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MÓDULO 9: CRIMES EM ESPÉCIE

TEMA 3 – CRIMES CONTRA A HONRA


Aula II – Difamação

RESUMO

Tipo penal objetivo

O crime de difamação vem estabelecido no artigo 139 do Código Penal Brasileiro, tratando-se,
em termos de gravidade objetiva, da modalidade intermediária entre os três delitos contra a
honra.

O núcleo do tipo é único, consistindo em difamar alguém, conduta comissiva cujos elementos
vêm descritos no próprio enunciado do caput do referido artigo, consistente na imputação de fato
ofensivo à reputação da vítima.

O agente, portanto, atinge a reputação de terceiro, atribuindo-lhe uma conduta não criminosa,
porém ética e moralmente reprovável, e fazendo com que tal imputação venha a ser conhecida
ao menos por terceira pessoa.

A exemplo do crime de calúnia, a imputação de fato ofensivo à reputação, para a configuração


do tipo penal da difamação, deve, antes de tudo, ser de fato certo e determinado, exigindo-se,
por outras palavras, a descrição de elementos mínimos da imputação, como, v.g. as
circunstâncias de tempo e lugar do fato, as características de como se deu, eventuais envolvidos
ou prejudicados, etc. Corolário dessa exigência é que a simples afirmação de que determinada
pessoa praticou determinado ato reprovável, sem trazer qualquer descrição deste, não constrói
a figura da difamação, podendo, no entanto, configurar a figura da injúria. Nesse diapasão,
cometeria crime de difamação o indivíduo que atribui a outrem a constância de relacionamento
adulterino, descrevendo com um mínimo de informações as circunstâncias de tal situação.

Diferentemente do que ocorre com a calúnia, não é mister que a atribuição do fato seja falsa,
não obstante a falsidade da imputação seja sintomática da intenção do ofensor em de fato
conspurcar a honra da vítima.

Considerando que ao atingir a reputação da vítima tem-se como vulnerada sua honra objetiva —
portanto sua imagem perante a sociedade —, o delito de difamação se consuma quando a falsa
imputação da prática de crime ganhar publicidade. A noção de publicidade, in casu, não demanda
que a difamação alcance o conhecimento de um número expressivo de pessoas, sendo bastante
que uma única pessoa dela tome conhecimento para a consumação do delito.

O tipo penal não estabelece a forma como deve ser concretizada a conduta do agente, podendo
a difamação ser perpetrada verbalmente, por escrito, por meios eletrônicos etc., bastando que
os meios sejam aptos a divulgar a imputação.

Tipo subjetivo

A difamação é punida somente a título de dolo, não se cogitando, em nenhuma hipótese, a


possibilidade de sua caracterização a título de culpa strictu sensu.

O dolo exigido pela difamação é o genérico, consistente na vontade livre e consciente de praticar
o tipo penal.

Exige-se, no entanto, de forma adicional, conforme reconhecem doutrina e jurisprudência, o dolo


específico, que, embora não explicitado no enunciado do tipo penal, dessume-se pela
interpretação de sua estrutura.

O dolo específico consiste na especial finalidade na prática do delito que, na espécie, é o animus
difamandi, ou seja, o propósito específico de conspurcar a honra da vítima.

Tal exigência, embora possa, aprioristicamente, mostrar-se evidente, fica mais clara a partir da
consideração de que intenções diversas são aptas a descontruir o elemento subjetivo do delito.

Assim, v.g., a difamação proferida com intuito de mera pilhéria (animus jocandi) entre amigos,
não se acomoda com o intuito de ofender a reputação, afastando, portanto o animus difamandi.
Da mesma forma, a testemunha que presta depoimento, em sede do que descreve fato
objetivamente ofensivo não comete difamação por atuar com animus narrandi (intenção de narrar
um fato).
Exceção da verdade

Embora a difamação, diferentemente da calúnia, não exija a falsidade da imputação que se faça
à vítima, o legislador também previu — de forma bastante restritiva — a possibilidade da exceção
da verdade (artigo 139, parágrafo único).

Com efeito, no caso da difamação, a exceção da verdade somente será admitida quando esta
for proferida em desfavor de funcionário público e quando esta recaia sobre suas funções. A
exceção se justifica, na espécie, por haver interesse da administração pública envolvido,
consistente em apurar a prática de algum fato de seu agente que de alguma forma atinja o
Estado.

Classificação

Trata-se de crime comum, comissivo, de forma livre, formal, instantâneo, de dano, unissubjetivo,
unissubsistente ou plurissubsistente.

LEITURA COMPLEMENTAR

O DIREITO A HONRA NA PERSPECTIVA CONSTITUCIONAL


A Constituição Federal de 1988 aponta em seu art. 5º, inciso X a inviolabilidade à honra sob pena
de indenização fruto do dano material ou moral decorrente de sua violação, in verbis tem-se que
“X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o
direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”.
Nesse diapasão, tem-se que a Carta Magna cria uma barreira protetora à honra dos indivíduos
fruto, historicamente, de uma conquista da sociedade, que vivenciou anos antes
da Constituição de 1988 um período de ditadura militar no Brasil em que os valores da dignidade
da pessoa humana não tinham nenhum tipo de consideração.
Vale ressaltar que a Dignidade Humana não é um tema novo a ser explorado. Já a alguns séculos
autores renomados abordaram o tema inclusive numa visão filosófica demonstrando a importância
e a valorização que o homem merece receber, conforme bem explicita Mirandola2:

[...] o homem é o mais afortunado dos seres vivos e, consequentemente, merecedor de toda
admiração; do que pode ser a condição na hierarquia dos seres que lhe são atribuídos, que atrai
sobre si a inveja, não dos brutos sozinho, mas dos seres astrais e as inteligências que habitam
além dos confins do mundo. Uma coisa superando crença e ferir a alma com admiração. Ainda
assim, como poderia ser de outra forma? Pois é por este motivo que o homem é, com justiça
completa, considerada e chamou um grande milagre e um ser digno de toda a admiração.

Para íntegra do texto, segue link abaixo:

O Direito à Honra do Indivíduo nas Perspectivas dos Danos Moral e Material

JURISPRUDÊNCIA

HABEAS CORPUS – INJÚRIA, CALÚNIA E DIFAMAÇÃO – DECADÊNCIA – INOCORRÊNCIA


– DE ACORDO COM A JURISPRUDÊNCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA,
VERIFICADA A FALTA OU INSUFICIÊNCIA DO RECOLHIMENTO DAS CUSTAS, é POSSÍVEL
A POSTERIOR INTIMAÇÃO DO INTERESSADO A FIM QUE PROCEDA AO PAGAMENTO,
NÃO HAVENDO FALAR EM INÉPCIA DA QUEIXA -CRIME – FALTA DE JUSTA CAUSA à
PERSECUÇÃO PENAL – O TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL POR MEIO DE HABEAS
CORPUS é MEDIDA EXCEPCIONAL, SOMENTE ADMISSÍVEL QUANDO TRANSPARECER
DOS AUTOS, DE FORMA INEQUÍVOCA, A INOCÊNCIA DO ACUSADO, A ATIPICIDADE DA
CONDUTA OU A EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE, O QUE NÃO SE VERIFICA NA ESPÉCIE
ORDEM DENEGADA.

(TJ-SP - HC: 22499240620168260000 SP 2249924-06.2016.8.26.0000, Relator: Amaro Thomé,


Data de Julgamento: 16/02/2017, 9ª Câmara de Direito Criminal, Data de Publicação:
08/03/2017)

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