENÇA MENTAL

Fonte::alessandrafaria.com

Saúde mental pode definir-se como o equilíbrio emocional entre o património


interno e as exigências ou vivências externas, é o reconhecimento dos seus limites e
a procura de ajuda quando necessário, saúde mental é estar bem consigo e com os
outros, é saber lidar com as emoções agradáveis ou desagradáveis: alegria/tristeza;
coragem/medo; amor/ódio; serenidade/raiva; ciúmes; culpa; frustrações, é acima de
tudo, aceitar as exigências da vida, a saúde mental é construída ao longo de todo o
ciclo vital do indivíduo (CARVALHO, 2010).

A doença mental é classificada como um desvio psicológico ou comportamental


das formas normais de comportamento, que afeta negativamente a vida do indivíduo.
Doença mental os transtornos mentais envolvem não apenas o setor saúde, mas
necessariamente vários setores da sociedade como a educação, emprego, justiça e
assistência social, entre outros é importante que exista um engajamento e um esforço
conjunto entre o Estado, associações de portadores de transtornos mentais, familiares
e sociedade civil organizada, 8 no sentido de desenvolver diretrizes específicas e
serviços de saúde nesta área (FUNK; SARACENO, 2004 apud SANTOS, 2008).

Segundo Sequeira, é uma “situação patológica, em que o indivíduo apresenta


distúrbios na sua organização mental. Todas as afecções que afetam o corpo podem
6
provocar doença mental, desde que tais afecções provoquem um desequilíbrio em
termos de organização mental”.

“A doença mental causa muitas vezes, além de problemas emocionais,


problemas cognitivos”. A nossa capacidade de prestar atenção, recordar, trabalhar a
informação recebida do nosso interior e do meio exterior, deve-se à cognição. Esta
permite-nos comunicar com os outros, planejar as nossas intervenções, executá-las,
avaliar os resultados, etc. Ao longo da vida, toda a atividade desenvolvida, por mais
simples que seja, depende da articulação das várias capacidades que a pessoa
possui. Quando essas capacidades se apresentam alteradas, tal fato vai comprometer
acentuadamente, a interação com o meio que nos rodeia. As doenças mentais estão
maioritariamente associadas a alterações estruturais e funcionais do cérebro,
repercutindo-se frequentemente em alguns processos cognitivos, como a memória
(NUNES 2008; apud VAZ, 2009).

4 DEMÊNCIA

Fonte: luizsperry.uol.com.br

A demência não deve ser considerada uma doença, mas sim uma síndrome:
“uma síndrome decorrente de uma doença cerebral, usualmente de natureza
crónica ou progressiva, na qual há perturbação de múltiplas funções corticais
superiores, incluindo memória, pensamento, orientação, compreensão,

7
cálculo, capacidade de aprendizagem, linguagem e julgamento”
(Organização Mundial de Saúde, 1993, p. 45).

A demência é a perda da capacidade de tomar decisões razoáveis caracterizada


por declínio cognitivo ou modificações comportamentais (neuropsiquiátricas) em
relação a um nível prévio de desempenho que causa perda da independência para as
atividades de vida diária. A doença de Alzheimer e a demência vascular são as
principais formas de demência no idoso, correspondendo a cerca de 80% a 90% das
causas. A identificação do declínio cognitivo visa intervir precocemente em causas
secundárias e reversíveis, bem como planejar o cuidado dos pacientes com demência.

Estes distúrbios são suficientes para interferir no quotidiano da pessoa


(trabalho, atividades diárias). A pessoa fala uma coisa, passa dois minutos, repete a
mesma coisa. Faz uma pergunta, e em seguida repete, depois repete outra vez. E
muitas vezes os familiares ficam irritados “Já te respondi! ” Esses fenômenos, quando
você percebe que a memória da pessoa vai indo para o espaço. Esses quadros
evoluem, lentamente no decorrer de muito tempo.

“À semelhança da depressão, epilepsia e de tantas outras doenças, conhecidas


pelo seu nome no singular, não existe uma demência, mas sim diversas doenças que
causam demência e síndromes demenciais”. O indivíduo passa a ter um interesse
sexual inadequado, impróprio e de difícil reconhecimento por parte dos familiares, por
exemplo o indivíduo que teve sempre um histórico de decência, de adequação de
relacionamentos passa a ter interesse sexual por pessoas da família, isso é um
comportamento que não tem haver com a imoralidade, mas que pode estar incluso
dentro do conjunto de sintomas próprio da demência. (RIBEIRO, 2013)

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5 CRITÉRIOS PARA DIAGNÓSTICOS

Fonte: http:psiqweb.net

“O diagnóstico clínico da DA se baseia na observação de quadro clínico


Compatível e na exclusão de outras causas de demência por meio de exames
laboratoriais e de neuroimagem estrutural. O diagnóstico definitivo Só é
possível por exame anatomopatológico” (CARAMELLI;
BARBOSA,2002: apud ADACHI, 2013).

A característica primária da demência é o progresso de défices cognitivos


variados, como a diminuição da memória e de pelo menos uma perturbação cognitiva,
como afasia, apraxia, agnosia ou perturbação na capacidade de execução. Os défices
cognitivos devem ser razoavelmente graves para causarem diminuição do
funcionamento ocupacional ou social. “A demência pode estar etiologicamente
relacionada com um estado físico geral, com os efeitos persistentes da utilização de
substâncias (incluindo exposição a tóxicos) ou com uma combinação de fatores” À
perda ou diminuição cognitiva de forma parcial ou total, permanente ou esporádica,
em pessoas que, até então, tiveram um desenvolvimento intelectual normal, chama-
se demência. (SHENK, 2018)

Esta síndrome apresenta várias características:


 Prejuízo da memória, que pode ser desde um simples esquecimento até
um severo esquecimento, não se recordando da própria identidade,
desorientação espacial e temporal;

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 Problemas de comportamento, como insónia, agitação, choro fácil,
comportamentos inadequados, desinibição social, alterações da
personalidade,
 Perda de habilidades adquiridas ao longo da vida, como vestir, cuidar da
casa, cozinhar, dirigir, organizar os compromissos, problemas com a
linguagem, etc.

Esta deterioração mental vai provocar o prejuízo nas capacidades da pessoa


no desempenho das suas atividades de vida diária, nas atividades profissionais,
atividades familiares, atividades sociais.

Existem várias causas que podem levar à demência, sendo algumas


potencialmente reversíveis: disfunções metabólicas, endócrinas, hidroeletrolíticas,
quadros infecciosos, défices nutricionais e distúrbios psíquicos como a depressão. Os
sintomas iniciais da demência variam, mas a perda de memória a curto prazo é a
característica principal e única que alerta o médico assistente e o familiar ou pessoa
significativa. Todavia, nem todos os problemas cognitivos, nos idosos, são devidos à
demência, pelo que o estudo cuidadoso da pessoa idosa, com a colaboração da
família ou da pessoa significativa, é crucial para a identificação do problema e para a
formulação de um diagnóstico clínico correto.

As pessoas com esta síndrome apresentam diminuída a capacidade de


aprendizagem de coisas novas e esquecem as coisas que previamente aprenderam.
Na fase inicial da síndrome a pessoa pode perder valores, tais como as chaves de
casa, a carteira, esquecer-se de desligar o fogão, ou perder-se em zonas que não lhe
sejam familiares. Numa fase mais avançada o esquecimento pode atingir a sua
profissão ou as suas habilitações escolares, datas de aniversário, nomes de
familiares, e por vezes até o seu próprio nome.

“A deterioração da função da linguagem (afasia) pode manifestar-se pela


dificuldade em nomear pessoas e objetos”. O discurso da pessoa torna-se vago ou
vazio, usando excessivamente palavras indefinidas como “coisa”, “aquilo”. A
compreensão da linguagem escrita e falada, bem como a repetição da linguagem,
podem estar igualmente comprometidas. Em fases avançadas a pessoa pode
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permanecer muda ou apresentar um padrão deteriorado de discurso caracterizado por
ecolalia (isto é, eco do que é ouvido) ou palilalia (distúrbio da fala que consiste na
repetição involuntária de uma ou mais palavras, geralmente acabadas de proferir).

A apraxia (diminuição da capacidade para executar atividades motoras) embora


a função sensorial e a compreensão da tarefa requerida estarem intactas surge muitas
vezes em pessoas com demência, o que irá provocar a diminuição da capacidade de
realizar tarefas conhecidas, como escovar o cabelo, acenar ou dizer adeus, cozinhar,
vestir-se, etc. A agnosia (deterioração da capacidade para reconhecer ou identificar
objetos) é também encontrada em pessoas com demência, apesar de manterem
intacta a função sensorial. As perturbações da capacidade de execução manifestam-
se comumente na demência. “A capacidade de execução envolve a capacidade de
pensamento abstrato e de planear, iniciar, sequenciar, monitorizar e parar um
comportamento complexo” A pessoa tem dificuldade em lidar com novas tarefas e
evita situações que requeiram processamento de informação nova e complexa.

6 INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO

Fonte: http://alzheimerportugal.org

Para iniciar uma avaliação em um paciente com comprometimento cognitivo e


com uma possível síndrome demencial, a anamnese clínica e o exame neurológico
são de extrema importância. Não raramente, nesses casos, o transtorno cognitivo, o

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qual pode se apresentar como distúrbios de linguagem, memória, ou mesmo como
anosognosia (incapacidade de reconhecer a própria limitação) o impede de relatar
com precisão suas dificuldades, e por isso o relato de um acompanhante, de
preferência alguém de estreito convívio com o paciente em questão, é de suma
importância. (PARMERA; NITRINI, 2015)

As metas chave da evolução clínica primária devem se estabelecer se uma


síndrome demencial está presente ou não, caracterizar os domínios cognitivos
acometidos, a gravidade desse acometimento assim como seu prejuízo funcional, e
por fim determinar sua etiologia para definir o tratamento adequado. Por vezes mais
de uma avaliação ou consulta é necessária para abarcar todos esses aspectos, e
várias entrevistas com diferentes familiares são necessárias para caracterizar
adequadamente a patologia em investigação.

Segundo Parmera e Nitrini o processo de anamnese necessita abordar


inicialmente o paciente e após isso entrevistar o informante, sempre que possível na
ausência daquele, sobretudo quando se encontrar em fases leves ou moderadas da
doença, podendo haver certa crítica conservada em relação à própria condição, e
assim tal exposição poderia gerar estresses e conflitos desagradáveis. Além disso,
algumas alterações comportamentais como hipertextualidade ou desinibição podem
acarretar constrangimento e inibir o informante de relatar adequadamente o panorama
do quadro investigado.

Durante a entrevista é interessante já observar algumas possíveis alterações


de linguagem, como a fluência ao falar, se ocorrem pausas ou dificuldade de
nomeação, assim como aspectos da memória como dificuldade de lembrar onde
guardou objetos, repetir as mesmas histórias várias vezes para pessoas de seu
convívio ou mesmo expressar desculpas por não se lembrar de determinados fatos
“por não serem importantes”, algo observado em pacientes com doença de Alzheimer
(DA).

De acordo com Nunes (2008), o Mini Mental State Examination (MMSE) é um


dos instrumentos de avaliação mais utilizados nos estudos epidemiológicos de

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rastreios populacionais de demência, devido à sua fácil aplicação, ampla difusão na
literatura e elevada sensibilidade na avaliação breve do estado mental. Constitui um
instrumento de avaliação cognitiva de referência nos idosos com demência, uma vez
que possibilita o despiste de défice cognitivo de acordo com o grau de escolaridade.

De forma a caracterizar e perceber em que fase se encontra o estádio da


demência e quais as alterações presentes, existem alguns instrumentos para avaliar
o estádio da demência, sendo as mais utilizadas, segundo Barreto (2005):

 A Escala Global de Deterioração (Global Deterioration Scale), que avalia


a existência de demência ou não em 7 estádios;
 A Avaliação Clínica da Demência (Clinical Dementia Rating), que permite
avaliar a demência em cinco estádios – normal, suspeito, ligeiro,
moderado e grave.

7 TIPOS DE DEMÊNCIAS

Fonte: www.blogcdn.com

Encontram-se vários tipos de demência e estas são classificadas quanto à sua


causa. As formas mais comuns de demência são: demência vascular, demência
frontotemporal, demência dos corpos de Lewy, e a doença de Alzheimer (DA). A
demência de Alzheimer representa aproximadamente 50% a 75% dos casos de
demência e a demência vascular cerca de 15 a 25% (Nunes 2008, apud CARVALHO
et al., 2014).

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“As demências vasculares constituem um conjunto heterogéneo de
perturbações de etiologia vascular e que originam uma síndrome demencial”
(Sequeira 2007, apud CARVALHO et al., 2014).

Esta forma de demência caracteriza-se essencialmente por uma alteração do


funcionamento cognitivo, em consequência de lesões cerebrovasculares de natureza
isquêmica ou, mais raramente, de natureza hemorrágica.

A demência frontotemporal define-se como uma síndrome neuropsicológica


marcada por disfunções dos lobos frontais e temporais, os sintomas ela não atinge a
memória especificamente, ela atinge em longo prazo, nos estágios inicial ela não
comete a memória, ela comete a personalidade, o comportamento. A demência
frontotemporal não tem cura é comum em pessoas de 45 á 65 anos. Os primeiros
sintomas são perceptíveis quando o paciente não consegue conviver em sociedades
como de costume, ficam hipersexualizadas, falam palavrões, perdem o tato em
relacionamentos pessoais, ficam desinibidas.

A demência dos corpos de Lewy caracteriza-se como sendo um declínio


cognitivo flutuante, acompanhado por alucinações visuais e sintomas extrapiramidais;
o quadro demencial apresenta-se como de rápido início e declínio progressivo.
(KHOURY, 2017).

A demência de Alzheimer é uma doença neurodegenerativa que destrói as


células nervosas do córtex cerebral, levando à atrofia progressiva do cérebro.
Caracteriza-se por um carácter progressivo e irreversível, de aparecimento insidioso,
conduzindo a uma inexorável degeneração cerebral com afetação de todas as áreas
cognitivas e da personalidade.

As frequências relativas das causas das demências diferem dependendo da


idade (Tabela 1).

<65 A >65 A

Doença de Alzheimer 34% 55 %

Demência vascular 18% 20%


14
Demência frontão-temporal 12% -------

Demência corpos de Lewy 7% 20%

Outras 29% 5%
Tabela 1 - Frequência dos tipos de demência segundo a idade

8 DOENÇA DE ALZHEIMER

Fonte: institutoalzheimerbrasil.org.br

É uma doença lenta e fatal do cérebro, que afeta uma a cada 10 pessoas com
mais de 65 anos. Ninguém está imune. A doença avança gradualmente, enquanto
dois fragmentos de proteínas anormais chamados placas e redes acumulam – se no
cérebro e matam células cerebrais, elas começam no hipocampo, a parte do cérebro
onde as memórias são inicialmente formadas. Ao longo de muitos anos, as placas e
redes destroem lentamente o hipocampo e, formar novas memórias se torna cada vez
mais difícil. (SHENK, 2018).

“A doença de Alzheimer é uma doença degenerativa, lenta, progressiva e


que age de maneira silenciosa. É caracterizada pela degeneração ou morte
dos neurônios (células do cérebro), havendo perturbação de várias funções
Cognitivas, entre as quais a memória, a atenção, o aprendizado, a orientação
e a linguagem. É comum em indivíduos com idade acima de 65 anos, mas
também pode acometer pessoas mais jovens. Os sintomas mais comuns da
15
doença de Alzheimer são: perda gradual da memória, declínio no
desempenho para tarefas cotidianas, dificuldade no raciocínio, diminuição do
senso crítico, desorientação temporal e espacial, mudança de
comportamento ou da personalidade, dificuldade no aprendizado e
dificuldades na área da linguagem. ” (PORTAL DA SAÚDE SUS, 2013; apud
ADACHI, 2013)

Simples recordações de algumas horas ou dias atrás, que talvez consideremos


como certas, não existem mais. Depois disso, mais placas e redes se espalham para
outras regiões do cérebro, matando células e comprometendo a função por onde
passam. Essa propagação é o que causam os diferentes estágios de Alzheimer, do
hipocampo a doença se espalha para a região do cérebro onde a linguagem é
processada. Quando isso acontece, fica cada vez mais difícil encontrar a palavra
certa. Em seguida, a doença se arrasta para a parte frontal do cérebro, onde se
produzem os pensamentos lógicos, muito gradualmente, a pessoa começa a perder a
habilidade de resolver problemas, entender conceitos e fazer planos, em seguida as
placas e redes invadem a parte do cérebro onde as emoções são reguladas, quando
isso acontece, o paciente perde gradualmente o controle do humor e sentimentos.

A doença de Alzheimer foi diagnosticada pela primeira vez pelo neurologista


alemão Alois Alzheimer em 1907,quando publicou o caso de um paciente que tinha
perdido suas faculdades mentais gradualmente em quatro anos, como também foi
evidenciado pela autópsia post mortem anomalias no cérebro (placas emaranhadas
neurofibrilares dentro de amiloide e os neurônios).O fato de não ser evidenciado um
diagnóstico até 1907 não significa que a doença de Alzheimer não existia, já que na
maioria dos casos, era confundida com outras demências. (Correa 1996; apud
RIBEIRO ,2016)

Ainda segundo o mesmo autor, depois, a doença se move para onde o cérebro
faz sentido daquilo que vê, ouve e sente o cheiro, neste estágio, o Alzheimer causa
estragos nos sentidos da pessoa e pode dar início a alucinações, com o tempo, as
placas e redes apagam as memorias mais antigas e preciosas da pessoa que estão
armazenadas aqui, atrás do cérebro.

Perto do fim, a doença compromete o equilíbrio e a coordenação da pessoa, e


no último estágio, destrói a parte do cérebro que regula a respiração e o coração. O
avanço desde um ligeiro esquecimento até a morte é lento e contínuo e acontece em
16
média de 8 á 10 anos. E implacável, e por ora, incurável. Uma vez que existe uma
maior incidência da demência de Alzheimer nos grupos mais idosos, pretende-se
abordá-la mais detalhadamente.

A demência do tipo Alzheimer, amplamente conhecida por doença de


Alzheimer, é atualmente o tipo de demência mais frequente no conjunto global das
demências, podendo representar entre 60% a 70% dos casos de demência.

Fatores de risco

Todos os seres humanos podem vir a desenvolver a doença, mas sendo um


problema multifatorial o seu aparecimento pode estar dependente de alguns fatores,
nomeadamente:
 A idade, na medida em que com o avançar da idade nota-se um aumento
da probabilidade e prevalência da doença; com o envelhecimento
progressivo da população, a tendência é para um aumento do número
de pessoas com doença de Alzheimer;
 O sexo, já que existe uma maior prevalência no sexo feminino; no
entanto, esta conclusão pode advir do facto de, por norma, as mulheres
viverem mais tempo que os homens;
 Fatores genéticos, ambientais e de nível educacional, apesar da causa
ainda ser desconhecida, estão certamente implicados no
desenvolvimento da doença; segundo Pereira e Filho (2001), a maioria
dos casos é esporádica, mas cerca de 10% das pessoas com doença
de Alzheimer apresentam história familiar.

9 FISIOTOLOGIA

A doença de Alzheimer caracteriza-se, histopatologicamente, pela maciça


perda sináptica e pela morte neuronal observada nas regiões cerebrais responsáveis
pelas funções cognitivas, incluindo o córtex cerebral, o hipocampo, o córtex entorrinal
e o estriado ventral. As características histopatológicas presentes no parênquima
cerebral de pacientes portadores da doença de Alzheimer incluem depósitos fibrilares

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amiloides localizados nas paredes dos vasos sanguíneos, associados a uma
variedade de diferentes tipos de placas senis, acúmulo de filamentos anormais da
proteína tau e consequente formação de novelos neurofibrilares (NFT), perda
neuronal e sináptica, ativação da glia e inflamação8. Baseadas nesses marcadores
neuropatológicos, duas hipóteses principais foram propostas, a fim de explicar a
etiologia da doença. De acordo com a hipótese da cascata amiloidal, a
neurodegeneração na doença de Alzheimer inicia-se com a clivagem proteolítica da
proteína precursora amiloide (APP) e resulta na produção, agregação e deposição da
substância βamiloide (Aβ) e placas senis9. (BENETTE; COSTA, 2007)

De acordo com a hipótese colinérgica, a disfunção do sistema colinérgico é


suficiente para produzir uma deficiência de memória em modelos animais, a qual é
semelhante à doença de Alzheimer. Cérebros de pacientes portadores da doença de
Alzheimer mostraram degeneração dos neurônios colinérgicos11, ocorrendo também
uma redução dos marcadores colinérgicos, sendo que a colina acetiltransferase e a
acetilcolinesterase tiveram sua atividade reduzida no córtex cerebral de pacientes
portadores da doença de Alzheimer.

Segundo Benette, o fator genético é considerado como preponderante na


etiopatogenia da doença de Alzheimer. Além do componente genético, foram
apontados como agentes etiológicos a toxicidade a agentes infecciosos, ao alumínio,
a substâncias reativas de oxigênio (ROS) e a aminoácidos neurotóxicos, e a
ocorrência de danos em microtúbulos e proteínas associadas. É importante também
salientar que esses agentes podem ainda atuar por dano direto no material genético,
levando a uma mutação somática nos tecidos. Cerca de 1/3 dos casos de doença de
Alzheimer apresenta familiaridade e se comporta de acordo com um padrão de
herança monogênica autossômica dominante. Esses casos, em geral, são de
acometimento precoce, e famílias extensas têm sido periodicamente estudadas. Os
pacientes afetados pela doença de Alzheimer têm 50% de chance de ter filhos também
afetados pela patologia.

18
10 EVOLUÇÃO CLÍNICA

Na fase inicial verificam-se défices de memória que são normalmente os


primeiros sinais, nomeadamente, a nível da memória a curto prazo. O indivíduo é
capaz de relatar detalhadamente acontecimentos passados, mas revela dificuldades
na sua contextualização temporal e espacial e desorientação, no sentido em que
perde a noção de tempo. Perde-se na rua, em sítios pouco familiares ou que foram
alvo de modificações recentes, e perde a noção do mês e ano em que se encontra.
Posteriormente, esta desorientação afeta também lugares habituais como a própria
habitação.

A linguagem vai sofrendo alterações, na medida em que numa primeira fase


surge afasia nominal, o discurso torna-se impreciso e o pensamento cada vez mais
concreto. A capacidade de resolução vai-se deteriorando, surgindo dificuldades na
realização de cálculos, confunde o dinheiro e apresenta dificuldades em tomar
decisões. Subtilmente, vão surgindo alterações da personalidade, nomeadamente
egocentrismo, desinibição e apatia. Perde a postura habitual, faz comentários
inadequados e utiliza palavras inapropriadas. A vida social torna-se caótica,
esquecendo as obrigações sociais, como por exemplo pagamentos de serviços
prestados. O autocuidado está igualmente comprometido, já que existe uma
despreocupação pelo arranjo pessoal e higiene pessoal, esquecendo-se mesmo de
mudar de roupa e lavar-se.

As perturbações do humor revelam-se através da ansiedade e insegurança,


tornando-se geralmente pessimista, com possível depressão consequente. A apatia é
progressiva, revelando desinteresse por atividades que eram habitualmente do seu
agrado. Esta é uma fase em que os familiares adotam uma tolerância excessiva face
aos défices cognitivos do doente.

Nas fases mais avançadas da doença as alterações cognitivas vão-se


acentuando e acabam por levar à perda da autonomia. O doente apresenta apraxia
(mostrando dificuldades, por exemplo, em abrir uma porta ou vestir-se, acabando por
não ser capaz de o fazer), e agnosia (dificuldade em interpretar informações
sensoriais, conduzindo à incapacidade em reconhecer rostos, objetos, lugares, de

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identificar sons e cheiros). Com estas limitações o indivíduo não consegue identificar
as pessoas que o rodeiam, sentindo-se cada vez mais ausente e ficando tudo cada
vez mais estranho e confuso.

A afasia aumenta e a linguagem torna-se restrita a poucas palavras, perdendo


progressivamente a capacidade de comunicar verbalmente. As alucinações e as
distorções perceptivas são frequentes nas fases avançadas. O doente é incapaz de
reconhecer a sua imagem refletida num espelho, vê objetos e pessoas estranhas
dentro da sua própria habitação, acredita que está a ser observado pela televisão e
não reconhece a casa onde reside, chegando a acusar os familiares de sequestro.
Relativamente aos fenómenos delirantes, surgem em cerca de um terço dos doentes,
sustentados por ideias como estar a ser roubado, que o cônjuge lhe é infiel e que as
pessoas com quem vive planeiam algo grave contra si. Com a evolução da doença, a
agitação agrava-se e o indivíduo torna-se hostil, com atitudes de agressividade, gritos
e até violência, que se agrava no final do dia. A deambulação é de igual modo uma
das formas da agitação. O indivíduo desloca-se continuamente pela casa sem objetivo
ou motivo aparente. O ritmo de sono-vigília também está alterado. O indivíduo passa
longos períodos acordado durante a noite, adormecendo apenas por curtos períodos.
Há uma progressiva perda de autonomia, necessitando de uma terceira pessoa para
a satisfação das suas necessidades. (BENETTE; COSTA, 2007)

Na fase terminal do processo demencial a inércia instala-se. O doente entra em


mutismo e raramente reconhece os familiares. Deixa de ter reflexos de marcha,
perdendo a postura ereta e permanece grande parte do tempo no leito. Há limitações
a nível dos vários domínios do autocuidado, nomeadamente a nível da alimentação,
da eliminação urinária e intestinal, e problemas de saúde tais como obstipação,
infeções respiratórias ou urinárias, e úlceras de pressão surgem ou agravam-se.

20
Fonte::hypescience.com

11 ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO

O tratamento das demências deve ser personalizado e adaptado a cada caso,


no qual se incluem estratégias farmacológicas e não farmacológicas. Deve-se ter
sempre presente que não existem demências, mas sim doentes com demência. Para
cada doente é fundamental elaborar um plano de cuidados específico, reformulado de
acordo com a evolução da situação. A farmacoterapia deve ser complementada por
estimulação cognitiva global, psicoterapia, musicoterapia, cuidados de enfermagem,
etc.

12 INTERVENÇÕES FARMACOLÓGICAS

Este tipo de intervenção deve ter em atenção a etiologia da demência e o


conjunto de perturbações associadas. Ainda não existe um tratamento que possibilite
a remissão da demência, mas já é possível obter, em certos casos, a diminuição da
velocidade de progressão e a estabilização das perturbações cognitivas e
psicocomportamentais.

O tratamento farmacológico para a demência incide, essencialmente, ao nível


dos inibidores das colinesterases (tacrina; donepezilo; rivastigmina; galantamina) e ao
nível dos antagonistas dos receptores glutamatergicos (memantina).

21
Na decisão sobre terapêutica deve-se ponderar sobre as repercussões dos
sintomas psiquiátricos e comportamentais e o risco dos efeitos adversos dos
medicamentos, tendo sempre como principal objetivo o bem-estar do doente. O
tratamento de alguns sintomas é fundamental e pode fazer a diferença entre a
manutenção do doente no domicílio ou a sua institucionalização.

13 INTERVENÇÕES NÃO FARMOLÓGICAS

Fonte:vidanutritiva.net

A Atenção Psicossocial é vista aqui como parte do que se costuma chamar de


“Clínica Ampliada”, na qual o tratamento medicamentoso, a atenção psicológica, o
estímulo à participação da família são essenciais e inter-relacionados desse modo,
um conjunto de cuidados integrados e articulados é imprescindível como forma de
apoio na gestão do bem estar e da qualidade de vida do paciente (TENÓRIO, 2001
APUD SANTOS 2008 ).

A necessidade de melhorar a qualidade de vida dos doentes com demência e


das suas famílias tem contribuído para uma maior sensibilização sobre a importância
dos programas de reabilitação.

Independentemente das técnicas que se utilizem, as intervenções não


farmacológicas assentam em grande parte na reabilitação, entendendo esta como a
participação ativa da pessoa com incapacidade no sentido de reduzir o impacto da
doença e as dificuldades no quotidiano.
22
As técnicas com possibilidades de serem utilizadas englobam modalidades de
intervenção psicoterapêutica cujos principais objetivos são: promover ou manter a
autonomia; melhorar a função cognitiva ou evitar o seu agravamento brusco; melhorar
o estado de saúde geral; estimular as capacidades cognitivas, a identidade pessoal e
a autoestima e minimizar o stress. As principais modalidades de intervenção são:

 Estimulação cognitiva: dirige-se essencialmente à esfera mnésica como


forma de treinar a memória, atenção, o processamento da informação,
etc.;
 Terapia de orientação para a realidade: é um conjunto de técnicas
simples nas quais se proporciona informação básica (orientação
temporal);
 Terapia por reminiscência: pretende-se que a doente reviva
acontecimentos agradáveis como forma de estimulação da memória;
 Musicoterapia: é uma técnica que permite o relaxamento, diminui a
ansiedade e facilita o contato com os outros.
 Existe também outro tipo de estratégias que pretendem contribuir para a
promoção de um envelhecimento ativo e saudável e para a criação de
respostas adequadas às necessidades da população idosa, tais como:
 Cuidados de enfermagem: visam maximizar as potencialidades do
idoso, minimizando a sua dependência;
 Apoio psicológico: intervém a nível psicológico integrado num plano
estruturado e individualizado de suporte à díade idoso/família;
 Apoio social: visa essencialmente modificar o meio do idoso, de modo a
tornar mais favorável o seu quotidiano;
 Convívio social: assenta no objetivo de permitir aos idosos que
permaneçam integrados e motivados na vida laboral e social;
 Intervenção familiar: através de programas que, numa abordagem
psicoeducativa, envolvem aspetos relacionados com o conhecimento da
própria doença;
 Psicoeducação: é uma técnica que visa melhorar a compreensão e
atitude pelos doentes e sua família, face à demência; é encarada como
parte do tratamento e está enquadrada no projeto terapêutico.

23
Todo este conjunto de intervenções tem aqui um papel fundamental, como
também na estimulação e preservação das capacidades da pessoa com doença de
Alzheimer. Pretende orientá-la e à família/cuidadores para melhorar a respectiva
qualidade de vida, com melhores e maiores cuidados, preservando ou retardando a
deterioração progressiva e o estresse dos prestadores de cuidados. Uma correta
avaliação inicial de forma a detectar as necessidades, com adequada formulação de
diagnósticos, leva a poder intervir de forma eficaz, obtendo resultados que tragam
ganhos em saúde para a pessoa cuidada e para o cuidador.

De salientar que qualquer técnica a implementar deverá ter por base uma
avaliação neuropsicológica exaustiva, de modo a identificar os défices e as funções
que podem ser estimuladas, o tipo de demência e o estádio em que se encontra.

14 QUAL A LIGAÇÃO ENTRE DEMÊNCIA E DOENÇA DE ALZHEIMER

Se anteriormente referimos que a demência inclui alterações cognitivas


provocadas por alterações a nível cerebral, mais concretamente a nível neuronal, é
aqui que a ligação se estabelece. A doença de Alzheimer é a principal causa de
demência, responsável por cerca de 60 a 80% dos casos.

Trata-se de uma doença neurodegenerativa, uma vez que leva à morte


progressiva dos neurónios, irreversível e de evolução lenta; como tal, existem
alterações cerebrais específicas associadas à doença. Verifica-se uma acumulação
anormal da proteína beta-amiloide, que leva à formação de várias placas entre os
neurónios, e no interior dos mesmos é possível observar a formação de tranças
fibrilares, causada pela agregação anormal da proteína tau. A conjugação destas
alterações leva a danos ao nível das ligações entre os neurónios (sinapses), que
acabam por provocar a morte dos mesmos.

Se compararmos um cérebro “saudável” com um cérebro de uma pessoa com


doença de Alzheimer, este segundo terá um tamanho consideravelmente menor
devido à morte neuronal que é característica da doença. Estas alterações cerebrais
ocorrem de forma gradual e têm início vários anos antes dos primeiros sinais de alerta
24
se manifestarem. À medida que se vão acumulando e desenvolvendo, estas
alterações neuronais são responsáveis pelo agravamento e deterioração quer das
funções cognitivas da pessoa, quer da sua capacidade de desempenho e autonomia
diária (Diamond, 2011).

Para além da doença de Alzheimer, existem ainda outras causas que estão na
origem da demência e que constituem outros tipos de demência. A cada um deles
estão associados sintomas diferentes e distintos, bem como alterações cerebrais
distintas.

15 QUAL A CAUSA DA DOENÇA DE ALZHEIMER?

Fonte:vitalmente.com

Atualmente, e de acordo com os resultados obtidos em vários estudos e


trabalhos científicos, podemos afirmar que os investigadores detêm um maior
conhecimento acerca das alterações químicas que afetam e danificam as células
cerebrais nos casos de Doença de Alzheimer. No entanto, a causa para estes
fenômenos ainda não foi descoberta.

Apesar de tudo, é consensual na comunidade científica a ideia de que, tendo


em conta a complexidade da doença, esta tenha uma origem multifatorial, resultando
da combinação de vários fatores de risco.

25
16 QUAIS OS FATORES DE RISCO PARA A DOENÇA DE ALZHEIMER?

Em primeiro lugar, importa ressalvar que quando falamos de fatores de risco,


estamos a referir-nos a características da própria pessoa, a características do seu
estilo de vida e do ambiente/contexto onde se insere, e que poderão contribuir para
uma maior probabilidade de vir a ter doença de Alzheimer ou outro tipo de demência
(Diamond, 2011).

Em seguida, vamos enumerar os principais fatores de risco que são atualmente


indicados e confirmados por vários estudos científicos divididos em dois grandes
grupos: fatores de risco não-modificáveis e fatores de risco modificáveis.

Relativamente aos fatores de risco não-modificáveis, temos os seguintes:

 Idade: é o principal fator de risco para a doença de Alzheimer, uma vez


que a prevalência aumenta significativamente à medida que as pessoas
ultrapassam os 65 anos de idade;
 História familiar: pessoas que tenham um parente com doença de
Alzheimer (irmão ou irmã) têm maior probabilidade de desenvolver a
doença, comparativamente com pessoas que não tenham. Este risco
aumenta caso o grau de parentesco seja de 1º grau (pai ou mãe), ou
caso exista mais do que um familiar com diagnóstico;
 Alterações genéticas: através de vários estudos, foram descobertos
alguns genes que aumentam a probabilidade de diagnóstico de doença
de Alzheimer. O mais estudado e comprovado até hoje é o gene APOE-
e4. Ao nascermos, todos herdamos uma cópia do gene APOE de cada
um dos nossos pais; no entanto, aqueles que herdam uma cópia da 4ª
variante do gene (o APOE-e4) têm uma maior probabilidade de
desenvolver doença de Alzheimer. Caso herdem duas cópias, têm um
risco ainda mais elevado. No entanto, importa ressalvar que, em ambos
os casos, trata-se de uma questão de maior probabilidade e não de
certeza/confirmação de diagnóstico.

26
Quando falamos em fatores de risco modificáveis, referimo-nos aos seguintes:
consumo excessivo de álcool; obesidade; fumar; hipertensão; colesterol elevado;
diabetes (tipo 2); depressão; isolamento e traumas cerebrais.

17 COMO REDUZIR O RISCO DE DESENVOLVER DOENÇA DE ALZHEIMER OU


OUTRO TIPO DE DEMÊNCIA?

Uma vez que a causa e a cura para a doença de Alzheimer ainda permanecem
desconhecidas, a adopção de um estilo de vida saudável e a redução de
comportamentos/hábitos como os anteriormente mencionados, assumem uma
elevada pertinência e significado na tentativa de reduzir o risco de desenvolver doença
de Alzheimer ou outro tipo de demência.

Como tal, e de acordo com a Alzheimer Austrália, que desenvolve o programa


Hour Brain Matters, aqui ficam cinco “sugestões” de comportamentos/estilos de vida
que reduzem o risco de termos doença de Alzheimer ou outro tipo de demência,
assentes no pressuposto de que certas medidas preventivas podem de facto ser
benéficas para a saúde do nosso cérebro.

 Cuide do seu coração.


Muitas pessoas desconhecem o facto de existir uma forte relação entre a saúde
do nosso coração e a saúde do nosso cérebro, isto é, aquilo que é benéfico para o
coração é também benéfico para o cérebro. Como tal, é importante adotar alguns
comportamentos ou modificar alguns estilos de vida, como por exemplo:
controlar/verificar a pressão sanguínea de forma regular; evitar fumar; controlar o peso
e realizar exames de rotina com alguma frequência.

 Pratique exercício físico.


São vários os estudos que comprovam a importância do exercício físico para um
melhor funcionamento cerebral e o seu impacto na redução do risco de desenvolver
algum tipo de demência. Para além de estimular a corrente sanguínea até ao cérebro,
o exercício físico está também associado a um maior volume cerebral, bem como
estimula o crescimento e as ligações entre as células cerebrais (neurónios).

27
Apesar de ainda não ser consensual e clara a quantidade de exercício
necessária, ou a periodicidade necessária para reduzir o risco, sugere-se a prática
diária de exercício (moderado a intenso) com a duração de 30 minutos. Ficam em
seguida algumas sugestões: praticar caminhadas regularmente (contribui para o
aumento do tamanho do hipocampo, área cerebral responsável pela memória);
dançar; nadar; andar de bicicleta; treino de resistência.

 Desafie o seu cérebro.


Investigadores descobriram que quando desafiamos o nosso cérebro com novas
tarefas e atividades, estamos a estimular e promover a criação de novas ligações
neuronais e a fortalecer as existentes. Desta forma, estamos a possibilitar que o nosso
cérebro tenha uma maior “reserva” que lhe permita melhor lidar e manter-se funcional,
caso se venha a verificar algum dano ou morte neuronal. Ficam em seguida algumas
sugestões: envolver-se em hobbies de acordo com os seus interesses; aprender algo
novo ex: tocar um instrumento musical); ler e pesquisar ou aprofundar temas de
acordo com os seus interesses.

 Mantenha uma dieta saudável.


Apesar de não existirem evidências estatísticas significativas que nos indiquem
se existem alimentos específicos que reduzam o risco de desenvolvermos demência,
há, no entanto, estudos que sugerem que uma dieta saudável e equilibrada poderá
contribuir para manter o cérebro saudável e em bom funcionamento. No entanto,
deixamos de seguida algumas recomendações quanto à dieta alimentar, retiradas de
uma guideline australiana uma vez que se acredita terem um forte impacto na redução
do risco de doenças cardiovasculares e também de demência (Farrow, 2010): evitar
o consumo de gorduras saturadas; comer duas peças de fruta por dia; comer cinco
porções de legumes por dia; consumir alimentos ricos em ómega 3 (ex: peixes e
nozes) e não beber mais do que dois copos de vinho por dia.

 Mantenha-se socialmente ativo.


Vários estudos demonstraram o efeito positivo das interações sociais, sobretudo
no que diz respeito à diminuição do risco de desenvolver algum tipo de défice cognitivo

28
ou demência. Acredita-se ainda que a conjugação de atividades sociais com o
exercício físico e/ou mental poderá diminuir ainda mais este risco.

Como tal, é fundamental que as pessoas se mantenham envolvidas em


atividades na comunidade, que estas sejam do seu interesse e na qual participem
pessoas significativas, cuja companhia seja do seu agrado. Deixamos de seguida
alguns exemplos: conversar com familiares e amigos (melhor ainda, conversar
enquanto fazem uma caminhada); ir ao teatro ou assistir a um concerto; manter
contato com os vizinhos; integrar um grupo de voluntariado.

Para além destes cinco tópicos, a Alzheimer Austrália alerta ainda para a
importância de evitarmos traumatismos cranianos, sobretudo situações graves que
envolvam a perda de consciência, uma vez que existe um maior risco de demência
associado. (SAMPAIO, 2006)

Como tal, é fundamental que se proteja adequadamente a cabeça aquando da


prática de certo tipo de atividades (ex: andar de bicicleta ou andar de motorizada), e
se procure minimizar o risco de queda, sobretudo nas pessoas mais idosas.

Por último, é ainda referida a importância de controlar e prevenir (novos)


episódios e estados depressivos, uma vez que existem cada vez mais estudos que
apontam para uma relação de risco entre a depressão e a demência.

18 COMO É FEITO O DIAGNÓSTICO DE DOENÇA DE ALZHEIMER?

De acordo com Bouse (1994) citado por Ribeiro (2016) para realizar uma
avaliação semiológica mais detalhada nos pacientes com doença de
Alzheimer, são recomendados também testes neuropsicológicos que
permitam confirmar o diagnóstico de demência e quantificar o grau da
mesma, assim como aprofundar o conhecimento do perfil neuropsicológico
da deterioração mental da DA, avaliar seu curso evolutivo e as possíveis
respostas terapêuticas.

Não existe um teste único que permita realizar o diagnóstico de doença de


Alzheimer. Este processo é feito por exclusão, isto é, através de diferentes
abordagens terapêuticas os médicos especialistas (neurologista ou psiquiatra)

29
avaliam o estado de saúde da pessoa e procuram identificar outras condições ou
patologias que possam levar ao mesmo tipo de sintomas. Após excluir todas as
hipóteses (algumas delas reversíveis), o médico poderá assim determinar se se trata
de um caso de doença de Alzheimer ou de outro tipo de demência (Mendes et al.
2005).

Este é um processo complexo, uma vez que envolve várias etapas e envolve
obrigatoriamente os seguintes exames / dados:

 História clínica e familiar da pessoa: obtida através da própria pessoa e


adjuvada com informação do cuidador principal; é também fundamental
que sejam mencionados os sinais de alerta manifestados, o início dos
mesmos e as alterações observadas nas atividades de vida diária;
 Análises laboratoriais ao sangue e urina: de modo a excluir outro tipo de
patologias ou estados de saúde decorrentes de alterações ao nível da
função hepática, função renal, tiroideia, vitamina B12, ácido fólico, etc;
 Avaliação neuropsicológica: através de vários testes de pergunta -
resposta, que irão avaliar e quantificar o desempenho da pessoa ao nível
das várias funções cognitivas (memória, linguagem, cálculo, orientação,
etc.) - exames de imagem: é geralmente realizada uma TAC crânio-
encefálica, bem como uma ressonância magnética, no sentido de detectar
possíveis alterações cerebrais já existentes.

19 QUAL É A IMPORTÂNCIADE UM DIAGNÓSTICO PRECOCE?

Por vezes, e na grande maioria dos casos de Doença de Alzheimer, os


primeiros sinais ou sintomas da doença são ignorados ou desvalorizados pela própria
pessoa e pelos seus familiares, uma vez que existe alguma dificuldade em distinguir
o que são alterações próprias do envelhecimento e o que poderão ser sinais de alerta.
Apresentamos de seguida um quadro que compara sinais de alerta típicos da doença
de Alzheimer ou de outra demência, com sinais relativos a alterações próprias do
envelhecimento.

30
No entanto, à medida que a doença vai evoluindo, vão surgindo sintomas mais
notórios, que começam a afetar o desempenho da pessoa em certas atividades do
dia-a-dia, sobretudo naquelas que exigem uma maior capacidade de raciocínio e de
análise/interpretação e consequente resposta (ex: gerir as compras da casa, gerir a
medicação, etc.). Nalguns casos, é a própria pessoa que identifica nela mesma estas
alterações, enquanto noutros casos são os familiares mais próximos (cônjuge e/ou
filhos) que se vão apercebendo e observando as alterações na memória, no
comportamento e na capacidade de desempenho.

O conhecimento destes sinais de alerta é fundamental para que se consiga


alcançar um diagnóstico cada vez mais precoce, que permite e promove a
oportunidade de a pessoa se “ajustar”, adaptar e reagir ao diagnóstico, bem como
participar ativamente no planeamento do seu futuro (Leifer, 2003).

1 - Perda de memória que afeta a rotina diária.


 Esquecimento de informações recentes (défices na memória a curto -
prazo).
 Repetir várias vezes a mesma questão, ou repetir temas de conversa
após um curto período de tempo.
2 - Dificuldade em planear ou resolver problemas.
 Perder a capacidade de desenvolver e seguir um plano de trabalho.
 Ter dificuldade em seguir uma receita familiar.
 Ter dificuldade em lidar com números e gerir as contas mensais.
3 - Dificuldade em executar tarefas familiares.
 Ter dificuldades em executar tarefas diárias habituais (ex: cozinhar,
vestir-se).
 Ter dificuldades em conduzir até um local conhecido.
4 -Perda da noção de tempo e/ou lugar.
 Perder a noção de datas, estações do ano e da passagem do tempo.
 Ter dificuldades em entender alguma coisa que não esteja a acontecer
naquele preciso momento.
 Esquecer-se onde está no momento, ou como chegou até lá.
5 - Dificuldade em perceber imagens visuais e relações especiais.
31
 Ter dificuldades na leitura.
 Ter dificuldades em calcular distâncias e determinar uma cor ou o
contraste.
6 - Problemas de linguagem.
 Ter dificuldades em acompanhar ou inserir-se numa conversa.
 Parar a meio de uma conversa e não saber como continuar ou repetir
várias vezes a mesma coisa.
 Ter dificuldades em encontrar palavras adequadas para se expressar ou
dar nomes errados às coisas.
7 - Trocar o lugar das coisas.
 Colocar objetos em lugares desadequados (ex: os óculos no frigorífico).
 Perder objetos e não ser capaz de voltar atrás no tempo para se lembrar
de quando ou onde os usou.
 Acusar os outros de lhe roubar as suas coisas.
8 - Discernimento fraco ou diminuído.
 Não ser capaz de perceber/identificar situações de burla, e ceder a
pedidos de dinheiro.
 Vestir-se desadequadamente consoante a estação ou ocasião.
 Não ir logo ao médico quando tem uma infeção, pois não reconhece a
infeção como algo problemático.
9 - Afastamento do trabalho e da vida social.
 Começar a abandonar os hobbies, atividades sociais, projetos de
trabalho ou desportos favoritos.
 Evitar situações de interação social, com receio que as outras pessoas
se apercebam das suas dificuldades.
 Maior isolamento e tendência para querer ficar em casa.
10 - Alterações de humor e personalidade
 Tornar-se confuso (a), desconfiado (a), deprimido (a), com medo ou
ansioso (a).
 Irritar-se com facilidade em casa, no trabalho, com os amigos ou em
locais onde se sinta fora da sua “zona de conforto”.
 Súbitas alterações de humor – da serenidade ao choro ou à angústia –
sem que haja qualquer razão para tal facto.
32
20 COMO É QUE A DOENÇA DE ALZHEIMER PROGRIDE?

Como já referido anteriormente, a doença de Alzheimer é progressiva e


degenerativa, pelo que vai piorando e agravando ao longo do tempo. São
habitualmente sugeridas três fases que descrevem a evolução da doença e a forma
como as capacidades da pessoa se vão alterando ao longo do tempo (Alzheimer fase
inicial / ligeira; fase intermédia / moderada; fase final / avançada / grave. Importa
salientar que cada pessoa tem o seu padrão de evolução e que a velocidade com que
as suas capacidades se deterioram também difere de caso para caso. No entanto,
existem alguns padrões que são comuns a todos os casos e que permitem a sugestão
da existência destas três fases, que pretendem ser um guia geral acerca do que
esperar com a evolução da doença (Sereniki; Vital, 2008)

O quadro seguinte indica algumas características e comportamentos mais


frequentes em cada uma das diferentes fases.

FASE INICIAL / LIGEIRA

- Maior apatia
- Perder interesse em hobbies
- Maior lentidão na compreensão de ideias complexas
- Demorar mais tempo a completar tarefas habituais/rotineiras
- Esquecer-se de acontecimentos / informações recentes
- Dificuldade em lidar com dinheiro
- Perda de espontaneidade
- Alterações na personalidade e no humor (estar mais irritado (a), ansioso ou
preocupado quando falha alguma tarefa)

FASE INTERMÉDIA / MODERADA

- Esquecimentos cada vez mais frequentes


- Tornar-se muito repetitivo (a)
- Memória a longo-prazo está geralmente preservada, mas por vezes
confundem ou esquecem alguns detalhes de acontecimentos passados

33
- Perder-se com facilidade
- Maior confusão relativamente ao tempo e ao espaço
- Ter muita dificuldade em realizar operações de cálculo simples
- Esquecer-se do nome de familiares ou amigos, ou confundir membros da
família entre si
- Dificuldades ao nível da linguagem, da escrita e da leitura
- Inquietação, agitação, ansiedade e deambulação – Sobretudo ao final da tarde
ou à noite
- Comportamentos socialmente inapropriados
- Alucinações, delírios, paranoia e irritabilidade
- Incapacidade de realizar tarefas que envolvem etapas e sequências (ex:
vestir-se, pôr a mesa, cozinhar)
- Dificuldade em reconhecer familiares e amigos

FASE AVANÇADA / GRAVE

- Não reconhecer familiares ou amigos


- Não ser capaz de comunicar oralmente
- Perda da capacidade de compreender o discurso dos outros - Dependência
total ao nível da higiene, alimentação, vestir, etc.
- Perda da capacidade de andar – na cama todo o dia
- Incontinência total (urinária e fecal)
- Dificuldade em engolir e mastigar alimentos
- Perda de peso
- Risco elevado de úlceras de pressão:

34
21 TRATAMENTO E MEDICAÇÃO PARA A DOENÇA DE ALZHEIMER?

Fonte:www.tacerto.com

De acordo com Lozano (1977) citado por Ribeiro (2016) aproximadamente


em 80% dos casos é a família quem se responsabiliza pelo enfermo. Em
muitas vezes isso é feito em condições dramáticas e sem nenhum tipo de
ajuda, subvenção (subsídio ou auxílio pecuniário, informação, apoio ou
consideração.

Apesar do grande avanço em termos de fisiopatologia e de marcadores das


demências ocorridos na última década, o tratamento ainda é pouco eficaz sobre a
melhora dos sinais e sintomas e sobre o curso clínico, principalmente na DA. Não há,
ainda no caso de demências de etiologia neurodegenerativa, tratamento capaz de
evitar a progressão da doença. Tanto os tratamentos não medicamentosos quanto os
medicamentos podem apenas reduzir a velocidade das perdas, diminuindo o uso de
antipsicóticos que podem ser nocivos e aumentar a mortalidade em pacientes com
demência. (GUERRA, 2017)

O tratamento inicial é realizado com inibidores da enzima acetilcolinesterase,


objetivando aumentar a disponibilidade de acetilcolina na fenda sináptica. O déficit
colinérgico é o principal marcador fisiopatológico da DA e da doença de Lewy, por
exemplo. Essa classe de drogas pode ter algum efeito eficaz entre pacientes com
demência até o momento. Portanto, os inibidores da acetilcolinesterase somente são
indicados a casos de DA, doença de Lewy e demência vascular.

35
Para além desta intervenção farmacológica, existe ainda a intervenção não-
farmacológica. De acordo com o projecto European Collaboration on Dementia
(Eurocode), conduzido pela Alzheimer Europe e financiado pela Comissão Europeia,
o tratamento da doença de Alzheimer deve conciliar estes dois tipos de tratamentos.

Quando falamos em tratamento não farmacológico, estamos a referir-nos a um


conjunto de intervenções não químicas que procuram, entre outros aspectos.
Maximizar o funcionamento cognitivo da pessoa (retardar a evolução do doença e
consequente perda de capacidades);

 Ajudar no processo de adaptação à doença;


 Diminuir a sobrecarga dos cuidados prestados pelo cuidador.

21.1 Incapacidade cognitiva

A cognição é o conjunto de funções cerebrais formadas pela memória


(capacidade de armazenamento de informações), função executiva (capacidade de
planejamento, antecipação, sequenciamento e monitoramento de tarefas complexas),
linguagem (capacidade de compreensão e expressão da linguagem oral e escrita),
praxia (capacidade de executar um ato motor), gnosia (capacidade de reconhecimento
de estímulos visuais, auditivos e táteis) e função visuoespacial (capacidade de
localização no espaço e percepção das relações dos objetos entre si). O
funcionamento integrado destas funções nos permite interagir com as pessoas e com
o mundo, com o objetivo de resolvermos as dificuldades do cotidiano, é responsável
pela nossa capacidade de decidir, que, juntamente com o humor (motivação), é
fundamental para a manutenção da autonomia. A individualidade é resultante do
36
acúmulo de conhecimentos da nossa história e da cultura que herdamos. A perda da
cognição ou incapacidade cognitiva é, portanto, o “desmoronamento” ou o
“apagamento” da identidade que nos define como ser pensante.

O envelhecimento fisiológico não afeta a cognição de forma significativa. Ocorre


uma atrofia do sistema nervoso central, o que pode ser percebido em toda tomografia
computadorizada de crânio. O lobo frontal parece ser a região mais acometida, de
forma irregular. As únicas consequências são maiores lentificações no processamento
cognitivo, redução da atenção (déficit atentivo), maior dificuldade no resgate das
informações aprendidas (memória de trabalho), redução da memória prospectiva
(“lembrar-se de lembrar”) e memória contextual (dificuldades com detalhes). Estas
alterações não trazem nenhum prejuízo significativo na execução das tarefas do
cotidiano. As alterações dos órgãos dos sentidos (visão, audição, entre outros)
dificultam o acesso às informações e ao aprendizado.

Desta forma, o envelhecimento normal é aquele apresentado por Dona


Conceição, que mantém sua capacidade de resolver os problemas do dia-a-dia,
embora de forma mais lenta. Por outro lado, Dona Ofélia apresenta “lapsos de
memória” preocupantes, pois estão trazendo importantes repercussões no seu
funcionamento habitual. Ela não é mais capaz de resolver os problemas da casa, como
fazer compras, controlar as finanças, sair sozinha e cozinhar. Portanto, não podemos
atribuir estas mudanças ao envelhecimento normal.

37
Figura 1 – Esquema do esquecimento

Fonte: Moraes (2008).

22 COMO SE SUSPEITA DE DEMÊNCIA?

Demência significa a perda do funcionamento harmonioso das funções


cognitivas e comportamentais, comprometendo a autonomia e a independência do
indivíduo. A prevalência de demência é estimada em cerca de 5% da população idosa
em geral e aumenta com a idade, dobrando a cada cinco anos, aproximadamente,
após os 65 anos de idade. Em Catanduva, no Brasil, a prevalência de demência foi
de 7,1% entre os habitantes com 65 anos ou mais; 1,6%, entre os de 65 a 69 anos;
3,2%, entre os de 70 a 74 anos; 7,9%, entre os de 75 a 79 anos; 15,1%, entre os de
80 a 84 anos e 38,9%, entre os maiores de 85 anos.

Segundo o DSM IV-TR, Manual de Classificação de Doenças Mentais da


Associação Americana de Psiquiatria (2002), o diagnóstico de demência deve ser
dado na presença de múltiplos déficits cognitivos, que incluem o comprometimento da
memória e outra função cognitiva (linguagem, função executiva, gnosia e praxia). A
repercussão deve ser grave o suficiente para comprometer o funcionamento social e
ocupacional (atividades de vida diária) e representar um declínio em relação a um
nível anteriormente avaliado. O diagnóstico não pode ser dado exclusivamente
38
durante o curso de um delirium (confusão mental aguda), nem ser explicado por
doença psiquiátrica, como depressão maior e esquizofrenia.

As queixas relacionadas à memória seguem, normalmente, uma hierarquia


cronológica. Inicialmente, o déficit é secundário ao comprometimento da memória e é
descrito como esquecimento para fatos recentes, perda de objetos, acidentes
domésticos, desorientação temporal e espacial, e repetição de fatos, respeitando o
gradiente temporal (memória episódica recente, intermediária e remota). Com a
evolução da doença, há maior comprometimento da memória, com empobrecimento
do conhecimento do mundo, nomeação inadequada, discurso pobre e dificuldade de
compreensão de conceitos. Em fases mais avançadas da doença, o paciente
apresenta, inclusive, dificuldades de repetir instruções simples (memória de curto
prazo).

Afasia – alterações da linguagem representadas pela presença de:


 Anomia (dificuldade de nomeação de objetos ou de achar a palavra
apropriada);
 Circunlóquios explicativos (invenção de histórias para justificar a
dificuldade cognitiva, rodeio de palavras);
 Parafasias (substituição de palavras);
 Logorréia (fala incessante), discurso pobre, termos vagos (coisa, troço),
neologismos, erros gramaticais e frases inacabadas.

Disfunção executiva – percebida pela presença de:


 Desatenção, distração;
 Dificuldade na realização de atividades que exigem sequenciamento,
planejamento e mudança de estratégias (fazer a barba, fazer compras,
sair de casa);
 Perseveração motoras ou verbais (rituais);
 Dificuldade na resolução de problemas do cotidiano ou de tomar
decisões;
 Inadequação no julgamento de situações ou problemas do cotidiano.

39
O comprometimento do lobo frontal também está associado à desregulação do
comportamento social e controle das emoções, com desinibição, inquietação motora,
perambulação, jocosidade inadequada, hipersexualidade, hiperfagia, agressividade,
comportamento antissocial, labilidade emocional, apatia sem o colorido negativista do
deprimido e sem ideação suicida, perda de iniciativa ou motivação, desinteresse por
atividades ou passatempos e irritabilidade. Apraxia – é a incapacidade de executar
atividades motoras, apesar do funcionamento motor intacto. Caracteriza-se pela
dificuldade para vestir-se, amarrar os sapatos, pentear o cabelo, andar, cozinhar,
acender o cigarro, usar a chave, entre outros.

Agnosia – é a incapacidade de reconhecer ou identificar objetos, apesar do


funcionamento sensorial intacto. O paciente ou familiar menciona dificuldade de
decodificação ou reconhecimento do estímulo, na ausência de comprometimento dos
órgãos do sentido. Nas fases avançadas ocorre agnosia de objetos, cores e faces
(prosopagnosia).

23 QUAIS SÃO OS CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS PARA DEPRESSÃO, DELIRIUM


E DOENÇA MENTAL?

As desordens depressivas representam um grupo de entidades clínicas ou


síndromes independentes caracterizadas pela baixa do humor e variabilidade na
gravidade. Deve ser diferenciada de tristeza, ou seja, existe a depressão-sintoma e a
depressão-doença. A tristeza é um sentimento presente em vários momentos da vida.
Por exemplo: na reação ao luto, a tristeza está presente, mas é insuficiente para
inviabilizar completamente os projetos de vida da pessoa, que preserva o interesse
em algumas atividades.

Shader (2005) citado por Furlanetto, (2006) observa que, na sua experiência
clínica, a desmoralização per se geralmente não responde aos antidepressivos,
embora agentes dopaminérgicos possam ocasionalmente ser úteis. Os clínicos, uma
vez que reconheçam a presença de desmoralização, devem trabalhar com o paciente
para promover o sentimento de capacidade, domínio (mastery) e o retorno da
esperança. Encorajamento, suporte e educação são essenciais. Esforços para

40
restabelecer o sentimento de capacidade devem ser empregados e ser consistentes
com o nível de compreensão e as atitudes do paciente.

O paciente supera a perda progressivamente, num período variável de 4 a 12


meses. O envelhecimento está associado a diversas perdas, desde familiares
queridos, cônjuges, filhos, perda do prestígio social e do nível socioeconômico e,
finalmente, da própria independência física. Entretanto, estas perdas são superáveis
e podem permitir uma vida psíquica normal. A depressão maior é, atualmente, a
principal causa de incapacidade no mundo moderno e constitui-se em verdadeira
“epidemia silenciosa”, cuja importância na morbimortalidade geral se aproxima aos
observados nas doenças crônico-degenerativas. No idoso, a depressão maior está
associada a vários sintomas somáticos, que dificultam o diagnóstico. A prevalência de
depressão maior varia de 10%, nos idosos residentes na comunidade, até 30%, nos
idosos institucionalizados. Os critérios diagnósticos de depressão maior, segundo o
DSM-IV, incluem a presença de cinco ou mais sintomas durante o período de duas
semanas (todos os dias ou quase todos os dias) e que representaram uma alteração
do seu funcionamento anterior. Pelo menos um dos sintomas é humor deprimido ou
perda do interesse ou prazer (anedonia): Interesse ou prazer acentuadamente
diminuídos: o idoso deixa de sentir prazer com atividades que anteriormente eram
agradáveis, tendendo ao isolamento social e familiar; Humor deprimido indicado por
relato subjetivo (sensação de tristeza, autodesvalorização e sentimento de culpa) ou
observação feita por outros: o idoso menciona sensação de vida vazia, demonstra
fácil irritabilidade (“rabugento”) ou considera-se um peso para a família, afirmando ser
a morte a única solução. Tendência à emotividade excessiva, com crises de choro
frequentes; Perda ou ganho significativo de peso sem estar em dieta, ou diminuição
ou aumento do apetite: a inapetência é o sintoma mais comum e importante causa de
emagrecimento no idoso. Pode predominar e mascarar sintomas como baixa do
humor e anedonia, dificultando o diagnóstico de depressão (depressão mascarada).

Figura 2 – TIME das demências reversíveis

41
Insônia ou hipersonia: habitualmente a insônia é terminal (matinal, despertar
cedo e piora matinal da sintomatologia depressiva) ou sono entrecortado e dificuldade
para dormir novamente. Portanto, a queixa de insônia, tão comum no consultório, deve
sugerir prontamente o diagnóstico de depressão;

Agitação ou retardo psicomotor;

Fadiga ou perda de energia: por vezes simulando doenças consumptivas,


insuficiência cardíaca congestiva, hipotireoidismo, parkinsonismo (bradicinesia),
polimialgia reumática, entre outros; sentimento de inutilidade ou culpa excessiva ou
inadequada;
Capacidade diminuída de pensar ou concentrar-se: lentificação do
pensamento com déficit atencional significativo, por vezes simulando síndrome
demencial (“pseudodemência”);
Pensamentos recorrentes de morte, ideação suicida recorrente.

As principais causas de demência irreversível não-Alzheimer incluem:

Demência vascular: representa a segunda causa de demência no idoso,


responsável por 15% a 20% de todas as demências. No Brasil, em Catanduva, esteve
presente em 18% dos idosos com demência. Resulta da presença de doença
cerebrovascular isquêmica ou hemorrágica, assim como da injúria cerebral resultante
do hipofluxo cerebral. A associação entre doença cerebrovascular e demência
remonta da Antiguidade. O termo “esclerose” foi muito utilizado para descrever a
importância das doenças cerebrovasculares como principal causa de demência
associada ao envelhecimento. A descrição da doença de Alzheimer como principal
causa de demência resultou na “alzheimerização” das demências e, muitas vezes, os
termos “doença de Alzheimer” e “demência senil” são considerados sinônimos.
Os critérios para o diagnóstico de demência vascular, segundo o DSM-iv, são:

Desenvolvimento de múltiplos déficits cognitivos manifestados tanto por (1)


quanto por (2):
Comprometimento da memória: amnésia
Uma das seguintes perturbações cognitivas:

42
Afasia: perturbação da linguagem;
Apraxia: capacidade prejudicada de executar atividades motoras, apesar do
funcionamento motor intacto;
Agnosia: incapacidade de reconhecer ou identificar objetos, apesar do
funcionamento sensorial intacto;
Disfunção executiva: perturbação do funcionamento executivo (i.e.,
planejamento, organização, sequenciamento, abstração).
Os déficits cognitivos nos critérios (1) e (2) causam comprometimento
significativo do funcionamento social ou ocupacional e representam um declínio
significativo em relação a um nível anteriormente superior de funcionamento.

Sinais e sintomas neurológicos focais (por exemplo: exagero dos reflexos


tendinosos profundos, resposta extensora plantar, paralisia pseudobulbar,
anormalidades da marcha, fraqueza em uma das extremidades) ou evidências
laboratoriais indicativas de uma doença cerebrovascular (por exemplo: múltiplos
infartos envolvendo o córtex e a substância branca) considerados etiologicamente
relacionados à perturbação.

Os déficits não ocorrem exclusivamente durante o curso de um delirium.


Demência por corpos de Lewy: a Demência por Corpos de Lewy (DCL) representa a
segunda causa de demência degenerativa, responsável por 15% a 25% dos casos. O
diagnóstico correto é fundamental para o manejo farmacológico. A sintomatologia
cognitiva, comportamental, motora, autonômica e os distúrbios do sono respondem
bem ao uso de anticolinesterásicos e apresentam grande hipersensibilidade ao
antipsicóticos, podendo induzir a complicações potencialmente fatais. As
manifestações centrais da doença são: presença de parkinsonismo precoce e
espontâneo, flutuação cognitiva e alucinações visuais recorrentes e complexas. Além
disso, é frequente a presença de alterações do sono REM (sonhos vívidos e
pesadelos).

A sintomatologia apresentada por Dona Ofélia teve início insidioso e


caracterizado pela presença de esquecimento progressivo. Não houve evolução em
degraus e não foi percebido déficit motor ou alteração da marcha. Além disso, o único

43
fator de risco para doença cerebrovascular é a idade. Como já vimos, a Tomografia
Computadorizada (TC) de crânio foi normal para a idade. Desta forma, o diagnóstico
de demência vascular torna-se pouco provável. O diagnóstico de Corpos de Lewy
pode também ser descartado pela ausência de parkinsonismo e alucinações visuais
precoces. Os únicos sintomas psicóticos apresentados pela paciente são as ideias
delirantes de roubo e perseguição. Não houve relato de alucinações visuais. A única
flutuação observada é a piora da agitação psicomotora no final do dia, ao entardecer,
quando a paciente insiste que não está em sua casa e pede insistentemente para ser
levada para sua verdadeira casa. Não há desinibição, comportamento anti-s ocial,
hipersexualidade ou qualquer outro sintoma que sugira o diagnóstico de demência
frontão-temporal.

Figura 3 – Principais causas de demências irreversíveis

Fonte: Moraes (2008).

44
23.1 Quedas

Fonte:saudebrasilnet.com.br

24 DEFINIÇÃO

As quedas trazem aos idosos serias consequências físicas, psicológicas e


sociais, sendo que geralmente o que mais gera mais preocupação para as pessoas
são os danos físicos. Estes realmente são muito perigosos, pois podem levar as
pessoas a morte, porém, a maioria das quedas não leva a este tipo de ocorrência
e sim trazem outras consequências que muitas vezes são, negligenciadas. Para os
idosos e sua família a dependência pós queda,os danos sociais e psicológicos são
problemas muito difíceis de serem superados (Maia et al 2019 ;Borges 2016 ).

A queda é um evento frequente no idoso. Uma lesão por queda pode ser
custosa para o idoso, em termos de morbidade, funcionalidade e independência, e em
termos de custos de saúde (privada ou pública) e institucionalizações. Antigamente,
acreditava-se que a queda era um evento inevitável no idoso, então não era objeto de
estudos. Isso mudou muito nos últimos 20 anos (GUERRA, 2017).

A etiologia da queda pode ser identificável. Os componentes ambientais e


fisiológicos alterados são os mais fáceis de serem identificados. Uma queda é
resultado de uma miríade de interações entre ambiente, morbidades, sistema
sensorial prejudicado, bem como sistemas vestibular, proprioceptivo e motor.

45
Segundo Guerra, no estudo dos mecanismos e da interação dos sistemas
ligados à manutenção da postura e do equilíbrio, conclui-se que 2 fatores devem
acontecer: perturbação do equilíbrio e falha do sistema de controle postural na
compensação, itens que podem ser mais detalhados e estudados em seus
pormenores, porém nossa ênfase será na identificação de fatores de risco e na
tentativa de prevenção de quedas.

25 EPIDEMOLOGIA

Para Kuchemann (2012) citado por Borges (2013) atualmente a faixa etária
80 anos e mais é composta por 2.935.585 pessoas (IBGE. 2011), o que
representa 14% da população idosa.

A queda é um evento súbito e por isso, como indicador epidemiológico, é


estimada em taxa de incidência (número de casos novos por ano). Quadro abaixo –
Percentual de incidência de quedas dos idosos por faixa de idade.

Estudos prospectivos (estudos que analisam uma comunidade por um


determinado período de tempo) Dados Norte – Americanos apontam para 16.000
óbitos secundários a quedas no ano. Cerca de 1/3 dos idosos acima de 65 anos cai
anualmente, e, acima dos 80 anos, o risco chega à 50%. Acredita - se que o custo
anual do tratamento das fraturas de quadril chegue a US$ 10 bilhões, e cerca de 90%
das fraturas de quadril são causadas por quedas (GUERRA, 2017).1

Um estudo transversal em 7 estados brasileiros mostrou prevalência de queda


em torno de 35% para homens idosos e de 40% para mulheres idosas, e um estudo

46
americano com cerca de 150.000 idosos mostrou 5,3% de internações decorrentes de
lesões por quedas, evento mais comum em mulheres. É animador saber que os idosos
mais saudáveis caem menos. A Caderneta da Pessoa Idosa é um instrumento que
ajuda a identificar os idosos que caem com mais frequência, principalmente, nos
últimos 12 meses.

Esses dados são interessantes, pois refletem um pouco da realidade brasileira.


Em idosos asilados, 50% estão sujeitos a quedas e a prevalência média nas
instituições é de cerca 43%. Essas estatísticas nos confirmam a impressão de que
quanto pior a capacidade funcional, maior o risco de quedas. Os idosos asilados
apresentam maior limitação de movimento e marcha e, por isso, maior chance de cair.
Como consequência da queda pode haver a hospitalização que é mais frequente na
faixa etária mais elevada.

Nessas instituições, a prevalência de quedas é maior (cerca de 43%) o


1ambiente em que mais acontece é o quarto, e fatores como depressão, número de
medicações e etnia caucasiana estão relacionados com maior probabilidade. Mais da
metade das quedas ocorre dentro de casa, porém a taxa aumenta em instituições ou
hospitais. O risco de lesão também é maior fora do domicílio.

As quedas podem provocar sintomas de ansiedade e depressão. A perda de


confiança na capacidade de deambular com segurança pode resultar em piora do
declínio funcional, depressão, sentimento de inutilidade e isolamento social. Após a
queda, o idoso pode restringir sua atividade por precaução, dor ou incapacidade
funcional. A fratura de fêmur é o exemplo mais importante desse declínio funcional
que é encontrado também em outras fraturas, gerando um grande impacto negativo
na independência. A reabilitação pós-queda pode ser demorada e pode haver
acamamento prolongado, levando a complicações maiores ainda, como
tromboembolismo venoso, úlceras por pressão e incontinência urinária. O idoso mais
restrito pode demandar um tempo maior do seu cuidador, acarretando problemas de
relacionamento. Os “caidores” apresentam maior institucionalização.

47
26 FATORES RELACIONADOS A QUEDAS

Fonte:media.rtp.pt

As fraturas são resultados de 5% a 10% das quedas, sendo que 1 % á 2%


são fraturas de colo de fêmur, e esta tem um custo pessoal, familiar e
socioeconômico altíssimo. Quando investigadas 90 % delas são resultados
de uma queda e, quando invariavelmente as pessoas são hospitalizadas e a
maioria sofre intervenção cirúrgica. Dos outros tipos de fratura, mais da
metade ocorre nos membros inferiores ou superiores, mas fraturas também
importantes são as de costelas, pelve, face e crânio. Felizmente fratura de
coluna vertebral. Em um ano 40% desses idosos ou morrem ou vão para casa
de repouso. (Paschoal, Lima 2006; apud Borges, 2016).

Vários estudos apontam para um aumento do risco de quedas com o aumento


da idade e relacionado também a mulheres. A maioria dos fatores é interdependente
e a combinação destes é mais importante do que cada um analisado separadamente.
Por exemplo: idade e função cognitiva, confusão mental e dependência, doença
neurológica e distúrbio de marcha. Há relação também com algum grau de
comprometimento nas atividades de vida diária, (AVD) presença de várias doenças
clínicas e viver só ou passar a maior parte do tempo sozinho. Sintomas psicológicos,
como depressão e ansiedade, também são fatores de risco. (SAMPAIO, 2006).

48
De acordo com o mesmo autor, há uma confluência de fatores que aumentam
o risco de quedas. Mesmo que a pessoa ainda não tenha caído, você pode identificar
se ela está correndo um risco maior de cair. Esta informação é a missão principal do
estudo deste tema: identificar e prevenir. A maioria das quedas ocorre durante o dia e
somente 20% à noite. É mais comum dentro de casa nos cômodos mais utilizados
(quarto e banheiro). Assim, podemos inferir que não só há um perfil de idoso mais
propenso a quedas, como há um cenário mais comum no qual ocorre o evento.

Podemos classificar os fatores contribuintes para as quedas como:


Intrínsecos – são aqueles relacionados ao indivíduo, levando à instabilidade
postural. São responsáveis por cerca de 70% dos incidentes de queda.
Extrínsecos – são aqueles relacionados ao ambiente que cerca o indivíduo.
São responsáveis por 30% dos incidentes de queda.

Fatores intrínsecos

Alterações ligadas ao envelhecimento

Uma das mais importantes mudanças da idade é a diminuição da velocidade


de integração central dos mecanismos envolvidos no reflexo postural. Ou seja, a
resposta neurológica e, consequentemente, motora aos estímulos está lentificada. As
alterações descritas a seguir compõem o quadro das alterações ligadas à idade que
predispõem o indivíduo idoso a quedas: diminuição da visão e da audição, distúrbios
vestibulares, distúrbios da propriocepção, aumento do tempo de reação, hipotensão
postural, degeneração articular, diminuição da massa muscular, sedentarismo,
deformidades dos pés, perda da massa muscular (diminuição do tamanho e da
quantidade de fibras musculares), aumento de colágeno muscular (fibrose muscular)
e perda das fibras nervosas de condução rápida.
Estas alterações conferem uma marcha característica da pessoa idosa ou
marcha senil, caracterizada por:
 Base alargada
 Diminuição do balanço dos braços
 Postura encurvada
 Flexão de quadril e joelhos

49
 Dificuldade para retornar
 Passos curtos
 Lentidão

Doenças específicas

Há uma forte relação entre distúrbio de equilíbrio e marcha e quedas. Por isso,
doenças neurológicas – como hematoma subdural, demência, doença de Parkinson,
acidente vascular encefálico (AVE), delirium, neuropatia periférica, epilepsia,
traumatismo craniencefálico (TCE), tumores do sistema nervoso central (SNC) e
labirintopatia – podem afetar o equilíbrio e a marcha e serem fatores de predisposição
a quedas. Algumas doenças clínicas também podem ocasionar quedas, dentre elas:
doença coronariana (DAC), insuficiência cardíaca (IC), síncope de origem
cardiogênica, hipertensão arterial (HAS), arritmia, insuficiência vértebrobasilar,
hipotensão ortostática, desidratação, insuficiência renal (por deficiência de vitamina
D), síndrome vaso-vagal, sangramento oculto, hipo e hiperglicemia, hipo e
hipertireoidismo, distúrbios hidroeletrolíticos, infecções, depressão, anemia,
hipotermia, alcoolismo, incontinência urinária, doença pulmonar e embolia pulmonar.
Não podemos esquecer que maus-tratos, principalmente em pacientes demenciados,
podem estar arrolados neste processo. Qualquer doença aguda pode diminuir
transitoriamente a perfusão cerebral e aumentar a possibilidade de perda de
consciência e quedas. Você pode perceber que devemos investigar as doenças
clínicas na abordagem do paciente que apresente quedas.

Medicamentos

As medicações possuem importante papel na origem das quedas, não só por


seus efeitos intrínsecos, mas por alteração da farmacocinética e farmacodinâmica
causada pela idade. Esta se dá por alteração da gordura corporal (aumento de 35%),
diminuição do metabolismo renal e hepático. Vários estudos associam uso de
medicamentos a quedas. As classes incluem drogas:
 Psicoativas,
 Cardiovasculares e vasodilatadores,
 Uso de mais de quatro medicações (poli farmácia).

50
Os benzodiazepínicos e neurolépticos são mais constantemente implicados no
risco de quedas e os antidepressivos também. O uso de álcool aumenta o risco de
quedas, mas não há associação com as lesões. Resumindo, as drogas psicoativas
têm um efeito de lentificação da resposta, sonolência, hipotensão postural e outros
efeitos anticolinérgicos, como visão turva. Já os anti-hipertensivos podem aumentar a
chance de queda por hipotensão postural. É de vital importância que você entenda os
efeitos colaterais que ocorrem com as medicações para correlacionar com o risco de
quedas e verificar qual medicação usada pelo paciente pode ser mais nociva.
Algumas considerações em relação ao perfil do cuidador:

 Indivíduos entre 75 e 84 anos que necessitam de ajuda para AVD têm


possibilidade de quedas 14 vezes maior do que os independentes.
 Não conseguir levantar-se sem assistência em menos de cinco minutos
após a queda, aumenta o risco de hospitalização ou, até mesmo, de
óbito. Aqueles que conseguem se levantar estão em melhores condições
físicas.
 Fatores extrínsecos
 Riscos ambientais
 Tipos de movimentação executada pelo indivíduo.

Mais de 70% das quedas acontecem em casa, principalmente no quarto, na


cozinha, no banheiro e na sala de jantar. Alguns trabalhos demonstram que 10% das
quedas ocorrem em escadas, especialmente ao descer, sendo o primeiro e o último
degraus, os mais perigosos. O simples fato de abrir uma porta já é fator de risco para
queda, pois houve uma mudança de ambiente e, como há uma dificuldade de visão
de profundidade, pode acarretar uma queda. O idoso também pode se colocar em
risco de cair ao subir em bancos e usar calçados inadequados. A seguir,
apresentamos uma lista dos principais obstáculos a uma deambulação segura em
casa.

Riscos nas áreas comuns da casa


 Iluminação inadequada
 Tapetes soltos ou com dobras
 Degraus altos ou estreitos

51
 Ausência de corrimão
 Obstáculo no caminho
 Piso irregular
 Fios soltos no chão
 Acúmulo de mobília
 Riscos nos aposentos
 Camas e cadeiras com altura inadequada
 Telefones pouco acessíveis
 Prateleiras excessivamente altas ou baixas
 Riscos no banheiro
 Piso escorregadio
 Falta de barras de apoio Vaso sanitário baixo.

Em 1998, um estudo avaliou se os fatores de risco ambiental doméstico


aumentam as chances de lesões provocadas por quedas entre idosos da comunidade.
Nesta avaliação, foram considerados: presença de tapetes, acúmulo de móveis ou
objetos, fios no chão, interruptores mal posicionados, gavetas ou prateleiras muito
baixas (< 70cm) ou muito altas (acima do nível dos olhos), ausência de barra de apoio
nos banheiros, altura do vaso sanitário e uso de piso antiderrapante no boxe. Foram
realizadas entrevistas com idosos com história de quedas usando questionário para
registrar o ambiente doméstico, o histórico, o estado mental, as circunstâncias da
queda e o uso de medicamentos. Por meio deste estudo foram encontradas as
seguintes conclusões:

 Local mais frequente de quedas: quarto.


 Relação da queda com algum fator de risco ambiental: 20,9%.
 Possível utilidade de intervenção de estrutura física: barra de apoio e
piso antiderrapante no banheiro.

52
Fonte:portalamigodoidoso.com.br

Por fim, vimos que os riscos ambientais existem, mas há uma baixa correlação
com a queda. O importante é preparar o idoso para os riscos do meio ambiente.

53
Fonte:www.filhao.com.br

54
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