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Quem foram os sofistas?

- “Sofisma”: argumentos falaciosos.


- “Sofisticado” tem agora conotação positiva, mas significava algo feito complicado de
modo deliberado para enganar outros.
- “sofista”: uma pessoa educada com expertise em uma ou mais campos do saber (“sophos”
significa “esperto”, “habilidoso”, “sábio”).
- Contraste com “filósofo”, amante da sabedoria.
- Os sofistas eram professores itinerantes que cobravam taxas para dar aulas sobre diversos
assuntos e eram hábeis retóricos.
- Desde a Grécia Homérica, a formação tinha sido a preocupação dos nobres governantes e
era baseada em um conjunto de preceitos morais próprios de uma classe aristocrática
guerreira, que pretendia reforçar as virtudes da força e da coragem.
- Os sofistas promovem um afastamento desse ideal e representam uma afronta ao status
quo, pois promovem a capacidade de adquirir poder político para qualquer cidadão por
meio do poder da persuasão por uma taxa.
- O aumento da democracia participativa, especialmente em Atenas, levou a uma demanda
por sucesso em política e oratória, e assim a um desenvolvimento de técnicas
especializadas de persuasão e argumento.
- A riqueza e sofisticação intelectual crescente das cidades gregas, especialmente Atenas,
criou uma demanda para a educação para além da formação básica em alfabetização,
aritmética, música e treinamento físico.
- O afluxo cada vez maior de estrangeiros com costumes e hábitos diferentes decorrente da
ampliação do comércio fomentam um clima de pensamento desafiador sobre a moralidade,
religião e conduta política, em relação à qual os sofistas responderam e contribuíram.
- Sócrates e Platão eram críticos dos sofistas, pois eles ensinavam por dinheiro a arte de
ganhar discussões, mas não a habilidade de descobrir a verdade.
- Hostilidade e ressentimento. Aristófanes e “As Nuvens”, a acusação a Sócrates, Protágoras
e sua guarda pessoal. Anito em Mênon (89e–94e) os descreve como sendo subversivos da
moralidade e religião, e uma influência negativa sobre a juventude.
- Um estilo de argumentação reminescente de Parmênides e Zenão.
- São individualistas, sem escola.
- Em alguma medida, envolveu a popularização da especulação pré-socrática em áreas como
a história e a geografia.
- Os maiores sofistas eram celebridades e foram ativos nos negócios públicos. Eram
recebidos com honrarias em cada cidade, e tinham uma clientela cosmopolita, além de
manterem associações com ricos e poderosos.

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- Górgias, Hípias, Pródico e Trasímaco atuaram como representantes diplomáticos de suas
respectivas cidades.
- Estudaram a persuasão retórica e a gramática. Protágoras foi o primeiro a distinguir os
gêneros a partir dos substantivos e os tempos e modos dos verbos.
- A interpretação do trabalho dos poetas também é característico da educação sofística. Há
uma continuação da tradição mais antiga do poeta como um pensador moral agora na
figura do sofista.
- Conferências públicas, encontros e críticas literárias.
- Eram o equivalente de consultores, advogados, life coaches, lobistas, profissionais de
relações públicas e celebridades.

Protágoras, de Abdera (490-420 a.C)


- Foi o primeiro a se auto-declarar sofista.
- Faz uma primeira visita a Atenas como embaixador de Abdera. Recebeu honrarias.
- Protágoras era amigo de Péricles (c. 495-429 B.C.E.), o grande general e homem de estado
ateniense. Péricles foi a figura política mais influente em Atenas por mais de 30 anos,
incluindo os dois primeiros anos da Guerra do Peloponeso, entre Atenas e Esparta. Péricles
solicitou a ele uma constituição para a colônia de Turin em 444 a.C.
- Supostamente foi acusado de impiedade no final da vida, teve seus livros queimados e
afogou no mar ao deixar Atenas.
- Defendia que o aprendizado deve começar cedo, e deve criar raizes profundas para ser
efetivo. Ele requer muita prática e dedicação.
- Escreveu sobre a correção da língua e apresentou uma taxonomia de atos de fala em
asserção, questão, resposta, comando, etc. (Platão, Fedro, 267c; Diógenes Laércio, IX.53–
4).
- Posteriormente no diálogo ele fornece uma leitura crítica do poema de Simonides, dizendo
que a habilidade de especificar as partes boas e ruins de um poema e de justificar as
críticas de uma pessoa é uma parte importante da educação (338e–339a). O que sugere
uma forma de crítica literária.
- Apresentou na casa de Eurípedes o tratado agnóstico “Sobre os Deuses”: “Sobre os deuses
eu não sou capaz de saber nem que eles existem nem que inexistem, nem de que tipo eles
são em forma: pois muitas coisas me impedem de saber isso, a obscuridade e a brevidade
da vida de um homem.”
- A abordagem racionalista ao mundo natural, incluindo a natureza humana, forneceu a
fundação intelectual de uma série de visões hostis à religião tradicional.
- Protágoras afirma que é capaz de ensinar “a arte de governar uma cidade”, que ele promete
que “tornará homens em bons cidadãos” (Protágoras, 319a).

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- Em seu ‘Grande Discurso’ no diálogo de Platão (320c–328d), Protágoras apresenta uma
explicação do desenvolvimento da civilização humana, com o objetivo de mostrar que a
essência da boa cidadania consistia em justiça e comedimento, que são naturais para seres
humanos na preservação da ordem social.
- A natureza por si só é insuficiente para o florescimento humano e precisamos das leis.
- Mito: violência -> Zeus nos dá comedimento e justiça; essas nos capacitaram a
desenvolver as habilidades de política e relações comunais e virtude.
- As Antilogias: ‘em torno de cada coisa ha dois raciocínios que se contrapõem’.
- Para cada tese é possível fornecer argumentos a favor e contra e, por conseguinte, é
possível, com técnica apropriada, tornar mais forte o argumento mais fraco: nisso
justamente consistia a virtude.
- Relativista: ‘o homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das
coisas que não são, enquanto não são.’
- ‘Tal como cada coisa aparece para mim, tal ela é para mim; tal como aparece para ti, tal é
para ti.’
- Toda aparência sensória é relativa: se o vendo causa uma sensação de frio em mim e calor
em você, então é frio para mim e quente para você (Teeteto, 152a).
- “É igualmente possível afirmar e negar qualquer coisa” (Metafísica, 1007b20–22).
- Dissoi logoi (argumentos para cada lado): os argumentos a favor da identidade dependem
da relatividade da aplicação da propriedade, e.g., o mal é o mesmo que o bom, pois a
doença é má para o paciente, mas boa para o médico (Sexto Empírico, Protágoras 334a–
c.).
- É impossível dizer o que é falso, pois o que é falso não é o caso, e dizer algo envolve dizer
algo que é caso (Eutidemo 284a–c, Teeteto 188d–189a, Sofista 236e–237e).
- Pragmatismo oportunista: não existe um “verdadeiro” ou um “bem” absoluto, mas apenas
algo que é mais útil, mais conveniente e mais oportuno.
- Crátilo: um nome próprio expressa, por meio da sua etimologia, a natureza das coisas em
nomes, e que tem significância somente quando corretamente aplicada, mas é de outro
modo um mero som vazio. Portanto, não pode existir uma aplicação inadequada de um
nome e, consequentemente, uma afirmação falsa (Crátilo, 429d).
- Antístenes: cada coisa tem sua própria definição ou descrição, que não pode ser aplicada a
qualquer outra, a partir da qual novamente a impossibilidade da falsidade se segue
(Aristóteles, Metafísica 1024b32–4).
- Objeção de Demócrito: a tese de que toda aparência é verdadeira, a tese de que não é o
caso que toda aparência é verdadeira, que é ela mesma em acordo com a aparência é
verdade; assim a tese de Protágoras é auto-refutante. (Plutarco, Contra Colotes, 1108F;
Sexto, Contra os Matemáticos, VII.389–90; Laércio, Vidas e doutrinas dos filósofos
ilustres, IX.51, 80B6a)

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- O que quer que seja considerado justo e admirável em qualquer cidade particular é justo e
admirável naquela cidade, desde que a convenção seja mantida (Teeteto 167c).
- O objetivo de fortalecer o mais argumento mais fraco é independente do relativismo. Isso
não é a obrigação de todo advogado?
- Processa Evalto pelo não-pagamento de honorários. Evalto se recusa a pagar por não ter
vencido uma causa. Se Evalto perde ou vence, ele tem de pagar.
- Obras: ‘As Antilogias’, ‘Sobre os Deuses’, ‘Sobre as virtudes’, ‘Sobre a constituição’ e
‘Sobre o Estado das Coisas no Início’.

Górgias, “o Niilista” (ca. 485-380 a.C.)


- Natural de Leontinos, uma colônia grega na Sicília
- Foi discípulo de Empédocles.
- Teria vivido mais de cem anos.
- Conquistou uma riqueza considerável, suficiente para que ele encomendasse uma estátua
de ouro de si mesmo para um templo público e costurasse roupas com ouro.
- Mênon, um pupilo de Górgias, diz que o que ele mais admira sobre ele é que nunca afirma
ensinar a excelência, mas faz chacota daqueles que o prometem (Mênon, 95c).
- Górgias afirma que o que ele deve ensinar não é um sistema de valores, mas uma técnica
de persuasão, que é em si mesma livre de valor, mas é capaz de ser empregada para
quaisquer objetivos, bons ou ruins, são adotados pela pessoa que a dominou, assim como a
habilidade em artes marciais pode ser usada para fins bons ou ruins (Górgias, 456a–457c).
- Já tinha por volta de 60 anos quando, em 427 a.C., foi enviado a Atenas por seus
compatriotas na função de embaixador, chefiando um grupo que pediu pela proteção da
cidade contra a agressão dos siracusanos.
- Técnico em retórica (classificou diferentes figuras do discurso).
- Uma característica especial de suas aparições era a de ouvir questões da plateia sobre todos
os assuntos e respondê-las sem qualquer preparo.
- O político ou ‘retor’ consiste em ‘ser capaz de persuadir os juizes nos tribunais, os
conselheiros no Conselho, os membros da assembléia popular na Assembléia e, da mesma
forma, qualquer outra reunião que se realize entre cidadãos’.
- Teoria da arte: a arte é a moção de sentimentos, mas ao contrário da retórica, não visa a
interesses práticos, mas ao engano poético em si e por si. E tal “engano” é a pura ficção
poética. Quem engana, ou seja, o poeta, é melhor por sua capacidade criadora de ilusões
poéticas, e quem é enganado é melhor porque é capaz de captar a mensagem dessa
criatividade.
- Obras: Encômio de Helena, Defesa de Palamedes, Sobre a Não-Existência, Epitáfio, No
Momento Correto no Tempo.

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- Elas foram preservados através de uma obra chamada Technai, um manual de instrução
retórica, que consistia de modelos a serem memorizados, e demonstrava diversos
princípios da prática retórica.
- Os escritos de Górgias são tanto retóricos quanto performáticos; o autor faz grande esforço
para exibir sua habilidade de fortalecer uma posição argumentativa absurda.
Consequentemente, cada uma de suas obras defende pontos de vista que eram
impopulares, paradoxais e até mesmo absurdos.
- O diálogo de Platão chamado Górgias tenta mostrar que a retórica não satisfaz as
condições necessárias para que seja considerada uma técnica, sendo uma habilidade
perigosa, pois dá a um ignorante o poder de parecer ter mais conhecimento do que alguém
que efetivamente o tem.

Encômio a Helena de Tróia


- Ninguém pode resistir ao destino, aos feitiços de Afrodite, à persuasão ou ao amor.
- ‘Assim como diferentes drogas trazem à tona os diferentes humores do corpo - alguns
interrompendo uma doença, outros a vida - o mesmo ocorre com as palavras: algumas
causam dor, outras alegria, algumas provocam o medo, algumas instilam em seus ouvintes
a ousadia, outras tornam a alma muda e enfeitiçada com crenças más.’
- O texto é um encômio da própria retórica.

Sobre o que não é


- Sobre a não-existência ou Sobre a Natureza (nada existe; se algo existe não pode ser
conhecido; se pode ser conhecido não pode ser compartilhado)
- O ensaio defende uma posição impossível de ser defendida: que nada existe. Esse
argumento (um trilema) demonstra a sua habilidade de ser um mestre da oratória.
- Niilismo: nada existe.
- Parmênides: o ser existe e o não-ser não existe.
- Górgias: o não-ser existe e o ser não existe.

Nada existe
- Se algo existir, é eterno ou gerado.
- Se é eterno, não tem início, e assim é sem limite.
- Se é sem limite, não está em lugar algum, e assim não existe.

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- E se a existência é gerada, deve vir de algo, e esse algo é existência, o que é outra
contradição.
- Similarmente, a não-existência não pode produzir algo (B3.71).
- A existência não pode ser ‘um’ ou ‘muitos’, pois se fosse um, seria divisível, e portanto
não um.
- Se fosse muitos, seria um ‘composto de entidades separadas’ (B3.74) e não mais a coisa
conhecida como existência.

Se algo existe não pode ser conhecido


- coisas que existem só podem ser objeto do pensamento se os objetos do pensamento são
coisas que são;
- mas os objetos do pensamento não são coisas que são, pois caso contrário tudo o que
alguém pensasse existiria;
- Mas se as coisas consideradas na mente [imaginadas ou pensadas] não são existentes, o
existente não é considerado (B3.77), ou seja, a existência é incompreensível.
- Logo, o existente não é um objeto de consideração e não é apreendido (B3.82), ou seja,
não podemos formar um conceito do existente.

Se algo pode ser conhecido, não pode ser compartilhado


- Mesmo se a existência pudesse ser apreendida, seríamos incapazes de comunicá-la
(B3.83).
- O que comunicamos não é uma substância externa, mas é meramente o que é dito.
- O que é dito não é substância e coisas existentes (B3.84).
- cada sensação individual é privada e tudo o que podemos passar a nossos semelhantes são
palavras e não experiências;
- Não podemos comunicar a ideia de cor por meio de palavras visto que o ouvido não ouve
cores, mas somente sons.
- ‘Como é que alguém poderia expressar com a palavra aquilo que vê? Ou como é que isso
poderia tornar-se manifesto para quem o escuta sem tê-lo visto? Com efeito, assim como a
vista não conhece sons, igualmente o ouvido não ouve as cores, mas os sons; e diz o certo
quem diz, mas não diz uma cor nem uma experiência.’
- A cor branca vai da propriedade da coisa para uma representação mental, e a representação
é diferente da coisa em si mesma.

Réplicas aos argumentos

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- O primeiro argumento é refutado por Platão em Sofista (o ser abrange tudo o que é
mutável e tudo o que está em mutação)
- O segundo argumento é uma falácia de pensar que “Nem todos A serem B” implica que
“Nenhum B seja um A”. Exep: “Nem todos os nadadores são corredores. Logo, nenhum
corredor é um nadador.”
- O terceiro argumentado foi criticado por Wittgenstein, no séc. XX. Há critérios públicos
para os usos de expressões de estados mentais. Obedecer uma regra é uma prática. E
pensar que está obedecendo uma regra não é uma regra. Assim, não é possível obedecer
uma regra de modo privado: caso contrário, pensar em obedecer uma regra seria o mesmo
que obedecê-la.

Defesa de Palamedes
- Górgias apresenta um método para compor argumentos lógicos, éticos e emocionais a
partir da possibilidade, que são similares a aqueles descritos por Aristóteles na Retórica.
- Como argumentos plausíveis podem colocar verdades convencionais em dúvida.
- Na Defesa, apresenta a argumentação de Palamedes, que na mitologia Grega, é
reconhecido como tendo inventado o alfabeto, as leis escritas, os números, a armadura, as
medidas e os pesos.
- Com firme lógica jurídica, Górgias argumenta que Palamedes não podia ter traído os
gregos e, se pudesse, não teria querido, e que era impossível provar o que não aconteceu.
- Ao participar dos preparativos da guerra de Tróia, Palamedes desmascarou Ulisses, que se
fingia de louco para não participar da expedição. O príncipe grego o encontrou semeando
sal em um campo que arava com uma junta composta por um jumento e um touro.
Palamedes pegou Telêmaco, filho de Ulisses, e o colocou na frente do arado.
- A reação imediata de Ulisses para salvar o filho provou que ele não estava tão louco e,
mesmo renitente, o herói teve de se juntar à frota que zarpou para Tróia. Ulisses nunca lhe
perdoou essa intervenção e dali por diante ficou arquitetando como iria se vingar.
- Ulisses, para se vingar, produziu uma carta supostamente enviada por Príamo, rei dos
troianos, a Palamedes, escrita por coação por um prisioneiro troiano, para fazer crer que
Palamedes era um traidor. Ulisses o acusou então de conivência com o inimigo e, para
reforçar sua denúncia, escondeu ouro, preço da traição, na tenda de Palamedes. Quando o
ouro foi descoberto, Palamedes foi condenado à morte pelo conselho de guerra e
apedrejado injustamente.
- A traição requer: comunicação entre Palamedes e o inimigo, troca em forma de reféns ou
dinheiro, e não ser detectado pelos guardas ou cidadãos.
- Palamedes afirma que uma pequena soma de dinheiro não teria garantido tamanha
maquinação e afirma que uma grande quantidade de dinheiro exigiria a ajuda de muitos
confederados para que fosse transportado.

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- Palamedes raciocina além disso que essa troca nunca poderia ter acontecido de noite, pois
os guardas estariam vigiando, nem de dia, pois todos seriam capazes de vê-la.
- Essa ação exigiria comparsas. Se eles fossem livres, eles se sentiriam livres para apresentar
qualquer informação que tivessem; se fossem escravos, haveria o risco de acusarem
voluntariamente para obter a liberdade, ou acusá-lo por força quando torturado. Por isso,
escravos não são confiáveis.
- Um motivo para a traição exigiria status, riqueza, honra, e segurança, e Palamedes carecia
de qualquer um desses motivos.

Pródico de Céos (c. 465-395 a.C)


- Viveu na mesma época de Protágoras e Hípias.
- Crê-se que Pródico foi discípulo de Protágoras e mestre de Teramenes, Eurípedes e
Tucídides.
- Um linguista, mais interessado em semântica do que gramática. Supostamente escreveu
um tratado Sobre a correção dos nomes.
- Uma técnica que propunha baseava-se na sinonímia, ou seja, na distinção entre os vários
sinônimos e na determinação precisa das nuanças de seu significado.
- Pródico teria produzido uma grande obra, ‘As Estações’, composta por uma seção
intitulada Da Natureza. Esta secção dividia-se em duas partes, tratando uma Da Natureza
do Homem. Obra que incluiria uma fábula sobre Hercules. O título desta grande obra de
Pródico é enigmático, pois pode traduzir-se ‘Horai’ por ‘As Horas’, que eram em Céos as
deusas da fecundidade, ou por ‘As Estações’.

A Ética Heróica de Pródico


- Propôs uma reinterpretação do célebre mito representando Hércules na encruzilhada, ou
seja, diante da escolha das personificações da virtude e do vício. Nessa reinterpretação, a
virtude é apresentada como o meio mais idôneo para alcançar a verdadeira ‘vantagem’ e a
verdadeira ‘utilidade’ .
- Aí surgiram duas mulheres exaltando cada qual um género de existência: um dedicado à
procura da volúpia e outro dedicado à procura da excelência. A primeira via é atraente e
fácil, a segunda exige um esforço contínuo em todos os domínios e é recompensada na
terra por bens sólidos e duradouros.
- As duas vias estão orientadas para a felicidade, mas a primeira sob a forma do prazer
sensível imediato, a segunda sob a forma de alegria racional.
- A excelência não é a aquisição fácil, mas sim a exaltação da dor e do esforço, necessárias
para ultrapassar as provas impostas que conduzirão à felicidade.
- Hércules decide pela virtude.

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Teoria da religião
- Uma teoria sobre a origem da religião: o culto aos deuses personificado em fenômenos
naturais é um culto àquilo que é importante para a sobrevivência, sobretudo na agricultura
(Laércio, Vidas e Doutrinas, 84B5).
- A religião era a personificação dos objetos naturais que eram necessários ao Homem.
- Os deuses são a hipostatização (isto é, a absolutização) do útil e do vantajoso.
- Obras: Epideixeis, As Estações.

Hípias de Elis
- Dava aulas de matemática, astronomia, música, história, literatura e mitologia, assim como
ensinava os talentos práticos de alfaiate e sapateiro.
- Era conhecido por ter conhecimento enciclopédico e por ter ensinado a arte da memória
(mnemotécnica).
- Nos Jogos Olímpicos, Hípias deu discursos em qualquer tópico que foi proposto e
respondeu quaisquer perguntas que lhe foram colocadas (Hípias Menor, 363c),
- Como alguém pode levar o direito a sério quando as mesmas pessoas que inventam as leis
as substituem por outras?
- Hípias é o primeiro a defender a noção de direito natural. O direito natural nunca deve ser
superado, pois é universal. O direito natural era uma entidade habitual da qual seres
humanos fazem parte sem premeditação e é comum em todos os povos.
- Pensava que o conhecimento da natureza fosse indispensável para a boa conduta na vida, a
qual deve seguir justamente as leis da natureza, mais que as leis humanas.
- A natureza une os homens, enquanto a lei frequentemente os divide. Portanto, desvaloriza-
se a lei quando e a medida que se opõe a natureza.
- Ideal cosmopolita: não tem sentido as discriminações das leis positivas que dividem os
cidadãos de uma cidade dos cidadãos de outra, ou que dividem os cidadãos dentro da
mesma cidade.
- Ele considerou a elite em estados como indistinguíveis uns dos outros e assim deveriam
ser considerados como parte de uma sociedade de um estado unânime.
- A auto-suficiência. É importante adquirir conhecimento em vários assuntos de modo a
nunca ser vencido em uma disputa ou ter sua reputação questionada
- Fontes: Hípias Maior (sobre o belo), Hípias Menor (sobre a mentira), Suda (enciclopédia
escrita em Constantinopla, do século X)

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Antifonte, o Sofista (470-411 a.C)
- Tratado “Sobre a Verdade”.
- em público, devemos obedecer as leis convencionais, mas sozinhos devemos obedecer as
leis da natureza;
- a repressão significa dor, enquanto que a natureza (natureza humana) evita a dor.
- as leis convencionais contradizem as leis naturais, o que faz com que “as pessoas sofram
mais dor quando menos é possível, tenha menos prazer quando mais é possível”
- “A maioria das coisas que são legais, apenas são [no entanto] ... inimigas da natureza. Por
lei, ficou estabelecido para os olhos o que eles devem, ou não ver, para os ouvidos o que
eles devem, ou não ouvir, para a língua, o que ela deve, ou não falar, para as mãos o que
devem, ou não fazer ... e para a mente o que deve, ou não desejar.”
- “Aqueles que nasceram de pais ilustres nós respeitamos e honramos, enquanto que aqueles
que vêm de uma casa medíocre nós nem respeitamos nem honramos. Assim nós nos
comportamos como bárbaros uns para com os outros. Por natureza, nós todos somos
iguais, tanto os bárbaros, quanto os gregos, têm uma origem inteiramente semelhante: para
ela é apropriado realizar as satisfações naturais, que são necessárias a todos os homens:
todos têm a capacidade de realizar estas, da mesma forma, e em tudo isto nenhum de nós é
diferente, quer como bárbaros, ou como gregos; já que todos nós respiramos o ar pela boca
e narinas e todos nós comemos com as mãos.”

Crítias (460-403 a.C.)


- nascido em Atenas, tio de Platão e um dos membros do grupo de Trinta Tiranos que
governaram a cidade, dos quais era um dos mais violentos.
- Foi filho de Dropidas I e irmão de Dropidas II e discípulo de Sócrates, fato que não
ajudava Sócrates a ter uma imagem melhor junto ao público.
- Foi assassinado pelos democratas.
- Ele assumiu o lado da convenção no debate convenção-natureza: “A vida humana foi uma
vez sem ordem, no nível das bestas, sujeita à força; não havia recompensa pelo bem ou
punição pelo mal. Então as pessoas estabeleceram leis como justiceiras, de modo que a
justiça pode ser a governante suprema sobre todos igualmente, e fazer a violência a sua
escrava”. [semelhanças com Hobbes]
- Manteve que o conceito dos deuses foi um espantalho habilmente introduzido por um
homem político particularmente inteligente, para fazer respeitar as leis, que, por si, não
têm força para se impor, sobretudo naqueles casos em que os homens não são vistos pelos
guardiões da lei.

Cálicles (diálogo “Górgias”)

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- Um jovem aristocrático ateniense, que pode ter sido uma figura histórica real ou uma
criação da imaginação de Platão;
- Os pressupostos da retórica levam ao apelo ao direito natural do mais forte.
- A moralidade convencional foi inventada pelos fracos para se protegerem contra os fortes,
inibindo os últimos de fazer o que pela natureza eles têm o direito de fazer, que é usar os
inferiores por sua conveniência.
- As normas genuínas são aqueles exemplificadas pelas bestas, que se comportam de acordo
com o que a natureza dita.
- Expressa desprezo pelos sofistas, mas expressa ideias em comum;
- Um moralista invertido, que mantém que aquilo que é correto fazer é o que é
convencionalmente errado fazer. As normas legítimas são aquelas que prevalecem na
natureza, como é demonstrado por feras de rapina, aqueles que agem de acordo com essas
normas fazem isso em acordo com a natureza da justiça, a lei da natureza, mas não de
acordo com as nossas leis (Platão, Górgias, 483e).

Trasímaco (diálogo “República”)


- O tirano supera as restrições da moralidade convencional para asserir a si mesmo;
- Uma vida de auto-afirmação é a suprema felicidade.
- Só há moral convencional, e essa não possui autoridade.

Eveno, de Paros
Eveno afirma explicitamente ensinar excelência humana e política, sucesso na vida pessoal e
nos negócios públicos. Ele é conhecido primariamente como um poeta, embora tenha feito
contribuições para a teoria retórica, segundo Platão (Fedro, 267a).

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