Você está na página 1de 29

Legislação do Sistema Único de Saúde

(SUS)

Profª Eluana Figueiredo


Antecedentes do SUS

 33 anos de SUS em um Brasil com 521 anos de existência.

 Antes do SUS (Colônia ao período militar): organização sanitária Precária, Injusta e


desigual.
Antecedentes do SUS
 A herança desses modelos para os trabalhadores de enfermagem:

a) a lógica da produção de atos de saúde como procedimentos e a da produção


dos procedimentos enquanto cuidado.

b) as ações de saúde centradas na visão biológica e no cuidado enquanto


produção e prescrição de modos de vida.
Como surgiu a mobilização por um
sistema único de saúde?
Trecho do documento que subsidiou o movimento pela reforma do
sistema de saúde brasileiro:

Aumentaram significativamente a mortalidade infantil, as doenças endêmicas, as taxas


de acidentes do trabalho, o número de doentes mentais e etc. Cresce a um só tempo
a mobilização popular contra o desemprego, os baixos salários e suas péssimas
condições de vida. Cresce também, e mais especificamente, a irritação da população
contra as filas, a burocracia, a corrupção e os custos da má atenção médica que
recebem. Crescem, finalmente, as reclamações e reivindicações sindicais contra as
empresas médicas.

Fonte: Documento apresentado pelo CEBES – Nacional no 1º Simpósio sobre Política Nacional de Saúde na Câmara Federal – outubro
1979.
EVOLUÇÃO DAS POLÍTICA SPÚBLICAS QUE DERAM ORIGEM A SUS

O 1-Movimento sanitarista, composto por segmentos sociais,


NASCIMENTO pesquisadores e profissionais da saúde que elegeu como
DO SUS marco orientador a consigna “saúde é democracia”.

2-VIII Conferência Nacional de Saúde em 1986: o governo do


povo!

3-SISTEMA ÚNICO E DESCENTRALIZADO (SUDS)

4-Constituinte de 1988 cria o Sistema Único de Saúde: uma lei


generosa e implicada com a vida.
CONSTITUIÇÃO DE 1988: A SAÚDE
-Capitulo II, seção II: a saúde como direito fundamental a vida!

-Para os 213,3 milhões de cidadãos das 27 unidades de Federação e de


O SUS é o Patrimônio do povo brasileiro
quase 5.600 municípios brasileiros.

-Não mais a lógica do seguro social e sim, do Direito Social!

- A saúde é um direito de quem?


- DE TODOS!
- Dever de quem?
- DO ESTADO!
- Para que seja implementada o que deve ser feito?
- UMA POLÍTICA ECONÔMICA E SOCIAL.
- Com que objetivo?
- REDUZIR O RISCO DE DOENÇAS E DE OUTROS AGRAVOS!
- Com que tipo de acesso?
- UNIVERSAL E IGUALITÁRIO!
- Para que tipo de ações?
- PROMOÇÃO, PROTEÇÃO E RECUPERAÇÃO
CONSTITUIÇÃO DE 1988: A SAÚDE
A proteção constitucional segue a trilha do debate internacional sobre saúde (Ala Ata,
1978), sobretudo, ao incorporar os conceitos de:

a) Conceito Ampliado de Saúde

“A saúde é resultante das condições de alimentação, habitação, educação,


renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e
posse da terra e acesso a serviços de saúde.” É, assim, antes de tudo, o resultado
das formas de organização social da produção, as quais podem gerar grandes
desigualdades nos níveis de vida (Anais da 8a CNS, 1986).

b) Determinantes Sociais de Saúde

Para a Comissão Nacional sobre os Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS), “os


DSS são os fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e
comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus
fatores de risco na população”.
Porque Sistema Único?

 Segue a mesma doutrina e princípios em todo território nacional;

 Sob a responsabilidade das três esferas de governo;

 Não é um serviço ou instituição, é um conjunto de unidades, de serviços e ações


que interagem para um fim comum;

 Realiza atividades de promoção, proteção e recuperação da saúde.


ENGENHARIA POLÍTICO-INSTITUCIONAL DO SUS

Após a criação do SUS, o maior sistema público de saúde do mundo, procedeu-se uma
complexa engenharia político-institucional:

1- Lei 8080/1990

-Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a


organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras
providências.

-Compromisso do Estado brasileiro com os direitos em um cenário de:

-Heterogeneidade de funcionamento nas 27 unidades de federação do Brasil


-País de extensão continental com mais de 213,3 milhões de habitantes
-O 9º pais mais desigual do mundo.
LEI 8080/90 – OS PONTOS MAIS
IMPORTANTES DO SUS
Objetivo 1: através desta lei o conceito de saúde é ampliado e passa a ser um
conjunto de fatores determinantes e condicionantes – logo, o primeiro objetivo do
SUS é?
-Identificar e divulgar estes fatores determinantes!

Objetivo 2: vimos que para o estado prover as ações e serviços de saúde há


necessidade de?
-Formular uma política econômica e social!

Objetivo 3: o art. 196 da CF/88 e o art. 2º desta lei definem que as ações e
serviços de saúde devem ser de promoção, proteção e recuperação- logo, o
terceiro objetivo?
- Assistir as pessoas por meio de ações de promoção, proteção e recuperação.
Sempre lembrando que deve existir o somatório das ações preventivas e
curativas, mas a prioridade: ações preventivas.
LEI 8080/90: Arquitetura e fisiologia do
sistema
1º universalidade

Universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os


níveis de assistência;

Todos tem direito ao atendimento do SUS


2º Integralidade

Integralidade de assistência, entendida como um conjunto


articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e
curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso
em todos os níveis de complexidade do sistema;

Todos os brasileiros têm direito a atendimento preventivo e


curativo sem distinção a todas as suas demandas
3º Equidade
Todos têm direito a atendimento, sem discriminação ou
privilégios, de acordo com as suas necessidades,
oferecendo mais a quem precisa mais, reduzindo a
desigualdade.

Independentemente de sexo, etnia, religião, idade ou


situação de emprego, têm direito à mesma assistência à
saúde para uma mesma necessidade.

Este princípio tem relação estreita com a questão da


justiça social e da redistribuição da renda,não sendo
admitidas discriminações ou privilégios
Princípios organizativos
Resolubilidade

Resolução de problemas da pessoa, da família e da


comunidade.

É a exigência de que, quando um indivíduo busca o


atendimento, o serviço correspondente esteja capacitado para
enfrentá-lo e resolvê-lo até o nível da sua competência;
devendo referenciá-lo a outro nível de complexidade quando
não for capaz de dar a devida assistência.
Hierarquização
Organização das ações de saúde das diferentes
esferas de governo para o atendimento de níveis
diferentes de complexidade e incidência. ATENÇÃO
HOSPITALAR
Existem problemas de saúde que requerem ações
intersetoriais no campo da política pública, a PRONTO-SOCORRO
PRONTO ATENDIMENTO
exemplo da dengue. Vigilância ambiental, ESPECIALIDADES
saneamento básico e educação constituem
algumas das principais ações para enfrentar essa
endemia.
ATENÇÃO BÁSICA

Casos de dengue requerem, por outro lado,


assistência ambulatorial, hospitalar e exames
laboratoriais.
Regionalização

A regionalização é um processo de articulação entre os serviços


que já existem, visando o comando unificado dos mesmos.
Descentralização

 Cabe ao Governo Federal elaborar as regras gerais de


organização do sistema e participar do financiamento.

 Cabe o Governo Estadual elaborar políticas pautadas na


realidade do estado especialmente, na regionalização que visa
a garantia do acesso a serviços de média e alta complexidade,
na educação permanente, e no financiamento.

 Cabe aos Governo Municipal garantir o acesso aos serviços de


saúde:
Participação da comunidade

a sociedade deve participar no dia-a-dia do sistema. Para isto,


devem ser criados os Conselhos e as Conferências de Saúde,
que visam formular estratégias, controlar e avaliar a execução
da política de saúde.
ENGENHARIA POLÍTICO-INSTITUCIONAL DO SUS

2-Lei 8142/90

- Dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e


sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde e dá
outras providências.

§ 1º A Conferência de Saúde reunir-se-á cada 4 anos com a representação dos vários


O governo do povo

segmentos sociais, para avaliar a situação de saúde e propor as diretrizes para a formulação da
política de saúde nos níveis correspondentes, convocada pelo Poder Executivo ou,
extraordinariamente, por este ou pelo Conselho de Saúde.

§ 2º - O Conselho de Saúde, em caráter permanente e deliberativo, órgão colegiado


composto por representantes do governo, prestadores de serviço, profissionais de saúde
e usuários, atua na formulação de estratégias e no controle da execução da política de
saúde na instância correspondente, inclusive nos aspectos econômicos e financeiros, cujas
decisões serão homologadas pelo chefe do poder legalmente constituído em cada esfera do
governo.
Estrutura Institucional e Decisória do SUS

Colegiado Gestor Conferências Comissões


Participativo Intergestores
(Quadrienal)

Conselho Ministério da
Nacional Nacional Comissão
Nacional Saúde
Tripartite

Conselho Secretarias
Estadual Estadual Comissão
Estadual Estaduais
Bipartite

Conselho Secretarias
Municipal Municipal
Municipal Municipais
Para refletir:

Um sistema público e universal não se concretiza por mera proclamação, a luta


pela implantação é permanente. A operação desse sistema complexo exigiu
também um complexo sistema de organização por meio de:

-Normas Operacionais básicas


-Pactos pela saúde
-Programações Pactuadas e Integradas
-Rede de Atenção à saúde
-Comissões Intergestores
-Complexa fiscalização do financiamento
-Governança democrática e solidária
DECRETO 7508/2011: REGULAMENTAÇÃO DO SUS

Regulamenta a Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990, para dispor sobre a


organização do Sistema Único de Saúde - SUS, o planejamento da saúde, a
assistência à saúde e a articulação interfederativa, e dá outras providências.

Região de Saúde - espaço geográfico contínuo constituído por agrupamentos de


Municípios limítrofes, delimitado a partir de identidades culturais, econômicas e
sociais e de redes de comunicação e infraestrutura de transportes compartilhados,
com a finalidade de integrar a organização, o planejamento e a execução de
ações e serviços de saúde;
I - atenção primária;
II - urgência e emergência;
III - atenção psicossocial;
IV - atenção ambulatorial especializada e hospitalar; e
V - vigilância em saúde.

Portas de Entrada - serviços de atendimento inicial à saúde do usuário no SUS;

Rede de Atenção à Saúde - conjunto de ações e serviços de saúde articulados em


níveis de complexidade crescente, com a finalidade de garantir a integralidade da
assistência à saúde;
DECRETO 7508/2011: REGULAMENTAÇÃO DO SUS

DA ASSISTÊNCIA À SAÚDE

Relação Nacional de Ações e


Serviços de Saúde - RENASES
Relação Nacional de Medicamentos Essenciais -
RENAME
DECRETO 7508/2011: REGULAMENTAÇÃO DO SUS
GOVERNANÇA DO SUS

Comissões que viabilizam as diretrizes definidas pelos conselhos Nacional,


Estadual e Municipal de Saúde. Realização dos contratos organizativos do SUS
(município, estado e União). Define o que cada instância deve fazer. Metas,
programação da saúde...

CIB- Comissão Intergestores Bipartite


CIT- Comissão Intergestores Tripartite
CIR- Comissão Intergestores Regional

OFICIALIZOU A AB COMO PORTA DE ENTRADA DA SAÚDE


DEFINIU CONCEITO DE REGIONALIZAÇÃO E HIERARQUIZAÇÃO
CRIOUS CONTRATO ORGANIZATIVO ENTRE AS ESFERAS
DEFINIU MAPA DE SAÚDE INTEGRADO DAS AÇÕES E SERVIÇOS DE SAUDE
RENASES
RENAMES
QUALIFICOU O ACESSO DO USUÁRIO A SAUDE
MAIOR PODER DE FISCALIZAÇÃO PARA O CONTROLE SOCIAL
ARTICULAÇÃO INTERFEDERATIVA
Avanços a celebrar e desafios a
enfrentar na implantação do SUS

Avanços Desafios
Inovações nos conceitos de saúde Subfinanciamento
Saúde e a ligação com a reforma social Desigualdade social num país
Maior programa de imunização do continental.
mundo Complexidade das questões de saúde
Sistema de vigilância forte Tímida participação Social
Atenção básica capilarizada Políticas neoliberais e corrupção
Por que VC defende o SUS?

"Humanidade para os outros" ou "Sou o que sou pelo que nós somos“
Ubuntu é uma palavra que apresenta significados humanísticos como a solidariedade,
a cooperação, o respeito, o acolhimento, a generosidade.
REFERÊNCIAS:

CECILIO, LCO. Modelos tecno-assistenciais em saúde: da pirâmide ao círculo, uma


possibilidade a ser explorada. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro , v. 13, n. 3, p. 469-
478, Set. 1997 .

JÚNIOR AGS; Alves CA. Modelos Assistenciais em Saúde: desafios e perspectivas.


Disponível em:
http://www.assistenciafarmaceutica.fepese.ufsc.br/pages/arquivos/m_a_s.pdf.

VASCONCELOS, C. M.; PASCHE, D. F. O SUS em perspectiva. In: CAMPOS, G. W. S. et


al. [org]. Tratado de Saúde Coletiva. Ed Hucitec: 2017. 2. PAIM, J. S. et. al. O que é o
SUS. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2015. 93 p. (Coleção Temas em Saúde). Disponível
em: http://www.livrosinterativoseditora.fiocruz.br/sus/4/

PAIM, J. S. SUS: Sistema Único de Saúde - tudo o que você precisa saber. Editora
Atheneu, 2019. 4. BRASIL. Ministério da Saúde. O Sistema Público de Saúde Brasileiro.
Brasília – DF: 2002. Disponível em:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/sistema_saude.pdf.

CENTRO BRASILEIRO DE ESTUDOS DE SAÚDE – CEBES. A questão democrática na área


da saúde. [site]. 2015.

Você também pode gostar