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HISTÓRIA DA AMÉRICA INDEPENDENTE

Unidade III
Vamos agora apresentar alguns aspectos dos processos de consolidação de Estados nacionais
americanos buscando entender de que maneira o processo ocorreu. Assim, nosso olhar privilegiará
alguns casos significativos do processo geral em que disputas geraram guerras – civis ou entre Estados.
Além disso, as mais diversas regiões passaram por rearranjos territoriais ao longo do século XIX. A
expansão do capital – com o avanço da industrialização e desse desdobramento imperialista – também
ganhou força na segunda metade do século XIX, bem como as discussões sobre a manutenção da mão
de obra servil. A emergência dos Estados Unidos como nação hegemônica continental e suas influências,
mesmo mais regionais, deve ser pensada em termos de interferências sobre a realidade dos mais diversos
países americanos. Em particular, a independência cubana está diretamente ligada a esse processo.

7 O SÉCULO E A DIFÍCIL CONSOLIDAÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS

Os Estados Unidos da América foram, sem dúvida alguma, uma referência fundamental para os demais
países americanos, quer seja como um exemplo republicano a ser seguido desde sua independência,
quer como potência continental que pouco a pouco se firmou, assumindo a liderança que antes cabia
aos europeus, principalmente, aos ingleses.

Nos anos iniciais do século XIX, com a Doutrina Monroe (1823), ficou clara a preocupação com sua
influência continental. Entretanto, podemos indicar que isso não foi gratuito – os ingleses tentaram
reconquistar os Estados Unidos em 1812, naquilo que seria uma segunda guerra da independência – e
isso exigia um posicionamento continental quanto às chances europeias de recolonização.

Se a guerra, como todas as guerras, trouxe preocupações de ordem econômica,


provocou entretanto outras consequências menos amargas. Uma delas
– é o próprio Albert Gallatin, Secretário do Tesouro, quem conta: a guerra
renovou e restaurou o sentimento e o caráter nacionais nascidos na Guerra
da Independência, mas que declinavam dia a dia. O povo tem agora objetivos
mais amplos, aos quais se ligam o seu brio e as suas opiniões políticas. São mais
americanos; sentem e agem mais como nação; e espero que a permanência da
União se tenha assim firmado (TAPAJÓS, 1974, p. 226).

7.1 EUA – Aspectos da expansão territorial

Quando pensamos nos Estados Unidos do século XIX, é fundamental ter clareza de que a imagem
de nação progressista e pacificada internamente foi construída no decorrer do século XIX, pois – assim
como nos demais países americanos – a política era repleta de reviravoltas e grupos majoritários
atacando minoritários. Nos Estados Unidos, isso deu origem ao spoil system, que funcionava afastando
dos cargos administrativos os membros derrotados. O partido que começou essa prática de construção
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de hegemonia foi o Partido Democrata, que tinha disputas de interesses com os republicanos.

Externamente, os Estados Unidos se organizava com vistas a não se envolver gratuitamente em


conflitos ou disputas europeias. Assim, relativamente pacificado internamente, o país passou a se
desenvolver economicamente. Além disso, abrindo sua fronteira agrícola, permitiu um incremento da
imigração muito importante:

“A população que, em 1790 era de 3.900.000 habitantes, passou para 7.200.000 em 1810. No ano de
1870, alcançava 40 milhões” (ARRUDA, 2004, p. 248).

A expansão territorial também era muito significativa, uma vez que, originalmente, habitantes da
faixa leste ou atlântica empreenderam a conquista do oeste selvagem ou foram comprando áreas que
faziam a conformação territorial do país.

Em 1803, por 15 milhões de dólares, os Estados Unidos compraram de


Napoleão Bonaparte a Luisiana; por 5 milhões, em 1819, adquiriram da
Espanha a Flórida. Em 1845, depois de ter‑se declarado independente do
México, o Texas uniu‑se aos norte‑americanos; em 1846, encerrado o litígio
com a Inglaterra, foi anexado o Óregon. Finalmente, em 1848, depois da
guerra que travaram contra o México por disputa de fronteira, os Estados
Unidos anexaram os territórios de Nevada, Califórnia, Utah, Arizona e Novo
México. O país ficou com uma superfície de 7.800.000 km²; de 23 estados
em 1820, passou a ter 33 em 1860; a população nesse período aumentou
de 9.600.000 para 31.300.000 habitantes. Esse aumento da população
deveu‑se muito à imigração: de 1830 a 1860 entraram nos Estados Unidos
4.600.000 imigrantes, do quais 16% eram ingleses, 39% irlandeses e 30%
alemães (ARRUDA, 2004, p. 248).

Em termos pontuais e espaciais, se na Independência, em 1776, eram 13 os estados, até o final


do século XVIII, ainda se somaram Vermont (1791), Kentucky (1792) e Tennessee (1796). No século
XIX, somaram‑se Ohio (1803), Indiana (1816), Mississippi (1817), Illinois (1818), Alabama (1819), Maine
(1820) e Missouri (1821). Como se pode observar, o crescimento era rápido. Na década de 1830, Arkansas
e Michigan. Um dos pontos fundamentais nessa expansão foi a questão do Texas, separado do México
por vontade própria em 1833 – com um governo republicano autônomo e depois incorporado aos
Estados Unidos em 1845, gerando a guerra com o México, que deu aos Estados Unidos a Califórnia,
Nevada, Utah, Colorado, Novo México e Arizona – fazendo o país crescer do Atlântico ao Pacífico.

Ao que tudo indica, o processo foi acelerado, e a sociedade, mesmo gozando dessa expansão, tinha
seus impactos. Terras do vizinho México foram conquistadas e incorporadas, mas mais agressivas eram
as relações com os povos nativos. À medida que o país crescia, a economia e a industrialização mais
especificamente sofriam um grande impacto.

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As 13 colônias independentes em 1776


Território cedido por:
Grã‑Bretanha
França
Espanha
México
Rússia

Figura 33 – Expansão territorial dos Estados Unidos

O país, que crescia aceleradamente, firme em sua crença de que isso fosse o seu Destino Manifesto
(produto da vontade providencial), passava a enfrentar discussões internas de grande relevância como
uma maior ou menor participação da União no dia a dia dos Estados. Evidentemente, tratava‑se de uma
discussão entre centralização e descentralização. Contudo, a questão que mais dividia a jovem e pujante
nação era o problema da manutenção ou abolição da escravidão. Na década de 1850, o quadro geral era
complexo – o que nos faz recordar o Brasil, que nesse momento precisou fazer a proibição do tráfico
atlântico de escravos com a Lei Eusébio de Queirós, de 1850.

Mas voltemos aos Estados Unidos. Em 1850, havia um debate sobre a União dever ou não fazer a abolição.
Henry Clay conseguiu firmar entre os Estados um documento conhecido como Compromisso Clay.

O Compromisso de 1850 fora uma última tentativa desesperada para salvar


a União sem abordar de frente nem experimentar revolver o problema da
escravatura. Aos olhos de Henry Clay a União importava mais que tudo, e
esse será também, quando explodir a crise, o ponto de vista de Lincoln, Clay,
pois, para que a escravatura não ameaçasse a União, esforçava‑se por evitar
que a União ameaçasse a escravatura. Daí o espírito de conciliação que o
persuadia de tentar resolver, uma vez mais, o grande problema nacional,
protelando‑lhe a solução (TAPAJÓS, 1974, p. 235).

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Era a segunda tentativa de resolver o problema, já que, em 1820, um acordo chamado Acordo do
Mississipi permitiu a escravidão abaixo do paralelo 36º40’, mas, com a entrada da Califórnia não escravista
na União, as discussões ganharam força novamente, sendo, portanto, preciso o Compromisso Clay.

A divisão mais evidente estava em torno de abolicionistas e escravocratas, que cresciam rapidamente
– sendo mais de 2 mil associações favoráveis à causa. Politicamente, os abolicionistas estavam
representados em um forte partido que foi fundado em 1854, o Partido Republicano.

Saiba mais

Recomendamos a leitura do romance publicado nos Estados


Unidos nesse momento de crise, em 1852, por Harriet Beecher Stowe,
chamado A Cabana do Pai Tomás. De cunho abolicionista, alcançou um
estrondoso sucesso; só no primeiro ano de publicação, foram vendidos
mais de trezentos exemplares.

STOWE, H. B. A cabana do pai Tomás. São Paulo: Madras, 2004.

7.1.1 EUA – Lincoln e a Secessão

A situação política e social dos Estados Unidos era extremamente tensa, principalmente a
partir da segunda metade do século XIX. Ao lado do problema da escravidão, havia também a
discrepância em termos de desenvolvimento econômico entre as diversas regiões do país, sendo
mais acentuadas as diferenças entre o norte e o sul. O norte acelerava sua industrialização, mas
o sul era evidentemente agrário e escravista, com uma forte economia algodoeira que, em 1860,
significava algo como 57% das exportações do país. Necessitando manter suas exportações,
esses estados agrários queriam tarifas alfandegárias reduzidas facilitando os fluxos comerciais,
e o norte, para conseguir se industrializar sem sofrer em demasia com a concorrência, era
abertamente protecionista.

Como se vê, um mesmo país dividido em termos de economia, questões de tarifas aduaneiras e sobre
a própria natureza do regime interno de trabalho – ou seja – a continuidade ou não do escravismo –
teria dificuldades enormes em evitar uma ruptura radical. O temor da separação rondava todos: ora a
situação ficava mais tensa, ora as crises se amenizavam; de qualquer modo, os dois lados percebiam as
dificuldades e a gravidade da situação.

Conflitos individuais eram noticiados com certa frequência na grande imprensa, que ganhava forças
das cidades que cresciam em ritmo acelerado. A tensão era grande, e os democratas conseguiram eleger
James Buchanan presidente entre 1856 e 1860, mas a campanha dos republicanos favoráveis à abolição
havia sido bastante importante.

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Um aspecto pontual pode ser usado para medir a situação: o caso, na época famoso, chamado de
“Caso Dred Scott”:

Foi o seguinte: um médico do Missouri, Dr. Emerson, tinha um escravo


chamado Dred Scott. Um dia, porém (1834), o cirurgião teve de ir residir
em Illinois, “Estado livre”, e levou Scott para ajudá‑lo no serviço. Passou
depois a Minnesota, onde também era proibida a escravidão. Alguns anos
depois, voltou ao Missouri. Um dia, Dr. Emerson açoitou o negro. Este se
revoltou e apelou para a Justiça, alegando que não era mais escravo, pois
ganhara a liberdade quando vivera naqueles “Estados livres”. A Corte de St.
Louis deu‑lhe ganho de causa, mas houve apelação à Suprema Corte do
Missouri e depois à dos Estados Unidos. Dred Scott foi vencido: não tinha
o direito de intentar a questão, pois não era cidadão, mas “uma coisa” e,
assim sendo, equiparado a um revólver ou a uma bolsa, poderia ser levado
pelo proprietário para qualquer parte da União sem consequência alguma
(TAPAJÓS, 1974, p. 240).

Os abolicionistas foram profundamente frustrados no caso Dred Scott, mas a discussão pelo país
só aumentava. Por ocasião da sucessão presidencial, as disputas voltaram a ganhar força. O partido
mais poderoso na União era o democrata, representante dos sulistas escravocratas, mas, em razão de
dissensões internas, não conseguira a coesão necessária para a eleição do presidente da república, o que
resultou na vitória de Abraham Lincoln, republicano, em novembro de 1860.

Figura 34 – A questão do escravismo foi responsável pelo aumento da tensão entre o norte e o sul

Lincoln, para muitos, encarnava um ideal de americano, uma vez que nascera num estado sulista
e escravista – o Kentucky –; filho de um carpinteiro, estudara em escola pública, era religioso,
trabalhara em diversas atividades sempre vivendo em condições muito rigorosas e estudara direito
por correspondência (já existia o ensino a distância nos séculos XIX e XX, mas claro que de maneira
epistolar, por cartas). Além disso, advogou e foi eleito representante de Illinois, ocasião em que

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pôde publicamente debater com Stephen Douglas sobre o caso Dred Scott e como nos conta
Tapajós (1974):

De um lance, Lincoln conquistou sua reputação: soube encurralar seu


adversário em tais declarações de opinião quanto ao processo Dred Scott
e outras questões conexas que se tornou impossível ao sul fazê‑lo seu
candidato para a próxima eleição presidencial (TAPAJÓS, 1974, p. 240).

Quando aceitou a indicação do Partido Republicano para disputar a presidência da república,


Lincoln fez um pronunciamento que entrou para a história como “O Discurso da Casa Dividida”, no
qual afirmou que:

Uma casa dividida contra si mesma não pode subsistir. Acredito que este
governo não pode suportar para sempre ser meio escravo e meio livre. Não
espero que a União seja dissolvida — não espero que a casa caia — mas
realmente espero que não haja mais divisão. Ela se tornará totalmente uma
coisa ou totalmente a outra. Ou os adversários da escravidão vão […] colocá‑la
onde a opinião pública enferrujará na crença de que ela está a caminho da
extinção; ou seus defensores a impulsionarão até que ela se torne legal em
todos os estados, antigos e novos — do norte e do sul (DEPARTAMENTO DE
ESTADO DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, 2008, p . 24).

Eleito o presidente, antes mesmo de sua posse marcada para março de 1861, eclodiu a Guerra
Civil Norte‑americana, aqui no Brasil frequentemente denominada Guerra de Secessão. Em 20 de
dezembro de 1860, a Carolina do Sul se declarou separada da União, sendo seguida por Geórgia,
Alabama, Flórida, Mississipi, Louisiana e Texas. Era a Secessão! E a União não poderia, de maneira
alguma, contemporizar. Aos separatistas ainda se somaram Virgínia, Arkansas e Carolina do Norte, o
que agravava ainda mais a situação.

Em fevereiro de 1861, os representantes dos dissidentes se reuniram e determinaram a criação de


uma nova república, os Estados Confederados da América, sob a presidência de Jefferson Davis, sendo
seu vice‑presidente Hamilton Stephens. A capital da nova república era Richmond.

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Estados da União
Estados Confederados

Imagem: Mapa dos EUA – Guerra Civil / Guerra de Secesão

1 – Oregon 13 – Pensilvânia 1 – Texas


2 – Califórnia 14 – Massachusetts 2 – Lousiana
3 – Área indígena 15 – Nova Iorque 3 – Arkansas
4 – Kansas 16 – Vermont 4 – Mississippi
5 – Wisconsin 17 – New Hampshire 5 – Alabama
6 – Michigan 18 – Maine 6 – Tennessee
7 – Missouri 19 – Rhode Island 7 – Geórgia
8 – lllinois 20 – Connecticut 8 – Carolina do Sul
9 – Indiana 21 – New Jersey 9 – Carolina do Norte
10 – Kentucky 22 – Delaware 10 – Virgínia
11 – Ohio 23 – Maryland 11 – Flórida
12 – Virgínia Ocidental

Figura 35 – EUA: União versus Confederados

Os primeiros atritos entre os Confederados e os Estados Unidos se deram em 12 de abril e em 15 de


abril. Lincoln declarou guerra contra os rebeldes sulistas. Apesar de o norte ser uma potência industrial
e de possuir uma população maior, as dificuldades foram significativas. O sul foi defendido por Robert
E. Lee ou general Lee e ganhou confiança quando os nortistas, em sua primeira investida contra sua
capital, em 1861, foram batidos pelo general Thomas Jackson.

O norte, percebendo as enormes dificuldades em travar uma guerra territorial contra os bem-preparados
sulistas, decidiu bloquear os portos sulistas, o que contribuiu fundamentalmente para a inversão da guerra
e para algumas das vitórias do norte. Lincoln trocou o comando de seus exércitos, substituindo o general
George B. McClellan – que seria seu oponente na disputa presidencial em 1864, vencida novamente por
Lincoln. O novo comandante do Exército da União era o general de combate Ulysses S. Grant, auxiliado por
William Sherman (que posteriormente emprestaria seu nome a uma classe de tanques de guerra).

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O esforço naval do norte começou a dar resultados e, em busca de maior apoio, num gesto
abolicionista, fez uma Proclamação de Emancipação em janeiro de 1863. Entretanto, apesar dos sucessos
do norte, o poder sulista ainda não havia sido realmente abalado. O ponto mais alto de toda a guerra foi
a Batalha de Gettysburg, iniciada em 1º de julho de 1863. Ela durou três dias e marcou a virada decisiva
na Guerra Civil pois, uma vez derrotado, o general Lee rumou para o sul para proteger a capital, e os
nortistas empreenderam uma campanha agressiva, na qual Sherman e Lee obtiveram diversas vitórias.

Figura 36 – Guerra Civil dos EUA: destaque para as tropas confederadas e sua bandeira característica

Em 9 de abril de 1865, os comandantes militares da União e dos Confederados, Ulysses Grant e


Robert Lee, se encontram em Appomatox para a rendição sulista, encerrando a guerra.

Acabava‑se de celebrar em Washington a festa da vitória. A capital nacional


estava cheia de visitantes vindos para assistir à grande parada das tropas;
as casas estavam embandeiradas. Durante dois dias o exército do Potomac,
com o general Meade em pessoa à sua frente, e o exército do general
Sherman desfilaram em colunas cerradas em volta do Capitólio e diante
do estrado erguido para o presidente e seus ministros na entrada da Casa
Branca. Por todo o país o povo se entregava aos júbilos. Em 14 de abril, o
presidente Lincoln foi passar a noite no teatro Ford com sua mulher e alguns
amigos. Um jovem alucinado, um ator chamado John Wilkes Booth, entrou
tranquilamente no camarote e lhe disparou por detrás um tiro de pistola
na cabeça. Depois saltou para a cena gritando: “Sic Semper Tyrannis!” “Que
aconteça sempre assim aos tiranos!”. Tendo‑se uma das esporas embaraçado
nas dobras da bandeira que decorava a frente do camarote, ele caiu e
quebrou uma perna. Apesar do acidente, logrou, tão grande era a confusão,
escapar por uma porta da cena. Mas foi encontrado por soldados e fuzilado
numa garagem. O crime fazia parte de uma conspiração e, na mesma noite,
o secretário de Estado, William Seward, foi atacado em sua casa e atingido
por uma punhalada. Mas a ferida não foi mortal. Os detalhes da conspiração
foram esclarecidos, quatro dos cúmplices do assassinato foram enforcados,
os outros condenados à prisão perpétua (TAPAJÓS, 1974, p. 243).

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Apesar de um pouco extensa e dramática, optamos por trazer a narrativa do assassinato de Lincoln
com a intenção de recolocar a discussão a respeito do personagem histórico, assim como fizemos
anteriormente com Simón Bolívar, San Martín e outros. Existe, em torno de Lincoln, uma aura, e a
mitificação distancia, como nos outros casos, a figura histórica do homem.

Saiba mais

Quando tratamos da construção da imagem de Bolívar, mencionamos


que um dos livros sobre o Libertador tinha sido publicado sob os auspícios
do próprio governo da Venezuela. Agora, indicamos um outro livro, na
versão digital, produzido pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos
da América:

DEPARTAMENTO DE ESTADO DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA.


Abraham Lincoln: um legado de liberdade. 2008. Disponível em: <http://
photos.state.gov/libraries/america/475/pdf/0812_AbrahamLincoln_A_
Legacy_Of_Freedom_Portuguese_digital.pdf>. Acesso em: 27 fev. 2015.

Enfatizamos que a produção gráfica do livro é extremamente benfeita, preocupada com imagens de
época e valorizando o lado humano de Lincoln.

Alguns capítulos possuem títulos bastante elucidativos, tais como:

• “O que Abraham Lincoln significa para os americanos hoje”;

• “Alicerces da grandeza: Abraham Lincoln até 1854”;

• “Lincoln, o diplomata”;

• “Lincoln, o emancipador”;

• “As palavras que comoveram uma nação”.

Fica claro o programa absolutamente contemporâneo de firmar uma determinada imagem de


Lincoln e, ao ler a apresentação, honestamente, o texto esclarece essa intenção:

O ano de 2009 marca o 200º aniversário do nascimento de Abraham Lincoln,


o presidente americano quase sempre considerado o maior dos líderes
deste país. A reverência dos americanos por Lincoln teve início com sua
morte trágica por assassinato em 1865, ao fim de uma guerra civil brutal
na qual 623 mil homens morreram, a União passou por seu maior teste
e a escravidão foi banida. E seu lugar sagrado na iconografia dos Estados

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Unidos permanece. Mais de 14 mil livros sobre Lincoln foram publicados


até hoje. O acadêmico contemporâneo Douglas L. Wilson chama Lincoln de
o “mais notório e aclamado de todos os americanos”. Por que acrescentar
mais um volume à montanha de obras sobre Lincoln? Porque acreditamos
que Lincoln personifica ideais americanos fundamentais que se estendem
da fundação desta nação até os dias de hoje. Entre os americanos que têm
essa visão do nosso 16º presidente está o 44º presidente, Barack Obama.
Escrevendo em 2005, como recém‑eleito senador americano, Obama
declarou que era difícil imaginar um cenário menos provável do que a sua
própria ascensão — “exceto, talvez, aquele que permitiu que uma criança
nascida no interior do Kentucky com menos de um ano de educação formal
se tornasse o maior cidadão de Illinois e o maior presidente da nossa nação”.
Na biografia de Lincoln, continuou Obama, a maneira “como ele saiu da
pobreza, seu domínio absoluto da linguagem e da lei, sua capacidade para
superar perdas pessoais e se manter determinado diante de repetidas
perdas [...] lembrou‑me um elemento fundamental mais abrangente da vida
americana — a crença inabalável de que podemos constantemente nos rever
para atingir nossos maiores sonhos”. Ao reunir historiadores de renome e
pedir a eles que avaliassem Lincoln de diferentes ângulos, esperamos ajudar
as pessoas do mundo todo a entender as origens da grandeza do homem,
bem como seu lugar no coração dos americanos. Este volume, portanto,
apresenta um tipo de retrato pontilhado de Lincoln (DEPARTAMENTO DE
ESTADO DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, 2008, p. 2).

Dessa maneira, fica exposta a importância do líder nacional como a figura que consagraria os valores
que são os mais importantes ao país, a essência da própria nação. Uma vez consolidada como conjunto,
teria, no século XIX, a força necessária para avançar e cumprir seus desígnios como nação e também
como portadora de valores que são ao mesmo tempo norte‑americanos e universais. Esse é o discurso
que permite situar a figura de Lincoln, tragicamente assassinado em abril de 1865, mas responsável, a
partir de então, pelo avanço, numa era de progresso e esplendor, do país que em parte é obra sua.

Saiba mais

A filmografia sobre esse importante período da história norte‑americana


é muito extensa. Indicamos aqui alguns filmes essenciais não apenas para
entender o olhar norte‑americano sobre si mesmo e seus valores, mas
também para pensar o século XIX:

...E O VENTO levou. Dir. Victor Fleming. EUA: Selznick International


Pictures, 1940. 238 minutos.

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AMISTAD. Dir. Steven Spielberg. EUA: DreamWorks SKG, 1998. 155 minutos.

ANJOS assassinos. Dir. Ronald F. Maxwell. EUA: Tristar Pictures, 1993.


254 minutos.

DOZE anos de escravidão. Dir. Steve McQueen. EUA; Reino Unido:


Regency Enterprises, 2013. 134 minutos.

LINCOLN. Dir. Steven Spielberg. EUA: DreamWorks SKG, 2012. 90 minutos.

TEMPO de glória. Dir. Edward Zwick. EUA: Tristar Pictures, 1989. 122 minutos.

7.2 México – Da independência às lutas internas

Na história da América Latina, o caso mexicano pode nos fornecer aspectos importantes para entender
a política, a sociedade, os conflitos e os Estados se estruturando no século XIX. Espaço de conflitos
étnicos absolutamente fundamentais – o que desembocou em disputas pelas terras de agricultura – o
México até os dias atuais apresenta a questão de como uma imensa população indígena é marginalizada
em sua sociedade, e no século XIX esse processo foi extremamente conflituoso.

O México, mesmo pertencendo à porção norte do continente, é um país latino e indígena, além
de ter sua história em diversos momentos relacionada diretamente aos acontecimentos ao norte, dos
Estados Unidos.

Figura 37 – México atual: principais cidades

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Realizada a independência mexicana, não foi possível obter paz interna, pois os apoiadores do
governo, de forma geral, eram o clero e o Exército. Agustín de Iturbide foi Coroado imperador como
Agustín I. Diante da enorme crise econômica que o recém‑emancipado país enfrentava, alguns setores
começaram a enxergar no imperador a responsabilidade pela situação. O descontentamento chegou a
tal ponto que antigos aliados o abandonaram e parte do Exército se transformou em oposição armada,
com um levante liderado pelo general Antonio López de Santa Anna, um antigo apoiador seu.

O povo encontrava‑se numa condição de piora significativa do seu modo de vida, pois, com as
recorrentes emissões de papel-moeda, perdia poder de compra. A revolta recebeu, assim, apoio popular
e em dezembro de 1822 começou uma revolta contra o governo do imperador Iturbide. Em 1823,
pouco tempo depois, suas forças foram derrotadas e, mesmo tendo convocado novamente o Congresso
Nacional, já não era possível manter‑se no poder. Assim, foi necessário abdicar, o que ocorreu em março
de 1823. Logo depois, em maio do mesmo ano, o imperador partiu para o exílio na Itália.

Figura 38 – Agustín de Iturbide entrando na cidade do México em 1821

O governo mexicano passou por diversos momentos no século XIX. A independência, consubstanciada
no Plano de Iguala, de 1821, estabelecia o rompimento com a antiga metrópole e a criação de um país que
atualmente se estenderia sobre territórios norte‑americanos como a Califórnia e o Texas, por exemplo,
e em direção à América Central. Devemos ressaltar que o processo que resultou na independência não
foi conduzido o tempo todo pelas elites criollas do antigo Vice‑Reino de Nova Espanha, ao contrário, os
primeiros movimentos tiveram origem popular sob a condução de Hidalgo e Morellos e envolveram as
massas subalternas de indígenas explorados pelo latifundiários e pelos donos de minas.

Em 16 de fevereiro de 1810, alguns dias antes da chegada do novo vice‑rei


Francisco Xavier Venegas, Miguel Hidalgo iniciou uma insurreição em Dolores
que se estendeu com rapidez para outras intendências. O objetivo do padre,
como reconheceu perante as autoridades que o julgaram meses depois, era
fazer a independência do reino, ou seja, tirar os gachupins de seus empregos
e cargos públicos para dá‑los aos crioulos e, muito importante, preservar
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a América dos perigos aos quais estava exposta pela união com a Europa
(PAMPLONA, 2008, p. 151).

No México, era muito presente no momento da independência a questão de entregar a região para
quem não fosse o francês opressor da Europa e, como filho da Revolução, inimigo da religião católica.
Esse fervor religioso foi um elemento muito importante para acelerar as lutas por emancipação, mas
a população mais pobre reunida passaria a fazer reivindicações sociais, e o centro das discussões era a
questão da terra.

Em fevereiro de 1821, Agustín de Iturbide, um jovem coronel que combatia os


rebeldes desde 1810, promulgou um Plano de Independência no qual prometia
a defesa da religião e dos privilégios eclesiásticos como um dos pontos mais
importantes do seu programa político. Nos meses seguintes, conseguiu o
apoio de diferentes grupos políticos, entre os quais se encontravam também
pessoas com posições liberais (PAMPLONA, 2008, p. 164).

Essa proclamação, o já referido Plano de Iguala, possibilitou a Iturbide assegurar garantias às elites
proprietárias, aos religiosos e aos militares – haja vista sua inequívoca condição de militar. Desse
modo, esses setores se alinharam na busca de assegurar o poder político de um novo país, mas sem a
possibilidade de subversão da ordem social e das relações que envolviam a propriedade e o acesso à
terra. Dessa maneira, podemos considerar que os criollos, com enorme receio das possibilidades que a
independência abria, procuraram assumir o controle do processo de ruptura e emancipação:

No século XIX ocorreram várias revoltas indígenas de grandes proporções


em países latino‑americanos. Algumas tiveram larga repercussão, pelo vulto
das lutas travadas entre indígenas e tropas governamentais. A Guerra de
Castas, ocorrida em Yucatán, no México, estendeu‑se de 1847 a 1901. Os
políticos criollos haviam armado os índios no curso da luta de facções que
se opunham entre si. Imprudentemente, lhes haviam prometido a abolição
dos impostos e a distribuição de terras. Promessa não cumprida, índios em
armas, o que se segue é lógico [...] (SANTOS, 1985, p. 17).

O fim de Iturbide, no entanto, foi marcado por aspectos dramáticos, pois o Congresso Nacional não
aceitou sua abdicação: por isso, caso retornasse ao país, seria executado.

Aconselhado, entretanto, por amigos, a voltar ao México, acreditando que


retornaria ao poder, e não sabendo que estava condenado à morte caso voltasse,
sem armas, sem soldados e até sem propósitos firmados de conspiração,
desembarcou num ponto solitário de Tamaulipas. Traído pelo general Carza, que
o reconheceu, foi preso, julgado e condenado à morte por fuzilamento na vila
de Padilha, em 19 de julho de 1824 (TAPAJÓS, 1974, p. 270).

O evento, cujo desfecho foi um pouco diferente da abdicação do imperador do Brasil, Pedro I, em
1831, acabou levando à transformação do México em uma república, e, para tal, o Congresso Nacional
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deveria convocar uma Assembleia Constituinte, como de fato ocorreu. As disputas políticas entre
centralização e descentralização, entre unitários e federalistas, também estavam presentes, assim como
na Argentina, na Venezuela, no Chile e mesmo no Brasil. A questão envolvia maior grau de centralização,
como era desejo dos unitários, ou maior autonomia local, como defendiam os liberais – que sofriam
influência direta dos Estados Unidos. Ainda segundo Tapajós (1974, p. 270), venceram os liberais, e a
Constituição definia 19 estados e 5 territórios com os clássicos três poderes republicanos – Executivo,
Legislativo e Judiciário; o catolicismo foi escolhido como religião oficial. Das disputas políticas entre
liberais e conservadores, nasciam alguns dos atritos que arrastariam o México para uma guerra civil de
grandes proporções: a Guerra da Reforma.

Antes dessa conflagração, um importante período de busca de estabelecimento da paz interna


controlando os ímpetos dos poderes locais (caudilhos) foi a subida ao poder de Lopes de Santa Anna
depois de grandes instabilidades.

Era um indivíduo incompetente e corrupto, desprovido de princípios,


indiferente aos melhores interesses de seu país, escrevem uns [...] aventureiro
sem gênio, mas não sem coragem, que os escrúpulos da legalidade não
atingiam nunca e que passava de uma a outra opinião, a ponto de o
chamarem camaleão [...] dizem outros (TAPAJÓS, 1974, p. 273).

Santa Anna, acreditando que o governo de Gómez Farias era muito reformista, em 1834 rebelou‑se
contra o poder central com uma proclamação em Cuernavaca defendendo o fortalecimento da União e
sendo, portanto, ferrenho defensor de um Estado centralizado. Com a Constituição de 1836, os Estados
foram abolidos, e o governo definia os governadores dos departamentos.

Lembrete

O mesmo movimento de centralização e descentralização gerou


conflitos na região platina e no Brasil, provocando, inclusive, rompimento
na unidade do Estado imperial. Referimo‑nos ao episódio da Farroupilha,
entre 1835 e 1845.

7.2.1 O México e as perdas territoriais para os Estados Unidos

O país que começa a ser construído com a emancipação tem suas peculiaridades, pois, em
alguns pontos, territórios são muito pouco povoados, de densidade muito pequena. Dessa forma,
o próprio governo foi franqueando a possibilidade de colonos estrangeiros – notadamente do
país vizinho – se instalarem no país. Esse foi o caso do então mexicano Texas. Essa região ganhou
importância econômica principalmente a partir da década de 1830, com a criação de gado bovino
e o desenvolvimento de um tipo social importantíssimo no imaginário norte‑americano, o cowboy.
Quando se imagina a figura dos cowboys, junto vem a forte presença indígena e do Exército
norte‑americano (principalmente após a Guerra Civil).

124
HISTÓRIA DA AMÉRICA INDEPENDENTE

Desde a chegada dos primeiros colonizadores espanhóis, as regiões do Texas e da Califórnia foram
alvo de missões franciscanas e jesuíticas para a catequese dos nativos, mas no século XVIII já haviam
perdido sua força junto aos índios.

Diante do movimento centralizador de um Estado mexicano povoado de muitos estrangeiros


e que vinha enriquecendo com as criações de gado, o povo de origem estadunidense que vivia no
Texas decidiu não aceitar a imposição de López de Santa Anna. O Texas, considerando ilegítima e
ilegal essa centralização, decidiu‑se pelo rompimento da fidelidade ao poder central. Tapajós (1974, p.
273) menciona que Cotterrill, num livro intitulado A Short History of the Americas, teria escrito: “um
resultado imediato das ‘Sete Pragas’ foi a revolta do Texas, que havia sido ocupado por imigrantes saídos
dos Estados Unidos”. Vale ressaltar que as “Sete Pragas” são uma alusão direta à Constituição Mexicana
de 1836, pois ela possuía Las Siete Leyes Constitucionales.

Um dos momentos considerados mais importantes de fratura do Estado nacional mexicano e de


construção do Estado norte‑americano foi a questão da região do Texas. Até a década de 1830, o
estado pertencia ao Estado de Coahuila, mas com a abolição do federalismo na constituição centralista
os colonos de origem norte‑americana se rebelaram contra o poder central e deram publicidade a isso
com sua Proclamação de Independência. Na sequência, apresentaremos alguns trechos um pouco mais
extensos extraídos da referida proclamação com o intuito de propor um exercício de compreensão de
texto, tentando extrair das partes selecionadas os significados mais gerais. Sugerimos a você que na
leitura tome nota dos pontos principais para poder analisar como são produzidos discursos políticos.
Assim, no documento, afirma‑se:

Quando um governo cessou de proteger a vida, a liberdade e a propriedade


do povo, do qual derivam seus legítimos poderes, e de promover a felicidade
deste povo, motivo pelo qual foi instituído; e longe de ser uma garantia a
favor de seus direitos inestimáveis e inalienáveis, torne‑se um instrumento
nas mãos de governantes perversos para a opressão deste povo. Quando
a Constituição Federal republicana de seu país, a qual estes mesmos
governantes juraram defender, já não tem existência substancial, e a
completa natureza de seu governo foi transformada, pelo uso da força, sem
o consentimento do povo, de uma república federativa restrita, composta de
estados soberanos, em um despotismo militar centralizado e sólido, no qual
são negligenciados todos os interesses que não digam respeito ao Exército
e ao clero, ambos eternos inimigos da liberdade civil, asseclas do poder
sempre de prontidão e habituais instrumentos dos tiranos. [...] Quando,
em consequência de tais atos de malevolência e sequestro por parte do
governo, a anarquia prevalece, e a sociedade civil desmembra‑se em seus
elementos originais, em tal crise, a primeira lei da natureza, o direito de
autopreservação, o direito inerente e inalienável do povo de apelar aos
primeiros princípios e tomar suas questões políticas em suas próprias mãos
em casos extremos, impõe‑se como um direito voltado para si mesmo e um
dever sagrado para com a posteridade, de abolir tal governo, e criar outro
em seu lugar, planejado para salvá‑lo de perigos iminentes, e assegurar seu
125
Unidade III

bem‑estar e felicidade. [...] Porém, é um inevitável passo que ora damos para
cortar nossa ligação política com o povo mexicano e assumir uma atitude
independente entre as nações da Terra (ARMITAGE, 2011, p. 173).

Até esse momento, a apresentação tem um sentido moral, uma justificativa de que o rompimento
anunciado pode ser visto como justo e, mais do que isso, necessário. Continuemos:

[...] O governo mexicano, mediante suas leis de colonização, convidou e


induziu a população anglo‑americana do Texas a colonizar seus territórios
sob a crença empenhada em uma constituição escrita de que esta mesma
população continuaria a desfrutar da liberdade constitucional e do governo
republicano ao qual estava habituada em sua terra natal, os Estados Unidos da
América. [...] foram eles cruelmente decepcionados, visto que a nação mexicana
concordou com as recentes mudanças feitas no governo pelo general Antonio
López de Santa Anna, que, tendo derrocado a Constituição de seu país, agora
nos oferece a cruel alternativa de abandonar nossas casas, adquiridas por
meio de tantas privações, ou nos submetermos à mais intolerável de todas as
tiranias: o despotismo conjunto da espada e do clero. [...] Dissolveu, pela força
das armas, o Congresso Estadual de Coahuila e do Texas, e obrigou nossos
representantes a fugir da sede do governo com o intuito de preservar a própria
vida, privando‑os, assim, do fundamental direito político de representação.
[...] Invadiu nosso país tanto por mar quanto por terra, com a intenção de
devastar nosso território e nos expulsar de nossas casas; e conta agora com
o avanço de um grande exército mercenário, para efetuar contra nós uma
guerra de extermínio (ARMITAGE, 2011, p. 173).

Na sequência, foi construída e reforçada a ideia de que o governo mexicano é injusto e mentiroso,
faltando com o que havia sido acordado, o que liberaria a população do Texas de seus vínculos federais
e justificaria ainda mais seus atos. Concluindo o texto:

[...] Nós, por conseguinte, os delegados do povo do Texas, com plenos poderes
e em solene assembleia reunidos, apelando a um mundo cândido a favor das
necessidades de nossa condição, por meio desta, decidimos e declaramos que
nosso vínculo político com a nação mexicana terminou para sempre, e que o
povo do Texas agora constitui uma república livre, soberana e independente,
e acha‑se inteiramente investido de todos os direitos e atributos que
verdadeiramente pertencem às nações independentes; e, conscientes da
retidão de nossas intenções, intrépida e seguramente submetemos a questão
à decisão do Supremo Árbitro do destino das nações. Declaração Unânime de
Independência elaborada pelos Delegados do Povo do Texas. 2 de março de
1836 (ARMITAGE, 2011, p. 173).

No final, o resgate da legitimidade está na menção de serem os delegados do povo e de que, nessa
condição, constituem uma república livre, soberana e independente.
126
HISTÓRIA DA AMÉRICA INDEPENDENTE

O governo estabelecia‑se, pela declaração, em uma república – a estrela solitária em sua bandeira – mas o
governo de López de Santa Anna não aceitou a ruptura e despachou para a região uma grande força militar,
que acabou derrotada pelos texanos. A relativa paz ocorreu por nove anos, sem que novas expedições fossem
enviadas para tentar a reconquista; contudo, em 1845, o Texas decidiu pedir sua entrada na União, ou seja,
participar dos Estados Unidos da América, o que culminou num novo ataque do México à região.

No entanto, desta feita não se tratava mais de um conflito interno dos mexicanos com uma região
rebelde: o governo norte‑americano despachou seus soldados para o combate, e a intensidade dos
conflitos foi tamanha que as tropas norte‑americanas chegaram a entrar na capital mexicana, uma parte
significativa do norte do país foi ocupada pelos invasores e o México perdeu o Novo México, parte da
Califórnia, de Sonora, de Couahuila (com isso o Texas) e Tamaulipas. A paz com indenização aos colonos
norte‑americanos foi firmada pelo Tratado de Guadalupe‑Hidalgo, e assim parece que se justifica, ao
menos em parte, a dramática frase: “Pobre México, tão longe de Deus e tão próximo dos Estados Unidos”.

Observação

Comumente a frase é atribuída ao presidente populista Lázaro Cárdenas,


mas, ao que tudo indica, trata‑se de uma fala de Porfirio Díaz.

Saiba mais

Como forma de perceber melhor a construção do imaginário


norte‑americano da ocupação dessas diversas regiões a que estamos nos
referindo, bem como das guerras advindas desse movimento, conflitos
esses entre norte americanos, indígenas e mexicanos, indicamos os filmes:

A LENDA do Zorro. Dir. Martin Campbell. EUA: Columbia Pictures


Corporation, 2005. 129 minutos.

A MÁSCARA do Zorro. Dir. Martin Campbell. EUA: Tristar Pictures, 1998.


136 minutos.

DANÇA com lobos. Dir. Kevin Costner. EUA; Reino Unido: Tig Productions,
1990. 181 minutos.

O ÁLAMO. Dir. John Lee Hancock. EUA: Touchstone Pictures, 2004. 137
minutos.

UM HOMEM chamado cavalo. Dir. Elliot Silverstein. EUA: Cinema Center


Films, 1970. 114 minutos.

127
Unidade III

O processo de crescimento territorial dos Estados Unidos foi tão traumático para o México em razão
dessas perdas territoriais que um presidente da república, Porfirio Díaz, teria afirmado: “Pobre México,
tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos”. Deixando um pouco de lado o apelo dramático da
referência aos enfrentamentos entre México e Estados Unidos, pode‑se perceber o quanto durou na
sociedade mexicana o impacto das perdas territoriais.

Observação

A ideia de populismo é bastante controvertida em razão do uso inadequado


que tem sido feito por grandes veículos de imprensa latino‑americanos:
mediante a adoção de medidas populares frequentemente se faz a
acusação, equivocada, de populismo, o que é um grande erro histórico, o
anacronismo.

Exemplo de aplicação

Recentemente, muitas histórias clássicas da literatura tanto brasileira quando universal vêm sendo
transformadas em HQs, com grande sucesso de público e excelente qualidade gráfica.

Faça a leitura de Zorro buscando observar de que maneira os mexicanos são retratados sob uma
ótica produzida pelos Estados Unidos. Para isso, você pode consultar as fontes que indicamos a seguir:

MILLER, F.; LEE, J. Zorro. São Paulo: Metal Pesado, 1994.

WAGNER, M. Zorro. Dynamite Entertainment, 2011.

A Corrida do Ouro rumo à Califórnia também foi um processo gerador de perdas territoriais enormes
para o México. A partir da descoberta de ouro na região de Coloma, na Califórnia, por John Marshall,
em 1848, teve início uma primeira corrida do ouro, entre 1848 e 1849, que provocaria um intenso
povoamento da costa do Pacífico.

Data de 1836 a derrota do Exército mexicano sob o comando do presidente López de Santa Anna
e a proclamação de independência do Texas, formando a República Independente do Texas que seria,
posteriormente agregada aos Estados Unidos em 1845. O não reconhecimento inicial, pelo governo
mexicano, da independência e a entrada do Texas para a nação norte‑americana provocaram uma
guerra entre Estados Unidos e México entre 1846 e 1848, encerrada com a derrota mexicana e o
reconhecimento da perda do Texas. Além de ser obrigado a ceder Novo México, Califórnia, Colorado,
Nevada, Utah e Arizona, o país ainda teve de pagar 15 milhões de dólares em indenizações.

Os Estados Unidos, dessa maneira, construíam uma continuidade territorial desde o Atlântico até o
Pacífico, e isso seria de importância fundamental na consolidação de seu modelo capitalista.

128
HISTÓRIA DA AMÉRICA INDEPENDENTE

Figura 39 – Territórios perdidos pelo México

Mesmo derrotado em sua volta à presidência da república, no esforço de conter o separatismo texano,
o presidente López de Santa Anna voltou ao poder em 1853. O exemplo dele para a história mexicana
pode ser interpretado como a atuação daqueles grandes caudilhos de origem espanhola que existiam na
América do Sul. A república sofria com o separatismo e com revoltas de populações excluídas de origem
indígena que eram duramente reprimidas pelo governo central. Diante do movimento de centralização
cada vez maior, outra rebelião liberal irrompeu, e Santa Anna deixou o poder em 1853.

A entrada do Texas na União (1845), a partilha do Oregon com a


Grã‑Bretanha (1846) e o tratado de Guadalupe‑Hidalgo com a Espanha
(1848) introduziram um novo oeste no domínio americano e o consagraram
desde então como o velho oeste. Este é o último oeste, aquele a que
milhares de filmes, romances populares, canções e tradições habituaram o
homem do século XX (FOHLEN, 1989, p. 11).

Essa constante oscilação dos poderes políticos fazem‑nos lembrar um pêndulo que num momento vai
num sentido mas, instantes depois, chega a seu limite e se volta para o sentido contrário. O país foi levado
para o conservadorismo centralista, porém isso não facilitou a situação interna e, ao contrário, além de
revoltas entre populações miseráveis, provocou o aumento do descontentamento de setores progressistas
mais identificados com o liberalismo. Assim, é possível perceber que energias eram dissipadas nesses
esforços e que em muitos momentos as alternativas desembocavam em conflitos armados, o que parecia
ser, no século XIX, sempre uma alternativa muito plausível na política de diversos países americanos.

7.2.2 México, Benito Juárez e as Leis da Reforma

Com a queda dos conservadores, os liberais retornaram agressivos e querendo mudanças substanciais
– que seriam formuladas em uma nova Constituição Federal. Nos manuais didáticos e livros de História,
é mais comum a referência ao conjunto de mudanças como Leis da Reforma. Elas foram formuladas

129
Unidade III

pelos liberais em seu Plano de Ayutla que desejavam abertamente combater aquilo que percebiam como
privilégios eclesiásticos e militares absurdos e infundados para serem mantidos em uma república que
se queria moderna e liberal. No entanto, vale lembrar que qualquer ataque aos privilégios estabelecidos,
quer fossem recentes ou de longa data, provocava reações que iam desde o descontentamento com o
governo até conflitos abertos e irrupções de guerras civis. O governo central, sob controle dos liberais,
afiançava as mudanças e defendia essa posição. O próprio presidente da república, o general Juan
Álvarez, permitia que seus ministros buscassem mudanças.

O nome mais famoso desse processo de tentativa de mudanças no México foi um bacharel de direito
que mais tarde seria Ministro da Justiça e dos Negócios Eclesiásticos. De origem humilde e indígena,
ele se chamava Benito Juárez, e sobre ele seriam contadas diversas lendas no México para explicar
seu anticlericalismo. O Congresso mexicano aprovou a secularização dos bens da Igreja Católica e o
confisco e a venda de suas terras – que eram, segundo apresentado por Tapajós (1974), quase metade
das terras do país. Naturalmente, diversos e conflitantes interesses estavam em jogo, e um movimento
tão agressivo para promover mudanças não aconteceria sem causar reações.

Saiba mais

Para ilustrar esse conturbado momento histórico mexicano de ascensão


de Benito Juárez, indicamos o filme:

JUÁREZ. Dir. William Dieterle. EUA: Warner Bros., 1939. 125 minutos.

Sobre as mudanças apresentadas com a Constituição de 1857 no México, Tapajós (1974, p. 276)
indica a leitura de Victor Tapié, com o livro Histoire de l’Amérique Latine au XIXe. Siécle:

De inspiração democrática, proclamava os direitos do homem, proibia


tribunais de exceção, reservava com exclusividade às cortes militares o
conhecimento das causas do exército, assegurava a liberdade de imprensa,
a soberania popular, a supressão da escravidão, o direito de petição contra o
governo, a inviolabilidade da correspondência. A república tomava a forma
federal: o presidente eleito por quatro anos e devendo ser substituído, no
caso de deixar o mandato, pelo presidente da Corte Suprema; Congresso de
duas câmaras: um Senado eleito por oito anos pelos Estados, uma Câmara
eleita por sufrágio universal por dois anos; Corte Suprema, cujos juízes eram
eleitos por seis anos em sufrágio indireto (TAPAJÓS, 1974, p. 276).

Os confrontos para o estabelecimento da lei aconteceram entre o próprio presidente Ignacio


Comonfort – ex‑ministro de Estado, do governo Álvarez – contra seu vice‑presidente Benito Juárez.
Os esforços de Juárez, que derrotou o oponente e tornou‑se presidente da república, esbarraram na
resistência conservadora clerical e militarista. Esses choques explodiram na Guerra da Reforma – que
tanto debilitou o país, apesar da vitória de Juárez no conflito.
130
HISTÓRIA DA AMÉRICA INDEPENDENTE

Figura 40 – Arco homenageando Benito Juárez, na Cidade do México

Desde o momento das independências na América Latina estamos enfatizando mais especificamente
a questão das conexões que existiam no mundo ocidental atlântico, pois o que ocorria na Europa
tinha reflexos ou mesmo profundas consequências em solo americano. Foi assim quando falamos
do desenvolvimento do iluminismo e dos ideais burgueses e das invasões europeias promovidas por
Napoleão, que, no caso da Península Ibérica, agiu como catalisador dos movimentos de emancipação.

O problema de intervenções externas na política e na economia mexicanas ao longo do século XIX,


no entanto, não se restringiu às ações dos Estados Unidos. Além dos norte‑americanos, outros povos
também interferiram na região.

O interesse norte‑americano e europeu na América Latina levou esta a


sofrer frequentes intervenções armadas a pretexto de cobrar dívidas não
resgatadas. É o caso da tentativa imperialista de Napoleão III que pretendeu
criar um Império no México (1862), para isso iniciando a conquista do país
e impondo o governo do Príncipe Maximiliano de Habsburgo; esta aventura
terminou com a expulsão dos invasores, o fuzilamento de Maximiliano e a
consolidação da autoridade presidencial de Benito Juárez (1858‑1872). A
Espanha não havia se conformado com a perda de suas antigas colônias e
exigiu o pagamento de indenização ao Peru; mas este, aliado ao Chile e à
Bolívia, resistiu às pretensões espanholas em uma guerra que se estendeu
de 1866 a 1868.

Contra as intromissões estrangeiras, a América não podia contar com muita


proteção exterior. Se a marinha britânica fora anteriormente uma garantia
da independência dos países latino‑americanos, já não podia ser considerada
como tal depois que a própria Inglaterra começou a efetuar bloqueios navais
131
Unidade III

e a anexar territórios. Do mesmo modo, quaisquer garantias que a Doutrina


Monroe tivesse inicialmente dado a impressão de oferecer à América Latina
foram anuladas pela atitude dos Estados Unidos, incorporando territórios
mexicanos e estendendo sua cobiça a outras áreas latino‑americanas
(DOZER apud AQUINO, 1995, p. 194).

Podemos considerar que a Doutrina Monroe dos Estados Unidos (1823) foi um ponto muito
importante nas relações exteriores da América Independente, mas à medida que esse mesmo país se
expandia territorialmente e, após a Guerra Civil, buscava se consolidar internamente, sua política em
relação aos vizinhos americanos começava a se transformar.

Já no final do século XIX, a maior parte das regiões americanas já era independente politicamente de
suas antigas metrópoles, no entanto no Caribe ainda existiam territórios controlados pela Espanha, como
Cuba e Porto Rico. Os Estados Unidos, visando proteger seus interesses econômicos na região caribenha,
tornou‑se intervencionista. Um dos grandes exemplos desse processo foi a imposição de um conjunto
de medidas que permitiam aos Estados Unidos intervir na ilha de Cuba, mesmo após sua independência
da Espanha em 1898, caso seus interesses econômicos fossem afetados. Essa medida, conhecida e
anotada nos manuais de História como Emenda Platt, vigorou até 1934, sendo um importante fator de
instabilidade e demonstração dos interesses norte‑americanos colocados acima da soberania dos países
que se tornavam independentes, e esse processo não parou por aí.

Os Estados Unidos, para se desenvolverem industrialmente, enfrentavam o problema do meio


geográfico. As grandes distâncias impunham meios de transporte e caminhos muito mais modernos
e dinâmicos que os tradicionais, e assim, o continente, em sua parte norte, foi cortado por estradas
de ferro de leste a oeste. Uma alternativa aos caminhos de ferro eram os barcos a vapor – na época
simplesmente vapores. Para que esse meio pudesse ser explorado de forma favorável, impunha-se a
necessidade de construção de um canal interoceânico comunicando o Atlântico ao Pacífico. A obra
que possibilitaria essa ligação havia sido iniciada em 1881 por uma empresa francesa. Assim, depois
de promover a separação do Panamá e da Colômbia, os Estados Unidos receberam a concessão da
exploração do Canal do Panamá.

132
HISTÓRIA DA AMÉRICA INDEPENDENTE

Pressões dos EUA


Áreas de influência dos EUA

Figura 41 – As intenções imperialistas dos EUA

Zona do Canal
Rodovia
Ferrovia

Figura 42 – Canal do Panamá: região

133
Unidade III

Figura 43 – Canal do Panamá: eclusas e sistema do canal

Observação

O Canal do Panamá é um sistema de barragens e comportas que permite


aos navios ganhar as alturas do istmo. A rigor, não é um canal, pois as
águas do Pacífico e do Atlântico não se comunicam.

7.2.3 O México e o porfiriato: modernização econômica e crise social

As Guerras da Reforma desgastaram sobremaneira o país, e isso acabou facilitando a ascensão


ao poder de um militar que havia ganhado destaque nas lutas contra a presença francesa. A
chegada ao poder aconteceu por meio de um golpe militar que derrubou o presidente Sebastián
Lerdo de Tejada, em 1876. Foi então que Porfirio Díaz assumiu e estabeleceu uma ditadura – o
porfiriato – que durou até 1911.

O último quartel do século XIX, que coincidiu com o início do porfiriato, conforme, indicamos, foi
um momento de grande modernização econômica com substanciais transformações no capitalismo,
que entrava em sua segunda fase industrial. O México também passou por mudanças. Vale lembrar
que a presença dos Estados Unidos era um fator que deixava bastante presente o fantasma de novas
invasões e perda de terras. Assim, o governo de Díaz passou a empreender um programa que, ao menos
economicamente, seria modernizador do país.

Figura 44 – Porfirio Díaz, durante o seu longo governo, foi o grande responsável pela modernização do México.
Sob a prosperidade, contudo, escondiam‑se a miséria e a opressão que vitimavam o campesinato

134
HISTÓRIA DA AMÉRICA INDEPENDENTE

As exportações para os Estados Unidos eram crescentes, e o governo alterou as leis de exploração
do subsolo nacional para franquear aos Estados Unidos a possibilidade de exploração mineral. De
acordo com as observações de Prado e Pellegrino (2014, p. 102), os transportes passaram por uma
intensa modernização, pois de 640 km de ferrovias em 1876, passou‑se para 19.280 km em 1910.
Nesse momento, o desenvolvimento econômico dos Estados Unidos o levava a ser protecionista em
alguns casos, e, por consequência, ficava muito cara a entrada de certos produtos mexicanos no país,
incentivando, assim, a produção interna.

Em 1900, a população mexicana atingia 13.508.000 habitantes, com uma


parcela mínima de estrangeiros, aproximadamente 60 mil. De maneira geral,
a economia mexicana teve um notável crescimento durante o porfiriato,
especialmente os setores voltados para o comércio externo. O incremento
do comércio externo indicava claramente essa tendência: entre 1892/1893 e
1910/1911, as exportações se elevaram em mais de três vezes. Mas a pobreza
da maior parte da população era grande e a insatisfação social mostrava‑se
palpável. Os operários foram protagonistas de muitas greves, na primeira
metade do século [...] foram duramente reprimidas pelo governo de Porfirio
Díaz (PRADO; PELLEGRINO, 2014, p. 103).

Dessa forma, o crescimento e o progresso material do país tinham consequências sociais


muito intensas e potencialmente explosivas. Esse foi o caso dos camponeses, que foram cada vez
mais marginalizados nesse processo de crescimento econômico. Desde 1856, a forma tradicional
indígena de propriedade coletiva da terra estava proibida, o que, naquele momento, era visto
por muitos políticos liberais como um inequívoco avanço rumo à modernização do país. Os
camponeses foram assim atacados nos seus fundamentos de sobrevivência; suas comunidades
seculares e tradicionais foram desestruturadas, e muitos homens e mulheres foram obrigados a
aceitar a condição de trabalhadores assalariados em fazendas que pouco antes pertenciam às
suas comunidades tradicionais.

Esse quadro geral complicado foi agravado pelo porfiriato com sua Lei dos Baldios – lei de colonização
de terras consideradas devolutas do Estado e que na prática facilitou a concentração ainda maior
de terras nas mãos de poucos proprietários. De que maneira isso acontecia? Empresas agrimensoras
demarcavam extensas áreas e podiam se apropriar de terras consideradas baldias ou devolutas.

Entre 1890 e 1906, foram delimitados 16.800.000 hectares, cabendo a maior


parte a essas companhias. Assim, um dos sócios da companhia adquiriu 7
milhões de hectares em Chihuahua; um segundo, 2 milhões de hectares
em Oaxaca; outros dois, 2 milhões de hectares em Durango; e, finalmente,
quatro sócios, 11,5 milhões de hectares na Baixa Califórnia. Desse modo, oito
pessoas transformaram‑se em proprietárias de 22,5 milhões de hectares. Em
1906, essas companhias foram dissolvidas, porém já haviam sido demarcados
49 milhões de hectares, uma quarta parte do território mexicano (PRADO;
PELLEGRINO, 2014, p. 105).

135
Unidade III

Para enfatizar o progresso material do período, alguns autores destacam que a economia cresceu
cerca 8% ao ano, taxa média, e que foi permitida a entrada de investimentos e empresas dos Estados
Unidos, Grã‑Bretanha, França e Alemanha. Williamson (2009, p. 279) chega mesmo a afirmar que foi
estabelecida uma pax porfiriana, agradando sobremaneira empresas estrangeiras que passaram a se
instalar no país. Contudo, apesar desse crescimento econômico e material muito significativo, a política
não se modernizava tanto assim, pois:

A repressão de greves e revoltas camponesas, bem como o controle da imprensa,


encarregavam‑se da oposição política. As instituições democráticas da
república não tardaram a ser manipuladas por práticas típicas do caudilhismo:
eleições fraudulentas baniram os opositores do congresso e em 1888 esse
organismo concordou em emendar a constituição de modo a permitir que
Don Porfirio (que por duas vezes tentara chegar ao poder reivindicando o
princípio da não reeleição) cedesse aos desejos do povo e aceitasse a eleição
para a presidência a cada seis anos (WILLIAMSON, 2009, p. 280).

Dessa maneira, a modernização econômica e a exclusão crescentes eram muito presentes na ditadura
de Porfirio Díaz. O porfiriato foi marcado pelo exercício da autoridade pessoal de um único homem
que, apesar de promover um determinado modelo de crescimento econômico, não deixava de ser uma
ditadura. O legado desse período histórico foi tão penoso para a sociedade mexicana em geral que, no
início do século XX, eclodiu ali uma de suas mais significativas revoluções: a Revolução Mexicana, que
era, justamente, contrária ao mundo estabelecido pelo porfiriato.

No México, a revolução iniciada em 1910 tem sido considerada principalmente uma


revolução agrária devido à forte e decisiva participação de trabalhadores rurais de várias
categorias, muitos dos quais índios e mestiços. Os desenvolvimentos dessa revolução
contaram com as forças camponesas lideradas por Emiliano Zapata, ao sul, e Francisco Villa,
ao norte. Para os zapatistas, a revolução era inseparável da luta pela terra, principalmente
a reconquista da terra perdida ao longo do século XIX, pela atuação das companhias de
demarcação e colonização.

O Plano de Ayala, de 25 de novembro de 1911, estabeleceu a expropriação de fazendeiros,


científicos (porfiristas) e caciques, ou seja, beneficiários da atuação das companhias de
demarcação e colonização; estabeleceu que as terras e águas que tivessem sido usurpadas
dos camponeses, à sombra da justiça venal, seriam restituídas aos seus proprietários originais;
que os camponeses manteriam essa posse com as armas nas mãos, prevenidos contra
a reação dos opressores fazendeiros, científicos ou caciques. O lema “Terra e Liberdade”,
surgido em 1916, era zapatista.

Foi muito forte a presença do campesinato na revolução mexicana. Em 1914, Zapata


e Villa tomaram a cidade do México e ocuparam o Palácio do Governo. Entretanto, não
estavam organizados para assegurar o poder. Nem o zapatismo – que poderia ser mais
organizado, [mais bem-definido] com relação aos seus objetivos – nem esse movimento
estava em condições de firmar‑se no poder. Se é verdade que Zapata e Villa chefiavam
136
HISTÓRIA DA AMÉRICA INDEPENDENTE

poderosas forças armadas camponesas, também é verdade que não dispunham de uma
proposta política para oferecer à nação, à sociedade nacional, às diversas classes e correntes
da revolução. Retiraram‑se. Pouco a pouco, foram sendo batidos. Em 1919, Zapata foi
assassinado, depois de ter sido traído em uma emboscada preparada a mando do governo
de Venustiano Carranza (1914-1920).

Fonte: Santos (1985, p. 19).

Exemplo de aplicação

Sugerimos uma pesquisa para comparar a questão da terra no século XIX e no início do século XXI
e de que maneira a questão da exclusão popular do acesso à terra aparece na grande mídia. Além desse
aspecto, podem ser discutidos a globalização e seus efeitos por meio do estudo do movimento zapatista.
Você consegue encontrar notícias, histórias, manifestos e vídeos a respeito dos zapatistas?

8 IMPERIALISMOS NAS AMÉRICAS

Vale lembrar que, quando falamos de imperialismo na América Latina, o mais adequado seria falar
“imperialismos”, pois não foram apenas os Estados Unidos que procederam dessa maneira. Verdade seja
dita: eles promoveram diversas intervenções e golpes ao longo dos século XIX e XX, mas não foram
solitários nessas práticas.

Entre 1830 e 1890, em muitas ocasiões, as potências europeias


intervieram diretamente no hemisfério com graus diversos de força
militar. Algumas dessas intervenções tiveram o objetivo de preservar sua
influência mediante uma ajuda amigável aos países latino‑americanos
em suas rivalidades com vizinhos hostis e de proteger seus próprios
conterrâneos quando não eram bem-tratados pelos governos nos países
em que viviam. Esses elementos se combinaram nas várias intervenções
britânicas e francesas no Prata entre 1836 e 1850, duas das quais –
o bloqueio francês de Buenos Aires em 1836 e o bloqueio conjunto
britânico‑francês em 1845 – duraram mais de dois anos e meio. A
principal causa dessas intervenções foi o ditador argentino Juan Manuel
de Rosas, que se mostrou hostil tanto aos interesses estrangeiros quanto
aos Estados vizinhos do Uruguai e do Brasil (BETHELL, 2009, p. 609).

Note‑se que na citação ocorre certa inversão lógica, posto que os ditos responsáveis pelas intervenções
são aqueles que as sofrem. A Argentina, em razão de seu ditador, no século XIX, não respeitava franceses
e ingleses, mas não podemos deixar de lembrar que os europeus – ao menos em termos econômicos, mas,
em certos casos, políticos e sociais também – agiam como se algumas áreas do globo lhes pertencessem
(e não estamos nos referindo às colônias), o que, necessariamente, provocava sérios atritos.

137
Unidade III

Para nos aproximarmos novamente da história do Brasil, uma vez que a citação toca no assunto
das relações internacionais do império, o Brasil considerava a região platina parte de sua esfera de
influências e por isso promovia intervenções tanto na Argentina quando no Uruguai. Os motivos
alegados quase sempre eram a defesa de interesses econômicos e a busca de pacificação da instável
região constantemente sacudida por lutas entre caudilhos que às vezes ultrapassavam a fronteira e
atingiam estâncias no atual Rio Grande do Sul. Sem falar, é claro, do maior conflito em que o Império
do Brasil se envolveu, que foi a Guerra do Paraguai.

8.1 A consolidação do Brasil como Estado Nacional e o choque de


imperialismos na América do Sul

Assim como os demais países americanos, o Brasil passou por momentos complicados na construção
de seu Estado Nacional, estando, por vezes, sob risco de fragmentação e destruição da unidade
arduamente conquistada. Enquanto os vizinhos se digladiavam internamente, o Brasil também passava
por uma série de revoltas de extrema gravidade. Vale lembrar que, no Primeiro Reinado, a Confederação
do Equador, em 1824, chegou a separar-se e a constituir‑se como uma república, representando ameaça
bem concreta à unidade do império.

Durante o Período Regencial, de 1831 até 1840, foram diversas as revoltas e ameaças. A Farroupilha,
por exemplo, chegou a formar uma república por dez anos. No Segundo Reinado, ao menos em seu início,
as revoltas ainda não haviam sido “pacificadas”. Portanto, atribuir a instabilidade às repúblicas platinas e a
estabilidade ao império brasileiro é um considerável equívoco, que suspeitamos não ser fruto de ingenuidade,
e sim parte da propaganda da monarquia sobre si mesma, para se colocar como mais segura, mais estável
e, portanto, como garantia contra as revoluções que se desenvolviam nos vizinhos republicanos.

Se na América Espanhola as disputas mais intensas se davam entre liberais e conservadores, entre
projetos de descentralização e de centralização política, no Brasil a realidade não estava tão distante
disso. Coroar o herdeiro do trono em 1840, antecipando sua maioridade – naquilo que foi chamado de
Golpe da Maioridade – dá a medida dos riscos que o império corria. Também no Brasil havia certa tensão
entre centralização e descentralização, ou seja, entre conservadores e liberais.

8.1.1 Brasil – Estruturação política

No Brasil, os anos de 1840 e 1850 são considerados como os da consolidação do Estado nacional, politicamente
falando. E por que isso? Porque em 1847 o sistema político foi organizado com o que se convencionou chamar
de Parlamentarismo às Avessas, no qual, ao contrário do modelo clássico inglês, quem determinava as escolhas
para comandar o gabinete ministerial era o próprio imperador, no uso do Poder Moderador.

A questão do Poder Moderador foi trabalhada na historiografia, que tem no trabalho de Ilmar Mattos
uma importante referência:

Poder Moderador escolhia o Presidente do Conselho de Ministros e era ele quem


se encarregava de formar o ministério e o gabinete escolhido e comandava as
eleições para a Câmara dos Deputados, caso fosse necessário. Resumindo, o
138
HISTÓRIA DA AMÉRICA INDEPENDENTE

imperador poderia dissolver a Câmara dos Deputados, interferindo no quadro


político[,] e o ministério por ele definido comandava a política e[,] assim, se
o presidente fosse liberal, pediam os conservadores a força política naquele
momento. O que ocorria na prática era certa alternância entre os grupos,
contemplando assim os dois lados[,] sendo o gabinete ora liberal, ora conservador.

Considerando que as figuras políticas mais relevantes do império tinham


quase que a mesma origem social, pouco ou quase nada divergiam em
termos de dia a dia na política pois tanto os ideais mais centralizadores, ou
menos, estavam submetidos ao poder imperial, pactuando com o mesmo
para poder se transformar em ministério. A organização do edifício político
era feita de cima para baixo, lembrando que colaboraram com a centralização
ainda o fato de o Senado ser vitalício e que era o imperador quem definia
o nome em uma lista tríplice e que o Conselho de Estado era um órgão
consultivo estruturado justamente para fortalecer o centro político. A frase
que melhor sintetiza as práticas políticas e seus arranjos pode ser, conforme
aponta Mattos (1991) em seu livro clássico O Tempo Saquarema, “Era
comum ouvir‑se dizer, em meados do século passado [trata‑se do século
XIX], não haver nada tão parecido com um saquarema como um luzia no
poder” (MATTOS, 1991, p. 115).

Explicando os termos, saquaremas são os conservadores políticos. O que na América espanhola seriam
os unitaristas e os luzias, no Brasil seriam os liberais, ou seja, os federalistas, o que esquematicamente
seria representado assim:

Exaltados Moderados Restauradores

Progressistas Regressistas

Partido Partido
Liberal Conservador

Figura 45 – Divisão dos grupos políticos no Segundo Reinado

O fundamental é perceber que no Brasil também foi complicada a fase de consolidação e que, ao
final do processo, a tendência centralista/conservadora, prevaleceu, sendo estruturada em um momento
chamado Era da Conciliação ou Gabinete da Conciliação, por ter representantes dos liberais e dos
conservadores. Nas palavras do próprio ministro Carneiro Leão, articulista dessa política:

139
Unidade III

[...] à conciliação. É verdade que esta palavra resumia toda a situação, e não
era senão o eco mais ou menos remoto do pensamento de todos os homens
da política; era o fato palpitante, a fase saliente da época (José de Alencar)
(FERRAZ, 2010).

Se em termos de política interna o Império se organizava de forma bastante sofisticada, em sua


política externa a situação era mais complexa, pois as pressões contra o tráfico negreiro por parte
dos ingleses só aumentavam. Além disso, o protecionismo econômico tentado pelo império com a
Tarifa Alves Branco provocava atritos com os súditos de sua majestade. Não era privilégio dos vizinhos
platinos sofrer constantes pressões dos ingleses na defesa de seus interesses. O Brasil não sofreu os
longos períodos de bloqueios navais que os vizinhos sofreram e não foi invadido como o México, por
exemplo, mas precisava negociar constantemente com os interesses ingleses, cada vez mais presentes
no hemisfério ocidental.

8.1.2 Brasil – Guerra do Paraguai

No início da década de 1860, a situação platina se agravava. A década anterior já havia sido
extremamente tensa, com interferências do Brasil na região, inclusive para auxiliar caudilhos platinos
em suas guerras regionais, pois o governo do Rio de Janeiro tomava partido, no Uruguai, dos Colorados,
chefiados por Rivera, contra os Blancos (grupo dos grande pecuaristas) de Oribe.

Na Argentina, as constantes disputas entre os caudilhos provocavam no Brasil


um sentimento de que era dever do país pacificar a região. Quando assumiu
a chefia dos colorados, Juan Manuel de Rosas, caudilho de Buenos Aires, fez
alianças com outros caudilhos, como Estanislao López, Juan Bautista Bustos
e Juan Facundo Quiroga. Em meio às constantes crises e divisões, Rosas
chega ao poder em Buenos Aires, se converte em um ditador com poderes
especiais e passa a sofrer oposição de um grupo conhecido como “A Jovem
Argentina”, com simpatizantes espalhados em Montevidéu, Brasil, Peru e
Chile, sendo eles Estéban Echeverria, Domingo Sarmiento, Bartolomé Mitre
e Vicente Fidel López (TAPAJÓS, 1974, p. 346).

Para marcar a violência que caracterizou esse governo, num evidente esforço de demonização dos
caudilhos e de federalismo:

A história da faixa colorada é muito curiosa. A princípio foi uma divisa


dos entusiastas; depois foi mandada usar por todos para provar‑se
a uniformidade de opinião. Todos desejavam obedecer, mas se
esqueciam quando mudavam de roupa. A polícia vinha em auxílio dos
desmemoriados. Distribuíam‑se mazorqueiros pelas ruas, e, sobretudo,
pelas portas dos templos, e após a saída das senhoras eram distribuídas
chicotadas sem misericórdia. Faltava muito ainda que organizar. Trazia
alguém a faixa malposta?... Vergastadas! Era unitário? Não a usava? – À
degola, por contumaz!
140
HISTÓRIA DA AMÉRICA INDEPENDENTE

Não paravam aí nem a solicitude do governo, nem a educação pública.


Não bastava ser “federal”, nem usar a faixa; era preciso ostentar,
também, o retrato do Ilustre Restaurador sobre o coração, em sinal de
amor intenso, e o letreiro: “Morram os selvagens imundos unitários”
(TAPAJÓS, 1974, p. 347).

As instabilidades platinas, como foi ressaltado, envolviam, muitas vezes, o Brasil. O império
frequentemente enviava tropas para fazer valer seus interesses na região.

Para Rodrigues, por outro lado, “a política de intervenção armada ou


diplomática foi um instrumento da política do equilíbrio” cujo objetivo era
“preservar nossas fronteiras, a vida e a propriedade – especialmente o gado –
de nossos patrícios”. Luiz Alberto Moniz Bandeira viu o intervencionismo como
instrumento das ambições de grande potência do Império. “No curso da década
de 1850, o [Império do Brasil] impôs aos países daquela região um sistema
de alianças e de acordos, que visavam não ao equilíbrio das forças, mas à
consolidação de sua hegemonia, em substituição à de França e Grã‑Bretanha.”
José Luiz Werneck da Silva acrescenta que, com o intervencionismo, “o Império
Brasileiro revelava a sua face ‘expansionista’, de ‘vilões da história, a qual nem
sempre gostamos de assumir’ (BARRIO, 2011, p. 15).

Um olhar tão crítico e bem-estruturado como o de Barrio contribui para a compreensão dos interesses
em disputa na região platina, para além de ser um olhar apenas brasileiro da questão.

[...] acrescenta que a chamada política externa de 1850 não se baseava


apenas em realismo e pragmatismo. Havia, também, uma perspectiva épica e
idealista no discurso então vigente, que contrapunha a Civilização brasileira
à Barbárie platina e ressaltava a “dimensão civilizadora” da política imperial.
Um bom exemplo disso são as cartas ao amigo ausente, de José Maria da
Silva Paranhos, futuro Visconde do Rio Branco, então jovem articulista do
Jornal do Comércio: a nossa questão com Oribe, tenente do ditador de
Buenos Aires, é uma questão de segurança para o presente e para todo o
sempre; e uma questão de progresso e civilização para nossos vizinhos, para
a humanidade em geral. Que brasileiro, sem estar possuído de um fanatismo
que me custa a compreender seja possível, se atreverá a contrariar o Governo
de seu país em empenho tão sagrado? (BARRIO, 2011, p. 22).

Em sua tese, defende esse autor que assim o império passa à intervenção e derrota a Confederação
Rosista. O Paraguai estava isolado, e o Uruguai era um quase protetorado do Brasil quando impôs
Venancio Flores, um colorado, na Presidência do Uruguai. A política “civilizatória” vai se transformando
em imposição mesmo para a defesa de interesses de cidadãos brasileiros no Uruguai – o que nos
faz lembrar todo discurso imperialista dos Estados Unidos ou da Europa no século XIX, justificando
intervenções e ataques a Estados soberanos no Caribe e na América Central.

141
Unidade III

Ainda na região platina, outros países tinham grande importância para o equilíbrio das relações.
O Paraguai, diferentemente dos vizinhos, procurou por muito tempo não participar das disputas mais
diretas, foi longamente controlado por uma ditadura perpétua dominada por Francia entre 1814 e 1840.
O governo dominava a política interna com grande força, e a economia da erva‑mate também. Com a
morte do ditador em 1840, o país enfrentou algumas instabilidades, mas Carlos López chegou ao poder
e, apesar de manter a forma de controle do Estado, buscou novas relações econômicas externas.

Os rios da bacia platina banhavam todos os países da região, eram a


principal via de comunicação e transporte para o interior do continente, a
grande artéria comercial que alimentava as economias locais e escoava sua
produção, o mais conspícuo limite natural entre os Estados. Para o Brasil, o
estuário do Prata era o “cordão umbilical”, que unia o Mato Grosso ao Rio de
Janeiro e assegurava sua integração ao império; para Buenos Aires, era a via
de acesso e controle sobre o litoral argentino; para as províncias de Entre‑Rios
e Corrientes e o Paraguai, era a linha vital de comunicação com o oceano e
o mundo exterior; para o Uruguai, era a razão de sua própria existência. Por
esses motivos, os atores do sistema platino desejavam assegurar seu livre
acesso à extensão integral do estuário, mas também pretendiam, ao mesmo
tempo, controlar exclusivamente o trânsito pelas porções de água que lhes
eram ribeirinhas (BARRIO, 2011, p. 69).

O rio da Prata, conforme apresentado, tinha importância vital para as quatro nações que
comercializavam e deslocavam suas populações por ele, por isso mesmo era foco de constantes tensões.
As disputas internas da Argentina e do Uruguai diversas vezes transbordavam, e o Brasil sempre
acompanhava muito de perto os acontecimentos nos países vizinhos. Na década de 1840, com receio
do domínio portenho sobre o Uruguai, o Brasil articulou a Guerra contra Rosas e Oribe, e, em 1851, uma
força brasileira composta por Caxias e Grenfell entrou no Uruguai para apoiar Urquiza contra Oribe.

Os conflitos eram de tal ordem que o governo paraguaio chegou a fazer acordos com a província
argentina de Corrientes no momento em que se rebelava contra o poder de Rosas.

142
HISTÓRIA DA AMÉRICA INDEPENDENTE

Figura 46 – América do Sul às vésperas da Guerra do Paraguai

Entre 1864 e 1865, a crise aumentou, e as exigências do Brasil em relação ao Uruguai provocaram
o cerco de Montevidéu. Com a deposição do presidente Aguirre, o colorado Venâncio Flores, aliado do
Brasil, chegou ao poder.

Próximo dali o Paraguai buscava se modernizar importando técnicos estrangeiros e fortalecendo seu
poder da Marinha e do Exército e comprando material bélico da empresa inglesa Blyth & Co. Solano
López, quando mais jovem, havia ido para a Europa. Esse processo não tinha paralelo entre os vizinhos.
As culturas de tabaco e erva‑mate prosperavam, e ainda havia uma nascente indústria de tecidos,
papéis, pólvora, louças, materiais de construção, telégrafos, estradas de ferro. Além disso, os camponeses
recebiam terras para cultivar – o que se constituiu como uma notável exceção da América Latina, e o
país tinha superávit nas exportações de quase o dobro do que importava.

143
Unidade III

Figura 47 – Paraguai, país mediterrâneo

O Paraguai é um país mediterrâneo, sua sobrevivência comercial dependia do Prata e o problema é


que, sendo uma potência emergente na região, tinha de enfrentar os interesses dos vizinhos, no caso,
Brasil, Argentina e Uruguai. Este último, aliás, estava mais dividido internamente que a Argentina, que
também apresentava dissensões.

O Paraguai do ditador Solano López possuía uma armada forte, um exército moderno e bem-treinado
e quando se decidiu pelo apoio a Aguirre contra os interesses do Brasil, precisou ser agressivo. O ataque
ao Mato Grosso e às províncias argentinas de Entre‑Rios e Corrientes foi avassalador. De acordo com
Alencar (1996):

Tudo obedecia[a] um plano cuidadoso: na invasão do Mato Grosso


objetivava‑se garantir as comunicações até Corumbá, abastecer‑se de gado
e manter as ligações com a Bolívia[,] que, nessa época, tinha saída para o
mar. As províncias argentinas foram ocupadas para permitir a passagem das
tropas paraguaias rumo ao Uruguai, onde se uniriam aos blancos, e ao Rio
Grande do Sul, onde contariam com o apoio dos republicanos, segundo a
equivocada avaliação de Solano López (ALENCAR, 1996, p. 191).

O ataque paraguaio em 1864 começou quando o Paraguai prendeu um navio brasileiro, o Marquês
de Olinda, em 10 de novembro, que navegava pelo rio Paraguai em direção ao Mato Grosso. Pouco
depois o Mato Grosso era invadido pelo Paraguai, e em seguida o foram Corrientes e Rio Grande do Sul.

144
HISTÓRIA DA AMÉRICA INDEPENDENTE

Figura 48 – Movimento de tropas na Guerra do Paraguai

A guerra começou com o envio paraguaio de 3.200 homens por via fluvial e 3.500 soldados. O
impacto desse ato foi enorme no Rio de Janeiro. O Mato Grosso contava com somente 875 soldados
para sua defesa, quatro embarcações – apenas uma armada com dois canhões – e o avanço paraguaio
não pôde ser detido, chegando a Corumbá. A ação contra a Argentina ocorreu principalmente em razão
de o presidente Mitre ter recusado a permissão de passagem das tropas paraguaias por seu território.
Assim, Corrientes foi invadida por uma força de 20 mil homens, o que, segundo Doratioto (1996, p. 20),
foi um gritante erro paraguaio, pois o levava a acumular inimigos.

Dessa maneira, os governos do Brasil, da Argentina e do Uruguai deixaram de lado suas diferenças e
discordâncias e passaram a se articular para combater o inimigo comum, assinando o Tratado da Tríplice
Aliança, firmado em 1º de maio de 1865, em Buenos Aires. Ficou estabelecido que seus membros deveriam:

• Tirar ao Paraguai a soberania sobre seus rios;

• Repartir entre o Brasil e a Argentina uma grande extensão do território


em litígio;

• Responsabilizar o Paraguai por toda a dívida de guerra;

• Não negociar qualquer trégua, conjunta ou em separado, até a


deposição de Solano López (ALENCAR, 1996. p. 192).

Comparado o que seria mobilizado, a diferença não era irrelevante, uma vez que a Tríplice Aliança
tinha em torno de 11 milhões de habitantes, e o Paraguai, perto de 318 mil. No comércio exterior
os Aliados tinham 36 milhões de libras (sendo 23 milhões do Brasil), e o Paraguai, meio milhão
(DORATIOTO, 1996).
145
Unidade III

O comando geral das forças do Brasil, no decorrer dos combates, coube a Caxias, então marquês – que
em alguns momentos chegou a ser o comandante-geral das forças aliadas contra o Paraguai. Caxias, exausto
da intensa campanha desde 1867, tendo inclusive sido alvejado por balas dos inimigos, e seu cavalo, abatido
numa investida de grande risco, situações que Solano López evitava a todo custo, escreveu que

“[...] o que de coração desejo é ver concluída esta maldita guerra, que já tanto tem arruinado nosso
país” (CAXIAS apud DORATIOTO, 1996).

Em 1º de janeiro de 1869, Assunção, a capital, foi ocupada pelo coronel Hermes da Fonseca, com
1.700 homens. Foi então saqueada, apesar das ordens contrárias a essa prática determinadas por Caxias,
inclusive com ameaça de fuzilamento dos infratores.

Em 14 de janeiro, Caxias declarou encerrada a guerra e se retirou para o Rio de Janeiro. O ditador
paraguaio escapou de Assunção fugindo e foi caçado pelos Aliados. O comando brasileiro coube ao
genro de Pedro II, o Conde d’Eu, e o ditador paraguaio morreu após longa perseguição em 1º de março
em Cerro Corá. Solano López foi executado pelo cabo Chico Diabo (Francisco Lacerda), depois de proferir
uma sentença famosa: “Não lhe entrego a minha espada; morro com a minha espada e pela minha
pátria!” (DORATIOTO, 1996).

Saiba mais

Para saber mais, recomendamos a leitura:

SALLES, A. M. A guerra do Paraguai na literatura didática: um estudo


comparativo. 2011. 191 f. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade
Federal da Paraíba, João Pessoa, 2011. Disponível em: <http://www.cchla.
ufpb.br/ppgh/2011_mest_andre_salles.pdf>. Acesso em: 2 mar. 2015.

A paz com o Paraguai foi assinada em 1872, e depois de tantos esforços de ambos os lados, a nação
paraguaia estava destruída.

Todos esses ataques, trocas de comandos e excessos cometidos revelam que muitas vezes pensamos
nas relações entre América e Europa como simples intervenções, mas é mais complexo do que isso, pois
o Brasil, para ter sua independência reconhecida pelos europeus, renovou tratados comerciais e outros
que regulavam o tratamento devido aos súditos da majestade britânica no Brasil: os Tratados de 1810,
que, renovados para o reconhecimento da independência, passariam a ser os Tratados de 1827.

Lembrete

Os Tratados de 1810, de Aliança, Amizade, Comércio e Navegação, foram


assinados entre ingleses e portugueses quando a Corte Joanina estava no

146
HISTÓRIA DA AMÉRICA INDEPENDENTE

Brasil. O cerne dos tratados seria a garantia de vantagens alfandegárias aos


ingleses – como tarifas preferenciais. Também lhes seriam dadas condições
privilegiadas de vida no Brasil, pois poderiam professar sua religião anglicana
de forma privada e, em caso de acusação de crimes, seriam julgados por leis
inglesas e com juízes ingleses.

Apesar dessa tão significativa pressão britânica, no caso do Brasil, reações foram esboçadas nos
momentos em que o governo buscava se firmar no cenário internacional por meio da construção
de uma política na qual o império firmava seus interesses, em alguns casos, discordando dos
britânicos. Na década de 1860, pouco antes de a Guerra do Paraguai ser deflagrada, o Brasil
estava distanciado diplomaticamente da Inglaterra em razão dos atritos gerados pela atuação
do representante de sua majestade no Rio de Janeiro. O caso é que um navio de propriedade
britânica chamado Príncipe de Gales encalhou na costa do sul do Brasil e a carga foi levada
pela população. Mediante a situação, o representante inglês, William Christie, passou a exigir
indenização do governo brasileiro, que, ao menos inicialmente, recusou. Para agravar a crise,
ingleses foram detidos no Rio de Janeiro por promover arruaças à noite, e Christie exigiu sua
soltura e pedido de desculpas do governo brasileiro.

O governo de Dom Pedro II, que buscava mais respeito internacional, recusou-se, e isso provocou um
rompimento diplomático efêmero entre Brasil e Inglaterra. Para assegurar o pagamento da indenização,
os ingleses posicionaram uma esquadra no porto do Rio de Janeiro, conseguindo, assim, que o governo
brasileiro pagasse a indenização pelos prejuízos materiais.

8.2 Imperialismos sobre a América Latina: Inglaterra, França e Estados Unidos

Diversos outros atritos entre americanos e europeus se desenvolveram no século XIX, tendo como
deflagradores questões políticas e econômicas, invasões ou bloqueios no Prata, no Caribe, na América
Central e no México. As principais potências europeias e os Estados Unidos desenvolveram políticas
agressivas para fazer valer seus interesses políticos e econômicos. No caso dos Estados Unidos, sua
própria expansão territorial desenvolvida por meio de conquistas de territórios e guerras já revelava o
caráter fundamentalmente militar e econômico de suas relações internacionais, ao menos nos assuntos
de meados do século XIX. A ocupação do Atlântico ao Pacífico com a Doutrina do Destino Manifesto
ganharia, quase cinco décadas depois, contornos ainda mais claros no sentido de expansão de seu
poderio militar para fazer valer seus interesses no hemisfério ocidental.

No século XIX era perfeitamente razoável a defesa das intervenções que, no limite, desrespeitavam
sistematicamente as soberanias nacionais, pois se tratava de ataques a Estados independentes e, ao
menos em tese, soberanos. Isso ocorreu em muitas ocasiões.

As reclamações financeiras dos cidadãos estrangeiros provocaram várias


intervenções. Em abril de 1838, os franceses bloquearam o porto de
Veracruz por ter o México se recusado a pagar uma conta de 600 mil pesos
decorrentes de reclamações diversas. Esse episódio recebeu o nome de
“Guerra de los Pasteles”, porque entre os débitos reclamados havia um de
147
Unidade III

800 pesos relativos a tortas devoradas por um oficial do Exército mexicano


numa invasão a uma loja de propriedade de um cidadão francês. A marinha
francesa bombardeou a fortaleza de San Juan de Ulua e desembarcou seus
soldados, mas nem por isso as reclamações foram satisfeitas; foram apenas
renegociadas (BETHELL, 2009, p. 610).

Observação

O eminente escritor Gabriel García Márquez, por ocasião do recebimento


do Prêmio Nobel de Literatura, em 1982, em Estocolmo, em seu discurso de
agradecimento, menciona o evento – a “Guerra de los Pasteles“ – a fim de
pontuar como são as relações na América Latina no século XIX.

Contudo, apensar do tom quase anedótico da Guerra de los Pasteles, o que estava por trás era a ação
de potências estrangeiras em países já independentes da América.

Num episódio mais sério, em 1861, a França, a Inglaterra e a Espanha


intervieram para forçar a cobrança de cerca de 80 milhões de pesos de dívidas
e reclamações. Mas Napoleão III, da França, alimentava maiores ambições do
que a simples cobrança de dívidas, e a Inglaterra e a Espanha retiraram‑se da
operação quando ele desembarcou seus soldados e empossou Maximiliano
da Áustria como imperador. O regime fantoche perdurou enquanto os 34 mil
soldados regulares franceses e a Legião Estrangeira permaneceram no país
[...] as tropas francesas deixaram o México em 1867 e, subsequentemente,
Maximiliano foi fuzilado[,] e a Imperatriz Carlota, mandada para um
manicômio (BETHELL, 2009, p. 610).

Assim, fica evidente a conexão entre movimentos europeus e americanos numa dinâmica de
expansão capitalista sem precedentes.

8.2.1 EUA – Construção da liderança continental

A questão do crescente desenvolvimento do capitalismo industrial no século XIX teria importantes


consequências para a América independente, uma vez que a transformação dos Estados Unidos em
potência continental fez a orientação de sua política externa ser muito mais enfática no que diz respeito
a contrabalançar a influência europeia, principalmente inglesa e espanhola.

No entender do presidente James Buchanan (1857-1861), os Estados Unidos


deviam exercer um papel de polícia na América Central e no Caribe a fim
de garantir que os tumultos que grassavam na região não ameaçassem
os norte‑americanos que lá viviam ou as rotas de passagem pela América
Central. Na sua opinião, ou os Estados Unidos faziam isso ou as potências
europeias iriam intervir. Seus pedidos de autorização para usar força armada
148
HISTÓRIA DA AMÉRICA INDEPENDENTE

nessas intervenções foram negados pelo Congresso. Quase cinquenta


anos se passariam antes que o presidente Theodore Roosevelt incluísse
na Doutrina Monroe um corolário, no qual se afirmava o poder de polícia
norte‑americano no Caribe (BETHELL, 2009, p. 613).

Tal mudança de atuação norte‑americana ficou conhecida no Brasil como a Big Stick Policy ou
Política do Grande Porrete – segundo a qual o presidente Roosevelt teria afirmado que nas relações
internacionais na região que estamos apresentando era preciso que o político “falasse macio, mas usasse
um porrete”. Nessa medida, aos poucos, foi ficando mais claro o posicionamento norte‑americano na
região do Caribe e da América Central. Por incrível que pareça, alguns governos chegaram mesmo a
solicitar proteção diretamente ao governo dos Estados Unidos como protetorados. Nicarágua, Santo
Domingo e Haiti chegaram a solicitar essa proteção em troca da cessão de territórios ou bases militares.

Um dos pontos altos da corrida pelo controle do Caribe e da América Central foi a questão da
construção do Canal do Panamá, iniciada por uma empresa francesa em 1878, chamada Companhia
Francesa do Canal do Panamá. Ele seria concluído pelos Estados Unidos, que auxiliaram na separação do
Panamá em relação à Colômbia, obtendo a cessão do uso do canal e vantagens na região.

Os Estados Unidos, no intuito de consolidar sua liderança continental, passaram a desenvolver um papel
muito importante na promoção de reuniões internacionais, e o governo norte‑americano, em 1881, fez um
convite aos países americanos para a Conferência Americana Internacional, que depois foi cancelada por
questões internas dos próprios Estados Unidos. Aos poucos, a nação começou também a contrabalançar
a influência europeia por meio de investimentos diretos de capital, mas os investimentos da Inglaterra, da
França e da Alemanha eram ainda muito significativos. Por isso, os norte‑americanos se concentraram mais
na região sul, com especial atenção para México e Cuba – que ainda era uma colônia da Espanha.

É fundamental ressaltar que o século XIX, principalmente nas décadas de 1880 e 1890, foi marcado
pelo desenvolvimento do capitalismo industrial, que caracterizou a chamada Segunda Revolução
Industrial, que, diferentemente da Primeira Revolução Industrial, não ficou restrita à Inglaterra. À medida
que a França, a Bélgica, a Itália, a Alemanha, os Estados Unidos e o Japão se consolidavam internamente
como Estados nacionais orientados para os interesses de suas burguesias industriais, as disputas entre
eles por territórios coloniais, fontes de matérias‑primas para seus mercados consumidores, locais para o
investimento direto de seus excedentes de capitais – com significativos aportes em áreas como serviços,
bancos, seguros, transportes e mesmo empréstimos – e por novas regiões para onde os excedentes
populacionais pudessem migrar e encontrar meios de subsistência provocou uma onda de conquistas
na África e na Ásia chamada de neocolonialismo.

Uma vez mais, a Europa lançava‑se com bastante ímpeto à conquista de áreas coloniais. Dessa vez,
parte da justificativa era aquilo que acreditavam ser a própria ideia de superioridade do homem branco,
ideal civilizatório esse que foi contemplado por um poema de Rudyard Kipling, intitulado O Fardo do
Homem Branco (KIPLING apud FACINA, [s.d.]) e que exprime essa noção de obrigação de conquista
para civilizar o outro. Na verdade, essa era uma justificativa ideológica, um moralismo europeu – que
disfarçava a constante expansão do capitalismo monopolista que se sofisticava cada vez mais por meio
da organização de trustes, cartéis e holdings.
149
Unidade III

Saiba mais

Para saber mais a respeito de questões que envolvem noções de


raça, racismo, dominação e subordinação entre os povos, indicamos o
importante artigo:

IANNI, O. Dialética das relações raciais. Estudos Avançados, São Paulo,


v. 18, n. 50, p. 21-30, jan./abr. 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/
pdf/ea/v18n50/a03v1850.pdf>. Acesso em: 2 mar. 2015.

É verdade que oficialmente os Estados Unidos não tomaram nenhuma região fora de suas fronteiras
como sua colônia, apenas defenderam enfaticamente seus interesses em diversos países e compraram
um território na África para o retorno dos afrodescendentes à terra de seus ancestrais – a propósito, o
país de que estamos falando é a Libéria, que se tornou um Estado soberano em 1847.

Em sua proclamação de independência, intitulada Declaração de Independência dos Representantes


do Povo da Nação Liberiana, de 16 de julho de 1847, lê‑se:

Nós, o povo da República da Libéria, éramos originalmente habitantes dos


Estados Unidos da América do Norte. Em algumas partes daquele país, fomos
privados por lei de todos os direitos e privilégios dos homens – em outras
partes, a opinião pública, mais poderosa que a lei, olhava‑nos com desdém.
Todos os cargos civis nos eram, por toda parte, negados. Éramos excluídos
de qualquer participação no governo.

Éramos tributados sem nosso consentimento. Éramos coagidos a


contribuir para os recursos de um país que não nos dava nenhuma
proteção. Fomos transformados em uma classe distinta e separada,
e contra nós, todas as estradas para o progresso foram eficazmente
fechadas. Éramos preteridos por estrangeiros de todas as terras, de cor
diferente da nossa. [...] A costa oeste da África foi o local eleito pela
benevolência e filantropia americana para nosso futuro lar. Levados para
longe das influências que nos deprimiam em nossa terra natal [...] sob
os auspícios da Sociedade de Colonização Americana, estabelecemo‑nos
aqui, em território obtido mediante compra dos senhores da Terra. [...]
O povo da República da Libéria é, portanto, de direito e de fato um
Estado livre, soberano e independente [...] a Libéria é um refúgio da mais
esmagadora opressão (ARMITAGE, 2011, p. 180).

Apesar dessa preocupação concreta com o destino dos afrodescendentes, o foco norte‑americano
era mesmo sua consolidação americana:

150
HISTÓRIA DA AMÉRICA INDEPENDENTE

Pode‑se dizer que a principal questão da diplomacia europeia no


momento é assegurar esferas de influência mais amplas de comércio,
bem como um território adequado para ser ocupado pelo excesso de
população dos países mais habitados. [...] A partilha da África entre as
potências europeias oferece considerações de um caráter econômico
de magnitude quase igual, enquanto os planos das nações comerciais
mais ativas para aumentar suas partes respectivas no comércio dos
mercados latino‑americanos nos afetam de forma ainda mais séria no
desenvolvimento de nossas relações comerciais com a metade sul do
hemisfério ocidental (BETHELL, 2009, p. 616).

Ao perceber a crescente influência dos Estados Unidos e em razão da necessidade de defender seus
interesses regionais e continentais, o próprio Congresso pediu ao presidente Cleveland que convidasse os
latino‑americanos para uma conferência em Washington em 1889. Os Estados Unidos tentaram aprovar
a criação de uma liga aduaneira, mas os futuros estados se recusaram, evidenciando que a construção
de sua hegemonia continental não seria tão simples assim. No entanto, em alguns momentos, a atuação
norte‑americana foi pautada por um pragmatismo que se revelou muito proveitoso, pois, diante das
ameaças de aumento do poderio europeu sobre as Américas, eles foram obrigados a agir. Os ingleses
atacaram e conquistaram parte da Nicarágua, e esse movimento era percebido pelo governo dos Estados
Unidos quase como uma intromissão em sua própria soberania.

Na década de 1890, a percepção de que o mundo estava sendo tomado pelo avanço de potências
capitalistas europeias deu margem à ideia de que os Estados Unidos corriam o sério risco de serem
isolados no continente.

O ressurgimento de um elemento ideológico na herança da nação


complicou ainda mais o debate. Era a crença de que o país – às
vezes em conjunto com outros anglo‑saxões – tinha um destino (de
quando em quando chamado manifesto) de salvar o mundo pela
disseminação da civilização anglo‑americana, do governo republicano
e do cristianismo protestante. Muitos incluíam no item civilização a
promoção do desenvolvimento econômico, da educação e da saúde
pública (BETHELL, 2009, p. 621).

8.2.2 EUA – Intervencionismo e a independência de Cuba

O quadro interno era favorável ao aumento da influência dos Estados Unidos sobre as áreas próximas
quando, bem próximo ao Estado norte‑americano da Flórida, irrompeu aquilo que parecia ser mais
um dos muitos conflitos existentes na América Latina. No entanto, em 1895, o movimento que se
desenvolveu em Cuba tinha uma natureza bastante específica – era uma guerra de libertação em relação
à metrópole colonizadora. Cuba foi a última colônia hispano‑americana a conseguir sua independência,
e assim mesmo com forte presença dos Estados Unidos.

151
Unidade III

Figura 49 – América Central: divisão Política. Observe a posição estratégica central de Cuba

O conflito que permitiu a emancipação cubana ficou conhecido como Guerra Hispano‑americana, e
a vitória final dos Estados Unidos – em dezembro de 1898 – foi ratificada pelo Tratado de Paris, segundo
o qual a Espanha entregava Porto Rico para os Estados Unidos e Cuba se tornava independente. Por
meio desse mesmo tratado a Espanha cedeu as Filipinas e as ilhas Guam, no Pacífico.

Uma vez que a libertação foi realizada com forças norte‑americanas que lutaram e expulsaram os
espanhóis, a ilha ficou sob ocupação militar dos Estados Unidos, mesmo após sua independência.

Apesar de publicamente o presidente McKinley não ser favorável a uma guerra na região, admitia
que considerava ser o país o responsável pela ordem no Caribe. A alegação para a intervenção veio do
afundamento de um navio norte‑americano chamado Maine no porto de Havana. Assim, em meio à
grave crise, McKinley pediu autorização ao Congresso para agir, alegando ser dever internacional dos
Estados Unidos manter a paz de todos os países civilizados:

Tomar medidas para assegurar um término pleno e final das hostilidades


entre o governo da Espanha e o povo de Cuba, e garantir na ilha a instalação
de um governo estável, capaz de manter a ordem e de cumprir suas
obrigações internacionais, assegurando a paz, a tranquilidade e a segurança
dos seus cidadãos, bem como as nossas próprias (BETHELL, 2009, p. 623).

Assim, a ilha seria controlada pelo governador militar norte‑americano, o general Leonard Wood,
que convocou uma Assembleia Constituinte para elaborar a Constituição do país. Nesse momento, o
governador militar escreveu ao então presidente Theodore Roosevelt:

Na medida em que sua posição geográfica nos obriga a controlá‑la e


protegê‑la, por que não estimular por meio de uma assistência moderada
aquelas indústrias que irão torná‑la tão próspera e satisfeita que ela sempre
152
HISTÓRIA DA AMÉRICA INDEPENDENTE

será amigável e uma fonte de poder para nós? Isso certamente é melhor
do que ter às nossas portas uma ilha desmoralizada, assolada pela pobreza,
como Santo Domingo ou o Haiti [sic] cujas condições de existência põem em
risco as vidas de milhões de nossos cidadãos (BETHELL, 2009, p. 624).

Leonard Wood defendeu investimentos na ilha como uma forma positiva de estabilização e controle
por parte dos Estados Unidos, e isso acabou se transformando num padrão norte‑americano apelidado
de diplomacia do dólar.

A Assembleia Constituinte convocada ainda sob ocupação dos Estados Unidos aprovou a Constituição
Cubana de 1901, a primeira do país independente. Ela recebeu, no entanto, uma emenda norte‑americana
conhecida como Emenda Platt – que ganhou esse nome devido ao senador Orville H. Platt – assegurando
o direito norte‑americano de intervir militarmente na ilha caso julgasse necessário. As implicações
disso para o governo cubano eram significativas, pois limitavam a dívida pública e a assinatura de
acordos militares com outras potências. Somou‑se a isso o arrendamento de uma área necessária para
o estabelecimento de base militar norte‑americana, que é a atual Base Naval de Guantánamo, por meio
da qual os Estados Unidos passaram a controlar na Ilha de Cuba uma área de 117 km².

Em 1902, tomou posse o primeiro presidente eleito de Cuba, Tomás Estrada Palma, um líder conservador
que seria reeleito em 1906. Mesmo com a independência de Cuba assegurada, no momento em que
estouravam revoltas e disputas entre os diferentes grupos políticos, os Estados Unidos despachavam para a
ilha suas forças militares com a alegação de que seriam forças de pacificação. Ainda no final do século XIX, as
palavras de Leonard Wood elucidavam quais os rumos da política dos Estados Unidos em relação ao Caribe:

[...] não há meio de fugir do fato de que, mesmo não sendo donos da ilha,
somos responsáveis por sua conduta, pela manutenção de um governo
estável e pelo tratamento justo e equitativo dos estrangeiros que ali residem
(BETHELL, 2009, p. 625).

Vale ressaltar que essa dinâmica de crises e intervenções acabou contribuindo para surgir em Cuba
certa ambiguidade, pois, de um lado, o povo se sentia atacado pelos Estados Unidos em sua soberania,
em razão de tantas intervenções seguidas; por outro, alguns grupos políticos buscavam justamente
apoio nos Estados Unidos para permanecer no poder. Foi assim com alguns presidentes cubanos no
século XX, até que a Revolução Cubana pôs fiz a esse processo.

Saiba mais

Como uma maneira de se familiarizar com a linguagem acadêmica, com


a erudição de estudiosos renomados dos assuntos que aqui abordamos e
também com a apresentação de mecanismos de pesquisas absolutamente
fundamentais na organização de boas aulas ou exposições, recomendamos
enfaticamente a leitura da revista:

153
Unidade III

COMISSÃO EDITORIAL. Apresentação. História, Franca, v. 22, n. 2, 2003.


Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0101‑90742003000200001>.
Acesso em: 2 mar. 2015.

Observando os acontecimentos cubanos sob a ótica norte‑americana, o problema ficou quase


reduzido às discussões de manutenção da ordem no Caribe e aos interesses dos Estados Unidos, fazendo
perder um pouco o foco da própria sociedade cubana e as questões que ela enfrentava internamente.

Cuba, assim como o Brasil no século XIX, era profundamente marcada pela presença da escravidão,
e isso vinha aparecendo para a sociedade como um problema a resolver, principalmente, a partir da
primeira tentativa de independência em 1868. O movimento que mencionamos e que provocou a
independência de fato foi uma Segunda Guerra de Independência. Como figura de projeção na defesa
da emancipação, aparece José Martí (1853-1895).

8.2.3 Cuba e Martí

De uma maneira geral, Martí pode ser visto como um defensor e, ao mesmo tempo, um crítico do
imperialismo.

“Não é à forma das coisas que devemos nos ater, e sim ao seu espírito. O real é o que importa, não o
aparente. Na política, o real é o que não se vê” (RODRÍGUEZ, 2006, p. 7).

Após se engajar nas lutas pela independência de Cuba, em sua primeira fase, Martí passou por México,
Guatemala, Venezuela e Estados Unidos e, com isso, entrou em contato com as mais diversas realidades
americanas, afirmando, em Nova Iorque, em 1883, que “O nosso sonho é que os povos da América Latina
se entusiasmem e se unam” (RODRÍGUEZ, 2006, p. 25). Quando o movimento pela independência de
Cuba recobrou o fôlego, em 1895, Martí novamente foi um defensor da ruptura total com a metrópole e,
contrário às correntes majoritárias que se estabeleceram na política da ilha pós‑independência, era crítico
da atuação norte‑americana por perceber que esses investimentos poderiam levar a intervenções militares.

Em seu caminho de retorno a Cuba para lutar por sua libertação, passou pela República Dominicana
e lá publicou seu Manifesto de Montecristi em defesa da independência de Cuba. Além disso, foi criador
do Partido Revolucionário Cubano (PRC). Martí e o General‑em‑Chefe do Exército Libertador, Máximo
Gómez Báez, firmaram o documento pela independência de Cuba – adotando a ideia de que a guerra
pela libertação seria uma guerra necessária. Como morreu na batalha de Dos Ríos, ainda no início dos
confrontos contra os espanhóis, acabou recebendo certa aura de herói: “El Apostól”.

José Martí foi considerado herói e mártir da independência cubana, tanto


antes quanto depois da Revolução Socialista de 1959. A célebre frase escrita
por Martí, pouco antes de morrer, em uma carta a Manuel Mercado: “Vivi
no monstro [EUA] e lhe conheço as entranhas: a minha funda é a de Davi”
continua ecoando até o presente. A “funda de Davi” deveria ser manejada
pelos latino‑americanos para derrotar o “gigante Golias”. Cunhou a expressão

154
HISTÓRIA DA AMÉRICA INDEPENDENTE

Nuestra América para se opor à “outra” América, a dos anglo‑saxões (PRADO;


PELLEGRINO, 2014, p. 99).

Saiba mais

Sobre José Martí, assista ao filme:

EL OJO del canário. Dir. Fernando Perez. Cuba: Televisión Española, 2010.
120 minutos.

José Enrique Rodó é um escritor que ganhou notoriedade devido à independência de Cuba. Ele
publicou o livro Ariel, no qual fez referências aos interesses dos Estados Unidos em Cuba, denunciando
o “perigo ianque”. De acordo com Prado e Pellegrino (2014):

Nesse livro, Rodó construiu uma oposição entre a América Latina e os Estados
Unidos, que marcava as diferenças entre os dois mundos, ganhando enorme
repercussão entre o público leitor da América espanhola. Rodó apropriou‑se das
personagens centrais da peça de Shakespeare, A tempestade, e a partir delas
criou metáforas culturais e políticas sobre as Américas. Na peça original, Próspero
é o senhor de uma ilha que possui um servo em forma de espírito alado, Ariel,
e um escravo disforme, Caliban. O autor fez de Ariel – representação da beleza,
da filosofia, das artes, do sentimento do belo, das coisas do espírito – o símbolo
da América Latina; e de Caliban – ligado à matéria, ao dinheiro, ao imediato e
ao efêmero – a marca dos Estados Unidos (PRADO; PELLEGRINO, 2014, p. 98).

Mesmo considerando o aspecto dicotômico da separação entre o bem e o mal, o certo e o errado,
o nós e o outro, é possível perceber como parte da América Latina olhava ora com receio, ora com
admiração para os Estados Unidos em suas tão variadas formas de atuação, que oscilavam entre de
dominador e líder, opressor e exemplo, mas isso já é assunto para outras disciplinas.

Saiba mais

Seguindo ainda a sugestão de que, ao se olhar para a América independente,


pode ser muito interessante e proveitoso observar o que estava acontecendo
no Brasil ao mesmo tempo, sugerimos a leitura do artigo:

SAIANI, R. C. S. A guerra no papel: o processo de independência cubana


nas páginas de O Estado de S. Paulo (1895‑1898). Angelus Novus, São
Paulo, n. 3, mai. 2012. Disponível em: <http://www.usp.br/ran/ojs/index.
php/angelusnovus/article/view/127/pdf_27>. Acesso em: 2 mar. 2015.

155
Unidade III

Resumo

Iniciamos a unidade com a apresentação das enormes dificuldades que


envolveram a construção e a consolidação dos Estados nacionais na América
em razão das disputas políticas internas e também do fortalecimento dos
Estados Unidos diante dos demais países americanos, vizinhos ou não.

Para entendermos as construções dos Estados Unidos, demonstramos a


expansão territorial e debatemos de que maneira isso afetava os vizinhos.
A Doutrina do Destino Manifesto e a marcha para oeste provocaram ódio e
ira internos, que explodiram nos debates e culminaram numa cena trágica
de guerra civil, a Guerra de Secessão.

Nos Estados Unidos, os debates que separaram o sul e norte envolveram


a eleição de Lincoln para presidente e mobilizaram abolicionistas e
escravistas. Vale lembrar que a expansão territorial levou ao confronto
com indígenas e mexicanos, mas, mesmo assim, as populações dos Estados
Unidos preencheram o território do Atlântico ao Pacífico. A Guerra Civil e o
assassinato de Lincoln demonstram as disputas em aberto.

O caso mexicano é fundamental no processo referido, ganhando


destaque neste livro‑texto, além das suas relações com os Estados Unidos
no século XIX. Ainda tratando do México, passamos a discutir o avanço
do liberalismo com as Leis da Reforma de Benito Juárez e depois com a
modernização na produção desenvolvida no porfiriato.

Como uma parte muito importante, trouxemos o choque de


imperialismos, o que provocou a Guerra do Paraguai. Para compreender a
época, foi fundamental observar os confrontos no atual Cone Sul.

O crescimento econômico atraía muitos interesses estrangeiros, e o


sentido de modernização econômica do porfiriato foi discutido também. A
presença de interesses externos foi percebida como disputas pela América,
principalmente a Latina.

A liderança continental dos EUA enfrenta a presença de diversos


interesses, chegando, na prática, a ser um choque entre diversas correntes
políticas, sociais e econômicas. O intervencionismo em Cuba também ganha
notoriedade, pelo fracasso na resistência dos Estados Unidos.

Finalizamos com a indicação de livros, textos e vídeos que são


importantes para perceber as construções históricas e a invenção de mitos,
que devem ser combatidas nas aulas de História da América Independente.
156
HISTÓRIA DA AMÉRICA INDEPENDENTE

Exercícios

Questão 1. (Enade 2008) “[...] o fato maior do século XIX é a criação de uma economia global única,
que atinge progressivamente as mais remotas paragens do mundo, uma rede cada vez mais densa de
transações econômicas, comunicações e movimentos de bens, dinheiro e pessoas ligando os países
desenvolvidos entre si e ao mundo não desenvolvido.[...] Sem isso não haveria um motivo especial para
que os Estados europeus tivessem um interesse algo mais que fugaz nas questões, digamos, da bacia
do rio do Congo, ou tivessem se empenhado em disputas diplomáticas em torno de algum atol do
Pacífico. Essa globalização da economia não era nova, embora tivesse se acelerado consideravelmente
nas décadas centrais do século” (HOBSBAWM, 1988, p. 95).

Para Hobsbawm, o que caracteriza a expansão imperialista européia no século XIX?

A) A ausência do Estado protecionista na criação de uma economia global única.

B) A criação de uma economia global única no contexto do crescimento industrial europeu.

C) A composição de forças das nações industrializadas no domínio colonial.

D) O favorecimento social das regiões coloniais com a ampliação dos investimentos europeus.

E) Os benefícios econômicos proporcionados às massas descontentes dos impérios.

Resposta correta: alternativa B.

Análise das alternativas

A) Alternativa incorreta.

Justificativa: a economia global única no século XIX apontada por Hobsbawn se formou pelo avanço
do capitalismo industrial, e não por efeito de políticas estatais protecionistas.

B) Alternativa correta.

Justificativa: ao longo do século XIX, o capitalismo industrial se espalhou pelos países europeus, que
se lançaram numa disputa imperialista pelos outros continentes em busca de novos mercados.

C) Alternativa incorreta.

Justificativa: a expansão do capitalismo industrial exigia mercados abertos, o que se chocava com as
restrições econômicas do sistema colonial. As independências das colônias interessavam a essa expansão.

157
Unidade III

D) Alternativa incorreta.

Justificativa: os investimentos europeus nos países de passado colonial foram feitos na área de
transportes e de infraestrutura, para garantir a circulação de matérias-primas e dos bens de consumo
que comercializavam, e não no setor social.

E) Alternativa incorreta.

Justificativa: os benefícios econômicos pretendidos diziam respeito à expansão da economia


capitalista, e não às massas populacionais dos países alvo do imperialismo europeu.

Questão 2. (Enade 2008) “Essas ilhas são apêndices naturais do continente norte-americano, e uma
delas – quase visível a olho nu de nossas costas – tornou-se, por muitas considerações, um objeto de
importância transcendente para os interesses comerciais e políticos da nossa União. [...] Entre os interesses
daquela ilha e deste país, tais são, certamente, as relações geográficas, comerciais, morais e políticas
formadas pela natureza, a cristalizarem-se no processo do tempo, neste momento mesmo alcançando
a maturidade, [...] é difícil resistir à convicção de que a anexação de Cuba por nossa República Federal
será indispensável à continuidade e à integridade da nossa própria União [...] Há leis da política como
há leis da gravitação física. E se uma maçã, separada de uma árvore nativa pela tempestade, não pode
escolher, mas apenas cair no chão, Cuba, por força desligada do seu vínculo não natural com a Espanha,
e incapaz de se sustentar, só pode gravitar na direção da União Norte-Americana, a qual, pela mesma lei
da natureza, não pode segregá-la do seu seio.” (Carta de John Quincy Adams, secretário de Estado dos
Estados Unidos, a Hugh Nelson, representante norte-americano em Madri, 23 de abril de 1823.)

Analisando o texto anterior e considerando a política externa norte-americana, conclui-se que:

A) Os interesses dos Estados Unidos no Caribe datam da sua participação na Guerra Hispano-
Americana.

B) A ideia de pan-americanismo era fortalecida pela proposta de parceria na política e na economia


com as nações do continente.

C) A essência da Doutrina Monroe, “América para os americanos”, definia o continente como zona
de influência dos EUA.

D) A criação de um império de portas abertas contribuiu para o declínio da ideia de expansão das
fronteiras.

E) A percepção de uma identidade americana abrangente firmou-se no hemisfério ocidental.

Resolução desta questão na plataforma.

158
FIGURAS E ILUSTRAÇÕES

Figura 1

26_1.JPG. Disponível em: <http://www.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_9592/26_1.jpg>.


Acesso em: 19 mar. 2015.

Figura 2

48_2.GIF. Disponível em: <http://www.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_9592/48_2.gif>.


Acesso em: 19 mar. 2015.

Figura 3

84_1.JPG. Disponível em: <http://www.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_9592/84_1.jpg>.


Acesso em: 19 mar. 2015.

Figura 4

IMAGEM39.JPG. Disponível em: <http://www.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_3981/


imagem39.jpg>. Acesso em: 19 mar. 2015.

Figura 5

IMAGEM38.JPG. Disponível em: <http://www.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_3981/


imagem38.jpg>. Acesso em: 19 mar. 2015.

Figura 6

68_1.JPG. Disponível em: <http://www.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_9592/68_1.jpg>.


Acesso em: 19 mar. 2015.

Figura 7

105.GIF. Disponível em: <http://www.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_3983/105.gif>.


Acesso em: 19 mar. 2015.

Figura 8

85_1.JPG. Disponível em: <http://www.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_9592/85_1.jpg>.


Acesso em: 19 mar. 2015.

159
Figura 9

IMAGEM34.JPG. Disponível em: <http://www.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_3979/


imagem34.jpg>. Acesso em: 19 mar. 2015.

Figura 10

86_1.JPG. Disponível em: <http://www.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_9592/86_1.


jpg>. Acesso em: 19 mar. 2015.

Figura 11

IMAGEM31.JPG. Disponível em: <http://www.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_3978/


imagem31.jpg>. Acesso em: 19 mar. 2015.

Figura 12

CONTEUDO_9167/37.GIF. Disponível em: <http://www.objetivo.br/conteudoonline/imagens/


conteudo_9167/37.gif>. Acesso em: 19 mar. 2015.

Figura 13

76_2.JPG. Disponível em: <http://www.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_9592/76_2.jpg>.


Acesso em: 19 mar. 2015.

Figura 14

002.JPG. Disponível em: <http://www.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_1999/002.jpg>.


Acesso em: 19 mar. 2015.

Figura 15

IMAGEM36.JPG. Disponível em: <http://www.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_3980/


imagem36.jpg>. Acesso em: 19 mar. 2015.

Figura 16

IMAGEM37.JPG. Disponível em: <http://www.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_3980/


imagem37.jpg>. Acesso em: 19 mar. 2015.

Figura 17

12.JPG. Disponível em: <http://www.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_2000/12.jpg>.


Acesso em: 19 mar. 2015.
160
Figura 18

003.JPG. Disponível em: <http://www.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_2031/003.jpg>.


Acesso em: 19 mar. 2015.

Figura 19

02.JPG. Disponível em: <http://www.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_3531/02.jpg>.


Acesso em: 19 mar. 2015.

Figura 20

IMAGEM40.JPG. Disponível em: <http://www.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_3981/


imagem40.jpg>. Acesso em: 19 mar. 2015.

Figura 21

12_G.GIF. Disponível em: <http://www.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_9596/12_G.gif>.


Acesso em: 19 mar. 2015.

Figura 22

20127V.JPG. Disponível em: <http://cdn.loc.gov/service/pnp/npcc/20100/20127v.jpg>. Acesso em: 19


mar. 2015.

Figura 23

100_1.JPG. Disponível em: <http://www.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_9592/100_1.jpg>.


Acesso em: 19 mar. 2015.

Figura 24

3B.JPG. Disponível em: <http://www.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_9596/3b.jpg>.


Acesso em: 19 mar. 2015.

Figura 25

004.PNG. Disponível em: <http://www.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_1785/004.png>.


Acesso em: 19 mar. 2015.

Figura 26

IMAGEM45.JPG. Disponível em: <http://www.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_3983/


imagem45.jpg>. Acesso em: 19 mar. 2015.
161
Figura 27

IMAGEM46.JPG. Disponível em: <http://www.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_3983/


imagem46.jpg>. Acesso em: 19 mar. 2015.

Figura 28

229.JPG. Disponível em: <http://www.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_9081/229.jpg>.


Acesso em: 19 mar. 2015.

Figura 29

IMAGEM43.JPG. Disponível em: <http://www.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_3983/


imagem43.jpg>. Acesso em: 19 mar. 2015.

Figura 30

48.GIF. Disponível em: <http://www.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_9173/48.gif>.


Acesso em: 19 mar. 2015.

Figura 31

IMAGEM42.JPG. Disponível em: <http://www.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_3983/


imagem42.jpg>. Acesso em: 19 mar. 2015.

Figura 32

A_18_1.JPG. Disponível em: <http://200.196.224.188/conteudoonline/imagens/conteudo_1570/


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