Você está na página 1de 10

Fisioterapia – Análise cinesiológica da marcha

ANÁLISE CINESIOLÓGICA DA MARCHA

1. A MARCHA

A marcha pode ser conceituada como a sequência de eventos reflexos, compondo


movimentos altamente complexos, que uma vez aprendido torna-se subconsciente.
Esse ciclo de movimentos é influenciado por um conjunto multifatorial considerado
determinante no seu padrão, que resulta da interação ou do processo de
organização própria de sistemas neurais e mecânicos.
O padrão de marcha adotado pelos indivíduos é determinado com o sentido de
minimizar o dispêndio energético, estando diretamente relacionado ao trabalho
realizado sobre o centro de gravidade.

2. CICLO DA MARCHA

O ciclo da marcha é o período entre o momento em que o calcâneo toca o solo e


o próximo impacto do calcâneo do mesmo membro. Ele pode ser subdividido em
duas fases:

A fase de apoio consiste no período em que o pé se encontra em contato


com o solo, podendo ser classificada em apoio unipodal ou bipodal. A fase de

2
Fisioterapia – Análise cinesiológica da marcha

apoio é, ainda, subdividida nas seguintes subfases:

a. Contato inicial (toque do calcanhar);


b. Resposta à carga (aplainamento do pé);
c. Apoio médio;
d. Apoio terminal (retirada do calcanhar);
e. Pré-balanço (retirada dos dedos do solo);

A fase de balanço, por sua vez, é aquela em que o pé de referência não se encontra
apoiado no solo. Esta fase pode ser subdividida em:

a. Balanço inicial (aceleração);


b. Balanço médio;
c. Balanço terminal (desaceleração).

Figura: Ciclo da marcha.

Fonte: https://www.portaldoenvelhecimento.com.br/a-marcha-nos-idosos/36-
texto-36-marcha-idosos-2/ (acesso em 19/06/19).

3
Fisioterapia – Análise cinesiológica da marcha

3. TERMOS IMPORTANTES

Para o entendimento do ciclo da marcha, alguns termos são importantes e merecem


destaque em nosso estudo:

a. Comprimento da passada: distância percorrida entre o impacto do pé e um


novo impacto do mesmo pé;
b. Comprimento do passo: distância que vai do calcâneo de um pé ao calcâneo
do outro pé durante a fase de apoio duplo dos pés. O comprimento do passo
corresponde a metade do comprimento da passada.
c. Cadência: número de passos por minuto. O normal é de 70 a 130 passos por
minuto. Com o aumento da idade, observamos uma queda da cadência;
d. Velocidade da marcha: velocidade de movimento em uma mesma direção,
sendo mensurada em cm/s.

É importante salientarmos que essas medidas variam de acordo com a idade,


gênero, altura, nível de fadiga, presença de dor e/ou comorbidades.

Figura: Passo e passada.

Fonte: https://questoesdefisiocomentadas.wordpress.com/tag/passo-e-passada/
(acessado em 19/06/19).

4. PARÂMETROS NORMAIS DA MARCHA

a. Largura da base: a largura normal da base é de 5 a 10cm. Bases alargadas


estão associadas a patologias cerebelares ou sensoriais (exemplo: ataxia

4
Fisioterapia – Análise cinesiológica da marcha

cerebelar, tabes dorsalis, dentre outros); Bases reduzidas ou cruzadas, por sua
vez, reduzem o equilíbrio do indivíduo, e estão associadas a patologias como a
paralisia cerebral.
b. Apoio dos pés: o apoio dos pés é observado durante o apoio e a marcha, sendo
mensurado pelo Ângulo de Fick (os pododáctilos desviam lateralmente de 5º a
18º).

Figura: Ângulo de Fick.

Fonte: http://dicasfisio.com/tag/angulo-de-fick/ (acessado em 19/06/19).

5. DETERMINANTES BÁSICOS DA MARCHA

Alguns determinantes básicos da marcha devem ser levados em consideração:

a. Rotação pélvica: a pelve roda no plano horizontal 4º para frente no membro


do balanço e 4º para trás no membro do apoio, com uma magnitude total de 8º.
No quadril, há rotação medial no lado da oscilação e rotação lateral no apoio;
b. Inclinação pélvica: inclina-se para baixo no lado oposto ao de apoio, com uma
média de 5º;
c. Posição do joelho: ocorre um período do bloqueio duplo do joelho; A média de
movimentação é de 15º;
d. Movimentos combinados do tornozelo e joelho;
e. Movimentos dos membros superiores: encurtam o braço de movimento da
alavanca, tornando o movimento mais rápido;

5
Fisioterapia – Análise cinesiológica da marcha

6. ATIVIDADE MUSCULAR

O ciclo da marcha é uma sequência complexa de diversos movimentos combinados,


os quais requerem ativações musculares diversas ao longo do ciclo.

FIGURA: ATIVAÇÕES MUSCULARES NO CICLO DA MARCHA.

7. DISPOSITIVOS AUXILIARES DA MARCHA

Os dispositivos auxiliares da marcha (DAM) são dispositivos terapêuticos


utilizados para facilitar e auxiliar a marcha, auxiliando indivíduos com problemas
de equilíbrio, dor, fadiga, fraqueza muscular e instabilidade postural.
Esses dispositivos estão presentes em programas de prevenção de quedas, visto
que melhoram a independência funcional, mobilidade, equilíbrio e base de suporte,
além de reduzir os efeitos de uma ampla gama de deficiências.

6
Fisioterapia – Análise cinesiológica da marcha

Abordaremos, agora, os diversos tipos de dispositivos detalhadamente:

a. Bengala: a bengala serve para aumentar a base de apoio, melhorando, assim,


o equilíbrio. Sua utilização se dá na mão oposta ao membro afetado (padrão
recíproco da marcha normal), a fim de diminuir a sobrecarga na musculatura do
quadril (de 20 a 25% do peso corporal), diminuir a compressão das articulações
se favorecer o paciente em situações como subir e descer escadas.

Figura: Tipos de bengalas.

Fonte: https://www.tuasaude.com/como-usar-a-bengala-corretamente/
(acessado em 21/06/19).

Mensuração da bengala: a altura deve ser a partir do trocânter maior, de modo


que a ponteira distal deve estar 15 cm a frente e ao lado e os cotovelos devem
permanecer entre 20 a 30º de flexão.

FIGURA: UTILIZAÇÃO CORRETA DA BENGALA.

Fonte: https://fwa.com.br/dicas/dicas-bengalas-como-usar-e-modelos/ (acesso


em 21/06/19).

7
Fisioterapia – Análise cinesiológica da marcha

b. Muletas: são úteis para indivíduos que necessitam usar seus membros superiores
para sustentação de peso e propulsão. Com elas, a marcha ganha o aspecto do
tipo mergulho, sendo indicada na incapacidade de descarregar completamente
o peso nos membros inferiores por fratura, dor, amputação ou pós-operatórios.
Essa transferência de peso para os MMSS permite a deambulação funcional e,
ao mesmo tempo, mantém uma situação de sustentação de peso restrita.

As muletas, em geral, são utilizadas bilateralmente. Apresentam-se, ainda, em


três modelos distintos:

• Muletas axilares;
• Muletas de antebraço ou Lofstrand (Canadenses);
• Muletas de descarga de peso antebraquial.

Mensuração das muletas: devem situar-se 2 a 3 dedos abaixo da axila até um


ponto cerca de 15-20 cm afastado lateralmente do pé. As mãos devem estar
posicionadas; A flexão de cotovelo deverá ser de cerca de 30º.

FIGURA: POSICIONAMENTO DA MULETA

Fonte: http://indaiabengalas.blogspot.com/2011/04/muletas-recomendacoes-de-
uso.html (acesso em 21/06/19).

8
Fisioterapia – Análise cinesiológica da marcha

A marcha com o uso das muletas pode ocorrer de três diferentes formas:

• Marcha de 2 pontos:

• Membro superior e inferior contralateral avançam simultaneamente;


• Movem-se a muleta direita e o pé esquerdo ao mesmo tempo, em
seguida, a muleta esquerda e o pé direito.

• Marcha de 3 pontos

• Membro inferior sem sustentação de peso;


• Avança as duas muletas e depois dá o salto com o membro não-
afetado.

• Marcha de 4 pontos

• A muleta avança e depois o membro inferior contralateral;


• Move-se apenas uma muleta ou uma perna de cada vez, mantendo
três pontos em contato com o solo em todos os momentos.

c. Andador: Fornecem 3 a 4 pontos de contato com o solo. Melhoram o equilíbrio


por aumentar a base de suporte. Além disso, aumenta a estabilidade anterior
e lateral, bem como o suporte de peso. A principal vantagem do andador é
permitir o maior senso de segurança às pessoas que apresentam medo de cair
ao andar.

Existem 5 tipos de andadores:

1. Articulado;
2. Fixo;
3. Com rodas dianteriras;

9
Fisioterapia – Análise cinesiológica da marcha

4. Com quatro rodas;


5. Com três rodas.

Os quatro apoios devem ser transferidos e posicionados simultaneamente,


evitando o balanço dos apoios ou o deslizamento anterior do andador.

REFERÊNCIAS:

GLISOI, Soraia Fernandes das Neves et al. Dispositivos auxiliares de marcha:


orientação quanto ao uso, adequação e prevenção de quedas em idosos. Geriatrics,
Gerontology and Aging, v. 6, n. 3, p. 261-272, 2012.

SCHMITZ, T. J. Treinamento de marcha com dispositivos auxiliares. O’Sullivan SB;


Schmitz TJ. Fisioterapia: Avaliação e tratamento, p. 337-40, 1993.

10

Você também pode gostar