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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

Programa de Pós-Graduação em Ciências e Engenharia de


Materiais e Processos Químicos e Térmicos - PIPE

ESTUDO DO COMPORTAMENTO CORROSIVO DE ÁCIDOS


NAFTÊNICOS EM ESCOAMENTO

Proposta de projeto para tese de mestrado na


área de concentração de Ciência e Engenharia
de Materiais.
Aluna: Ana Carolina Tedeschi Gomes
Orientador: Prof. Dr. Haroldo de Araújo Ponte

CURITIBA
MAIO / 2003
ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO................................................................................................4
2. ESTADO ATUAL DA ARTE ...........................................................................9
2.1. Mecanismo de corrosão por ácidos naftênicos......................................... 9
2.2. Influência das variáveis de processo ......................................................... 9
2.3. Sistemas Experimentais ............................................................................ 10
3. OBJETIVOS..................................................................................................16
4. MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................17
5. RESULTADOS ESPERADOS ......................................................................19
6. CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO ................................................................20
7. FINANCIAMENTO ........................................................................................22
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................23
ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 - Dependência do número de acidez total em relação ao tempo de


exposição do aço carbono 1018 em óleo mineral com 0,25 M CHCA a
275ºC[1] ..........................................................................................................11
Figura 2 - Curva Modificada de McConomy[13] .......................................................12
Figura 3 - Multiplicador de taxa de corrosão[13] ......................................................12
Figura 4 - Isotermas de corrosão para aço carbono em mistura de óleo e ácidos
naftênicos [2] ..................................................................................................14
Figura 5 - Representação do reator em forma de L ...............................................17
Figura 6 - Fluxograma do sistema proposto...........................................................18
1. INTRODUÇÃO

A corrosão por ácidos naftênicos é um dos temas de maior interesse na


industria de petróleo. Embora já se saiba algumas coisas sobre este fenômeno, ele ainda
não está completamente compreendido. O tipo de ácido e a presença de outros
constituintes no petróleo possuem influencia na corrosão, assim como a temperatura e o
fluxo do fluido[1].
Este tipo de corrosão não é um problema recente para as refinarias. Durante a
década de trinta (século 20) este fato foi identificado nas refinarias dos Estados Unidos
como um grande problema durante o processamento de óleos ácidos[2]. Em 1956,
Derungs[3] apontou as característica do cru e as condições de processo que favorecem a
corrosão por ácidos naftênicos e sugeriu caminhos para minimizar os danos na coluna de
destilação, e identificou as unidades mais susceptíveis.
Recentemente intensificou-se a necessidade de pesquisas nesta área, pois as
refinarias estão processando uma grande quantidade de crus nacionais e estrangeiros,
muitos dos quais têm elevada concentração de ácidos naftênicos[2]. Além disso, esses
crus têm sido recuperados em áreas em que não era conhecida a produção desse tipo de
petróleo, tais como China e África[4]. Dessa forma, óleos crus de baixo custo começaram a
ser processados em plantas construídas com aços convencionais e de baixo custo,
exigindo que algumas modificações sejam feitas[1].
A princípio, uma melhor compreensão dos fundamentos da corrosão por ácidos
naftênicos conduz à identificação do potencial corrosivo dos óleos crus e permite a
seleção de crus adequados a serem processados nas unidades construídas com material
barato sem preocupação com a corrosão. Além disso, a seleção de materiais na
construção de novas plantas pode prevenir a corrosão e a subseqüente contaminação do
material por produtos da corrosão do ferro. A presença de contaminantes oriundos de
processos corrosivos pode resultar no envenenamento de catalisadores e paradas de alto
custo[1].
Os ácidos naftênicos são ácidos orgânicos que estão presentes em muitos óleos
crus, especialmente nos petróleos provenientes da Califórnia, Venezuela, Leste Europeu,
Rússia, China, e Venezuela[1]. Embora exista menor quantidade de outros ácidos
orgânicos, os ácidos principais são estruturas de anel saturado com um único grupo
carboxila. Sua fórmula geral pode ser escrita como R(CH2)nCOOH, onde o R é
usualmente um anel de ciclopentano. Ácidos de maior peso molecular podem ser
bicíclicos (12<n<20), tricíclicos (n>20) e também policíclicos[5]. Possuem temperatura de
ebulição variando entre 177 e 343 oC[6] e, quase sempre, são responsáveis pela acidez
total do petróleo.
Esta acidez é medida através da titulação de uma amostra do óleo com uma
solução alcoólica de hidróxido de potássio, uma base forte, até o ponto final que assegura
que todos os ácidos da amostra tenham sido neutralizados[4]. Este ponto final é chamado
de número de acidez total (NAT) ou número de neutralização (NN). Muitos tipos de ácidos
estão sempre presentes no óleo, por isso é impossível calcular a acidez em termos de
moles de ácido ou de qualquer outro termo analítico. O total de acidez de um cru pode
[7]
incluir vários outros ácidos orgânicos e, às vezes, ácidos minerais . Um termo
conveniente relaciona os miligramas de hidróxido de potássio usado para neutralizar os
ácidos por grama de óleo titulado (mgKOH/góleo)[4].
Tem sido demonstrado que ácidos naftênicos variam em sua concentração de um
cru para outro, mesmo que o valor do fator de ácido titulável (NAT) seja o mesmo[4]. A
variação da taxa de corrosão se deve também aos contaminantes que alteram a
corrosividade sem mudar o número de neutralização[6]. A verificação deste fato é feita
através da determinação da quantidade de ácido naftênico em dada amostra de óleo.
Esse método utiliza um cromatógrafo de fase líquida para isolar todos os ácidos
naftênicos presentes em uma amostra. Então, a percentagem em massa desses ácidos é
determinada por espectroscopia no infravermelho, que fornece uma resposta quantitativa
pela comparação da absorção no IR do grupo carboxílico da amostra com a do padrão,
uma mistura comercial de ácido naftênico[4].
Quando o NAT é inferior a 0,5 mgKOH/gcru, a corrosão naftênica é irrelevante.
Alguns estudos indicam que o inicio deste tipo de corrosão ocorre entre 1,5 e 2,0
mgKOH/gcru[1]. Acima deste valor a taxa de corrosão normalmente varia linearmente com o
NAT, podendo haver exceções. A taxa de corrosão de aço carbono, aços de baixa liga e
Monel praticamente dobra quando se duplica o número de neutralização. A corrosão do
aço inoxidável AISI 410, entretanto, aumenta cerca de 5 vezes com o aumento do número
de neutralização, provavelmente devido a perda gradual de passividade[2].
A corrosão por ácidos naftênicos se apresenta principalmente através de três
formas. Sob algumas condições, o metal é afinado uniformemente, freqüentemente
produzindo um efeito “casca de laranja” sobre a superfície. Isso pode ser observado na
parte inferior de pratos e downcomers, onde existe alta concentração de ácido
condensado do vapor. Áreas afinadas também ocorrem quando o ácido condensado
escoa pelas paredes de um vaso[4][6].
Outras condições produzem pitting, freqüentemente em tubulações ou soldas. Eles
podem estar aglomerados ou se formarem em um padrão associado com uma solda ou
qualquer outra característica geométrica da superfície. Usualmente o metal externo ao pit
é coberto com um filme de sulfeto pesado, preto, enquanto a superfície do pit tem apenas
um filme fino, de cor variando do cinza para o preto[4].
Um terceiro tipo de corrosão é facilmente reconhecido como corrosão-erosão, pois
o ataque do metal tem relação definida com o escoamento do fluido. A regra derivada
dessas observações é que, quanto mais complexa for a corrosão – uniforme → pitting →
corrosão-erosão – menor é o valor de NAT que desencadeia o processo[4].
A natureza do processo de corrosão depende da localização no processo de refino.
Tubos de fornos, linhas de transferência, recheio de torres, peças internas de bombas,
válvulas e acessórios são potencialmente susceptíveis, assim como paredes de colunas
sujeitas à formação de película de condensado descendente. Um ataque mais localizado
pode ocorrer em regiões sujeitas à formação de filme de sulfeto, embora este filme possa
ser benéfico. Corrosão-erosão pode ocorrer, por exemplo, em regiões sujeitas a altas
velocidades em linhas de transferência[5][1].
Geralmente a corrosão se dá pelo produto de fundo da coluna de destilação
atmosférica que processa o óleo cru[6]. A corrosão é maior na interface entre o vapor e o
filme líquido que se forma sobre a superfície metálica dos equipamentos, nas regiões de
condensação entre 230ºC e 400ºC.
A corrosão por ácidos naftênicos ocorre principalmente nas unidades de destilação
de cru e à vácuo, e menos freqüentemente nas operações de craqueamento catalítico e
térmico. Esta corrosão é mais pronunciada em locais com alta velocidade e turbulência,
como em cotovelos, reforços de solda, impulsores de bombas, bocais de injeção de vapor
e em locais onde ocorre gotejamento de frações condensadas sobre as superfícies
metálicas [7].
Basicamente mudando-se o material com que é feito o equipamento, pode-se
controlar a taxa de corrosão por ácido naftênicos[6]. A escolha do material pode ser
realizada em função de duas variáveis de processo:
• Temperatura: em temperaturas inferiores a 220ºC, aços carbono de baixa ou
média liga podem ser utilizados, porém em temperaturas superiores deve-se
usar aço inox austenítico com um teor mínimo de molibdênio de 2,5%[4][6].
• Velocidade: em baixas velocidades não se recomenda o uso de aços inox
304, 321 e 347. Para estes casos deve-se utilizar aços inox 316 ou 317
devido à adição de molibdênio. Em alguns casos, como em linhas que
trabalham com vácuo, usa-se o aço inox 317, ao invés do 316, devido à
maior percentagem de molibdênio em sua liga[6].
A velocidade tem um efeito marcante na corrosão de tubos de fornos e linhas de
transferência devido à turbulência provocada pelo fluxo bifásico (líquido/vapor). Sendo o
efeito ainda maior onde ocorre turbulência provocada por barreiras físicas, como em
curvas, locais com excesso de penetração de soldas, desalinhamentos e bombas. Na
tabela abaixo está registrada a influência da velocidade e da turbulência nas taxas de
corrosão de alguns materiais de maior utilização na indústria do petróleo[8].

Tabela 1 - Influência da velocidade e da turbulência numa linha de transferência em


trechos retos e curvos (Temperatura do produto 360 oC)
Material Índice de acidez Velocidade linear Taxa de corrosão
mgKOH/g m.s-1 mm.ano-1
Aço carbono 1,5 73 12 (máx. nas curvas
Aço carbono 1,5 26 0,6 (trecho reto)
5Cr - 0,5 Mo 1,5 73 2 (máx. nas curvas
5Cr – 0,5 Mo 1,5 26 0,6 (trecho reto)
5Cr – 0,5 Mo 0,6 45 0,6 (máx. nas curvas)
9Cr – 1 Mo 1,5 73 0,7 (máx. nas curvas)
AISI 316 1,5 26 Não detectado

Com relação à influência da temperatura, a corrosão por ácidos naftênicos ocorre


nos aços carbono, aços de baixa liga, aços inoxidáveis AISI 410 e austeníticos AISI 316
na faixa de temperatura de 200oC a 400oC[9].
Crus oriundos de várias partes do mundo têm diferentes graus de corrosividade.
Crus da costa oeste da América do Norte têm sido os mais corrosivos, enquanto os da
Venezuela, por exemplo, parecem não requerer a utilização do mesmo grau de ligas nas
unidades de crus. A prática usual tem sido usar materiais como aço inox austenítico com
um mínimo de teor de molibdênio de 2,5% quando for encontrada corrosão por ácido
naftênico.
Existem várias técnicas de monitoração para avaliar o comportamento de um metal
em um meio corrosivo. A escolha da técnica que oferece as melhores respostas depende
do tempo de resposta desejado, da compatibilidade com o meio corrosivo e da
capacidade de detecção da forma de ataque (uniforme, localizada, etc.). Dados fornecidos
por cupons de perda de massa não permitem uma avaliação de campo precisa, uma vez
que não é possível acompanhar a variação das taxas de corrosão com o tempo. Isso
impossibilita qualquer correlação da taxa de corrosão do material com as variáveis de
processo ou com as características do meio. Esta correlação é importante para a
compreensão e determinação do tipo de processo corrosivo predominante[10].
Na situação de interesse, as temperaturas e velocidades nas linhas de
transferência são elevadas (± 370ºC e 40-60 m/s), o que gera um fluxo bifásico. Além
disso, o petróleo é um meio não condutor, o que dificulta a utilização de métodos
eletroquímicos. Uma técnica capaz de ser usada para este caso é a técnica de resistência
elétrica, pois permite monitorar as taxas de corrosão em tempo real, não é afetada pelas
características do fluído, suporta temperaturas de até 530ºC e é adequada para a
detecção de um processo corrosivo uniforme. Esta técnica possui limitações, alterações
significativas de temperatura podem causar um ruído nas leituras, em função de
mudanças na resistividade do elemento sensor. Outro problema é a formação de filmes
de produto de sulfeto de ferro que são semicondutores[10].
2. ESTADO ATUAL DA ARTE

2.1. Mecanismo de corrosão por ácidos naftênicos

O processo de corrosão é descrito tipicamente pelas reações[1]:

Fe + 2RCOOH → Fe(COO)2 + H2
Fe + H2S → FeS + H2
Fe(RCOO)2 + H2S → FeS + 2RCOOH

Os naftanatos de ferro são solúveis no óleo e a superfície é relativamente livre de


filmes. Na presença de H2S um filme de sulfeto é formado, o qual pode oferecer alguma
proteção dependendo da concentração do ácido[1].
Os processos descritos pelas equações acima podem ser aplicados tanto para as
reações químicas quanto para as eletroquímicas. Para distinguir as contribuições relativas
dos processos químicos e eletroquímicos sobre a taxa de corrosão, uma alternativa seria
a aplicação de uma corrente anódica alta na amostra e a comparação da perda de massa
obtida com a predita pela Lei de Faraday. O uso do método da polarização linear é
desaconselhado pela incerteza na medida do potencial nestes fluidos nas temperaturas
de operação[1].

2.2. Influência das variáveis de processo

Em relação a temperatura, a corrosão naftênica é praticamente desprezível abaixo


de 230ºC, aumentando continuamente com a temperatura acima de 250ºC. Acima de
260ºC aproximadamente, os ácidos naftênicos vaporizam-se parcialmente, dependendo
da pressão e do tipo de cru. A vaporização normalmente diminui a quantidade de ácido no
líquido e contra balança um aumento na tendência à corrosão devido ao aumento da
temperatura. Os ácidos naftênicos vaporizados não são agressivos aos materiais comuns
utilizados na construção dos equipamentos [1].
As taxas de corrosão atingem um máximo em aproximadamente 370oC e acima de
400ºC, os ácidos naftênicos se decompõem produzindo compostos neutros[4]. Acredita-se
que o aumento das taxas de corrosão, com o acréscimo da temperatura a partir de 380ºC,
é causado pela influência dos componentes sulfúricos que se tornam corrosivos ao aço
carbono e aos aços de baixa liga nestas temperaturas [7].
Como a atividade dos ácidos naftênicos de baixo peso molecular é maior, as
frações mais pesadas geralmente são menos corrosivas.
A cinética da corrosão pode ser representada pela equação de Arrhenius para
temperaturas superiores a 288ºC, e, provavelmente para temperaturas inferiores, sendo
pouco influenciada pela pressão. A corrosão em aço carbono e aço inox AISI 410
praticamente triplica quando aumenta-se a temperatura em 55ºC[1].
A corrosão naftênica ocorre exclusivamente em fase líquida. O ataque é
aparentemente maior quando o ácido muda de fase condensando-se sobre o metal
produzindo sulcos característicos que distingue este tipo de corrosão do ataque sulfúrico
a altas temperaturas[2]. Isto indica que a corrosão é acentuada em temperaturas um pouco
inferiores ao ponto de condensação do ácido[1].
A velocidade é um dos fatores que mais influencia o ataque naftênico. O produto
de corrosão é extremamente solúvel em óleo sendo facilmente removido pela incidência
de fluxo. Por este motivo a superfície corroída se apresenta lisa e isenta de produtos de
corrosão.
Na prática, a influência da velocidade e da turbulência é demonstrada pela
observação que a corrosão por ácidos naftênicos é mais severa em áreas de alta
turbulência, como derivações, cotovelos e bombas. Altas velocidades e turbulência podem
acelerar este tipo de corrosão, porém o efeito não é pronunciado em colunas de
destilação, trocadores de calor e tubulações que transferem líquidos. O fluxo do fluido
pode ter um efeito forte na corrosão de tubos de fornos e linhas de transferência de
fluidos em fase líquida e vapor[1].

2.3. Sistemas Experimentais

Testes em laboratório foram revisados por Tebbal e Kane[11]. O primeiro desafio é


manter as condições químicas na “temperatura de análise” e se deve-se utilizar um
sistema de autoclave selado ou aberto. Em um sistema aberto com condensador, a perda
de gases como H2S é inevitável com o tempo. A não ser que as frações leves sejam
condensadas. Um sistema selamento pode levar a altas e irreais concentrações de H2S.
Tebbal e Kane afirmam que uma válvula de alívio de pressão e um condensador podem
gerar dados de corrosão muito próximos aos determinados nas plantas, porém,
reconhecem que existe uma certa arbitrariedade no nível de pressão estabelecido. Para
isso, é necessário que os dados das plantas estejam disponíveis e que diversos crus
possam ser analisados.
A decomposição dos ácidos devido à temperatura é também um assunto de
interesse nas simulações em laboratório. Em um teste de laboratório com um ácido de um
único anel (CHCA), Turnbull e Francis[1][12] observaram uma decomposição acentuada do
ácido à 275ºC, evidenciada por um decaimento rápido do NAT com o tempo (Figura 1). O
uso de condensadores duplos demonstrou que isto não é devido somente a perda de
espécies voláteis, o que foi confirmado pela observação de que o decaimento do NAT foi
significante somente na presença de metal exposto a corrosão. Na ausência de metal, o
valor do NAT diminuiu somente de 18 para 16, considerando-se o mesmo tempo de
análise. Cálculos simples da taxa de perda de massa indicam que o consumo de ácido
pela corrosão foi muito pequeno para explicar o decréscimo do valor do NAT. Em uma
mistura comercial de ácidos naftênicos, o valor do NAT decresceu de 18 para 9,
sugerindo que a decomposição é mais significante para ácidos mais leves.
A dependência da taxa de corrosão com a temperatura para diferentes tipos de
ligas foi investigada por McConomy[13] e por Helen[14] em seus estudos de campo. O
primeiro estudo resultou na curva de McConomy modificada (Figura 2), com o fator de
correção para compostos sulfúricos (Figura 3).

Figura 1 - Dependência do número de acidez total em relação ao tempo de exposição do


aço carbono 1018 em óleo mineral com 0,25 M CHCA a 275ºC[1]
Figura 2 - Curva Modificada de McConomy[13]

Figura 3 - Multiplicador de taxa de corrosão[13]

Blaco et al.[8] apresentou dados de corrosão que foram coletados de linhas de


transferência de óleo cru a 360ºC indicando que a taxa de corrosão do aço carbono é
consideravelmente maior do que a do aço 5Cr-0,5Mo quando o óleo cru flui em altas
velocidades. Gutzeit[2] mostrou que em misturas de óleo e ácidos naftênicos a 280ºC, com
velocidades de até 4 m/s na fase líquida, a influencia da velocidade na corrosão é
pequena. Nos mesmos experimentos, ele encontrou um grande aumento na corrosão da
fase vapor (condensado) quando a velocidade aumentou de 0 para 0,12 m/s. Ele também
mostrou que aumentos adicionais de velocidade até 4,0 m/s diminuem a corrosão. Este
efeito é atribuído às forças centrifugas do sistema, que impedem a formação de filme de
condensado em altas velocidades.
[15]
Medidas da taxa de corrosão feitas em laboratório por Tebbal e Kane sugerem
taxas gerais da ordem de 20-25 mpy (0,51-0,64 mm/ano), tanto para aço 5Cr quanto para
o 9Cr, com pequeno impacto em relação ao aumento da velocidade, embora o ataque por
pitting seja realçado.
Piehl[16] apresentou resultados da avaliação da performance de materiais feita
através de cupons expostos em refinarias junto com dados de inspeção. Seu trabalho
mostrou que aços carbono e aços AISI 410 corroem rapidamente quando expostos a uma
coluna de destilação a vácuo de cru. Nestas mesmas condições, as ligas AISI 430, AISI
304, Incoloy 800 e Inconel 600 também corroem de forma similar, mas com taxas
inferiores.Aço AISI 316 e outros aços inoxidáveis de alta liga não evidenciaram nenhuma
corrosão significativa, mas Piehl observou que a liga AISI 316 irá corrói se a sua
percentagem de molibdênio cair abaixo de um nível crítico (2-3%).
Guitzeit[2] observou a influência do calor e dos tratamentos de superfície sobre as
características da corrosão. Em relação ao AISI 410 e ao aço carbono, a taxa de
corrosão abaixo de 232ºC para os dois materiais é baixa (menos que 3 mpy, 0-0,076
mm/ano). Em altas temperaturas, a liga AISI 410 corrói com a metade da taxa da corrosão
do aço carbono. Ele mostrou também que a taxa de corrosão dos aços carbono, 7Cr-
0,5Mo e 9Cr-1Mo aumenta cerca de 2-5 vezes quando o valor do NAT é dobrado. Sob
condições similares, a taxa de corrosão da liga AISI 410 aumenta cerca de 4-6 vezes. Ele
sugeriu que este comportamento pode ser devido à natureza do ataque, porém não se
tem dados suficientes para tirar conclusões definitivas. Entretanto, seu trabalho indica que
a liga AISI 410 é um pouco mais resistente contra a corrosão do que os aços carbono e
de baixo teor de cromo, como também sugerido por Derungs[3]. As isotermas de corrosão
produzidas por Gutzeit (Figura 4) parecem ser as melhores para predizer as taxas de
[1]
corrosão dos materiais em meios com ácidos naftênicos . Em seu trabalho sobre a
influência do tratamento térmico sobre a corrosão em aços inoxidáveis, o estrago
observado foi sempre menor para o material recozido e a liga AISI 317 aparentou ser o
material mais resistente.
Figura 4 - Isotermas de corrosão para aço carbono em mistura de óleo e ácidos
naftênicos [2]

Em estudos recentes, Craig[17] investigou a influência do molibdênio na resistência


contra corrosão por ácidos naftênicos. Ele demonstrou que um aumento de 5 vezes no
teor de molibdênio aumenta a resistência contra a corrosão em 10 anos. Sob altas
velocidades, o efeito do molibdênio é mais acentuado.
Paiva[10] fez ensaios de campo utilizando a técnica de resistência elétrica, tanto em
unidades de destilação atmosférica quanto em unidades de destilação a vácuo, como
método de detecção da corrosão por compostos de enxofre e por ácidos naftênicos. Para
isso, usou sensores cilíndricos em aço 9Cr – 1Mo e em aço AISI 410. Este último
demonstrou ser sensível à corrosão naftênica, enquanto que o primeiro foi sensível à
corrosão por compostos de enxofre na destilação atmosférica. Ele observou também que
o processo corrosivo predominante nas linhas de transferência e fornos desta unidade é a
corrosão naftênica, enquanto na destilação a vácuo os compostos de enxofre são os
principais agentes corrosivos.
Paiva[10] também realizou ensaios em laboratório, em autoclave, testando aço
carbono, 5Cr-0,5Mo, 9Cr-1Mo e AISI 410, jateados ou pré-sulfetados, instalados em um
carrossel de modo a atingir velocidades tangenciais da ordem de 13 m/s e submetidos a
temperaturas de até 340ºC. Entre os resultados, ele obteve o tempo de duração ideal dos
ensaios (48 a 72 horas) e o melhor meio para detecção da corrosão naftênica (cru
reduzido).
3. OBJETIVOS

O principal objetivo deste trabalho é o estudo do comportamento eletroquímico


de diversos materiais em meio contendo ácidos naftênicos sob condições de escoamento.
O desenvolvimento de um sensor para a monitoração de corrosão por ácidos
naftênicos será uma atividade que estará sendo realizada paralelamente ao
desenvolvimento deste projeto.
Para isso, será montada uma unidade experimental, que permita a simulação
do processo de corrosão por ácidos naftênicos em escoamento, e avaliação a influência
de diversas variáveis (temperatura, vazão e NAT) sobre a resposta de um sensor de
corrosão que utiliza princípios de sistemas bimetálicos.
4. MATERIAIS E MÉTODOS

Conforme colocado na introdução deste projeto, a natureza do processo de


corrosão depende da localização no sistema de refino. Processos de corrosão-erosão
podem ocorrer, por exemplo, em regiões sujeitas a altas velocidades em linhas de
transferência[5][1] como tubos de fornos, linhas de transferência, peças internas de
bombas, válvulas e acessório.
O desenvolvimento deste projeto prevê o estudo de processos corrosivos
relacionados ao escoamento e, portanto, prevê-se a montagem de uma unidade
experimental que simule as condições de escoamento de uma planta de refino de
petróleo. Nesta unidade serão feitos controles de temperatura e de vazão. Toda a unidade
será confeccionada em aço 316 ou 317 a fim de evitar processos significativos de
corrosão e degradação dos ácidos naftênicos nas condições a serem aplicadas. Desta
forma, mantém-se o NAT estável e qualquer variação significativa do NAT será
conseqüência de reações com as sondas utilizadas e, portanto, quantificáveis.
O reator será confeccionado de forma a possibilitar a inclusão de sondas e
sistemas de medida eletroquímica. Será utilizada uma configuração em forma de L a fim
de se obter um maior favorecimento de processos de corrosão/erosão.

Figura 5 - Representação do reator em forma de L


Figura 6 - Fluxograma do sistema proposto

A solução a ser utilizada será composta por uma mistura de ácidos naftênicos
diluídos em óleo mineral. Diferentes composições serão preparadas de forma a serem
obtidos diferentes NAT.
O fluxo será controlado através de uma bomba e o aquecimento através de um
trocador de calor. Todo sistema terá isolamento térmico.
Também fará parte do trabalho a montagem de um sistema de tratamento de
resíduos e dos efluentes gerados. Para isso, serão utilizados leitos de esferas de ferro. Os
efluentes finais poderão ser utilizados como material combustível.
A medida da taxa de corrosão será feita utilizando um eletrodo aço carbono/aço
inox confeccionado conforme Slavcheva[1]. Será utilizado um potenciostato Radiometer
Voltalab acoplado a um amplificador de potencial (100V) para avaliação o comportamento
eletroquímico do sistema em diversas condições de processo. Uma das técnicas a ser
utilizada é a de resistência de polarização.
Através da aplicação de um potencial constante e do registro da variação de
corrente com tempo e temperatura poderão ser obtidas informações acerca da
estabilidade eletroquímica do sistema. A influência de variações de composição do
elemento da sonda (carbono, etc) será avaliada através da determinação da taxa de
corrosão correspondente.
5. RESULTADOS ESPERADOS

• Desenvolvimento de metodologia que permita a monitoração da corrosão por


ácidos naftênicos on line e em tempo real e com maior tempo de vida útil que os sistemas
existentes atualmente.
• Sistema para estudos de processos corrosivos por ácidos naftênicos em
escoamento e avaliação de sondas específicas.
• Consolidação de conhecimentos acerca dos processos corrosivos causados
por ácidos naftênicos.
6. CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO

Para o desenvolvimento deste projeto serão realizadas as seguintes etapas:

A – Elaboração de pesquisa bibliográfica e levantamento de informações sobre


corrosão por ácidos naftênicos;
B – Montagem do reator e sistemas de controle;
C – Montagem de eletrodo para medida de taxa de corrosão eletroquímica;
D – Aquisição de reativos;
E – Aplicação de técnica de ZRA;
F – Medidas de resistência de polarização;
G – Elaboração da dissertação;
H – Exame de qualificação;
I – Defesa da dissertação.
O desenvolvimento deste projeto está previsto para realização segundo o seguinte
cronograma de realização:

Duração das atividades


ano

2003 2004 2005


mês

03/04 05/06 07/08 09/10 11/12 01/02 03/04 05/06 07/08 09/10 11/12 01/02

A X X X
B X X X X
C X X X X
D X
Etapas

E X X X
F X X X
G X X X X
H X
I X

Durante o período do projeto pretende-se obter o número de créditos requerido


com as seguintes disciplinas:
Código Nome Nº de horas Créditos
TM 809 Matemática 60 4
CQ 736 Tópicos Especiais em Química II 60 4
TQ 751 Termodinâmica 60 4
CQ 763 Métodos eletroquímicos 60 4
TQ 764 Fundamentos da corrosão 60 4
CQ 730 Eletroquímica avançada 60 4
TM 703 Ciência dos materiais 60 4
TM 715 Seminários 30 2
7. FINANCIAMENTO

Equipamento para medida de resistência de polarização e taxa de corrosão já


se encontra disponível.
Reativos necessários serão adquiridos com recursos do PRH-24 (ANP).
O Reator e o sistema de controle de temperatura e vazão serão montados com
recursos de diversos projetos de pesquisa ligados ao Fundo CTPETRO.
Os eletrodos serão montados com recursos de projetos junto ao Fundo
CTPETRO.
As análises de NAT serão realizadas no próprio laboratório.
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] SLAVCHECA, E., et al. Review of naphthenic acid corrosion in oil refining.
British Corrosion Journal, vol. 34, nº 2, 1999, pp. 125-131.
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