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Antes de entrarmos pela definição da nossa cadeira importa partirmos por uma celebre frase do
filósofo antigo grego Aristóteles: "O Homem é animal social".
Esta afirmação de Aristóteles nos remete a uma reflexão profunda em relação ao lugar do Homem
no mundo. O facto é que, o Homem é o único animal que vive em sociedade. A
palavra Social constante da frase vem de Sociedade. Ao falar de sociedade, implica afirmar
conjunto de pessoas que se relacionam a partir de normas, regras e princípios estabelecidos, os
quais servem de regulação dos comportamentos entre os integrantes na sociedade.
com efeito, o homem necessita dessas normas, de regras e princípios que lhe permitem interagir.
Tais regras, normas e princípios servem para conduzir o seu comportamento identificando o bem
do mal, o certo do errado.
BIBLIOGRAFIA
Ética
A ética tem sido tradicionalmente analisada por filósofos desde o tempo dos gregos clássicos. A
palavra ética vem do grego ethos, que significa hábito ou costume, aludindo, assim, aos
comportamentos humanos. É o domínio da filosofia responsável pela investigação dos princípios
que orientam o comportamento humano. Ou seja, que tem por objecto o juízo de apreciação que
distingue o bem e o mal, o comportamento correcto e o incorrecto.
A ética é um modo de regulação dos comportamentos que provém do indivíduo e que assenta no
estabelecimento, por si próprio, de valores (que partilha com outros) para dar sentido às suas
decisões e acções. Faz um maior apelo à autonomia, ao juízo pessoal do indivíduo e também à sua
responsabilidade do que os outros modos de regulação, pelo que se situa numa perspectiva de auto-
regulação.
CE =V+R
Os valores (ideais colectivos) são o fundamento da decisão e da acção, ou seja, servem de guia
para que o indivíduo possa medir as consequências da sua decisão sobre os outros e sobre
a comunidade. Servem também de base à reflexão sobre os fundamentos das suas decisões e
ajudam a tomar a melhor decisão possível, num determinado contexto. Neste caso, os valores de
referência, aqueles que provêm dos indivíduos e são partilhados por todos, ajudam a tomar
decisões justificáveis, uma vez que estas tendem a ser consideradas aceitáveis, razoáveis ou justas.
Assim, apesar da ética ser eminentemente auto-reguladora, permitindo aos indivíduos gerir os seus
próprios comportamentos, é aplicada num contexto não apenas individual, mas social, no seio de
um grupo onde os valores são partilhados. É aplicada através da reflexão e do julgamento
individual e a motivação para a acção é o compromisso pessoal para com os outros em respeitar
os valores partilhados e a responsabilidade, mais do que a ameaça de sanção.
Na infra-estrutura reguladora dos comportamentos, a ética ocupa o ponto de partida, uma vez que
favorece a reflexão e a sua perspectiva é preventiva: cultiva a responsabilidade e a autonomia no
indivíduo. Por isso, permite-lhe questionar normas e valores, contestar costumes desadequados,
leis ultrapassadas ou injustas face às mudanças culturais ou normas deontológicas inoperantes.
Pode, por outro lado, suscitar o debate sobre problemas não regulados e concluir pela necessidade
de novas leis ou novas normas deontológicas (face, por exemplo, a novas descobertas científicas).
Moral
A ética tem a mesma raiz etimológica que a moral, só que esta deriva da palavra latina mores (que
também significa costumes). Todavia, a ética tem um significado mais amplo do que a moral.
Moral é um conjunto de regras, valores e proibições vindos do exterior ao homem, ou seja,
impostos pela política, a religião, a filosofia, a ideologia, os costumes sociais, que impõem ao
homem que faça o bem, o justo nas suas esferas de atividade. Enquanto a ética implica sempre
uma reflexão teórica sobre qualquer moral, uma revisão racional e crítica sobre a validade da
conduta humana (a ética faz com que os valores provenham da própria deliberação do homem), a
moral é a aceitação de regras dadas. A ética é uma análise crítica dessas regras. É uma "filosofia
da moral". No entanto, é preciso estar atento, uma vez que os termos são frequentemente utilizados
como sinónimos, sobretudo entre os autores anglo-saxónicos. A moral tem uma dimensão
imperativa, porque obriga a cumprir um dever fundado num valor moral imposto por uma
autoridade. Por isso, aplica-se através da disciplina e a motivação para a ação é, neste caso, a
convicção (interiorização do bem e do mal e da legitimidade da entidade que os enuncia) e a
sanção.
Costumes
Os costumes são formas de pensar e de viver partilhadas por um grupo. Assentam em regras
informais e não escritas que regem as práticas do grupo e que traduzem as suas expectativas de
comportamento. Referem-se a valores partilhados, a usos comuns a um grupo ou uma época e que
resultam da experiência e da história. Muitas vezes actualizam os valores sociais. São uma forma
de (hétero) regulação implícita que existe desde que os indivíduos vivem em sociedade. Não existe
uma autoridade que deliberadamente favoreça a interiorização dos valores do grupo pelo
indivíduo; esse processo é realizado pela tradição, pela pressão social na conformidade com uma
determinada forma de agir, e pela ameaça de marginalização pelo grupo em caso de não
conformidade. As regras informais transmitem-se oralmente ou por mimetismo, através da
socialização pela educação e por diversas instituições sociais.
Direito
O direito, à semelhança da ética, tem carácter obrigatório e normativo, é regulador das relações
humanas. O direito é o modo de regulação dos comportamentos mais operativo nas sociedades
democráticas, pois impõe obrigações e estabelece mecanismos procedimentais para garantir a sua
aplicação. Através das leis, garante-se a organização e o funcionamento da sociedade e
estabelecem-se relações claras de autoridade e de poder. Uma vez que as regras são estabelecidas
pelo Estado, estamos perante uma forma de heteroregulação. O objectivo da regulação dos
comportamentos pelo direito é favorecer a coexistência entre os indivíduos, protegendo
minimamente os direitos de cada um, procurando evitar e gerir conflitos e sancionar os
indivíduos que violem a lei. Mas a ética e o direito são categorias de normas diferentes, apesar de
por vezes se sobreporem e outras vezes colidirem. Efectivamente, apesar de a maioria das
normas jurídicas ser considerada, em si mesma, eticamente neutra, há casos de comportamentos
em que sucede o seguinte:
• há outros casos em que são eticamente não censuráveis, mas que o direito tem de sancionar, em
nome do "dano social" (são éticos, mas ilegais);
• E há também casos de comportamentos legais, mas eticamente condenáveis - neste caso, porque
a lei pode ser injusta e imoral, ou porque é possível respeitar a letra da lei, violando o sentido que
ela deveria ter.
A questão coloca-se, por exemplo, quando as inovações tecnológicas andam mais depressa do que
as normas e, num dado momento, não existem normas jurídicas que definam as condutas numa
situação inovadora, causada pelos avanços científicos. Por exemplo, a emissão de uma dada
substância para a atmosfera pode não ser proibida por lei, mas o engenheiro pode descobrir,
entretanto, que a referida substância causa problemas respiratórios. Esta situação coloca,
claramente, questões de ordem ética ao engenheiro que lide com ela. Uma das principais diferenças
entre ética e direito reside no tipo de regulação: na ética as obrigações, os deveres são internos,
pertencem à esfera privada do indivíduo, enquanto que no direito os deveres impostos pela
legislação são externos, pois estão dirigidos aos outros. E desta diferença resultam outras
diferenças fundamentais. Devido ao seu âmbito externo, o direito conta com uma proteção
institucional e estruturas de poder coercivas que sancionam a transgressão à lei. Pelo contrário,
dado o seu âmbito interno, a observância da ética depende apenas da interiorização que cada sujeito
faça dos seus princípios: a ética é o âmbito da consciência e a única sanção é, eventualmente, o
remorso. Por isso, a ética vive à margem do aparelho coercivo dos Estados. Mas esta debilidade é
apenas aparente, pois está demonstrado que os seres humanos actuam mais por convicção do que
por obrigação externa. E por isso mesmo, para ser eficaz, o direito deve, tanto quanto possível,
apoiar-se nos princípios éticos que estão fundados na natureza humana.
Deontologia
Finalmente, temos a deontologia, que deriva do grego deon ou deontos/logos e significa o estudo
dos deveres especiais de uma situação, particularmente dos deveres das diversas profissões.
Emerge da necessidade de um grupo profissional de autoregular, mas a sua aplicação traduz-se em
heteroregulação, uma vez que os membros do grupo devem cumprir as regras estabelecidas num
código e fiscalizadas por uma instância superior (ordem profissional, associação, etc.).
Em regra, os códigos de deontologia têm por base grandes declarações universais e esforçam-se
por traduzir o sentimento ético expresso nestas, adaptando-o às particularidades de cada profissão
e de cada país. As regras deontológicas são adoptadas por organizações profissionais, que assume
a função de "legisladora" das normas e garante da sua aplicação. Os códigos de ética são
dificilmente separáveis da deontologia profissional, pelo que é frequente os termos ética e
deontologia serem utilizados como sinónimos, tendo apenas origem etimológica distinta. Muitas
vezes utiliza-se mesmo a expressão anglo-saxónica Professional ethics para designar a
deontologia.
Mas a ética não se reduz à deontologia. Alguns autores alertam para a necessidade de ir além do
mero cumprimento das normas deontológicas. Seguir os princípios éticos vertidos nos códigos
deontológicos porque o seu incumprimento tem consequências sociais (nomeadamente
disciplinares) não é actuar de forma ética. Porque as acções são apenas conformes à norma e não
conformes ao valor. Se o valor não é assumido pelo agente, este não age racionalmente, de forma
livre e responsável, de acordo com aquilo que, interiormente, sabe que deve fazer. E a verdade é
que para ser bom profissional, o homem deve desenvolver todas as virtudes humanas, exercitadas
através da profissão. Além do mais, a ética não se reduz a um conjunto de proibições: o
comportamento ético gera satisfação, uma vez que se opta, livre e racionalmente, por praticar o
bem. O comportamento ético nasce do interior do homem, das suas convicções, quer estas sejam,
como refere José Manuel Moreira, de natureza transcendente, quer de natureza humanista. E não
deve ser adoptado apenas como "remédio" em caso de conflito: deve ser vivido todos os dias, como
parte de um projecto de vida pessoal. Todavia, a sanção pela violação de normas deontológicas é
fundamental. Faz parte de um processo de "despertar para a ética" que deve ser assumido pelas
organizações, sobretudo a partir do momento em que os diversos grupos sociais começaram a
exercer pressão no sentido de se construir uma sociedade mais solidária, respeitadora dos direitos
humanos e amiga do ambiente.
• O sujeito apenas reflecte sobre o melhor meio de agir em conformidade com ele: utiliza-se o
raciocínio "normativo", que identifica e aplica uma norma que corporiza um dado valor;
• é, por isso, uma forma de hetero-regulação: o bom comportamento decorre da execução de uma
norma, de uma obrigação imposta do exterior.
A ética determina a acção mais razoável para uma dada situação à luz dos valores partilhados, isto
é, reflecte não só sobre o meio a utilizar, mas também sobre o próprio fim a alcançar, aplicando
um valor prioritário; é uma forma de auto-regulação: o bom comportamento decorre da tomada de
uma decisão tendo como base um valor prioritário. A decisão não é fundada sobre o dever, como
na deontologia, mas sobre os valores. O raciocínio ético é um modo de raciocínio globalizante,
que não substitui os outros modos de raciocínio (fundados no dever ou no cumprimento de
objectivos) mas que os integra, uma vez que ajuda a identificar o valor que legitima a decisão.
Nesse processo, pode até mesmo pôr em causa (naturalmente, na sede própria) normas da moral,
do direito e da deontologia.