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Neuropsicologia

Aula 1 – Conceito e
Funções
Neuropsicológicas

Ananaira Goulart
Psicóloga
Neuropsicóloga
Doutora em Ciências - FMUSP
O que é a Neuropsicologia?
É um ramo de especialização da
psicologia que nos permite avaliar e
reabilitar as funções neuropsicológicas
de um paciente.
 O objetivo da neuropsicologia é atuar na
promoção de uma melhor qualidade de
vida, auxiliando na melhor inserção do
indivíduo no seu contexto social.
O que é a Neuropsicologia?
O olhar clinico desenvolvido a partir dos
atendimentos é fundamental, pois
grande parte da atuação é voltada para
diagnóstico.
 Dominar o conhecimentos como:
transtornos de aprendizagem, TDAH, TEA,
TPAC, testes, funções neuropsicológicas,
por exemplo, será imprescindível para o
bom desempenho da função.
O que é a Neuropsicologia?
 Esta ainda é uma área pouco
conhecida, mesmo dentro da área da
saúde, muitos pais enfrentam a
dificuldade dos filhos sem saberem que
existe esse recurso.
 É também, uma especialidade de difícil
acesso, a maioria dos convênios não
cobre este tipo de atendimento e as
avaliações particulares são caras.
Qual o papel do Neuropsicólogo?
 Para atuar na área é necessário realizar o
curso de especialização que tem em
média duração de 2 a 3 anos,
dependendo da instituição.
 É necessário todo esse tempo pois será
preciso ter domínio da administração dos
testes e treino para levantar diagnósticos
diferenciais.
Qual o papel do Neuropsicólogo?
 O profissional irá realizar inicialmente uma
avaliação neuropsicológica, para
compreender quais são as dificuldades do
paciente e posteriormente, pode, fazer o
treino das funções comprometidas, ou seja a
reabilitação neuropsicológica.
 A maioria dos pacientes que buscam esta
área são crianças, portanto é importante
que o profissional se sinta a vontade com o
atendimento deste público e que tenha
desenvoltura para falar com os pais.
Funções Neuropsicológicas
O nosso cérebro é um emaranhado de
conexões neurológicas que permitem a
execução das nossas funções cerebrais.
 Um ramo dessas funções, são as funções
neuropsicológicas, que estão
intimamente envolvidas com todo nosso
processo de aprendizado e execução de
comportamento.
Funções Neuropsicológicas
 Para compreender melhor o papel de
cada função é importante compreender
alguns mecanismos cerebrais. Por isso
vamos estudar os lobos cerebrais.
 Os lobos cerebrais estão localizados no
córtex, a camada mais externa do
cérebro, composto pela massa cinzenta,
onde ocorre o processamento neural
mais sofisticado.
Lobo Frontal
 Responsável pelo planejamento das
ações e movimento.
 Abriga muitas características de
personalidade.
 Área de Broca: responsável pela parte
mecânica da fala.
 Funções Neuropsicológicas: atenção e
funções executivas.
Lobo Parietal
 Possui2 subdivisões, anterior e posterior.
 A anterior é responsável pela recepção
das sensações, é a parte
somatossensorial.
 A posterior processa as informações
recebidas pela parte anterior e nos ajuda
na localização tempo/espaço a partir
das sensações.
Lobo Temporal
 Responsável pelo gerenciamento da
memória;
 Abriga a área de Wernicke, responsável
pela compreensão da linguagem;
 Funções neuropsicológica: memória e
linguagem.
Lobo Occipital
 Responsável pelo processamento visual.
 Funções Neuropsicológicas:
visuoconstrução e visuopercepção.
Sensações Atenção e Função Executiva

Visuoconstrução e Visuopercepção
Memória e Linguagem
Atenção
É a porta de entrada do cérebro, toda
informação entra pela atenção ou pelas áreas
sensórias.
 Atenção Seletiva: capacidade de se
concentrar (concentração).
 Atenção Alternada: capacidade de alternar
o foco de atenção de um estímulo para
outro.
 Atenção Dividida: capacidade de dividir
atenção em dois estímulos ou mais.
Memória
É a capacidade de reter, armazenar e evocar uma
informação.
 Memória Imediata: armazenada numa média de
20s. Ex.: gravar um número para digitar no celular.
 Memória de curto prazo: armazenamento médio
de 1 minuto. Ex.: uma receita nova.
 Memória de longo prazo: armazenamento maior
que 20 minutos.
 Memória operacional: memória de curto prazo
utilizada nas operações matemáticas e lógica.
Linguagem
É a capacidade de compreender e se
comunicar utilizando a linguagem falada e
corporal.
 Nomeação;
 Repetição;
 Gramática;
 Fluência;
 Compreensão.
Visuopercepção e
Visuoconstrução
É a capacidade de percepção e
construção visual. Ex: perceber o espaço,
ser capaz de se organizar no espaço e se
colocar no espaço.
 as duas funções se complementam,
sendo que uma nos permite perceber
visualmente o meio e a outra nos permite
construir mentalmente imagens e locais.
Funções executivas
São as funções mais aprimoradas do
cérebro. Nos permite ser funcional dentro
de um meio social.
 Velocidade do processamento.
 Pensamento.
 Controle inibitório.
 Planejamento e organização.
 Flexibilidade mental.
 Calculo (memória operacional)
Dúvidas
Amanhã falaremos sobre os pontos
relevantes de uma avaliação
neuropsicológica.

Obrigada!
Neuropsicologia
Aula 2 – Avaliação
Neuropsicológica

Ananaira Goulart
Psicóloga
Neuropsicóloga
Doutora em Ciências - FMUSP
O que é a Avaliação
Neuropsicológica?
 É uma avaliação que utiliza testes
normatizados para avaliar as funções
neuropsicológicas de uma pessoa. Utiliza-se
as normas de correção para parametrizar tais
funções, se estão na média (ou
abaixo/acima dela) identificando qual o
grau de dificuldade numa determinada
função.
 Apenas o psicólogo pode se especializar
nesta área, pois a aplicação destes testes é
restrito ao profissional desta área.
O que é a Avaliação
Neuropsicológica?
Este tipo de avaliação exige uma média de 7 sessões
para ser realizada, que podem ser organizadas da
seguinte maneira:
1 sessão: Entrevista com os pais (pode ser feita em
mais de uma sessão se o profissional achar necessário).
Caso o paciente seja adulto, a primeira sessão é uma
sessão de anamnese com ele, para entender o
histórico e a queixa/necessidade.
2 sessão: Com a criança/adolescente. Essa deve ser
uma sessão explicativa e também de anamnese com
a própria criança/adolescente, pois ainda que seja
uma avaliação é importante estabelecer um vínculo
de confiança para as sessões que seguirão. No caso
do adulto pode-se iniciar a aplicação dos testes.
O que é a Avaliação
Neuropsicológica?
3, 4, 5 e 6 sessão: aplicação dos testes.
7 sessão: Devolutiva. No caso das crianças
e adolescentes ela deve ser feita
inicialmente aos pais e depois para a
criança /adolescente (a sessão pode ter o
tempo dividido ou pode ser feito em duas
sessões). No caso do adulto deve-se fazer a
sessão com ele.
O que é a Avaliação
Neuropsicológica?
 A quantidade de sessões utilizadas vai depender
da velocidade de cada pessoa para realizar os
testes.
 Assim como num atendimento de psicoterapia a
aplicação dos testes exige que adequemos nossa
linguagem para cada pessoa que estamos
atendendo.
 Ser avaliado é desconfortável para a grande
maioria das pessoas, por isso levar a avaliação
com leveza e empatia é fundamental para que a
pessoa consiga ficar a vontade e ter seu melhor
desempenho.
O que é a Avaliação
Neuropsicológica?
 A entrevista inicial (anamnese) é de extrema
importância, pois a partir dela já é possível
levantar uma hipótese diagnóstica e
selecionar testes que colaborem melhor para
fazer uma avaliação concisa e objetiva.
 Este tipo de avaliação serve para o
levantamento ou fechamento de
diagnóstico diferencial, ou seja,
compreender a fundo a dinâmica
neuropsicológica de um paciente e como
ela se estrutura dentro de um possível
transtorno.
O que é a Avaliação
Neuropsicológica?
 Uma pessoa com TDAH, por exemplo, não é
igual a outra, um autista, nunca será igual ao
outro, por isso que com a avaliação
neuropsicológica temos o objetivo de dar um
diagnóstico diferencial, pois essa “diferença”
será muito relevante na vida de uma pessoa.
 A partir do resultado de uma avaliação é
possível trabalhar de forma mais assertiva
para a melhora das dificuldades dessa
pessoa, melhorando assim seu desempenho
no meio que está inserido.
O que é a Avaliação
Neuropsicológica?
 Portanto, o objetivo de um neuropsicólogo é ser
uma ferramenta para facilitar o desempenho e
inserção social do paciente.
 Uma criança com dificuldades escolares, por conta
de um transtorno, um adolescente com dificuldades
de adaptação social, um jovem adulto que não
consegue ser aprovado num processo seletivo, por
dificuldades atencionais, um idoso com dificuldades
de memória que o fazem perder sua autonomia, são
exemplos de problemas onde a neuropsicologia
pode ser útil. Todas essas dificuldades podem trazer
intenso sofrimento e muitas vezes apenas um
processo de psicoterapia não será suficiente para
resolver essas questões.
O que é a Avaliação
Neuropsicológica?
 O profissional da neuropsicologia irá sempre
trabalhar em conjunto com outros profissionais. É
muito comum que a solicitação de uma
avaliação venha de um médico (neuropediatra
ou um neurologista) ou também da escola. Pode
vir de um outro profissional da saúde, como o
fonoaudiólogo, o psicólogo, o psicopedagogo.
 Trabalhar com a interdisciplinariedade será
recorrente nesta área, portanto, o cuidado com a
elaboração de um relatório após uma avaliação
é importante para que os outros profissionais que
atuam junto no caso possam compreender seus
apontamentos.
Como fazer uma Avaliação
Neuropsicológica?
 Uma avaliação é composta por uma
bateria de testes.
 Hoje temos uma série de testes para
avaliar cada função, uma relação dos
testes aprovados e em vigor pode ser
encontrada no site do CPF, como testes
favoráveis para uso
(https://satepsi.cfp.org.br/testesFavoravei
s.cfm).
Como fazer uma Avaliação
Neuropsicológica?
 Cada avaliação será adequada a idade
que você está avaliando, pois existem
testes diferentes para cada faixa etária,
mas tem domínios que precisam ser
avaliados em todos os casos.
 São eles: atenção, memória, linguagem,
visuoconstrução e visuopercepção,
funções executivas, cognição global,
personalidade e humor.
Como fazer uma Avaliação
Neuropsicológica?
 Você deve utilizar mais de um teste para
avaliar cada função e assim ter uma
medida confiável.
 Também é possível utilizar recursos que
vão te dar dados qualitativos para sua
avaliação (os testes validados te darão
dados quantitativos), esses recursos
podem ser jogos, brincadeiras, tarefas,
ditado, desenhos livres, e até mesmo
testes que não são validados no Brasil.
Avaliando Atenção
A atenção deve ser muito bem avaliada
pois ela é base para todas as outras
funções. Déficits de atenção irão
acarretar outras dificuldades, como
memória e funções executivas.
 É importante avaliar os 3 tipos de
atenção, a concentrada (seletiva),
alternada e dividia, pois cada uma terá
reflexo em uma gama de atividades do
indivíduo.
Avaliando Atenção
 Testes utilizados para atenção são o BPA,
Teste AC Bateria de Rotas de Atenção,
Cancelamento de Sinos, Coleção de Testes
de Atenção.
 Em todo jogo ou brincadeira que você é
possível observar a atenção. Por exemplo,
numa simples explicação sobre um jogo, no
discurso do adulto, olhando o caderno de
matérias de um adolescente. Essas tarefas
não te darão informações quantitativas a
respeito da atenção, mas te darão indícios
de um possível problema.
Avaliando Memória
 A memória também tem vários domínios e é
importante avaliar todos eles.
 Se a pessoa vem com uma queixa de
memória é importante avaliar bem a
atenção, muitos problemas que aparecem
como memória são na verdade déficits
atencionais.
 Aqui além dos testes é possível utilizar jogos
da memória, contação de histórias e relatos
de fatos vividos.
Avaliando Memória
 Os
testes favoráveis são RAVLT, Figuras
Complexas de Rey, Memória de Faces.
Avaliando Linguagem
 A linguagem pode ser verbal e não verbal.
 Pessoas que se enquadram no Transtorno do
Espectro Autista, por exemplo, podem ter
uma linguagem verbal bem elaborada, mas
muita dificuldade na linguagem não verbal.
 Ouvir o discurso do paciente é uma maneira
excelente de avaliar a linguagem de forma
qualitativa. A frase tem começo, meio e fim?
A pessoa consegue voltar a uma ideia
central, após uma intervenção? Qual o
conteúdo do discurso?
Avaliando Linguagem
 Os testes para avaliar linguagem são
Wisc-IV, Neupsilin, que tem subtestes de
linguagem.
 Não temos nenhum teste favorável
atualmente que seja especifico para
linguagem. Temos o Boston, mas não e
um teste validado para a população
brasileira.
Avaliando Cognição Global
 A cognição global é avaliada por testes que
te dão um resultado de QI.
 QI é o quoeficiente de inteligência, ou seja, o
nível de inteligência de uma pessoa.
 Entender o QI de uma pessoa é fundamental
dentro de uma avaliação neuropsicológica,
pois isso nos diz da reserva cognitiva da
pessoa, ou seja, qual a capacidade de
reorganização neuropsicológica.
Avaliando Cognição Global
O QI é classificado da seguinte maneira:
Avaliando Cognição Global
 Uma pessoa com QI limítrofe ou inferior terá
muito mais dificuldade de recuperar o pleno
funcionamento de suas funções num
processo de reabilitação, enquanto que
alguém com QI superior pode facilmente
compensar certas dificuldades com outras
habilidades.
 Entender o QI facilita para uma melhor
elaboração de plano de trabalho com
aquela pessoa, e até mesmo na adequação
de linguagem que deverá ser utilizada para
uma melhor compreensão.
Avaliando Cognição Global
 Alguns testes para avaliação da
cognição global são o WISC-IV, TIG-NV,
R1, R2, Matrizes Avançadas de Raven,
Matrizes Progressivas Coloridas de Raven.
Avaliando Personalidade e
Humor
 Aqui temos outro ponto fundamental. A
avaliação do humor pode influenciar
todo o resultado de uma avaliação.
 Se uma pessoa está deprimida, suas
funções neuropsicológicas estarão
rebaixadas e a maioria dos testes terá seu
resultado alterado.
Avaliando Personalidade e
Humor
 Um humor deprimido faz com que a atenção da
pessoa esteja voltada para seus próprios
pensamentos e devaneios, e como já estudamos,
a atenção é a porta de entrada de todas as
informações, se esta porta estiver fechada,
nenhuma informação nova será assimilada.
 Por isso, avaliar o humor da pessoa é tão
importante, se não for feito, você corre o risco de
encontrar uma série de déficits, onde o que
ocorre na verdade é uma depressão, e que
sendo tratada, reabilita as funções rebaixadas.
Avaliando Personalidade e
Humor
 Avaliar a personalidade do paciente também é
muito esclarecedor e imprescindível dentro de um
diagnóstico diferencial.
 Compreender a dinâmica psíquica desta pessoa
vai colaborar na compreensão do caso de
maneira geral e também facilitar um tratamento
adequado na fase de reabilitação.
 As características de personalidade podem ser
avaliadas pelo olhar clínico treinado e não
necessariamente precisa ser utilizado um teste
para isso.
Avaliando Personalidade e
Humor
 Os testes de humor são em sua maioria
escalas e questionários, como A Escala
Baptista de Depressão, Escala de
Pensamento Depressivos, Escala de
Estresse para Adolescentes, Inventário de
Depressão de Beck.
 Os testes de personalidade são o HTP, As
pirâmides de Pfister, Bateria Fatorial de
Personalidade, Rorschach Clinico, Quati,
Teste Palográfico, CAT, TAT.
Avaliando Função Executiva
 Como já visto na aula anterior as funções
executivas englobam uma série de fatores que
permitem a execução de tarefas refinadas como
velocidade do processamento, controle inibitório,
planejamento e organização e flexibilidade
metal.
 Uma pessoa com dificuldades executivas tem
problemas na execução correta de suas tarefas,
que podem aparecer como lentidão, grande
número de erros, esquecimentos, discurso
incompreensível, rigidez, comportamento
impulsivo, entre outros. São questões que, de
acordo com o grau, podem fazer com que uma
pessoa seja disfuncional.
Avaliando Função Executiva
É um grande desafio avaliar a função
executiva, por se tratar de áreas tão
refinadas, é difícil termos testes que
tenham tamanha sensibilidade.
 Podemos utilizar de outros testes, para
observar qualitativamente alguns
aspectos das funções executivas, como
por exemplo, observar o controle
inibitório no desempenho de um teste de
atenção.
Avaliando Função Executiva
 Os testes favoráveis que temos para
avaliar as funções executivas são o Teste
do Relógio, o Teste de Winsconsin e o D2.
 Podemos utilizar a Torre de Hanói como
avaliação qualitativa.
Avaliando Visuoconstrução e
Visuopercepção
 Esses dois processos estão relacionados
com a nossa percepção visual, portanto,
todo teste que utilize esse recurso pode
ser utilizado para avaliar qualitativamente
essas duas funções.
 Jogos e tarefas que proponham
organização e construção espacial, são
válidos também para somar nesta parte
da avaliação.
Avaliando Visuoconstrução e
Visuopercepção
 Testes como o Desenho do Relógio,
Cancelamento de Sinos, Desenho da
Figura Humana, Trilhas Coloridas, Teste de
5 dígitos e Bender podem ser utilizados
para avaliação dessas funções.
Considerações
 Fazer uma avaliação é um processo
trabalhoso, e após feita tem a etapa de
correção dos testes e elaboração do
relatório.
 Os testes podem ser reaplicados num
intervalo de 6 meses.
 Reavaliações devem ser feitas após um
processo de reabilitação, para avaliar os
ganhos obtidos com o processo.
Dúvidas
Amanhã falaremos sobre o processo de
reabilitação neuropsicológica.

Obrigada!
Neuropsicologia
Aula 3 – Reabilitação
Neuropsicológica

Ananaira Goulart
Psicóloga
Neuropsicóloga
Doutora em Ciências - FMUSP
O que é a Reabilitação
Neuropsicológica?
É uma estimulação das funções
neuropsicológicas, focando nas funções
comprometidas, mas com o intuito de
trabalhar a parte neuropsicológica de
maneira geral.
 Tem por objetivo a melhora dessas
funções de maneira de favoreça a
qualidade de vida, bem estar e inserção
social.
O que é a Reabilitação
Neuropsicológica?
 O processo de reabilitação pode ser feito por
outros profissionais além do neuropsicólogo,
como o psicopedagogo e o terapeuta
ocupacional, desde que esses tenham
formação para tal.
 Aqui estamos falando de um tratamento,
que não terá um número fechado de sessões
como a avaliação. O ideal é que se faça no
mínimo 6 meses de estimulação e
posteriormente se faça uma reavaliação.
O que é a Reabilitação
Neuropsicológica?
 Para que se faça um bom trabalho de
reabilitação é necessário que o paciente
tenha feito uma avaliação anterior, pois
precisamos do relatório para compreender
quais funções precisam ser trabalhadas e
para que se possa montar o plano de
reabilitação.
 Você mesmo pode ter feito a avaliação ou o
paciente ter feito com outro profissional, se
esse for o caso, você pode entrar em
contato com esse profissional para alinhar
informações e tirar dúvidas.
Como fazer a Reabilitação
Neuropsicológica?
 Aqui a primeira sessão também será de
coleta de informações, você pode solicitar
que o paciente envie o relatório previamente
para que você estude e já vá para a
primeira sessão com alguns questionamentos.
 É sempre importante compreender qual é a
dificuldade que aqueles comprometimentos
acarretam no dia a dia daquele paciente,
independente da faixa etária.
Como fazer a Reabilitação
Neuropsicológica?
 Após a primeira sessão você irá montar o
plano de reabilitação, que consiste em
identificar, pelo relatório, as funções
comprometidas e também as mais
desenvolvidas.
 É importante identificar quais são as
aptidões desse paciente, pois usar o que
ele gosta e faz bem, será um bom
caminho pra trabalhar o que ele tem
mais dificuldade.
Como fazer a Reabilitação
Neuropsicológica?
 No caso de adultos, você pode explicar a ele
como será o processo de reabilitação no fim
da primeira sessão ou no inicio da segunda.
Após a explicação, se iniciam as tarefas.
 Para crianças damos a orientação aos pais e
depois para a criança.
 É muito importante que a pessoa entenda
qual a função da reabilitação.
 Reabilitação não é psicoterapia, mas
psicoterapia pode ser uma forma de
reabilitação.
Como fazer a Reabilitação
Neuropsicológica?
 Vamos estudar como estruturar uma
sessão de reabilitação.
 Vamos considerar uma sessão de 50
minutos e dividi-la em 3 etapas.
 1 etapa – 10 minutos iniciais.
Tarefa de nível fácil, com temas que sejam
de interesse do paciente e que trabalhem
funções que não esteja com grande
comprometimento.
Como fazer a Reabilitação
Neuropsicológica?
2 etapa – 30 minutos
Tarefa de nível difícil, que trabalhe as
funções comprometidas.
 3 etapa – 10 minutos finais
Tarefa de nível médio, que seja um desafio
possível e possa dar motivação. Também é
interessante finalizar com exercícios de
relaxamento e respiratórios.
Como selecionar as tarefas?
 Devemos selecionar as tarefa de acordo com
a necessidade e conhecimento do paciente.
 Podemos utilizar jogos, brincadeiras, tarefas,
atividades e até mesmo alguns testes.
 Na grande maioria das vezes o paciente tem
mais de uma função comprometida e os jogos
também são capazes de trabalhar mais de
uma função por vez, por isso, adequar cada
jogo a necessidade do trabalho será
fundamental.
Como fazer a Reabilitação
Neuropsicológica?
 Exemplo.
 Um paciente de 10 anos tem
comprometimentos nas funções de
atenção e de função executiva,
principalmente controle inibitório e tem
bastante facilidade com organização
visual, gosta de desenhar, tem ótima
visuoconstrução e visuopercepção.
Como fazer a Reabilitação
Neuropsicológica?
 Para as tarefas de nível fácil posso usar “jogos”
que trabalhem e envolvam percepção visual e
desenho, como quebra cabeças e desenho
dirigidos.
 Para as tarefas de nível difícil, usar “jogos” que
trabalhem a atenção e controle inibitório, como
gênios, bopit, UNO, rouba monte, lince.
 Para as tarefas de nível médio usar tarefas de
continuidade, montar um quadro com os
desenho dentro de uma mesma linha de
raciocínio, um pôster, uma pasta de desenho,
uma caixa de material para desenho.
Jogos para trabalhar
atenção
 Como já falamos anteriormente a atenção é
uma das funções mais importantes do nosso
sistema neuropsicológico e é importante que
sempre seja trabalhada em todas as sessões.
 A grande maioria dos pacientes virá com
alguma alteração atencional.
 E também a maioria dos jogos tem a
exigência da atenção, o que facilita a
estimulação constante dessa função.
Jogos para trabalhar
atenção
 Lince
 Bopit
 Gênios
 Xadrez
 Damas
 Jogo dos 7 erros
 Batalha naval.
Jogos para trabalhar
Memória
 Jogo da memória
 Perfil
 Sudoku
 Xadrez.
Jogos para trabalhar
Linguagem
 Ditado
 Estórias (ler, escrever, desenhar)
 Encenação teatral
 Estórias com bonecos
 Cruzadinha
 Rimas
 Paródias
 Mímica.
Jogos para trabalhar Visuoconstrução
e Visuopercepção
 Quebra cabeça
 Jogo da memória
 Dama
 Xadrez
 Jogos da tabuleiro
 Sudoku
 Caça palavras
 Dominó
 Cilada.
Jogos para trabalhar
Funções Executivas
 Jenga
 Pula pirata
 Jogo da vida
 Banco imobiliário
 Amarelinha
 Vivo ou morto
 Imitação
 UNO
 Jogos de cartas
 Rouba monte
 WAR
 Música
 Bopit
 Cilada.
Orientações
 É fundamental que o paciente entenda
porque estamos utilizando aquele jogo,
explicar quais funções estão envolvidas e
como elas serão estimuladas fará grande
diferença na evolução do processo.
 Fazer correlações do jogo com situações do
dia a dia, explicando que são as mesmas
funções utilizadas fará o paciente entender a
seriedade do trabalho, e que não se trata de
ir ao consultório para brincar.
Orientações
 A estimulação, por meio do processo de
reabilitação, possibilita que aquela função
com comprometimento seja treinada, e
como qualquer parte do corpo, quando
treinada ela melhora seu desempenho.
 O melhor desempenho destas funções levará
a mais facilidade para realização de tarefas,
mais autonomia, elevação da auto-estima,
melhor qualidade de vida e inserção social.
Dúvidas
Amanhã faremos um estudo de caso,
colocando na prática as questões que
estudamos sobre a avaliação e a reabilitação.

Obrigada!
Neuropsicologia
Aula 4 – Estudo de Caso

Ananaira Goulart
Psicóloga
Neuropsicóloga
Doutora em Ciências - FMUSP
Relato
 Esposa do paciente entrou em contato buscando
avaliação neuropsicológica por indicação de uma
psicóloga e orientação dos médicos. A primeira sessão
foi agendada com a esposa, pois o paciente estava
com dificuldade de mobilidade.
 Paciente X, 35 anos, sofreu um acidente de carro com
lesão nos lobos frontais e occipitais. Ficou em coma por
2 meses, 1 mês de recuperação no hospital e voltou
para a casa a 1 mês. A 1 mês recuperou a capacidade
de fala, após a volta do coma, não conseguia falar.
Atualmente estão morando na casa da mãe do
paciente para facilitar os cuidados, teve perda de
movimentos do lado esquerdo e esta em desorientado.
Os médicos avisaram a família que havia possível
comprometimento cognitivo e recomendaram
tratamentos para isso. E assim a paciente chegou ate
mim.
Relato
 Paciente casado a 10 anos, tem um filho de 2 anos,
coordenador da área de gestão de qualidade da
empresa que trabalhava. Corria maratonas de triátlon
e falava 3 línguas (português, espanhol e inglês e
estava aprendendo francês e alemão). Ativo físico e
intelectualmente. Viajava bastante com a família.
 Esposa relatou no primeiro contato que o marido não
estava falando coisa com coisa, que estava
desorientado e que parecia outra pessoa, que não se
lembrava de coisas mais recentes, como por exemplo
do nascimento do filho.
 Combinamos os detalhes práticos do processo e
agendamos o próximo encontro com o paciente.
Hipótese e Preparação para
Avaliação Neuropsicológica
 Informações mais relevantes:
1. Sofreu acidente de carro;
2. Lesão nos lobos frontal e occipital;
3. Perda de fala temporária;
4. 2 meses em coma (curva de Glasgow);
5. Perda de mobilidade do lado esquerdo;
6. Está desorientado e parece outra pessoa.
7. Dificuldades de memória de fatos mais recentes.

 Comprometimentos nas funções atenção, funções


executivas, visuopercepção e visuoconstrução,
memória. Linguagem recuperada.
Sessão com o Paciente
 No primeiro encontro com o paciente, levei apenas
um questionário de cognição global (TICs, Minimental)
e me coloquei a ouvir o relato do próprio paciente.
 Ele não se lembrava do acidente e por vezes achava
que estava na Bahia, numa viagem a trabalho (em
conversa com a esposa, ele havia feito essa viagem
cerca de 5 anos atrás). Não se dava conta da situação
que estava vivendo e repetia muitas vezes as mesas
coisas que acabava de ter dito.
 Recordava bem de sua historia de vida até seu
casamento (5 anos atrás), após isso não recordava. Em
momentos se apresentava com mais lucidez, lembrava
que tinham contado para ele do acidente, em
momentos não.
Sessão com o Paciente
 Na realização do questionário o paciente teve
dificuldades de orientação (data e local) e bastante
dificuldade para realização da atividade que exigia
destreza motora e visual. Não conseguiu fazer copia de
desenho pois não percebia o desenho.
 Aqui já foi possível identificar o real comprometimento
das funções visuoconstrutiva e visuoperceptiva,
atenção, memória e função executivas.
 Linguagem e compreensão estavam preservadas,
apenas com uma pequena lentidão na fala.
Bateria de Testes
 Preparei a bateria selecionando testes mais auditivos
do que visuais.
 Isso pelo fato do paciente estar com grande
comprometimento nas funções de processamento
visual, devido a lesão no lobo occipital.
 A cada sessão eu precisava fazer o processo de me
apresentar e explicar o que iriamos fazer, porque ele
não lembrava nem me reconhecia.
 Realizamos todos os testes numa média de 5 sessões.
Organização de Estudo
 Anotem:
Funções preservadas;
Comprometimento leve;
Comprometimento moderado:
Comprometimento grave.
Relatório
Relatório de Avaliação Neuropsicológica

Identificação:
Paciente: X
Idade: 35 anos
Lateralidade: Destro
Escolaridade: Ensino Superior Completo
Profissão: Técnico em Qualidade

História do Quadro Clínico e Queixa


Paciente casado a 10 anos, com filho de 2 anos, trabalhava na área de
qualidade, ativo fisicamente, praticava natação e fazia travessias no mar,
lecionava e é pós graduado em sua área. Vítima de acidente automobilístico
com demora no socorro e diagnóstico de traumatismo cranioencefálico (TCE),
inchaço cerebral e lesão axonal. Paciente em coma por quase 2 mês e alta para
tratamento domiciliar em estado neurovegetativo após 3 meses do acidente.
Esposa buscou avaliação por a solicitação do neurologista devido a quadro de
confusão mental e graves dificuldades de memória. Atualmente paciente está
em casa, possui movimentação com auxilio, após um mês em casa voltou a falar
espontaneamente. Em tratamento com fisioterapia, fonoaudiologia, natação e
home care.
Relatório
Ítens Avaliados

Atenção
Sustentada
Comprometimento grave para atenção sustentada que é a
capacidade em manter a atenção em um determinado
estímulo. Apresenta maior facilidade para sustentar atenção
com informações numéricas e de cálculos em detrimento de
informações verbais.
Alternada
Comprometimento grave na capacidade de alternar o foco
da atenção entre dois estímulos conseguindo retornar ao
estímulo inicial.
Dividida
Comprometimento grave para a capacidade de sustentar a
atenção em dois ou mais estímulos simultaneamente.
Relatório
Memória

Memória de Curto Prazo


Comprometimento moderado para a capacidade de armazenar informações
imediatamente após a recepção da mesma e converte-la em memórias de
longo prazo.
Memória Episódica (Longo Prazo)
Paciente em estado de confusão mental, não se recorda do acidente e sua
orientação temporal dos últimos 5 anos, em média, está alterada. Reconhece
pessoas e locais, porém há momentos de confusão. Comprometimento grave
para informações pessoais, espaciais e temporais.
Memória Semântica (Longo Prazo)
Comprometimento grave para informação geral que abstraiu do meio
ambiente. Envolve memória remota, habilidade em compreender, capacidade
de pensamento associativo e fluência verbal.
Memória Operacional
É a habilidade de manipulação da informação e de reversibilidade, envolve a
capacidade de organizar e integrar lógica e seqüencialmente estímulos
complexos, compreensão da significação de uma situação interpessoal,
julgando suas implicações e antecipando suas consequências, para estas
funções o paciente esta com comprometimento moderado.
Relatório
Funções Executivas
Velocidade do Processamento
Comprometimento leve na velocidade de processar a informação recebida do meio.
Pensamento
Comprometimento grave para a capacidade de abstrair conceitos verbais a partir de
categorias distintas, raciocínio indutivo e lógico (pensamento abstrato).
Controle Inibitório
A capacidade de identificar e isolar características essenciais das não essenciais está com
comprometimento grave.
Planejamento e Organização
Sua capacidade de organização e planejamento está preservada para estímulos concretos,
porém para estímulos abstratos que exigem uma flexibilidade mental está com
comprometimento moderado devido a dificuldades na manutenção da atenção.
Flexibilidade Mental
Comprometimento grave no que se refere a flexibilidade mental, capacidade de análise de
problemas, formulação de novas hipóteses, regulação do comportamento a partir de
feedback do meio (adequação de estratégias).
Cálculo
Preservada a habilidade de utilizar conceitos numéricos de maneira simples.
Comprometimento moderado na agilidade mental e habilidade de transformar problemas
verbais em operações aritméticas.
Relatório
Cognição
Apresentou um desempenho intelectual global médio. Quando
dessecamos o desempenho intelectual, em tarefas específicas (parte verbal
e parte de execução), esse revela-se na faixa média superior para a parte
verbal e limítrofe para a parte de execução. Classificação média no que
refere a compreensão verbal, ou seja, capacidade de formação de
conceitos, raciocínio verbal, e do conhecimento adquirido do ambiente
(longo prazo). Quanto a Organização Perceptual que são as habilidades do
raciocínio perceptual fluido, processamento espacial, e da integração
visomotora, sua classificação foi limítrofe. Curva de aprendizagem
encontra-se irregular.

Visuoconstrução e Visuopercepção
Quanto a percepção do objeto, organização visual, formação de
conceitos viso espaciais, discriminação visual de detalhes, processamento
visual, velocidade perceptual e manipulativa, bem como capacidade de
orientação espacial e coordenação visomotora encontra-se com
comprometimento grave devido a hemiparesia lateral esquerda.
Relatório
Linguagem
Nomeação: preservada
Repetição: preservada
Gramática: preservada
Fluência: alteração na fluência da fala devido ao fluxo do pensamento estar com
comprometimento grave.
Compreensão: Preservada para compreensão verbal de comandos e regras, porém
com comprometimento leve para habilidade para usar julgamentos práticos nas
ações sociais, senso moral, maturidade social e capacidade de avaliar experiências
passadas.

Comportamento e Humor
Colaborou com todos os testes durante o período integral do exame, realizando as
tarefas propostas com seu melhor desempenho. Demonstra alto nível de ansiedade e
preocupações infundadas devido ao comprometimento da memória, no qual lembra
parcialmente de situações e consequentemente faz julgamentos indevidos das
mesmas.
Relatório
Conclusão
Paciente com desempenho intelectual global médio, porém com
comprometimentos graves na memória episódica e semântica (longo prazo)
principalmente dos últimos 5 anos e grave comprometimento em converter as
memórias de curto para longo prazo. Comprometimento grave nas funções
visoconstrutivas que exigem movimento ocular sacádico, assim como nas
funções de atenção, controle inibitório, flexibilidade mental, abstração do
pensamento e alterações comportamentais Desta forma é possível indicar
provável lesão nos lobos parietal, occipital e frontal.

Encaminhamentos
Manutenção dos tratamentos já iniciados, como fisioterapia, psicoterapia,
fonoaudiologia e natação. Indico tratamento em reabilitação neuropsicológica
a fim de estimular o fortalecimento dos déficits apresentados.
Reabilitação
Neuropsicológica
 Neste caso a devolutiva foi feita para a esposa e para
a mãe do pacientes que eram as atuais cuidadoras, o
relatório feito em cópias para todos os profissionais que
atuavam com ele.
 Foi também conversado com ele, mesmo
considerando sua dificuldade de retenção das
informações novas.
 A família optou por seguir com o tratamento da
reabilitação.
Reabilitação
Neuropsicológica
 Funções preservadas:
Linguagem, cognição global, cálculo, planejamento e
organização de estímulos concretos.
 Comprometimento leve;
Velocidade do processamento.
 Comprometimento moderado:
Memória de curto prazo e operacional, planejamento e
organização de estímulos abstratos (pensamento),
personalidade e humor.
 Comprometimento grave:
Atenção (concentrada, alternada e dividida), memória de
longo prazo (semântica e episódica), pensamento, controle
inibitório, flexibilidade mental, visuoconstrução e
visuopercepção.
Tarefa
Monte uma sessão, considerando o modelo que estudamos na
aula anterior e os jogos adequados para cada função.
 1 etapa – 10 minutos iniciais.
Tarefa de nível fácil, com temas que sejam de interesse do
paciente e que trabalhem funções que não esteja com grande
comprometimento.
 2 etapa – 30 minutos
Tarefa de nível difícil, que trabalhe as funções comprometidas.
 3 etapa – 10 minutos finais
Tarefa de nível médio, que seja um desafio possível e possa dar
motivação. Também é interessante finalizar com exercícios de
relaxamento e respiratórios.
Dúvidas
Coloque nos comentários seu exemplo de
sessão, amanhã vamos conversar sobre eles,
alinhar os detalhes e tirar dúvidas que tenham
ficados das aulas anteriores.

Obrigada!

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