Metodologias
Ativas
Confira as respostas para as principais
dúvidas sobre essas estratégias e
conheça exemplos práticos de como
incorporá-las no planejamento
Índice
1. O que são
metodologias ativas? .......................... 4
2. Conheça dois
dos modelos mais adotados ........... 28
3. Laboratório rotacional
e modelo virtual aprimorado ........... 58
4. Como ir além
do ensino híbrido .............................. 85
1. O que são
metodologias ativas?
Professores e especialistas
apontam caminhos para explorar
essas estratégias que colocam o
estudante no centro do processo de
Imagem: André Asahida
aprendizagem
Victor Santos | 08 de Setembro de 2021
4
Como podemos repensar o
papel do aluno e do professor
no processo de ensino e
aprendizagem? Essa pergunta
pode parecer extremamente atual
se considerarmos o turbilhão
de transformações pelo qual a
Educação passou desde 2020,
quando foi estabelecido o ensino
remoto emergencial. Muitos
elementos desse modelo, inclusive,
ainda perduram em 2021, momento
em que se consolida um gradual
retorno presencial.
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1.1. Protagonismo
e diferentes abordagens
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1.2. 5 formas de usar
metodologias ativas
3. Laboratório rotacional
Segue dinâmica semelhante à da
rotação, mas envolve outros espaços
da escola. Aqui são formados dois
grupos, sendo que um ficará no
espaço com o professor (que não
precisa ser a sala de aula) e o outro
irá utilizar um recurso digital em
outro local, como o laboratório de
informática, a biblioteca ou outro 11
espaço que cumpra a função.
Novamente, as ferramentas digitais
podem auxiliar a coleta de dados
sobre a aprendizagem, possibilitando
a personalização do ensino. Assim
como as anteriores, trata-se de um
modelo de ensino híbrido.
5. Aprendizagem baseada
em problemas
Como o nome indica, utiliza
problemas para a construção dos
conceitos desejados pelo professor. É
interessante que os problemas sejam
baseados na realidade dos alunos,
que podem resolvê-los de diversas
formas – ou seja, são abertos e as
respostas não podem ser obtidas
por resoluções simples como a mera
aplicação de uma fórmula. O processo
de resolução dos problemas, inclusive,
pode ser mais importante do que
a própria solução, já que o docente
pode analisar a compreensão dos
alunos pelo modo como o resolveram.
O trabalho em grupo ganha força com
essa abordagem. 13
Como indicado, três desses modelos
são estratégias de ensino híbrido,
que é uma das metodologias ativas
a ganhar destaque nos últimos anos
[leia mais sobre ensino híbrido aqui].
No entanto, mais do que conhecer
essas definições, é preciso ter em
mente alguns pontos comuns que
unem essas e outras possibilidades.
“O mais importante é destacar as
ações que compõem o trabalho com
metodologias ativas”, aponta Adolfo.
Assim, práticas como as citadas
acima sempre buscarão desenvolver
a autonomia dos alunos, a promoção
de diferentes formas de interação
(como em pares ou grupos), trabalhos
em grupo e produções criadas
de maneira individual ou coletiva
pelos próprios alunos, além de
descentralizar o papel do professor.
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Essas características estão presentes
em praticamente todos os modelos
de aula que chamamos de ativos.
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1.3. Experiências práticas
nas escolas públicas
Repensar suas práticas docentes é
algo que a professora polivalente
Kalina Elis, que dá aulas para o 5º
ano do Ensino Fundamental na Escola
Estadual Brasílio Machado, em São
Paulo (SP), já incorporou na sua
rotina.
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1.4. Tecnologia
e engajamento
Metodologias ativas costumam
ser associadas à tecnologia, um
dos principais fatores para fazer
com que os alunos assumam um
papel mais central no processo de
aprendizagem. A importância das
ferramentas tecnológicas nessas
propostas é grande, dependendo de
qual metodologia ativa está sendo
considerada, mas como enfatiza
a professora e coordenadora de
tecnologia e inovação da rede paulista,
Débora Garofalo, “a tecnologia, por
si só, não tem poder de transformar
a realidade dos estudantes. O que
vai fazer essa diferença é realizar
ações nas quais os alunos possam se
envolver e se engajar”.
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Assim, ainda no exemplo da rotação
por estações, de fato é interessante
que uma das estações inclua
tecnologia digital, mas não se trata
de algo mandatório. “Hoje, na minha
escola, eu tenho essa oportunidade
de ter acesso à tecnologia em sala
de aula. Mas quando eu comecei a
trabalhar com metodologias ativas,
eu fazia a rotação com cartolina e
livro didático mesmo. Aos poucos, fui
incorporando os elementos digitais”,
comenta a professora Kalina.
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2. Conheça dois
dos modelos mais
adotados
A sala de aula invertida e a rotação
por estações podem contribuir com
práticas em diversos contextos –
Imagem:André Asahida
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2.2. Motivação e maior
capacidade argumentativa
A professora Aline Regina Melo,
que leciona Ciências para o Ensino
Fundamental 2 na rede particular de
Guarulhos (SP), também teve uma
experiência positiva com a sala de
aula invertida. Antes da pandemia, ela
usou a metodologia para trabalhar o
sistema nervoso com uma turma de
6º ano.
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“A aprendizagem se torna mais
significativa, e os alunos desenvolvem
a capacidade argumentativa, porque
eles têm mais propriedade para
discutir e fazer as próprias perguntas
quando chegam na aula. Também
percebo que ficam muito motivados
de não terem que ficar só parados,
ouvindo o professor”, conta Aline.
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2.3. Adaptação a contextos
com menos acesso a
tecnologias digitais
Em contato com uma rede de
educadores por meio da plataforma
Vivescer, uma iniciativa de formação
de professores do Instituto Península,
Marly Campos conta que vários
educadores de escolas públicas têm
conseguido adaptar a sala de aula
invertida para contextos de pouco
acesso a tecnologias digitais. “O
professor está buscando soluções.
O importante é que ele tenha um
material estruturado e planejado,
além de formação e condições para
poder realizar esse trabalho”.
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2.4. Rotação por
estações: diversidade de
experiências e colaboração
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“Temos um bom conjunto de
professores dedicados, implicados
com o momento atual, e se a escola
pública promover valorização e
capacitação docente, vai dar um
passo muito grande, acelerando o
processo de inovação”, indica Marly.
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2.7. Como começar a
usar estratégias ativas
Especialistas e professores
entrevistados apontam caminhos e
possibilidades para iniciar e aprimorar
essas práticas
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Conheça o perfil da turma
O professor deve conversar com os
alunos para saber, por exemplo, quais
assuntos são mais interessantes
para eles, que tipo de atividades
gostam mais e quais agrupamentos
funcionam melhor.
Faça adequações
Ajustar as estratégias ativas a
diferentes etapas da Educação e
níveis de desenvolvimento de cada
turma também é possível. Basta 55
planejar as estratégias de acordo
com as competências e habilidades
a serem desenvolvidas. “Depois é
entender como eles respondem, o
que interessa e o que não engaja,
para redesenhar a estratégia e torná-
la cada vez mais personalizada”,
orienta a professora Aline.
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3. Laboratório
rotacional e modelo
virtual aprimorado
Professores e especialistas mostram
como aplicar essas metodologias em
sala e falam da importância delas neste
Imagem: André Asahida
58
“Eu trabalho com a Matemática,
componente curricular considerado
muito difícil por alguns estudantes.
Por isso, sempre tive uma inquietação:
como mostrar para eles que essa é
uma ciência viva, que faz parte da
nossa vida e do nosso dia a dia?”,
questiona a professora Gislaine
Duarte Fagundes, que atua nos Anos
Finais do Ensino Fundamental na
rede municipal de Canguçu (RS) e de
Pelotas (RS).
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No caso de Gislaine, as estratégias
que usou para suprir essa inquietação
estavam no ensino híbrido, que
diz respeito a integrar atividades
presenciais e on-line, no qual os
recursos digitais são utilizados para
coletar dados e informações que
serão analisadas pelo professor com
o objetivo de planejar atividades mais
condizentes com as necessidades
dos estudantes e, assim, personalizar
o ensino.
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3.1. Laboratório rotacional:
conceito e prática nas
escolas públicas
Andréa Barreto, professora de
Ciências e membro da equipe da
Subsecretaria de Ensino na Secretaria
Municipal de Educação do Rio de
Janeiro (RJ), trabalha com formação
de professores em metodologias
ativas e tecnologias educacionais
desde 2012. Ela destaca por que é
tão importante que os professores
incluam essas possibilidades em seu
dia a dia.
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3.3. Modelo virtual
aprimorado: perspectivas
e possibilidades de
aplicação
Ainda que proponham ações
inovadoras visando a maior
protagonismo dos estudantes,
modalidades ativas como o laboratório
rotacional, a rotação por estações e
a sala de aula invertida são modelos
de ensino híbrido classificados como
‘sustentados’, por conservarem
algumas características tradicionais
da Educação brasileira, como a divisão
por séries e turmas, a organização
curricular e a própria divisão espacial
da escola para as aulas.
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3.4. Quando o acesso à
tecnologia é precário
Ante às desigualdades de condições
dos alunos, especialistas defendem
o uso de recursos tecnológicos,
preferivelmente, no espaço escolar
A pesquisadora e especialista
Lilian Bacich também acredita
que esse acesso nas escolas é
um ponto mandatório. “O espaço
on-line de aprendizagem precisa,
preferencialmente, ocorrer dentro
da escola, e por isso é necessário
analisar toda uma gama de políticas
públicas que possibilitem que as 83
escolas forneçam conexão para os
seus estudantes”, reforça.
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4. Como ir além
do ensino híbrido
Gamificação e Aprendizagem Baseada
em Problemas colocam o aluno como
protagonista, aumentam o engajamento
e podem ser adaptadas para contextos
Imagem: André Asahida
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Valendo mil reais. Qual é o tipo
de oração subordinada que temos
em "como acordei tarde, cheguei
atrasada"? Letra a: Conformativa;
Letra b: Causal; Letra c: Comparativa.
Tempo na tela. Sente-se o clima
de tensão. Pode parecer o trecho
do Show do Milhão, mas foi uma
atividade de Língua Portuguesa criada
pela professora Giovana Picolo,
na Escola Estadual de Ensino Médio
São Paulo de Tarso, em Pinhal da
Serra (RS).
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4.1. Jogando para aprender
A gamificação é uma metodologia ativa
que utiliza a estética e elementos
dos jogos (analógicos e digitais)
com determinada intencionalidade
pedagógica. "É uma estratégia que
foca no engajamento e coloca o
aluno como protagonista", afirma
Tiago Eugênio, professor na pós-
graduação de Metodologias Ativas do
Instituto Singularidades, em São Paulo
(SP), e autor do livro Aula em Jogo:
Descomplicando a gamificação para
educadores.
Segundo o especialista, a
gamificação é diferente de um
ensino com jogos que utiliza games
prontos, pois nela o professor cria
o seu recurso. "Usamos no máximo
partes de um jogo, elementos dele, 89
para motivar o estudante a fazer
uma atividade fora do jogo [isto é,
uma proposta pedagógica que não
seria, normalmente, encontrada no
jogo]", explica.
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4.2. Gamificação
e engajamento
A professora Giovana, que leciona
Língua Portuguesa, Inglês, Artes e
Espanhol para turmas de Anos Finais
do Ensino Fundamental e de Ensino
Médio, conta que se aproximou da
gamificação para tentar engajar os
alunos ao longo do ensino remoto.
"Trabalhei com vários tipos de jogos.
Usei o Google Forms, Apresentações
do Google, o Wordwall e fiz PDFs
clicáveis", explica a educadora. Ela
também costuma utilizar o Flippity,
Live Worksheets e o ClassTools.
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Outro formato que ela utiliza é o
escape room — jogo no qual os
participantes precisam encontrar
pistas para resolver um mistério
— que ela monta usando o Google
Forms. Ela criou uma história e uma
estrutura em que os alunos precisam
resolver charadas e exercícios sobre
o tema proposto para ir avançando
até chegar ao fim do jogo.
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4.3. Criação de jogos
e contexto off-line
Assim como Giovana, a professora
Joyce Gasparino, que dá aulas de
experiência matemática para turmas
de 5º ano na Escola Estadual Profª
Minervina Sant'Anna Carneiro,
em Lins (SP), também faz uso da
gamificação. Ela utiliza tanto games
já prontos quanto desenvolve os seus
próprios jogos. “Em uma turma que
não dava devolutivas, ao utilizar a
gamificação, a participação passou
de 55% para 95% dos alunos. Eles
também adquiriram mais autonomia,
tornaram-se mais confiantes para
resolver problemas e são mais
protagonistas”, relata a educadora.
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Joyce explica que não é “jogar por
jogar”, mas usar elementos [da
gamificação] para engajá-los. Um
recurso muito utilizado por ela e que
funciona bem é o formato “perguntas
e respostas” do Kahoot! “Depois de
toda sequência, eu faço um quiz do
que eles aprenderam. Eles adoram
porque tem pontuação e, para eles, a
competição é muito forte".
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4.4. Construindo
conhecimentos a partir
de problemas
A Aprendizagem Baseada em
Problemas (ABP) tem raízes
anteriores à tecnologia. Esta surgiu
na Medicina na década de 1960 e
está muito pautada na corrente do
construtivismo. Pode ser definida
como um "processo educativo que
parte de um problema que está
presente no cotidiano", explica
Ulisses Araújo, presidente da
Associação de Aprendizagem Baseada
em Problemas e Metodologias
Ativas de Aprendizagem (PAN-PBL).
Ulisses é um dos organizadores do 1º
Congresso Brasileiro de Metodologias
Ativas na Educação Básica, evento
gratuito para professores da rede
100
pública, que acontece entre 9 e 12 de
outubro de 2021.
101
Para Ulisses, a ABP é uma
das metodologias ativas mais
conhecidas que coloca o aluno como
protagonista. "No lugar do aluno ter
algo dado, ele tem uma situação
que demanda que ele pense sobre o
assunto. O problema exige uma ação
desse sujeito", explica.
104
4.5. Aprendizagem
Baseada em Problemas
na prática
O professor Luiz Felipe diz que
enxerga sua prática pedagógica
muito pautada pela metodologia.
“Não vejo o ensino de Matemática
sem ela. É sempre meu disparador
[para trabalhar as aprendizagens]”,
afirma. "Eu a trago com a intenção
de construir um conceito que
é necessário para solucionar
determinada questão".
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4.6. ABP, relação com
outras disciplinas e uso
em diferentes situações
Para colocar a ABP em prática, o
especialista Luis Antônio, que tem
experiência com o Ensino Médio,
sugere a organização da turma em
pequenos grupos - de até cinco
alunos. Também recomenda que
seja uma metodologia utilizada
com frequência, para que os alunos
ganhem autonomia na busca das
soluções e desenvolvam habilidades
variadas. Outra indicação é envolver
professores de outros componentes
curriculares para enriquecer a
discussão, permitindo que os alunos
olhem para a mesma situação a
partir de diferentes perspectivas.
108
Em relação a contextos com baixa
conectividade ou sem nenhum acesso
à internet, a ABP não pressupõe o
uso de tecnologias. No entanto, se
for possível incorporá-las, pode-se
potencializar a aprendizagem.
A ABP também pode ser facilmente
adaptada para o modelo remoto
em que os alunos podem trocar
informações por WhatsApp (ou
outra plataforma ou rede social que
permita interação) e construir um
documento colaborativo — para se
inspirar, baixe gratuitamente um
manual com mais de cem dicas para
preparar suas atividades remotas
ou híbridas.
A gamificação e a Aprendizagem
Baseada em Problemas são dois
entre diversos tipos de metodologias
ativas. Para escolher a melhor 109
para você, é preciso partir da
realidade e das necessidades da
sua turma. Independentemente de
quais sejam, as estratégias ativas
permitem avançar nas aprendizagens
curriculares e desenvolver
habilidades socioemocionais
importantes. Ao colocar o aluno
como protagonista do processo de
aprendizagem e sujeito ativo, as
aulas tornam-se mais significativas
e interessantes. Para saber mais,
confira outras reportagens do
Especial de Metodologias Ativas.
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Edição
Lisandra Matias
Texto
Paula Salas
e Victor Santos
Consultoria
Fernando Trevisani
Diagramação
Duda Oliva
Ilustrações
André Asahida
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