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224 ARTIGO A RT I C L E

PPRA/PCMSO: auditoria, inspeção


do trabalho e controle social

Environment risk prevention programs and


occupational health monitoring programs: audits,
labor inspection, and social control

Ca rlos Ro b e rto Mi randa 1


Ca rlos Ro b e rto Dias 1

Abstract Introdução

1 Delegacia Regional The authors analyzed environmental risk pre- A legislação brasileira que trata da segurança e
do Trabalho na Ba h i a , vention pro g rams and occupational health da saúde no trabalho passou a adotar um novo
Ministério do Trabalho
e Em p re g o, S a l va d o r, Bra s i l . monitoring programs implemented by 30 com- enfoque, a partir do final de 1994, ao estabele-
panies from various industrial sectors, e a c h cer a obri g a t o riedade das empresas elabora-
C o r re s p o n d ê n c i a
with more than 100 employ e e s , in Salva d o r, rem e implementarem dois programas: um am-
Ca rlos Ro b e rto Mi ra n d a
Delegacia Regional Ba h i a , Bra z i l . Ob s e rved inconsistencies were biental, o Pro g rama de Pre venção de Riscos
do Trabalho na Ba h i a , studied according to occupational risk, consid- Ambientais (PPRA), e outro médico, o Progra-
Ministério do Trabalho
ering the different stages of development in the ma de Controle Médico de Saúde Ocupacional
e Em p re g o. Rua Magno Va l e n t e
6 8 / 1 0 0 1 ,S a l va d o r, BA p ro g ra m s . The study suggested low technical (PCMSO). Adotando como paradigma a Co n-
4 1 8 1 0 - 6 2 0 , Bra s i l . quality in these programs, revealing the need to venção 161/85 da Organização In t e rn a c i o n a l
miranda@saudeetrabalho.com.br
i n c rease the range of government inspection do Trabalho (OIT ), a legislação bra s i l e i ra es-
and to stimulate worker and trade union par- p ecífica passou a considerar as questões in-
ticipation in such pro g ra m s . The deve l o p m e n t c identes não somente sobre o indivíduo mas
and improvement of inspection pro c e d u re s ,i n- também sobre a coletividade de trabalhadores,
s t r u m e n t s , and protocols were also considere d p ro m ove n d o, assim, uma ampliação do con-
fundamentally important for health and safety ceito restrito de “medicina do trabalho” 1,2 .
in the workplace. Em ve rd a d e, apesar de o Brasil ter ra t i f i-
cado em 1991 a Convenção 161 da OIT, até 1994
En v i ronmental Risks; Occupational He a l t h ; as No rmas Re g u l a m e n t a d o ras (NR) cara c t e-
Occupational Risk riz a vam-se ainda por um enfoque essencial-
mente “ i n d i v i d u a l i s t a”. As NR-7 e 9 intitula-
va m - s e, re s p e c t i va m e n t e, Exames Médicos e
Riscos Ambientais, ou seja, a ênfase era, isola-
damente, ora para o corpo do trabalhador, ora
p a ra a avaliação quantitativa de um certo ri s-
co ambiental. As novas norm a s, pre o c u p a d a s
a g o ra com a saúde do conjunto dos tra b a l h a-
d o re s, pri v i l e g i a ram o instrumental clínico-
epidemiológico na abordagem da relação saú-
de/trabalho e introduziram a questão da valo-

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rização da participação dos trabalhadores e do As ações do PPRA devem ser desenvolvidas


c o n t role social. Neste sentido, a exigência le- no âmbito de cada estabelecimento da empre-
gal dos novos programas PCMSO e PPRA repre- sa, e sua abrangência e profundidade depen-
sentou, na prática, a superação de um “viés bio- dem das características dos riscos existentes
l o g i s t a / a m b i e n t a l” e a introdução de um “o- no local de trabalho e das respectivas necessi-
lhar coletivo” nas questões relacionadas com a dades de controle.
s e g u rança e a saúde dos tra b a l h a d o res bra s i- A NR-9 estabelece as dire t ri zes gerais e os
leiros 3,4 . parâmetros mínimos a serem observados na e-
xecução do programa; porém, os mesmos po-
Programa de Prevenção dem ser ampliados mediante negociação co-
de Riscos Ambientais letiva de trabalho. Procurando garantir a efeti-
va implementação do PPRA, a norma estabele-
O PPRA, cuja obrigatoriedade foi estabelecida ce que a empresa deve adotar mecanismos
pela NR-9 da Po rt a ria 3.214/78, apesar de seu de avaliação que permitam verificar o cumpri-
caráter multidisciplinar, é considerado essen- mento das etapas, das ações e das metas pre-
cialmente um programa de higiene ocupacio- vistas. Além disso, a NR-9 prevê algum tipo de
nal que deve ser implementado nas empresas controle social, garantindo aos trabalhadores o
de forma articulada com um pro g rama médi- direito à informação e à participação no plane-
co – o PCMSO 5,6. jamento e no acompanhamento da execução
Todas as empre s a s, independente do nú- do programa.
m e ro de empregados ou do grau de risco de
suas atividades, estão obrigadas a elaborar e Programa de Controle Médico
implementar o PPRA, que tem como objetivo a de Saúde Ocupacional
prevenção e o controle da exposição ocupacio-
nal aos riscos ambientais, isto é, a prevenção e O PCMSO, cuja obrigatoriedade foi estabeleci-
o controle dos riscos químicos, físicos e bioló- da pela NR-7 da Portaria 3.214/78, é um progra-
gicos presentes nos locais de trabalho. A NR-9 ma médico que deve ter caráter de prevenção,
detalha as etapas a serem cumpridas no desen- rastreamento e diagnóstico precoce dos agra-
volvimento do pro g rama, os itens que com- vos à saúde relacionados ao trabalho. Entende-
põem a etapa do reconhecimento dos riscos, os se aqui por “diagnóstico pre c o c e”, segundo o
limites de tolerância adotados na etapa de ava- conceito adotado pela Organização Mundial da
liação e os conceitos que envolvem as medidas Saúde (OMS), a detecção de distúrbios dos me-
de controle. A norma estabelece, ainda, a obri- canismos compensatórios e homeostáticos, en-
g a t o riedade da existência de um cro n o g ra m a quanto ainda permanecem re ve r s í veis altera-
que indique claramente os pra zos para o de- ções bioquímicas, morfológicas e funcionais.
s e n volvimento das diversas etapas e para o Todas as empre s a s, independente do nú-
cumprimento das metas estabelecidas. m e ro de empregados ou do grau de risco de
Um aspecto importante deste pro g rama é sua atividade, estão obrigadas a elaborar e im-
que ele pode ser elaborado dentro dos concei- plementar o PCMSO, que deve ser planejado e
tos mais modernos de gerenciamento e gestão, implantado com base nos riscos à saúde dos
em que o empregador tem autonomia suficien- trabalhadores, especialmente os riscos identi-
te para, com responsabilidade, adotar um con- ficados nas avaliações previstas no PPRA. Entre
junto de medidas e ações que considere neces- suas dire t ri ze s, uma das mais importantes é
sárias para garantir a saúde e a integridade físi- aquela que estabelece que o PCMSO deve con-
ca dos seus trabalhadores. A elaboração, imple- siderar as questões incidentes tanto sobre o in-
mentação e avaliação do PPRA podem ser fei- divíduo como sobre a coletividade de tra b a-
tas por qualquer pessoa, ou equipe de pessoas lhadores, privilegiando o instrumental clínico-
q u e, a cri t é rio do empre g a d o r, sejam capaze s epid e m i o l ó g i c o. A norma estabelece, ainda, o
de desenvolver o disposto na norma. Além dis- p ra zo e a periodicidade para a realização das
s o, cabe à própria empresa estabelecer as es- avaliações clínicas, assim como define os crité-
t ratégias e as metodologias que serão utiliza- rios para a execução e interpretação dos exa-
das para o desenvolvimento das ações, bem mes médicos complementares (os indicadores
como a forma de registro, manutenção e divul- biológicos).
gação dos dados gerados no desenvolvimento Em síntese, na elaboração do PCMSO, o
do programa. mínimo requerido é um estudo prévio para re-

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conhecimento dos riscos ocupacionais exis- maior das relações trabalhistas exige que o Au-
tentes na empresa, por intermédio de visitas ditor do Trabalho tenha uma boa formação ju-
aos locais de trabalho, baseando-se nas infor- rídica e técnica. O caráter multidisciplinar da
mações contidas no PPRA. Com base neste re- inspeção do trabalho justifica a incorpora ç ã o
conhecimento de ri s c o s, deve ser estabeleci- de carre i ras técnicas que aportem ao sistema
do um conjunto de exames clínicos e comple- de inspeção e proteção do trabalho os conheci-
m e n t a res específicos para cada grupo de tra- mentos teóricos e práticos que são necessários
b a l h a d o res da empresa, utilizando-se de co- para atender adequadamente as questões que
nhecimentos científicos atualizados e em con- se relacionam com a segurança e saúde dos
f o rmidade com a boa prática médica. Logo, o trabalhadores 4.
nível de complexidade do PCMSO depende ba- Neste sentido, a Co n venção n o 81 da OIT,
sicamente dos riscos existentes em cada em- adotada em 1947 e ratificada pelo Brasil em
presa, das exigências físicas e psíquicas das ati- 1957, estabelece em seu artigo 10 que o núme-
vidades desenvolvidas e das cara c t e r í s t i c a s ro de inspetores de trabalho deve ser o sufi-
biopsicofisiológicas de cada população traba- ciente para permitir o exercício eficaz das fun-
lhadora 7. A norma estabelece as dire t ri zes ge- ções de serviço de inspeção e será fixado ten-
rais e os parâmetros mínimos a serem obser- do-se em conta o número, a natureza, a impor-
vados na execução do pro g rama, podendo os tância e a situação dos estabelecimentos sujei-
m e s m o s, entre t a n t o, ser ampliados pela ne- tos ao controle da inspeção, assim como o nú-
gociação coletiva de trabalho. m e ro e a diversidade das categorias de tra b a-
O PCMSO deve ser coordenado por um mé- lhadores ocupados nesses estabelecimentos 9.
dico, com especialização em medicina do tra- Em nosso país, o Mi n i s t é rio do Trabalho e
balho, que será o responsável pela execução do Em p rego (MTE) é o órgão de âmbito nacional
p ro g rama. Ao empre g a d o r, por sua vez, com- competente para coordenar, orientar, contro-
pete garantir a elaboração e efetiva implemen- lar e supervisionar as atividades re l a c i o n a d a s
tação do PCMSO, tanto quanto zelar pela sua com a segurança e saúde no trabalho, inclusi-
eficácia. Pro c u rando garantir a efetiva imple- ve a fiscalização do cumprimento dos pre c e i-
mentação do PCMSO, a NR-7 determina que o tos legais e regulamentares, em todo o Territó-
p ro g rama deverá obedecer a um planejamen- rio Nacional. No plano estadual, essa fiscali-
to em que estejam previstas as ações de saú- zação é executada pelas Delegacias Regionais
de a serem executadas durante o ano, devendo do Trabalho. Para desenvolver a fiscalização na
estas ser objeto de relatório anual. O re l a t ó ri o área de segurança e saúde no trabalho em todo
anual deverá discriminar, por setores da empre- o país, o MTE dispõe atualmente de 690 audi-
sa, o número e a natureza dos exames médicos, tores fiscais. Vale observar que esse contingen-
incluindo avaliações clínicas e exames comple- te é claramente insuficiente para inspecionar
mentares, estatísticas de resultados considera- um total de mais de 4 milhões de estabele-
dos anormais, assim como o planejamento pa- c imentos em atividade e dar cobert u ra a uma
ra o ano seguinte. população economicamente ativa hoje em tor-
no de 28 milhões de trabalhadores. Esses dados
A inspeção do trabalho revelam a existência de um auditor fiscal para
e os programas PPRA/PCMSO c e rca de 6 mil estabelecimentos, ou seja, um
auditor fiscal para cada 40 mil tra b a l h a d o re s
A inseparabilidade entre o trabalho e o indiví- em atividade no país.
duo que o realiza, a implicação da pessoa do No caso do Estado da Bahia, o quadro é ain-
trabalhador na atividade laboral, determinam da mais grave, pois a Delegacia Regional do Tra-
uma exigência de tutela de sua liberdade e in- balho dispõe de apenas vinte auditores na área
t e g ridade física, ou seja, em última instância de segurança e saúde no trabalho (11 médicos
determinam a intervenção do Estado na regu- do trabalho e 9 engenheiros de segurança) pa-
lamentação das relações de trabalho. Em con- ra inspecionar cerca de 200 mil estabelecimen-
seqüência, na medida em que o trabalho é de tos em atividade no Estado e dar cobertura pa-
alguma forma normatizado, a inspeção encon- ra uma população economicamente ativa hoje
tra sentido e lugar de ser na história do traba- em torno de 1.300.000 trabalhadores. Ou seja,
lho. Em síntese, o serviço de inspeção deve ri a um auditor fiscal para cerca de 10 mil estabele-
ser a forma de tornar efetivas as regulamenta- c i m e n t o s, ou, um auditor fiscal para cada 65
ções do processo de trabalho 8 . mil trabalhadores em atividade 10,11.
Co n t u d o, não são poucas as dificuldades Em relação ao PPRA, do ponto de vista da
relacionadas à inspeção e ao controle dos am- inspeção do trabalho, certos procedimentos o-
bientes de trabalho. A complexidade cada vez brigatórios previstos na NR-9 podem permitir

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um melhor acompanhamento do pro g ra m a . ais. As análises incluíram, ainda, as estratégias


Um aspecto fundamental é a obri g a t o ri e d a d e e as metodologias utilizadas pelas empre s a s
do empregador reconhecer os riscos ambien- p a ra o desenvolvimento de seus re s p e c t i vo s
tais presentes nos diversos locais de tra b a l h o p ro g ra m a s.
da empresa e assumir pra zos para solucionar
as questões relativas a esses riscos. Como o pro- Aspectos conceituais
grama é permanente, cabe ao empregador for-
malizar um cronograma anual, com estabeleci- Para efeito deste trabalho, foram considerados
mento das ações a serem executadas e as me- “riscos ambientais”, os agentes químicos, físi-
tas a serem alcançadas neste período. Por sua cos e biológicos existentes nos ambientes de
vez, a exigência da manutenção de um históri- trabalho que, em função de sua natureza, con-
co com o re g i s t ro dos dados mantido por um c e n t ração ou intensidade e tempo de exposi-
período mínimo de vinte anos permite aos Au- ç ã o, são capazes de causar danos à saúde do
ditores Fiscais do Trabalho verificar e compro- t ra b a l h a d o r, conforme conceituação adotada
var tecnicamente os resultados alcançados no pela NR-9, item 9.1.5, da Portaria 3.214/78 1.
desenvolvimento do programa. Na análise do PPRA, considerou-se “incon-
Quanto ao PCMSO, ao estabelecer a obriga- s i s t ê n c i a”, a qualidade ou estado de falta de
toriedade de um planejamento em que estejam consistência, de fundamento ou de coerência
previstas as ações de saúde a serem executadas entre os dados e informações contidas nos do-
durante o ano, que devem ser objeto de um re- cumentos fornecidos pela empresa e aqueles
latório anual, a NR-7 possibilitou também um verificados fisicamente no local de trabalho pe-
melhor acompanhamento do programa médi- los Au d i t o res Fiscais do Tra b a l h o. Neste sen-
co da empresa. t id o, foram avaliadas as seguintes etapas do
PPRA: reconhecimento dos riscos ambientais,
estabelecimento de pri o ridades e metas de a-
Metodologia valiação e controle, avaliação quantitativa dos
riscos e da exposição dos trabalhadores e, im-
O presente trabalho teve como objetivo princi- plantação de medidas de controle e ava l i a ç ã o
pal auditorar, do ponto de vista da inspeção do de sua eficácia.
t ra b a l h o, PPRA e PCMSO elaborados e imple- Por sua vez, na análise do PCMSO, conside-
mentados por empre s a s, de diferentes ra m o s rou-se “inconsistência”, a qualidade ou estado
e c o n ô m i c o s, com mais de cem empre g a d o s, de falta de consistência, de fundamento ou de
em atividade em Sa l va d o r, Bahia. Além disso, coerência entre os riscos à saúde dos trabalha-
buscou-se avaliar a participação dos trabalha- dores e os procedimentos médicos efetivamen-
dores e dos seus representantes no desenvolvi- te realizados no desenvolvimento do programa
mento desses pro g ramas e, ao mesmo tempo, m é d i c o. Assim, ava l i a ram-se as seguintes e-
definir e aprimorar condutas, procedimentos e t apas: identificação dos riscos ocupacionais a
instrumentos de inspeção na área de seguran- que está ou será exposto cada trabalhador da
ça e saúde no trabalho. empresa, realização dos exames médicos ocu-
Foram utilizados dados primários e secun- p a c i o n a i s, execução e interpretação dos indi-
d á ri o s. Os dados pri m á rios foram coletados c a d o res biológicos, planejamento anual das
pelos próprios autore s, dois Au d i t o res Fi s c a i s ações de saúde, re g i s t ro dos dados em pro n-
(médicos do trabalho) lotados na Delegacia Re- t u á rio clínico individual e emissão do At e s t a-
gional do Trabalho na Bahia, no período entre do de Saúde Ocupacional (ASO).
abril e dezembro de 2002, utilizando um ques-
tionário (checklist) especificamente elaborado A amostra
para levantamento dos riscos ambientais pre-
sentes nos locais de trabalho. Os dados secun- Fo ram selecionadas trinta empre s a s. Dez de-
d á ri o s, por sua vez, foram obtidos va l e n d o - s e las de cada um dos setores da indústria, co-
dos documentos-base, dos históricos e dos re- m é rcio e serv i ç o s. A escolha foi realizada por
latórios anuais dos PPRA e dos PCMSO elabo- sorteio aleatório, com base em consulta para-
rados e implementados pelas empresas ins- metrizada no banco de dados do Sistema Fede-
p ecionadas. Os programas foram analisados e ral de Inspeção do Trabalho (Ministério do Tra-
auditorados, tomando como base a identifica- balho). Os parâmetros utilizados foram em-
ção e o reconhecimento dos riscos ambientais, presas com mais de cem empregados em ativi-
assim como a avaliação do cumprimento das dade na cidade de Sa l va d o r, durante o ano de
etapas, das ações e das metas previstas em seus 2002. Cu m p re observar que essa amostra re-
documentos-base e respectivos relatórios anu- presenta 6,5% das empresas com mais de cem

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e m p re g a d o s, em atividade na citada re g i ã o, tre as 28 empresas inspecionadas que elabora-


nos re f e ridos setore s. Em Sa l va d o r, durante o ram o PPRA, em 14 (50,0%) delas o pro g ra m a
ano de 2002, nos setores da indústria, comér- tinha sido elaborado por um engenheiro de
cio e serv i ç o s, estavam em atividade 465 em- s e g u rança do tra b a l h o, em 13 (46,4%) por um
presas com mais de cem empregados. técnico de segurança do trabalho e em 1 (3,6%)
por um médico do trabalho. Embora seja ava-
Empresas inspecionadas liado essencialmente como um pro g rama de
higiene ocupacional, em nenhuma das empre-
Das 30 empresas inspecionadas, 10 (33,3%) de- sas o pro g rama tinha sido elaborado por um
las pertencem ao setor Industrial, 10 (33,3%) ao profissional higienista ocupacional.
setor de Se rviços e 10 (33,3%) ao setor de Co-
mércio. c) Avaliação anual
Em relação ao grau de risco da atividade
econômica desenvolvida, 11 (36,7%) das em- A norma estabelece que a empresa deve adotar
presas foram classificadas como grau de risco mecanismos de avaliação que permitam verifi-
d o i s, 17 (56,7%) como grau de risco três e 2 car o cumprimento das etapas, das ações e das
(6,7%) como grau de risco quatro, de acord o metas pre v i s t a s. De acordo com a NR-9, item
com o Quadro I da NR-4 da Portaria 3214/78 1. 9.2.1.1, uma avaliação global do PPRA deve ser
Quanto ao número de empre g a d o s, todas efetuada, sempre que necessário e pelo menos
as empresas selecionadas mantêm mais de 100 uma vez ao ano, para a avaliação do seu desen-
t ra b a l h a d o res em atividade: 15 (50,0%) delas volvimento e realização dos ajustes necessá-
possuem entre 100 e 200 empregados; 4 (13,3%) rios e estabelecimento de novas metas e priori-
e n t re 201 e 300 empregados; 4 (13,3%) entre dades. Entre as 28 empresas inspecionadas que
301 e 400 empregados; 2 (6,7%) entre 401 e 500 elaboraram o PPRA, 24 (85,7%) não tinham efe-
empregados; e 5 (16,7%) possuem mais de 500 tuado pelo menos uma avaliação anual do seu
empregados. programa.

d) Inconsistências identificadas
Resultados
Entre as 28 empresas que elaboraram o PPRA,
PPRA: resultado das auditorias 26 (92,9%) delas apre s e n t a ram algum tipo de
inconsistência em seu programa. Analisando-
Os PPRA foram analisados, tomando como base se as empresas que apresentaram inconsistên-
a identificação e o reconhecimento dos riscos cias de acordo com as etapas do programa, em
ambientais existentes nos locais de trabalho, as- 12 (42,9%) delas a inconsistência referia-se ao
sim como a avaliação do cumprimento das eta- reconhecimento dos riscos; em 11 (39,3%) di-
pas, das ações e das metas previstas em seus do- ziam respeito à avaliação quantitativa; em 20
cumentos-base e respectivos relatórios anuais. (71,4%), à implantação de medidas coletiva s ;
Os resultados são apresentados na Tabela 1, ten- em 3 (10,7%), ao planejamento do programa; e
do sido analisados os seguintes tópicos: em 20 (71,4%) a inconsistência estava relacio-
nada ao cronograma de execução das ações.
a) Elaboração do programa Estudando-se as inconsistências conforme
os riscos ocupacionais, ve rificou-se que em
Todas as empre s a s, independentemente do 82,1% dos casos as inconsistências re l a c i o n a-
número de empregados ou do grau de risco de vam-se com os riscos físicos, em 28,6% essa re-
suas atividades, estão obrigadas a elaborar e lação era com os riscos químicos e em nenhum
implementar o PPRA, de acordo com a NR- 9 , caso as inconsistências estavam re l a c i o n a d a s
item 9.1.1, da Portaria 3214/78. Das trinta em- com os riscos biológicos presentes nos locais
presas inspecionadas, 2 (6,7%) não tinham ela- de trabalho.
borado e implementado o referido programa. No caso das empresas que apre s e n t a ra m
inconsistências relacionadas com os riscos quí-
b) Responsabilidade técnica micos, em 7,1% delas a inconsistência re f e ri a -
se ao reconhecimento dos ri s c o s, em 35,7% à
De acordo com a NR-9, item 9.3.1.1, a elabo- a valiação quantitativa, em 25,0% à implanta-
ração e implementação do PPRA poderão ser ção de medidas coletivas e, em 7,1% à imple-
feitas por qualquer pessoa, ou equipe de pes- mentação de medidas de proteção individual.
soas que, a cri t é rio do empre g a d o r, sejam ca- En t re as empresas que apre s e n t a ram in-
pazes de desenvolver o disposto na norma. En- consistências relacionadas com os riscos físi-

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cos, em 35,7% delas a inconsistência referia-se com os riscos biológicos presentes nos locais
ao reconhecimento dos riscos, em 35,7% à ava- de trabalho.
liação quantitativa, em 60,7% à implantação de No caso das empresas que apre s e n t a ra m
medidas coletivas e, em 17,9% à implantação inconsistências em seu PCMSO, em 57,1% de-
de medidas de proteção individual. las a inconsistência relacionava-se à realização
Na análise dos resultados das auditori a s dos exames complementares (indicadores bio-
de PPRA, estratificados consoante as cara c t e- lógicos), em 21,4% à periodicidade dos exames
r í s t icas das empresas (ramo de atividade, grau m é d i c o s, em 17,9% à realização dos exames
de risco e número de empregados), não foi pos- médicos clínicos, em 17,9% à emissão do ates-
s ível evidenciar diferenças estatisticamente tado de saúde ocupacional e em 3,6% ao regis-
s i gn i f i c a t i va s. tro de dados em prontuário clínico individual.
Ao analisar as inconsistências, relacionan-
do-as aos vários tipos de exames médicos
PCMSO: resultado das auditorias ocupacionais obrigatórios, verificamos que em

Fundamentando-se nos riscos à saúde dos tra-


b a l h a d o re s, os PCMSO foram analisados, so-
bretudo os identificados no PPRA da empresa e Tabela 1
aqueles verificados pelos Auditores Fiscais du-
rante a inspeção realizada no local de tra b a- PPRA: resultados das auditorias. Porcentagem de empresas que realizaram
l h o. Foi avaliado o cumprimento das ações e os procedimentos recomendados.
das metas previstas no planejamento anual,
especialmente no que tange à realização obri- Procedimentos %
gatória dos exames médicos ocupacionais. Os
Elaboração do PPRA 93,3
resultados são apresentados na Tabela 2, tendo
Avaliação anual do PPRA 14,3
sido analisados os seguintes tópicos:
Inconsistências no PPRA 92,9
Inconsistências relacionadas com riscos físicos 82,1
a) Elaboração do programa
Inconsistências relacionadas com riscos químicos 28,6
Inconsistências relacionadas com riscos biológicos 0,0
Todas as empre s a s, independentemente do
Inconsistências no planejamento das ações 10,7
número de empregados ou do grau de risco de
Inconsistências no reconhecimentos dos riscos ambientais 42,9
suas atividades, estão obrigadas a elaborar e
Inconsistências na avaliação quantitativa dos riscos 39,3
implementar o PCMSO, de acordo com a NR-7,
Inconsistências na implementação de medidas coletivas 71,4
item 7.1.1, da Portaria 3.214/78. Das 30 empre-
Inconsistências no cronograma de execução das ações 71,4
sas inspecionadas, 2 (6,7%) não tinham elabo-
rado e implementado o referido programa.

b) Avaliação anual

A NR-7, em seu item 7.4.6, estabelece que o Tabela 2


programa deverá obedecer a um planejamen-
to em que estejam previstas as ações de saú- PCMSO: resultados das auditorias. Porcentagem de empresas
de a serem executadas durante o ano, deve n- que realizaram os procedimentos recomendados.
do estas ser objeto de relatório anual. Entre as
28 empresas inspecionadas que elaboraram o Procedimentos %
PCMSO, 22 (78,6%) não tinham efetuado uma
Elaboração do PCMSO 93,3
avaliação anual do seu programa.
Avaliação anual do PCMSO 21,4
Inconsistências no PCMSO 85,7
c) Inconsistências identificadas
Inconsistências relacionadas com riscos físicos 50,0
Inconsistências relacionadas com riscos químicos 7,1
Entre as 28 empresas que elaboraram o PCMSO,
Inconsistências relacionadas com riscos biológicos 7,1
24 (85,7%) delas apre s e n t a ram algum tipo de
Inconsistências relacionadas com o prontuário clínico individual 3,6
inconsistência em seu programa. As inconsis-
Inconsistências relacionadas com o atestado de saúde ocupacional 17,9
tências ve rificadas nos pro g ramas re l a c i o-
Inconsistências na realização dos exames médicos clínicos 17,9
n avam-se em 50,0% dos casos com o monito-
Inconsistências na periodicidade dos exames médicos ocupacionais 21,4
ramento biológico dos riscos físicos, em 7,1%
Inconsistências na realização dos exames médicos complementares 57,1
essa relação era com os riscos químicos e em
7,1% as inconsistências estavam relacionadas

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71,4% das empresas a inconsistência verificada P C M S O, foram emitidos 29 Te rmos de No t i f i-


no PCMSO estava relacionada com o exame cação (TN) para que as empresas re g u l a ri z a s-
p e ri ó d i c o, em 3,6% com o exame admissional sem 215 itens, perf a zendo uma média de sete
e, em 3,6%, com o exame médico demissional. irregularidades por empresa.
Na análise dos resultados das auditorias de
PCMSO, estratificados de acordo com as carac- Controle social e a participação
terísticas das empresas (ramo de atividade, dos trabalhadores
g rau de risco e número de empregados), não
foi possível evidenciar diferenças estatistica- A experiência mundial tem demonstrado que a
mente significativas. ação da fiscalização estatal é limitada e ra ra-
mente tem sido suficiente, o que torna cada
O mapa de riscos vez mais importante o controle social, a saber,
a fiscalização exercida diretamente pelos pró-
O mapa de riscos, previsto na NR-5 da Portaria prios trabalhadores e pelos seus sindicatos. De
3214/78 1, tem por objetivo reunir as informa- acordo com a NR-9, itens 9.4 e 9.5, os trabalha-
ções necessárias para estabelecer o diagnós- dores interessados têm o direito de apresentar
t ico da situação de segurança e saúde no tra- propostas e receber informações e orientações
balho na empresa. Elaborar o mapa de riscos é a fim de assegurar a proteção aos riscos am-
atribuição dos integrantes da Comissão Inter- bientais identificados na execução do PPRA.
na de Pre venção de Acidentes (CIPA), com a Além disso, a norma estabelece que colaborar
participação do maior número de trabalhado- e participar na implantação e na execução do
re s. Na elaboração do mapa, busca-se conhe- PPRA é uma das responsabilidades dos traba-
cer o processo de trabalho, identificar os riscos lhadores.
existentes no local analisado e, ao mesmo tem- Os documentos-base e os relatórios anuais
p o, possibilitar a troca e divulgação de infor- do PPRA e do PCMSO, por sua vez, devem ser
mações entre os trabalhadores, bem como es- a p resentados e discutidos na CIPA. A implan-
timular sua participação nas atividades de pre- tação de medidas de caráter coletivo deve ser
venção. O conhecimento e a percepção que os sempre acompanhada de treinamento dos tra-
t ra b a l h a d o res têm do processo de trabalho e b a l h a d o re s, quanto aos procedimentos que
dos riscos ambientais pre s e n t e s, incluindo os a ss e g u rem a sua eficiência, e de inform a ç ã o
dados consignados no mapa de riscos, deverão sobre as eventuais limitações de proteção que
ser considerados para fins de planejamento e ofereçam. O trabalhador tem também o direi-
execução do PPRA. Todavia, entre as 30 empre- to de receber cópia dos resultados dos pro c e-
sas inspecionadas, 13 (43,3%) não tinham ela- d imentos médicos a que foi submetido, além
borado o mapa de riscos. Entre as 17 empresas da segunda via do seu Atestado de Saúde Ocu-
que elaboraram o mapa de riscos, em 9 (53,0%) pacional (ASO). Convém destacar, finalmente,
essa elaboração não tinha contado com qual- que ao estabelecer os parâmetros mínimos e as
quer participação dos tra b a l h a d o res e em 16 diretrizes gerais a serem observados na execu-
(94,1%) não houve a participação de represen- ção dos programas PPRA e PCMSO, as normas
tantes de seus sindicatos, conforme resultados estabelecem, também, que os mesmos podem
apresentados na Tabela 3 . ser ampliados mediante negociação coletiva de
trabalho.
Fiscalização estatal: a inspeção trabalhista No presente estudo, entre as 28 empre s a s
que tinham elaborado o PPRA ou o PCMSO, em
No presente trabalho, analisando as anotações nenhuma delas essa elaboração tinha contado
registradas durante os anos de 1995 a 2002 nos com qualquer participação dos tra b a l h a d o re s
L i v ros de Inspeção do Trabalho (LIT) das em- (ou de re p resentantes de seu sindicato), e em
p resas estudadas, constatou-se que 8 (26,7%) 25 (89,3%) os documentos-base do PPRA ou do
delas não tinham sido inspecionadas durante o PCMSO não foram apresentados e discutidos
referido período, 3 (10,0%) empresas foram ins- na CIPA. A ampliação das diretrizes gerais e dos
pecionadas apenas uma vez, 11 (36,7%) foram p a r â m e t ros mínimos dos pro g ramas PPRA e
inspecionadas duas vezes, 3 (10,0%) foram ins- PCMSO, por intermédio de negociação coletiva
pecionadas três vezes, 2 (6,7%) foram inspecio- de trabalho, também não foi verificada entre as
nadas quatro vezes e 3 (10,0%) foram inspecio- e m p resas inspecionadas. Os resultados re l a-
nadas cinco ou mais vezes durante o período. cionados com a avaliação do controle social
Os resultados são apresentados na Tabela 4. são apresentados na Tabela 5.
Após inspecionar as trinta empresas sele-
cionadas, auditorando seus programas PPRA e

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(1):224-232, jan-fev, 2004


AUDITORIA, INSPEÇÃO DO TRABALHO E CONTROLE SOCIAL 231

Conclusões Tabela 3

A legislação bra s i l e i ra de segurança e saúde Mapa de Riscos: resultados das auditorias. Porcentagem de empresas
no trabalho, a partir do final de 1994, passou a que realizaram os procedimentos recomendados.
adotar um novo enfoque e estabeleceu a obri-
gatoriedade das empresas elaborarem e imple- Procedimentos %
m e n t a rem dois pro g ramas: um ambiental, o
Elaboração do Mapa de Riscos 56,7
PPRA, e outro médico, o PCMSO. As novas nor-
Participação dos trabalhadores na elaboração 47,0
mas privilegiaram o instrumental clínico-epi-
Participação do sindicato dos trabalhadores na elaboração 5,9
demiológico na abordagem da relação saúde/
Apresentação do Mapa na reunião da CIPA 58,8
trabalho e introduziram a questão da valoriza-
ção da participação dos tra b a l h a d o res e do
controle social.
No entanto, ao inspecionar trinta empresas
baianas com mais de cem empregados, os au-
tores deste estudo evidenciaram que 92,9% das Tabela 4
e m p resas apre s e n t a ram algum tipo de incon-
sistência em seu programa ambiental (PPRA) e PPRA/PCMSO: fiscalização estatal. Porcentagem de empresas
85,7 % em seu programa médico (PCMSO). inspecionadas no período de 1995-2002.
Após um período de 8 anos de vigência da
legislação que introduziu os programas PPRA e N o de inspeções % de empresas*
PCMSO, os autores constataram que 26,7% das
Nenhuma 26,7
empresas estudadas não tinham sido inspecio-
1 10,0
nadas pelo menos uma vez, durante o referido
2 36,7
período, e que 83,4% das empresas foram ins-
3 10,0
pecionadas três vezes ou menos, neste período
4 6,7
de 1995 a 2002.
5 ou mais 10,0
Em relação ao controle social, vale dizer, a
fiscalização exercida diretamente pelos pró- * Foram estudadas 30 (trinta) empresas
p rios tra b a l h a d o res e pelos seus sindicatos,
foi possível comprovar que, entre as empresas
que elaboraram o PPRA ou o PCMSO, nenhuma
contou com a participação dos tra b a l h a d o re s
ou do sindicato profissional na elabora ç ã o. A Tabela 5
ampliação das dire t ri zes gerais e dos parâme-
t ros mínimos dos pro g ramas PPRA e PCMSO, PPRA/PCMSO: controle social. Porcentagem de empresas
por meio de negociação coletiva de tra b a l h o, que realizaram os procedimentos recomendados.
também não foi ve rificada entre as empre s a s
inspecionadas. Procedimentos %
Concluindo, apesar de as novas normas pri-
Participação dos trabalhadores (ou de seus sindicatos) 0,0
vilegiarem o instrumental clínico-epidemioló-
no desenvolvimento do PPRA ou do PCMSO
gico e valorizarem a participação dos trabalha-
Ampliação dos parâmetros do PPRA ou do PCMSO 0,0
dores e o controle social, no presente trabalho mediante negociação coletiva de trabalho
constataram-se a baixa qualidade técnica dos Apresentação do PPRA ou do PCMSO na reunião 10,7
p ro g ramas PPRA e PCMSO, a ação limitada e da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes
insuficiente da fiscalização estatal dos ambien-
tes de tra b a l h o, além do pre c á rio controle so-
cial. Os autores apontam a evidente necessi-
dade de ampliar a cobertura da fiscalização es-
tatal, de estimular a participação dos trabalha- s e n volvidas do mundo a idéia do controle so-
dores e dos seus representantes no desenvolvi- cial. No âmbito sindical, é forçoso reconhecer
mento dos programas PPRA e PCMSO e de de- que é fundamental uma organização livre e au-
senvolver e aprimorar condutas, procedimen- tônoma, mas os sindicatos, por sua vez, têm de
tos e instrumentos de inspeção na área de se- se estru t u rar melhor, assessora rem-se tecni-
gurança e saúde no trabalho. camente, e principalmente se organizar nos lo-
Ainda que o espaço para a ação do poder cais de tra b a l h o. Neste sentido, vale destacar
público seja limitado, ele não é pequeno. Além algumas propostas que vêm sendo implemen-
do mais, ganha aceitação nas partes mais de- tadas ao longo dos últimos anos tais como a

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(1):224-232, jan-fev, 2004


232 Miranda CR, Dias CR

implantação de comissões de saúde nos locais t i c i p a t i vo por objetivos tanto das ações como
de trabalho, inclusão de cláusulas de seguran- dos programas a serem implementados na área
ça e saúde nos acordos e convenções coletivas, de segurança e saúde no trabalho. Em segundo
criação de departamentos de segurança e saú- l u g a r, cumpre providenciar treinamento ade-
de nos sindicatos, campanhas educativas, en- quado e atualização técnica permanente do
tre outras iniciativas. q u a d ro de inspetores em atividade. Im p õ e m -
Quanto à fiscalização estatal, é clara a ne- se, ainda, a necessidade da imediata realização
cessidade de ampliar rapidamente sua cober- de concurso público para contratação de no-
t u ra e eficácia. De início, urge implantar, no vos auditores fiscais.
serviço público, a prática do planejamento par-

Resumo Referências

Os autores analisaram Pro g ramas de Pre venção de 1. Secretaria de Segurança e Saúde no Trabalho. Le-
Riscos Ambientais (PPRA) e Pro g ramas de Contro l e gislação de segurança e saúde no tra b a l h o. Bra-
Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) implemen- sília: Ministério do Trabalho e Emprego; 1999.
tados por 30 empresas, de diferentes ramos econômi- 2. O rganização In t e rnacional do Tra b a l h o. Co n f e-
c o s , com mais de cem empre g a d o s , em atividade em rência In t e rnacional do Trabalho (70 o re u n i ã o ) .
S a l va d o r, Ba h i a . As inconsistências verificadas fo- Serviços de saúde dos trabalhadores. Informe IV
ram estudadas segundo os riscos ocupacionais, l e- (2). Genebra: Organização Internacional do Traba-
vando-se em conta as diversas etapas de desenvo l v i- lho; 1985.
mento dos programas. Os Autores constataram a bai- 3. Moura MA. Um olhar coletivo sobre o método epi-
xa qualidade técnica desses pro g ramas e apontam a demiológico I. Revista Proteção 1998; maio (77):
evidente necessidade de ampliar a cobert u ra da fis- 40-3.
calização estatal, assim como de estimular a partici- 4. Miranda CR. Inspeção do Trabalho, Epidemiolo-
pação dos trabalhadores e dos seus representantes no gia e Segurança e Saúde no Trabalho. In: Sindica-
d e s e n volvimento dos pro g ramas PPRA e PCMSO. to Nacional dos Agentes da Inspeção do Trabalho,
C o n s i d e ra m , a i n d a , de fundamental importância o o rg a n i z a d o r. A importância da Inspeção do Tra-
d e s e n volvimento e o aprimoramento de condutas, balho. Brasília: Sindicato Nacional dos Agentes da
p rocedimentos e instrumentos de inspeção na áre a Inspeção do Trabalho; 1999. p. 8-23.
de segurança e saúde no trabalho. 5. Pena PLG. Elementos teóricos e metodológicos
para a elaboração do PPRA e do PCMSO. Salvador:
Riscos Am b i e n t a i s ; Saúde Oc u p a c i o n a l ; Riscos Oc u- Faculdade de Medicina, Universidade Federal da
pacionais Bahia; 2000.
6. Saad IFSD, Giampaoli E. Programa de Prevenção
de Riscos Ambientais – NR-9 Comentada. 4a Ed .
São Paulo: Associação Bra s i l e i ra de Hi g i e n i s t a s
Colaboradores Ocupacionais; 1999.
7. Secretaria de Segurança e Saúde no Trabalho, Mi-
n i s t é rio do Trabalho e Emprego. No rma Re g u l a-
Os dois autores tiveram participação igual em todas
mentadora no 7: nota técnica. Brasília: Secretaria
as fases do trabalho.
de Segurança e Saúde no Trabalho, Ministério do
Trabalho e Emprego; 1996.
8. Dal Rosso S. A Inspeção do Trabalho. Brasília: Sin-
dicato Nacional dos Agentes da Inspeção do Tra-
balho; 1997.
9. Organização Internacional do Trabalho. Conven-
ção no 81 sobre a inspeção do trabalho. Genebra:
Organização Internacional do Trabalho; 1947.
10. Sistema Federal de Inspeção do trabalho. Quadro
de auditores fiscais do trabalho. Brasília: Ministé-
rio do Trabalho e Emprego; 2002.
11. Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Esta-
t í s t i c a s. Ca d a s t ro central de empre s a s. Bra s í l i a :
Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Es-
tatística; 1999.

Recebido em 9/Jan/2003
Versão final reapresentada em 26/Jun/2003
Aprovado em 21/Out/2003

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(1):224-232, jan-fev, 2004

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