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Brasília - DF Ano XXXI Jun-Ago 2003 Nº 207

Escoteiros do Ar
Preparando os
aeronautas do
futuro

Missão de Caça
A
A Amazônia
Amazônia sob
sob os
os
olhos
olhos vigilantes
vigilantes da
da
F
FAB
AB
Inglês perfeito
Globalizando
Globalizando oo
profissionalismo
profissionalismo
ISSN 1518-8396

Viagem à Belém
Um mundo de
tradições
Editorial
Brasília-DF Ano XXXI Jul-Set 2003 Nº 207
ISSN 1518-8396

Publicação do Centro de Comunicação Social


Prezado Leitor,
da Aeronáutica (CECOMSAER). Cartas com
críticas e sugestões ou matérias para publica- O objetivo da nossa revista é o de deixar nossos leitores bem infor-
ção devem ser enviadas para: mados sobre assuntos interessantes que, de alguma forma, digam res-
Centro de Comunicação Social da Aeronáutica peito a nossa Força Aérea. Portanto, prezado leitor, colabore conosco
Esplanada dos Ministérios - Bloco M enviando suas sugestões, como foi o caso do Sr. Walter Moreira Martins
7º andar - 70045-900 - Brasília - DF Santos, de São Paulo, que apresentou algumas idéias que já serão
Tel: (61) 313-2154 Fax: (61) 224-2210 analisadas pelo nosso Conselho Editorial.
End. eletrônico: editor.dpd@fab.mil.br
Para alcançarmos nosso objetivo, contamos sempre com fiéis cola-
Redação, diagramação, boradores. A todos eles apresentamos nossos agradecimentos, pois,
administração: além de suas atividades normais, esforçam-se para nos presentear com
Divisão de Produção e Divulgação do suas matérias tão bem elaboradas.
CECOMSAER. Circulação dirigida (no país e
no exterior). DISTRIBUIÇÃO GRATUITA.
Nesta edição, entrevistamos os pesquisadores Francisco Cristóvão
Lourenço de Melo e Pedro Paulo de Campos, do Centro Técnico
Distribuição: Divisão de Relações Públicas. Aeroespacial, sobre o projeto de blindagem de aeronaves militares
Tiragem: 30.000 exemplares que teve sua origem no trabalho feito pelo Maj.-Av. Diniz Pereira Gon-
çalves em sua graduação no Instituto Tecnológico da Aeronáutica.
Conselho Editorial: Brig.-do-Ar Anto-
nio Guilherme Telles Ribeiro, Cel.-Av. Jader da Você poderá sentir um pouco da emoção do arriscado trabalho dos
Silva Garcia, Cel.-Av. Paulo Roberto Miranda integrantes dos Esquadrões de Aviação da Base Aérea de Porto Velho
Machado, Ten.-Cel.-Inf. Ricardo Holanda ao ler a matéria A Caça na Amazônia. Imperdível.
Viana, Ten.-Cel.-Av. Antonio Carlos Alves Missões perigosas fazem parte da vida dos nossos pilotos. Mas,
Coutinho, Ten.- Cel.-Av. Valdomiro Alves podemos reduzir os riscos e aumentar as chances de sucesso das
Fagundes, e Cap.-QFO. Valdenice Pimenta de missões utilizando tecnologia de ponta, desenvolvida por brasileiros.
Araújo. Verifiquemr na matéria sobre o desenvolvimento do Sistema de Co-
Colaboradores: CECOMSAER: Maj. municações por Enlaces Digitais da Aeronáutica (SISCENDA).
Frederico, Cap. Valdenice, Ten. Everton, Ten. Mas a Força Aérea Brasileira não se preocupa somente com suas
Karina, Sgt. Cavadas, Sgt. Denise Escovino, aeronaves. Buscando qualificação para os seus profissionais, algumas
Sgt. Luiz Carlos e Sgt. Joubert. DEPED: Ten. de nossas Organizações desenvolvem um trabalho de elevação do ní-
Tavares. COMAR I: Ten. Luiz Cláudio. BANT: vel de domínio da língua inglesa. É um belo trabalho que você pode
Sgt. Marta. conferir na matéria “Pra Inglês ver”.
Diagramação: Sgt. Denise Escovino.
Não deixe de ler, também, nossa matéria sobre o câncer de próstata,
Ilustrações: Cb Ednaldo. interessante e de grande importância para o grande contingente do sexo
masculino do nosso efetivo, abordado num ótimo trabalho de pesquisa
Gráfica: Impresso e distribuído pela
do Ten. Everton.
Empresa Beni Ltda
Veja, ainda, nossa matéria de capa, que destaca os trabalhos dos
Jornalista responsável: Karina Ogo, Grupos de Escoteiros do Ar mantidos graças a profissionais voluntári-
registro profissional 26.890 MTB. os de diversas áreas.
Os conceitos emitidos nas colunas assinadas
Enfim, todas as matérias são muito interessantes: o trabalho inteli-
são de exclusiva responsabilidade de seus auto-
gente de criação dos Batalhões de Infantaria Especiais da Aeronáutica;
res. Estão autorizadas transcrições integrais ou
a harmonia entre o trabalho a preservação ecológica dos integrantes
parciais das matérias publicadas, desde que men-
do Campo de Provas Brigadeiro Velloso (CPBV) no sul do Pará; dicas
cionados o autor e a fonte e remetido um exem-
de cerimonial para o jantar formal; um pouco da história da aeronáu-
plar para o CECOMSAER. Os originais enviados
tica no Brasil; belas imagens de Belém do Pará na nossa matéria de
para publicação não serão devolvidos, mesmo
Turismo; humor; e muito mais.
que deixem de ser editados.

Tudo isso para garantir, a você, bons momentos de cultura e lazer.

Aproveite!

207 / JUL-SET 2003 1


Capa
Escoteiros do Ar: uma
lição de vida para os fãs
da aviação

10
21
Entrevista
Francisco C. L. de Melo e Pedro Paulo de Campos ..... 3

Cartas ......................................................................... 6
Acontece
......................................................................................... 7

Ultraleves .................................................................. 7

Fora de casa ......................................................... 8


15
Conheça sua Aeronáutica
Ecologicamente correto ................................................ 10

A união faz a Força ..................................... 13

O jantar está servido ..................................... 15

Memória Aeronáutica
Avião à vista!! .............................................................. 18

Saúde
18 Falando Sério .......................................................... 2 0

Turismo
Terra Pai d’ égua ...........................................................24

Pra inglês ver ...............................................................29


Sempre alerta! ..............................................................32

Cartas do Front
A Caça na Amazônia ...................................................36

Criatividade em campanha .........................................39


24 Em tempo real ..............................................................40
De novo no ar ..............................................................43
Tempo esgotado ...........................................................44

Minha Opinião
Pedagogia militar .......................................................... 46

Talento em Destaque
Às margens plácidas ................................................... 47
Casos e Causos
“Apertem os cintos, o plug sumiu!!” ..........................48
48
Caserna em Quadrinhos ..................................48

2 207
207 //JUL-SET
JUL-SET 2003
Francisco Cristovão Lourenço de Melo
e Pedro Paulo de Campos
Pesquisadores do CTA

A
partir de 2004, um exemplo sempre salvar a vida do piloto. Há uns
da capacidade tecnológica bra- quatro ou cinco anos, o Comando da
sileira estará nos ares, sobre- Aeronáutica fez uma tomada de pre-
voando principalmente a região da Ama- ços internacional de blindagem de
zônia para garantir a segurança e a so- aeronaves. O Comando tinha como
berania nacional. requisito uma blindagem capaz de re-
No ano que vem, deverão ser entre- sistir a tiro de calibre .50, mas nin-
gues à Força Aérea Brasileira as pri- guém ofereceu, ou ofereceu, a custos
meiras aeronaves AL-X equipadas altíssimos. Já havia um estudo inici-
com blindagem desenvolvida e ado no Instituto Tecnológico de Ae-
fabricada no país. ronáutica a respeito da blindagem. Era
Essa blindagem resiste a disparos de um Trabalho de Graduação, do atual-
metralhadoras de calibre .50, que po- mente Maj.-Av. Diniz Pereira Gonçal-
dem derrubar um avião. ves, em que se usava uma blindagem
O projeto originou-se do Trabalho de à base de óxido de alumínio (Al2O3).
Graduação de um aluno do quinto Esses estudos foram o princípio do
ano do Instituto Tecnológico de Aero- desenvolvimento da blindagem atual.
náutica (ITA), o atual Maj.-Av. Diniz
Pereira Gonçalves. Oito anos depois, O que motivou o desenvolvimento
o Centro Técnico Aeroespacial (CTA), desse projeto?
em São José dos Campos (SP), prepa- Francisco - O fato de o AL-X fazer Francisco Cristovão Lourenço de Melo
ra-se para repassar a tecnologia con- a patrulha da Amazônia e a necessi-
cebida a empresas que produzirão a dade de o país desenvolver e domi-
blindagem. nar essa tecnologia. Em uma possível vida, foi com o Maj. Diniz. Ele come-
O projeto iniciou-se em 1998, quan- situação de embargo, por exemplo, o çou um estudo sobre a blindagem de
do a gerência do AL-X pediu à Divi- Brasil teria capacidade de fazer a blin- aeronaves e, no IAE, eu era o
são de Materiais (AMR) do Instituto dagem. orientador dele. O fim do projeto, no
de Aeronáutica e Espaço (IAE), do CTA, é essa fase pela qual passamos
CTA, um estudo para criar um mate- Quantas pessoas trabalharam agora, de transferência de tecnologia
rial para blindar o avião. nesse projeto? para que as empresas se encarreguem
Ao todo, foram produzidos no CTA, Francisco- Diretamente, foram 13 da produção.
durante a fase de desenvolvimento, pessoas, dos quais três com nível su-
1.450 placas. Entre os integrantes da perior. Já indiretamente, a Divisão de Quantas fases foram necessárias?
equipe que participaram desse traba- Materiais inteira, pois foi um traba- Francisco- Podemos dividir nas
lho, está o Pesquisador Francisco Cris- lho conjunto, em que cada laborató- seguintes etapas: prospectiva, até o
tovão Lourenço de Melo, que conce- rio fez a sua contribuição. término do Trabalho de Graduação do
deu uma entrevista sobre o assunto, Pedro Paulo - Na Divisão são 78 ITA, em 1996, quando as necessida-
ao lado do também Pesquisador Pedro pessoas, sendo 15 doutores. des foram levantadas; inicial, quan-
Paulo de Campos, Chefe da AMR. Francisco- Para esse projeto, foi do virou mestrado; desenvolvimento,
feita até uma escala de servidores que com o estudo de vulnerabilidade, as
No que consiste o projeto? trabalhavam aos sábados e domingos. adequações de processo, a montagem
Francisco- A blindagem que de- E tinha de se fazer de uma forma que dos protótipos e os testes balísticos -
senvolvemos foi feita especificamen- não atrapalhasse os outros projetos em nesta fase, o 1º Ten.-Eng. Marco
te para ser utilizada no AL-X, avião andamento na Divisão. Fabius de Carvalho Torres foi incor-
projetado para fazer a patrulha na re- porado ao projeto; e a fase final, que
gião da Amazônia, dentro do Siste- Quanto tempo durou o projeto? é a transferência de tecnologia.
ma de Vigilância da Amazônia Francisco- Para o AL-X, especifi-
(SIVAM). Existe, ainda, nessa região, camente, o projeto começou entre Qual foi a quantia investida
a questão do narcotráfico. E o 1998 e 1999, com o nome de Projeto nesse projeto?
narcotraficante tem armamento pesa- MARIMBA (Materiais Resistentes ao Francisco- Houve um aporte do
do. Então, o objetivo da blindagem é Impacto Balístico). O início, sem dú- próprio Comando da Aeronáutica, de

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R$ 300 mil, que foi usado para des- tar comercialmente disponível até o
pesas com material de consumo, ser- final de 2004.
viços de terceiros e pagamento de en-
saios, entre outras coisas. Ficou até Como funciona o processo de
barato, porque, em dólar, não daria proteção da blindagem?
US$ 100 mil na época. Foi um custo- Francisco- O projétil acerta a pri-
benefício barato para a Nação. meira placa. Neste momento, o projé-
til se fragmenta, juntamente com seu
O que a blindagem suporta? material de composição. Em seguida,
Francisco- Um tiro de calibre .50, que o projétil perde o efeito perfurante e
é capaz de derrubar um avião e/ou matar cabe à segunda camada absorver a
o piloto. Para exemplificar, os carros blin- energia cinética residual, evitando a
dados de hoje não estão preparados para perfuração da aeronave e, conseqüen- Pedro Paulo de Campos
suportar esse tipo de munição. temente, salvando a vida do piloto.

Quanto pesa a blindagem? Como o material foi feito? O material usado em outros
Francisco- Ela pesa de 36 a 38 qui- Francisco- Grande parte da produ- países é o mesmo do CTA?
los por metro quadrado. Uma aerona- ção foi feita na Unidade Piloto de Francisco- O material é basicamen-
ve teria um pouco mais de dois Processamento de Pós. O pó dos com- te o mesmo, e a qualidade de nosso
metros quadrados blindados. A es- ponentes passa por uma moagem. De- produto é de nível igual ou até supe-
pessura da blindagem não é a mesma pois, é feita uma suspensão rior ao que existe fora do país.
em todas as partes que cobrem a ae- (barbotina), que é colocada em um
ronave. Há placas mais finas e outras equipamento denominado atomiza- A blindagem pode ser usada em
mais espessas, até para otimizar a li- dor, para produção do pó. O pó é alguma área na vida civil?
mitação de peso. compactado na forma de uma placa. Francisco- Até pode, por exem-
Essa placa passa por uma pré-queima plo, em carros-fortes ou guaritas, mas
A blindagem pode causar alguma e por uma queima final, quando a tem- seria muito cara para essas aplica-
interferência no desempenho da peratura chega a 2.000ºC em um for- ções.
aeronave? no localizado no Grupo de Processo Pedro Paulo - Em toda pesquisa
Francisco- Não, nem na parte aerodi- Metalúrgico (GPM), da Divisão de surgem subprodutos do trabalho ini-
nâmica nem em termos de peso dentro Materiais do IAE/CTA. Finalmente, é cial, que podem se tornar uma op-
da finalidade para a qual foi projetada. feita a montagem do conjunto. ção.

Que partes do avião a blindagem Qual é a espessura das placas? Já existe alguma empresa interes-
reveste? Francisco- Entre 6 mm e 12 mm. sada em fabricar a blindagem?
Francisco- Reveste as laterais e o Francisco- Várias indústrias do se-
assoalho. É tudo com base no estudo É possível uma aeronave blinda- tor aeroespacial e de blindagem se
de vulnerabilidade, em que se calcu- da que tenha sido atingida por candidataram e algumas delas estão sen-
la as partes mais suscetíveis a um disparo continuar voando? do habilitadas por uma Comissão Téc-
disparos. O assoalho é uma das par- Francisco- A blindagem sofre o nica do CTA para fabricar o produto.
tes críticas, onde o revestimento é feito impacto do tiro e pode até se defor-
na parte interna do avião. Já os reves- mar, mas o importante é ela não dei- Quais foram as emoções experi-
timentos laterais são externos, remo- xar o projétil passar. Uma aeronave mentadas pela equipe ao longo
víveis e intercambiáveis, podendo ser atingida pode continuar voando, de- do desenvolvimento do projeto?
usados em outros AL-X. Com adapta- pendendo do impacto e dos danos Francisco– A equipe sempre tra-
ções, a blindagem também pode ser causados, mas o fundamental é que balhou em harmonia, de forma que
usada em helicópteros ou outros avi- haja tempo suficiente para o piloto cada sucesso era momento de muita
ões, mas há necessidade de um estu- se ejetar, caso seja necessário. alegria, e cada insucesso um motivo
do de vulnerabilidade específico para de reflexão para aprendermos e re-
cada um. A espessura das placas va- Existe algo semelhante no mun- começarmos com mais vontade ain-
ria de acordo com esse estudo. do? da, pois sabíamos da importância
Francisco- Sim, mas a um custo deste trabalho para a FAB.
A partir de quando a blindagem muito alto quando se deseja impor-
será utilizada? tar. A grande vantagem de se produ-
Francisco- Algumas unidades do zir no país é o domínio da tecnologia,
AL-X devem ser entregues ainda nes- mantendo a soberania, ainda que cus-
te ano, mas a blindagem deverá es- te o mesmo preço do importado. Ten. QCOA. Karina - Jornalista

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207// JUL-SET 2003
O adeus à farda
Um “poeta”, nosso ex-Soldado Alexandre, se
despede. A Força Aérea Brasileira marcou a
sua vida e a de muitos de seus companheiros


Pelos céus de Brigadeiro
Encarnado em azul-patriota
Insurge por terra de Brasil
Um Soldado cuja farda transubstanciou-
se em pele
E da pele sentiu o cheiro de verdade
Sentiu calor de disciplina
O suor do dever cumprido
E o gosto do ideal de voar sem fron-
teiras, sem limites Da cor dos seus céus
Pelas asas soberanas de conquistar os Velados por nossas incansáveis
céus desta singularíssima Nação. asas
E por nossa fervorosa paixão.
E olhando para trás
No desespero do último momento Brasil, teus militares te exaltam
Não rasgou a farda, nem jamais ras- E a ti se doam em vinte e qua-
garia tro horas
Pois a respeitara como substância Das batidas dos seus corações
indúctil Somos Soldados em perene
Ensinamentos consistentes de uma prontidão
vida azul Incansáveis e inderrotáveis
Ensinamentos para o resto de uma Preparados a proteger a raiz
existência mater
Valores morais de integridade, respon- O berço de nossas famílias Jamais poderemos voar por terra
sabilidade, sinceridade E de nossas vicissitudes. Navegando pelos céus de Brigadeiro
E amor... ao chão, ao ar, ao seu povo, Defendendo aquilo que é nosso
à farda Aceite, ‘terra adorada’, em teus braços E dos nossos ancestrais
Representante do respeito à mãe pátria. A farda suja de sangue ou de glória E que jamais poderão nos tirar:
E nina o teu filho Soldado A Pátria dos nossos filhos e netos
Um para sempre soldado Na morte ou na vida, O motivo de nossa união e de nossa
Se despede e reverencia à Força Aérea Mas sempre pela Pátria invencida identidade
Brasileira Sempre pela dignidade da farda O nosso lar, frutífero e lindo
Como algo que nunca mais Que é a nossa bandeira Do inverno à primavera
Deixará sua mente e coração... É o sangue vital que corre nas veias O nosso verde, o nosso branco, o nos-
Aluno desta preexcelsa e egrégia escola De um Soldado que mesmo despido da so azul e o nosso amarelo
De ensinamentos nobres e virtuosos farda A nossa Pátria amada e para todo o
A reserva moral de um País Jamais subtrairá do peito e da alma sempre idolatrada – Brasil!”
O sangue da primeira defesa O Sabre-Alado que o ensinou
A frente de batalha por um único fim: A ser um homem honrado O soldado João Alexandre Viegas
o amor a esta Terra, A ter sabedoria e coragem Costa Neto incorporou-se à FAB em
Que nos alimenta e que nos viu nascer E a entender que vitória de um Povo 1º de março de 1999 e trabalhou no
E nos verá crescer tranvestidos do É o amor que nutrimos por nossa Nação Centro de Comunicação Social da Ae-
mesmo azul E que sem vestir esta farda ronáutica por 4 anos.

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Portões abertos da BAAN

CLA - promoveu, em parceria


com o Serviço Brasileiro de Apoio
às Micro e Pequenas Empresas do
Maranhão (SEBRAE/MA), os cur-
sos de qualificação de mão-de-obra
na área de construção civil. Devido
aos excelentes resultados e à impor-
tância social alcançados, o CLA
estendeu esses cursos, antes diri-
gidos ao efetivo do Centro, também
às comunidades de Alcântara e
agrovilas vizinhas. Entre os dias 23
de junho e 1º de agosto.

HASP - recebeu o Selo de Quali-


dade Hospitalar do Programa de
Controle de Qualidade Hospitalar
(CQH) pela segunda vez, desde sua
adesão ao programa, no ano de
2000. Para receber a certificação, o
Hospital cumpriu várias exigênci-
as do programa, relativas aos méto-
dos de gestão hospitalar e, a cada
dois anos, o hospital recebe a visi-

A
manhecia em Anápolis. Seria Esquadrão do 6º Grupo de Aviação. ta de inspetores e auditores. No
um domingo normal, não fos- Após a solenidade militar, o dia de mês de julho.
se o estrondo quase ensurde- Portões Abertos teve como atrações
cedor de um supersônico cortando o vôos de Mirage, R-99 e aeromodelos, BAPV - realizou o evento “Meu
límpido azul do céu. sorteios de vôos panorâmicos a bordo Primeiro Dia de Soldado” para 60
Era um Mirage, avisando a todos das aeronaves U-42 Regente e U-47 crianças de 7 a 14 anos, de ambos
que seria dia de Portões Abertos na Sêneca, exposição de 43 aeronaves, os sexos, dependentes dos milita-
Base Aérea de Anápolis (BAAN)! estandes de divulgação de empresas de res da BAPV. 20 monitores da OM,
Este evento chegou para a cida- Anápolis, simulação de resgate de fe- orientaram diversas atividades
de como um presente pelo seu 96º rido pelo 2º Esquadrão do 10º Grupo educativas e recreativas tais como
aniversário, abrilhantada pelo en- de Aviação, apresentação da Esquadri- visita ao 2º Esquadrão do 3º Grupo
cerramento da XII Reunião da Avia- lha da Fumaça, apresentação de aca- de Aviação (2º/3º Gav), projeção de
ção de Reconhecimento (RAREC), demias de dança, com danças country filmes sobre a Força Aérea Brasilei-
que pela primeira vez foi realizada e da Banda de Música da BAAN. ra e futebol. No dia 24 de julho.
em paragens goianas, com a partici- O evento quebrou o recorde de públi-
pação de diversos Esquadrões: 1º/ co presente – mais de 30.000 pessoas e, 6º ETA - cumpriu uma Missão
6º GAV, 1º/10º GAV, 3º/10º GAV, 1º/ como foi solicitado que todos os visitan- de Misericórdia para atender o 2º
4º GAV, 1º/14º GAV, 1º GAVCA, 2º/ tes trouxessem um quilo de alimento não Sgt. Ref. Jaime Santos de Almeida,
5º GAV, AFA e 6º ETA. perecível, foi possível arrecadar um total que necessitava ser transportado
Durante a solenidade militar foi fei- de 8.700kg de alimentos. Desta forma, este urgentemente de Salvador para o
to um vôo de formatura com diversas Portões Abertos tornou-se inesquecível Hospital de Força Aérea do Galeão
aeronaves, e foi premiada a Unidade para os que estiveram presentes ao even- (HFAG), no Rio de Janeiro. O trans-
Aérea campeã das competições espor- to e, principalmente, para todas as pes- porte foi feito numa aeronave C-95C
tivas e de Percepção Visual dos soas apoiadas pelas 30 instituições filan- Bandeirante equipada com UTI
Objetivos (PVO) da Reunião da Avia- trópicas de Anápolis que receberam as Aérea. No dia 2 de agosto.
ção de Reconhecimento (RAREC), 2º doações. Dia 27 de julho de 2003.

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Fora de casa
Sempre é tempo para retomar uma vida animada e produtiva.
Foi isso que essas senhoras de Belém descobriram

Arquivo do COMAR I
U
ma vida monótona, assistindo Uma das mais animadas é a aposen- A felicidade de mães e filhos é o re-
à tevê o dia inteiro e saindo tada Hermínia Villaça, de 83 anos, que sultado de um planejamento cuidadoso
pouco de casa. Esse definitiva- dedicou boa parte da vida aos filhos, do SAS da Unidade. “Oferecemos todo
mente não é o cotidiano de 30 senho- sendo um deles o Suboficial Carlos Ro- o apoio necessário para o grupo”, acen-
ras, entre 50 e 83 anos de idade, mães cha. “Esse grupo organizado pelo tua o Chefe de Gabinete do I COMAR,
e esposas de militares que servem em COMAR está fazendo com que eu pense Cel.-Int. Nuno da Silva Pereira. De acor-
Unidades de Belém. A reviravolta na um pouco mais em mim. Passei a ocu- do com a Chefe do SAS e idealizadora
vida delas aconteceu depois de um pro- par mais meu tempo e minha cabeça”, do projeto, Ten. Maria Vanusa Nogueira
jeto do Serviço de Assistência Social garante. O filho militar vibra com a nova Lima, “o trabalho se respalda no apoio
(SAS), do Primeiro Comando Aéreo vida da mãe: “Ela está muito mais alto- não só do bem-estar do militar, mas tam-
Regional (I COMAR). A iniciativa deu astral. Antes, vivia quieta em casa. Ago- bém de sua família”, explica ela, que é
origem ao Grupo Nova Vida. ra, ela não pára nunca”. Assistente Social. “São mulheres que vi-
Nos encontros semanais, elas par- Exemplos como o de Dona Hermínia veram muito tempo em função dos seus
ticipam de palestras sobre a “saúde estimulam outras participantes. Maria filhos. Agora, estão pensando um pou-
na terceira idade”, fazem cursos como Barros, de 62 anos, não perde um en- co mais nelas”, entende. Outra Oficial, a
crochê e artesanato e até conservam a contro e está conhecendo lugares onde Tenente Rosângela Cordeiro, que é Psi-
boa forma em aulas de Educação Fí- nunca foi na vida. “Para mim, está sen- cóloga, elogia a atividade desenvolvida
sica. A programação do grupo inclui do uma lição. Ganhei muitas irmãs, es- pelo COMAR. “O sentimento de ser útil
passeios por pontos turísticos e his- tou redescobrindo minha cidade e o gos- é um dos grandes ganhos para essa faixa
tóricos do Pará e de outros Estados. to por sair de casa”. O filho, Soldado de idade, que está sempre precisando
Nenhuma delas duvida: a Aeronáuti- Marcelo Barros, também está contente: de muita atenção.”
ca formou uma outra “família” além “O grupo tem sido muito saudável para
dos muros do quartel. minha mãe”, acredita. Ten. Luiz Cláudio - Jornalista

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Ecologicamente correto
No meio da Serra do Cachimbo, a Área de Exercícios do Campo de Provas Bri-
gadeiro Velloso combina uma árdua missão com a preservação da natureza

Montagem Cb Ednaldo Silva


S
e não fossem o azul caracte- ronáutica. A começar pelo seu tama- nem sempre a denominação do local
rístico dos carros e ônibus e as nho: são 21.588,42 km². Somente para foi essa. Tudo começou como Desta-
fardas camufladas das pessoas ao efeito de comparação, o Estado de camento de Proteção ao Vôo de Ca-
seu lado, você poderia jurar que esteve Sergipe tem 21.954 km², e Israel, 21.946 chimbo, devido à necessidade de
em um Simba Safári. km². Em termos de área jurisdicional, viabilizar uma rota aérea mais curta
Ao mesmo tempo, o verde pujan- ganha de longe de outras Unidades da da região Sudeste para Manaus e daí
te e constante a sua volta também po- Força Aérea Brasileira. São 653 para a América do Norte. Até então,
dia fazer crer que você esteve em um quilômetros de perímetro externo, os vôos entre os dois pontos obriga-
dos vários Jardins Botânicos existen- onde, à medida que se dirige para o vam as aeronaves a viajar pelo litoral,
tes no Brasil. interior do Campo de Provas, o cerra- com uma parada em Belém.
Mas em que lugar do país haveria do vai dando lugar à mata de transição O pouso do primeiro avião na re-
um Simba Safári ou um Jardim Botâni- e, depois, à floresta amazônica. gião aconteceu em 1950, em uma cla-
co tão grande? Não, com certeza, não é No Campo, são realizados ensai- reira. Em 1954, inaugurado o Destaca-
nem um nem outro. Então, que local é os, testes e certificações de armamen- mento, assumiu o Comando o Maj.-
esse, que reúne um ambiente totalmente tos nacionais, além de treinamento Av. Haroldo Coimbra Velloso. Em
silvestre com uma consciência de pre- operacional de equipagens de com- 1997, o local passou a se chamar Cam-
servação tão intensa? bate e execução de exercícios e expe- po de Provas Brigadeiro Velloso.
É a área de exercícios do Campo de rimentos táticos. O CPBV, subordina- O dia mal amanhece e já se pode
Provas Brigadeiro Velloso (CPBV), na do ao Departamento de Pesquisas e perceber uma movimentação. Não são
Serra do Cachimbo, sul do Pará, a Uni- Desenvolvimento (DEPED), comple- apenas os militares, que se preparam
dade mais peculiar do Comando da Ae- tou 20 anos em abril passado. Mas para mais um dia de trabalho a partir

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2003
Todos os caminhos do Brasil no
precisa de alguma coisa deve aproveitar floresce lá e foi descoberta pelo então
coração da selva esse momento para fazer os pedidos. Cap.-Eng. Antônio Prenholato, entre
Mas engana-se quem pensa que a 1986 e 1987; pode ficar maravilhado com
rotina lá é monótona, que as pessoas a beleza do olho d’água, uma nascente
se sentem sozinhas e que não há o que de águas límpidas e com areia branca no
fazer nas horas vagas. fundo, onde pequenos lambaris nadam
O efetivo total da Unidade é de 89 tranqüilamente; ou pode apenas ficar
militares, mais sete que estão destaca- admirando as várias espécies de aves
dos ou prestam serviço, e três servi- que circulam por lá (como arara, quero-
dores civis. Como apenas metade fica quero, xexéu, siriema, e coruja e arara)
na Área de Exercícios por período de e outros diversos representantes do
mundo animal, como antas, capivaras,
raposas, tamanduás e tatus. Até pega-
Todos convivem das de onça são comuns.
Todos convivem harmoniosamente
harmoniosamente com o com o homem. É expressamente proi-
Sgt. Pantoja

bido caçar no local, e a pesca só é per-


homem. É mitida com anzol e arpão. Não se pode
expressamente proibido arrancar nenhuma espécie vegetal ou
transportar animais para fora da área.
caçar no local. “A preservação do ambiente é garanti-
do toque de alvorada, mas uma infini- da pelo cumprimento das leis
dade de “companheiros” – os animais ambientais e na medida em que, por
–, com os quais topam freqüentemente três semanas, o trabalho acaba sendo meio da Operação Patrimonial, não é
e convivem de forma bastante saudá- bastante puxado e, conseqüentemen- admitida a presença de invasores nos
vel. Nem a quantidade enorme de te, todos acumulam várias funções. limites da área sob nossa responsabili-
insetos (piuns, mosquitos) que vêm nos Apesar disso, formas de lazer não dade”, disse o Diretor do Campo, Ten.-
picar chega a perturbar: basta estar equi- faltam. Quem tem um estilo mais “sel- Cel.-Av. Luiz Claudio Moreira Novaes.
pado devidamente com repelentes. va” ou aventureiro, delicia-se em Cachim- Os exercícios e manobras são realiza-
No CPBV, os militares se revezam, bo. Pode banhar-se nas águas dos rios dos em locais definidos: os estandes.
permanecendo um período de 21 dias Braço Norte ou Formiga (a 12 km da Portanto, não há ameaça à natureza.
na área de exercícios e outro igual pe- sede), que possuem água cristalina e são Para se chegar aos estandes por via
ríodo na sede da Unidade. Enquanto os mais próximos; pode se divertir na terrestre, somente com jipes com tração
uma equipe está em Brasília, dentro cachoeira do CTA (no rio Braço Norte, 4 x 4. Você se sente em um verdadeiro
da área do Sexto Comando Aéreo Re- ao lado da usina hidrelétrica) e ver rali, pois, dependendo de como for o solo
gional (VI COMAR), outra está em ariranhas; pode percorrer as redonde- (arenoso, rochoso), o carro se inclina para
Cachimbo. E vice-versa. zas para procurar a Encyclia as laterais, passa por sobressaltos e pula
A cidade mais próxima do Campo caximboensis, uma orquídea rara, que bastante.
de Provas, Guarantã do Norte, com cer- ▲ Invasores: uma das preocupações do destacamento
ca de 30 mil habitantes, fica ao sul, a
pouco mais de 80 km, no Estado de Mato
Grosso, mas a viagem é árdua: a rodovia
que vai até a localidade, a BR-163
(Cuiabá-Santarém), é de terra, e o trecho
é percorrido em três ou quatro horas,
variando de acordo com as condições
da estrada, pela qual passam principal-
mente caminhões madeireiros e ônibus.
Por isso, a área de exercícios do
CPBV fica praticamente “isolada”. Exis-
tem apenas duas formas de acessar a
Unidade: por via aérea (o aeroporto fica
a 6 km da sede administrativa) e pela
BR-163 (a 10 km do Campo).
A cada período destacado por lá, por
Sgt. Pantoja

exemplo, o Sargento Ari Barbosa Júnior,


vai de quatro a cinco vezes para Guarantã
para fazer compras para a Unidade. Quem

207 / JUL-SET 2003 11


11
dos pacus, traíras e matrinxãs. Tam-
bém é comum promover churrascos,
enquanto outros preferem usar o si-
lêncio e a tranqüilidade do local para
estudar.
Um dos militares que estão servindo
há mais tempo no Campo é o 3S Geraldo
Ferreira Filho. Ele trabalha lá desde ou-
tubro de 1988. “Adoro aqui. Vou sair
daqui só para a reserva”, afirmou.
Todas as necessidades básicas do
CPBV, como abastecimento de água,
energia elétrica, saneamento, comu-
nicações e coleta de lixo, são atendi-
das com recursos da própria área.
Quando se fala em energia elétrica, é


Água pra que
te quero: a
primeira usina
Aliás, a paisagem oferece boas sur- hidrelétrica da
presas. Não é porque é uma região de região

Sgt. Pantoja
cerrado que não se pode encontrar uma Amazônica foi
construída em
vegetação semelhante à do litoral. Em Cachimbo, em
muitos trechos, tanto em direção aos 1954
estandes com aos rios, é possível ver
areia muito branca com “matinhos” ras-
teiros que lembram praia.
Cada estande possui uma finalida-
de, como por exemplo: tiro com ar-
mas portáteis, tiro aéreo, lançamento
de foguetes, lançamento de bombas, trado – por sobrevôo de helicóptero importante salientar um fato históri-
tiro terrestre, tiro lateral e áreas para UH-1H, do Sétimo Esquadrão do Oi- co: a primeira usina hidrelétrica da
reconhecimento armado, ataque a al- tavo Grupo de Aviação (7º/8º GAV), região amazônica foi construída em
vos táticos e treinamento de de Manaus, ou de T-27 Tucano -, fis- Cachimbo, em 1954, com produção
interceptação. Há alvos reais, como cais do Instituto Brasileiro do Meio de 37,5 kVA. Depois, no início de
estradas, pontes, pistas de pouso, e Ambiente e dos Recursos Naturais 2002, foi finalizada a obra de amplia-
simulacros, como sítios de mísseis e Renováveis (IBAMA) ou até membros ção da nova usina que atualmente
de radares. O CPBV é uma área de da Polícia Federal são acionados. sustenta a Unidade. São quatro tur-
testes que apóia o Centro Técnico Ae- “Quando é detectada uma presença binas, sendo duas de 150 kVA e duas
roespacial (CTA) nos ensaios dos seus não autorizada, uma patrulha é envi- de 250 kVA. As primeiras turbinas
experimentos e está pronta para aten- ada, via terrestre ou aérea, para pro- foram instaladas em 1986.
der a qualquer esquadrão ou Unida- mover a retirada dos invasores”, afir- A água é retirada de poços artesianos
de da Aeronáutica. mou o Maj.-Inf. Sergio Paulo Alves e, depois, filtrada. É de boa qualidade e,
Para garantir a segurança da área de Almeida, Vice-Diretor do CPBV. para confirmar isso, são realizadas análi-
de exercícios do Campo de Provas Bri- Existem duas reservas indígenas na ses de três em três meses.
gadeiro Velloso, periodicamente são área – Munducuru e Cayabi -, mas não Diante de tudo isso, vê-se que o
realizadas as chamadas Operações ficam próximas da sede administrativa. Campo de Provas Brigadeiro Velloso
Patrimoniais, por meios terrestre ou Quando em Cachimbo, poucos são é um verdadeiro exemplo de que é
aéreo, para detectar eventuais inva- os que deixam o Campo para ir a possível uma Unidade tão particular
sões ou atividade irregulares. As in- Guarantã. A maioria utiliza as folgas cumprir sua missão sem interferir no
vasões ocorrem pelos atrativos exis- para se divertir nas proximidades da ambiente que o envolve e, ao mesmo
tentes na área: madeiras nobres (prin- sede mesmo, jogando futebol (de qua- tempo, protegê-lo daqueles que que-
cipalmente o mogno) e, em menor pro- dra ou de campo), entrando na pisci- rem explorá-lo visando apenas o lu-
porção hoje, o ouro. na, brincando de pingue-pongue ou cro e relegando ao segundo plano a
Quando algum ponto irregular pebolim, fazendo caminhada ou riqueza natural do país.
(barracas, construções, equipamentos musculação e pescando. No rio Braço
ou presença de posseiros) é encon- Ten.-QCOA. Karina - Jornalista
Norte, a 2 km, podem ser encontra-
12
12 207 // JUL-SET
207 JUL-SET 2003
2003
A união faz a Força
Racionalizando recursos, a Infantaria da Aeronáutica melhora seu desempenho,
ganhando notoriedade

D
e um lado, um Batalhão de In para fortalecer”, disse o Ten.-Cel.-Inf. desdobradas e de pontos sensíveis de
fantaria com deficiências nas Ricardo José Rodrigues Santos, Chefe interesse do Comando da Aeronáutica”.
áreas de material e pessoal. De da Seção de Operações do Centro de O BINFAE de Manaus foi o primei-
outro, um segundo Batalhão com as mes- Operações Terrestres (COTAR/ ro Batalhão a tornar-se uma Organiza-
mas dificuldades. Separados por alguns COMGAR). ção Militar. De acordo com o Coman-
metros de distância, esses BINFA têm Ao realizar a junção, foram unificadas dante da Unidade. Maj.-Inf. Cassiano
em comum, ainda, o fato de cumprir pra- seções que estavam duplicadas, como as Cordeiro Batista, com a união, está sen-
ticamente as mesmas missões. de Material Bélico, Pessoal e Instrução, e do possível executar um melhor tra-
Após uma análise desse quadro, foi feito um remanejamento de pessoal e balho, com emprego mais racional de
chegou-se a uma solução econômica e material. Agora, cada BINFAE possui pessoal, o que está permitindo colo-
criativa para resolver a questão, basea- apenas uma dessas seções. “Antes, para car um número maior de militares em
da no lema “unir para fortalecer”. Foi cada um desses setores, precisávamos ter, atividades operacionais do Batalhão.
assim que, em 2001/2002, surgiram os por exemplo, um Tenente, quatro Sar- O segundo BINFAE foi implantado
dois primeiros Batalhões de Infantaria gentos e dois Cabos, tanto no BINFA do em Canoas, há pouco mais de um ano,
da Aeronáutica Especiais (BINFAE), COMAR como no da Base Aérea. Com a a partir da união dos Batalhões do Quin-
em Manaus e em Canoas. união, ganhamos em pessoal, o que per- to Comando Aéreo Regional (V
Os princípios básicos que nortearam mitiu o deslocamento de militares para o COMAR) e da Base Aérea de Canoas
a criação dessas novas Organizações Mi- exercício de outras funções”, afirmou o (BACO). “Aqui na área, nós realocamos
litares da Aeronáutica foram os da raci- Ten.-Cel. Ricardo. dezenas de militares do antigo Batalhão
onalização e da economicidade dos mei- Segundo ele, houve economia tam- do COMAR. Houve grande racionali-
os. Para que se concretize a união das bém em outras áreas, como no sistema zação no emprego dos recursos huma-
Unidades, é necessário que estejam pró- de transporte. “Somando o número de nos, proporcionando a redistribuição
ximas uma da outra e em condições se- viaturas de cada BINFA, diminuiu-se de efetivos”, disse o Cap.-Inf. Sérgio
melhantes. a deficiência que apresentavam.” Murilo Mibach, Oficial de Comunica-
Foi o que aconteceu em Manaus. Lá, A nova área de segurança coberta ção Social do BINFAE Canoas.
havia os BINFA do Sétimo Comando corresponde à soma das áreas que eram Dois estudos deverão ser aprecia-
Aéreo Regional (VII COMAR) e da Base de responsabilidade de cada BINFA/ dos em breve pelo Comando da Aero-
Aérea de Manaus (BAMN). “Os dois es- CINFAI, por isso, os postos de serviço náutica. Um visa a criação do BINFAE
tavam com problemas de equipamentos são os mesmos. A atribuição do BINFAE dos Afonsos (RJ) e o outro, do BINFAE
e pessoal e tinham praticamente a mes- é “realizar, em pronta-resposta, ações de do VI COMAR, em Brasília.
ma missão: a segurança da área. Então, operações especiais de superfície, de se-
Ten.-QCOA. Karina - Jornalista
resolveu-se unir os limitados recursos gurança e defesa das unidades aéreas
207 / JUL-SET 2003 13
O jantar está servido
Ao ser convidado para um jantar formal, grande parte das preocupações com a
boa etiqueta podem ser facilmente dissipadas com algumas dicas básicas

O
s historiadores, em geral, têm
uma grande má vontade para
com o período medieval, por
ter sido uma época de superstição, es-
tagnação e crueldade. Para o historia-
dor Jacques Lê Goff, a Idade Média é,
na verdade, um período extremamente
criativo da humanidade, “momento em
que se criou a cidade, a universidade,
o moinho, a máquina, a hora e o reló-
gio, o livro, o garfo, o vestuário, a pes-
soa, a consciência”.
Foi justamente nessa época que se
estabeleceram e aprimoraram as con-
venções e regras de comportamento so-
cial, de etiqueta e de cerimonial ainda
hoje em uso no mundo ocidental. Esse
processo civilizatório, centrado em ati-
tudes e rituais, aparentemente insig-
nificantes, teve importância no apri-
moramento das relações sociais, na
convivência e na idéia de coletividade.
Em seu livro “O Ritual do Jantar”,
a canadense Margaret Visser mostra os
chamados “bons costumes à mesa” des-
de que o homem habitava as cavernas
até os dias atuais. Ela descreve, até
mesmo, os hábitos de uma tribo de ca- Mas a vida contemporânea tem deixa- jar estar bem longe dali.
nibais do Pacífico, cuja “etiqueta e boas do cada vez menos espaço para o exer- Para Silvânia Barreto, Relações Pú-
maneiras” exigiam o uso de um garfo cício das boas maneiras. A cultura do blicas na Coordenadoria de Comunica-
de madeira para devorar o inimigo. fast food, da lanchonete, do guardana- ção Social do Centro Técnico Aeroespa-
Na Europa, o garfo passou a ser po de papel e dos pratos e talheres cial (CTA), quase sempre o convite para
usado no século XI. Antes disso, to- descartáveis, se por um lado acrescen- participar de um jantar formal tem re-
dos comiam com as mãos, retirando a ta praticidade e rapidez às refeições, lação direta com nosso trabalho. Por
comida das travessas e levando-a à por outro retira boa parte do charme, isso, devemos nos preparar e seguir as
boca. No início, o uso desse utensílio da elegância e da possibilidade de ob- regras de etiqueta, pois estamos repre-
não foi bem aceito entre as famílias ter mais prazer na hora de comer. sentando nossa organização.
mais tradicionais. Mas acabou se im- Por isso, quando recebemos um Ela dá algumas dicas:
pondo por tornar mais higiênica a re- convite para um evento social mais CONVITE: ao receber um convite
feição, principalmente durante os pe- formal, como um jantar, por exemplo, para um jantar formal devemos, ime-
ríodos de epidemia, quando a peste quase sempre bate uma certa insegu- diatamente, ligar para o número indi-
matava, indiscriminadamente, pobres rança. E agora, o que fazer? Como uti- cado para agradecer e confirmar ou não
e ricos, bem-educados e grosseirões. lizar todos aqueles talheres e copos? a nossa presença. Isso é fundamental
Para Margaret Visser, comer é um Que lugar ocupar à mesa? São, apa- para quem organiza o evento, saber
ato essencialmente bárbaro e a função rentemente, questões sem muita impor- quantas pessoas irão comparecer.
básica da etiqueta e dos bons costu- tância, mas que na hora fazem toda a TRAJES: normalmente, o traje vem
mes é reprimir essa violência. Que seja. diferença entre sentir-se bem ou dese- definido no convite e pode especificar

207 / JUL-SET 2003 15


esporte, passeio ou rigor. A escolha do
traje por parte do anfitrião tem relação

S1 Osvair
direta com o horário do evento. Quan-
to mais tarde, maior a formalidade. Um
jantar às 22h é mais formal do que às
19h e exige um traje mais elaborado.
ACOMPANHANTE: nos eventos for-
mais, os lugares são marcados segundo
a precedência hierárquica e o cerimoni-
al, e os convites, geralmente, incluem
acompanhante. Comparecer
desacompanhado pode gerar um certo
constrangimento, tendo em vista que um
lugar ficará vago. Em caso de imprevis-
to, avise o anfitrião com antecedência
para providenciar a ocupação do lugar.
QUANDO CHEGAR E SAIR: pon-
tualidade é fundamental. Chegar atra-
sado pode ser encarado como descaso
para com o evento. Portanto, progra-
me-se para chegar no horário. Quanto
à hora de ir embora, esse tipo de en-
contro não tem uma duração muito lon-
ga. Sair antes do término fica muito ▲ Saber como comportar-se é válido em qualquer ocasião, seja em eventos
feio. Se você não pode ficar até o fim, civis ou militares
não vá, principalmente se o evento
ocorrer em ambiente fechado. duzir a conversa de maneira interessan- vizinho e espere a anfitriã começar a
O QUE FALAR: as pessoas costu- te. É claro que a velha regra de “reli- comer para observá-la.
mam se preocupar com o tipo de as- gião, política e futebol, nem pensar” Depois de todas essas informações,
sunto que irão conversar numa ocasião deve ser rigorosamente observada. acredito que a regra mais importante
como essa. Mas, considerando que você QUE TALHERES USAR: basta se- é: seja você mesmo. Se o convidaram,
foi convidado por sua atividade profis- guir a seqüência em que eles foram certamente é porque, de alguma ma-
sional ou pelo que representa, certamen- colocados na mesa, de fora para den- neira, você conquistou o interesse e a
te domina bem o assunto e saberá con- tro. Os que estão mais para fora serão confiança de quem o escolheu. Por
para a entrada. Acima do prato ficam isso, não tente aparentar o que você
▲ Silvânia Barreto: dicas de etiqueta os talheres de sobremesa. não é. Lembre-se de que as regras de
COMO USAR OS TALHERES: se- etiqueta e de cerimonial existem para
gure a faca com os dedos polegar e indi- facilitar e tornar a convivência entre
cador, colocando o médio no cabo, como as pessoas mais agradável. Por isso,
se pegasse uma caneta, evitando encos- aproveite a ocasião para relaxar e apro-
tar o dedo na lâmina. A etiqueta euro- veitar a oportunidade de conviver com
péia indica o manuseio de garfo e faca as pessoas que lá estão.
juntos, mas os americanos difundiram
o hábito de deixar a faca descansando Ten.SVA. Tavares - Jornalista
sobre a borda do prato, acima e à direita,
sempre com o fio voltado para dentro, Leia mais
enquanto o garfo passa para a mão direi- sobre o assunto
ta. Ao término da refeição, os talheres
são colocados paralelos, dentro do pra-
to, na horizontal de quem fez a refeição, No sítio www.gastronomiabrasil.com.br,
com o corte da faca para fora da mesa. você encontra dicas sobre receitas, serviço,
EM CASO DE DÚVIDA: caso você etiqueta etc.
esteja num jantar formal e não saiba Outro sítio interessante é o
www.wmulher.com.br, também com
Arquivo Pessoal

como proceder em relação à utilização


dos talheres e à forma de comer deter- dicas sobre vestuário, maquiagem, orga-
minado prato, a dica é observar a anfi- nização de eventos, reuniões e encontros
triã. Faça isso com o máximo de natu- informais.
ralidade possível. Converse com seu

16 207 / JUL-SET 2003


Avião à vista!!!
Após o vôo do mais-pesado-que-o-ar, o mundo assistiu ao desenvolvimento e
aprimoramento da aviação. Jovens com espíritos aventureiros ajudaram a
espalhar esse novo desafio. No Brasil, não foi diferente

E
m 23 de outubro de 1906, renço de Pellegati, um torneiro mecâni-
Alberto Santos-Dumont reali- co brasileiro, projetaram e construíram
zou o desejo do homem de voar. um monoplano. Eles voaram a uma al-
Perante a Comissão Fiscalizadora do tura de 4m e a uma distância de 103m,
Aeroclube de França, ele voou com o em 6,18s, num monoplano denomina-
14-Bis, no Campo Bagatelle, em Paris, do São Paulo.
e despertou nos homens um sentimen- as primeiras experiências, o que ocorreu No Brasil, a colônia italiana convi-
to de liberdade e coragem para novos dentro da oficina foi uma “avalanche” de dava seus compatriotas para demons-
desafios. A França e a Itália lideraram ferramentas e materiais, danificando to- trarem suas habilidades. Germano
essa empreitada que mudaria o mun- talmente o Voisin – o “aprendiz de me- Ruggerone escolheu o grande hipódro-
do. Na França, aperfeiçoava-se a cânico” havia montado a hélice na posi- mo da Moóca para as demonstrações
incipiente indústria aeronáutica, fabri- ção invertida. do seu aeroplano tipo Farman, e Giulio
cando principalmente os aeroplanos Voar era a nova moda esportiva da Piccollo ficou no estádio menor, o ve-
Voisin e Blériot (projetado em cima época. Os esportes mais populares da lódromo, com seu pequeno Blériot,
do Demoiselle de Santos-Dumont). época eram o automobilismo, o hipis- com motor de 50 cavalos. Na pista de
No Brasil, o mesmo sentimento foi mo e o ciclismo. No Rio de Janeiro, cem metros, destinada a passeio de bi-
despertado, mas a sua realização se havia o Derby Club (hoje, estádio do cicletas, Piccollo veio a se acidentar,
restringiria apenas a um grupo seleto: Maracanã), o campo de São Cristóvão na véspera do Natal de 1910, e foi a
os ricos comerciantes e fazendeiros de e o Jockey Club; em São Paulo, o hipó- primeira vítima mortal estrangeira de
café. Foram muitos os que iniciaram dromo da Moóca, o Velódromo Paulista acidente em avião no país.
essa empreitada sem sucesso. Mas a e o Parque Antártica. Foi Ruggerone quem levou aos ares
insistência, a perseverança e a vonta- Todos esses locais passaram a ser tam- a primeira mulher no Brasil – Renata
de de transpor limites transformaram bém utilizados como campos para de- Crespi, em 8 de janeiro de 1911. Ele
homens em celebridades. monstrações e tentativas de curtos vôos. fez tanto sucesso na capital paulista
Em 1908, Armando Álvares Pen- Essas demonstrações constituíam verda- no seu Farman que muitos o mencio-
teado, filho de um fazendeiro de café deiros espetáculos de arrojo e coragem. nam como o primeiro piloto a voar no
de São Paulo, importou da França o No dia 7 de janeiro de 1910, na cida- Brasil, relegando a injusto esqueci-
primeiro Voisin (forma semelhante de de Osasco, ocorreu um fato histórico: mento o feito de Lavauld.
ao do 14-Bis). Seu motorista particu- o primeiro avião a elevar-se do chão em Depois de grande sucesso em São
lar ficou incumbido de montar o apare- solo brasileiro. Demetrie Sensaud de Paulo, Ruggerone partiu para o Rio
lho. No entanto, ao ligar o motor para Lavauld, um industrial francês, e Lou- de Janeiro. O então Presidente da Re-

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18 207/ /JUL-SET
207 JUL-SET2003
2003
Ainda em 1911, sob o patrocínio Dentre os fatos mais importantes
de “A Noite“, foi oferecido um prê- para a criação do Aeroclube podemos
mio vultoso ao piloto que comple- lembrar: o desenvolvimento da aero-
tasse o reide da Praça Mauá – Ilha náutica de nossos vizinhos, dos quais
do Governador, num percurso de 48 Argentina e Chile. O sucesso do em-
km sobre a Baía de Guanabara. prego da aviação na guerra da Itália
Edmond Plauchut concorreu sozi- contra a Turquia (1911-1912). A cres-
nho, pois seu possível oponente, cente segurança dos pilotos em traves-
Magalhães Costa, não chegou a tem- sias arrojadas (Canal da Mancha por
po com seu monoplano Grade. O um Blériot). O crescimento da indús-
prêmio foi de dez contos de réis (um tria aeronáutica e a proliferação dos cur-
automóvel importado não custava um sos de pilotos.
conto de réis na época). A atividade aviatória tornou-se in-
Em 14 de outubro de 1911, foi cri- tensa no Brasil. A Queen Aviation
ado o Aeroclube Brasileiro, tendo como Company Limited chegou ao Rio, vin-
idealizador o redator Victorino de Oli- da de Nova York. Essa companhia
veira, de “A Noite”. Santos-Dumont foi mantinha sob contrato grandes pilotos
escolhido como seu Presidente-Hono- franceses da época. Logo esses pilotos
rário, e o Almirante José Carlos de Car- passaram a fazer vôos no Brasil.
valho, eleito Presidente efetivo. A Semana da Aviação foi organiza-
da pelo Major Paiva Meira, do Exérci-
O Almirante José Carlos de Carvalho
to, com a Queen Aviation Company
formou, com Alberto Santos-Dumont,
a primeira presidência do Aeroclube Ruggerone, primeiro estrangeiro a Limited, sendo a primeira parada
Brasileiro voar no Brasil (25 de dezembro de aviatória. Iniciou-se em 17 de janeiro
1910), inspirava confiança até nas de 1912, sendo executados reides a
pública, Marechal Hermes da Fon- damas, como a jovem Renata Crespi Santa Cruz, Niterói, Petrópolis e
seca, grande entusiasta da aviação, Teresópolis, alem de vôos “de fantasi-
que nela depositava crédito para as e altitudes” (demonstração). Houve
emprego militar, foi prestigiar suas um interesse generalizado pela aviação
apresentações. e percebeu-se sua importância em todo
A imprensa carioca registrava as o território nacional, devido à exten-
tentativas de vôos de vários “pilotos” são do país.
que sonhavam alcançar Niterói, atra- A atividade aérea despertou gran-
vessando a Baía de Guanabara em um de interesse na área militar. O Tenen-
monoplano tipo Grade. A cada dia, o te de Infantaria do Exército Ricardo
interesse pelo avião e o desafio ao João Kirk, entusiasta da aviação e um
medo para voar despertavam nos pi- dos primeiros sócios do recém-funda-
lotos uma sensação nova de aventu- do Aeroclube Brasileiro, foi logo in-
ra. Muitas vezes, homens desprovi- dicado para compor, com Plauchut e
dos de qualquer conhecimento aumen- o General Henrique Martins, a comis-
tavam o número de acidentes. Em 3 são que deveria escolher um terreno
de junho de 1911, um jovem paulista, adequado para uma campo de
Alaor Teles de Queiroz, tornou-se a instrução aérea. Essa era uma das prin-
primeira vítima fatal brasileira, mor- cipais metas do Aeroclube Brasileiro:
rendo em conseqüência da queda do uma escola de aviação.
Blériot, o mesmo que vitimou Piccollo. Com esses pioneiros, a aviação bra-
No mesmo ano, surgiu no Rio de sileira começou a se esboçar. A cora-
Janeiro um novo jornal, “A Noite”, gem e o espírito aventureiro desses
sob a direção de Irineu Marinho. Des- homens e mulheres possibilitaram a
de cedo, esse jornal foi um grande criação da mentalidade de que voar
incentivador da aviação no país. Uma também era preciso.
de suas iniciativas foi trazer da Fran-
ça um bom piloto, com curso da Es-
cola Blériot e brevetado pelo
Aeroclube de França: Edmond
Plauchut. Ele chegou a ganhar um Sgt. SAD Joubert
prêmio municipal denominado
“Bartolomeu de Gusmão”.
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19
Falando sério
Mudando velhas opiniões, o homem descobre que pode garantir uma saúde
melhor para si

A
os 50 anos, o homem, em ser feito, anualmente, a partir dos 50 O PSA (antígeno prostático especí-
geral, já passou por grandes anos. Mas quando a pessoa possui fico) é uma substância (glicoproteína)
experiências: curtiu a juven- histórico familiar da doença, essa ida- produzida pela célula prostática que
tude, construiu sua carreira e de cai para 40. Na FAB, os militares pode ser dosada no sangue. Quanto
estruturou sua vida pessoal. Nessa acima dessa idade realizam o preven- maior a próstata, maior o seu valor. A
idade, ele começa a vislumbrar a apo- tivo nas inspeções de saúde anuais. célula cancerígena produz mais PSA
sentadoria e a se planejar para ela. Nos hospitais dos Comandos Aéreos do que uma célula prostática normal.
Entretanto, um sério problema de Regionais (COMAR), são feitos os exa- Logo, o aumento da quantidade de
saúde pode aparecer e simplesmente mes de PSA e toque retal. Já no HCA, PSA no sangue pode indicar a exis-
abreviar seus planos no futuro: o cân- que centraliza o serviço de urologia da tência do câncer. Valores muito eleva-
cer de próstata. FAB, a ultra-sonografia prostática dos, porém, podem sugerir inflamação
A doença atinge um em cada seis transretal se soma aos demais. “A ultra- prostática (prostatite). Isso comprova
homens, de acordo com a Sociedade sonografia é um complemento. Como que apenas o exame de PSA não é con-
Brasileira de Urologia. A próstata é res- a gente tem facilidade, temos os três dição específica de câncer de próstata.
ponsável pela produção de grande como rotina”, conta o Major. O toque retal completa o exame de
parte do líquido seminal. Esse órgão
se localiza abaixo da bexiga e adiante
do reto e envolve a parte inicial da
uretra, canal que leva a urina e o sê-
O toque retal per-
men (líquido seminal mais os
mite que o médico
espermatozóides) ao meio externo. Por verifique alterações
isso, o aumento da glândula compri- de tamanho e consis-
me a uretra, podendo causar sintomas tência da próstata.
como dificuldade e dor para urinar. O aumento da
glândula comprime a
Mas alterações no volume da
uretra, podendo cau-
próstata podem ser conseqüência tan- sar sintomas como
to de patologias benignas (prostatites, dificuldade e dor para
hiperplasia benigna) como malignas urinar. O crescimento
(câncer). E o crescimento se dá de se dá de forma lenta,
retardando o apare-
forma lenta, retardando o apareci-
cimento desses sin-
mento desses sintomas. Para diferen- tomas.
ciar a maligna das demais, “a preven-
ção é a única saída”, diz o Chefe do
Serviço de Urologia do Hospital Cen-
tral de Aeronáutica (HCA), Maj.-
Med. Carlos de Franco. “Cerca de Próstata normal. Próstata aumentada.
80% dos homens vão ter aumento da
próstata. Desses, 10% desenvolvem
o câncer. Há estudos científicos, como
evidências clínicas e experimentais,
que comprovam a influência do esti-
lo de vida e determinados hábitos ali-
mentares com a incidência do câncer
de próstata. Fatores genéticos tam-
bém podem estar envolvidos”,
complementa.
Ele explica que o preventivo deve

20 207 / JUL-SET 2003


PSA. O toque permite que o médico, agnóstico em estágio inicial aumenta rou um médico, que detectou o aumen-
introduzindo um dedo através do ânus as chances de cura. O preventivo não to do tamanho da próstata e o encami-
do homem, apalpe a parte interna do evita o câncer, mas pode detectá-lo pre- nhou para a ultra-sonografia no HCA.
reto e a próstata para verificar altera- cocemente”, explica o Major De Fran- “Não esperava que surgisse algo assim.
ções de tamanho e consistência. co, ele mesmo um exemplo disso. Não tenho histórico na família. Mas te-
Já a ultra-sonografia transretal tem Aos 44 anos, realizou exames que nho que cuidar de minha saúde”, dis-
o mesmo princípio da ultra-sonografia registraram o aumento do PSA. Mesmo se, enquanto aguardava o exame.
feita em grávidas. É um exame mais assim, levou quatro anos para diagnos- Outros levam a prevenção a sério
preciso e faz um mapeamento de toda ticar o câncer e identificar a localização e seguem a rotina anualmente. “Essa
a próstata para verificar seu tamanho do tumor. Sofreu a cirurgia para extração
e a existência de nódulo, por meio do da próstata, chamada prostatectomia ra-
toque de sua superfície com um apa- dical, aos 48 anos, e hoje leva uma vida
relho cilíndrico. No caso da presença normal, com a certeza da cura.
de tumores, também avalia se há com- A prostatectomia radical só é pos-
prometimento de tecidos ou, em ór- sível nos casos em que o tumor está
gãos vizinhos. restrito à glândula e pode garantir a
A confirmação do tumor maligno cura total. Dos indivíduos que se sub-
acontece com uma biópsia, que con- metem à extração, de 30% a 40% apre-
siste na retirada de um pequeno peda- sentam problemas de ereção. E menos
ço da glândula, feita com agulhas de 10% dos pacientes ficam com in-
dirigidas por ultra-som. continência urinária. “Conforme vai
evoluindo a técnica, esse número ten-
de a baixar”, diz o Major.
Quando o câncer é local, mas não
“O diagnóstico em está- há condições clínicas para a cirurgia,
gio inicial aumenta as pode ser feita a radioterapia externa ou
a braquiterapia – introdução de agulhas
chances de cura. O pre- de iodo radioativo no interior da prós-
tata para destruir a célula cancerígena.
ventivo não evita o cân- Nos dois tratamentos, há o acompanha- Maj.-Med. De Franco
cer, mas pode detectá-lo mento semestral, durante os cinco pri-
meiros anos. E, depois, anual para ve-
precocemente.” rificar o nível zero de PSA. é a quarta vez que faço o preventivo.
Já quando há metástase, não há con- Houve um aumento da próstata, mas
dições para a cirurgia. Nesse caso deve natural”, diz o SO R/R Djalma de
ser feita a hormonioterapia ou Carvalho Cantanhede, 53. “O diag-
Mas o exame preventivo enfrenta o quimioterapia. Como o câncer de prós- nóstico precoce permite o tratamen-
preconceito por parte do sexo masculi- tata depende da influência do to”, complementa. Já o SO R/R
no. Como para realizá-lo é necessário a hormônio masculino, bloqueando o Jailton Rangel Sepúlveda, 66, faz o
introdução do dedo do médico, no caso hormônio, em princípio, bloqueia-se exame desde os 40 e sabe o que pode
do toque retal, ou de um objeto cilíndri- a evolução do tumor. “Mas a indica- acontecer sem o preventivo: “Recen-
co, no caso da ultra-sonografia transretal, ção do tratamento varia de idade para temente, perdi um amigo de 78 anos
no ânus, boa parte dos homens consi- idade”, diz o médico. com câncer de próstata que nunca
deram o exame uma ofensa à masculini- Como muitos homens já têm cons- havia feito o exame”.
dade. Assim, procuram um médico ape- ciência da importância do exame pre- Isso mostra que, enquanto mui-
nas quando têm os sintomas. ventivo, o número de cirurgias de reti- tos homens descobrem a importân-
O que poucos sabem é que entre rada total da glândula tem aumentado. cia do exame, alguns ainda morrem
75% e 80% dos tumores não se ex- “Há oito anos atrás, a gente quase não por causa do velho preconceito. Para
pressam clinicamente. Além disso, no fazia a prostatectomia radical. Só no aqueles, a certeza de uma vida sau-
caso de câncer, quando os sintomas ano passado, realizamos mais de cem”, dável e tranqüila na terceira idade
aparecem, a doença pode estar em es- contabiliza o Major. compensa o desconforto anual do
tágio avançado, chamado metástase – Homens como o 1º Sgt. Mauro preventivo.
fase em que se implanta em outras re- Ricardo da Silva Bianchi, 39, do 1º Gru-
giões ou órgãos, como os ossos. Nesse po de Transporte de Tropa (1º GTT).
quadro, as chances de cura são míni- Após uma partida de futebol, ele sen-
Ten.-QCOA. Everton- Jornalista
mas, podendo causar a morte. “O di- tiu uma dor na região do ânus. Procu-

207 / JUL-SET 2003 21


Terra pai d’é
Em qualquer época do ano, Belém (PA) mistura harmoniosamente o quente e o úm
exóticos, o agito da capital e o jeito interiorano. Se não bastasse, o visitante encon
mágica e rica mistura cultural “tupinambá-afro-européia”

P
repare-se para as chuvas quando Variadas também são suas paisagens. junho e julho (época do verão no Nor-
for a Belém. Não só aquela que Quem aterrissa no “portal da Amazô- te do país), é tempo de refrescar as tem-
faz a capital paraense inegavel- nia” desfruta de praias, igarapés, bos- peraturas superiores a 30ºC. Belém fica
mente mais úmida. Mas também aque- ques e praças sossegadas – em sua a somente 160km da Linha do Equa-
la que a torna mais quente. O mora- maioria com túneis de frondosas man- dor. Isso explica o fenômeno de ter as

Reportagem
dor e o visitante cedo descobrem que gueiras - a pouca distância de aveni- estações “invertidas” em relação às de-
“chove” programação para quem não das movimentadas e noites badaladas. mais regiões. Do começo do ano até mar-
quer ficar em casa ou no quarto do Ah, não é preciso se preocupar com ço, as chuvas são mais regulares. Os

de Turismo/
hotel. Seja no início, no meio, ou no
final de semana, Belém não pára. Essa
aquela chuva. Diante da quentura tro-
pical do Norte, quando ela vem, pro-
moradores chamam esse período de
“inverno”. Nessa época, segundo da-
cidade brasileiríssima respira uma voca um bem-vindo refresco para o dos da Seção de Meteorologia do SRPV-
Belém
curiosa e efetiva mistura de influênci-
as indígenas, africanas e européias.
corpo e um belo arco-íris para o céu.
Essa chuva que alivia faz parte do
BE (Serviço Regional de Proteção ao
Vôo de Belém), chega a chover mais de

Do 2º Tenente
Magia desvendada nos ritmos, nos
sabores, no artesanato e na arquitetura.
cotidiano de Belém, cidade com médi-
as climáticas entre 25ºC e 28ºC. Em
60 horas por mês. Longe de supor que
esse fato faça com que o tempo esfrie.

24 207 / JUL-SET 2003


gua
égua
Belém como os que passam poucos Belém, o tecnobrega. Esses shows são
dias descobrem uma cidade para to- freqüentados por todas as classes so-
dos os gostos. Estrutura de capital, com ciais. Antes de as bandas ligarem suas
ar interiorano e um quê de exótico. O guitarras, há espaço para os ritmos mais
que não dizer da Praia de Mosqueiro enraizados, como o carimbó – dança
(a 60km do Centro e pertencente à ca- criada pelos índios tupinambás com
pital), de água doce nas margens da adaptações feitas pelos escravos afri-
ido, lugares clássicos e Baía do Guajará? Tem nada menos que canos. O carimbó, inclusive, é o que
embala as festas juninas, que são mais
ntra em cada esquina a 17km para banho e até ondas para de-
animadas nas praias ao som de mes-
leite dos surfistas.
Mais perto está a de Icoaraci. Só a tres da música local como Pinduca e
18km e cercada por barraquinhas e res- Nilson Chaves.
taurantes que servem todo tipo de pei- Contraste
xe. De lá, é possível tomar um barco e, Em todos os espaços, o moderno e
em meia hora, conhecer ilhas com o antigo se alternam, se fundem. En-
fauna e flora praticamente nativas. Já tretanto, não há maior espelho desse
quem prefere praia de água salgada terá “encontro” do que o Complexo do Ver-
que andar um pouco mais até Salinas o-Peso, o mais conhecido cartão-pos-
(210km de distância e dentro da cida- tal da cidade e sítio urbano tombado
de de Salinópolis). Outras vedetes dos pelo Patrimônio Histórico Nacional.
veranistas são as Ilhas de Algodoal e a É, na verdade, um conjunto forma-
badalada Marajó. do por uma feira e dois mercados po-
Exótica e rica também pode ser con- pulares (do peixe e da carne). O nome
siderada a gastronomia da capital surgiu quando os portugueses resol-
paraense. É inadmissível para os veram cobrar impostos de tudo o que
belenenses que alguém venha conhe- entrava e saía da Amazônia. Para isso,
cer a cidade e não experimente o Pato criaram, em 1688, a casa do Ver-o-Peso.
ao Tucupi (suco extraído da mandio- Um lugar até folclórico. São comerci-
ca, de cor amarela e com gosto um pou- alizados de ervas medicinais, recomen-
co ácido). Com o tucupi, pode se fa- dadas pelas mandingueiras, a artesa-
zer o tacacá, outra comida de origem natos. No local, pode-se conhecer a ce-
indígena bastante apreciada. Além do râmica marajoara, feita com barro e ma-
suco, o caldo contém goma de mandi- deira entalhada, outra belíssima influ-
Mercado Ver-o-Peso: a magia da oca cozida, camarão, folhas de jambu ência dos índios. O Ver-o-Peso é a
mistura de influências culturais, e pimenta de cheiro. O tacacá só é ser- maior feira livre do Brasil. Tem 26.500
um dos locais mais famosos da vido em uma cuia e deve ser tomado metros quadrados e 2.000 barracas.
cidade
diretamente, sem colher. Tem uma bar- É um lugar que tem fãs de peso.
raca de tacacá a cada esquina em “Eu visito o Mercado do Ver-o-Peso
Belemtur

Belém. Outro prato muito degustado todas as vezes que venho a Belém. É
feito com a mandioca, só que com as um espaço muito original - como a
suas folhas, é a maniçoba. própria cidade -, em que se evidencia
Os pratos genuínos dessa região toda a magia dessa adorável mistura
Aliás, quando vier a Belém, em amazônica contêm energia de sobra. de influências culturais de negros, ín-
qualquer dia do ano, deixe em casa co- Por isso, será uma boa oportunida- dios e europeus”, disse o Ministro da
bertores ou agasalhos. Além do clima, de tomar um suco de açaí ou de Cultura, Gilberto Gil, em entrevista à
os moradores ratificam a fama de que cupuaçu ou de bacuri ou de muruci AEROVISÃO, no final de abril. O Mi-
recebem de forma calorosa os seus vi- ou de uxi. Sem falar no guaraná do nistro esteve em Belém no dia 30
sitantes. Essa lição já foi aprendida pe- Amazonas, que, em Belém, é uma anunciando projetos de preservação
los militares que vêm servir no Pará. vitamina ultra-poderosa que leva ovo e recuperação de monumentos e pa-
“Estou desde o final de fevereiro na de codorna, catuaba, marapuama, trimônios culturais da cidade.
cidade e já me sinto em casa. As pes- gengibre, canela, castanha-do-Pará, Vizinho de porta ao Ver-o-Peso está
soas fazem de tudo para os recém-che- gelo e frutas regionais. a Estação das Docas – ponto badalado
gados sentirem-se à vontade”, elogia o Tanta energia talvez explique um com restaurantes, sorveterias, lancho-
Comandante do I COMAR (Primeiro povo tão festeiro. As casas de show netes, espaços artísticos e música ao
Comando Aéreo Regional), Maj.-Brig.- costumam convidar várias bandas vivo para os freqüentadores à beira da
do-Ar Carlos Alberto Pires Rolla. para as noitadas. Não custa muito até Baía do Guajará. O palco se movimen-
Tanto os que se transferem para aprender o ritmo do momento em ta por todo o espaço, por meio das

207 / JUL-SET 2003 25


engrenagens que funcionavam no pas- os seus caminhos em Belém e não en- Guajará ao Atlântico, das memórias do
sado e que foram recuperadas. A Esta- tender a sabedoria histórica e presente passado sempre tão cuidadas e lem-
ção foi construída a partir de três anti- que vem do linguajar do povo. Ouvi- bradas no presente. Tudo emoldura-
gos galpões das docas da cidade. A rá, por certo, expressões como “égua!”. do por uma genuína e quase imprová-
estrutura permanece praticamente in- Atenção: não é o animal. É como um vel cultura “tupinambá-afro-européia”.
tacta. Das margens das docas, é possí- “caramba”, “pôxa”... Entenderá tam- Para definir essa cidade tão singular,
vel realizar deliciosos passeios para bém em pouco tempo o “pai-d’égua” – é necessário percorrer sem pressa seus
ilhas que pertencem a Belém. referência elogiosa que significa ótimo, cantos e descobrir, mesmo que aos
Moderno e antigo se encontram muito bom. poucos, os seus encantos, e só assim
também na maior manifestação de fé Há outras gírias e interjeições que descortinar essa terra “pai-d´égua”.
do Brasil, o Círio de Nazaré, que acon- é bom saber. Mas descobri-las, aos
tece em outubro e é considerado o poucos, é outro sabor bem especial.
Natal do paraense. São dois milhões Um gosto de cupuaçu com carimbó,
de pessoas percorrendo quatro quilô- de sossego do dia misturado ao calor
metros nas ruas de Belém, durante com chuva refrescante da tarde. Sabor
cerca de cinco horas, da Catedral à de capital moderna com seu jeitinho Ten. Luiz Cláudio - Jornalista
Basílica de Nazaré. Durante a procis- bem interiorano, de brisas e ondas do
são, a multidão mostra sua fé seguran-
do a corda à qual está ligada a imagem
que está sendo conduzida. Além da
romaria propriamente dita, o evento
compreende 15 dias de festividades, Aero-Dicas
com procissões, peregrinações e uma
intensa programação religiosa e cultu-
ral, que a cada ano aumenta em núme-
ro e em novidades.
Um pouco de história Túnel das Mangueiras, na


O passado de Belém pode ser visi- Praça da República
tado no presente. A cidade nasceu
como Santa Maria de Belém do Grão
Pará em 1616, fundada por Francisco
Caldeira Castelo Branco. Era uma ter-
ra onde viviam os índios tupinambás
e foi colonizada pelos portugueses a
partir de então. A memória lusa está
Belemtur

presente na arquitetura, com fachadas


de azulejos claros, sótãos e saguões
para amenizar o clima quente e úmi-
do. Foram os portugueses que cons-
truíram o Forte do Castelo para expul- Catedral da Sé: o ponto de

sar os holandeses. Os canhões ainda partida do Círio de Nazaré


Sgt Christian Nunes

estão lá.
Poderá o visitante ter uma aula de
história em outros lugares, como o
Museu de Arte de Belém, a Casa das
11 Janelas, o Parque da Residência e
Sgt Christian Nunes

ainda conhecer um pouco mais de


fauna e flora no Museu Paraense
Emílio Goeldi e no Bosque Rodrigues
Alves, com a rica e impressionante
reserva amazônica. No meio da capi-
tal, o visitante se sente em plena flo-
resta. Por falar em riqueza, vale conhe-
cer as igrejas centenárias e as ruas es-
treitas que desvendam uma cidade
Os canhões do Forte

com muita história para contar o que


não ficou para trás. do Castelo
Mas não adiantará percorrer todos

26 207 / JUL-SET 2003


Hotéis de Trânsito
Cassino de Oficiais da Base Aérea tos da Aeronáutica Exército
de Belém: Tel. (91) 213-6267 Hotel de Trânsito de Oficiais
Tel. (91) 213-6103 21 apartamentos simples, duplos e triplos Tel. (91) 223.5082
19 apartamentos na ala de trânsito Diária – R$ 11,00 htobelem@zipmail.com.br
(simples, duplos e triplos) 26 apartamentos individuais/casal
14 apartamentos na ala de residente Marinha Oficial General – R$ 35,00
(simples e duplos) Hotel de Trânsito de Oficiais da Ma- Oficial Superior – R$ 30,00
Preços: rinha Capitão/Tenente – R$ 25,00
Oficial General – R$ 27,00 Tel. (91) 216-4049
Oficial Superior – R$ 23,00 Preços: Hotel de Trânsito dos Sargentos
Capitão/Tenente – R$ 19,00 Oficial General - R$ 24,00 Tel. (91) 243.3022
Oficial Superior – R$ 22,62 8 apartamentos solteiro/casal
Cassino dos Suboficiais e Sargen- Capitão e Tenente – R$ 17,18 Diária – R$ 13,50

O mercado Ver-o-

Peso, o mais famoso


de Belém
Belemtur

Sgt Christian Nunes


▲ Barcos ancorados nas docas
Belemtur

Bosque

Rodrigues Alves

▲ O Teatro da Paz,
no centro da
cidade
Sgt Christian Nunes
Sgt Christian Nunes

Obra feita em

cerâmica
Marajoara

207 / JUL-SET 2003 27


O mundo está mudando e, para acompanhar essa evolução, temos que
nos preparar profissionalmente. Aprender um novo idioma tornou-se
uma necessidade

N
a praia do litoral pernam-
bucano, o vendedor de
abacaxis empurra seu carri-
nho sob o sol quente. Ao reconhecer
um turista estrangeiro, se aproxima sor-
ridente e pergunta: “Do you want a
pineapple?”. Pois é. Não tem como
fugir. A globalização faz parte de nos-
sa realidade. Impossível, hoje em dia,
imaginar alguém que consiga
implementar sua carreira, ou seus es-
tudos, sem o conhecimento da língua
inglesa. Em alguns setores de traba-
lho, saber falar e entender esse idioma
pode ser vital. Dentro da FAB, profis-
sionais se dedicam ao aprimoramento
do inglês e multiplicam o conhecimen-
to ao ensiná-lo aos companheiros de
farda.
Controle padronizado
Em 1944, em Chicago, representan-
tes de 52 nações assinaram uma con-
venção delineando os princípios da
aviação global em tempos de paz e fun-
Universidade de Cambridge, nos Es- O curso completo do LABID dura
dando a OACI (Organização de Avia-
tados Unidos. três anos: o primeiro, de ensino bá-
ção Civil Internacional) em Montreal.
Ele explica que o LABID, original- sico, o segundo, de nível intermedi-
Sete anos mais tarde, a OACI estabe-
mente criado para atender às necessi- ário, e o terceiro, avançado.
leceu que o inglês deveria ser a língua
dades de aprimoramento de controla- Outro professor de inglês da FAB
padrão para a aviação no mundo. A partir
dores de tráfego aéreo, atende hoje a é 1º Sgt. BCT Gilberto Carvalho Vaz.
de então, tornou-se obrigatório o conhe-
militares de toda a área de Brasília. Ele se dedica a seus alunos “com o
cimento e uso do idioma por parte dos
“Com o tempo e a divulgação feita pe- prazer de quem ensina crianças a ler
controladores de tráfego aéreo, no diá-
los próprios alunos, o curso recebe par- pela primeira vez”, compara. Gilberto
logo com os pilotos, o que evitou uma
ticipantes com os mais diversos se interessou pelo aprendizado do idi-
série de contratempos (ver box).
objetivos: provas nas embaixadas, cur- oma aos 12 anos em sua cidade natal,
Inglês na Capital sos no exterior ou mesmo elevação de Parnaíba do Sul (PI), e se aprimorou
O Ten.-Esp.-CTA Nelson Marcelino nível e conhecimentos”, diz Nelson. quando entrou para a Aeronáutica. Ele
Dias chefia o LABID (Laboratório de O Maj.-Av. José Frederico Júnior, ensina o idioma desde 1997, quando
Idiomas) do CINDACTA I (Primeiro participou de um curso intensivo participou do curso de elevação de
Centro Integrado de Defesa Aérea e Con- para habilitação no Psychological nível em língua inglesa na Base Aérea
trole de Tráfego Aéreo) e ajudou na Operation Course, nos Estados Uni- de Lackland, no Texas, Estados Uni-
reativação do curso há alguns anos. Ele dos. “O curso foi rápido, mas o dos. “Procuramos fazer os alunos tes-
formou-se em inglês pela Casa Thomas instrutor nos familiarizou com ex- tarem sua capacidade de comunicação
Jefferson. Mais tarde, tornou-se profes- pressões usuais do idioma. Em pou- para aprender a lidar com situações que
sor pelo Instituto Britânico Indepen- co tempo os resultados dos testes si- possam vir a enfrentar. E temos tido
dente e obteve o certificado de profici- mulados foram cada vez mais excelentes desempenhos”, orgulha-se.
ência em língua inglesa conferido pela satisfatórios”, diz o Maj. Frederico. Em um dos muitos casos, Gilberto nar-

207 / JUL-SET 2003 29


Sgt. Gilberto: aulas de aula. O tempo de curso varia de acor-
dinâmicas incentivam
do com o aproveitamento dos alunos.
a participação e
ajudam o aluno a Cada um faz seu ritmo. “O trabalho dos
desinibir-se controladores exige muito deles ao se
comunicarem com aeronaves estrangei-
ras”, diz o 1° Sgt. Gilberto Pedro da Sil-
va, também professor, formado em tra-
dução pela Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE).
Uma situação normalmente contro-
lável pode transformar-se num sério pro-
blema: “Já fui acionado em sala de aula
quando o controlador não compreendia
o que o piloto dizia”, lembra o 1º Sgt.
José Carlos Bastos Souza, também pro-

Sgt Denise Escovino


fessor, formado em letras pela UFPE. O
piloto da empresa Iberia, da Espanha,
que sobrevoava Recife em direção a São
Paulo, relatava que uma das passagei-
ras, grávida de nove meses, sangrava
muito e estava para dar à luz.
Após comunicar-se com os operado-
ra a história de uma aeronave america- O 2º Sargento André Luiz Ribeiro
res, a aeronave aterrissou e encontrou
na, cujo piloto reportou problemas com dos Santos, aluno do curso intermediá-
uma equipe de médicos a postos. Mas
o TCAS (equipamento que emite aler- rio do LABID, conta que estudou inglês
não só em emergências se resume o diá-
ta de perigo iminente) e usou referên- durante seis anos antes de ingressar na
logo entre pilotos e controladores. “Du-
cias técnicas relacionadas ao equipa- FAB. “Quando soube do curso no
rante a Copa do Mundo, somos aciona-
mento e não à fraseologia comum. “O CINDACTA fiquei um pouco apreensi-
dos pelos pilotos para informar o resul-
que poderia ter gerado um incidente vo, pois não imaginava como seria a
tado dos jogos. O mesmo acontecendo
mais grave foi imediatamente contro- metodologia. Mas os professores vestem
durante as Olimpíadas, quando os pilo-
lado pelo operador, graças ao seu co- a camisa e posso afirmar que, em dois
tos querem saber sobre as performances
nhecimento de inglês”, explica. anos de curso no LABID, aprendi mais
dos atletas de seus países”, diz Bastos.
O SO BCT Arnaldo Roarelli Júnior, que em seis anos lá fora”, afirma.
coordenador do LABID, formou-se em
Nos céus de Recife ▲
inglês pelo Fisk e aprimorou seus co- SO Roarelli: o conhecimento do
O curso de inglês do CINDACTA
nhecimentos no Curso Avançado de idioma inglês como fator de sucesso
III tem metodologia diferente, mas o
Controlador de Operações Aéreas Mi- em operações militares
objetivo é o mesmo: preparar contro-
litares no Dundridge College, em
ladores e habilitá-los à tarefa de contro-
Devon, Inglaterra. Além de instrutor, ele
lar os céus. No laboratório, uma mesa
trabalha na área de defesa aérea e já par-
central controla os equipamentos indi-
ticipou de muitas operações militares.
viduais, de onde o instrutor pode ou-
“Para o sucesso de operações como a
vir, gravar e corrigir a pronúncia e a gra-
CRUZEX e a MISTRAL, o conhecimen-
mática dos alunos. O SO BCT Moacir
to da língua inglesa é relevante. Pilotos
Cantanhede de Jesus Filho formou-se
e controladores interagem com mais fa-
professor de inglês pelo CCAA e pelo
cilidade”, conta o professor, que tam-
York School em Recife. “Aqui os alunos
bém é fluente em japonês.
fazem seu próprio horário. O importan-
Roarelli participou da equipe que se
te é atingir as metas pré-estabelecidas”,
reuniu no ILA (Instituto de Logística
explica o SO Cantanhede.
da Aeronáutica) para a montagem do
A Divisão Operacional de ATM (Air
primeiro módulo do CBIT (Curso Bási-
Traffic Management - Gerenciamento de
co de Inglês Técnico), voltado especifi-
Tráfego Aéreo) estabelece as metas a se-
camente para o pessoal de Esquadrões
rem alcançadas em cada estágio do cur-
Sgt Denise Escovino

de Vôo. “Para os profissionais de vôo,


so. O aluno agenda o horário com o pro-
no final das contas, saber se comuni-
fessor, que se apresenta na sala de aula
car em inglês pode salvar vidas, já que
no horário marcado. Algumas vezes,
permite ao piloto e aos técnicos enten-
alunos no mesmo nível de aprendiza-
derem melhor o equipamento que ma-
do podem partilhar o horário e a sala
nuseiam”, conclui.

30 207 / JUL-SET 2003


O curso recebe alunos de toda a No CIEAR: curso
região de Recife, mas prioriza as va- intensivo exige preparo
gas para os controladores de tráfego. dobrado para driblar a
heterogeneidade das
O mais importante é a ênfase nos ter- turmas
mos técnicos característicos desse
tipo de trabalho. Segundo o SO
Cantanhede, “o controlador pode ter
um excelente conhecimento da lín-
gua inglesa e não saber como tradu-
zir um termo técnico, como perna-
de-vento (down wind), por exemplo”.
Curso intensivo
No Rio de Janeiro, o Centro de
Instrução Especializada da Aeronáu-

Sgt Denise Escovino


tica (CIEAR) realiza um trabalho mais
abrangente. Os cursos têm uma carac-
terística que os diferencia dos cursos
ministrados nos CINDACTA I e III.
Trata-se de um curso intensivo, com
duração de 45 dias, no máximo. Os
fego Aéreo Internacional. Ambos foram ler o esforço.” As palavras do Sgt. Gil-
instrutores dispõem de equipamentos
convidados pelo Comandante do berto resumem o empenho e a dedica-
individuais, podendo receber até 20
CIEAR a formarem a equipe de ção desses militares. Em esforço con-
alunos em uma turma. O grande pro-
instrutores. junto, os instrutores levam os profissi-
blema com que se deparam na forma-
O curso do CIEAR não é específico onais da Aeronáutica a um passo adi-
ção das turmas é a heterogeneidade do
para controladores, apesar de usar o ante num mundo globalizado.
nível de conhecimento prévio dos alu-
mesmo material didático. Além dos cur- Sgt. SAD. Denise Escovino
nos. “Alguns nunca estudaram inglês,
sos presenciais, básico e avançado
enquanto outros têm uma ótima base”,
(CBLI), existem ainda duas novas mo-
explica o SO Ronaldo Gonçalves da
dalidades: o CLBI-D (Curso Básico de Erros fatais
Silva, instrutor desde 1994, formado
Língua Inglesa à Distância), distribuí-
em inglês pelo Brasas. A equipe conta
do em cinco módulos, nos quais a Uni-
também com o SO BCT Antonio Ambigüidade, erros de pronún-
dade recebe o material didático e, no
Carlos Lima Peeters, instrutor de Trá- cia, falhas gramaticais e sotaque car-
final do curso, o material para a avalia-
regado. Estes são fatores que podem
ção; e o CBLI-2I, o mesmo curso básico
▲ A equipe de instrutores do aumentar a ocorrência de incidentes
ministrado no CIEAR, sendo que os
CINDACTA III: o aluno estuda no seu e acidentes aeronáuticos.
próprio ritmo instrutores vão às Unidades, caracteri-
Em 1977, em Teneriffe, Ilhas
zando o curso itinerante. “Em época de
Canárias, ocorreu o pior acidente aé-
contenção, esse tipo de instrução tor-
reo da história. As tripulações da
na-se mais viável, já que apenas os
KLM e da PanAm e o controlador es-
instrutores se deslocam para o local dos
panhol estavam falando inglês. Um
cursos, evitando gastos com o desloca-
erro na comunicação, apontado como
mento de 20 alunos”, explica o Maj.-
“sotaque carregado”, fez colidir as
Av. Marcos Graciano Torres Roque, Che-
duas aeronaves. O acidente matou
fe da Subdivisão de Ensino. Segundo
583 pessoas.
o Major Roque, a freqüência dos cur-
Em 1980, de novo em Teneriffe, o
sos itinerantes tende a aumentar.
controlador autorizou a órbita padrão
O ensino de inglês na FAB reúne
(fazer círculos padronizados num es-
profissionais bem formados e treinados.
paço determinado) para um vôo da
Mais recentemente o CINDACTA II, em
Dan de Manchester, Inglaterra. A
Curitiba, também iniciou seu curso de
instrução dada foi ”turn to the left”
reciclagem em língua inglesa. Com os
(virar à esquerda), mas deveria ter
cursos, o conhecimento se multiplica e
sido “TURNS to the left”, que signi-
Sgt Denise Escovino

novas experiências acontecem, melho-


fica fazer círculos para a esquerda ao
rando o ensino do idioma. “O que eu
invés de uma única curva. O erro jo-
trago de melhor para o laboratório foi o
gou a aeronave numa montanha,
que eu tive de melhor de meus profes-
matando 146 pessoas.
sores. A certeza do aprendizado faz va-

207 / JUL-SET 2003 31


Sempre alerta!
O que você acha que aconteceria se Santos-Dumont e Baden-Powel se encon-
trassem no início do século? Bem, com certeza, teriam sido co-fundadores de
um dos grupos de Escoteiros do Ar.
Ar

Lobinha Vivian Vallim


Penteado: ”Adorei voar no
Buffalo. Obrigada à FAB
por essa oportunidade, que

Marcelo Penteado
nunca esquecerei”

C
rianças e jovens montam acam- Grupo, fundado em junho de 1982 por advogado e professor da Universidade
pamento em um local ermo. Em iniciativa do então Brig.-do-Ar Luiz Federal de Pernambuco (UFPE).
seguida, preparam-se para inici- Gonzaga Lopes, está localizada dentro Quem vê as crianças concentradas
ar uma instrução de rapel: mãos unidas, da Vila Residencial do Segundo Coman- em aprender um novo tipo de nó ou
fazem uma pequena prece. A determina- do Aéreo Regional (II COMAR). Seus um dos Lobinhos contando sua “boa-
ção com que realizam cada atividade lem- componentes se dividem em grupos: 7 ação” semanal entende a afirmação do
bra um acampamento militar. Na verda- a 11 anos, os Lobinhos; 11 a 15, os Es- Chefe Ernani. Os exercícios ajudam
de, eles integram um grupo de Escotei- coteiros; 15 a 18, os Seniores, e 18 a 23 a desenvolver a honestidade e a soci-
ros do Ar, modalidade de escotismo fun- anos, os Pioneiros. abilidade e desenvolvem a consciên-
dada no Brasil em 1944 (ver quadro). Os Chefes – pedagogos, advogados, cia dos jovens em relação à preserva-
Quando Robert Stephenson Smith soldados, farmacêuticos – têm a tarefa de ção e o respeito à natureza.
Baden-Powell fundou o movimento es- formar os novos cidadãos, e tudo isso, Além disso, as tarefas envolvem as
coteiro, há quase cem anos (ver box), não num trabalho não-remunerado. “A práti- crianças com os problemas da comu-
imaginava que, em pleno século 21, mi- ca do escotismo incentiva esses jovens a nidade local. Em 1997, o Grupo rece-
lhares de meninos e meninas ainda esta- executar atividades voltadas ao contato beu o Certificado de Reconhecimento
riam praticando as mesmas rotinas cria- com a natureza, ao ar livre, bem como do UNICEF (Fundo das Nações Uni-
das por ele. desenvolve suas virtudes cívicas e auxi- das para a Infância, órgão ligado à
Dessas crianças, 75 pertencem ao 5º lia na formação de sua personalidade”, ONU) pelo trabalho de distribuição e
Grupo Escoteiros do Ar Brigadeiro explica o presidente do 5º Grupo, Chefe auxílio na produção de soro caseiro
Eduardo Gomes, de Recife. A sede do Ernani José Barbosa da Silva, 45 anos, realizado na favela Borborema, no

32 207 / JUL-SET 2003


município de Cabo de Santo Agosti-
nho, a 20 km de Recife.
Outras histórias de igual determina-
ção e sucesso se sucedem nas narrati-
vas: crianças com problemas escolares
que se recuperaram após o ingresso no
Grupo; integrantes que se tornaram alu-
nos da Escola Preparatória de Cadetes
do Ar (EPCAR), outros que se forma-
ram Oficias do Exército. “Um de nos-
sos grandes orgulhos é ver os meninos
e meninas bem-encaminhados na vida”,
diz Maria José Feitosa, uma das funda-
doras do Grupo, que já está no movi-
mento escoteiro há 43 anos.
“Prometo fazer o melhor possível
para cumprir meus deveres para com
Deus e a Pátria”. As palavras pronunci-
adas com orgulho por Gleiby Dornellas
Dutra, Lobinho de 10 anos, resumem o
compromisso do jovem escotista. Gleiby
conta a emoção que sentiu no dia de sua
promessa: “Eu pude, finalmente, parti-
cipar das atividades de hasteamento da
Bandeira Nacional”. Somente após rea-
lizarem a promessa, os Lobinhos podem
usar o uniforme e participar das
atividades cívicas com os outros jovens
do grupo. Eles aprendem então os fun-
damentos do escotismo e sua história e
estudam os ensinamentos básicos de seu
manual.
Os Escoteiros do Ar diferenciam-se

Fotos de Marcelo Penteado


dos demais grupos pelo desenvolvimen-
to de atividades ligadas à Aeronáutica
de uma maneira geral, como por exem-
plo: aeromodelismo, navegação, meteo-
rologia, identificação de aeronaves que
despertam ainda mais o interesse dos
jovens pela aviação. A modalidade já re-
úne mais de 7000 jovens em todo o País.
Interesse que levou Ivo Marcelino
Micelli, 76 anos, funcionário aposenta-
do da Varig, a se dedicar ao escotismo
há 63 anos. O Chefe Ivo é o mais antigo
Chefe escoteiro do país. Sua energia e
dedicação contagiam e levam mais de 80
crianças ao Grupo Escoteiro 14-Bis,
sediado na Base da Fundação Ruben
Berta, na Ilha do Governador (RJ).
A Varig apóia e sedia o Grupo, numa
área de mais de 17 mil metros quadra-
dos, em meio à natureza. “O trabalho
no Grupo, aliado à doutrina escoteira,
já afastaram jovens das drogas e isso nos
gratifica e estimula”, comenta o mais an-
tigo Chefe. Alguns de seus “meninos”
tornaram-se Oficiais-Aviadores e seus

207/ /JUL-SET
207 JUL-SET2003
2003 33
33
Um novo caminho

Baden-Powel era Oficial do Exér-


cito inglês e publicou um livro para
ajudar os exploradores da Força,
contendo informações sobre acam-
pamentos e sobrevivência. Certo dia,
percebeu que um grupo de meni-
nos utilizava o livro em suas brin-
cadeiras e resolveu promover um
acampamento com jovens de 16 a
Sgt Denise Escovino

21 anos na ilha de Brownsea, na In-


glaterra. Assim, em 1908, nascia o
escotismo.
Mais tarde, em 1910, um Tenente
da Marinha brasileira trouxe para o
País as diretrizes escotistas, fundan-
do o escotismo por aqui.
▲ O Lobinho Gleiby: participar das ações” que fizeram durante a semana. O Escotismo do Ar, especificamen-
atividades cívicas é motivo de orgulho Depois, acontecem os jogos “quebra- te, foi criado na cidade de Curitiba,
gelo”, quando todas as equipes interagem no Paraná, precisamente no 5º Regi-
olhos brilham de orgulho quando se e aprendem a lidar com situações de res- mento de Aviação, hoje Segundo Cen-
lembra deles: “É bom saber que mante- ponsabilidade. Para Marcelo Duarte, ad- tro Integrado de Defesa Aérea e Con-
mos jovens fora das ruas e os educa- ministrador da área da Fundação, eles trole de Tráfego Aéreo (CINDACTA
mos para serem adultos honestos e com são excelentes vigilantes e cuidam do II). Na ocasião, o Ten.-Cel-Av.
um futuro promissor”. espaço a eles destinado com esmero e Godofredo Vidal, ao lado de outros
O 14-Bis, que conta com a colabora- cuidado. Para integrar-se ao Grupo, a cri- Oficiais, decidiram fundar a modali-
dade do ar e oficializaram na União
ção de 20 Chefes, se reúne nas tardes ança deve comprovar matrícula escolar
dos Escoteiros do Brasil a criação do
de sábado e, no início das atividades, e bom comportamento, ser parente, de-
primeiro grupo da categoria: o Gru-
os lobinhos correm a contar as “boas- pendente ou ser apresentado ao Grupo
po Escoteiro do Ar Tenente Ricardo
por um funcionário ou ex-funcionário
Kirk. Em 19 de abril de 1944, surgiu
da Varig. a Federação dos Escoteiros do Ar, con-
Chefe Ivo, o mais antigo Chefe

escoteiro do Brasil: amor ao escotismo Os 70 grupos de Escoteiros do Ar gregando todos os grupos que desen-
espalhados pelo Brasil reúnem-se em volviam a modalidade.
eventos bienais e em encontros nacio- Em 26 de julho de 1951, o Brig.-
nais e internacionais com as demais mo- do-Ar Nero Moura, então Ministro
dalidades escoteiras. Nos meses de ju- da Aeronáutica, reconhecendo a im-
lho, acontece o Jamburee (encontro in- portância do Escotismo do Ar na
ternacional das modalidades escoteiras), formação de possíveis futuros avia-
uma grande confraternização escoteira dores, determinou, na Portaria n.º
com acampamento, palestras e troca de 262, que todas as Unidades da For-
estórias e conhecimentos. O último acon- ça Aérea Brasileira apoiassem os
teceu em Fortaleza (CE). grupos escoteiros da modalidade. O
O trabalho desses homens e jovens Comando da Aeronáutica propôs
reúne determinação, dedicação e o de- uma reedição do documento, no sen-
sejo de ajudar e crescer. No acampamen- tido de dar continuidade e incenti-
vo à atividade escoteira no Brasil.
to, as atividades se iniciam. No rapel,
as cordas amarradas à cintura alçam mais
alto os sonhos desses jovens. Uma ju-
ventude sadia e dinâmica que faz acon-
tecer o seu próprio futuro.
Sgt Denise Escovino

Coordenação Nacional da
Modalidade do Ar
Av. Brasil, 1647 - Guanabara
13073-001 – Campinas/SP
Sgt SAD Denise Escovino

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A Caça na
Sobre a imensa floresta, na fronteira norte do Brasil. Esse é o ambiente operacional de

Após a conversão dos Esquadrões


de Ataque para Unidades de Caça em
novembro de 2001, além do número
de aeronaves Tucano, houve também
um acréscimo de pessoal para atender
às necessidades da instrução aérea.
Alunos do curso de liderança, pi-
lotos da extinta aviação de ataque, bem
como outros, oriundos da primeira li-
nha da caça, formam o quadro de tri-
pulantes desses esquadrões.
Eles realizam vôos na região de fron-
teira e aproveitam a instrução para in-
“Aqui começa o duelo”. O duelo imensa floresta brasileira. dicar também a presença da aviação
contra os vôos ilícitos, a selva e seu Eles são jovens e aceitaram, volun- militar brasileira nos céus da região.
clima traiçoeiro, a distância das ba- tariamente, a missão de realizar a sua A área de atuação dos dois esqua-
ses de apoio e a dificuldade de co- capacitação operacional, guardando o drões é marcada por intensa movimen-
municação, além da imensidão da maior tesouro ambiental do planeta: a tação de vôos ilícitos, o que propicia à
fronteira norte do Brasil. Amazônia. missão um cenário real de hostilidade.
Está surgindo uma nova era na Ao lado do “Grifo”, o Primeiro Es- Os pilotos contam várias histórias
aviação militar do nosso país, parti- quadrão do Terceiro Grupo de Aviação sobre aeronaves ilícitas que são avista-
cularmente na aviação de caça. (1°/3° GAV), Esquadrão Escorpião, das eventualmente durante as missões
O duelo, citado na frase estampa- sediado na Base Aérea de Boa Vista, ou detectadas pelos órgãos de contro-
da na entrada do Segundo Esquadrão compõe o grupo conhecido como “Os le. Quando acionados, eles intercep-
do Terceiro Grupo de Aviação (2°/3° Terceiros”, expressão carinhosamente tam esses tráfegos, identificando-os e
GAV), Esquadrão Grifo, sediado na utilizada na FAB para denominar as ordenando o seu pouso.
Base Aérea de Porto Velho, faz alusão duas Unidades Aéreas responsáveis pela Essas aeronaves normalmente são
a todos os desafios enfrentados pelos formação de líderes de esquadrilha de conduzidas por pessoas experientes e
pilotos de caça que voam sobre a caça no extremo norte do Brasil. que conhecem o relevo da região, o que

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Amazônia
e formação dos novos Líderes de Esquadrilha de Caça da Força Aérea Brasileira

vôo ao abaste-
cimento e apoio
nos hangaretes, a cada
decolagem e pouso.
Os grandes aliados dos Grifos e
Escorpiões na missão na fronteira são
os aviões R-99 do 2°/6° Grupo de Avia-
ção, sediado em Anápolis. Eles operam
em conjunto, como controladores aéreos
dos AT-27 nas missões de interceptação.
É uma atividade que requer sintonia e
à Força Naval e à Terrestre. integração entre as tripulações, exigindo
O treinamento em simulador de vôo dos pilotos e controladores o máximo de
facilita a fuga pela fronteira. é feito em Pirassununga (SP), na Acade- capacidade profissional.
No momento dessa reportagem, mia da Força Aérea. O de emprego do Na Amazônia, os campos de pouso
embaixo de um hangarete em Porto Ve- armamento é realizado em Santa Cruz, são distantes e as bases de apoio, es-
lho, uma esquadrilha, composta por Cachimbo ou Natal, de acordo com a cassas. A construção do Núcleo da Base
duas aeronaves AT-27 Tucano, aguarda- disponibilidade dos estandes de tiro. Aérea de Uaupés (NUBAUA), localiza-
va o acionamento de alerta para decola- A capacitação para a utilização da ae- do na cidade de São Gabriel da Cacho-
gem imediata. “Aqui a operação é real” ronave e do armamento é exaustivamen- eira (AM), servirá como fator de maior
afirmou o Capitão Carlos Alberto, pilo- te treinada, inclusive durante as partici- mobilidade para as missões desses es-
to de Mirage, recém-chegado de pações em exercícios como COMBINEX, quadrões na linha de fronteira do Bra-
Anápolis para auxiliar na instrução dos OPERAER e RIBEIREX, entre outros. sil com a Colômbia e a Venezuela.
Grifos. Apesar da distância dos Parques de Ao ser inaugurada, a nova Base
Existe uma tripulação permanente- Manutenção, os dois esquadrões ope- Aérea possibilitará uma presença ain-
mente em alerta, 24 horas, todos os ram com uma disponibilidade diária da maior de vôos militares nos céus
dias do ano. girando em torno de 80%, além de pro- da região.
Este é o ambiente encontrado pe- fissionais de manutenção altamente A chegada das novas aeronaves AL-
los pilotos vindos de Natal como ala capacitados para o apoio ao vôo. X, denominadas na FAB de A-29 na
operacional para realizarem o curso de Eles são militares não só da caça, sua versão operacional e AT-29 na ver-
liderança. mas oriundos de outras aviações, es- são de treinamento avançado, está
Ao chegarem, eles deparam-se com tabelecendo um grande intercâmbio e prevista para o final do próximo ano.
um cenário favorável a todo o conjun- troca de experiências. “Os aviões não O avião, desenvolvido pela
to de missões atribuídas à aviação de param no hangar. Nós também não EMBRAER, equipará esses esquadrões
caça. A motivação dos integrantes dos paramos; existe sempre uma esquadri- de caça da Amazônia e trará para a For-
esquadrões é notória. lha saindo ou chegando e nós temos ça Aérea um conceito completamente
Além das atividades de instrução, que apoiar todos os pilotos”, conta o novo em termos de tecnologia e dou-
as duas Unidades Aéreas operam em Sargento Ronald, vindo da aviação de trina de emprego.
conjunto com a Marinha e o Exérci- transporte e especialista em célula no A aeronave possui processamento
to. Entre outras possibilidades, eles 1°/3° GAV em Boa Vista. completamente digital, dotada de sis-
atuam como Força Aérea amiga em Profissionais como ele cuidam de temas embarcados de última geração,
missões de cobertura ou como Força cada detalhe da operação das aerona- possibilidade de realização de missões
Aérea inimiga em ataques simulados ves. Do armamento e equipamento de utilizando visão noturna e softwares que

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farão do piloto um operador de sistemas.
O fato gera uma grande expectati-
O cuidado com va nessa nova geração de aviadores


a manutenção dos militares.
assentos Durante os dias 24 de março e 4 de
ejetáveis

Cap. Frederico
abril, uma equipe de pilotos, engenhei-
ros e técnicos da EMBRAER e do Cen-
tro Técnico Aeroespacial (CTA) estive-
ram em Porto Velho a fim de realizarem
as últimas avaliações da aeronave em
ambiente amazônico.
O contato com o avião serviu para
motivar ainda mais os integrantes do
1°/3° GAV, e aproximá-los da realida-
de que será vivida em pouco tempo
no esquadrão.
A conversão da missão das Unida-
des Aéreas e a aquisição das novas aero-
Verificação do

naves para a Amazônia exigiram do Co-


armamento:
atenção mando da Aeronáutica um investimento
redobrada maior na infra-estrutura das Bases Aére-
as de Boa Vista e Porto Velho, para que
pudessem apoiar com eficácia a opera-
ção dos aviões e atender ao crescente
aumento de efetivo nessas Organizações.
Cap. Frederico

Além de várias outras obras, es-


tão prontos os hangaretes, pistas de
táxi e pátio de estacionamento de
Porto Velho. Em Boa Vista foram
inaugurados os hangaretes das aero-
naves A-29, o pátio de estacionamen-
to e o hangar dos R-99.
“Os aviões

O trabalho incessante é realizado


não param nos
sob o forte calor amazônico, com a fi-
hangar, nós
também não nalidade de entregar, o mais breve pos-
paramos” sível, as novas instalações que vão abri-
gar as mais novas máquinas estratégi-
cas da Força Aérea Brasileira.
A aviação de caça na Amazônia tem
como principal instrumento e desafio para
Cap. Frederico

essa nova geração a implantação de uma


nova doutrina de emprego, baseada na
utilização de aeronaves modernas que,
alimentadas por dados de outras aerona-
ves, radares embarcados ou de solo e
dados via satélite, possuem a capacida-

de de executarem missões fora do alcan-


Os Guardiões
e os Grifos: ce de qualquer outro turboélice já dispo-
unidos na nível ou em desenvolvimento.
proteção da Este é o novo teatro de operações que
Amazônia se desenha para a Amazônia. O cenário
de dimensões continentais possui tripu-
lações treinadas, motivadas e em perfeito
estado de prontidão operacional para o
Cap. Frederico

combate. Para o “duelo”.

Maj.-Av. Frederico

38 207 / JUL-SET 2003


Criatividade em campanha
Materiais e equipamentos esquecidos viram um hospital de campanha que ga-
rante a segurança e a saúde dos militares da BANT

A
presença deles dá
tranqüilidade. Seja no campo
de instrução ou em manobras
aéreas, o doente ou ferido sabe que
terá um atendimento rápido. Isso ex-
plica a existência da Unidade Celular
de Saúde (UCS) da Base Aérea de
Natal (BANT), que acompanha de per-
to todas as atividades de campo reali-
zadas na Unidade.
“Dar um atendimento rápido e efi-
ciente no próprio local da instrução,
evitando que o militar seja trazido para
o Esquadrão de Saúde [ES]. Esse é o
objetivo da UCS”, diz o Maj.-Dent. Ale-
xandre Herculano Mayer, um dos co-
ordenadores. “Antes, o militar era re-
movido até o Esquadrão de Saúde, o
que demandava muito tempo para
retornar à instrução”, completa.
A UCS da BANT é a única em ati-
torção de pé, fratura de dedo e espi- tiro de Maxaranguape (RN). Já na Reu-
vidade na FAB e faz as vezes de um
nhos são as ocorrências mais comuns. nião da Aviação de Transporte (RAT),
Hospital de Campanha, só existente na
O Soldado Daniel Hudson Pinheiro de no Torneio da Aviação de Caça (TAC)
Diretoria de Saúde da Aeronáutica
Oliveira, do Batalhão de Infantaria e no Portões Abertos, ocorridos no ano
(DIRSA) (veja box). “A equipe e os equi-
(BINFA), sentiu-se mal e logo foi so- passado na BANT, a UCS se instalou
pamentos da UCS são selecionados
corrido pela equipe. Depois de medi- num shelter, onde operou por dois
conforme a necessidade da missão”,
cado, repousou e voltou para a meses. A equipe também tem levado
conta o Comandante do ES, Ten.-Cel.-
instrução. “Gostei da rapidez no aten- seu apoio a comunidades carentes, por
Med. Nelson Luiz Foggiatto Silveira. No
dimento, pois antes o hospital ficava meio da Operação ACISO (Ação Cívi-
exercício de campo dos Recrutas, rea-
muito distante”, diz. Opinião seme- co-Social).
lizado duas vezes por ano, a equipe
lhante teve o Soldado Luciano Augusto Quem vê hoje a Unidade Celular de
geralmente é formada por um médico,
Ferreira da Silva Júnior, do Grupo de Saúde em funcionamento nem imagina
um dentista, dois Sargentos enfermei-
Instrução Tática e Especializada como tudo começou. Em 2000, para dar
ros, dois Cabos auxiliares e um moto-
(GITE), que sentiu dores no estômago, apoio aos Soldados em instrução, o pes-
rista para a ambulância.
foi medicado e, em menos de uma soal do ES teve que improvisar. Materi-
Durante esse treinamento, são mon-
hora, voltou para o “combate”. Ironi- ais e equipamentos sucateados, prestes
tadas duas barracas, com dois leitos,
camente, uma das vítimas foi o fotó- a serem descarregados, foram recupera-
duas macas e equipamentos adaptados,
grafo que estava cobrindo a instrução. dos, conta o Maj.-Dent. Herculano. Vo-
como cadeira odontológica e mini-la-
Um material caiu sobre a cabeça do 2º luntários do ES lixaram e pintaram os
boratório, com capacidade para efetuar
Sargento Marcelo Nunes, provocando equipamentos, cortaram alguns para re-
exames de urgência e até pequenas ci-
um corte em seu rosto. Após alguns duzir o peso e até estrado de cama virou
rurgias. Somente os casos graves ou que
pontos, ele já estava em ação, garan- bancada para o laboratório. Uma lição
necessitem de tratamentos mais com-
tindo as fotos desta reportagem. do pessoal da Saúde, que não mediu
plexos são removidos para o ES. Po-
Além do apoio aos Recrutas, esse esforços para apoiar a missão da FAB,
rém, “antes de ser transportado, o pa-
hospital itinerante atuou na Operação além de servir para o aprimoramento da
ciente é preparado adequadamente. No
Calango do Segundo Esquadrão do equipe, capacitando-a para agir em situ-
caso de um acidente grave, o primeiro
Quinto Grupo de Aviação (2º/5º GAV), ações de conflito.
atendimento pode salvar uma vida”,
exercício em que o Esquadrão Joker des-
lembra o Ten.-Cel.-Med. Nelson.
dobrou seu efetivo para o estande de Sgt. Marta - Jornalista
Tonturas devido ao esforço físico,

207 / JUL-SET 2003 39


Em tempo real
Um eficiente sistema de informações moderniza a FAB e possibilita um maior
poder de combate

D
urante uma manobra de guer- possibilitam ações sincronizadas no possível que cada Força venha a utili-
ra, o piloto tem uma visão ge- tempo e no espaço, aumentando o po- zar versões ou mesmo suportes (equi-
ral de toda a situação em torno der de combate de cada aeronave en- pamentos) de comunicações diferen-
de sua aeronave ao receber no seu pa- volvida para neutralizar ou evitar o ata- tes em razão de fatores diversos, tais
inel de controle uma enorme quanti- que inimigo. como: propagação (alcance) das comu-
dade de informações sobre os demais Esses são alguns dos benefícios que nicações e portabilidade dos equipa-
participantes do cenário: identificação, o Sistema de Comunicações por Enla- mentos e seus acessórios. “Mas o
localização, classificação (se é uma ae- ces Digitais da Aeronáutica SISCENDA permitirá, mesmo assim,
ronave de transporte regular ou mili- (SISCENDA) trará para a Força Aérea que os participantes troquem dados de
tar, se é amigo ou inimigo, etc.), velo- Brasileira e, num futuro próximo, ao maneira tal que os usuários sejam ca-
cidade, altitude, quantidade de com- Exército e à Marinha do Brasil. pazes de interpretar as informações da
bustível e a localização dos seus A versão do SISCENDA a ser mesma forma. Isto é chamado de
objetivos ou alvos. Informações segu- adotada de forma comum pelas Forças interoperabilidade, a chave para o su-
ras, transmitidas em segundos, que Armadas ainda não está definida. É cesso de um sistema de TDL (Tactical
40 207 / JUL-SET 2003
Data Link), como o SISCENDA”, es- cada. Poderá, inclusive, sofrer evolu- tema que possibilita um enorme fluxo
clarece o Ten.- Cel.-Av. Alexandre ções no suporte de transmissão de da- de informações em curto espaço de
Fernandes da Silva Lessa, Oficial do dos ou, ainda, nas atividades de tempo e com a máxima segurança é,
Estado-Maior da Aeronáutica implementação necessárias para a com certeza, um dos projetos mais au-
(EMAER) relator do Grupo de Traba- integração de novos participantes. Na daciosos, no momento, para a moder-
lho que assessora a Comissão de Im- verdade, assim como o telefone e o nização da Força Aérea Brasileira, pois
plantação do Sistema de Controle do computador, as comunicações táticas pode significar o sucesso ou o fracas-
Espaço Aéreo (CISCEA) nos assuntos por data-link vieram para ficar. E, para so de diversas missões e a vida ou a
relativos ao Projeto. que sua efetividade seja mantida ao morte dos seus combatentes.
longo do tempo, o SISCENDA preci- Cap.-QFO Valdenice - R. P.
Investimento nacional
sará estar em constante modernização.
Poucos países têm acesso à
Mas, o desenvolvimento desse Sis-
tecnologia, recursos financeiros e hu-
manos necessários ao desenvolvimen-
to de um sistema tão complexo. Na
América do Sul, somente um país pos-
sui um sistema semelhante e, mesmo
assim, não o utiliza plenamente por
falta da infra-estrutura necessária.
O Brasil começou a entrar nesse gru-
po seleto quando o Comando da Aero-
náutica resolveu, em 1998, adotar uma
linha de equipamentos para as comu-
nicações por enlace de dados (conheci-
da por data link) entre as aeronaves AL-
X e as aeronaves R-99. Sendo assim,
além dos equipamentos, o Brasil nego-
ciou com o fornecedor um programa de
transferência de tecnologia. Mas o pro-
grama não incluía os aplicativos e, por-
tanto, toda a parte de funcionamento
do equipamento teria que ser desenvol-
vida pelos brasileiros.
E isso está sendo feito. O Coman-
do da Aeronáutica, por meio de uma
Portaria, oficializou a criação do
SISCENDA e criou um Grupo de Tra-
balho, subordinado ao Estado-Maior
da Aeronáutica, com o objetivo de as-
sessorar a CISCEA, órgão responsável
pela elaboração da configuração técni-
ca e pelo gerenciamento do desenvol-
vimento da implantação do Sistema. COMO FUNCIONA
As dificuldades orçamentárias que os
diversos setores públicos, incluindo Os enlaces TDMA funcionam pela
O SISCENDA utilizará dois tipos bá-
nossas Forças Armadas, têm enfrenta- alocação de uma fatia de tempo, cha-
sicos de enlaces: o ponto-a-ponto,
do nos últimos tempos e a conseqüente mada de slot, para que cada partici-
para as comunicações entre dois par-
falta de acesso às inovações pante transmita seus dados.
ticipantes (basicamente ar-solo); e o
tecnológicas, aliadas ao número redu- É como se fosse um carrossel vir-
enlace em rede TDMA (Time Division
zido de pessoas especializadas na área, tual. Em intervalos de pequenos es-
Multiple Access), para as comunica-
são os principais obstáculos enfrenta- paços de tempo esses slots retornam
ções entre vários participantes, prin-
dos por essa equipe. e possibilitam, a cada participante,
cipalmente em vôo. Ambos, empre-
Apesar de parte do Sistema já se disponibilizar um volume muito
gando uma técnica de salto de
encontrar em operação, o Projeto, de grande de informações. E, enquanto
freqüência, controlada por um
forma global, ainda está na fase de con- não estão transmitindo, os participan-
algoritmo de criptografia, que garan-
cepção. A sua implantação completa tes “escutam” as transmissões dos de-
te que as comunicações ocorram,
será feita em algumas outras fases e, a mais, constituindo, assim, a rede de
praticamente, imunes a interferênci-
exemplo de outros tantos projetos de dados.
as e a interceptações.
grande porte, levará cerca de uma dé-

207 / JUL-SET 2003 41


De novo no ar
2006: após um século, o mais-pesado-que-o-ar voará novamente em Paris

N
o dia 23 de outubro, em 1906,
no Campo de Bagatelle, Paris,
o brasileiro Alberto Santos-
Dumont decolou com uma máquina
mais-pesada-que-o-ar e realizou a iné-
dita façanha de levantar vôo, mantê-la
em condições sustentáveis até o re-
gresso seguro à terra firme.
Superada a lei da gravidade, cou-
be à história universal enaltecer e ve-
nerar o feito histórico e a genialidade
desse patrício.
Cem anos após, projetar e relembrar
tal façanha é mais que um simples gesto
de ufania ou de brasilidade – é um
dever moral, o de relembrar às gera-
ções mais jovens aquilo que o mundo
inteiro não cansou em render honras
e destacar à época.
Pensando nisso, o Comandante da
Aeronáutica tomou a iniciativa de de-
signar um Grupo de Trabalho que irá
cuidar da campanha do centenário do
vôo do 14-Bis.
O Centro de Comunicação Social da
Aeronáutica e o Museu Aeroespacial
planejaram uma campanha com 30
projetos. Dentre esses projetos, estão
previstos filmes cinematográficos, no-
vela de época, documentário
jornalístico para a televisão, material
literário para inserção no conteúdo
curricular das escolas, produtos indus-
triais temáticos, cédula monetária, brin-
quedos educativos, álbum de
figurinhas, concursos diversos, coleção
filatélica, enredos de escolas de sam-
ba, exposição cultural, festa popular,
Semana da Asa 2006 em edição espe-
cial e, principalmente, a reconstrução
do famoso aparelho, o 14-Bis.
Esse novo modelo permitirá a re- lizada na Europa, com a participação cial jamais poderão ser considerados
produção do inesquecível vôo em di- dos governos brasileiro e francês. uma tarefa árdua, nos dias atuais.
versos pontos do território nacional. Parece apoteótico? E como imagi- Difícil, mesmo, foi inventar o
Encerrando a campanha, o célebre vôo nar diferente, diante do legado do Pai inexistente, desafiar as leis da física,
será refeito com nova decolagem e pou- da Aviação? imitar os pássaros, brincar de Deus,
so no lendário Campo de Bagatelle, na Reproduzir o grande feito e enaltecê- há um século.
manhã do dia 23 de outubro de 2006, lo nas mais diversas formas da expres-
em cerimônia internacional a ser rea- são artística, cultural, econômica e so- Ten.-Cel.-Av. Coutinho

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Tempo esgotado
Licenciamento de Praças sem estabilidade e “sub judice”: problema constante-
mente enfrentado por OM do Comando da Aeronáutica agora está com os “dias
contados”

T
rês Soldados, embriagados, se “Alguns anos
envolveram em uma briga, du- depois”, acrescen-
rante uma confraternização. tou o Maj. Paulo Ri-
Dois deles haviam agredido um tercei- beiro, “uma nova de-
ro Soldado, e o inquérito foi encami- terminação orientava
nhado à Justiça Militar. a Organização a con-
“Esse fato aconteceu próximo da sultar um juiz da
conclusão do serviço militar deles, e Auditoria Militar
eles ficaram cerca de um ano a mais nos casos de Solda-
após o tempo de permanência esgota- dos engajados e,
do”, afirmou o Maj.-Inf. Paulo Ribei- normalmente, o
ro, que trabalhou de 1994 a início de parecer era favorável deira ‘sobrevida’
2003 na administração de pessoal mi- ao licenciamento”. no serviço ativo”,
litar do Segundo Centro Integrado de Esse tipo de situação disse a Ten. Renata
Defesa Aérea e Controle de Tráfego ocorreu por muitos anos por- Ricarte Domiciano Ferreira,
Aéreo (CINDACTA II), em Curitiba- que as Forças Armadas basea- Adjunto Jurídico da
PR. “No começo, havia uma orienta- ram-se em um parecer de 1986, da Consultoria Jurídica-Adjunta do
ção no sentido de não licenciar o Sol- Consultoria-Geral da República. Esse Comando da Aeronáutica (COJAER).
dado que estivesse respondendo a In- documento, na verdade, era uma res- Para corrigir distorções e esclarecer
quérito Policial Militar (IPM). A conti- posta a uma consulta realizada ao ór- o assunto, em 5 de dezembro de 2002,
nuidade deles na ativa era um mau gão sobre licenciamento de Praça em o Ministro da Defesa aprovou novo
exemplo, pois estavam sendo benefi- serviço militar obrigatório, na condi- Parecer (nº 151/CONJUR – 2002), para
ciados após cometerem um ato ilícito, ção de “sub judice”, e dizia: “No méri- ser adotado pelas três Forças como ori-
enquanto outros Soldados de condu- to, passa a vigorar, no âmbito da Ad- entação normativa.
ta exemplar tiveram de ir embora ministração Federal, a orientação pela O novo parecer diz: “Em face do
quando completaram o tempo”, dis- qual o incorporado, quando respon- exposto, o nosso parecer, (...), é no
se. Ao final do julgamento, os três fo- der a Inquérito Policial Militar ou a pro- sentido de que o Parecer nº S-17, de
ram imediatamente licenciados. cesso no foro militar, deverá permane- 1986, da Consultoria-Geral da Repú-
cer na sua Unidade, não lhe sendo blica, não se aplica ao militar sem es-
▲ Ten. Ricarte
aplicável, enquanto durar essa transi- tabilidade, engajado ou reengajado, li-
ção, a interrupção do tempo de servi- mitando-se o seu alcance a quem se
ço nem o licenciamento (...)”. encontre prestando serviço militar ini-
Com o tempo, o termo “incorpora- cial”. A partir disso, a Praça pode ser
do” adquiriu significado muito amplo licenciada do serviço, caso esteja res-
e, na prática, passou a se referir a to- pondendo a Inquérito Policial Militar
das as Praças. Essa interpretação aca- ou à ação penal militar, por decisão da
bou ocasionando problemas. própria administração, descartando
“Sabendo que, em determinados ca- necessidade de autorização judicial.
sos, há uma demora para a decisão da Com essa nova orientação, o Coman-
Justiça e que enquanto o mérito da ques- do da Aeronáutica espera que situações
tão não estivesse definitivamente julga- que comprometam a hierarquia e a dis-
do não poderiam ser licenciados, alguns ciplina militares não prevaleçam, man-
Soldados, Cabos e Sargentos provoca- tendo seus pilares constitucionalmen-
Sgt Paulo

vam situações que compeliam a Admi- te definidos.


nistração à instauração do Inquérito Po- Ten. QCOA. Karina - Jornalista
licial Militar, conseguindo uma verda-
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Pedagogia militar
H
á algum tempo, venho obser- tuguês escolar”. Mas o que essas ino-

Arquivo Pessoal
vando como as nossas cren- centes frases têm a ver com o nosso
ças interferem diretamente no ensino?
processo de ensino-aprendizagem Elas demonstram a nossa crença de
nas instituições de ensino do Coman- que a ênfase do nosso ensino está
do da Aeronáutica, seja ele em qual- centrada no conteúdo que deve ser
quer nível. memorizado e não nas habilidades que
A crença no ensino tradicional, permitirão um efetivo uso desse con-
não no sentido lato da palavra, mas teúdo (Valente, 2002), além de escon-
naquele baseado na tradição, no en- der o fato de que o aluno bem-sucedi-
sino de pai para filho, no ensino do do não significa, necessariamente, que
ofício, está impregnado em nossos compreende o que fez. Em 1974 e em
cursos e escolas. Infelizmente, há uma 1978, Piaget observou que há uma di-
predominância exagerada de práxis ferença entre o fazer com sucesso e o
obsoletas e um verdadeiro culto ao compreender o que foi feito (La Prise
“eu aprendi assim”. de Conscience e Reusir et Comprendre,
A prática doxal, aquela que vem da A Tomada de Consciência e Fazer e
experiência de vida, deve ser substi- Compreender, respectivamente).
O nosso ensino não pode ser mais
baseado em um fazer descompromissa-
do, de realizar tarefas e chegar a um
Não há dúvidas de que o resultado igual à resposta que se en-
profissional que contra no final do livro texto, mas do Ten. Eduardo Silverio de Oli-
fazer que leva ao compreender. Não há veira
precisamos deve ser dúvidas de que o profissional que pre- Chefe da Seção de Apoio a
cisamos deve ser melhor qualificado,
melhor qualificado, com com habilidades e responsabilidade
Cursos e Simuladores (ECAC)
do Instituto de Proteção ao
habilidades e para poder tomar decisões, resolver Vôo (IPV)
dificuldades e realizar tarefas que po- Mestrado em lingüística na
responsabilidade para dem não ter sido pensadas anterior- UNICAMP
mente (Valente, 2002).
poder tomar decisões Mas, se durante a sua formação,
Engenheiro Civil

o aluno é passivo e considerado ape-


nas como um receptáculo que preci-
sa ser enchido de informações, como feito com que as novas tecnologias este-
tuída pela prática epistêmica, aque- podemos exigir futuramente que ele jam a serviço do ensino tradicional, ou
la que vem da análise, da observa- busque o conhecimento, que resolva seja, do fazer. A nossa prática pedagógi-
ção, do saber, do rever, do exami- problemas, que faça uso da informa- ca está agora travestida de modernidade,
nar, do pesquisar, sob pena de au- ção “aprendida” ou que encontre so- mas no fundo nada foi alterado, a não
mentarmos ainda mais o que prefi- luções otimizadas? ser pelo fato de termos gasto mais di-
ro chamar de “desperdício escolar”: Não seria o uso da informática um nheiro com a compra de computadores,
desinteresse, treinamentos pouco boa solução para o problema? Antes de videocassetes, projetores, etc.
profícuos, retreinamento, obsoles- responder a essa pergunta, devemos nos A tecnologia dos multimeios pa-
cência, etc. valer do dito popular: “todo cuidado é rece que veio para ficar! Afinal de
Alguém não se lembra dos jar- pouco”. Entretanto não temos como contas, todo país subdesenvolvido
gões: “Se não entendeu, decora!”, “O negar que precisamos buscar soluções acha que a simples compra de má-
importante é camburar”, etc? Nem heurísticas para o nosso ensino. quinas modernas resolve todos os
sei se a palavra “camburar” existe O uso do computador, da internet seus problemas. A mudança tem que
na cultura escrita do português do e da nossa intranet virou uma febre necessariamente passar pela crença
Brasil, mas não há como negar que em nossas instituições de ensino, mas pedagógica.
ela faz parte da cultura oral do “por- as nossas crenças no que é ensino têm

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Às margens plácidas
Com o aprimoramento das competições militares, o desporto militar traz uma
grande promessa para a natação brasileira

Arquivo Pessoal
Arquivo Pessoal

G
raças a problemas respiratóri- competições de que participou, até que boa preparação, incluindo as viagens
os na infância, o mundo co- entrou para a Federação Aquática do para participar de competições e ali-
nheceu alguns grandes nadado- Rio de Janeiro, em 2001. Entre as con- mentação adequada, se constitui em
res. Um deles é Joel Ferreira Borges quistas mais importantes de Borges em mais uma barreira ao surgimento de
Alves, que aprendeu a nadar com 1 ano competições militares estão o recorde novos talentos na natação. “O apoio
de idade, por recomendação médica, no Campeonato Brasileiro das Forças do CDA foi essencial para que eu par-
depois de uma crise de bronquite, mas Armadas em provas de 200m costas, ticipasse das últimas competições”, ex-
só aos 14 anos de idade começou defi- sua especialidade, e a melhor coloca- plica Borges. Essa estrutura dada pe-
nitivamente a prática da natação. Tudo ção da delegação brasileira no Campeo- las Forças Armadas para os atletas trou-
começou com a influência do pai, pro- nato Mundial das Forças Armadas, re- xe resultados para as competições es-
fessor de natação, numa competição na alizado em setembro de 2002, na Ale- portivas militares.
escola onde fazia o primeiro grau, e a manha, disputando provas de 50m e Para o atleta, o nível das competi-
vitória inesperada sobre um colega, que 100m costas. Em competições civis, fi- ções militares tem se aproximado cada
acabou convidando-o para compor a cou entre os oito melhores nadadores vez mais das competições civis: “Até
equipe municipal de natação do Rio de brasileiros de 2000 a 2003, disputando alguns anos atrás, o nível das compe-
Janeiro. Depois de se alistar na Aero- o Troféu Brasil de Natação, além do tições militares era bem inferior, mas
náutica e começar o serviço militar em bicampeonato brasileiro na categoria tem melhorado muito com o ingresso
2002, Joel se tornou o Soldado Borges, júnior, em 2001 e 2002, e o oitavo lugar de bons nadadores nas Forças Arma-
e hoje serve na Divisão de Desportos nos 100m costas no Troféu José Finkel das”, afirma o atleta. Mesmo com uma
Militares da Comissão de Desportos da de 2002. agenda cheia, dividida entre o traba-
Aeronáutica (CDA), no Rio de Janeiro. Borges explica que, para a maioria lho no CDA e o treinamento, Borges
Em cinco anos de carreira, Borges dos atletas, uma das grandes dificul- agora se prepara para a disputa do Tro-
obteve vitórias importantes na natação, dades da natação está na falta de uma féu José Finkel 2003, a ser realizado
tanto em competições civis, quanto mi- estrutura para treinamento. Faltam pis- em setembro, em São Paulo e o Cam-
litares. “As vitórias já tinham virado cinas adequadas e os poucos centros peonato Mundial Militar, previsto
rotina”, afirma ele, referindo-se aos dois de treinamento, mesmo nas principais para outubro, na Itália.
anos em que competiu pela equipe mu- cidades do País, estão distantes da re-
nicipal, quando ganhou quase todas as sidência desses atletas. O custo de uma Sgt. SDE Luiz Carlos

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Apertem os cintos, o plugue sumiu!!
O negócio é não abusar da sorte... nem da ironia

N
os idos de 1987, eu servia no minado. Encontramos um pote cheio de
Primeiro Esquadrão do Nono plugues, que imediatamente derrama-
Grupo de Aviação, sediado em mos sobre a mesa na tentativa de encon-
Manaus. Eu e meu companheiro de trar um que fosse igual ao que per-
Esquadrão, o então 3S Barcellos, éra- demos.
mos mecânicos do C-115 Buffalo. Infelizmente, o Capitão
Uma das aeronaves encontrava-se com
pane em um dos aparelhos de comu-
nicação (rádio VHF) havia várias se-
manas. Como a pane só acontecia em
vôo, era difícil de ser detectada. O Cap.
Jurandir, chefe da Manutenção, já ir-
ritado com a demora de se encontrar
uma solução, deu-nos o prazo de um
dia útil para resolver o problema.
Dirigimo-nos ao pátio para nossa
“missão de urgência”. Após vasculhar
cada centímetro do Buffalo, detectamos
a causa da maldita pane: um dos pe-
quenos plugues da antena do rádio es-
tempo, “Tá ali”, apontando
tava solto. “Beleza!”, exclamei, “ agora
a pilha de plugues amontoa-
é só refazer a instalação do cabo da
dos na mesa à nossa frente.
antena no conector e pronto!”. Jurandir teve a mesma idéia de ir à Seção
O Capitão, famoso por sua impaci-
Para nosso azar, num piscar de de Eletrônica logo cedo e nos pegou com
ência e total falta de senso de humor,
olhos, o plugue escorregou da mão de a mão na massa, olhando uma por uma
retrucou saindo da sala com cara de
Barcellos e caiu em um dos milhares as peças sobre a mesa. Ao entrar, foi logo
poucos amigos: “Pois contem os
de buracos que só o Buffalo tem. “Já perguntando: “E aí?! Resolveram?”.
plugues. Será a quantidade de dias de
era!”, disse Barcellos, olhando deses- Explicamos então que o problema era
cadeia que vocês vão pegar”.
perado para o piso do avião. o terminal da antena e que já estava tudo
No dia seguinte, antes do início do sob controle. Não satisfeito, o Capitão Sgt. BCO Flavio Cavadas
expediente, fomos correndo à Seção de faz a pergunta fatal: “Cadê a peça?”. Eu
Eletrônica, em busca de um conector de e o Barcellos nos entreolhamos um se- Mande você também o seu “Causo”
reposição. O prazo do Capitão havia ter- gundo e respondemos, quase ao mesmo para editor.dpd@fab.mil.br

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