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COCIHTEC – HISTÓRIA
Textos e documentos
O texto selecionado para abrir os estudos acerca da organização dos trabalhadores no século XIX e dos
movimentos operários foi escrito por Friedrich Engels. O autor, nascido na Alemanha, foi para a Inglaterra em
1842 e tomou contato com a realidade deplorável em que viviam os operários. Apesar de ser herdeiro de rica
família, que possuía uma tecelagem em Manchester, Engels, então com 22 anos, sensibilizou-se com o quadro
social com que se deparou. Nessa época (décadas de 1830 e 1840) surgiram inúmeros trabalhos (relatórios
médicos, artigos, livros etc) que levantavam os problemas do nascente proletariado inglês. Sabe-se que Engels
se baseou em farta documentação para escrever, em 1845, o livro A Situação da Classe Trabalhadora na
Inglaterra, obra clássica e reveladora dos dramas sociais gerados pela nova sociedade capitalista.
Os trechos escolhidos permitem a compreensão de como os trabalhadores, num primeiro momento,
tentaram se organizar e reagir contra a miserável situação que lhes foi imposta pela burguesia. O autor nos
revela que o crime e a destruição de máquinas (ludismo) se destacaram como reações iniciais dos trabalhadores
contra a nova situação. Observa, ainda, que, num segundo momento, encontraram-se formas mais eficazes de
organização, como o cartismo, por exemplo. O termo ludismo tem suas origens no nome de um artesão, Ned
Ludd, inconformado com o avanço da produção em bases industriais.
Enquanto você lê o texto, procure refletir sobre a seguinte questão:
- Por que o autor afirma que para os trabalhadores "era preciso encontrar uma nova forma de
oposição"? Qual foi essa forma?
É fácil compreender, mesmo que eu não o tivesse dito explicitamente, que os operários
ingleses não podem sentir-se felizes numa tal situação; que a sua situação não é a mais adequada
para que um homem, ou uma classe inteira, tenha possibilidades de pensar, sentir e viver
humanamente. Os operários devem, portanto, tentar se libertar desta situação que os coloca ao nível
dos animais, para criarem para si próprios uma existência melhor, mais humana, e só o podem fazer
entrando em luta contra os interesses da burguesia enquanto tal, interesses que residem precisamente
na exploração dos operários.Mas a burguesia defende os seus interesses com todas as forças de que
pode dispor, graças à propriedade e ao poder do Estado.
Desde o momento em que o operário quer escapar ao atual estado de coisas, o burguês
torna-se seu inimigo declarado.
Mas, além disso, o operário pode constatar em qualquer momento que o burguês o trata
como uma coisa, como sua propriedade, e esta razão basta para que ele se manifeste como inimigo da
burguesia. Já demonstrei anteriormente com a ajuda de uma centena de exemplos - e teria podido
citar centenas de outros - que, nas circunstâncias atuais o operário não pode preservar a sua
condição de homem senão pelo ódio e pela revolta contra a burguesia. (...)
A revolta dos operários contra a burguesia começou pouco depois do início do
desenvolvimento da indústria e atravessou diversas fases.
( ... ) A primeira forma, a mais brutal e a mais estéril, que esta revolta assumiu foi o crime. O
operário vivia na miséria e na indigência e via outros que gozavam de situação melhor. A sua razão
não conseguia compreender porque era precisamente ele que tinha que sofrer nestas condições, ele
que fazia bem mais pela sociedade do que um rico ocioso. Por outro lado, a necessidade venceu o
respeito inato pela propriedade - começou a roubar. Vimos que o número de delitos aumentou com a
expansão da indústria e que o número anual de prisões está em relação constante com os fardos de
algodão vendidos no mercado.
Mas em breve os operários tiveram de constatar a ineficácia deste método. Com os seus
roubos, os delinqüentes não podiam protestar contra a sociedade senão isoladamente,
individualmente; todo o poderio da sociedade sobre cada criminoso e esmagava-o com a sua enorme
superioridade. Além disso, o roubo era a forma menos evoluída e consciente de protesto e, por essa
simples razão, nunca foi a expressão geral da opinião pública dos operários, mesmo que eles a
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aprovassem tacitamente. A classe operária começou a se opor à burguesia quando resistiu
violentamente à introdução das máquinas, como aconteceu logo no início do movimento industrial.
Deste modo,os primeiros inventores (Arkwright e outros) começaram por ser perseguidos e as suas
máquinas destruídas; mais tarde deu-se um grande número de revoltas contra as máquinas, que se
desenrolaram quase exatamente como as revoltas dos impressores da Boêmia em junho de 1844; as
oficinas foram demolidas e as máquinas, destruídas.
Esta forma de oposição, também ela, não existia senão isolada, limitada a certas localidades
e não visava senão um só aspecto do regime atual. Atingido o fim imediato, o poder da sociedade
recaía com toda a sua violência sobre os recalcitrantes sem defesa e castigava-os como queria,
enquanto continuavam a introduzir as máquinas. Era preciso encontrar uma nova forma de oposição.
( ... )
Dado que os operários não respeitam a lei, contentando-se pelo contrário em deixar que a
sua força se exerça quando eles próprios não têm o poder de mudá-la é perfeitamente natural que
pelo menos proponham modificações à lei, que queiram substituir a lei burguesa por uma lei
proletária. Esta lei proposta pelo proletariado é a Carta do Povo (People's Charter) que na sua forma
é puramente política e que reclama para a Câmara dos Comuns uma base democrática. O cartismo é
a forma condensada da oposição à burguesia. Nas uniões e nas greves, esta oposição mantinha-se
isolada e eram os operários que, separadamente, lutavam contra burgueses isolados. Se o combate se
generalizava, isso raramente era por intenção dos operários, e quando havia intenção, era o cartismo
que estava na base dessa generalização. Mas com o cartismo é toda a classe operária que se levanta
contra a burguesia - e particularmente contra o seu poder político - e que assalta a muralha legal de
que está rodeada. ( ... ).
( ... ) Em 1838, uma comissãoda Associação Geral dos Operários de Londres (London
Working Men's Association), tendo à frente William Lovett, definiu a Carta do Povo cujos seis pontos
são os seguintes: 1. Sufrágio universal para todos os homens adultos sãos de espírito e não
condenados por crime;2. Renovação anual do Parlamento; 3. Fixação de uma remuneração
parlamentar a fim de que os candidatos sem recursos possam igualmente exercerem mandato; 4.
Eleições por escrutínio secreto, afim de evitar a corrupção a intimidação pela burguesia; 5.
Circunscrições eleitorais iguais a fim de assegurar representações eqüitativas; Abolição da
disposição, agora já meramente nominal, que reserva a elegibilidade exclusivamente aos
proprietários de terras no valor de pelo menos 300 libras esterlinas, de modo que cada eleitor seja a
partir de agora elegível, ( ... )
O cartismo foi desde seu início, em 1835, um movimento essencialmente operário, mas não
estava ainda nitidamente separado da pequena burguesia radical. O radicalismo operário avançava
de mãos dadas com o radicalismo burguês.
(ENGELS, Friedrich. A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra. São Paulo, Global, 1986, pp. 241-3 e 256-8.)
W. O. Henderson
Desde suas origens, localizadas no movimento ludita dos fins do século XVIII e início do século XIX,
o movimento operário europeu passou por várias fases. Por volta de meados do século XIX, quando o
Parlamento inglês, em1842, rejeitou pela segunda vez, as reivindicações contidas na "Carta do Povo", os
trabalhadores compreenderam que não seria através do apelo às autoridades parlamentares que sua sorte
melhoraria. Assim, tomava-se necessária a renovação da atividade e dos métodos de luta da classe trabalhadora.
Data dessa época o nascimento do sindicalismo no movimento operário, inicialmente na Inglaterra e conhecido
pela expressão Trade Unions. O movimento trade-uníonísta passaria, também, por fases distintas. Ao mesmo
tempo, a reação das classes dominantes, atemorizadas com o avanço e o ímpeto das manifestações operárias,
não tardou. Em 1871, o Parlamento publicava uma lei que tomava praticamente ilegais atividades de caráter
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grevista. Percebe-se, portanto, que o crescimento do sindicalismo operário encontrou as mais variadas
dificuldades antes de se afirmar definitivamente, já no início do século XX.
O texto selecionado possibilitará uma compreensão mais clara do papel desempenhado pelos
sindicatos na luta dos trabalhadores contra a nova ordem social resultante da consolidação do capitalismo.
Enquanto você lê o texto, procure refletir sobre a seguinte questão:
- Qual à importância hist6rica do sindicalismo no movimento operário europeu do século XIX?
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embora não tivessem sido ainda capazes de persuadir muitos dos grandes industriais a aceitar o
princípio do contrato coletivo, o que somente viria a suceder em 1918. Embora os sindicatos "livres"
estivessem em ligação íntima com o Partido Social-Democrata, mantinham a sua independência e
resistiam firmemente a todas as tentativas feitas pelo partido para controlar a política dos sindicatos.
O movimento operário europeu, conforme se viu nos textos anteriores, insere-sena contestação à nova
ordem que se consolida ao longo do século XIX, caracterizada pela democracia liberal e pelo desenvolvimento
da sociedade burguesa, industrial e capitalista. É dentro desse contexto que se organizam as chamadas
Internacionais Operárias, tentativas de coordenar e organizar a luta do operariado numa escala internacional.
O texto dos professores F. Falcon e G. Moura permite uma clara compreensão das circunstâncias
hist6ricas, das disputas internas, dos projetos e limitações do proletariado europeu no que diz respeito à
organização da Associação Internacional dos Trabalhadores.
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reticente, produzindo condenações teóricas ao colonialismo, enquanto alguns partidos social-
democratas o apoiavam velada ou abertamente. Os socialistas ingleses, por exemplo,"criam, como
Kipling, que 'o fardo do homem branco' era uma realidade.O império existia; ele era legítimo na
medida em que estava baseado na confiança das populações colonizadas e não na força, na medida
em que suapo/(tica se guiava pelo desejo de conduzir à maturidade os povos atrasados" .Também na
questão da guerra, a Segunda Internacional produziu condenações veementes ao conflito que se
aproximava, mas não estabeleceu os meios eficazes para lutar contra sua eclosão, Em 1914 os
Estados Nacionais, levantando a bandeira da "união sagrada", conseguiram, com raras exceções, o
apoio dos social-democratas para a guerra. Foi o fim da Segunda Internacional.
(FALCON, Francisco J. C. e MOURA, Gerson. A Formação do Mundo Contemporâneo. 5 ed., Rio de Janeiro,
Campus, 1983, pp. 121-3.) .
A COMUNA DE PARIS