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Memória

O dia que Che Guevara tomou a Livro 7 no


Recife
Um dia, em plena ditadura, Djalma teve um extraordinário surto: Djalma foi até o bar da
Livro 7 com as armas imortais da sua imaginação

Por Urariano Mota 03/12/2021 13:49

Créditos da foto: (Reprodução)

 
Nas informações sobre Che Guevara, muitos falam que em La Higuera, na Bolívia,
acabou a sua luta pelo socialismo. Em 1967, quando foi fuzilado. E aqui, ao dado
histórico acrescentam uma interpretação, de passagem, como se fosse frase boba.
Insinuam que com a morte em 1967, acabaram-se Guevara e seu socialismo. Mas é
um engano absoluto, como veremos. A in�luência de Che Guevara sobre o mundo
não terminou ali, nem naquele ano. Para não mencionar os muitos grupos e ações
que sua vida legou, conto a seguir um relato incrível, criativo, da sua presença no
Recife em 1977. Na pessoa do genial Djalma Gomes de Lima Junior.

Djalma Júnior foi o mais culto e inteligente amigo de características


esquizofrênicas que já conheci. Ele escrevia e falava bem inglês, francês e espanhol.
Conhecia todo o repertório dos Beatles, o teatro de Brecht, e mais �loso�a e
literatura. Djalma era cunhado do intelectual marxista Gildo Marçal, mas um jovem
com brilho próprio, cultura e sensibilidade. O problema foi que um dia, em plena
ditadura, Djalma teve um extraordinário surto: Djalma foi até o bar da Livro 7 com
as armas imortais da sua imaginação. É impossível que o leitor imagine como. Por
isso copio de um texto que publiquei sobre Djalma Junior, poucos dias depois da sua
morte em 2015:

"Na mesa de um bar na praia de Casa Caiada em Olinda, pude então satisfazer uma
curiosidade, que sobre Djalma eu alimentava, até o nível do escândalo:

– Djalma, é verdade que você se vestiu de Che Guevara em plena ditadura?

– Sim, é verdade.

– Mas é verdade que você, vestido de Che Guevara, com charuto, boina e coturno,
entrou no bar da Livro Sete?

– Sim, é.

– Rapaz, como foi que as pessoas reagiram?!

– As pessoas fugiam de mim, como se eu estivesse com lepra. Como se eu fosse uma
assombração! Os que �cavam, eu falava com eles em espanhol, mas eles nem me
viam. Olhavam para o outro lado".

Quando eu relatei o fato acima no grupo Amigos da Livro 7, no Facebook, muitos


pensaram que eu estava inventando, como se eu fosse um indivíduo fantasioso.
Para sorte da minha credibilidade e da história, Walker Lima, irmão de Djalma,
comentou sob o post no grupo do Amigos da Livro 7. E com mais minúcia, nascida
da intimidade sobre esse dia, ele falou;

“Me lembro como se fosse hoje, meu irmão absolutamente El Che. Não era uma
fantasia, era o próprio Che Guevara ao vivo.
(Djalma Gomes de Lima Junior/Boitempo)

Além da indumentária perfeita da boina ao coturno, e claro, um legítimo Havana


entre os dedos, a gesticulação e o espanhol impecável com sotaque Camaguey... Até
os ares que ele tomava em meio às tragadas de um Monte Cristo. Meu irmão Djalma
Júnior tinha o conhecimento de línguas, da história, brincava com a cultura e a
intelectualidade.

Portanto, não se tratava de uma �gura folclórica, mas do guerrilheiro em pessoa.


Quando o ví assim, �quei ‘estátua’, sem piscar nem os olhos em pleno Parque do 13
de Maio, quase na porta do Quartel General do 4° Exército!

Meu irmão trabalhava na época na Aliança Francesa, que �cava bem ali, no 13 de
Maio, ele exercia a função de bibliotecário, chegou a cursar o Nanci na Aliança,
onde aprendeu o francês. E como dominava bem essa língua!

Se existe a possibilidade da reencarnação de um personagem histórico, se o Che


pudesse ser ressuscitado em carne e osso, eu posso dizer sem hesitação que Djalma
Junior incorporou Ernesto Che Guevara em 1977”.

Em resumo, esse foi um dos atos corajosos de Djalma Gomes de Lima Junior em
plena ditadura. Mas ele não foi compreendido. As pessoas, que tanto amavam Che
Guevara, dele corriam.

*Publicado em Vermelho (https://vermelho.org.br/coluna/o-dia-em-que-che-


guevara-tomou-a-livro-7-no-recife/)
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