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Texto da aula Aulas do curso

Anjos e Demônios

A queda dos anjos


A história dos anjos é de glória, mas também de tragédia: de glória para os anjos bons, que, por humildade,
aceitaram receber de Deus sua felicidade e esplendor; de tragédia para os anjos maus, que, por soberba,
quiseram por si mesmos ser semelhantes ao Altíssimo.

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Inúmeros anjos, criados por Deus naturalmente bons, pecaram e foram condenados por toda a
eternidade. Trata-se de uma verdade de fé, contida expressamente na Escritura e ensinada
pelos Santos Padres [1]. O diabo, diz o Senhor no evangelho de São João, “não permaneceu na
verdade, porque a verdade não está nele”; em outro lugar, no de São Lucas: “Eu via Satanás cair
do céu como um raio” (Lc 10, 18); e o discípulo amado escreve: “O demônio peca desde o
princípio” (1Jo 3, 8).

Antes de serem confirmados em graça, todos os anjos podiam pecar, ou seja, perder a graça e a
santidade que receberam no início, até que, provada sua fidelidade e obediência ao Criador,
fossem finalmente elevados à glória e à visão de Deus. Logo, os anjos não foram criados bem-
aventurados [2], mas na condição de viadores, semelhante àquela em que nos encontramos na
peregrinação deste mundo.

Nesse sentido, os anjos passaram por um duplo estado: um de provação, na qual tinham a
virtude da fé teologal (com efeito, não viam a Deus face a face nem conheciam por evidência
imediata os mistérios sobrenaturais que lhes foram revelados); e outro de termo ou chegada,
no qual foram premiados os anjos bons, que perseveram, e punidos os maus, que se revoltaram
contra Deus por culpa própria.

Ora, como os anjos são puros espíritos, os únicos pecados que poderiam cometer são o de
orgulho e inveja. De fato, é doutrina probabilíssima que o pecado de Lúcifer, considerado por
muitos teólogos o maior dos anjos, agraciado com dons naturais e sobrenaturais superiores, foi
justamente de soberba, na medida em que pretendeu ser como Deus, não por igualdade de
natureza, mas por certa semelhança, pecado ao qual ele mesmo, por inveja, arrastaria nossos
primeiros pais: “Sereis como deuses!” (Gn 3, 5).
Ouçamos o que diz a Escritura: “O princípio de todo o pecado é a soberba” (Eclo 10, 15); “Nunca
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permitas que a soberba domine nos teus pensamentos ou nas tuas palavras, porque nela teve
princípio toda a perdição” (Tb 4, 14); “Como caíste do céu, ó astro brilhante, filho da aurora? […]
Tu, que dizias no teu coração: ‘Subirei ao céu, estabelecerei o meu trono acima dos astros de
Deus […], serei semelhante ao Altíssimo’” (Is 14, 12ss).

Os autores discordam, contudo, na hora de explicar como o diabo pretendeu ser semelhante a
Deus. Santo Tomás de Aquino afirma que a soberba de Lúcifer esteve em contentar-se com sua
própria felicidade natural e julgar-se autossuficiente, desprezando assim seu chamado a
participar da alegria sobrenatural de Deus [3]. Outros pensam que a soberba do demônio esteve
em querer, por seus próprios méritos ou como algo devido à sua natureza, a semelhança com
Deus que só podemos ter por graça [4]. 

Não sabemos o número dos anjos apóstatas. Alguns Padres e teólogos sustentam que a
quantidade de anjos maus e rebeldes é imensamente maior que a dos santos e fiéis. No
entanto, o livro do Apocalipse, referindo-se ao diabo, diz que “sua cauda arrasta a terça parte
das estrelas do céu, e precipitou-as na terra” (12, 4), palavras em que alguns autores veem uma
indicação, senão exata, ao menos aproximativa do número de anjos (as “estrelas do céu”) que
teriam pecado. 

Seja como for, é opinião comum que o príncipe da rebelião e causa de ruína para os outros
demônios foi Lúcifer, da ordem dos serafins. Por esse motivo se lhe atribui certo domínio ou
principado sobre os anjos maus. Daí que lhe convenha quase por antonomásia o nome de
diabo, Satanás ou Dragão: “O Dragão com os seus anjos pelejava” (Ap 12, 7); “Se, pois, Satanás
está dividido contra si mesmo, como estará em pé o seu reino?” (Lc 11, 18). Afinal, como diz São
Pedro, Deus permite que nos tornemos escravos daqueles por quem somos vencidos (cf. 2Pd 2,
19) [5].

Por último, cumpre dizer uma palavra a respeito da malícia dos demônios. Embora o pecado
dos anjos não os tenha convertido em essencialmente maus [6], todos os seus atos livres, não
obstante, são pecaminosos, não por fraqueza moral, mas por obstinação. Mesmo quando
querem um bem ou dizem alguma verdade (cf. Lc 4, 34), fazem-no com a intenção de praticar
um mal ou levar à mentira. Se nos anjos bons Deus mostrou a que alturas de glória pode ser
elevada a criatura humilde, nos maus mostrou a que abismos de perdição pode precipitar-se a
criatura soberba: “Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, que foi preparado para o
demônio e para os seus anjos!” (Mt 25, 41) [7].

Nota
1. Diz, por exemplo, São Fulgêncio: “Os iníquos hão de arder sempre com o diabo, os justos porém hão de reinar sem
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fim com Cristo” (De fide ad Pet. c. 43).

2. Essa é a razão fundamental por que podiam pecar. De fato, toda criatura racional tem o poder de pecar por não ver
natural e imediatamente a Deus, o único Bem que pode saciar seu desejo de felicidade. Por isso está aberta à
possibilidade de preferir a Deus bens aparentes ou particulares de forma desordenada, e nisto consiste
propriamente o pecado: preterir a Deus (aversio a Deo) por amor a algo criado (et conversio ad creaturas).

3. Cf. STh I 63, 3.

4. Além disso, autores como Suárez chegam a pensar que Lúcifer teria pecado também por desejar a graça da união
hipostática, sendo assim adversário de Cristo desde o princípio. De fato, como lhe fosse revelado o mistério da
Encarnação e visse que Cristo seria exaltado sobre todas as criaturas, o diabo desejou soberbamente essa glória
como algo devido à sua grandeza entre os anjos. A essa soberba original, por assim dizer, se teria seguido o
pecado de desobediência dos outros anjos. Ao receberem de Deus o preceito de adorar a Cristo Rei: “Todos os
anjos de Deus o adorem” (Hb 1, 6; cf. Sl 96, 7), desprezaram o mandamento divino, tornando-se réus de soberba e
rebeldia.

5. Donde se segue que também entre os demônios há certa hierarquia, não porque uns obedeçam a outros por
humildade, mas porque os que pecaram por sugestão de outros estão a eles submetidos, enquanto todos
aspiram aos mesmos males. Por isso, entre eles não há nem pode haver amizade, mas apenas “cumplicidade”,
assim como não se podem chamar amigos os membros de uma quadrilha, cuja associação funda-se, não na busca
de um bem comum, mas no que pode resultar proveitoso para cada um do pecado conjunto de todos.

6. O mal se define como privação do bem devido; logo, supõe a existência do bem e significa apenas a ausência dele
num sujeito apto a possuí-lo. De natureza “parasitária”, o mal não pode subsistir por si mesmo; não é um ente, mas
carência de entidade.

7. O texto desta aula se baseia, quase inteiramente à letra, em François X. Schouppé, Elementa theologiae. 3.ª ed.,
Bruxelas, H. Goemaere (ed.), 1865, vol. 1, pp. 442-445.

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