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PPRA PCMSO Auditoria, Ins
PPRA PCMSO Auditoria, Ins
Abstract Introdução
1 Delegacia Regional The authors analyzed environmental risk pre- A legislação brasileira que trata da segurança e
do Trabalho na Ba h i a , vention pro g rams and occupational health da saúde no trabalho passou a adotar um novo
Ministério do Trabalho
e Em p re g o, S a l va d o r, Bra s i l . monitoring programs implemented by 30 com- enfoque, a partir do final de 1994, ao estabele-
panies from various industrial sectors, e a c h cer a obri g a t o riedade das empresas elabora-
C o r re s p o n d ê n c i a
with more than 100 employ e e s , in Salva d o r, rem e implementarem dois programas: um am-
Ca rlos Ro b e rto Mi ra n d a
Delegacia Regional Ba h i a , Bra z i l . Ob s e rved inconsistencies were biental, o Pro g rama de Pre venção de Riscos
do Trabalho na Ba h i a , studied according to occupational risk, consid- Ambientais (PPRA), e outro médico, o Progra-
Ministério do Trabalho
ering the different stages of development in the ma de Controle Médico de Saúde Ocupacional
e Em p re g o. Rua Magno Va l e n t e
6 8 / 1 0 0 1 ,S a l va d o r, BA p ro g ra m s . The study suggested low technical (PCMSO). Adotando como paradigma a Co n-
4 1 8 1 0 - 6 2 0 , Bra s i l . quality in these programs, revealing the need to venção 161/85 da Organização In t e rn a c i o n a l
miranda@saudeetrabalho.com.br
i n c rease the range of government inspection do Trabalho (OIT ), a legislação bra s i l e i ra es-
and to stimulate worker and trade union par- p ecífica passou a considerar as questões in-
ticipation in such pro g ra m s . The deve l o p m e n t c identes não somente sobre o indivíduo mas
and improvement of inspection pro c e d u re s ,i n- também sobre a coletividade de trabalhadores,
s t r u m e n t s , and protocols were also considere d p ro m ove n d o, assim, uma ampliação do con-
fundamentally important for health and safety ceito restrito de “medicina do trabalho” 1,2 .
in the workplace. Em ve rd a d e, apesar de o Brasil ter ra t i f i-
cado em 1991 a Convenção 161 da OIT, até 1994
En v i ronmental Risks; Occupational He a l t h ; as No rmas Re g u l a m e n t a d o ras (NR) cara c t e-
Occupational Risk riz a vam-se ainda por um enfoque essencial-
mente “ i n d i v i d u a l i s t a”. As NR-7 e 9 intitula-
va m - s e, re s p e c t i va m e n t e, Exames Médicos e
Riscos Ambientais, ou seja, a ênfase era, isola-
damente, ora para o corpo do trabalhador, ora
p a ra a avaliação quantitativa de um certo ri s-
co ambiental. As novas norm a s, pre o c u p a d a s
a g o ra com a saúde do conjunto dos tra b a l h a-
d o re s, pri v i l e g i a ram o instrumental clínico-
epidemiológico na abordagem da relação saú-
de/trabalho e introduziram a questão da valo-
conhecimento dos riscos ocupacionais exis- maior das relações trabalhistas exige que o Au-
tentes na empresa, por intermédio de visitas ditor do Trabalho tenha uma boa formação ju-
aos locais de trabalho, baseando-se nas infor- rídica e técnica. O caráter multidisciplinar da
mações contidas no PPRA. Com base neste re- inspeção do trabalho justifica a incorpora ç ã o
conhecimento de ri s c o s, deve ser estabeleci- de carre i ras técnicas que aportem ao sistema
do um conjunto de exames clínicos e comple- de inspeção e proteção do trabalho os conheci-
m e n t a res específicos para cada grupo de tra- mentos teóricos e práticos que são necessários
b a l h a d o res da empresa, utilizando-se de co- para atender adequadamente as questões que
nhecimentos científicos atualizados e em con- se relacionam com a segurança e saúde dos
f o rmidade com a boa prática médica. Logo, o trabalhadores 4.
nível de complexidade do PCMSO depende ba- Neste sentido, a Co n venção n o 81 da OIT,
sicamente dos riscos existentes em cada em- adotada em 1947 e ratificada pelo Brasil em
presa, das exigências físicas e psíquicas das ati- 1957, estabelece em seu artigo 10 que o núme-
vidades desenvolvidas e das cara c t e r í s t i c a s ro de inspetores de trabalho deve ser o sufi-
biopsicofisiológicas de cada população traba- ciente para permitir o exercício eficaz das fun-
lhadora 7. A norma estabelece as dire t ri zes ge- ções de serviço de inspeção e será fixado ten-
rais e os parâmetros mínimos a serem obser- do-se em conta o número, a natureza, a impor-
vados na execução do pro g rama, podendo os tância e a situação dos estabelecimentos sujei-
m e s m o s, entre t a n t o, ser ampliados pela ne- tos ao controle da inspeção, assim como o nú-
gociação coletiva de trabalho. m e ro e a diversidade das categorias de tra b a-
O PCMSO deve ser coordenado por um mé- lhadores ocupados nesses estabelecimentos 9.
dico, com especialização em medicina do tra- Em nosso país, o Mi n i s t é rio do Trabalho e
balho, que será o responsável pela execução do Em p rego (MTE) é o órgão de âmbito nacional
p ro g rama. Ao empre g a d o r, por sua vez, com- competente para coordenar, orientar, contro-
pete garantir a elaboração e efetiva implemen- lar e supervisionar as atividades re l a c i o n a d a s
tação do PCMSO, tanto quanto zelar pela sua com a segurança e saúde no trabalho, inclusi-
eficácia. Pro c u rando garantir a efetiva imple- ve a fiscalização do cumprimento dos pre c e i-
mentação do PCMSO, a NR-7 determina que o tos legais e regulamentares, em todo o Territó-
p ro g rama deverá obedecer a um planejamen- rio Nacional. No plano estadual, essa fiscali-
to em que estejam previstas as ações de saú- zação é executada pelas Delegacias Regionais
de a serem executadas durante o ano, devendo do Trabalho. Para desenvolver a fiscalização na
estas ser objeto de relatório anual. O re l a t ó ri o área de segurança e saúde no trabalho em todo
anual deverá discriminar, por setores da empre- o país, o MTE dispõe atualmente de 690 audi-
sa, o número e a natureza dos exames médicos, tores fiscais. Vale observar que esse contingen-
incluindo avaliações clínicas e exames comple- te é claramente insuficiente para inspecionar
mentares, estatísticas de resultados considera- um total de mais de 4 milhões de estabele-
dos anormais, assim como o planejamento pa- c imentos em atividade e dar cobert u ra a uma
ra o ano seguinte. população economicamente ativa hoje em tor-
no de 28 milhões de trabalhadores. Esses dados
A inspeção do trabalho revelam a existência de um auditor fiscal para
e os programas PPRA/PCMSO c e rca de 6 mil estabelecimentos, ou seja, um
auditor fiscal para cada 40 mil tra b a l h a d o re s
A inseparabilidade entre o trabalho e o indiví- em atividade no país.
duo que o realiza, a implicação da pessoa do No caso do Estado da Bahia, o quadro é ain-
trabalhador na atividade laboral, determinam da mais grave, pois a Delegacia Regional do Tra-
uma exigência de tutela de sua liberdade e in- balho dispõe de apenas vinte auditores na área
t e g ridade física, ou seja, em última instância de segurança e saúde no trabalho (11 médicos
determinam a intervenção do Estado na regu- do trabalho e 9 engenheiros de segurança) pa-
lamentação das relações de trabalho. Em con- ra inspecionar cerca de 200 mil estabelecimen-
seqüência, na medida em que o trabalho é de tos em atividade no Estado e dar cobertura pa-
alguma forma normatizado, a inspeção encon- ra uma população economicamente ativa hoje
tra sentido e lugar de ser na história do traba- em torno de 1.300.000 trabalhadores. Ou seja,
lho. Em síntese, o serviço de inspeção deve ri a um auditor fiscal para cerca de 10 mil estabele-
ser a forma de tornar efetivas as regulamenta- c i m e n t o s, ou, um auditor fiscal para cada 65
ções do processo de trabalho 8 . mil trabalhadores em atividade 10,11.
Co n t u d o, não são poucas as dificuldades Em relação ao PPRA, do ponto de vista da
relacionadas à inspeção e ao controle dos am- inspeção do trabalho, certos procedimentos o-
bientes de trabalho. A complexidade cada vez brigatórios previstos na NR-9 podem permitir
d) Inconsistências identificadas
Resultados
Entre as 28 empresas que elaboraram o PPRA,
PPRA: resultado das auditorias 26 (92,9%) delas apre s e n t a ram algum tipo de
inconsistência em seu programa. Analisando-
Os PPRA foram analisados, tomando como base se as empresas que apresentaram inconsistên-
a identificação e o reconhecimento dos riscos cias de acordo com as etapas do programa, em
ambientais existentes nos locais de trabalho, as- 12 (42,9%) delas a inconsistência referia-se ao
sim como a avaliação do cumprimento das eta- reconhecimento dos riscos; em 11 (39,3%) di-
pas, das ações e das metas previstas em seus do- ziam respeito à avaliação quantitativa; em 20
cumentos-base e respectivos relatórios anuais. (71,4%), à implantação de medidas coletiva s ;
Os resultados são apresentados na Tabela 1, ten- em 3 (10,7%), ao planejamento do programa; e
do sido analisados os seguintes tópicos: em 20 (71,4%) a inconsistência estava relacio-
nada ao cronograma de execução das ações.
a) Elaboração do programa Estudando-se as inconsistências conforme
os riscos ocupacionais, ve rificou-se que em
Todas as empre s a s, independentemente do 82,1% dos casos as inconsistências re l a c i o n a-
número de empregados ou do grau de risco de vam-se com os riscos físicos, em 28,6% essa re-
suas atividades, estão obrigadas a elaborar e lação era com os riscos químicos e em nenhum
implementar o PPRA, de acordo com a NR- 9 , caso as inconsistências estavam re l a c i o n a d a s
item 9.1.1, da Portaria 3214/78. Das trinta em- com os riscos biológicos presentes nos locais
presas inspecionadas, 2 (6,7%) não tinham ela- de trabalho.
borado e implementado o referido programa. No caso das empresas que apre s e n t a ra m
inconsistências relacionadas com os riscos quí-
b) Responsabilidade técnica micos, em 7,1% delas a inconsistência re f e ri a -
se ao reconhecimento dos ri s c o s, em 35,7% à
De acordo com a NR-9, item 9.3.1.1, a elabo- a valiação quantitativa, em 25,0% à implanta-
ração e implementação do PPRA poderão ser ção de medidas coletivas e, em 7,1% à imple-
feitas por qualquer pessoa, ou equipe de pes- mentação de medidas de proteção individual.
soas que, a cri t é rio do empre g a d o r, sejam ca- En t re as empresas que apre s e n t a ram in-
pazes de desenvolver o disposto na norma. En- consistências relacionadas com os riscos físi-
cos, em 35,7% delas a inconsistência referia-se com os riscos biológicos presentes nos locais
ao reconhecimento dos riscos, em 35,7% à ava- de trabalho.
liação quantitativa, em 60,7% à implantação de No caso das empresas que apre s e n t a ra m
medidas coletivas e, em 17,9% à implantação inconsistências em seu PCMSO, em 57,1% de-
de medidas de proteção individual. las a inconsistência relacionava-se à realização
Na análise dos resultados das auditori a s dos exames complementares (indicadores bio-
de PPRA, estratificados consoante as cara c t e- lógicos), em 21,4% à periodicidade dos exames
r í s t icas das empresas (ramo de atividade, grau m é d i c o s, em 17,9% à realização dos exames
de risco e número de empregados), não foi pos- médicos clínicos, em 17,9% à emissão do ates-
s ível evidenciar diferenças estatisticamente tado de saúde ocupacional e em 3,6% ao regis-
s i gn i f i c a t i va s. tro de dados em prontuário clínico individual.
Ao analisar as inconsistências, relacionan-
do-as aos vários tipos de exames médicos
PCMSO: resultado das auditorias ocupacionais obrigatórios, verificamos que em
b) Avaliação anual
Conclusões Tabela 3
A legislação bra s i l e i ra de segurança e saúde Mapa de Riscos: resultados das auditorias. Porcentagem de empresas
no trabalho, a partir do final de 1994, passou a que realizaram os procedimentos recomendados.
adotar um novo enfoque e estabeleceu a obri-
gatoriedade das empresas elaborarem e imple- Procedimentos %
m e n t a rem dois pro g ramas: um ambiental, o
Elaboração do Mapa de Riscos 56,7
PPRA, e outro médico, o PCMSO. As novas nor-
Participação dos trabalhadores na elaboração 47,0
mas privilegiaram o instrumental clínico-epi-
Participação do sindicato dos trabalhadores na elaboração 5,9
demiológico na abordagem da relação saúde/
Apresentação do Mapa na reunião da CIPA 58,8
trabalho e introduziram a questão da valoriza-
ção da participação dos tra b a l h a d o res e do
controle social.
No entanto, ao inspecionar trinta empresas
baianas com mais de cem empregados, os au-
tores deste estudo evidenciaram que 92,9% das Tabela 4
e m p resas apre s e n t a ram algum tipo de incon-
sistência em seu programa ambiental (PPRA) e PPRA/PCMSO: fiscalização estatal. Porcentagem de empresas
85,7 % em seu programa médico (PCMSO). inspecionadas no período de 1995-2002.
Após um período de 8 anos de vigência da
legislação que introduziu os programas PPRA e N o de inspeções % de empresas*
PCMSO, os autores constataram que 26,7% das
Nenhuma 26,7
empresas estudadas não tinham sido inspecio-
1 10,0
nadas pelo menos uma vez, durante o referido
2 36,7
período, e que 83,4% das empresas foram ins-
3 10,0
pecionadas três vezes ou menos, neste período
4 6,7
de 1995 a 2002.
5 ou mais 10,0
Em relação ao controle social, vale dizer, a
fiscalização exercida diretamente pelos pró- * Foram estudadas 30 (trinta) empresas
p rios tra b a l h a d o res e pelos seus sindicatos,
foi possível comprovar que, entre as empresas
que elaboraram o PPRA ou o PCMSO, nenhuma
contou com a participação dos tra b a l h a d o re s
ou do sindicato profissional na elabora ç ã o. A Tabela 5
ampliação das dire t ri zes gerais e dos parâme-
t ros mínimos dos pro g ramas PPRA e PCMSO, PPRA/PCMSO: controle social. Porcentagem de empresas
por meio de negociação coletiva de tra b a l h o, que realizaram os procedimentos recomendados.
também não foi ve rificada entre as empre s a s
inspecionadas. Procedimentos %
Concluindo, apesar de as novas normas pri-
Participação dos trabalhadores (ou de seus sindicatos) 0,0
vilegiarem o instrumental clínico-epidemioló-
no desenvolvimento do PPRA ou do PCMSO
gico e valorizarem a participação dos trabalha-
Ampliação dos parâmetros do PPRA ou do PCMSO 0,0
dores e o controle social, no presente trabalho mediante negociação coletiva de trabalho
constataram-se a baixa qualidade técnica dos Apresentação do PPRA ou do PCMSO na reunião 10,7
p ro g ramas PPRA e PCMSO, a ação limitada e da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes
insuficiente da fiscalização estatal dos ambien-
tes de tra b a l h o, além do pre c á rio controle so-
cial. Os autores apontam a evidente necessi-
dade de ampliar a cobertura da fiscalização es-
tatal, de estimular a participação dos trabalha- s e n volvidas do mundo a idéia do controle so-
dores e dos seus representantes no desenvolvi- cial. No âmbito sindical, é forçoso reconhecer
mento dos programas PPRA e PCMSO e de de- que é fundamental uma organização livre e au-
senvolver e aprimorar condutas, procedimen- tônoma, mas os sindicatos, por sua vez, têm de
tos e instrumentos de inspeção na área de se- se estru t u rar melhor, assessora rem-se tecni-
gurança e saúde no trabalho. camente, e principalmente se organizar nos lo-
Ainda que o espaço para a ação do poder cais de tra b a l h o. Neste sentido, vale destacar
público seja limitado, ele não é pequeno. Além algumas propostas que vêm sendo implemen-
do mais, ganha aceitação nas partes mais de- tadas ao longo dos últimos anos tais como a
implantação de comissões de saúde nos locais t i c i p a t i vo por objetivos tanto das ações como
de trabalho, inclusão de cláusulas de seguran- dos programas a serem implementados na área
ça e saúde nos acordos e convenções coletivas, de segurança e saúde no trabalho. Em segundo
criação de departamentos de segurança e saú- l u g a r, cumpre providenciar treinamento ade-
de nos sindicatos, campanhas educativas, en- quado e atualização técnica permanente do
tre outras iniciativas. q u a d ro de inspetores em atividade. Im p õ e m -
Quanto à fiscalização estatal, é clara a ne- se, ainda, a necessidade da imediata realização
cessidade de ampliar rapidamente sua cober- de concurso público para contratação de no-
t u ra e eficácia. De início, urge implantar, no vos auditores fiscais.
serviço público, a prática do planejamento par-
Resumo Referências
Os autores analisaram Pro g ramas de Pre venção de 1. Secretaria de Segurança e Saúde no Trabalho. Le-
Riscos Ambientais (PPRA) e Pro g ramas de Contro l e gislação de segurança e saúde no tra b a l h o. Bra-
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c o s , com mais de cem empre g a d o s , em atividade em rência In t e rnacional do Trabalho (70 o re u n i ã o ) .
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Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Es-
tatística; 1999.
Recebido em 9/Jan/2003
Versão final reapresentada em 26/Jun/2003
Aprovado em 21/Out/2003