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1... "Ainda bem que sempre existe outro dia... E outros sonhos... E outros risos... E outras
pessoas... E outras coisas" (Clarice Lispector)
2... “Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania,
Depende de quando e como você me vê passar.” (Clarice Lispector)
3... “A pessoa certa é a que est| ao seu lado nos momentos incertos.” (Aldo Novak)
4... “Saber encontrar a alegria na alegria dos outros, é o segredo da felicidade.” (Georges
Bernanos)
5... "Nada que vale a pena é fácil! Lembre-se disso!" (Nicholas Sparks)
6... “Por que nos conhecemos? Por que o acaso o quis? Foi porque através da distância, sem
dúvida, como dois rios que correm a unir-se, nossas inclinações particulares nos impeliram
um para o outro.” (Gustave Flaubert)
7... “Porque eu fazia do amor um c|lculo matemático errado: pensava que, somando as
compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama
verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é f|cil.” (Clarice
Lispector)
8... “Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que
sustenta nosso edifício inteiro.” (Clarice Lispector)
9... “A paix~o queima, o amor enlouquece, o desejo trai.” (Luis Fernando Verissimo)
10... “A única maneira de nos livrarmos da tentaç~o é ceder-lhe.” (Oscar Wilde)
11... “Lamentar uma dor passada, no presente, é criar outra dor e sofrer novamente.”
(William Shakespeare)
12... “O ciúmes é uma parada engraçada. O cara n~o se importa da garota ser dele ou n~o. O
que ele faz quest~o, é que ela n~o seja de ninguém.” (Soulstripper)
13... ” E o prêmio de maior decepç~o do ano vai para… Mim. Parabéns por ter sido t~o cega.”
(Tati Bernardi)
14... "O lado bom de perder uma falsa amizade é que estamos livres do mal que nos
acompanhava, sem sabermos!" (Fátima Amoremio)
15... “N~o posso escolher como me sinto, mas posso escolher o que fazer a respeito.”
(William Shakespeare)
16... “Pra homem bonito dou uma de inteligente. Pra homem inteligente dou uma de bonita.
Pra homem bonito e inteligente dou uma.” (Tati Bernardi)
17... “Nossas vidas s~o definidas por momentos. Principalmente aqueles que nos pegam de
surpresa.” (Bob Marley)
18... “Encantado? Confesso! Como num conto de fada mais bobo Você me escolheu... E o
encanto foi tanto Que eu sem perceber Já estava em você Mas voltei, Porque sei manipular
meus sonhos E minha alma passeia por onde quero Mas voltando a você... Me conte o que
fez Nesse tempo que espero..; E essa felicidade?... Sincera! Onde estava esse olhar Que
conhece o meu Sem querer me entregar Já estou ao lado seu E assim seguirei Pelo tempo da
delicadeza...” (Saulo Fernandes)
19... “Um alguem-você Uma esperança- nós dois Um mundo- o seu UM segredo-amar-te
Uma duvida-o amor Uma cor- a dos teus olhos Um sabor-seu beijo um medo-perder você
Um conselho-nao me deixe Um pedido-me ame como eu te amo Um sonho-viver com você
para sempre...” (Eliezer Alves da Costa)
20... ”Em vez de tentar escapar de certas lembranças, o melhor é mergulhar nelas e voltar à
tona com menos desespero e mais sabedoria.” (Martha Medeiros)
21... “O mais terrível n~o é termos nosso coraç~o partido (pois corações foram feitos para
serem partidos), mas sim, transformar nossos corações em pedra.” (Oscar Wilde)
22... “Grandes realizações s~o possíveis quando se d| import}ncia aos pequenos começos.”
(Lao-Tsé)
23... “Jogue tudo fora, mas principalmente esvazie seu coração, fique pronto para a vida,
para um novo amor. Lembre-se somos apaixonáveis, somos capazes de amar muitas e
muitas vezes. Afinal de contas, nós somos o amor.” (Desconhecido)
24... “É uma dor que agora machuca o meu coração, É a triste dor da decepção, É o tipo de
dor que te arrasta para o olho do furacão, Que faz sua vida virar uma confusão, que te joga
no ch~o... É nada mais nada menos que a dor da decepç~o!” (Manuella Christina de Sousa)
25... “Viver é enfrentar um problema atr|s do outro. O modo como você o encara é que faz a
diferença.” (Benjamin Franklin)
26... “Quero apenas cinco coisas... Primeiro é o amor sem fim A segunda é ver o outono A
terceira é o grave inverno Em quarto lugar o verão A quinta coisa são teus olhos Não quero
dormir sem teus olhos. Não quero ser... sem que me olhes. Abro mão da primavera para que
continues me olhando.” (Pablo Neruda)
27... " Desejo a vocês: Namoro no portão, domingo sem chuva, segunda sem mau humor,
sábado com seu amor. Chope com os amigos, viver sem inimigos, filme na TV. Ter uma
pessoa especial e que ela goste de você." (Carlos Drummond de Andrade)
28... “Amar dói tanto que você fica humilde e olha de verdade para o mundo, mas ao mesmo
tempo fica gigante e sente a dor da humanidade inteira. Amar dói tanto que não dói mais,
como toda dor que de t~o insuport|vel produz anestesia própria.” (Tati Bernardi)
29... “Aquilo que se faz por amor est| sempre além do bem e do mal.’ (Friedrich Nietzsche)
30... “Nunca deixe que lhe digam que n~o vale a pena acreditar no sonho que se tem ou que
os seus planos nunca vão dar certo ou que você nunca vais ser alguém...” (Renato Russo)
31... “O sucesso é ir de fracasso em fracasso sem perder entusiasmo.” (Winston Churchill)
32... “Sinto ciúmes de tudo o que é meu, e de tudo o que eu acho que deveria ser.” (Bob
Marley)
33... “Deixe que certos mal entendidos se resolvam sozinhos ... o tempo é um poeta teimoso
traiçoeiro demais pra tentar ser manipulado.” (Jenifer D'Avila)
34... “Tudo o que começa com raiva, acaba em vergonha.” (Benjamin Franklin)
35... “Devemos aceitar a decepç~o finita, mas nunca perder a esperança infinita.” (Martin
Luther King)
36... “Você é uma daquelas chances boas que a vida n~o me daria duas vezes.” (Camila
Costa)
37... “Ainda preciso controlar esse meu coraç~o acelerado, as pernas bambas e o sorriso
descarado que se abre quando os meus olhos te veem.” (Vanuza Borges)
38... “Se alguma coisa tem chances de sair errado certamente sair|, e da pior maneira
possível!” (Lei de Murphy)
39... “Quando tudo nos parece dar errado Acontecem coisas boas Que n~o teriam
acontecido Se tudo tivesse dado certo.” (Renato Russo)
40... “Aprendi a nunca esperar nada de ninguém. Desde ent~o, eu só tenho surpresas -
nunca decepç~o.” (Augusto Branco)
41... “N~o corrigir nossas faltas é o mesmo que cometer novos erros.” (Desconhecido)
42... “A alegria evita mil males e prolonga a vida.” (William Shakespeare)
43... “Saber encontrar a alegria na alegria dos outros, é o segredo da felicidade.” (Georges
Bernanos)
44... "Não desperdiçar as oportunidades é não dar chances pro fracasso." (João Vitor Rocha)
45... “Devemos prometer somente o que podemos entregar e entregar mais do que
prometemos.” (Jean Rozwadowski)
46... “Amo como ama o amor. N~o conheço nenhuma outra raz~o para amar sen~o amar.
Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?”
(Fernando Pessoa)
47... “N~o me lembro mais qual foi o nosso começo Sei que n~o começamos pelo começo. J|
era amor antes de ser.” (Clarice Lispector)
48... “O casamento faz de duas pessoas uma só, difícil é determinar qual ser|.” (William
Shakespeare)
49... "Todo o segredo da arte é talvez saber ordenar as emoções desordenadas, mas ordená-
las de tal modo que se faça sentir ainda melhor a desordem.” (Charles Ramuz)
50... “Preciso despir-me do que aprendi. Desencaixotar minhas emoções verdadeiras.
Desembrulhar-me e ser eu! Uma aprendizagem de desaprendizagem...” (Alberto Caeiro)
51... “A verdadeira família é aquela unida pelo espírito e n~o pelo sangue.” (Luiz
Gasparetto)
52... “Quando o assunto é família, no fundo ainda somos crianças n~o importa o qu~o velho
ficamos sempre precisamos de um lar para chamar de lar. Porque sem as pessoas que você
mais ama, você não pode evitar em se sentir sozinho do mundo” (Gossip Girl)
53... “Amigos s~o a família que nos permitiram escolher.” (William Shakespeare)
54... “Um brinde ao inesperado. E {s diversas formas de seguir em frente!” (Fernanda
Mello)
55... “Porque o amor é feito bebida: tem que tomar a dose certa” (Cazuza)
56... “Mesmo que tenham cometido erros gravíssimos no passado, é possível que essas
pessoas se recuperem e evoluam de modo surpreendente, bastando que encontrem
ambiente favor|vel e, no sorriso das pessoas, uma segunda chance.” (Augusto Branco)
57... ”Assim que nascemos, choramos por nos vermos neste imenso palco de loucos.”
(William Shakespeare)
58... “Imagine uma nova história para sua vida e acredite nela.” (Paulo Coelho)
59... "Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei.
Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento." (Clarice
Lispector)
60... “E de surpresa em surpresa, o inesperado. E quando o inesperado lhe sorri, como n~o
lhe sorrir de volta?” (Camila Custodio)
61... “A vida é construída nos sonhos e concretizada no amor.” (Chico Xavier)
62... “Um dia você amadurece, e consegue perceber que o amor é algo que se encontra
muito além de um belo sorriso. Consegue perceber que maior parte da tua felicidade é
construída por você mesmo e consegue perceber que as pessoas mais valiosas em sua vida
são justamente aquelas que sempre estiveram ao teu lado.E não é que o tempo seja mestre
em nos ensinar o óbvio. Nós é que demoramos demais para o óbvio aprendermos!”
(Augusto Branco)
63... “O amor pode morrer na verdade, a amizade na mentira.” (Abel Bonnard)
64... “Recomeça... se puderes, sem angústia e sem pressa e os passos que deres, nesse
caminho duro do futuro, dá-os em liberdade, enquanto não alcances não descanses, de
nenhum fruto queiras só metade.” (Miguel Torga)
65... "Quando o filho aprende com o pai, ambos dão risada. Quando o pai aprende com o
filho, ambos choram." (William Shakespeare)
PRÓLOGO...

"Como culpar o vento pela desordem feita, se fui eu que esqueci as janelas abertas?"
(Autor desconhecido)

Já aconteceu de a vida mudar todos os seus planos e virar sua vida de cabeça pra baixo?
Fazer você perceber que nada vai acontecer da forma que você quer? Que coisas pessoas
que você nunca imaginou irão fazer parte da sua vida e aquelas que você nunca imaginou
sem, simplesmente evaporassem?
Não né? Pois nem eu! Eu sempre achei que a vida ia seguir o rumo que eu destinasse a ela.
Que as coisas iriam acontecer na hora que eu quisesse, mas não é bem assim minha gente!
De tanto quebrar a cara aprendi uma lição:
"Nada acontece por acaso."
Ou pelo menos é o que tento acreditar! Eu tento sempre pensar pelo lado positivo das
coisas. Mesmo estando no fundo do poço, prefiro acreditar que algo bom vai acontecer ali.
Tenho um livro de frases para refletir. E uma delas é aquele ditado chinês que nos anima:
"Se a vida lhe der limões, esprema nos olhos de quem merece"
Ou era:
"Se a vida lhe der limões, faça um bolo de chocolate com cobertura de brigadeiro e deixe
todo mundo morrer de inveja porque você pode!"
É isso aí! Algo assim!
Sejam bem vindos à minha nada normal vida!

1...

"Ainda bem que sempre existe outro dia...


E outros sonhos...
E outros risos...
E outras pessoas...
E outras coisas"
(Clarice Lispector)
Olá! Acho que é essa a hora de me apresentar!
Meu nome é Nataly e tenho 25 anos. Sou proprietária de um pet shop que abri em
sociedade com a minha melhor amiga Aline e simplesmente amo o que faço.
Eu namorei 8 anos com Pedro. Foi meu primeiro namorado e sempre foi um cara legal
mesmo em todo esse tempo de relacionamento. Nós estávamos de casamento marcado
quando ele simplesmente surtou e não quis mais saber de mim. Me deu um belo pé na
bunda que doeu por longos meses.
Aline disse que virei uma velha de 70 anos que não sai mais de casa. Acho que ela tem
razão. Minha adolescência toda passei com Pedro, então não fazia idéia de como funcionava
a vida de solteira, mas tive que aprender. Eu fui duas vezes naqueles lugares que vocês
chamam de balada. Gente! Mas o que é aquilo? Música alta, bebida à vontade, homens
lindos e suados todos à solta? Seria o paraíso se eu soubesse como curtir. Sempre fui mais
do tipo caseira, e pra sair com qualquer rapaz, parece que vou morrer de uma úlcera no
estômago de tanto nervoso! Acho que nasci com defeito nessa parte. E no resto.
Thais uma de nossas amigas vai se casar e para minha tristeza, Pedro vai ser padrinho do
noivo. Eu estava em desespero e decidida a fazer ele se arrepender de ter me dado um pé
no traseiro.
Só não sabia como ainda!
O casamento seria em uma chácara com direito a piscina e tudo mais. A viagem duraria
quatro dias. Quatro dias de tortura psicológica por não ser eu a estar casando com o filho
da puta do padrinho. Já estou até imaginando todas aquelas pessoas me olhando com cara
de piedade porque fui abandonada.
Só Jesus na causa!
Eu tinha duas semanas para arrumar um cara lindo, divino, gostoso, rico, maravilhoso,
musculoso, pintudo, educado e bom de cama pra me acompanhar no casamento. E o único
que encontrei com todas essas exigências foi nas páginas amarelas.
Sim amigas e amigos.
Um acompanhante. Sua foto era simplesmente Uau. Suas características completamente
wow. Ele era o cara. Mas eu não teria coragem de ligar para um homem desse e me
humilhar pedindo que ele fingisse ser meu namorado.
Seria patético demais.
Levei o papel com o contato dele para o trabalho. Sentei em minha cadeira no escritório e
tirei o papel da bolsa. Fiquei encarando como se a resposta fosse pular daquelas letras.
-Eu acho que você devia contratar ele sim!
Tomei um susto com Aline parada ao meu lado.
-Que susto! E quem te perguntou? - coloquei o papel de volta na bolsa.
-Você não vai encontrar alguém como ele em duas semanas Nati!
-Muito obrigada pelo banho de autoestima!
-Não é isso sua burra! Não estou dizendo que você não tem capacidade. Estou falando que
pra arrumar um cara tão lindo como esse em duas semanas é simplesmente uma missão
impossível!
-Por que você não pode me animar? Tem que jogar a merda da verdade na minha cara?
-Só estou querendo ajudar!
-Eu sei! E odeio quando você está com razão!
-Pensa comigo amiga! Imagina você chegando lá com um pedaço de mau caminho desses
com você! Aí você vai fazer cara de "sim, eu sei que ele é maravilhosamente delicioso" vai
ser simplesmente sensacional! E pensa só na cara de cu sem lavar que Pedro vai ficar! Ele
deve super estar achando que você tá na fossa igual uma tonta por ele ainda! E mal imagina
que você está com um garanhão desses!
-Você só se esqueceu de um detalhe Li!
-Qual?
-Eu sou a tonta que ainda está na fossa! E não! Não tem um filé atrás de mim!
-Ah é!- ela falou desanimada. - Mas enfim! Pedro não sabe disso! Ele super vai achar que
você partiu pra outra e vai morrer de arrependimento.
-Você acha mesmo?
-Claro amiga! Quem que gosta de ver o ex acompanhado e feliz? Hellooo! Ninguém!
-Eu sei...
-Então! Liga pra ele! Manda ele vir pra cá e nós analisamos o pacote! Se valer a pena a gente
contrata ele!
-Eu não sei...
Aline tirou o papel da minha bolsa e digitou o telefone impresso no meu celular. Segundos
depois ela jogou o celular em mim.
-Tá chamando!
-O quê??? Não! Eu não estou preparada! Eu..
"Alô"
Aquela ela a voz mais sexy, grossa, rouca e erótica que eu já escutei na minha vida!
"Tem alguém aí? "
Sim! Alguém que acabou de ter um orgasmo só de ouvir sua voz.
"Olha, se não for dizer nada, vou desligar!"
Ai Meu Deus! Eu estava em choque.
-Fala alguma coisa!!! - Aline cochichou.
-Oi.. hum.. tem.. eu... eu.. queria.. bem.. isso é meio estranho... eu... liguei errado.
Joguei o celular na mesa.
-Que porra você fez sua louca?
-Eu entrei em p}nico ok? N~o é muito f|cil você ligar pra alguém e dizer : “Ol|! Você aceita
ser meu namorado de mentira? Sou uma idiota patética que não tem capacidade de
encontrar sozinha! Obrigada, de nada!
Aline ficou olhando para a minha cara por um tempo e concordou com a cabeça.
-É! Você falando assim é ridículo mesmo!
-Obrigada!
Olhei para o celular em cima da mesa que acendeu a tela. Olhei de perto e vi ligação
encerrada.
-NÃOOOOOOOO!
-O quê? ???
-NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO! - coloquei os celular mais perto dos olhos!
-O que o que o que?
-Não pode ser!
-O QUE cacete?
-Ele estava ouvindo!
-Nãooooooo!
-Eu sei!
-Que porra! E agora?
-Eu não sei!
O celular apitou indicando uma nova mensagem. Peguei o celular correndo e abri a nova
mensagem.
"Eu adoraria ser seu namorado de mentira! E não, isso não é nem um pouco patético! Passe-
me um endereço onde podemos nos encontrar e conversar sobre negócios."
-Ai Meu Deus! - Entreguei o celular à Aline.
Ela leu e segundos depois gritou.
-AI MEU DEUSSSS!
-Pois é! O que eu faço? - apoiei a testa na mesa e tentei pensar em uma solução.
Aline levantou da cadeira, colocou o celular na mesa e foi em direção à porta.
-Ah amiga, agora é só esperar ele chegar!
-O quê? ?
Levantei a cabeça e a pilantra saiu correndo da sala. O celular apitou mais uma vez. Abri a
mensagem e aí sim o desespero tomou conta de mim.
"Combinado! Hoje apareço aí!"
Agora ferrou!

2...
“Sou como você me vê.
Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania,
Depende de quando e como você me vê passar.”
(Clarice Lispector)

Ali estava eu, tremendo igual vara verde sem saber o horário em que o moço chegaria. Aline
me evitou o resto do dia. Fiquei o dia inteiro sem sair da minha sala. Eu estava cagando de
medo dele aparecer e todo mundo da loja ver que sou uma babaca que contrata um
acompanhante.
Eu já estava decidida a dispensá-lo assim que ele chegasse. Não sei onde eu estava com a
cabeça em cogitar uma idéia dessa! Devia estar possuída ou algo do gênero, não tem outra
explicação. Olhei no relógio e já eram 19h00 e nada do moço aparecer. Eu não sabia seu
nome e nem nada. Todos os funcionários da loja já tinham ido embora e Aline só me
mandou uma mísera mensagem escrito "FUI". Peguei minha bolsa injuriada. Acho que
ninguém conseguia ser mais patética do que eu. Levar um bolo de um cara que iria receber
pra passar um tempo comigo era demais pra mim. Desliguei o computador em plena
depressão. Levantei, joguei a bolsa no ombro e abri a porta do escritório. Fui em direção à
porta principal e estava tudo escuro. Quando fui abrir a porta alguém segurou meu braço e
a única reação que tive foi bater a bolsa na cara da pessoa. Eu não conseguia ver seu rosto,
mas dava pra ver que era um homem. Forte. Ele protegeu o rosto com as mãos até que
segurou meus dois braços.
-ME SOLTA SEU DESGRAÇADO! EU VOU CHAMAR A POLÍCIA! ELA DEVE ESTAR
CHEGANDO JÁ! VOCÊ VAI SE FERRAR! POR FAVOR NÃO ME MATA!
Ele soltou meus braços e escutei suas risadas.
-Acho que foi você que me ligou.
Paralisei no lugar. Aquela voz rouca e maravilhosa fez minhas pernas tremerem.
-Mo..mo..moço? É. . é você?
-Talvez?! Não tem luz nesse lugar não?
-Tem. - continuei parada tentando olhar seu rosto no escuro.
-E você vai acender?
-Ah. . Sim.. claro. Só um segundo. .. eu..
Comecei a andar de um lado para o outro e derrubei algumas coisas das prateleiras quando
batia a bolsa nelas. Assim que acendi a luz quase morri do coração.
Foi por um segundo que não morri.
Juro!
Juro mesmo!
O moço estava de braços cruzados e com um sorriso de molhar qualquer peça íntima!
-Uau! - ele sorriu mais ainda.
Ele se aproximou e eu tive uma ligeira impressão que uma baba escorreu da minha boca.
-Onde podemos conversar mais à vontade?
-Como você entrou aqui?
-Sua amiga me deixou entrar.
-Aquela vaca! -falei para mim mesma.
-Oi?
-Nada não, vem na minha sala, fica melhor pra conversar.. eu acho.
Abri a porta e dei espaço para que ele passasse. O moço passou se esfregando em mim e
senti seu perfume maravilhoso.
-Uau...
Continuei parada na porta embriagada pelo seu perfume.
-Você não vai entrar? -ele perguntou.
-Quê?
-Perguntei se você não vai entrar!
-Onde?
-Na sala?!
-Ah sim, claro! Onde é que estou com a cabeça? Desculpa
équevoceémuitocheirosoeviajeinamaionese. - falei tudo junto e rápido. Ele franziu a
sobrancelha confuso. - Fique à vontade. -indiquei a cadeira.
O moço se sentou e eu fiz o mesmo. Fiquei olhando para ele esperando que ele falasse
alguma coisa. Eu estava travada e me deu um branco sobre o que falar com ele.
-Então. Você precisa que eu finja ser seu namorado?
-Sim.
Silêncio.
-Quando?
-Daqui duas semanas.
Silêncio.
-Quantos dias?
-Quatro!
Silêncio.
-Ok...
Continuei em silêncio.
-Você está passando mal ou algo do gênero?
-Não! Por ... por que?
-Você tá estranha!
-Estranha como?
-Eu não sei! De olhos arregalados e respiração estranha. Você está tendo uma overdose?
Ele levantou rápido e veio até mim. Colocou a mão na minha testa e procurou minha
pulsação no pescoço.
-Você está se sentindo mal? Seu coração está muito acelerado.
-Eu estou bem... é que eu não estou acostumada com homens bonitos tãooo perto assim.
-E você quase enfarta por isso?
-Sim... - respondi envergonhada.
-Você é engraçada! - ele se afastou e sentou novamente na cadeira.
-Sou drogada, estranha e engraçada! Obrigada... eu acho!
-Não. . Não foi o que eu quis dizer. Esquece isso. Tá bom? Vim aqui pra conversar sobre
negócios. Eu cobro 300 por dia. Tenho quatro regras que jamais devem ser quebradas:
1- Se quiser algo a mais, vai ter que pagar!
2- Eu vou te beijar a hora que eu achar que devo.
3- Você não pode se apaixonar por mim.
4- Ninguém pode ficar sabendo quem eu sou.
Fiquei atônita com tudo o que ele falou.
-Você está falando sério?
-Sim!
-Uau.
-E aí? Tem interesse ou não?

3...

“A pessoa certa é a que está ao seu lado nos momentos incertos.”


(Aldo Novak)

Eu fiquei parada pensando no que fazer.


-E se eu quebrar alguma dessas regras?
-Você paga multa!
-E se você quebrar alguma dessas regras?
-Eu não quebro minhas regras!
-Sério?
-Sério! Isso é um trabalho como outro qualquer!
-Eu não estou desmerecendo seu trabalho, só estou tirando minhas dúvidas!
-Tudo bem, pode perguntar o que quiser.
-Qual seu nome?
-Pode me chamar de André!
-Ok. Meu nome é Nataly!
-E o que vai acontecer nos quatro dias?
-Bem, uma amiga minha vai se casar e meu ex-noivo vai ser padrinho!
-E você quer fazer ele se arrepender por ter te deixado?
-Por que você fala com tanta convicção que foi ele que me deixou?
-Foi você?
-Não mas...
-Então pronto.
-Você nem me deixou terminar de falar!
-Não tem problema! Só me passa o dia, e endereço que nos encontramos! O pagamento
você faz no dia mesmo e qualquer coisa que eu achar necessário cobrar, irei te comunicar
antes dela acontecer.
-Ok!
-Nós nos conhecemos na sua loja! Eu trouxe meu cachorro para uma consulta e depois
disso, não nos largamos mais.
-Você faz ser tão simples e convincente!
-É só porque eu acredito no que estou dizendo! Você deveria tentar fazer o mesmo!
Ele se levantou e me deu um beijo na bochecha.
-Me mande os dados por mensagem! E pode ficar tranquila, que seu namorado alugado
estará a sua disposição!
-Obrigada!
André deu uma piscadela e saiu da sala.
Fiquei olhando para a porta por um bom tempo. Ele era tão bonito e seguro de si, por que
trabalhava com esse tipo de coisa? Ele poderia ser modelo, ou chefe de cozinha bem sexy!
Ou um advogado sensual e gostoso de terno. Achei melhor não pensar nisso agora e
levantei saltitante da cadeira. Assim que fiquei em pé, comecei a fazer a dança da vitória
que nada mais é do que sacudir o traseiro e balançar os punhos no ar. Quando me senti
cansada peguei minha bolsa no chão e dei de cara um André parado na minha frente. Ele
sorriu para mim. André estava tão próximo, que se eu ficasse nas pontas dos pés, eu
encostaria meus lábios nos dele. Ele ficou sério e engoliu em seco. Nossas respirações se
misturavam. Ele olhou para minha boca e sorriu.
-Eu esqueci minha chave! - ele apontou para a mesa.
-Cla... claro! Fique à vontade! -respondi envergonhada.
Me afastei dele e ele caminhou até a mesa e pegou a chave em cima dela.
-Bom, eu vou indo!
-Ok!
André passou pela porta e gritou:
-Parabéns pela dança! Eu também tenho uma!
Congelei no lugar. Há quanto tempo ele estava ali? Não é possível que ele tenha visto toda a
minha performance!
Certo?
Soltei minha bolsa no chão, sentei em minha cadeira e apoiei a testa no vidro gelado.
-Por que eu pago tanto mico? Isso não é normal!
Depois que aceitei que aquela era minha realidade, levantei e decidi fazer o longo caminho
da vergonha até minha casa. Desliguei todas as luzes, acionei o alarme e tranquei as portas
e portões. Fui até meu carro e sentei como se ali fosse a minha zona de conforto. Dei partida
e finalmente iria pra casa pensar de onde eu tiraria tanto dinheiro para pagar André!

4...

“Saber encontrar a alegria na alegria dos outros, é o segredo da felicidade.”


(Georges Bernanos)

Passei o resto da noite em claro e não cheguei a nenhuma solução. Eu precisaria conseguir
mil e duzentos reais em duas semanas. Isso seria impossível de conseguir então mandei
mensagem para Aline de madrugada mesmo.
"Amiga, eu não vou ter dinheiro pra pagar o André "
"Quem é André?"
"Quem você acha que é minha filha? A propósito, como você deixa um desconhecido entrar na
loja comigo sozinha? E se fosse um serial killer ou algo assim?"
"Se ele fosse isso, você não estaria me mandando mensagem nesse exato momento. E ele era
lindo! Impossível não fazer o que ele quiser"
"Você é uma ridícula!"
"Sou nada! E fica tranquila que te ajudo a pagar e depois você devolve!"
"Você tem certeza? Não quero te atrapalhar!"
"Bom, atrapalhando já está uma hora dessas!"
"Vai à merda!"
"Tchau até amanhã."
Fiquei completamente aliviada depois que soube que Aline iria me ajudar, mas logo em
seguida percebi que ele iria ao casamento comigo! Que aquilo seria real! Sentei na cama
como se tivesse tido um pesadelo. Juntei as mãos e fiz uma oração.
-Ai Meu Deus! Permita que eu não pague tanto mico na frente dele! Ele é bonito demais pra
presenciar esse tipo de coisa. Ajude-me a ficar bonita também! Não faz sentido um homem
tão bonito ir a um casamento com um tribufu do lado! Você sabe o que é tribufu certo?
Então! Me ajude nessa vai! Obrigada! Amém!
Deitei e fiquei pensando em André. Um dia quero ser igual a ele. Confiante. Essa palavra
define ele. E delicioso! Ah, definitivamente essa define ele também. E tem gostoso! Nossa
essa com certeza define também.
André é o sonho de consumo de todas as mulheres. Loiro. Olhos azuis cor do céu. Barba por
fazer. Sorriso branco de capa de revista. Nariz lindo. Maxilar quadrado. Lábios do tamanho
ideal sem ser muito grandes ou muito pequenos. Ombros largos. Alto. Deve medir 1,90 por
aí. Braços forte. Veias aparentes nos braços. Mãos enormes. Traseiro redondinho. Coxas
fortes. E a barriga infelizmente ainda não vi, mas nem preciso sonhar muito pra saber o que
tinha embaixo daquela camiseta. E a parte principal também não vi, mas queria muito.
Tenho certeza que deve ser como ele! Imponente. Mostra pra que veio. Deve ser tudo de
bom. Juntei mais uma vez as mãos e fiz outra oração.
-Deus, permita que ele tenha pinto pequeno! Não é possível que ele não tenha nenhum
defeito e nada feio nele! Amém!
Viram como ele era um sonho de consumo? Impossível parar de pensar nele. Era questão
de honra passar esses quatro dias com ele. Eu teria que me esforçar muito pra não fazer
cagada no casamento. E me esforçar mais ainda pra não quebrar nenhuma regra. Ele deixou
bem claro que ODEIA regras quebradas. Decidida, peguei meu celular e enviei uma
mensagem para André passando o horário e o endereço onde seria o casamento. Segundos
depois ele respondeu.
"Me espere por lá! Você não vai se arrepender"
Meus dedos coçaram pra responder com uma mensagem pornográfica, mas ele estava só
cumprindo sua função, então respondi profissionalmente.
"Obrigada =)"
" ;) "
Ai Deus! Ele piscou pra mim! Coloquei o travesseiro em cima da cabeça e me forcei a
dormir.

5...

"Nada que vale a pena é fácil! Lembre-se disso!"


(Nicholas Sparks)
(André)
Oi! Meu nome é Lucas, mas no meu trabalho sou conhecido como André. Alguns dizem que
sou gigolô, outros que sou garoto de programa. Prefiro pensar que sou um acompanhante.
Você deve estar se perguntando porque trabalho com isso! A resposta é simples e objetiva:
Dinheiro!
Eu preciso dele pra concluir minha faculdade de veterinária e foi a forma mais rápida e fácil
que encontrei de fazer bastante dinheiro rápido. Você também perguntou se eu gosto dessa
vida. A resposta é não! Mas é o que tenho pra hoje! Com o dinheiro que eu ganho, consigo
pagar a minha faculdade, meu apartamento, meu carro e outros luxos. Então não tenho
muito do que reclamar.
Você também perguntou se tenho namorada. Não. Não tenho. Acho que mulher alguma
aceitaria namorar alguém com um emprego como o meu.
E se eu achar a garota certa? Aí não pensarei duas vezes antes de largar tudo e fazer ela
feliz de todas as maneiras possíveis.

Quando recebi aquela ligação, fiquei muito curioso em conhecer a dona daquela voz
desesperada. Eu não aceito serviços desse tipo, mas não aguentei de curiosidade. Algo em
sua voz me dizia que valia a pena. Quando ela confirmou o encontro fiquei eufórico. Eu sei
que ela só me procurou profissionalmente, mas eu precisava conhecê-la. Passei o resto do
dia me controlando. Eu não sei o que aconteceu, mas eu estava muito ansioso para ir à
nossa "reunião". Fiquei um bom tempo parado na frente de um Pet Shop onde era o
endereço que ela me passou. Esperei todos saírem e quando me aproximei, uma mulher me
abordou.
-Até que enfim! Ela está te esperando lá dentro.
Ela abriu a porta mais uma vez para que eu passasse. E quanto menos percebi estava
levando bolsadas na cara. Aquilo tudo foi surreal. Quando finalmente a olhei na luz acesa,
eu não acreditei no que eu estava vendo. Ela era completamente...
Espetacular.
Essa era a palavra que a definia perfeitamente.
Fomos até sua sala e tive a oportunidade de olhar seu traseiro redondinho. Ela era demais!
Ela me olhava intensamente e aquilo estava me afetando mais do que deveria. Meu cérebro
começou a apitar
PERIGO.
PERIGO.
PERIGO.
Mas eu o ignorei. Quando escutei a sua história eu vi que tinha que vazar dali o quanto
antes. Eu disse que cobrava 300 por dia e mais umas regras que uso em casos sérios. Ela
questionou, mas aceitou. Eu tinha que sair daquele lugar. Chegando no carro lembrei que
deixei a chave em cima da mesa de Nataly. Voltei rápido e a tempo de vê-la fazendo uma
dancinha da vitória. Ela se remexia de uma forma tão sexy, que aquilo fez meu pau pulsar
dentro da minha calça. Eu não consegui me segurar e fiquei tão próximo dela que senti seu
perfume. Olhei em seus lábios e por um segundo eu esqueci o motivo de estar lá. Depois
que voltei a mim e lembrei que ela só me queria ali por causa do meu trabalho, então saí de
perto dela o quanto antes.
Minha cabeça dizia que eu ia fazer merda, mas no fundo eu não estava me importando com
isso!
6...

“Por que nos conhecemos? Por que o acaso o quis? Foi porque através da distância, sem
dúvida, como dois rios que correm a unir-se, nossas inclinações particulares nos impeliram
um para o outro.”
(Gustave Flaubert)

As duas semanas seguintes passaram num piscar de olhos. Eu não tive mais notícias de
André e no fundinho do fundo eu torcia para que ele não aparecesse no casamento. Ele era
bonito demais pra acompanhar uma desastrada como eu. Todos irão perceber que tem algo
errado. Será que vão pensar que o sequestrei? Isso seria terrível de acontecer!
A vaca da Aline disse iria levar um boy que ela conheceu na academia e que era pra eu dar
um jeito de ir sozinha para a chácara. Deixei a loja nas mãos do pessoal. Eles eram de
confiança e praticamente da família, então eu poderia fazer a viagem tranquila, pois a loja
estava em boas mãos.
Nós passaríamos quatro dias na chácara, então como hoje era quarta, amanha cedo já teria
que ir pra lá. Arrumei minhas malas com toneladas de roupa de frio e de calor. Odeio passar
frio e também calor, mas pelo menos o frio eu posso diminuir com umas cinco blusas por
exemplo. Fiquei pensando em como estaria Pedro. Será que ele ainda era vaidoso ou virou
um gordo porque afogou as frustrações dele em comida?
Não, perai! Essa sou eu!
Pedro jamais faria algo do gênero. JAMAIS. Pensei também em como seria a namoradinha
dele. Será que era parecida comigo ou era completamente o oposto?
Aline disse que eu deveria me preocupar menos com Pedro e focar em me divertir na
viagem, já que faz muito tempo que não viajo. Decidi seguir o conselho dela. Tomei um
relaxante muscular, marquei a hora que eu deveria acordar amanhã e logo peguei no sono.

Acordei com a luz do sol batendo em meu rosto, mas eu não entendia como que tinha um
sol tão forte desse às seis horas da manhã. Levantei meio atordoada e olhei no relógio. Não
eram seis horas da manhã e sim dez e meia! Peguei meu celular e tinha 19 chamadas de
Aline e 32 mensagens de texto. Abri as mensagens e 31 eram de Aline me xingando e
dizendo que se eu não fosse ao casamento ela me mataria de uma forma sangrenta e
dolorosa e única mensagem diferente era de André.
"Bom dia! Acho que seria melhor chegarmos juntos ao casamento. Me passe um endereço
onde posso buscá-la! "
Eu estava tão atrasada que respondi passando o endereço de casa. Entrei no banho igual
uma desesperada e quando desliguei o chuveiro ouvi a campainha tocar.
-Não não não não nao!
Por que ele era tão rápido? Me enrolei na toalha e corri pra abrir a porta. Assim que abri
meu queixo quicou no chão. André estava de regata branca mostrando os braços com seus
músculos definidos. Ele usava um óculos escuro estilo aviador e uma bermuda cinza. Estava
simplesmente apetitoso.
-Oi! - ele falou tirando os óculos e mostrando seus olhos azuis.
-O..o..oi!
-Você está pronta?
-Sim!
-Sério?
-Sim!
-Sério mesmo que você vai assim? - ele apontou para o meu traje e começou a rir.
Olhei para a minha roupa não existente e senti minhas bochechas queimarem de vergonha.
Eu ainda estava enrolada na toalha. Completamente humilhada.
-Só um minuto!
Bati a porta e corri para o meu quarto. Assim que cheguei nele, dei meia volta, corri para a
sala e abri a porta mais uma vez. André estava parado do mesmo jeito.
-Desculpa! Esqueci que você estava aí! - ele arqueou a sobrancelha - Quer dizer... não que
tenha esquecido que você estava aí porque estava, e seria impossível esquecer você, mas
acho que você deveria entrar! Você quer entrar? Eu me troco em dois segundos.
-Obrigada! - ele mostrou seus dentes brancos sorrindo.
-Ok! Fique à vontade! - ele assentiu.
Corri mais uma vez pro quarto e vesti o primeiro vestido que encontrei. Ele era de alcinha,
florido e um palmo acima do joelho. Penteei o cabelo bem rápido, peguei minha mala e
minha bolsa. Corri para a sala e André se levantou do sofá e pegou minhas coisas. Fomos
até seu carro e ele guardou as coisas no porta malas ou sei lá o nome daquela parte de trás.
Ele tinha uma daquelas picapes caríssimas, gigantes e chiquérrimas. André me ajudou a
pisar no degrau para conseguir entrar no carro, mas quando consegui subir, senti um
ventindo fora do normal. Nessa hora eu congelei. Eu não acredito que esqueci uma coisa tão
óbvia. André fechou a porta, deu a volta e entrou no carro.
-Eu.. eu esqueci uma coisa! Preciso pegar.
Tentei descer do carro, mas era muito alto pra eu conseguir fazer isso sem mostrar minha
bunda ou cair de cara no chão.
-O que? Eu pego pra você! Está na sala?
-Não. . Não precisa... eu pego!
-Por que eu não posso pegar? Você demorou um século pra conseguir entrar no carro.
-Porque é uma coisa particular!
-Você vai pegar drogas é isso?
-Claro que não! Por que você ainda acha que sou drogada?
-Porque você age estranho às vezes.
-Às vezes? Como você diz "às vezes" se me viu somente duas vezes na sua vida?
-Exato!
-Ai Meu Deus! Você vai me ajudar a descer ou não?
-Só se você me contar o que você esqueceu.
-Você é sempre idiota assim?
-Se não é droga, não sei qual o problema em me dizer! Somos namorados esqueceu?
-Ainda não somos namorados! Somente na festa! - ele olhou para a frente.
-Calcinha. - cochichei.
-O quê?
-Calcinha! - falei mais alto e olhando para baixo.
-Você esqueceu de pegar suas calcinhas?
-EU ESQUECI DE COLOCAR UMA OK? Agora pode me ajudar a descer antes que eu mude de
idéia e não vá em porra de casamento nenhum?
-Como você conseguiu esquecer de vestir uma calcinha? - ele gargalhava.
-Que bom que te divirto!
-Me conta!
-Eu estava com pressa e esqueci! Não cometi nenhum crime ok?
-Ah, nem é nada demais!
-Você vai me ajudar ou não?
-Você pegou suas calcinhas pra viagem?
-Claro né? Não sou tão tapada!
-Então você pode esperar e colocar uma lá!
-O QUÊ???? - André deu partida no carro e travou as portas.
-Nunca andei de carro com alguém sem as roupas de baixo!
-Você não vai sair com esse carro senão te mato!
Ele soltou o freio de mão e colocou o óculos escuro.
-Ops! Tarde demais!
O carro começou a andar e eu fiquei mortificada. Respirei fundo e tentei entender porque
me enfiei nessa confusão!
Estou ferrada nessa viagem!

7...

“Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as


compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama
verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil.”
(Clarice Lispector)

Durante o caminho eu pensei em uma coisa que não tinha pensado antes. E se ele fosse um
maluco assassino que se dizia acompanhante? Como eu estava atrasada, simplesmente
entrei em seu carro e pronto. Senti meu estômago revirar. Olhei pela janela e depois para
ele. André era grande e forte e aquele carro combinava perfeitamente com ele.
Estranho né?
Ele cantarolava a música que estava tocando no rádio sem ao menos lembrar que eu estava
ali.
Aí Meu Deus! Eu era uma refém?
Comecei a ficar inquieta no banco. O carro estava andando a 120km por hora, então pular
estava fora de cogitação. Olhei mais uma vez para ele que sorriu. Que porra é essa? Ele
estava se divertindo ao ver que descobri seu plano?
-Nataly, relaxa ok? Não sou nada do que está pensando. Então pode ficar tranquila.
-Eu falei alguma coisa em voz alta? -perguntei chocada.
-Não, mas você já está agindo estranho mais uma vez!
-Não estou não!
-É por que está sem calcinha? - seu sorriso aumentou.
-Eu não estou fazendo nada ok? E não é muito agradável estar em um carro estranho, com
um estranho, sem calcinha!
-Sabe que pra mim é muito divertido?
-Você é estranho!- ele olhou para mim e tirou o óculos escuro.
-Por que você acha isso?
-Porque você é bonito demais pra trabalhar com algo desse gênero. Simpático demais pra
ser uma pessoa normal. Silencioso demais dentro de um carro! Acho que você é um
maníaco sexual e que entrei em uma enrascada ao te contar que esqueci minha calcinha!
Mas você me obrigou a contar então não é justo!
-Jura que você acha que sou um maníaco sexual? - ele gargalhou.
-Qual a graça?
-É que você acertou!
-O QUÊ???? PARA ESSE CARRO AGORAAA!
Soltei meu cinto e comecei a esbofetear ele todo. André parou no acostamento e tentou se
defender. Ele segurou minhas mãos e continuava com um sorriso enorme em seu rosto
prefeito.
-Calma! Calma!
Eu já estava cansada porque sou sedentária e isso foi em esforço e tanto. Me afastei dele e
tentei abrir a porta, mas ele a puxou na mesma hora e a fechou ficando debruçado em cima
de mim. Seu rosto estava a poucos centímetros do meu e ele era ainda mais perfeito de
perto. Seus olhos azuis me fitavam e a única coisa que consegui fazer foi parar de respirar.
-Eu não sou um maníaco. Eu não sou maníaco sexual. Se eu gosto de sexo? Ah eu amo! De
todas as formas! Mas não sou esse louco que você está pensando. Entendeu?
Concordei com a cabeça.
-Me diz em que momento faltei respeito com você? Em que momento fiquei olhando suas
pernas, seus seios e sua bunda? Em que momento eu passei a mão em você?
-Vo..vo..você não fez nada disso...
-Exato! Por que você não é meu tipo! Estou aqui a trabalho, então deixe eu fazer meu
trabalho!
-Ok.. -minha voz saiu num sussurro - Você pode pegar minha bolsa que você colocou lá trás
por favor?
-Claro!
André olhou para a minha boca mais uma vez e se afastou descendo do carro. Ele foi muito
cruel. Não precisava falar daquela maneira. Por que eu não era o tipo dele? Simples. Porque
eu não sou o tipo de homens bonitos. As lágrimas queimaram meus olhos por ter sido tão
rejeitada. Mas o que eu esperava? Que um homem lindo desse se interessasse por mim? Eu
era mesmo uma piada. Eu estava indo com um acompanhante pago a um casamento
somente para mostrar ao meu ex que eu estava bem sem ele. Não tinha como ser mais
patética!
André entrou no carro e entregou minha bolsa. Abri, peguei meu óculos escuro, coloquei e
rezei para que eu não fosse uma molenga e chorasse na frente dele. André deu partida no
carro e eu permaneci em silêncio. Voltamos para a estrada, mas dessa vez ele também
estava em silêncio sem cantarolar.
-Você está bem? - ele perguntou m tempo depois.
-Sim. - respondi sem olhar para ele.
-Eu não quis dizer aquilo daquela forma, acho que me expressei mal.
-Não importa mais!
Falei encerrando o assunto. Eu sei que ele disse exatamente o que queria dizer. Não quero
que ele tente mudar o que falou só para eu me sentir melhor.
-Nataly..
Ele começou a falar e aumentei o volume do rádio para cobrir a sua voz. Eu não queria
conversar sobre isso e sobre nada no momento. André não tentou me chamar mais ou eu
não escutei. Passamos o resto da viagem e um silêncio e eu fiquei perdida em pensamentos
chatos.
8...

“Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta
nosso edifício inteiro.”
(Clarice Lispector)

Quando estávamos chegando perto da chácara, André parou em um posto de gasolina e


pediu que eu aguardasse no carro. Um tempo depois ele voltou com um pedaço de torta de
morango e um salgadinho de saquinho.
-Você precisa experimentar essa torta! Ela é surreal! E já vou te avisando: você nunca mais
vai encontrar outra igual!
-O que ela tem de tão especial?
-Você vai ter que comer pra saber! - olhei para ele desconfiada.
-Você cuspiu na torta? - ele gargalhou.
-Claro que não! Você acha que eu ia estragar algo tão saboroso com um cuspe?
-Vai saber né?!
Ele tirou a colher do saquinho e abriu a embalagem da torta. Pegou uma colherada e
colocou na minha boca. Assim que senti o sabor fechei os olhos. Ela era magnificamente
divina.
-AI MEU DEU!
-Não falei?
-Isso é feito de que senhor?
-Eu não faço a mínima idéia, mas você precisava comer ela!
Ele me deu outra colherada e mastiguei devagar para sentir todo o sabor.
-Hummmm. Isso é melhor do que um orgasmo André! - falei de olhos fechados.
-Isso porque você não fez sexo comigo.
Abri os olhos e encarei ele.
-Você sempre se acha assim?
-Eu não me acho! Só estou sendo realista!
-Que seja!
-Come logo essa torta antes que eu mude de idéia e coma sozinho!
-Se você tentar pegar a torta, nós iremos ter uma briga muito feia!
Ele gargalhou e deu partida no carro. Dei duas colheradas para André, mas só pra ele achar
que eu não sou mesquinha. Se tem uma coisa que vocês precisam saber sobre mim, é que
eu não divido comida! Pronto falei!

Trinta minutos depois, chegamos à chácara. O lugar era absolutamente maravilhoso. André
estacionou o carro onde estavam os outros carros, desceu do carro e me ajudou a descer.
Ele segurou em minha cintura enquanto eu deslizava até o chão. Segurei em seus ombros e
cochichei em seus ouvido.
-Posso por uma calcinha agora? - ele gargalhou.
-Pode!
André segurou em minha mão e abriu a parte de trás da picape. Abri o bolso lateral da
minha mala e peguei a primeira calcinha que consegui. Ela era de renda preta, fio dental e
completamente minúscula.
-Se for pra por uma coisa tão pequena dessa era melhor ficar sem!
-Vai à merda!
Me apoiei na picape e passei uma perna e depois a outra na calcinha e por fim a vesti. O
alívio foi imediato. Suspirei e André deu risada.
-Onde que entra?
-O quê? O que... que.. entra o que?
-Na casa! – ele começou a rir.
-Ah...Eu não sei.
Olhamos a redor e vimos que depois da cerca, tinha uma casa imensa, mas eu não sabia
onde era a entrada principal. André pegou as malas e começamos a andar. Ele segurou
minha mão mais uma vez. A dele era gigante então cobria quase a minha toda. Ele
entrelaçou os dedos nos meus e percebi o quanto eu sentia falta de um gesto daquele.
Demos a volta na casa enorme. Era tinha três andares e varanda ao redor da casa em todos
eles.
-Esse lugar é maravilhoso! - André falou tão surpreso quanto eu.
-Não é à toa que fazem casamentos aqui!
-Verdade!
Ultrapassamos a lateral da casa e avistamos a piscina lotada. As meninas começaram a
gritar quando me viram, mas ficaram em silêncio ao ver André. Uma delas até parou com a
mão para cima. André olhou para mim e deu risada. Levou minha mão à sua boca e deu um
beijo nela. Me derreti toda. Aline veio correndo em nossa direção e a empurrei porque ela
estava encharcada.
-Eaí? -ela perguntou a André.
-Tudo bem? – Andre respondeu.
-Ohh se tá! Vão se trocar pra entrar na piscina com a gente!
-Cadê a Thais?
-Ah, ela deve estar dormindo ainda! Não faz nada mesmo!
-Quero só ver depois que casar! -gargalhamos.
-Bom, vou entrar! A Solange está lá?
-Tá sim! A mãe da noiva é a que não para nunca!
-Certeza!
Olhei para a piscina e vi todas as meninas cochichando e os rapazes estavam de cara feia.
André olhou para mim e sorriu. Aline voltou para a piscina enquanto André e eu fomos em
direção à porta da casa. Entramos e ao mesmo tempo Solange estava saindo da cozinha.
-Natiiiiiiii! Quanto tempo! -ela me abraçou e olhou para André.
Ela me empurrou pelos ombros e abraçou André. Se afastou e olhou para ele.
-Quem é esse rapaz lindo Nati?
-Sou André! O namorado da Nataly!
-Seja bem vindo à família!
-Muito obrigada! - ele sorriu.
-Mandou bem hein? Nunca fui com a cara azeda de Pedro! Mas esse aqui tá de parabéns!
Dei risada completamente sem graça. André ria e parecia estar se divertindo com a minha
desgraça.
-Eu não sabia que você vinha tão bem acompanhada, então separei um quarto de solteira
pra você! Mas se quiser posso tentar trocar.
-Pra mim está ótimo do jeito que está! A gente adora dormir juntos.
André passou o braço ao redor do meu pescoço e beijou o topo da minha cabeça. Passei o
meu braço por trás de André e me aproveitei do momento e coloquei a mão dentro do bolso
de sua bermuda e apertei seu traseiro redondinho.
-Vocês ficam lindos juntos! Mas vão lá se trocar! Aproveitem a piscina! Jajá começamos o
churrasco. O quarto de vocês fica na terceira porta à esquerda.
-Obrigada!
Solange nos abraçou mais uma vez e voltou para a cozinha. André só ria. Subimos as
escadas e fomos até o quarto que ela indicou. Ele era maravilhoso. Tinha papel de parede
com estampas florais, mas nada muito exagerado.
-Vou pegar minha bolsa que esqueci lá embaixo. Já volto!
-Tá bom Ná!
Ninguém nunca me chamou dessa maneira. Sorri para ele, abri a porta e fui até onde deixei
minha bolsa. Quando subi a escada, dei de cara com Pedro. Minhas pernas tremeram de
nervoso. Olhei para ele e por incrível que pareça, ele não me afetou como imaginei que
aconteceria.
-Nataly?
-O..oi!
-Como você está?
-Não poderia estar melhor!
-Você parece realmente bem!
-É porque estou bem!
-E o trabalho como está indo?
-Bem também!
Subi a escada devagar e passei por Pedro. Aquilo estava estranho demais!
-Olha... eu sinto muito pela forma que tudo aconteceu! Eu sei que agi como um moleque,
mas no momento achei que fosse certo! Eu...
André abriu a porta do quarto e deu de cara com nós dois. Ele olhou para mim e deve ter
visto a cara de desespero que eu estava, pois veio em minha direção, me abraçou por trás e
estendeu a mão para Pedro.
-André!
Pedro olhou a mão estendida de André por um tempo antes de apertá-la.
-Pedro! Acho que já ouviu falar de mim!
-Hum... acho que não!
Pedro fez a cara mais horrível que já vi! Eu tive que me controlar MUITO pra não rir.
-Eu sou o ex noivo de Nataly!
-Ah é ele? - André perguntou para mim e concordei com a cabeça. -Então muito prazer cara!
Só tenho a agradecer por ter saído fora! Você não sabe como me sinto sortudo em ter ela
comigo!
Pedro o encarava sem piscar. André permaneceu sorrindo e eu virei de frente para André e
escondi meu rosto em seu peito musculoso.
-Eu... é...
André levantou meu rosto e colocou seus lábios nos meus. Eles eram mais macios que tinha
imaginado.
-Eu vou... vou descer.. - Pedro falou completamente encabulado.
André fez um sinal de positivo para ele, segurou em minha cintura e me levantou com a
maior facilidade do mundo. Entrelacei as pernas ao redor de sua cintura e ele me prensou
contra a parede. Sua língua quente encostou na minha e tinha sabor de morango. Sua língua
brincava com a minha de forma tão erótica que eu não queria interromper aquele beijo
nunca mais. André abriu a porta do quarto e soltou o peso do meu corpo até que meus pés
tocassem o chão. Ele me olhava sério. Tirou um fio de cabelo que estava em minha testa e
me deu mais um selinho.
-Acho que ele viu que você está bem! – André falou em um sussurro.
Eu sentia seu hálito em meu rosto. Palavras fugiram da minha boca assim que seus lábios
tocaram os meus no corredor. Olhei para sua boca mais uma vez e ele falou de repente.
-Eu vou tomar banho! Te encontro lá embaixo!
André pegou a toalha na cama e foi para o banheiro batendo a porta e me deixando
plantada no meio do quarto igual um cacto.

9...

“A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai.”


(Luis Fernando Verissimo)

Fiquei parada no mesmo lugar por um tempo. Não entendi muito bem a reação de André e
nem a intensidade daquele beijo. Escutei o barulho do chuveiro sendo ligado, então saí do
transe. Fui até minha mala, procurei meu biquíni e me troquei. Vesti uma camiseta por
cima, e chinelos. Abri a porta do quarto e coloquei a cabeça pra fora espiando pra ver se
Pedro não estava passando por ali. A barra estava limpa, então desci as escadas com
cuidado para não cair.
Cheguei na área da piscina e fiquei olhando aquele monte de gente que eu nunca vi na vida.
As meninas que estavam antes na piscina, agora estavam estiradas no sol com seus biquínis
minúsculos. Olhei ao redor e vi Aline conversando com seu boy. Fui até eles e me sentei no
chão.
-Cadê seu amado?
-Ele está tomando banho.
-O que aconteceu?
-Nada!
-Me fala!
-Nada!
-Nada o cacete. Me fala.
-Ele me beijou. E muito bem beijado! -cochichei.
-Mas não é isso que namorados fazem? - Luiz perguntou.
-Claro que é! - respondi envergonhada.
-Você não quer pegar alguma coisa pra gente beber Lu? - Aline perguntou a ele que saiu de
perto logo em seguida.
-Então. .. Depois que já estávamos no quarto, lembrei que minha bolsa ficou aqui em baixo,
aí desci pra pegar. Quando eu estava subindo a escada encontrei Pedro.
-Nãooooooo!
-Sim! Ele ficou falando com eu estou bem e blá blá, aí André apareceu e se apresentou a ele.
Agradeceu por ele ter me dado um pé na bunda e me beijou. No começo ele só encostou os
lábios nos meus, mas de repente ele me levantou pela cintura e eu estava com as pernas ao
redor da cintura dele Li! O beijou foi ficando mais intenso e ele abriu a porta do quarto e me
ajudou as descer. Eu tenho quase certeza absoluta que ele restava. . Sabe?.. com o negócio...
-De pau duro?
-Isso! Aí ele me soltou e entrou no banho.
Aline me olhava sem responder nada. Ela olhou para o lado e arregalou os olhos olhando
fixamente para um lugar. Eu estava mais preocupada com a nossa conversa então nem
olhei pra mesma direção que a dela.
-Você ouviu o que acabei de falar?
-Uhum.
-Então responde porra!
-Agora não!
-O quê?
Finalmente olhei para o mesmo lugar que Aline olhava e fiquei da mesma forma que a dela.
Minha boca ficou aberta com a visão à minha frente e tive uma pequena impressão de que
uma baba escorreu de minha boca. André era deliciosamente gostoso. Ele estava somente
com uma bermuda preta e nada mais. Seu abdômen era tão definido que eu queria passar o
dedo em todos os quadradinhos. A bermuda se encaixa perfeitamente em seu quadril que
tinha aquele maravilhoso V.
Ok! Aquilo era sexy demais!
Ele olhou para mim e sorriu. Sorri igual uma idiota de volta.
-Nati.. acho que eu tive um orgasmo só de olhar pra ele.
-Acho que eu também.
André se aproximou de nós e se sentou do meu lado. Aline estava com os olhos vidrados e
eu ainda estava sorrindo. Ele franziu a sobrancelha.
-Está tudo bem? Você tá esquisita de novo!
-Está tudo ótimo!
Ele sorriu em resposta.
-O que vocês acham de dar um mergulho? Eu estou com calor! Muito calor! Vocês não estão
entendendo de quanto calor estou sentindo agora! Você me entende né Nati?
-Oh! Está muito calor mesmo!
-Vocês estão bem? - André perguntou desconfiado.
Aline negou com a cabeça, levantou e saiu correndo até pular na piscina. André me olhou
esperando que eu respondesse.
-Sim!
-Sim o que?
-Estamos bem!
-Por que você está falando igual um robô?
-Não estou não! - comecei a suar frio.
-Me fala Ná!
Sua voz rouca entrou em meus ouvidos dando um choque de excitação por todo meu corpo.
Fechei os olhos e suspirei.
-
Équevocêémuitogostosodeumaformaqueeununcaimagineiqueseriaeessasuatatuagemémuit
oexcitanteemedeuamaiorvontadedeverorestoeissoãoécerto!
Respondi rápido enquanto tirava a camiseta. André me olhou mais confuso ainda e a única
coisa que consegui fazer foi correr para a piscina também.

10...

“A única maneira de nos livrarmos da tentação é ceder-lhe.”


(Oscar Wilde)

(André)
Quando Nataly me falou que aquele cara era Pedro, eu queria socar e abraçar ele ao mesmo
tempo. Se ele não tivesse dado um pé naquela bunda linda dela, eu jamais a teria conhecido.
A forma que ele olhava para ela me deu raiva. Como ele se atrevia olhar para ela como se a
estivesse comendo por pensamentos, se foi ele quem decidiu que não a queria mais?
Não sei o que houve comigo, mas quando percebi eu estava pressionando ela contra a
parede e a beijando de uma forma que nunca beijei ou fui beijado. Entrei com ela no quarto
e um momento de lucidez me fez ver a merda que eu estava fazendo. A soltei devagar para
que não caísse e fui direto tomar um banho gelado. Meu pau estava latejando por ela, mas
lembrei que ela só me queria ali por conta do meu trabalho, e era isso que ia ser feito. Meu
trabalho!
Quando a procurei na piscina e a vi conversando sua amiga, ela estava concentrada e com
cara de brava. Ela era linda! As outras mulheres que estavam lá, era bonitas também, mas
Nataly tinha uma beleza difícil de ser encontrada, e seu jeito esquisito de ser estava me
deixando louco. Perguntei a ela se elas estavam bem e ela desembestou a falar tão rápido
que foi impossível entender uma palavra sequer. Ela tirou a camiseta e correu em direção
da piscina. Eu queria ir até ela, mas depois que a vi só de biquíni, seria meio desagradável
levantar e todo mundo me ver de pau duro. Então optei por ficar sentado e observá-la de
onde eu estava.
Olhei ao redor e vi Pedro fazendo a mesma coisa. Uma garota que estava ao seu lado falava
sem parar, mas ele não dava a mínima atenção à ela. Ele somente olhava Nataly na água.
Olhei para ela mais uma vez e ela olhou pra mim. Sorri pra ela que sorriu de volta. Aquilo se
tornou uma mania. Eu nunca sorria pra ninguém, mas ela conseguia fazer eu me sentir tão
bem e tão eu mesmo que era assustador. Nem mesmo com minha ex-namorada eu me
sentia assim. E depois que ela descobriu meu trabalho e me deu um belo pé na bunda,
sorrir se tornou mais raro ainda.
Enquanto estava perdido em meus pensamentos, Pedro entrou na piscina e começou assim
jogar água em Nataly. O sangue ferveu em minhas veias. Ela olhou para mim com aquela
cara de desespero que sempre fazia e vi que era a hora de mostrar mais uma vez o porquê
de eu estar ali.
11...

“Lamentar uma dor passada, no presente, é criar outra dor e sofrer novamente.”
(William Shakespeare)

Quando Pedro entrou na piscina, entrei em desespero. Eu não sabia mais como agir com
ele. Ele me olhava como um predador e aquilo era assustador demais. Ele começou a de
aproximar e olhei para André pedindo socorro e ele entendeu na hora, pois veio até mim.
Ele deu um mergulho na piscina e levantou a centímetros do meu corpo. Seus rosto pingava
água o deixando mais sexy ainda. Seus cabelos estavam em sua testa e ele passou a mão
para tirar.
-Oi!
-O..oi!
André olhou para Pedro que estava com a maior cara de cocô do universo.
-É aí mano? Beleza? Acho melhor você ir falar com a sua mina cara! Ela tá de cara feia! -
André falou para Pedro.
Pedro fez cara de cu sem lavar e saiu da piscina. Olhei ao redor e vi Aline indo tomar sol
com Luiz. André me encarava com seus olhos azuis que me tiravam o fôlego. Ele segurava
com força em minha cintura com as duas mãos.
-Posso te perguntar uma coisa?
-Já foi uma pergunta!
-Mais duas então?
-Sim.
-Eu ainda não entendi porque você gagueja quando fala comigo.
-Isso não é uma pergunta!
-Eu sei, mas você pode responder?
-Eu já expliquei.
-Sim, por isso eu disse que não entendi.
Abri a boca para responder e André grudou seus lábios nos meus. Ele se afastou e eu
continuei de olhos fechados. Abri um e depois o outro e vi André sorrindo para mim.
-O que foi isso?
-Pedro estava nos olhando.
-Ah. - fiquei decepcionada com a resposta.
-Então? Vai responder minha pergunta?
-É que quando eu fico ansiosa falo assim.
-E por que você estava ansiosa?
-Porque Deus quis!
Me afastei de seus olhos penetrantes e enfiei a cabeça embaixo da água. Abri meus olhos e
vi a barriga deliciosa de André e voltei à superfície o quanto antes. Comecei a tossir e
respirar rápido.
-Você está bem?
-Você pode vestir uma camiseta?
-O quê?
-Sim!
-Não estou te entendendo Ná!
-Camiseta. - Eu respirava com dificuldade.
-Você quer a sua camiseta?
-Não! Você!
-Eu não quero uma camiseta!
-Porra!
-Você não está fazendo muito sentido agora!
-Eu... perguntei. .. se você pode vestir uma camiseta.
-Por que?
-Porquevocêémuitogostosoevouteagarraraquaalquermomento!
Mergulhei mais uma vez só que para o lado oposto dessa vez. Voltei à superfície e apoiei os
braços na beira da piscina de costas para André. Em segundos senti seu corpo encostando-
se ao meu.
-Você não sabe como sua resposta me fez feliz agora!
Ele encostou seu membro duro na minha bunda e fechei os olhos para não demonstrar
como gostei daquilo. André beijou meu ombro e se afastou. Gemi de frustração e virei para
ele.
-Pedro viu e entrou na casa. - André se explicou.
Fiquei séria. Ele ficou me olhando esperando que eu dissesse alguma coisa, mas eu não
disse. Saí da piscina e ele veio atrás de mim. Segurou minha mão e me puxou para ele.
-Porque você está fazendo isso? - perguntei tentando não levantar o tom de voz.
-Você me contratou pra isso!
-Mas você está agindo estranho.
-Nataly, não esqueça das regras. Estou normal.
-As regras?
-Sim.
-Então você está fazendo tudo isso pra eu quebrar uma das regras?
-De forma alguma.
-Então por que está fazendo isso?
-Porque você me contratou pra isso!
-É tudo encenação? Tudo fingimento?
Ele ficou em silêncio.
Afastei-me dele tentando manter a compostura e peguei minha camiseta do chão. Sorri
para ele e fui em direção da casa. Escutei-o me chamando, mas fingi não ouvir. Subi as
escadas correndo e entrei no quarto com muita raiva. André era muito bom ator, ou eu que
fui uma imbecil em achar que havia algo diferente. Comecei a tirar as roupas da mala e
André entrou no quarto.
-Nataly...
Tirei o envelope com o dinheiro da mala e entreguei para André.
-Aqui está seu pagamento! Você está fazendo um ótimo trabalho! Parabéns!
Joguei o envelope nele, forcei um sorriso e André me olhou de cara feia. Peguei minha
toalha na cama e fui para o banheiro. Fiquei apoiada na porta e não escutei nenhum som
vindo do quarto. Liguei o chuveiro e deixei minha frustração ir embora com a água quente.
Ao terminar o banho, lembrei que não peguei roupa alguma na hora da raiva. Abri a porta
do banheiro devagar e espiei dentro do quarto. André não estava lá. Saí nas pontas no pé e
fui até minha mala. Olhei para cama e as coisas de André estavam iguais. Pelo visto, ele saiu
assim que entrei no banheiro. Separei um short e uma regata branca. Desembaracei meus
cabelos e tirei a toalha, vesti uma calcinha e um top. Quando peguei o short para vestir
André abriu a porta com tudo. Ele fechou a porta atrás dele e passou por mim. Foi até sua
mala e separou uma camiseta branca, uma cueca preta e uma bermuda estampada. Eu
estava parada em choque porque ele não tenha me olhado uma só vez. Peguei meu short e
vesti. André tirou o dele. Ele usava uma cueca branca que estava transparente por causa da
água da piscina. Eu não conseguia me mexer. André era perfeito.
Peguei minha regata quando passei ela pela cabeça André estava de costas para mim e
simplesmente abaixou a cueca. Meus olhos arregalaram tanto que até doeu. O traseiro dele
era muito mais redondinho e bonito do que eu tinha imaginado. A minha regata ficou presa
na minha cabeça e André vestiu a outra cueca e o resto da roupa enquanto eu tentava me
livrar da regata. André entrou no banheiro e fechou a porta. Quando finalmente consegui
me vestir bateram na porta.
-PODE ENTRAR!- gritei.
Thais entrou dando pulinhos e gritamos ao nos ver!
-Amigaaaaa!
Nos nós abraçamos um bom tempo.
-Nem sei como agradecer por ter vindo! Achei que você não viesse por causa de Pedro, mas
estou muito feliz que tenha vindo!
-Pedro é passado!
-Será? Ele perguntou se você viria e queria saber detalhes de como você estava!
-Pedro não me afeta mais! Eu achei que eu ficaria toda estranha, com saudade, mas isso não
aconteceu.
-Por que você está cochichando? - Thais perguntou.
Abri a boca para responder e André abriu a porta do banheiro. Olhou para Thais e sorriu.
Thais arregalou os olhos e olhou para mim.
-Oi! Sou Thais! A noiva!
-Prazer! André! Parabéns pelo casamento!
-Obrigada!
Escutei Thais suspirando baixinho. Todas as mulheres que conheci têm a mesma reação ao
ver André. Revirei os olhos.
-O churrasco já começou! Espero vocês dois lá embaixo!
Thais saiu do quarto e fechou a porta. André e eu ficamos em um silêncio ensurdecedor.
-Vamos! Estão nos esperando! - André falou.
-Pode ir! Daqui a pouco estou descendo!
Ele assentiu e saiu do quarto em silêncio. Passei uma maquiagem leve, penteei o cabelo
mais uma vez, coloquei minha máscara de feliz e fui em direção ao churrasco.

12...

“O ciúmes é uma parada engraçada. O cara não se importa da garota ser dele ou não. O que
ele faz questão, é que ela não seja de ninguém.”
(Soulstripper)

Assim que desci a escada já era possível escutar a música alta e o falatório. Encontrei com
Rafael o noivo no meio do caminho e o cumprimentei.
-Oi Nati!
-Oi Rafa! Parabéns! Esse lugar é maravilhoso!
-Obrigada Nati! Ainda bem que você veio! Achei que ficaria um clima estranho com Pedro,
mas já fiquei sabendo que você superou muito bem!
-É. .. Pedro é passado pra mim!
-Bom saber! Conheci André! O cara é firmeza hein?
-Ah, ele é um amor de pessoa!
-Onde vocês se conheceram? A Tha nem sabia dele!
-Ah.. nós conhecemos na minha loja.
Rafael me olhou com uma cara estranha e sorriu.
-Legal! Bom, vou dar uma volta por aí! Fique à vontade!
-Já estou! - dei risada.
Fui atrás de Aline e encontrei uma rodinha de pessoas conversando. Obviamente André
estava no meio. A parte lateral da casa tinha a piscina e mais uma parte coberta onde
tinham a churrasqueira, mesas, pia, fogão, banheiro. Parecia uma mini casa do lado de fora.
Me aproximei devagar da rodinha de pessoas e André simplesmente me ignorou. Revirei os
olhos e fui na geladeira pegar alguma coisa pra beber. Lá só tinha cerveja, e nunca fui muito
fã de cerveja, então decidi ir para cozinha da casa de verdade procurar alguma coisa pra
fazer uma batida.
A casa estava vazia, então só tinha eu nela. Entrei na cozinha e procurei nos armários
alguma coisa. Encontrei pêssego em caldas e leite condensado. Coloquei as coisas na pia
abri a geladeira à procura de vinho. Quando fechei a porta tomei um baixa susto. Pedro
estava parado atrás dela igual aqueles serial killers de filme.
-Jesus! Que susto! -coloquei a mão no coração.
-Desculpa Nati... não foi a intenção.
-Está tudo bem.
Olhei ao redor pensando onde eu poderia encontrar um liquidificador. Pedro foi até um
armário, tirou o liquidificador de dentro e o colocou na pia.
-Eu vi quando você saiu e já imaginava que ia inventar alguma coisa pra beber. Você nunca
foi fã de cerveja.
-Pois é. ..
-Deixa que eu faço pra você!
Por que ele estava tão esquisito e agindo dessa maneira? Por que ele não ia cuidar da
namorada dele e me deixava em paz?
-Não precisa!
-Eu insisto! Você nunca se deu muito bem na cozinha!
Fechei os olhos e suspirei. Se tem uma coisa que eu odeia é alguém achar que não tenho
capacidade pra fazer tal coisa. Arranquei o leite condensado de sua mão e o coloquei de
volta na pia.
-Se eu disse que não precisa, é porque não precisa! Eu não me dava bem na cozinha! Hoje
sou outra pessoa! Outra! Então pare de agir como se me conhecesse a anos porque não sou
mais aquela idiota que você namorou!
Pedro me olhou de olhos arregalados. Eu nunca fui grosseira com ele em todo o nosso
tempo de namoro. Sempre deixei ele fazer o que quisesse pra não causar brigas e hoje
percebo como fui idiota.
-Eu só queria te ajudar Nataly!
-Ela disse que não quer sua ajuda! Você ainda não entendeu isso cara?
A voz grave de André atrás de mim deu até um arrepio. Pedro ficou sem graça, mas não
abaixou a guarda.
-Eu estava ajudando a Nati porque você estava ocupado demais deixando ela sozinha.
O que? Que porra é essa agora?
-Eu estava ocupado demais distraindo a sua namorada pra ela não vir até aqui e ver essa
sua cena deprimente! Sério cara! Você não entendeu ainda que eu e a Ná estamos juntos?
Por que não se preocupa com a sua namorada e deixa a minha em paz? A sua chance já
passou!
Pedro ficou vermelho de raiva. Jogou a cerveja dele no chão e saiu pisando duro. Olhei para
André que me olhava sem expressão. Ele estava muito diferente de quando o conheci.
-Se precisar de alguma coisa é só me chamar!
Concordei com a cabeça e André desapareceu da minha visão. Olhei na pia e decidi que
precisava encher a cara.
De espanhola!
Coloquei tudo dentro do liquidificador e a garrafa toda de vinho. Bati por um tempo e
tcharam! Estava pronta. Procurei por uma taça, mas encontrei umas canecas enormes de
chopp e peguei duas. Despejei o líquido nas canecas e o que restou coloquei na geladeira.
Tomei um gole enorme. Nunca me dei bem na cozinha? Chupa essa Pedro! Posso viver de
espanhola certo?
Fui para fora da casa mais uma vez, só que do lado oposto do pessoal. Eu precisava de
silêncio agora. Continuei andando na grama verde até perceber que o som ficou baixo o
suficiente. Respirei fundo o cheirinho de mato. Sentei-me em baixo de árvore enorme que
me cobria do sol. Olhei a paisagem e sorri. Eu estava feliz por Thais ter encontrado o
homem de sua vida. Alguém que compartilhava tudo com ela, que a fazia feliz. Ela já
quebrou muito a cara com seus namoros antigos, e saber que agora daria finalmente certo
era confortante. Se ela teve sua chance, eu também terei a minha, certo?
É o que espero.
Tomei mais um golão da batida e continuei a admirar a vista perdida em pensamentos.

Eu já havia terminado as canecas e estava ligeiramente tonta. Sempre fui fraca apara
bebidas, principalmente de estômago vazio. Escutei um barulho na grama e vi André se
aproximando. Ele se sentou ao meu lado. Olhei para ele e sorri.
-Te procurei por todos os lados. - André falou baixou.
-Aqui tem mais silêncio.
-Bem melhor.
-Uhum..
Ficamos um tempo em silêncio. Eu pensava em tudo e nada ao mesmo tempo. André virou a
cabeça pra me olhar, mas eu não conseguia fazer o mesmo. A minha cabeça estava pesando
trezentos quilos.
-Como você está se sentindo?
-Um tikinho tonta?
-Isso é você quem tem que saber!
-O quê?
-Ai Meu Deus!
André começou a gargalhar, mas eu fiquei sem entender o porquê.
-Quanto você bebeu? - ele perguntou.
-Duas canecas.
-Tinha muito vinho?
-Uhum.
-Entendi.
Ficamos em silêncio mais uma vez. Olhei para André que admirava a vista e olhei para a
frente mais uma vez.
-É tudo perfeito aqui né? – falei.
-É sim!
Senti seus olhos em mim. Virei o rosto para ele que me olhava sério.
-Me desculpe por antes. Eu viajei. Achei que a gente...
-Está tudo bem Ná! - ele me interrompeu.
-Ok.
André segurou minha mão. Olhei para baixo e percebi como a mão dele cobria a minha.
-Aquele Pedro é um otário! - André falou com raiva.
-É.. é sim...
-Como você namorou ele?
-Essa é uma pergunta que estou me fazendo desde que cheguei aqui.
-Achei que ainda gostasse dele.
-Eu também. Mas pude ver que tem outros por aí. Melhores, mais sinceros, bonitos. - olhei
para ele que me fitava.
-Ah é? E você percebeu tudo isso em poucas horas?
-Sim. Foi o suficiente. Sabe... muitas vezes nos sentimos atraídas por alguém que não está
nem ai pra você. Às vezes criamos algo na nossa cabeça, mas na realidade a pessoa está te
dando todas as dicas e te mostrando que não acha o mesmo que você, que não sente a
mesma atração por você! Mas a gente é tão idiota que insiste mesmo assim! Mas eu não vou
fazer mais isso sabe? Não é justo comigo. Idaí se meu destino for ser pra sempre a dama de
honra de todos os casamentos e não ter o meu? Idaí se eu ficar sozinha pra sempre? E se eu
demorar pra encontrar alguém que me mereça? Está tudo bem também. Tudo o que temos
que fazer é nos ligar nas dicas que o outro mostra. E isso é o que mais conta pra mim.
Depois que Pedro me deu um pé na bunda, eu fiquei sentindo dó de mim mesma por muito
tempo! Mas agora percebo que alguém que me merece deve estar por aí. Ou não! Que seja!
Eu posso ser a tia louca dos gatos. Pra mim está bom também! Acho que tô meio bêbada!
André me olhava em silêncio. Não tirou seus olhos azuis de cima de mim um segundo
sequer.
-Você é muito lindo sabia?
Ele continuou sério me olhando.
-Sabe.. essa é a hora em que você agradece!
Ele ainda me olhava em silêncio. Esperei por uma resposta que não veio, então me injuriei.
-Foda-se você!
Peguei minhas canecas do chão e deixei André sentado ali, fazendo parte da árvore. Ele
ficou tão quieto que por um momento imaginei que ele já tinha criado raízes também.
Voltei para o churrasco e larguei André pra trás. Tá pra nascer um cara mais lerdo que ele.
Acho que se eu o beijasse, ele não iria entender mesmo assim. Tão bonito e tão lerdinho.
Uma pena.
Pedro me viu chegando e já olhou ao redor a procura de André, mas como ele virou raiz da
árvore, não estava comigo. Pedro se aproximou e só olhei pra cara dele.
-O que foi? Por que tá me olhando assim? - ele perguntou.
-Qual é a porra do seu problema? - ele me olhou espantado. Eu não xingava na sua
presença.
-O que aconteceu com você Nati? Você está muito diferente, agressiva. Aquele cara estragou
você!
-Eu perguntei qual é o seu problema! Por que você está me perseguindo agora? Foi você
que me deu um pé na bunda seu imbecil! Qual o sentido de ficar atrás de mim aqui? É pra
me humilhar mais uma vez? Ou você quer me enrolar pra me dar um pé no meio da festa do
casamento?
-Não é nada disso Nati, eu...
-Nunca nada é o que é! Você acha que é e no fim o que acontece? Não é! Sabe que eu cansei
desse é não é?
-Eu não entendi uma palavra que você falou agora!
-Claro que não! Você nunca entende! Cadê sua namorada?
-Ela foi embora!
-Jura? Será que ela finalmente se tocou que você é um imbecil?
-A mãe dela caiu e ela teve que ir pro hospital!
-E você deixou ela ir sozinha???
-Fala baixo!
-Eu falo do jeito que EU QUISER! A boca é minha, a voz também é minha então vai à merda!
Pedro ficou de boca aberta e as pessoas que ouviram também. Fiquei esperando ele
responder, mas acho que ele estava tão em choque que não conseguiu formular resposta
alguma. Entrei na casa e fui para a cozinha pegar o resto da minha batida. Enchi minhas
canecas e fui para o meu quarto. Eu não estava em condições de olhar para aquele monte
de gente naquele momento. Tomei metade da caneca e me deitei. Nessa hora me dei conta
de como era idiota. Parei minha vida por causa de Pedro. Fiquei na fossa por um bom
tempo enquanto ele não estava nem aí pra mim. Aluguei um namorado que só aceitou vir
me acompanhar porque esse é seu trabalho.
Fiquei encarando o teto um tempo. Não sei nem porque cogitei a idéia de vir aqui e fazer
parte disso tudo. Escutei baterem na porta, mas não me incomodei em responder. André
abriu a porta e ficou me olhando. Permaneci encarando o teto. Eu não queria conversar
com ele agora. Ele veio até a cama e se deitou ao meu lado. Ficamos em silêncio por um
bom tempo. Ele foi o primeiro a falar.
-Por que você não parece nem um pouco feliz?
-Porque imaginei que seria tudo diferente, mas já vi que isso tudo é um erro e que eu nem
deveria ter vindo aqui e muito menos te incomodado.
-Você não me incomoda.
-Claro que não!
-Por que a ironia?
-Eu não quero conversar agora!
-Mas eu quero! Eu não te entendo! Você fala as coisas pela metade.
-Não, eu não faço isso! Você que é lerdo demais pra entender o que eu digo.
-Pedro entendia o que você dizia?
-Menos que você!
-Então o problema não é comigo! É com você!
-Certo!
Meus olhos encheram de lágrimas. Sempre que eu bebia dava nisso.
-Não foi o que eu quis dizer.. Ná...
-Chega ok? Eu pensei que tudo seria diferente. Que eu iria me divertir, que iríamos nos
conhecer melhor, mas você deixou claro que esse é o seu trabalho!
Me sentei na cama e André fez o mesmo.
-Por que você está chorando?
-Porque eu estou exausta! Tô cansada de ter que agradar todo mundo e nunca receber nada
em troca. Olha... vamos fingir que nada disso aconteceu. Vamos fazer o planejamento das
festas e assim tudo passa mais rápido e vamos embora o quanto antes!
-Tem certeza que é isso o que você quer?
-Sim!
André pareceu decepcionado, mas disfarçou super bem.
-Qual é a próxima coisa que devemos fazer?
-A noite vai ter uma reunião com fogueiras e bebida.
-Parece chato!
-É é! Você vai implorar pra ir embora!
-Você me distrai!
-Claro eu sou sempre a palhaça mesmo!
-Eu não quis dizer isso.
-Eu sei, mas na hora você vai entender porque eu disse isso.
-Se você diz...
-Sim. E se você rir de mim, vai dormir no chão.
Me levantei da cama e fui para o banheiro. Assim que fechei a porta escutei André gritar:
"Não vejo a hora!"
Nem eu. Respondi pra mim mesma.

13...

”E o prêmio de maior decepção do ano vai para… Mim. Parabéns por ter sido tão cega.”
(Tati Bernardi)

Chegou a hora da reunião. Todos estavam empolgadíssimos. Menos eu!


Coloquei um vestido de alcinha branco bem fresquinho. A noite estava muito quente. Passei
uma maquiagem leve e prendi o cabelo em um coque. André também estava maravilhoso.
Ele vestiu uma regata azul que destacava mais seus olhos e uma bermuda preta. Quanto
mais simples ele estava, mais bonito ficava. Depois de muito tempo criando coragem,
saímos da casa. Todos já estavam sentados ao redor da fogueira. Alguns rapazes tocavam
violão enquanto as meninas cantavam. Ainda estava sendo agradável. Algum tempo depois
onde todos já estavam alegres, começaram as brincadeiras. Cada um tinha que contar um
mico de alguém que conhecia dali. E óbvio eu sempre fui o alvo de todos. Thais quando
bebia se tornava inconveniente e hoje não seria diferente.
-Eu lembro quando a Nataly e eu estávamos em um shopping e uns meninos vieram falar
com a gente. Eu não sei que piada que ele contou, que fez ela rir tanto que saiu refrigerante
pelo nariz dela. Ele ficou com tanta vergonha que perguntou se não podia ficar comigo ao
invés dela.
Ok! Essa parte final eu não sabia.
Tentei forçar uma risada, mas acho que não deu muito certo. André olhou pra mim e sorriu.
Foi a vez de Rafael contar alguma coisa e óbvio que essa coisa tinha que ser minha.
-Eu lembro quando eu comecei a sair com a Thais, eu tinha ficado interessado pela Nati
primeiro, mas quando eu comecei a conversar com ela, ela ficou falando tudo enrolado e
rápido e era impossível entender uma única palavra que ela dizia.
-Verdade! Sempre foi impossível entender o que ela falava! - Pedro que já estava
completamente bêbado se intrometeu.
Todos riam e olhavam pra minha cara. A brincadeira perdeu a graça pra mim. André
segurou em minha mão e deu um beijo nela me dando força. Apoiei a cabeça em seu ombro
e senti um beijo na minha cabeça também.
-E quando eu tava no começo do namoro com ela e a gente tava se pegando no banheiro -
Pedro apontou para Thais- e ela quase pegou a gente no flagra. Pior que ela acreditou na
história que inventamos. Que eu estava te ajudando porque você estava passando mal!
Aquilo foi hilário!
Levantei a cabeça na hora. Todos ficaram em silêncio. Thais estava roxa igual uma berinjela
e Rafael estava sério. Pedro ainda ria e quando olhou para mim, percebeu que falou merda.
Me levantei e fui até eles que se levantaram também.
-Como assim vocês estavam se pegando? Quando foi isso?
-Ele está bêbado amiga! Não sabe o que fala.
Thais segurou o braço de Rafael que saiu de perto dela e ficou encarando Pedro.
-Eu tô bêbado, mas sei do que estou falando! Não tenho culpa se você era ruim de cama!
-O quê? - meus olhos encheram de lágrimas.
-Ele está mentindo! - Thais falou desesperada.
Olhei ao redor e todos estavam esperando uma explicação. Aline estava parada de boca
aberta.
-Você queria o que? Que eu fosse fiel sendo que eu não entendia uma única palavra que saía
da sua boca? – Pedro esbravejou.
-Para de mentir! Porra!!!!! - Thais começou a gritar.
Rafael colocou a mão nos ouvidos e balançava cabeça em negação. Eu estava em choque
sem saber o que responder. Olhei ao redor e André estava se aproximando. Corri até ele
que me abraçou.
-Isso! Vai correndo pro braço do seu namoradinho! Tenho certeza que ele faz a mesma
coisa que eu fiz! Você mereceu!
Antes que eu me desse conta, André me empurrou para o lado e foi pra cima de Pedro.
Andre deu um soco certeiro no queixo de Pedro que cambaleou para trás até cair no chão.
Alguns dos rapazes seguraram André enquanto Pedro ficou caído no chão.
-Lava essa sua boca imunda antes de falar dela! Seu pedaço de merda!
André cuspiu em Pedro se soltou dos rapazes e veio até mim. Me jogou em seu ombro e nos
levou para dentro da casa. Ele subiu as escadas com maior facilidade do mundo. Abriu a
porta do quarto e me colocou no chão. André segurou os dois lados da minha cabeça com
suas mãos enorme e olhou em meus olhos.
-Jamais pense que você mereceu o que ele fez com você! Você é linda, perfeita e merece o
que for melhor nessa porra de mundo! Então não considere a hipótese de acreditar no que
ele disse tá bom?
Uma lágrima escorreu de meus olhos.
-Eu estou me sentindo uma merda agora!
-Não faz isso Ná! Por favor! Você é linda! Não deixa ele te deixar pra baixo!
Fechei os olhos pra controlar o choro. André apoiou a testa na minha e sua boca ficou a
centímetros da minha.
-Ele é um filho da puta! Se eu não estivesse tão preocupado com você, eu desceria lá e
quebrava aquela cara de merda inteira dele!
-Obrigada!
-Não precisa agradecer Ná!
-Eu vou ficar bem!
-Vai sim! E eu vou ajudar!
-Como? - ele se afastou.
-Confia em mim?
-Sim!
-Ótimo! Faz suas malas que vamos sair daqui!
Fiquei chateada em saber que ele queria ir embora.
-Eu te prometi quatro dias não foi? Então tenho três dias pra fazer deles os mais felizes da
sua vida!
Fiquei sem palavras e comecei a arrumar minha mala o mais depressa possível.

14...

"O lado bom de perder uma falsa amizade é que estamos livres do mal que nos acompanhava,
sem sabermos!"
(Fátima Amoremio)

André foi guardar as malas no carro enquanto eu dava uma última organizada no quarto.
Thais entrou no quarto e fechou a porta atrás dela. Fingi que ela não estava ali.
-Amiga... me escuta... Pedro está mentindo... ele..
-Será que você pode parar com essa cena patética? Eu sei que ele estava dizendo a verdade,
senão você não teria ficado tão preocupada.
-Eu não sabia que vocês estavam juntos, e quando fiquei sabendo tive medo de te contar e
me você me olhar desse jeito que está me olhando.
-Você sabia sim, você foi a primeira de todas, a saber, que eu estava ficando com ele.
-Nati... eu..
-Eu não quero ouvir mais nada! Eu vim aqui por você! Mesmo sabendo que seria um
inferno pra mim, eu vim mesmo assim pra estar com você nesse momento tão importante
da sua vida! Se não fosse pelo André, eu não estaria aqui agora!
Dei uma última olhada no banheiro para conferir se não esqueci nada.
-Ah, mais uma coisa! Esquece que eu existo!
-Me perdoa Nati!
-Não! Mas se tem alguém que tem que te perdoar é o Rafael! E isso é uma coisa que eu não
faria se fosse ele! Eles sempre foram melhores amigos!
Saí do quarto e deixei Thais sozinha. Eu não queria olhar pra cara dela nunca mais. Procurei
por sua mãe, mas não encontrei. Saí da casa e vi Aline com seu namorado. Fui até ela e me
despedi dos dois.
-Amiga....
-Depois a gente conversa Aline!
-Mas como você vai embora? O que você vai fazer?
-André vai me levar!
-Tá bom amiga! Cuidado! Qualquer coisa me liga!
-Pode deixar!
Caminhei na grama fazendo o mesmo caminho de quando chegamos. Meu braço foi
agarrado com tudo me puxando para trás. Pedro segurava com tanta força que era capaz de
deixar um hematoma.
-Me larga!
-Você simplesmente vai embora com seu namoradinho?
-Não é da sua conta!
Tentei andar, mas ele me puxou ainda mais pra ele.
-Você é minha! Mesmo sendo uma putinha agora saindo com esse filho da puta, você ainda
é minha!
-Eu não sou nada sua!!! Me solta!!!
Olhei ao redor procurando ajuda, mas já estávamos afastados da casa.
-Dizia tanto que me amava e em pouco tempo já estava com outro. Por isso eu digo que
você mereceu todos os chifres que coloquei em você!
De repente ele colou sua boca na minha. Eu não tinha força pra lutar contra ele. Ele era bem
maior que eu. Pedro segurou minhas mãos com uma dele e a outra ficou passando em meu
corpo. Eu dei um grito e logo em seguida ele me deu tapa na cara.
-Cala sua boca!
Ele me jogou no chão e começou a subir suas mãos pelas minhas pernas. Escutei um
barulho de passos e gritei. Pedro tapou minha boca e foi arrancado de cima de mim.
Levantei e vi André batendo tanto em Pedro que já estava desacordado. Fui até André, me
pendurei em seu pescoço e falei em seu ouvido.
-Por favor, só me tira daqui!
André parou o que estava fazendo e levantou. Desci das suas costas e ele segurou meu rosto
com as mãos.
-Ele te machucou? Fez alguma coisa? - ele falava olhando meu corpo todo.
-Não. .. você chegou antes! - comecei a chorar.
André me abraçou e afagou meus cabelos. Sua respiração estava forte e pesada. Seu coração
estava disparado e seu corpo tremia. Ele me deu um beijo na cabeça e me pegou no colo.
Enfiei o rosto em seu pescoço e senti seu perfume que me acalmou. Minutos depois
chegamos ao carro de André. Ele me ajudou a entrar e entrou logo em seguida.
-Você precisa ir ao médico? Precisa de alguma coisa?
-Estou bem.
-Tem certeza que ele não te machucou?
-Tenho.
-Seu rosto está inchado. Ele te bateu!
Não foi uma pergunta. Foi uma afirmação. Fiquei está silêncio. André começou a socar o
volante várias vezes seguidas.
-Eu quero matar aquele filho da puta!
-Deixa isso quieto! Por favor! Só me tira daqui! – falei entre as lágrimas.
-Ele já fez isso antes?
-Não! Nunca!
-Devemos chamar a polícia!
-Eu só quero sair daqui! Por favor!
André apoiou a cabeça no volante e vi sua respiração se normalizando. Ele respirou fundo e
me olhou. André se aproximou do meu rosto e encostou seus lábios nos meus. Assim que
fechei os olhos, o beijo já tinha acabado.
-Se você precisar de qualquer coisa me avisa!
-Tá bom!
-O que você quer fazer agora?
-Quero que me leve pra onde tinha planejado!
André assentiu, deu partida no carro e ligou o rádio. Ficamos em silêncio por um bom
tempo onde só se ouvia a música.

15...

“Não posso escolher como me sinto, mas posso escolher o que fazer a respeito.”
(William Shakespeare)

Não sei que horas peguei no sono, só sei que acordei com um André me encarando de
perto. Eu levei um susto tão grande que meu único reflexo foi bater na cara dele.
-Que porra Ná!!
Ele passou a mão no rosto e se afastou. Fiquei imóvel sem saber o que fazer.
-Desculpa... eu assustei..
-E precisava me bater?
-Precisava ficar me encarando enquanto eu dormia?
-Eu tava olhando pra saber se você roncaria durante todo o seu sono! - ele falou sorrindo.
-Eu não ronco!
-Eu baba também!
André saiu do carro rindo e passei a mão em minha boca me sentindo aliviada por não
sentir nenhum tipo de baba por ali. Olhei ao redor e não reconheci onde estávamos. André
abriu minha porta e me ajudou a descer.
-Onde estamos?
-Em um hotel.
-Aonde?
-No meio da estrada.
-E posso saber o por quê?
-Porque está tarde e quero você descansada amanhã!
-Por quê?
-Porque eu estou falando! Vamos?
Assenti e André me deu a mão. Fomos até a recepção e ele pediu um quarto. Uns minutos
depois eu já estava estirada na cama enquanto ele pegava as malas.
-Fome? -André entrou no quarto e perguntou de repente me dando um susto.
-Bastante!
-Bom! Passei na recepção e pedi um lanche pra gente!
-Uau! Mas você é muito eficiente!
-Você não viu nada ainda pequena!
Será que ele percebeu que quase gozei por ele ter me chamado assim? Espero que não!
Um tempo depois, já estávamos alimentados e morrendo de tédio. Ficamos deitados um do
lado do outro encarando teto. O quarto não tinha Tv!
-Eu tenho uma idéia!
-Ai Meu Deus...
-Vamos fazer uma lista de coisas que você gostaria de fazer antes de morrer. E nesses dias
que restam vou tentar realizar o máximo que conseguir!
-E você? Não vai fazer uma lista?
-Eu já tenho uma! E quando terminarmos de fazer as suas, se der tempo fazemos a minha!
-Isso não é justo!
-É sim! Eu que estou no comando da viagem!
Fiquei olhando para cara dele que começou a gargalhar. André era ainda mais sexy rindo.
-Então tá né!
Começamos a rir juntos. André tirou um caderno e um lápis de sua mochila e ficou
esperando. Fiquei pensando em algo, mas nada me veio à cabeça.
-Já pensou?
-Não faço idéia do que por nessa lista!
-Bom... então vou te perguntar algumas coisas e dependendo da resposta, a gente coloca!
Pode ser?
-Claro!
-Hum... você já cometeu algum crime?
-Claro que não!
André começou a escrever.
-Você já? - perguntei curiosa.
-Sim!
-Jura? Me conta!
-Não!
-Por que não?
-Porque o foco é você e não eu!
-Mas eu estou curiosa!
-E vai continuar! - bufei.
-Então me fale sobre suas loucuras e assim vou dizendo se já fiz ou não! Cada resposta
negativa vai fazer parte da lista.
-Ok! Você já pichou algum muro?
-Não!
-Já saiu pelada na rua?
-Não. ..
-Já fez sexo num carro?
-Não.
-Já passou trotes?
-Claro que já! Você acha que sou uma besta?
-Tá parecendo!
Comecei a gargalhar e joguei o travesseiro nele.
-Idiota!
-Hum... já fez sexo em lugar público?
-Não...
-Já fez alguma tatuagem?
-Não.
André ficou me olhando por um bom tempo em silêncio.
-O quê?? Por que tá me olhando assim?
-O que você fez até hoje da sua vida Ná?
-Sabe que essa é uma boa pergunta?
-Você já jogou strip-poker?
-Não. ..
-Já dirigiu um carro a mais de 100km/h?
-Sim!
-Quanto?
-120? - André escreveu no papel mais uma vez.
-Já fez sexo a três?
-Você está tentando me levar pra cama André?
-De forma alguma! - ele levantou as mãos em rendição. Dei risada.
-Sei...
-Era mais fácil você dizer o que já fez! Ou seja: nada! E todo o resto faria parte da lista.
-Talvez...
-Ainda bem que estou aqui pra mudar sua vida!
-Você já mudou!
-Ah é?
-Sim! Você se tornou meu namorado de mentira! Isso eu nunca tinha feito!
-E sexo com um namorado de mentira?
-Ai Meu Deus André!
-O que? Só estou perguntando!
Levantei da cama e peguei uma camiseta na mala.
-Aonde você vai? - André perguntou.
-Tomar banho!
-Não demora!
-Tá bom! - respondi sorrindo.

Entrei no chuveiro rindo sozinha. Eu gostava desse André. Gostava até demais! Eu estava
ensaboando meu corpo quando André entrou com tudo no banheiro. Dei um grito e cobri
meu corpo com as mãos. Esse banheiro não tinha um box. Tinha uma cortininha igual a do
filme psicose. Ela era transparente e ficava fosca só na parte da cintura.
-O que você está fazendo??? -perguntei nervosa.
André virou de frente para mim.
-Eu precisava mijar! Você tá aqui dentro há um século!
-Fazem dez minutos!
-Só isso?
-Sim!
-Caramba! Parecia mais!
-Mas não é!
-Sabia que consigo ver sua bunda daqui?
-Aiiiii! Vai fazer o xixi ou não?
-Não posso mais!
-O quê? Você veio só me atormentar?
-Não, eu vim mesmo usar o banheiro, mas agora não posso mais senão vou mijar na testa!
Coloquei a cabeça pra fora da cortina confusa com o que ele tinha falado. André estava
apoiado na pia com os braços cruzados no peito.
-O quê??? O que você quer dizer? - falei rindo.
André abriu um sorriso de parar o quarteirão. Ele olhou para baixo e para mim de novo.
Olhei o que ele olhou e arregalei os olhos. Voltei com tudo para dentro da cortina só que
escorreguei e caí no chão por causa do sabonete.
-Aiiiiii...
-Ná? Você tá bem? -vi ele se aproximando do chuveiro.
-Fica ai! - ele riu.
-Tem certeza?
-Tenho!
-Eu posso te ajudar!
-Você pode sair?
-Se você quiser!
-Quero!
-Tem certeza?
-Tenho Andre!
-Ok!
Continuei caída no chão e escutei a porta do banheiro sendo fechada. Comecei a rir sozinha.
Como ele era cara de pau! Quando ele falou que ia mijar na testa eu não entendi o
significado disso, mas ele fez questão de me mostrar o porquê. Eu não enxergo muito bem
de longe e ainda mais sem óculos, mas André parecia bem grande! Achei melhor parar de
pensar nisso, levantei e desliguei o chuveiro. Me enrolei na toalha e me sequei correndo
com medo dele entrar no banheiro por conseguir fazer xixi pra baixo de novo.
Respirei fundo umas duzentas e quarenta vezes e abri a porta. Hoje a noite promete!
16...

“Pra homem bonito dou uma de inteligente. Pra homem inteligente dou uma de bonita. Pra
homem bonito e inteligente dou uma.”
(Tati Bernardi)

Assim que saí do banheiro, André entrou logo em seguida. Escutei o barulho do chuveiro
sendo ligado então decidi deitar. Olhei no relógio e já eram 2h30 da manhã e por incrível
que pareça, eu não estava tão cansada como imaginei que estaria. Um tempinho depois
André saiu do banheiro com seus cabelos molhados, com gotas escorrendo em seu peito,
com sua cueca vermelha e só! Ele não vestiu uma mísera camiseta. Tentei não ficar olhando,
mas isso era algo impossível de acontecer! Quando olhei para seu rosto, ele estava rindo.
Dei risada junto e ele deu uma voltinha.
-Gostou?
Ai senhor sim! Amei! Adorei! Apaixonei!
-Não!
-Não?
-Não! - dei risada.
-Duvido!
-Nada metido você!
-Eu não sou metido! Só estou dizendo o que vi na sua cara!
Comecei a rir e fiquei sem resposta. Era óbvio que eu tinha gostado. Até se eu fosse cega
teria amado! André riu junto comigo e se jogou ao meu lado na cama, pegou o telefone e
pediu algumas batidas pra gente.
-Você sabe que sou fraca pra bebida!
-Eu sei! Por isso é mais legal! Você fala mais do que o normal! É muito engraçado!
-Besta!
-O que vamos fazer?
-Eu não sei... Já são duas e pouco da manhã.
-Quando foi ultima vez que você dormiu tarde Ná?
-Ah... foi quando eu... não... foi no dia que... também não! Ai Meu Deus! Eu virei uma velha de
oitenta anos! Eu nem me lembro quando foi a última vez que dormi tarde!
-É. .. realmente você parece uma velha!
-Hey!
-A sua vida continuaria um tédio se você não tivesse me ligado!
-Foi Aline que ligou e não deu tempo de desligar porque você já tinha atendido.
-Bem que achei você estranha desde o começo!
-Eu não sou estranha!
-Não mesmo! É esquisita!
-Idiota! - joguei o travesseiro nele.
-E se a gente jogasse algum jogo?
-Qual? Não tem nenhum baralho aqui!
-A gente podia jogar jogo da velha! E quem perder a rodada tira uma peça de roupa!
-Não vale! Você só está de cueca!
-Tá vendo como você já está com sorte?
Balancei a cabeça rindo enquanto André buscava as bebidas na porta e pegava o caderno.
-Por que você trouxe esse caderno?
-Porque tenho prova durante a semana e preciso revisar um pouco.
-Prova de que?
-Anatomia!
-Que curso você faz?
-Veterinária!
Engasguei com a bebida. Era possível ele ser mais perfeito?
André começou a bater em minhas costas, mas eu não conseguia parar de tossir. Ele
começou a me olhar desesperado.
-Não vai sair coisa do seu nariz igual sua amiga falou né?
Comecei a rir e tossir tudo junto. Corri para o banheiro e fechei a porta. Levantei os braços
e fiquei pulando igual uma maluca até a tosse passar. Eu sei que não faz sentido, mas faço
isso desde criança e funciona comigo. Joguei água no rosto e depois de recuperada voltei
para o quarto. André estava sentado com o caderno no colo e me olhava preocupado.
-Eu estou bem!
-Tem certeza?
-Sim!
-Bom! Fiquei pensando e ao invés de fazer streap poderíamos fazer verdade ou desafio. E
quem perder a partida escolhe e o outro decide o que o outro vai ter que fazer. Olhei pra ele
sem entender nada.
-Eu peguei a sua doença de falar tudo enrolado né? - ele falou de olhos arregalados.
-Sim! - gargalhei.
-Merda! Nem vou pode te zuar mais!
-Bem feito!
-Vem. Senta! Toma mais um gole aí e vamos jogar!
-Eu não tenho direito de decidir se quero jogar?
-Não! Eu começo!
A primeira partida quem perdeu foi ele!
-Verdade ou desafio?
André me fitava com seus olhos azuis.
-Verdade! Não desafio! Não verdade! Porra!
-Verdade! Foi o que falou primeiro!
-Fudeu.
-Sim! Com quantos anos você deu seu primeiro beijo?
-10!
-Ai Meu Deus! Você era um bebê!
-Fazer o que? Perdi um jogo e tive que cumprir o desafio!
-Ai Meu Deus!
Fiz a primeira bolinha no papel e quem perdeu dessa vez fui eu.
-Verdade ou desafio?
-Verdade!
-Em uma escala de 0 a 10 quanto você me acha atraente?
-Que tipo de pergunta é essa?
-A que eu quis fazer! Responde!
-5!
Ele me olhou com a sobrancelha erguida.
-Tá bom... 10!
-Foda-se esse jogo! - ele jogou o caderno longe -Sua vez!
-Verdade ou desafio? - perguntei.
-Verdade.
-Quantos anos você tem?
-25.
-Verdade.
-Com quantos caras você já ficou?
-Hum. .. acho que 4!
-Só?
-Eu namorei 6 anos né?
-Desafio.
-Te desafio a ir à recepção só de cueca e pedir o número da recepcionista!
André levantou na mesma hora e saiu do quarto. Fiquei espiando e ele ficou conversando
com ela por um tempo. Voltou para o quarto e me entregou um papel com um número de
telefone.
-Nãooooooo! - gargalhei.
-Sim pequena! Desafio dado é desafio cumprido!
-Ok! Então desafio!
-Eu te desafio a correr só de calcinha no estacionamento!
-Nãooooooo!
-Sim!
-Porra!
Tomei um dos copos de batida em um gole só. Fiquei de costas para André e tirei a
camiseta. A minha calcinha era minúscula, mas não me senti envergonhada. Segurei os
seios nas mãos e André abriu a porta para mim. Contei até três e saí correndo igual um
doido que fugiu do manicômio! Dei uma volta correndo pelos carros e voltei para o quarto
rindo e completamente ofegante. André ria comigo e me jogou sua camiseta. Vesti de costas
para ele e ele me entregou outro copo de batida.
-Você foi muito bem!
-Eu nem me lembro qual foi a última vez que ri tanto desse jeito!
-Fico feliz em saber!
-Sua vez!
-Desafio!
-Eu te desafio a dançar ragatanga de porta aberta!
-Aí você pegou pesado!
-Não peguei. .. não! - eu não conseguia falar de tanto que eu ria.
André mexeu no celular e um tempo depois a música começou a tocar. Ele dançava a
coreografia toda. André me puxou e comecei a dançar com ele. Fechei a porta e
continuamos a dançar até a música acabar. André se aproximou e me abraçou. A música já
tinha acabado, mas continuamos abraçados.
-Sua vez! - ele falou com a voz rouca.
-Desafio!
André se afastou e olhou em meus olhos.
-Eu te desafio a me beijar!
-Isso não é um desafio pra mim! - falei em um sussurro e colei meus lábios nos dele.
Seu beijo era maravilhoso. Suave, mas com desejo. Ele mordiscava minha boca me fazendo
gemer. Sua língua brincava com a minha em um ritmo perfeito. André me levantou pelo
quadril e entrelacei minhas pernas ao redor de sua cintura. Ele me encostou na parede e
pude sentir seu membro duro encostando na minha parte sensível. Ele separou seus lábios
dos meus.
-Desafio. - falou com a voz baixa e completamente rouca.
-Eu te desafio a fazer amor comigo até o dia clarear!
-Isso não é um desafio pra mim!
Assim que ele repetiu minhas palavras, grudou seus lábios nos meus e me levou para a
cama como se eu não pesasse absolutamente nada. André apoiou seu corpo em cima do
meu e ao olhar em meus olhos pude perceber o quanto eu queria que aquilo acontecesse.
André beijou minha bochecha, minha testa, meu queixo, a ponta do meu nariz. Desceu o
corpo e beijou meu pescoço. Ele segurou meus braços e me puxou me fazendo ficar
sentada. Passou a camiseta pela minha cabeça e me olhou profundamente. Seus olhos azuis
olhavam cada detalhe do meu corpo, fazendo eu me sentir bonita. Desejada.
-Você é linda demais!
Ele colou seus lábios nos meus e passava a mão onde alcançava. Eu fazia o mesmo. Passei a
mão em sua barriga definida e senti seus quadradinhos em meus dedos. Passei a unha de
leve em suas costas e senti seu corpo arrepiar. André não tinha pressa de nada. Ele queria
aproveitar cada segundo daquele momento.
André levantou e pegou uma camisinha em sua carteira. Tirou a cueca e colocou o
preservativo em seu membro grosso e ereto. André tinha orgulho de seu corpo. Sentia-se
bem e à vontade comigo ali observando o que ele fazia. Ele engatinhou em minha direção e
tirou minha calcinha. André beijou meus seios, minha barriga e se debruçou em cima de
mim. Colocou a ponta do seu membro em minha entrada molhada e entrou devagar. Ele
não parava de me beijar e olhar em meus olhos. Nunca tive um momento tão íntimo com
alguém. Nem mesmo com Pedro. Nosso sexo era sempre "normal".
Aos poucos André começou a se mexer. Cruzei meus pés atrás de sua cintura e assim ele foi
mais fundo. André gemia, me beijava e foi aumentando o ritmo. Não sei se ele era muito
bom no que estava fazendo ou se era porque eu estava a um tempo na seca, que cheguei aos
finalmentes bem rápido. Pouco tempo depois André também. Ele permaneceu um tempo
em cima de mim e me beijou mais uma vez. Quando já estávamos recuperados, ele saiu com
cuidado de mim e se jogou ao meu lado. Ficamos deitados de lado nos olhando. André fazia
cafuné em meus cabelos. Ficamos sem conversar por um por um bom tempo. André me
beijava, fazia carinho, me fazia cócegas.
-Posso te perguntar uma coisa? - perguntei com receio.
-Claro!
-Por que você começou a trabalhar com isso... que você trabalha?
-Porque é uma forma rápida de conseguir dinheiro e preciso dele pra pagar minha
faculdade. E com esse trampo consigo fazer meus próprios horários, meu estágio!
-Falta muito pra você se formar?
-Quatro meses!
-Já está perto!
-Sim! Nem sei o que pensar.
-Você já sabe o que vai fazer?
-Acho que vou tentar estágio em alguma clínica. É meio difícil arrumar trampo recém-
formado.
-Você poderia trabalhar na minha loja! Aline e eu estamos com planos de aumentar o Pet
Shop e começar com atendimento veterinário.
-Sério?
-Sim!
-Eu não sei...
-Bom, a proposta está feita! Pensa com carinho!
-Eu vou! Obrigada!
-Magina! Acho que vou tomar um banho!
-Acho que NÓS vamos tomar um banho!
-Eu gostei disso!
André riu e foi comigo para o banheiro. Fizemos amor debaixo do chuveiro. Na cama mais
uma vez e ele realmente cumpriu o desafio. O dia já estava clareando quando pegamos no
sono, completamente exaustos.

Na manhã seguinte André acordou empolgadíssimo. Riscou o item da lista em que eu nunca
andei pelada na rua e disse que hoje riscaríamos pelo menos mais três itens da lista. André
estava assustadoramente animado com essa lista.
Na hora de fazer o check out André foi até a recepção e ficou jogando conversa fora com a
recepcionista. Não era a mesma da noite anterior, mas ela claro se derreteu ao olhar para
André. Ele veio até mim e entregou a chave do carro.
-Eu quero que você ligue o carro e fique e me esperando.
-Por que?
-Porque estou pedindo!
Ele me deu um selinho e voltou para a recepção. Fiz o que ele pediu. Depois de escorregar
duas vezes consegui finalmente entrar na picape. Ajustei o banco e dei partida no carro. O
ronco do motor era maravilhoso. Enquanto eu estava me achando sentada atrás do volante
de um carro tão lindo, André saiu do hotel e veio andando rápido demais até o carro. Ele
abriu a porta do carona e disse vai!
-Vai aonde?
-Precisamos sair daqui agora!
-Por que???
-Faz o que eu tô falando! Vai vai vai!
André olhou para a recepção e vi a recepcionista sair procurando alguma coisa. Acelerei o
carro e fui pra qualquer lugar que eu consegui. André olhava pra trás com um sorriso
enorme no rosto. Quando já estávamos longe do hotel, brequei com tudo fazendo André
bater a testa no vidro da frente.
-Que porra você fez lá dentro? -perguntei brava.
André ficou resmungando com a mão na testa e tirou a lista do bolso. Peguei o papel sem
entender nada até que olhei as duas coisas riscadas:
*Andar pelada em público
*Cometer um crime
-Nãooooooo!
Olhei pra ele chocada. Ele começou a rir da minha cara.
-Pronto! Mais uma coisa da lista!
-Não me diga que...
-Sim! Não pagamos a conta!
-Você é maluco??
-Sim!
-Ai Meu Deus.
Entrei em pânico. E se isso virasse algo muito sério?
-Hey! Para de pensar! Não vai acontecer nada!
-Como você sabe?
-Sabendo!
-Você é maluco!
-Sim! Acho que podemos riscar mais um item da lista!
-Qual?
-Esse!
André tirou a camiseta e abriu o zíper de sua calça. Veio com tudo pra cima de mim e acabei
não resistindo. Na verdade, estava sendo bem legal realizar essas coisas da lista. Eu estava
levando uma vida que jamais imaginei que poderia! E era muito legal! Eu sempre me
policiei muito para não fazer algumas coisas que Pedro não acharia legal, mas no fim eu
parei minha vida por alguém que não merecia um segundo sequer meu.
Me entreguei à André no carro e logo depois estávamos indo rumo à lugar algum. E essa
idéia não pareceu apavorante pela primeira vez na minha vida!
*Fazer sexo no carro (foi riscado da lista também).

17...

“Nossas vidas são definidas por momentos. Principalmente aqueles que nos pegam de
surpresa.”
(Bob Marley)

Paramos pra tomar café/almoço em um daqueles estabelecimentos que tem na beira da


estrada. André disse que tinha em mente um lugar para irmos, mas que seria segredo até o
fim.
O lugar até que parecia limpo e agradável de ficar, então pedi um suco com um lanche de
queijo e André pediu uma coxinha, dois bolinhos de queijo, um bolinho de carne, e um suco.
Fiquei olhando surpresa pra ele.
-O quê??
-Pensei que você fosse igual aqueles caras fitness que não comem essas coisas!
-E por que não comeria? Eu acho uma besteira esse negocio de não comer o que quer! Se
você tem vontade de comer algo, tem que comer até lamber os dedos!
André finalizou a frase com um sorriso travesso no rosto. Acho que sua frase tinha duplo
sentido, mas preferi fingir que não entendi.Ficamos jogando conversa fora e André
começou a perguntar coisas sobre minha vida.
-Você mora sozinha?
-Sim! Meus pais decidiram mudar para o litoral e como eu tinha a loja fiquei por aqui.
-Você gostaria de ter ido junto?
-Ah sim! Eu amo praia!
-Eu também! Dá uma paz na gente!
-Sim!
-O que vamos riscar da sua lista agora?
-Eu não vou fazer sexo sexos três! Pode tirar essa idéia da sua cabeça! - ele riu e ficou sério
em seguida.
-Eu não vou dividir você com ninguém! Que tal andar a mais de 100km? - ele mudou de
assunto no mesmo instante.
-120!
-Ah claro! Me enganei! 120! Ayrton Senna femiino!
-Besta!
Terminamos de comer e dessa vez não precisamos sair correndo do estabelecimento.
André entrou pela parte do carona e disse que era pra eu dirigir.
-Vai! Hoje você vai dirigir a mais de 120 km está feliz?
-Radiante!
-Você vai adorar.
-Tenho certeza que sim!
Assim que liguei o carro André mais que depressa colocou o cinto. Olhei de cara feia e ele
explicou que era apenas por precaução. Aos poucos fui andando com o carro e aumentando
a velocidade. André parecia que ia ter um treco de tanto que ria.
-Ai Meu Deus!!!!
-É só você manter a mão firme no volante senão ele vai pro lado e vamos morrer!
-O quee? ?? - olhei para ele.
-Olha pra frente Ná!
-Ai Meu Deus! O que eu faço?
-Diminua um pouco a velocidade! Acho que você passou por uns dois radares!
-Nãooooooo!
-Sim!
-Nãoooo!
-Relaxa!
Mudei de faixa e fui indo para a faixa da direita até parar no acostamento. Minhas mãos
tremiam de adrenalina. Assim que parei o carro vi como minha respiração estava alterada
também!
-Parabéns! - André me estendeu a mão.
Comecei a esbofetear ele todo.
-Você é louco? Eu poderia ter matado nós dois!
-Foi demais Ná! Aí! Para! - ele passou a mão no braço que eu bati.
Me joguei no banco e comecei a rir. Acho que nunca tive tantas sensações ao mesmo tempo
como estou agora convivendo com André.
-Você é completamente maluco!
-Posso contar um segredo?
-Hum... - seus olhos azuis encaravam os meus.
-Você que me deixou assim!
Sorri pra ele que se debruçou em cima de mim e me beijou. Um beijo suave, mas cheio de
coisas não ditas. André se afastou e sorriu.
-Vamos? Ainda tenho muito o que fazer com você!
Ele desceu no carro e eu fiz o mesmo. Só que esqueci que aquilo parecia um caminhão e cai
no chão asfaltado. André terminou a volta do carro e começou a gargalhar quando me viu
estatelada no chão.
-Depois eu que sou louco! Você que tem um fetiche estranho por chão!
-O quê? - continuei sentada no chão.
-Não consegue ver um chão sem beijar! Sempre cai de cara! - ele gargalhou.
-Vai à merda e me ajuda!
André esticou a mão e me ajudou a levantar. Ficou de mão dada comigo e deu a volta no
carro pra me ajudar a entrar. Pisei no primeiro degrau e senti as mãos de André na minha
bunda. Olhei pra trás e ele riu.
-O que? Tô ajudando!
Ele me empurrou pra dentro e fechou a porta. Observei ele entrar no carro, colocar o cinto
e dar partida. Eu não cansava de olhar pra ele. André aparentava sempre tão alegre e feliz e
pude perceber que em momento algum da minha vida fui como ele é. Sempre fiz o que
tinha que fazer e era o suficiente pra mim.
-Um real por seus pensamentos!
-Dois!
-Um e cinquenta!
-Tá bom! Eu estava pensando que você é tão feliz o tempo todo e nunca fui assim! Só com
você! É estranho... eu sempre achei que minha vidinha era o suficiente, mas hoje vi que não.
Eu preciso de mais sabe?
-Uhum.
-Obrigada!
-Pelo que?
-Por ter feito isso por mim!
André sorriu para mim de uma forma diferente. Pegou minha mão e entrelaçou os dedos
nos meus. Deu um beijo e ligou o rádio. Olhei para fora da minha janela e notei que meu
coração estava acelerado por causa do seu pequeno gesto. Balancei a cabeça e jurei pra
mim mesma que seriam somente aqueles dias. Que isso não se repetiria mais. André era
muito fechado. Não falava muito sobre sua vida e evitou falar qualquer coisa sobre o
"futuro". Ao constatar isso, me deu um aperto no coração. Olhei para ele que olhava
atentamente a estrada. Respirei fundo e contatei a realidade:
Merda! Tô ferrada!
18...

“Encantado?
Confesso!
Como num conto de fada mais bobo Você me escolheu...
E o encanto foi tanto Que eu sem perceber Já estava em você
Mas voltei, Porque sei manipular meus sonhos
E minha alma passeia por onde quero
Mas voltando a você...
Me conte o que fez Nesse tempo que espero..;
E essa felicidade?...Sincera!
Onde estava esse olhar Que conhece o meu Sem querer me entregar
Já estou ao lado seu E assim seguirei Pelo tempo da delicadeza...”
(Saulo Fernandes)

(André)
Nataly ficou em silêncio o resto da viagem. Não sei se ela ficou chateada por eu não ter
respondido ou foi porque falei demais. Ela me convidou pra trabalhar na loja dela e aquele
foi o melhor convite que eu poderia receber. Mas não acho que ela tenha pensado muito
bem sobre o que falou, então achei melhor deixar no gelo. Eu tinha apenas dois dias pra
ficar com ela e depois nossas vidas voltariam ao normal. Ela disse que eu era muito feliz,
mas achei melhor não dizer que eu estava assim por causa dela.
Eu estava atropelando as coisas. Estava fazendo algo que prometi que não faria de novo.
Como eu estaria criando sentimentos por uma pessoa que conheci há apenas dois dias? Isso
não era normal e eu não deixaria isso virar um problema.
Ná estava pensativa olhando pela janela e me perguntei se ela estava pensando o mesmo
que eu.
Eu recebi várias mensagens de texto a respeito de novos serviços, mas recusei todos. Eu
não queria que esse fim de semana acabasse. Eu não queria deixar Nataly na casa dela e
simplesmente ir embora. Mas não podia fazer nada disso. Não era justo com ela. Ela
merecia alguém melhor! Alguém que cuide dela. Que demonstre que ela merece todo o
carinho e cuidado que exista nessa porra de mundo. Que tenha um emprego digno.
E esse não sou eu. Infelizmente.
Só quero curtir esses dois dias com ela com se não houvesse amanhã. E é isso que farei.

19...

“Um alguem-você
Uma esperança- nós dois
Um mundo- o seu
UM segredo-amar-te
Uma duvida-o amor
Uma cor- a dos teus olhos
Um sabor-seu beijo
um medo-perder você
Um conselho-nao me deixe
Um pedido-me ame como eu te amo
Um sonho-viver com você para sempre...”
(Eliezer Alves da Costa)

André ficou estranho o resto da viagem. Não falou mais nada e só sorria pra mim. Queria
muito ser uma minhoquinha pra entrar em sua cabeça e saber o que ele estava pensando.
Ou ser o Edward do crepúsculo. Assim seria mais fácil!
Olhei as placas pelo caminho e vi que estávamos indo para o litoral. Fiquei animada logo.
André começou a rir e fazer umas piadas dizendo que não iria me salvar se eu resolvesse
beijar a água do mar também e dei um tapa em seu braço.
O lugar onde André estava me levando era mais afastado da cidade e era ainda mais
maravilhoso. Tinham muitas árvores e o céu escurecendo deixou tudo ainda mais bonito.
André estacionou na frente de uma casa enorme. Ela não tinha portão como as casas em
São Paulo. Tinha um gramado verdinho e algumas pedras em cima para podermos andar
fazendo o caminho da porta. Olhei para André que esperava eu dizer alguma coisa.
-Não me diga que vamos invadir essa casa! -entrei em pânico.
-Não Ná! Essa casa é minha!
-Nãoooo!
-Sim!
-Jura? É maravilhosa!
-É sim! Faz bastante tempo que não venho! Mas uma vez por semana um amigo meu se
encarrega da manutenção e limpeza.
-Eu acho que não sairia daqui tão cedo!
-Pode ficar o tempo que quiser!
-Gostei disso! -André sorriu.
Abri a porta do carro e fui escorregando devagar pra não cair de cara no chão mais uma
vez. André foi até mim e segurou minha cintura. Me prensou no carro e me beijou. Passei os
dedos em seus cabelos e ele soltou um gemido bem baixo em minha boca. Ele se afastou e
olhou em meus olhos, deu um beijo na minha testa e pegou em minha mão.
-Vem! Acho que você vai gostar da casa.
-Eu tenho certeza!
André inseriu uma senha em um negócio que estava na parede e a porta abriu.
-Isso é sensacional! - apontei para a caixinha branca na parede.
-Como a casa não tem portão, achei melhor por mais segurança. Dá para usar a chave
também, mas quando fico muito tempo fora prefiro por senha. Fique à vontade enquanto
pego as malas.
André me deu um beijo rápido e saiu da casa. Fiquei parada aonde estava e olhando ao
redor. Era uma casa dos sonhos. A sala era enorme com um sofá preto e almofadas laranjas.
Tinha duas poltronas laranjas e uma TV gigantesca. Alguns vídeo games e um tapete tão
fofinho que não resisti e deitei nele. André voltou para dentro da casa e começou a
gargalhar ao me ver deitada no chão.
-Você amou o chão da minha casa também?
-Não besta! Amei o tapete!
André veio até mim e se deitou ao meu lado.
-Eu amo ele também!
-Quando foi a última vez que veio aqui?
André ficou sério e desviou o olhar do meu.
-Prefiro não falar disso. Está com fome? Quer alguma coisa? - neguei com a cabeça.
André se levantou e pegou as malas que estavam no chão e sumiu pelo corredor. Fiquei
pensando porque ele não falava nada sobre sua vida. Perguntei umas três, quatro vezes e a
única coisa que ele falou foi sobre a faculdade. Permaneci deitada no tapete imersa em
pensamentos. André apareceu no corredor e me chamou.
-Ná? Vou tomar banho! Você vem comigo?
-Não! Pode ir! Eu vou depois de você!
-Tá bom.
Ele pareceu decepcionado, mas sorriu pra mim mesmo assim. Olhei ao redor e não
encontrei uma foto sequer. De nada! Nem da família, amigos, ou até mesmo
namorada. Nada!
Acho que passei tanto tempo pensando que deu tempo de André tomar banho e vir desfilar
na sala só de toalha. Na mesma hora me arrependi de não ter ido tomar banho com ele.
André veio até mim e tirou a toalha de sua cintura deixando à mostra seu V e seu colega já
acordado. Abri os braços para ele que deitou em cima de mim. André me beijou com pressa,
com desejo, medo talvez e fizemos amor ali mesmo no tapete fofinho da sala.
20...

”Em vez de tentar escapar de certas lembranças, o melhor é mergulhar nelas e voltar à tona
com menos desespero e mais sabedoria.”
(Martha Medeiros)

A noite resolvemos andar na beira da praia e torcer pra encontrar algum quiosque aberto.
André segurava minha mão o tempo todo.
-Por que você ficou tanto tempo com um cara igual ao Pedro?
-Porque ele não era dessa forma que ele mostrou esses dias. Ele sempre foi atencioso,
carinhoso, educado. Eu não sei o que aconteceu com ele.
-Você acha que ele vai continuar te enchendo o saco? Indo atrás de você igual ele fez na
chácara?
-Eu espero que não! Aquilo foi assustador demais.
-Eu queria matar ele!
-Eu sei....
-Como ele foi capaz daquilo? Olhe pra você! Você é pequena, atrapalhada, indefesa e olhe o
tamanho dele! O dobro de você! Ele é um covarde!
-Você é maior que ele!
-Sou é? - ele perguntou com seu sorriso travesso.
-De altura besta! – ele ergueu uma sobrancelha -E o resto também!
André começou a gargalhar e sentou na areia me puxando para seu lado. Passou o braço ao
redor do meu pescoço e me deu um beijo na bochecha. Ficamos um tempo olhando o mar e
não aguentei de curiosidade.
-Por que você não responde nenhuma das minhas perguntas?
-Porque são coisas que não tem a necessidade de você saber.
-E quem disse isso?
-Eu!
-E você dá a última palavra?
-Sim!
-Você é ridículo!
Tirei seu braço de cima do meu ombro.
-Por quê?
-Por quê? Porque eu respondo todas suas perguntas e você não responde nenhuma minha?
Porque você sabe toda a minha vida e eu não sei nem se seu nome é mesmo André?
Ele fez uma cara estranha.
-Ai Meu Deus! Seu não nome não é André! !
-Ná...
-Ai Meu Deus...
-Me escuta...
-Eu não quero conversar com você agora!
-Mas vamos conversar sim! O que você quer de mim? Você me contratou esqueceu?
-Não! Não esqueci! Só achei que as coisas estavam diferentes agora! Mas tem esse detalhe!
Eu te contratei! Você está aqui somente por esse motivo!
-Diferente como? O que você quer de mim? Você sabe que não é nada disso! Não foi o que
eu quis dizer! Eu...
-Quer saber de uma coisa? Não quero nada de você! Você não consegue ser sincero! Não
consegue responder perguntas simples. Então não quero nada de você!
Me levantei comecei a fazer o caminho de volta para a casa dele.
-Ná! Espera!
Parei onde eu estava. Sem virar pra ele.
-Isso é muito assustador pra mim!
-O que? Você responder as minhas perguntas? - olhei para André.
-Não! Isso! - ele apontou pra mim e depois pra ele - Nós! Eu não sei o que pensar!
-Que bom! Porque eu também não sei mais! Eu só quero ir pra casa pode ser?
-Mas..
-Obrigada!
Voltamos em passos largos para a casa. Assim que André abriu a porta fui direto para o
banheiro tomar um banho. A água quente relaxou meus músculos e minha mente também.
Me sequei e vesti uma camiseta que eu tinha separado. Assim que abri a porta do banheiro,
vi André sentado na beira da cama olhando para mim.
-Desculpa pelo meu surto.- falei baixo.
-Está tudo bem.. - ele falou sussurrando.
-Ótimo.
-Ná..
-O quê?
-Eu não sei o que você quer de mim! Eu não sei o que estou fazendo de errado!
-Nada.
-Nada?
-Sim! Uma única palavra responde as suas perguntas.
-E agora?
-Agora? Amanhã você me leva de volta pra minha casa e depois me fala quanto te devo pelo
algo a mais que não estava no combinado!
Peguei o travesseiro e um cobertor que estava sobrando na cama e levei para a sala. Os
coloquei no tapete fofinho e deitei logo em seguida. Andre não veio atrás de mim e nem
saiu do quarto. Fiquei me revirando a noite toda sem conseguir dormir, então decidi
levantar e andar um pouco. Peguei um copo de água na cozinha e me sentei na entrada da
casa. Não tinha carros, não tinha vento, não tinha pessoas, somente o barulho dos grilos.
Fiquei um bom tempo pensando nos dois últimos dias. O que era pra ser uma simples
comemoração, um simples casamento de uma amiga se tornou em um buraco a mais em
meu coração. Cheio de mágoas e ressentimentos. Eu não poderia exigir nada de André. Ele
não era nada meu. Ele tinha direito de não querer compartilhar sua vida comigo. E eu teria
que saber respeitar isso. Eu tinha três opções:
*Ir embora e fazer André sair da minha vida pra sempre;
*Fingir que nada aconteceu e aproveitar esses últimos dias com ele;
*Decidir que devemos ser somente amigos.
Respirei fundo e me levantei. Fui até o tapete fofinho e André estava deitado nele dormindo
abraçado ao travesseiro. Me aproximei devagar e me deitei ao seu lado puxando o cobertor
para nos cobrir. André abriu os olhos e me abraçou.
-Eu não quero que você vá embora!
Fiquei em silêncio. Eu não sabia o que fazer ainda. Eu não estava disposta a me magoar
igual aconteceu com Pedro.
-Fala que você não vai embora!
-Eu não sei mais André! Ou qual seja o seu nome.
Ele ficou em silêncio me olhando.
-Lucas.
-O quê? - respondi sem entender o que ele queria dizer.
-Meu nome é Lucas. Eu não gosto de vir aqui porque foi onde encontraram meu irmão
morto de overdose. Meus pais não falam mais comigo dizendo que a culpa foi minha. Eu
nem me importo com isso. Eu namorei uma garota que me deu um pé na bunda por causa
do meu trabalho. Disse que não era digno. E não é mesmo! Mas é o que me sustenta até
hoje, então funciona pra mim! Nunca tive um motivo pra largar esse trabalho. Ela não valia
a pena. Você vale! Você ainda vai embora?
Suspirei e seus olhos azuis aflitos me fitavam esperando uma resposta. Dei um beijo em sua
bochecha e respondi.
-Não! Eu não vou pra lugar nenhum!

21...

“O mais terrível n~o é termos nosso coraç~o partido (pois corações foram feitos para serem
partidos), mas sim, transformar nossos corações em pedra.”
(Oscar Wilde)

André e eu passamos a madrugada conversando e ele decidiu que eu deveria saber de tudo
o que aconteceu. Ele contou que estava dando uma festa e saiu com uma garota e horas
depois seus amigos ligaram em seu celular comunicando que encontraram seu irmão
desacordado. Ele voltou correndo para casa e o encontrou caído no chão do banheiro e
sozinho. A casa estava vazia e ninguém o socorreu. Seu irmão Giovanni morreu no chão do
banheiro sem ninguém ao seu lado. Lucas quase foi preso por ser responsável pela festa,
mas depois de muito dinheiro envolvido ele foi excluído do caso. Seus pais só falaram com
ele pela última vez no velório de Giovanni e pediram para ele não procurá-los mais, e o foi o
que ele fez. Seu irmão ajudava a pagar sua faculdade então a única forma de conseguir
dinheiro rápido foi ser acompanhante. Disse que decidiu usar o nome André pra não
misturar tanto sua vida pessoal no seu trabalho. Acho que eu teria feito o mesmo.
-Você não tem que ter vergonha do seu trabalho! Ele é digno como qualquer outro.
-Não é não... mas é o que tenho.
-Você sabe que pode trabalhar na minha loja não sabe?
-Você tem certeza disso?
-Tenho! A melhor coisa que existe é trabalhar com o que se ama.
-Eu não sei o que é isso!
-Mas vai saber!
Ficamos um tempo em silêncio por um tempo.
-Desculpa por não ter respondido suas perguntas. Não tinha percebido como era
importante pra você. - André falou.
-Está tudo bem. Eu que peco desculpa por me intrometer.
-Eu entrei em pânico quando disse que ia embora! Nem sabia que era possível sentir esse
tipo de coisa.
-Não foi fácil pra mim também decidir isso...
-Eu não sei o que está acontecendo...
-Nem eu.. tudo está sendo assustadoramente rápido!
-Muito...
Virei de lado ficando de frente para Lucas. ficamos em silencio por um bom tempo. Eu
acompanhava seu olhar. André olhava cada detalhe do meu rosto como se quisesse gravar o
que estava olhando.
-Você tem os olhos mais lindos que já vi... – falei baixinho.
-Você é a garota mais linda que eu já vi! Eu não quero que esse fim de semana termine. Eu
só quero esquecer todos os problemas que me assombram e aproveitar o resto do fim de
semana com você.
-Eu também.
Beijei seus lábios. André colocou a mão em meus cabelos e puxou de leve me fazendo soltar
um gemido em sua boca.
-Você gosta disso? – ele perguntou
-Uhum...
-Você gemendo me deixa louco!
Lucas ainda segurava meus cabelos e beijou meu pescoço. Ele dava leves mordidas em meu
pescoço arrepiando meu corpo todo. Lucas sentou em cima das minhas pernas e passou
minha camiseta pela minha cabeça. Ele olhou meus seios, minha barriga e quando olhou a
calcinha que eu estava vestindo suspirou e fechou os olhos.
-Você só tem micro calcinhas Ná?
-Sim.
-Você é gostosa pra caralho.
-Obrigada... eu acho...
Nem terminei de responder quando Lucas colocou um dos meus mamilos em sua boca
macia. Segurei um gemido, mas ele fez saiu mesmo assim. Ele desceu os beijos até o tecido
da minha calcinha. Sem ao menos tirar a boca da minha pele, ele arrebentou a tira da minha
calcinha e guardou no bolso da sua bermuda. Quando abri a boca pra protestar ele colocou
sua língua na minha parte sensível me fazendo perder o raciocínio. Ele fazia movimentos
leves e precisos causando leve tremores em meu corpo. Segurei seus cabelos e Lucas
gemeu. De repente ele levantou do chão e saiu correndo em direção ao quarto e voltou
pelado desenrolando uma camisinha em seu membro ereto.
Continuei deitada da forma que eu estava, mas ele segurou em meu quadril e me virou com
tudo de frente para o tapete. Deu um tapa em minha bunda e levantou minha bunda a
deixando encostada em sua pelve. Ele brincou com a cabeça de seu membro na minha
entrada e foi introduzindo com cuidado. Meu corpo se arrepiava com as novas sensações
que estava sentindo. Nunca senti nada igual com Pedro. Pedro era ogro e pensava somente
em seu prazer. Lucas era carinhoso, gentil e ao mesmo tempo intenso. Ele me virou de
frente para ele e ficamos ali, curtindo um ao outro, nos olhando, descobrindo o corpo um do
outro. Até o dia amanhecer.

22...

“Grandes realizações são possíveis quando se dá importância aos pequenos começos.”


(Lao-Tsé)

Os dois dias restantes de viagem foram magníficos. Joguei vôlei na praia, coisa que eu
nunca tinha feito pra variar. Perdi a parte de cima do biquíni na água. Apostamos corrida e
perdi (óbvio). Lucas só ria de mim. Eu adorava vê-lo sorrindo. Nossas conversas fluíam com
mais facilidade e ele falava abertamente sobre sua vida.
No último dia de viagem quase não saímos da casa. Passamos o dia todo deitados no tapete
fofinho, fazendo amor, contando piadas, pagando meus micos, foi tudo perfeito.
Na hora de ir embora eu tive vontade de chorar só de saber que eu voltaria pra minha
vidinha medíocre e sem graça. Fizemos o caminho de casa praticamente em silêncio. Lucas
me beijava e segurava minha mão, mas não aparentava triste com o fim da viagem. Quando
chegamos em frente à minha casa ficamos um olhando para o outro. Dizíamos muita coisa
com o olhar. Lucas desceu do carro e me ajudou a descer.
-Eu não quero que vá! - falei me sentindo triste.
-Eu posso voltar... pra vermos um filme.. pra ficarmos juntos!
-Promete?
-Sim! Vou passar em casa pra pegar algumas coisas e jaja eu volto!
-Tá bom!
Peguei minha mala e Lucas quis colocar pra mim dentro de casa, mas não deixei. Queria que
ele fosse para a casa dele e voltasse o mais rápido possível. Despedi-me dele e abri a porta
da minha casa. Entrei feliz e cantarolando, mas o sorriso morreu na hora quando vi Pedro
sentado no meu sofá.
-O que você está fazendo aqui?
-Vim conversar com você!
-Com que direito você entra dessa forma na minha casa?
-Eu ainda tenho a chave!
-Então me devolva agora!
-Eu preciso conversar com você Nati!
-Não temos mais nada pra conversar! Vai embora!
-Eu quero me desculpar por ter te agarrado aquele dia! Eu estava bêbado!
-Tá bom! Está desculpado! Pode ir!
-Nati... - ele veio até mim.
Quando ele chegou mais perto, Lucas abriu a porta da sala e ficou nos olhando. Ele fechou a
mão em punho e veio pra perto de mim.
-Você está bem? – ele perguntou em meu ouvido.
-Sim! Ele já estava de saída!
-Não estou não!
-Está sim cara! Que eu saiba essa não é sua casa e ela já deixou claro que não quer você
aqui!
-Não te perguntei nada! - Pedro respondeu aumentando a voz.
-Você vai sair agora! Não tenho mais nada pra conversar com você! – gritei.
-Você está surdo? - Lucas perguntou a Pedro.
-Foda-se vocês dois!
-Minha chave! -estendi a mão para ele.
Pedro me olhou com raiva, jogou a chave no chão e saiu batendo a porta atrás dele. Suspirei
de alívio.
-Por que você voltou?
-Você esqueceu seu celular no carro.
-Graças a Deus!
Lucas beijou minha testa e me abraçou.
-Eu não vou a lugar nenhum agora!
-Eu acho perfeito! -ele sorriu e me pegou no colo nos levando para o sofá.
Passamos o resto da noite grudados um ao outro. Assistimos filme e peguei no sono em
seus braços. No dia seguinte ele me deixou na porta da loja e Aline quase virou do avesso
quando viu ele parando o carro. Passei metade do dia contando pra ela todos os detalhes e
ela me amaldiçoou por não ter ligado pra ele antes. Lucas me enviou uma mensagem
dizendo que não poderia me buscar na loja, pois teria aula, mas que se eu quisesse ele iria à
minha casa depois. Claro que eu quis.
Quando cheguei em casa fui finalmente desfazer as malas. Virei ela de ponta cabeça na
cama e de lá caiu um envelope. Abri e vi que todo o dinheiro que entreguei à Lucas, estava
lá dentro. Sorri igual uma boba e mandei mensagem para ele.
"Por que você devolveu o dinheiro?"
"Porque você não era apenas mais um trabalho pra mim"
"Obrigada!"
"Eu que agradeço! Já estou com saudade! Até mais tarde! Beijos!"
"Eu também! Beijos"
Me senti uma adolescente apaixonada e estava amando essa sensação! Terminei de
arrumar as coisas e fiquei esperando ele chegar.
Assim que ele chegou, transformou nossa noite foi perfeita como todas as anteriores em
que estive com ele.

23...

“Jogue tudo fora, mas principalmente esvazie seu coração, fique pronto para a vida, para um
novo amor. Lembre-se somos apaixonáveis, somos capazes de amar muitas e muitas vezes.
Afinal de contas, nós somos o amor.”
(Desconhecido)

Dois meses se passaram e Lucas e eu estávamos cada vez mais unidos. Ele dormia quase
todos os dias na minha casa ou eu na dele. O tempo que ele tinha livre me ajudava na loja e
quando eu tinha um tempinho ajudava ele nos estudos. A gente evitava falar sobre seu
trabalho. Ele não se sentia à vontade e muito menos eu. Tinha semanas que ele tinha um dia
de trabalho, mas em outras trabalhava quase todos os dias. Eu não perguntava muito, não
queria saber.
Estava ficando difícil de aceitar o fato de André ficar saindo com outras pessoas. Eu sei que
é seu trabalho, mas eu também fui um dia. E era uma coisa impossível não querer ficar
próxima dele. Andre cativava a todos com seu charme e olhos azuis. Ele dizia que recusava
os encontros com algo a mais, mas mesmo estava se tornando muito difícil pra mim. Eu não
conseguia mais aceitar que ele poderia estar passando um fim de semana comigo fazendo
absolutamente nada, mas que ele estava em algum encontro romântico sendo afetuoso e
carinhoso com alguma outra mulher. Tentei levar até que ele acabasse sua faculdade e
aceitasse o emprego na loja, mas hoje foi a gota d'agua pra mim.
Tínhamos combinado a semana inteira de passar um fim de semana somente nós dois na
sua casa da praia. Fiquei devendo favores à Aline por me cobrir em sua folga e quando eu já
estava com as malas prontas ele me ligou dizendo que não poderia ir mais, pois um
trabalho que estava programado para a semana seguinte, foi antecipado. E o pior não é
isso! O encontro se tornou uma viagem!
-Eu não acredito que você aceitou!
-Eu tive que aceitar! A grana e muito boa!
-E a nossa viagem?
-A gente vai semana que vem!
-Você sabe que não posso ir semana que vem Lucas!
-Me desculpa pequena, mas não pude recusar.
-Não pôde?
-Não! Já falei que a grana era bem alta!
-Era a porra de um encontro! E agora é uma viagem!
-Desculpa. ...
-Quer saber? Não desculpo! Eu não consigo mais! Não dá! Isso está se tornando cada vez
mais frequente e não sei mais lidar com isso!
-O que você está dizendo? Que quer que eu pare de trabalhar dessa forma?
-Não! Estou dizendo que não consigo mais aceitar isso pra mim! Não sei mais lidar com
isso!
Ele ficou em silêncio.
-Eu sabia que isso ia nos trazer problema um dia! Por isso tentei me afastar de você!
-Ah é? E quando eu disse que ia embora eu disse você pediu pra eu ficar?
-Hoje eu agiria diferente!
Fiquei em silêncio.
-Desculpa Ná... não foi isso que eu quis dizer... eu...
-Olha, eu sempre te apoiei muito no seu trabalho, te ajudei. Mas eu não estou mais sabendo
lidar com isso! Te dei mil chances de trabalhar na loja, mesmo sem você estar formado!
Poderia trabalhar como estagiário até se formar, mas você sempre recusou!
- Eu ganho muito bem fazendo o meu trabalho agora! E na loja eu ganharia bem menos!
-Idai? Seria até você se formar Lucas! você sabe que o salário seria muito bom quando
estiver formado!
-Mesmo assim!
-Mesmo assim? E agora que temos uma viagem marcada há um tempo você simplesmente
se acha no direito de cancelar porque você vai ganhar mais e acha que eu devo aceitar que
você vai viajar com uma estranha?
-É o meu trabalho!
-E essa é minha vida!
-O que você quer que eu faça?
-Nada!
-Eu não vou largar meu trabalho. Não agora!
-Quando então? Quando não estivermos mais juntos?
-Ná..
-Chega. Faça uma boa viagem e pode deixar que levo suas coisas pra sua casa.
-Pequena... não faz isso...
-Não sou eu quem está fazendo! É você! Tchau Lucas!
Desliguei o telefone antes que ele dissesse mais alguma coisa. Lucas não precisava mais
desse emprego. Ele conseguiu juntar um bom dinheiro que o sustentaria por meses depois
de formado. A diferença é que não era mais uma necessidade e sim que ele gostava do
trabalho dele. Meu coração estava apertado com tudo isso. Nós nunca dissemos que nos
amávamos. Demonstrávamos de outras formas, com gestos, mas nunca as palavras exatas e
acho que nunca seriam ditas.
Nem avisei Aline que não iria mais viajar. Preferi ficar enfiada embaixo do edredon,
passando por mais uma fossa e levantar de cabeça erguida na segunda feira de manhã!
24...

“É uma dor que agora machuca o meu coração,


É a triste dor da decepção,
É o tipo de dor que te arrasta para o olho do furacão,
Que faz sua vida virar uma confusão, que te joga no chão...
É nada mais nada menos que a dor da decepção!”
(Manuella Christina de Sousa)

Passei o fim de semana todo chorando. Lucas não me procurou, e nem me ligou, então
desliguei o celular pra não ficar mais triste. Peguei uma mala e joguei todas suas coisas
dentro dela. Ele era um imbecil! Coloquei suas camisetas, bermudas, cuecas, loção pós
barba, perfume, e até algumas fotos nossas. Não queria mais nada dele. Não iria ficar
morrendo por ele como fiz por Pedro. Só que o mais incrível é que eu estava mais triste do
que imaginava. Sentei no chão com sua cueca vermelha em uma mão e uma foto nossa na
outra, e percebi que aquele não era só um rolo. Eu amava Lucas! Mesmo tão pouco tempo
juntos, eu o amei. Acho que ele me conquistou desde o começo com seu sorriso lindo e
travesso. Seu jeito alegre de ser. Eu iria sentir muita falta dele.
Hoje já é domingo e amanhã eu teria que trabalhar e agir como se nada tivesse acontecido.
Essa era a pior parte. Saber que eu não acordaria com ele ao meu lado e que ele não estaria
me esperando ao chegar em casa.
Eu sei que agi de forma radical, mas a tendência é só piorar com o passar do tempo. Ele ia
ficar ainda mais focado em seu trabalho e isso iria interferir no nosso namoro. Então achei
melhor cortar o mal pela raiz antes que cresça e me machuque de uma forma irreversível.
Coloquei a mala com as coisas de Lucas no banco do passageiro e fui em direção à sua casa.
Ele morava à trinta minutos da minha casa. Estacionei o carro na frente, peguei minha
chave reserva e entrei. Tudo estava como eu deixei. Teve um dia que ele teve que trabalhar
até tarde e eu fiz uma mega faxina e mudei os móveis de lugar. Lucas ficou muito feliz com
aquilo e fizemos amor no sofá.
Coloquei a mala no chão e saí. Tranquei a porta e joguei a chave por baixo.
Infelizmente esse não era o final que eu queria, mas que eu já esperava!

A semana seguinte foi uma droga! Aline me atormentou a semana toda dizendo que eu fiz
merda, mas que eu tinha razão! Não entendi essa parte e nem queria entender. Lucas não
me procurou um dia sequer. Simplesmente desapareceu. Acho que ele ficou satisfeito com
as minha decisão.
A semana se arrastou. Eu acordava, tomava café, ia trabalhar, voltava pra casa, tomava
banho, jantava e dormia. No dia seguinte, tudo se repetia exatamente igual.No domingo à
tarde a campainha tocou. Meu coração palpitou de esperança, mas quando abri a porta, ela
morreu.
-Entrega para Nataly Bonilha!
-Sou eu!
-Assine aqui por favor!
-Mas eu não comprei nada!
-A entrega é para a senhora! Pode assinar aqui por gentileza?
Assinei onde ele indicou e dei espaço para que ele entrasse. O homem colocou um rolo
imenso de alguma coisa no chão da minha sala, assentiu e foi embora. Eu não lembrava de
ter comprado nada. Peguei uma tesoura e fui cortando a embalagem e quando finalmente
estava tudo desembrulhado, comecei a chorar. Peguei o bilhetinho que estava dentro e meu
coração doeu mais ainda.
"EU SINTO MUITO POR TUDO! ESPERO QUE ACEITE O TAPETE FOFINHO DE PRESENTE. ELE
NÃO É MAIS O MESMO SEM VOCÊ!"
Empurrei todos os móveis para longe e ajeitei o tapete no centro da sala. Ele não tinha nada
a ver com os móveis, mas ficou perfeito ali. Deitei de barriga para cima e encarei o teto. Eu
chorava e sorria ao mesmo tempo. Eu era uma idiota.

Mais uma semana passou e Lucas não me procurou. Era como se eu não existisse pra ele.
Fiquei com tanta raiva que tirei o tapete fofinho e enrolei-o deixando escondido atrás do
sofá.
Aline tentava me levar pra sair, mas eu não tinha vontade. Ela fez uma chantagem
emocional tão brutal que concordei em sair com ela na sexta à noite. Aline disse que
estariam alguns amigos e amigas e assim eu poderia socializar com as pessoas. Acho que
isso nem é uma palavra. Ela escolheu minha roupa, arrumou meu cabelo e fez minha
maquiagem. Não ficou nada exagerado e sim bonito. Meu vestido era preto com a cintura
demarcada. Coloquei um salto e ficou ótimo.
As 23h00 eu já estava desesperada para ir pra casa. Aline estava com seu namorado e as
outras pessoas conversavam entre si. Eu tinha tomado umas caipirinhas então já não estava
tão normal assim. Fui ao banheiro e me olhei no espelho. A minha cara era de derrota. Eu
nunca soube superar um coração partido. Eu ficava sempre na merda até outro amor
aparecer. Saí do banheiro decidida a encontrar outro "amor" ou um casinho pra hoje. Pedi
uma caipirinha no bar e fiquei olhando ao redor procurando algum rapaz sozinho e que me
atraísse. Tomei um gole e avistei um homem de costas com um belo de um corpo. Ele
conversava com um casal e parecia aparentemente sozinho. Ele usava uma camiseta preta
deixando pra imaginação os músculos envolta dela. Fui andando devagar em sua direção
deixando claro que quem estava me comandando era a bebida. Quando eu estava à alguns
passos dele, uma mulher linda se aproximou dele e passou o braço ao redor de seus
pescoço. O homem passou a mão em sua cintura e beijou sua bochecha. Quando virei de
costas escutei a sua tão familiar risada. O único homem por quem me interessei naquele
lugar era Lucas!
Tentei sair de perto, mas uma multidão de pessoas dançando fechou meu caminho. Eu
ficava rodando igual uma barata tonta até que me empurraram e esbarrei em alguém atrás
de mim. Tentei andar sem olhar pra trás e segurando as lágrimas pra dentro dos olhos.
Escutei ele dizer “N|?”, mas corri dali o mais r|pido que pude.
Mandei uma mensagem para Aline dizendo que já estava indo e que não estava me sentindo
bem. Ela disse pra eu ligar caso precisasse de alguma coisa. Fui andando meio cambaleando
para o meu carro, mas decidi ir embora a pé. Eu não estava em condições de dirigir agora.
Tirei meus sapatos e os carreguei na mão. Deixei as lágrimas correrem em meu rosto.
Caminhei por 40 minutos. Sozinha, chorando e bêbada.
Cheguei em casa e afastei todos os moveis da sala e coloquei o tapete fofinho mais uma vez
no chão. Puxei uma almofada, deitei com a mesma roupa que eu estava e peguei no sono
minutos depois.
25...

“Viver é enfrentar um problema atrás do outro. O modo como você o encara é que faz a
diferença.”
(Benjamin Franklin)

(Lucas)
Quando a Nataly disse que levaria minhas coisas e desligou o telefone, eu não sabia o que
fazer. Eu queria ir até ela e mostrar que ela era mais importante que o meu trabalho, mas
ao mesmo tempo achei melhor respeitar sua decisão. Achei melhor dar um tempo e depois
conversar com ela quando estivesse mais calma.
Nataly devolveu mesmo minhas coisas. Quando cheguei em casa e vi tudo lá, me fez
perceber que tinha acabado mesmo!
Ao vê-la aquele dia me desestabilizou por completo. Ela estava linda! Eu queria pega-la no
colo, levar pra minha casa e matar toda a saudade que estou dela. Corri atrás dela, mas não
encontrei. Não sei se ela pegou um taxi, porque o carro dela ainda estava no
estacionamento. Vi sua amiga Aline com seu namorado, mas achei melhor não ir falar com
ela naquele momento. Poderia piorar ainda mais a situação. Naquela noite eu disquei seu
número diversas vezes e desisti de ligar. Eu queria explicar tudo pra ela, mas não queria
magoá-lá ainda mais.
Ela não me procurou e optei por fazer o mesmo. Nataly já tinha se ferido muito com Pedro e
não queria lhe causar mais sofrimento. Eu sei que fui um covarde, mas eu não queria
invadir seu espaço sabendo que eu não poderia largar meu trabalho. Pelo menos não agora!
Sempre disse à Nataly, que não poderia deixar meu trabalho porque precisava dele pagar a
faculdade, mas na verdade eu precisava desse dinheiro para pagar uma dívida de drogas
que meu irmão deixou. Ele deixou meu nome na mão daqueles filhos da puta que me deram
o prazo de cinco meses para quitar o valor todo. Eles não se importaram que eu não tinha
nada a ver com o que meu irmão fez, eles queriam o dinheiro deles de volta e iam conseguir
por bem ou por mal. O prazo está se esgotando e não posso correr o risco de colocarem as
mãos nela. Eles sabem tudo sobre Nataly, inclusive seu endereço. Disseram que eu não
poderia contar nada a ela senão não nos deixariam mais em paz! Quando eles disseram o
que poderiam fazer com ela, eu queria matar um por um. Trabalhei igual um louco esses
dias, vendi algumas coisas pra juntar dinheiro mais rápido e agora faltava só uma merreca
da dúvida. Eu não aceitei mais nenhum trabalho que precisasse de sexo. Eu não queria mais
isso pra mim, só com Nataly.
Minha formatura vai ser daqui um mês e estou fazendo tudo o que for possível pra resolver
esse problema de vez e recuperar o amor da minha pequena. Talvez ela não queira nem
falar comigo quando eu aparecer, mas vai ser um risco que vou ter que correr. Eu não
aguento mais ficar longe dela. Eu precisava olhar em seus olhos e dizer como eu sinto
muito, como eu a quero comigo o tempo, como esse emprego não significa nada pra mim e
como eu a amo!
Nossa como eu a amo! Seu jeito distraído e desastrado, seu sorriso bobo quando gosta de
alguma coisa, sua gargalhada estridente quando conto uma piada. Que saudade estou de
ouvir seus gemidos de prazer, de sentir sua pele na minha, de acordar e ver seu rosto como
a primeira coisa do dia. Eu sei que vai ser difícil fazê-la confiar em mim de novo, mas vou
virar do avesso para que ela me escute e desculpe.
Aí Meu Deus, sempre achei que jamais sentiria isso por alguém, mas eu a amo!
Isso ai!
Eu a amo e vou ter ela de volta pra mim, porque senão minha vida não vai mais ter sentido.
26...

“Quero apenas cinco coisas...


Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o outono
A terceira é o grave inverno
Em quarto lugar o verão
A quinta coisa são teus olhos
Não quero dormir sem teus olhos.
Não quero ser... sem que me olhes.
Abro mão da primavera para que continues me olhando.”
(Pablo Neruda)

Acordei meio perdida no tempo. Olhei no relógio e já eram quase duas horas da tarde.
Levantei devagar e fui direito pro banheiro. Tomei um susto com o meu reflexo. Meu cabelo
estava todo bagunçado e embaraçado. Minha maquiagem estava escorrida nas bochechas
me fazendo parecer um urso panda. Tirei o vestido e entrei no chuveiro. Um tempo depois
saí renovada. Assim que me vesti, minha campainha tocou. Andei em passos lentos até a
sala e abri a porta. Pedro estava parado me olhando.
-O que você quer?
-Posso entrar? Preciso falar com você!
-E não podia fazer isso pelo telefone?
-Você não atende minhas ligações!
-Certo!
Entrei em casa e deixei a porta aberta indicando que ele entrasse. Fui até a cozinha
preparar uma vitamina. Peguei as frutas e coloquei na pia.
-Precisa de ajuda?
-Fala logo o que tem pra dizer!
-Calma!
-Não tenho calma! Quero que fale logo ou simplesmente volte por onde entrou!
-Quero saber como estão as coisas...
-Que coisas?
-Ah, seu trabalho, namoro!
-Nada disso é da sua conta!
-Olha, eu sei que você está com muita raiva de mim agora, mas preciso te contar uma coisa!
-O quê?
-Você tem todo direito de não acreditar em mim, mas vim como seu amigo e não acho justo
você ficar no escuro nisso tudo.
-Você vai falar ou vai ficar enrolando?
-Eu vi seu namorado ontem na balada com uma mulher!
-Eu sei!
-Você sabe? - Pedro me olhou de olhos arregalados e surpreso com minha resposta.
-Sim!
-E você não se importa?
-Não!
-Como?? - ele ainda estava chocado.
-Não me importando! Precisa falar mais alguma coisa?
-Eu...
-Você sabe onde fica a saída.
Taquei as frutas no liquidificador com o leite e bati tudo. Pedro veio até mim, segurou meu
braço e desligou o aparelho.
-Nataly, se você precisar de alguma coisa, pode contar comigo!
-Ah claro, meu ex namorado que me fez corna, que me traiu com minha amiga e que me
atacou no meio do mato! Acho que vou passar!
-Eu sinto muito por tudo aquilo! Eu sinto mesmo! Eu estava fora de controle... eu não
suportei ver você com aquele cara eu. .
-Você o que? Não aceitou o fato de que segui em frente? Que eu estava bem e feliz sem
você? Que os melhores momentos da minha vida foram os que passei ao lado de Lucas?
-Quem é Lucas?
-André!
-O quê? Não estou te entendendo!
-E nem vai! Só vai embora por favor!
-Se você estava tão feliz, por que ele não está aqui agora? Por que estava com outra ontem?
-Só vai embora...
Virei de costas para ele e liguei o liquidificador mais uma vez. Um tempo depois olhei para
trás e Pedro não estava mais na cozinha. Senti lágrimas quentes em meu rosto. A raiva
tomou conta de mim. Corri para a sala, peguei o telefone e disquei o número de Lucas. Dois
toques depois ele atendeu com sua voz rouca de sono.
-Por que você tem que ser tão idiota? Por que você foi tão idiota?
-Ná? Eu..
-
Euodeioquevocêtenhaescolhidoabostadoseutrabalhoaoinvesdemim.Euodeiocomoestoumes
entindoagora.Eumeodeiomaisaindaporterteligado!
-Pequena, fala devagar, eu....
-Não está me entendendo!
-Eu sei que te magoei, mas peço pouco de paciência e tudo vai se ajeitar, eu prometo que
vou te explicar tudo! Eu....
-Tchau Lucas!
Desliguei a ligação, voltei para a cozinha, tomei dois copos de vitamina e fui para a sala
furiosa. Afastei os móveis e enrolei o tapete fofinho mais uma vez.
Hoje eu colocaria um ponto final nessa história de uma vez por todas!
27...

"Desejo a vocês: Namoro no portão, domingo sem chuva, segunda sem mau humor, sábado
com seu amor. Chope com os amigos, viver sem inimigos, filme na TV. Ter uma pessoa especial
e que ela goste de você."
(Carlos Drummond de Andrade)

Assim que abri a porta de casa quis chorar mais ainda. Meu carro não estava lá! Eu larguei
ele no estacionamento da balada. Chamei um taxi e perguntei se ele faria a viagem com o
tapete no carro e ele disse que não. Então pedi que me levasse até onde estava meu carro.
Uma hora depois eu já estava a caminho da casa de Lucas. O tapete não coube direito no
carro então tive que ir o caminho todo com o porta malas aberto. Estacionei na frente da
casa dele e comecei a esmurrar a porta.
-Abre essa bosta agora!
Gritei e bati mais ainda na porta. Fui até o carro pegar o tapete. Puxei de um lado, puxei do
outro, subi nele, deu socos, xinguei e não consegui tirar ele de dentro do carro. Puxei mais
uma vez com força e a única coisa que se mexeu foi a porta batendo na minha cabeça.
Praguejei o carro todo e tirei a cabeça de lá de dentro. Olhei em direção à casa e quase
morri.
Lucas estava vestido somente de uma cueca boxer amarela. Seu cabelo estava bagunçado,
seus olhos pareciam ainda mais azuis, seu rosto estava amassado e estava ainda mais
irresistível desde a última vez que o vi sem roupa. Fiz um esforço tremendo pra tirar os
olhos dele. Olhei para o tapete e gritei:
-Você pode tirar essa bosta de dentro do meu carro?
-O quê?
-Essa porcaria de tapete chato que não me deixa em paz! Ele quer participar de toda minha
vida e não quero ele atrapalhando tudo inclusive meus sonhos!
Lucas veio até mim e olhou em meus olhos.
-O que é porra?
-Adoro quando você fala palavrão!
Acho que gozei. Será que ele percebeu?
Lucas se aproximou do carro e empurrou o tapete ainda mais pra dentro. Olhou para a
minha cara e fechou o porta malas.
-O que você está fazendo?
-Te ajudando!
-Você não resolveu meu problema!
-Foi um presente! Se não quiser mais, põe fogo!
-Grosso!
-Você gosta!
Gosto!
Lucas se aproximou milímetros de mim. Olhou meu rosto e para minha boca. Ele lambeu os
lábios e sorriu de lado, mas não disse absolutamente nada.
-Já que você não tem educação em fazer um mísero favor, vou conseguir alguém que faça!
Falei contando os segundos pra me afastar daquela tentação em forma de homem que
estava na minha frente. Desviei de Lucas que segurou minha cintura.
-Você não vai atrás de ninguém! Você vai entrar comigo! Queira ou não!
Olhei pra ele sem entender o que ele quis dizer. Ele sorriu e agachou me levantando e me
jogando em seu ombro. A visão que eu tive, foi espetacular. Seu bumbum redondinho
estava na minha cara! Se eu movesse alguns centímetros, eu poderia dar uma bela mordida.
Consegui até dez e me controlei desse impulso maluco. Lucas entrou em sua casa e bateu a
porta. Continuou me carregando como se eu não pesasse nada e me jogou em sua cama.
-Isso é sequestro!
-Não quando você quer estar aqui.
-Eu não quero!
-Não é o que seu corpo diz!
Ele foi até a porta do quarto, trancou e colocou a chave dentro da cueca.
-O que você pensa que está fazendo?
-Você vai me ouvir! E se quiser ir embora antes, é só pegar a chave! - o cretino apontou para
a cueca.
-Cretino!
-Nunca discordei!
-Fala logo!
-Senti muito sua falta!
-Problema seu!
-Não é não! É problema seu! Foi você quem colocou um ponto final na gente!
-Por que será né?
Eu estava praticamente deitada em sua cama, enquanto Lucas permanecia somente de
cueca na minha frente.
-Ná. ..
-Será que você pode ser menos cara de pau e vestir uma roupa? Não acho legal você ficar só
de cuecamostrandooquantovocêégostosoquandoestamostendoumaconversaséria!
-Te incomoda eu ficar só de cueca? - ele falou rindo.
-Muito!
Eu desacreditei no que ele fez em seguida. Acho que meu coração parou por uns segundos.
Lucas simplesmente abriu um sorriso e colocou a mão no elástico da cueca. Olhou para
mim com a sobrancelha levantada e abaixou a cueca até o tornozelo. Eu não sabia se ria, se
chorava, ou se implorava pra ele fazer sexo comigo.
-Melhorou?
-Você é um idiota!
-Não sou não!
Me joguei na cama e fiquei encarando o teto. Eu sentia meu corpo tremer de ansiedade e
nervoso por estar no mesmo ambiente que ele.
-Eu te amo Ná!
Nessa hora meu coração parou mesmo! Levantei a cabeça com tudo esperando ver ele
rindo da minha cara, mas ele não estava. Lucas estava sério, e me olhava esperando talvez
uma resposta. Ele estava com as mãos tapando o seu lindo colega, mas não tirava os olhos
de mim.
-Eu sei que dei a entender tudo errado. Eu sei que pareceu que eu preferia meu o trabalho.
Sei que fui um covarde. Sei que te magoei. Sei que te fiz sofrer, mas eu espero que você
confie em mim e que saiba que não fiz nada por querer, eu tive que agir assim, eu não posso
te contar o motivo agora, mas peço que confie em mim e que espere eu poder te contar toda
a verdade!
Eu ainda estava em silêncio. Era possível ouvir minhas engrenagens funcionando.
-Eu sei que não faz sentido nada do que estou falando agora, mas quero muito que acredite
em mim! Eu nunca quis ficar longe de você! Porra! Eu te amo Ná! Fiquei louco em ficar
todos esses dias sem você! Minha vida ficou um inferno! Eu só preciso que me dê mãos um
tempo!
-Por que eu faria isso? - consegui formular uma frase. -Você pode por favor se vestir?
Lucas ainda estava como veio ao mundo. Ele puxou o lençol da cama e enrolou em sua
cintura deliciosa. Deu a volta na cama e se sentou ao meu lado.
-Eu não quero te perder! Não quero ficar sem você! Só que estou sendo obrigado a fazer
isso! Não posso te falar agora, é muito arriscado, mas por favor me dá uma chance! Eu juro
que se você me der uma chance, e eu fizer alguma cagada, você pode me espancar até a
morte! Eu não ligo! Só não quero ficar sem você!
Lucas parecia sincero e desesperado. Eu não o sabia o que fazer.
-Quanto tempo?
- O quê?
-Quanto tempo você precisa?
-Duas semanas!
-Exatas?
-Ou menos!
-Se passar mais que duas semanas peço que não me procure nunca mais!
Ele ficou em silêncio. E olhou para suas mãos.
-Entendeu? Nunca mais! Essa é a chance que estou te dando. Mas só porque eu te amo
também!
Lucas levantou o rosto surpreso com minha resposta. Eu mal acreditava no que tinha
acabado de falar, imagine ele.
-Porra! Como senti sua falta! – Lucas falou aliviado.
-Eu sei... eu sou foda!
Ele riu e tomou meus lábios. Sentir sua boca na minha foi algo surreal. Seu beijo era o beijo
mais gostoso que já provei em toda minha vida. Ele tentou me deitar na cama, mas resisti.
Não é assim que as coisas funcionam não!
-Eu tenho três condições!
-Pode falar!
-Só vou fazer sexo com você quando me explicar tudo nos mínimos detalhes!
-Porra!
-Não é pra fazer sexo com outras mulheres!
-Eu não faço desde que te conheci!
-Ótimo! E terceiro eu quero que você me ajude a colocar o tapete fofinho de volta na minha
sala! Ele entalou no carro!
Lucas começou a gargalhar. Como senti falta de sua risada!
-Você quem manda!
Peguei a chave da porta que estava no meio de sua cueca no chão e fui para o meu carro
esperar por ele. Eu não iria resistir ao vê-lo se trocar na minha frente.

28...

“Amar dói tanto que você fica humilde e olha de verdade para o mundo, mas ao mesmo tempo
fica gigante e sente a dor da humanidade inteira. Amar dói tanto que não dói mais, como toda
dor que de tão insuportável produz anestesia própria.”
(Tati Bernardi)

Lucas me ajudou a arrumar o tapete de onde não deveria ter saído. Depois que arrumamos
os móveis de forma correta, parecia que o tapete pertencia aquele lugar.
-Ai como eu amo!
Lucas olhou pra mim e sorriu.
-Também te amo muito!
-Eu estava falando do tapete, mas obrigada!
Lucas gargalhou e balançou a cabeça como se tivesse escutado a coisa mais absurda do
mundo.
-Se eu soubesse que você ia amar mais um tapete do que eu, nem teria apresentado vocês
dois!
-Você nunca amou tanto algo assim?
-Sim!
-O quê?
-Uma figurinha.
-Sério?
-Sim! Eu fiquei meses comprando pacotes de figurinhas na banca de jornal só pra conseguir
aquela.
-E você conseguiu?
-Consegui! Eu carregava ela para todos os lugares! Eu dormia com ela embaixo do
travesseiro.
-Você ainda tem ela?
-Não... meu irmão rasgou quando brigamos uma vez.
-Ele foi um idiota!
-Sim. Na maior parte do tempo ele era um idiota.
-Devia ser inveja!
Lucas sorriu, mas um sorriso triste. Mudei de assunto e comecei a falar sobre a vinda de
Pedro aqui.
-Eu não quero mais me sentir daquela maneira. Foi horrível não dizer nada!
-Você devia ter falado que eu estava trabalhando.
-Não! Isso é quebrar uma das regras! Já quebrei quase todas, não podia quebrar mais uma!
Lucas riu e me beijou. Me afastei dele quando o beijo começou a ficar mais intenso.
-Continuando... espero que você não faça eu me sentir assim de novo!
-Me desculpa pequena. Mas eu não fiz nada com ela! Ela me contratou somente pra
acompanhá-la. Nós nem beijamos na boca. Eu juro!
-Sério?
-Sério! Eu não quero fazer você se sentir assim! Eu sinto muito mesmo!
-Tá bom!
-Então foi por isso que você me ligou falando igual vitrola?
-Vitrola uma ova! Só falei um pouco mais rápido que o normal!
-Você parecia uma matraca! Eu não sabia se ria ou se corria até a sua casa pra te socorrer.
-Você é um idiota!
-Acho que fico assim perto de você! Deve ser contagioso!
Dei um tapa em seu braço e fui para a cozinha. Minha barriga estava roncando de fome.
-A gente podia pedir uma pizza o que você acha?
-E uma de chocolate também?
-Sim! Se você quiser!
-Eu quero!
Lucas pediu uma pizza de quatro queijos e uma de brigadeiro com morango. Enquanto
esperávamos a pizza, Lucas foi ao banheiro e na mesma hora a campainha tocou. Peguei o
dinheiro que ele deixou em cima da mesa e fui atender a porta. Ao abrir a porta, fui
surpreendida com Pedro grudando sua boca na minha. Comecei a esmurrar ele, mas ele era
bem mais forte que eu. Mordi sei lábio com tudo fazendo de gritar de dor. Senti gosto de
sangue em minha boca e cuspi no chão.
-Eu não consigo ficar sem você Nati! Preciso de você comigo! Aquele filho da puta não te
merece!
Pedro segurou meus ombros e começou a chacoalhar.
-O filho da puta não merece ela mesmo, mas está fazendo o possível para merecer. Tira sua
mão imunda dela antes que eu te arrebente interino seu pedaço de merda!
Lucas falou atrás de mim e meu corpo até arrepiou com sua voz grossa e dominante. Pedro
soltou meus ombros olhando para Lucas e para mim.
-Que porra ele tá fazendo aqui? Ele tava com outra ontem!
-Não estava não! -Lucas respondeu.
-Eu vi seu filho da puta! Vai ter coragem de negar na frente dela? Ela mesma te viu!
-Exatamente! Ela viu e você é a última pessoa que tem a ver com alguma coisa disso! Então
eu sugiro que vá embora agora antes que eu não consiga me controlar mais!
-Você vai aceitar isso Nati?
-Vai embora! Quem é você pra falar de fidelidade?
Pedro olhou surpreso pra mim e foi caminhando pra fora da casa
-Você vai se arrepender de estar fazendo isso Nataly! E ei vou ser o primeiro a te ver cair!
Pedro saiu andando com pressa e Lucas fechou a porta. Ele me abraçou e a campainha
tocou mais uma vez. Abri a porta furiosa.
-Vai à merda seu filho da puta! Seu covarde! Eu te odeio! Quero que você exploda seu bosta!
O motoqueiro que estava com a pizza na mão, me olhou com olhos arregalados. Lucas me
empurrou pra dentro de casa e tirou o dinheiro da minha mão. Entregou ao rapaz e pediu
desculpas. Disse que eu tinha problemas mentais e que tinha esquecido de tomar meus
remédios. Ele entrou rindo em casa e eu quis bater nele inteiro.
-Qual a porra do seu problema?
-O quê? - ele olhou com uma cara de sonso.
Fui para para a cozinha pegar os pratos. Não iria resolver nada brigar com Lucas por ele ter
dito aquilo. Comi igual uma pessoa que não vê comida à muito tempo. Lucas tentou me
convencer a deixá-lo dormir em casa, mas bati o pé falando que não! Se ele tinha regras, eu
também tinha. Ele só passaria a noite comigo depois que me esclarecesse toda a história!
Tá achando o que? Eu sou difícil!

29...

“Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal.’
(Friedrich Nietzsche)

Pedro não deu mais notícias de vida e eu esperava que fosse definitivamente. Ele ficou
maluco depois que me viu com Lucas. Acho que não conseguiu aceitar que finalmente segui
em frente.
O prazo das duas semanas que Lucas me pediu chegou ao fim. Aqui estava eu, sozinha em
casa em plena sexta feira esperando Lucas aparecer e me explicar de uma vez por todas
todo esse mistério que ele está envolvido.
Eu estava assistindo um filme e peguei no sono. Acordei assustada com os créditos finais na
tela. Olhei no relógio e já eram 23h47 e Lucas não apareceu. Olhei meu celular e não tinha
nenhuma ligação ou mensagem. Fiquei com tanta raiva que desliguei meu celular, tirei o
telefone do gancho e tranquei a porta. Tomei um relaxante muscular e me enfiei embaixo
das cobertas. Eu precisava tirar Lucas da minha vida de uma vez por todas!
De madrugada acordei com um barulho vindo da sala e fiquei morrendo de medo. Levantei
em silêncio e fui espiar pela vão da porta. Estava tudo tão escuro que eu não conseguia
enxergar. Fui até meu banheiro e peguei o rodo. Abri a porta do quarto devagar e vi um
vulto se aproximando. Segurei o rodo com toda a minha força e comecei a bater na coisa
preta que se aproximava. Fechei os olhos e comecei a gritar e bater sem parar.
-AHHHHHHHHHHHHHHHHH!
-Ná!!!! Que porra! Para!!!
Escutei a voz de Lucas gritando mais alta que a minha então abri meus olhos. Ele tirou o
rodo das minhas mãos acendeu a luz e eu queria socar a cara dele ainda mais.
-QUAL É A PORRA DO SEU PROBLEMA? -gritei com ele.
-Qual é a porra do seu problema? Porque me bateu porra?
-Porque você invadiu a minha casa igual um bandido?
-E é assim que você ia se defender de um?
-Não muda de assunto! Quero saber por que invadiu a minha casa!
-Seu dois telefones estão na caixa postal!
-E por isso você se acha no direito de sair invadindo a cara dos outros? Eu poderia ter pego
uma arma sabia? Você estaria morto agora!
Lucas arregalou tanto os olhos que ficou assustador.
-Vo...você tem uma arma?
-Não! Mas se tivesse não estaríamos tendo essa conversa agora!
Passei por Lucas e fui para a cozinha tomar um copo de água. Meu corpo ainda tremia por
causa da adrenalina.
-Eu pensei que tivesse acontecido alguma coisa!
-Ah, aí você simplesmente lembrou da minha existência e veio conferir se eu ainda estava
viva por você ter sumido o dia todo! Claro!
-Não tenho culpa que seu ex-namorado é um psicopata!
-E você é certo da cabeça né?
-Por que você está me tratando dessa forma?
-Olha Lucas, eu não estou afim de conversa! Então sugiro que pegue seu carro e volte para a
sua casa ou de onde você veio!
-É sobre isso que quero falar. Eu tive que vender meu carro!
-Por quê????
-Você vai conversar comigo ou não? Eu falei que resolveria tudo em duas semanas! E aqui
estou pra explicar tudo!
-Custava ter mandando uma mensagem avisando se estava vivo?
-Desculpa pequena! Deixei o celular em casa quando saí de manhã.
-E se eu não gostar do que você for contar?
-Então você vai ter que decidir se vai me querer em sua vida ainda!
-É assim simples pra você?
-Não tem nada de simples! Eu só quero ficar em paz com você!
-Tá bom! Fala logo!
-Vamos pro quarto! A conversa vai ser longa!
-Você não vai tentar me seduzir pra me enrolar né?
-Só se você pedir!
-Vamos logo!
Fui para o quarto e Lucas veio atrás de mim. Me acomodei na cama e ele começou a contar
toda a história.

Uma hora e meia depois ainda estávamos conversando. Lucas se ferrou na mão desses
bandidos. Seu irmão foi a pessoa mais cretino que existe na face da terra. Agora consegui
entender porque Lucas sempre ficava triste ao falar de seu irmão. Eu não sei o que faria no
lugar dele.
-Eu prometo pequena que agora só vou trabalhar na sua loja! Se a oferta ainda estiver em
pé!
-Claro que está! E se você demorasse muito pra se decidir, íamos contratar outro
veterinário!
-Caramba! Isso foi um tapa na cara!
-Quase isso! Mas e agora? Como você vai fazer sem carro?
-Eu dou um jeito! Fica tranquila!
-Eu a sua formatura?
-O que tem?
-Você vai participar né?
-Vou sim! E você vai estar lá comigo!
-Ah, isso já estava decido antes mesmo de você me convidar!
Lucas deu risada e ri junto com ele. Passamos o resto da madrugada conversando sobre
seus planos e como será daqui pra frente com ele trabalhando na loja.

30...

“Nunca deixe que lhe digam que não vale a pena


acreditar no sonho que se tem
ou que os seus planos nunca vão dar certo
ou que você nunca vais ser alguém...”
(Renato Russo)

A formatura de Lucas foi maravilhosa. Ele estava radiante e eu muito orgulhosa. Lucas
tinha passado com as notas máximas e arrasou em seus estágios. Ele tinha dois amigos da
faculdade completamente malucos! A cada dez palavras que saíam da boca deles, onze
eram relacionadas a sexo.
Tentei convencer Lucas a convidar seus pais, mas ele disse que jamais faria isso e pediu que
eu não tocasse mais nesse assunto. Eu queria que os pais dele vissem como eles agiram
iguais dois idiotas ao culpar Lucas pela morte de Giovanni e contar sobre a dívida de drogas
que ele deixou e que quase acabaram com a vida de Lucas por causa dela, mas como isso
era uma opção dele, eu não tinha direito de passar por cima de sua vontade.
Nós estávamos utilizando meu carro enquanto Lucas não conseguia comprar outro, e eu
estava adorando ter um motorista particular.
Lucas começou a trabalhar na loja como veterinário. No primeiro dia apareceram duas
clientes que passaram por consulta com ele. No dia seguinte tinham quatro clientes
agendadas. No terceiro dia o número subiu para oito. Eu estava adorando que a loja estava
crescendo e que Lucas estava muito bem sucedido em seu sonho. Sete dias depois que
Lucas começou a atender na loja, o movimento triplicou. Algumas clientes formavam fila
para passar em consulta com Lucas. Eu estava achando tudo maravilhoso até que certo dia
eu estava tava sentada na minha cadeira e Aline entrou na minha sala. Ela se jogou na
cadeira em frente à minha e ficou me olhando.
-O quê?
-O atendimento de Lucas aumentou muito desde que ele começou né?
-Nossa! Demais! Ele deve ser muito bom no que faz! Eu estou muito feliz por ele.
-Exatamente!
-O quê?
-Você ainda não percebeu que todas as pessoas que estão trazendo seus animaizinhos para
consulta são todas mulheres?
-Claro que não! Ontem veio um rapaz! Ele tinha um gatinho e seu nome era pompom! E
usava uma coleira da mesma cor da pulseira dele. .. - Aline levantou uma sobrancelha. - ele
era gay!
-Sim! As mulheres estão quase saindo aos tapas pra passar em consulta com ele! O lucro da
loja aumentou em mais de 60% Nati! Você tem noção disso? E ele tem até um apelido!
-Qual?
-Dr. Gato!
-Claro que não!
-É sim!
-Nãooooo!
-Sim!!! Eu ameiiiiiiiiii esse apelido amiga!
-E agora?
-Agora vamos falar pra ele atender as pessoas sem camisa! Imagina amiga! Daqui a pouco a
mulherada vem passar nas consultas sem os cachorros e vamos ficar ricas!
-Há há. Muito engraçado!
-Bom, acho que não temos muito o que fazer a respeito disso!
-Eu sei... acho que vou lá dar uma espiada!
-Eu também!
Levantamos correndo e fomos em direção ao consultório de Lucas. Olhei pela fechadura e
não consegui ver muita coisa. Lucas estava examinando um cachorrinho enquanto a dona
estava sentada na cadeira de frente para a mesa. Lucas estava de costas para ela, mas eu
não conseguia ver o rosto deles. Aline abriu a porta com tudo e levantei como se eu não
estivesse espiando. Olhei direto para a cliente que estava com sua blusa aberta mostrando
seus seios fartos em um sutiã de renda vermelho.
-AI MEU DEUSSSS! -Gritei e tapei a boca com a mão.
A safada fechou a blusa e Lucas não sabia se olhava seu decote, se terminava o exame ou se
corria até mim.
-Nós podemos fazer isso? - Aline perguntou animada até demais.
Lucas deu risada e olhou para mim. Dei meia volta, fui para a minha sala e tranquei a porta.
Respirei fundo várias vezes. Eu sei que Lucas não tinha culpa, mas eu queria bater naquela
cara linda por ter dado uma espiadinha nos peito gigantes daquela mulher. Escutei alguém
bater na minha porta, mas permaneci em silêncio.
-Ná, abre a porta!
-Estou ocupada! Volte mais tarde!
-Abre!
-Merda!
Levantei e me arrastei até a porta. Destranquei e olhei para Lucas.
-O que?
-Eu quero que você saiba que foi a primeira vez que aconteceu aquilo!
-Tá bom!
-Eu tô falando sério pequena!
-Tá bom Lucas!
Ele fechou a porta com o pé e segurou em minha cintura. Encostou sua testa na minha e
ficou em silêncio.
-Você está indo muito bem! Você sempre arrasa nos seus trabalhos! Você tem até um
apelido!
-Ah é? Qual? - ele falou rindo.
-Dr gato!
-O que??? - Lucas gargalhava sem parar.
-Pois é! Acho que nunca vou ter só você pra mim!
-Eu sou só seu pequena!
-Claro! – respondi com ironia.
-Eu estou falando sério pequena!
-Ta bom!
-Te amo!
-Te amo mais!

31...

“O sucesso é ir de fracasso em fracasso sem perder entusiasmo.”


(Winston Churchill)

(Seis meses depois)


Tudo estava uma maravilha. As safadas se acostumaram com a presença de Lucas na loja,
então as consultas diminuíram consideravelmente, ainda mais depois que Lucas deixou
claro que era comprometido. A loja ainda estava lucrando muito, porque apareciam
algumas mulheres por lá só pra dar uma espiadinha em Lucas e sempre acabavam
comprando alguma coisa. Mas pra ser sincera, eu faria o mesmo se descobrisse que ali tinha
um homem tão bonito!
Lucas e eu decidimos morar juntos. Já que ele dormia todos os dias na minha casa e
trabalhávamos juntos, seria mais prático. Ele vendeu sua casa e comprou um carro.
Combinamos que se algo desse errado no nosso namoro ele iria embora para a casa da
praia. Temos que pensar em todas as possibilidades.
Lucas teve que trocar o número do seu celular, porque se eu contasse o tanto de mulheres
que ainda procuram por seus "serviços" eu enlouqueceria. Fiquei até surpresa por ele ter
atendido minha ligação tão rápido aquele dia em que contratei ele.

Hoje eu estava na minha sala analisando alguns papéis quando bateram na porta.
-Pode entrar!
Thais entrou na minha sala na maior cara de pau. Fiquei parada olhando para ela sem
acreditar que ela estava ali.
-Oi... podemos conversar?
-Sobre o que? Sobre como Pedro é na cama? - ela se sentou na cadeira do outro lado da
mesa.
-Eu já pedi desculpa!
-Não é o suficiente pra mim!
-Eu sinto muito amiga! Sinto sua falta!
-Não posso fazer nada!
-Foi um erro! Eu era uma boba! Uma adolescente!
-Eu também era! Eu confiava em você!
-Eu sinto muito!
-Eu sei... eu... preciso de tempo pra digerir isso tudo! -ela assentiu e ficamos em silêncio um
tempo.
-Rafael me deixou.
-Quando? - perguntei surpresa.
-Duas semanas atrás!
-Sinto muito!
-Ele não conseguiu lidar com o que aconteceu.
-Ele ainda fala com Pedro?
-Não! No dia do casamento ele expulsou Pedro de lá e nunca mais se falaram.
-Pedro merece pior!
-É! Ele é um cretino. Ele me proibiu de te contar sabe? Disse que daria um jeito de acabar
com a nossa amizade, mas no fim ele fez de qualquer jeito.
-Pedro é uma pessoa que nunca conheci! Ele é cruel!
-Sinto muito por não ter te contado sobre ele!
-Eu sinto muito por Rafael. Quem sabe ele mude de idéia?
-Não vai... também nem sei se quero! Nós estávamos parecendo amigos em casa. Não
éramos mais um casal apaixonado sabe? Desde o dia que em conheci André, desejei um
amor igual ao de vocês sabe? Ele te olhava com brilho nos olhos, com orgulho de estar com
você! Eu nunca vi isso em Rafael. Nem quando começamos a namorar. Tenho esperança de
conseguir isso um dia!
-Você vai! Tenho certeza!
-Obrigada por me escutar! Eu sinto muito mesmo por tudo!
-Eu também!
Thais se levantou e deu sorriso fraco. Abriu a porta e saiu. Assim que encostei na cadeira
Aline abriu a porta igual uma louca. Se jogou na cadeira e começou a perguntar tudo.
-O que ela veio fazer aqui? O que ela te falou? Por que você atendeu ela? Ela veio pedir
desculpa?
-Calma! Uma pergunta de cada vez! Ela veio me pedir desculpa mais uma vez e contou que
Rafael a deixou!
-Mentiraaaaaaaa!
-Verdade! Fiquei com dó dela! Ela realmente gostava dele!
-Dó? Você está louca? Depois do que ela te fez?
-Foi a muito tempo atrás e éramos adolescentes! Eu não a culpo. Pedro sempre consegue o
que quer.
-Sim, mas ela não foi honesta com você!
-Eu sei. Não desculpei ela nem nada, está tudo muito recente pra mim ainda!
-Claro que está! Eu acho que teria espancado ela!
-Eu sei que você faria isso!
Começamos a rir juntas.
-E Lucas? Como está tudo?
-Por enquanto tudo tranquilo!
-Que bom! Senão ia ter que arrancar as bolas dele!
-Nãooooooo! Eu gosto delas! - gargalhei.
Lucas abriu a porta, mas Aline começou a falar sem parar e não tive tempo de avisar.
-Sua tarada! Mas também né? Com um homem daquele eu colocaria suas bolas em uma
estante! Eeeee cara pra ser gostoso!
-Li...
-Eu tô falando sério! Eu sei que ele é seu namorado e jamais daria em cima dele, mas é
impossível não pagar um pau pra ele! Ele é grande? Sabe o.. pau dele? Deve ser né? Ele é
todo grande...
-Li...
-Se eu soubesse que ele era tão gostoso tinha ligado antes de você!
Lucas até então estava tentando segurar a risada, mas ele não aguentou mais.
-Pufffffff - Lucas começou a gargalhar.
Aline só olhou para mim e suspirou.
-Você poderia ter me avisado que ele estava atrás de mim!
-Eu tentei - falei rindo junto.
-Porra!
Aline levantou da cadeira e olhou para Lucas que estava com a mão na barriga de tanto rir.
-Para de rir! - ela falou pra ele.
-Ná? Você não vai responder as perguntas dela?
Aline deu soco em seu braço e saiu da sala. Lucas chorava de rir e se sentou na cadeira que
antes Aline estava sentada e olhou para mim se recuperando.
-Isso foi engraçado!
-Foi sim! Mas não é pra ficar se achando não!
-Eu? Jamais!
-Ah claro! O que você veio fazer aqui?
-Vim te chamar pra almoçar naquele restaurante novo que abriu.
-Vamos! Estou faminta!
-Novidade!
-Besta!
Dei um tapa nele e fomos almoçar.
32...

“Sinto ciúmes de tudo o que é meu, e de tudo o que eu acho que deveria ser.”
(Bob Marley)

Nós estávamos com problemas com o fornecedor de areia sanitária para gatos. Ele deixou
de entregar diversas vezes, nos fazendo perder muitas vendas. Aline sugeriu trocarmos o
fornecedor e assim foi decidido. Entrei em contato e o responsável da nova empresa
combinou de vir hoje na loja para conversarmos pessoalmente.
O dia foi uma correria. Lucas estava cheio de consultas e quase não nos vimos durante o dia
todo. As 17h em ponto, Ronaldo o representante da empresa Kelcats chegou começamos a
reunião. Aline estava com um problema no caixa e não pôde participar.
-Boa tarde, eu sou Ronaldo.
-Prazer! Nataly!
Ele esticou a mão e me cumprimentou. Ficamos um bom tempo conversando e expliquei o
problema que estávamos tento. Ele me passou valores muito bons e fiz um pedido de teste.
Ele me traria algumas amostras e se tudo desse certo ele seria o nosso novo fornecedor.
Ronaldo e lerá muito bonito. Ele tinha olhos e cabelos castanhos, um sorriso branco
maravilhoso. Sua voz era rouca e sensual mesmo sem ter intenção. Ele falava corretamente
as palavras e se expressava muito bem. Ficamos quase duas horas conversando e quando
terminamos a reunião, o pessoal da loja já tinha ido embora.
-Eu não queria tomar todo seu tempo, mas estava sendo muito bom conversar com você!
Oi?
-Ah, magina! Sem problemas!
Peguei minha bolsa e fui acompanhá-lo até a porta.
-Você precisa de uma carona? - ele olhou minha boca.
-Não precisa, obrigada!
-Tem certeza? Não seria incomodo algum!
Quando abri a boca para responder Lucas apareceu atrás de mim e passou a mão em minha
cintura.
-Atrapalho?
Eu queria cavar um buraco e me jogar dentro.
-De forma alguma! Bom, muito obrigado pela oportunidade e nos falamos amanhã!
-Tá joia! -respondi envergonhada.
-Foi um prazer fazer negócio com você!
Ronaldo sorriu e acenou com a cabeça para Lucas. Fechei os olhos e esperei o ataque de
Lucas.
-Que porra de prazer é esse? Ele deu em cima de você?
-Claro que não Lucas!
-É por que ele falou daquele jeito?
-E eu tenho que saber?
-Claro! Se quem conversou com ele foi você!
-Eu te avisei que ele viria. Ele é um representante e só! Agora para de inventar e vamos
jantar em algum lugar porque estou morrendo de fome!
Fomos para o carro de Lucas que não parou de falar um segundo.
"Não fui com a cara dele!" ; "Ele te olhou diferente" ; "Tem certeza que ele não paquerou
você? " ; "Ele queria te ver nua" ; "Não gostei dele" ; "Por que ele vai falar com você mesmo?" ;
"Quando ele aparecer quero estar junto" ; "É necessário mesmo ele ter que ir na loja de novo?
" ; "Que nome é esse Ronaldo? Quer fingir que é gostosão?" ; "Quero participar da nova
reunião"
E assim passamos o jantar inteiro. Com Lucas me azucrinando até a hora de dormir. Já
estávamos deitados e ele ainda falava sobre Ronaldo.
-Será que você está mais interessado nele do que em mim Lucas?
-Por que tá falando isso?
-Por que estou nua debaixo desse edredon e você fica falando de um homem!
-Porra! Por que não falou antes??
Lucas deitou estou cima de mim, fizemos amor, e finalmente consegui dormir sem ouvir o
nome Ronaldo mais uma vez!
Graças a Deus!

No dia seguinte Lucas ficou grudado em mim todo tempo que ele tinha livre só para estar
junto quando Ronaldo fosse trazer as amostras.Perto da hora do almoço, entrou uma
urgência no consultório e Lucas teve que sair correndo para atender. E claro sendo uma
obra do destino ou alguma câmera escondida Ronaldo apareceu assim que Lucas saiu da
minha sala. Aline trouxe Ronaldo e assim que ele entrou na sala ela conferiu seu traseiro e
fez sinal de positivo. Não aguentei e comecei a rir sem conseguir parar.
-Algum problema? - Ronaldo perguntou se divertindo.
-Não! Me desculpe! É que Aline tropeçou na porta!
-Compreendo.
Ronaldo se sentou e me entregou as amostras, conversamos sobre a parte burocrática e
tudo se resolveu.
-Você é jovem pra ter uma loja somente sua.
-Não é só minha! Aline é minha parceira! - ele me olhou com cara engraçada.
-Não parceira de parceira! Parceira de trabalho e não de sexo!
Assim que as palavras saíram da minha boca cobri o rosto com as mãos. Escutei a risada e
Ronaldo e olhei para ele.
-Desculpe, mas as palavras saem da minha boca sem que eu consiga controlar. Aline é
minha sócia! Eu não sou gay! Ok não sei porque estou te explicando isso, mas enfim!
-Fico feliz em saber que não é gay!
Senti meu estômago revirar. Eu nunca soube lidar muito bem com cantadas.
-Bom, nos vemos em alguns dias! Passarei aqui pra saber como estão as coisas e se tudo
deu certo com as amostras.
-Ok!
-E pra te ver também!
Assim que ele falou Lucas abriu a porta na maior cara de pau.
-Ele também é seu parceiro? - Ronaldo perguntou me fazendo gargalhar.
-Esse é Lucas! O veterinário da loja!
-E namorado! Prazer!
-Bom, nos falamos depois! – Ronaldo concluiu.
-Claro! Obrigada!
-Eu que agradeço! Foi prazer conhecê-lo Lucas!
Lucas ficou em silêncio encarando Ronaldo que saiu e fechou a porta. Olhei para ele que
estava com a maior cara de bravo do universo.
-Vai continuar com sua paranoia?
-Vocês têm piada particular agora?
-Não! É que eu falei que Aline era minha parceira e não sócia. Por isso ele fez aquela
pergunta!
-Eu não gosto dele!
-Você não gosta de homem nenhum perto de mim!
-Claro porra! Você é minha!
-Sou mesmo! Por isso não tem motivos pra ciúmes!
-Tá bom! -fui até Lucas e mordi seu queixo.
-Onde vamos almoçar hoje?
-Não vou conseguir almoçar com você! Ligaram e disseram que está chegando outra
urgência.
-Poxa... vou almoçar sozinha? - fiz biquinho.
-Desculpa pequena! Mas é só hoje!
-Tá bom! Então vou agora porque a parte da tarde fica uma loucura a loja!
Lucas segurou em minha cintura e me prensou na parede.
-Se tivéssemos tempo eu te comeria agora!
-Ia ser muito legal!
-Porra!
Lucas me deu um beijo e saiu da minha sala falando sozinho.
Dei risada e peguei minha bolsa para ir almoçar. Fui almoçar no novo restaurante em que
almocei com Lucas outro dia. Como ainda era um pouco cedo, estava bem vazio. Peguei um
pouco de arroz com feijão e salada. Pra mim já era o suficiente. Me sentei na cadeira e olhei
para a mesa à frente. Ronaldo estava sentado conversando no celular. Levantei
devagarinho e peguei meu prato para ir me sentar em uma mesa mais afastada, mas como
sou delicada igual coice de mula tropecei na cadeira fazendo o maior barulho. Ronaldo
olhou para mim e sorriu. Sorri de volta e me sentei novamente. Ele levantou e veio até mim.
-Bom te ver aqui!
-O..oi!
-Está sozinha?
Abri a boca para responder, mas ele se sentou na cadeira de frente para a minha. Mandei
uma mensagem para Aline vir almoçar comigo, mas ela disse que não poderia deixar a loja
sozinha.
-Cadê o seu namorado?
-Ah, ele vem daqui a pouco!
-Ele é bem ciumento né?
-Às vezes!
-Entendi. Eu também seria se fosse seu namorado.
Senti minhas bochechas queimarem de vergonha.
-E você? É comprometido?
-Sou divorciado!
-Tão novo? - ele sorriu - Desculpa!
-Não tem problema! Tão novo! Acho que me casamento foi precipitado e deu nisso.
-Eu sinto muito! Faz tempo?
-Três semanas!
-E você está bem assim? Eu estaria me debulhando em lágrimas agora.
-Acho que definitivo foi agora, mas já tinha terminado assim muito tempo.
-Eu sinto muito.
-Está tudo bem!
-Que bom!
Eu fiquei nervosa com ele me olhando daquela forma, mas não sabia como agir. Nunca fui
paquerada antes então não aprendi isso na minha adolescência.
-Posso te falar uma coisa?
-Claro!
Tomei um gole de suco. Não consegui por um grão de arroz na boca.
-Você não sai da minha cabeça desde o dia que te conheci.
Abri a boca para responder, mas a minha voz sumiu. Olhei para ele e tentei responder mais
uma vez, mas não consegui.
-Eu sei que você é comprometida, mas se um dia não for mais, você sabe meu telefone.
Concordei com a cabeça sem conseguir responder alguma coisa. Sorri e levantei com a
minha comanda.
-Eu.. eu preciso ir. Tenho uma reunião e.. você sabe.
-Claro.
Fui andando depressa para o caixa e quando fui pagar a comanda ele tirou da minha mão e
entregou o dinheiro para a moça.
-Obrigada! Não precisava! - fomos andando para a calçada.
-Não precisa agradecer! - sorri - Na verdade precisa sim! Você não faz idéia do quanto estou
me controlando pra não te beijar agora!
Oi?
-E. . Eu... e... eu...
-Eu não vou! Sei que tem namorado! Mas se ele pisar na bola, não deixe de me ligar!
Ele me deu um beijo no canto da minha boca e foi embora sorrindo me deixando parada na
calçada. Olhei para a minha loja e vi Lucas me olhando de longe. Ele balançou a cabeça e
entrou na loja. Respirei fundo e andei em passos lentos fazendo o caminho do desespero.
Vai dar merda!

33...

“Deixe que certos mal entendidos se resolvam sozinhos ... o tempo é um poeta teimoso
traiçoeiro demais pra tentar ser manipulado.”
(Jenifer D'Avila)

Lucas ficou me evitando o resto do dia. Toda vez que eu tentava conversar com ele, ele dizia
que estava ocupado e que falaríamos depois. No fim da tarde tive mais um problema pra
resolver e quando fui atrás de Lucas para irmos embora ele não estava mais em sua sala,
ele simplesmente tinha ido embora e me largado pra trás. Peguei minhas coisas e fechei a
loja. Fui correndo para casa na esperança de encontrá-la em casa, mas ele também não
estava lá. Liguei diversas vezes em seu celular, mas ele não atendeu. Fiquei com tanta raiva
que mandei uma mensagem bem grossa.
"Parabéns por ser um idiota e tirar as conclusões que você quer. Se tem alguém aqui que
deveria desconfiar de alguma coisa, esse alguém sou eu! Nunca te dei motivos! Se for pra agir
sempre dessa maneira, igual a um moleque, nem precisa voltar! Ah, obrigada pela carona!
Amei voltar sozinha pra NOSSA casa!"
Assim que enviei o arrependimento bateu na minha cara. Fiquei 10 minutos encarando o
celular aguardando una resposta que não chegou. Fui tomar banho e escutei o toque de
mensagem no meu celular. Desliguei o chuveiro e saí correndo até ele. Abri a mensagem e
não era de Lucas e sim de Ronaldo.
"Está tudo bem? Não consigo parar de pensar em você!"
Fiquei verde de raiva! Era culpa dele Lucas ter sumido.
"Me deixe em paz! Você já me trouxe problemas demais!"
Respondi a mensagem e joguei o celular na cama. Voltei para o banheiro e liguei a água bem
quente. Me sentei no chão e comecei a chorar. Por que Lucas agiu daquela forma? Ele
deveria me ouvir! Deveria acreditar em mim! Eu confiei nele acima de tudo e mesmo assim
em uma única coisa que acontece ele não confia em mim? Não vejo como isso possa
funcionar dessa maneira. Fechei o chuveiro, me sequei, vesti uma camiseta de Lucas, peguei
meu celular, meu travesseiro, meu edredon e levei tudo para a sala. Coloquei o travesseiro
em cima do tapete fofinho e deitei, puxei o edredon e me cobri. Fiquei horas encarando teto
da sala até que peguei no sono.
Acordei com o despertador do celular. Levantei e procurei por Lucas na casa toda. Voltei
para o tapete fofinho e deitei chorando. Mandei uma mensagem para Aline dizendo que eu
não iria trabalhar hoje. Disse que estava com crise de enxaqueca e que amanhã ela poderia
tirar o dia de folga. Ela pediu pra eu ligar se precisasse de alguma coisa, então agradeci e
permaneci deitada. Meu coração estava apertado com o que cofirmei:
Lucas não dormiu em casa essa noite.
34...

“Tudo o que começa com raiva, acaba em vergonha.”


(Benjamin Franklin)

(Lucas)
Quando eu vi aquele filho da puta saindo do restaurante com a Nataly e beijar quase a sua
boca, eu queria ir lá quebrar a cara dos dois. Ele sabia que ela era minha namorada e ela
sabia que eu não gostava dele. Fiquei tão puto da vida que evitei Nataly o dia todo. Eu não
queria conversar com ela agora. Aproveitei que ela estava resolvendo alguns problemas da
loja e pedi para Aline conseguir o endereço dele para mim. Depois de muita insistência ela
me entregou e disse que negaria até a morte se eu dissesse que quem me deu o endereço
foi ela. Quase na hora de fechar a loja, vi que a sala da Nataly ainda estava fechada então
aproveitei para sair. Eu sei que ela ia ficar puta por eu deixá-la pra trás, mas depois eu me
entenderia com ela. Coloquei no GPS o endereço e fui. Recebi uma mensagem bem mal
criada de Nataly e achei melhor nem responder. Fiquei quase quatro horas esperando do
outro lado da rua até que o filho da puta estacionou o carro na frente da casa. Desci do meu
carro e fui até ele.
-Ronaldo?
Ele me olhou surpreso.
-Lucas certo?
-Isso! Posso falar com você?
-Claro! Você gostaria de entrar?
-Não precisa! Vai ser bem rápido!
-Tudo bem então! - ele movimentou as mãos para que eu continuasse a falar.
-Eu quero que você deixe a Nataly em paz!
-Como é que é? - ele falou rindo.
-Exatamente o que você entendeu!
-Eu não estou te entendendo!
-Então eu vou explicar! Você sabe que eu e a Nataly estamos juntos! Então eu quero que
você pare de dar em cima dela!
-Ela que falou isso pra você?
-Não! Eu conheço seu olhar! O meu já foi assim quando nos conhecemos! Eu entendo que
você tenha se interessado por ela, mas ela está comigo!
-E você veio até aqui pra me dizer isso?
-Sim! Achei melhor falar com você antes de quebrar essa sua cara de pau.
-Sabe que você é bem corajoso!
-Sou apaixonado! Essa é a diferença!
Ronaldo assentiu e permaneceu em silêncio. Comecei a andar em direção ao meu carro e
ele abriu a maldita boca mais uma vez.
-Só vou parar quando ela disser! E ela não disse ainda!
O sangue subiu na minha cabeça. Voltei com tudo e dei um soco certeiro em seu nariz.
Ronaldo caiu no chão e cobriu o nariz que estava sangrando.
-Ela nunca daria trela pra você seu filho da puta! O recado tá dado! Se você aparecer mais
uma vez eu te arrebento inteiro e não só o nariz!
Quando eu disparei o alarme do carro, Ronaldo me empurrou com tudo me fazendo bater a
testa no vidro do carro. A raiva tomou conta de mim. Ficamos um tempo nos socando e
chutando até que caímos exaustos no chão. As pessoas passavam por nós, mas evitavam
olhar. Ronaldo estava todo sujo e desarrumado. Sua camisa estava cheia de sangue e
rasgada, mas acho que a minha roupa não estava muito diferente.
-Ela nunca me deu trela! Falou desde o começo que era comprometida. – Ronaldo falou
gemendo e ofegante.
Fiquei em silêncio. Fiquei aliviado em saber disso. Não que eu desconfiasse de Nataly, mas
ela ter ido almoçar com ele me deixou puto da vida.
-Ela também não foi almoçar comigo. Eu estava lá, no mesmo lugar e depois ela chegou. Eu
vi que você estava na frente da loja e me aproveitei da situação.
-Porra!
-Só te digo uma coisa cara! Se você bobear, eu vou estar lá, esperando a minha vez e vou
fazer ela te esquecer.
-Eu não vou deixar isso acontecer!
-Bom!
Me levantei devagar sentindo dor por todo o meu corpo. Ronaldo levantou depois de mim e
estava pior do que eu. Fui para o meu carro e ele entrou em casa. Decidi ir para um hotel.
Nataly ia ficar assustada com o meu estado. Assim que entrei no carro, olhei para ver que
horas eram e constatei que já era mais de meia noite. Se eu fosse pra casa agora, eu iria
apanhar mais do que apanhei de Ronaldo, então optei ir para um hotel de qualquer forma.

Acordei e desejei dormir mais três dias. Parecia que eu tinha sido atropelado por uma
carreta de três eixos. Levantei devagar e fui para o banheiro. Meu reflexo estava horroroso.
Meu olho esquerdo estava completamente inchado e roxo. Minha bochecha tinha manchas
vermelhas e em todo o corpo também. Nataly ia me matar. Tomei um banho rápido e fui
direto pra clínica.
Aline arregalou os olhos quando me olhou.
-Que porra é essa? Você disse que ia conversar com o cara e não que você ia lá pra apanhar!
-Ele ficou pior! Amanhã você vai ver!
-O quê? Como assim?
-Ele vai ter que vir ver o resultado das amostras e você vai ver o estado dele! Nataly já
chegou?
-Ela não vem hoje!
-Por que não?
-Porque ela está com exaqueca! Você deveria saber disso!
-Eu não dormi em casa!
-Ai Meu Deus! Você tá fudido!
-Eu sei! Tenho consulta agora de manhã?
-Você está lotado o dia todo!
-Porra! Vou ligar pra ela! Obrigado.
-Disponha!
Fui para o meu consultório e liguei para o celular de Nataly. Ela não atendeu. Liguei em casa
e nada. A primeira consulta apareceu e passei o resto do dia ligando para Nataly e na
correria.

Na hora de fechar a loja fui correndo para casa. Entrei em casa chamando por Nataly que
não respondeu. Procurei pela casa toda e nada. Liguei em seu celular e ficou caindo na caixa
postal.
-Onde foi que você se meteu Ná? Porra!
Fiquei ligando em seu celular desesperado por não ter noticia alguma.

35...
“Devemos aceitar a decepção finita, mas nunca perder a esperança infinita.”
(Martin Luther King)

Depois que avisei Aline, comecei a me sentir muito mal. Meu estômago começou a
revirar, minha cabeça começou a doer mais do que já estava então tgomei um analgésico,
mas não resolveu. Esperei Lucas até a hora do almoço, mas ele não veio para casa. Fiz
macarrão e não consegui comer. Tive que ir correndo para o banheiro, pois nada parava em
meu estômago. Já que Lucas não vinha pra casa tão cedo, decidi ir ao médico. Chamei um
táxi e 30 minutos depois eu já estava aguardando ser chamada no hospital. Passei pela
triagem e logo fui chamada pelo médico.
-Boa tarde! Sente-se.
-Boa tarde. - Me sentei na cadeira em frente a mesa e esperei.
-O que você está sentindo?
-Eu acho que estou com crise de enxaqueca. Tomei um analgésico, mas não resolveu. Nada
para no meu estômago.
-Você sempre tem essas crises?
-Sempre tive bastante, mas fazia tempo que eu não tinha.
-Quanto tempo?
-3 meses.
-Você comeu algo diferente?
-Não que me lembre. Na verdade quase não me alimentei ontem.
-Sua menstruação está regular?
-Eu não menstruo por conta do anticoncepcional.
-Você tem vida sexual ativa?
-Sim!
-Bom, vou pedir um exame de sangue e se quiser entro com remédio para náusea e para
dor.
-Ok! Obrigada.
Peguei o pedido do exame e fui colher o sangue. Depois me encaminharam para a sala de
medicação e tomei os remédios. O resultado demorava três horas para ficar pronto e como
eu estava zonza, achei melhor aguardar no hospital mesmo. Dentro do hospital não tinha
sinal no celular, mas também achei que Lucas nem ligaria. As enfermeiras me colocaram em
observação e peguei no sono. Um tempo depois acordei com o médico me chamando.
-Nataly? Como está se sentindo?
-Melhor, obrigada.- o olhei meio confusa e tonta.
-O seu exame de sangue não acusou nada fora do normal. Se ao passar o efeito dos
remédios você ainda estiver com os sintomas, aconselho que volte imediatamente e iremos
fazer mais exames pra descobrir o que você tem. Aparentemente parece ser uma crise de
enxaqueca, mas se o enjôo permanecer será necessário fazer um exame de sangue para
saber se você está grávida!
-Mas eu tomo o remédio!
-Compreendo, mas os remédios não são 100% precisos.
Concordei com a cabeça.
-Você está de alta! Tem algum acompanhante com você?
-Não! Eu vim sozinha!
-Da próxima vez venha com alguém! Crise de enxaqueca pode tirar a sua consciência.
-Sim senhor!
-Não me chame de senhor, não sou tão velho assim! - ele riu.
Eu nem tinha reparado nele quando passei na consulta. Ele era jovem e bonito e eu aqui
chamando ele de velho.
-Desculpa! Não quis dizer isso! Você é bonito, quer dizer, novo! Não velho e senhor igual um
tio. Acho que vou ficar quieta agora!
Ele começou a rir. Cobri o rosto com as mãos rindo também.
-Bom, se precisar de alguma coisa é só voltar.
-Obrigada doutor!
-Disponha!
Ele saiu de perto e me levantei. Olhei no relógio e já eram quase oito horas da noite. Fui até
a recepção e pedi para chamarem um taxi. Fiquei do lado de fora do hospital esperando e
tirei meu celular da bolsa. Olhei para a tela escura e constatei que estava sem bateria.
Minutos depois o táxi chegou e fui para casa.

O carro de Lucas estava parado na frente de casa e isso me deu um alívio muito grande.
Assim que coloquei a chave na porta, Lucas abriu com tudo e me abraçou.
-Graças a Deus Ná! Eu tava desesperado sem conseguir falar com você. Onde você estava? O
que aconteceu? Você está bem? Cadê seu celular?
Saí de seu abraço e entrei em casa. Quando olhei em seu rosto tomei um susto.
-O que foi isso no seu rosto Lucas?
Ele ficou em silêncio.
-Responde!
-Eu fui falar com Ronaldo.
-Você o quê??
-Ele tinha que entender que você é minha!
-Eu não sou sua propriedade Lucas! Eu sou sua namorada e somente isso! Não é porque
moramos juntos que você tem direito de se achar meu dono!
-Eu não consegui segurar tá bom? Ele sabia que estávamos juntos e mesmo assim ficou em
cima de você!
-E eu não dar trela não é o suficiente pra você?
-Desculpa Ná... eu fiquei cego eu...
-Chega Lucas! Não quero ouvir mais nada de você! Eu fiquei chorando e me lamentando a
noite toda por você simplesmente me largar sozinha e não avisar onde passou a porra da
noite, enquanto você estava desconfiando de mim, dando crise de ciúmes e batendo nos
outros por aí? Inacreditável!
-Onde você tava que não atendeu a porra do celular?
-Onde eu estava? Eu estava na merda de um hospital porque passei a porra da noite
chorando e preocupada se você tinha me deixado e acordei passando muito mal! Isso é
suficiente pra você?
-Ná ..
-Hoje não Lucas! Eu não quero nem olhar pra sua cara agora!
Fui para o quarto e tranquei a porta. Olhei para minha cama e lembrei que minhas coisas
estavam na sala. Abri a porta, fui para a sala, tapei os olhos com uma mão para não olhar
Lucas e peguei minhas coisas. Ele estava sentado no sofá.
-Hoje você vai dormir no tapete fofinho.
Falei voltando para o quarto. Me joguei na cama e chorei até dormir.
36...

“Você é uma daquelas chances boas que a vida não me daria duas vezes.”
(Camila Costa)

Acordei de madrugada com vontade de fazer xixi. Olhei para o outro lado da cama que
estava vazia demais sem Lucas. Fui ao banheiro, fiz xixi, peguei meu travesseiro, meu
edredon e fui para a sala. Lucas estava dormindo no tapete fofinho. Coloquei meu
travesseiro do lado da almofada dele e deitei. Lucas dormia de barriga pra cima com uma
mão em sua barriga maravilhosa e a outra atrás da cabeça. Joguei o edredon por cima dele e
nos cobri. Lucas se mexeu, mas não acordou. Abracei sua barriga e dei um beijo nela. Eu
adorava sentir a pele quente de Lucas em mim. Nunca imaginei gostar e amar tanto uma
pessoa como amo Lucas. Eu sempre achei que amava Pedro até virar do avesso, mas o que
eu sentia por ele, não chega nem aos pés do que eu sinto por Lucas.
-Ná?
Lucas falou com sua voz rouca de sono que me deixava louca.
-Fica quieto. Eu ainda não quero falar com você! Ou ver você!
Eu estava com a cabeça apoiada em sua barriga e senti ela mexer porque ele estava rindo.
-Eu te amo Ná!
-Eu também! Agora shiu!
Lucas passou a mão em meus cabelos causando arrepios pelo meu corpo. Passei a mão em
sua barriga e escutei o coração de Lucas acelerando.
-Ná?
-Hum. ..
-A gente podia se beijar agora. A gente beija de olho fechado e assim você não precisa olhar
pra mim. - comecei a rir.
Apoiei minha cabeça no travesseiro e olhei para Lucas. Meu coração apertou ao olhar seus
machucados. Passei o dedo em cima de um dos cortes e suspirei.
-Ele ficou pior! - Lucas se explicou.
-Assim espero!
-Ele é um idiota!
-Eu sei.
-Desculpa.
-Me desculpa também.
-Eu te amo Ná!
-Eu também te amo Lucas!
-Eu não dormi em casa porque não queria que me visse desse jeito. - ele apontou para o
rosto.
-E você achou que ia se curar milagrosamente durante a noite?
-Eu não pensei nesse detalhe. Acho que não queria apanhar mais.
-De quem?
-De você!
-O quê? - comecei a rir - Eu não ia te bater Lucas!
-Não mesmo! Ia me matar!
-Isso sim. - ele começou a rir.
-Eu vi meu fim!
-E como foi?
-Foi com você me enrolando no tapete fofinho e você jogando fogo nele.
-Ai Meu Deus como você é trágico!
-Sou realista!
-Isso sim! – dei risada.
-Senti sua falta hoje. Por que foi pro hospital? Por que não me ligou?
-Eu estava com crise de enxaqueca. Não liguei porque você sumiu.
-Sinto muito.
-Eu também.
-Você está se sentindo melhor?
-Por enquanto sim...
-Bom!
Lucas me puxou para mais perto e me deu um beijo, me abraçou bem apertado e me senti
aliviada de tê-lo ali. Ficamos abraçados daquela forma por um bom tempo. Não havia nada
a ser dito, aquele era um momento intimo de nós dois. Um tempo depois escutei sua
respiração mais profunda e seu corpo mais relaxado. Me ajeitei em seus braços e dormi em
seguida.

De manhã acordei com cheiro de café e ovos. Minha barriga roncou. Fui até cozinha e vi
Lucas só de cueca lavando louça. Ele era todo gostosinho. Lucas olhou para mim quando se
virou e sorriu.
-Pode ir pra sala! Já já levo seu café da manhã especial!
-Hum... gosto disso!
Tomamos café em silêncio. Eu ainda estava chateada com Lucas e não seria um pedido de
desculpas e um café da manhã maravilhoso que me faria desculpa-lo. Fomos trabalhar
juntos e pedi para Aline ir embora assim que cheguei.
-É sério amiga! Você me cobriu o dia todo ontem! Então hoje você fica de folga! Nada mais
justo.
-Tem certeza amiga?
-Claro que tenho! Vai pra casa, dorme, namora... aproveita!
-Tá bom então! Se acontecer aluna coisa é só me ligar que eu volto!
-Por que todo mundo sempre diz a mesma coisa?
-Porque você é toda atrapalhada e sempre faz merda!
-Valeu!
-Amanhã você me conta as fofocas!
-Pode deixar! Beijo!
Como Aline tinha ido embora, passei a maior parte do dia na loja, ajudando, atendendo e foi
muito mais legal do que ficar enfiada naquela sala. Escutei o sininho da porta fazendo
barulho e não acreditei no que eu vi. Ronaldo estava parado na porta com um sorriso sem
graça. Sua cara estava completamente pior que a de Lucas. Mesmo ele usando um óculos
escuro dava para ver o estrago que foi feito.
-Posso falar com você?
Marina a menina do caixa olhou assustada para ele. Ronaldo não estava vestido de social
como das outras vezes em que veio aqui. Ele vestia uma calça jeans e camiseta com tênis.
-Claro! Vem na minha sala. Ma, você poderia avisar o Lucas que estou em reunião com
Ronaldo?
-Claro!
-Obrigada!
Fomos para minha sala e achei melhor não fechar a porta. Indiquei a cadeira para que
Ronaldo se sentasse e me sentei na minha.
-Pode falar.
Ele tirou o óculos escuro e a única reação que tive foi cobrir a boca com a mão.
-Ai Meu Deus!
-Eu sei! Lucas tem uma mão bem pesada!
-Eu...
-Eu gostaria de pedir desculpa por tudo. Eu não sei onde eu estava com a cabeça e nunca
agi dessa maneira com ninguém. Seu jeito me conquistou e me fez querer você de qualquer
forma. Por isso fiz aquilo, mas agora decidi me afastar. Eu vou passar os pedidos da sua loja
para Miguel, meu sócio.
-Eu agradeço por isso!
-Me desculpe mais uma vez. Eu não queria te trazer problema, eu..
-Tudo bem. Já resolvemos!
Lucas bateu na porta e entrou. Eu achei que ele teria um surto de ciúmes, mas isso não
aconteceu. Ele acenou com a cabeça para Ronaldo e veio para o meu lado.
-Eu estava pedindo desculpas por tudo e vim avisar que passei os pedidos da loja para o
meu sócio. Não tem por que eu continuar atendendo vocês.
Ficamos em silêncio olhando para Ronaldo. Ele se levantou e estendeu a mão para Lucas.
-Bom, é isso!
-Obrigado. - Lucas respondeu.
Fiquei sem entender a conversa particular deles, mas eu perguntaria depois.
-Tchau Ronaldo!
-Tchau Nataly!
Ronaldo me estendeu a mão e saiu da sala logo em seguida fechando a porta atrás dele.
Lucas suspirou e se sentou na cadeira de frente para a minha.
-Qual foi essa conversa particular de vocês?
-No dia da briga ele disse para que eu cuidasse muito bem de você, senão ele faria você me
esquecer.
-Ai Meu Deus.
-Não sei porque, mas acreditei no que o filho da puta falou.
-Ai Lucas, como você é besta!
Ele levantou e veio até mim.
-Você é minha gostosa e de mais ninguém.
Lucas grudou sua boca na minha e a vontade de arrancar toda sua roupa foi muito grande,
mas Aline não estava na loja e eu teria que ajudar Marina. Me afastei de Lucas que ficou
reclamando.
-Como vou sair assim Ná?
Ele olhou para baixo e eu vi o volume grande em sua calça.
-Precisa me mostrar isso Lucas?
-Claro! Assim você me ajuda!
-Não posso! Se vira!
Abri a porta e saí correndo escutando Lucas chamar meu nome. Dessa vez eu não poderia
cair na tentação. Só dessa vez!
37...

“Ainda preciso controlar esse meu coração acelerado, as pernas bambas e o sorriso descarado
que se abre quando os meus olhos te veem.”
(Vanuza Borges)

Por incrível que pareça nossa vida estava um mar de tranquilidade. Ronaldo não apareceu
mais. Ele realmente passou a nossa loja para seu sócio que era um velho barrigudo que
gostou mais de Lucas do que de mim. A loja estava cada vez mais movimentada e acho que
dessa vez não é só porque Lucas é lindo. Aline estava cada vez mais envolvida com Luiz que
a chamou para morar em sua casa. Estávamos conversando sobre isso na hora do almoço.
-Ai miga, não sei se estou pronta pra isso!
-Amiga, é super tranquilo você vai ver!
-Mas é morar com um homem! Eles são porquinhos!
-Ah, mas aí você ensina ele! - ela começou a gargalhar - E outra, você tem a sua casa e pode
voltar pra ela quando quiser!
-Verdade né?
-Claro! E vocês já moram juntos praticamente! Só falta oficializar!
-Você está certa! Vou aceitar o convite!
Aline e eu começamos a gritar igual doidas. Nos abraçamos e rimos sem parar. Ficamos um
tempo jogando conversa fora até que Aline lembrou da existência de Ronaldo.
-Amiga, sabe o que eu estava pensando?
-La vem você com suas idéias malucas! - respondi rindo.
-A gente podia passar o telefone da Thais pro Ronaldo! Ele é tão bonitinho!
-Sabe que essa não é uma má idéia?
-Eu nunca tenho más idéias!
-Claro que não! Só me fez contratar um namorado!
-Mas vocês estão juntos e felizes agora, então foi uma ótima idéia!
-Você está certa!
-Então! O que você acha?
-Acho que devemos passar sim! Mesmo que ela tenha sido uma cretina, todos merecem a
felicidade!
Aline ficou me olhando muda depois do meu discurso.
-Ok! Fiquei parecendo uma pastora, mas o que eu falei faz sentido!
-Sim! A gente avisa ela ou não?
-Melhor não! Você vai ligar pro Ronaldo e passar o número de Thais!
-Por que eu? Ele gostava de você!
-Exatamente! Não faz sentido eu ligar pra ele!
-Merda! Tá bom! À noite eu ligo pra ele! - Aline concordou.
-Beleza! Agora vamos voltar senão Lucas vai achar que fomos sequestradas!
-Ai amiga, como alguém pode ser tão gostoso?
Comecei a rir com sua sinceridade.
-Eu me pergunto isso todos os dias Aline! -começamos a gargalhar e voltamos para a loja.
Lucas estava na recepção conversando com Marina que se derretia cada vez ele dizia uma
palavra.
-Vocês demoraram hein? Estavam aprontando o que? - Lucas perguntou enquanto me
abraçava.
-Nada! Mas e se estivéssemos? Você iria me punir? - Aline perguntou à Lucas.
-Que porra você está falando? - Lucas perguntou confuso.
-Você vai me dar uns tapas no bumbum?
-Aline!! -chamei sua atenção, mas não conseguia parar de rir.
-Vocês beberam? - Lucas perguntou divertido.
-Você quer que a gente beba?
-Essa porra tá estranha demais! Vou pro meu consultório!
Lucas me deu um beijo e saiu praticamente correndo de lá. Marina ria tanto que segurava a
barriga.
-Você é maluca! - falei para Aline.
-Achei que ele fosse entrar na brincadeira! Merda! Sortuda dos infernos! Saí daqui!
Comecei a rir mais ainda e fui para a minha sala. Passei o resto do dia lá dentro resolvendo
as partes burocráticas. Na hora de ir embora Lucas apareceu lá e ficou me olhando
estranho.
-O que foi?
-Você está diferente!
-Diferente como?
-Não sei! Feliz?
-Talvez porque eu esteja mesmo feliz?
-Bom saber disso!
Sorri para ele e me levantei. Peguei minha bolsa, fechamos a loja e fomos para o carro. No
caminho Lucas continuava me olhando.
-O que você quer Lucas?
-Nada!
-Então por que tá me olhando com cara do gato do Shrek?
-Não é nada, só estou achando você diferente.
-Eu tô mais gorda? Mais bonita? Mais feia? O que é?
-Eu não sei. Você está mais encorpada.
-O quê??? Essa é sua forma de dizer que estou gorda Lucas?
-Claro que não Na! Você está cada dia mais linda!
Fiquei em silêncio até chegarmos em casa. Ao passarmos da porta Lucas me segurou pela
cintura.
-Pequena, se arruma bem linda que hoje iremos jantar fora!
-Aonde?
-Em um restaurante italiano que abriu e procurei na internet e só apareceram boas
recomendações. Então se arruma que hoje iremos ter uma noite especial!
-O que estamos comemorando? Aí meu Deus! É nosso aniversário de namoro? - fiquei
desesperada.
-Não Ná! Só quero sair com você! Ter num jantar romântico coisa que nunca fizemos.
-Tá bom! Tenho que usar roupa chick?
-Sim!
-Você vai usar camisa e roupa social?
-Vou!
-Ai Meu Deus! Você vai ficar um tesão de camisa e gravata!
-Eu sei!
-Convencido! - comecei a rir.
-Vai lá gostosa!
Lucas me deu um tapa na bunda e fui para o banheiro tomar banho. Pelo visto a noite será
bem especial e eu não poderia estar mais ansiosa.

38...
“Se alguma coisa tem chances de sair errado certamente sairá, e da pior maneira possível!”
(Lei de Murphy)

(Lucas)
Eu achei Ronaldo muito corajoso de ir na loja pedir desculpas para Nataly. Eu jamais faria o
que ele fez, então espero que ele encontre alguém e esqueça da existência dela.
Ultimamente Aline vem com uns papos estranhos para cima de mim e Nataly não faz
absolutamente nada! Acho que elas estão zuando com a minha cara e eu não consigo
entender porquê.
Resolvi levar Nataly para jantar em um restaurante que dizem ser muito romântico. Nunca
fiz nada parecido com isso para ela, e gostaria de lhe proporcionar essa experiência
diferente. Ela ficou desconfiada quando falei de repente sobre o jantar. Enquanto ela
tomava banho separei a roupa que eu iria usar e enquanto ela se arruma. Nataly demora
uma eternidade para se arrumar, então deu tempo de ficar pronto e esperar por ela.
Eu estava muito ansioso e nervoso, mas me esforcei bastante para que ela não perceba
nada. Espero que tudo corra como o planejado!

39...

“Quando tudo nos parece dar errado


Acontecem coisas boas
Que não teriam acontecido
Se tudo tivesse dado certo.”
(Renato Russo)

Eu escolhi um vestido preto justo com uma abertura nas costas. Coloquei um par de brincos
de argola e uma pulseira com pedraria. Na maquiagem passei uma sombra preta e um
batom nude pra não ficar muito pesado o visual. Calcei um sapato preto de salto alto e
estava pronta. Ao sair do quarto quase morri do coração ao olhar Lucas. Ele estava vestido
todo de social com uma gravata azul que combinavam com a cor dos seus olhos. Ele estava
ainda mais gostoso do que um dia imaginei ser possível. Borboletas dançaram em meu
estômago e eu não via a hora de voltar pra casa e tirar toda essa roupa de Lucas. Ele me
olhava com desejo no olhar.
-Você está perfeita! - ele falou com sua voz rouca.
-Você está deliciosamente gostoso! - ele riu.
-Vamos?
-Sim!
Lucas segurou minha mão e fomos até seu carro. Eu não conseguia tirar os olhos dele. Ele
sorria e me beijava o tempo. Eu fiquei tão concentrada em olhar ele, que nem percebi
quando chegamos ao restaurante. Lucas me ajudou a descer do carro e entregou a chave ao
manobrista. A hostess nos levou para a mesa que foi reservada. O lugar era maravilhoso,
tinha velas nas mesas e luzes mais fracas deixando o ambiente muito romântico. O garçom
nos indicou o prato principal que era espaguete com algum molho que não entendi. Lucas
pediu vinho e ficamos conversando sobre a loja, sobre como poderíamos aumentar a loja
mais pra frente e planos futuros.
A comida estava maravilhosa e se não fosse falta de etiqueta, eu teria repetido. Lucas quase
não mexeu na comida e estava extremamente nervoso. Comecei a ficar nervosa também.
Será que ele planejou algo tão especial assim?
Lucas pediu a sobremesa e comecei a olhar ao redor. Tanto casais lindos e arrumados
desfrutando de uma noite romântica. Nunca tive nada parecido com Pedro. Acho que o
passeio mais romântico que Pedro me proporcionou foi comemorar dois anos de namoro
em um motel caríssimo, e na hora de pagar ele pediu que eu pagasse metade. Foi um
horror.
Lucas foi ao banheiro enquanto eu continuei olhando ao redor e paralisei ao ver a última
pessoa que eu gostaria de ver. Pedro entrou no restaurante com uma mulher loira que
nunca tinha visto antes. Seus olhos pararam nos meus e ele ficou nitidamente incomodado.
Ele fingiu que não me viu e foi encaminhado para sua mesa que era ao lado da minha. Eu
não sabia o que fazer. Olhei para o banheiro e levantei para falar com Lucas, mas não deu
tempo. Ele chegou antes que eu conseguisse ir até ele. Lucas me olhou preocupado e se
sentou ao meu lado mais uma vez.
-Você está bem? Você tá pálida!
-Eu fiquei meio enjoada, acho que deve ter sido a comida. Podemos ir?
-Mas eu ainda não comi a minha sobremesa!
-Eu sei, mas não estou me sentindo bem e...
Lucas olhou para a mesa ao lado e fechou os olhos nitidamente com raiva.
-Ele falou alguma coisa pra você?
-Não! Podemos ir embora?
Lucas ficou decepcionado, mas assentiu. Meu estômago estava revirando cada vez mais e eu
comecei a entrar em desespero. Lucas pediu a conta e eu disse que o esperaria do lado de
fora. Ele acenou com a cabeça e ficou olhando para Pedro. Eu precisava tomar um ar
urgente. Saí correndo de lá e fui para o local em que Lucas entregou o carro ao manobrista.
Encontrei um banco e me sentei. O vento acalmou meu estômago e meu estado psicológico.
Um tempo depois Lucas pediu o carro, se sentou ao meu lado e segurou minha mão.
-Você está bem?
-Estou melhor.
-Tem certeza?
-Sim! Sinto muito que a noite não foi como você queria.
-Eu também!
-Podemos voltar amanhã!
-Não dá. Tem que fazer reserva semanas antes!
-Sinto muito!
-Está tudo bem! Era só um jantar mesmo! Vamos?
Lucas apontou para o seu carro que estava parado à nossa frente. Concordei com a cabeça e
fui para o carro. Fizemos a viagem de volta para casa em silêncio. Lucas sequer ligou o
rádio. Tentei puxar conversa, mas ele respondeu tão secamente que achei melhor ficar sem
dizer mais nada. Ao chegarmos em casa Lucas destrancou a porta e me deu passagem.
Esperei ele trancar a porta e o puxei para mim. Beijei seu nariz, seu queixo, seu pescoço e
dei leves mordidas em seus lábios, mas ele não reagiu como eu esperava.
-Desculpa Ná, mas não tô no clima agora!
-Ok!
Lucas me deu um beijo nos lábios e foi para cozinha tirando a gravata e abrindo a camisa.
Fui atrás dele e vi quando ele abriu uma cerveja.
-Você vai ficar me tratando assim? Como se a culpa de o jantar não ter dado certo fosse
minha?
-Não estou te culpando de nada! Só estou decepcionado por não ter dado certo! Tenho esse
direito não tenho?
-Claro que tem! Só não estou entendendo o que não deu certo!
-Só me deixa quieto um tempo ok?
-Depois vem dizer que a culpa não foi minha! - falei me afastando.
-Foi você quem quis ir embora! - voltei na mesma hora.
-Como é que é? eu estava me sentindo mal Lucas!
-Estava mesmo ou fingiu só pra sair de perto do seu ex? Ele ainda te afeta tanto assim?
-É claro que eu queria sair de perto dele! Você é a pessoa que mais sabe o motivo disso!
-Certo. - ele respondeu ironicamente.
-O que você quer dizer com isso?
-Nada! Só que nada foi como eu planejei e tenho direito de ficar puto por isso!
-Tá bom! Se quer ficar agindo igual um idiota é problema seu!
-Com certeza!
Fui para o quarto e fechei a porta. Tirei meu vestido, e tudo que me arrumei para Lucas e
vesti uma camiseta para dormir. Fiquei um tempo encarando o teto e peguei no sono.
Acordei de madrugada e Lucas não estava na cama. Decidi não ir atrás dele. Ele que pisou
na bola, então deveria vir atrás de mim, mas como não fez isso só constatei que ele era
mesmo um idiota!

40...

“Aprendi a nunca esperar nada de ninguém.


Desde então, eu só tenho surpresas - nunca decepção.”
(Augusto Branco)

Antes do dia clarear eu já estava acordada e grudada no vaso sanitário deixando a minha
alma lá dentro. Realmente a comida não me fez nada bem. Eu pensei que tivesse ficado
enjoada por nervoso e tensão de Pedro tentar fazer alguma coisa, mas acho que era só a
comida mesmo.
Lucas não veio dormir comigo e isso me deixou muito chateada. O que era pra ser um
encontro romântico virou uma noite de merda. Eu ainda não entendi porque Lucas ficou
tão bravo e me tratou daquela forma. Talvez eu nem entenda. Lucas imaginava as coisas da
maneira dele e achava que eu tinha obrigação de entender.
Depois que coloquei tudo pra fora, tomei um banho e me arrumei para o trabalho. Lucas
estava dormindo no sofá com a mesma roupa de ontem. No chão haviam várias garrafas de
cerveja que ele tomou. Como ainda era cedo, deixei que ele dormisse mais e acordasse com
seu despertador. Peguei a chave do meu carro e fui para a loja, mas nem me esforcei em
abri-lá, pois ainda era muito cedo.
Adiantei alguns documentos, respondi e enviei emails e quando Aline chegou e abriu a loja,
já estava tudo resolvido. Eu ainda estava muito enjoada e vomitando então Aline insistiu
que eu fosse embora e se me sentisse melhor durante a tarde, eu voltaria. E caso eu não me
sentisse melhor, era pra eu procurar um médico. Fiz o que ela pediu, pois eu não estava
nada bem. Estacionei o carro em frente de casa e abri a porta. Lucas estava com uma toalha
enrolada em sua cintura molhada e com uma caneca fumegante nas mãos.
-Ná? Aconteceu alguma coisa?
-Estou passando mal então Aline falou para eu voltar pra casa.
-O que você está sentindo? Precisa ir ao médico?
-Vomitei a manhã toda. Se eu não melhorar eu vou.
Passei por ele e fui para o quarto. Tirei minha calça jeans e me joguei na cama. Eu me sentia
fraca.
-Você comeu? -Lucas perguntou se sentando ao meu lado.
-Não e nem quero.
-Você precisa se alimentar Ná!
-Eu não quero Lucas! Estou enjoada e não quero nada! Pode respeitar? Quero dormir!
Virei de costas para ele que levantou em seguida. Pelo barulho que eu escutava, entendi
que Lucas estava se trocando.
-Me desculpe por ontem!
-Tá bom.
-Eu sei que não foi sua culpa e descontei em você.
-Esquece Lucas! A merda já foi feita! Apaga a luz quando sair.
Escutei ele suspirando e um tempo depois a luz foi apagada e a porta fechada. Quando
estava quase pegando no sono escutei ele em meu ouvido.
-Ná... tá melhor?
-Mais ou menos.
-Quer ir no médico? Estou ficando preocupado com você.
-Se eu piorar te aviso.
-Vou pra loja agora, mas se precisar é só me ligar!
-Tá bom! Está tudo bem!
-Me liga que venho correndo!
-Tá bom...
-Se eu não tivesse tantas consultas hoje ficaria com você.
-Não precisa Lucas. Qualquer coisa eu te ligo!
-Promete?
-Prometo!
-Tá bom!
Lucas me deu um beijo na testa e saiu do quarto. Escutei ele ligando o carro e o barulho
diminuindo. Me ajeitei na cama e um tempo depois peguei no sono.
Acordei com meu estômago completamente revirando e se não tivesse corrido para o
banheiro, teria sujado o quarto. Comecei a ficar preocupada de ter pego uma infecção
alimentar. Tudo bem que eu só estava vomitando, mas fiquei assustada. Mandei uma
mensagem para Lucas pedindo que viesse para casa e me levasse no médico, mas não
obtive resposta. Esperei um tempo e liguei, mas mesmo assim ele não atendeu. Então decidi
chamar um taxi e ir sozinha mesmo. Trinta minutos depois eu já estava no hospital
aguardando ser chamada. Mandei mensagem para Lucas avisando o que aconteceu e a
única coisa que eu podia fazer agora, é esperar.

41...

“N~o corrigir nossas faltas é o mesmo que cometer novos erros.”


(Desconhecido)
(Lucas)
Eu estava em uma consulta e esqueci de tirar o celular do silencioso. Quando resolvi olhar
pra ver se tinha alguma noticia de Nataly, quase infartei de susto. Tinham várias mensagens
e algumas ligações dela e uma das mensagens dizia que ela já estava no hospital e o
endereço. Procurei Aline e expliquei o que estava acontecendo e ela disse que daria um
jeito de remarcar as consultas e que eu fosse correndo atrás de Nataly.
Corri feito louco para o hospital e ao chegar lá não sabia nem por onde procurar. Conversei
com a recepcionista e ela me indicou um corredor onde Nataly provavelmente estaria. Fui
até onde ela indicou e avistei Nataly tomando medição no fundo de uma sala. Não podia
entrar acompanhante, mas entrei mesmo assim. Nataly estava de olhos fechados e com um
soro conectado em seu braço. Me ajoelhei à sua frente e chamei seu nome baixo para não
assustá - la.
-Ná. ..
Ela abriu os olhos devagar e sorriu pra mim.
-Oi...
-Como você está? Vim correndo igual a um louco quando recebi sua mensagem.
-Tudo bem.
-O que os médicos disseram?
-Pediu um exame de sangue.
-Vai demorar pra ter o resultado?
-Algumas horas.
-Merda!
-Ele pediu com urgência, já que eu passei com ele da outra vez, então é capaz que fique
pronto antes.
-Ele desconfia de alguma coisa?
-Não!
Ela respondeu meio incerta, mas achei melhor deixá-la descansar já que ela estava à base
de remédios. Uma enfermeira chamou minha atenção e disse que eu deveria aguardar do
lado de fora da sala.
-Eu vou te esperar lá fora tá bom?
-Tá bom.
Beijei sua testa e saí. Um tempo depois encaminharam Nataly para uma maca em uma sala
de observação e lá me deixaram ficar junto. Ela estava sonolenta e risonha igual quando
bebia muito e por sorte ela não começou a falar igual uma matraca. Um médico se
aproximou e se identificou como o médico que está acompanhando o caso de Nataly.
-Bom, como da outra vez que ela passou ela estava com um quadro de enjoo e cefaleia
muito grande e no exame de sangue não acusou nada grave, deduzimos que fosse uma crise
de enxaqueca que melhorou com medições, mas como ela voltou com o quadro clínico
diferente e apresentando vômito, pedi o exame de sangue para identificar se ela está
grávida.
-Gra. .gravidez? Mas ela toma remédio!
-Eu sei, ela me disse, mas às vezes se não tomado corretamente ou apresentando vômito
perto do horário em que administrou o comprimido, seu efeito fica prejudicado.
-Porra!
-O resultado está aqui!
O médico abriu o envelope em suas mãos e começou a ler. Ele olhou para nós dois e sorriu.
-Parabéns! Vocês estão grávidos!
Assim que escutei as palavras tudo escureceu.
42...

“A alegria evita mil males e prolonga a vida.”


(William Shakespeare)

Assim que o médico disse que estávamos grávidos escutei um barulho no chão. Levantei a
cabeça pra ver o que era e o barulho era Lucas. O Dr chamou alguns enfermeiros e o
colocaram na maca ao lado da minha. Me deu um ataque de riso tão grande que lágrimas
escorriam de meus olhos. Só Lucas pra fazer uma coisa dessa! Aos poucos Lucas foi
acordando e ficou mais confuso ainda. O Dr explicou para Lucas algumas coisas que não
ouvi muito bem e saiu do quarto. Ele olhou para mim e eu comecei a rir mais uma vez.
-Qual a graça? Quando você faz suas trapalhadas eu não fico rindo de você!
-Desculpa.
Olhei para o teto e fiquei em silêncio. Escutei Lucas se levantando e veio até mim. Ele pegou
minha mão e deu um beijo.
-E agora? - ele perguntou.
-E agora o que?
-Sua casa não tem um quarto a mais.
-Idaí?
-Idaí que o bebê precisa de um quarto pra ele.
-"O" bebê?
-Sim! Vai ser um menino!
-Quem disse?
-Eu disse!
-Entendi! Podemos ir embora?
-Claro!
Lucas me ajudou a levantar e encontramos Dr Felipe sentado em uma cadeira na frente da
sala de observação conversando com uma senhora. Ele olhou para nós e fez sinal para que
aguardássemos.
-Eu vou pegar o carro no estacionamento e te pego na porta!
-Tá bom!
Lucas me deu um beijo e foi até a saída. O Dr Felipe olhou para mim mais uma vez e me
aproximei.
-Com licença, eu só gostaria de agradecer o atendimento!
Eu estiquei a mão para que ele apertasse a minha como as pessoas sérias fazem, mas não
foi isso que aconteceu. No mesmo momento em que estiquei a mão, ele se levantou fazendo
minha mão encostar no seu dito cujo.
-Ai Meu Deus! Que horror! - Dr Felipe ria sem parar do meu desespero.
Cobri o rosto com as mãos completamente envergonhada.
-Não um horror porque não vi, mas não era o momento disso, eu.. eu não vou ver claro...
eu...
-Não se preocupe!
-Ai Meu Deus! Me desculpe!
-Não foi nada Nataly!
-Deus.. – falei me lamentando.
-Aconselho que procure um ginecologista para fazer o acompanhamento adequado da sua
gravidez.
-Tá bom! Você não faz?
-Não, eu não sou ginecologista.
-Você é o que?
-Clínico geral!
-Ahhhh. Entendi.
-Acho que você deveria procurar uma profissional.
-De que?
-Ginecologista mulher.
-Ahh sim! Claro!
-Talvez você se sinta mais à vontade!
-Mais à vontade do que pegar no bilau do médico que me atendeu? Acho que não!
O Dr Felipe começou a rir. E muito! Nessa hora percebi que falei em voz alta aquilo. E juro
que escutei a senhora que estava sentada rir também.
-Aff minha boca grande! Eu.. eu devo ir! Obrigada por tudo!
-Não há de que! Se sentir alguma coisa fora do comum é só me procurar!
-Eu nem sei o que fora do comum significa. Eu sou estranha!
-É sim, mas se precisar estou à sua disposição! - ele riu.
-Obrigada!
Sorri para ele que se sentou e voltou a conversar com a senhora intrometida. Fui até a
entrada do hospital e Lucas já estava lá me aguardando. Entrei no carro e dei um longo
suspiro.
-Você está bem Ná?
-Sim! Você está bem?
-Acho que sim!
-Bom! Vamos pra casa!
Lucas deu partida no carro e fomos em silêncio para casa. Ao chegarmos a única coisa que
fiz deitar no meu tão querido tapete fofinho. Ele sempre me confortava quando eu
precisava. Lucas se deitou ao meu lado nitidamente em pânico.
-Vai dar tudo certo Lucas!
Ele ficou em silêncio. Eu me sentei e tive que dizer o que eu estava pensando.
-Lucas! - ele me olhou.
-Você sabe que não precisa participar disso se não quiser. Eu não vou te forçar à nada! Você
sabe disso certo?
Ele se sentou na hora e me olhou espantado.
-Quantas drogas te deram naquele lugar? Você acha que eu não quero participar desse
momento? Que não quero um bebê? Essa foi a notícia mais perfeita que recebi em toda a
minha vida Ná! Puta merda! Eu vou ser pai! Você acredita nisso? Caralho!
-Eu sei... eu só não quero que você pense que vou forçá-lo a fazer alguma coisa e participar
se não quiser. Só isso!
-Você não sabe como essa notícia me deixou feliz! Eu estou apavorado é óbvio, mas puta
que pariu acho que sou o cara mais feliz que existe nesse mundo todo!
Olhei em seus olhos que estavam cheios de lágrimas!
-Fico feliz em saber! Eu te amo sabia? -perguntei.
-Não, não sabia! Você poderia dizer algumas vezes agora!
-Te amo, te amo, te amo, te amo!
-Eu te amo também! Agora deita aqui que precisamos conversar.
-Ai Meu Deus!
Me ajeitei ao lado de Lucas e ficamos um de frente para o outro.
-Temos que ver muitas coisas Ná!
-Como o que?
-Achar a ginecologista que vai te atender. Tem que ser mulher!
-Ah é? E por que tem quem ser mulher?
-Porque eu estou falando! Não quero homem nenhum mexendo no que é meu!
-Ok! O que mais?
-Precisamos comprar uma casa maior.
-Por quê? Eu gosto da minha casa!
-Eu também Ná, mas o bebê vai precisar de um quarto só dele.
-Eu sei..
-Eu posso vender a minha casa da praia! E compramos uma casa muito boa! Ou vendemos a
sua e usamos o resto do dinheiro da minha e compramos uma. Ou vendemos meu carro e
fazemos uma poupança para emergências. Ou vendemos os dois carros carros e
compramos um maior onde dê para por a cadeirinha do bebê com segurança.
-Lucas, respira!
Ele respirou fundo e fechou os olhos.
-Vamos esperar um pouco pra pensar nessas coisas.
-Por quê?
-Porque tem mulheres que perdem os bebês antes dos três meses, então eu acho melhor a
gente esperar pra fazer planos maiores.
-Você não vai perder o bebê!
-Isso não depende de nós!
-Depende sim! E eu tô falando que vamos ter esse bebê. Vou ensinar ele a dar várias
cantadas nas meninas você vai ver! Ele vai ser um garanhão!
-Eu não quero um filho galinha.
-Não é galinha, é homem com H maiúsculo.
-Eu se for menina?
-Não é!
-Mas e se por um acaso do destino for menina?
-O destino não quer menina.
-Ai Meu Deus! Você é ridículo!
-Por quê? Por que eu sei que é um menino?
-Tá bom Lucas! É um menino!
-Que bom que entendeu Ná!
Comecei a rir. Lucas apoiou a cabeça na minha barriga e começou a fazer carinho quando
de repente ele deu um pulo.
-Que porra! Se eu soubesse que você estava correndo o risco de engravidar, eu teria te
comido mais vezes! E tão bem comida pra nascerem dois!
-Você é louco Lucas! E romântico também!
-Eu sei!
O filho da mãe deu risada e me beijou. Ficamos um tempo jogando conversa fora e Lucas foi
preparar alguma coisa para jantarmos.

43...
“Saber encontrar a alegria na alegria dos outros, é o segredo da felicidade.”
(Georges Bernanos)

Na manhã seguinte chegamos mais cedo na loja pra contar a novidade para Aline. Ficamos
esperando ela aparecer na minha sala na maior expectativa. Assim que entrou na sala nos
olhou estranha.
-O que vocês estavam fazendo? - perguntou com malícia.
-Ainda nada! Estávamos te esperando!
Lucas respondeu e Aline arregalou os olhos levando a resposta para o lado safado.
-Sério?
-Uhum!
Lucas respondia todas as perguntas enquanto eu me segurava para não rir.
-O que vocês estão aprontando?
-Temos uma coisa pra te contar!
-Ai Meu Deus! Lucas vai finalmente atender sem camisa?
-Não! - comecei a rir e Lucas ficou sério.
-Nãooooooo! Vocês vão casar? - ela perguntou dando pulos de alegria.
Nessa hora me perguntei porque não íamos nos casar. Ah sim! Por que Lucas nunca tocou
no assunto e nunca deu a entender que gostaria de fazer isso.
-Não! - respondi desanimada.
-Você está grávida!
-Sim!
Eu já não estava com tanto entusiasmo como na hora que cheguei, mas a notícia ainda era
boa.
-Parabéns amiga!!!!
Aline pulou, gritou e me abraçou enquanto Lucas me olhava estranho. Ele ainda sorria, mas
não igual antes.
-Já sabe quanto tempo?
-Quanto tempo o que Aline?
-De gravidez, idiota!
-Não! Vou procurar alguma médica hoje pra fazer o acompanhamento.
-Ah ta! Parabéns Lucas! Me dá um abraço!
Aline foi em sua direção e Lucas recuou.
-Nem fodendo!
Começamos a rir e um tempo depois Lucas saiu da sala.
-Amiga, você ficou estranha!
-Ah Aline, fiquei pensando na sua pergunta. Lucas nunca comentou absolutamente nada
sobre casar! Eu sei que moramos juntos e tal, mas ele nunca falou as palavras exatas.
-Poxa amiga, as vezes ele acha que você não quer!
-Que mulher não quer isso?
-É... vendo por esse lado...
-Mas não vou deixar isso estragar esse momento!
-Claro que não! Ai Meu Deus! Nem acredito que vou ser tia!
-Nem eu acredito que vou ser mãe! Aline eu não sei nem cuidar de mim ainda!
-Amiga, vai dar tudo certo! O importante é que Lucas está te apoiando nesse momento!
-Eu sei! Ele quase chorou de emoção ao falar em voz alta que vai ser pai!
-Tá vendo? O resto é detalhe!
-É sim! Você tem razão!
-Eu sempre tenho razão! -começamos a rir.
-Você passou o número da Thais pro Ronaldo?
-Passei amiga! Falei que ela viu ele na loja e que ficou louca pra conhecer ele!
-Você é doida? Ela vai falar que nem conhece ele!
-Eu falei pra ele que ela vai fingir que não sabe de nada e que ele vai ter conquistar ela!
-Ai Meu Deus!
-Eu sei! Vai ser muito divertido!
-Vai mesmo! Queria ver a cara dela!
-Ah, mas ela só vai agradecer! Querendo ou não Ronaldo é muito bonito e interessante!
-É sim! Acho que eles vão se dar muito bem!
-Eu também acho!
-E o Luiz? Como está se saindo em casa?
-Ai miga, tá tudo perfeito você acredita? Nunca pensei que seria tão bom morar com ele.
-Tá vendo? Eu te falei que seria uma boa!
-É foi mesmo! Sabe o que é acordar recebendo uma chupada...
-Ai Meu Deus Aline! Me poupe dos detalhes!
-Ué amiga, como se isso não acontecesse com você!
-Claro que sim, mas não entro em detalhes!
-Ah, mas eu queria saber os detalhes! Do tamanho dele, grossura, formato, cor..
-Ai Meu Deus! - cobri o rosto com as mãos.
-Que foi?! Você não me contou e ainda tenho curiosidade!
Apontei para Lucas atrás dela que só fechou os olhos.
-Qual a porra do seu problema? - Lucas perguntou chocado.
Aline levantou e ficou parada na frente de Lucas.
-Qual é a porra do SEU problema de sempre interromper a conversa quando estou prestes
a descobrir como é o seu amigo?
-Você é louca!
-Curiosa! Isso é bem diferente!
-Que seja! Vocês duas são estranhas! O meu pau deveria ser algo particular e não discutido
entre vocês!
-Pois é! Mas esse não é o caso! Bom... vou trabalhar! E da próxima vez em que estivermos
falando de você, peço a gentileza que espere a conversa terminar antes de atrapalhar!
Obrigada, de nada!
Aline concluiu a frase e saiu da sala rebolando. Lucas ficou sem reação e começou a rir. Se
sentou na cadeira à minha frente e me olhou sério.
-Eu quero ir pra praia com você no fim de semana!
-Ah é? Acho ótimo!
-Sim! - Lucas se levantou indo em direção à porta.
-Que roupas devo levar? De calor ou frio?
-Não importa! Você não vai vestir nenhuma delas!
Lucas piscou e saiu da minha sala fechando a porta. Senti um frio na barriga de ansiedade e
já estava contando os segundos para que esses dois dias passassem o mais rápido possível
e o fim de semana chegasse logo.

44...

"Não desperdiçar as oportunidades é não dar chances pro fracasso."


(João Vitor Rocha)

Finalmente o fim de semana chegou e decidimos viajar quando ainda estava escuro, assim
teríamos mais tempo para aproveitar o fim de semana. Chegamos à praia e Lucas ficava me
bajulando o tempo todo. Eu amava aquela casa, mas o que faltava nela era o tapete fofinho.
Ele fazia muita diferença ali.
-Sabe. .. você devia comprar outro tapete fofinho pra cá.
-Você realmente ama aquele tapete né?
-Nossa! Amo demais! Quando eu era criança eu sempre pedi aos meus pais que me dessem
um, mas estou esperando até hoje!
-Sério?!
-Sério! Eu acho que todo mundo deveria ter um tapete daquele.
-Nós podemos ir comprar um se quiser!
-Juraaa?
-Claro Ná!
-Obrigada! Obrigada! Obrigada!
-Não precisa agradecer pequena! Tudo o que puder fazer pra te deixar feliz eu vou fazer!
-Eu já falei hoje que te amo?
-Hum... ainda não!
Passei os braços ao redor de seu pescoço e beijei seu queixo.
-Eu te amo, te amo, te amo, te amo!
-Também te amo mais que tudo!
Lucas me beijou de uma forma apaixonada. Eu adorava quando ele me beijava daquele
jeito. Ficamos um tempo deitados no sofá namorando quando Lucas teve a idéia de irmos
para a praia.
-Pequena, você quer aproveitar a parte da manhã para irmos para a praia e a tarde
procuramos o tapete? Eu acho que ainda lembro onde fica a loja em que comprei aquele da
nossa casa.
-Acho perfeito! Vou me trocar! Já volto!

Na parte da manhã, ficamos o tempo todo na praia. Como não era época de temporada
estava tudo vazio. Na hora do almoço, Lucas decidiu comprar comida pronta e estava
divina, mas o bebê não gostou muito porque minutos depois eu já tinha colocado tudo pra
fora. Estávamos deitados na cama conversando.
-Você marcou a ginecologista Ná?
-Marquei! Ia te contar e esqueci. Seu nome é Antônia e Aline foi em uma consulta com ela e
adorou.
-Que bom! Que dia?
-Terça feira às 10h00.
-Beleza! Vou pedir pra Aline desmarcar minhas consultas. Nem fudendo vou perder a
primeira consulta do bebê!
-Obrigada!
-Pelo que?- Lucas me olhou confuso.
-Por não fugir nessa hora!
-Eu jamais faria isso! Vocês são minha vida agora!
-Ai Meu Deus!
Cobri o rosto com as mãos e comecei a chorar.
-O que foi Ná?
-Nada! Você fala essas coisas bonitas e não consigo segurar o choro. Eu não sei como
controlar isso!
-Não precisa controlar pequena! Só me explicar o que está acontecendo pra eu não enfartar
aqui, já está ótimo!
-Desculpa! Devem ser os hormônios né?
-Acho que sim! Não entendo nada disso!
-Nem eu!
Lucas olhou pra mim e começou a rir.
-Tenho dó desse bebê.
-Você acha que vamos ser pais ruins?
-Não! Ruins não, atrapalhados com certeza!
-Ah sim! Isso certeza!
Rimos mais ainda.
-Lu... eu vou conhecer seus pais um dia?
-Não.
-Simples assim? Não!?
-Sim!
-Isso não é justo! Eu deveria ter direito de decidir isso também.
-Não Ná! Nisso você não tem! Eu não quero ver eles nunca mais! Você não sabe as coisas
horríveis que eles me disseram! Você não sabe o tanto de acusações que me fizeram me
culpando pela morte de Giovanni. Você não sabe de nada!
-Eu sei que não sei de nada, mas acho que seria uma boa oportunidade de vocês se
acertarem!
-Eu já falei que não e você vai ter que respeitar minha decisão! Que porra!
-Meu Deus seu grosso! Dormiu no estábulo na noite passada? Credo!
-Não quero falar mais disso!
-Tá bom. Pelo menos eu tentei.
-Sim, você tentou, mas eu não quero. Ponto final! Não quero mais falar disso!
-Ok.
Lucas levantou e foi para o banheiro. Eu não conseguia imaginar o que Lucas passou com a
morte de Giovanni, mas ele tinha muita mágoa dentro dele. Achei melhor não tocar mais no
assunto. Lucas se transformava com esse assunto. Escutei o barulho do chuveiro e decidi ir
até lá fazer as pazes. Tirei minha roupa e abri a porta do banheiro. Lucas estava com a
cabeça embaixo do jato de água e de costas para mim. Sua cueca branca estava molhada e
deixava seu traseiro bem aparente. Abri o box e Lucas estava com a mente tão distante que
nem percebeu minha presença. Passei as mãos ao redor de sua cintura e o abracei. Meu
rosto estava encostado em suas costas enormes. Lucas passou a mão em meus braços em
suspirou.
-Me desculpa. - ele falou.
-Pelo que?
-Por ter falado daquela forma com você.
-Está tudo bem! Eu não vou mais ticar nesse assunto tá bom?
-Tá bom.... obrigado.
Virei Lucas de frente passa mim e o beijei. Lucas segurou minha cintura e me levantou
fazendo com que eu entrelaçasse as pernas ao redor de sua cintura. Ele me encostou na
parede e me beijava com urgência. Lucas passava as mãos onde conseguia intensificando
ainda mais o momento. Desliguei o chuveiro e fizemos amor ali mesmo. Urgente, quente,
carente.

Na parte da tarde fomos comprar o novo tapete fofinho para sua casa da praia. Escolhi um
tapete vermelho para destacar bem naquela sala que só tinha cores neutras.
-Vai ficar lindo Lucas!
-Com certeza! - ele disse ironicamente.
-O que?
-Vai ficar ridículo!
-Claro que não Lucas!
E não ficou mesmo! A sala ficou com uma nova cara. O tapete realmente fez uma grande
diferença. Assim que o colocamos no chão eu me deitei. Lucas começou a rir de mim indo
para o quarto e voltou com uma caixa de presente nas mãos.
-Pequena, eu comprei pra você!
Me sentei e peguei a caixa completamente envergonhada. Eu não tinha comprado nada
para Lucas. Tudo bem que não era nenhuma data especial, mas eu quis me socar por dentro
por dentro por não ter tido a mesma idéia. Puxei o laço da caixa e a abri. Dentro dela tinha
um vestido amarelo de cetim longo simplesmente perfeito. Ele lembra muito o vestido da
Kate Hudson em "Como Perder Um Homem Em Dez Dias", na cena em que eles vão descobrir
se a reportagem dos dois deu certo, onde ela usa o colar mais lindo do universo.
-Lucas! Ele é perfeito!
Fiquei de pé e o coloquei na frente do meu corpo. Olhei dentro da caixa e vi que tinha um
par de sandálias pratas maravilhosas.
-Tenho certeza que vai ficar perfeito em você!
-Aonde nós vamos?
-Hoje quero te levar para um jantar romântico, onde não tenha Pedro, nem vômitos para
estragar!
-Tenho certeza que nada vai estragar nossa noite! Eu prometo que peço uma salada! - Lucas
riu.
-Você pode comer o que quiser princesa! Só quero te ver feliz!
-Eu sou feliz!
Lucas me beijou e me pegou no colo levando para o quarto. Tirou a minha roupa e beijou
meu corpo inteiro. Eu sentia que ele estava diferente e eu estava amando isso!
Ainda estávamos deitados quando Lucas olhou no relógio e disse que precisávamos nos
arrumar. Ele tomou banho primeiro e eu fui em seguida. Pedi à ele que deixasse eu me
arrumar sozinha. Queria estar impecável pra ele. Lucas concordou e disse que teríamos
quem sair em uma hora e meia. Tomei banho correndo, me hidratei, sequei meu cabelo, fiz
escova, me maquiei e me vesti.
O vestido ficou perfeito em meu corpo. Justo nas partes certas me deixando com um
corpão. Como o tecido vestido era muito fino, coloquei um sutiã que cola na pele e
nenhuma calcinha. Se os planos de Lucas são para tornar a noite inesquecível, então eu
faria tudo para que isso acontecesse.
45...

“Devemos prometer somente o que podemos entregar e entregar mais do que prometemos.”
(Jean Rozwadowski)

Ao sair do quarto quase que meu coração caiu do meu corpo. Lucas de social era uma coisa
de outro mundo. Ele era muito gostoso. Lucas arregalou os olhos ao me ver. Acho que eu
também estou bonita. Ele ficou o caminho todo dizendo o quanto eu estava linda e perfeita
e todas as coisas que ele faria comigo quando chegássemos em casa. O caminho para o
restaurante foi rápido graças a Deus porque eu estava faminta. Quando finalmente nos
sentamos Lucas olhou para o ambiente e arregalou os olhos. Pegou o cardápio e levantou
tanto para cobrir seu rosto que eu pensei que ele faria um chapéu com ele.
-O que foi Lucas? De quem você está se escondendo?
-Eu não. .. - ele olhou por cima do cardápio e tampou seu rosto mais uma vez. - minha ex.
-Qual? Onde? A que te deu um pé na bunda?
-Sim!
-Por que você está se escondendo dela?
-Porque se ela me ver ela vai vir aqui e não vai ser legal.
-Por que não? Você ainda gosta dela?
-Claro que não! Ela consegue ser a pessoa mais irritante do mundo. E você vai rir dela. Eu te
conheço.
-Eu vou rir dela? Como assim?
Lucas não abaixava o cardápio e aquilo estava me tirando do sério. Arranquei o cardápio de
sua mão e coloquei em meu colo.
-Por que você fez isso?
-Porque eu quis! Vai se esconder embaixo da mesa?
-É uma boa idéia!
-Não se atreva Lucas! Senta direito!
Lucas arrumou a postura e me encarou.
-Pronto! Ela está vindo!
-Aonde?
Olhei ao redor para encontrar a pessoa que ele se referia e por um momento eu quase virei
lésbica ao vê-la. Ela era a mulher mais linda, sexy, sensual, gostosa e bonita que eu já vi em
toda a minha vida! Ela tinha cabelos longos e escuros, mas seus olhos eram num tom de
azul de fazer qualquer um morrer de inveja. Ela usava um vestido vermelho longo colado
ao seu corpo escultural que me fez ter vontade de me esconder embaixo da mesa. Ela
andava elegantemente e abriu um sorriso tão branco que quase fiquei cega.
Ok, cega não, mas o sorriso era muito branco mesmo.
A capa de revista mexeu os lábios pintados de vermelho e fiquei imaginando se Lucas
estava desejando ela tanto quanto eu.
-Ora ora, olhe só quem está aqui!
Assim que ela abriu a boca eu broxei e fechei os olhos. A voz dela era a coisa mais bizarra
de todo o universo. Parecia que alguém estava arranhando um vidro com um ferro. era
simplesmente insuportável de se ouvir. Minhas bochechas tremeram com vontade de rir,
mas me fiz de forte engoli a risada por um tempo. Lucas me olhou desesperado com medo
que eu o fizesse passar vergonha em um restaurante tão chick então me controlei como
alguém que está fazendo dieta se controla para não comer um brigadeiro.
-Oi. . - Lucas respondeu.
-Voltou pra cidade? - ela perguntou com sua voz estridente.
Estiquei meu braço e me apresentei já que ela agiu como se eu não estivesse sentada ao
lado de Lucas.
-Olá! Como vai! Sou Nataly! Muito prazer! Como é seu nome mesmo, acho que não prestei
atenção quando se apresentou para mim. - ela apertou minha mão.
Dei um sorriso enorme e por incrível que pareça, a gostosa ficou envergonhada.
-Me desculpe! Me chamo Aymê.
-Aymê? Exótico não?!
Ela soltou minha mão rapidamente e sorriu sem graça.
-Eu fui namorada de Lucas. - ela falou querendo se achar.
-Eu sei! A namorada que deu um pé na bunda dele por achar que seu trabalho não era
digno. Que coisa né? Acho que foi o trabalho dele que pagou seus luxos... mas enfim.
-Ná. .. - Lucas chamou minha atenção.
-Quem é ela? - a taquara rachada perguntou diretamente para Lucas.
Lucas permaneceu em silêncio como se estivesse tendo uma indigestão.
-Eu sou esposa de Lucas!
-Esposa? Não vejo aliança na mão de vocês. - ela riu com deboche e se sentou na cadeira
vazia à nossa frente.
-Acho que isso não é da sua conta! - respondi sorrindo.
Uma vez assisti um filme que ensina você a dar respostas grosseiras sorrindo, assim você
não perde a classe e responde da forma que queria. Ou quase como queria.
-Oh.. - ela ficou surpresa com minha resposta.
-E esse é nosso bebê!
Passei a mão em minha barriga e olhei para Lucas que parecia uma estátua.
-Bebê? Então você vai ser pai? Quem diria hein? Você que sempre dizia que nunca teria um
filho!
-Acho que ele não queria um filho com você! - Só acho! - respondi cochichando.
Ela me olhou furiosa e quando abriu a boca para me responder eu a interrompi.
-Você vai nos acompanhar no jantar? - perguntei sorrindo.
-Não! Meu noivo está me esperando. - ela apontou para a mesa em que estava.
-Então acho que não deveria deixá-lo esperando demais!
Pisquei para ela que se levantou na mesma hora.
-Foi um prazer vê-lo Lucas!
-Obrigada! - respondi.
Ela me olhou de cara feia e se afastou.
-Que porra foi essa Ná?
-A porra de você não ter coragem de me apresentar. A porra de você deixar ela tirar com a
minha cara! A porra de você achar ruim por eu ter respondido ao mesmo nível que o dela.
Então faz o favor de ficar quieto porque senão vou quebrar esse prato na sua cabeça!
-Ná..
-Shiu! Eu não quero mesmo falar com você agora Lucas! Você é patético!
Senti lágrimas queimarem meus olhos e me levantei para ir ao banheiro. Passei uma água
fria no pescoço e esperei ficar mais calma. Retoquei meu batom e saí do banheiro para
voltar pra minha mesa. Procurei por minha mesa e avistei a vagaba sentada ao lado de
Lucas com a merda de sua mão em seu braço. Ele não parecia se importar com tal gesto,
inclusive sorria pra ela. Agarrei minha bolsa e saí do restaurante sem que Lucas me visse.
Chamei um táxi e agradeci aos céus por estar com a chave da casa na minha bolsa. Peguei o
travesseiro de Lucas, um lençol e joguei tudo no tapete fofinho. Voltei para o quarto,
tranquei a porta, tirei o vestido, joguei ele embaixo da cama e deitei. Em poucos minutos eu
adormeci. Estar grávida tem suas vantagens: dá muito sono!
46...

“Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que
queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?”
(Fernando Pessoa)

(Lucas)
Eu avisei Nataly que ela não ia gostar de Aymê! Ela é arrogante e sempre se achou melhor
que todo mundo e pelo visto ela continua igual. Nataly ficou chateada porque eu não a
apresentei para Aymê, mas eu tenho como me explicar:
1- Quando Nataly começa a falar, meu cérebro trava só esperando ela ter uma síncope de
nervoso, então eu estava na expectativa.
2- Eu não me esforcei em apresentá-la, pois assim Aymê se sentiria incomodada e iria embora.
3- Eu avisei à Nataly que não queria que Aymê nos visse.
4- Eu só queria ter um jantar especial com Nataly. Romântico como toda garota merece ter
um dia, mas não consegui mais uma vez.
Assim que Nataly foi para o banheiro e eu estava lhe seguindo com os olhos, Aymê teve a
cara de pau de se sentar ao meu lado. Tomei um susto quando virei o rosto e ela estava ali
sentada me encarando.
-O que você quer?
-Você!
Comecei a rir. Não consegui segurar a risada. A lambisgoia passou a mão em meu braço
enquanto eu ria.
-Lucas... eu sei que você sente minha falta.
-Sabe que não é bem assim?
-Ah por causa daquela zinha?
-Lave a sua boca pra falar dela! Ela é um milhão de vezes melhor que você!
-Ela aceitou seu trabalho?
-Aceitou.
-Ah. . Então é por isso que é tão iludida!
-Ela não é iludida! Eu larguei meu trabalho por ela! Ela é a mulher da minha vida e não me
faça perder a paciência com você!
-Aquela selvagem é a mulher da sua vida? Conta outra!
-Bom, se você não tivesse aparecido e estragado tudo, ela seria minha noiva neste
momento!
-Ah... que pena que eu estraguei.
Olhei para o banheiro estranhando a demora de Nataly.
-Ela foi embora.
-O quê?
-Ela te viu comigo e foi embora!
-PORRA!
Falei alto até demais me levantando. Olhei para sua cara de cínica e apontei o dedo para ela.
-Some da minha frente senão você vai se arrepender! E se aconteceu alguma coisa com ela e
o bebê, eu vou te caçar no inferno e fazer você pagar por isso!
Aymê me olhou assustada e desconsertada por todos estarem olhando para ela. Saí do
restaurante e pedi meu carro. Minutos passaram que mais parecera uma eternidade. Assim
que entrei nele dirigi igual um louco até a casa. Desliguei o carro correndo, acionei seu
alarme e fui direito para a porta que estava destrancada. Assim que pisei na sala vi minhas
coisas no tapete e amaldiçoei aquela cretina. Eu queria voltar no restaurante só pra
estrangular aquele pescoço dela. Fui para o quarto e tentei abrir a porta que estava
trancada. Bati de leve na porta e a chamei.
-Ná. .. abre a porta.
Silêncio.
-Ná! Abre por favor!
-Não quero falar com você!
Só de ouvir sua voz fiquei aliviado.
-Você está bem?
-Ótima Lucas!
Adoreivermeunamoradosorrindoparasuaexnamoradacapaderevistaenquantoaloucaaquiqu
enãomereceserapresentadaestavavomitandonobanheiro. Então estou perfeita obrigada!
Ouvi-la falar daquela forma me fez sorrir. Meu deus eu sou louco por essa mulher.
-Vamos conversar.. abre a porta.
-Você tem algum problema que não entende o que falo Lucas? Eu disse que não quero ver e
falar com você agora.
-Ok! Eu vou esperar aqui então. -me sentei no chão com as costas apoiada na porta.
-Esperar o que?
-Até que você queira me escutar.
Escutei ela se aproximando e se sentando também.
-Escutar o que?
Nataly sempre foi muito curiosa e não aguenta esperar pra saber das coisas.
-Eu não estava sorrindo para ela. Eu estava rindo dela por uma coisa absurda que ela tinha
dito. Você acredita que ela teve a cara de pau de dizer que me queria de volta? Depois de
tudo o que ela me disse e me fez passar? Ouvir aquilo me fez rir muito.
-Por quê?
-Porque foi a coisa mais ridícula que ela já falou pra mim.
-Por quê?
-Por quê? Porque eu tenho a mulher da minha vida do meu lado, ou na porta ao lado e sou o
cara mais feliz desse mundo inteiro. E ainda por cima vou ser pai! Porra! Não tem como eu
não ser o cara mais feliz do mundo!
Nataly ficou em silêncio e a escutei fungando.
-Ná. .. abre a porta.
-Não sei se quero abrir.
-Bom. .. eu tentei fazer isso duas vezes de forma romântica e da forma que você merece,
mas não vou aguentar esperar mais e nem vou planejar mais, porque nossos ex tem algum
radar disso e aparecem pra atrapalhar sempre.
Nataly permaneceu em silêncio e virei de frente para a porta. Escutei ela se movimentando
e acho que ela também estava de frente para mim.
-Pequena, desde que te conheci tive a certeza de que você surgiu para ser a mulher da
minha vida, para a minha vida toda. A única e eterna, aquela a quem eu deveria dedicar
todo o meu carinho e atenção. Passaram-se, dias, semanas e meses, e o tempo apenas
reforçou a minha primeira opinião, pois você foi se mostrando cada vez mais, a criatura
mais doce e bela que Deus colocou na face da terra. Você me proporciona tudo o que eu
poderia desejar encontrar em um ser humano, pois me dá carinho, conforto, atenção e
tranquilidade. Você me dá alegria a cada vez que sorri ou olha para mim, e me dá prazer a
cada vez que toca a minha pele com suas mãos e com os seus beijos. Eu sei que te amo e não
sinto o peso de carregar todo este amor em meu coração porque, pelo contrário, é este
amor que me dá força e coragem para suportar o peso de todos os contratempos e
adversidades do dia a dia. Quando penso em você revitalizo o meu espírito e renovo os
meus sonhos de futuro, e você sempre faz parte destes sonhos. Aliás, se não fosse assim,
não seriam sonhos! Tenho a certeza de que este período em que estamos juntos é o período
mais belo, perfeito e feliz que já vivi. Quando você surgiu veio preencher um espaço que eu
nem desconfiava estar vazio, que eu nem imaginava existir. Hoje, olho para o passado e
percebo o quanto a minha vida era oca, o quanto o meu cotidiano era sem graça e quanto
tempo eu perdia em conversas vãs ou em outras atividades que não acrescentavam nada à
minha vida. O seu amor me transformou, e hoje faz com que eu entenda o mundo e me fez
criar expectativas e o desejo de conquistar para depois dividir. Dividir com você, desfrutar
com você o resultado de todas as nossas conquistas. Por tudo isso pequena, é que eu
preciso lhe fazer uma pergunta e espero que ela não lhe traga surpresa ou espanto, mas
apenas alegria, como também me trará a maior alegria do mundo se eu tiver uma resposta
positiva para ela... Você quer casar comigo?

47...

“Não me lembro mais qual foi o nosso começo Sei que não começamos pelo começo. Já era
amor antes de ser.”
(Clarice Lispector)

Lucas passou um anel de noivado por baixo da porta, mas eu não conseguia olhar pra ele
pelo tanto de lágrimas que brotavam em meus olhos. Peguei o pequeno círculo dourado do
chão e o levei aos lábios. Soluços interromperam minha respiração.
-Ná?
Lucas me chamou e finalmente consegui dizer alguma coisa.
-Sim... sim... sim! Eu aceito casar com você!
Eu juro que eu escutei Lucas sussurrar "Graças a Deus". Levantei-me e fui abrir a porta que
não quis abrir. Chacoalhei, chutei, xinguei e nada.
-Não abre Lucas!
-Gira a chave com mais força.
-Ok!
Fiz o que ele pediu e para o meu desespero a chave quebrou!
-A chave quebrou Lucas! E agora???
-Porra!
Ele começou a chutar a porta, mas ela nem se movia.
-Não fez nada!
-Porra de porta resistente!
-Você não tem uma caixa de ferramentas?
-Não!
-Sério?
-Sim! Nunca pensei em trazer uma.
Lucas chutou a porta diversas vezes, mas nada adiantou. Olhei no relógio e já era mais de
dez horas e comércio algum estaria aberto esse horário. Lucas esmurrava e chutava a porta
até que ele se cansou.
-Não abre Ná!
-Amanhã cedo você procura um chaveiro.
-Mas amanhã é longe demais! Eu quero ver você!
-Não temos o que fazer Lucas!
-Eu sei...
-Eu te amo!
-Eu também te amo mais que tudo! Você gostou do anel?
-É perfeito!
-Você colocou?
-Não. .. estava esperando que você fizesse isso.
-Coloca ele e me manda uma foto.
-Ta bom.
Fiz o que ele pediu e lágrimas voltaram a queimar meus olhos. Peguei meu celular e mandei
uma foto para ele. Escutei o barulho de mensagem em seu celular e me sentei encostada na
porta. Acho que Lucas fez o mesmo.
-Ficou perfeito pequena!
-Ficou. Obrigada por tudo isso! Obrigada por me amar!
-Eu que agradeço a Deus todos os dias por ter colocado você em minha vida!
-Lucas?
-Oi pequena!
-Você está abraçando a porta?
-Não! Você tá?
-Claro que não!
Retirei meus braços da porta e me ajeitei.
-Me desculpe por hoje. Odiei ver aquela taquara rachada encostando em seu braço.
-Eu sei pequena... desculpe por não ter reagido!
-Tudo bem. Posso te fazer uma pergunta?
-Claro!
-Como você conseguia fazer sexo com ela? Só de imaginar ela falando já broxo na hora!
-Bom... eu pedia pra ela ficar muda!
-Ai Meu Deus! - comecei a gargalhar.
-Pois é! - Lucas deu risada também.
O sono estava fazendo meus olhos pesarem.
-Lucas...
-Fala pequena.
-Eu quero dormir.
-Tudo bem linda. Acho que vou tentar dormir também.
-Tá bom. Boa noite. Eu te amo Lucas!
-Também te amo pequena.
Escutei Lucas se levantando e fui para a cama. Não demorou muito para que eu pegasse no
sono, mas antes dei um beijo em meu anel e finalmente dormi em paz.
48...

“O casamento faz de duas pessoas uma só, difícil é determinar qual será.”
(William Shakespeare)

(Lucas)
Acordei assustado por não saber onde estava e quando lembrei o que tinha acontecido na
noite anterior comecei a rir de alegria. Nataly finalmente era minha noiva! Eu mal
conseguia segurar o sorriso em meu rosto.
Olhei no relógio e eram oito horas da manhã, então aproveitei para procurar um chaveiro o
quando antes. Rodei bastante pela cidade até que encontrei um que tinha acabado de abrir
sua loja. Ele disse que não poderia ir comigo então dei um dinheiro para convencê-lo.
Depois de muita insistência, Raul seguiu meu carro e fomos direto para a porta do quarto.
Expliquei a ele o que aconteceu e meia hora depois a porta estava aberta. Por incrível que
pareça, Nataly não acordou com o barulho que foi feito. Dei o restante do valor para Raul e
o acompanhei até saída. Voltei para o quarto e me deitei ao lado de Nataly. Ela estava
deitada de lado, mas a mão onde estava o anel, estava em cima do travesseiro. Ele ficou
perfeito em sua mão delicada, na verdade ficou mais perfeito do imaginei. Eu tinha
planejado um super pedido de casamento, mas as circunstâncias foram outras. Não foi nada
como o planejado, mas tudo o que falei para ela era o que estava em meu coração.
Ok isso foi meio gay, mas é verdade!
Segurei sua mão e beijei o lugar onde o anel estava e puxei a coberta para cobrir nós dois.
Fiquei olhando seu rosto de menina e eu percebi que me apaixonava cada dia mais por ela.
Eu estava contando os segundos para que nosso filho nascesse e para que finalmente eu
tivesse a minha família. Aí sim eu seria o homem mais feliz do mundo. Eu acho que até
gritaria igual ao Jack do Titanic:
"Eu sou o rei do mundo!"
Tudo bem que não faria muito sentido, mas eu sempre quis gritar isso um dia!

49...

"Todo o segredo da arte é talvez saber ordenar as emoções desordenadas, mas ordená-las de
tal modo que se faça sentir ainda melhor a desordem.”
(Charles Ramuz)

Acordei com Lucas dormindo ao meu lado e eu não entendi nada. Acho que sonhei que
fiquei noiva e fiquei completamente decepcionada. Tentei levantar devagar, mas Lucas
estava deitado em cima do cobertor e eu não conseguia sair. As duas pontas do cobertor
estavam embaixo dele e eu estava tipo embalada a vácuo. Tentei me mexer igual uma
minhoca para cima, mas não resolveu nada, então tentei ir para baixo e fiquei ainda mais
presa. Resolvi ir puxando devagar o cobertor, assim ele sairia debaixo de Lucas e eu
conseguiria ir ao banheiro. Puxei devagar uma vez, duas, três e não saiu um centímetro
sequer do cobertor de baixo de Lucas. Fiquei com tanta raiva que puxei de uma vez e o
movimento fez Lucas rolar para o lado e cair no chão. Eu não tinha reparado que eu estava
deitada bem no meio da cama e ele na beiradinha. Fui olhar ele no chão que sentou
imediatamente. Ele nada disse só me encarou com seus olhos azuis lindos de morrer.
-Desculpa! - tentei sorrir.
-Devo perguntar por que fez isso ou é melhor fingir que isso não aconteceu?
-Eu precisava fazer xixi!
-Entendi. E em qual parte fazer xixi implica em me jogar da cama?
-Na parte que você estava me prendendo dentro do cobertor.
-Certo! Da próxima vez me acorde antes de me jogar no chão tá bom?
-Ta bom!
Tentei segurar a risada, mas não consegui. Lucas me olhou ainda mais bravo e foi aí que vi
um corte em seu supercilho.
-Aii Meu Deus! Você está sangrando Lucas!
Ele se levantou e foi direto para o banheiro. Fui atrás dele e aproveitei para fazer xixi. O xixi
foi infinito. Lucas me olhou de rabo de olho e pegou uma caixinha de primeiros socorros
dentro do armário.
Terminei meu xixi, lavei as mãos e fiz o curativo em Lucas no quarto. Um band-aid em sua
sobrancelha não tirava sua beleza.
-Você ainda está lindo como sempre! - falei tentando descontrair.
-Que bom! Só faltava você deformar meu rosto agora!
-Me desculpa. Não pensei que isso fosse acontecer! Não precisa ser grosso!
Lucas saiu do quarto e eu voltei para o banheiro. Lucas estava me irritando! Eu que estava
grávida e Lucas quem tinha as alterações de humor. Lavei meu rosto e na hora que joguei a
água, vi o anel brilhando em meu dedo. Sequei meu rosto e me sentei na tampa do vaso
sanitário. Tirei o anel do meu dedo e finalmente reparei em todos os detalhes. Ele era de
ouro e tinha pequenas pedras em toda a sua volta. Na parte de cima tinha uma pedra
enorme com pequenas pedrinhas ao seu redor. Ele era perfeito! Fiquei emocionada em
saber que não foi sonho e que tudo o que Lucas me falou era verdade. Eu ainda estava
olhando o anel quando Lucas entrou no banheiro. Olhei para ele e sequei uma lágrima.
-O que foi Ná?
Lucas se ajoelhou na minha frente.
-Nada! Eu estou feliz só isso! Apesar de você ser um ogro.
Lucas tirou o anel da minha mão e o colocou no meu dedo, deu um beijo nele e em seguida
me abraçou. Ficamos um tempo daquela forma e Lucas me levou para a cozinha dando um
discurso que agora eu comia por dois e que eu não podia deixar de comer e blá blá blá.

O domingo foi simplesmente perfeito. Depois de tomarmos café da manhã fomos para a
praia e fizemos uma longa caminhada com as ondas batendo em nossos pés. No almoço
Lucas fez macarrão com uma salada maravilhosa que me dá água na boca só de lembrar. Na
parte da tarde ficamos deitados no tapete fofinho assistindo televisão e quando escureceu
voltamos para casa.
Então aqui estou, deitada na minha cama, com Lucas ao meu lado dormindo e graças a Deus
sem roncar e eu não poderia me sentir mais completa!
Meu trabalho ia bem, meu namoro ia bem, eu estava noiva de um homem maravilhoso, e
estava esperando um bebê dele. Seria impossível me sentir mais feliz!

Chegou o dia da consulta e nós dois estávamos muito ansiosos. Lucas falava sem parar e eu
queria chorar de nervoso. A Dra Antônia foi um amor de pessoa. Me explicou tudo o que
aconteceria comigo durante a gravidez e os cuidados que eu deveria tomar. Lucas me fez
passar vergonha perguntando se poderíamos fazer sexo com bastante frequência e com
força. Ele deu ênfase nas palavras "bastante" e "força" fazendo a Dra rir enquanto eu queria
pular da janela de tanta vergonha que sentia. No ultrassom deu tudo certo e descobrimos
que estou com um mês e meio de gravidez e que eu devo ter engravidado por ter esquecido
de tomar o anticoncepcional alguma dia. Eu pensei que Lucas ficaria chateado por eu ter
me descuidado, mas ele ficou ainda mais feliz. Quando escutamos os batimentos do bebê,
Lucas chorou mais do que eu e teve que se sentar para não desmaiar. A Dra Antônia pediu
que eu fizesse alguns exames e voltasse em um mês. Disse que tudo corria bem e que nosso
filho seria muito lindo. Lucas saiu frustrado por não saber o sexo do bebê, mas garantiu que
seria um menino.

Meses se passaram e a gravidez corria perfeita. Eu não tinha mais os enjoos e nosso sexo
ficava cada dia melhor. Decidimos vender minha casa e nos mudar para uma casa nova.
Lucas vendeu seu carro para termos uma estabilidade por um tempo e para comprarmos as
coisas necessárias para o bebê.
Sim o bebê! De tanto encher o saco descobrimos que vou ter um menino. Acredito que
Lucas fez alguma macumba ou magia pra isso acontecer. Lucas pulou, chorou, xingou e
gritou tanto que Dra Antônia ficou assustada. Pensou que ele fosse quebrar a sala de
exames e disse que se ele permanecesse daquela maneira, teríamos que nos retirar do
consultório. Quando ela confirmou pela vigésima vez que era mesmo um menino, Lucas
ficou tão feliz que até a beijou na boca deixando-a toda desconsertada e risonha. Depois ele
me pediu desculpas, mas a cena foi tão hilária que foi impossível ficar brava com ele.
Tenho a impressão que depois disso a Dra Antônia vai querer nos ver com mais frequência.

Um belo sábado estávamos assistindo filme quando minha campainha tocou. Lucas foi
atender e só ouvi a voz conhecida. Me afundei nas almofadas do sofá só esperando o
espetáculo começar.
-Quem é você? - minha mãe perguntou nervosa.
-Lucas!
-Lucas o que?
-Que falar com quem? - ele perguntou irritado.
-Com a minha filha! Cadê ela? O QUE VOCÊ FEZ COM ELA??
Escutei alguns barulhos de coisa batendo e fui salvar Lucas.
-Oi mãe! Estou aqui! Pare de bater nele!
Minha mãe parou com a bolsa no ar e olhou direto para a minha barriga. Lucas cobria a
cabeça e me olhou sem entender nada.
-Eu espero mesmo que você tenha engolido uma melância mocinha!
Ela passou por Lucas e por mim e foi olhando para todos os detalhes da minha casa que
estava praticamente vazia pois estávamos de mudança.
-Você mora nisso?
-Sim mãe! Essa é a minha casa!
-Que horror! E você veio morar aqui? - ela perguntou à Lucas que assentiu.
-Cadê o pai, mãe?
-Ele vem outro dia.
-Como assim outro dia?
-Nós brigamos e resolvi vir pra cá, mas não imaginei que teria tantas surpresas de uma vez.
-Agora eu sei de quem você puxou de ficar indo embora em cada briga. -Lucas comentou.
-Eu não faço isso Lucas!
-Não! Só 99% das vezes!
-Então? Quando ia me contar sobre isso? -minha mãe apontou para Lucas.
-Ele não é isso e estamos noivos! Por que vocês dois brigaram mãe?
-Bom, você não me contou que não estava mais com Pedro! Eu acho que ele tem uma
amante!
-Mãe, eu terminei com Pedro a muito tempo e você sabia disso! Amante? Mas você viu ele
com alguém?
-Que seja! Só pensei que teria mais consideração e me comunicaria que estava buchada!
Não, mas ele tinha algumas mensagens estranhas no celular falando sobre nudes! Não sabia
o que era isso até procurar na internet!
-Eu tentei te avisar, mas você nunca atende minhas ligações! Aí Meu Deus! Ele mandou
nudes pra alguém?
-Eu não sei retornar ligação pelo celular Nataly! Mandou e pelo visto recebeu também
porque ele falava "gostosa" e "tesuda".
-É só abrir meu nome no celular e discar mãe! Mas ele estava com alguma mulher? Você
sabe com quem ele estava falando?
-Que seja Nataly! Eu não sei fazer isso aí que você falou! E me respeite porque sou sua mãe
e não uma nerd de celular. Ele estava falando com vários números diferentes! Como faço
pra saber quem era?
Lucas nos acompanhava com a cabeça sem entender absolutamente nada.
-Que porra! Essa conversa está mesmo acontecendo ou eu estou alucinando? - Lucas
perguntou chocado.
-Você usa drogas rapaz? Como você deixa um drogado morar com você filha? - minha mãe
perguntou sussurrando.
-Eu vou na padaria! Já volto Ná!
Lucas me deu um beijo, pegou a carteira em cima do sofá e saiu em disparada pra fora da
casa. Minha mãe olhou para mim e sorriu.
-Gostosinho ele hein?
-Sim! Você nem faz idéia do quanto!
Começamos a gargalhar. Minha mãe sempre foi bem moderna e liberal. Ela só ficava puta
da vida em ser a última a saber das coisas, por isso ela agiu dessa maneira com Lucas. Ela
me perguntou como nos conhecemos e contei que foi em minha loja. Jamais contaria a ela
que contratei um homem para me acompanhar em uma festa. Eu seria zuada até a minha
morte. Falei que a gravidez não foi planejada, mas que era muito bem vinda. Minha mãe me
fez a pergunta que me faço desde que descobri que estava grávida:
"Como você vai cuidar de um bebê se não sabe nem cuidar de você? "
Minha resposta foi:
"Lucas vai cuidar do bebê mãe"
E por incrível que pareça, ela ficou muito aliviada.
Minha mãe contou que percebeu que meu pai não largava o celular e ficou desconfiada.
Então ela aproveitou um dia que ele tomava banho, pegou o celular e levou para a casa da
vizinha para ajudá-la a ver o que ele tanto fazia e foi aí que elas descobriram que ele estava
trocando nudes. Ela não conseguiu ver as fotos, pois ele já tinha apagado, mas ela tem
certeza que não parou por aí.
Fiquei morrendo de dó dela, eu disse que ela deveria investigar se aquilo era real mesmo,
pois eles estão a 32 anos juntos e não é fácil lidar com algo tão grave. Ela disse que faria
isso e ficou fazendo mil perguntas sobre Lucas, sobre a loja, sobre a minha casa enquanto
esperávamos Lucas voltar com coisas para comer, porque como sempre eu estava faminta.
50...

“Preciso despir-me do que aprendi. Desencaixotar minhas emoções verdadeiras.


Desembrulhar-me e ser eu! Uma aprendizagem de desaprendizagem...”
(Alberto Caeiro)

Lucas demorou quase duas horas para voltar da padaria e comecei a achar que ele tinha ido
embora pro Japão. Minha mãe é sempre assustadora à primeira vista, mas depois ela se
torna uma pessoa legal. Estávamos nós três sentados no tapete fofinho comendo e
assistindo TV. Lucas estava em um silêncio tão grande que achei que ele tinha comido a
língua junto ao pão. Minha mãe olhava para nós dois e sorria.
-Então... qual vai ser o nome do bebê? - ela perguntou animada.
-Nós não sabemos ainda! Vamos escolher alguns e quando ele nascer vamos ver qual
combina mais com ele. - respondi.
-Ele vai ser tão lindo! Principalmente se puxar você! - ela falou diretamente para Lucas.
-Obrigada... eu acho. - ele respondeu sem saber o que dizer.
-Quando vocês vão mudar pra casa nova?
-Daqui a duas semanas. O quarto do bebê já está pronto. Você deveria conhecer antes de ir
embora. - Lucas respondeu sorrindo.
-Ahhh isso seria perfeito Lucas! Obrigada!
Olhei para ele dizendo com o olhar que ele não deveria ter feito aquilo. Ele questionou
também com o olhar e minha mãe abriu a boca. Neguei com a cabeça antes mesmo de ela
começar a falar.
-AIIII JESUS! Tive uma ótima idéia!
Lucas pulou no sofá de susto pelo grito da minha mãe e eu continuava a negar com a
cabeça. Lucas me olhou confuso.
-Eu acho que eu vou passar um tempo com vocês para ajudar com o bebê!
-Não precisa mãe!
-Como não precisa? Você não vai saber fazer isso sozinha! Isso não é um boneco sabia
Nataly!? Ele precisa de cuidados que tenho certeza que você não vai dar. Eu posso cuidar
disso e...
A raiva cresceu dentro de mim. Ninguém além de mim poderia dizer que eu não saberia
criar e cuidar do meu bebê.
-Eu vou saber sim! Eu sou capaz! Você não vive comigo a anos e se acha no direito de
aparecer aqui do nada e ficar criticando minha casa, meu noivo e a mim? Eu entendo que
você e o pai estão com problemas, mas você fugir e dele e querer morar na minha casa está
errado! E se você chamar mais alguém aqui nessa sala de "isso" vou ter que pedir que saia
da minha casa!
Me levantei e fui direto para o banheiro chorar. Segundos depois bateram na porta, mas eu
não respondi.
-Ná! Abre por favor!
Destranquei a porta e Lucas entrou me abraçando.
-Eu odeio que ela venha aqui e fique dizendo que eu não tenho capacidade pra cuidar do
meu bebê. Só eu posso dizer isso!
-Eu sei pequena, mas olha só! Você tem capacidade sim! Você está cuidando dele agora!
Cuidando dele na sua barriga! Se você não tivesse capacidade, ele não estaria mais aí
dentro.
-Isso é verdade. - sequei uma lágrima.
-Fica calma ta bom?
- Obrigada.
-Não precisa agradecer pequena!
Lucas me beijou e decidimos sair do banheiro. Liguei para o meu pai avisando que minha
mãe estava aqui e ele já ia vir buscá-la. Fui para a sala e me sentei no meu tapete enquanto
minha mãe me olhava de cara feia. Permaneci em silêncio assistindo ao filme.
-Não gostei nem um pouco do jeito que falou comigo mocinha!
-E nem eu! Eu não sou mais uma criança! Eu tenho a minha casa, meu noivo, meu bebê na
minha barriga! Acho que você não morreria por ter um pingo de orgulho de mim!
-Eu tenho orgulho de você filha! Só estou dizendo que cuidar de uma criança não é fácil.
-Eu sei que não é fácil! Mas eu vou aprender e vou cuidar dele da melhor forma que eu
posso! Então acho que se você duvida disso, deve ir embora agora!
Lucas apertou minha mão me dando apoio e minha mãe permaneceu de olhos arregalados.
-Me desculpa. - ela falou baixo.
-Desculpada. - respondi.
Ela deu risada e me abraçou. Continuamos a assistir o filme esperando a outra guerra
acontecer:
A chegada do meu pai.

Duas horas depois a campainha tocou. Lucas e eu quase saímos nos tapas pra decidir quem
atenderia a porta. Minha mãe nem percebeu, pois estava dormindo por causa do novo filme
que assistíamos. Acho que nunca assisti tantos filmes na minha vida toda como hoje.
Quando fui levantar pra atender a porta, Lucas me puxou para o sofá e começou a me fazer
cócegas.
-Paraaa! Senão o bebê vai sair se eu rir mais!
Lucas me largou esparramada no sofá e foi atender a porta. Era possível ouvir a voz grossa
de meu pai.
-Cadê ela? - meu pai perguntou.
-Quem?
-A louca!
-Qual das duas? -Lucas perguntou confuso.
Fui até eles e empurrei Lucas para o lado.
-Oi pai!
-Não me diga que você está com vermes de novo! - meu pai perguntou olhando para a
minha barriga.
-Você teve vermes? - Lucas perguntou segurando a risada.
-Vai à merda Lucas.
Ele começou a rir.
-Entre pai! A mãe tá na sala.
Ele passou por nós e ficou olhando a casa da mesma forma que minha mãe.
-Estamos de mudança.. pra uma casa maior... e com móveis!
-Bom! - ele me puxou para perto.- Filha... acho que a sua mãe está louca! Fica inventando
umas coisas que não sei o que é.
-Pai ela disse que você estava mandando nudes!
-Eu não mandei. Eu recebi. Você sabe há quanto tempo eu não vejo uns peitinhos?
-Ai Meu Deus! - coloquei a mão no rosto.
-Eita porra! - Lucas falou chocado.
-Você é quem? - meu pai perguntou olhando para Lucas.
-Ele é meu noivo Lucas!
-Noivo? Filho vem cá! - meu pai passou o braço ao redor dos ombros de Lucas - Corre
enquanto é tempo! Ela vai ficar louca igualzinha à mãe dela. Vai inventar coisas e vai fazer
você acreditar que é verdade!
-Pai pare com isso e me explica direito essa história das mensagens.
-Não sei qual o problema em ver fotos de gente pelada. Não estou fazendo nada demais! É a
mesma coisa que ver filme pornô. Não é traição.
-Pai, pra eu assistir vídeos pornôs é traição sim. Viu Lucas???
-Não falei nada! - ele respondeu se defendendo.
-Não interessa! Já fica ciente da minha opinião.
-Como traição Nataly! Não tô pegando em ninguém. – meu pai respondei incrédulo.
-Mas o senhor já parou pra pensar como ela se sente em relação à isso? Em como deve ser
humilhante ela ver que o senhor gosta de meninas novinhas em vídeos indecentes?
-Não. ..
-Exato. É muito triste pra nós mulheres ver que seu namorado ou marido se interessam por
alguém mais bonita, experiente e gostosa que a gente.
-Desde quando você virou esperta assim Nataly?
-Sempre fui, mas vocês não se esforçaram pra ver isso.
-Por que não me contou que estava grávida?
-Eu tentei, mas a mãe não atendia minhas ligações.
-Não te disse que ela está louca?
-Louca é a sua bunda Carlos! - minha mãe falou furiosa.
-Ana, fale baixo!
-Falo do jeito que eu quiser! E o que você está fazendo aqui seu traidor? A novinha não te
quis mais?
-Não tem ninguém amor.
-Não me chame de amor seu safado! Eu vi as suas conversas!
-Não eram conversas e sim comentários.
-Não venha inventar história! Eu sei o que eu li.
-Pois leu errado! Eu não estou com ninguém Ana. Os caras do trabalho que me mandaram
fotos de umas gostosas e comentei as fotos. Só isso!
-E por que eu deveria acreditar em você?
-Porque sou seu marido!
-Grande coisa!
-O QUÊ? ??
Lucas e eu nos olhamos e saímos de fininho de perto deles e fomos para o quarto. Aquele
era um assunto para ser resolvido entre os dois. Assim que entramos no quarto, nós
fechamos a porta para abafar os gritos que vinham da sala e nos jogamos na cama. Lucas
acariciava minha barriga e conversava com o bebê me fazendo rir.
-Não seja igual à família da sua mãe filho, são todos loucos! - ele falava bem baixo.
-Hey! Você vai fazer parte dessa família sabia?
-Sabia!
-Bom!
Lucas voltou a se deitar ao meu lado e ficou me olhando.
-Ná. ..
-Nós não conversamos sobre o casamento.
-Como assim?
-Ah... sobre a festa... a cerimônia.. essas coisas.
-Eu não me importo com isso sabe... prefiro uma coisa simples para os íntimos.
-Por isso que eu te amo Ná. Sempre pensamos igual.
-Besta! - dei risada.
-Você não que mesmo uma festona?
-Não Lucas! Prefiro usar esse dinheiro em fraldas!
-Sério?
-Sério! O bebê e mais importante que uma festa. Poderíamos fazer uma comemoração em
algum restaurante e só casar no civil. O que você acha?
-Acho perfeito pequena!
Lucas me beijou e segurou minha mão.
-Está muito silêncio não acha?
-É... meio estranho mesmo! - falei me sentando.
-Será que ela matou ele? Caramba Ná! Não vão querer a casa sabendo que tinha um defunto
nela!
-Credo Lucas! Não tem defunto algum!
Lucas levantou e pediu que eu esperasse no quarto enquanto ele ia ver o que estava
acontecendo. Assim que ele abriu a porta, fui atrás dele. Lucas foi em direção á sala e voltou
com tudo pra trás embarcando em mim.
-O que foi? - perguntei cochichando.
-Melhor a gente voltar pro quarto.
-Por que? AI MEU DEUS! Alguém morreu?
-Não é isso Ná!
Eu tentava desviar de Lucas para ver, mas ele era grande e forte e ia me empurrando para
trás.
-Desculpa Lucas!
-Pelo que?
-Por isso!
Coloquei a mão em seu dito cujo e apertei suas bolas. Lucas tapou a boca com a mão para
não sair nenhum som e se ajoelhou na minha frente. Passei por ele e assim que entrei na
sala, tive que conter um grito. Meus pais estavam transando em cima do meu tapete
fofinho.
DO MEU TAPETE FOFINHO!
A raiva e nojo tomaram conta de meu corpo. Fui para o quarto e peguei meu travesseiro.
Passei por Lucas caído no chão e fui para a sala batendo nos dois com o travesseiro.
-NO MEU TAPETE NÃOOOOOOO!
Fechei os olhos e continuei a bater no que eu conseguia. Minha mãe falava tão rápido que
eu não conseguia entender uma palavra. Já meu pai tentava me explicar que não era o que
eu estava pensando. Abri os olhos e os dois estavam parados um do lado do outro
completamente envergonhados.
-Filha... - minha mãe começou a falar.
-Somente eu vou falar aqui ok? - os dois assentiram. - Se vocês queriam privacidade era só
falar! Vocês poderiam ter feito isso em qualquer outro lugar, meu no meu tapete! No meu
tapete fofinho NÃO! Fui clara?
-Sim! - disseram em uníssono.
-Bom! Já que se resolveram é melhor irem embora! Eu aleijei meu noivo e preciso cuidar
dele.
Fui para a cozinha e coloquei um monte de pedras de gelo em um pano de prato. Fui até
Lucas que estava caído no mesmo lugar.
-Me desculpa.. Não pensei que tivesse sido tão forte!
Lucas virou o rosto e fechou os olhos. Ele estava de barriga pra cima então abri
rapidamente seu zíper e abaixei a calça deixando apenas a cueca. Coloquei a bolsa de gelo
em cima de onde apertei e Lucas pareceu nitidamente aliviado. A cena não era muito
agradável para quem estava de fora. Imaginem comigo:
Lucas estava deitado no chão com as calças até os joelhos. Ele gemia de dor e cobria os
olhos com as mãos. Eu estava de quatro com a mão nas suas coisas particulares e com o
rosto abaixado. E pra piorar eu perguntei " Está bom assim? " Lucas respondeu: "Sim.. mais
pra baixo por favor! Isso! Ai mesmo!"
Escutei um barulho atrás de mim e levantei para olhar. Meus pais estavam com a mão na
boca contendo a surpresa. Tentei me explicar, mas foi em vão. A cena dizia completamente
o oposto. Minha mãe ficou dizendo que aquilo não se fazia em público e até eu explicar o
que eu realmente estava fazendo, já tinha virado um novo caos.
Eram quatro pessoas falando tudo ao mesmo tempo e aquilo me fez sorrir. Apesar de todos
os defeitos e erros de todos nós, aquela era a minha família, e eu a amava com todas as
minhas forças.
51...

“A verdadeira família é aquela


unida pelo espírito e não pelo sangue.”
(Luiz Gasparetto)

Depois do jantar, nós estávamos jogando conversa fora na sala quando a campainha tocou.
Eu não sabia que era então quem atendeu a porta foi meu pai. Não aguentei de curiosidade
e fui até lá pra saber quem era. Pedro estava parado na porta e me olhou assim que me
aproximei. Meu pai fez ele entrar dando um discurso de como é perigoso deixar as portas
abertas hoje em dia e bla bla bla. Pedro entrou e veio me abraçar, mas o empurrei para
longe.
-Eu queria falar com você Nati!
Abri a boca para responder e vi uma bolsa passando à centímetros do meu rosto acertando
o queixo de Pedro.
-Vai embora seu filho da puta!
Minha mãe gritou com Pedro e Lucas se aproximou. Assim que os olhos dos dois se
encontraram um Lucas passou voando por todos e derrubou Pedro no chão com um soco.
Meu pai puxou Lucas para trás e minha mãe pegou a bolsa do chão e apontou para Pedro
em forma de ameaça. Ele levantou com o nariz sangrando e se escondeu atrás do meu pai.
-Eu não sei porque tudo isso, mas só vim avisar que minha mãe faleceu e estou saindo do
país.
Ficamos esperando ele dizer que era uma brincadeira, mas ele não disse.
Todos ficamos em silêncio com a notícia. Olhei para o rosto de Pedro e ele parecia cansado
e abatido.
-Por que não me avisou antes? - perguntei.
-Porque você bloqueou meu número e se eu aparecesse aqui, seria recebido dessa forma! -
ele apontou para Lucas.
-Eu sinto muito pela sua mãe Pedro! De verdade!
-Pelo menos agora ela está descansando e nada mais me prende aqui.
-Você vai pra onde rapaz? -meu pai perguntou preocupado.
-Vou para Nova York. Tenho alguns amigos que moram lá e vou tentar algo pra mim. Não
faz mais sentido ficar nesse lugar.
Pedro falou aquilo olhando diretamente pra mim. Senti pena dele. Não é fácil se sentir
sozinho dessa forma. Já passei por isso uma vez e não é nem um pouco agradável.
-E a sua namorada? - Lucas perguntou.
-Ela me deu pé depois do casamento.
-Sinto muito. - falei.
-Fazer o que né? Eu mereci!
Minha mãe, meu pai e Lucas disseram juntos:
-Mereceu mesmo!
Mesmo sem meu pai e minha mãe saberem de nenhuma história sobre a festa de
casamento, eles estavam tratando Pedro da mesma forma que eu e Lucas.
-Bom.. é isso aí! Só vim me despedir, pedir desculpa por tudo o que eu fiz e avisar sobre a
minha mãe.
Pedro balançou a cabeça e saiu da casa fechando a porta atrás dele. Minha mãe olhou pra
mim.
-Fiquei com dó dele! - ela falou chateada.
-Eu também. Por que você bateu nele mãe?
-Ah.. porque você contou que ele não prestava. Só por isso.
-Você bateu no rapaz sem saber o que aconteceu Ana? Você é pirada!
-Eu não sou pirada coisa nenhuma! Como se atreve a dizer isso pra mim?
-Hey!!!! Chega de briga nessa casa! - Lucas falou autoritário e aqui foi sexy pra caramba.
-Desculpa... - meus pais falaram ao mesmo tempo. Voltamos para a sala e Lucas ficou um
bom tempo sem conversar comigo. Acho que ele ficou bravo por eu ter apertado suas bolas.
Se eu soubesse que doeria tanto assim, eu teria batido a cabeça dele na parede para fazer
ele desmaiar e sendo assim, não sentiria tanta dor. Eu acho.
Meus pais foram embora alguns minutos depois e disseram que voltariam para ver o bebê e
a casa nova. Não sei quando eles deduziram que seria isso, sendo que em momento algum
perguntaram quantos meses falaram para ele nascer.
Lucas e eu decidimos jogar fora o tapete fofinho e comprar um novo para a casa nova. Eu
jamais olharia para ele com os mesmos olhos. Meus olhos queimaram com a visão do
inferno sempre que eu olhasse para o tapete, então foi a melhor decisão em muito tempo.
Na hora de dormir Lucas ainda estava estranho e não aguentei a curiosidade.
-Por que você está estranho comigo? Eu já te pedi desculpas pelo apertão! Eu posso dar
vários beijinhos se você quiser!
-Os beijinhos eu vou aceitar, mas não é isso não. . É que eu fiquei pensando que mesmo seus
pais serem débeis mentais, eles te amam da forma deles, cuidam de você dá forma deles. Eu
queria ter isso com os meus pais sabe? Não ser acusado de assassinato por algo que não
tive culpa.
-Eu sei Lu... por isso acho que você deveria ir conversar com eles e esclarecer isso de una
vez por todas! Já Fã bastante tempo e eles precisam ver que estão cometendo o maior erro
da vida deles ao afastarem você.
-Você acha mesmo que eu deveria falar com eles?
-Eu tenho certeza! E se mesmo assim eles agirem como dois idiotas, eu quebro a cara dos
dois.
-Você não mata nem formiga Ná!
-Eu sei!!! Mas eles não sabem disso!
-Eu te amo muito Ná!
-Eu também!
-Você vai comigo? Falar com eles?
-Pode ter certeza que eu iria mesmo sem ser convidada!
Lucas se aproximou e me beijou. Ele me lembrou que eu prometi uns beijinhos para curar
seu machucado e fiz o que prometi!
Promessa é dívida!
Bom, não deveria ser, mas é!

Na manhã seguinte acordei cedo e empolgada para conhecer os pais de Lucas. Acho que ele
não deve prolongar a data do encontro, então decidi por ele que seria hoje. Ele ficou
reclamando que seria uma má idéia, mas deixei ele reclamando sozinho o caminho todo.
Fiquei completamente surpresa ao saber que eles moram a apenas dois quarteirões da
antiga casa de Lucas e nunca tiveram a coragem de ir visitá-lo.
Lucas parou o carro na frente da enorme casa branca e sem graça que tinha naquela rua.
Pelo visto eles deveriam ser sem graça mesmo. Desci do carro e fui em direção à porta.
Olhei ao redor e vi Lucas ainda dentro do carro com a cabeça apoiada no volante. Quando
dei em passo pra trás para ir até Lucas, a porta foi aberta e uma pessoa bem grossa falou
alto até demais.
-Quem é você? O que está fazendo na minha porta???
Olhei para o homem que estava parado à minha frente. Era nada mais nada menos que
Lucas de cabelos grisalhos. A cor dos olhos era igual, os cabelos iguais, só que puxados para
o cinza, o nariz igual, o porte físico igual. Nunca vi um filho ser tão semelhante ao pai. Ele
levantou uma sobrancelha esperando por minha resposta que ficou entalada na garganta.
-Oi.. eu souNatalynoivadelucasqueestáentaladodentrodocarroprazer!
Ele me olhou confuso e por incrível que pareça ele entendeu o que eu disse pois olhou
diretamente para o carro estacionado.
-Noiva?
-Sim!
-Uau.
Ele me olhava com um pequeno sorriso no olhar.
-Entre! Já já ele cria coragem!
Olhei Lucas no carro que assentiu com a cabeça sem se mover um milímetro indicando que
ele sairia daquele carro em pelos menos uns quatro dias. O homem à minha frente foi para
o lado me dando passagem e entrou logo em seguida. Ele não trancou a porta como
imaginei que fizesse, então fiquei aliviada por saber que eu poderia correr dali a qualquer
momento. O pai de Lucas me indicou o sofá e me sentei na parte mais próxima da porta.
Ninguém sabe o que poderia acontecer não é? O homem se sentou no outro sofá à minha
frente e sorriu. Uau ela era perfeito como Lucas. Eu fiquei muito feliz ao saber que Lucas
ainda seria gostoso ao ficar mais velho.
-A que devo a honra dessa visita?
-Bom... Lucas e eu achamos que vocês deveriam conversar e se entender. Afinal estamos
noivos e esperando um bebê, então seria muito importante se vocês participassem da vida
do bebê. Significaria muito pra gente!
Ele me olhou ligeiramente emocionado e desviou o olhar.
-Ele sente muita falta de vocês sabia? Fala de vocês o tempo todo. - falei baixo.
O homem à minha frente ficou surpreso com o que eu falei. Ele olhou bem nos meus olhos e
respondeu.
-Nós também sentimos falta dele, mas ele fez coisas horríveis que são difíceis de perdoar...
-Ele não fez nada sabe?
-Como assim? - ele me olhou com olhos curiosos.
-Ele não sabia que Giovanni estava usando drogas. No dia em que ele partiu, Lucas não
estava na casa. Ele não teve culpa. Não como imaginam.
O homem meu olhou com lágrimas nos olhos e passou a mão no rosto nitidamente ansioso.
-Ele deveria ter ficado na casa!
-Acho que se ele tivesse ficado lá, não mudaria muita coisa. Lucas teve que vender quase
tudo o que ele tinha para quitar uma dívida que Giovanni deixou em drogas em seu nome!
Se ele não tivesse partido aquele dia, os traficantes teriam encontrado ele de qualquer
forma.
-Você está mentindo!
-Não estou não! Vocês saberiam disso tudo se tivessem escutado Lucas uma vez sequer!
-O que você sabe sobre nós? Nada! Absolutamente nada!
-Não mesmo! E pela sua atitude, não estou querendo mais conhecer!
-Acho que você deve ir embora agora!
-Pode deixar que eu vou com todo prazer!
Me levantei do sofá e fui em direção à porta, mas voltei para trás em seguida.
-Lucas tinha muito medo desse reencontro e agora entendo o porquê. Você não quer ver a
verdade! Vocês perderam um filho? Pois Lucas perdeu seu irmão, seu melhor amigo que o
deixou na mão de bandidos e não tinha absolutamente ninguém a recorrer! Que passou
sozinho pela porra de um luto pior que o de vocês, pois ele viu seu próprio irmão morrendo
ao seu lado! E vocês idealizando Giovanni como se ele fosse um santo! Pois saibam que eu
nunca mais irei abrir a merda da minha boca para dizer que Lucas deve conversar com
vocês! Que deve dar uma chance à família! Ele não tem família, mas vai ter a partir de hoje!
Comigo e com meu filho! Com licença!
Saí andando em passos largos, mas parei na porta para respirar fundo. Eu precisava me
acalmar antes de voltar para o carro senão era capaz de Lucas cometer um crime aqui
dentro. O homem veio até mim e colocou a mão em meu ombro. Eu nem me esforcei em
virar.
-Por que ele não nos contou nada disso? - ele falou baixo.
-Porque ele sabia que vocês não acreditariam nele! Só não entendo porque vocês preferem
perder dois filhos ao invés de um só! Lucas está bem, vivo e saudável. Passou por tanta
coisa que vocês nem imaginam e mesmo assim é o homem mais carinhoso e amável que eu
conheci em toda a minha vida! Vocês deveriam tentar fazer isso ao invés de escolherem ser
tão amargurados!
Tirei sua mão do meu ombro, abri a porta e saí respirando fundo o ar daquele dia
ensolarado. Fui para o carro e Lucas me olhou completamente decepcionado. Eu também
estava muito decepcionada comigo mesma por ter dado a idéia e insistido nisso, mas não
demonstraria isso à Lucas. Ele segurou minha mão e me olhou com expectativa. Forcei um
sorriso e dei um beijo nele.
-Eles não acreditaram em você né?
-Na verdade, só falei com seu pai. Sua mãe não deu as caras.
-Eu sabia.. foi uma péssima idéia ter vindo aqui!
Lucas soltou minha mão e deu partida no carro. Virei seu rosto pra mim.
-Hey... nao pense isso! Pelo menos agora eles sabem toda a verdade! E vão ter muito no que
pensar a partir de hoje.
-Você acha?
-Tenho certeza!
Lucas me olhou em silêncio e apoiou a cabeça no volante. Comecei a fazer carinho em sua
cabeça quando bateram no vidro do carro. Eu dei um grito com o susto e Lucas assustou
comigo. Olhamos para a pessoa que nos chamava. Abaixei o vidro e o pai de Lucas falou
tímido.
-Vocês não querem entrar e comer alguma coisa? Você está grávida e deve se alimentar
bem!
Olhei para Lucas que estava branco igual uma folha de papel.
-Eu adoraria! Estou faminta! Vamos Lucas!
Falei abrindo a porta e dei a volta para tirar Lucas de dentro do carro. O puxei pela gola e
depois de muito esforço ele saiu. Entrei no carro e desliguei-o, saí, travei as portas e Lucas
ainda estava no mesmo lugar. Dei a mão para ele e o puxei até onde seu pai estava. O
homem se aproximou de Lucas e o abraçou. Lucas nunca esperava tal gesto então ficou
parado sendo abraçado. Cochichei em seu ouvido.
-Essa é a hora em que você o abraça de volta!
Lucas passou os braços ao redor de seu pai e sorriu feliz com aquele contato. Eles não se
largaram mais que achei que tinha até virado estátuas. Eu estava sobrando naquele
momento deles então resolvi fazer alguma coisa.
-Bom... vamos comer? Estou faminta! Sabiam que esse bebê come demais?
Ele se soltaram estava sorriram pra mim. Foram andando em direção da porta da casa e eu
fiquei para trás. Fiquei olhando os dois caminhando, um do ladinho do outro era uma coisa
surreal. Eles pareciam irmãos gêmeos. Eu pegaria os dois fácil! Comecei a rir sozinha da
coisa absurda que pensei e os dois me olharam confusos.
-Me desculpem.. eu tenho problema!
Eles riram mais uma vez e foram em direção à porta da casa. Tirei meu celular da bolsa e
tirei uma foto dos dois juntos. Aline ia morrer quando visse esses dois traseiros idênticos!

52...

“Quando o assunto é família, no fundo ainda somos crianças não importa o quão velho
ficamos sempre precisamos de um lar para chamar de lar. Porque sem as pessoas que você
mais ama, você não pode evitar em se sentir sozinho do mundo”
(Gossip Girl)

O pai de Lucas que eu ainda não sabia o nome por incrível que pareça nos levou para a
cozinha. O cheiro de bolo entrou em minhas narinas e grudou no meu cérebro de uma
forma que eu quis pegar o bolo que estava em cima da pia e sair correndo com ele sem
olhar para trás, mas acho que essa atitude seria meio deselegante, então achei melhor fingir
que eu era educada.
Nos sentamos à mesa e Lucas segurou minha mão. Sua mão estava gelada e suada de
nervoso. O pai de Lucas colocou o bolo na nossa frente e eu quase por um milésimo de
segundo ataquei o bolo. A minha sorte é que Lucas segurava minha mão tão forte que achei
que teria que cortá-la fora pra tê-la de volta. O pai de Lucas começou a cortar o bolo tão,
mas tão devagar que fez meu coração acelerar. Ele falou algo como "bolo de fubá cremoso"
e "favorito de Lucas", mas eu só conseguia me concentrar em como aquela faça deslizava
facilmente entre a massa e o recheio do bolo. A cena na minha frente era melhor do que um
filme pornô de David Beckham. Apesar de que se existisse um vídeo pornô dele eu o
gravaria no celular para ver o dia todo. Mas voltando ao bolo, ele parecia delicioso. Lucas
cochichou alguma coisa que eu não quis ouvir e somente fiz "shiu" pra ele parar de falar e
me deixar apreciar aquele momento de food-porn.
O pai de Lucas me serviu uma fatia bem generosa que não duraria dois segundos em meu
prato, mas me esforcei em comer devagar, para ele não achar que sou uma morta de fome.
Assim que coloquei a primeira garfada na boca, fiquei em dúvida se tinha gozado ou não. Eu
tive uma leve impressão que gemi alto assim que engoli, pois Lucas olhou para mim rindo e
seu pai olhou para os lados ligeiramente envergonhado. Balancei a cabeça de vergonha e
pedi desculpas.
-Sinto muito! É que esse bolo é simplesmente perfeito! Consegue ser melhor do que a torta
cuspida que você me deu Lucas!
-Você cuspiu na torta dela? - o pai de Lucas perguntou chocado.
-Eu não cuspi em nada! Ela que pensa que eu cuspi.
O pai de Lucas sorriu e foi para o armário pegar mais pratos.
-Lucas, qual é o nome dele? - falei cochichando.
-Alexandre. -Lucas respondeu.
Alexandre serviu uma fatia de bolo para Lucas e se sentou à nossa frente. Comi aquela fatia
de bolo e repeti mais uma. Era realmente uma delícia! Coloquei mais uma garfada na boca
quando a mãe de Lucas pareceu na cozinha. Ela tinha cabelos loiros e era maravilhosa
também. Não sei como uma família pode ser tão bonita. Até parecem aquelas famílias de
filmes de terror onde a família linda é assassina.
Tentei mastigar o bolo para cumprimentá-la, mas engasguei e comecei a tossir igual uma
louca. Lucas passou a mão em minhas costas até eu conseguir respirar. Ela me olhava com
olhos de águia e tive que me conter para não mostrar o dedo do meio a ela. Ela deu um
beijo na bochecha de Lucas e veio dar um beijo na minha, só que na mesma hora eu
inventei de levantar e no fim nossas bocas se encontraram. Eu queria muito mesmo cavar
um buraco fundo para me jogar lá dentro e não sair nunca mais, mas como isso não era
possível eu teria que passar essa vergonha toda imediatamente.
-Ai Meu Deus! Me desculpa! Eu não costumo sair beijando as pessoas assim que eu
conheço! E nem depois óbvio!
Ela me olhava espantada e a única coisa que me restou a fazer foi sentar e comer o resto do
bolo que estava em meu prato.
-Quem é vivo sempre aparece não é? - Ela falou com ironia.
-Marcela.... - Alexandre chamou sua atenção.
Lucas apertava ainda mais a minha mão. Eu nunca imaginei que Lucas pudesse ser tão
vulnerável. Marcela se sentou à nossa frente também e cruzou os braços. Ela evitava a todo
custo olhar para Lucas e isso estava me irritando profundamente.
-Eu e Lucas decidimos passar aqui para convidá-los para o nosso casamento. Bom.. não é
um super casamento, vai ser uma coisa bem simples e para os mais chegados e nós
gostaríamos que estivessem presentes!
-Gostaríamos? - Lucas cochichou.
-Sim!
A mãe de Lucas me olhava desconfiada.
-Eu não acho que seja apropriado! - ela respondeu diretamente para mim.
-Ah... não acha apropriado? Entendi! E apropriado é você acusar seu filho de assassinato
sem ao pro menos ouvir o que ele tinha à dizer? Certo!
Marcela arregalou os olhos e eu coloquei mais um pedaço de bolo na boca. Eu passaria o
resto da minha vida comendo esse bolo. Lucas olhava para suas mãos sem ter coragem de
dizer nada. Alexandre olhava para nós três sem saber o que fazer.
-Como se atreve a falar dessa maneira comigo?
-Eu lhe faltei respeito? Acho que não!
-Está falando com muita grosseria pra ser uma menina! Onde você arrumou isso Lucas?
Comecei a rir. Lucas me olhou desesperado já sabendo o que vinha a seguir.
-Uma menina? Foda-se! - ela me olhou chocada. - Foda-se se sou grossa, se não tenho
educação ou a puta que pariu. Você é pior do que eu! Julga sem conhecer! Julga sem
questionar, mas não vou perder meu tempo com você! Foi mesmo um erro ter vindo aqui!
Exceto pelo bolo! Meu Deus que bolo é esse? Alexandre posso levar um pedaço pra casa?
-Claro querida!
Ele se levantou e pegou um pote para guardar o bolo.
-O que você tem a dizer de tão importante Lucas?
A megera perguntou a ele. Ele me olhou nervoso e eu apertei sua mão lhe dando força.
-Eu não matei Giovanni! Eu não sabia que ele usava drogas! Mesmo que ele estivesse em
casa naquela hora, ele não teria sobrevivido pela quantidade de droga em seu organismo.
Ele me deixou na mão dos bandidos para pagar sua dívida senão eles viriam atrás de vocês
e você ainda me culpa pela morte dele!
Os olhos da megera estavam cheios de lágrimas. Ela olhou para o marido e para Lucas em
seguida. Ela não sabia o que fazer ou dizer. Não sabia se Lucas dizia a verdade, mas não
haveria motivos de Lucas inventar algo desse gênero. Marcela secou as lágrimas e passou
as mãos no rosto. Lucas olhou pra mim e se levantou. Levantei logo em seguida e seus pais
nos olharam confusos.
-Eu acho que vocês precisam de um tempo pra assimilar tudo e repensar tudo o que
fizeram. Espero que vejam que cometeram um grande erro. E se não verem, esqueçam que
um dia fui filho de vocês!
Lucas segurou minha mão e foi em direção à porta da sala me puxando. Assim que
sentamos no carro lembrei do bolo que estava na mesa esperando pra ir para a minha casa.
Abri a boca para avisar Lucas, quando Alexandre veio até o carro com o pote nas mãos. Abri
a janela do carro e ele me entregou o bolo.
-Obrigada!
-Como posso entrar em contato com vocês? - Alexandre perguntou deixando Lucas
surpreso.
Tirei um cartão da loja de dentro da bolsa e entreguei a ele. Lucas ficou em silêncio em
ligou o carro.
-Nos vemos em breve!
Alexandre falou e se afastou indo em direção à casa. Lucas olhou para mim e com os lábios
agradeceu. No meio do caminho tive que comer um pedaço do bolo. Ele não saía da minha
mente.
53...

“Amigos são a família que nos permitiram escolher.”


(William Shakespeare)

Um mês se passou sem que os pais de Lucas dessem as caras. No começo estávamos
confiantes de que eles agiriam diferente, mas pelo visto são realmente mal caráter. Lucas
no começo falava bastante neles, mas agora evitava tocar no nome e acho que assim seria
melhor. Se for para ficar perto e fazer mal a ele, então melhor nem ficar. Lucas e eu
estávamos bem sem eles. Ele viveu esse tempo todo sem eles, e conseguiria viver o resto.
Lucas e eu nos mudamos para a nossa casa nova que era maravilhosa. Ela era o dobro da
minha e tinha três quartos. Um deles, fizemos quarto de hóspedes, o outro do bebê e a suíte
o nosso quarto. Graças a Deus minha mãe não falou mais nada vir conhecer a casa e fiquei
extremamente aliviada porque minha mãe parecia um furacão por onde passava.
Hoje eu completo sete meses de gestação e a louca da Aline resolveu fazer um chá bar. Eu
não fazia idéia do que isso significava e ela nem tentou explicar. Aline queria convidar meus
pais, mas eu avisei que se eles viessem, eu não iria, e essa foi a única forma que encontrei
para ela sossegar e não chamá-los.
Line pediu que eu fizesse uma lista de pessoas que eu gostaria de convidar, mas eu
expliquei a ela que não conhecia praticamente ninguém, mas ela falou que daria um jeito.
Eu já estava em pânico só de imaginar o "jeito" que Aline daria. O famoso chá bar seria no
fim de semana e eu contava os segundos para esse dia não chegar. Aline nunca soube
organizar uma festa decente. Virava sempre um clube de streap-tease. Não que eu fosse
contra, mas eu estando barriguda não era muito apropriado.
Nós aproveitamos essa semana para nos organizar na loja. Lucas disse que deveríamos
contratar outro veterinário para atender na loja enquanto o bebê fosse recém-nascido, pois
ele quer ficar comigo e com o bebê no começo. Achei a idéia ótima, e Aline se propôs a
ajudar com o bebê, mas Lucas disse que jamais a deixaria sozinha com a criança.
Começamos a procurar algum veterinário que pudesse trabalhar temporariamente. E
infelizmente só apareceram três opções boas entre as piores:
>Uma gostosona loira e peituda;
>Um gostosão forte e lindo;
>E uma senhora que falava mais que eu e Aline juntas. (ou seja: muito!)
A primeira entrevista foi com a senhora faladeira. Ela se chama Ângela e contou toda a vida
trágica que ela teve. Eu chorei por três horas seguidas ao lembrar da forma dolorosa que
seu marido morreu com a cara dentro do prato de sopa.
A segunda entrevista foi com o gostosão. Ele se chamava Marcus e ficou boa parte do tempo
explicando como gostava de animais e que estava realizando um sonho. Ele disse que nunca
trabalhou sozinho e que seria um grande aprendizado. Lucas não saiu do meu lado um
segundo sequer durante essa entrevista. Marcus era muito bonito. Ele tinha os cabelos
escuros e os olhos eram verdes que combinavam um sorriso branco que fiquei com
vergonha de sorrir de volta. Em algum momento da entrevista eu questionei porque ele não
seguiu uma carreira de modelo e isso deixou Lucas bravo da vida. Ele saiu da sala me
deixando envergonhada. Marcus percebeu e tentou me consolar.
-Me desculpe. .. Lucas é explosivo mesmo!
-Com uma namorada como você eu também seria!
Oi?
Levantei e fiz questão de passar a mão em minha barriga. Ele arregalou os olhos, mas
conseguiu disfarçar rapidamente.
-Obrigada, e assim que tivermos uma resposta entramos em contato!
Estiquei a mão e ele a segurou e levou aos lábios. Fiquei tão surpresa e chocada com tal
coisa romântica que sorri. Óbvio Lucas entrou na mesma hora e foram socos para todos os
lados. Aline foi embora com Marcus para cuidar de seus "ferimentos".
A terceira entrevista foi com a gostosona que se chamava Michele e tinha o corpo escultural
mais lindo do mundo. Eu me afundei ainda mais na cadeira para não mostrar que eu estava
parecendo um barril por causa da gravidez. Lucas foi atencioso demais com ela, mas eu não
sabia dizer se era uma vingança ou se ele era cara de pau assim mesmo. Ela era a mais
qualificada para a vaga, só que quando eu estava lendo seu currículo olhei com minha visão
periférica para o lado e a vi ajeitando o decote olhando diretamente para Lucas. Levantei
com tudo e foi tapa para todos os lados, inclusive no sem vergonha de Lucas que deu risada.
Ela saiu da sala gritando que eu era louca e que ia me processar e deixei bem avisado que
quebrava a cara dela mais uma vez se ela fizesse isso.
Fiquei com tanta raiva de Lucas que esperei ele atender alguma cliente, fui para casa e
tranquei tudo para que ele ficasse do lado de fora. Tá achando o quê? Que vai ficar rindo
para uma vaca na minha frente? Vai sonhando. Peguei no sono e algumas horas depois
escutei ele batendo na porta de casa e gritando. MUITO. Fingi que não estava ouvindo até
que fui espiar da janela e vi que estava caindo a maior chuva do mundo. Corri para abrir a
porta e Lucas sorriu para mim quando me viu, puxou-me para um abraço, me empurrou na
chuva, entrou em casa e trancou a porta.
Eu fiquei paralisada por um tempo sem acreditar que e tinha feito aquilo comigo. Comecei a
gritar e a esmurrar a porta com toda a minha força.
-Abre essa merda agora Lucas!!
-Isso é pra você aprender a não deixar as pessoas pra fora!!!
Ele gritava de dentro da casa enquanto eu congelava na chuva.
-Foda-se você! Aposto que Marcus não faria isso comigo!
Fui andando em direção andando rua e ouvi Lucas abrindo a porta.
-Onde você vai?
-Ser cuidada por alguém!
-Volta aqui porra!
Continuei andando e mostrei o dedo do meio para ele. Escutei seus passos se aproximando
e Lucas me pegou no colo e começou a me levar de volta para casa. Eu me debati para sair
de seu colo, mas Lucas era extremamente forte. Ele me colocou no chão da sala e fechou a
porta. Lucas olhou meu corpo todo com desejo no olhar. Grudei meus lábios do dele e
arranquei sua camisa encharcada. Ele fez o mesmo com a minha roupa e me debruçou no
sofá. Deu um tapa na minha bunda e entrou em mim com força. Só com aquele movimento
quase gozei. Lucas estocou algumas vezes e se derramou em mim.
-Uau! Acho que essa foi a rapidinha mais rápida que a gente fez!
Falei dando risada. Lucas concordou com a cabeça e me levou para o banheiro para tomar
um banho quente.
-Não posso ficar gripada! E se eu espirrar e o bebê sair? - perguntei enquanto Lucas
esfregava meus cabelos.
-Acho que com um espirro não sai. Talvez vários seguidos e se tossir junto!
-Verdade!
Começamos a rir e depois de trocados e aquecidos, dormimos agarradinhos como se nada
tivesse acontecido.

54...

“Um brinde ao inesperado.


E às diversas formas de seguir em frente!”
(Fernanda Mello)

O dia do chá sei lá o que do bebê chegou e Aline decidiu fazer na casa dela. Estava tudo
enfeitado de bexigas azuis e brancas com algumas plumas que não faziam muito sentido na
decoração. Ela disse que chamou algumas amigas e amigos e que seria um sucesso. Aline
parecia estar gostando muito da nova vida de solteira. Ela não entrou muito em detalhes
sobre a sua separação com Luiz, mas só fiquei sabendo que ele traiu ela é que ela ia passar
o rodo em quem passasse em sua frente. E ela estava mesmo. Aline nunca foi de sofrer por
home, e eu inveja isso nela. Ela sempre soube seguir em frente e se não desse certo mais
uma vez, ela partia pra outra.
A casa de Aline estava preparada para receber umas trezentas pessoas.Na mesa da cozinha
haviam uns trinta tipos de bebida alcoólica. Perguntei a ela o que era aquilo e ela
respondeu "É a parte do bar! Chá Bar! Deeerr". Concordei e fingi que aquilo era uma coisa
óbvia. Uns quarenta minutos depois que chegamos à festa, as pessoas começaram a chegar.
Eu não conhecia 90% daquele povo, e tive certeza que eles foram somente por causa das
bebidas. Mas por incrível que pareça todos levaram presentes. Lucas estava tomando um
drink maluco que Aline fez quando avistei Thais entrando com Ronaldo na sala. Ela olhou
para mim e sorriu. Levantei do sofá para cumprimentá-los, mas Lucas me puxou de volta
me fazendo cair sentada. Os dois colocaram os presentes em uma cesta gigante que estava
escrito "PRESENTES" e foram dar uma volta. Lucas fingiu que não fez nada e achei melhor
nem questionar.
Olhei ao redor e comecei a rir. Aline nunca soube dar uma festa seguindo um tema. Aquilo
estava parecendo uma festa de faculdade em que os caras bebiam coisas no meio dos peitos
das mulheres. Sim. Isso estava acontecendo ali no meu chá de bebê.
Lucas bebeu mais do que estava acostumado e ficou bem alegrinho. Ele conversou com as
pessoas ao redor como se as conhecesse a anos, sendo que não saberia dizer o nome de
cada uma delas. Deixei-o conversando e fui ao banheiro pela milésima vez. Assim que fechei
a porta, fiquei aliviada com o silêncio daquele ambiente. Peguei algumas toalhas que
estavam penduradas e forrei a banheira que tinha lá. Peguei uma revista, puxei a cortina e
me deitei lá dentro. Era como se eu estivesse tomando um banho relaxante só que sem a
água. Fiquei um bom tempo lá dentro quando escutei a porta sendo aberta. Abri a boca
para avisar que tinha gente, mas os gemidos me fizeram fechar a boca na hora. Puxei a
cortina devagar para ver quem era quase morri de susto. Aline estava beijando o gostosão
veterinário! Lembram dele? Eles estavam fazendo alguns malabarismos que nunca achei
ser possível para o corpo humano. De repente Aline perguntou: "Já colocou?" e ele
respondeu "Já enfiei tudo".
O ambiente ficou em silencio depois que Marcus gemeu alto e não aguentei a curiosidade.
Espiei mais uma vez e tive que me controlar muito para não rir. Aline estava com a maior
cara de merda, com os braços cruzados e sentada na privada enquanto Marcus limpava seu
dito cujo. Aline olhava para o negócio dele incrédula. Quando Marcus virou de lado, eu tive
que enfiar a revista dentro da minha boca pra não gargalhar ali mesmo. O negócio de
Marcus era tão, mas tão pequenininho que parecia uma salsicha em conserva. Aline
balançava a cabeça indignada com aquilo. Depois que Marcus arrumou a roupa, ela pediu
que ele saísse do banheiro. Assim que ele fechou a porta eu não consegui mais segurar a
risada. Comecei a gargalhar igual uma hiena entalada e Aline abriu a cortina com tudo.
-Sua vaca!!!!! Por que não avisou que estava ai?
-Não. .. deu.... tempo.... - eu respondi quando conseguia respirar.
Aline entrou na banheira comigo e segurou minha mão. Mandei uma mensagem para Lucas
avisando que eu estava no banheiro e que estava tudo bem.
-O que era aquilo miga? - ela perguntou.
-Não sei! Parecia uma salsicha em conserva! Aquelas que vêm naqueles vidros!
Começamos a gargalhar juntas.
-Parecia aqueles salaminhos. - ela falou e rimos mais ainda.
Eu não conseguia dizer mais nada. Só rir. Aline olhava pra mim e ria ainda mais.
-Para de rir sua vaca! Você deu sorte que Lucas é pintudo!
-Vocês só se juntam pra falar da minha rola? - Lucas falou com a cabeça dentro do banheiro.
-Eu já sei que você é bem dotado Lucas!
-Ah é?
-Depois de hoje todos os homens são bem dotados!
Aline falou me fazendo rir e deixando Lucas confuso. Ela se levantou e saiu do banheiro
ainda balançando a cabeça e dizendo que precisava encher a cara. Lucas entrou na banheira
e deitou comigo. Expliquei a ele o que tinha acontecido e quase tive que pedir ajuda pelo
tanto que ele ria. Lucas elevou o nível da piada, pois estava praticamente bêbado. Ele ficou
indignado e disse que depois dessa poderíamos contratá-lo sem problema algum. Depois de
rirmos por muito tempo em parar, Lucas e eu ficamos dentro da banheira um bom tempo
esperando a hora de abrir os presentes.

Os estranhos começaram a abrir os presentes que haviam comprado. A maioria eram
lingeries sensuais e fiquei em dúvida se Aline explicou para as pessoas que se tratava de
uma festa para uma grávida. A sorte é que ganhamos muitas fraldas e isso ajudaria muito.
Thais nos comprou um monte de macacãozinhos de vários tamanhos e tons de azul. Fiquei
completamente apaixonada. Aline cara de pau que é, disse que o presente dela era a festa, e
isso eu não poderia questionar. Além das coisas do bebê, ganhei calças de couro, vestido
curtos e alguns acessórios sexuais que lugar adorou, mas que eu não fazia ideia de onde
poderiam entrar.
Algumas horas depois e quando as bebidas acabaram, o pessoal começou a a ir embora. Eu
estava arrumando um pouco da bagunça na sala quando vi Lucas entretido com a bomba de
tirar leite. Ele virava ela para todos os lados e continuou sem entender para que servia.
-Acho que foi o veterinário que comprou esse Aline! - Lucas falou levantando a bomba no
ar.
-Vai se fuder Lucas!
-Ué! Então por que dariam uma bomba peniana?
Aline e eu começamos a gargalhar. Lucas era uma gracinha bêbado.
-Não amor... isso é uma bomba pra tirar leite do seio e não pra fazer o pinto crescer!
-Ahhhhh. Por isso eu não estava entendendo!
-Você já usou uma Lucas? - Aline perguntou rindo.
-Eu não preciso!
-Só acredito vendo!
Aline falou e olhou para a braguilha de Lucas que sorriu.
-Tá bom!
Lucas falou, se levantou e abaixou as calças tão rápido que não tive tempo de impedir. Pela
primeira vez na história da humanidade, Aline ficou sem reação. Ela olhava para o dito cujo
de Lucas e para mim de olhos arregalados. Lucas ria sem parar como se não estivesse
balançando seu negócio para Aline. Eu estava rindo tanto que quase fiz xixi nas calças.
faltou muito pouco para isso acontecer. Aline olhou para mim com os olhos cheios de
lágrimas e foi para o quarto dela.
Levantei e fui até Lucas e puxei sua calça para cima. Ele me olhava confuso, mas continuava
rindo.
-O que foi?
-A sua sorte é que você não ficou de pau duro, senão você ia acordar sem!
-O que eu fiz?
-Deita aí Lucas! Vou dizer a Aline que não vamos embora com você assim!
Lucas deitou no sofá e pegou no sono instantaneamente. Fui atrás de Aline que estava
jogada em sua cama encarando o teto. Me deitei atraso seu lado e comecei a rir.
-Você está bem?
-Será que m dia vou ser sortuda igual a você? – Aline perguntou chorando.
-Claro que vai Aline! Na hora certa vai aparecer o cara ideal pra você! Quando eu menos
esperava Lucas apareceu!
-Verdade.
Ela secou as lágrimas e ficou me olhando. De repente ela começou a rir e só esperei a
besteira sair de sua boca.
-Eu deveria ter tirado uma foto miga! – gargalhamos juntas.
-Ele vai querer morrer quando souber que fez aquilo!
-Vai mesmo! Ele não vai acreditar!
Começamos a rir igual duas doidas.
-Obrigada pela festa amiga! Eu me diverti muito!
-Magina amiga! Os stripers faltaram, era pra ter sido mais animada!
-Besta!
-É serio!
-Tudo bem se passarmos a noite aqui?
-Só se Lucas dormir na minha cama hoje! - Aline falou rindo.
-Nem pensar! Naquele pinto só quem encosta sou eu!
-Dorme aqui na minha cama! Cadê Lucas?
-Tá dormindo no sofá. Vou lá cobrir ele, já volto!
Fui para a sala e cobri Lucas com o cobertor que Aline me deu. Dei um beijo em sua testa e
voltei para o quarto. Aline e eu ficamos fofocando até o dia clarear!

55...

“Porque o amor é feito bebida: tem que tomar a dose certa”


(Cazuza)

Acordei com vontade de ir ao banheiro e quando levantei acordei Aline. Fui ao banheiro e
voltei para o quarto. Ela olhou pra mim e começou a falar.
-Amiga.. desculpa por ontem! Eu sei que eu não deveria ter olhado Lucas daquela forma,
mas nunca imaginei que ele abaixaria calça e eu estava tão frustrada com o salaminho, e
alterada por causa da bebida, que não tive outra reação! Eu sei que sempre fico brincando
que Lucas é isso e aquilo, mas eu nunca teria coragem de fazer algo desse gênero. Lucas é
mulher pra mim! E mesmo se eu fosse lésbica eu pensaria a mesma coisa!
-Eu sei miga. .. na verdade dessa vez a culpa foi de Lucas. Eu sei que você nunca teria
coragem e se um dia tiver, peço que fale comigo antes! Por favor!
-Isso nunca vai acontecer amiga! Existem muitos pintos por ai pra eu querer justamente o
seu!
-Obrigada amiga! Mas sabe o que não sai da minha cabeça?
-O quê?
-Em como vai ser a reação de Lucas quando souber o que fez!
-Vai ser bom demais! Pior que nem vou poder zuar mais ele! O mistério foi desvendado!
Demos risada e continuamos a conversar. Quando a fome bateu, Aline e eu levantamos para
comer. Lucas ainda dormia no sofá e comecei a rir só de imaginar a cena. Aline pediu
permissão para zuar Lucas mais uma vez e essa eu não poderia perder por nada.
Estávamos comendo bolachas quando Lucas veio até mim e me abraçou.
-Bom dia! - ele falou com sua voz rouca em meu ouvido.
-Bom dia Lucas! -Aline falou sorrindo.
Lucas olhou desconfiado para ela, mas ficou em silêncio. Sentou-se ao meu lado e começou
a comer também. Aline olhava para Lucas e eu tentava segurar a risada.
-Que porra tá acontecendo? - Lucas perguntou.
-Você não lembra de ontem? - perguntei.
Ele franziu a sobrancelha e ficou pensativo por um tempo quando de repente respondeu.
-Quase nada! O que eu devo lembrar?
-Jura que não lembra quando abaixou as calças pra mim? - Aline perguntou séria.
-Eu não fiz isso! -Lucas falou olhando pra nós duas.
-Fez sim Lu! - eu respondi.
-Impossível! - ele falou incrédulo.
-Não é não! -Aline respondeu.
-É sério isso Ná?
-É sim! Você mostrou seu negócio para Aline!
-PUTA QUE PARIU! !!!!
Aline e eu começamos a rir do desespero de Lucas. ele olhava para nós duas e por um
momento achei que ele fosse desmaiar ali mesmo.
-Não é possível! Eu jamais faria isso!
-Mas fez! Eu deveria ter gravado! Ah como eu deveria ter gravado! Você não é como o
salaminho.- Aline falou rindo.
-Você não teria coragem! Quem é salaminho?- Lucas retrucou.
-É o veterinário que você socou!
-Agora eu lembro! Que decepção hein Aline? - Lucas falou rindo dela.
-Vai à merda Lucas! pelo menos ele abaixou as calças em particular!
-Que porra! Desculpa Aline! Eu não sei o que aconteceu pra isso acontecer! Você me
drogou? Ela me drogou Ná?
-Claro que não! Você estava muito bêbado! - ela respondeu.
-Desculpa Ná! Não sei o que aconteceu! - Lucas me olhou desesperado
-A sua sorte é que você não ficou excitado com a situação, senão nem estaria aqui pra
contar história!
-Eu ainda tava mole? Puta que pariu! Aí queima minha reputação mesmo!
-Você queria mostrar seu pau duro Lucas? - perguntei brava cruzando os braços.
-Não Ná! Mas mostrar ele mole não é nem um pouco favorável! Eu te amo! Por favor não me
mata!
-Só não vou matar porque não saberia viver sem ele! - apontei para o meio de suas pernas.
Lucas deu risada e me abraçou.
-Ai Meu Deus! Procurem um quarto!
Aline falou rindo e foi para o quarto dela. Lucas e eu terminamos de tomar o café da manhã
e nos despedimos dela. Enchemos o carro com os presentes inusitados e finalmente fomos
para casa.
Quando chegamos em casa,Lucas me ajudou a guardar as coisas que eram realmente para o
bebê em seu quartinho e os objetos sexuais estranhos, Lucas fez questão de guardar em sua
gaveta. Depois que eu guardei as duzentas calças de couro e os vestidos indecentes,
finalmente deitei na cama para descansar. Lucas deitou ao meu lado e ficou me olhando
como quem queria dizer alguma coisa, mas não tinha coragem.
-Fala logo Lucas!
-É sério mesmo que eu mostrei minha rola pra Aline?
-É sim! – falei rindo.
-Você ficou muito brava?
-Na verdade não! Você estava tão engraçado, que não consegui ficar brava.... só consegui rir.
-Por que eu fiz aquilo?
-Você bebeu a noite toda! Aí me deram uma bomba de leite e você achou que era uma
bomba peniana, então Aline começou a te zuar e você quis mostrar pra ela que não
precisava de uma bomba. Fim!
-Uau!
Lucas passou a mão no rosto desconsertado.
-Desculpa Ná!
-Tudo bem Lucas. A sorte é que não tinha mais ninguém lá!
-É mesmo! – ele falou aviado.
-Mas acho que Aline nem lembra direito do que aconteceu! Ela estava bem bêbada também!
-Jura?
-Juro!
-Tomara que ela não lembre mesmo!
-Não lembra não!
-Ainda bem!
Lucas ficou aliviado e eu ri em silêncio ao saber que Aline deve lembrar cada
detalhe. Apoiei a cabeça no braço de Lucas e finalmente pegamos no sono.
56...

“Mesmo que tenham cometido erros gravíssimos no passado, é possível que essas pessoas se
recuperem e evoluam de modo surpreendente, bastando que encontrem ambiente favorável e,
no sorriso das pessoas, uma segunda chance.”
(Augusto Branco)

Os meses seguintes se passaram e tudo estava em paz. Completei os nove meses e a minha
barriga crescia cada dia mais e eu não via a hora desse bebê nascer. A minha médica disse
que em alguns dias eu começaria a entrar em trabalho de parto, mas que não precisaria me
desesperar. Ela passou algumas coisas para fazermos para acelerar o processo já que o
bebê aparentava não querer sair dali tão cedo.
*Caminhar bastante;
*Comer comida apimentada;
*Fazer alguns exercícios aeróbicos;
*Fazer muito sexo.
Lucas adorou a última opção e se empenhou bastante para cumpri-la, porém não ajudou
em nada. Então repetimos o restante das coisas umas três vezes por dia. Inclusive na loja.
Nesses últimos meses conseguimos resolver todas as coisas que estavam pendentes na loja,
inclusive o veterinário substituto de Lucas. Contratamos um muito eficiente, mas nós
teríamos que ficar mais tempo na loja, enquanto ele estava se adaptando. Vitor era recém-
formado, não dava em cima de ninguém, ficava na dele e fazia o serviço direito. Exatamente
o que queríamos e procurávamos. Lucas gostou dele também então tudo deu certo. Vitor
começou a trabalhar com Lucas para ir se acostumando com a forma de trabalhar na loja e
com a rotina. Ele se adaptou muito rápido e ficamos com vontade de deixá-lo trabalhando
lá para sempre. Seria um novo passo para a loja, ter estrutura para dois veterinários
atenderem. Conforme Vitor foi pegando foi pegando prática e as consultas aumentaram
consideravelmente, fizemos um consultório só para ele que conseguiu dar conta como todo
o resto.
Quando cheguei de manhã, vi Aline conversando com Vitor. Esperei a conversa terminar
para não atrapalha-los. Assim que ele me viu me cumprimentou e foi para o seu
consultório. Olhei para Aline que estava radiante e por um momento achei que estava
rolando um clima entre os dois.
-Eai? Me conta!
-O que?
-Como o que Aline? O que está rolando entre vocês?!
-Ai amiga.. ele é um fofo, mas não toma nenhuma atitude. To achando que ele é gay!
-Ele não é gay! Sempre olha para o seu decote!
-Ah, mas você também olha!
-Eu sei! Não tem como não olhar!
-Óbvio né?
-Ridícula! – revirei os olhos.
-Não sei o que eu faço! -Aline falou choramingando.
-Pede uma carona pra ele hoje! Aí dependendo de como ele agir, você o chama pra sair!
-Ai será? Não é o homem que tem que fazer isso?
-Sim, mas quando somos o homem da relação, nós que fazemos!
-Você está certa! O máximo que pode acontecer é eu levar um toco e não conseguir olhar
mais para a cara dele. Simples!
-Isso amiga! Simples!
-Ok! Vou fazer isso! Torce por mim!
-Já estou!
Fui para minha sala enquanto Aline ficava pensando em como agir.

Antes da hora de ir embora, avisei à Lucas que iria pra casa mais, pois estava muito
cansada. Ele queria ir junto, mas expliquei que estava tudo bem. Peguei um táxi e quando
ele estacionou na frente da minha casa, eu queria me enfiar no porta malas. A megera da
mãe de Lucas esperava na porta de casa. Fui andando em passos de taturana até ela. Ela
olhou para minha barriga e arregalou os olhos.
-Sim, está enorme! Acho que se eu tossir o bebê escapa!
Ela ficou sem graça com a minha resposta e sorriu amarelo. Destranquei a porta e a
convidei para entrar. Ela entrou analisando tudo e fui para a sala me jogando no sofá, já que
a minha barriga não permitia eu sentar como uma pessoa normal.
-Onde está Lucas?
-Trabalhando!
-Entendi... - ela ficou em silêncio.
-Como descobriu nosso endereço?
-Eu segui vocês outro dia, mas não tive coragem de falar com vocês.
-Por que você está aqui?
-Eu não sei... eu pensei muito em tudo o que vocês disseram... e não sei o que pensar... eu...
-Você sabe que Lucas não teve culpa, mas não consegue aceitar que Giovanni não era o filho
dos sonhos!
Ela me olhou sem dizer nada.
-Não sei porque você optou em perder dois filhos de uma só vez. Lucas sentiu muito a falta
de vocês quando ele mais precisava.
-Eu estava em luto... eu...
-Ele também estava! Ele estava ainda mais que você! Giovanni era seu amigo, seu irmão.
Não foi nem um pouco fácil pra ele!
-Vocês já se conheciam?
-Não! Mas essa experiência toda foi o que moldou Lucas para ser quem ele é hoje, na
verdade, quem ele era, pois foi muito difícil fazer Lucas ser ele mesmo ao meu lado.
-Como ele está com tudo isso?
-Bom... ele esperou ansiosamente por uma visita de vocês por um mês. E depois ele desistiu
e aceitou que vocês não seriam pais presentes.
-Isso é difícil pra mim!
-Tenho certeza que pra ele é pior!
-É complicado!
-É sim, mas você se colocou no lugar dele um segundo sequer?
Ele me olhou sem expressão, e naquele momento percebi que ela nunca tinha pensado
dessa forma.
-Na verdade não...
-Foi o que pensei!
-Eu não deveria ter vindo!
-Se você veio pra nunca mais voltar, acho que deveria ir embora antes que Lucas chegue,
mas se você quer dar uma chance à seu filho então deveria ficar para jantar conosco! Lucas
faz um macarrão maravilhoso!
-Eu não sei o que fazer. ..
-Eu tenho uma idéia! Que tal você me passar o endereço de onde comprou aquele bolo de
fubá? Eu sonho com ele até hoje!
A mãe de Lucas deu risada.
-Eu que fiz aquele bolo.
-Sério?
-Sim! Sempre foi o favorito de Lucas!
-Você pode fazê-lo para mim?
-Agora?
-Ou passar a receita?
-Você tem leite, fubá, ovos, fermento e queijo ralado?
-Sim! Eu tenho! - falei feliz até demais. - Desculpa, mas é que esse bolo não sai da minha
cabeça!
Marcela riu e se levantou.
-Então vamos fazer esse bolo! Não quero que meu neto nasça com cara de farinha!
Levantei saltitante de alegria em saber que iria comer o tão maravilhoso bolo. Marcela ia
me explicando o que fazer e rapidinho a massa ficou pronta. Colocamos no forno e ela
começou a me contar sobre as coisas erradas que Lucas aprontava quando criança. Um
tempo depois escutamos a porta sendo aberta e Marcela ficou tensa.
-Não se preocupe, vai ser estranho para ele também!
-Ná? O que você está inventando? Não vai dizer que esse cheiro de doce é aquele Arroz
estranho que você queria fazer?
Lucas entrou na cozinha e parou o passo no meio quando olhou para Marcela sentada ao
meu lado. Ele me olhou confuso e se aproximou.
-Ela veio nos visitar! E adivinha? Ela está fazendo o bolo de fubá Lucas! Você acredita nisso?
Depois de dois meses sonhando com ele?
-Que bom Ná!
Lucas me beijou e ficou paralisado ao meu lado.
-Não vai dar um beijo na sua mãe? Faz de conta que é em agradecimento do bolo!
Lucas me fuzilou com os olhos e eu sorri. Ele foi até ela e deu um beijo em sua bochecha.
-Cadê o Alexandre? - Lucas perguntou e me deu um aperto no coração em ver que ele não o
chamava de pai.
-Teve que viajar. Foi para o interior visitar um amigo doente.
-Entendi.
Nós três ficamos em um silêncio constrangedor. Então decidi que deveria fazer alguma
coisa.
-Lucas, por que você não mostra o quarto do bebê para a sua mãe enquanto eu tomo um
banho?
Os dois me olharam sem saber o que dizer. Dei um beijo em Lucas e fui para o nosso quarto.
Tomei um banho rápido e voltei para as cozinha quando senti o cheirinho de bolo pronto.
Lucas e Marcela conversavam, mas sem brigar ou discutir. Fiquei muito feliz com a cena.
Me sentei ao lado de Lucas que pegou minha mão e deu um beijo nela.
-O bolo está pronto! - Marcela falou animada.
Comecei a bater palmas quando ela tirou o bolo do forno e o colocou bem na minha frente.
Minha boca salivava demais. Lucas olhou para mim e deu risada enquanto Marcela cortava
um pedaço generoso, e colocava no prato me entregando em seguida.
-Melhor esperar esfriar um pouco Ná!
-Sério? -perguntei decepcionada.
Fiquei contando os segundos para que o bolo esfriasse o suficiente para que eu pudesse
comer. Peguei a primeira garfada quando senti algo escorrendo em minhas pernas.
Permaneci com o garfo pra cima e Lucas não percebeu, pois conversava com Marcela. Eu
não tinha percebido que estava com vontade de fazer xixi até aquele momento. Olhei
discretamente no chão e entrei em pânico quando vi que o líquido era transparente e não
xixi.no meio da conversa Lucas olhou para mim e ficou preocupado.
-O que foi Ná? Tá sentindo alguma coisa?
Apontei para o chão e Lucas foi olhar o que era. Ele riu e olhou para mim com cara de dó.
-Pequena! Não tem problema você ter feito xixi! Acontece isso com algumas mulheres
grávidas!
-Lucas...
-Não precisa ficar com vergonha!
-Lucas. ..
-Tá tudo bem Ná... eu vou limpar e. .
-FICA QUIETO LUCAS! Eu não fiz xixi na roupa! Minha bolsa estourou!
Ele me olhou de olhos arregalados e teve a cara de pau de responder.
-Por que não falou antes?
O fuzilei com o olhar e ele saiu correndo da cozinha. Marcela não sabia o que fazer, então
pedi que ela ligasse para Aline e para meus pais. Falei onde e estava meu celular e ela fez o
que pedi. Lucas voltou do quarto com a maleta de coisas para levar para o hospital e me
puxou pelo braço. Peguei o prato em cima da mesa e levei comigo. Nem ferrando eu ia
esperar mais tempo para comer aquele bolo.
-Ná depois você come!
-Lucas, o bebê ainda está dentro de mim e não vou passar vontade!
Lucas bufou e me ajudou a entrar no carro. Marcela entrou no banco de trás e fomos rumo
ao hospital enquanto eu comia o bolo.

57...

”Assim que nascemos, choramos por nos vermos neste imenso palco de loucos.”
(William Shakespeare)

Ao chegarmos ao hospital, Aline já nos esperava na recepção. Ela estava com Vitor e com
um sorriso medonho estampado na cara. Marcela foi atrás de uma cadeira de rodas
enquanto Lucas fazia a ficha para mim. Caminhei até Aline e sussurrei.
-Eai?
-Ai amiga... preciso te contar!
-Conta logo! Vocês sairiam?
-Ele é um fofo! Fomos para a casa dele e advinha?
-Contaaaaaaaa!
Comecei a me contorcer por causa de uma contração. Marcela trouxe a cadeira de rodas e
me sentei nela. Comecei a respirar igual às mulheres de filmes fazem, mas não sei se tem
alguma finalidade. Vitor permaneceu sentado sem saber o que fazer. Aline puxou minha
cadeira até ele eu não aguentaria entrar em trabalho de parto sem saber do principal.
-Ná? Vamos? - Lucas perguntou atrás de mim.
-Sim! Só uma pergunta!
Todos ficaram em silêncio esperando que eu fizesse a pergunta.
-Aline... é salame? -ela olhou para mim e sorriu.
-Não miga! É mortadela!
Começamos a rir de felicidade igual duas loucas e todos ao redor ficaram nos olhando sem
entender nada. Depois do trauma que ela teve com o salaminho, eu esperava que ela
encontrasse alguém que a satisfizesse.
-Relaxem! É um código nosso pra dizer se está tudo bem! – Aline se explicou.
Os três assentiram e sorriram como se aquilo fosse uma coisa obvia. Joguei um beijo para
Aline e fui levada para o quarto. Infelizmente meu convênio não cobria quarto particular,
então tive que dividir um quarto com uma moça. Ela era um amor de pessoa e não sentia
absolutamente dor alguma em suas contrações. Eu queria arrancar os olhos da cara de
inveja. Dra Antônia foi chamada e um tempo depois já estava me visitando no quarto. Ela
fez os exames necessários e sorriu.
-Sua dilatação está indo bem! Logo logo vamos conhecer esse bebê tão esperado!
Lucas sorria o tempo todo e eu já estava ficando apavorada com a dor que eu iria sentir. Eu
sempre quis fazer cesárea e nesse momento eu me arrependi por não ter pensado melhor
sobre o assunto. Lucas foi até à recepção dar notícias ao pessoal e pra saber se meus pais já
haviam chego.

Cinco horas depois e três mães novas em meu quarto eu ainda não tive o bebê. Meus pais já
estavam na recepção e dei graças a Deus que eu estava presa nesse quarto longe deles.
Lucas me contou que seu pai chegou e que trouxe até um presente para o bebê. Fiquei feliz
em ver a sua felicidade.
A Dra Antônia disse que minha dilatação tinha estagnado e que entraria com medicação
para induzir o parto. No começo fiquei relutante, mas depois que ela me explicou que o
bebê correria risco se demorasse mais a nascer, então não falei mais nada. Um tempo
depois da aplicação, as contratações aumentaram consideravelmente. Tive uma tão forte
que olhei embaixo do lençol pra ver se o bebê não havia saído.
Parecia que Lucas iria parir antes de mim. Ele ria sozinho, andava de um lado para o outro e
ia falar com nossos familiares. Acho que se ele não sossegar, vai ser internado na área dos
malucos.
Enquanto eu ainda não dava sinais de que iria parir logo, entrou no quarto a quarta mãe em
trabalho de parto. Ela me olhou sorrindo e eu fechei a cara.
-Eu cheguei aqui primeiro! Então não venha esfregar na minha cara que seu bebê vai nascer
primeiro! Lucas fecha essa cortina! - falei chorando.
Lucas pediu desculpa para a moça que não sabia o que estava acontecendo e fez o que eu
pedi. Levantei o lençol, coloquei a cabeça por baixo dele, olhei para a minha barriga, me
sentei e comecei a conversar com o bebê.
-Por que você não sai!? Pelo amor de deus! Não tá vendo que estou virando do avesso
enquanto você ri de mim? Já passou da hora! Pelo visto vai ser um preguiçoso mesmo! Saí
logo por favor! E para de me chutar!
Tirei a cabeça de baixo do lençol e Lucas me encarava junto com a Dra Antônia.
-O que é? Não são vocês que estão levando chutes e sentindo dor por horas!
Me joguei para trás e Lucas riu. A Dra Antonia se aproximou e fez um novo exame para
saber a dilatação. Assim que ela terminou o exame sorriu e falou:
-Vamos para o centro cirúrgico ter esse bebê?
-Sério?
-Sério!
-Então vamos lá!
Uma enfermeira trouxe uma maca e me deitei nela.fui encaminhada para o centro cirúrgico
quando vi que Lucas entrou por outra porta. A enfermeira disse que ele tinha ido trocar de
roupa e que logo estaria ao meu lado. Fui levada para a sala de cirurgia e as contratações
estavam muito mais fortes do que eu poderia lidar. De repente Lucas apareceu do meu lado
e segurou em minha mão me dando força.
-Posso pedir uma coisa? - perguntei a ele.
-Tudo o que quiser pequena!
-Não desmaia hoje?
Lucas riu e me deu um beijo na testa.
-Vou me esforçar para que isso não aconteça!
Lucas me beijou e a Dra Antônia pediu que eu começasse a fazer força. Comecei a empurrar
e Lucas não soltou minha mão um segundo sequer.
Eu achei que morreria naquele momento. Meu corpo tremia, suava, meu coração estava
disparado e a dor era tão imensa que parecia que desmaiaria a qualquer momento. Aquilo
era algo surreal, mas passou batido a partir do momento em que escutei seu choro. O bebê
chorava alto e forte de uma maneira que nunca achei ser possível. A Dra Antônia limpou
meu bebê e o colocou em meus braços. Olhei para Lucas que chorava em silêncio. Ele sorriu
e me beijou a testa completamente emocionado.
-Já sabem o nome? - Dra Antônia perguntou.
-Não! - Lucas respondeu.
-Sim!
Ele me olhou confuso.
-Giovanni! Eu quero Giovanni! Ele era seu amigo, seu irmão, sua metade! Se não fosse por
ele, eu não teria te conhecido e esse momento perfeito não estaria acontecendo! Ele fez isso
tudo acontecer!
-Ná... – Lucas tentou dizer alguma coisa, mas o interrompi.
-O que você acha?
-Acho perfeito pequena!
Lucas sorriu e uma lágrima escorreu em seu rosto. A enfermeira pegou o bebê e disse que o
limparia e que logo ele estaria comigo. Ficamos mais um tempo no centro cirúrgico até eu
ser encaminhada para um quarto particular. Lucas pagou o valor a parte e eu não poderia
estar mais grata.
Um tempo depois liberaram a visita da família deixando o quarto ficou lotado. Todos
falavam ao mesmo tempo, davam risada, parecia um circo, mas eles eram minha família,
meus amigos e eu não poderia estar mais feliz.
Quando trouxeram o bebê pela primeira vez no quarto todos nós ficamos emocionados. Ele
era tão pequenininho e lindo e Graças a Deus puxou o Lucas.
-Vocês já escolheram o nome? -minha mãe perguntou.
-Já sim! Escolhemos Giovanni, igual o irmão de Lucas!
Lucas olhou para mim e sorriu. Os pais dele se olharam e Marcela começou a chorar. Ela foi
até Lucas e o abraçou o deixando completamente sem reação. Seu pai fez o mesmo que
Marcela. Minha mãe ficou abraçada com meu pai e Aline com Vitor. Todos sorriam ou
choravam de alegria e eu também. Meu bebê era saudável e lindo, meus pais se acertaram,
Lucas se acertou um pouco com seus pais. Aline estava bem e feliz com Lucas. eu não
desejaria que nada mudasse nesse momento, até ir para casa no dia seguinte.

Giovanni chorou a noite toda. Sem parar. Eu não sabia mais o que fazer e muito menos
Lucas. Procuramos no Google o que poderia ser, mas nada resolveu. Troquei a fralda, dei de
mamar, fiz algumas massagens para cólica e nada resolveu. Ele simplesmente não parava
de chorar. Olhei no relógio e vi que eram duas horas da manhã. Eu não consegui segurar o
nervosismo e comecei a chorar junto.
-Lucas, eu fiz ele com defeito! Não tem outra explicação! Por que ele não para? O que eu fiz
de errado? Será que meu leite tá azedo? Eu não sei mais o que fazer! Desse jeito ele vai
crescer mudo de tanto que gastou a voz agora!
-Calma Ná! Vou ligar pra minha mãe!
-Mas é de madrugada Lucas!
-Não tem problema! Ela vai ajudar!
Lucas saiu do quarto para fazer a ligação enquanto eu chorava com Giovanni no colo. Eu
não conseguia acreditar que eu era uma mãe tão ruim já no segundo dia. Lucas voltou para
o quarto e disse que ela já estava a caminho me deixando um pouco mais tranquila.
Trinta minutos depois que pareceram trezentas e vinte e cinco horas, Marcela chegou. Ela
pegou o bebê na cama e o arrumou de uma forma estranha no colo que fez ele parar de
chorar aos poucos. Olhei para Lucas sem acreditar no que eu estava vendo.
-Giovanni só se acalmava quando eu o segurava dessa forma. -Marcela se explicou.
-Ai Meu Deus! Venha morar com a gente!
Falei fazendo uma brincadeira com fundinho de verdade. Marcela riu e me entregou o bebê
para que o segurasse da mesma forma. Giovanni ficou quase deitado de bruços em meu
colo e completamente "desconfortável", mas por incrível que pareça ele pegou no sono
daquela forma. Fiquei mais um tempo com ele daquele jeito e o coloquei em seu berço. Ele
continuou dormindo e por um momento eu achei que tivesse ficado surda por conta do
silêncio ao meu redor. Voltei para o quarto e quase agradeci de joelhos por Marcela ter
ajudado. Acho que eu enlouqueceria se ele continuasse a chorar daquele jeito.
Marcela me deu mais algumas dicas e foi embora. Eu quase me joguei aos seus pés e a
segurei, mas acho que não seria muito legal da minha parte fazer isso. Ela disse que eu
poderia ligar a qualquer momento e me controlei para não ligar assim que ela passou pela
porta da sala.
Lucas me beijou e deitamos na cama completamente exaustos.
-Sabe o que eu quero Lucas?
-O que pequena?
-Tomar banho. E dormir. E dormir. E descansar. E dormir.
-Pode descansar pequena, eu fico de olho no bebê.
-Jura?
-Claro!
-Obrigada!
-Não precisa agradecer!
Fui para o banheiro e tomei um belo banho relaxante. O silêncio reinava na casa. Depois de
trocada, me enfiei embaixo do edredon com Lucas que me fez cafuné até que eu pegasse no
sono.

Acordei de madrugada com a cama vazia. Levantei assustada e fui para o quarto do bebê e
vi Lucas com Giovanni no colo e cantando para ele. Apesar do cansaço e de não saber o que
fazer com o bebê, eu não voltaria atrás se fosse possível. Eu faria tudo exatamente igual
para que eu terminasse aqui: olhando Lucas cuidando de um pequeno bebê com todo
cuidado e carinho do mundo.
Eu não poderia ser mais feliz!

58...

“Imagine uma nova história para sua vida e acredite nela.”


(Paulo Coelho)

(Cinco meses depois)


Tudo estava perfeito! O bebê parou de chorar igual quando nasceu. Lucas voltou a
trabalhar e contratamos Vitor permanentemente. As vendas na loja aumentaram nos
trazendo um lucro muito bom. Aline engatou em um relacionamento sério com Vitor e
decidimos chamá-los para serem os padrinhos do bebê. Lucas achou a idéia ótima e fizemos
o convite. Eles toparam na hora. Aliene disse que seria madrinha mesmo que eu não
convidasse, mas ficou muito grata com o convite.
Aline enchia a casa de presentes para Giovanni e o quarto dele quase não sobrava espaço
vazio sem ter algum brinquedo novo. Ela era a tia mais babona do mundo. Vitor achava o
jeito de Aline surpreendente e não tive duvidas de que eles foram feitos um para o outro.

Chegou o dia do batizado que correu tudo bem. Aline não se aguentava de emoção e veio
conversar comigo.
-Amiga, preciso ter uma filha!
-Por que?
-Para ela namorar Giovanni! Se ela puxar Lucas, vai ser bem realizada!
-Ai amiga como você é boba!
-É verdade! Não ia ser lindo nossos filhos namorando?
-Meu filho vai ser pegador e se você tiver uma filha ele vai dar um trato nela! - Lucas falou
para irritar Aline.
-Minha filha é para casar Lucas! Tá achando que é festa?
-Ela não vai resistir ao Giovanni! Escreve o que estou falando!
-Você fala como se ele fosse ser um deus grego!
-E vai! É só olhar pra mim! – Lucas deu uma voltinha.
-Como você é ridículo!
-Não adianta me ofender por saber que sua filha vai ficar caidinha por Giovanni!
-Ele que vai ficar caidinho por ela! Ela vai ser linda!
Lucas e Aline continuaram a bater boca por um bom tempo. Vitor olhou para mim e
começou a rir.
-Ela sabe que não tem uma filha ainda? - Vitor me perguntou.
-Sabe, mas não vai dar o braço a torcer!
-Entendi!
Vitor e eu nos afastamos e deixamos os dois se entenderem sozinhos. Não sei qual dos dois
era pior. Aline que não tinha filha ou Lucas que sabia que ela não tinha filha, mas falava
como se ela estivesse entre nós. Dois malucos!

Fizemos um almoço em família para comemorar o batizado de Giovanni. Ele era a cópia de
Lucas e eu ficava muito feliz por isso. Giovanni tinha os olhos azuis mais lindos do mundo,
um nariz perfeito e os cabelos loiros exatamente como Lucas. Ele era grandão e tenho
certeza que ele puxaria o porte físico de Lucas também. Tinha uma personalidade bem
forte, mas acho que essa parte ele puxou a mim.
O almoço foi tranquilo por incrível que pareça. Não teve discussão, nem brigas ou gritarias.
Todos conversaram civilizadamente como uma família normal. Perguntei à Lucas o que
estava acontecendo, mas ele jurou de pés juntos que nada acontecia e que nada sabia. Não
acreditei nele, mas não sabia o que fazer para descobrir então o jeito era esperar ver o que
ia acontecer!

Uma semana passou e Lucas disse que gostaria de ir jantar fora no sábado. Ele explicou que
fazia muito tempo que não fazíamos algo do gênero e que Marcela cuidaria de Giovanni
enquanto estivéssemos fora. Disse que na hora de voltarmos para casa, passaríamos em sua
casa para buscar Giovanni. Fiquei um tempo pensando e achei que um jantar faria bem a
nós dois. Com Giovanni não tivemos mais tempo livre juntos, então seria uma ótima
oportunidade de nos aproximarmos mais.
Lucas me deu um vestido branco de renda maravilhoso. Ele era longo e tinha as mangas
longas de renda, mas nada exagerado. Prendi o cabelo em um coque frouxo e coloquei um
par de brincos de pérolas. Passei delineador e um batom vermelho sem carregar muito.
Calcei uma sandália dourada e estava pronta. Lucas vestiu uma calça social preta e uma
camisa branca. Por baixo dela ele usava uma regata branca que deixava seu corpo ainda
mais apetitoso. Tive diversas ideias do que fazer com Lucas ao chegar em casa.

Ao chegarmos ao restaurante fiquei surpresa por nunca ter ido aquele lugar. O garçom nos
informou que a nossa mesa foi reservada na área vip do restaurante e que ficava no fundos.
Nos levaram até o final do restaurante onde haviam duas portas enormes. Lucas pediu que
eu entrasse primeiro e fiz o que ele pediu. Ao abrir a porta quase morri do coração. Minha
família toda estava lá dentro. Minha mãe, meu pai, marcela, Alexandre, Aline, Vitor,
Giovanni, Mari e seu namorado sorriam para mim sem parar. Olhei para Lucas o
questionando com o olhar, mas ele deu de ombros. Comecei a olhar ao redor e não consegui
conter a emoção. O lugar estava arrumado para uma cerimônia de casamento. Havia um
tapete vermelho repleto de pétalas brancas espalhadas no chão, o ambiente tinha enfeites
de rosas brancas e arranjos maravilhosos. Meu pai veio até mim enquanto Lucas ia para o
altar.
-Você está linda filha! - meu pai falou emocionado me dando um beijo na testa.
-Isso é loucura!
-Ele te ama!
-Eu sei! Eu o amo também!
Uma música de fundo iniciou e vi Aline entrando no caminho de rosas com meu bebê. Ele
vestia uma calça social e uma camisa branca igual à de Lucas. Seu cabelinho estava
arrumado da mesma forma de Lucas e eu comecei a chorar de emoção. Meu pai me puxou
para onde Lucas se encontrava porque eu paralisei no caminho. Aline chorava igual uma
torneira aberta, e minha mãe também. Os pais de Lucas estavam emocionados também,
mas não demonstraram tanto, até porque eles sempre foram mais elegantes que nós.
Meu pai e eu fomos em passos lentos porém nada firmes até onde o padre nos esperava.
Lucas deu a mão para meu pai que o abraçou pegando em minha mão em seguida. Lucas me
deu um beijo em minha testa e sorriu para mim. Caminhamos até o padre que assentiu para
nós. Olhei ao redor e não conseguia acreditar que Lucas planejou tudo aquilo sozinho. Olhei
para ele e ele sussurrou:
-Aline me ajudou! Agora preste atenção!
Fiz cara feia para Lucas e virei para o padre. Ele deu aquele discurso sobre o matrimônio e
tudo aquilo que todos nós já conhecemos, mas sem ser cansativo. O padre era jovem e
usava palavras fáceis de entender. Ele fez uma cerimônia bem original e
diferente, mudando a ordem das coisas como os casamentos comuns. Lucas começou a
fazer sua declaração.
-"Meu amor, minha vida, grito ao mundo o verdadeiro motivo que me faz viver feliz. Você é o
motivo de tanta satisfação e realização no meu dia a dia. Quero você ao meu lado por toda a
eternidade. Quero suas loucuras, seus desastres sempre comigo. A vida sem você não tem
graça! Estou entregue totalmente nesse relacionamento e por um amor sincero de dois seres
que sabem que irão ficar juntos. Pequena, eu te amo hoje e sempre."
Escutei alguns suspiros e fungadas. Só se eu fosse uma pedra para não me emocionar com o
que Lucas disse. Sequei minhas lágrimas e chegou a minha vez de me declarar.
-"Eu te amo! Isso eu sei de maneira absoluta, só não sei o porquê, mas sinto que vem de longe
essa louca paixão, não sei o que será do amanhã, mas também não importa. Te amo como
amigo, companheiro e amante esse amor me conforta e para mim é só isso que importa. Você
me protege, cuida de mim, é meu porto seguro! Quero estar com você pelo resto da minha vida
em todos os momentos que ainda irão vir. Tanto de alegria e tristeza. Te quero em minha vida
para sempre! Eu te amo Lucas!"
Lucas sorriu e tirou uma caixinha de alianças do bolso da calça. O colocou em meu dedo e
beijou em seguida. Fiz o mesmo movimento que ele que sorriu de volta para mim.
-Eu os declaro marido e mulher! Pode beijar a noiva!
Lucas passou a mão em minha nuca e grudou seus lábios nos meus. Enrosquei meus dedos
em seus cabelos e aprofundei o beijo. Poderiam passar dias, semana, meses, mas eu jamais
me cansava de beijar a boca deliciosa de Lucas. Escutamos um falatório no ambiente e Aline
dizendo "Tem uma criança no salão!" e me obriguei a desgrudar de Lucas. Todos nos
aplaudiram e fiquei imensamente aliviada pelo Padre não ter dito a tão terrível frase: "Se
alguém for contra essa união fale agora ou cale-se para sempre!" Sempre morri de medo que
aparecesse algum maluco e quisesse atrapalhar tudo.
Cumprimentei toda minha família presente e dei um beijo em Giovanni. Os responsáveis do
salão nos levaram para uma parte mais afastada onde rolaria uma pequena festa de
comemoração. Olhei ao redor e suspirei de satisfação. Meu coração estava acelerado de
alegria, de emoção. Cada pessoa naquele lugar, tinha uma forma peculiar de viver. Cada um
tinha um jeitinho diferente e espontâneo. Cada um ali passou por dificuldades, problemas,
decepções, mas não deixaram que isso os afetasse, eles continuaram a viver! Passaram por
cima de cada pedra em seus caminhos e estão sempre em busca da tão sonhada felicidade
exatamente como eu! Eu achei que jamais seria amada, cuidada, respeitada. Achei que o
pouco que eu recebia das pessoas era o suficiente, mas depois que conheci Lucas, eu
aprendi que não mereço pouco, não mereço migalhas. Eu mereço sempre o melhor de todo
mundo. Mereço saber que se não está bom, eu tenho direito de ir atrás de algo que seja
100% suficiente pra mim e pra minha felicidade. A vida é curta demais para vivermos com
pouco. Temos que nos arriscar. Nos jogar de cabeça e se não der certo, nós tentamos de
novo até o momento que dê certo! Temos que olhar para trás e ver que tudo o que fizemos
fez valeu a pena. Que todas as caras quebradas que tivemos nos fortaleceram ainda mais. O
tempo corre demais para aceitarmos pouco da vida.
Se arrisque, seja quem você quer ser e não tenha vergonha de quem você é! Cada um de nós
tem um charme especial que conquista todos à nossa volta. O meu é ser desastrada e
faladeira! E o seu?
59...

"Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se
preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento."
(Clarice Lispector)

(Um ano depois) (Bônus Aline)


Eu e Nataly sempre fomos unidas e compartilhávamos tudo das nossas vidas uma com a
outra. Quando tivemos a idéia de abrir uma loja, achamos que seria um tiro no escuro, mas
com o nosso esforço e dedicação conseguimos a fazer crescer. Hoje mudamos de endereço e
vamos para um lugar novo com suporte veterinário maior e melhor. Tivemos que contratar
mais veterinários e funcionários. Tudo ficou uma bagunça e correria, mas Vítor me ajudou
em tudo. Ele era um homem dos sonhos como Lucas era para Nataly.
Vitor cuidava de mim como nunca fui cuidada antes. Ele era carinhoso e aguentava meu
jeito espontâneo de ser, ela ria comigo, ficava triste comigo e nunca nem no primeiro dia,
me tratou como se eu fosse apenas um pedaço de carne. Não vou dizer que sou santa.
Jamais, eu sei que aprontei bastante, mas nós sempre esperamos a pessoa certa aparecer e
nos mostrar que a vida que você estava vivendo não fazia mais sentido. Foi assim comigo a
partir do momento em que conheci Vitor. Estar com ele me fez pensar em todo o tempo
perdido que passei com pessoas vazias que não queriam o meu bem, que não se
importavam comigo e somente com elas mesmas.
Nataly sentiu a mesma coisa com Lucas. Ela sofreu demais com Pedro e por um tempo tive
certeza que ela entraria em depressão. Ela reservou sua vida à ele, mas ele não fez o
mesmo. Pedro queria uma vida de solteiro e quando estava cansado corria para os braços
de Nataly, e ela como toda garota apaixonada o recolhia. A gente é besta mesmo! Acha que
não vai conseguir viver sem tal pessoa, que não iremos encontrar alguém melhor, mas
quando achamos isso de verdade sobre alguém é porque iremos ficar sem essa pessoa. Eu
nunca fui muito sentimental. Sempre fui mais pratica e da seguinte opinião: não deu certo?
Parte pra outra! Nunca tive paciência pra ficar choramingando pelos cantos por um namoro
que não deu certo. Claro que eu ficava triste quando acabava, mas eu preferia focar em
arrumar alguém melhor ao invés de ficar pensando em como teria sido se não tivesse
acabado.
Lucas e Vitor nos fizeram ver que precisamos de alguém ao nosso lado que nos acompanhe,
que cresça conosco. Alguém que queria o nosso bem independente de qualquer situação. E
que merecemos isso!
Mas parando com o momento filosofia, vou contar uma coisa à vocês. Vitor e eu estamos
morando juntos a um ano. Vocês acreditam nisso? Um ano que ele me aguenta e não me
matou enquanto dormia? É muito amor! Ele me chamou para morar com ele e eu não
pensei duas vezes antes de aceitar. Permaneci com a minha casa como garantia se algo
desse errado. Eu não sei viver sem ter um plano B na manga e Vitor achou isso muito legal.
Nós dois decidimos não fazer uma festa de casamento. Não agora, mas decidimos ter um
filho. Sim eu sei que parece loucura, mas eu nunca quis tanto alguma coisa como isso e
Vitor também. Sempre falou do seu grande sonho em ter filhos então começamos a guardar
dinheiro a três meses atrás e ao invés de gastar em uma festa, iríamos usar esse dinheiro
para dar tudo de melhor para o bebê. Vitor e eu estamos tentando ha um tempo engravidar
e hoje vou na casa de Nataly para fazer o teste de farmácia. Eu comprei uns dez tipos
diferentes só para garantir.

Assim que cheguei à casa de Nataly, corremos para o banheiro e fizemos xixi nos bastões.
Os colocamos em cima da pia para aguardar o tempo de pausa. Eu fiz em dois e Nataly
também. A gente sempre quis fazer isso juntas, então mesmo sabendo que ela não estaria
grávida, Nataly fez comigo. Ficamos em pé em frente a pia esperando os mais longos cinco
minutos da histéria da humanidade. Olhei no relógio e faltava apenas um minuto quando
Lucas bateu na porta do banheiro.
-Ná? Tá tudo bem?
-Tá sim!
- Vocês estão à muito tempo aí!
-Está tudo bem Lucas!
-Abre a porta! Eu vou entrar!
Entramos em desespero então jogamos os testes dentro da sacolinha da farmácia e a
enfiamos dentro da lixerinha. Lucas abriu a porta e ficou nos olhando desconfiado.
-O que vocês estavam fazendo?
-Coisas de mulher Lucas! Não posso ter intimidade com a minha amiga? - perguntei a ele.
-Claro que pode! Era só ter avisado antes! Vocês duas juntas e em silêncio coisa boa não é! -
ele respondeu.
-Que seja! Precisamos de mais um minuto e já vamos pra sala!
-Tá bom! Vitor já chegou e já pedimos as pizzas!
-Ok! Obrigada!
Lucas fechou a porta e Nataly soltou o ar.
-Por que você não falou nada sua pateta? - perguntei.
-Porque eu sou uma péssima mentirosa.
-É mesmo! Vamos ver essa merda logo!
Nataly tirou o saquinho de dentro da lixeira e abrimos com a maior expectativa. Pedi que
Nataly olhasse porque eu não tinha coragem. Ela ficou olhando confusa dentro da sacola
por um tempo.
-Meu xixi mistura com o seu? - ela perguntou.
-O quê? Como vou saber?
-Acho que os testes absorveram o xixi, porque os quatro deram positivos!
-Não é possível!!
Tirei a sacola da mão de Nataly e conferi todos os testes. Os quatro estavam com as duas
listras vermelhas indicando que deram positivo. Olhei para ela que deu de ombros.
-Meu xixi pegou o seu ou o seu pegou o meu? - perguntei.
-Acho que o meu pegou o seu! Não existe a possibilidade de eu estar grávida!
-Vocês fazem sexo?
-Claro!
-Então existe a possibilidade!
Nataly me olhou apavorada e começou a tomar água da torneira. Fiz o mesmo que ela.
Ficamos pulando e tomando água até que desse vontade de urinar mais uma vez. Pegamos
os seis testes restantes, molhamos no xixi três para cada uma e colocamos os meus do lado
esquerdo da pia e os de Nataly do lado direito. Contamos segundos por segundos até dar a
hora de olhar os resultados. Mentalizamos até três e eu olhei os meus e Nataly os dela.
Arregalei meus olhos e ela os dela. Nos olhávamos e olhávamos para os testes
completamente em choque.
-Que porra! - falamos juntas.
Olhei os de Nataly e ela olhou os meus. Nos olhamos e gritamos:
-QUE PORRA É ESSA?

60...
“E de surpresa em surpresa, o inesperado. E quando o inesperado lhe sorri, como não lhe
sorrir de volta?”
(Camila Custodio)

(Bônus Vitor)
Olá, eu sou o Vitor. O veterinário mortadela. Sim, Aline me explicou o que aquilo significava
e me achei o kid bengala. Claro que qualquer homem que recebe um elogio desse não vai se
achar o mais foda do mundo, mas enfim, vamos falar do que nos interessa: Aline!
Eu sei que vocês irão achar meio cliché, mas assim que coloquei meus olhos em Aline, ela
não saiu da minha cabeça. A primeira coisa que eu queria fazer ao vê-la era beijar, abraçar e
não soltar mais, mas como era meu primeiro dia de trabalho, eu não poderia convidá-la
para sair. Um tempo se passou e eu fazia um esforço tremendo para me controlar à sua
presença. Ela era linda demais e cada vez que ela abria a boca saía uma besteira diferente,
me deu mais vontade de tê-la ao meu lado. Quando ela me chamou para sair, eu queria
soltar fogos de alegria. Sim, eu sei que estou falando como uma mulherzinha, mas não
consigo esconder o que estou sentindo.
Aline me surpreendia a cada dia e como eu não conseguia mais aguentar ficar sem ela ao
meu lado todos os dias, a chamei para morar comigo o quanto antes, e desacreditei quando
ela disse sim. Eu pensei que estava apressando as coisas, mas nada relacionado à Aline é
normal, então aqui estamos: planejando ter um filho, construir nossa família e termos um
futuro juntos. Eu não desejaria nada melhor!

Aline e Nataly estavam presas no banheiro a mais de meia hora. Lucas foi chamá-las, mas
elas disseram que já viriam. Isso foi à vinte minutos atrás. A pizza chegou e Lucas as
chamou pela milésima vez. Elas vieram para a sala de braços dados, com caras felizes e
apavoradas ao mesmo tempo. Lucas olhou para mim e tirou as palavras da minha boca:
-O que aconteceu? O que vocês estavam fazendo enfiadas no banheiro e por que estão com
essas caras estranhas?
Elas se entre olharam e deram um meio sorriso.
-Vocês vão responder ou não? - perguntei impaciente.
Elas se olharam mais uma vez, levaram as mãos para a frente do corpo e nos mostraram
que em suas mãos tinham alguns bastões brancos. Elas sorriram e disseram ao mesmo
tempo:
-NÓS ESTAMOS GRÁVIDAS!
Lucas e eu nos olhamos esperando elas dizerem que era uma brincadeira, mas não
disseram. Olhei para elas com os bastões estendidos para nós sem conseguir acreditar.
Olhei para Lucas mais uma vez e ele estava desmaiado no sofá. Todos nós corremos para
socorrê-lo e quando ele voltou a si deu risada.
-Eu sonhei que vocês duas estavam grávidas! E ao mesmo tempo! Imagina a loucura que
seria?
Lucas continuou a rir até que Nataly foi até ele.
-Mas nós estamos Lucas!
Ele me olhou pálido e passou as mãos nos cabelos. Nos dois sorrimos ao mesmo tempo
estava dissemos em uníssono:
-Nós vamos ser pais porra!
Eu me levantei e fui até Aline que estava emocionada. E Lucas fez o mesmo com Nataly.
-Nós vamos ter um bebê?
-Sim!
-É sério?
-Seriíssimo!
-Eu nunca estive tão feliz e tão assustado em toda a minha vida!
-Nem eu!
Beijei Aline e a girei no ar de tanta felicidade. Olhei para Lucas e o vi abraçando e beijando
Nataly. Olhei para Aline mais uma vez e a abracei. Assim que a realidade foi batendo na
minha cara, comecei a ficar apreensivo. A questão que martelava minha mente era a mais
assustadora de todas::
Como sobreviver a essas duas malucas grávidas?
Não sei como responder essa pergunta e pelo visto nem Lucas que nos olhava apavorado!
Me sentei no sofá quando Aline veio até mim e disse baixinho:
-Vai dar tudo certo Vi!
Claro que tudo daria certo! Claro que tudo ficaria bem. Era uma vida que estava em nossas
mãos e eu cuidaria como se fosse a minha. Eu finalmente estava realizando meu sonho com
a minha tão amada mulher. Sorri em resposta e fiquei satisfeito por finalmente estar
construindo a minha tão sonhada família.
61...

“A vida é construída nos sonhos e concretizada no amor.”


(Chico Xavier)

(Bônus Lucas)
Quando as duas disseram ao mesmo tempo que estavam grávidas, eu acho que perdi a
consciência. Fiquei esperando elas darem risada e dizerem que era brincadeira, mas elas
não fizeram isso. Quando Nataly confirmou que os testes deram positivo eu não sabia se ria
ou se gritava de alegria. Eu sempre quis ter mais filhos com Nataly. Eu sempre quis uma
família imensa, mas o único problema agora seria as duas grávidas e juntas. Essa a minha
única preocupação no momento. Vai ser um caos. Vitor que se cuide.
No dia seguinte da notícia levamos as meninas ao médico para fazer exame de sangue e
confirmar a gravidez. O resultado foi positivo para as duas. Elas foram encaminhadas para
fazer o ultrassom e Nataly estava com 8 semanas e Aline com 9 semanas de gestação.
Desconfio que as duas combinaram de fazer isso juntas porque não tem outra explicação.
As duas riam e diziam não ter combinado nada, mas não sei se acredito.
Contamos a Giovanni que ele teria um irmãozinho, mas acho que ele não entendeu muito
bem, pois ele simplesmente nos ignorou e continuou a brincar. Meus pais e os pais de
Nataly ficaram eufóricos com a notícia. Todos disseram que seria uma menina e que eu
pagaria por todos os meus pecados, mas disse a todos que ela só namoraria depois que eu
morresse. Todos riram de mim sem eu entender o porquê.

Os meses foram passando e as duas grávidas estavam nos deixando malucos. Elas tinha
desejos absurdos e quando uma falava para a outra o desejo que estava, elas mudavam de
idéia e queriam outra coisa. Como as duas teriam os bebês ao mesmo tempo, promovemos
Mariana como gerente e a deixamos responsável pela loja no tempo em que ficaríamos fora.
Ela era muito responsável eficiente. Não haveria pessoa melhor para cuidar da loja.
Quando já era possível saber o sexo dos bebês, as meninas fizeram o ultrassom e claro as
duas estavam grávidas de meninas. Até isso elas combinaram de fazer igual. Vitor estava
saltitante até eu dizer a ele que Giovanni iria namorar sua filha.
-Isso é o que veremos! – respondi.
Vitor ficou sem falar comigo por três dias.

As bebês nasceram na mesma semana. A de Aline se chamava Anne e a nossa decidimos
colocar o nome de Gabriela. Ela nasceu com olhos azuis e cabelos loiros como Giovanni e
graças a Deus ela não veio com mesmo defeito que Giovanni tinha nos primeiros meses. Ela
não chorava praticamente nada. Só chorava quando queria mamar, trocar a fralda ou
quando tinha uma cólica. Já Giovanni chorava o tempo todo sem motivo algum. Aline teve
sorte por sua bebê ser bem tranquila também e por ter puxado Vitor no aspecto
tranquilidade. Ela se adaptou mais rápido do que eu imaginava e por incrível que pareça,
ela era uma ótima mãe. Aline não tinha mais seus pais vivos, então não tinha o apoio
familiar que eu e Nataly tivemos, mas minha mãe a ajudou muito e no fim somos todos uma
família imensa. Uma família só de loucos, bem loucos, mas que se amam.
As crianças cresceram juntas e eu não poderia estar mais feliz. Na verdade nunca imaginei
que eu pudesse ser tão feliz. Assim que coloquei meus olhos em Nataly, eu soube que ela
viraria a minha vida do avesso. Ela realmente fez isso! E fiquei satisfeito ao ver que o
avesso, era o meu lado certo!
Eu não mudaria nada em minha vida. Nada. Tenho tudo o que preciso ao meu lado. Tenho
saúde, tenho Nataly e as crianças, tenho amigos de verdade, tenho minha família comigo. Eu
sofri muito antes de ter tudo isso, mas se fosse para fazer tudo de novo para ter isso que
tenho agora, eu não mudaria uma vírgula!
Então não desista do que você quer! Não desista da mulher/homem que você ama! Muitos
vão querer atrapalhar, mas se você quiser essa pessoa para o resto de sua vida, lute até o
fim! Lute pelos seus sonhos! Vai valer a pena!

P.S: Ah! Uma dica! Não desmaie o tempo todo! Vão achar que você é uma
mulherzinha! Não pega muito bem para um cara alto, forte, viril, bonito como
eu ficar desmaiando por aí! Vai por mim! Não pega bem mesmo! Virei motivo de chacota por
muito tempo! Então se sentir vontade de desmaiar, pense em outra coisa, respira fundo e
disfarça. Diz que precisa ir ao mercado que dá certo. Funcionou comigo! Menos no parto de
Gabriela, que ninguém entendeu o que eu faria no mercado aquela hora e acabei desmaiando
mesmo assim!
62...

“Um dia você amadurece, e consegue perceber que o amor é algo que se encontra muito além
de um belo sorriso. Consegue perceber que maior parte da tua felicidade é construída por
você mesmo e consegue perceber que as pessoas mais valiosas em sua vida são justamente
aquelas que sempre estiveram ao teu lado.E não é que o tempo seja mestre em nos ensinar o
óbvio. Nós é que demoramos demais para o óbvio aprendermos!”
(Augusto Branco)

(Bônus Pedro)
Eu namorei com Nataly por seis anos e posso dizer que foram os anos mais felizes da minha
vida. Eu sei que eu fui um filho da puta com ela, mas eu achava que era uma coisa normal
ser daquele jeito em um relacionamento. Nataly sempre se esforçou muito em nosso
namoro e fazia tudo o que eu queria. Quando eu a pedi em casamento ela chorou por três
dias de emoção. Achei aquilo uma besteira, mas hoje eu entendo o quanto aquilo foi
importante para ela.
Quando Thais e Rafael me chamaram para ser padrinho do casamento deles, eu só pensei
que seria a oportunidade perfeita para mostrar à Nataly o quanto eu estava bem sem ela,
mas eu me enganei. Ela que estava bem sem mim. Eu esperava ver uma Nataly
gorda, desleixada e na merda por causa do nosso término, mas o que eu vi foi uma pessoa
leve, feliz, segura de si. A pessoa que ela era quando a conheci e com o tempo destruí.
Achei que mesmo ela estando com aquele Mané, ela ficaria balançada com a minha
presença, mas quem se balançou fui eu. Eu comecei a reviver todos os nossos momentos
juntos e eu daria um jeito de fazê-los voltarem a acontecer. Tentei me aproximar dela, mas
ela estava agressiva e deixou claro que não me queria mais em sua vida. Aquilo me deixou
com tanta raiva que eu tive que fazê-la sentir a frustração que eu senti ao ser rejeitado por
ela, mas a merda que eu fiz foi ainda maior. Quando contei que fiquei com Thais, não só
acabei com todas as nossas chances como também com o casamento do meu melhor amigo.
A gente faz tanta besteira na vida que não tem volta. Afastamos quem deve permanecer ao
nosso lado e os magoamos também. Tudo isso por um luxo ou simplesmente para poder se
sentir superior a alguém.
Depois que minha mãe partiu, eu repensei toda a minha vida e decidi mudá-la para melhor.
Pedi desculpa a quem magoei, a quem fiz mal. Carregar esse fardo comigo não me levaria a
lugar algum. Eu precisava desapegar desse passado horrível e foi isso que e fiz. A primeira
pessoa a quem pedi desculpa foi Nataly. Ela não teve culpa que me transformei em uma
pessoa infeliz e cruel. Ela merecia toda felicidade que era possível e tenho certeza que
Lucas daria isso a ela. Já estava dando na verdade.
Ao ver que ela estava bem, sendo bem cuidada tive certeza que poderia seguir em frente e
ir em busca da minha felicidade também.
63...

“O amor pode morrer na verdade, a amizade na mentira.”


(Abel Bonnard)

(Bônus Thais)
Eu queria matar Pedro por ter contato a Nataly sobre a gente. Ele não só acabou com a
nossa amizade como com o meu casamento. Eu sei que meu casamento com Rafael não
daria certo, mas eu tinha que tentar. E tentei na verdade, mas não deu certo. Pelo menos eu
teria a consciência tranquila de que tentei o que era possível.
Pedi desculpa a Rafael por nunca ter contado e também a Nataly que era mais uma vitima
nessa história. Ela era uma pessoa tão boa que não só aceitou a conversar comigo, com se
sentiu mal por mim. Depois desse dia, eu me tornei uma pessoa melhor. Eu não tinha que
invejar as pessoas. O que era meu estava guardado esperando a hora certa de dar certo. E
se não desse, seria o meu pagamento por toda a mágoa que causei a todos.
Eu soube que Rafael começou a namorar uma garota do seu trabalho e pela primeira vez eu
consegui me sentir feliz por alguém e esse sentimento era muito bom.
Quando conhecei Ronaldo, eu imaginei que tinha o dedo de Nataly e Aline no meio, e achei
que elas estavam se vingando de mim, mas não estavam. Elas estavam me dando a minha
grande chance de ser feliz e foi exatamente o que eu conquistei com Ronaldo: a felicidade.
N~o tem aquele ditado: “Gente feliz n~o enche o saco!” ele é exatamente assim. Por eu estar
feliz, eu soube ser feliz pelas pessoas e por mim. Eu soube ser grata a tudo o que conquistei
e que ainda vou conquistar. Essa e a melhor sensação que alguém pode ter. Gratidão por
tudo o que tem e ainda vai ter. Gratidão de ter algumas pessoas em sua vida e pesar por
outras que não estão mais.
Essa é minha nova eu. Agradeço a tudo que me acontece sendo bom ou ruim, aprendi que
tudo acontece da forma que deve acontecer e que não tenho como mudar isso. Não mais!

64...

“Recomeça... se puderes, sem angústia e sem pressa e os passos que deres, nesse caminho duro
do futuro, dá-os em liberdade, enquanto não alcances não descanses, de nenhum fruto queiras
só metade.”
(Miguel Torga)
(Bônus Marcela)
Quando eu soube que Giovanni morreu na casa de Lucas, eu não soube como reagir. Mil
coisas se passaram em minha mente, mas somente uma foi a mais fácil. Culpar Lucas pela
morte de Giovanni me ajudou a focar em outra coisa alem do luto. Era mais fácil para mim
jogar a culpa em alguém do que aceitar a realidade que batia na minha cara.
Lucas tentou me explicar que não teve culpa, mas para mim era mais fácil vê-lo como o
causador de tudo aquilo.
Eu expulsei Lucas da minha casa e em momento algum me importei com o que ele estava
sentindo. Eu só pensei em mim e na minha dor, e em mais ninguém. Eu parei minha vida
depois da morte de Giovanni. Eu não queria acreditar que ele causou aquilo a ele mesmo,
então foi mais fácil culpar Lucas, meu primeiro alvo.
Eu entrei em depressão e se não fosse Alexandre para me fazer ver a loucura que eu estava
fazendo da minha vida, estaria afundada até agora. Meu casamento quase acabou e por um
tempo eu só tive a mim mesma. Afastei todos ao meu redor e por pouco não pude tê-los de
volta.
Quando a namorada selvagem de Lucas veio a minha casa e me enfrentou, eu queria botá-la
pra correr junto com ele, mas alguma coisa me impediu. Acho que ver Lucas depois de
tanto tempo, me fez perceber a besteira que cometi. Ele não faria mal algum ao seu irmão.
Lucas sempre defendeu Giovanni com unhas e dentes. Inclusive apanhava no lugar dele.
Eles eram tão unidos e Lucas jamais seria capaz de tamanha atrocidade. Infelizmente eu
cometi uma grave injustiça e espero que um dia Lucas possa me perdoar por tudo isso,

65...

"Quando o filho aprende com o pai, ambos dão risada. Quando o pai aprende com o filho,
ambos choram."
(William Shakespeare)

(Bônus Alexandre)
A perda de Giovanni tirou toda a minha estabilidade emocional. Marcela acusava Lucas de
algo improvável, mas eu estava tão em choque que não a questionei. Eu simplesmente
aceitei sua decisão e no fim terminei sem meus dois filhos.
Diversas vezes tentei convencer Marcela a ir falar com ele, mas ela dizia que era tarde
demais e que se ele não veio atrás de nós é porque ele era realmente culpado por Giovanni
ter morrido.
Marcela entrou em uma depressão profunda e por pouco não me afundei com ela. Nada
mais fazia sentido pra mim. Eu não tinha mais ânimo pra nada e de tanto Marcela dizer que
Lucas era culpado, comecei a acreditar em suas palavras. Se Lucas sabia que Le tinha
problema com drogas por que não nos alertou e procurou ajuda? Por que ele deixou
Giovanni sozinho em uma festa sabendo de seu problema? Nada disso tinha uma explicação
viável para mim, então resolvi acreditar que Lucas era culpado mesmo sabendo que não
era verdade.
Quando sua namorada doidinha me enfrentou e jogou a verdade na minha cara, eu acordei
pra vida. Ei finalmente percebi o erro que cometi por causa de Marcela. Eu decidi que perdi
um filho, mas não aceitaria perder mais um. Eu sei que nada vai ser como era antes de toda
a tragédia, mas eu faria tudo o que estivesse ao meu alcance para que Lucas me perdoasse
pelo pior erro que cometi em minha vida.

EPÍLOGO...

”Nada na vida é por acaso. Cada pessoa que você conhece tem um propósito: Uns testarão
você, outros te usarão, e alguns te ensinarão. E ainda existirão aqueles que despertarão o que
há de melhor em você...”
(Nada é por acaso)

(15 anos depois)


Hoje as meninas completam 15 anos de idade. Fizemos uma festa para as duas no mesmo
dia já que elas eram grudadas o tempo todo. Giovanni hoje está com 16 anos e é o protetor
de Gabriela. Aline teve um filho um ano depois de Anne. Ele se chama James e está com 14
anos. Os quatro foram praticamente criados juntos e cresceram juntos, mas Lucas não
consegue aceitar o fato de que James está interessado por Gabriela.
-Ela só tem 15 anos! - ele resmunga para mim.
-Idaí? Anne também tem e isso não te impediu de deixar Giovanni se aproximar dela.
-Ele é homem, é diferente!
-Papo furado!
Lucas revirou os olhos e ficou observando James com Gabriela. Ele se tornou um rapaz
muito bonito. Puxou a beleza de Aline. Ele tinha cabelos escuros e olhos escuros como Vitor
e combinava perfeitamente com Gabriela. Eles se aproximaram bastante desde pequenos, e
eu achei a coisa mais fofa.
-Isso não tá certo! -Lucas reclamou.
-Lucas, eles são adolescentes, estão se conhecendo melhor. Deixa eles!
-E se ele magoar ela?
-Acho mais fácil acontecer o oposto disso! Ele está caidinho por ela, mas ela não dá braço a
torcer!
-Acho ótimo! É só ela permanecer assim por uns 35 anos que tudo fica bem!
-Como é exagerado! Pelo menos sabemos quem é ele! Pior se ela dissesse que está
namorando um menino qualquer da escola.
Lucas concordou com a cabeça e ficou em silêncio. Passei os olhos pelo salão e vi Giovanni
abraçado com Anne. Ele a pediu em namoro na semana anterior e Anne morreu de
vergonha, mas aceitou o pedido. Eles formavam um casal lindo.
Lucas zuava Aline dizendo que avisou que Giovanni pegaria sua filha, mas a brincadeira
perdeu a graça para ele quando Aline respondeu que James também estava pegando sua
filha. Depois desse dia Lucas nunca mais abriu a boca para fazer qualquer comentaria do
gênero. Os dois evitavam tocar no assunto e eu morria de rir.

Depois de cantar o parabéns, Lucas, Vitor, Aline e eu estávamos sentados ao redor de uma
mesa conversando. Eu disse que nunca me imaginei tão feliz e realizada como hoje. Sempre
me imaginei com minha família, mas não como essa família. Não com tamanha felicidade.
Aline também se sente da mesma forma, e disse que se não tivesse conhecido Vitor, nada
disso faria parte de sua vida agora. Acho que comigo seria a mesma coisa. Se eu não
estivesse com Lucas, seria capaz de nada disso estar em minha vida agora. Olhei para casa
um daquela mesa. Enquanto eles conversavam, comecei a pensar em como eu era
agradecida.
Eu agradeço a Deus por ter me dado da vida e a vida às pessoas ao meu redor, a Pedro por
ter me dado um pé na bunda, à Aline por ter feito a ligação à Lucas, a Giovanni por ter
mudado o caminho de Lucas que veio até mim. Se não fosse por eles, eu não estaria aqui
neste momento, tão feliz por ter todas essas pessoas próximas a mim. Por ter passado por
muitos problemas, mas com a ajuda deles ter conseguido superar um por um. Sem cada um
aqui eu nada seria. Eu seria só mais uma mulher comum que teve seu coração partido e que
não soube seguir em frente. Eu seria uma mulher estagnada na vida, sem sonhos ou planos,
vivendo cada dia da mesma forma chata e sem graça. Se não fossem essas pessoas aqui, eu
não saberia o que é ser feliz de verdade.
Aline me ensinou a sempre levantar a cabeça e seguir em frente, independente do
problema que você esteja passando.
Lucas me ensinou que o amor cuida, cura, perdoa, ensina. Não machuca, não dói. Te
completa.
Vitor me ensinou a ver as pessoas como elas realmente são. Não pelo corpo bonito ou rosto
bonito e sim como elas são por dentro.
Alexandre e Marcela me ensinaram que cometemos grandes erros em nossas vidas, mas
que para sermos realmente felizes precisamos ser honestos com nós mesmos e deixar o
orgulho de lado para pedirmos perdão a quem fizemos mal, a quem afastamos sem a
necessidade.
Meus pais me ensinaram que problemas sempre irão surgir no casamento, que vão sempre
nos atrapalhar, mas que eu preciso lembrar quais foram os motivos que fizeram eu me
apaixonar por Lucas e falar um por um em voz alta quando as coisas não estiverem bem. E
isso salvou meu relacionamento diversas vezes.
As crianças me ensinaram a ser feliz com pouco, a fazer cada momento completamente
intenso. A viver sem preocupações. A viver cada dia com calma e aproveitar cada segundo
dele.
Se não fosse por eles, eu não teria chego onde estou. Eu não estaria bem sucedida
profissionalmente. Eu não estaria em um casamento perfeito. Eu não estaria aqui neste
momento. Cada um aqui participou em um pedacinho da minha vida. Tanto em partes boas
e ruins, mas me ajudaram a seguir em frente independente de qualquer coisa. Tudo o que
precisamos é de um tapete fofinho para nos confortar, amigos para nos levantar e a família
para nos apoiar em todos o momentos de nossas vidas.
Você tem essas pessoas em sua vida? Quem são elas? Você agradeceu por tê-las com você
hoje? Corre lá! Abrace, beije, agradeça, você não vai se arrepender!

Fim...

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