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Trabalho docente
na pandemia
Confira relatos de professores,
gestores e especialistas sobre
os desafios enfrentados no
trabalho remoto e sugestões de
como aproveitar os aprendizados
adquiridos para planejar o futuro
Índice
1. Gestão escolar: como apoiar a
saúde mental da equipe .................... 4
2. Adaptações e aprendizados
durante o ensino remoto ..................27
3. Os desafios com alunos que não
têm acesso à internet ...................... 50
4. Planejamento: como montar
o quebra-cabeça das atividades
semipresenciais .................................. 71
3
André Asahida
1. Gestão escolar:
como apoiar a saúde
mental da equipe
Ações centradas no suporte emocional
e no acolhimento são essenciais para
Imagem: Gettyimages
5
Uma pesquisa realizada pelo
Instituto Península ao longo de todo
o ano de 2020, iniciada logo após o
fechamento das escolas e o começo
do ensino remoto emergencial,
ajuda a vislumbrar as emoções e
os sentimentos que afloraram nos
educadores durante esse período de
pandemia – e, consequentemente,
a entender a necessidade de
cuidado mencionada pela vice-
diretora Sonia. Os pesquisadores
ouviram mais de 7 mil professores
das redes estadual, municipal e
particular em quatro diferentes
momentos, conseguindo captar as
percepções iniciais do fechamento
das escolas, os momentos
intermediários da adaptação e, no
fim do ano passado, o início de
algumas retomadas graduais.
6
Entre os resultados, chama atenção
o fato de que, em maio de 2020,
pouco mais de um mês após a
interrupção das aulas presenciais,
67% dos professores se consideravam
ansiosos, enquanto aqueles que se
sentiam cansados e sobrecarregados
chegavam, respectivamente, a 36%
e 35% do total de entrevistados.
Passados alguns meses, já no
estágio final da pesquisa, em
novembro, a porcentagem de
ansiosos apresentou queda, apesar
de ainda ser significativa, ficando
em 58%. No entanto, a proporção de
educadores que se julgavam cansados
e sobrecarregados aumentou para
53% e 57%, respectivamente.
Problemas preexistentes
Embora os impactos da covid-19
tenham afetado fortemente a saúde
mental dos professores, o excesso 8
de trabalho e o estresse já faziam
parte da rotina de grande parte
dos docentes. O psicólogo Cloves
Amorim, doutor em Educação e
professor do curso de Psicologia
da Pontifícia Universidade Católica
do Paraná (PUCPR), aponta que,
desde os anos 1990, pesquisas
acadêmicas já indicavam questões
envolvendo a saúde mental dos
educadores de escolas públicas.
“Anteriormente à pandemia, os
estudos mostravam que um dos
problemas que afetavam a saúde
mental desses professores era, por
exemplo, a precarização dos salários,
o que leva a excessivas cargas de
trabalho, como lecionar nos períodos
da manhã, da tarde e da noite em
diferentes instituições. A sobrecarga
de trabalho, por consequência, 9
resulta em uma precarização da
própria qualidade de vida dos
docentes. Além disso, muitos também
tinham de lidar com condições
difíceis, e até mesmo violentas, no
ambiente escolar”, diz o especialista,
que também é pesquisador e trabalha
especificamente com estresse e
síndrome de burnout em professores.
Realizadas as desafiadoras
adaptações para o ensino remoto
emergencial, o especialista salienta as
preocupações advindas desse “novo
mundo” mediado agora por telas.
“O trabalho remoto está trazendo a
chamada ‘fadiga do zoom’, decorrente
de ficar o dia todo olhando e
trabalhando com telas”, ressalta. 11
“Outra questão é que muitos alunos
não têm acesso aos equipamentos
adequados, o que tem trazido
outra variável, que é a ‘fadiga por
compaixão’. O professor pensa ‘meu
aluno está longe da escola, eu quero
ajudá-lo, mas não tenho como’”.
12
“Havia uma desmotivação
generalizada”
A vice-diretora Sonia, da
Gianfrancesco Guarnieri, que recebe
alunos do Ensino Fundamental 1, e
toda a equipe gestora perceberam
logo no início da pandemia que
deveriam investir nesse cuidado com
os educadores. “Estava todo mundo
estressado, porque era um desafio
lidar com tecnologia para quem
estava acostumado com a sala de
aula. Eles não sabiam o que fazer, e
isso mexeu muito com o emocional”,
lembra. “Havia uma desmotivação
generalizada. Então, nós decidimos
fazer uma formação para trabalhar
com os sentimentos, para que eles
pudessem expor o que estavam
sentindo e alguma coisa aflorar daí”.
13
A preocupação com a parte
emocional de professores e alunos
já era algo que fazia parte da
experiência de Sonia que, desde
2010, busca parcerias e formações
apoiadas pela Associação pela Saúde
Emocional das Crianças (ASEC). Ao já
ter passado por capacitações, como
a do programa Amigos do Zippy, que
visa auxiliar crianças a reconhecerem
suas emoções, e o Promover para
Prevenir, focado em saúde mental nas
escolas, a vice-diretora conseguiu
desenvolver na Gianfrancesco
Guarnieri uma iniciativa totalmente
focada nas emoções dos educadores.
21
Sinais de alerta para
uma intervenção
23
A força da comunidade
25
26
André Asahida
2. Adaptações e
aprendizados durante
o ensino remoto
Quatro professoras da rede pública
contam os desafios enfrentados ao
Imagem: Gettyimages
30
Jornada tripla e
necessidade de se adaptar
Trabalhar de casa não significa
que todo o período do dia deve ser
ocupado pelo serviço. No entanto,
foi o que aconteceu com Alexandra
Alves Brandt, professora de 2º
ano na Escola Municipal de Ensino
Fundamental Núcleo Habitacional
Getúlio Vargas, em Pelotas (RS).
Segundo Alexandra, o que eram dois
turnos (aulas de manhã e à tarde)
se tornaram três. "Trabalho até de
madrugada. Eu respondo quando
eles me mandam mensagem, porque
entendo que é o único horário
que têm acesso. Se não há esse
retorno, desistem". Além de estar
disponível quase 24 horas por dia, a
professora diz que também manda
31
mensagem diariamente para todos
os alunos. "A gente vai insistindo,
tenta abraçar e trazer para o
contexto da escola, para tentar
envolver e chegar na aprendizagem".
Uso de equipamentos
e conexão
Outro problema relatado pelos
educadores diz respeito ao uso de
recursos tecnológicos para conseguir
trabalhar de forma remota. "Eu
tenho uma estrutura pessoal que me
permitiu trabalhar com qualidade,
mas a gente precisou arcar com
esses gastos", afirma a professora
Nina, de Macaé (RJ). Ela conta que, 34
recentemente, os professores da sua
rede receberam um auxílio para a
compra de equipamentos no valor
de R$ 1,5 mil. Atualmente, parte
de sua carga horária acontece de
forma presencial na escola para o
atendimento dos alunos em formato
de plantão de dúvidas, e o restante
da jornada é realizado em casa.
"Quando estou na escola consigo usar
a internet de lá e não gastar a minha".
Novas necessidades
da profissão
Na rede em que ela atua, cada
professor escolheu a estratégia
de aulas que adotaria. Nina optou
por oferecer, para quem tinha 36
acesso, encontros semanais pelo
Google Meet. Especialmente na sua
área de Humanas, ela avalia que
são esses momentos virtuais que
funcionam melhor, por permitirem
interagir, dar explicações adicionais
e debater. Além disso, ela também
disponibiliza horários de plantão
de dúvidas via WhatsApp.
Os aprendizados para
o pós-pandemia
As quatro professoras concordaram
que tiveram aprendizados valiosos
que não podem se perder no pós-
pandemia. Entre estes, o uso das
tecnologias a favor da aprendizagem.
Para Alexandra, é importante
não apenas continuar usando as
tecnologias, mas utilizá-las com
intencionalidade pedagógica. "Os
alunos são nosso foco, fazemos tudo
pensando neles. Podemos aproveitar
esses recursos que aprendemos para 42
chegar aonde queremos", afirma. Nina
aponta que “é preciso estruturar as
escolas com internet [de qualidade]
e equipamentos para que os
professores continuem utilizando os
recursos que aprenderam a usar".
45
O que as pesquisas
dizem sobre o trabalho
docente durante
a pandemia?
Além de compreender o
comportamento e percepção
das famílias e alunos,
levantamentos investigaram a
experiência dos professores
48
André Asahida
49
3. Os desafios com
alunos que não têm
acesso à internet
Três professoras de escolas
públicas relatam as estratégias
que usaram para contornar a falta
Imagem: Gettyimages
de tecnologia e conectividade, o
que funcionou nesse processo e
os aprendizados que tiveram
Victor Santos | 21 de Julho de 2021 50
“Aqui em Medicilândia, no estado
do Pará, nós estamos em uma
cidade muito pequena, distante
[916 quilômetros] da capital Belém.
Então, quando as escolas fecharam
e se falou em ‘ensino remoto’ ou
‘ensino híbrido’, foi um susto muito
grande para os professores. Ficava
a pergunta: será que vai dar certo
aqui no interior, onde a internet não
funciona muito bem e nem todos
os alunos têm esse acesso?”.
Atividades impressas
e o apoio do WhatsApp
Depois das preocupações iniciais
com a necessidade súbita de uso
de ferramentas digitais, ainda
mais para a realidade das escolas
localizadas no interior do país, a
professora paraense Marineide
relata que muito trabalho se seguiu
conforme a pandemia se espalhava
pelo Brasil. No caso da sua escola,
o foco principal foi a consolidação
de um esquema de produção e
envio de materiais para que as aulas
continuassem de alguma maneira.
56
Para além dessas questões logísticas,
a professora também precisou,
em conjunto com a equipe da
escola, dedicar especial atenção às
propostas de atividades, equilibrando
os conteúdos necessários e
aqueles passíveis de serem
feitos remotamente. “Alguns pais
questionavam se estavam fazendo
o papel do professor. Não era isso,
e a gente orientava e explicava o
que deveria ser feito”, relembra a
educadora. “Nas aulas de Artes, por
exemplo, tentamos ajudar os pais
a compreenderem que dentro de
casa há várias formas geométricas.
Também passamos orientações
para um trabalho com tinta guache
e usando coisas que há no quintal,
como folhas e borboletas”.
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Além dessas explicações
detalhadas, foi preciso investir
em um trabalho em conjunto com
outros componentes curriculares
e na exploração dos recursos que
eram possíveis. “No desafio das
avaliações a distância, tentamos
ajudar um pouco os professores
de Língua Portuguesa, trabalhando
com Teatro e Literatura junto com
Artes, em exercícios que pedíamos
para que contassem a história da
peça em formato de desenho”,
relata Marineide. “Também trabalhei
muito com áudio. Percebi que
ajudava mais as crianças do que o
vídeo, que ainda ocupava muito a
memória dos celulares das famílias.
Deu muito certo, e as próprias
crianças começaram a me responder,
com dúvidas do tipo ‘como se faz
isso?’ e mensagens como ‘estou 58
com saudade’. Ter a ‘voz’ em meio
às explicações ajudou muito”.
Combinação de estratégias
on-line e off-line
Na pequena cidade de Iperó (SP),
que fica a 127 quilômetros da capital
paulista, a Escola Municipal Professor
Roque Ayres de Oliveira está
localizada entre as áreas urbana e
rural e atende alguns estudantes que
possuem conexão limitada à internet.
Com a interrupção das atividades
presenciais em 2020, a solução
encontrada pela escola também foi
conciliar estratégias on-line e off-line.
Elaboração cuidadosa
do material e devolutivas
Essas dificuldades ao lecionar
Educação Física também apareceram
no dia a dia da professora Rosemeire
Ferreira dos Santos Aoki, que
trabalha com alunos da Educação
Infantil e do Ensino Fundamental
1 na Escola Municipal Olinda Dias
Pereira, em Sarandi (PR), e na Escola
Municipal Dr. Eurico Jardim Dornellas
de Barros, em Marialva (PR). “Eu 62
pensava em como poderia passar
uma atividade em que o aluno não
correria o risco de se machucar.
Porque, no presencial, eu estava ali
o tempo inteiro de olho”, salienta.
Descobertas
e aprendizados
ao longo do processo
Apesar das muitas complexidades
envolvidas desde o estabelecimento
do ensino remoto emergencial,
Rosemeire ressalta algumas
experiências interessantes das
devolutivas. “Para os alunos que têm
um pouco mais de acesso, tenho
observado, principalmente em relação
às crianças do Infantil, que elas
amam as aulas de Educação Física
pelo WhatsApp. É muito bom receber
os vídeos com as atividades e ver
que os pais também participaram”.
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A professora Marineide, de
Medicilândia (PA), também destaca
as boas surpresas que teve.
“Fiquei impressionada como alguns
alunos, que no presencial tinham
dificuldades, deram um show nas
devolutivas em áudio, fotos ou
vídeo”, recorda. “Por aqui, nós
temos muita argila, então propus
atividades remotas de Artes
envolvendo esse material. Vieram
algumas devolutivas incríveis que
me surpreenderam muito”.
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Off-line ou baixa
conectividade: dicas de
atividades e práticas
Selecionamos conteúdos de NOVA
ESCOLA para ajudar nas situações
pedagógicas em que os alunos
têm acesso limitado à internet
e a recursos tecnológicos
Reportagens:
Do rádio ao podcast:
o áudio na Educação
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70
André Asahida
4. Planejamento: como
montar o quebra-
cabeça das atividades
semipresenciais
Aprendizagem colaborativa,
uso de metodologias ativas
e otimização dos momentos
Imagem: Gettyimages
O desafio de superar
defasagens e engajar
os alunos na retomada
gradual
Na Escola Municipal Prefeito Leonardo
Reale, em Ilhabela (SP), Sueli Antunes
é professora de uma turma do
2º ano do Ensino Fundamental e,
desde fevereiro, está trabalhando
de forma presencial. A turma foi
dividida em três grupos. Os alunos
que estão frequentando a escola
presencialmente intercalam os dias,
isto é, vão um e ficam dois em casa.
Quando vão à escola, eles trazem
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as atividades impressas para os dois
dias que permanecerão em casa.
"São propostas que complementam
o trabalho em sala de aula", explica
a educadora. Sueli reserva também
um tempo para atender as famílias
e tirar dúvidas sobre as atividades.
Apenas um dos aluno da turma
permaneceu 100% no formato remoto.
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escalonamento é semanal. Quem está
de forma remota realiza as atividades
que são enviadas por WhatsApp.
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conforme aponta Edson Modesto,
professor de Ciências, Física e
Química na Escola Estadual Vitalina
Maria de Jesus, em Araripina (PE).
O que muda no
planejamento?
No caso da professora Leda Nardi,
que dá aula de História para turmas
de Ensino Fundamental 2 na rede
pública de São Luiz do Paraitinga
(SP), a experiência do retorno foi
curta. A escola permaneceu aberta
por apenas duas semanas, por causa
do agravamento da pandemia no
município. Nesse período, aproveitou
parte do tempo em sala de aula
com os alunos para fazer dinâmicas
de acolhimento e escuta. “Pedi
que escrevessem uma carta sobre
a experiência da pandemia e do 79
isolamento social como uma forma
de criar um documento histórico",
explica. "Eles relataram perda de
parentes, fome, medo, desemprego.
Senti a necessidade de cuidar
do emocional", complementa.
Novas estratégias
para o contexto híbrido
Uma solução utilizada pela professora
Flávia, para aumentar o engajamento
da turma, foi transmitir parte da
aula presencial pelo Google Meet
para quem está em casa. "Era uma
turma que não dava devolutiva.
Antes havia uma participação de
60% dos alunos, hoje são mais de 82
90%", conta. Com esse aumento do
engajamento, a professora avalia
que a aprendizagem deve melhorar.
Atualmente, a turma está dividida
em cinco grupos, de modo que cada
aluno vai à escola uma vez por
semana. No entanto, quem não têm
acesso à internet pode ir mais vezes.
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“O estudante é protagonista do
próprio conhecimento, eu ajudo
a nortear”, destaca. "Na minha
área de Exatas, essa parte prática,
de ensino por investigação, não
pode faltar no planejamento".
87
Para pensar o
planejamento
Fátima, do CEDAC, sugere que o
professor se inspire nas modalidades
organizativas de Delia Lerner,
reconhecida educadora argentina, para
o planejamento das atividades híbridas
As modalidades organizativas,
segundo Delia Lerner, permitem
dar uma unidade ao conhecimento 88
e amarrar tudo que está sendo
trabalhado com os alunos para
ajudá-los a criar relações entre o
que está sendo estudado. De forma
geral, as atividades permanentes
são as propostas recorrentes
que estarão inseridas na rotina
das crianças de forma semanal
ou quinzenal. Já a sequência
didática diz respeito àquelas com
início, meio e fim, em que cada
atividade é uma continuidade da
anterior. Por fim, o projeto didático
inclui as atividades que têm um
produto final e um objetivo amplo.
Entenda mais sobre a proposta e
como ela acontece na prática.
90
6 conteúdos de NOVA
ESCOLA para apoiar
o planejamento
Confira alguns materiais que
podem ajudar e inspirar a
organização das atividades do
segundo semestre de 2021
91
2. Planos de aula prioritários
93
5. De olho nas competências
socioemocionais
6. Replanejamento do 2º semestre
95
Edição
Lisandra Matias
Texto
Victor Santos
e Paula Salas
Diagramação
Tiago Araújo
Ilustrações
André Asahida
N ov a e s c o l a • 2 0 2 1 96