Você está na página 1de 18

TAKT-TIME: CONCEITOS E

CONTEXTUALIZAÇÃO DENTRO DO
SISTEMA TOYOTA DE PRODUÇÃO

Roberto dos Reis Alvarez


Grupo de Produção Integrada (GPI) da EP e do PEP/COPPE
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
C.P. 68.507 - Centro de Tecnologia da UFRJ – Ilha do Fundão
21945-970 – Rio de Janeiro – RJ
Fone/fax: (21) 562-7415
E-mail: alvarez@gpi.ufrj.br

José Antonio Valle Antunes Jr.


Produttare Consultores Associados
Rua 24 de Outubro 111 cjto. 1103 – Moinhos de Vento
90510-002 – Porto Alegre – RS
Fone/fax: (51) 346-5536
E-mail: junico@produttare.com.br
v.8, n.1, p.1-18, abr. 2001 Centro de Ciências Econômicas da UNISINOS

Resumo

O presente trabalho tem como preocupação central esclarecer, o máximo possível, o conceito de
takt-time, na medida em que se pode observar um hiato na literatura que trata do tema em relação à
compreensão das diferenças conceituais entre esse e as definições de tempo de ciclo e tempo padrão.
Procura-se estabelecer uma conceituação rigorosa desses termos, tendo como referência básica os
princípios gerais do Sistema Toyota de Produção (STP). Enfatiza-se a importância crucial da variável
tempo para a gestão dos sistemas de produção, partindo-se da problemática da sincronização do
fluxo dos materiais ao longo do tempo e do espaço no STP. Nesse contexto, ressalta-se a centralidade
do takt-time na gestão da produção em diferentes aspectos do Sistema. Nuances relativas à flexibili-
dade também são destacadas. Os pontos conceituais que marcam a lógica da utilização do takt-time,
a partir da ótica mais ampla da sincronização da produção, permitem identificar os limites de
aplicação da sistemática. Finalmente, é analisada a relação da sistemática de gestão baseada na
definição do takt-time com as lógicas da qualidade assegurada e da formação de recursos humanos.

Palavras-chave: takt-time, tempo de ciclo, sincronização da produção, Sistema Toyota de Produção.

1. Introdução base no takt-time tem dentro do Sistema Toyota


de Produção (STP). Além de aspectos opera-

E ste artigo deriva da percepção da importân-


cia que a sincronização da produção com
cionais, esse elemento tem relevância nas
discussões de Estratégia de Produção relativas
2 Alvarez & Antunes Jr. – Takt-time: Conceitos e Contextualização Dentro do Sistema Toyota de Produção

ao STP, especialmente com respeito à dimensão Para que seja possível iniciar a discussão rela-
flexibilidade. tiva ao takt-time, há que se reconhecer que, do
O livro Sistema Toyota de Produção, de ponto de vista da operação do STP, a lineariza-
Yasuhiro Monden (1984), cuja versão original ção e o encadeamento do fluxo de materiais têm
em inglês data de janeiro de 1982, apresenta um fundamental relevância. Conforme MONDEN
dos primeiros modelos estruturados e abrangen- (1984), isso é realizado de duas formas gerais:
tes do STP. Posteriormente, outros autores • Com a utilização do sistema kanban para
trataram de interpretar e esquematizar o STP, conexão de células de produção;
tornando-o palatável para o público ocidental e • Através da produção em fluxo unitário em
disseminando os conceitos da ‘produção enxuta’, linha (one piece flow) – transferência de
bem como esse termo em si. Destacam-se os materiais entre postos de trabalho se dá em
trabalhos de SCHONBERGER (1982) e de lotes de tamanho igual a uma unidade (peça).
pesquisadores do Massachussets Institute of Objetivamente, o que ocorre é uma combina-
Technology (MIT) no âmbito do International ção dessas duas modalidades. A gestão pelo
Motor Vehicle Program (IMVP), especialmente tempo assume papel primordial na medida em
WOMACK, JONES & ROOS (1990). Em outra que a fábrica como um todo se adapta ao ritmo
frente, pesquisadores da escola francesa de definido para a linha de montagem.
Sociologia do Trabalho se debruçaram sobre as A centralidade da gestão baseada em tempo
novas formas de organização do trabalho no âmbito do STP difere da tradicional aborda-
observadas no Japão de forma geral e, particu- gem de controle de tempos até então em voga no
larmente, na Toyota – um bom exemplo dessa Ocidente, embora derive dessa em grande parte;
vertente é o trabalho de CORIAT (1994). pelo menos no que tange ao ferramental de
Os autores japoneses clássicos de Engenharia Engenharia Industrial empregado na sua
de Produção e Engenharia Industrial, especial- construção empírico-teórica. No caso do STP o
mente TAIICHI OHNO (1996) e SHIGEO tempo é entendido como uma variável sistêmica,
SHINGO (1996a; 1996b), apresentam uma associada ao fluxo dos materiais, e não simples-
leitura particular do STP. No Brasil, GHINATO mente referente à análise e controle local de cada
(1995) aprofundou a discussão a partir dessas operação específica na fábrica.
interpretações, pondo sob os holofotes o “pilar” Do ponto de vista da operacionalização dos
(OHNO, 1996) menos estudado do STP: a lógica sistemas de produção voltados para a melhoria
da autonomação – capacidade que o homem ou a do processo e, mais especificamente no caso do
máquina têm de parar o processamento quando a STP, várias questões relativas ao tema ainda
quantidade programada for atingida ou quando carecem de esclarecimento. Particularmente, as
surgir algum defeito nos componentes/produtos conceituações de tempo de ciclo e takt-time,
fabricados. Outro entendimento conceitual do fundamentais para o entendimento do funciona-
Sistema Toyota de Produção é oferecido por mento do STP, são controversas. Mais do que
ANTUNES JR. (1998), que o situa dentro do isso, vários textos sobre o tema Sistema Toyota
“paradigma das melhorias voltadas para o de Produção centram sua atenção somente no
processo”, juntamente com a Teoria das sistema kanban, negligenciando a relevância do
Restrições e a Reengenharia de Processos, takt-time no esquema de gestão da produção.
inserindo um claro viés sistêmico na interpreta- Outros discorrem a respeito do mecanismo da
ção do STP. operação-padrão, mas tratam a determinação dos
Dentre as linhas teóricas mencionadas, privi- tempos sob a perspectiva de cada célula, sem
legia-se aqui o referencial provido pelos autores fazer as amarrações processuais devidas.
japoneses clássicos e as leituras construídas a A preocupação central deste trabalho assume
partir do estudo do seu legado conceitual. que o hiato existente entre a interpretação
GESTÃO & PRODUÇÃO v.8, n.1, p.1-18, abr. 2001 3

corrente da lógica do takt-time no âmbito do (materiais) ao longo do tempo e do espaço; diz


STP e a real importância desse tópico para o respeito ao fluxo dos materiais. A Função
entendimento do Sistema precisa ser superado, Operação, por sua vez, refere-se ao acompanha-
bem como elucidados os conceitos associados. mento dos sujeitos do trabalho (homens,
O desenvolvimento das idéias segue as se- máquinas, equipamentos etc.) ao longo do tempo
guintes linhas de raciocínio: e do espaço.
• Primeiro, discute-se a variável tempo a partir Concretamente, a ruptura conceitual possibi-
da estrutura conceitual provida pelo Meca- litada pelo MFP e característica da construção
nismo da Função de Produção, vinculando-se teórica de SHINGO está associada ao reconhe-
tempo de ciclo, takt-time, Função Processo e cimento de que o processo não é o somatório das
Função Operação; operações. Uma discussão sobre o tema é
• Segundo, faz-se uma discussão acerca dos encontrada em SHINGO (1996a; 1996b) e em
conceitos de tempo de ciclo e takt-time, ANTUNES JR. (1998). O discernimento da
propondo-se uma conceituação consistente natureza básica da Função Processo e sua
para os mesmos; precedência sobre a Função Operação permitem
• Terceiro, defende-se que o tempo tem a construção de um referencial conceitual
relações com diferentes dimensões competi- robusto para o projeto de sistemas de produção
tivas sob o ângulo da produção, destacando- de alto desempenho.
se os vínculos com a flexibilidade; Uma vez entendida a diferença entre os
• Quarto, ressalta-se a importância do takt-time conceitos de processo e operações surge a
na gestão da produção no STP, discutindo-se necessidade de definição de mecanismos que
suas relações com as lógicas da qualidade e permitam a construção de sistemas de produção
da formação de recursos humanos. conforme a lógica das melhorias voltadas para o
Por fim, faz-se uma série de comentários processo. O sistema kanban é o mais notório
acerca das possibilidades de aplicação da lógica exemplo de uma solução voltada para a melhoria
do takt-time na gestão dos sistemas de produção, dos processos. Contudo, sua função é limitada
debatendo-se os limites do conceito. no STP.
A seguir, apresenta-se um instrumento analí- O esquema apresentado na Figura 1 represen-
tico, de cunho sistêmico, empregado para ta o processo de fabricação de um automóvel na
modelar e compreender os sistemas de produção: Toyota Motor Company. Conforme se pode
o Mecanismo da Função de Produção (MFP). observar, há uma divisão do fluxo em duas
grandes fases. A primeira é a fase de fabricação
2. A Função Processo: o Tempo Como o Fio dos componentes; na segunda fase ocorre a
Sistêmico da Produção agregação desses componentes, a qual tem
término com a montagem final dos veículos.

A compreensão da lógica de gestão baseada


no takt-time só é possível com o reconhe-
cimento da natureza processual que a embasa.
O kanban é utilizado para operar o sistema
logístico entre as etapas da primeira fase e nas
interfaces com a fase II. Na fase II o Sistema é
SHINGO (1996a) postula que os sistemas de programado e controlado com base no takt-time.
produção podem ser entendidos como redes de A indicação de controle de produção na Figura 1
processos e operações. O MFP se sustenta no aponta que o takt-time é informado à etapa de
reconhecimento da existência desses dois eixos soldagem. Daí para frente, o fluxo é contínuo e o
de análise. Para que se entenda a sua lógica é processo coordenado pelo takt-time, conforme
preciso, portanto, diferenciar a Função Operação lógica explicada por ROTHER & SHOOK (1998).
da Função Processo. A Função Processo refere- A definição do takt-time também é realizada,
se ao acompanhamento dos objetos do trabalho individualmente, para cada célula de produção
4 Alvarez & Antunes Jr. – Takt-time: Conceitos e Contextualização Dentro do Sistema Toyota de Produção

Controle de produção

P W T A P Estamparia (Pressing)

Kanban W Soldagem (Welding)


T Pintura (Painting)

K F Forjaria (Forjing)

H H Tratamento térmico (Heat treatment)


C Fundição (Casting)

F M M Usinagem (Machining)
K Submontagem (Kitting)

C A Montagem (Assembly)

Figura 1 – Representação esquemática do processo de fabricação automobilístico


(Adaptado de Toyota Motor Company, 1998).

da fase I; sendo esse um dos componentes das veículos a entrarem na soldagem são visualmen-
rotinas de operação-padrão das células. te indicados pelo supervisor da área em painéis,
O takt-time, portanto, faz-se presente como andons, quadros etc. Esse tipo de abordagem
elemento central, em dois subsistemas da pode ser entendido como a inserção concreta do
manufatura que trabalham com fluxos unitários: sistema de comunicação e controle dentro do
na montagem (agregação dos componentes) e próprio sistema de produção. Em última
acabamento do veículo e internamente nas instância, a lógica de gestão visual objetiva a
células de produção. O funcionamento da fábrica ampliação da capacidade de tratamento de
orquestrado pelo takt-time depende, em ambos informações no chão-de-fábrica e a redução do
os subsistemas, da presença de dois elementos: tempo de feedback para as ações de controle
um sistema para comunicação e controle e um dentro do sistema; o controle é aproximado ou,
marcador para o ritmo definido pelo takt-time. até mesmo, integrado à execução.
A comunicação e controle no âmbito das A marcação para o takt-time, por sua vez, é
células prescinde de mecanismos complexos. diferenciada quando analisadas as fases I e II.
Nessa configuração, a comunicação direta entre No caso da linha de montagem, particularmente
os trabalhadores e o ajustamento mútuo em linhas transfer, o takt-time é determinado
(MINTZBERG, 1993) das atividades realizadas com a programação da sua velocidade –
são suficientes para garantir o andamento do recorrendo-se à terminologia cunhada por
trabalho. Por outro lado, na fase II, a complexi- CORIAT (1994), observa-se que a lógica é um
dade das operações é aumentada (vários modelos misto das idéias de ‘tempo imposto’ e ‘tempo
montados, diferentes configurações de produtos compartilhado’, visto que a determinação da
etc.), tornando inviável a comunicação direta velocidade da linha impõe um ritmo de trabalho
entre os envolvidos; nessa situação, a utilização a ser observado pelos operários, entretanto, por
de mecanismos mais elaborados é necessária. outro lado, há a possibilidade de compartilha-
No STP, uma parcela significativa do sistema mento das ‘operações de interface’. Outras
de comunicação e controle é confiada aos configurações físicas são possíveis, como a
mecanismos de gerenciamento visual. Em várias definição de postos fixos de montagem e o des-
plantas industriais, o takt-time, o progresso na locamento descontínuo do veículo a intervalos
execução das operações em curso e os próximos regulares.
GESTÃO & PRODUÇÃO v.8, n.1, p.1-18, abr. 2001 5

No caso da soldagem o fluxo é unitário mas, suas definições e a interpretações equivocadas


quando as operações forem executadas manual- dos conceitos por detrás dos mesmos.
mente, tende a não ser integrado fisicamente Como forma de introduzir a discussão especí-
através de sistemas de transporte de fluxo contínuo fica referente à definição desses conceitos, parte-
como na linha de montagem. Nesses casos, é se da gestão da fábrica com base no subsistema
realizada em mesas, com o auxílio de gabaritos. de operação-padrão, tal como verificado no STP,
O fluxo é unitário e o deslocamento se dá de de onde os conceitos são modernamente trazidos
modo descontínuo, com o avanço dos compo- à pauta. Como aponta MONDEN (1984), esse
nentes posto a posto; via de regra, o transporte é subsistema busca atender a três propósitos
comandado pelos próprios operadores. O ritmo básicos:
definido pelo takt-time é mantido pela observa- 1. “obtenção de alta produtividade através de
ção das rotinas de operação-padrão e não pelo trabalho dedicado” – entenda-se “trabalho
avanço de um sistema mecânico de transporte. dedicado” como “trabalho eficiente, sem
No caso da produção de componentes nas qualquer perda de movimento”;
células, o takt-time é elemento integrante das 2. “balanceamento da linha em todos os
rotinas de operação-padrão, sendo a observância processos em termos do tempo de produ-
dessas a garantia da cadência de produção. A ção” – neste caso, o termo “processo” uti-
lógica de controle está, pois, fortemente baseada lizado por MONDEN (1984) se refere às
na padronização. interseções entre as funções Processo e
Verifica-se, pois, que tanto a coordenação Operação do MFP; trata-se, de fato, do
interna dos subsistemas de produção como a “processamento” (transformação das ca-
amarração geral do fluxo dos materiais ao longo racterísticas de qualidade) dos materiais;
do tempo e do espaço na fábrica são feitas com 3. manutenção de uma “...quantidade mínima
base no takt-time. De fato, o takt-time é o de material em processo”.
principal elemento concreto de modelagem e Desses objetivos, pode-se inferir a presença
representação para a Função Processo no STP. de uma preocupação clara com a sincronização e
Uma aparente deficiência na literatura sobre o controle do fluxo de materiais. A lógica das
o tema é a supervalorização do sistema kanban perdas, basilar para a construção do STP,
como solução logística, enquanto a coordenação também pode ser notada com nitidez.
baseada no takt-time é abordada como caracterís- A lógica da ‘operação-padrão’ no STP não
tica local de cada célula de produção e não como envolve apenas a sistematização e descrição das
um nexo mais amplo de encadeamento da seqüências de operações; ainda conforme
Função Processo. MONDEN (1984), três elementos a constituem:
O entendimento desse sistema e dos concei- i. Tempo de ciclo;
tos subjacentes que permitem seu funcionamen- ii. Rotinas de operação-padrão;
to, especialmente das diferenças e das relações iii. Quantidade padrão de material em
do conceito de takt-time com o tempo de ciclo, processo.
são necessários àqueles que voltam sua atenção Existem diferenças entre o subsistema de
ao estudo e à prática dos sistemas de manufatura. ‘operação-padrão’ e as ‘rotinas de operação-
padrão’. As ‘rotinas de operação-padrão’ devem
3. Tempo de Ciclo e Takt-time: Esclarecendo ser compreendidas como os documentos que
e Propondo Conceitos contêm as seqüências de operações a serem
realizadas e seus tempos-padrão. A ‘operação-

A utilização indiscriminada dos termos


tempo de ciclo e takt-time na bibliografia e
na prática industrial leva a dubiedades acerca de
padrão’ citada por MONDEN (1984), porém,
tem alcance mais amplo e engloba o estabeleci-
mento, a utilização e a revisão periódica dos três
6 Alvarez & Antunes Jr. – Takt-time: Conceitos e Contextualização Dentro do Sistema Toyota de Produção

elementos listados, consistindo em um legítimo O takt-time é definido a partir da demanda do


subsistema gerencial, sistemicamente articulado mercado e do tempo disponível para produção; é
aos demais elementos do STP. o ritmo de produção necessário para atender a
Não existem discordâncias aparentes quanto demanda. Matematicamente, resulta da razão
ao significado dos itens (ii) e (iii). As divergên- entre o tempo disponível para a produção e o
cias surgem na interpretação do significado do número de unidades a serem produzidas.
tempo de ciclo. IWAYAMA (1997) afirma que o takt-time é
MONDEN (1984) afirma que “...o tempo de o tempo alocado para a produção de uma peça
ciclo é aquele no qual uma unidade de um ou produto em uma célula ou linha. A idéia de
produto deve ser produzida”; é dado pela razão ‘alocação’ de um tempo para produção pressu-
entre o tempo efetivo de operação diária e a põe, naturalmente, que alguém ‘aloca’; o takt-
quantidade diária necessária de produção. Esse time não é dado absoluto, mas sim determinado.
conceito, para OHNO (1996), é equivalente ao Pondere-se que a conceituação geral anterior
de takt-time: “o takt-time é obtido pela divisão tem limites. É preciso esclarecer que a empresa
do tempo diário de operação pelo número de pode realizar opções tanto quanto aos níveis de
peças requeridas por dia”. Para os autores deste atendimento da demanda como aos de utilização
trabalho, MONDEN (1984) se equivoca ao da capacidade, o que ali não está explicitamente
enunciar seu conceito de tempo de ciclo, o qual contemplado.
corresponde, de fato, ao conceito de takt-time. A compreensão desses limites leva à neces-
A falta de coerência conceitual na utilização sidade de ampliação do conceito. Uma definição
desses termos tem levado a interpretações mais adequada parece ser a seguinte: takt-time é
distorcidas com referência ao funcionamento do o ritmo de produção necessário para atender a
STP e dos sistemas de produção com estoque um determinado nível considerado de demanda,
zero de forma geral. Apesar de publicações dadas as restrições de capacidade da linha ou
recentes, como as obras de ROTHER & SHOOK célula. Concretamente, o takt-time é o ritmo de
(1998) e MEYERS (1999), e textos como produção alocado para a produção de uma peça
IWAYAMA (1997), por exemplo, convergirem ou produto em uma linha ou célula, justamente
na conceituação dos termos, ainda existem como proposto por IWAYAMA (1997); com a
pontos a serem mais bem formulados, de mesmo diferença que se reconhece explicitamente nesta
modo que resta trazer a público aspectos mais definição que o ritmo eventualmente necessário
gerais relativos aos conceitos e sua aplicação. pode não ser suportado pelo sistema de produção.
Reconhece-se que os vínculos entre takt-time À luz dessa formulação teórica surgem outras
e tempo de ciclo são estreitos, o que torna ainda questões conceituais, precisamente no que tange
mais saliente a necessidade de conceituação à compatibilização da demanda com a capacida-
rigorosa desses dois elementos teóricos. Uma de. Na seção seguinte, esclarece-se o conceito de
discussão objetivando a reconceituação dos tempo de ciclo, explicando-se como é exatamen-
termos é realizada nos tópicos seguintes. te esse que limita o takt-time. A amarração entre
Função Processo e Função Operação é visuali-
3.1 Takt-time zada nessa articulação e ilustrada quando
debatidas as relações entre os mesmos.
A palavra alemã ‘takt’ serve para designar o A vinculação dessa questão com o Planeja-
compasso de uma composição musical, tendo mento e Controle da Produção é importante de
sido introduzida no Japão nos anos 30 com o ser explorada, de forma a evitar que o sistema,
sentido de ‘ritmo de produção’, quando técnicos mesmo tendo condições globais de atender à
japoneses estavam a aprender técnicas de fabri- demanda, não seja sobrecarregado em momentos
cação com engenheiros alemães (SHOOK, 1998). de pico e tenha seu funcionamento abalado.
GESTÃO & PRODUÇÃO v.8, n.1, p.1-18, abr. 2001 7

Feitas essas diferentes considerações, o takt- 3.2 Tempo de Ciclo


time pode ser legitimamente entendido como o
tempo que rege o fluxo dos materiais em uma A duração de um ciclo é dada pelo período
linha ou célula. Logo, é fundamental salientar transcorrido entre a repetição de um mesmo
que o conceito de takt-time está diretamente evento que caracteriza o início ou fim desse
relacionado com a Função Processo, na medida ciclo.
em que trata do fluxo dos materiais ao longo do Em um sistema de produção, o tempo de
tempo e espaço. ciclo é determinado pelas condições operativas
Um lembrete importante, sob uma perspecti- da célula ou linha. Considerando-se uma célula
va operacional, é que o tempo disponível para ou linha de produção com ‘n’ postos de trabalho,
produção não é necessariamente igual à duração o tempo de ciclo é definido em função de dois
do expediente. Em situações reais, deve-se elementos:
descontar os tempos de paradas programadas, i. Tempos unitários de processamento em
tais como manutenção preventiva dos equipa- cada máquina/posto (tempo-padrão);
mentos, paradas por razões ergonômicas etc. ii. Número de trabalhadores na célula ou
Sendo assim, pode-se afirmar que: linha.
Parte-se aqui da análise de equipamentos
• Tempo disponível para produção = período individuais, para depois derivar o conceito para
de trabalho – paradas programadas o caso geral de uma linha ou célula. Generica-
mente, para uma máquina ou equipamento, o
Em uma linha de produção, a cada intervalo tempo de ciclo é o tempo necessário para a
definido pelo takt-time, uma unidade deve ser execução do trabalho em uma peça; é o tempo
terminada. Por exemplo, para uma linha de transcorrido entre o início/término da produção
montagem de automóveis com demanda diária de duas peças sucessivas de um mesmo modelo
de 300 unidades e tempo disponível para em condições de abastecimento constante.
produção de 10 horas (600 minutos), o takt-time Algumas operações, dadas suas características,
será de 2 minutos. Ou seja, a cada 2 minutos como tratamento térmico, queima de cerâmica,
deve sair um carro pronto no final da linha. tratamento químico, pintura etc. requerem que
MEYERS (1999) e ROTHER & SHOOK esse seja definido como o tempo para o
(1998) apresentam conceituações de takt-time processamento de um lote ou batelada.
que não incluem explicitamente considerações Cada máquina e equipamento tem um tempo
sobre a capacidade, embora o primeiro trate de ciclo característico para cada operação
desse aspecto na apresentação de sua lógica de (processamento) executada. Em alguns casos,
balanceamento de linha. Esse mesmo autor como em tornos automáticos e CNCs, pode ser
introduz uma variante da definição de takt-time, fisicamente identificado com relativa facilidade
a qual denomina de taxa da planta – “plant rate – retorno das ferramentas de corte a uma mesma
(R)” – incorporando na definição do ritmo da posição; em outras, nem tanto, como no caso de
fábrica aspectos como folgas e taxas de efi- operações manuais.
ciência, eventualmente importantes em regimes Sob o prisma do Mecanismo da Função de
de entrada de operação de planta ou no início de Produção, o tempo de ciclo está associado à
produção de novos modelos, mas questionáveis função operação. É uma característica de cada
na medida em que podem encobrir perdas. operação da rede de processos e operações.
A compreensão do importante conceito de Quando analisada uma operação isolada, o
takt-time só é de fato possível quando contras- tempo de ciclo é igual ao tempo padrão; é o
tado com o de tempo de ciclo, tratado na tempo que consta nos roteiros de produção dos
seqüência. sistemas de PCP. Por exemplo, para o caso de
8 Alvarez & Antunes Jr. – Takt-time: Conceitos e Contextualização Dentro do Sistema Toyota de Produção

Tempo disponível para produção = 8 horas Produto montado

A B C D

tp = 2 min tp = 2,5 min tp = 3 min tp = 1 min

Figura 2 – Tempo do Ciclo para uma Linha ou Célula de Produção

uma máquina dedicada com um tempo padrão de Para os materiais a idéia de ciclo não tem
2,5 minutos, o tempo de ciclo também será de sentido. Uma mesma peça não passa mais de
2,5 minutos; isto é, a cada 2,5 minutos pode ser uma vez pelo processamento; não há um ‘ciclo’,
produzida uma peça, repetindo-se um ciclo. portanto. A noção de ciclo só tem sentido para
Ampliando-se a unidade de análise dos os sujeitos do trabalho, e não para os objetos do
sistemas de produção (células, linhas ou mesmo trabalho (materiais), posto que é o trabalho
a fábrica inteira), a discussão muda de perspecti- realizado por homens e máquinas que se repete
va. Nesse caso, deixa-se de ter uma única regularmente.
máquina, a partir da qual se pode, com facilida- O ciclo não está vinculado ao início ou tér-
de, definir o tempo de ciclo. Torna-se necessário mino do processamento de um produto ou
contemplar as relações sistêmicas de dependên- componente na linha. Se esse fosse o caso, o
cia entre os equipamentos e as operações. tempo de ciclo seria igual ao somatório dos
É possível, inclusive, questionar se existe um tempos das operações executadas em A, B, C e
tempo de ciclo para uma célula ou linha de D – desconsiderando-se, neste exemplo, os
produção. A resposta é afirmativa, tendo-se, tempos de estagnação e transporte dos materiais.
dependendo do caso, o tempo de ciclo da linha Para uma situação em que a cada posto há um
ou o tempo de ciclo da célula. operador, as operações podem ser realizadas em
Para ilustrar os conceitos, considere-se o paralelo; obviamente, em peças diferentes.
exemplo apresentado na Figura 2, no qual um Imaginemos que os quatro postos/máquinas
produto qualquer passa por quatro operações iniciem as operações no instante zero. O ciclo da
subseqüentes, realizadas, respectivamente, em linha termina quando todos as operações tiverem
quatro postos ou máquinas diferentes (A, B, C e sido realizadas e for possível o início do
D), até ter seu processamento finalizado. processamento de uma nova unidade em cada
Na Figura 2, observa-se que cada posto de uma das quatro máquinas/postos (A, B, C e D).
trabalho tem um tempo de processamento Observando-se a Figura 3 é possível notar que o
unitário (tempo padrão – tp). Entretanto, a linha ciclo da linha é de três minutos, isto é, somente
não pode ter mais de um tempo de ciclo para três minutos após o começo das operações
uma mesma configuração – alocação de traba- (primeiro ciclo) é possível iniciar o processa-
lhadores aos postos de operação para um mento de uma nova peça em todas as máquinas
determinado conjunto estabelecido de máquinas; (novo ciclo).
a cada configuração cabe um tempo de ciclo O tempo de ciclo da linha ou célula é o
único. tempo de execução da operação, ou das
GESTÃO & PRODUÇÃO v.8, n.1, p.1-18, abr. 2001 9

Figura 3 – Tempo de ciclo para o exemplo da Figura 2

operações, na máquina/posto mais lento; em tempo de ciclo seria igual ao somatório de todas
outras palavras, é o ritmo máximo possível, as operações: 8,5 minutos. Em outra situação,
mantidas as condições atuais. O tempo de ciclo com dois operários, sendo um encarregado das
da linha ou célula é definido pelas características máquinas/postos A e B e o outro responsável por
dos equipamentos e peças e pela configuração da C e D, o tempo de ciclo seria de 4,5 minutos
linha ou célula – alocação de trabalhadores aos (soma dos tempos em A e B; a soma dos tempos
postos de trabalho. em C e D é de 4 minutos). Outros tempos de
No exemplo, considerando-se um operário ciclo existiriam em alocações alternativas de
alocado a cada máquina/posto, não é possível operários à linha.
produzir mais que 20 peças por hora nessa linha. A vinculação entre o tempo de ciclo e a
De acordo com ROTHER & SHOOK (1998) alocação de funcionários à linha remete à
o tempo de ciclo é “o tempo transcorrido entre a discussão da separação entre os tempos de
saída de uma peça e a saída da seguinte, em processamento manual e os tempos de máquina.
segundos”. Imagine-se, contudo, que a linha Esse artifício é largamente empregado no STP e,
apresentada na Figura 2 operasse com um takt- de modo geral, nos modernos sistemas de
time de 4 minutos; nesse caso, um observador produção, baseando-se na incorporação de
que olhasse a operação ‘D’ notaria a saída de dispositivos de controle aos equipamentos, de
duas peças sucessivas a intervalos de 4 minutos, modo que os trabalhadores sejam liberados da
percebendo um tempo que não corresponderia função de monitoração do funcionamento dos
nem ao tempo de ciclo da operação D (1 minuto) mesmos e possam, então, afastar-se das
nem ao tempo de ciclo da linha (3 minutos), mas máquinas enquanto essas executam o processa-
sim ao seu takt-time. Não há clareza conceitual mento. A lógica da autonomação, inicialmente
nessa definição, que pode acabar por confundir a desenvolvida no âmbito do STP, fornece a base
interpretação dos conceitos e ressaltar a conceitual para o entendimento dessa abordagem
importância da discussão aqui realizada. e a construção de tais sistemas de controle. Uma
Caso somente um operador tivesse que reali- discussão a respeito pode ser encontrada em
zar todas as operações e não fosse possível MONDEN (1984), GHINATO (1995) e
separar os tempos de máquina dos manuais, o ANTUNES JR. (1998).
10 Alvarez & Antunes Jr. – Takt-time: Conceitos e Contextualização Dentro do Sistema Toyota de Produção

A apresentação dos conceitos de takt-time e à demanda, e igual ao tempo de ciclo quando a


tempo de ciclo é suficiente para que se perceba a capacidade for inferior à demanda.
existência de vínculos teóricos entre os mesmos. A apresentação destes conceitos adicionais
A discussão dessas relações e a sua necessária deve ser acompanhada da ponderação que o que
compatibilização conceitual são realizadas na se denomina aqui de takt-time calculado
próxima seção. corresponde à primeira formulação relativa ao
conceito apresentada. Essa, visivelmente,
3.3 Takt-time e Tempo de Ciclo: o Contraste considera a capacidade do sistema como infinita.
dos Conceitos e as Lógicas de Melhorias O takt-time efetivo, a seu tempo, é definido com
base na capacidade real do sistema.
Para elucidar os conceitos, tomando-se o A discussão sobre capacidade não pode ser,
exemplo anterior, pode-se imaginar duas situações de modo algum, apartada do Planejamento e
com níveis de demanda diferentes, nas quais se Controle da Produção, por motivos já explica-
deve respeitar a limitação da capacidade. dos. Similarmente, deve-se considerar que o
Em um primeiro caso, considere-se uma tempo de ciclo certamente não é imutável, e
demanda de 120 unidades por dia; o takt-time artifícios podem ser utilizados para reduzi-lo.
calculado seria de 4 minutos – supondo-se que o A realocação de pessoal na fábrica é um dos
tempo disponível para produção a cada dia seja expedientes mais empregados para absorver as
de 8 horas. Uma vez que esse intervalo de tempo variações na demanda; em momentos de pico
é maior que o permitido pela linha (tempo de acentuado a contratação de novos funcionários
ciclo da linha é 3 minutos), o takt-time efetivo pode ser necessária. Em horizontes de mé-
seria de 4 minutos. Ou seja, o ritmo de produção dio/longo prazo pode ocorrer que a capacidade
efetivamente praticado na linha seria de uma disponível não seja suficiente, mesmo com o
unidade a cada 4 minutos. nivelamento da demanda e/ou da produção, de
Em uma segunda situação, para uma deman- forma que o aumento do número de trabalhado-
da de 240 unidades por dia, corresponderia um res também se faça necessário.
takt-time calculado de 2 minutos. Como 2 Essa solução tem limites. As possibilidades
minutos é inferior ao tempo de ciclo, o takt-time desse expediente se esgotam quando são
efetivo seria então de 3 minutos (ritmo de alocados operadores a todos os postos de
produção real da linha). Nota-se que a capacida- trabalho de uma célula ou linha. Essa situação
de de produção disponível não permite o polar (um homem, um posto, uma tarefa) é
atendimento da demanda; o ritmo necessário geralmente marcada pelo incremento das perdas
para atender a demanda, indicado pelo takt-time por esperas; quando os tempos manuais
calculado de 2 minutos não pode ser atingido, estiverem totalmente separados dos tempos de
posto o limite de capacidade da linha ou célula. máquina, uma configuração dessa natureza pode
Se o tempo de ciclo de uma célula ou linha não chegar a ser necessária.
representa o ritmo máximo possível, mantidas as Outro caminho para reduzir o tempo de ciclo
condições atuais, é óbvia a conclusão de que o é a realização de melhorias nas operações, tanto
tempo de ciclo é um limitante do takt-time, isto é, nas operações principais como nas auxiliares –
da cadência de produção; da velocidade do fluxo. ver SHINGO (1996a). Essa possibilidade vale
Em verdade, o ritmo da linha é sempre limi- para os casos onde o acréscimo do número de
tado, seja pela capacidade (representada pelo operários não é suficiente, desejado, ou mesmo
tempo de ciclo) ou pela demanda (representada possível. A solução do STP segue a linha de
pelo takt-time calculado). O takt-time efetivo, tal melhorias nas condições de fabricação,
como definido aqui, será igual ao takt-time articulada com os mecanismos de realocação de
calculado caso a capacidade for maior ou igual pessoal e de variação dos quadros temporários.
GESTÃO & PRODUÇÃO v.8, n.1, p.1-18, abr. 2001 11

Conforme IWAYAMA (1997), um dos comparação, em pontos predeterminados, do


objetivos da utilização do takt-time para a gestão estágio no qual se encontra a produção versus o
dos fluxos dos materiais é clarear as prioridades projetado. Desvios para mais ou para menos
para melhorias na fábrica. A imposição de um indicam problemas e são apontados pelo sistema
ritmo mais acelerado (diminuição do takt-time) de controle, de forma que medidas corretivas
serve para destacar as operações e os equipa- possam ser tomadas e seja despertada a atenção
mentos que restringem a capacidade de do responsável pela área. O controle da produção
produção. Esse tensionamento pode ser é, portanto, realizado ‘on-line’ e de forma
entendido como elemento indutor e direcionador descentralizada. O takt-time dá visibilidade ao
da realização de melhorias. fluxo dos materiais e aos problemas ocorridos.
Caso a capacidade de uma linha ou célula não Uma crítica que pode ser feita ao trabalho de
seja suficiente, identifica-se a operação que MEYERES (1999) é que, apesar de explicar com
define o tempo de ciclo e concentra-se a atenção detalhes e clareza um conjunto de técnicas
na sua melhoria. Essa será a operação para a qual pertinentes à ‘produção enxuta’ e associadas à
deverão ser canalizadas as atenções de engenhei- lógica de gestão da produção com base no takt-
ros, supervisores e grupos kaizen. Nesse caso, a time, os conceitos mais amplos associados ao
lógica de melhorias localizadas, em uma tema não podem ser percebidos na sua obra, pois
determinada operação, pode ser concretamente falta uma perspectiva de processos ao longo do
direcionada à Função Processo. Foge do escopo texto. Isso se reflete diretamente na utilização de
do tema tratado os casos de aumentos significa- indicadores locais de desempenho e na ausência
tivos e temporalmente consistentes na demanda, de uma discussão do papel do takt-time como
que podem implicar na compra de novos direcionador principal das melhorias voltadas
equipamentos, na expansão da fábrica ou na para o processo.
construção de uma nova planta. A seguir são sucintamente exploradas algu-
Transparece dessa discussão que o takt-time mas das implicações das idéias expostas para a
tem inserção mais ampla no sistema de gestão da gestão operacional e estratégica dos sistemas de
produção do que se poderia supor com uma produção.
interpretação desenvolvida somente no plano da
logística interna na fábrica. Além de se associar 4. Considerações Quanto ao Funcionamento
a gestão com base no takt-time a um ciclo de do Sistema
rotina – operação padrão, tem-se, forçosamente,
que reconhecer sua vinculação a um ciclo de
melhorias. Um paralelo pode ser feito com a
noção de kanban amplo de Taiichi Ohno,
O funcionamento de um sistema baseado no
takt-time está apoiado na verificação de
algumas condições. Especialmente, a garantia da
conforme ANTUNES JR. (1998). Uma represen- qualidade e a formação de recursos humanos
tação dessa lógica geral é oferecida na Figura 4. voltada para a constituição de um corpo de
Tipicamente, em uma linha programada com trabalhadores multifuncionais devem ser
base no takt-time, existem andons e dispositivos destacadas.
sonoros que indicam o progresso do trabalho. Interessa entender, no plano estratégico,
Quando um posto ultrapassa o limite de tempo como a flexibilidade dos sistemas de produção é
estipulado para a operação (ou conjunto de afetada em função da introdução da lógica de
operações) na rotina de operação-padrão, são gestão baseada no takt-time e quais são as
acionados alarmes visuais e sonoros. implicações decorrentes. Deve-se considerar,
A montagem de um veículo no STP pode ser ainda, as relações entre flexibilidade e as
metaforicamente comparada a um rally. O decisões relativas à formação de recursos
controle da produção é feito pela checagem e humanos, dentre outras ‘áreas de decisão’.
12 Alvarez & Antunes Jr. – Takt-time: Conceitos e Contextualização Dentro do Sistema Toyota de Produção

Figura 4 – Gestão com base no takt-time: os ciclos de rotina e de melhorias

4.1 Considerações Quanto aos Aspectos É na flexibilidade e na vinculação dessa


Estratégicos, em Especial à Flexibilidade dimensão competitiva às já mencionadas, entre-
tanto, que se deve deter a atenção.
Do ponto de vista estratégico, a gestão basea- A flexibilidade de um sistema de produção é
da em tempo possibilita a obtenção de vantagens a capacidade que o mesmo tem de se adaptar a
competitivas a partir da redução do tempo de variações no ambiente e nas condições internas
resposta às demandas externas. Notadamente, a de operação da empresa. Existem diferentes
redução do tempo de atravessamento (lead-time) tipologias para a flexibilidade. Adota-se aqui a
e das estagnações de materiais entre as opera- proposta por SLACK (1995), que define
ções, pelo encadeamento da função processo, quatro tipos de flexibilidade: de produto, de
leva a ganhos nos seguintes termos: mix, de volume e de entrega. No que concerne
• Custos: pela redução de perdas e aumento da ao tema em tela, a habilidade de alterar a
‘taxa de valor agregado’; variedade e a proporção entre as quantidades
• Qualidade: pela redução dos lapsos de tempo dos produtos em produção (flexibilidade de
entre o surgimento e a detecção de defeitos e, mix) e a habilidade de variar os volumes
especialmente, da exigência de qualidade agregados de saída do sistema de produção
assegurada; (flexibilidade de volume) são os tipos mais
• Tempo de entrega: pela redução do tempo relevantes.
desde o início da produção até a entrega; SLACK (1995) sobrepõe duas dimensões a
• Confiabilidade como fornecedor: a capacida- essa matriz conceitual: faixa e resposta. A
de de ‘manter datas’ se aprimora na medida flexibilidade de faixa diz respeito aos limites
em que o lead-time é reduzido comparativa- máximos e mínimos de variação que o sistema
mente ao “intervalo admissível de compra” – pode suportar; a flexibilidade de resposta está
ver SHINGO (1996b) para uma explicação associada ao tempo que o sistema necessita para
do conceito. se adaptar a essas variações.
GESTÃO & PRODUÇÃO v.8, n.1, p.1-18, abr. 2001 13

Lançando-se mão dos conceitos apresentados, de modo a não comprometer o fluxo dos
vê-se que a alteração do takt-time de um sistema materiais.
de produção não é trivial, repercutindo na fábrica Em consonância com o conceito de autono-
como um todo. Isso ocorre na medida em que a mação, no caso da linha de montagem, quando
adoção dessa sistemática de gestão altera as encontrado algum problema de qualidade, o
relações de dependência na fábrica, acentuando operário tem autonomia para paralisar o sistema.
as relações do tipo ‘dependência mútua’ entre os Uma vez parada a linha, o supervisor decide se o
diferentes agentes do trabalho intervenientes no veículo pode ser consertado no local ou terá que
processo. ser retirado. Essa decisão é baseada no tempo
De outro modo, é justo afirmar que, em necessário para o conserto; se o concerto não
termos práticos, a coordenação do fluxo dos puder ser realizado dentro do intervalo takt o
materiais com base no takt-time tem implicações veículo é retirado da linha. O supervisor então
para a flexibilidade dos sistemas de produção. comunicará a ocorrência aos supervisores das
Esse fenômeno é observado na medida em que a demais áreas e ao PCP, para que a programação
alteração do mix de produção ou do volume de seja revista e outras partes do veículo retiradas
saída de uma linha, por exemplo, pode demandar da linha – esses problemas se amplificam à
a completa redistribuição das cargas de trabalho. medida que aumenta a variedade de produtos
Para que essas mudanças sejam possíveis é finais.
necessário que um conjunto de requisitos A freqüência dessas ‘rupturas’ deve ser
relativos à formação de recursos humanos e à limitada e paulatinamente reduzida com a
padronização do trabalho sejam atendidos. realização de melhorias, até porque existem
Em síntese, os sistemas de produção geridos restrições físicas para a estocagem em processo
com base na amarração processual do fluxo dos de veículos (os projetos das fábricas da Toyota
materiais pela modelagem baseada no takt-time prevêem espaços bastante limitados paras as
têm condições de responderem de forma mais áreas de retoques e consertos de veículos), uma
rápida ao mercado, desde que a demanda siga vez que a manutenção de um fluxo homogêneo
um padrão sem alterações bruscas. Visto que depende da garantia de um elevado nível de
esse mecanismo de coordenação vincula qualidade.
sistemicamente as operações, qualquer perturba- O sistema pode colapsar com a ocorrência de
ção repercute na fábrica como um todo; se isso rupturas freqüentes no ritmo estabelecido para a
ocorrer, os ganhos obtidos nas outras dimensões produção em decorrência de problemas de
serão perdidos ou, mesmo, negativos (p.ex.: qualidade, pois sua adaptação à variabilidade é
aumento de custos de estocagem). limitada. Paradoxalmente, a construção do STP
A problemática da garantia da qualidade é passou pela interrupção sucessiva do funciona-
outro aspecto a ser considerado; retorna-se à mento da fábrica – OHNO (1996) explica que a
questão da flexibilidade logo a seguir. paralisação seguida da linha de montagem foi
necessária para que as causas dos problemas
4.2 As Relações com a Qualidade fossem encontradas e solucionadas; a linha
nunca deveria parar mais de uma vez pelo
No STP, a resolução de problemas de quali- mesmo motivo.
dade (defeitos) é uma exceção e deve ser A compreensão de que tempo e qualidade
tratado como tal. As rotinas de operação padrão têm relações muito fortes é condição necessária
são montadas de maneira que o avanço da para a apreensão das características que marcam
produção de acordo com o takt-time seja as relações entre os subsistemas de produção do
garantido. Qualquer ruptura, como o surgimento STP e surgem na sua modelagem teórica – por
de defeitos, deve ser prontamente solucionada, exemplo, em GHINATO (1995).
14 Alvarez & Antunes Jr. – Takt-time: Conceitos e Contextualização Dentro do Sistema Toyota de Produção

A garantia da qualidade é uma necessidade cada operário passe a executar menos operações;
para a operação do Sistema em si. De outro quando a demanda cai, ocorre o inverso (por
modo, a multifuncionalidade da mão-de-obra é exemplo: operações antes separadas em blocos
um requisito para o Sistema se adaptar às individualmente alocados, podem ser reagrupa-
variações; perceba-se que um sistema rígido das e realizadas por um conjunto menor de
pode ser um sistema inoperante. Os aspectos funcionários).
ligados à flexibilidade e à formação de Recursos Resulta que a flexibilidade operacional dos
Humanos são discutidos a seguir. recursos humanos é peça fundamental para o
adequado funcionamento do sistema. A cons-
4.3 Variação do Número de Trabalhadores, trução de uma posição robusta no quadro de
Multifuncionalidade e Formação de RH pessoal implica na necessidade de estruturação
de programas continuados de treinamento, de
A falta ou atraso de um funcionário causa modo que os operários se tornem gradualmente
sérios problemas para a operação de uma célula aptos a realizar diferentes operações. Esse é um
ou linha de produção, pois implica na redistribu- ponto especialmente crítico para o caso das
ição da carga de trabalho e na eventual alteração linhas de montagem, onde as possibilidades de
do takt-time. De modo a conseguir lidar com mecanização das tarefas tendem a ser reduzidas.
essas situações, uma empresa que programe a Por conseguinte, a operacionalização da siste-
produção com base no takt-time necessita de um mática se encontra umbilicalmente ligada a uma
grupo de montadores e/ou operadores multifun- lógica consistente de treinamento e formação e
cionais, capazes de cobrir faltas em diferentes recursos humanos.
pontos da linha e das células, sem que seja Embora relativamente simples do ponto de
necessário alterar as rotinas de operação e a vista do entendimento geral de sua lógica, o
cadência de produção. Esses ‘coringas’ têm subsistema de operação-padrão e a gestão com
papel fundamental na estabilização das base no takt-time não são expedientes corriquei-
condições operacionais da fábrica. ros em empresas industriais brasileiras, mesmo
Deve-se notar, que quando todos os funcioná- naquelas que adotaram sistemas de manufatura
rios estiverem presentes, sobrarão pessoas na celular; especialmente em se tratando de
linha ou nas células. No STP, aqueles não empresas de pequeno e médio porte.
alocados aos postos de trabalho dedicam-se a A verdade é que a construção de sistemas de
atividades de melhoria e/ou auxiliam os que produção baseados no STP depende de sólidos
efetivamente estão ocupando as posições na conhecimentos de Engenharia Industrial e de
célula ou linha, substituindo-os por períodos esforços continuados e consistentes de formação
curtos de tempo ou realizando algumas tarefas de recursos humanos. Das técnicas de tempos e
previstas nas suas operações-padrão que os movimentos provêm a base para a operação-
mesmos não estão conseguindo cumprir. padrão e a gestão da produção com base no takt-
A importância da presença de recursos hu- time – considere-se que sua aplicação no STP é
manos capazes de desempenhar diferentes realizada considerando uma visão global do
tarefas também é sentida em função da necessi- sistema de produção.
dade de adaptação do sistema às flutuações na A rarefeita tradição de Engenharia Industrial
demanda, pela alteração do ritmo de produção. e as deficiências da formação na área no Brasil
Esse caminho implica na redefinição do takt- fazem com que muitas empresas não dominem
time e no redesenho das folhas de operação- mesmo esses tópicos básicos. A essa possível
padrão, com a conseqüente redistribuição da deficiência técnica, que também envolve o
carga de trabalho na fábrica. Se a demanda entendimento superficial de conceitos associados
aumenta, o takt-time diminui, e é provável que ao tema, devem ser acrescidas limitantes de
GESTÃO & PRODUÇÃO v.8, n.1, p.1-18, abr. 2001 15

natureza cultural e política, que impedem a de estoques de produtos acabados pode ser
realização de investimentos de maior monta na desejável à variação no takt-time, pois o esforço
formação dos trabalhadores e, especialmente, a demandado para a alteração desse é de tal
delegação de poder no âmbito da fábrica. Essas magnitude que a estabilidade do Sistema pode
são barreiras a serem superadas na jornada rumo ser abalada com mudanças repetidas.
à construção de sistemas de produção competiti- Em virtude dessas dificuldades, é de se
vos em nosso País. esperar que as variações nas taxas de saída dos
Alguns dos limites técnicos para aplicação sistemas de produção operados com base no
dos conceitos são discutidos na seqüência. takt-time não sejam contínuas, mas apresentem
comportamentos em escada, com variações dos
5. Limites para a Aplicação do Conceito de níveis agregados de produção em saltos
Takt-time: uma Breve Discussão descontínuos. De fato, a definição dos domínios
dessas variáveis depende também do grau de

O emprego do takt-time como fio condutor


do fluxo de produção limita a capacidade
da empresa se adaptar a alterações nas condições
discretização das operações de montagem
constantes das rotinas de operação-padrão.
Conclui-se, pois, que a aplicação do takt-time
de produção. Em termos estratégicos, o sistema como elemento que encadeia e representa a taxa
de produção fica caracterizado por uma baixa de avanço do fluxo dos materiais ao longo do
flexibilidade de resposta às variações na tempo e do espaço é restrito a um conjunto de
demanda, tanto em termos do volume como do situações nas quais é possível estabelecer uma
mix de produção. demanda relativamente homogênea por um
As dificuldades operacionais para variação do determinado período de tempo mínimo. Variar
takt-time introduzem um componente inercial na continuamente o volume ou o mix de produção
fábrica. Caso a demanda varie, a gerência da não são alternativas viáveis do ponto de vista
planta pode optar por manter constantes os prático.
níveis de produção por um determinado período, A adoção desse mecanismo de programação
mesmo tendo condições de redistribuir o não faz com que a empresa prescinda de um
trabalho. sistema de planejamento da produção de nível
Se a demanda cair, a manutenção do volume mais alto; pelo contrário, a alocação à fábrica de
de produção acarretará o acúmulo de estoques de uma demanda estável por um determinado
produtos acabados. Essa, na verdade, é uma período de tempo dependerá da capacidade de
prática observada no próprio STP – isto é, nas desenvolver planos de produção mensais e
fábricas da Toyota, resultando daí a ocorrência semanais que absorvam as variações diárias de
de perdas por estoque (OHNO, 1996). demanda sem que essas sejam transferidas ao
O Sistema, ao adotar uma determinada lógica sistema de produção.
de gestão da produção, no caso baseada na deter- Sumariando-se as considerações feitas, podem
minação do takt-time, acaba por gerar perdas. ser relacionados os seguintes requisitos para a
Essa aparente contradição interna tem explicação gestão com base no takt-time e a adoção da
na medida em que a realização de mudanças sistemática de operação-padrão de forma ampla:
constantes no takt-time, com a decorrente • Estabelecimento de uma abordagem mul-
redefinição das rotinas de operação, é complexa tinível de PCP, de tal forma que seja factível,
e pode gerar transtornos significativos, os quais pela adequada gestão da demanda e de esto-
viriam a causar uma série de outras perdas. ques, amortecer eventuais variações de curto
Os limites da flexibilidade do Sistema são prazo no carregamento da fábrica. Essa lógica
assim expostos. Mesmo com os esforços pressupõe, naturalmente, uma forte interação
historicamente realizados no STP, a manutenção com as estruturas de mercado e vendas.
16 Alvarez & Antunes Jr. – Takt-time: Conceitos e Contextualização Dentro do Sistema Toyota de Produção

• Realização de esforços continuados para o peças, como é o caso das linhas de montagem e
treinamento e formação de operários multi- internamente nas células de fabricação. Em
funcionais. termos gerais, coordena o encadeamento global
• Entendimento conceitual e aplicação prática do fluxo na fábrica.
de um dos pilares do STP: a autonomação. Os conceitos de takt-time e tempo de ciclo
Ações nesse sentido irão demandar conheci- são bastante distintos, muito embora relaciona-
mentos próprios de mecânica, elétrica, siste- dos. Ao contrário do primeiro, o conceito de
mas de controle etc., fato que deve ser consi- tempo de ciclo está diretamente relacionado à
derado na formação de quadros aptos à Função Operação, ou seja, a cada máqui-
realização de melhorias. na/operação em particular.
• Compreensão adequada dos conceitos de No caso das células de fabricação e das linhas
takt-time, tempo de ciclo e tempo de ciclo da de montagem as máquinas ou postos de trabalho
célula ou linha, discutidos ao longo deste que a constituem devem ser observados a partir
artigo. de uma lógica de sistema e, portanto, das
Se a variação do mix e do volume de produ- relações de dependência entre os elementos que
ção resultam em dificuldades para a gestão da o constituem. O tempo de ciclo da célula ou da
produção através do kanban e do takt-time em linha é definido a partir do tempo de ciclo da
sistemas produtivos de base repetitiva como o operação mais longa (ou conjunto de operações,
automobilístico, é possível imaginar que as no caso dos operadores executarem mais de uma
conseqüências serão ainda mais onerosas para operação), o que implica em dizer que esse é o
aqueles que apresentam uma grande variabilida- máximo ritmo de produção que pode ser obtido,
de em suas entradas e saídas. conservadas as condições atuais.
As características da gestão da produção com O intervalo de tempo que representa o takt-
base no takt-time permitem, portanto, afirmar time situa-se entre os limites inferior definido
que a aplicação dessa sistemática só é adequada pela demanda e superior determinado pelo
a sistemas com elevado grau de repetitividade na tempo de ciclo da célula ou linha. Sugere-se a
produção, nos quais se possam configurar fluxos introdução da definição de takt-time calculado
unitários de peças e, mais além, manter a (razão entre o tempo disponível para produção e
estabilidade nos padrões de demanda do ponto a demanda), de forma que seja possível
de vista da fábrica. evidenciar eventuais diferenças com o ritmo real
As impressões globais resultantes deste texto de produção comportado pela fábrica, aqui
são apresentadas na seção posterior. denominado de takt-time efetivo.
Pode-se dizer que o conceito de takt-time é
6. Comentários Finais central no sentido de direcionar concretamente
as melhorias voltadas ao processo, tendo para-

N o contexto da aplicação prática do Sistema


Toyota de Produção, o conceito de takt-
time é tão ou mais relevante que o conceito do
lelo direto no conceito de kanban amplo. Logo,
se vincula não somente à rotina, mas também
fortemente a lógica de melhorias do STP.
kanban. O sentido dessa afirmação é que ambos A qualidade assegurada é um dos elementos
estão diretamente relacionados ao gerenciamento necessários ao bom funcionamento do sistema,
dos sistemas produtivos tendo como eixo central que é incapaz de operar quando da ocorrência de
a ótica da Função Processo. Enquanto o kanban interrupções constantes. A formação de
é particularmente importante quando se está operários multifuncionais é outra condição
tratando da produção de lotes de fabricação, o necessária, vinculando-se ao desenvolvimento da
takt-time é aplicado quando a produção se dá em robustez do sistema e da capacidade de
estruturas caracterizadas pelo fluxo unitário de adaptação às variações nas condições externas e
GESTÃO & PRODUÇÃO v.8, n.1, p.1-18, abr. 2001 17

internas. Some-se a isso a relevância permanente plano mestre de produção etc.) e uma forte
da formação básica em técnicas de Engenharia articulação com as estruturas de vendas e
Industrial. mercado.
O emprego do takt-time tende a reduzir a Em virtude dos pontos levantados, vê-se que
flexibilidade de resposta dos sistemas de as possibilidades de utilização do takt-time como
produção com relação às flutuações de volume e elemento central de gestão da produção são
mix. Esse aspecto acentua a necessidade da limitadas. Conclui-se que sua aplicação é restrita
existência de sistemas/esquemas de planejamen- a sistemas de produção que trabalhem com
to capazes de antecipar e dissipar as flutuações fluxos unitários, com elevadas razões entre
de curto prazo na demanda, através do nivela- unidades produzidas e modelos em linha e
mento da demanda e/ou da produção. Artifícios contem com esquemas de PCP que possibilitem
desse tipo pressupõem a existência de uma a absorção e a diluição no médio/longo prazo de
estrutura de PCP de alto nível (plano agregado, variações na demanda.

Referências Bibliográficas

ANTUNES JR., J.: Em Direção a uma Teoria Geral ROTHER, M. & SHOOK, J.: Learning to See: Value
do Processo na Administração da Produção: Stream Mapping to Add Value and Eliminate
uma Discussão Sobre a Possibilidade de Muda. The Lean Enterprise Institute, Brookline,
Unificação da Teoria das Restrições e a Teoria EUA, 1998.
que Sustenta a Construção dos Sistemas de SHINGO, S.: O Sistema Toyota de Produção do
Produção com Estoque Zero. Tese de doutorado Ponto de Vista da Engenharia de Produção.
em Administração de Empresas, Programa de Bookman, Porto Alegre, RS, 1996a.
Pós-Graduação em Administração da UFRGS,
Porto Alegre, RS, 1998. SHINGO, S.: Sistemas de Produção com Estoque
Zero: O Sistema Shingo para Melhorias
CORIAT, B.: Pensar pelo Avesso: o Modelo Japonês
Contínuas. Bookman, Porto Alegre, RS, 1996b.
de Trabalho e Organização. Editora da UFRJ, Rio
de Janeiro, RJ, 1994. SHONBERGER, R.: Japanese Manufacturing
GHINATO, P.: Sistema Toyota de Produção: Mais Techniques: Nine Hidden Lessons in Simplicity.
do que Simplesmente Just-in-time. Editora da The Free Press, EUA, 1982.
UCS, Caxias do Sul, RS,1995. SHOOK, Y: “Bringing the Toyota Production System
IWAYAMA, H.: Basic Concept of Just-in-time to the United States: A Personal Perspective”, in
System, mimeo, IBQP-PR, Curitiba, PR, 1997. LIKER, J. (org.): Becoming Lean: Inside Stories
of U.S. Manufacturers. Productivity, Portland,
MEYERS, F.: Motion and Time Study for Lean
EUA, 1998.
Manufacturing. Prentice Hall, Upper Saddle
River, EUA, 2a ed., 1999. SLACK, N.: Vantagem Competitiva em Manufatura
MINTZBERG, H.: Criando Organizações Eficazes: – Atingindo Competitividade nas Operações
Estruturas em Cinco Configurações. Atlas, São Industriais. Editora Atlas, São Paulo, SP, 1993.
Paulo, SP, 1993. TOYOTA MOTOR COMPANY: Toyota Production
MONDEN, Y.: Sistema Toyota de Produção. IMAM, System Handbook (em japonês). Nagoya, Japão,
São Paulo, SP, Brasil,1984. 1998.
OHNO, T.: O Sistema Toyota de Produção – Além da WOMACK, J.; JONES, T. & ROOS, D.: The
Produção em Larga Escala. Bookman, Porto Machine that Changed the World. Macmillan
Alegre, RS, 1996. Publishing Company, Inc, EUA, 1990.
18 Alvarez & Antunes Jr. – Takt-time: Conceitos e Contextualização Dentro do Sistema Toyota de Produção

TAKT-TIME: CONCEPTS AND CONTEXT IN


TOYOTA PRODUCTION SYSTEM
Abstract

This text aims at clarifying, as much as possible, the concept of takt-time, considering that it is
possible to perceive a gap in the literature in relation to the understanding of the conceptual differ-
ences between this and the definition of cycle time. An attempt to establish a rigorous conceptual
framework for the understanding of the terms is made here, taking the principles of the Toyota
Production System (TPS) as a basic reference. Based on the problem of synchronizing materials flow
along time and space in the TPS, the emphasis is put on the comprehension of time as a fundamental
variable for production systems’ management. In such a context, takt-time’s central role in TPS’
management scheme is highlighted. Aspects concerning the flexibility of the production systems are
also stressed. Taken the perspective of materials flow synchronization, the conceptual aspects which
characterize takt-time’s management scheme allow the limits of its usage to be identified. Finally, the
relations between takt-time based management, quality assurance and human resources development
are analysed.

Key words: takt-time, cycle time, synchronous manufacturing, Toyota Production System.

Você também pode gostar