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AULA 4 FILOSOFIA

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O que será
tratado
nesta aula
Esta aula reflete sobre as
ciências naturais e humanas,
partindo dos movimentos
históricos do Iluminismo e
Romantismo, e analisa seus
impactos na sociedade atual.

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Iluminismo e
Romantismo
A modernidade se erigiu a partir do
projeto de iluminar o mundo com as
luzes da razão científica. O Iluminismo,
movimento que surgiu no séc. XVIII, é
muito importante para entendermos a crise
cultural, científica e moral em que estamos.

Nossa época atribui à ciência a


possibilidade de desvendar o mundo.
Em um âmbito especifico da realidade,
a ciência tem êxito; por exemplo, na
Medicina, telecomunicações, Engenharia
Civil, indústria, etc. A tecnologia extrai da
natureza tudo o que ela tem para nos dar,
desenvolve e aperfeiçoa a vida humana pela
ciência.

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O Iluminismo tem uma dimensão cognitiva


e uma dimensão moral: a ciência poderia
desenvolver-se ao infinito e deveria
servir à sociedade. Aparentemente, esse
projeto estava sendo bem-sucedido.
Mas, principalmente a partir da 2ª.
Guerra Mundial, houve uma grande
crise na aplicação política e moral da
ciência, que até então reivindicava certa
neutralidade. A busca do conhecimento
passou a ter o objetivo da dominação,
como as experiências totalitárias de Hitler
e Stálin, que eram fundamentadas em
pseudociências. Um dos aspectos do drama
da civilização ocidental, portanto, é a crise
da ciência: afinal, ela é boa ou má? Ajuda ou
piora?

No séc. XIX, surgiu uma espécie de ressaca


do Iluminismo, como se a civilização tivesse
se embriagado de ciência, o que gerou um

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ressentimento de perder algo que não cabe


na medida da ciência. Surge, portanto, um
retorno ao passado, ao Romantismo. Tudo
o que hoje chamamos de sentimentalismo,
cultura da afetividade, relativismo
subjetivista, espetacularização do que é belo
e impactante está ligado a ele.

Nossa civilização é extremamente


romântica, no sentido técnico e filosófico.
As pessoas tendem a atribuir grande
importância aos sentidos, às emoções,
como se elas revelassem uma verdade que a
inteligência não revela.

Na aula anterior, abordamos a integração


entre corpo e alma. Na modernidade, isso
se desmembrou, como se por um lado
houvesse a razão técnica e, por outro, a
razão moral. Isso gera uma desconfiança
diante da afirmação de que a Ética é uma
ciência moral, de que a Psicologia alcança a
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verdade sobre o homem. No entanto, se não


houver possibilidade de conceituar o que se
passa na alma, é melhor não haver ciência
a respeito do homem – e essa é a crise da
ciência.

Por um lado, temos as ciências naturais, que


crescem vertiginosamente, cujo domínio só
prospera. Por outro lado, as ciências ditas
humanas foram tachadas de ideológicas,
devido aos acontecimentos históricos.
Poderíamos dizer que a população russa
que acreditou na Revolução Comunista
era pouco escolarizada e supersticiosa,
portanto, tratou-se de uma substituição
da religião por uma ideologia. No entanto,
a sociedade alemã da década de 1930 era
culta, as crianças tinham uma educação
tipicamente iluminista e, ainda assim, não
resistiram à ideologia nazista. Essa reflexão
sobre a crise das ciências humanas gerou
um grande ceticismo.
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Conflito
entre ciências
naturais e
humanas
T udo isso pode ser resumido em uma
frase do escritor francês François
Rabelais: “ciência sem consciência é a ruína
da alma”. Ou seja, não se trata de ser contra
a ciência, mas de perceber que ela depende
da consciência moral. O cientificismo é um
erro profundo, pois divinizou a ciência. A
partir da Revolução Francesa, atribuiu-se à
ciência um poder político e intelectual de
dominar a sociedade.

Mas a alma humana precisa de disciplinas


altamente elaboradas, que não passam pelo

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crivo da ciência moderna, ou seja, precisa


de ciências tradicionais como Filosofia,
História, Literatura, Simbologia e Religião.

Nesse sentido, o Existencialismo é uma


corrente muito importante, pois resgatou
alguma sabedoria da existência subjetiva.
No momento em que todo mundo cultivava
a ciência, Kierkegaard afirmou a irredutível
complexidade da alma humana, afirmando
que ela só pode ser pensada pela religião.
Por isso, o terapeuta está em uma fronteira
complexa entre o corpo, a alma e o espírito,
que exige um conhecimento que a ciência
empírica tende a descartar. A ciência
empírica também desconsidera o papel
subjetivo do terapeuta, tentando mantê-lo
em uma neutralidade, o que é uma ilusão.
Não se pode lidar com uma pessoa de modo
impessoal. Isso não significa trabalhar
de forma enviesada; é possível buscar a

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objetividade, mas não a impessoalidade.

Muitas ciências humanas foram marcadas


ou pelo extremo do cientificismo, tratando
as pessoas como objetos e desprezando o
conhecimento humanístico (Literatura,
História, Filosofia, Religião), que foi
considerado supersticioso. Mas o ser
humano não é apenas um ser positivo, ou
seja, palpável, tangível. Auguste Comte
queria dar à sociologia o mesmo rigor e
precisão da geometria, mas o resultado foi
um fracasso: sua sociologia tornou-se uma
ideologia, porque não é possível mensurar a
alma humana individual, nem a variedade
da vida social, que é marcada pela relação
de pessoas livres.

Aristóteles começa Ética a Nicômaco


dizendo que a ciência do ethos, do
comportamento humano, não é cognoscível

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como as ciências matemáticas; e isso é uma


coisa óbvia. Mas como atualmente o ideal
cognitivo é a ciência da natureza, em que
tudo é objetivo, para as humanidades resta
o ceticismo, o relativismo, o Romantismo,
tudo é subjetivo.

Esse é um paradoxo extremo de nossa


época; por um lado, se afirma a ciência
da natureza; por outro, a impossibilidade
de uma ciência humana. Se alguém
se apresenta como cientista político,
cientista da alma, a primeira reação é de
desconfiança: qual é o partido, a religião,
a perspectiva dele? A ciência foi esvaziada
em discurso, local de fala, poder de fala.
Com isso, a verdade objetiva e a busca de
conhecimento real também são esvaziadas.

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A barbárie da
especialização
O utro aspecto importante é a barbárie
da especialização (barbárie é o oposto
de civilização e cultura, é a violência). A
especialização é a abstração das partes que
compõem o todo para a concentração em
um de seus elementos, a fim de aprofundar-
se nele e aguçar o conhecimento. Por outro
lado, o especialista se aliena do todo da
realidade. O homem é um microcosmo,
porque condensa em si a complexidade do
Universo, participa de todos os seus níveis.
Quando se perde de vista o corpo como
um todo, a relação entre corpo e alma, a
unidade entre o indivíduo e sua família e
comunidade, há uma crise, perde-se de vista
a unidade do mundo.

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O símbolo é o oposto disso: ele reúne,


condensa, sintetiza. Por isso precisamos
resgatar o pensamento simbólico tradicional
da Literatura, da Religião, da Filosofia.
Quando a ciência se subtrai do todo, torna-
se um fator de desordem e desorientação
– essa é a crise da ciência. Para se ter um
conhecimento efetivo sobre o ser humano,
não se pode ser um especialista excludente,
mas ter, para além da especialidade, a
sabedoria acumulada pela tradição.

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