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Daniel Vilella é um CEO frio, rude e que não tem interesse em

relacionamentos. Com a vida rodeada de luxúria, o dono da maior rede de sex


shops do país repele tudo o que não esteja relacionado ao sexo.
Até conhecer Sofia Pires, sua nova secretária. A garota vinte anos mais
nova é delicada, sensível, meiga. E virgem. O tipo oposto de mulher que para
na cama de Daniel. Mas tem alguma coisa nela que vira a cabeça dele do
avesso.
Ela carrega problemas demais para uma garota tão nova e desperta em
Daniel um instinto protetor que ele não sabia possuir.
Ele vai fazer de tudo para que ela seja sua, e Sofia precisa decidir que
pode confiar no homem grosseiro e distante que conheceu.
ÍNDICE
Capítulo um
Capítulo dois
Capítulo três
Capítulo quatro
Capítulo cinco
Capítulo seis
Capítulo sete
Capítulo oito
Capítulo nove
Capítulo dez
Capítulo onze
Capítulo doze
Capítulo treze
Capítulo catorze
Capítulo quinze
Capítulo dezesseis
Capítulo dezessete
Capítulo dezoito
Capítulo dezenove
Capítulo vinte
Capítulo vinte e um
Capítulo vinte e dois
Capítulo vinte e três
Capítulo vinte e quatro
Capítulo vinte e cinco
Capítulo vinte e seis
Capítulo vinte e sete
Capítulo vinte e oito
Capítulo vinte e nove
Epílogo
DANIEL

Mas que semana de merda eu tive.


Às vezes parece que estou cercado de idiotas e que sou o diretor de um
jardim de infância, e não o CEO da maior rede de sex shops do país. Não
essas lojas de esquina que têm em toda cidade, não. Vendo sexo caro para
mocinhas de família rica e esposas de empresários que não estão nada
satisfeitas com a ausência do marido que provavelmente está mais ocupado
fodendo a secretária que dando conta da própria mulher. Ofereço fantasias,
promessas, sedução e horas de diversão suja e quente. E ajuda muito que seja
a minha cara junto com os produtos, porque se tem uma coisa que eu sei que
sou é a promessa de uma foda muito satisfatória.
Sexo é a minha vida, e eu sou muito bom no que faço. E é exatamente
de uma foda que estou precisando agora, porque estou puto da vida,
estressado e precisando extravasar. Não tem nada melhor do que uma bela
mulher gemendo debaixo de mim para resolver isso.
Meu celular toca quando estou chegando na garagem privativa do
prédio onde moro. Atendo sem olhar o visor.
— Está com as bolas presas no trabalho de novo ou vai me dar a honra
da sua companhia? — meu irmão pergunta. Aperto o botão do alarme e
destravo o carro. Coloco o celular no viva-voz e jogo no banco do passageiro
antes de ajustar o retrovisor.
— Minhas bolas presas no trabalho são o que bancam sua vida de farra,
seu inútil — respondo, colocando o cinto e dando a partida. Samuel é dez
anos mais novo que eu, mas mais parece um adolescente. Quando assumi a
empresa da família depois que nosso pai morreu, não éramos nem de longe o
império que somos hoje. Trabalhei muito e agora, dez anos depois, sou um
dos homens mais ricos do país aos quarenta anos. Samuel nunca quis saber de
nada e gasta mais tempo torrando o dinheiro da família com farra e mulheres.
Onde tem uma festa, sei que meu irmão está no meio, e hoje isso vai vir a
calhar. — Onde você está?
— Não acredito que o poderoso Daniel Vilella vai finalmente festar
comigo! — ele debocha.
Acelero o veículo pelas ruas vazias da orla carioca a essa hora da noite.
Saí da empresa tem pouco mais de uma hora e agora, quase meia-noite, não
tem quase nenhum carro na rua.
— Vai se foder, Samuel. Se não me disser onde está, vai ter que bancar
as bebidas desses seus amigos inúteis. Quem perde é você.
Ouço Samuel resmungar no telefone. Ele sabe que não pode me
contrariar, e eu adoro essa sensação de controle. Desligo a ligação quando
paro em sinal de trânsito depois que meu irmão me diz o nome da boate onde
está e, poucos minutos depois, estou lá.
A fila do lado de fora está enorme, mas não me dou ao trabalho de ir
para lá. Largo o carro de qualquer jeito no estacionamento VIP e jogo a chave
para o manobrista antes de seguir até a entrada privativa. É um lugar
normalmente frequentado por celebridades com quem não me importo e
empresários que usam uma boa garrafa de uísque para fechar um negócio. Já
vim aqui algumas vezes exatamente para isso, mas hoje só tem um negócio
que estou interessado em fechar e é com alguma das garotas sempre muito
dispostas a se divertir que encontro facilmente pelas pistas de dança. É de
uma boa trepada no banheiro que estou precisando. Preciso socar meu pau em
uma boceta gostosa para não socar a cara de alguém.
O segurança abre passagem sem nem se dar ao trabalho de pedir por
identificação, e a porta dá acesso direto a uma área bem reservada da boate.
Não é difícil encontrar meu irmão e o seu grupinho de sempre.
— Daniel! — Ele tira uma garota do seu colo e praticamente a joga
para lado quando se levanta para vir até mim, tropeçando de bêbado. Meu
irmão passa um braço ao redor do meu ombro e aponta para a pista de dança
com a outra mão. — Bem-vindo à melhor parte da vida! — grita por cima da
música eletrônica alta.
Sei bem como funciona essa “melhor parte da vida” de Samuel. Das
poucas vezes em que encontrei com ele aqui, só me sentei em um dos sofás
confortáveis reservados por cordões de isolamento, esperei me servirem uma
bebida e apreciei a vista um pouco antes de encontrar alguém que chamasse
minha atenção na pista de dança e pedir para uma das funcionárias trazer a
garota até mim.
Só que antes mesmo que eu possa me sentar, bato os olhos em uma
mulher.
— O que vai querer? — Samuel pergunta, gritando no meu ouvido, o
bafo de cerveja chegando em mim. Empurro meu irmão um pouco para
longe, mas ele se pendura em mim de novo igual a um carrapato. — Você é
desses que gosta de uísque caro, né? Vou pedir para descer uma garrafa! —
grita, mas balanço a cabeça que não.
— Não quero uísque. Quero ela.
Aponto com o queixo para a pista de dança e começo a puxar as
mangas da camisa social até o cotovelo enquanto dou uma boa olhada na
mulher que dança junto com uma amiga.
Mulher não, garota. O rosto de menina não deve passar dos vinte anos,
o que a faria ter vinte a menos do que eu. Não me importo. O cabelo loiro cai
pelos ombros até a metade das costas, mas deixa à mostra um decote
generoso que aperta os peitos redondos. Ela é pequena mesmo em cima de
saltos gigantes e as curvas discretas ficam visíveis no vestido que mais parece
uma lingerie de tão pequeno e apertado.
Sorrio como um predador prestes a devorar uma pobre presa indefesa.
Ela deve ser toda pequena e apertada. Decido que é com ela mesmo que
quero terminar a noite. A boquinha de lábios rosados vai ficar linda em volta
do meu pau.
— Está achando que sou seu empregado, porra? — Samuel ri e me
empurra pelo ombro. — Vai buscar sua comida.
Olho para ele de lado. Como esse imbecil tem o mesmo sangue que eu?
Não me surpreende que é um desastre com mulheres. Samuel parece um
adolescente que só precisa de uma punheta para gozar. As mulheres que ele
come só abrem as pernas depois que ele dá carteirada, porque se dependesse
da lábia, não ia ser ninguém. Ele nunca aprendeu que a melhor parte é fazer a
mulher se derreter inteira e implorar para ser fodida. Essa é a minha
especialidade.
Vejo a loirinha dizer alguma coisa no ouvido da amiga, se afastar dela e
começar a ir em direção ao bar, que tem uma fila gigantesca. Saio da área
reservada e começo a atravessar a pista de dança até conseguir chegar onde
ela está. Paro atrás dela e inclino a boca no seu ouvido.
— Vai demorar para você ser atendida.
Ela parece levar um susto quando me nota e pula no lugar, levando uma
mão ao peito.
— Eu… — ela gagueja e passa a língua pelos lábios. Abro um sorriso
ao ver que ela parece um animalzinho assustado com a boca entreaberta,
piscando os cílios devagar, mas que isso não a impede de me olhar de cima a
baixo. Espero para ver se vai correr, mas ela não se move um centímetro,
então diminuo a distância entre nós dois. — Eu só queria água — diz por fim
com a voz fina.
Seu peito sobe e desce rapidamente, e encaro seu decote onde a pele
alva começa a ganhar uma coloração rosada.
— Vai demorar para ser atendida mesmo se só quiser água — respondo
e volto a olhar para o seu rosto. Ela não diz nada, só continua me olhando, e
abaixo a boca até o seu ouvido. Sou atingido em cheio pelo cheiro doce da
sua pele e sinto meu pau pulsar dentro da calça. — Posso te fazer companhia
enquanto espera.
Ela dá uma risada nervosa e apoia uma mão no meu peito.
— Eu não… — diz baixinho e pigarreia.
— Não quer? — interrompo. Coloco uma mão na sua cintura e puxo o
corpo pequeno para mim. — Se não quiser é só dizer.
Tiro a boca do seu ouvido para olhar para o seu rosto. Ela continua me
encarando com os olhos arregalados como se não tivesse a menor ideia do
que fazer. Arrasto a mão da sua cintura para a base das suas costas, parando
bem em cima da curva da bunda. Ela dá um pulinho nos meus braços e
afunda as unhas da mão apoiada no meu peito.
— Acho que preciso ir ao banheiro — diz com a voz trêmula,
respirando fundo enquanto encara minha boca. Arqueio uma sobrancelha e
espero. Ela prende a pontinha do lábio entre os dentes. — Você pode vir
comigo, se quiser.
Sorrio aberto para o convite e faço que sim com a cabeça. Começa a ir
em direção onde assumo serem os banheiros e seus corredores escuros, mas
seguro seu braço e começo a levar a garota em outra direção. Ela me olha,
mas não diz nada, só vem comigo para o lado oposto. Volto para a área
reservada da boate, e o segurança ali libera minha passagem. Ela finalmente
pergunta:
— Para onde está me levando?
Tem curiosidade na sua voz, mas nenhuma preocupação. Ela não
perguntou meu nome e nem tentou me dizer o seu, o que me diz que está
acostumada com isso. É esse o tipo de mulher que eu gosto, que sabe do que
gosta e sabe o que faz.
Paro com ela em um canto pouco iluminado longe dos sofás. A música
não está tão alta aqui e estamos longe da vista de todos. Encosto o corpo
pequeno contra a parede e cubro com o meu sem encostar nela. Apoio uma
mão de cada lado da sua cabeça e a olho de cima. Seu peito sobe e desce
rapidamente, enchendo o decote profundo com os seios pequenos. Levo um
dedo até ali.
— Isso é medo ou excitação? — pergunto.
A garota parece completamente hipnotizada olhando para mim, e meu
pau está perto de explodir dentro da calça. Engancho os dedos nas alças do
vestido e espero a resposta.
— Os dois — responde em um sussurro fraco. Satisfeito, puxo as alças
para baixo até liberar os seios redondos de bicos rosados e caio com a boca
bem ali.
Não tenho nenhuma delicadeza para oferecer quando sugo e mordo um
dos bicos durinhos. Ela solta um grito agudo surpreso e aperta meus braços
enquanto alterno entre os dois. Aperto sua cintura e mamo com força,
arrancando gemidos tímidos da garota. Solto seus peitos e vejo seu rosto
corado, sua respiração descompassada. Enrosco o cabelo no meu punho e
puxo sua cabeça para trás. Imprenso seu corpo inteiro contra a parede e levo a
boca até seu ouvido de novo. Com a outra mão, seguro o pulso dela e levo
seus dedos até a frente estufada da minha calça.
— Aperta meu pau, pequena — ordeno, puxando seu cabelo com força.
— Abre minha calça e aperta meu pau.
Ela congela por um segundo, mas começa a desabotoar minha calça
bem devagar. Os movimentos são lentos e hesitantes. Essa tentação em forma
de mulher me tortura. Aperto sua bunda com força, e ela ofega.
— Vamos, pequena — insisto e mordo seu pescoço, chupando a pele
em seguida. — Sente como eu estou duro.
A mão trêmula toca meu pau por cima da boxer, e eu sorrio na sua pele
enquanto ela tenta fechar os dedos ao redor. Ela move a mão de um lado para
o outro devagar e começo a ficar impaciente. Levo uma mão até a sua coxa
por baixo do vestido e sinto como está quente.
— Se eu colocar a mão nessa bocetinha, vou ver que você está toda
molhada para mim? — pergunto no seu ouvido e começo a levar a mão para
o meio das suas pernas.
— Ai, meu Deus! — ela diz e me solta. Franzo o cenho e olho para o
seu rosto. Não entendo o que aconteceu quando vejo seus olhos arregalados
como se só agora se desse conta do que estamos fazendo. — Ai, meu Deus.
Ai, meu Deus — ela repete e me empurra pelos ombros.
— O quê…?
A loirinha se solta de mim e sai praticamente correndo do canto em que
estamos. Boquiaberto, vejo a garota correr para fora da área restrita e se
perder no meio da multidão que dança.
Xingo alto, passando a mão no cabelo, exasperado.
Essa louca acabou de me deixar plantado aqui de pau duro?
SOFIA

O que foi que eu fiz?


Eu tenho probleminha na cabeça, só pode ser isso. É a única razão para
o que acabou de acontecer, para eu ter permitido ser tocada daquela forma
pela primeira vez na vida. Não que ninguém tenha tentado antes. E por
ninguém, me refiro ao meu noivo. Ex-noivo. Não sei. É realmente difícil
deixar o rótulo de lado quando tudo está tão recente ainda.
Sou interceptada por Daiane no meio da saída da boate. Ela agarra meus
ombros com força e tem os olhos arregalados ao me olhar, ao ver meu estado
eufórico e minhas alças fora do lugar. Imagino que eu não esteja lá muito
bem recomposta agora.
— O que foi? — pergunta, mas mal a escuto pelo barulho alto da
música que toca, apenas leio seus lábios.
— Eu me sinto… estranha. Posso ir embora? — grito perto do seu
ouvido, e ela apenas acena, tocando a minha cintura e dando um tchau para
quem quer que ela estivesse se entretendo na noite. — Dai, não precisa me
acompanhar. Vou sozinha.
Ela me ignora e segue me guiando até a saída, sempre tão atenciosa e
companheira. Assim que piso para fora da boate que não tem nada a ver com
o tipo de ambiente que estou acostumada, respiro de alívio.
Meu corpo está trêmulo, quente e… excitado.
A imagem do homem me vem à cabeça, e sinto meu rosto esquentando.
Fico de costas para Daiane porque minha amiga me conhece bem demais e
basta um olhar para saber tudo o que acontece comigo. Até quando nem
mesma eu entendo o que se passa, ela sabe.
— O que foi, Sofia? Você me assusta sempre que aparece com esses
olhos gigantes e cheios de lágrimas. Isso tem que parar de acontecer, minha
amiga. — Dai me vira para que eu fique de frente para ela. Eu suspiro,
prendendo o choro. Sim, talvez minha amiga esteja acostumada com minhas
crises bobas e exageradas de choro. E ela é a melhor para lidar com todas
elas. — Não me diga que viu o embuste do seu ex-noivo com o pau dentro de
outra pessoa de novo?
— Daiane! Cadê o seu tato? — A lágrima escorre antes que possa
controlar, e eu a limpo rapidamente.
Ainda dói muito me lembrar disso.
— Desculpa, às vezes me esqueço de que você é sensível demais —
fala com a voz mais branda e me puxa para um abraço. — Você está quente e
tremendo, Sof. O que aconteceu ali dentro?
— Nós podemos sair daqui antes? Eu… — Olho para a entrada da
boate luxuosa, e meu corpo treme de medo daquele… ser de outro mundo
aparecer aqui.
Daiane assente e já pega o celular para pedir um Uber. Não demora
para o veículo chegar e nós entrarmos ali. Ela não fala nada durante o
caminho, me conhecendo bem demais para saber que eu preciso do meu
tempo para processar tudo antes de despejar as coisas em cima dela. Dai sabe
lidar bem demais com as minhas crises de choros ao contar meus dramas.
Essa mulher é mesmo perfeita.
Assim que o carro para na sua casa, ela sorri fraco para o motorista do
Uber e passa o braço ao redor dos meus ombros. Abraço-a quase na bunda
porque ela é bem alta do que eu. Um mulherão, completamente diferente de
mim. Sabe o clichê de sem graça? Sou eu. Enquanto Daiane tem os cabelos
volumosos pretos, um corpo de violão que ela faz questão de exibir por aí,
uma pele negra, maravilhosa e bem cuidada, tenho o cabelo cor de ovo, um
olho verde cor de água suja e um corpo que precisa de muitas técnicas para
que se destaque. A vida não é justa.
— Vamos. Você não vai escapar de me contar o que aconteceu. —
Minha amiga me guia em direção ao seu quarto e se senta na cama, batendo
no colchão para que eu faça o mesmo. — Me diga que não teve outro surto
por causa do emb… Marcos.
Faço um beicinho para ela, agradecendo por controlar a fala tão direta
em um momento de confusão mental como esse.
— Não. É exatamente ao contrário. Você me conhece, não é? — falo,
sentindo meu corpo quente. — Sabe que eu jamais faço nada por impulso,
que sempre fui sensata e que nunca me… entreguei ao desconhecido. Nem ao
conhecido para falar a verdade.
— Sim, amiga. Sei que você é literalmente pura, recatada e do lar. Acho
que é a única pessoa com o hímen e a integridade intactos em pleno século
XXI — ela zomba. Eu pego um travesseiro e jogo de leve no seu braço, sem
conseguir evitar o riso. — Mas o que isso tem a ver com o assunto?
— E-Eu… — gaguejo, tendo dificuldade de seguir o assunto. —
Quando fui buscar uma água no bar naquela hora, eu… meio que fiquei
atraída como um mosquito pela luz por um homem. Um aparentemente mais
velho e do tipo mafioso.
— Você o quê? — Nos quinze anos que temos de amizade, nunca vi
Daiane tão animada com uma frase que saiu da minha boca. Nunca mesmo.
Não sei se me sinto animada ou frustrada com isso.
— Ele deu em cima de mim e já chegou tão direto, tão… Não sei
descrever, Dai — sussurro a última parte, com as lembranças pipocando na
minha mente.
Seu timbre rouco, seu cheiro, seu olhar. Tudo muito estimulante,
chamativo e intrigante.
O que diabos deu em mim?
— Só sei que ele era a pessoa mais bonita que já vi na vida. Másculo,
alto, com a pele bronzeada e os cabelos escuros bem cortados, caindo
levemente pela testa. Lábios fartos, olhos escuros, barba bem aparada, cara
de… safado. Tinha uma aparência de mafioso bad boy que nunca me
interessou antes, amiga.
Encaixo a testa nas mãos e sinto meu rosto pegando fogo só por pensar
em dizer o que deixei que ele fizesse comigo, em tudo o que poderia ter
acontecido ali naquele cantinho isolado. Se não fosse pelas palavras chulas e
diretas que não estou nada acostumada, eu não teria despertado do transe em
que aquele cheiro de homem gostoso me colocou.
— E o que exatamente aconteceu? — Dai pergunta ansiosa, se
arrumando na cama com o travesseiro no colo.
Dei a ela um prato cheio para me atormentar pelo resto da vida, mas já
era. Não posso mais voltar atrás. Preciso de alguém para me ajudar a entender
em que parte do caminho perdi meu cérebro.
Narro tudo em detalhes para Daiane, que me encara com os olhos pretos
arregalados de choque, como se estivesse olhando para um extraterrestre e
não para a amiga que conhece desde os cinco anos de idade.
— Ele chupou seus peitos? Você, Sofia Pires, minha amiga doce,
meiga, virgem e pura deixou um desconhecido que você não sabe nem ao
menos o nome chupar seus peitos? Meu Deus… O dia finalmente chegou.
Está ouvindo? Esse é o som do arrebatamento.
Solto um gemido de protesto, ficando ainda mais envergonhada por
ouvir as coisas assim, tão diretas pela boca de Daiane.
— Para, Dai. Já estou me sentindo mal com isso… — sussurro,
encaixando os dedos nos cabelos e bagunçando os fios com força.
— Mal por quê? Você está solteira agora, Sof. Não tem que se sentir
culpada por viver a primeira experiência como jovem que teve na vida
inteira! Você tem vinte anos, amiga. Conhece duas bocas apenas e já ia se
casar com a segunda delas — ela fala, segurando minhas mãos com
delicadeza, o tom doce apesar da reprimenda implícita na fala. — Eu te amo
ainda mais por começar sua vida agora.
— Ele era tão…
— Tesudo? Gostoso? Não acredito que você não pegou no pau dele,
Sofia! Ele deve ter ficado frustrado.
— Daiane! Está louca? Eu nunca… Nem ia saber satisfazer um homem
daqueles. Sem falar que… — interrompo a fala e mordo os lábios, me
questionando se sigo com o assunto já sabendo a resposta de Daiane. Mas seu
olhar me diz que ela já sabe o que vai sair da minha boca a seguir. Minha
melhor amiga é a pessoa que mais me conhece no mundo. — Faz só duas
semanas que terminei com o Marcos. Ainda o amo, amiga. Não é do meu
feitio sair por aí me agarrando com qualquer um.
— Às vezes tenho vontade de te bater, Sofia. Sinceramente. Não vou
repetir tudo o que já te disse, mas vou falar o seguinte: isso que você sente
pelo Marcos não é amor, é comodidade.
Eu a encaro com uma expressão de repreensão, e ela ergue as duas
mãos para o alto em sinal de rendição. Esse assunto foi abordado vezes
demais para que eu consiga contar, então deixo que ele morra antes de
retornar com força total.
Eu me jogo no colchão ao lado de Daiane e fecho os olhos, tentando me
lembrar de quando minha vida pacífica, calma e bem planejada se
transformou nisso aqui.
Eu tinha planos. Basicamente uma casa grande, cheia de filhos, um
marido carinhoso, um emprego calmo que me permitisse cuidar das crianças
enquanto Marcos trabalhava. Pelo menos era isso o que achava que queria.
Ou talvez ele tenha dito tanto isso que impregnou na minha mente como se
fosse um desejo meu. Mas eu queria… Não queria?
Esse vazio que sinto por não o ter perto de mim só pode ser a ausência
do amor dele. Eu achava que ele me amava… Como um noivado que estava
quase predestinado pelos nossos pais desde que éramos adolescentes se
transformou em um buraco tão vazio no meu coração?
Ao invés de sofrer por isso mais uma vez, meu cérebro me leva para
vias perigosas. O rosto do homem desconhecido surge na minha mente, e
uma pequena parte se questiona se não o viu em algum lugar, porque a
imagem refletida é nítida e perfeita demais para quem só o viu apenas uma
vez, em um lugar escuro ainda por cima. Mas eu ia me lembrar se já o tivesse
visto. Aquele rosto é inesquecível.
— Você está se lembrando dele, sua safada! Das coisas que mafioso fez
com seu corpinho sarado! — Daiane grita, e quase pulo do colchão. Eu tinha
me esquecido de que estava ao seu lado de tão quieta que ela ficou.
— Não estou!
— Está sim! Não mente para mim, Sofia Pires.
Solto um resmungo, me levanto do colchão de uma vez e vou em
direção ao banheiro da suíte. Dou língua para Daiane, que gargalha e me joga
o travesseiro, mas fecho a porta do banheiro antes que me acerte. Respiro
fundo e começo a me despir para tomar um banho. Uso meus pertences que
praticamente fazem parte do banheiro de Daiane e tiro a maquiagem forte que
minha amiga insistiu em tacar em mim para me tirar da fossa. Tiro o vestido,
que também foi presente dela, e ligo o chuveiro. Deixo a água quente cair no
meu corpo, ainda com a imagem do mafioso tarado na minha mente.
Demoro propositalmente no banho, esperando que a euforia de Daiane
tenha diminuído para que ela possa me deixar em paz pelo menos por hoje.
Estou confusa, agitada e curiosa demais para conseguir pensar com
racionalidade. Sei que não há nada o que fazer, só me resta esquecer o
episódio e seguir adiante, mas sinto que não vai ser fácil como estou achando.
Saio do banheiro e encontro Daiane mexendo no celular, com a bunda
para cima, quase quicando na cama de agitação.
— Adivinha? — ela grita e se levanta de uma vez, pulando de
animação. — Consegui uma entrevista para você! Uma amiga minha me
disse que abriu uma vaga na empresa que ela trabalha. Ela me disse que é
difícil e que o chefe é exigente, mas que o salário vale muito a pena. O que
me diz? Posso confirmar com ela?
— Uau… Mas tão rápido? Não tenho experiência nenhuma, Dai. Será
que contratam uma pessoa sem faculdade? — pergunto, secando meu cabelo
com a ponta da toalha.
— Amiga, normalmente não, mas como a Raquel é muito minha amiga,
vai fazer esse favorzinho para mim. A licença-maternidade dela vai começar
antes do que ela previu, então eles estão precisando com urgência. E você dá
conta do recado mesmo sem faculdade.
Aceno, distraída.
— É estranho pensar em tomar decisões assim, sozinha.
— Sof…
— Eu sei, Daiane. Marcos não vale nada e tudo mais. Você já me disse
seu ponto, mas eu planejei a minha vida inteira com ele. Só é difícil assimilar
tudo.
Ela acena, mesmo que não concorde em nada.
Quando meu futuro não estava traçado por Marcos, estava por meus
pais, que sempre apoiaram meu relacionamento com ele desde o início. Ou
melhor, ainda apoiam, porque eles não têm noção de que terminei meu
noivado com o homem depois da facada nas costas que levei.
Mordo meu lábio inferior, pensativa, e engulo em seco. Sinto o
nervosismo de começar a agir mais por mim tomando de conta do meu corpo.
— Tudo bem. Pode agendar a entrevista.
DANIEL

Estou contando até dez para não perder a paciência com o idiota que
está do meu lado, mas é uma puta tarefa difícil porque ele é um incompetente.
— Eu tenho uma reunião em vinte minutos, Macedo. Cadê a porra do
contrato?
O advogado da empresa me olha como se fosse um ratinho assustado e
começa a gaguejar enquanto procura uma desculpa esfarrapada qualquer para
ter feito merda de novo.
— Não é como se tivesse sido minha culpa — ele tenta se justificar e
arruma a gravata. — Aquele homem é louco. Você viu as coisas que ele
pediu?
Bato na mesa com força, e Macedo praticamente pula na cadeira,
tomando um susto. Respiro fundo, irritado.
— Eu estou pouco me fodendo se ele quer que você se vista de palhaço
e corra em círculos! — grito e vejo Macedo se encolher na cadeira. — Se ele
quiser colocar uma algema nas suas bolas, vai colocar a porra de uma algema
nas suas bolas e você vai dizer que gostou, fui claro?
Macedo faz que sim com a cabeça, mas não fala mais nada. Era só o
que me faltava. Agora eu tenho que entrar naquela reunião e explicar para o
dono da maior rede de shoppings da região que meus funcionários são uns
inúteis e por isso o contrato que ele veio assinar hoje não está pronto.
E cadê a irresponsável da nova secretária?
Puxo a manga da camisa social para olhar a hora no relógio de pulso e
vejo que são sete e dez. Atrasada no primeiro dia. Essa garota não vai durar
aqui. Ela escolheu o dia errado para testar minha paciência.
Meu humor está uma merda desde sexta-feira, depois que aquela louca
me deixou de pau duro na boate.
Sou Daniel Vilella, porra. Ninguém me deixa na mão daquele jeito. Deu
vontade de encontrar aquela garota e dar umas boas palmadas naquele
traseiro dela para aprender a não provocar um homem como eu.
É claro que ela foi esquecida imediatamente e encontrei outra mulher
disposta a resolver o problema sem qualquer dificuldade. Passei o final de
semana inteiro enterrado em bocetas muito dispostas, mas meu humor não
melhorou.
Junta isso com o caos que essa empresa está, e é uma péssima ideia
cruzar meu caminho hoje.
— O que você ainda está fazendo aqui? — pergunto para Macedo, que
só continua me olhando. A vontade que tenho de o colocar no olho da rua é
enorme, e eu faria exatamente isso se dar um emprego para ele não tivesse
sido um acordo com um cliente. Um acordo merda para mim, consigo ver
claramente agora. Está explicado por que ele não conseguia arrumar um
trabalho por conta própria. — Está esperando um convite para sair? Some da
minha frente!
Ele se levanta praticamente em um pulo e sai da sala, batendo a porta
no caminho. Bufo e volto a ler o documento que tenho aberto no computador.
Essa reunião é a chance de conseguir uma parceria milionária e não posso
perder essa oportunidade. Não vou perder essa oportunidade.
Quando o relógio marca sete e vinte, pego meu celular e saio do meu
escritório para ir para a sala de reuniões. Sem prestar atenção para onde estou
indo, começo a digitar um e-mail para Raquel, minha secretária que saiu de
licença-maternidade, para perguntar onde a substituta dela se enfiou, até que
esbarro em alguma coisa.
Alguma coisa não, alguém. Alguém estabanado que deixa várias pastas
caírem no chão.
— Droga — ela diz e se abaixa no chão para começar a arrumar a
bagunça.
Com o cenho franzido, assisto à cena. A garota tem um cabelo loiro
preso no topo da cabeça e, de onde eu estou, com ela ajoelhada na minha
frente, consigo ver a sombra dos seios pequenos por dentro do decote da
blusa de botões. Só tiro os olhos da curva delicada quando ela finalmente
olha para cima. Os olhos verdes arregalados estão completamente
aterrorizados, e a boca rosada está com os lábios partidos.
Ela parece não ter ideia do que dizer e continua ali, me olhando de
baixo com a cara de boneca inocente de porcelana.
— E você, quem é? — pergunto quando essa situação ridícula começa a
se estender por tempo demais. Cruzo os braços no peito, gostando de como
ela parece tão pequena assim. A garota pisca algumas vezes e parece confusa.
— Você… — Ela pigarreia depois de a voz sair como um fio. — Você
não sabe quem eu sou? — pergunta. Solto uma risada seca e ergo uma
sobrancelha.
— Eu pareço ter tempo para perder com conversa fiada? Se disse que
não sei, é porque não sei — respondo seco.
Ela parece chocada por um segundo, mas se recupera rapidamente. Joga
o queixo para cima em um desafio que seria adorável se eu não estivesse
quase atrasado. Olho a hora de novo e volto a olhar para ela a tempo de ver se
colocar de pé segurando as pastas na frente do corpo como se fosse um
escudo protetor. De pé em cima dos saltos, a garota continua sendo muito
pequena. Percorro os olhos pelo seu corpo antes de voltar para o seu rosto e
ver que a pele branca está avermelhada.
— Sofia Pires — ela se apresenta, estendendo uma mão para mim.
Quando vê que não vou cumprimentar de volta, recolhe os dedos. — Sua
nova secretária.
— Ah — digo, desdenhoso. — A irresponsável atrasada no primeiro
dia de trabalho.
Preciso me segurar para não rir da mudança brusca no seu rosto. Ela
passa de assustada para ofendida.
— Eu cheguei no horário — ela se defende. — Você estava…
— Senhor — corrijo. Ela joga os ombros para trás, arrumando a
postura.
— … estava com companhia e não quis interromper. Cheguei às sete e
comecei a organizar sua agenda para o dia como Raquel me instruiu. Você…
— Ela pausa quando aperto os olhos em um aviso claro. — O senhor tem
uma reunião em poucos minutos com Arthur Duarte. Ele está esperando na
sala de reuniões. Já levei água e pedi para o menino do outro andar buscar
café para ele e para os advogados na loja aqui embaixo.
Eu a olho de cima a baixo de novo, sem dar o braço a torcer. Dou um
passo na sua direção, e ela quase se encolhe no lugar. Sorrio, finalmente.
— Quantos anos você tem, garota? — pergunto a poucos centímetros
de distância.
— Vinte — responde, mordendo a pontinha do lábio. Perco o fio do
pensamento por um segundo encarando aquele pedaço do seu corpo. Respiro
fundo e volto a atenção para os seus olhos.
— Uma criança — declaro. — Vou confiar que Raquel sabia o que
estava fazendo quando me mandou uma pirralha mal saída das fraldas, mas
não tenho vocação para babá. Você trabalha para mim e vai ser muito bem
paga, mas isso significa que vou exigir competência. Fui claro?
— Sim, senhor — ela sussurra, e uma onda estranha de satisfação corta
meu corpo ao ouvir as duas palavras saindo dos lábios grossos.
— Muito bem — digo, passando por ela e seguindo em direção ao
elevador. Aperto o botão e olho por cima do ombro para encontrar a garota
estática no mesmo lugar, me olhando como se eu fosse uma assombração. —
Nós temos uma reunião, senhorita. Ou ainda não entendeu que precisa ser
minha sombra?
Que bosta de dia é esse que todo mundo está esperando um convite para
fazer o próprio trabalho?
Ela se recupera rapidamente, coloca as pastas na mesa e se inclina para
pegar uma agenda. Aproveito o ângulo para conferir o traseiro redondo
dentro da saia apertada, satisfeito com a vista.
Se essa menina for uma completa idiota e não souber fazer nada, pelo
menos é uma boa visão.
Entramos no elevador e assisto deliciado enquanto ela tenta não olhar
para mim a cada dois segundos. Sofia mal consegue disfarçar o interesse.
Quando chegamos ao andar certo, ela começa a recitar meia dúzia de
anotações que tem na agenda, e eu me surpreendo quando noto que são
informações bastante úteis. Assim que chegamos à sala de reuniões, paro com
a mão na maçaneta e olho para ela.
— Preparada? — pergunto. Ela move a cabeça para cima e para baixo
em positivo. Seus olhos estão interessados e desejosos enquanto me encara, e
dou um passo para mais perto dela, me aproveitando do andar vazio e sem
plateia. — Algum problema? — questiono.
Sofia derruba os olhos pelo meu corpo do mesmo jeito que fiz com ela
alguns segundos atrás e respira fundo, balançando a cabeça em negativa
rapidamente. Mas vejo seu pescoço enrubescer e seu peito subir e descer em
uma respiração funda.
O cheiro doce do perfume que ela usa me parece familiar, mas não me
lembro de onde. O que sei é que meu humor melhora um pouco com a visão
da garota tão desconcertada com a minha presença. Meu pau decide que o
final de semana ocupado não foi o suficiente para ficar satisfeito, porque dá
sinal de vida dentro da calça.
É uma pena que eu tenha uma regra tão rígida de não me envolver com
funcionárias, porque o jeito que ela me olha deixa claro que Sofia seria uma
ótima diversão.
SOFIA

Como assim ele não se lembra de quem eu sou? Não que isso importe
na minha vida, porque eu só vi o homem uma vez, mas não posso mentir que
me chateio de ser tão esquecível assim.
Eu não devia estar chateada com isso, nem mesmo um pouco. Penso
nisso durante todo o dia, como um mantra, para ver se meu cérebro burrinho
entende de uma vez.
Devia ter ficado feliz, porque só Daniel Vilella não se lembrando de
que fez… aquilo nos meus peitos para não me demitir já no primeiro dia de
trabalho. Não tenho sorte mesmo na vida. O dia que decido ser menos eu
mesma e me deixo levar pelas sensações e emoções, faço isso justamente
com o cara que calhou de ser meu chefe. Preciso falar com a Dai
urgentemente. Ela vai saber como me orientar nesse momento tão
embaraçoso.
Me escondo em uma das cabines do banheiro e respiro fundo,
segurando o celular na mão com tanta força que sinto meus dedos doendo.
Controlo o tremor que não me abandonou pelo resto do dia e respiro fundo
mais uma vez antes de discar o primeiro número da minha agenda. O celular
chama várias vezes, mas minha amiga não me atende. Provavelmente está
ocupada no trabalho. Coisa que eu deveria estar também, mas precisei de uns
minutos para lidar com a intensidade do meu novo chefe. Que homenzinho
mais arrogante. O que tem de bonito e de charmoso tem de pentelho! Isso, de
certa forma, é algo positivo para mim porque faz com que quebre um pouco
do feitiço do dia da boate. Ali, o homem com cara mafioso parecia educado,
cavalheiro, sedutor e sorridente, mas aqui no trabalho, só vejo a fachada do
CEO grosso e mal-humorado.
Agora me lembro de onde o conheço. Não é muito difícil ver seu rosto
em propagandas dos produtos que comercializa. Só de pensar nisso, sinto
meu rosto quente porque não sou exatamente experiente em sexo para não
corar ao pensar os tipos de produtos que ele vende.
Antes que possa discar para Daiane de novo, escuto a porta do banheiro
abrindo e logo risadas altas de mulheres com vozes finas demais.
— Você viu a coisinha que é a secretária nova dele? Acho que não dura
uma semana! Quer apostar? — Inclino a cabeça para o lado e aguço minha
audição, tentando confirmar se é de mim que elas estão falando. — De tantas
opções boas aqui dentro, o poderoso e gostoso chefão tinha que contratar uma
tapada sem graça?
— Ah, amiga, se ele não fosse tão rígido com a regra de não se
relacionar com funcionárias, eu sei bem em que ele ia se interessar nela —
outra mulher fala, com um tom mais ameno, mas ainda assim venenoso.
— Jura? Porque eu não vejo nada de mais. Os caras estão todos
babando na coisinha sem graça, mas só porque é carne nova. Não podem ver
uma mulherzinha sonsa, com carinha de boneca inflável, que se interessam.
Sou mais eu.
Coloco a mão nos lábios, chocada com a maldade que sai da boca das
duas mulheres em relação a mim. Eu nem as conheço. Cheguei hoje! Como
podem ter feito um dossiê desses ao meu respeito assim tão rápido?
Espero que elas saiam do banheiro e não consigo mais evitar o choro.
Acho até que fui forte demais nessas cinco horas de trabalho, porque quis
chorar no primeiro grito mal-educado do meu chefe infeliz.
Controlo os espasmos que o meu corpo dá e respiro fundo, porque não
posso desistir assim tão rápido. A voz de Daiane ecoa na minha mente,
dizendo que preciso ser mais forte.
Me levanto da tampa fechada da privada e abro a porta da cabine, indo
para frente do espelho. Estou uma bagunça só. Solto meus cabelos e os
espalho pelos ombros para tentar esconder a vermelhidão que aparece no meu
pescoço sempre que choro demais. Limpo embaixo dos olhos com delicadeza
e agradeço por não ter passado maquiagem hoje, porque senão ia estar uma
bagaceira. Normalmente, um batom para mim é mais do que suficiente.
Fico mais cinco minutos ali, sentindo minhas pernas trêmulas, mais
choro querendo sair e uma vontade insana de sair correndo desse prédio. Não
imaginei que a vida adulta ia ser tão difícil.
Saio do banheiro de cabeça erguida, mesmo que a vontade seja de
desviar o olhar de todos os que me encaram no caminho até minha mesa. Mal
me sento na cadeira e escuto o telefone infernal tocando. Meus dedos tremem
ao atender e solto um suspiro antes de dizer:
— Senhor Daniel, precisa de alguma coisa?
— Posso saber por que motivo não me trouxe a pasta que te pedi há
cinco minutos? Não tenho tempo para esperar por sua eficiência, Sofia.
— Já estou indo, senhor. Apenas fui ao banhe…
Ele não me espera terminar a frase e desliga na minha cara. Respiro
fundo e abaixo a saia, me sentindo esmagada dentro do tecido apertado.
Organizo as folhas dentro da pasta e ando até sua sala. Bato devagar e ouço
um resmungo mal-humorado antes de entrar.
— Com licença, senhor. Trouxe o que pediu.
Daniel faz um gesto com os dedos sem me olhar e me aproximo de sua
mesa lentamente, prendendo a respiração para não sentir o cheiro masculino
que impregnou na sala.
— Da próxima vez, seja mais rápida no banheiro.
Quando não respondo, ele ergue a cabeça e vejo a testa franzir
levemente ao olhar para meu rosto. Com certeza não consegui disfarçar
completamente a cara de choro e isso é uma merda, pois tenho certeza de que
a enxurrada vai vir de novo caso ele grite comigo por isso também. Já basta
de gritos.
— Até que durou muito sua coragem, Sofia. Estava fazendo apostas
para saber quanto tempo ia durar — ele fala sem parar de me olhar e inclina a
cabeça para o lado, parecendo me olhar atentamente pela primeira vez desde
que eu cheguei. — Não tem motivo para ter medo de mim se fizer seu
trabalho direito. Eu sou o melhor no que faço, por isso procuro os melhores
para trabalhar comigo. Não estou errado, estou?
— Não, senhor — respondo baixinho, controlando para não desviar o
olhar do seu.
Seria tão mais fácil se ele não me olhasse como se eu fosse um
cordeirinho indo para o abate.
— Você pode aprender muito aqui, Sofia. Agora pode ir.
Ele faz um gesto com a mão e volta a se concentrar no computador à
sua frente. Coloco a pasta que ainda segurava como um escudo em frente ao
corpo e quase corro em direção à porta, mas me controlo. Só preciso adquirir
um pouco de controle na minha vida. Nunca fui boa nisso, porque sempre fui
acostumada a ter todo mundo tomando decisões por mim, dizendo como eu
deveria agir, falar e me expressar. Na verdade, eu me acostumei a isso. E,
antes de tudo acontecer com Marcos, realmente pensava que isso era uma
coisa boa, que as pessoas não queriam que eu me estressasse à toa. Agora,
percebo o quanto isso me prejudicou na vida. Com meus vinte anos, posso
dizer que não tenho experiência com nada na vida; namoro, emprego,
estudos. Absolutamente nada. Adiei meus planos de faculdade porque
atrapalhariam os que meu ex-noivo fazia em relação à nossa mudança após o
casamento. Igualmente para um emprego.
Em uma coisa tenho que concordar com Daiane: eu me acomodei na
minha relação com Marcos. E estou completamente aterrorizada por ter que
mudar minha vida inteira a essa altura do campeonato.
Volto para minha mesa e trabalho concentrada, tentando memorizar
tudo o que Raquel, a antiga secretária de Daniel, me passou. É um trabalho
com muitas informações. Pelo que fiquei sabendo, o CEO grosseirão precisa
quase de uma babá para resolver tudo relacionado à empresa e às vezes até
para assuntos pessoais.
Penso que preciso do dinheiro agora que não sei o que vai ser da minha
vida e consigo sobreviver até o final do primeiro dia de expediente. Respiro
fundo e pego meu celular, vendo que tive chamadas perdidas de Daiane.
Estava tão concentrada em não surtar no resto do dia que nem mexi no
telefone, morrendo de medo de ser repreendida pelo carrasco por isso
também.
Junto minhas coisas rapidamente, com medo de cruzar com Daniel, que
ainda está trabalhando na sua sala, e praticamente corro até o elevador. Não
pensei em como vou voltar para casa, porque recebi carona para vir, mas não
planejei como retornar. Considero pegar um ônibus para economizar, mas
meus pés cansados imploram que eu esbanje um pouco e pegue um Uber.
Obedeço à vontade deles.
Pego o celular da bolsa e peço o carro pelo aplicativo. Enquanto espero,
observo o movimento das ruas cheias graças às pessoas saindo do trabalho.
Estou concentrada respondendo minhas mensagens do dia quando sinto
um toque conhecido no meu braço. Ergo a cabeça e me afasto para trás como
se a palma tivesse me queimado.
— O que está fazendo aqui? — pergunto baixo, tentando esboçar toda a
mágoa que sinto do homem à minha frente.
— Te liguei, mas você não me atendeu, Sof. Precisamos conversar.
— Não temos mais nada para conversar, Marcos. Qualquer conversa
que a gente podia ter foi cancelada no segundo em que te vi dentro de outra
pessoa — respondo com a mandíbula travada, controlando o choro.
Meu coração está miúdo porque a facada que levei nas costas volta a
me entristecer. É muito difícil ser machucada por alguém que você acha que
conhece bem.
— Não é assim, Sof. Você nem deixou eu te explicar nada. Tenho
certeza de que vai me entender depois que a gente conversar.
— Já disse que não.
Faço menção a andar e o deixar ali, mas as mãos dele seguram meus
braços.
— Por favor, coração. Você sempre foi sensata e inteligente. Sabe que
eu jamais te magoaria de propósito, não é? — diz com um tom brando,
inclinando a cabeça e piscando os cílios longos e cheios que sempre me
encantaram. — Eu te amo tanto, amor. Estou sofrendo de saudade de você. É
impossível te esquecer.
Solto uma risada baixa e irônica e desvio meu olhar, porque sua fala
contrasta bastante com a atitude do CEO mafioso. Para ele, parece que eu sou
completamente esquecível, já que o homem não pareceu mesmo me
reconhecer depois de um dia inteiro na minha companhia. Isso porque ele
chupou meus peitos!
— Já te machuquei de propósito alguma vez, Sof? — Marcos insiste, e
eu seco a lágrima que desce pelo rosto, negando com a cabeça. — Pois
então… Tudo tem uma explicação, amor.
Olho para longe para desviar meu olhar do seu e vejo Daniel na saída
do prédio, olhando para o celular com a expressão carrancuda de sempre.
Quando ele desvia os olhos da tela e me encara, o vinco profundo em sua
testa se intensifica ainda mais ao ver as mãos de Marcos ao redor dos meus
braços.
— OK, vamos ter uma conversa — respondo para meu ex-noivo antes
que possa pensar direito.
Não sei por que fiz isso. Se para me livrar da angústia e da saudade que
sinto de Marcos ou se para provar para não sei quem que alguém se lembra
da minha existência, que sente minha falta.
Eu me afasto do toque que ainda me prende e sigo meu ex-noivo até seu
carro. Cancelo a corrida do Uber e não olho para a entrada do prédio
novamente. Não que Daniel Vilella tenha algo, ou sequer se interesse, com a
minha vida pessoal, mas não queria ter de ver sua expressão carrancuda
novamente. Ela parece não sair do seu rosto nunca.
Quando o carro começa a andar, eu me pergunto se não agi por impulso
ao aceitar ouvir Marcos de novo. Como não sou uma pessoa impulsiva,
coloco na cabeça que tomei a decisão certa, que estou agindo mais como eu
mesma. O problema é que, desde aquela noite na boate, não estou querendo
agir assim. Pelo contrário, sinto vontade de ser aquela garota impulsiva que
se entrega a um desconhecido.
DANIEL

Ajeito a gravata na frente do espelho depois de arrumar as mangas da


camisa social por baixo do terno.
— Você fica uma delícia com essa cara de quem acabou de foder,
Daniel.
Ainda pelo reflexo do espelho, olho para a mulher nua na minha cama,
deitada de barriga para cima, se espreguiçando feito uma gatinha manhosa.
Ela praticamente desmaiou de exaustão depois de ter sido acordada para mais
uma rodada antes que eu fosse tomar banho. Agora pelo visto já acordou. O
corpo esguio está todo à mostra, com o lençol embolado nos seus pés e o
cabelo loiro espalhado pelo travesseiro. Nunca fui de loiras, então é curioso
como três diferentes já vieram parar na minha cama nos últimos dias.
— É porque eu acabei de foder — respondo e vou até ela. A mulher
abre um sorriso safado e separa as pernas, se oferecendo. Encaixo a palma da
mão na boceta quente, e ela morde o lábio.
— Fica aqui comigo — choraminga, empurrando o quadril contra a
minha mão.
Eu rio do pedido absurdo e dou uma palmada ali antes de me afastar.
Volto até o espelho, pego o relógio em cima da mesa e o ajusto no pulso.
Pego o celular e começo a rolar pelos e-mails e mensagens recebidos durante
a noite.
— Por favor, Dan — pede com a voz chorosa, e começo a me irritar.
Não tenho tempo para isso. Enfio o celular no bolso do paletó e começo a ir
em direção à porta. Ela segura meu braço e vejo um bico manhoso no seu
rosto. — Não quer passar o dia comigo?
— Não — respondo bruscamente, franzindo as sobrancelhas.
Por que eu ia querer? Porra de mulher grudenta me irritando a essa hora
da manhã. Nem me lembro do nome dela e ela espera que eu cancele meu dia
por um par de peitos bonitos? Até parece que não sabia exatamente no que
estava se metendo quando veio parar na minha cama ontem à noite. Ou achou
que eu ia cair de joelhos por uma mulher que praticamente se jogou em cima
de mim no bar do hotel onde fui encontrar com um cliente? Por favor.
Ela solta meu braço, parecendo ofendida, e se senta no colchão,
cruzando os braços na frente do peito.
— Você vai mesmo me tratar como se eu fosse uma prostituta? —
reclama, empinando o nariz.
— Não — digo, dando de ombros. — Eu trataria qualquer prostituta
muito bem pelo ótimo serviço prestado. Estou te tratando como você está se
comportando: uma garotinha birrenta. Não tenho paciência para criança.
Me viro de costas quando vejo sua boca cair aberta e começo a andar
em direção à porta finalmente.
— Aproveite a cobertura. Use o spa, piscina, academia. Fique à
vontade. O número do meu restaurante favorito está na agenda na cozinha,
pode pedir o que quiser e colocar na minha conta. Quando estiver pronta para
ir embora, o motorista vai te levar. — Olho para ela por cima do ombro e
quase bufo ao ver os olhos marejados. Deus, me dê paciência… — Só não
esteja aqui quando eu voltar.
Dirijo até a empresa, irritado. Que bosta de jeito de começar o dia. Eu
fodo para desestressar, não para ter mais dor de cabeça. Já bastam os
problemas que tenho no trabalho, não preciso de problema com mulher.
Quando essas garotas vão entender que o caminho para o coração não é pelo
pau, porra? O meu está fechado para negócios. Não tenho interesse nem
paciência para lidar com dramas, cobranças e a ideia idiota de que vou fazer
qualquer uma prioridade na minha vida. Sou casado com a empresa e é assim
que sempre vai ser. Está para nascer mulher que vai me fazer perder um
segundo do meu tempo fora da cama.
Quando chego ao andar da presidência, Sofia pula no lugar e fica de pé
assim que me vê. Ela pega o tablet e me segue para dentro do meu escritório
sem hesitar, acompanhando minhas passadas largas.
— Bom dia, senhor Vilella — diz, o barulho dos saltos bem perto de
mim. Eu me sento na minha cadeira, realmente muito satisfeito por ela ter
aprendido direitinho. Depois daquele primeiro dia desastroso, a garota pegou
rápido o ritmo da coisa e tem sido muito competente. Faz pouco mais de um
mês desde que começou a trabalhar para mim e não tivemos maiores
incidentes. — O senhor tem uma reunião hoje às…
— Já fez nossas reservas para a conferência? — interrompo, finalmente
levantando os olhos para olhar para ela.
— Daqui a três semanas — confirma, rolando a tela e voltando a me
olhar. — O seu quarto no hotel está confirmado para quatro noites e as
passagens de ida e volta também estão reservadas.
Voltando os olhos para a tela do computador, instruo:
— Garanta que o seu quarto não fique muito longe do meu. Não quero
ter que ficar te procurando toda vez que precisar de alguma coisa. E lembre
que o coquetel de encerramento do evento vai ser uma festa de gala, então
leve algo apropriado para vestir.
Eu me distraio por alguns segundos lendo um contrato que Macedo me
enviou e só noto que ela ainda está parada na minha frente quando ouço um
pigarro baixo. Ergo os olhos e encontro Sofia me encarando confusa, com os
olhos arregalados, os lábios pintados de rosa repartidos. Ela pisca
rapidamente e aperta o tablet entre as mãos.
— Pois não?
— Meu quarto? — ela pergunta com um fio de voz, e arqueio uma
sobrancelha. — Eu… Meu quarto? — repete.
Respiro fundo, irritado. Não sei se com sua hesitação constante ou se
com o quanto gosto da visão dessa garota toda desconcertada na minha
frente. Não posso fingir que o último mês não foi uma maldita tortura. A cara
de menina indefesa brinca com a minha sanidade, porque o corpo dela conta
outra história. O jeito que me olha toda vez que acha que não estou prestando
atenção me diz que ela não é uma garotinha inocente como parece ser. E
então ela cora quando é pega no flagra, a pele branca fica avermelhada ao
redor do pescoço e é impossível não acompanhar o caminho tentador até
onde os últimos botões da sua blusa estão.
— Seu quarto — falo devagar, alongando as sílabas, e vejo o desespero
começar a tomar conta da sua feição. — Você estava sob a impressão de que
não ia comigo?
— Eu não…
— Você não…? — insisto, ríspido e sem paciência. Ela passa a língua
pelo lábio inferior e o prende entre os dentes. Desvia o olhar, coloca uma
mecha do cabelo atrás da orelha e troca o peso do corpo entre pés.
— Não acho que meu noivo vai gostar de eu passar esse tempo longe
assim… com outro home…
— Noivo? — interrompo, descendo os olhos para as suas mãos. Não
encontro nenhum anel, e é a primeira vez que ouço sobre isso. Não que a vida
dela me interesse, mas importa se estiver interferindo com a minha. E está. —
Eu tenho cara de que me importo com a sua vida privada?
Sofia arregala os olhos e abre a boca, mas não diz nada.
— Eu fui muito claro: competência. Se você não está disposta a se
comprometer com esse trabalho, abra a vaga para quem está. Tenho certeza
de que não vai ser difícil achar alguém muito bem qualificado e que não me
dê dor de cabeça.
— Eu estou comprometida com esse trabalho, senhor Vilella — ela se
defende rapidamente, empinando o queixo. Cruzo as mãos em cima da mesa,
o olhar preso no seu rosto.
— Prove — desafio e vejo a postura confiante bambear um pouco.
— Vou fazer a reserva do meu quarto ao lado do seu, caso precise de
mim — garante, com uma voz trêmula que quase me faz sorrir. Ela parece
uma garotinha assustada.
— E vai ficar depois do horário hoje — completo, me recostando na
cadeira. — Temos uma apresentação grande pela frente e preciso revisar os
últimos produtos lançados. Alguém deve entregar algumas amostras mais
tarde e vai ser de muita utilidade ter uma opinião feminina.
— Depois do horário? — ela repete como se custasse a entender a
ordem. — Para revisar… produtos?
— Algum problema, Sofia? — desafio, apertando os olhos. — Precisa
pedir permissão para o seu noivo para fazer o seu trabalho? — A acidez na
minha voz fica clara quando digo “noivo” e de repente me lembro de ter visto
um homem aparecer para buscá-la no fim do expediente algumas vezes.
— Problema nenhum — ela responde com um fio de voz. — Com
licença.
Eu a assisto andar até a porta, os olhos presos na curva delicada da sua
bunda dentro da saia apertada. Apoio um cotovelo na mesa e passo o polegar
pela boca apreciando a vista.
Coisinha tentadora essa garota.
Talvez essa viagem venha mesmo a calhar.
SOFIA

É o caos absoluto que reina desde que comecei a trabalhar com Daniel
Vilella. Coisas demais aconteceram desde o meu primeiro e terrível dia de
trabalho. Muitas mesmo.
Para começar, decidi dar uma segunda chance para Marcos, que vem
demonstrando estar arrependido pelo que fez. Ainda assim, eu me sinto
estranha quando estou com ele. É como se a cada vez que ele sorrisse, eu o
visse enterrado naquela mulher. Talvez por tudo ser muito recente ainda. Mas
tenho fé de que as coisas vão se acertar entre nós dois.
Ele não ficou muito feliz por eu ter arrumado um emprego. E Daiane
não ficou muito feliz por eu ter reatado com ele. Meus pais não ficaram
felizes após descobrirem que eu terminei momentaneamente com Marcos por
uma besteira — palavra deles — e ainda que arrumei um trabalho nesse meio
tempo. Resumindo: caos absoluto.
Mas, apesar de tudo, eu estou feliz por fazer algo meu pela primeira vez
na vida, já que adiei muitas coisas que queria fazer em função do meu
casamento com Marcos, como minha faculdade de administração, por
exemplo. Estou empolgada por descobrir habilidades que não sabia que eu
tinha, como a de organização.
Já disse que não é fácil trabalhar com o CEO mafioso, não é? Ele é
exigente e quer tudo do seu jeito, no seu tempo. Ainda assim, Daniel vem me
ensinando muito, principalmente a ser forte, pois não é nada difícil querer
chorar quando ele fecha aquela carranca para mim e desata a dar ordens
naquele tom arrogante que tem.
— Pronta, Sofia? Ou preciso esperar que seus devaneios acabem? —
Salto da cadeira de uma vez ao ouvir o timbre grave e tão perto do meu
ouvido e recolho meu tablet para o caso de precisar anotar algo.
Não estou me sentindo nada confortável por estar aqui a essa hora com
esse homem. São nove horas da noite, e todos os funcionários do andar já
foram embora, restando apenas eu e o irresistível — e austero — chefe.
Ah, isso não vai ser nada fácil.
— Estou pronta, senhor.
Sigo até sua sala, e ele não me dá passagem, entrando na minha frente
com passos largos e elegantes. Cavalheiro como um cavalo.
— Feche a porta e se sente aqui — diz e segue até sua cadeira preta
atrás da mesa de mogno.
Obedeço e me sento no assento em frente a ele, cruzando as pernas duas
vezes, tentando não me sentir acuada com sua presença tão imponente e com
a expressão sempre séria. Custava sorrir só um pouquinho para não espantar
as pessoas? Custava?
— Como eu disse, vou precisar da sua opinião a respeito dessas novas
amostras.
Eu o vejo abrindo uma caixa escura em cima da mesa e olho com
curiosidade para o conteúdo. O homem parece atento às minhas reações, e
tenho a impressão de que um pequeno sorriso zombeteiro se forma no seu
rosto, mas logo some. Só pode ser miragem mesmo, porque Daniel Vilella
não sorri. Nunca. Nem um mísero sorrisinho quando algum conhecido vem
visitá-lo no escritório. Não sei como não dói o rosto de tão travado que é.
— São produtos inovadores no mercado. Foram feitos para ativar os
sentidos e a sensibilidade feminina — fala com a voz grave, e eu aceno, me
segurando para não corar. E falhando miseravelmente. — Me dê sua mão.
Aperto meus dedos e os estico para frente, os sentindo completamente
trêmulos.
— Este aqui é um vibrador que solta um gel prolongador de orgasmo ao
sentir a boceta se contraindo. Quanto maior a contração, maior o estímulo e a
quantidade do líquido que sai. — Engasgo com a fala chula e completamente
inapropriada para o local e arregalo os olhos para ele, me lembrando da
boate, quando achei que ele fosse um cavalheiro sedutor. — Feche as mãos
ao redor dele e sinta, Sofia.
— Senhor… — Antes que eu proteste, ele coloca o vibrador rosa e
enorme na minha mão.
Vou morrer de vergonha, é isso mesmo. Flores no caixão, por favor.
Ainda com os olhos esbugalhados, encaro o CEO boca-suja se encostar
no assento e me encarar com um olhar de desafio no rosto, como se sentisse
prazer por me deixar constrangida.
— Aperta, Sofia. Devagarinho para não se sujar muito.
— Eu não sei…
— Não sabe apertar? — pergunta baixo, e balanço com a cabeça em
negativa. — Do mesmo jeito que se aperta um pau de um homem. Precisa de
ajuda com isso?
Tenho vontade de tacar esse vibrador na cara dele e pedir para apertar
ele mesmo o pinto do avô dele, mas seria desrespeitoso e não vou dar o
gostinho de Daniel me ver ainda mais constrangida. E de me demitir.
— Não, eu consigo. — Empino meu nariz e aperto devagar, mas nada
acontece.
— Mais forte.
Aceno fraco e coloco mais força. Imediatamente, um jato quente de um
líquido sai da ponta do vibrador e escorre pela minha mão, caindo na minha
saia. Se as coisas podiam piorar…
— É quente — sussurro.
— Exatamente. A intenção é que o prazer seja abrasador até mesmo na
hora da masturbação individual — fala, voltando a deixar o corpo mais para
frente. E existe masturbação coletiva? Meu Senhor Deus… — O que achou?
Seria algo que usaria no seu dia a dia?
Abro e fecho a boca e coloco o produto de volta na caixa aberta em
cima da mesa. Não seria mesmo.
— Acho bastante comercial, senhor — respondo, tentando passar uma
confiança que não sinto.
— Muito bem. O próximo… — Ele tira outro objeto de dentro da caixa
preta, e solto um pigarro, tentando me manter profissional.
Isso que dá ouvir sua melhor amiga louca! Você acaba se metendo em
uma empresa de sex shop sendo uma virgem careta.
Parabéns, Sofia!
— Esse aqui é para os casais. É meu preferido de todos dessa linha
nova, se quer saber a minha opinião.
Eu me assusto quando o homem se levanta e prendo a respiração
enquanto se aproxima da minha cadeira.
— Esse é um prendedor que serve para os seios e para o clitóris ao
mesmo tempo — fala, e ouço o barulhinho das correntes do objeto, me
deixando tensa demais. — Nesse que vou precisar ainda mais da sua ajuda,
Sofia. Preciso que teste para mim.
— O-O quê? — gaguejo e ergo os olhos.
— Testar, garota.
Ele passa a mão grande pelos fios escuros do cabelo e entrega a
correntinha na minha mão. Observo com atenção e não tenho nem ideia de
como usar isso. Parecendo notar minha hesitação, Daniel se aproxima mais
ainda e para em frente à minha mesa.
— Levanta — manda, e eu obedeço. — Estica os dedos indicadores.
— Senhor Daniel, eu…
Ele pega minhas mãos, e tremo de leve com o calor das suas palmas. É
a primeira vez que ele me toca. Quer dizer, aqui no trabalho. Quase consigo
ouvir minha respiração alta enquanto Daniel, com destreza, ajusta os
pregadores na ponta dos meus dedos.
— Esses aqui você prende nos bicos dos seus seios. — Enquanto fala,
seu olhar vai rapidamente para meu decote, e ele inclina a cabeça para o lado,
como se estivesse curioso. — Esse aqui você prende no clitóris, devagarinho.
Quando você se mexer, o pregador de baixo puxa de uma vez.
Ele demonstra o que fala, e eu dou um saltinho, arfando.
Droga! Tenho certeza de que não deveria estar me sentindo tão quente
assim com uma demonstração de brinquedos eróticos. Mas é pedir demais
que essa voz rouca não me seduza e que minha imaginação não vá longe.
— De onde que me lembro desse decote, Sofia? — Daniel fala baixo,
ainda olhando para meus seios, e dou um passo para trás, fazendo os
pregadores saírem do meu dedo.
— De lugar nenhum, senhor. E não devia estar olhando para isso —
falo, brava, me esquecendo de que ele pode destruir minha carreira que só
iniciou há pouco mais de um mês.
Daniel inclina ainda mais a cabeça para o lado, e sinto meu colo dos
seios esquentando com seu olhar tão incisivo. Sinto minha respiração
falhando conforme ele se aproxima novamente.
— Você parece um bichinho delicado, Sofia. Isso é medo ou excitação?
— Ele repete a mesma pergunta que me fez na boate, e travo minha
mandíbula, sentindo uma raiva pela falta de vergonha na cara dele.
— Fala isso para todas, não é? — indago, erguendo meu queixo, mas
me perco no raciocínio quando Daniel passa a língua pelos lábios,
lentamente, me provocando, voltando a aflorar o lado meu que nunca
aparece. O que parece só despertar quando esse homem está assim, tão perto
de mim.
— De onde eu me lembro desse decote, Sofia? — pergunta baixo
novamente e levanta meu queixo com a ponta do dedo indicador. Solto o ar
rapidamente e mordo o lábio, sem saber se olho para sua boca, para seus
olhos de predador ou se me concentro na mão que se aproxima da minha
cintura.
Tento pensar que ele não vai avançar o sinal, mesmo que eu queira
muito que isso aconteça. Tento pensar que Daniel não vai infringir as regras
que ele colocou sobre não se envolver com funcionárias — segundo as
venenosas do banheiro. Tento pensar em algo!
Mas qualquer coisa se torna impossível perto desse homem.
Antes que eu possa me afastar, implorar para que ele finalmente me
beije, que arranque minha roupa, ou sei lá o que as pessoas fazem quando
estão no ápice da excitação, meu chefe encosta os lábios no meu pescoço e
inspira, cheirando minha pele que deve estar vermelha como um tomate.
— Esse cheiro… — Seus dedos brincam no meu decote, e prendo a
respiração. — Posso, Sofia?
Não sei o que ele pergunta, mas aceno em confirmação e afasto a
cabeça para trás em um deslumbramento sem controle enquanto sua boca
quente ainda desliza pelo meu pescoço. Jogo minhas mãos para me apoiar
nos braços da cadeira antes que eu caia no chão e sinto os dedos de Daniel
entrando na minha blusa, apertando meu mamilo direito com força.
Não tenho coragem de abrir meus olhos, então os aperto com força e
apenas me perco nas sensações. Eu me permito desfrutar de cada contato com
a pele quente desse homem enlouquecedor.
Mas acaba rápido demais.
Daniel se afasta bruscamente, e o vejo desconcertado pela primeira vez,
mas rapidamente a postura some, voltando a de controle e de arrogância.
— Então achou legal fugir de mim aquele dia, Sofia? — ele questiona,
e eu arregalo meus olhos.
Ah, Deus, ele se lembrou!
E o que eu estava fazendo? De novo?
De novo, Sofia! Ai, meu Deus! O Marcos…
Como eu pude me esquecer de que agora eu estou noiva de novo? De
que o homem que estava com a boca no meu seio de novo não é mais um
desconhecido qualquer em uma boate, mas sim o meu novo chefe? Como
posso ficar tão aérea e desconectada do mundo quando essa criatura me olha
assim?
— E-Eu… Me desculpa…
— Saia, Sofia. — Ele me dá as costas e passa a mão pelos cabelos,
parecendo nervoso.
Mas o que eu fiz? O homem me ataca duas vezes e a culpa agora é
minha?
— Mas…
— Saia, Sofia.
Abaixo a cabeça e arrumo meu decote, tentando me recompor do caos
que ele me causou. Apesar de tudo o que meu cérebro grita, dizendo que não
sou muito diferente de Marcos no final das contas, só consigo pensar que
ainda gostaria de estar sob o toque de Daniel.
Qual o meu maldito problema?
Eu sou mesmo um caos.
DANIEL

Qual é o meu maldito problema?


O dia foi um desastre. A porra de um trem desgovernado. Onde eu
estava com a cabeça para chegar tão perto dela assim? Desde quando eu trato
qualquer funcionária minha desse jeito? Mas Sofia… Ela me irrita tanto
quanto me provoca sem nem tentar. Aquela cara de menina inocente, sempre
com os olhos curiosos, sempre com aquele lábio preso entre os dentes. Tem
alguma coisa naquela garota que me tira do sério e agora sei exatamente o
que é.
Ela é a louca da boate que me largou de pau duro na mão e saiu
correndo. E posso apostar que se lembra de mim.
Soco o volante do carro enquanto dirijo sem mal ver nada que está na
minha frente. Alguns veículos buzinam na pista do lado, mas não presto
atenção. A única coisa que vejo é raiva.
É claro que ela se lembra de mim. Posso apostar que é mais uma dessas
vadias interesseiras tentando me amarrar. Com aquela pose de mocinha
inocente que cora por tudo, usando aquele maldito perfume tentador, se
fingindo de desentendida.
Mas ela foi longe demais.
Mal noto que não estou indo para casa. Só percebo onde cheguei
quando estaciono na entrada do prédio de meu irmão. O porteiro autoriza a
entrada sem interfonar, porque estou na lista de visitantes, e estaciono em
uma vaga qualquer. Assim que chego ao andar certo, abro a porta sem esperar
por convite, já que tenho a chave.
Samuel dá um pulo no lugar, e eu reviro os olhos ao ver a cena. A
mulher seminua, com os seios para fora do vestido apertado, praticamente cai
do colo dele de tão rápido que meu irmão levanta. O que não é nenhum
problema. O problema é que assim que se recupera do susto, a ruiva me olha
de cima a baixo e abre um sorriso, sem fazer questão de se cobrir.
— Que porra você está fazendo aqui? — Samuel grita, arrastando a
mão pelo cabelo depois de enfiar o pau de volta dentro da calça. — Você não
pode sair invadindo minha casa assim!
— Eu pago por essa merda, posso o que eu quiser — digo, terminando
de entrar no apartamento e seguindo direto para onde sei que ele guarda as
bebidas.
O lugar é quase tão grande quanto a minha cobertura, e me surpreende
que seja só uma mulher com ele aqui e não uma orgia inteira acontecendo no
tapete da sala. Eu me sirvo de uma dose dupla de uísque e viro de uma vez só
antes de voltar a olhar para os dois. A garota ainda está como a encontrei,
com o vestido embolado no corpo, parecendo só esperar um convite para
continuar a festa. Samuel se inclina por cima dela e a beija.
— Me espera no quarto — manda, e ela faz um bico manhoso.
— Tem certeza? — ela pergunta, passando um dedo pelo peito despido
dele. — Não me importo de ficar aqui.
Bufo e me sirvo outra dose de bebida. Patético.
Depois de finalmente conseguir convencer a mulher a sair do cômodo,
Samuel me olha feio enquanto vem na minha direção.
— Que merda está pegando fogo para você ter atrapalhado minha foda
desse jeito? — pergunta, tomando o copo da minha mão e terminando de
beber o uísque.
— Está com pressa por quê? O efeito do Viagra vai passar? — provoco,
e ele me dá um soco fraco no ombro.
— Pau no cu do caramba — ele resmunga, andando até o sofá. — Que
bicho te mordeu?
Rio seco, andando de um lado para o outro. Estou inquieto.
— Não posso só ter ficado com saudades do meu irmãozinho? —
debocho, e é a vez dele de rir.
— Como se você se importasse se eu estou vivo ou estou morto —
responde baixo e desvia os olhos, soltando um suspiro pesaroso.
Aperto os olhos, sem entender por que ele parece chateado. Não é a
primeira trepada dele que eu interrompo, e Samuel já me retribuiu esse favor
algumas vezes também.
— Fala logo o que você quer que a ruivinha ali é mais interessante que
ficar olhando para essa sua cara feia — diz, apoiando um braço nas costas do
sofá.
Volto para outra dose de uísque e viro o copo mais uma vez antes de
soltar:
— Lembra da loira da boate? De um mês atrás?
Samuel explode em uma risada, balançando a cabeça que sim.
— Você ficou todo puto quando ela desapareceu — fala gargalhando.
— Que foi? Foi atrás dela e ela fugiu de novo?
Nego com a cabeça.
— Adivinha quem é minha nova secretária? — cuspo, sentindo a onda
de irritação voltar para o meu corpo.
Samuel franze o cenho.
— Desde quando você tenta foder suas funcionárias? Cadê o senhor
cheio dos valores morais?
— Você acha que eu me lembrava dela? — devolvo. — Estava escuro
para a porra naquela boate, e ela tem um rosto muito esquecível.
No segundo que digo isso, sei que é mentira. Não sei como não me
lembrei dela de imediato, mas agora que sei quem é, tenho quase certeza de
que conseguiria reconhecer aquele rosto em qualquer lugar.
Porra de mulher irritante.
— E ela não falou nada? — Samuel pergunta, começando a entender
onde quero chegar. Ele passa a mão na cabeça e ri nervoso. — Essa daí é
corajosa. Ela não sabe que não pode brincar com seu bebê?
Meu irmão debocha que a empresa é meu bebê, como sempre faz, mas
o sentimento é o mesmo: Sofia não devia mesmo brincar com minha
empresa. Aceito doidas tentando invadir minha vida pessoal, mas não o
negócio que dei meu sangue para fazer ser um sucesso. Ela passou de todos
os limites.
— Acha que ela fez de propósito?
— É claro que ela fez de propósito! — praticamente grito.
Samuel fica em silêncio por alguns segundos e me olha confuso.
— Por que você está tão perturbado com isso? — pergunta. Abro a
boca para perguntar se ele é burro, mas meu irmão emenda: — Por que só
não demitiu a vagabunda e seguiu a vida? Está todo afetadinho por quê? Se
não te conhecesse, ia achar que está magoado.
Samuel faz um bico zombeteiro, e eu mostro o dedo do meio para ele.
— Vai se foder — digo, trincando os dentes por um instante. — Não
admito ser feito de idiota.
Samuel bate palmas e se levanta.
— Então chuta a vadia e segue a vida — diz. Aperto os olhos para ele,
incomodado que esteja falando assim de Sofia. O que só me irrita mais ainda.
Samuel começa a andar em direção ao quarto e me olha por cima do
ombro.
— Quer participar? — pergunta, e reviro os olhos.
— Você é doente.
Ele dá de ombros e desaparece pelo corredor. Alguns instantes depois,
ouço o som de gemidos e decido que não preciso dessa merda para fechar o
dia, então vou embora.

***

Cheguei na empresa antes mesmo de o sol nascer. Foi inútil tentar


dormir e decidi não perder tempo rolando na cama quando tenho tanto
trabalho para fazer.
Quando bate sete da manhã, já estou trabalhando há horas e não ouço
qualquer som vindo de fora do meu escritório, mas logo escuto uma batida
hesitante na porta.
Recosto na cadeira quando Sofia entra. Cruzo as mãos no colo e assisto
enquanto se aproxima como uma garotinha indefesa. O cabelo loiro está
preso, deixando completamente à mostra o maldito decote que está maior que
o de costume. A saia apertada modela as curvas delicadas e é um dedo mais
curta do que costuma usar. Sorrio, puto da vida. É assim que ela vai jogar?
— Daniel… — gagueja, e eu ergo uma sobrancelha. Ela se corrige
rapidamente. — Senhor Vilella, eu…
Espero que continue, mas Sofia perdeu completamente as palavras. Os
olhos enormes estão úmidos, e ela parece não saber o que fazer.
— Não tenho tempo para isso — cuspo. — O que você quer? Estou
surpreso que tenha tido a coragem de aparecer para trabalhar hoje.
Quando ela não diz nada de novo, eu me levanto da cadeira, contorno a
mesa e começo a andar na direção dela em passos lentos.
— Achou engraçado? — pergunto, e ela me olha confusa. Quando a
alcanço, Sofia me olha de baixo com os lábios entreabertos. — Qual o seu
joguinho, garota?
— Não tem nenhum joguinho, senhor — sussurra, parecendo incapaz
de tirar os olhos dos meus. Arqueio uma sobrancelha e dou um passo mais
para perto. Ela respira fundo. — Eu preciso desse emprego, não…
— Precisa? — repito, incrédulo.
Posso apostar que é uma garotinha mimada de família rica que não
precisa levantar um dedo para conseguir nada na vida. Provavelmente estava
entediada e resolveu brincar com a minha cara. Mas escolheu o homem
errado para isso.
Desço os olhos pelo seu corpo, encarando a curva dos peitos marcada
pela roupa. Sofia joga o corpo um pouco mais para perto do meu, e eu rio.
Abaixo o rosto para falar no seu ouvido e sou atingido com tudo pelo cheiro
doce do perfume.
— Eu não acredito em você — digo e apoio uma mão na sua cintura.
Ela estremece, e vejo o avermelhado tomar conta do seu pescoço. — Você se
aproximou de mim na boate, me largou daquele jeito, apareceu
milagrosamente para trabalhar para mim alguns dias depois e não falou nada.
O que faço com você agora, garota?
— Eu não…
— Você não…? — pergunto e a puxo pela cintura para colar o corpo no
meu. Sofia apoia as duas mãos no meu peito e aperta minha camisa.
Paro de pensar por um segundo quando sinto o contorno do seu corpo
no meu. Desço a mão pelas suas costas até alcançar a curva da sua bunda e
aperto. Ela ofega e apoia a testa no meu ombro. Fico mais puto ainda por ela
não me parar. Boa moça no inferno mesmo.
Com a outra mão, puxo seu queixo para mim e encontro seu rosto
completamente vermelho, os olhos fechados e os lábios cheios implorando
por um beijo. Subo a outra mão pelo seu corpo e encaixo a palma no seu seio,
enfiando um dedo por dentro do decote para sentir a pele quente e macia.
Aproximo minha boca da sua e sinto Sofia derreter nos meus braços.
Solto seu queixo e desço a mão pelo seu pescoço até o primeiro botão
da sua blusa, que eu abro, vendo a renda cor-de-rosa. Ela se agarra ainda mais
a mim e empina os seios. Rio baixo e puxo o sutiã para baixo, expondo um
seio pequeno e redondo. Torço o mamilo entre os dedos, e o gemido que ela
solta é delicioso.
— Não estou com tempo para procurar outra pessoa para colocar no seu
lugar. Você é competente e está dando conta do trabalho — digo contra sua
boca. — E já que claramente teve segundas intenções conseguindo esse
emprego, vou te dar o que você quer — rosno e abaixo a boca para chupar a
pele do seu seio. Ela geme de novo e empina mais o peito. Sofia não se
defende e nem tenta dizer nada. Só geme baixinho e estremece um pouco
mais.
Por algum motivo que não sei explicar, isso só me deixa mais puto
ainda e eu a solto bruscamente. Vejo Sofia se desequilibrar um pouco nos
saltos quando me afasto e volto para a minha mesa. Ajeito meu pau apertado
na calça antes de me sentar e a olho a tempo de ver que fecha a blusa,
respirando pesadamente. Sofia me olha confusa, e eu ergo uma sobrancelha
para ela.
— Precisa de alguma coisa? — pergunto. Ela pisca algumas vezes e
morde a ponta do lábio, balançando a cabeça em negativa. — A porta é logo
ali — digo e volto meus olhos para a tela do computador.
Pelo canto de olho, vejo que hesita alguns segundos antes de sair.
Quando chega a porta, solto um palavrão e levo uma mão à frente estufada da
minha calça.
Porra de mulher perturbadora do meu juízo.
SOFIA

— Ele fez o quê? — Daiane grita e me encara com os olhos escuros


arregalados, tampando a boca de susto. — Sof, quebra a cara daquele
desgraçado!
— Fala baixo, Dai. Senão daqui a pouco meu pai entra aqui e te bota
para fora.
Minha amiga revira os olhos e faz um gesto de indiferença com a mão.
— Você precisa parar de deixar as pessoas fazerem o que querem da
sua vida, Sofia! Pelo amor de Deus! Como você permite que esse homem te
trate assim? Ele deve estar se achando o pirocudo de ouro do Olimpo, o deus
imortal que maltrata as pessoas e sai impune porque ninguém fala nada!
Solto um resmungo e termino de vestir meu pijama, ganhando tempo
para responder Daiane. Sei que ela está coberta de razão, pois sempre está.
Mas é tão difícil me impor… Ainda mais com aquele homem.
— Eu não sou como você, Dai… — murmuro após me sentar na cama,
já vestida após um banho quente pós-trabalho. Ou melhor dizendo, após
matadouro.
— Você é sim! Só precisa acordar para vida, Sof. Aprender a dizer
“não”, a expor sua opinião e, acima de tudo, a não deixar as pessoas te
usarem desse jeito só porque elas têm dinheiro!
— Eu sei, eu sei. Não devia mesmo. — Passo os dedos pelos cabelos
para desembaraçá-los, ainda olhando para a cara embasbacada de Daiane. —
Estou me sentindo um lixo. Não sei se pela sacanagem que fiz com Marcos
ou se por perder os sentidos quando o Daniel chega perto de mim.
— Essa parte do chifre trocado achei boa, quero mais é que o Marcos se
foda!
— Daiane!
— Que foi? — Ela me olha com uma surpresa fingida, a cara de pau. —
É a verdade. Você é tonta e perdoou uma traição, mas deixa eu te avisar:
pode ter certeza de que ele segue te chifrando por aí, enquanto você guarda
essa periquita preciosa a sete chaves.
— Jesus…
Escondo meu rosto nas mãos, constrangida e chateada.
Eu não sei o que estou fazendo da minha vida. Alguém me dá uma luz?
Só queria ser uma pessoa corajosa uma vez na vida, sem medo de dizer todas
as milhares de afrontas que rodeiam a minha mente, principalmente para
aquele CEO arrogante de merda.
Quem ele pensa que é? A piroca do Olimpo, como diz Dai? Ele não
pode simplesmente achar que resolve tudo abaixando meu decote e chupando
meus peitos.
Meu Deus… Foi exatamente isso o que Daniel fez, não foi?
Simplesmente se aproveitou do meu encanto, da minha excitação por ele,
para virar o jogo, para me transformar na boboca sonsa e submissa que se
rende. Não quero ser assim! Não posso ser. Estou cansada.
— Me ajuda… — sussurro. — O que eu faço?
— E você vai lá me ouvir, por acaso? — zomba, revirando os olhos e
pegando uma almofada em cima do colchão para apoiar nas costas. — Cansei
de gastar minha saliva contigo, Sofia. Só aparece no meio do desespero para
dizer que as coisas deram erradas porque você não me ouviu.
— Não vou, Dai. Por favor. Estou desesperada — choramingo, fazendo
um beicinho pidão.
Antes que ela possa falar alguma coisa, a porta do meu quarto se abre,
sem uma batida sequer, e o rosto do meu pai aparece ali, fechado como
sempre. Ele investiga o quarto com os olhos rapidamente, como um
carcereiro procurando por um fugitivo, e sei sem olhar que Daiane está
revirando os olhos. Ela não é a fã número um da minha família,
principalmente pelo fato de que eles são os fãs número um de Marcos.
Seu Danilo não diz nada, apenas olha e sai do quarto. Ele e dona Rose
estão ainda menos felizes com Daiane porque acham que ela que colocou a
“ideia absurda” de eu arrumar um emprego ao invés de me dedicar ao meu
casamento. Não deixa de ser verdade, mas eles não precisam saber disso para
piorar uma situação que já não é boa.
— Seus pais, viu? — ela resmunga, mas não tenho tempo para isso
agora.
— Deixa eles, Dai. Me ajuda… Prometo que seguirei tudo o que você
me disser.
Ela semicerra os olhos com desconfiança, mas por fim suspira e começa
um discurso longo, constrangedor e tão real que fico animada para colocar
em prática.
Deus me ajude.

***

Quando meu celular desperta, é Daiane quem o desliga, resmungando


como sempre quando dorme aqui. Sempre fui uma pessoa matinal. Amo as
manhãs, o barulho dos pássaros cantando na janela, o solzinho fraco que
entra pela fresta da cortina. Bem Branca de Neve. Então, agora não é muito
difícil levantar cedo para ir trabalhar. Estou com medo, confesso. Não quero
nem pensar na cara de puto que Daniel me olharia se eu dissesse tudo o que
minha amiga me aconselhou. Não serei como ela do dia para noite, mas não
vou deixar que ninguém me humilhe. Nem mesmo meu chefe.
Empurro sua bunda para o lado para que não caia da cama de casal e
sorrio enquanto vou até o banheiro no corredor para tomar um banho para me
arrumar. Demoro o tempo necessário e volto para o quarto para me trocar.
Uso um vestido preto que vai até os joelhos, simples e bonito, e decido deixar
meus cabelos soltos. Sigo o primeiro conselho de Daiane e coloco uma
maquiagem um pouco mais forte, para tirar a cara de garota de ensino médio.
Não tenho muita coragem de me maquiar, mas sei fazer milagres no meu
rosto quando preciso. Troco o cotidiano batom rosa e passo um vinho no
lugar dele. Penteio os cabelos e os arrumo, deixando o liso escorrer pela
frente do vestido sem decote. Nada de decote hoje.
Quando termino, me viro para a cama para me despedir de Daiane, mas
dou de cara com sua bunda grande empinada e seguro uma risada. Vou deixar
que ela durma mais, a bichinha. Dai só entra mais tarde no trabalho, então
não irei a acordar à toa.
Vou para cozinha e encontro meus pais tomando café da manhã,
calados e sisudos, com expressões de pouquíssimos amigos.
— Bom dia, mãe. Bom dia, pai. — Eles resmungam em resposta, mas
não me abalo mais com isso. — Como estão?
— Estaríamos melhor se estivesse se dedicando ao seu futuro-marido
ao invés de brincar de adulta — seu Danilo fala, e eu arregalo os olhos pelo
tom bruto.
— Pai…
— Pai nada, Sofia. Seu pai está certo — minha mãe fala, mas se cala
com o olhar que o marido dá para ela.
Por meio segundo, consigo me ver ali naquela mulher que me criou
para ser como ela. Nunca vi problema em seguir seus caminhos, afinal, ela é
minha mãe, a pessoa que mais amo no mundo, mas eu realmente preciso?
Realmente tenho vocação para isso? Até um mês atrás achava que sim.
Só que a traição de Marcos me fez ver que nem tudo era como pensei.
De certa forma, Daniel, com sua arrogância e prepotência, me fez pensar
também. O desgramado.
Tomo meu café em silêncio, ignorando os olhares dos dois.
— Só para avisar que daqui algumas semanas terei uma viagem de
trabalho. Vou passar quatro dias fora, no máximo.
— É o quê? — meu pai exclama, largando a xícara na mesa com força.
— Desde quando filha minha sai em viagem a trabalho?
— Desde que comecei a trabalhar, pai — respondo com a voz trêmula,
controlando para não desviar o olhar.
Não desvie o olhar, Sofia. A voz de Daiane aparece na minha mente.
— Olha como fala, Sofia!
— Pai, eu preciso ir. É uma ótima oportunidade. Meu chefe…
— Seu chefe… — Seu Danilo coloca um pedacinho de pão na boca
enquanto sacode a cabeça e abre um sorrisinho irônico de lado. — Você trate
de cancelar essa viagem, Sofia. E essa brincadeirinha de emprego. Não sabe
nem lavar suas calcinhas, acha que consegue ficar em um trabalho?
Dói. A falta de confiança e apoio pela primeira coisa que eu quero fazer
na vida me machuca. Nunca havia passado por isso antes, mas ao invés de me
desestimular, me faz querer continuar.
Viro o café de uma vez e me levanto, recebendo o olhar chocado da
minha mãe e o bravo só meu pai.
Não vou discutir, porque não é do meu feitio, mas não vou ficar aqui de
cabeça baixa ouvindo também.
— Bom dia para vocês. — E saio pela porta afora, ouvindo meu pai
chamando meu nome.
Ando até o ponto de ônibus porque não quero ter que esperar um Uber
e correr o risco de eles impedirem minha ida. Não vou largar esse emprego,
agora é questão de honra.
O resultado disso é que chego atrasada uns cinco minutos porque desci
no ponto de ônibus errado. Praticamente corro até minha mesa, sabendo que
irei ouvir. E não dá outra.
Mal coloco minha bolsa na gaveta da mesa grande em que trabalho e
ouço o barulho da porta batendo com força. Dou um pequeno salto, mas
controlo a tremedeira.
Respira fundo. Não deixe que ele te humilhe.
— Sofia, vejo que me agradou com a sua adorável presença — zomba,
parando à minha frente.
— Bom dia, senhor. Só irei arrumar as minhas coisas e já podemos
começar com a sua agenda.
Meu chefe fica em silêncio, e eu me seguro para não olhar para ele,
sabendo que me analisa.
— Não tenho tempo para esperar você se recuperar do seu atraso, Sofia.
Cinco minutos que seja é dinheiro perdido.
Conto até três mentalmente, e a resposta grita na minha cabeça.
Normalmente, eu a jogaria para longe, porque essa não sou eu. Não sou?
— Tive um problema no transporte, senhor Daniel. — Eu o encaro,
tremendo de leve com os olhos escuros e incisivos que me encaram. — É a
primeira vez que atraso desde que cheguei, então será que dá para ter um
mínimo de consideração por quem depende de transporte público? Isso não
vai se repetir.
— O quê…? — Acho que ele vai gritar comigo e me xingar, mas
Daniel parece… abalado com minha reação. — Escuta aqui, mocinha…
— Vamos? Sua reunião começa em cinco minutos. Orientei que os
clientes fossem alocados antes da minha chegada para que ficassem mais
confortáveis.
Cara… A expressão que ele me olha é impagável. Eu me sinto…
espetacular.
Ao invés de deixar que ele vá na frente como um cavalo, ando até uma
das salas de reunião, tentando não cair com as pernas trêmulas. Cumprimento
os dois clientes que esperam e ignoro o olhar do meu chefe que me segue.
Sinto que ele me olha durante toda a reunião, mas sigo fazendo as anotações
de coisas que sei que exige. Mando tudo imediatamente para seu e-mail,
antes mesmo que deixemos a sala, e volto para minha mesa, me despedindo
dos homens engravatados.
— Sofia! — Daniel quase grita na porta da sua sala. — Aqui, agora.
Ah, merda.
Você consegue, Sofia. Respira fundo e siga ouvindo a vozinha rebelde
da sua cabeça, aquela que você sempre prendeu e reprimiu.
Arrumo o vestido, passando a mão para tirar um amassado inexistente,
e ajeito os fios de cabelo para cobrir a frente mesmo que não tenha decote.
Entro na sala, e Daniel já está sentado atrás da mesa, deslizando os dedos nos
lábios. Foco, fé e força.
— O senhor tem outra reunião agora às nove e…
— Eu sei. Senta.
— Prefiro ficar em pé, senhor. Tenho muito trabalho a fazer —
respondo com segurança, segurando o tablet em frente ao corpo.
— O que pensa que está fazendo? — questiona com a voz grave.
Ah, ele está muito puto.
O pouco tempo na companhia desse homem me fez conhecê-lo bem
demais a ponto de saber quando está prestes a explodir.
— Estou tentando trabalhar — respondo.
— Entendo — responde. — Você acha que vai me conquistar mudando
de mocinha tímida para mulher fatal, é isso?
Quase solto uma risada debochada para ele, porque tenho vontade de
socar essa cara bonita e máscula e… Infeliz!
— Escuta aqui… Eu te deixei ficar na empresa para evitar a fadiga, mas
posso te colocar no olho da rua a qualquer segundo, me entendeu? — fala
baixo, me encarando.
Ele se levanta, e eu consigo me controlar e permanecer de pé porque
estava prevendo isso. Virou meio que um padrão. Sei que Daniel usa da sua
presença e do seu porte intimidador para me abalar, mas preciso fazer isso.
Por Daiane, para que minha amiga se orgulhe de mim. E, principalmente, por
mim.
— Eu sei que pode, a empresa é sua.
— Está mostrando as garrinhas, Sofia. Tão cedo?
Quando ele quebra completamente a distância entre nós, não abaixo a
cabeça. Assim que estica o dedo para tocar meu rosto, dou um passo para
trás, decidida. Prendo a respiração para não cair na tentação de me render ao
seu cheiro.
Daniel inclina a cabeça para o lado, surpreso pela rejeição.
— Escuta, senhor Vilella… — Não resisto a dizer o “senhor” com
ironia. — Como eu disse antes, preciso do emprego. Sou inexperiente, mas
aprendo rápido e sou esforçada. Tenho completa ciência dos meus valores e
do meu esforço. Sou teimosa e não desisto de algo fácil, então, se estiver
interessado no meu trabalho, tudo bem. Continuemos. Agora, não venha me
diminuir ou me destratar baseado no que você acha, porque isso eu não vou
aceitar. Qualquer ideia que tenha sobre eu querer te seduzir, te enganar, te
prender, tire da sua cabeça, porque de você só quero o salário no final do
mês.
Uau! A Dai com certeza teria muito orgulho de mim neste momento por
conseguir dizer tudo o que estava entalado aqui na minha garganta.
Daniel não fala nada, só me encara. Chocado de novo.
— Você pode ser atraente aos meus olhos, não precisa que eu diga isso
para saber, mas o que aconteceu naquela boate, e aqui, não vai se repetir.
Aquilo ali foi um erro, uma carência. Então, está interessado no meu trabalho
ou não?
Fechou com chave de ouro, garota!
Ele acena devagar e franze o cenho.
— Muito bem, Sofia. Vamos ao trabalho.
Sofia Pires 1 X 0 Daniel Vilella.
DANIEL

Faltando um dia para a viagem, esse escritório parece outro lugar. Vi


uma transformação em Sofia que parece ter acontecido da noite para o dia e
estou não só confuso, mas muito intrigado. Pouca coisa na vida consegue me
surpreender, e essa garota atrevida está mesmo conseguindo alguns minutos
da minha atenção. E, de uma forma muito estranha, meu respeito.
Parece que uma guerra fria se instalou entre nós dois depois da
discussão acalorada de algumas semanas atrás. Ela chega e sai calada, com a
cara fechada, faz seu trabalho, diz “sim, senhor” e vai embora no fim do dia
sem nem olhar duas vezes na minha direção. Exatamente o tipo de
comportamento discreto e obediente que espero de qualquer um que trabalhe
para mim.
Então por que estou incomodado com isso?
Não sei e não tenho tempo para me preocupar com bobagens. Dentro de
alguns dias, o maior evento de produtos eróticos vai acontecer e há quase dez
anos, essa convenção não existe sem a presença dos Vilella. Somos referência
na área, e todos esperam pela última novidade que vamos lançar no mercado.
Quem diria que depois de tanto tempo ainda estaria descobrindo novas
formas de trazer prazer?
Estou concentrado lendo um relatório e tomo um susto quando a porta
da minha sala é aberta de supetão. Levanto a cabeça, pronto para reclamar da
intromissão, quando vejo que quem está andando na minha direção é a
Luciana Vilella.
— Mãe? — Fico de pé, indo ao encontro dela. — Aconteceu alguma
coisa?
A mulher esguia e baixinha beirando os setenta anos, de cabelos
tingidos de um vermelho chamativo, estende os braços para me puxar para
um abraço desajeitado.
— Aconteceu que faz semanas que não te vejo, garoto desnaturado —
reclama, beijando minha bochecha.
— Eu tentei pedir para ela esperar e… — Sofia entra na sala logo
depois. Os olhos arregalados logo ficam confusos, como se estivesse vendo
um ET.
— E eu te expliquei que não preciso ser anunciada para ver meu próprio
filho — minha mãe diz, sorrindo para a garota, e então a olha de cima a
baixo. — Não conheço você — diz.
Vejo Sofia arrumar a postura e colocar um sorriso educado no rosto.
— Sofia Pires — ela se apresenta, estendendo a mão, que minha mãe
aceita. — Estou substituindo a Raquel.
Paro de prestar atenção na troca de figurinhas entre as duas quando
minha mãe desembesta a falar sobre o que quer que seja e aproveito para
olhar para Sofia como não faço há alguns dias porque ela está fugindo de
mim. Tenho a impressão de que seu cabelo está um pouco mais curto. A
porcaria do batom vermelho que ela cismou de usar também está na sua boca,
fazendo ser impossível não olhar para os seus lábios toda vez que fala.
Desde que ela começou a usar essa cor, tudo que consigo pensar é na
sua boca bem em volta do meu…
— Daniel?
Pigarreio e volto a olhar para a minha mãe, que tem uma sobrancelha
arqueada. Foi dela que peguei essa maldita mania.
— Sim? — pergunto, sabendo que provavelmente me perguntou
alguma coisa.
— Sofia estava falando sobre a faculdade que pretende fazer na
Cardoso Menezes. Você não conhece o diretor?
— Conheço muita gente em muito lugar — respondo um tanto seco e
sei que vou levar uma bronca como se eu fosse uma criança, mas estou
ocupado puxando na memória se alguma vez Sofia falou sobre faculdade. —
Você tem trabalho a fazer — digo para ela, que não se abala mais com a
minha grosseria e simplesmente sai da sala depois de se despedir da minha
mãe.
— Estou vendo que está muito ocupado maltratando seus funcionários e
é por isso que não vai me ver há quase um mês — dona Luciana reclama
enquanto anda em direção à cadeira em frente à minha mesa.
— Não estou maltratando ninguém — eu me defendo, voltando ao meu
lugar. — E sei que estou em falta com a senhora. As coisas estão corridas
aqui na empresa. É sempre assim nessa época do ano.
Ela dispensa o comentário com a mão, como se não pudesse se importar
menos com qualquer desculpa que eu tenha para dar.
— Eu te carreguei por nove meses na minha barriga, Daniel. Arrume
tempo — ordena. Sorrio para o jeito mandão. Sei bem de quem herdei essa
personalidade difícil. É só então que percebo que ela tem um brilho diferente
nos olhos. Tomba a cabeça para o lado e abre um sorriso pequenino. — Ela é
muito bonita.
Franzo as sobrancelhas, sem entender.
— Quem?
— Sofia — explica, e eu bufo. — Ora, não pense que não vi o jeito que
estava olhando para ela. Consegui ver o fio de baba escorrendo daqui.
— Não tenho ideia do que a senhora está falando — garanto, chocado
com o absurdo. De onde ela tirou uma coisa dessas? O sorriso da minha mãe
se amplia.
— Ela é uma mulher linda — insiste, e reviro os olhos, recostando na
cadeira.
— Ela é uma criança — rebato, erguendo as sobrancelhas. — Mal saiu
das fraldas.
— É adulta o suficiente para trabalhar para você — ela me corrige. — E
é adulta o suficiente para te olhar desse jeito também.
Quase solto um gemido sofrido, sabendo bem o que vem por aí.
— Vocês ficariam lindos juntos — ela diz.
Bingo.
— Mãe… — repreendo-a como sempre.
— Não estou ficando mais nova, Daniel! — briga comigo. — Quero
netos. Muitos deles, correndo pela casa.
— E eu já expliquei que é melhor contar com o Samuel para isso. Quem
sabe? Do jeito que ele é, é capaz de já ter meia dúzia de filhos perdidos no
mundo. Um time de futebol inteiro para encher a sua casa de crianças
barulhentas. Eu não sirvo para isso.
— Pois eu acho que você seria um ótimo pai e marido — ela discorda.
— Só precisa parar de ser teimoso.
— Não tenho nenhum interesse nisso — garanto, e ela desiste
momentaneamente. Olha o relógio de pulso e se levanta de novo.
— Essa conversa não acabou — garante, apontando um dedo para mim.
— Prometi que ia jantar com a sua tia. Ela está me esperando. Mas eu vou
voltar. E vê se vai para casa também que já passou e muito do horário de sair
do trabalho. E deixe a coitada da garota ir embora também!
Sigo com ela até a porta, segurando uma risada. Não percebi que estava
tão tarde, mas jamais vou admitir em voz alta que ela está certa. Abro a porta
e me abaixo para abraçá-la.
— Prometo que vou aparecer no próximo final de semana — garanto,
beijando sua testa.
— Acho bom que apareça — ameaça, beliscando minha bochecha
como fazia quando eu era pequeno. — Eu te amo, querido.
— Também te amo, mãe — digo, e ela se despede, seguindo até o
elevador depois de dar um tchauzinho para Sofia. Assim que dona Luciana
desaparece do andar, volto minha atenção para a minha secretária, que me
encara com a boca entreaberta. — Sofia — chamo, indicando com a cabeça
para dentro da sala.
Ela demora alguns segundos para se levantar, mas logo vem atrás de
mim. Ficamos na nossa posição de sempre: eu sentado na minha cadeira, e
ela de pé, agora que se recusa a se sentar toda vez que está na minha sala.
Azar o dela.
— Pois não, senhor Vilella? — diz, apertando o tablet na frente do
corpo.
— Está tudo certo para a viagem amanhã? — pergunto, olhando para
ela com atenção. Sofia suspira, fecha os olhos por um segundo e aperta os
lábios. A insatisfação fica clara em cada pedaço do seu rosto, e fico intrigado
com o que está a deixando assim. — Algum problema?
Ela balança a cabeça que não e joga os ombros para trás. Mania essa
que já percebi que tem sempre que está tentando se achar no controle da
situação, o que, para a minha surpresa, tem mesmo estado nos últimos
tempos.
— Preciso que esteja pronta para sairmos amanhã cedo, Sofia. Se tem
algum problema…
— Nada com o que precise se preocupar, senhor Vilella. Assuntos
pessoais — diz e logo emenda: — As reservas estão feitas, as credenciais
para o evento estão prontas e já fiz o check-in online do voo. Está tudo certo.
Encontro com o senhor no aeroporto, meia hora antes do voo.
— Eu vou te buscar — discordo, e ela finalmente volta a olhar para
mim com os olhos confusos.
— Perdão?
Suspiro, incomodado com o que quer que esteja errado. A postura dela
está estranha, e isso está me distraindo.
— Você vai, obviamente, ser paga um valor adicional pelas horas extras
de trabalho que essa viagem vai representar, mas mesmo assim precisa estar
pronta muito mais cedo que o normal amanhã. Vou te buscar. Me mande seu
endereço por e-mail e vou estar na porta da sua casa às seis e meia.
— Não precisa, eu…
— Não foi uma sugestão, Sofia — interrompo, apertando os olhos.
Ela abre a boca e parece pronta para discordar, mas muda de ideia e só
concorda com a cabeça. A pose de mulher fatal que assumiu nas últimas
semanas não está em lugar nenhum a ser vista, e eu estava mesmo me
perguntando por quanto tempo ia durar. Só que parece ser mais que isso. Ela
está… abatida. Calada. O brilho inocente que sempre tem nos olhos não está
mais no seu rosto. Não tem vivacidade nenhuma na sua face.
— Se for só isso, vou para casa — diz, erguendo um pouco o queixo.
— Tenho algumas… questões para resolver antes de sairmos amanhã.
Concordo com a cabeça e volto minha atenção para o computador.
— Até amanhã — digo, e ela começa a sair da sala, mas a chamo de
novo. — Sofia? Tem certeza de que está tudo bem?
Ela abre um sorriso pequeno e triste e faz que sim com a cabeça.
— Nada com o que precise se preocupar, senhor — diz.
E pela primeira vez, eu realmente só queria que ela tivesse me chamado
pelo nome.

***

Como combinado, estou na porta da sua casa às seis e meia em ponto. E


não é nada do que eu esperava. A casa simples de um andar só é em um
bairro humilde, longe do centro. Parece tranquilo e está bem movimentado de
gente saindo para o trabalho. É bem diferente de qualquer outro lugar que eu
já tenha frequentado. Tento ver alguma coisa pelas janelas da frente da casa
quando ela começa a se atrasar.
Passam quase dez minutos do horário, e começo a me irritar com a
demora. Estou a ponto de dar a partida no carro e a deixar para trás quando a
porta da frente finalmente se abre. Abaixo a janela da porta do motorista e
vejo Sofia sair do imóvel. Logo atrás dela vem um homem mais velho que
chuto ser seu pai.
Não consigo ouvir o que ele está dizendo, mas parece puto da vida
enquanto aponta o dedo na direção do rosto dela. Franzo o cenho, não
gostando nada da cena. Ela se afasta dele a passos largos e cruza o pequeno
quintal, batendo o portão de ferro com força quando alcança a calçada. Sofia
arrasta os dedos no rosto com violência para secar as lágrimas e aperta a
pequena mala de mão com a outra. Olha ao redor, como se me procurasse.
Aperto a buzina de leve para chamar sua atenção, e ela logo vem na direção
do carro, se sentando no banco do passageiro.
— Bom dia, senhor Vilella — diz baixinho, sem olhar na minha
direção.
Sofia está vestindo seu costumeiro conjunto de saia lápis e blusa de
botão, mas hoje tem o cabelo solto. Com o rosto apontando para o próprio
colo, os fios dourados cobrem o seu rosto vermelho pelo choro, mas consigo
ver pelo reflexo do retrovisor o estado que está.
— Está tudo bem? — pergunto. Ela faz que sim com a cabeça, sem
olhar na minha direção. — Sofia?
— Está tudo bem, Daniel — sussurra, a voz falhando na metade do
caminho.
Sem que eu perceba o que estou fazendo, toco seu joelho. Ela levanta o
rosto para mim com os olhos arregalados.
— O que aconteceu?
Sofia não responde. Vejo que ela está olhando através de mim e sigo
seu olhar até o homem parado na porta, olhando para nós dois com cara de
poucos amigos.
— Podemos ir? — ela pede. — Por favor?
Concordo e começo a dirigir. Ela não diz nada no caminho todo até o
aeroporto. Tudo que eu ouço são fungadas baixas que denunciam que ela não
está conseguindo segurar o choro. Dirijo até o estacionamento de longa
estadia e paro o carro em uma área afastada e mais vazia.
Ela pula para fora do veículo assim que pode, e eu saio também,
apertando o alarme. Um sentimento estranho de preocupação me atinge
quando vejo que continua esfregando o rosto tentando secar as lágrimas.
— Sofia? — chamo de novo. Ela está de costas para mim e abraça o
próprio corpo. Não responde nem se move, então me aproximo. — Sofia? —
Toco seu braço, e ela contrai o corpo todo.
— Está tudo bem — mente descaradamente. — Só preciso de um
minuto. Está tudo bem.
Chego mais perto e colo meu tronco nas suas costas. Ela não se afasta.
Tiro seu cabelo do caminho e levo a boca ao seu ouvido.
— O que aconteceu? — pergunto. Ela estremece com o contato.
Encaixo uma mão na sua cintura e a puxo para mais perto. — Por que você
está chorando?
— Como se você se importasse — cospe, dando alguns passos para
longe de mim. — Só sabe gritar comigo o tempo inteiro.
Puxo seu braço e a viro de frente para mim. Sofia solta um gritinho de
susto, e eu aproveito sua distração para a prender no carro. Sem qualquer
delicadeza, aperto sua cintura e seguro seu rosto.
— Você já devia saber a essa altura que não desperdiço tempo, Sofia —
digo. Seus olhos estão avermelhados. Levo um polegar até sua bochecha e
seco o rastro da lágrima que está ali. — Se estou perguntando, é porque quero
saber.
Seu lábio treme, e ela desvia o olhar. Abrando o toque e acaricio seu
rosto.
— Agora, mais uma vez: o que aconteceu?
SOFIA

Eu queria ser criança para sempre. Queria não ter responsabilidade, não
ter consciência de coisas que machucam, de palavras que ferem ao serem
ouvidas. Queria simplesmente acordar e a minha maior preocupação ser se
chegarei a tempo na aula, se o desenho que amo vai cancelado ou não.
Infelizmente, querer não é poder.
Estou ferida, magoada e despedaçada por dentro.
Terminei meu noivado novamente, mas desta vez não foi porque
encontrei Marcos com outra pessoa. Não sei se continuou me traindo depois
que reatamos, só acabei tudo de novo porque descobri que parei de me
importar. Quando penso na ideia de vê-lo com outra pessoa, não me machuco
mais. Foi aí que descobri que havia algo de errado com nosso
relacionamento. Ele tentou me convencer a não acabar, implorou, tentou me
comprar com a promessa de um futuro perfeito — agora só na cabeça dele
—, mas não deu certo. Pela primeira vez em muito tempo, não titubeei e disse
um “não” decidido. Acabou.
Coloquei na minha cabeça de que tudo foi por causa da nossa relação
falida e nada tinha a ver com o CEO com cara de mafioso que é meu chefe.
De que nada tem a ver com o fato de ele estar… diferente, nem o de eu me
sentir deslumbrada quando estou perto dele. De que nada ter a ver com as
reações diversas que causa no meu corpo; na forma como minha mão sua
quando chega perto, em como meu coração acelera assim que o vejo ou em
como minha pele se arrepia quando ele fala perto de mim.
Não tem nada a ver com isso.
Daniel é um homem peculiar. Ao mesmo tempo em que está na pose de
homem arrogante e imbatível, está com uma expressão de menino quando
está perto da mãe. Não sei se ele nota como age de forma distinta do que
busca transparecer quando a senhora aparece, mas é uma cena bonitinha de
ser ver ele sendo mais… humano.
Digo que é por isso que estou abaixando o muro que ergui ao redor de
mim desde que me impus para Daniel e não porque ele me causa coisas que
não devia sentir.
Tento me desligar um pouco da minha vida pessoal e me entregar de
cabeça nessa viagem a trabalho, mas está cada vez mais difícil quando
lembro que não é somente o término do meu noivado que me incomoda.
— Sofia, você não vai ficar a viagem toda com essa expressão de choro
e com esse bico, vai? Já não basta você ter ficado de cara virada durante todo
o voo — Daniel fala após fazermos o check-in no hotel que reservei.
Fiquei em silêncio por todo o caminho até aqui, evitando responder as
suas perguntas insistentes, porque não queria desabar no choro na sua frente.
Ainda estou me segurando para que isso não ocorra.
— Não vou, senhor. Só preciso tomar um banho e ficar uns minutinhos
sozinha para me recuperar. Eu vou ficar bem — respondo e o olho andando
ao meu lado, com a pequena ruguinha charmosa que aparece sempre que ele
franze ali, presente.
— Tem certeza? — Aceno confiante, me sentindo uma mentirosa,
porque não sei o que vai ser da minha vida daqui para frente. De verdade.
Quando chegamos em frente ao quarto dele, abro um sorriso fraco e
forçado e aperto meus dedos.
— Precisa de mim antes do primeiro evento, senhor?
— Não, tudo bem. Pode se acalmar. Espero por você às onze horas.
Terá a abertura da conferência com algumas palestras e em seguida um
almoço. É importante que esteja bem vestida.
— Pode deixar.
Aceno devagar e ando até a porta do quarto ao lado. Vai ser bom para
mim ficar algumas horas sem o seu olhar em cima de mim, tentando me ler.
No último mês de convívio nosso, descobri que Daniel se irrita quando não
consegue ler as pessoas, o que normalmente ele faz muito bem. É por isso
que o homem fica me encarando com os olhos apertados o tempo todo, isso
quando não está de cara feia.
Estou quase fechando a porta, quando ele me chama. Dou um passo
para trás e o olho com a testa franzida.
— Se precisar de alguma coisa, me diga.
— Eu… — gaguejo, com os olhos arregalados com a simpatia
repentina e rara. — Obrigada.
Ele apenas sacode a cabeça de leve e franze o cenho, olhando para o
lado, como se questionasse a própria fala. Escuto sua porta fechando e entro
no quarto de hotel, vendo minhas malas ao lado da cama. Os funcionários as
trouxeram enquanto fazíamos o check-in. Vou imediatamente para a janela
para apreciar a vista dos arranha-céus de São Paulo. Nunca tinha viajado
assim, sem meus pais. Essa viagem promete ser mais uma mudança na minha
zona de conforto. Apesar de tudo, estou animada. Vai ser difícil aproveitar
para conhecer coisas novas, mas vou tentar.
Fico mais uns minutinhos na janela vendo os carros passando a toda
velocidade nas pistas abaixo do hotel de vinte andares de onde estou antes de
ir esvaziar a mala. Trouxe de tudo um pouco pensando nos imprevistos,
desde roupas sociais até um vestido de gala até roupas casuais. Exigência do
meu querido chefe. Consigo organizar tudo nos cabides do guarda-roupa e
aproveito para tomar um banho rápido para tirar o cansaço da viagem. Após
sair do banheiro da suíte, visto um roupão e me deito na cama de casal
enorme. Solto um suspiro ao sentir a maciez do colchão, mas meu momento
de aproveitamento é interrompido por uma batida de leve na porta. Franzo a
testa aí ir até lá, pensando se é alguém do hotel com alguma recomendação
ou para cobrar alguma coisa, mas me surpreendo ao dar de cara com Daniel
ali. O choque é não apenas pela sua presença, mas pela sua vestimenta que
me permite algumas tatuagens saindo pela manga da camiseta.
— O-O que foi? Você… precisa de alguma coisa? — pergunto
baixinho, sentindo meu corpo quente, e aperto o roupão com força para que
não passe a vergonha de ficar nua na frente desse homem de forma acidental.
Noto tarde demais que, assim como eu o devoro com os olhos, Daniel
também me olha de um jeito intenso demais.
— Pensei em darmos uma volta pela cidade já que ainda faltam
algumas horas para a abertura. Não posso te deixar trancada e chorando num
quarto de hotel.
— Eu não sei, senhor.
— Daniel.
— Oi? — indago, tentando ver de forma discreta o desejo que preenche
o braço direito e se estende até os bíceps.
— Aproveitando o clima informal da viagem, mesmo que a trabalho,
me chame de Daniel aqui.
Franzo a testa e encaro seu rosto, sentindo meus dedos coçando para
tocar as novas descobertas. Sempre fui fã de tatuagem, mas nem preciso dizer
que meus pais não aprovam essa ideia de marcar o corpo para sempre.
— Mas…
— Nada de “mas”, Sofia. E aí? Vamos?
— Tudo bem. Deixa eu só… — Tento fechar a porta, indicando o
banheiro com o polegar, mas meu chefe me surpreende entrando no quarto.
De repente ficou quente aqui, não é?
— Te espero aqui — ele fala com a voz grave, passando os dedos na
barba.
Ele fica completamente diferente sem o terno e a gravata. Nunca o vi
assim tão despojado antes e confesso que gosto do que vejo, mesmo o
achando lindo com roupas formais.
O que estou falando? Sou paga para auxiliar Daniel Vilella no que ele
precisar e não para ficar babando no tipo de roupa que ele usa ou deixa de
usar.
Sacudo a cabeça devagar para tirar os pensamentos insanos da minha
cabeça e vou até o banheiro, pegando a primeira roupa que vejo no guarda-
roupa no caminho. Esta situação é estranha demais para meu gosto. Não é
normal ficar de roupão na frente do chefe. Mesmo que nossa relação, se é que
podemos chamar assim, não seja das mais tradicionais, afinal, ele não se
relaciona com funcionárias só que chupou meus seios mais vezes do que
consigo descrever, ainda assim é estranho.
Enrolo o máximo que consigo no banheiro para ficar apresentável e saio
pronta, vendo que Daniel está sentado confortavelmente na minha cama.
Engulo em seco com a visão, imaginando como ele seria sem roupa, e me
repreendo baixo, fechando os olhos.
— Algum problema?
— Não. Só é… estranho — respondo, sendo metade sincera.
— O que é estranho?
— Você aqui, todo informal, sem gritar comigo — digo e meus olhos
se arregalam o máximo quando vejo uma simulação de um sorriso aparecer
no seu rosto.
— Não grito com as pessoas que trabalham direito.
Arqueio a sobrancelha questionando, porque não sei até que ponto isso
é verdade, afinal, Daniel grita por tudo, por nada, e nem sempre com
fundamento.
— Ok, talvez eu me estresse com facilidade, mas virou algo natural
para mim.
— Pois não devia. Já li em algum lugar que a boa liderança não é a que
bota medo, mas a que impõe respeito.
Eu me arrependo da minha fala na hora quando o vejo fazer uma careta
e se levantar, olhando para mim enquanto se aproxima.
— Está questionando minha liderança, Sofia? — pergunta sério, e eu
abro e fecho a boca rapidamente, sem saber o que dizer.
— E-Eu n-não…
— Prefiro te ver assim, com essa sua nova língua solta e afiada, a
chorando. — Pisco várias vezes para ver se estou mesmo acordada e respiro
fundo, sem resistir a aspirar seu cheiro gostoso. Daniel inclina a cabeça para
o lado e toca minha bochecha com o indicador de leve. — Você vai me
contar o que aconteceu?
— Eu fui… expulsa de casa.
— O quê? O que aconteceu?
Ele se afasta para me olhar direito, e abaixo a cabeça, desviando do
olhar que não me deixa pensar direito.
— É… complicado.
— Acho que sou capaz de entender, Sofia.
Mordo o lábio com força, com todas as sensações de tristeza voltando,
querendo me invadir, me afogar.
— Eu tinha um noivo praticamente desce que era uma pentelha. Nossas
famílias são amigas há décadas. Há um pouco mais de um mês, ele me traiu.
Eu… vi tudo e, obviamente, terminei — falo, tentando me livrar de tudo.
Falar sempre me ajudou, mas como não tenho Daiane aqui, meu cérebro
achou uma boa relembrar tudo e falar para meu chefe. Como isso pode ser
uma boa ideia? Não é. Mas isso não me impede de continuar falando. —
Aquele dia que você me viu na entrada do prédio, eu aceitei conversar com
ele e acabamos voltando, mas…
Daniel me escuta em silêncio, examinando meu rosto como se, de fato,
estivesse interessado no que tenho a dizer. Estranho isso porque ele é o
primeiro a falar que não se interessa pelos assuntos que não estejam
relacionados à empresa.
— Terminei anteontem com ele. Acontece que… Meus pais não
ficaram felizes. Com nada disso, aliás. Por eu ter terminado, por ter arrumado
um emprego e muito menos com essa viagem.
— Mas por quê?
— Porque eles querem me colocar numa gaiola — sussurro, agora
enxergando isso.
Fiquei surpresa com o quão cega eu era, com o quanto achava que
minha vida seria um conto de fadas ao viver do jeito que Marcos queria, da
maneira que minha família praticamente me obrigava. Muita burrice.
— Por isso estava chorando? — ele pergunta, franzindo as sobrancelhas
escuras.
— Não, é pior. Meu pai me… expulsou de casa. Não tenho para onde ir
— falo, soltando um suspiro alto. — Tenho minha amiga, mas não quero
abusar dela por muito tempo. Sei que ela vai me acolher porque não me
deixaria na rua, só que odeio abusar. Sem falar que ela não me deixaria ajudar
com nada e eu me sentiria culpada…
Quando vejo, estou despejando todas as minhas angústias e
inseguranças para quem, há pouco tempo, dizia que não se interessava. Mas
Daniel me escuta sem me interromper. Não sei se realmente está prestando
atenção e absorvendo tudo o que estou falando, mas só de eu estar
despejando isso em alguém, me sinto mais leve.
— Me desculpa, senhor. Não sei o que deu para falar tanto.
— Daniel. E você falou porque eu pedi — fala, secando uma lágrima
que nem vi que tinha caído. — Te julguei mal, Sofia. Mas não se preocupe
com isso agora, apenas absorva tudo o que puder daqui, pois as coisas vão se
ajeitar.
Abro um sorriso fraco para ele, sem acreditar muito nisso. Sinto seu
olhar queimando o meu e me sinto atraída como uma formiga por um doce.
De forma impulsiva, seguindo mais uma vez meus instintos, fico na ponta
dos pés, querendo beijar a boca do homem que está à minha frente. Esqueço
mais uma vez quem ele é, o que viemos fazer aqui, e todas as milhares de
coisas que deveriam impedir que eu me aproximasse dele.
— Sofia… — ele murmura, e tomo isso como um estímulo, mas antes
que a minha boca alcance a dele, Daniel desvia o rosto. — O que aconteceu
com a relação profissional que você queria manter?
— Eu… Me desculpa. — Sinto meu rosto quente de vergonha pela
rejeição.
Daniel abre um sorriso fraco, sem mostrar os dentes, e diz:
— Só queria te ver corando — fala, afastando meus cabelos molhados
para longe do meu pescoço, e percorre os dedos na minha pele. — É uma
coisa bonita de se ver.
— Não tem gr…
Não consigo terminar de falar, porque ele invade minha boca de
surpresa, tomando meus lábios como se pertencessem a ele desde sempre.
Retribuo a carícia alucinante com tudo de mim, enlaçando seu pescoço com
as mãos. O homem me morde e chupa meu lábio, me fazendo gemer baixinho
de prazer.
— Você é fascinante, garota.
— Shhh, continua fazendo isso. Me faz esquecer de tudo.
Ele encaixa a mão na minha nuca, e tenho a impressão de ouvir algo
como “da mesma forma que você me faz esquecer” quando beija meu
pescoço, mas eu me perco novamente quando sua boca volta a invadir a
minha.
Eu me perco no meu chefe, a última pessoa do mundo que eu devia me
entregar e me apegar.
DANIEL

Eu perdi completamente a cabeça. Isso é tudo que consigo pensar


enquanto devoro a boca de Sofia sem pensar nas consequências dessa besteira
sem tamanho. Temos um evento para comparecer daqui algumas horas, e
preciso que ela se comporte feito a profissional que jura se. Eu preciso me
comportar como a porra do chefe dela, mas ao invés disso, puxo mais sua
cintura para mim e aperto a parte de trás do seu pescoço para aprofundar mais
o beijo.
Sofia geme baixo na minha boca, e eu solto a sua cintura para abrir o
cordão do roupão macio que ela usa.
— Daniel… — ela sussurra e apoia as mãos nos meus ombros.
Sinto meu pau pulsar na calça com o jeito tão inocente com que diz
meu nome. Puxo-a pelo roupão, irritado com o quanto eu gosto de ouvir meu
nome saindo da sua boca com tanto desejo.
Sofia me olha com os lábios inchados pelo beijo bruto, separados
enquanto respira fundo e irregular. Começo a desfazer o laço que prende o
roupão no seu corpo. Eu a encaro, e ela não tira os olhos de mim enquanto
abro a peça e começo a expor seu corpo para mim.
— Eu não…
— Não quer? — interrompo, descendo os olhos pela frente exposta do
seu corpo.
Ela é toda pequena e delicada, os bicos dos seios estão duros e
apontando para mim. Desço os olhos pela sua barriga, e Sofia começa a tentar
fechar o roupão.
Volto a olhar para o seu rosto, uma sobrancelha arqueada.
— Vai sair correndo e me deixa de pau duro de novo, pequena? —
pergunto, sem nem reconhecer minha própria voz.
Os olhos verdes ficam ainda mais arregalados e caem para a frente da
minha calça. Rio e puxo seu pulso, colocando a mão dela ali. Sinto Sofia
estremecer e a puxo para perto com a outra mão, firmando no seu pescoço de
novo.
— Aperta meu pau, Sofia — sussurro no seu ouvido, apertando sua
mão com a minha. Solto e a ouço ofegar enquanto explora hesitantemente
minha ereção por cima da calça. — Porra, garota — rosno, beijando sua boca
de novo. Eu me sinto quase explodindo com esse toque delicado. — Segura
em mim — mando, e ela solta um grito surpreso quando puxo sua bunda para
cima.
Ando até a cama e a jogo no colchão, deitando por cima. Separo suas
pernas com o joelho e prendo seus pulsos acima da cabeça, voltando a atacar
sua boca. O roupão aberto me dá acesso ao seu corpo inteiro, e a exploro com
os dedos firmes, arrancando gemidos baixinhos dela. Aperto seu seio com
força, e ela choraminga. Torço um mamilo com os dedos, e Sofia arqueia o
peito. Deslizo os dedos pela sua barriga e alcanço sua boceta. É minha vez de
quase gemer na sua boca.
— Toda lisinha. Você já está molhadinha, pequena — digo na sua boca
e enfio um dedo com facilidade. Solto seus pulsos e encaixo a mão no seu
pescoço.
— Daniel…
Levo os dedos molhados até o clitóris inchado e o esfrego. Sofia grita e
prende as unhas nos meus braços, jogando a cabeça para trás. Aperto um
pouco mais o pescoço fino todo avermelhado.
— Gostosa pra porra — digo entredentes. Sorrio na sua boca quando
sinto seu corpo começar a tremer debaixo de mim. — Você vai gozar para
mim, Sofia?
Ela prende o maldito lábio entre os dentes e faz que sim com a cabeça,
apertando os olhos fechados.
— Então goza, porra — mando, acelerando o movimento circular dos
dedos, apertando seu pescoço com mais força. Ela geme mais alto e arregala
os olhos quando perde o controle e goza nos meus dedos.
Sofia fica molinha dos meus braços, com a respiração acelerada. Separo
mais as pernas dela e me encaixo ali. Beijo seu pescoço e sugo o lóbulo da
orelha.
— Você goza muito gostoso, pequena — digo. Puxo uma perna sua
para cima e prendo seu tornozelo no meu quadril. Impulsiono contra ela,
esfregando na sua boceta molhada. — Olha o que você fez comigo. Olha só,
garota. — Eu me esfrego mais, e as mãos dela vão para os meus cabelos. O
cheiro doce do seu pescoço está misturado com o cheiro de sexo. A
combinação me enlouquece. — Meu pau está explodindo de vontade de te
foder.
Tiro um pouco do peso do meu corpo sobre o dela para abrir o botão da
minha calça e puxar meu pau para fora.
— Daniel, espera… — ela sussurra quando esfrego minha ereção pela
boceta molhada. — Preciso te contar uma coisa…
— Depois — praticamente rosno contra a sua pele. Sinto a umidade
quente melar a cabeça do meu pau e enlouqueço por completo com vontade
de me afundar inteiro nela.
— Dan… — geme.
Mas seja lá o que ela ia dizer, não diz. E nem eu consigo meter gostoso
nela como quero, porque o toque alto de um celular nos interrompe.
— Puta que pariu — xingo e saio de cima dela. Sofia praticamente pula
para fora da cama e sai correndo até onde deixou a mala no canto do quarto.
Começa a vasculhar a bolsa, sem olhar para mim.
Na pressa, o roupão terminou de cair do seu corpo, e ela está inteira nua
na minha frente. A bunda redondinha, a cintura fina, a pele toda corada e
marcada pelos meus dedos. Sento na beirada do colchão e envolvo meu pau
com a mão, sem tirar os olhos do traseiro empinado para mim.
— Dai! — ela praticamente grita quando consegue finalmente atender o
celular. — Está tudo bem? Eu est…
Sofia para de falar na metade da frase, a boca caindo aberta e os olhos
parecendo a ponto de saltarem para fora do rosto quando me vê olhando para
ela com o pau na mão. Sorrio malicioso e começo a bater uma punheta lenta.
— Vem aqui — ordeno firme. Ela dá um passo hesitante na minha
direção e para com o celular ainda no ouvido.
— Dai, não posso falar agora — ela sussurra, parecendo completamente
perdida.
— Vem aqui, Sofia. Agora — repito mais firme, e ela vem. Murmura
alguma coisa no celular e desliga. Eu praticamente arranco o aparelho da mão
dela e jogo de qualquer jeito no colchão. — Ajoelha e me chupa, pequena —
instruo.
Sofia olha para o meu pau com a boca entreaberta.
— É tão… grande — sussurra, com os olhos arregalados. Minha ereção
pulsa entre meus dedos em excitação e antecipação.
— Prometo que vai caber direitinho no fundo da sua garganta — digo
com a voz rouca de desejo. — Ajoelha e me chupa, Sofia.
Ela hesita por um instante, mas se ajoelha na minha frente. Puta que
pariu… A visão dessa garota ajoelhada é quase o suficiente para me fazer
gozar aqui mesmo. Enrosco seu cabelo no meu punho e puxo sua cabeça para
perto. Sofia ofega de susto. Arrasto um polegar no seu lábio inferior e puxo
seu queixo para que olhe para mim.
— Eu estou enlouquecendo de vontade de foder essa sua boca desde
que te vi pela primeira vez — admito, puxando seu lábio para baixo com
força. — Me chupa gostoso, Sofia.
Os olhos verdes brilham em excitação e receio. Ela se arrasta um pouco
mais para frente e apoia uma mão na minha perna. Os dedos finos seguram
meu pau com toda a hesitação do mundo, como se fosse a porcaria da
primeira vez que visse que um, e me tira do sério completamente o tesão
desgraçado que é ver Sofia parecendo não ter a mínima ideia do que fazer.
Aperto mais seu cabelo quando ela começa a punheta mais lenta da história
do mundo.
— Chupa — rosno entredentes, puxando a cabeça dela para mim. Ela
para a alguns centímetros, a respiração quente acertando minha pele. Então
fecha os lábios em volta da cabeça e suga fraco. — Puta que pariu…
Impulsiono o quadril para cima, invadindo sua boca, e ela engole meu
pau. Sofia engasga, e eu gemo quase descontrolado enquanto bombeio na sua
boca de novo e de novo, puxando seu cabelo com força. Ela aperta minhas
pernas e usa os dentes por um segundo antes de se soltar de mim e se arrastar
para trás. Pisco, confuso, vendo a garota ofegante levar as mãos até a boca.
— O que eu estou fazendo? — sussurra, e eu não tenho ideia se está
falando comigo ou consigo mesma. — Eu não tenho ideia do que estou
fazendo.
Rio seco, passando a mão pelo cabelo.
— Vou ter que discordar, pequena. Você estava chupando muito
gostoso.
Ela fica de pé em um pulo e olha ao redor, procurando alguma coisa.
Praticamente corre até onde tem uma toalha pendurada e se cobre com o
tecido branco.
— O que aconteceu com aquela história de que você não se envolve
com funcionárias? — pergunta, aflita.
Minhas bolas doem e reclamam pelo gozo negado, e eu resmungo
enquanto me levanto e guardo o pau de volta na calça. De novo.
Puta que pariu, Sofia.
— Um pouco tarde para isso — resmungo, indo até ela. Quando a
alcanço, a arrasto até a parede e a prendo ali, um braço do lado da sua cabeça.
— Achei que não tivesse nenhum joguinho aqui, Sofia.
— Não tem joguinho! — ela grita de volta, passando as mãos
nervosamente pelo cabelo.
Ergo uma sobrancelha, impressionado, irritado e excitado por essa pose
de mulher no comando intercalada com o jeito de garotinha inocente. Ela é
um mistério para mim. Entendo um pouco mais agora que desabou e me
contou sobre o que aconteceu nos últimos dias, mas ainda me enlouquece
porque não consigo ler Sofia.
— Então por que você está fugindo de mim quando nós dois sabemos
que você está doida para eu te colocar de quatro naquela cama e te foder até
você esquecer seu nome? — pergunto, segurando seu queixo para olhar para
mim. — Por que está fingindo que não estava adorando ter a boca cheia com
o meu pau?
— Porque eu não devia gostar! — protesta, e franzo o cenho quando
vejo seus olhos marejados. — Não devia fazer… isso com você!
— Por causa do noivinho? — pergunto debochado, seco. Aperto seu
queixo e abaixo a boca na sua. — Está pensando no merdinha enquanto está
comigo, Sofia?
Antes que ela responda, invado a sua boca, puto da vida. Não sei nem o
motivo e me convenço de que é a ferida no ego. Ela geme na minha boca, e
eu puxo a toalha que está usando de escudo. Aperto seu seio e desço a mão
para o meio das pernas.
— Por que não devia comigo, pequena? — pergunto contra a sua boca,
enfiando dois dedos só na entrada da bocetinha apertada. Ela geme e
estremece. — Responde, porra — insisto, arrastando os dedos no clitóris.
— Porque minha primeira vez não pode ser com um cara grosso que
não liga a mínima para mim! — ela grita, e eu demoro alguns segundos para
processar o que disse.
Tiro todos os dedos de cima dela e dou um passo para trás. Sofia parece
se dar conta do que disse e leva as duas mãos à boca.
— Sua primeira…? — É minha vez de olhar para ela, boquiaberto. —
Você é virgem??
SOFIA

Por que sou uma bocuda?


Eu me questiono isso enquanto abro e fecho a boca, sem saber o que
responder para Daniel. É a primeira vez que o vejo surpreso a ponto de mexer
com a pose de homem sério que sempre tem. Seus olhos escuros me encaram
como se eu fosse um duende de jardim, um ser místico de outro mundo, e é
assim que me sinto na maior parte do tempo mesmo.
Você deve se questionar como, em pleno século XXI, em um país
repleto de luxúria e tentações, alguém consegue se manter virgem aos vinte
anos. Eu te respondo com o maior prazer. A verdade é que nunca senti
vontade disso. Cresci em uma família cheia de pudores, que me privavam de
tudo relacionado a sexo, até mesmo a palavra era proibida de ser mencionada
em qualquer situação. E piora! Até mesmo a menção dos órgãos sexuais, algo
completamente biológico, era considerada errada. Cresci com essa ideia tão
fixa na cabeça que sempre temi a relação sexual. Ao contrário do que
normalmente acontece, quando os pais proíbem demais e a pessoa apenas fica
mais curiosa, eu me reprimi. Juntou com o fato de que sempre fui tímida e
nunca me aproximei de ninguém para ser fácil ainda manter o lacre intacto.
— E-Eu… — gaguejo, evitando olhar para Daniel.
— E você não pensou em me avisar isso antes, Sofia? Eu quase… —
Ele suspira e fica de costas para mim, deslizando a palma da mão pela barba
rala que preenche seu rosto. — Quase te fodi de uma vez, garota! Eu ia te
machucar.
— Esse não é o tipo de coisa que diz “Oi, tudo bem? Meu nome é Sofia
Pires, tenho vinte anos, mas ainda sou virgem”.
— Mas devia!
Ele parece exaltado, abalado e algo que não consigo identificar. Esse
homem me deixa confusa demais. Não consigo entender como em um
momento ele parece completamente bravo com o mundo, comigo, e de
repente estou sendo pressionada em algum canto ou chupando um pinto.
Meu Deus, eu chupei um… pau. Até pensar nessa palavra chula me faz
corar. Daiane vai amar saber disso.
— Não planejei isso.
— Como diabos você tinha um noivo sendo virgem? — pergunta,
voltando a olhar para mim. — Por acaso ele era cego?
— Não… — respondo baixinho, sem pensar por um segundo sequer
que ele vai me entender. — Minha família é conservadora, e Marcos
respeitou isso. Quer dizer, respeitou comendo metade da cidade enquanto
“me esperava” — completo amarga, fazendo aspas com os dedos.
— Que filho da puta.
Arqueio a sobrancelha, questionando a frase como se ele fosse incapaz
de fazer isso com alguma mulher. Tenho minhas dúvidas de que um homem
que toca uma pessoa desconhecida daquele jeito, em um cantinho de uma
boate, sem nem mesmo perguntar o nome é adepto de fidelidade.
— Por que a expressão de dúvida e de surpresa no seu rosto? Sou um
homem solteiro, Sofia. Não tenho interesse em relacionamento, não iludo
ninguém, por consequência não devo satisfação a ninguém, não magoo
ninguém e não traio ninguém.
Apenas aceno, porque é um bom ponto. Ele sabe argumentar. Não há
nada que impeça uma pessoa solteira de se divertir, conhecer pessoas novas e
desfrutar dos prazeres. Mas Marcos não era solteiro, por isso lidar com essa
situação é tão frustrante. Descobri que me sinto mais chateada por ter perdido
longos anos da minha vida, desperdiçados ao lado de quem não soube me
valorizar, do que por não ter um futuro ao seu lado. Dai sempre teve razão; a
nossa relação se tornou uma comodidade.
— Você nunca fez nada? — Daniel indaga com curiosidade, e eu nego
com a cabeça, sentindo meu rosto ficando quente. — Então, esse foi seu
primeiro boquete? — pergunta abismado, e volto a acenar. — Puta que pariu,
Sofia! Eu ia te foder, porra!
— Eu ia te falar antes de… você sabe, mas me desconcentrei.
Pronto, agora eu vou morrer de vez.
Ouço um suspiro alto vindo de Daniel e me sento na cama, cobrindo
meu corpo ainda nu dos seus olhos. Encosto o queixo nos joelhos e fico
olhando para o nada. Sei que ele não vai simplesmente sair daqui sem me dar
uma bronca ou jogar coisas bruscas na minha cara, então só fecho os olhos e
espero pelo pior.
— Eu te machuquei? — pergunta com a voz branda, e abro os olhos.
— Não… Foi gostoso. — Ao dizer isso, escondo o rosto de vergonha.
Meu chefe se aproxima de mim e senta ao meu lado no colchão.
— De que mundo você veio, garota? — indaga baixinho, e abro um
sorrisinho fraco.
Estou dizendo que a maioria das pessoas me considera um
extraterrestre.
— Não sei.
— Por quê? Posso saber? Você é religiosa, fez promessa?
Solto uma risada com a curiosidade que ele parece demonstrar. Não é
possível que um homem como ele nunca se envolveu com uma virgem antes.
— Não sou religiosa. — Dou de ombros. — Minha família
simplesmente decidiu por mim, e só segui.
— Nunca sentiu vontade? E quando você era adolescente?
— Eu não saía — falo, sem olhar para ele, voltando a apoiar o queixo
no joelho e olhar para ponto nenhum à minha frente. — Nunca senti desejo
por ninguém antes de…
— Antes de mim? — completa antes que eu conclua. — E seu noivo?
— Já tentou, mas não era difícil dizer não.
Essa conversa deveria me deixar a ponto de correr, mas um lado meu
gosta da atenção que estou recebendo. Normalmente, todas as coisas que
Daniel me questiona são relacionadas ao trabalho. Hoje foi a primeira vez
que se interessou por algo da minha vida desde que comecei a trabalhar com
ele.
— Podemos não falar mais disso?
— Não sei se consigo, Sofia. Isso me deixou perturbado. Parece que
forcei a tirar sua pureza. Quando te via corando, nunca imaginei que existisse
alguém tão… meiga assim.
— Não sou meiga — respondo, revirando os olhos, e sinto sua mão
segurando meu queixo.
— É, você é. Machuquei sua garganta? — indaga, deslizando o polegar
na pele do meu pescoço. — Eu empurrei com força.
— N-Não. Está tudo bem, Daniel. — Tento me afastar para esconder
meu rosto, mas ele me impede e volta a me fazer o encarar. Entreabro os
lábios automaticamente quando a ponta do seu dedo desliza pela carne
inferior.
— Eu podia te mostrar tanto, garota. Você ia sentir prazer a ponto de
desmanchar nos meus braços — fala quase em um sussurro. — Mas não
posso. Já é demais eu ter infringido as regras de não me relacionar com
ninguém no trabalho.
— Eu sei. Nós podemos manter a relação profissional, pelo menos? —
peço, com um choro preso na garganta, porque não quero perder esse
emprego.
Ele passou a ser meu refúgio. Eu me sinto como uma donzela sendo
resgatada sempre que preciso sair de casa para ir trabalhar, mesmo que
Daniel não tenha nem um pouco de consciência disso. Quer dizer, talvez
agora tenha.
— Tudo bem, mas você sabe que é temporário, não sabe? Raquel vai
voltar depois da licença-maternidade.
— Eu sei, pode deixar. Só é… importante para mim. Vai ser uma boa
experiência para meu currículo.
Ele suspira e me solta tão rápido que parece que eu estava queimando.
— Então é isso. Vou tomar banho e daqui a pouco passo aqui.
— Pode deixar, senhor. — Ele faz uma careta quando digo isso, mas
logo disfarça. — Vou estar pronta.
A frase de duplo sentido não passa despercebida por ele, porque Daniel
suspira alto e caminha de um jeito duro até a porta. Olho para meu chefe
saindo, com o coração pequeno por saber que não vou ter mais dos seus
toques. Não vou negar que estava amando cada um deles, tanto que por um
momento me esqueci desse hímen maldito.
— Tchau, Sofia.
— Tchau, senhor — sussurro e não sei se ele ouve.
Jogo meu corpo para trás, caindo no colchão de uma vez, e sinto uma
lágrima descendo ao pensar na falta que suas carícias vão fazer. Gostei de
sentir seus dedos em mim, de sentir seu gosto, de saber que era eu a dar
prazer para aquele homem gostoso, experiente e tão frio. Daniel fica tão lindo
descontrolado de prazer…
Sacudo a cabeça pelos meus pensamentos safados e me levanto para ir
novamente ao banheiro para limpar a bagunça que ele fez aqui. Enquanto me
lavo, penso novamente no homem e chego à conclusão de que vai ser
praticamente impossível manter a distância que deveria.
DANIEL

Os dois primeiros dias do evento foram um maravilhoso sucesso, como


sempre são. Depois de uma rápida introdução e apresentação dos expositores,
fomos liberados para caminhar pelo lugar, pelos estandes. Os organizadores
fizeram um ótimo trabalho, e cada centímetro exala luxúria.
Eu tento me concentrar no trabalho. Tento me concentrar nas dezenas
de pessoas que vêm falar comigo, parabenizar pelos últimos lançamentos,
perguntar quais as novidades que vêm para o ano e o que mais for, mas é
praticamente impossível tirar os olhos de Sofia agora que sei que o
avermelhado delicioso na sua pele não é só constrangimento por tudo que
está exposto ao redor, e sim inexperiência.
Ela ficou ao meu lado o dia inteiro, anotando o que achava importante,
fazendo perguntas, os olhos verdes arregalados a todo momento, a pontinha
do lábio preso entre os dentes conforme era apresentada a mais e mais
produtos. A curiosidade tingiu cada pedacinho da sua pele, mas Sofia fez o
que prometeu: se manteve perfeitamente profissional. Foi um tiro no meu
ego.
Não sei que porra está acontecendo comigo. Era para eu estar fugindo
para as montanhas. Nunca me interessei por virgens. Ao contrário de Samuel,
que coleciona virgindades como quem coleciona sapatos. Eu sempre fugi das
virgens. Muita dor de cabeça, muito cuidado, choro e drama. Gosto de foder e
não tenho a menor vontade nem vocação para ter que me preocupar com as
expectativas de fazer amor que essas meninas parecem ter.
Mas tudo que consigo pensar é na sensação de estar enterrado bem no
fundo da sua garganta. Meu pau pulsa dentro da calça com a lembrança de
mais cedo, e eu pigarreio, tentando focar minha atenção em outra coisa.
— Tudo bem, senhor? — ela pergunta quando paramos em frente ao
último estande do dia, o da nossa empresa. Passo os olhos apenas para
garantir que está tudo em ordem. Sofia olha para mim rapidamente e depois
volta a atenção para a meia dúzia de brinquedos eróticos expostos.
Acompanho o avermelhado tomar conta do seu pescoço quando passa os
dedos hesitantemente por um estimulador de clitóris.
— O que acha? — pergunto, apontando com o queixo.
— É… gelado — diz baixinho, parecendo meio fascinada.
Ela gira o pequeno vibrador cor-de-rosa entre os dedos, e eu estou a
ponto de perguntar se já usou um desses quando me dou conta. Não, ela
nunca usou. Sofia me disse com todas as letras que não é só virgem, ela
nunca tinha feito nada. O que significa que seu primeiro orgasmo foi meu.
Respiro fundo, trincando os dentes quando perco completamente a batalha
para a minha ereção que parece a ponto de explodir.
— O senhor precisa parar de me olhar assim — ela sussurra, prendendo
os olhos em mim.
— Assim como? — pergunto com a voz rouca.
Sofia umedece os lábios e pisca devagar.
— Como se quisesse me devorar.
Não tenho tempo de responder que é exatamente isso que eu quero
fazer, porque ouço uma voz conhecida.
— Daniel Vilella!
Eu me viro e abro um sorriso forçado enquanto o homem se aproxima.
Gustavo Simões não é nem de longe um concorrente à altura, mas gosta de
brincar de ser uma pedra no meu sapato. Ele é dono de meia dúzia de
franquias de uma empresa concorrente e se finge de grande empresário de
sucesso.
— Gustavo — cumprimento, esperando para ver o que ele quer. Nunca
quer nada, apenas gastar meu tempo com bobagens e forçar uma amizade que
não existe. Sinto cheiro de gente interesseira de longe, e ele encabeça a lista
há anos.
Seus olhos passam pelos nossos produtos, e ele estala a língua em
apreciação.
— Se superando como sempre. Quem diria que depois de tanto tempo
você continuaria tendo ideias loucas para brinquedinhos eróticos — debocha,
como se não fosse o mesmo maldito ramo em que ele trabalha. Não me dou
ao trabalho de responder, e ele nem me dá tempo de qualquer forma. Vejo o
exato segundo em que a atenção dele chega em Sofia. Gustavo assobia. — E
aquela coisinha ali, quem é? Não é sua secretária de sempre.
Ele escaneia o corpo dela sem qualquer discrição. Olho por cima do
ombro e vejo Sofia completamente alheia à nossa conversa, ainda
concentrada no vibrador.
— É minha secretária nova — respondo, dando um passo para o lado
para ficar na frente dela. Gustavo ri.
— Hm, só trabalho então — comenta, tentando esticar os olhos por
cima do meu ombro. — Talvez ela queira companhia para depois do
expediente.
— Por que você não gasta essa energia toda cuidando do seu negócio?
Quem sabe assim seus produtos não são um fiasco total como acontece todos
os anos.
Mal reconheço a acidez na minha voz. Ele arregala os olhos, surpreso
com a explosão repentina, e eu também estou. Uma raiva desconhecida toma
conta do meu corpo inteiro momentaneamente com a ideia de um filho da
puta nojento qualquer encostar nela. Raiva que aumenta ainda mais quando
me dou conta de que isso vai acontecer em alguma hora. As chances de Sofia
voltar com o merdinha do ex-noivo são enormes, e se não voltar também,
alguma hora vai acabar na cama de alguém.
Sem pensar no que estou fazendo, viro de costas para Gustavo e a
seguro pelo braço.
— Vem comigo — ordeno, praticamente a arrastando pelo salão. Sofia
me acompanha quase correndo em cima dos saltos altos sem oferecer
qualquer resistência. Olhos ao redor em busca nem sei do que e me dou por
satisfeito quando encontro um banheiro. Eu a empurro para dentro e confiro
que estamos sozinhos antes de fechar a porta.
— O que f…
Ela não termina a frase. Antes que consiga, minha boca está na sua.
Estou puto da vida e desconto cada gota disso em um beijo bruto. Sofia solta
um gritinho abafado quando seguro suas bochechas e invado sua boca com a
língua. Quando finalmente a solto, o batom está todo borrado, e ela me olha
confusa.
— Não fala nada — digo entredentes.
Vejo que ainda segura a porcaria do vibrador entre os dedos. Deve ter
agarrado no susto. Tomo o brinquedo da mão dela e testo para ver se está
carregado. O aparelho começa a vibrar na minha mão. Prendo-a na parede e
começo a puxar sua saia para cima.
— Senhor, eu não… — ela gagueja, as duas mãos apoiadas nos meus
ombros. Só que ao invés de me empurrar para longe, Sofia me puxa para
mais perto.
— Daniel — instruo no seu ouvido. — Quando eu estiver com as
minhas mãos em você, é Daniel.
Aperto sua bunda e brinco com o fio da calcinha antes de escorregar a
mão por cima da sua boceta. Sofia dá um pulinho no lugar quando o vibrador
encosta nela.
— Você sabe o que é isso aqui? — pergunto, passando a língua no
lóbulo da sua orelha. Ela faz que não com a cabeça. Grudo a ponta que faz
sucção na sua perna e puxo. Sofia ofega. — Esse aqui é feito para simular
sexo oral — explico baixo no seu ouvido, deliciado com o avermelhado que
cobre a sua pele quase imediatamente. — Alguém já te chupou, Sofia?
— Você sabe que não — responde com um fio de voz, os olhos
fechados.
Beijo seu pescoço enquanto afasto a calcinha para o lado. Posiciono o
vibrador bem em cima do seu clitóris e aumento a vibração. Ela solta um
gritinho e estremece. Morde o lábio e me aperta mais.
— Acha que funciona, pequena? — pergunto no seu ouvido. — Acha
que é essa a sensação de alguém te chupando?
— E-Eu não sei — murmura ofegante.
Mordo seu lóbulo.
— Parece que vou ter que te mostrar então.
Me abaixo na sua frente e apoio uma perna sua no meu ombro. Antes
que ela realmente entenda o que estou fazendo, jogo o vibrador para longe e
encaixo a boca na boceta lubrificada. O gemido que ela solta me faz esquecer
qualquer porra de bom senso que um dia já tive. Preciso segurar sua perna
com força para que não desabe e a chupo como nunca chupei mulher
nenhuma antes. Com desespero e fome, para ficar marcado na memória dela.
Quando Sofia goza na minha boca, sugo até a última gota antes de devolver
sua calcinha para o lugar e ficar de pé de novo.
Puxo seu cabelo para abrir espaço no seu pescoço e lambo o traçado
avermelhado da sua pele.
— Por que você fez isso? — ela pergunta, com a respiração
descompassada.
— As coisas voltam ao normal quando voltarmos para casa — aviso no
seu ouvido enquanto desabotoo a frente da sua blusa para alcançar seu seio.
— Mas enquanto estivermos aqui, você é minha — digo, me lembrando do
jeito que Gustavo estava olhando para ela. Não foi o primeiro. Ela chamou
atenção por onde passou o dia inteiro. É como se esses filhos da puta
sentissem o cheiro da sua inocência e estivessem feito um bando de urubus
tentando arrancar um pedaço dela.
Ela aperta meus braços, e eu aperto seu cabelo.
— Não vou te foder, Sofia — explico, brincando com o mamilo
durinho. — Mas tem muita coisa que posso fazer com você. Tem muita coisa
que posso te mostrar. Tem muita coisa que posso te ensinar.
— Por quê? — pergunta, a voz agora mais estável.
— Porque não fui feito para passar vontade. Eu tenho o que quero, e
agora quero você. — Solto seu seio e seguro seu queixo, fazendo com que
olhe para mim. — Você vai ser minha pelos próximos dias? — pergunto,
arrastando o polegar com força pelo seu lábio inferior.
Ela me olha por alguns segundos, incerta. Os olhos enormes examinam
o meu rosto. Finalmente, Sofia faz que sim com a cabeça. Puxo seu cabelo e
ela ofega.
— Diz — ordeno, descendo a mão pelo pescoço fino.
— Eu vou ser sua pelos próximos dias — diz, os lábios repartidos
deixando escapar um gemido quando torço o mamilo com força.
E com meu pau a ponto de explodir dentro da calça, selo esse acordo
descabido com um beijo.
SOFIA
A conferência está sendo um sucesso, e eu me sinto feliz como não me
sentia há muito tempo. É muito ter alguém contando comigo, com o meu
trabalho. Eu me sinto realizada, tanto que me esqueci completamente dos
meus problemas, de que provavelmente agora sou uma sem-teto. Mas isso vai
ficar esquecido por mais alguns dias, porque agora sou apenas dele.
Desvio meu olhar da mulher simpática que conversa comigo, falando
sobre os produtos da empresa de Daniel com tanto afinco que parece garota
propaganda. Assim que minhas vistas se distanciam, vejo que ele está me
olhando. Com uma taça de champanhe na mão, Daniel a levanta para mim de
leve e segue a sua conversa com um senhor que parece importante.
— Ele é um gato, não é? — a mulher ao meu lado diz, e eu a encaro.
— Er… Quem?
— Seu chefe. — Ela aponta com o queixo na direção dele e se abana de
leve no pescoço. — Um espécime de limpar as vistas. Reparei que ele não
tira os olhos de você. Vocês já…
— Ah, não, não. Somos apenas chefe e secretária. — Meu rosto
esquenta, e sinto vontade de bater em Daniel por ser tão óbvio nos olhares
que me lança.
— Não parece, querida.
— Mas é verdade. Juro… — falo rapidamente, mas ela não parece
acreditar.
Nós voltamos para assuntos leves de trabalho, e aproveito para beber
um pouco de champanhe antes do jantar ser servido. Após o segundo dia de
conferência, o tal amigo importante de Daniel nos convidou para um jantar
com alguns colegas empresários e conhecidos. A maioria é super simpática,
mas sempre tem os esnobes, como a mulher siliconada que me está me
encarando com cara de nojinho desde que cheguei com Daniel. Não é muito
difícil imaginar o motivo da raiva direcionada a mim.
— Boa noite, senhoritas. Espero que estejam sendo bem servidas. —
Me viro em direção ao som da voz grave e me surpreendo ao ver um homem
muito, muito bonito. — Meu pai tende a conversar demais e se esquecer dos
convidados mais… impressionantes.
Ele me fita de um jeito curioso, e fico sem graça quando não desvia o
olhar.
— Estamos sim, querido.
— A senhora está belíssima, dona Lúcia. — Ele a cumprimenta com
um beijo na bochecha e rapidamente se vira em minha direção. Me perco por
alguns segundos nos olhos verdes brilhantes. — E você é…?
— Sofia Pires. É um prazer.
— Gabriel Vilar. O prazer é todo meu, Sofia. — Ele segura minha mão
e dá um beijo ali, como um galã de novela das oito. Sinto meu rosto ficando
quente, mas aprecio o gesto tão diferente. — Posso ter o prazer de dançar
contigo, Sofia?
— Mas… — Olho ao redor, vendo as pessoas conversando baixinho e
apreciando suas bebidas caras ao som da música baixa. — Não tem ninguém
dançando.
— Não tem problema.
Gabriel estende a mão para mim, e eu a aceito meio relutante, mas não
consigo dizer “não” quando ele me olha com tanta expectativa. Morta de
vergonha, me deixo ser conduzida para o meio da sala que mais parece um
salão de festas. Tento não olhar para ninguém enquanto o homem alto me
guia. Ele me gira em uma pirueta fora do ritmo que me faz soltar uma risada.
— Você é muito bonita, Sofia — diz, quando volto a me posicionar
direito para seguir com a dança.
— Obrigada.
— Você veio acompanhada de alguém? Não consigo te imaginar sendo
deixada de lado.
— Vim, na verdade. Do meu chefe. Estou aqui a trabalho. Sou do Rio.
Ele acena e segue me fitando daquele jeito que parece tentar ler minha
alma. Desvio o olhar por uns segundos e encontro o de Daniel. Ops, ele não
parece muito feliz. Noto isso pela cara rabugenta que não estava ali minutos
atrás e pela pequena ruguinha que se forma na sua testa.
Danço com Gabriel em silêncio e agradeço pelo convite, dizendo que
preciso ir ao banheiro. O homem parece relutante em me deixar ir, mas me
agradece também.
Me afasto do centro da sala e ando pela casa procurando pelo banheiro.
Me perco na quantidade de corredores gigantes até finalmente achar um. Vejo
meu rosto corado e cheio de maquiagem no espelho e solto um suspiro alto.
O que vai ser da minha vida?
Após usar o banheiro, lavo minhas mãos e arrumo o vestido no corpo,
conferindo minha aparência. Abro a porta e estou quase saindo daqui quando
vejo Daniel entrando de uma vez e me empurrando. Ele tranca a porta
rapidamente e me ergue do chão, me imprensando na parede.
— Você precisa parar de… — Sua boca invade a minha da maneira
bruta que passei a apreciar nos últimos tempos.
Ainda estou assimilando o lance de “ser dele” pelos últimos dias, mas
não vou mentir que todo meu corpo bateu palma de empolgação para isso.
— … me surpreender ass… — continuo falando quando ele se afasta,
mas o homem volta a invadir minha boca.
Eu me perco como sempre no seu toque, no aperto firme na minha
bunda.
— O que eu disse sobre você ser minha por esses dias, Sofia? —
pergunta, deslizando o polegar pelos meus lábios quentes.
— O que você quer dizer com isso? Eu…
— Só minha. Nada de flertar com ninguém, muito menos na minha
frente — corta minha fala novamente, e eu franzo a testa sem entender. Até
me lembrar de Gabriel.
— Não estava flertando com ninguém — respondo com a respiração
ainda acelerada pelo beijo.
— Você é inocente demais, garota.
Fico brava com o tom de voz com que diz isso. Ele acha que só pelo
fato de ter um lacre me torna uma mulher que não entende nada do mundo?
Ah, vai para…
— Me coloca no chão — digo com firmeza, e ele franze a testa, mas
não me solta. — Me coloca no chão, Daniel.
Quando sinto meus pés tocando o chão, me afasto do seu corpo e me
ajeito no espelho, sentindo seu olhar em mim. Ando até a porta e faço
menção a abrir, mas Daniel me impede, segurando minha mão.
— Para onde você pensa que vai?
— Não penso que vou, Daniel, eu vou voltar para o jantar que ganho
mais. Enquanto você me tratar como se fosse uma desmiolada que não pode
pensar por si mesma, por bobinha, é essa a visão que vai ter minha: das
minhas costas indo embora.
Puxo minha mão e termino de abrir a porta, saindo firme de volta para a
sala da casa. Pego mais um champanhe no caminho e o viro de uma vez,
sentindo o líquido borbulhando na garganta.
Minutos depois, vejo um Daniel perturbado aparecendo ali. Ele passa a
mão pelos cabelos de um jeito bruto, e sei que está puto da vida comigo. Mas
quer saber? Ele que se exploda. Estou cansada de as pessoas me dizerem que
sou ingênua demais, que sou boba demais. Ser assim me rendeu o quê? Uma
vida cheia de pessoas controladoras, um par de chifre e eu sendo uma sem-
teto.
Hoje, vou me permitir fazer o que quero, agir como eu quero. E nem
mesmo Daniel vai me impedir.

***

Eu me sinto alegre demais e meio… tonta. Acho que bebi demais.


Tropeço em um vaso no meio do corredor do hotel e solto uma gargalhada. É,
bebi demais mesmo. Mas a sensação é tão gostosa. Acho que é a primeira vez
que embebedo na vida. Com champanhe ainda! Por Deus.
— Eu devia demitir você, Sofia. — Ouço o resmungo do meu chefe ao
meu lado e de forma incontrolável dou língua para ele. — Sua irresponsável.
— Sua irresponsável — imito seu tom de voz, e ele me olha de cara
feia, mas só sorrio.
Gostei de ficar bêbada. Só assim não sinto medo do olhar malvado
desse homem.
— Fica quietinha, Sofia. Você já me tirou do sério demais por um dia.
— Fiqui quitinha, Sifia. Vici ji mi tiriu di… Ai! — Daniel me carrega
no ombro até o quarto quando tropeço pela segunda vez, impedindo minha
imitação do menininho pirrancento do meme. — Você vai mostrar minha
calcinha! — grito.
— Shh, garota.
Ele só me coloca no chão quando chegamos em frente à porta do meu
quarto e me conduz até a cama devagar.
— Que vontade de…
— De quê, Daniel? De me atacar de novo, chupar meus peitos? Ou de
beijar minha boca para impedir que eu fale nada que não queira ouvir? —
pergunto rindo, me aconchegando no colchão. Fico de cotovelos na cama e
olho para o homem, que parece surpreso pela minha fala.
— Você não é assim sóbria.
— Assim como? Sincera? E como eu sou? Uma boba, ingênua e idiota
que você abandona quando convém?
— Do que está falando?
— Do fato de que você, chefinho… — Aponto para ele e solto uma
risadinha. — Fica de “você será minha somente durante essa viagem”, mas só
se aproxima de mim quando outra pessoa faz antes.
Ele suspira e passa a mão no cabelo, daquele jeito delícia que me deixa
quente.
— A gente veio aqui a trabalho, Sofia. Não posso ficar de mãos dadas
contigo durante os eventos.
— Mas pode invadir o meu espaço e me agarrar no banheiro? Você é
estranho, Daniel.
Sinto meu corpo protestando de cansaço, uma moleza me abatendo de
uma vez. Escuto a voz do meu chefe ao longe, mas não entendo o que ele diz
porque meu cérebro meio que desliga sozinho.
Bem devagar.
Não sei quanto tempo dormi e nem como acordei de pijama na cama do
hotel, mas rapidamente as lembranças me atingem de uma vez.
Eu falando besteira para Daniel.
Ele trocando minha roupa e dizendo alguma coisa.
Sento na cama rapidamente e me arrependo imediatamente porque me
sinto tonta. Me assusto quando vejo o homem grande e seminu deitado ao
meu lado e imediatamente levo a mão para baixo do meu corpo, como se
quisesse me certificar de que não fiz nada ontem.
— Seu hímen está intacto, Sofia. — Escuto a voz grave, rouca de sono.
— Oh, meu Deus. O que foi que eu fiz ontem? — Enfio a mão nos
cabelos e faço uma careta quando mais lembranças começam a aparecer.
Eu não devia me esquecer das coisas que fiz? Assim seria menos
embaraçoso.
— Se embebedou e falou mais do que devia — ele responde, se
levantando da cama.
Meu queixo quase vai ao chão quando vejo que está só de cueca. Meu.
Deus. Que diacho de corpo que esse homem herdou? A bunda grande e
aparentemente dura está apertadinha na boxer branca. Quando ele se vira de
frente para mim, vejo uma marca enorme que me obriga a desviar o olhar.
— Agora está com vergonha, Sofia? Não pareceu ontem quando você
me implorou para te comer.
— Eu o quê? Isso é mentira! — protesto, tocando o ponto dolorido no
meio da testa, tentando me lembrar se… Ah, merda. — Eu implorei…
Implorei para ser comida por ele, de fato. Puta merda…
— Por que você não…? — pergunto, vermelha de vergonha.
— Você acha mesmo que eu ia tirar sua virgindade contigo bêbada?
Não sou escroto.
Ele parece ofendido enquanto veste a roupa com rapidez. Mordo o
lábio, envergonhada e grata ao mesmo tempo. Teria sido a maior decepção da
minha vida ter a minha primeira vez sem ter consciência.
— Obrigada.
— Você não está me agradecendo por isso, não é? — fala, colocando o
relógio.
Não respondo, porque me sinto constrangida demais por ter ficado
bêbada enquanto, teoricamente, estava trabalhando. Tudo bem que não era
nenhum evento da conferência, mas ainda assim, a maioria dos presentes do
jantar era sócio, amigo de trabalho e empresários importantes. Que mico…
— Me desculpa se fiz alguma coisa que te embaraçou ontem, Daniel.
Acho que só queria… me esquecer dar coisas um pouco.
— Não tem que se desculpar. Deixei um remédio para você aí em cima,
caso esteja com dor de cabeça. Te espero lá embaixo para o almoço marcado
na agenda.
Aceno, sentindo meu coração pequeno por ele ter voltado ao modo
chefe frio e distante. Mas também nem tiro sua razão! Que merda hein, Sofia.
Me lembro de que disse coisas bastante comprometedoras ontem. E
diretas. Tudo o que minha mente pensa, mas que a boca não tem coragem de
dizer. Quer dizer, não tem sóbria.
Vejo Daniel saindo do meu quarto e me pergunto por que ele ficou aqui
ontem à noite. Ele não parece ser do tipo de homem que se deita na cama
apenas para dormir, mas ainda assim, ficou aqui comigo. Se para me
certificar de que eu não fosse morrer ou porque queria cuidar de mim, não
sei. Mas essa atenção, por mínima que seja, faz criar um sentimento
pequenino no meu coração. Um que preciso evitar a todo custo que cresça.
DANIEL

Sou um homem de quarenta anos que bateu punheta no banheiro


enquanto tinha uma mulher no quarto ao lado literalmente implorando para
ser fodida. Foi a isso que me resumi. Como se não fosse o suficiente, ainda
me prestei ao papel de dormir ao lado dela porque aquela irresponsável
claramente não sabe beber e eu não podia deixar que morresse no primeiro
porre que tomou na vida. E a cereja do bolo foi ela me agradecer por não ter
tirado a sua virgindade enquanto estava desmaiada de bêbada. Que espécie de
filho da puta aquela garota acha que eu sou?
Não preciso nem dizer que meu humor está no saco hoje. Passei o dia
inteiro distribuindo patadas a quem aparecesse na minha frente e falhando em
manter um sorriso minimamente cordial. E Sofia estava ali, como a minha
maldita sombra, me encarando com aqueles olhos enormes e reticentes.
Reclama que eu a trato feito uma garotinha, mas se comporta como uma. Fica
o tempo inteiro parecendo pronta para sair correndo com qualquer grito meu.
Ela me irrita. Me confunde e me fascina. Sua inocência tão visível me
atrai de um jeito estranho, e cada vez que resolve bancar a mulher fatal, me
tira completamente do sério e tudo que quero fazer é calar aquela boca dela
com a minha.
Existe uma parte minha que está curiosa para saber que versão de Sofia
vou encontrar hoje à noite, no evento de encerramento.
Bato na porta do seu quarto, e ela demora alguns segundos para abrir.
Irritado, estou prestes a bater de novo quando finalmente destranca a porta. E
a bronca que eu estava para dar morre na minha boca.
Com os lábios pintados de um vermelho vibrante presos entre os dentes,
ela me olha com cautela, como se esperasse aprovação. O vestido é quase da
mesma cor, vermelho-sangue, longo, com um decote que cai praticamente até
o seu umbigo. O cabelo está ondulado, e a maquiagem está feita. Na minha
frente está uma mulher que vai atrair cada olhar daquela festa, e não tem uma
maldita chance de eu a deixar sozinha por um segundo esta noite.
— Eu não sabia o que vestir. O senhor disse para…
— Você — corrijo e ando na sua direção. — Não vou repetir.
Ela faz que sim com a cabeça, e eu desço os olhos pelo seu corpo,
focando nos seios apertados pelo decote generoso.
— Estou arrumada o suficiente? — pergunta baixinho. Passo a mão
pelo seu pescoço e aperto a parte de trás.
— Você está linda — digo e subo a outra mão pela sua cintura. — E já
que gritou na minha cara ontem que eu disse que você ia ser minha durante a
viagem e não estava te dando atenção, essa noite você não sai de debaixo das
minhas vistas.
Seu pescoço ganha a coloração avermelhada deliciosa quase
imediatamente, e ela sobe os olhos arregalados para mim.
— Daniel, eu tinha bebido demais. Não quis dizer… Me desculpa.
— Amanhã, Sofia — digo e puxo o queixo dela para cima. — Amanhã
você pede todas as desculpas que está me devendo e volta a ser a funcionária
exemplar que vinha sendo, mas hoje nós ainda estamos aqui. Hoje você não é
minha secretária, é minha acompanhante. Entendidos?
Ela faz que sim com a cabeça e continua me olhando enquanto eu a
solto e ofereço um braço. Ela engancha o seu ali, e seguimos para o elevador.
O salão do hotel onde está acontecendo o coquetel de encerramento já está
cheio quando chegamos. Como previ, cada maldito par de olhos se vira da
direção dela, e eu aperto sua cintura enquanto caminhamos, sabendo muito
bem o que está se passando na cabeça de cada homem que a olha.
Uma garçonete passa por nós carregando uma bandeja com taças de
champanhe, e Sofia estende a mão para pegar uma, mas aperto seu braço e a
conduzo para a pista de dança ao invés disso.
— Sem beber hoje — digo e a prendo de frente para mim. Ela cora
inteira e desvia o olhar. Coloco seus braços em volta do meu pescoço e
começo a mover nós dois para lá e para cá.
— O que você está fazendo? — pergunta, olhando ao redor
apressadamente.
— Dançando com a minha acompanhante — respondo e a rodopio
antes de a prender de volta em mim.
— Mas, Daniel… Está todo mundo olhando — sussurra.
— Sou um homem adulto, Sofia — digo, apertando sua cintura. — Não
tenho que dar uma puta satisfação do que faço para ninguém. Se eu quiser
dançar com você, vou dançar com você.
Ela sorri pequenino e apoia a testa no meu ombro. O cheiro doce do
perfume me invade, e arrasto o nariz pelo seu pescoço. O corpo pequeno se
acomoda contra o meu peito, e eu a conduzo no ritmo lento. Quando a música
acaba e outra começa, continuamos dançando em silêncio até que ela dispara:
— Por que você nunca se casou?
Afasto a cabeça e a franzo o cenho para ela. Sofia pisca algumas vezes
e umedece os lábios.
— Desculpa, não quis invadir sua privacida…
— Eu juro que se você pedir desculpas mais uma vez essa noite, vou te
jogar no ombro de novo e te dar uma palmada — interrompo. Desço a mão
para a sua bunda e dou uma boa demonstração da minha promessa. Ela solta
um gritinho baixo quando estalo a palma no seu traseiro e arregala os olhos.
— Nunca me casei porque não tenho nenhum interesse. Não tenho vocação
para homem de família nem paciência para lidar com dramas dos outros.
Nunca me interessei por mulher nenhuma por mais do que algumas noites
para me dar ao trabalho de pensar nisso.
Vejo sua expressão cair e ela desviar o olhar, balançando a cabeça
enquanto encara o chão. Puxo seu queixo para mim.
— Não menti para você hora nenhuma, garota. Deixei claro que isso
que a gente está fazendo é só uma diversão durante a viagem, certo? —
pergunto, e ela confirma em silêncio. Acaricio sua bochecha e passo o
polegar no seu lábio. — Não significa que não me importo com você, Sofia
— admito e vejo a careta confusa tomar conta do seu rosto.
Eu a rodopio de novo antes de prendê-la no meu braço.
— Você é especial, menina. E vai longe. Não interessa o que o babaca
do seu ex-noivo te disse ou o que sua família te fez acreditar. Você tem
potencial. É competente, trabalha duro. E se aguenta minhas grosserias,
aguenta qualquer coisa que a vida jogar no seu colo.
Ela abre um sorriso pequeno e vejo seus olhos marejarem um pouco.
— Às vezes eu acredito nisso — ela diz e suspira. — Mas às vezes me
pergunto se eles não têm razão. Eu quero tanta coisa da vida. Quero conhecer
tanto lugar, fazer tanta coisa. Às vezes acho que estou sonhando alto demais.
— Não está — garanto. Subo e desço a mão pelas suas costas, e ela
fecha os olhos por um segundo, abrindo um sorriso discreto. — Eu conheço o
diretor da Cardoso Menezes — digo, e Sofia volta a me olhar. — Você disse
que quer fazer faculdade lá?
— A mensalidade custa uma fortuna — lamenta, mordiscando o lábio.
— Estou juntando o dinheiro do salário para isso, mas…
— Eles têm o melhor curso de administração do estado, um dos
melhores do país. É isso mesmo que você quer fazer? — pergunto, e ela faz
que sim com a cabeça. — Então você começa no próximo semestre —
decreto, e Sofia arregala os olhos.
— Daniel, eu não tenho como bancar isso agora.
— Ninguém disse que você ia bancar nada, pequena — digo e puxo seu
rosto de volta para o meu ombro.
Ela é minúscula, mas em cima dos saltos enormes que está usando
consegue ficar em uma altura confortável nessa posição. Olho ao redor na
pista de dança e vejo outros casais dançando. Vejo também alguns olhos
conhecidos sobre mim, assistindo à cena inusitada para o meu feitio.
— Você não pode pagar a minha faculdade! — protesta com a voz
aguda e tenta se soltar de mim. Eu a aperto ainda mais contra o meu corpo e
arqueio uma sobrancelha.
— Você está mesmo tentando me dizer o que posso ou o que não posso
fazer? — pergunto. Ela abre e fecha a boca algumas vezes, com o choque
estampado no seu rosto. — Não foi uma oferta, Sofia. Foi um comunicado.
Ela me encara em silêncio por alguns segundos enquanto continuo
conduzindo nós dois.
— Por quê? — pergunta. Ela se acomoda mais em meus braços, e
aproveito esses segundos para pensar na resposta.
Porque sim. Porque eu quero. Não costumo questionar minhas decisões,
simplesmente faço o que bem entendo, sem me preocupar em ter que dar
satisfação de nada para ninguém. E é isso que respondo.
A música acaba, e Sofia parece relutante a se soltar de mim, mas
acabamos não tendo muita escolha quando pessoas conhecidas se aproximam
e emendam uma conversa animada sobre negócios. Pelo canto de olho, vejo
Sofia um tanto balançada e aérea pelos minutos seguintes, mas ela mantém
um sorriso profissional que aprendeu a ter nas últimas semanas e interage do
jeito certo pelo resto da noite com parceiros de negócios e clientes.
Já é meio da madrugada quando finalmente saímos da festa e
começamos a seguir de volta para os quartos. Paro em frente ao dela, e Sofia
me encara com um brilho perigoso no olhar.
— Obrigada — diz. Franzo o cenho, e ela solta uma risada baixinha. —
Por acreditar em mim. Ninguém acreditou em mim antes. Quer dizer, a Dai
acreditou, mas é para isso que melhores amigas servem — ela se corrige,
movendo a mão. Coloca uma mecha do cabelo atrás da orelha e abre um
sorriso pequeno. — Obrigada.
Eu me aproximo alguns passos.
— Passei a noite inteira querendo te livrar desse vestido, Sofia. O único
agradecimento que preciso é ter sua boca em volta do meu pau de novo —
digo no seu ouvido, acariciando seu pescoço. Ela se arrepia e ofega. Aperta
meu antebraço, e eu beijo sua nuca. — Vai me deixar entrar ou vou precisar
arrombar a porta do quarto?
— Grosso — sussurra, mas há um ar divertido na sua voz, e isso me
pega completamente desprevenido.
Sem qualquer delicadeza, eu a prendo contra a porta e subo a mão até o
seu peito por cima do vestido.
— E grande, e doido para te foder — digo entredentes e sugo o lóbulo
da sua orelha. — Vai abrir a porta ou não?
Ela estremece nos meus braços e faz que sim com a cabeça. Destranca a
porta, e eu nos tranco dentro do cômodo assim que consigo, sem ter a menor
intenção de deixar que ela durma hoje.
DANIEL

Saí do quarto de Sofia no meio da noite depois de deixar a garota


dormindo exausta e sem acreditar que passei tantas horas na cama com uma
mulher sem foder do jeito que eu queria. E estava preocupado com o que eu
ia encontrar quando ela acordasse, mas Sofia está se comportando como se
nada tivesse acontecido desde que saiu do quarto.
Ela repassou minha agenda para os próximos dias durante o café da
manhã, comentou sobre pessoas que conheceu durante a viagem e sobre
coisas que anotou sobre empresas concorrentes durante o voo. Perfeitamente
profissional. Como se não tivesse gozado até quase desmaiar, como se não
tivesse gritado meu nome a noite inteira, como se não tivesse engasgado na
porra do meu pau tantas vezes que perdi as contas. Eu estou positivamente
surpreso e puto para um caralho.
— Para onde? — pergunto dentro do carro quando ela coloca o cinto.
Estamos saindo do aeroporto depois de desembarcarmos no Rio, e ela está
com a cara enfiada no celular e uma ruguinha no meio da testa. — Sofia?
Ela levanta o rosto para mim e pisca devagar, como se estivesse em
outro mundo.
— Preciso de um endereço — insisto e ergo uma sobrancelha.
Ela abre e fecha a boca e volta a olhar para o celular. Bufo já sem
paciência para o silêncio súbito dela. Não parou de falar o voo todo, mas
depois que o avião pousou, não disse mais uma palavra.
— Eu… — Sofia volta a me olhar com a boca meio aberta e os olhos
confusos e culpados. — Não tenho a menor ideia de para onde ir — diz com
um fio de voz. Franzo o cenho.
— Não sabe o endereço da sua amiga? — questiono.
— Não. Quer dizer, sim! Mas a Dai não está em casa. — Ela sacode o
celular e suspira, voltando a ter um vinco entre as sobrancelhas. — A tia dela
está doente. Ela me ligou alguns dias atrás, mas eu…
Ela me olha de relance, e vejo o avermelhado tão característico tomar
conta do seu pescoço. Daí me lembro de que a tal amiga ligou bem na noite
em que ela me disse que… Puta merda, ainda não acredito que essa garota é
virgem.
Sofia pigarreia.
— Ela não está em casa. Não está nem no estado.
— E não tem nenhuma outra amiga com quem você possa ficar? —
pergunto. Ela nega com a cabeça e solta um suspiro pesaroso.
— O senhor pode me levar para casa? — pergunta baixinho. Sua voz
está um tanto chorosa e sai um pouco falha. — Posso te passar o endereço se
não lembrar.
— Eu lembro — garanto. — Mas achei que seu pai tivesse te colocado
para fora.
Ela dá de ombros e suspira.
— É isso ou pedir abrigo para o Marcos — sussurra e abraça o próprio
corpo.
— Sofia…
— Por favor? — pede e mordisca o lábio inferior. Ela olha pela janela e
não me encara mais.
Aperto o volante com força depois de dar partida no carro, muito mais
incomodado do que devia. Nos últimos dias, vi essa garota se comportar com
uma confiança que não tinha visto antes. Ela passou de todos os limites
gritando comigo daquele jeito, é verdade, mas foi simplesmente impecável no
seu trabalho, muito mais competente do que eu esperava. Foi só pisar de novo
aqui para isso tudo ir para o lixo.
O trânsito não está ruim, e demoramos pouco mais de quarenta minutos
para chegarmos. O porteiro libera a entrada assim que me vê, e sigo direto
para a garagem.
— Hm… senhor? — Sofia chama assim que estaciono e desligo o
carro. Olho para ela e espero que diga alguma coisa. — Onde nós estamos?
— Na minha casa — respondo, tiro o cinto e saio do carro. Vou até a
mala do carro para pegar nossas bagagens e logo escuto o som dos saltos dela
batendo contra o chão enquanto se aproxima.
— O senhor precisa buscar alguma coisa aqui ou precisa que eu pegue
um Uber para casa? — pergunta confusa.
E eu não sei bem por que, mas a única coisa que preciso agora é que ela
pare com essa porra de “senhor” para cá e “senhor” para lá porque está me
tirando do sério. Jogo uma bolsa por cima do ombro e arrasto a mala de
rodinhas com a outra mão. Sigo até o elevador e aperto o botão. Olho por
sobre o ombro.
— Você vem ou vai ficar aqui? — pergunto quando as portas se abrem.
Ela corre para me alcançar e entra no elevador. Aperto o botão da cobertura e
preciso prender uma risada, porque Sofia parece a ponto de explodir de
confusão. Assim que chegamos no andar certo, indico com a cabeça. —
Primeiro as damas.
Sofia entra reticente e me segue quando destranco a porta. Olha ao
redor sem dizer nada, e eu largo as malas no chão.
— O quarto de hóspedes fica daquele lado. Deve ter roupa de cama
nova e toalha à disposição, mas se precisar de alguma coisa me avisa que
mando providenciar — digo e indico com a mão para a esquerda. —
Banheiro, cozinha, acesso à piscina e ao spa. — Vou apontando para os
cantos do apartamento. — Meu quarto é ali.
Volto a olhar para ela e vejo no seu rosto quando começa a entender.
— Eu… O quê?
— Se precisar de carona para o trabalho, eu saio às seis e meia em
ponto. Mas não tenho hora para voltar, então você provavelmente vai precisar
dar um jeito de chegar aqui sozinha no fim do dia.
Começo a andar em direção ao meu quarto, me livrando da gravata e do
paletó no meio do caminho. Ouço o som dos saltos vindo atrás de mim.
— Senhor Vilella, eu não posso ficar aqui — ela protesta. Paro na porta
do meu quarto e cruzo os braços.
— Por que não? — pergunto. Ela hesita.
— Eu achei… O senhor disse para manter as coisas profissionais
quando a gente voltasse da viagem.
Com as sobrancelhas arqueadas, dou alguns passos na sua direção até
estar perto o suficiente para ela precisar me olhar de baixo e eu consiga sentir
o cheiro doce do seu perfume.
— O lugar é grande o suficiente para que a gente mal se esbarre, Sofia
— digo. — Eu sou seu chefe, e você trabalha para mim. O horário do seu
expediente continua sendo o mesmo. Não tem nada de não profissional
acontecendo aqui, tem?
Os lábios dela se repartem.
— Mas… a gente vai morar na mesma casa — fala devagar.
— E você prefere voltar para a casa dos seus pais, voltar para o escroto
do seu noivo que vai te chifrar com a primeira vadia que passar na frente
dele, largar seu emprego e sua independência? — pergunto. Vejo sua postura
vacilar, e Sofia não diz nada. — Foi o que pensei. Você fica aqui até sua
amiga voltar. Agora vá tomar um banho e dormir. Amanhã você trabalha.
Vou para o meu quarto sem olhar novamente para ela. Debaixo do
chuveiro, tento não pensar em que merda eu estava pensando quando a trouxe
para cá.
***

Desisto de tentar dormir quando são quase três da manhã e saio da cama
depois de ter ficado rolando de um lado para o outro por horas. Sem me dar
ao trabalho de vestir mais do que só a boxer que pego da gaveta do armário,
vou até a cozinha em busca de água. Quando estou voltando para o quarto,
vejo Sofia sentada na varanda com os pés em cima da cadeira e abraçando os
joelhos.
— O que está fazendo aqui? — pergunto quando me aproximo.
Ela quase dá um pulinho no lugar e abaixa as pernas. Olha para mim
como se fosse dizer alguma coisa, mas para no meio do caminho com a boca
aberta e os olhos descendo pelo meu corpo. Me dou conta do que estou
vestindo, mas não faço qualquer menção a recuar. Fica claro que Sofia gosta
da vista, e eu gosto do jeito que me olha. Me aproximo e paro de frente para
ela. Sofia para os olhos no volume do meu pau por alguns segundos e morde
a porcaria do lábio, o que me faz precisar de cada gota de autocontrole para
não endurecer na hora. Ela volta a olhar para mim.
— Não estava conseguindo dormir — diz e coloca uma mecha do
cabelo atrás da orelha. Agora também presto atenção no que ela está
vestindo: um conjuntinho minúsculo de camiseta e short que deixa mais pele
exposta que coberta. Se ela percebe que a visão me excita, finge muito bem
que não. — A vista é linda.
Sento do seu lado e olho para o que ela estava olhando: a vista da praia
à noite que é bem visível daqui. Concordo com a cabeça.
— Tem razão. Não aprecio isso o suficiente — comento e olho para ela,
encontrando seus olhos em mim.
— Por que não? — pergunta. Umedece os lábios e tomba a cabeça para
o lado. — O senhor é… estranho.
— Estranho?
— É. É um amor com a sua mãe, me abrigou quando eu não tinha para
onde ir, então eu sei que tem coração. Mas é grosso com todo mundo o tempo
inteiro. Por quê?
— Por que não? — rebato, dando de ombros. — Não tenho paciência
para ficar fingindo o que não sou, Sofia. É cansativo. Você deve saber muito
bem disso, já que disse que passou a vida inteira sendo o que os outros
queriam.
Ela parece pensar por um instante e concorda com a cabeça.
— É cansativo — concorda e volta a puxar os joelhos para cima,
apoiando o queixo entre eles.
Sem pensar no que estou fazendo, toco seu cabelo delicadamente.
— Agora você pode ser quem quiser — digo e recolho a mão, ficando
de pé. — Vai dormir, garota. Para de perder sono por quem não merece.
Viro as costas e começo a seguir de volta para o quarto. Quando estou
com a mão na porta, ela me chama.
— Daniel? — Olho na sua direção e vejo os olhos verdes enormes me
encarando. — Obrigada por me dar abrigo. Eu estava mesmo precisando ser
resgatada dessa vez.
Percorro os olhos pelo corpo pequeno e sinto meu pau latejar com a
lembrança da boca pequena ao meu redor, dos gemidos baixinhos, da boceta
doce.
— Cama, Sofia — digo e abro a porta. — Não se atrase amanhã.
Bato a porta e vou para o quarto, soltando um palavrão no caminho.
Porra de garota.
SOFIA

Às vezes acho que estou vivendo em uma espécie de sonho ao estar


aqui, no apartamento de Daniel, meu chefe querido e ao mesmo tempo
ranzinza.
Faz um pouco mais de duas semanas desde que voltamos de viagem e
ele me alojou aqui, sem nem ao menos perguntar minha opinião. Não que eu
tivesse achado ruim, mas é… estranho. Estranho e triste que um homem que
me conhece há tão pouco tempo, que até alguns meses não era nada gentil
comigo, tenha tido mais empatia do que a minha própria família. Meus pais,
após praticamente me expulsarem de casa depois de eu ter terminado meu
noivado e “viajado” com outro, nem sequer tiveram o trabalho de ligarem
para saber se cheguei viva, se por um acaso não estou debaixo de uma ponte
ou pedindo esmola no sinal. Para eles, aparentemente, a boa imagem, o
casamento arranjado e Marcos na minha vida eram mais importantes do que
qualquer coisa.
Ainda dói. Dói saber que sou tão pouco valorizada e entendida pelas
pessoas que mais deviam me amar no mundo. Sempre fui uma boa filha,
nunca dei trabalho com drogas, garotos, bebidas, horários extrapolados,
rebeldia. Praticamente deixei que eles vivessem a minha vida por mim
durante vinte anos. Tempo completamente desperdiçado, percebo agora.
Mas de novo Daniel tem sido uma pessoa que me faz pensar em muita
coisa relacionado a isso. Ele me ajudou demais, às vezes até de forma
inconsciente. É como se ele estivesse, dia a dia, me resgatando de um poço
sem fundo. Ele me fez refletir que eu não preciso ficar me rastejando atrás de
ninguém, mesmo se forem meus progenitores. Sinto falta deles, os amo de
todo meu coração, mas existem coisas que são demais para um ser humano
aguentar, que ninguém deveria precisar aguentar.
Mas estou tentando fingir que isso não está acontecendo comigo, pelo
menos por enquanto. Sei que uma hora terei que lidar com essa realidade.
Meu querido CEO estava certo quando disse que seria quase que
impossível encontrar com ele neste lugar cheio de luxo que chama de
apartamento. Já me perdi muitas vezes aqui dentro, e sigo me perdendo até
hoje, mesmo depois de duas semanas. Também, a casa de um CEO tão
conhecido no país não poderia ser diferente.
Estou aqui, pensativa, sentada na cozinha enorme e toda branca que
parece nunca ser utilizada, sozinha enquanto Daniel está não sei onde. Hoje é
sábado, então pelo visto vai ser mais um final de semana sem saber o que
fazer neste lugar. Não tive coragem de usar o spa e, sinceramente, nem ando
muito que é para não correr o risco de quebrar nada caro por aqui e ele não
descontar do meu salário. O meu querido chefe está cumprindo com a sua
palavra de se manter profissional desde que me mudei temporariamente para
cá. Na verdade, acho que todo aquele desejo que parecia sentir por mim foi
coisa momentânea, somente até descobrir como era estar com uma virgem.
Não que ele tenha estado de todas as formas, porque o lacre ainda está aqui,
mas creio que deu para ter o gostinho que os homens parecem tanto ter por
uma virgem.
— Ainda acordada? — Salto da cadeira quando ouço a voz de Daniel e
quase engasgo com o sorvete.
Olho para ele, constrangida por estar usando apenas um pijama de
corujas nada adulto e por ele estar apenas com uma bermuda de dormir, com
o peitoral e aquele corpo maravilhoso quase completamente exposto.
— Hoje é sábado, nem vem me mandar dormir para que a gente não se
atrase amanhã.
Ele franze a testa e sacode a cabeça de leve enquanto vai até a geladeira
para se servir de um copo de água. Vira o líquido de uma vez na boca, e me
perco até mesmo no percurso da gotinha sortuda que sai da sua boca e desce
pela virilha.
— Não sei preocupe que hoje não vou te cobrar nada.
— Sei. Você também disse que seria minha escolha ir ou não contigo
para a empresa, mas olha só, me arrastou todos os dias e ainda me cobrou que
me arrumasse logo.
— Não faz sentido você ir de ônibus ou pagar Uber sendo que estou
indo para o mesmo lugar — responde e dá de ombros. — Você não disse que
queria economizar dinheiro? Junte o útil ao agradável. E sobre cobrar que se
arrumasse logo, foi para o seu bem. Seu chefe odeia atrasos.
Solto uma risada baixa e sacudo a cabeça. Nosso clima na empresa
melhorou muito depois da nossa viagem. Não sei exatamente o que foi, mas
consigo perceber que Daniel está tentando ser mais simpático. Não só
comigo, como também com os demais funcionários. Nem sempre ele
consegue, mas o importante é pelo menos tentar.
— Muito obrig…
— Já me agradeceu o suficiente, Sofia. Todos os dias, aliás.
— Mas eu sou grata. Muito. Nunca achei que fosse me salvar quando te
conheci pela primeira vez — falo sem pensar. Ele franze a testa e deixa os
olhos escuros miúdos enquanto me encara.
— Por que não?
— Preciso responder? — pergunto, revirando os olhos enquanto levo
uma colher de sorvete à boca.
— Na verdade, precisa.
Daniel coloca o copo de água na lavadora de louças e se aproxima de
mim. Desvio o olhar para que ele não me olhe daquele jeito, mas não adianta
porque o sinto me encarando mesmo sem ver seu rosto.
— E então?
— Você era grosso, Daniel. Quase me chutou dali pelo meu suposto
atraso. Aquele cara ali ia me deixar dormir na rua sem pensar duas vezes —
digo. Me concentro no creme gelado que está derretendo.
— Eu não ia deixar, Sofia.
Apenas aceno, mas não respondo. Não sei se acredito nisso, mas sou
grata da mesma forma por ele ter me acolhido. Minha única opção era
Daiane, mas minha amiga está fora do Rio ajudando sua tia. Não contei para
ela que meus pais me expulsaram, pois sei que ficaria preocupada demais
comigo e minha querida amiga já está com problemas demais com a tia
doente. Está sempre me mandando mensagens rápidas durante o dia, porque
está bastante ocupada. Sei que está mal e gostaria de poder estar perto dela.
Sinto saudades da minha maluca. É bem difícil a gente passar tanto tempo
assim longe uma da outra. Não contei nada que aconteceu durante a viagem,
pois quero contar pessoalmente, mas está sendo angustiante guardar esse
turbilhão de coisas que está acontecendo na minha vida. Preciso pensar no
meu futuro, nos meus novos planos, no que vai ser de mim.
— No que tanto pensa? — Daniel pergunta. Ergo minha cabeça para o
encarar.
— Em tudo. Em nada. — Abro um sorrisinho fraco e dou de ombros.
— No futuro. Não sei o que fazer…
— Vai dar certo, Sofia. Você ainda é muito nova para sofrer desse jeito.
— É impossível não sofrer. E não sou tão nova assim — protesto.
— É sim. É apenas uma garota de vinte anos. Tenho o dobro da sua
idade e posso te garantir que ainda vai passar por muito sufoco que vai te
deixar calejada.
Solto apenas um suspiro e termino de tomar o restinho de sorvete. Me
levanto e coloco a taça na lavadora.
De repente, me sinto exposta demais, quente demais e excitada demais
quando tenho a visão de Daniel no balcão. Ele me encara de cima a baixo,
focando nos meus seios, e só aí que me lembro de que o tecido é quase
transparente e que as luzes da cozinha são fortes demais, o que é muito
propício para que meus mamilos apareçam.
— Eu vou para a cama. Boa noite, Daniel.
— Espera, Sofia — ele fala, coçando a garganta. — Não quer
aproveitar as coisas do apartamento? O spa do prédio fica aberto até tarde.
Tem o cinema, a piscina da cobertura, o ofurô. Você é jovem demais para
ficar trancada no quarto em pleno sábado ou para dormir às dez da noite.
— Eu não… — Cruzo os braços e faço uma careta. — Nunca tive
permissão para sair, então não tenho muitos amigos.
Dou de ombros, porque estou acostumada demais a ficar em casa. Não
é algo que me incomoda. Só saio quando sou arrastada à força por Daiane.
— E a sua amiga?
— Ela me obrigava sempre, na verdade. Mas como ainda não voltou,
não tenho mesmo o que fazer.
Daniel sacode a cabeça e parece pensar, porque sua expressão fica meio
aérea.
— Se arrume, então, nós vamos sair.
— Não precisa, Daniel. Eu gosto de ficar em casa.
— Eu percebi, Sofia. Você mal sai do quarto — responde e se aproxima
de mim. — Você precisa viver, garota.
— Mas… Para onde? Não tenho roupa aqui. Estou comprando novas
aos poucos porque não quero voltar em casa.
— E o seu vestido vermelho? — pergunta, atrapalhando a minha
desculpa, mas nem me deixa responder. — Vai tomar um banho que eu cuido
disso. Qual o seu tamanho de vestido?
— P.
— Claro. — Ele confere meu corpo rapidamente e acena, sumindo de
vista.
Abro e fecho a boca, chocada com o rumo da noite, mas obedeço. Estou
com medo do que vai aprontar. Tomo um banho demorado, animada e ao
mesmo tempo querendo que Daniel desista da ideia. Tenho receio em não me
aguentar e arrancar a roupa quando ele chegar muito perto. É assim que me
sinto todos os dias. Sinto meu corpo todo reagindo ao seu, meu coração
parando ou errando batidas, as pernas moles e… Ai, meu Deus. Eu me sinto
como se tivesse apaixonada. Acho que nunca me senti assim, nem mesmo
com Marcos.
Coloco a mão no rosto, sentindo a água quente do chuveiro caindo na
minha cabeça. Lavo meus cabelos, depilo as minhas pernas e me enxáguo
com o sabonete cheiroso e com cara de caro que ele deixou aqui para mim.
Quando termino, torço para que eu esteja errada, para que eu não tenha
mesmo me apaixonado pelo meu chefe. Vou saber essa noite, se eu
sobreviver a ela sem suspirar acordada com a sua companhia.
Eu me seco rapidamente e torço meus cabelos com outra toalha. Assim
que saio do banheiro e piso no quarto, vejo um vestidinho verde em cima da
cama e arregalo os olhos. Praticamente corro até lá e me espanto ao ver uma
caixa de sapatos ao lado. Abro e vejo saltos pretos, com pedras verdes como
o vestido. Para completar, o louco ainda deixou um par de brincos de alguma
pedra que não sei nem qual.
Meu Deus… Isso é surreal. Nunca tive dinheiro. Também nunca passei
necessidade. Mas essa vida, esse luxo, sempre esteve muito longe da minha
realidade. Penso em não aceitar e ir com o mesmo vestido da festa de gala,
mas o tecido tentador me chama e decido experimentar. Coloco tudo e solto
um suspiro ao me olhar no espelho, vendo que meus olhos quase brilham ao
me encarar. Estou prestes a tirar, porque não posso mesmo aceitar, quando
ouço uma batida na porta.
— Está pronta?
— Estou, mas… — Daniel entra e me choco ao ver que ele já está
completamente vestido com uma camisa, calça e sapatos sociais, todos
pretos.
Lindo.
A língua dele passa de forma inconsciente pelo lábio inferior enquanto
me olha, e eu arfo.
— Você ficou linda.
— Como você comprou isso tão rápido?
— Têm lojas de grife no prédio. Espero que goste de verde — fala, se
aproximando de mim devagar.
— Eu gosto. Muito obrigada, Daniel, mas não posso aceitar. Isso é
errado… Você é meu chefe. Eu não devia estar na sua casa, recebendo
presentes, saindo contigo para algum lugar.
Ele quebra totalmente a distância entre nós dois, ficando atrás de mim,
e tira meus cabelos ainda molhados do meu ombro, deixando o decote do
vestido à mostra.
— Você ficou linda, Sofia. Qualquer cor combina contigo.
— Daniel… — gemo seu nome quando desliza os dedos pela minha
clavícula nua.
— Seu cheiro é viciante — murmura, encostando o nariz no meu
pescoço após puxar minha cabeça de leve para trás. — Vamos logo, garota.
Antes que eu faça algo que nós dois vamos nos arrepender.
Aceno e quase tropeço quando ele se afasta rapidamente, saindo do
quarto. Minha respiração está acelerada como todas as vezes que ele chega
perto. Demoro a me controlar, mas quando faço, termino de me arrumar.
Seco os cabelos e os penteio com os dedos. Passo uma maquiagem rápida
para que não nos atrase para não sei onde e vou até a sala, onde o encontro
sentado no sofá, falando ao telefone em uma conversa nada amigável. Ele
desliga sem se despedir e se levanta ao me ver. Tenho a impressão de que o
vejo engolir em seco, mas eu não posso causar tanto deslumbramento em um
homem desses, que deve ter qualquer mulher à disposição quando quiser.
Inclusive eu.
— Perfeita, Sofia. Vamos?
Ele me guia até o elevador e em seguida até seu carro no
estacionamento, sempre com a mão na parte nua nas minhas costas. O que é
muita sacanagem com meu corpo.
Eu me choco quando abre a porta do carro para mim, mas ele nem
parece perceber o que faz. Me sinto pequena ao me sentar ao seu lado, porque
uma coisa é pegar carona para o trabalho, outra bem diferente é sair com o
seu chefe em pleno sábado, fora de expediente.
Isso não tem como prestar.
Fico em silêncio, estalando os dedos de leve enquanto ele dirige. Não
pergunto para onde a gente vai, porque sei que Daniel não ia falar de
qualquer forma. Quando ele estaciona, desce rapidamente e abre a porta para
que eu saia. Eu me sinto uma princesa, e é inevitável abrir um sorriso.
Surpreendentemente, ele retribui. Com um bem fraquinho, sem mostrar os
dentes, mas é um sorriso. Temos uma evolução aqui.
Assim que olho a fachada, sinto meu rosto corado ao ver que é a boate
que nos conhecemos, a que ele… Ah, meu Deus. A que ele chupou meus
peitos e esqueceu de mim na mesma hora.
— Você…
— A gente se divertiu bastante aqui, não foi? Quem sabe possamos
repetir a dose — provoca, e eu arregalo os olhos. — Respira, Sofia. Estou
brincando.
— Você… está? Tudo bem.
Droga, ele estava brincando. Eu já estava me animando.
Daniel volta a me guiar até a entrada, passando por todas as pessoas na
fila como um deus grego. Um deus pirocudo grego, segundo Daiane. Não
posso pensar nessa parte da anatomia dele agora, por favor.
O lugar está cheio, mas sei que não ficaremos aqui nesta área, porque o
homem é chique demais para se misturar com o resto dos mortais. E não dá
outra. Logo que entramos, Daniel me conduz até a área reservada, a mesma
da bulinação. Agradeço a iluminação fraca, porque meu rosto está pegando
fogo nesse momento.
Quando nós nos sentamos em um dos sofás mais isolados, Daniel me
olha de forma intensa e pergunta:
— E então, Sofia? Como quer se divertir essa noite?
SOFIA

Só queria encher a cara, a verdade é essa. Apesar dos pesares, gostei de


ser menos eu mesma quando bebi demais na festa pós-conferência, mas meu
querido chefe acha que manda em mim na vida também e não me deixa em
paz.
— Você não disse para eu me divertir, Daniel? Estou tentando.
— Tem como se divertir sem ficar bêbada, Sofia. Jamais fique
vulnerável em ambientes assim. Pode ser perigoso.
— Tudo bem — falo concordando e olho ao redor, vendo as pessoas
conversando. — E o que a gente faz aqui então? Fica olhando para a cara um
do outro? Isso não é muito divertido.
— O que você quer fazer? — ele pergunta após soltar um suspiro.
— Não sei. Como eu disse, só vou a lugares como esse arrastada pela
Daiane. O que você costuma fazer?
Ele ergue uma das sobrancelhas pretas e grossas e sorri de lado.
— Eu fodo.
Engasgo com o refrigerante e coloco a mão na boca, quase tossindo
meu estômago.
— Calma, sem morrer. — Daniel desliza para meu lado no sofá e bate
de leve nas minhas costas. Quando me afasto, sinto meu rosto quente, não sei
se pelo excesso de tosse ou se pelo constrangimento.
— Melhorou? — pergunta, e aceno de forma positiva. — O que quer
fazer?
— Quero… Não sei. Dançar?
— Pode ir. Eu fico te esperando aqui — fala e indica a pista de dança
com a cabeça.
— Ah, sozinha? É sem graça.
— Você quer dançar comigo? — pergunta, franzindo a testa. É um bom
ponto. Não seria apropriado, porque ele é meu chefe. Já é esquisito demais
estar aqui com Daniel sem dançar.
— Tudo bem. Preciso fazer valer você ter me arrastado até aqui.
Eu me levanto com uma dose de coragem momentânea e ando até a
pista de dança devagar. Gosto de dançar, apesar de não praticar muito. Uma
música agitada começa a tocar, e finjo que estou com a Dai. Fecho os olhos
porque o constrangimento é menor e não os abro nem mesmo quando sinto
corpos esbarrando no meu ao dançarem. Não me importo se estou dançando
bem, se só estou jogando a cabeça e batendo os braços, só quero esquecer um
pouco os problemas que me rodeiam, a incerteza do meu futuro, o sentimento
que cresce em mim e que sinto que não vou conseguir controlar.
Danço sorrindo, me permitindo ser jovem, viver, dançar e sorrir como
se não houvesse o amanhã. Danço uma sequência de músicas e sinto meu
corpo suado, minhas pernas cansadas, mas não paro até sentir uma mão na
minha cintura. Tiro rapidamente dali e sigo dançando, mas ela volta a se
encaixar. Eu me viro e dou de cara com um homem insistente e muito
bêbado.
— Não estou a fim, obrigada.
— Qual é, docinho. Só uma dança — fala enrolado com os olhos quase
fechando.
— Hoje não. Quem sabe depois… — digo e me afasto, esperando que
ele entenda o fora, mas a mão volta a cravar na minha pele, dessa vez perto
demais da minha bunda. Bato na mão com força e grito um “ei!” em protesto.
Antes que o homem possa reagir, eu o vejo sendo jogado no chão e
socado.
Daniel…
O homem passa a mão pelos cabelos e parece chocado.
— Vamos embora daqui — diz no meu ouvido e me conduz
rapidamente em direção à saída.
Entro no carro me sentindo assustada pela situação e pelo ataque de
Daniel ao homem, afinal, ele é uma pessoa pública e importante. Não pode
sair socando quem quiser assim.
— Daniel, você não devia…
— Quieta, Sofia. — Ele liga o carro e sai derrapando pela pista,
dirigindo com a mandíbula travada e o corpo tenso.
— Está tudo bem. Não acho que ninguém tirou foto sua e…
— Não me importo com isso, Sofia — corta de um jeito bruto, e eu me
encolho. — Desculpa. Não quis ser grosseiro.
— Tudo bem — sussurro e encosto o braço na janela, encostando
minha cabeça ali.
Sinto lágrimas vindo e nem entendo o porquê. Frustração? Raiva?
TPM? Realmente não sei.
— Eu não me importo com gente me gravando — fala mais calmo. —
Só fiquei puto com aquele filho da puta te tocando sem seu consentimento.
As pessoas se aproveitam da sua inocência, Sofia. Você não pode permitir
isso.
— Você acha que eu permiti aquilo? — pergunto alto, me sentindo
brava. — Acha que eu quis?
— Não foi isso que eu disse, garota. Ninguém pede para ser assediada.
— Não foi o que pareceu.
— Não foi o que eu disse — repete. — Só falei que você é meiga, doce,
angelical e tem esse jeitinho todo constrangido. Você é como uma droga para
pessoas como…
— Como você? — murmuro brava, mas me arrependo na hora. —
Desculpa. Não foi o que quis dizer.
Ele não me responde, mas sinto que seu corpo ficou ainda mais tenso.
Daniel aumenta a velocidade, e preciso me segurar no banco enquanto ele
ultrapassa os carros na pista, recebendo buzinadas descontroladas durante
todo o percurso.
Daniel estaciona em seu prédio e não tem o trabalho de abrir a porta
para mim desta vez. Pelo contrário, desce bem puto e mal me espera no
elevador. Entro e fico quietinha no canto, querendo chorar. Meus lábios
tremem, mas não as deixo cair. Nem morta. Quando chegamos ao seu
apartamento, ele entra e anda decidido até seu quarto.
— Daniel! — chamo e vou atrás dele. — Pode me dizer por que está
tão bravo? Eu não fiz nada para me tratar assim.
Ele me ignora e segue em direção ao seu quarto, me deixando para trás.
— Daniel!
Ele não volta, o filho da mãe. Corro para o quarto de hóspedes e solto
um gritinho frustrado, que sai junto com as lágrimas. Tiro o vestido
rapidamente e o jogo no canto junto com os sapatos e os brincos. Não quero
nada daquele mal-humorado e grosso da caramba! Entro no chuveiro, tomo
um banho rápido para tirar o suor do meu corpo e me seco, fazendo tudo
rápido. Visto uma roupa qualquer e começo a juntar tudo que está espalhado
no quarto, jogando na mala. Preciso ir embora daqui.
Não consigo lidar com o humor daquele homem. Não consigo lidar com
o que eu sinto quando ele me trata bem e em seguida me trata com grosseria.
Não consigo lidar com as coisas que sinto quando ele me olha daquele jeito.
Recolho tudo e fecho a mala com dificuldade. Calço uma sapatilha e
começo a arrastar a mala pelo corredor, sem olhar para trás. Não sei para
onde vou. Vou voltar para a casa dos meus pais, prometer que vou fazer o
que eles quiserem e torcer para me aceitarem. É isso.
— Para onde está indo, Sofia? — Escuto Daniel falando comigo, mas
não paro e nem me viro, sigo andando pelo corredor em direção à saída. Pelo
menos acho que é. Dou de cara com um lugar que não tinha visto e volto,
tentando me localizar. Quando estou prestes a voltar para mudar de direção,
Daniel me enquadra.
— Aqui é o meu escritório. Vou repetir só uma vez, Sofia: para onde
está indo?
— Não te interessa — respondo, empinando o queixo.
Estou brava com tudo isso. É culpa dele que eu me… Merda. Culpa
dele que eu me apaixonei. Quem se apaixona por um brutamontes arrogante e
mandão assim? Só eu! Burra.
— Não seja criança, garota. Não pode dar birra a cada vez que ficar
insatisfeita.
— Não estou dando birra coisa nenhuma, só estou cansada, Daniel!
Cansada de você nesse chove e não molha, nesse seu humorzinho infeliz,
nessa sua carranca. Custa dar um sorriso, ser gentil? Eu não sou obrigada a
ficar aqui aguentando sua cara feia de quem comeu e não gostou! E você
precisa parar de culpar a minha inocência por tudo, caramba!
Sigo arrastando minha mala, mas Daniel a segura. Olho para seu rosto e
vejo que ele parece surpreso.
— Você é uma coisinha irritante quando quer… Puta que pariu.
— E você é irritante sempre! Acho que estamos quites — rebato,
querendo dar língua, mas me controlo. — Onde fica a saída?
— Eu vou parar, ok? Já não fiz o que você queria? Não passei a tratar
melhor as pessoas? — fala, soltando um suspiro.
É minha vez de arregalar os olhos. Ele mudou o jeito por mim?
— Pau que nasce torto nunca se endireita, Daniel — digo, disfarçando o
choque. — Com licença.
Ele não só não se afasta, como me imprensa na parede.
— Se você insistir nessa história de ir embora para voltar para sua casa,
eu vou te dar umas palmadas, Sofia. Você vai implorar por uns tapas.
— E por que eu faria isso? — pergunto baixo, olhando para sua boca.
— E por que você se importa para onde eu vou?
— Eu me preocupo contigo, garota. Já falei. Às vezes parece que você
implora para ser resgatada. Assim como parece que seu corpo implora por
mim. Só não faço isso, Sofia, porque você não parece saber muito o que quer
da vida.
— E você sabe o que quer o tempo todo, bonzão? — zombo, e ele
suspira quase na minha boca.
— Sei. Quer que eu diga o que quero agora?
Dou de ombros, fingindo não estar afetada com sua proximidade, com
seu corpo quente tão perto do meu, mas estou fervendo, louca de vontade que
ele me toque.
— Quero você embaixo de mim, gemendo meu nome alto, com meu
pau entalado na sua boceta, enquanto aperto esse pescoço e o vejo ficando
vermelhinho logo em seguida — murmura, encostado no meu ouvido. — E
você assim, com essa ousadia que aprendi a gostar, só me deixa com mais
vontade. E você, Sofia? O que você quer? Você sabe o que quer, garota?
Engulo em seco e fecho os olhos, sentindo o cheiro gostoso de banho.
Agora que a raiva passou, percebo que ele está de novo só com a bermuda de
dormir.
— Eu quero isso também — falo antes de que possa me controlar.
— Você quer? Quer de verdade, Sofia?
Seguindo meu corpo e meus desejos, eu solto a mala e levo as mãos até
seu peitoral, descendo devagar e timidamente pelo seu corpo até chegar à
barra da bermuda folgada. Sinto Daniel arfar de surpresa quando começo a
descer a peça. Ele fica imóvel, respirando de forma ruidosa perto do meu
ouvido, até eu deslizar completamente e descer meu corpo, encostada na
parede.
Coloco em prática o que aprendi a gostar na viagem. Gosto de como ele
reage quando eu o chupo. Ele fica tão entregue, menos travado, parecendo em
outro mundo. Sua mão gruda no meu cabelo imediatamente, ditando o ritmo,
e eu me adapto a ele. Exploro e chupo cada parte, descobrindo seus pontos
sensíveis conforme Daniel aperta meu cabelo com mais força. Lambo, chupo
até o fim e me engasgo, mas não desisto. Quando tenta me afastar, sei que
está chegando ao ápice, mas o prendo pela bunda.
— Sofia… — Entro em êxtase quando chama meu nome de um jeito
tão erótico, e isso me impulsiona a continuar chupando, querendo mais
daquilo.
Daniel geme alto, de um jeito bruto, e me assusto quando sinto o
líquido quente na boca. Engulo tudo mesmo que não seja a coisa mais
gostosa do mundo, mas vale a pena ao vê-lo assim, tão lindo e descontrolado.
Quando seu corpo para de tremer, ele me levanta e me coloca contra
seu corpo, olhando para mim do jeito que eu me apaixonei. Daniel me leva
para o que imagino ser seu quarto, mas não analiso porque tudo o que
importa está na minha frente.
— Você quer mesmo isso, Sofia? Eu não estou te forçando a nada.
— Quero — digo baixinho. — Eu quero ser sua.
Daniel rosna e passa as mãos no cabelo após me jogar na cama.
— Não fala isso, garota. Se continuar falando essas coisas desse jeito,
vou querer te comer para sempre.
Meu coração dá um salto de empolgação, e o observo se afastando em
direção à mesa de cabeceira. Ele volta com uma fileira de camisinhas e as
joga na cama antes de se aproximar de mim de novo.
Daniel se desfaz das minhas roupas com pressa, afoito, como se
estivesse ansioso para me tocar. Suas mãos tocam todo meu corpo após me
livrar da calcinha. Começa a me explorar com a boca, desde meu rosto até
minha virilha, em uma trilha demorada, lenta e torturante demais para meu
gosto.
— Daniel…
— Você vai precisar me guiar, Sofia. Eu realmente nunca fiz isso
devagar — murmura com a voz grossa, parecendo deslumbrado. — Nunca
quis tanto foder alguém como estou querendo agora. Nunca. Você me ajuda a
não te machucar muito?
— Ajudo — murmuro, me sentindo ansiosa ao invés de tensa.
Nunca quis tanto alguém também. Queria dizer isso, mas não quero
estragar o momento, não quero que ele pare por alguma besteira que eu possa
dizer, então fico calada. Somente gemidos saem da minha boca enquanto ele
me chupa, lambendo meu clitóris de uma forma que aprendi a adorar. Daniel
se entrega ao me dar prazer, e é emocionante. Não para até eu gozar na sua
boca, deixando meu corpo mole, trêmulo e pedindo por mais. Meu nervo
treme de prazer, e meu corpo de ansiedade.
Vejo Daniel se protegendo com a camisinha e o olho, tão lindo. Queria
que ele estivesse apaixonado neste momento, que estivesse sentindo o
coração tão rápido quanto o meu, mas me contento por ser com ele. Eu me
sinto mais pronta do que jamais estive com Marcos.
— Não estou nervosa — falo, tocando seu rosto de leve. Ele fecha os
olhos e me beija de leve, franzindo a testa de leve. — Pode continuar me
beijando enquanto você… sabe?
Daniel para, parecendo abalado com alguma coisa, mas acena e me
beija devagar. Sinto se posicionar na minha entrada e fico com medo do
tamanho, mas ele se afasta e sussurra:
— Vou com cuidado.
Sinto que estou nas mãos certas e volto a relaxar em seus braços. Puxo
seu rosto para me beije de novo, e ele não se afasta dos meus lábios enquanto
entra, devagar, gostoso e doloroso. Uma lágrima escorre do meu olho, e
Daniel a limpa com cuidado, o que só faz com que mais caiam.
— Quer que eu pare? — pergunta, torturado.
— Não, por favor — imploro. — Eu quero você.
— Ah, garota. Você vai foder minha vida.
Entendo isso como um elogio e aperto suas costas enquanto ele termina
de entrar em mim, me fazendo sentir esquisita. Dói, arde, mas é como se isso
ficasse em segundo plano quando começa a me estimular com o dedo, indo
devagar.
Foco na sua expressão de prazer, no lábio preso entre os dentes, e me
permito esquecer da dor. Demora para que eu comece a sentir prazer físico,
mas meu coração está quentinho por Daniel estar gostando.
— Está machucando? Que porra de boceta apertada, Sofia.
— Um pouco, mas é gostoso — respondo com o corpo quente.
Ele acena e continua me estimulando, dessa vez sem desviar o olhar do
meu. O vai e vem gostoso aumenta de ritmo, e Daniel atinge um ponto que
me faz arrepiar da cabeça aos pés. Gemo baixo, tímida, e ele repete. De novo
e de novo, movimentando o quadril em círculos.
— Assim é gostoso, pequena? — pergunta, repetindo o gesto, sabendo
que encontrou uma posição gostosa para mim. Isso toca meu coração
novamente. — Quero você gozando gostosinho para mim, Sofia.
Eu aceno devagar.
— Queria te colocar de quatro e te foder até te deixar ardida, garota,
mas hoje você me escapou — murmura, e vejo o seu corpo maravilhoso
brilhando de suor enquanto segue estocando. Eu me perco nas tatuagens
assim, tão perto de mim. — Só hoje, Sofia.
Seu ritmo é rápido e intenso, mas não é bruto a ponto de me machucar.
Daniel se inclina para chupar meus peitos e volta a meter. Meu corpo se
arrepia novamente e treme. Sinto algo crescendo, e minhas vistas ficam
turvas quando o prazer chega ao máximo. Nada se compara a sensação de
gozar ao redor de um pênis. Não mesmo.
— Porra, garota. Você está me apertando pra caralho — Daniel rosna e
mete mais rápido, cravando as mãos nos meus peitos, os apertando com
força. Isso intensifica meu orgasmo e o prolonga. Abro os olhos a tempo de
ver Daniel gozando. Que cena linda… Seus lábios somem quando ele os
aperta, e eu foco nisso, gravando cada expressão dessa porque pode muito
bem ser a última vez que a vou ver. — Porra, Sofia.
Estico a mão e toco seu rosto, o que o faz abrir os olhos para me olhar
enquanto finaliza seu orgasmo e eu finalizo o meu.
— Você é lindo.
Ele esconde seu rosto na curva do meu pescoço e controla a respiração.
Vejo sua expressão se transformando e seguro seu corpo antes que saia de
mim. Sei que vai se fechar novamente porque aprendi a conhecê-lo.
— Não se fecha de novo. Me deixa… entrar aí. Me deixa aproveitar um
pouco mais disso aqui — digo, quase chorando. — Só hoje, Daniel. Deixa o
Daniel carrasco fora daqui.
Vejo sua expressão ainda mais surpresa e acho que vai fechar a cara,
mas a ruguinha da sua testa se suaviza, e ele toca meu rosto de leve. Dá um
beijo na minha testa e sai de mim. Estou quase chorando quando o homem
me puxa para seu corpo, me fazendo aninhar ali.
— Obrigada — sussurro, cheirando seu peito, gravando os detalhes.
Quero me lembrar desse momento para sempre.
DANIEL

Não sei mais quantas vezes vou dizer que perdi a cabeça. A essa altura
já entendi que quando o assunto é Sofia, esse é praticamente meu mantra.
Perdi a porra da cabeça.
Mergulho na piscina aquecida da cobertura, vendo o sol nascer ao
longe. Nem sei quanto tempo fico aqui, mas eventualmente ouço o som de
passos hesitantes se aproximando e levanto os olhos para ver Sofia chegando
na varanda.
Trinco os dentes para a visão da garota na minha frente. O cabelo está
completamente bagunçado, a pele está toda avermelhada, o maldito lábio está
preso entre os dentes e ela me olha como se não tivesse a menor ideia do que
fazer. Ótimo, somos dois então, porque eu também não sei. Não estou
acostumado a ter que lidar com mulher nenhuma que fodi na manhã seguinte.
Para completar, ela está dentro de uma camiseta minha que não cobre nada.
Uma camiseta minha. Mulher nenhuma nunca vestiu roupa minha.
— Oi — ela diz baixinho.
— Oi — respondo ainda olhando para ela, mas Sofia desvia o olhar e
encara os seus pés.
— Eu…
— Vem aqui — ordeno, e ela volta a me olhar. — Entra na água.
Ela separa os lábios e aperta as sobrancelhas.
— Eu não estou de biquíni.
Arqueio a sobrancelha.
— Não tem nada aí que eu não tenha visto, Sofia. Entra na água.
Ela pisca algumas vezes e concorda com a cabeça. Começa a puxar a
blusa devagar para fora do corpo e a derruba no chão. Sinto meu pau pulsar
com a visão do corpo nu. Sofia senta na beirada da piscina e coloca os pés
dentro da água. Eu me aproximo e a puxo pelas pernas. Ela solta um gritinho
quando afunda junto comigo, e a prendo no canto da piscina. Puxo suas
pernas ao redor do meu quadril e afundo o nariz no seu pescoço.
— Daniel…
— Você está dolorida? — pergunto. Cubro sua boceta com a palma da
mão, e ela geme baixinho.
— Um pouco — diz, o pescoço corando daquele jeito gostoso.
Suspiro e mordisco o lóbulo da sua orelha.
— Te machuquei muito?
Ela balança a cabeça dizendo que não, e respiro quase aliviado. Que
porra está acontecendo comigo? Por que me importo para começo de
conversa? Não é Sofia que insiste que é uma mulher adulta, que sabe o que
está fazendo? Eu não devia precisar me preocupar se sua primeira vez foi boa
ou não, mas aqui estou eu preocupado.
Sofia aperta meu quadril com as pernas. A cabeça do meu pau roça na
sua entrada, e ela suspira.
— Não sabia que você estava nadando sem roupa.
— Estou dentro da minha casa, Sofia. Para que vou ficar vestido? —
pergunto. Aperto sua cintura e me imprenso mais contra ela. — Por que você
está calada desse jeito?
— É… estranho. A gente…
— A gente transou — completo por ela e vejo seu rosto ficar
completamente vermelho. — Foi bom?
— Foi gostoso — ela responde enquanto olha para a minha boca.
— Ótimo — respondo. — Mas ainda não te fodi do jeito que eu queria.
Sofia estremece nos meus braços, apoia as duas mãos nos meus ombros
e me olha com os lábios entreabertos.
— Você vai me deixar te foder, pequena? — pergunto, arrastando o
polegar no seu lábio. — Vai me deixar te colocar de quatro e enterrar nessa
boceta apertadinha que você tem?
Ela ofega e se agarra ainda mais em mim.
— Você… quer?
Rio e levo uma mão até o meio das suas pernas. Começo a estimular
seu clitóris, e ela solta um dos gemidos deliciosos que tem.
— Se eu quero te comer, Sofia? Preciso te foder, garota. Você está me
enlouquecendo.
— Mas e o trabalho, Daniel? Eu ainda trabalho para você, as coisas vão
ficar estranhas. Você é meu chefe. Meu Deus, isso não devia nem ter
acontecido.
Sinto um revirar no estômago com esse tom de arrependimento dela e
pressiono seu corpo ainda mais na beira da piscina. Ego ferido é uma bosta
mesmo. Mulher nenhuma nunca se arrependeu de ter trepado comigo, e ela
não vai ser a primeira. É isso.
— As coisas só vão ficar estranhas se você deixar que fiquem — corrijo
e deslizo um dedo para dentro dela. Sofia geme. — No trabalho, a gente
trabalha. Nada mudou, pequena. Ainda sou seu chefe.
— É meu chefe, mas a gente…
— Seu chefe que te fodeu gostoso e quer foder de novo — completo
para ela. — Só por hoje. Só para eu matar a vontade de você, garota. Diz que
vai ser minha hoje, Sofia.
Ela geme baixinho enquanto a penetro com os dedos, e eu coloco a
outra mão no seu pescoço.
— Responde, pequena.
— Vou ser sua, Daniel — sussurra e morde o lábio. — Sou sua.

***
— Parece que está tudo certo.
Eu me levanto da cadeira e forço um sorriso no rosto enquanto aperto a
mão do homem que acabou de assinar um contrato de exclusividade com a
gente. Agora a rede de lojas de produtos femininos mais famosa da cidade
pode vender somente os nossos produtos.
— Obrigado pela confiança — eu digo e troco meia dúzia de palavras
com o homem e seus advogados.
Essa reunião parecia que não ia acabar nunca. Faz pelo menos três
horas que estamos aqui com uma equipe inteira de advogados e marketing
para convencer esse cara de que a proposta era vantajosa. Ele inclusive pediu
uma amostra dos produtos, então a mesa está lotada de vibradores,
lubrificantes e brinquedos sexuais variados.
Foi uma puta de uma tortura manter a expressão séria e concentrada
enquanto eu assistia Sofia ficar cada vez mais vermelha e boquiaberta a cada
produto novo que a equipe apresentava. Depois desse tempo todo e de todas
as vezes que comi essa garota até não aguentar mais, Sofia ainda parece a
coisinha mais inocente que já existiu nesse mundo.
Faz três semanas que eu prometo que vai ser a última vez e continuo
fodendo Sofia no segundo em que pisamos no meu apartamento. É uma
maldita tentação ficar o dia inteiro encarando sua bunda apertada dentro da
saia e seus peitos esmagados pelo decote.
— Foi ótimo fazer negócio com você, Daniel — o homem fala e se
despede. Ele sai da sala acompanhado da sua equipe e aos poucos os meus
funcionários vão também. Vejo pelas janelas que o andar está vazio, e não era
para menos já que passam das sete da noite. Sei que todo mundo vai embora
imediatamente, e sobramos somente eu e Sofia dentro da sala de reuniões.
Ela não presta atenção em mim. Está ocupada anotando alguma coisa
na agenda e olhando furtivamente para alguns dos brinquedos espalhados
pela mesa.
— Do que você gostou? — pergunto, e ela dá um pulinho no lugar.
Levanta os olhos verdes arregalados para mim e separa os lábios. Arqueio
uma sobrancelha e espero pela resposta.
Sofia estica a mão e segura um plug anal.
— O que é isso? — ela pergunta. Trinco os dentes, e meu pau pulsa
imediatamente dentro da calça. Olho para ela por alguns segundos antes de
fechar todas as persianas da sala e trancar a porta.
— Do que mais você gostou? — pergunto, ignorando a pergunta dela.
Sofia larga o plug e passa os olhos pela mesa de novo. Pega um dildo.
Ando até ela e tomo da sua mão. Eu a puxo pelo braço e a viro de frente
para mim. Sofia arregala os olhos, e vejo seu peito subir e descer com a
respiração acelerada.
— Um pau de borracha, Sofia? — pergunto entredentes. Seguro seu
rosto e começo a subir sua saia com a outra mão. — O meu não está sendo o
suficiente para você?
— O que você está fazendo? — ela pergunta ofegante. Invado sua
calcinha com os dedos e encontro sua boceta úmida. Arqueio uma
sobrancelha para ela.
— Molhadinha, Sofia? — pergunto e começo a circular seu clitóris. —
É por isso que você estava vermelha a reunião inteira? No que estava
pensando, garota? — praticamente rosno no seu ouvido enquanto enfio um
dedo dentro dela.
— Daniel…
— Eu te fiz uma pergunta, pequena — insisto. Desço a boca pelo seu
pescoço até chegar nos seus seios e começo a chupar sua pele ali por onde a
blusa deixa.
— Vocês estavam falando de sexo, prazer e orgasmos como se não
fosse nada demais.
— É literalmente meu trabalho — interrompo.
— E eu estava pensando em você — sussurra. Afasto o rosto dos seus
seios e olho para ela com uma sobrancelha arqueada. — Eu estava…
— Você estava fantasiando comigo, Sofia? Com o seu chefe, durante
seu horário de trabalho? — pergunto e acelero mais os dedos dentro dela. Ela
geme e joga a cabeça para trás. — O que eu faço com você, garota?
Tiro as mãos de cima dela só para poder puxar Sofia para cima e a
colocar sentada em cima da mesa. Jogo para o lado tudo que está no caminho
e empurro seu ombro para baixo para que ela deite na mesa. Embolo a saia na
sua cintura e coloco sua calcinha para o lado.
— Daniel, nós estamos no trabalho. Alguém pode entrar — ela diz
quando vê que estou desafivelando meu cinto. Ignoro e abro a calça. Seguro
meu pau duro e me masturbo algumas vezes olhando para a cena deliciosa
dela deitada na mesa com as pernas bem abertas para mim.
— Essa empresa é minha — digo e puxo suas coxas para mim. Ela
prende os calcanhares atrás da minha bunda. — Se eu quiser te foder em cima
da mesa, vou te foder em cima da mesa. — Posiciono meu pau na sua entrada
e forço para dentro. Ela morde o lábio com força. — Se eu quiser te fazer
gritar para a porra do andar inteiro ouvir, vou te fazer gritar.
Estoco com força e de uma vez só, e Sofia grita.
Seguro sua bunda e meto com força. Gemo quando Sofia geme meu
nome, vendo seus seios balançarem com o movimento. Acelero a velocidade
das estocadas e vejo Sofia começar a derreter debaixo de mim. Nessas
semanas, aprendi a ler seu corpo. Sei quando ela está prestes a gozar. O jeito
que abre a boca e joga a cabeça para trás, o jeito que seu corpo começa a
tremer. Então eu paro antes que ela possa gozar e saio de dentro dela.
Sofia pisca confusa.
— Fica de quatro para mim — ordeno, e seus olhos se arregalam
quando entende. Essa virou a posição favorita dela depois que trepamos uma
vez na bancada da cozinha. Sofia goza bem rápido quando está com essa
bunda empinada para mim.
Ela se arrasta para fora da mesa, e eu viro seu corpo de costas para mim
com um movimento brusco que a faz ofegar. Empurro seu peito contra a
mesa e puxo uma perna para cima antes de meter de uma vez só de novo.
— Que delícia de bocetinha apertada, Sofia — digo no seu ouvido
enquanto estoco fundo. Puxo seu cabelo para trás, e ela geme baixinho. — De
quem é essa boceta, pequena?
— Sua — ela geme, e eu perco o pouco controle que tinha. Acho que
nunca a fodi tão forte quanto agora. A mesa balança, e Sofia geme alto. Levo
uma mão ao seu pescoço e aperto a pele avermelhada.
— Minha — rosno. — A única coisa que você vai ter dentro dessa
boceta é o meu pau, Sofia. Ouviu? — pergunto quando tudo que ela faz é
gemer. — Repete para mim.
— Só o seu… Daniel…
Estapeio sua bunda e acelero ainda mais as estocadas.
— Repete — digo entredentes.
— Só o seu pau — diz ofegante, e eu lago outro tapa forte na sua
bunda.
— Nem pinto de borracha, nem o pau de mais ninguém — aviso,
arrastando a mão pelo seu pescoço. — Acha que não vi o jeito que aquele
filho da puta estava te olhando?
Um dos advogados passou a porra da reunião inteira babando nela. Sem
nem se dar ao trabalho de disfarçar. Se ela percebeu, eu não sei e não me
importo.
— Daniel…
— Essa boceta é minha, Sofia — decreto e levo os dedos ao seu clitóris.
Ela geme mais alto e começa a tremer debaixo de mim. — Goza para mim,
pequena. Goza no meu pau.
Ela obedece, e sinto meu pau sendo esmagado quando se desfaz
debaixo de mim. Sofia mela minha ereção, geme meu nome e me descontrola
por completo. Não preciso de mais do que algumas estocadas fortes para
gozar também e desabar em cima dela.
Passo a mão pela sua bunda e encaixo o polegar entre as bandas. Ela
estremece.
— Esse cu vai ser meu em breve também — aviso. Ela me olha por
sobre o ombro com o rosto completamente vermelho e o cabelo despenteado.
Os olhos estão arregalados, e eu sorrio. — Isso é medo ou excitação,
pequena?
Ela morde a pontinha do lábio.
— Os dois.
Saio de dentro dela e puxo Sofia para um beijo bruto.
— Repete — ordeno contra a sua boca. Ela entende o que quero.
— Só sua, Daniel.
DANIEL

— Você está exagerando — digo ao telefone e ouço um protesto do


outro lado da linha.
— Eu decido se estou exagerando ou não, Daniel! — minha mãe
reclama. — É sábado, não quero saber se você tem que trabalhar. É dia de
descanso e não tem motivo nenhum para você não vir visitar sua mãe!
Estou parado na porta da varanda assistindo Sofia pegar sol. Ela está
deitada na espreguiçadeira ao lado da piscina, o biquíni minúsculo sem cobrir
nada da bunda virada para cima. Não morreu de amores quando comprei a
peça, mas ver a calcinha enfiada no seu traseiro faz valer a pena o surto que
ela deu quando viu.
— Não estou trabalhando — garanto e começo a me aproximar dela.
Dona Luciana faz silêncio do outro lado da linha por alguns segundos.
— Não está? — pergunta, e eu nego. — O que está fazendo então?
— Me preparando para tomar um banho de piscina — digo. Chuto os
chinelos para fora dos pés e rio quando ela praticamente engasga com nada.
— Você? Piscina? Não consigo acreditar.
— Pois acredite — garanto.
Sofia me vê e vira de barriga para cima, abrindo um sorriso bonito. A
parte de cima do biquíni não faz um trabalho melhor cobrindo nada também.
Sento na espreguiçadeira ao seu lado, afasto o triângulo pequeno que cobre
um seio e belisco o mamilo rosado. Ela prende o lábio entre os dentes. Indico
a piscina com a cabeça e ela se levanta.
— Você vem? — pergunta baixinho, e faço que sim com a cabeça.
Mas não é baixo o suficiente.
— Isso foi a voz de uma mulher? — minha mãe pergunta chocada no
telefone.
Reviro os olhos e assisto Sofia mergulhar na piscina.
— Como se fosse alguma novidade que seu filho não fez nenhum voto
de castidade, dona Luciana — brinco.
— Olha o respeito, moleque — repreende. — E desde quando você tem
mulheres no seu apartamento em um sábado à tarde? Isso tem cara de
namoro, não dessas sem vergonhices que você faz.
— Eu sei me comportar como um ser humano decente à luz do dia
também, mãe — me defendo, bufando. Mas um vinco cresce entre as minhas
sobrancelhas porque percebo que ela tem razão. Não é nem um pouco do meu
feitio dar atenção à mulher nenhuma fora do quarto.
É verdade que fodo Sofia o tempo inteiro e em todos os cômodos da
casa, mas tenho passado tempo demais com ela sem meu pau estar enterrado
bem fundo nela.
— Por acaso é aquela menina bonita que começou a trabalhar com
você? — pergunta, e eu trinco os dentes.
— Mãe…
— A Raquel volta de licença-maternidade em algumas semanas, não é?
— Em pouco mais de um mês — concordo, percebendo como o tempo
passou rápido.
— Pois eu acho bom você fazer alguma coisa a respeito daquela
menina. Senão ela vai sumir da sua vida e você nunca mais vai vê-la.
Aperto o osso entre os olhos, sentindo o estômago revirar.
— E por que motivo eu ia querer que ela ficasse na minha vida, mãe?
— pergunto com um suspiro. — Ela é só minha secretária.
Quando digo isso, ergo os olhos para assistir Sofia nadando na outra
ponta da piscina. Sorridente, os olhos enormes brilhando quando olha para
mim. Meu coração bate descompassado quando percebo que é verdade. Ela
vai sumir da minha vida muito em breve. A amiga vai voltar da casa da tia
em algum momento, e Sofia vai morar com ela. Raquel vai voltar da licença-
maternidade, e Sofia não vai mais trabalhar para mim. Não vai ter motivo
nenhum para que essa garotinha irritante faça parte dos meus dias.
E por que porra eu ia querer que fizesse de qualquer forma?
Ela é boa de foder, mas não é a única boceta no mundo.
Sofia é competente, linda, divertida, inteligente, doce e completamente
viciante, é verdade. Eu perco um pouco a cabeça quando ela grita comigo, me
excita quando me desafia e me encanta quando se comporta feito uma menina
que não sabe nada da vida. E está sendo uma delícia ser o homem que está
ensinando tudo a ela. Na cama e fora dela, porque ela tem realmente sido
minha sombra no trabalho e tem aprendido muito.
Assim que Raquel voltar da licença-maternidade, ela vai começar a
faculdade e vai estar muito mais preparada para a vida. Sem o escroto do ex-
noivo e sem os pais a impedindo de viver. Sem a inocência que tinha quando
caiu das minhas mãos. Não vai demorar para Sofia conhecer algum filho da
puta qualquer que vai fazer com ela tudo que eu faço.
— Preciso ir — digo para minha mãe e desligo o telefone.
Arranco o que tenho restante de roupa e pulo na piscina. Consigo ouvir
sua risadinha daqui.
— Você adora nadar sem roupa — ela diz enquanto me aproximo. —
Tem sorte que os vizinhos não podem te ver, senão…
Ela não termina a frase, porque solta um gritinho quando a alcanço a
puxo sua boca para mim. Eu a beijo com violência e desespero e sinto Sofia
ficar molinha nos meus braços sem qualquer dificuldade. Ela sempre se
entrega sem qualquer resistência.
— Está tudo bem? — ela pergunta quando solto sua boca, olhando com
atenção para o meu rosto. Leva o polegar até minha testa. — Você está com
uma ruguinha bem aqui. Sempre fica com essa ruguinha quando está
pensando. O que aconteceu?
— Você faz muitas perguntas, Sofia — digo e puxo sua bunda para
perto. — Prende as pernas na minha cintura que eu vou te foder.

***

— Você está estranho — ela diz e se aninha nos meus braços.


Estamos sentados na sala assistindo a um filme idiota de comédia
romântica que ela escolheu, e Sofia está pendurada no meu colo desde que
começou. É sábado à noite e eu estou sentado na porra do sofá assistindo
filme com uma mulher gostosa no meu colo. Quando foi que essa merda
aconteceu?
— Está calado o dia todo.
— Você que fala demais, Sofia — respondo.
Ela sai dos meus braços e franze o cenho.
— E agora está sendo grosso. O que aconteceu?
— Não estou sendo grosso — rebato entredentes, me sentindo inquieto.
Sofia suspira e cruza as pernas. Senta de frente para mim e me encara
até que eu suspiro e olho para ela. Encontro os olhos brilhantes me
analisando com cuidado.
— O que aconteceu? — pergunta baixinho. Estica a mão para tocar meu
rosto, mas eu desvio. O vinco no seu rosto aumenta. — Eu fiz alguma coisa?
Solto uma risada amarga e me levanto do sofá bruscamente. Fez.
Colocou alguma porra de feitiço em mim porque não me reconheço e não
gosto nem um pouco disso.
— Daniel… — ela chama, mas meu celular toca e eu o puxo do bolso,
aproveitando a oportunidade para fugir das suas perguntas.
— O que é? — digo assim que atendo.
— Dormiu de jeans apertado, foi? — Samuel pergunta do outro lado da
linha, e eu reviro os olhos para a algazarra que está acontecendo seja lá onde
ele está.
— O que você quer? — pergunto, ignorando a provocação idiota.
— Parece que fiz bem em te ligar. Você claramente está precisando
extravasar um pouco — grita mais alto que a música. — Estou naquela boate
de sempre. Vem para cá!
Esfrego o rosto, sem a menor paciência para os surtos do meu irmão
agora. Estou para perguntar por que eu faria essa merda, mas ele continua.
— Aquele ruiva gostosa daquele dia está aqui e não para de perguntar
por você. E ela trouxe amigas. No plural, Daniel. Amigas! — ele berra como
um adolescente com tesão.
Reviro os olhos e encosto na parede. De canto de olho, vejo os olhos de
Sofia ainda em mim.
— A não ser que a mãe esteja certa e você está de namoradinha — ele
debocha.
Sinto o corpo inteiro enrijecer.
— Para de falar merda — rosno, e ele ri mais alto.
— Então vem logo que tem mais mulher aqui do que eu consigo dar
conta.
Samuel desliga o telefone, e eu aperto o aparelho entre os dedos. Fecho
os olhos apertados e respiro fundo. Não estou com nenhuma vontade de me
meter em noitada e gastar tempo com mulheres aleatórias que só vão me dar
dor de cabeça.
— Daniel? — a voz doce de Sofia me atinge de perto, e abro os olhos
para encontrá-la parada na minha frente.
A expressão preocupada que tem no rosto me desarma, e sinto um bolo
na garganta. Ela está linda. Com o cabelo preso de qualquer jeito, vestindo
uma camiseta minha e nada mais. Absolutamente linda, e eu quero voltar para
aquele sofá e prender seu corpo pequeno em mim. Quero me enterrar nela e
me esquecer do resto do mundo.
Ela fica na ponta dos pés e apoia as mãos nos meus ombros. Meu
coração está batendo desesperado em todas as partes do corpo. Sofia me beija
com doçura. Só encosta seus lábios nos meus com um carinho que não
entendo. Eu seguro seus braços com força, e ela espera. Retribuo o beijo, mas
não tenho nada de bruto para oferecer. Eu a beijo na mesma velocidade lenta
que ela começou e é doce demais. Sofia suspira contra meus lábios e abre um
sorriso pequeno e bonito quando me solta.
— Está tudo bem? — pergunta de novo e me abraça pela cintura. Sinto
o cheiro doce do seu perfume e fecho os olhos. — Estou preocupada com
você.
É o suficiente para que eu praticamente pule para trás e escape do
abraço. Ela me olha confusa.
— Daniel?
— Vou sair — digo e ando apressado até a mesinha perto da porta onde
estão as chaves. Ela vem atrás de mim.
— O quê? Para onde? O que está acontecendo?
Não respondo. Não olho para ela. Não posso olhar.
— Daniel! — chama de novo, mas eu não viro para trás.
Saio do apartamento e bato a porta. Entro no carro e dirijo o mais
rápido que posso para longe dessa garota que está comendo o meu juízo.
SOFIA

Daniel está estranho. Mais do que o normal, no caso. Depois de


passarmos um tempo que se tornou comum para nós dois, vendo filme,
conversando amenidades ou até mesmo sobre trabalho, comendo e
aproveitando a dádiva de não fazer nada, ele voltou ao modo frieza e
simplesmente sumiu. Preciso dizer que me acostumei com suas mudanças de
humor, mas elas tinham sumido aqui na sua casa, agora só aparecem vez ou
outra no trabalho.
Me pergunto se fiz ou falei alguma coisa de errado. Estou meio que
pisando em ovos agora que descobri que estou mesmo apaixonada. Não, não,
apaixonada eu estava algumas semanas atrás, antes de transarmos pela
primeira vez, porque agora eu estou perdidamente apaixonada. Diria até que
eu amo aquele homem.
Deus, como isso foi acontecer? Como fui me apaixonar justo pelo meu
chefe? Justo pelo tipo de homem oposto que eu sonhava para mim. Tudo
bem, Daniel é lindo, com um humor ácido, inteligente, agora descobri que
carinhoso e atencioso, protetor, cuidadoso, rico, mas não foi assim que o
conheci.
Solto um suspiro e olho para a porta do hall para ver se ele entra pela
porta, mas nada. Faz horas que saiu e não voltou mais. Meu corpo está
cansado, e estou morta de sono, mas não quero dormir sem esclarecer as
coisas.
As últimas semanas parecem que fazem parte de um conto de fadas,
com um príncipe meio rude e bruto, mas um conto de fadas. Nós criamos
uma rotina de ida e volta no trabalho, nos encaixamos facilmente na vida um
do outro. Não sei se Daniel percebe isso, mas nós estamos parecendo um
casal não assumido. Não sei se as pessoas da empresa sabem do nosso
envolvimento. Se sabem, não comentam. E não acho que meu lindo CEO se
importe também. Só de pensar naquele sexo na mesa meu corpo treme de
excitação.
Sigo pensativa, sentada no sofá com o queixo encostado no estofado,
quando escuto o barulho de chave na porta. Controlo a vontade de sair
correndo e pular no seu pescoço de saudade, porque não sei como está seu
humor agora.
Daniel me olha de um jeito esquisito, e meu coração salta, não sei se de
medo ou se de emoção.
Ele nunca me olhou assim antes.
— Está tudo bem, Daniel? — pergunto baixinho, e ele desvia o olhar do
meu. Não responde. Nem mesmo um aceno. — Fiquei preocupada com você.
Saiu parecendo meio abalado. Sua mãe e seu irmão estão bem?
— Está tudo bem, Sofia — responde de um jeito seco, e aceno com a
cabeça.
Ele anda em direção ao corredor extenso dos quartos, e mordo o lábio,
sentindo meu coração apertado por não saber o que fazer. Ao invés de ficar
aqui, quieta e calada, como faria antes, eu me levanto e o sigo. Estou quase
entrando no quarto quando escuto Daniel conversando com alguém no
telefone. Sei que não devia, mas preciso de uma resposta, que sei que não vai
vir do homem do outro lado da porta.
Me encosto na cabeça, sentindo a respiração acelerada, e escuto.
— Mãe, está tarde. Pelo amor de Deus! — fala com a voz
aparentemente cansada. — Já disse que não. Não estou apaixonado. Ela não
significa nada. Para sua informação, acabei de chegar de uma foda com outra
pessoa.
Coloco a mão na boca, sentindo as lágrimas vindo de uma vez. Seguro
um soluço que sei que vai sair uma hora.
— Desculpa, mas a senhora pediu. — Ele segue falando e, ao invés de
entrar no quarto e o confrontar como quero fazer, volto para o de hóspedes,
onde estou acomodada.
Fecho a porta de uma vez e o choro sai descontrolado. Eu me sinto
traída mesmo que não devesse. Realmente achei que nós estivéssemos
evoluindo para algo mais. Daniel nunca me prometeu nada, é verdade. Mas
poxa… Estou morando na sua casa, compartilhando jantares, filmes, noites
recheadas de sexo e carícias. Isso não devia significar alguma coisa?
— Garotinha burra — murmuro com a voz de choro e respiro fundo.
A voz de Daniel martela minha cabeça, dizendo que não posso ser
dependente de ninguém. Isso o inclui. Eu me liberei de muitas pessoas
controladoras, da pessoa completamente dependente que eu era. Não irei me
prender a outra, mesmo que o ame de todo meu coração.
Vou me valorizar antes de tudo, ainda que suas palavras dolorosas
martelem na minha cabeça. Ele me largou aqui sozinha, preocupada, para ir
foder com uma qualquer sabe-se lá onde.
Reunindo forças, ando pelo quarto juntando minhas coisas. Tive que
comprar roupas para a estadia aqui, já que ainda não fui em casa desde a volta
da viagem semanas atrás. Então, tudo o que tenho não vai caber na mala
pequena que tenho aqui. Mas não importa. Ele que taque fogo, jogue pela
janela, faça o que quiser. Junto as coisas principais e deixo de lado as roupas
formais de escritório, que não vou precisar mais porque não piso mais
naquele lugar nem morta. Não depois de ter meu coração esmagado.
Reúno meus itens de banheiro e coloco no cantinho. Subo em cima da
mala porque está muito difícil de fechar com o tanto de coisa que coloquei.
Tiro a camiseta miserável com o cheiro de Daniel e deixo jogada em cima do
colchão ainda desarrumado. Visto a roupa que separei e calço as rasteirinhas
antes de abrir a porta. Como da outra vez, saio arrastando a mala pelo
corredor e novamente sinto a presença do homem atrás de mim. Dessa vez
ele não vai me impedir. Nada vai.
— Que porra, Sofia… Estou cansado de ter que ficar te perseguindo
pela casa perguntando para onde vai.
Mostro o dedo para ele ainda de costas, porque não quero que veja meu
rosto cheio de lágrimas.
— Você não me deu dedo, Sofia. — Escuto os passos pesados pelo
piso, mas ando rápido. Agora já me localizei aqui, então não me perco de
novo. — O que deu em você, porra?
Eu o ignoro e estou prestes a chegar na saída, quando sinto meu corpo
chocando com o dele.
— Para onde está indo? Sua amiga chegou? Ia sair sem me dizer nada?
— Eu quero que… — falo, travando a mandíbula.
Olhar para essa cara de pau faz com que a dor seja momentaneamente
substituída pela raiva.
Cansei.
Cansei de ser a Sofia doce que cora, a trouxa que fazem de gato-sapato,
a boazinha que obedece todo mundo, a meiga que não xinga.
— Eu quero que você vá se foder, Daniel. Você e todo mundo de ruim
que passou na minha vida.
Ele se afasta com uma cara de espanto.
— O que deu em você, garota?
— Vai à merda! Me deixa sair — rosno, brava, e sinto minhas mãos
tremendo descontroladas enquanto seguro a alça da mala.
— Não vou deixar até me dizer por que surtou.
Eu o encaro com uma expressão de poucos amigos, e é aí que noto uma
marca de beijo no seu pescoço. O desgramado nem se deu ao trabalho de
tentar esconder. Daniel nota meu olhar e passa a mão pelo pescoço,
manchando os dedos com o vermelho.
Raiva e dor se misturam, e me amaldiçoo pelo dia que decidi entrar na
porcaria daquela empresa, no dia que me envolvi com esse homem naquela
boate mesmo tendo a porcaria de um pisca-pisca indicando perigo. Indicando
que ele ia pisar no meu coração e dançar catira nele.
— Vejo que se divertiu — digo ácida, e ele solta um suspiro alto. Passa
a mão pelos cabelos, parecendo irritado.
Se ele está bravo, imagina eu.
— Não sabia que a gente tinha assinado um contrato de casamento,
Sofia. Não devo satisfação do que faço ou deixo de fazer a ninguém.
Dói ainda mais do que pensei.
Eu já sabia disso, claro. Mas ouvir a confirmação saindo da sua boca
simula várias facas sendo cravadas no meu estômago.
Aceno devagar e mordo a ponta do lábio, sentindo uma lágrima descer
pelo meu rosto.
— Sofia… — Daniel fala de um jeito torturado e se aproxima de mim.
— Não encosta em mim — falo alto, mas me controlo. — Nunca mais
encosta a porra da sua mão em mim.
Os olhos pretos de Daniel saltam. Seria engraçado e libertador apreciar
o meu primeiro xingamento da vida se eu não estivesse tão fula da vida.
— Você tinha razão — digo baixo, limpando as lágrimas. — Sou
inocente demais. Boba demais. Eu sou… Eu fui muito boa com quem não
merecia a minha ajuda, com quem não devia fazer parte de mim.
— O que está falando?
— Meu maior arrependimento hoje, nesse momento, é ter me envolvido
com você, Daniel.
Ele fecha a cara e passa a mão na barba rala, ficando de costas para
mim. Aproveito para tentar passar, para sair daqui, porque preciso respirar,
mas Daniel volta a ficar de frente para mim e impede minha saída.
— Você não sabe o que está dizendo, Sofia.
— Eu sei! Para de me tratar como se eu fosse a porra de uma criança
que não sabe dos próprios sentimentos!
É minha vez de dar as costas para ele. Prendo a respiração para não
sentir seu cheiro.
— Não falei o que falei para te magoar. Disse porque é a verdade. A
gente se diverte bastante. Você é uma companhia gostosa, é inteligente e
divertida. Gosto de passar meu tempo contigo, mas a gente não é um casal,
Sofia.
— Agora eu sei… — digo baixo, para que ele não ouça.
— Sofia?
Me viro para ele e aproveito para dizer o que estava entalado. Agora
não tem mais importância, então não preciso ter medo de rejeição porque ele
já fez isso bem antes de eu dizer.
— Eu me apaixonei por você, Daniel.
Pronto. A expressão de choque está completa. Firmo meu olhar no seu,
esperando uma reação diferente da que estou vendo, mas ela não vem. O
homem só permanece calado, boquiaberto.
— Não precisa responder. Só precisava que soubesse.
— Você não pode, Sofia.
— Eu sei que não, mas me apaixonei mesmo assim. — Dou de ombros
e seco a última lágrima que escorre. Promessa do dia: não chorar mais na
frente dele. — Mas isso vai passar, porque, a partir de hoje, vai ser como se
eu nunca tivesse te conhecido.
— Por que diz isso?
— Você vai ter que arrumar outra secretária para as últimas semanas,
porque eu me demito. — Empino o queixo e o encaro. — Acerto minhas
contas depois e peço para alguém buscar as minhas coisas.
— Para onde você vai, Sofia? Não me diga que vai…
— Isso não interessa a você, Daniel.
Ele repete o gesto de quando está nervoso, a ponto de surtar, passando a
mão pelos fios de cabelos, e solta uma risada ácida.
— Não vou atrás de você, Sofia. Não imagine um conto de fadas.
— E eu não quero que venha, senhor. — Vejo sua expressão se
fechando quando volto a usar o vocativo que não uso há algum tempo. —
Agora, com licença, porque preciso ir embora.
— Eu te levo, Sofia. Não é porque…
— Não — rebato firme.
Toco na maçaneta da porta e encosto sem querer nele. Eu me retraio
como se tivesse tomado um choque e me afasto. Espero que Daniel saia da
frente, e ele sai. Devagar demais, perto demais do meu corpo.
Foco nas suas ações e na sua fala de que nós não temos nada e saio pelo
apartamento carregando apenas a mala que cheguei.
Quando cheguei aqui, eu me senti resgatada por ele. Foi como se de
fato Daniel fosse um príncipe encantado que me resgatou dos pais e noivo
malvados. Mas do que adianta?
Ele me resgatou antes e agora voltou a me afundar. Mas dessa vez eu
sairei do poço sem fundo. Sozinha.
SOFIA
Três meses depois

Hoje o dia está bonito, daqueles em que a gente sente esperança. O sol
entra pela fresta da janela enquanto eu me arrumo para ir à faculdade. O sono
está sendo meu fiel companheiro nos últimos meses e por várias vezes só
sinto vontade de ficar deitada, chorando em posição fetal, mas agora mais do
que nunca preciso reagir e seguir em frente. Preciso finalmente começar a
viver a minha vida.
— TOC TOC. — Me viro e vejo Daiane com duas xícaras na mão.
— Caiu da cama, Dai? — pergunto com um sorriso no rosto enquanto
prendo meu cabelo em um rabo de cavalo apertado.
— Não posso deixar a minha melhor amiga do mundo ir embora sem
tomar um descafeinado e ganhar um abraço meu.
Ela estende a xícara para mim, e agradeço.
— Como você está hoje? — pergunta, com uma expressão de
preocupação.
Não sei o que seria de mim sem essa mulher, honestamente. Daiane é a
irmã que nunca tive e me mostrou nos últimos três meses que sempre vai
estar presente para o que eu precisar, literalmente para tudo.
— Melhor, Dai. Cada dia que passa, eu aceito melhor a minha vida real.
Não sei como vai ser daqui para frente, mas estou vivendo um dia de cada
vez — digo e sento na cama, virando o líquido na boca com uma careta.
Que saudade da cafeína.
— Já te disse, mas repito: estou aqui para tudo, Sof. Qualquer coisa, a
qualquer hora.
— Eu sei, amiga. E eu te amo muito por isso. Mas preciso começar a
arrumar um lugar para eu morar. Não posso ficar para sempre aqui.
— Quem disse que não? A dona da casa sou eu.
Reviro os olhos e deixo a xícara na mesa de cabeceira do quarto que
Dai me cedeu depois que saí da casa dele. Conforme previ, assim que contei
tudo para minha amiga, que estava sem saber de nada desde que fui expulsa
de casa, Daiane deu um jeito de voltar o mais rápido possível. Sua tia, graças
a Deus, estava melhor. Dai não pensou duas vezes em me oferecer um quarto
na sua casa depois de eu passar uma semana em um hotel barato. Ela me
salva sempre.
Mas cansei das pessoas me resgatando de tudo. Sou grata, claro.
Sempre serei. Só que preciso depender mais de mim mesma, principalmente
agora.
— É sério, Sofia. As suas despesas vão aumentar drasticamente. Você
conseguiu passar na federal, mas tem alimentação, transporte. O dinheiro do
estágio mal vai dar para o…
— Não quero pensar nisso agora, Dai. Ainda não. Está sendo… difícil.
— Eu sei, amiga, mas você precisa. — Ela segura minhas mãos e as
aperta, olhando para mim com uma expressão de compaixão. — Sempre que
penso naquele desgraçado, tenho vontade de ir lá e…
— Não foi culpa dele, Daiane. — Solto um suspiro e me levanto, sem
querer ficar parada pensando nele.
Daniel.
Não saiu da minha cabeça um dia sequer, mas cada dia fica mais fácil
viver sem ele estar presente. Tudo na vida é questão de costume. Dói todos os
dias, mas já não choro como antes, já não sinto meu coração sangrando
sempre que seu rosto aparece na minha mente. Só me lembro dos momentos
bons que vivemos e me sinto grata, apesar de tudo.
Com ele que descobri a paixão, o desejo, o amor — este último só da
minha parte, claro. Com ele que aprendi a me soltar mais, a me entregar de
cabeça ao momento intenso ou a aproveitar a calmaria de uma tarde. Apesar
das palavras duras que disse na última vez em que o vi, eu não me arrependo
de ter o conhecido. Ele me trouxe a melhor coisa que podia.
— Você vai se atrasar — Daiane fala, me despertando dos meus
pensamentos constantes.
— Deixa eu ir. Beijo, Dai. Não perca a hora de novo. — Ela me dá
língua e em seguida me abraça apertado, como tem feito todos os dias. — Te
amo, amiga.
— E eu amo você.
Ando até a saída do seu apartamento e dou de cara com as pessoas que
menos esperava ver na vida: meus pais. Também fazia muito tempo que não
os via, mais precisamente quando fui pegar o restante das minhas coisas de
lá. Eles não quiseram falar comigo na época, então me surpreende que
estejam aqui agora, a essa hora da manhã.
— Oi, Sofia. — É meu pai quem inicia a conversa, olhando para o
apartamento com curiosidade. — Nós podemos entrar para conversar?
— Eu… — respondo tardiamente, ainda me recuperando do choque. —
Estou atrasada para a aula.
— Fiquei sabendo que você começou a faculdade. Parabéns, meu
amor… — mamãe diz, e eu aceno, sem me permitir olhar muito para ela.
De todas as pessoas, dona Rose é quem mais me desapontou ao me
deixar para fora de casa.
— Entrem. Mas não posso demorar — falo e vejo Daiane aparecendo
na sala. Ela arqueia uma sobrancelha de interrogação, em uma comunicação
silenciosa que adquirimos ao longo dos anos, e só dou de ombros. Minha
amiga cumprimenta meus pais de um jeito polido e faz um sinal para mim de
que vai estar no quarto. — Sentem.
Meus pais se sentam no sofá em frente para mim e olham para tudo
com curiosidade. O apartamento de Daiane é chamativo, colorido e de muito
bom gosto, então é normal que todo mundo que aparece aqui perca uns
minutos de apreciação.
— E então…
— Nós recebemos uma ligação do seu plano de saúde de que seu…
exame tinha ficado pronto — meu pai fala, mexendo nos dedos.
Meus olhos se arregalam, e sinto meu corpo fraco. Era só o que me
faltava.
— Você… — mamãe completa. — Você está grávida, filha? Por que
não nos contou? Nós teríamos… não sei.
— Vocês teriam me oferecido um lar de novo? Teriam se sentido
menos culpados por expulsarem a filha que buscava apenas independência de
casa? — falo, soltando uma risada seca.
Eles realmente acham que teriam me apoiado se eu falasse que
engravidei fora do casamento, do meu chefe que nem mesmo sabe da
existência desse bebê?
— Nós entendemos sua revolta, Sofia… — meu pai diz.
— Não, vocês não entendem.
Ele parece diferente. Ressentido, culpado, com a guarda baixa, como
nunca vi antes. Mas isso não me comove. Não mais.
Nesses três meses, treinei para não ser a pessoa que aceita tudo, que
perdoa tudo. Criei uma casca grossa no meu coração que só engrossa mais
dia após dia. Não vou ser uma pessoa fria e sem compaixão, porque isso não
faz parte de mim, mas não vou ser trouxa também.
— Passei a minha vida inteira achando que sabia o que era ser feliz —
falo, sentindo o engasgo de um choro que não vai sair. — Foram vinte anos.
Vinte anos, pai. Vocês me dizendo tudo o que eu podia ou não fazer, quem eu
podia ou não ver, quem eu podia ou não me relacionar. Até o que eu podia
comer!
— Nós queríamos proteger você, meu amor.
— Vocês queriam viver a minha vida! — grito, me exaltando. — Não
tenho culpa das frustrações de vocês, dos sonhos não realizados. Vou viver a
minha vida a partir de hoje, então, seja lá o que tenham vindo fazer aqui, não
vai rolar.
Eles se entreolham, e não consigo reconhecer o que tem no olhar dos
dois.
— Não viemos brigar — papai fala. — Viemos te pedir desculpa por
tudo. A gente não devia ter sido tão radical e duro na sua criação, mas a
gente…
Ele solta um suspiro e se cala.
— A gente te ama, Sofia. Mais que tudo no mundo. Perdoa a gente…
— minha mãe completa, e vejo meu pai com o rosto perdido nas palmas das
mãos.
— Eu também amo vocês, mas o perdão vai demorar para vir. Fui
muito ferida e prejudicada pelo que fizeram.
— Tudo bem — dona Rose fala rapidamente, acenando com a cabeça e
limpando o rosto. — Como você está? Precisa de alguma coisa? Por que você
não…
— Mãe, eu estou bem. Não preciso de nada.
— Ok, tudo bem.
Meu pai levanta o olhar e acena. Sei que ele segura muito as palavras,
mas sei que me ama. Isso não muda as coisas e nem tudo o que fizeram, mas
eles me amam.
— Nós seremos avós — ela diz e olha para meu pai, com um sorriso
brando no rosto. — E o… pai da criança?
— Não quero falar sobre isso, mas esse bebê vai ser muito amado por
mim. Ele é meu filho — respondo e me levanto. Eles fazem o mesmo,
constrangidos, mas não tenho como me preocupar com isso agora. Já estou
sendo muito generosa de receber os dois assim depois de tantos meses de
silêncio. Preciso ser mais egoísta e pensar em mim e na criança que carrego.
Vou ser mãe.
Aceitei essa realidade há três semanas depois que minha menstruação
atrasou. Ela nunca atrasava. Nunca mesmo. Era tão regular que parecia que
eu usava anticoncepcional. Não precisei de muito para saber o que tinha
errado. Quer dizer, não considero essa criança um erro. Sempre me imaginei
mãe de muitas crianças, com uma casa grande e um jardim florido. Claro que
tinha um marido que me ama envolvido na fantasia, mas os planos mudam.
Foi um choque. Ainda está sendo, na verdade. Mas é um bebê. Meu
bebezinho que surgiu de uma loucura, mas que vai ter meu amor, apoio,
cuidado e suor diário. Jamais vou deixar que meu bebê se sinta menos amado,
menos querido. Jamais vou escolher seu destino como fizeram comigo. Não
vou repetir os erros dos meus pais.
— Filha… — meu pai fala a caminho da porta, enquanto torce os
dedos. — Se precisar de alguma coisa, nos procure. Deixe que a gente faça
parte da vida dessa criança. Sabe que nós sempre sonhamos em ter um neto.
Aconteceu em circunstâncias diferentes do que a gente esperava, mas a gente
está feliz.
Apenas aceno, sem conseguir dizer muito. Fico feliz que eles não
tenham me afastado mais, mas ainda não estou pronta para demonstração de
afetos. Sei que vai chegar o dia em que vou perdoar os dois, porque não sou
de guardar mágoa por muito tempo, mas preciso do meu tempo.
— Bom, a gente já vai. Fica bem — ele continua, e mamãe acena.
— Até mais, meu amor — dona Rose diz, e eles saem.
Quando fecho a porta, encosto na madeira e solto um suspiro. Um dia
de cada vez. Uma batalha de cada vez.
Daiane sai do quarto e nem pergunta nada, porque provavelmente ouviu
a conversa toda.
— Estou tão orgulhosa de você, minha amiga. — Ela me abraça
apertado, e eu me permito fraquejar.
Minha amiga agora é a única que vê a verdadeira Sofia, a garota doce
que ainda vive aqui, porque o resto do mundo está aprendendo a lidar com a
outra eu que está nascendo, a minha versão mais dura.
— Essa criança vai ter a melhor mãe de todo o mundo — completa e se
afasta, acariciando meu rosto com a ponta do dedo. — E a melhor tia, claro.
Sorrio fraco e sacudo a cabeça, a abraçando de novo, encaixando a
cabeça no seu ombro.
— Sof, quando você vai contar para o desgraçado do Olimpo sobre o
bebê? — pergunta. — Você está evitando o assunto, mas ele precisa saber.
— Ele não vai saber, Daiane. Meu bebê não vai conhecer a rejeição.
Nunca. Não de quem devia o amar.
— Sof…
— Não vai — repito. — Preciso ir. Agora estou mesmo atrasada.
Beijos.
Pego a mochila abandonada no sofá e saio do apartamento, descendo as
escadas correndo para não me atrasar ainda mais. De tão atordoada que estou,
quase sou atropelada por uma bicicleta no meio do caminho.
— Vai com calma, idiota! Tem uma grávida aqui, seu infeliz! — grito,
vendo algumas pessoas saindo de dentro da cafeteria ao lado do prédio de
Daiane para bisbilhotarem.
Algumas pessoas saem dali para perguntarem se estou bem, e apenas
aceno, constrangida pelo rompante de fúria. São os hormônios, perdão.
Meu coração dispara freneticamente quando vejo quem é uma delas.
Daniel.
DANIEL

Sofia.
Grávida?
Olho ao redor para ver se não está falando de outra pessoa, se não tem
uma amiga com ela em algum lugar, mas vejo que está sozinha.
— Você está bem, moça? — um moleque qualquer pergunta e coloca a
mão no braço dela. Uma sensação estranha toma conta do meu corpo, e um
milhão de perguntas inunda a minha cabeça.
Ela está grávida… de quem? Não sei qual alternativa é pior. Esse filho
pode ser meu, e um bebê é a última coisa que pensei em ter nessa vida. Ou
esse filho pode ser de outra pessoa, e isso significa que outro homem tocou
nela.
— Eu estou bem — responde baixinho sem tirar os olhos de mim.
— Precisa de ajuda com alguma cois…
— Ela disse que está bem — eu o interrompo e me aproximo. Tiro a
mão dele de cima dela, odiando ver essa cena. O homem arregala os olhos,
joga as mãos para cima e se afasta. Toco seu antebraço e ela parece congelar
no lugar. — Sofia…
Seu lábio treme, e ela pisca meio erraticamente por alguns segundos.
Aproveito que está desconcertada e olho para a sua barriga. Mal dá para notar
o contorno da barriga por baixo da roupa.
Ela dá um passo abruptamente para trás e fecha a cara.
— Daniel — diz com uma frieza que me faz congelar no lugar. Ela
está… diferente. Não parece mais a menina que eu conheci, não tem mais
aquela inocência bonita no olhar. Sofia empina o queixo e pressiona os lábios
fechados.
Pela primeira vez na vida, eu não tenho a menor ideia do que dizer.
Estou completamente perdido.
— Você… está grávida? — pergunto. Ela abraça o próprio corpo.
— Não é da sua conta — diz e tenta passar por mim. Seguro seu braço e
impeço que ela se afaste.
— De quem é esse filho, Sofia? — pergunto, e ela trava. Os olhos
verdes que têm atormentado meu sono nos últimos três meses se arregalam, e
a boca dela cai aberta.
— De quem… — Ela ri e puxa o braço da minha mão. Sofia me olha de
cima a baixo com uma expressão que nunca vi no seu rosto. — Meu —
responde e começa a andar de novo para longe de mim.
Eu vou atrás dela, e não é difícil a alcançar. Seguro seu braço de novo e
ela puxa com força para longe da minha mão.
— Que droga, Daniel, para com isso! — reclama e volta a andar em
passadas duras.
— Eu te fiz uma pergunta, garota! — praticamente grito quando vou
atrás dela.
Olho ao redor e puxo Sofia pelo braço para um canto escondido entre os
prédios. Ela protesta, mas não é difícil fazer com que venha comigo. Eu a
coloco de costas contra uma parede e cubro seu corpo com o meu.
A proximidade me atinge como um soco no estômago.
Faz tanto tempo…
O cheiro doce ainda é o mesmo. Quase posso sentir seu coração
batendo forte quando a imprenso mais.
— Me deixa ir, Daniel.
— Eu te fiz uma pergunta — insisto. Seguro seu rosto e me esqueço do
mundo por um instante quando toco sua pele macia. Passo o polegar no seu
lábio inferior e aproximo o rosto do dela. — Eu te fodi sem camisinha
algumas vezes.
Eu me lembro agora. Não prestei atenção na hora e fico chocado ao
perceber isso. Nunca transo sem camisinha com mulher nenhuma, mas Sofia
comeu a porra do meu juízo e eu não estava conseguindo pensar direito perto
dela.
— Você claramente não foi o único, já que eu estou grávida — ela
cospe e é como um soco na minha cara. Eu a imprenso ainda mais na parede,
com raiva.
— Quem encostou em você? — pergunto entredentes.
— Não é da sua conta — ela responde.
— Sofia… — digo entredentes e pouso a boca sobre a sua. — Quem foi
que encostou em você? De quem é esse filho?
Todas as imagens se misturam na minha cabeça de uma vez só. O jeito
que ela me virou do avesso na sua primeira vez quando entrou debaixo da
minha pele daquele jeito. Todas as vezes que eu me enterrei nela em todos os
cômodos da casa. O jeito que seu corpo reage ao meu, o jeito que goza
chamando meu nome. E a ideia de que algum filho da puta tenha tido isso me
enche de mais raiva do que eu imaginei poder sentir.
— Não é da sua conta — ela responde e cruza os braços. O que só faz
com que esmague os seios e é ali que eu olho.
— Pela última vez, garota — digo já sem paciência e coloco a boca no
seu ouvido. — Esse filho é meu?
Ela hesita antes de responder e não diz nada por muito segundos, mas
responde por fim:
— Não.
Trinco os dentes e me afasto dela. Meu corpo todo queima, e uma dor
desconhecida me atinge. Passo a mão pelo cabelo, nervoso, e esfrego o rosto.
Olho de novo para a barriga dela e abro um sorriso seco.
— Você não perdeu tempo mesmo — murmuro, e a boca de Sofia cai
aberta. Ela se recupera rápido.
— Olha quem fala, pelo menos eu não saí no meio da noite para comer
uma mulher qualquer enquanto você estava na minha casa — ela rebate, e eu
me aproximo um passo de novo, ainda muito irritado com aquela noite.
Ainda não consigo acreditar que ela foi embora daquele jeito, que se
demitiu e sumiu completamente do mapa por três malditos meses sem dar
uma porra de justificativa. Se não fosse por causa da faculdade, eu teria
ficado sem saber se Sofia estava viva ou morta.
— Eu já disse que nós dois não tínhamos nenhum compromisso, Sofia
— repito o que eu disse para ela naquela noite.
O que Sofia não entendeu foi que eu não estava sendo grosso nem
tentando a machucar. Eu estava repetindo isso para mim mesmo para tentar
controlar a merda do coração descompassado sem motivo toda vez que eu
olhava para ela. Não podia estar me apaixonando por uma menina com idade
para ser minha filha, uma que era inocente demais para esse mundo. Eu não
podia estar me apaixonando e pronto. Não sirvo para isso.
— E eu não tenho que dar satisfação da minha vida, Daniel. Eu e meu
filho não temos nada a ver com você.
Demoro a reagir, e ela desaparece completamente da minha frente.

***

— Raquel! — grito e vejo minha secretária praticamente correr para


dentro da minha sala. — Onde está o incompetente do Macedo? — pergunto,
apertando o osso entre os olhos. — Cadê essa merda de contrato?
— No… seu e-mail, senhor Vilella — ela diz reticente com as
sobrancelhas franzidas. — É a terceira vez que o senhor pergunta isso hoje.
Está tudo bem?
Solto um palavrão e arrasto a cadeira para trás. Esfrego o rosto. Não
estou conseguindo me concentrar em nada. Nada. Tudo está dando errado
hoje e o dia está sendo um completo desastre. Não consegui fechar uma
parceria importante porque não estava concentrado na reunião com o cliente.
Não consigo fazer nada desde dois dias atrás quando eu a vi depois de tanto
tempo.
— Está tudo bem, obrigado — respondo em um suspiro. — Pode sair e
fechar a porta.
Ela faz o que mando, e eu coloco os cotovelos na mesa. Afundo o rosto
entre as mãos.
— Porra, Sofia — digo baixinho, porque tudo que eu consigo pensar
agora é nela.
Não que tenha sido diferente nos últimos meses. Desde que ela saiu do
meu apartamento, está vivendo na minha mente sem que eu possa fazer nada.
Tentei me afundar no trabalho, mas parece que virei um incompetente que
não consegue fazer nada direito. Tentei foder o maior número possível de
mulheres para tirar aquela diaba da cabeça, mas isso também não funcionou.
Eu quase fui atrás dela muitas vezes, mas não tinha a menor ideia do
que dizer. O que eu queria? Que ela voltasse para a minha casa para que
pudesse me afundar dela todas as noites? Isso nunca ia funcionar. Não depois
de ela ter dito que se apaixonou por mim.
Essa foi uma coisa muito idiota de se fazer. Eu não sirvo para
relacionamentos. Nunca servi. Sofia quer uma casa, com marido e filhos, e
isso eu não posso dar. Não quero dar. Nunca quis essa vida para mim.
Então por que cacete estou tão atormentado por ela estar grávida de
outro?
Desisto de trabalhar, pego meu celular e saio do escritório. Raquel se
levanta da cadeira assim que me vê passar como um furacão e vem atrás de
mim quando chego ao elevador.
— Senhor? — chama. — Já vai embora?
Olho para ela, dentro da roupa social e segurando o tablet na frente do
corpo. Do mesmo jeito que Sofia fazia. A cena me incomoda como vem
incomodando todos os dias dos últimos meses porque parece muito errado.
Raquel trabalha para mim há anos e é muito boa no que faz, mas parece
errado não ser Sofia aqui. Não posso negar que sinto falta de ter aquela garota
aqui todos os dias.
— Já vou — respondo quando as portas do elevador se abrem. —
Limpa minha agenda para o resto do dia porque não volto mais hoje.
Antes que ela tenha a chance de responder, entro no elevador e vou
embora. Dirijo sem nem saber direito para onde eu vou, porque minha cabeça
não está funcionando direito. Paro quando vejo um bar aberto perto da orla e
estaciono ali.
Sento em um canto qualquer e largo o celular em cima da mesa. Coloco
no silencioso porque não quero ter que lidar com notificação nenhuma de e-
mail nenhum.
— Boa tarde, senhor. No que posso te ajudar hoje? — uma garçonete
pergunta, mas nem me dou ao trabalho de olhar para ela.
— Uísque — digo. Arrasto a mão no cabelo, inquieto. — Quer saber?
Pode trazer a garrafa.
Ela parece confusa por um instante, mas não questiona e vai embora.
Volta alguns minutos depois com um copo e a bebida que pedi.
Bebo as quatro primeiras doses sem pensar em nada. É só quando o
álcool começa a fazer efeito que permito que Sofia volte para a minha mente.
Como se eu pudesse impedir. Ela colocou algum feitiço em mim. É a única
explicação. Em quarenta anos, nunca me senti assim. Tão perdido. Tão
desesperado. É como se Sofia tivesse levado um pedaço meu que eu nem
sabia ter quando foi embora da minha casa.
Mas eu estava certo. Ela não sabe nada da vida, não sabia nem o que
queria. Disse que estava apaixonada por mim, mas já está grávida de outro.
Porra, garota. Eu nem sabia que eu tinha um coração para você
destroçar assim.
Quando percebo, metade da garrafa já foi embora, e tudo que eu
consigo ver são os flashes de memória. Sofia na piscina. Sofia na minha
cama. Sofia cozinhando. Sofia rindo. Sofia enroscada no meu colo no sofá.
Sofia, Sofia, Sofia.
Não penso no que estou fazendo quando pego meu celular de novo e
vou até o meu carro. A tal garçonete tenta me impedir, mas eu ignoro. Entro
no carro e mal consigo colocar a chave na ignição. Como consigo dirigir até a
casa dela é um mistério. Descobri que o tal prédio onde ela estava é onde a
amiga mora. Não foi difícil conseguir o número do apartamento.
Estaciono de qualquer jeito na rua e sigo direto para o elevador. Não
tem nenhum porteiro por perto, e isso só me irrita ainda mais. Garotinha
irresponsável que não preza pela própria segurança. E se eu fosse um
maníaco? Ela precisa mesmo levar umas palmadas às vezes.
Toco a campainha várias vezes até que uma mulher irritada abre a
porta. Eu não a reconheço, mas ela me olha de cima a baixo e cruza os
braços.
— Deixa eu adivinhar, você é o CEO do Olimpo? — debocha, e me
apoio no batente da porta para tentar ficar de pé. — Deus, você está uma
bagunça. E fedendo a bebida. O que você quer?
— Sofia — digo enquanto esfrego o rosto com a outra mão.
Ela ri e revira os olhos. A mulher sai da minha frente para eu poder ver
o interior do apartamento.
— Entra na fila — diz assim que vejo Sofia e outro homem parados no
meio da sala.
DANIEL

— Daniel?
Ela me olha confusa e dá um passo na minha direção, mas eu estou
olhando para o homem com uma cara de puto que está atrás dela.
— É esse aí? — ele pergunta me olhando com desdém.
— Marcos! — Sofia repreende.
Reconheço o nome e solto uma risada ácida. Entro no apartamento e o
encaro.
— É esse o noivinho? — pergunto, trincando os dentes. Mas é claro.
Como não pensei nisso antes. É claro que ela voltou para ele. Esfrego o rosto.
— Não acredito nisso, Sofia — murmuro.
— Não acredita em quê, babaca? — ele pergunta e se coloca na frente
dela. Ignoro o idiota e olho para ela, que parece não saber o que fazer
olhando de um para o outro.
— Não acredito que você voltou com ele depois de tudo que esse
merdinha fez — digo.
Arrasto a mão no cabelo e suspiro. O efeito da bebida começa a passar e
o que fica é só uma dor recém-descoberta. Eu senti falta dela nesses meses,
mas agora estou completamente desesperado por perceber que ela nunca mais
vai ser minha de verdade.
— Porque você me tratou muito melhor, né, Daniel? — ela rebate e
cruza os braços.
— Ele te traiu! — grito e aponto para ele.
— Você também! — ela grita de volta. Balança a cabeça em negativa e
vejo seus olhos marejados. — Não, espera! A gente não tinha nada! Não foi
traição, né?
Dou um passo na sua direção, me sentindo vulnerável demais. Nunca
me senti assim antes, definitivamente não por causa de uma mulher. Mas
Sofia tomou conta da minha vida inteira sem eu nem perceber. Meus dias
eram muito melhores com ela e sou um filho da puta de merda que perdi isso
porque estava com medo demais de admitir.
— Eu não fiz nada, pequena — digo e vejo uma lágrima escorrer pelo
rosto dela. Sofia balança a cabeça de novo, e eu dou outro passo na sua
direção. — Me escuta, Sofia…
Mas o tal noivinho entra na minha frente e bloqueia o meu caminho.
— É melhor você sair — aviso, olhando de verdade para ele pela
primeira vez.
Ele ri e estufa o peito. Sai da minha frente, mas é só para ir até Sofia.
Dou um passo mais para frente quando vejo que ele chegou perto demais, e
ela olha para os lados como se estivesse com medo.
— Você é inacreditável mesmo, Sofia — diz e aponta um dedo no rosto
dela. — Ficou se fazendo de boa moça nosso relacionamento inteiro só para
virar uma vagabunda que abre as pernas para o primeiro cara que aparece na
sua frente. Aliás, não tenho garantia nenhuma de que não estava fazendo isso
antes de terminar comigo.
Meu punho fechado acerta o rosto dele no segundo em que ele segura o
braço dela, e Sofia ofega. Ele cai no chão e solta um gemido de dor. Sofia
solta um gritinho e a tal amiga dela que estava calada até agora solta um
palavrão e vem até a gente.
Ele se levanta e vem para cima de mim, mas desvio sem dificuldade.
— Para com isso vocês dois! — a amiga dela grita.
— Daniel! — Ouço a voz de Sofia e me distraio. Isso faz com que o
idiota consiga me acertar. — Marcos, para com isso!
Eu o acerto de novo e o derrubo no chão. Acerto outro soco antes de
sentir uma mão pequena e conhecida no meu ombro.
— Daniel! Chega!
Saio de cima dele e vejo o filete de sangue no seu rosto.
— Não quero saber quem você é e estou pouco me fodendo se é o pai
do filho dela. Encosta nela de novo, e eu acabo com essa sua vida inútil.
Ele passa a mão na boca para limpar e franze o cenho.
— Eu? Pai do filho dessa vadia? — diz e começa a se levantar. A única
coisa que me impede de ir para cima dele de novo é a mão de Sofia no meu
antebraço. — Eu dei foi sorte de ter escapado dessa. Foi só começar a
trabalhar que resolveu dar por aí. Esse filho não é meu não, e tenho pena do
coitado que é o pai.
Dessa vez o toque delicado dela não consegue me impedir e a próxima
coisa que sei é que o prendi na parede pela gola da camisa.
— Desaparece da minha frente — rosno no seu rosto. — Some daqui e
nunca mais chega perto dela.
— Com prazer — ele responde e se solta de mim. Marcos sai do
apartamento, e eu passo a mão pelo rosto, desconcertado.
— Você está bem? — pergunto para ela. Sofia tem o rosto molhado por
lágrimas e rasga meu coração. Ela abraça o próprio corpo e parece estar
tremendo. Corto a distância entre nós dois e a alcanço, mas ela dá um passo
para trás e não me deixa a tocar. — Ele te machucou.
Ela faz que não com a cabeça, e só então o que ele disse começa a
assentar. O filho não é dele. É claro que existe a possibilidade de ela ter
conhecido outra pessoa, mas… É Sofia. Minha doce Sofia.
Meu coração bate descompassado no peito quando a possibilidade se
torna real demais.
— Pequena… — sussurro e olho para a sua barriga. — Se ele não é o
pai, então quem é?
Volto a olhar para o seu rosto, e ela morde o lábio. Uma lágrima escorre
pelo seu rosto, e Sofia faz que não com a cabeça.
— Amiga, você vai ter que contar alguma hora — Dai diz. — Olha, vou
deixar vocês sozinhos para conversar, mas estou logo ali no quarto. Se esse
idiota fizer alguma coisa, é só gritar que eu venho.
Continuo olhando para Sofia com o coração batendo completamente
descompassado.
— Sofia? — chamo e me aproximo de novo. Ela não se afasta dessa
vez. Toco seu rosto e ela fecha os olhos. — Esse filho é meu?
Ela não responde nada por muitos segundos, mas por fim faz que sim
com a cabeça. E meu mundo inteiro desabada.
Sinto medo. Pânico. Completo terror. Mas sinto outras coisas também,
que nunca senti antes. Uma felicidade estranha toma conta do meu corpo, e
eu levo a mão até a barriga dela. Sofia volta a olhar para mim com os lábios
entreabertos.
— Eu não quero nada de você — ela diz e seca as lágrimas que estavam
escorrendo. — Nós dois estamos bem e não precisamos de nada. Você pode
voltar para a sua vida e continuar dormindo com todas as mulheres que vê
pela sua frente. Está tudo bem, Daniel. Esse filho é meu, e eu vou cuidar dele.
— Você ficou louca? — pergunto e a puxo pela cintura para mim.
Abaixo o rosto no seu pescoço. — Como eu senti falta desse seu cheiro,
pequena.
— Não, Daniel! — ela protesta e tenta me empurrar, mas não deixo que
saia dos meus braços. — Você não pode fazer isso. Não vou deixar você
fazer o que quiser comigo e partir meu coração depois. Já entendi. Você não
tem relacionamentos. Então sai da minha vida e me deixa cuidar do meu filho
em paz.
Seguro seu rosto e faço com que olhe para mim. Seus olhos estão
marejados, mas ela segura as lágrimas.
— Você disse que estava apaixonada por mim — digo, e ela franze os
lábios.
— Estava. No passado — fala, mas cada detalhe do seu corpo trêmulo
diz que é mentira.
— Tem ideia de como eu senti sua falta? — pergunto e escovo o
polegar pelo seu lábio. — Você virou minha vida de cabeça para baixo e
depois foi embora, deixou tudo de pernas para o ar. Está completamente fora
de si se acha que vou te deixar ir embora agora que… — Passo a mão pela
sua barriga, sem entender a emoção estranha que sinto. — Um filho? —
sussurro, testando a palavra.
— E eu vou ficar aqui fazendo o que, Daniel? — ela pergunta e se solta
de mim rapidamente. — Vou ficar esperando sua boa vontade de ficar
comigo enquanto transa com outras mulheres por aí?
Balanço a cabeça em negativa e esfrego as mãos no cabelo.
— Eu não transei com ninguém, Sofia. Não desde que você entrou na
minha vida.
Ela ri como se não acreditasse em mim.
— Claro, eu estou ficando louca e não tinha uma marca de batom no
seu pescoço.
Respiro fundo e prendo os olhos nela para que Sofia veja que estou
falando a verdade.
— Eu tentei — admito e balanço a cabeça. — Eu saí naquela noite
porque queria foder alguém até te tirar da minha cabeça.
Vejo dor cortar os olhos claros, e ela dá um passo para trás, mas
continuo:
— Eu estava desesperado, Sofia. Nunca senti medo na minha vida
antes, mas estava completamente desesperado. Não queria me apaixonar por
você. Precisava te tirar da cabeça, mas não consegui.
— Como assim não conseguiu? — ela pergunta, cruzando os braços.
— Não consegui — repito. — O que quer que eu diga? Que meu pau
não subiu? Que nem consegui beijar outra mulher porque você não saiu da
minha cabeça? Porque foi exatamente isso que aconteceu.
Ela pisca confusa, e sua boca cai aberta. Aproveito para me aproximar
de novo.
— Tudo que eu conseguia pensar era em você, Sofia. Eu não quis outra
mulher naquela noite e não quis outra mulher em noite nenhuma desde que
você foi embora.
— Daniel…
— Eu me apaixonei por você também, pequena. Não sei como isso
aconteceu, nem sabia que era possível, mas me apaixonei por você.
Ela balança a cabeça que não e tenta se afastar.
— Eu sei que sou um filho da puta às vezes, mas estou tentando, Sofia.
Prometo que vou ser melhor, por você, pelo nosso filho. Por favor…
Ela finalmente de rende às lágrimas, e eu inclino meu rosto sobre o seu.
Que saudades dessa boca… Mas Sofia não me deixa beijá-la. Consegue
escapar dos meus braços e atravessa o cômodo para ficar o mais longe de
mim possível.
— Mas você quis — ela declara, e franzo o cenho. — Pode não ter
conseguido… — Acena com a mão para mim e solta um gemido baixo. —
Mas você tentou. E o que vale é a intenção. O que você espera que eu faça?
Fique aqui esperando você surtar de novo e sair por aí tentando dormir com
outra mulher quando estiver com medo do que está sentindo? Eu não sei nem
se acredito que você sente alguma coisa, Daniel!
— Pequena…
— Não — ela diz, categórica. — Se você quiser fazer parte da vida
dessa criança, tudo bem. Não vou impedir meu filho de ter um pai, mas eu
não sou sua. E não vou ser de novo.
— Sofia.
— Por favor, vai embora — ela pede em um sussurro. — Esse show de
vocês dois foi o suficiente por hoje. Eu preciso descansar.
Ela abraça a barriga, e não consigo tirar os olhos dali. Do nosso filho.
Concordo com a cabeça porque não entendo nada de grávidas e não sei
se vai ser ruim para o bebê se ela continuar se estressando assim.
— Eu vou voltar — aviso, porque é verdade. Sofia suspira e dá de
ombros. Não se move enquanto eu vou até a porta e olho para ela uma última
vez antes de sair do apartamento. Esfrego o rosto e apoio a testa na parede do
corredor.
— Eu vou te ter de volta, pequena. Você e nosso filho.
SOFIA

Achei que quando visse Daniel novamente depois de tanto tempo,


conseguiria controlar o coração acelerado, as pernas trêmulas e as malditas
borboletas no estômago graças à raiva que estou sentindo. Como estava
enganada… Que merda! Como que pode um sentimento ser tão forte a ponto
de se esquecer do seu próprio nome? A ponto de esquecer como o outro te
magoou e pisou nos seus sentimentos dessa forma? Isso é surreal.
Mas meu Deus… Ele tinha que ser tão malditamente lindo? Tinha,
Deus? A barba maior do que o costume o deixou com um ar ainda mais sério
do que tem. Não vou negar que ver que Daniel parece meio abatido me
deixou contente. Alimentou meu ego frágil saber que pelo menos um
sentimentozinho mínimo ele tinha por mim, nem que fosse um carinho por
uma transa casual. Não tem como todos os momentos agradáveis terem sido
coisas da minha cabeça. É impossível. Nem eu sou tão criativa assim para ver
sentimentos em pequenos gestos.
Não vou mentir que fiquei balançada quando Daniel disse que também
está apaixonado por mim. Caramba… Tudo isso foi o que sempre sonhei
ouvir da sua boca desde que descobri que estava amando aquele brutamontes.
Estava não, que estou. Infelizmente, amor não é algo que a gente joga no lixo
assim. Menti para ele quando disse que o sentimento sumiu. Ele ainda está
aqui. E parece que cresce junto com o bebê que carrego na barriga. Com meu
filho…
— Sof, tudo bem? Você parece meio perdida, meio desligada do
planeta Terra — Daiane fala, tocando meu braço de leve com carinho. —
Está assim faz tempo, amiga. Tem certeza de que não quer conversar com o
pirocudo do Olimpo direito?
— Para de usar esse nome, Dai — resmungo, fazendo uma careta
enquanto acabo com um pote todo de sorvete. — Só me faz lembrar de coisas
que quero esquecer.
— Desculpa.
Ela faz uma careta e enfia a colher no seu pote. Hoje foi dia de afundar
a tristeza em besteira. Eu me permiti isso mesmo que não seja o aconselhável.
Daiane me força todos os dias a manter uma dieta saudável para cuidar da
pequena vidinha que carrego, então nada de gordura em excesso, doce,
carboidratos. Resumindo: nada de bom.
— Não quero ver aquele grosseirão — respondo tardiamente, e ela
suspira.
Minha amiga é contra a ideia de eu afastar Daniel da vida do meu filho.
Talvez por ter crescido longe do pai. Daiane sempre sonhou em conhecer o
homem que desapareceu no mundo assim que ela nasceu e coloca na cabeça
que a vida dela teria sido mais fácil se tivesse a figura paterna em sua vida.
— Ele é o pai, Sof. Tem direitos. E deveres.
— Eu sei. Disse que não quero ver, não que não vou.
Solto um suspiro longo, com o coração apertado por saber que vou ter
que conviver com Daniel para sempre. Sem poder o beijar, o tocar, sentir seu
coração batendo lentamente enquanto ele dorme com a mão tampando o rosto
de leve e… Que saco! Preciso desligar minha mente daquele CEO arrogante
do caramba.
— Amiga, ele te mandou flores todos os dias desde que se declarou
para você. Então, dá para dizer que está tentando. São duas semanas de
buquês caríssimos que você jogou fora.
— Por que está o defendendo de repente, Daiane? Não foi você que
sempre defendeu que tenho que me valorizar, que preciso me amar e não
posso deixar que todo mundo pise em mim?
— Eu sei, eu sei — murmura, levantando as mãos. — E sigo
defendendo. Mas o olhar que vi no rosto daquele homem, Sof… Ele te ama.
Você pode não acreditar nisso, ele pode não se dar conta disso, mas eu sei
reconhecer amor de longe.
Sacudo a cabeça e desisto dessa conversa, pois ela me deixa esgotada
todas as vezes que a Daiane insiste.
— Vou dormir, Dai. — Me levanto do sofá e ando até a cozinha para
deixar o restante do sorvete no congelador.
Assim que estou indo para o quarto, a campainha da porta toca.
— Amiga, você está esperando alguém? — pergunto alto e abro a porta
apenas o suficiente para ver quem é.
Meu corpo todo treme quando vejo Daniel parado ali, com um buquê de
rosas vermelhas tão grande que cobre seu rosto quase todo.
— O que está fazendo aqui, Daniel? Como subiu? — pergunto em um
sussurro, e ele me entrega o buquê.
— Como você não respondeu nenhuma das minhas mensagens, não
falou nada sobre as flores que te mandei, decidi vir pessoalmente — fala com
segurança.
Deus, que homem bonito.
Os cabelos foram cortados recentemente, a barba foi aparada e o
perfume segue o mesmo, deliciosamente torturante para meus hormônios. Ele
usa uma roupa informal, coisa que é bastante rara. Mas Daniel é do tipo de
homem que pode usar qualquer coisa que vai ficar lindo.
Pego as rosas de forma automática e as cheiro.
— O silêncio é uma resposta — falo após ver sua expressão satisfeita
pelo meu deslumbramento momentâneo com as rosas.
— Pequena…
— Sofia. Meu nome é Sofia.
Dou as costas para ele e ando até a cozinha. Escuto o barulho da porta
se fechando e seus passos me seguindo. Coloco o buquê em cima do balcão e
fico de costas para Daniel.
— Como você está? Precisando de alguma coisa? E o nosso… bebê?
— Estamos bem. — Me viro e o encaro, perdendo um pouco da raiva
acumulada ao sentir preocupação na sua voz. Pelo menos ele não recusou a
criança e sumiu como pensei que faria quando descobrisse. — Tive uma
consulta anteontem. Ele está perfeito.
— Ele?
— Ainda não dá para saber o sexo. Ele o bebê, no caso.
Daniel sorri de lado, aquele sorrisinho que o deixa muito mais bonito,
mas que o homem quase não usa.
— A minha mãe quase morreu de alegria quando contei que vai ser avó
— ele fala, e me permito abrir um sorriso de leve. — É o sonho da vida dela.
Acha que vai ser um menino.
— Sua mãe é uma graça.
— Ela é.
Nós ficamos em um silêncio constrangedor, e percebo tarde demais que
Daiane logo deu um jeito de desaparecer do mapa, a traidora. Me deixou
sozinha para ter de lidar com esse homem.
— O que você quer, Daniel? — questiono, passando as mãos pelos
braços, como se pudesse me proteger das coisas que sinto quando ele me olha
assim.
— Eu quero você — responde firme, sem titubear. Vou para responder,
fazendo uma careta, mas o homem me interrompe. — Nunca quis ninguém,
Sofia. Mas quero você comigo.
— Acho que você quer metade do Rio de Janeiro, Daniel.
— Não, Sofia… É diferente. — Ele se aproxima de mim, mas ergo o
dedo, indicando para que mantenha distância.
Daniel ergue as mãos e para, voltando a se distanciar.
— Só me dá mais uma chance.
— Eu te dei — falo. — E você partiu meu coração. Te ouvir falando
daquele jeito, ver aquele batom na sua camisa, foi muito pior do que
presenciar Marcos transando com outra pessoa.
Daniel trava a mandíbula com tanta força que consigo ver a saliência
dos ossos da sua face.
— Não me compara com aquele merda.
— Não estou. Só estou comparando como me senti — digo, seguindo
com os movimentos das palmas das mãos nos braços.
— Eu posso ser bom para vocês, Sofia. Se o sentimento que diz que
sentiu por mim ainda existe, se existe uma chance mesmo que pequena de
voltar a gostar de mim, me deixa fazer parte da sua vida.
— Você vai fazer. Como pai do meu filho.
— Eu quero você também. Quero fazer parte da sua vida — responde
atormentado.
— Não consigo… Ninguém muda do dia para a noite. Não acredito que
você vai simplesmente parar de me magoar, que de repente você está
apaixonado.
— Não mudei, Sofia. Não acho que vou mudar. Pelo menos não meu
jeito de ser — fala, sacudindo a cabeça. — Sou assim, meio frio, meio rude.
Às vezes xingo demais, sou estourado, deixo que o trabalho domine minha
mente por tempo demais. Esqueço da minha família por isso. Sou mandão,
egoísta, possessivo. Isso é difícil mudar, mas…
Ele se aproxima de novo e tento impedir, mas Daniel segura meu dedo
que estava prestes a ser erguido e o beija. Me encara de um jeito tão intenso,
os olhos pretos brilhando, que não consigo me afastar e nem desviar o olhar
do seu.
— Mas eu posso mudar isso aqui. Já mudei — fala baixinho e coloca
minha palma em cima do seu coração. — Ele passou a ser seu, assim como o
seu é meu também. Eu sou seu. E vou ser só seu se você me quiser.
— Daniel… — Tento desviar o olhar, sentindo o choro de emoção
querendo sair.
— Eu vou lutar para que você seja só minha, Sofia. Não desisto fácil
das coisas, pequena. Você já sabe disso.
Ele esfrega o nariz no meu, como se aspirasse meu cheiro, e fecho os
olhos.
— Quero tanto te beijar, pequena. Quero te apertar em meus braços e
não te deixar ir embora nunca mais.
Respiro com dificuldade graças à sua fala, ao seu cheiro, ao seu tom
desesperado, ao seu corpo tão perto do meu.
— Janta comigo hoje?
— Daniel…
— Por favor, um jantar. Eu quero te conhecer melhor. Quero que você
me conheça por inteiro. Tudo. Toda a parte que eu guardava antes para me
afastar de você. — Ele beija novamente a ponta dos meus dedos, e eu suspiro
com o prazer que o gesto me causa.
— Não sei…
— Faço o que você quiser. Só um jantar.
— Não tenho o que vestir, está tarde e…
— Sofia — murmura e ergue meu queixo de leve, deslizando o polegar
ali. — Pode ir com a porra de um pijama que vai ficar linda. Não me importo
com isso, pequena.
Mordo o lábio, pensativa, e Daniel interrompe o gesto com o dedo,
fazendo uma careta como se estivesse sendo torturado. Encosta a testa na
minha e respira fundo, esperando pela minha resposta. Solto um suspiro
derrotado, sabendo que não tenho nenhuma chance com o charme desse
homem.
— Tudo bem. Só um jantar. E se eu estiver me sentindo desconfortável,
você me deixa aqui.
— Tudo bem — fala e sorri.
Meu Deus, ele sorri.
É a primeira vez desde que o conheço que Daniel sorri assim, tão
abertamente, mostrando os dentes. Sempre saíam sorrisos fracos,
debochados, irônicos, mas nunca vi um assim tão verdadeiro. E encantador.
Eu acabo de me apaixonar mais quando devia estar fugindo dele,
quando devia estar me afastando para não me machucar mais.
Estou tão ferrada.
SOFIA

Quando saio do quarto, completamente vestida e pronta para o tal


jantar, Daniel me olha de um jeito que mexe comigo.
— Você está maravilhosa, pequena. — Seu olhar para na minha
barriga, que ficou mais saliente graças ao tecido mais apertado.
— Obrigada — respondo baixinho, desviando o olhar do seu.
— Senti saudade de te ver corando. Não gosto de ver raiva no seu olhar.
Ele se aproxima de mim e segura meu rosto com uma mão, acariciando
minha bochecha. Quando se inclina como se fosse me beijar, eu sussurro:
— Um jantar apenas, Daniel.
— Tudo bem. — Suspira de um jeito que não combina nada com ele,
provavelmente porque está acostumado a ter tudo o que quer de todo mundo
sempre. — Vamos?
Estende o braço para que eu o pegue e assim que vou fechar a porta,
vejo Daiane saindo do seu esconderijo. Faço uma careta para ela e sussurro
uma ameaça silenciosa, mas a safada só ri.
Acho que a surpresa fica clara na minha expressão enquanto Daniel age
como um cavalheiro durante todo o caminho. Não sei para onde estamos
indo, porque não perguntei. Ficamos em um silêncio embaraçoso durante o
percurso, que é interrompido assim que seu carro entra na garagem de uma
casa.
— Onde estamos?
— Você vai ver — ele responde, abrindo um sorrisinho de lado.
Inclino meu corpo com curiosidade para tentar enxergar no escuro da
noite, mas não consigo ver nada. Daniel desliga o veículo rapidamente e dá a
volta para abrir a porta para mim. Segura meus dedos para me ajudar a
descer, e preciso muito segurar o sorriso para essas cenas surreais desde que a
gente saiu da casa de Dai. Falando nela, me lembro da sua fala e preciso
concordar que realmente Daniel parece estar tentando. Ou finge muito bem
para conseguir o que quer.
— Esse lugar é lindo — digo, olhando para o jardim imenso que se
estende a se perder de vista.
— Gostou?
Nós sumimos os degraus da escada que leva até a porta de entrada, e
Daniel a abre para que eu entre. Franzo a testa ao ver que a casa
provavelmente é dele, mas não tenho tempo de pensar porque logo escuto um
gritinho animado. Vejo dona Luciana vindo de algum cômodo, com os braços
abertos e o sorriso radiante no rosto.
— Sofia, minha linda… Não sabe como é magnífico te ver aqui.
— Boa noite, dona Luciana. — Estendo a mão para ela, que a recusa e
me dá um abraço apertado.
É estranho, mas ao mesmo tempo reconfortante estar nos braços dela. A
senhora que parece ter bem menos idade do que provavelmente tem se afasta
e me segura pelos ombros.
— Você é a grávida mais linda que esse mundo já viu.
— Obrigada, dona Luciana — respondo com um sorriso tímido,
sentindo meu rosto quente.
— Cadê o inútil do meu irmão? — Daniel pergunta após abraçar a mãe
com carinho e dar um beijo na sua testa.
— Daniel, respeita seu irmão… Espero que agora que você criou juízo
que possa colocar um pouco naquela cabecinha também — fala, sacudindo a
cabeça de desgosto. — Às vezes me pergunto o que fiz de errado. Ele está na
cozinha, com um bico igual ao de um adolescente.
— Nada, mamãe. A senhora não fez nada de errado.
Fico sem graça ao presenciar o momento familiar e aproveito para
observar a casa que está me matando de curiosidade. Se eu achava o
apartamento de Daniel luxuoso, é porque nunca tinha vindo aqui. Que
lugar… Tem branco a se perder de vista e o hall já é maior do que a casa dos
meus pais.
— A senhora tem uma casa muito bonita, dona Luciana.
— Ah, meu amor, mas não… — Ela se cala de repente, e eu me viro
para olhá-la. A senhora sorri e me encara de um jeito divertido. — Você
gostou? Que tal Daniel te mostrar o resto dela enquanto esperamos o jantar?
Aceno, e Daniel sorri. O sorriso cheio de dentes novamente. O que
causa ainda mais coisas no meu pequeno corpo frágil.
— Você quer tirar os saltos? — ele pergunta, indicando meus pés com a
cabeça. — Não parecem muito confortáveis para andar.
— A casa é tão grande assim? — pergunto com os olhos arregalados, e
dona Luciana solta uma risada antes de sumir em algum cômodo.
— É grande.
— Tudo bem, mas estou acostumada. Preciso aproveitar enquanto ainda
posso usar. Logo não vai dar mais.
Ele acena, e novamente seu olhar cai para minha barriga de um jeito…
apaixonado. Daniel agora me olha como se eu fosse uma joia rara ou um
milagre.
— Vamos. — Sua mão se encaixa nas minhas costas, me guiando para
a tour.
Ele tinha razão: a casa é mesmo enorme. Me sinto em um parque da
Disney conforme Daniel me mostra a sala, infinitas delas; de jogos, de
cinema, de TV, de descanso. Já estou cansada quando chegamos à outra área.
— Esse é o corredor dos quartos.
— Quantas pessoas moram aqui, meu Deus? Não é grande demais só
para sua mãe?
Ele apenas solta uma risada baixa e volta a me guiar, me mostrando
vários quartos de hóspedes parecidos.
— Esse é o meu, por enquanto.
— Você ainda tem um quarto na casa dela? Que fofo — provoco e vejo
seus olhinhos se apertando, respondendo à provocação.
Assim que abre a porta, coloco a mão na boca com o choque. É o mais
lindo de todos. Com uma cama gigante, closet, um espelho enorme de parede
a parede e uma decoração tão clean que me encanta.
— É lindo, Daniel. Você fica muito aqui?
— Na verdade, não. Gostou?
— Adorei. A casa inteira é maravilhosa, mas preciso dizer que esse
quarto é o mais bonito. Ele não parece seu…
— Não? — pergunta, cruzando os braços para me encarar.
— Ele é mais… delicado.
Ando pelo quarto tocando de leve nas coisas, apreciando tudo com
atenção. Tem muito dinheiro envolvido nesse lugar. Antes de conhecer
Daniel, jamais tinha visto nada parecido pessoalmente. Para mim, a ideia de
alguém ter tanto dinheiro assim era absurda. Me choquei ainda mais ao ver
tudo isso pessoalmente.
— Vamos? Ainda tem mais um quarto que quero te mostrar.
— O da sua mãe? — pergunto na expectativa, parecendo criança em um
parque. Se o de Daniel que nem mora aqui é bonito desse jeito, não quero
imaginar o da senhora elegante.
O homem ri e sacode a cabeça em negativa, me guiando para um
quarto, o último do corredor.
— Pronta?
Quando Daniel abre a porta, eu me choco ao ver um colorido infinito. A
parede é verde clarinha, linda, e o quarto parece de realeza. O que me choca é
ver que é um cômodo de bebê. Há berço, poltrona de amamentação, uma
cama enorme ao lado, quadrinhos lindos na parede, e muita coisa. Mais coisa
do que consigo analisar de uma vez.
— Daniel, o que…
Vejo que também tem closet. Para um bebê!
— Espero que tenha gostado. Deixei verde porque sei que gosta, mas
você pode colocar a cor que quiser.
— Como assim? O que está acontecendo? — questiono baixo, sem
realmente entender.
Daniel se aproxima de mim e segura minhas mãos, as beijando de leve.
— Comprei essa casa há pouco tempo e pensei que… — Ele solta um
pigarro, como se precisasse de muita coragem para dizer o que está pensando.
— Pudesse mudar para cá para morar aqui comigo.
— O quê? Você está ficando…
— Shh, deixa eu terminar, teimosa. Vou tentar te conquistar até você
me aceitar, Sofia, mas enquanto isso, eu gostaria de ter você por perto. Quero
acompanhar sua barriga crescendo, seus exames, suas necessidades. Quero
estar perto por você.
— Daniel, você não precisava ter comprado uma casa para isso.
— Não comprei para isso apenas. Espero que você me perdoe um dia e
a gente possa ser uma… família.
— Uma família? — pergunto em um sussurro e não consigo controlar a
risada. Daniel Vilella, o solteiro mais lindo e cobiçado do Rio de Janeiro, ou
até mesmo do Brasil, quer formar uma família? Comigo? Quer criar o próprio
filho comigo?
É inacreditável.
— Você me ofende rindo desse jeito, Sofia — diz com a cara fechada,
mais parecido com a versão que estou acostumada a ter dele.
— Me desculpa, Daniel, mas você tem noção do que está falando? Há
pouco tempo, você não conseguia dizer uma frase sem ser gentil e agora está
me pedindo para morar com você.
— Eu sei, mas não estava apaixonado por você antes. Agora estou.
Agora não consigo pensar em tristeza para sua vida. Não quero que passe por
nada que te aflija, que te machuque. A ideia de te ver sofrendo dói.
— Você não pode me dizer essas coisas — sussurro, controlando a
vontade de chorar. — Meus hormônios estão agitados, e eu posso chorar a
qualquer momento.
— Se for de alegria e emoção, tudo bem. — Ele encaixa a mão na
minha nuca e encosta sua testa na minha, fechando os olhos. Faço o mesmo e
só sinto sua respiração no meu rosto. — Não vou te forçar a ficar comigo,
Sofia. Só quero ficar perto de você. Me deixa ficar perto de você. Já fiz muita
merda na vida. Mais do que pode imaginar, mas agora quero fazer o certo. O
certo para mim é você. Nunca tive nenhuma certeza como tenho agora.
— Posso pensar antes de te dar uma resposta? Isso é muito sério,
Daniel… — pergunto e abro os olhos.
— Claro que sim. Vou estar esperando por você.
Aceno devagar e me afasto para olhar o quarto direito. Deus, é lindo.
Não acredito que ele comprou uma casa antes de saber se eu ia aceitar a
proposta. Mas não posso ficar deslumbrada por isso. Agora preciso pensar no
meu bebê, no que vai ser melhor para ele. Toco a barriga pequena enquanto
ando olhando para as coisas que Daniel comprou.
— Você gostaria de morar aqui, bebê? — converso baixinho como
tenho feito nos últimos dias. Até me esqueço de que não estou sozinha. —
Seu pai é um doido.
Escuro a risada de Daniel atrás de mim e me viro, vendo que ele está
sorrindo de novo enquanto olha para mim segurando e conversando com
minha barriga.
— A gravidez combina contigo, Sofia. Você está linda.
— Obrigada. Ainda não acredito que vou ser mãe aos vinte anos.
— Vou te ajudar, não se preocupe. Você não vai perder nada da sua
juventude, dos seus estudos, da sua carreira.
Mordo o lábio e desvio meu olhar do dele, porque estou com uma
vontade de me jogar no seu corpo e o beijar até o final do dia. Mas não posso
deixar o desejo me dominar como da primeira vez. Agora preciso ser
racional. Mais do que nunca, vou precisar ser uma adulta e amadurecer
rápido demais. Vou ter que tomar as decisões por mim e por outra pessoinha.
Escutamos uma batida na porta e andamos até lá. Vejo uma mulher
bastante bonita ali.
— Senhor, o jantar já pode ser servido — ela fala educada e sorri para
mim.
— Obrigada, Joane. Já vamos.
A mulher acena e sai rapidamente. Daniel estende a mão para mim e me
ajuda a andar pelo lugar imenso em direção à sala de jantar. Como se não
pudesse me surpreender mais, me choco ao ver dona Luciana de papo com
meus pais. Meus pais, isso mesmo.
— O que… — começo dizendo.
Eles parecem à vontade enquanto conversam algo com a mãe de Daniel.
— Sofia, meu amor, seus pais chegaram. Eles são maravilhosos e já
estamos virando melhores amigos.
— Oi, filha — minha mãe diz e se levanta da cadeira, vindo me abraçar.
— Você está linda — meu pai fala e faz o mesmo.
Os dois me abraçam, e permaneço estática no lugar, sem saber em que
mundo paralelo estou vivendo.
— Venham! Se sentem.
Eu me sento ainda meio boba, tentando entender o que está
acontecendo. Só aí noto o irmão de Daniel ao lado da mãe. Ele está calado,
examinando a tudo em silêncio e com um olhar não muito contente.
Sinceramente, não ligo. Tenho coisas mais importantes para me preocupar
nesse momento. O homem é bastante parecido com o irmão, mas tem uma
expressão menos dura no rosto. Olho para Daniel, que se senta ao meu lado, e
ele parece analisar minhas reações com bastante atenção.
— O que você pensa que está fazendo? — pergunto baixinho, enquanto
meus pais seguem conversando com dona Luciana sobre família e netos.
— Juntando nossas famílias — responde.
Arregalo os olhos e sacudo a cabeça, sem acreditar nessa loucura.
— Eu vou ter você para mim, Sofia. Você vai ser minha.
Um arrepio percorre meu corpo inteiro com esse seu sussurro tão perto
do meu ouvido, e nem tenho como negar que é só questão de tempo para que
eu não resista mais e me entregue novamente ao homem que abalou meu
corpo e meu coração.
DANIEL
Três meses depois

Respondo rapidamente a uma mensagem da minha mãe enquanto


espero pelo elevador e ouço Raquel engatar em um monólogo apressado
sobre uma reunião qualquer que tenho amanhã. Quando as portas se abrem,
coloco a mão no sensor do elevador para impedir que se fechem.
— Resolvemos isso amanhã — repito pela terceira vez. Faz dez
minutos que estou tentando ir embora, e ela não para de falar. — Já pedi para
limpar minha agenda pelo resto do dia — digo mais uma vez. — Eu estou de
saída e não vou voltar mais.
— Mas, senhor…
— E você também está liberada. Vai passar o dia com seu filho — digo.
Os olhos dela se arregalam, e a boca cai aberta. — Tenho certeza de que ele
sente sua falta.
Vejo os olhos da mulher marejarem, e é a primeira vez em todos os
anos em que trabalha comigo que mostra qualquer tipo de emoção.
— Obrigada, senhor Vilella — diz baixinho. Deixo as portas do
elevador se fecharem e vou direto para a garagem.
Com o trânsito infernal da cidade na hora do almoço, demoro mais do
que planejei para chegar ao meu destino. Não tenho tempo de passar na
floricultura para pegar outro buquê para Sofia dessa vez e mal chego a tempo
do fim da sua aula. Saio do carro e espero encostado na porta.
Sofia me aceitou ter por perto. Me deixou acompanhar a gravidez, ir às
consultas e aceitou morar na casa que comprei para a gente, mas ainda não
voltou para mim. Eu estou enlouquecendo. Ela está linda com a barriga
crescendo a cada dia, agora já com quase seis meses de gravidez. Fiz questão
que continuasse a faculdade até quando fosse possível, e ela vai conseguir
terminar o semestre antes de trancar a matrícula para dar luz ao nosso
menino.
É mesmo um garoto.
Vejo de longe quando ela sai do prédio acompanhado de uma mulher e
de um homem, e meu estômago embrulha em um ciúme que tem sido muito
recorrente. Ela gargalha de alguma coisa que o babaquinha diz, e ele a olha
com um brilho malicioso. Dou um passo para frente e uso cada porra de
autocontrole que não tenho para não ir até ela e a puxar para mim, para não
mandar esse filho da puta tirar o olho da minha mulher.
Sofia trava na metade do caminho quando me vê, e o sorriso que abre
na minha direção me dá esperança de que ela vai voltar para mim.
— Daniel? — diz, confusa. Lanço um olhar nada amigável para o
idiota, que praticamente sai correndo para longe depois de se despedir dela.
Ela troca dois beijinhos com a amiga e começa a vir na minha direção. — O
que está fazendo aqui? Por que não está no trabalho?
— Vim te buscar — explico. Acaricio sua barriga, como tenho feito
toda vez que a vejo. — Oi, meu amor — sussurro para o nosso filho e vejo o
brilho emocionado no seu rosto. — Pensei que podíamos ir comprar o resto
do enxoval dele juntos — comento, dando de ombros. — Você disse que
ainda faltavam algumas coisas.
Os olhos dela se arregalam, e Sofia parece sem saber o que dizer por
alguns segundos.
— Você… quer ir comigo? Por quê?
— É meu filho também, Sofia — digo, tentando não ficar ofendido.
Mas sei que falho porque sinto meu cenho franzindo e a expressão dela
suaviza.
— Desculpa, é só… estranho. Te ver assim, todo envolvido. Eu não
esperava isso — sussurra.
Suspiro pesadamente e puxo seu rosto para mim.
— Eu sempre vou estar envolvido com nosso filho, pequena. E com
você. É melhor se acostumar com isso de uma vez.
Ela morde a pontinha maldita do lábio, e eu solto um gemido baixo pela
tentação que é.
— Vamos? — pergunto, e ela concorda com a cabeça. Abro a porta
para ela, e Sofia senta no banco do passageiro. — Como foi a aula? —
pergunto quando começo a dirigir.
Ela sorri e começa a contar sobre o seu dia, sobre as matérias, trabalhos,
colegas de sala.
— O que foi? — ela pergunta. Olho de canto de olho e continuo
dirigindo. — Você fechou a cara.
— Não é nada — resmungo e aperto o volante. Ela solta uma risada
baixa.
— Você fechou a cara quando falei do Bernardo — ela insiste. Reviro
os olhos e bufo, mas continuo sem dizer nada e só dirijo. Sofia ri de novo. —
Não acredito que você está com ciúmes dele, Daniel — implica.
Estaciono em frente à loja de roupas de bebê que minha mãe indicou e
desligo o carro. Saio e abro a porta para ela, que ainda está com um sorriso
debochado no rosto. Tento guiá-la até a loja, mas Sofia estaca onde está,
como a boa teimosa que é.
— Você não precisa ter ciúmes dele, Daniel — ela diz, e cruzo os
braços na frente do peito.
— O merdinha passa o dia inteiro com você. É Bernardo para cá,
Bernardo para lá. — Arrasto a mão no cabelo, irritado. — Você não vê o jeito
que ele te olha, Sofia!
— Lá vem você me tratando feito uma bobinha de novo — ela reclama,
e balanço a cabeça que não.
— Não é isso. É só que você não nota o quão linda é, pequena. Ele não
tira o olho de você.
— Eu não me importo — ela responde. Pressiono os lábios juntos e
franzo as sobrancelhas quando desvia o olhar. — Não ligo para o jeito que ele
me olha, porque não estou interessada.
Dou um passo curto na sua direção e prendo Sofia delicadamente contra
a porta do quarto. Pouso uma mão na sua barriga e acaricio ali.
— Eu estou ficando doido sem você — sussurro. — Faz meses, Sofia.
Meses sem você. É uma tortura. Eu sei que errei, mas já prometi e prometo
de novo que aquela foi a única e última vez que te machuquei. Me perdoa,
pequena.
— Eu já perdoei, Daniel — ela sussurra. Afasto o rosto e arregalo os
olhos. Quando ela levanta o rosto para mim, vejo seus olhos marejados. — Já
te perdoei faz tempo, só estou com medo. Tenho medo de você partir meu
coração de novo. E tem nosso filho…
— Prometo que vou ser o melhor homem que já existiu. Por vocês dois.
Só volta para mim, pequena — peço e seguro seu rosto. Foco nos seus lábios
e vejo quando ela respira fundo pela boca. — Deixa eu te beijar…
Sofia hesita por um momento, mas faz que sim com a cabeça. E eu
finalmente a beijo depois de meses de tormenta sentindo sua falta. Abraço
minha pequena e a aperto nos meus braços.
— Você nunca mais vai sair da minha vida, Sofia — digo contra a sua
boca. — Você é minha agora. E ninguém toca no que é meu. Ouviu? Vocês
dois são a minha vida, e eu morreria por vocês. Prometo que vou cuidar
muito bem dos meus amores.
Ela sorri nos meus lábios.
— Espero que sim, Daniel.
— Eu prometo.
***
Espero na porta pela primeira vez em muito tempo. Nem me lembro de
quando foi a última vez que não simplesmente invadi o apartamento. A cara
confusa do meu irmão quando abre a porta confirma isso.
— Qual seu problema? — pergunto antes mesmo que ele diga qualquer
coisa. — Você está se comportando feito um cuzão faz meses. Qual é a porra
do seu problema?
Samuel ri e me dispensa com a mão. Entra no apartamento e vai até a
cozinha. É cedo, e estou surpreso que ele esteja acordado para começo de
conversa. Achei que fosse precisar arrombar a porta do apartamento para
falar com ele antes de ir para o trabalho.
— Que foi? A mamãe te mandou para encher meu saco porque eu não
participei do último jantar da família feliz? — pergunta com deboche.
Samuel começa a fazer café, e só continuo olhando para ele.
— E por que caralho você não foi? — pergunto.
Minha mãe está tratando Sofia como a filha que nunca teve e resolveu
que quer acompanhar de perto a gravidez do seu primeiro neto. Então, dona
Luciana aparece para jantar toda semana, e ontem não foi diferente. Só foi
diferente porque foi a primeira vez que eu pude tocar minha mulher. A gente
ainda está se entendendo, e Sofia pediu para ir devagar. Estou morrendo e
quase explodindo depois de tanto tempo e a vontade de foder aquela garota só
aumenta a cada dia, mas vou esperar.
— Para quê? — ele pergunta, dando de ombros. — Não é como se eu
estar lá fizesse uma porra de diferença. Até parece que tem espaço para mim
na família perfeitinha.
Samuel fecha a cara e começa a beber o café. Olho para ele sem
entender que caralho ele está falando.
— Você sempre foi o preferido dela — ele diz.
— Talvez se você não fizesse tanta merda, isso não ia ser verdade! —
respondo e arrasto a mão pelo cabelo. — E o que que eu tenho a ver com
isso?
Ele ri, coloca a caneca em cima do balcão e cruza os braços.
— Você principalmente, porra — responde irritado. — Pelo menos
tinha tempo para mim antes da vad…
— Cuidado — aviso e dou um passo na sua direção com o dedo
apontado para ele.
Samuel joga as mãos para cima.
— Antes da adorável mãe do seu filho chegar — completa, sarcástico.
Encaro Samuel por alguns segundos e não consigo segurar a
gargalhada. Ele me olha puto da vida, mas eu só rio.
— Não acredito que você está com ciúmes — digo, balançando a
cabeça.
Ele fecha a cara mais ainda.
— Não estou!
— Mais de trinta anos na cara e com ciúmes, Samuel? Deixa de ser
ridículo, porra!
Ele olha para o chão e balança a cabeça. Esfrego o rosto e vou até ele.
Seguro seus ombros.
— Eu amo a Sofia — digo. Acho que pela primeira vez em voz alta. Ele
me encara com os olhos arregalados. — Ela é a mãe do meu filho e com sorte
vai ser minha mulher em breve. Ela não vai sair da minha vida e é melhor
você se acostumar com isso.
Samuel bufa, e eu dou um tapa na sua cabeça.
— E você é meu irmão, seu merdinha — digo. — Um pé no saco que
só se mete em confusão, mas é meu irmão. Sempre vai ter espaço para você
na família feliz, você só precisa parar de ser um idiota sem motivo.
Ele faz que sim com a cabeça e me abraça pela primeira vez em anos.
Hesito por um minuto porque não sei como reagir, mas o abraço de volta.
— Lembra quando a gente matava aula para ir à praia? — pergunto. Ele
ri e me solta. Esfrega o rosto e vejo que está tentando segurar o choro. Quem
diria que o idiota tem sentimentos?
— Quase repeti de ano por causa dessa merda — diz, e arqueio as
sobrancelhas. — O quê? Daniel Vilella vai matar trabalho para ir à praia? —
debocha, e dou de ombros.
— Aquela porra é minha, eu faço o que quiser.
Samuel sorri e concorda com a cabeça.
Sorrio também, com a sensação de que as coisas vão começar a ser
diferentes entre nós dois.
DANIEL

Recebo uma mensagem da Daiane avisando que chegou com Sofia e


desligo a luz da sala. Ela concordou em me ajudar depois de me dar um
sermão como se eu fosse um garoto. As coisas que eu aguento por causa
daquela mulher. Pedi que ela levasse Sofia para algum lugar depois da aula
porque eu precisava de tempo para arrumar a casa, e foi por pouco. Mal
acabei de sair do chuveiro e estou ouvindo o som da chave abrindo a porta.
— Tem certeza de que não quer entrar, amiga? — Ouço Sofia perguntar
da porta antes de entrar. Daiane diz alguma coisa que não entendo, e vejo
Sofia acenando em despedida. Quando fecha a porta e se vira para dentro,
noto que demora alguns segundos para reagir. Sua boca abre em um “O”
lindo quando me vê, e ela leva as mãos à boca. — O que é isso, Daniel? —
sussurra.
A mesa está posta para o jantar, e o chão da casa inteira está coberta por
pétalas da sua flor preferida. Espalhei velas por todos os móveis e estou
parado aqui, nervoso como nunca antes.
Vou até ela e tiro a bolsa do seu ombro. Acaricio sua barriga e beijo sua
boca.
— Janta comigo? — pergunto. Sofia fecha os olhos por um segundo e
abre um sorriso pequeno
— Para que isso tudo, Daniel?
— Para você — digo e pesco sua boca para outro beijo. Ela suspira, e
eu a prendo em um abraço. — Vem.
Sofia olha ao redor, parecendo maravilhada. Puxo a cadeira para ela se
sentar e peço que espere um segundo. Volto com os pratos e sirvo nós dois
com suco, porque ela não pode beber.
— Você vai me dizer o que está acontecendo ou não? — ela insiste
quando dá uma garfada da comida, e eu rio.
— Coisinha insistente que você é — reclamo. Ela abre um sorriso e
morde a pontinha do lábio. Respiro fundo e prendo a respiração. — Pequena,
preciso que você pare de fazer isso ou eu vou arruinar o jantar.
— Por quê? — ela pergunta baixinho.
— Porque eu estou tentando ser romântico — digo e faço uma careta.
— Eu disse que ia te conquistar, Sofia. Mas quando você me olha assim, tudo
que quero é te jogar nessa mesa e matar a saudade que estou dessa sua
bocetinha gostosa.
Ela ofega, e seu pescoço cora daquele jeito completamente
enlouquecedor que só ela tem.
— Eu também estou com saudades, Daniel — ela diz baixinho. E não
posso fazer nada para evitar que meu pau cresça na calça.
— Sofia…
Arrasto a cadeira para trás e vou até ela. Estendo a mão e a ajudo a se
levantar.
— Assim você acaba com meus planos, garota — reclamo e a puxo
para mim para um beijo. — Eu ia esperar até o final do jantar, mas…
Dou um passo para trás, e ela me olha confusa. Seus olhos se arregalam
tanto que parecem a ponto de saírem do rosto quando eu me ajoelho na sua
frente.
— O que você está fazendo? — ela sussurra e leva as duas mãos à boca.
Puxo a caixa pequena de veludo do bolso da calça e a abro, mostrando
o anel com um diamante arredondado em cima.
— Casa comigo — peço. Nem reconheço minha própria voz. Estou
nervoso, emocionado e morrendo de medo de ouvir um “não”. — Seja minha
mulher, pequena. Fica comigo pelo resto das nossas vidas.
— Daniel, eu… — As lágrimas começam a cair pelo rosto dela, e meu
coração aperta como nunca antes. — Ai, meu Deus. Você está falando sério?
— É claro que estou falando sério, Sofia — digo e passo a outra mão no
cabelo. Ela solta um risinho. — Eu amo você. Amo como você é linda e
doce, inteligente e esforçada. Quero passar o resto da minha vida com você.
Sofia se ajoelha na minha frente e segura meu rosto com as duas mãos.
As lágrimas rolam pelo seu rosto, e eu só percebo que também estou
chorando quando ela passa os polegares pelas minhas bochechas e espalha as
lágrimas. Não me lembro a última vez que chorei, mas não me importo com
isso agora, porque tudo que me importa é ela aceitar.
— Você tem certeza disso? — pergunta em um sussurro. Seguro seu
rosto e passo o polegar pelo seu lábio. Sofia ofega quando eu desço a palma
pelo seu pescoço.
— Nunca tive tanta certeza de nada na vida — respondo. — Casa
comigo.
— Eu caso — ela responde. — É claro que eu caso. Ah, Daniel… Eu te
amo tanto!
Puxo a mão dela para mim e deslizo o anel pelo seu dedo. O sorriso
dela aumenta, e as lágrimas descem ainda mais rápido pelo seu rosto.
— É lindo.
Fico de pé e trago Sofia comigo. Ataco sua boca antes mesmo que ela
se dê conta do que eu estou fazendo. Ela ofega e logo se enlaça no meu
pescoço.
A próxima coisa que sei é que estou tentando arrancar sua blusa. Sofia
geme assim que alcanço seus seios com a boca, e eu gemo também, de desejo
e saudades.
Ela solta um gritinho quando eu a pego no colo e subo as escadas. Levo
Sofia para o meu quarto e a coloco na cama. Aperto um seio inchado e
começo a subir o vestido que ela usa.
— Você dorme aqui agora — aviso. — Comigo. Não aguento mais te
ter longe de mim. Essa cama é sua a partir de hoje.
Sofia morde o lábio e faz que sim com a cabeça. Assim que meus dedos
alcançam sua boceta, ela joga a cabeça para trás e entreabre os lábios.
— Merda, faz tanto tempo — eu reclamo e me ajoelho na sua frente.
Puxo suas pernas abertas para mim e afundo o rosto de uma vez só.
— Daniel… — ela geme meu nome, e eu acelero o movimento da
língua no seu clitóris.
Sofia não demora a gozar na minha boca, e eu acho que estou perdendo
a cabeça porque minhas bolas chegam a doer, apertadas dentro da calça. Foi
uma tortura ficar perto dela nesses meses sem poder encostar nela e agora não
vou mais sair de perto.
— Vem aqui — ordeno, e ela vem. Acaricio seu rosto enquanto Sofia
abre minha calça, e eu só assisto enquanto alcança meu pau e traz essa
boquinha tentadora até mim. Aperto seu cabelo quando ela começa a me
engolir e impulsiono o quadril para frente devagar. — Que saudade da sua
boca, pequena — gemo e uso cada gota de força de vontade para conseguir
escapar da chupada gostosa que ela dá.
Acaricio seu rosto e respiro fundo. Sei que vou precisar ir devagar
agora e ser delicado com ela para não a machucar, então termino de tirar a
roupa e puxo Sofia de pé para terminar de tirar a roupa dela também. Sofia
tenta cobrir o corpo com as mãos, e eu a olho com o cenho franzido.
— Meu corpo não está igual, Daniel — ela diz, parecendo
envergonhada. — Tem estrias e…
— Você é linda — interrompo e tiro suas mãos da frente. — E gostosa.
E minha. E eu vou te comer agora, pequena.
Beijo seu pescoço, mordo a curva do seu seio e acaricio a barriga
grande no caminho para baixo enquanto procuro o clitóris inchado com os
dedos. Ela geme meu nome de novo, e eu deito na cama. Puxo Sofia para
cima de mim e a faço montar no meu colo.
— Acho que eu nunca fiquei por cima — ela diz com uma risada
baixinha. Aperto sua bunda enquanto ela demora uma eternidade para se
encaixar em mim.
— Rebola gostoso no meu pau, meu amor — mando quando finalmente
sinto o calor molhado me envolvendo. Sofia obedece e quica no meu colo.
Seguro sua cintura e deixo que comande a velocidade que quer, porque eu já
estou perdendo completamente a cabeça do jeito que está. — Minha
gostosa…
Levo os dedos ao seu clitóris e começo a circular ali. Seus gemidos
aumentam, e sinto Sofia cada vez mais molhada.
— Minha — repito e aperto sua bunda com força.
— Sua — ela diz ofegando.
E eu, que nunca achei que realmente fosse amar ninguém, sinto me
coração quase explodir com uma felicidade sem tamanho por causa de uma
porcaria de palavra de três letras.
Ela goza gemendo meu nome, e eu puxo a mão com o anel para a
minha boca. Beijo o dedo com o diamante enquanto ela esmaga meu pau e
sussurro minha tantas vezes que perco as contas. E gozo também, afundando
ainda mais nela.
Sofia desaba no meu colo, e eu acaricio seu cabelo, a outra mão
pousada na barriga. Então, ela ri.
— O que foi?
— Não acredito que você me pediu em casamento — diz baixinho.
Beijo sua testa e deslizo a mão para o seu pescoço, apertando a parte de trás
com cuidado.
— Você precisa entender que eu vou ser o único homem a tocar em
você, Sofia. Sua primeira vez foi minha e a última também vai ser.
Puxo seu queixo para cima e faço esses olhos verdes enormes olharem
para mim.
— Essa bocetinha é minha. Você é minha. Seu coração é meu também.
— Todo seu — ela responde. Beijo sua boca com carinho e ela suspira
nos meus lábios.
— E eu sou seu também, pequena.
SOFIA
Um ano e meio depois

— Você é a noiva mais linda do mundo, Sofia — Daiane diz,


controlando para não chorar e não borrar a maquiagem. Claro que ela já
falhou nessa missão mais vezes do que consigo contar, porque retocou a
maquiagem infinitas vezes. — Nunca pensei que te veria assim tão linda, Sof.
— Eu preciso concordar, minha filha — minha mãe diz, sentada na
poltrona, corujando no Eric, meu pacotinho de amor babão.
— E eu nem preciso dizer, não é mesmo? — É dona Luciana quem fala
dessa vez, com a voz carregada de emoção. — Não sabe o presente que é
para mim ver meu filho se casando, finalmente. E com uma mulher boa,
inteligente e que o ama.
É a minha vez de controlar para não chorar de emoção enquanto me
olho no espelho, vendo o vestido do sonho de qualquer mulher,
completamente deslumbrante. Estou parecendo uma princesa, e parece que é
isso que sou mesmo, pela grandeza do casamento que Daniel fez questão de
bancar. Meu Deus, foi um ano de planejamento. Fiz questão de esperar Eric
nascer e crescer, pois nada ia me tirar o momento de ver meu filho sendo meu
pajem na igreja, andando todo de terninho até o altar, lindo como o pai. Hoje
vai ser o dia de realização de sonhos.
Estou nervosa demais.
Daniel não queria esperar, mas assim que expliquei minhas motivações
foi fácil de convencer meu noivo carrancudo e lindo. Meu amor de toda a
vida.
Se um dia eu deixei de acreditar em conto de fadas, não deixo mais.
Desde que nos reconciliamos, Daniel não tem sido nada menos do que
perfeito. Quer dizer, ele segue bruto, grosseiro às vezes, mal-humorado,
cabeça dura e ciumento, mas é meu. Meu homem das cavernas que me ama
tanto que consigo saber pelo seu olhar.
— Está pronta, Sof? Está atrasada.
— Nunca vi uma noiva atrasar para dar de mamar — respondo,
conferindo a tiara de brilhantes na cabeça antes de sair de frente do espelho e
ir em direção ao meu filhote. — Mas vale a pena, não é, meu amor? Você é o
pajem mais lindo do mundo, não é?
Pego Eric do colo da minha mãe e o paparico. Meu filho grande, pesado
e a cara do pai solta uma risada gostosa e tenta se encaixar no espacinho do
véu para ter acesso aos meus seios.
— Você está cheio, seu sem-vergonha. Você é guloso que nem seu
papai, lindão — brinco. As três mulheres soltam uma risada.
Não demora para Daiane o tirar de mim para encher Eric de mimo.
Preciso estar atenta à criação do meu filho, porque não quero que ele cresça
sem ouvir “não”. Se depender de Daniel e de todo o resto, vai ser uma criança
cheia de manhas e que tem tudo na mão. Não quero isso para meu bebê.
Mesmo sendo filho de um CEO rico e poderoso, quero que Eric saiba
valorizar as coisas.
— Vamos. Seu pai está te esperando lá fora — mamãe diz, me
abraçando de leve e me guiando até a porta.
A relação com meus pais foi melhorando no decorrer do tempo,
principalmente depois da chegada de Eric. Ainda sou ressentida por tudo o
que me fizeram, mas não deixo que isso me impeça de os amar. Eu os
perdoei, só não esqueci. Eles são apaixonados pelo neto. Nunca vi um amor
tão grande como o que vejo nos olhos dos dois, e para mim isso é o
suficiente, porque não existe pessoa que eu ame mais no mundo do que o
meu bebê. Desejo que ele seja amado também.
Ando até a porta com as pernas bambas, sabendo que até a imprensa me
espera lá fora. Finalmente, o solteiro mais rico e cobiçado do Rio de Janeiro
vai ser amarrado. É o que dizem as manchetes dos jornais. Sorrio boba por
saber que eu sou a sortuda que vai ter Daniel Vilella para sempre ao seu lado.
Não pelo dinheiro, pela fama ou pelo sexo que ele faz, mas por ter sido a
única a ver a melhor versão do homem, a que só eu conheço, a amável, doce,
cuidadosa, protetora e excessivamente carinhosa. Eu amo aquele homem.
Quando encontro meu pai na entrada da igreja imensa, esqueço de
qualquer medo que tenho porque sei que lá na frente é Daniel que está me
esperando. O homem que me resgatou de pessoas controladoras, e mesmo
sendo um tanto controlador também, me deu a chance de descobrir coisas
novas, talentos, sonhos. Que me deu a chance de me conhecer. Daniel segue
me estimulando até hoje. Faz o que pode para ficar com nosso filho sempre
que preciso ir às aulas e, quando não pode, contrata infinitas pessoas para
atender a necessidade do nosso menino. Está sempre controlando tudo através
das câmeras que espalhou pela nossa casa.
Assim que o vejo em cima do altar, os mais de duzentos convidados do
casamento desaparecem, restando apenas ele. E nosso bebê, que anda de um
jeito desajeitado em direção ao pai. Daniel se agacha, com um sorriso que
não saiu mais do seu rosto, para receber nosso menino do outro lado
enquanto eu espero na porta da igreja, vendo meu sonho sendo realizado.
Ver Daniel com Eric, com essa expressão amorosa no rosto, me deixa
sem fôlego e preciso muito me controlar para não chorar. Meu futuro-marido
o ergue no colo, e nosso filho faz a festa no colo do pai, recebendo um beijo
no pescoço.
A marcha nupcial começa e é a minha vez de ir em direção aos homens
da minha vida.
Olho apenas para eles, sentindo os flashes pipocando no meu rosto, mas
não me importo.
Demora até que eu percorra o tapete vermelho estendido no chão da
igreja e quando finalmente chego, meu coração incha no peito ao ver Daniel e
Eric me encarando.
— Eu amo vocês — digo somente com os lábios, que tremem.
— E nós amamos você, pequena — Daniel se aproxima e sussurra no
meu ouvido.
Não queria que nosso menino saísse daqui, mas dona Luciana se
levanta e segura o neto para que a cerimônia prossiga. Nosso menino
bonzinho se afasta sem choro e se senta ao lado das avós.
O padre sorri para todos, que se sentam enquanto fico de frente para
Daniel, sem conseguir deixar de olhar para ele. Não me acostumei ainda a ter
esse homem na minha vida, sendo meu, me amando, se dedicando todos os
dias a me fazer feliz. Ele sorri abertamente, e meu coração dispara.
— Quero agradecer em nome dos noivos Daniel Vilella e Sofia Pires
pela presença nessa quinta-feira feliz para o casal, onde nos reunimos na
presença do Deus todo-poderoso, nesse momento de emoção em mais uma
família que nasce na presença de Deus. — Eu e Daniel olhamos no mesmo
instante para nosso filho, que segue balbuciando as primeiras palavrinhas
baixo na primeira fila de cadeiras. Nós dois sorrimos de êxtase por saber que
nós dois geramos aquela pequena vida ali, cheia de saúde e disposição. —
Peçamos ao Pai que ilumine e encha de bênçãos esse casal.
Enquanto o homem faz a oração, fecho os olhos e agradeço por tudo o
que vivi até hoje, por todo o caminho que me fez chegar até aqui, nesse altar
ao lado de Daniel. Quando abro meus olhos marejados, vejo que meu homem
me encara com intensidade, com amor, com desejo e com admiração. Sorrio e
retribuo o olhar, desejando que ele sinta tudo o que me causa, tudo o que me
faz sentir.
Me desligo momentaneamente das palavras do padre e me concentro na
alegria que sinto, na certeza de que nunca fui tão feliz assim. Jamais imaginei
que o homem arrogante, grosseirão e insuportável fosse se transformar em
um pai presente e amoroso, e em um noivo tão surpreendente. A meta de vida
desse homem é me surpreender, mas hoje vai ser a minha vez.
Quando chega a vez dos votos, Daniel nem treme na base. O costume
de falar em público para centenas de pessoas o treinou para tudo, já eu? Sinto
que vou desmaiar a qualquer momento. Mas só até ele começar a falar.
— Tenho vergonha de dizer que não acreditava no amor. Achava
impossível a ideia de amar alguém a ponto de querer passar o resto da vida
com ela — ele fala, e dona Luciana solta um resmungo, fazendo todos na
igreja rirem alto. — Mas como eu estava errado, Sofia. E jamais vou ter
palavras o suficiente para dizer o quanto sou grato a você por isso, porque
sem você, eu seria o mais miserável dos homens. Um vida sem a sua
presença já não é algo que imagino. Sua presença, sua força, sua garra e
determinação se mostraram a minha motivação todos os dias. Você é linda,
encantadora, meiga, terrivelmente sexy e, desculpem a todos por isso, minha.
Sorrio para a palavra que acho que passou a ser a sua preferida desde
que nos assumimos como um casal.
— Eu te amo, pequena. Você e nosso filho são tudo para mim. Você diz
que eu te resgatei, mas foram os dois que me resgataram.
— Ah, Daniel… — sussurro, com vontade de pular para o final e beijá-
lo, mas me controlo.
— Agora é a sua vez, Sofia — o padre fala, e sinto meu corpo tremendo
de expectativa.
— Eu costumava não ter uma vida antes de te conhecer. Achava que
sabia o que era felicidade e sonhava com coisas que não eram meu desejos de
verdade. Você me ensinou a agir por mim mesma, a querer ser forte, a lutar
pelo que eu queria, a ter paciência… — Ele faz uma careta engraçada e fofa,
e confirmo o quanto amo esse homem. — Não sei o que seria de mim sem o
seu apoio, Daniel. E o mais importante, você me ama tanto que me fez
perceber que eu também preciso fazer isso a ponto de lutar pela minha
felicidade, sem me anular. Você me deu o maior presente da minha vida e me
resgatou a tempo. Eu te amo por ser forte, protetor e cuidadoso comigo e com
nosso Eric. Te amo tanto que dói bem aqui. — Aponto para meu coração e
sorrio no meio das lágrimas.
Elas são inevitáveis.
— Eu te amo — ele diz, erguendo minha mão e a beijando.
Nós nos amamos com o olhar durante o decorrer do resto da cerimônia
até chegar a hora do esperado “sim”.
— Daniel Vilella, você aceita Sofia Pires como sua legítima esposa
para amá-la e respeitá-la, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, até
que a morte os separe?
— Sim, sim e sim — ele responde, sorrindo.
— Sofia Pires, você aceita Daniel Vilella como seu legítimo esposo
para amá-lo e respeitá-lo, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, até
que a morte os separe?
— Sim, nós três aceitamos.
Daniel franze a testa e inclina a cabeça para o lado, de um jeito fofo que
aquece meu coração.
O burburinho da igreja é alto quando toco na minha barriga. Os olhos
do meu agora marido se enchem de lágrimas de emoção, de amor, de tantas
coisas bonitas que é impossível colocar em palavras.
— Você… Eu… Nós… — Ele só costuma ficar sem palavras quando é
algo relacionado a mim e a Eric.
— Você vai ser papai de novo, Daniel — falo, mordendo o lábio.
Não posso dizer que a chegada de mais um bebê foi surpresa, porque
Daniel e eu somos bem… intensos. Para não dizer outra coisa.
Fiquei radiante quando descobri e mantive segredo de todo mundo,
então podem imaginar a euforia que está na igreja nesse momento. Solto uma
risada com as diferentes comemorações, e o padre dá um tempo de se acalmar
antes de finalmente me permitir beijar meu homem.
— Você acaba de aumentar a minha felicidade, pequena. Você a
triplicou agora — meu marido diz, colado à minha boca, antes de me beijar
do jeito que só ele sabe, do jeito que me faz perder o chão. — Eu quero uma
menininha como você — murmura no meu ouvido quando me solta, mas não
tenho tempo de responder porque o padre começa a encerrar a cerimônia.
Nós saímos da igreja com os sorrisos colados no rosto e, mais do que
nunca, tenho a certeza de que o meu CEO vai ser o melhor marido e pai que
esse mundo já viu.
DANIEL
Cinco anos depois

Cruzo os braços e tento disfarçar o sorriso no rosto enquanto assisto


Sofia desembestar em uma explicação muito detalhada e animada sobre os
produtos em exposição no nosso estande da conferência. Sim, aquela mesma
conferência onde tudo começou tantos anos atrás.
Só que agora ela não está aqui como minha secretária. Está aqui como
minha mulher e dona de metade dessa empresa. E se tem uma coisa que Sofia
tem feito nos últimos anos é trabalhar como eu nunca vi ninguém fazer antes.
A garotinha que eu conheci que corava só de ver um vibrador na frente
não existe mais. Quer dizer… Ela ainda cora, mas só eu consigo essa proeza
quando tenho minha mão em volta do seu pescoço e estou enterrado bem
fundo nela. No resto do tempo, Sofia aprendeu a simplesmente tomar conta
de tudo.
— Tenho certeza de que você vai gostar desse — ela comenta
apontando para um kit que ela mesma montou depois da nossa última
discussão. Ela cismou que queria tentar algumas coisas novas para as vendas,
e eu bati pé que não ia dar certo. Essa teimosa dos infernos foi irredutível e
fez as coisas pelas minhas costas mesmo. E quem diria… Funcionou.
Estamos sendo um sucesso maior ainda esse ano.
Depois que a mulher vai embora, Sofia olha para mim com uma cara de
quem diz “eu avisei”. Reviro os olhos e vou até ela. Puxo minha mulher pela
cintura, e ela ri.
— Estamos aqui a trabalho, senhor Vilella — ela diz. Seguro seu rosto
com força, e ela morde a pontinha do lábio.
— O dia já acabou faz tempo e o único trabalho que eu quero ter agora
é o de te levar para a cama, pequena — digo contra a sua boca antes de dar
um beijo gostoso nos seus lábios.
Ela ri e enlaça os braços em volta do meu pescoço.
— Estou com saudades deles — ela diz. Eu sorrio e desço a boca pelo
seu rosto.
— Eu também — concordo.
Nossos filhos estão em ótimas mãos, não tenho qualquer dúvida. Minha
mãe não pensou duas vezes antes de dizer que ia ficar com os dois enquanto
Sofia e eu vínhamos para essa viagem, e sei que os pais de Sofia e Daiane
vão aparecer para mimar aqueles dois pestinhas também. Não duvido que até
Samuel dê o ar da graça, já que desde que Eric nasceu, ele resolveu assumir
muito bem o papel de tio.
Quando nossa pequena Beatriz chegou para completar a família, ele
grudou mais que carrapato de vez.
— Acho que já está na hora de fazer um terceiro — sussurro no ouvido
de Sofia e desço a mão pela sua bunda. — Bia já está com quatro anos. Ela e
Eric precisam de um irmãozinho.
— Nós estamos em público, Daniel! — Sofia me repreende e tenta tirar
minha mão da sua bunda, mas eu só faço apertar mais.
— Foda-se o público — respondo e tomo sua boca de novo. — Não
tenho culpa se minha mulher é uma bela gostosa. Não consigo tirar as mãos
de você.
Nunca vou me cansar da sensação do corpo dela estremecendo nos
meus braços e sua respiração ficando pesada assim sempre que está pronta
para mim. Cada dia que passa eu descubro que os votos que fiz no nosso
casamento nunca deixam de ser verdade. Eu amo Sofia cada dia mais, quando
achei que nem seria possível amar alguém um dia.
— Então me leva para o quarto, marido — ela diz, e eu aperto mais seu
traseiro.
— Seu desejo é uma ordem, senhora Vilella.

***
A casa está uma bagunça. Consigo ouvir os gritos de crianças e as
risadas altas assim que eu abro a porta.
— Papai!
Beatriz vem correndo na minha direção, e eu me abaixo para pegar a
minha menina. Ela herdou o cabelo claro de Sofia e seus olhos enormes e
verdes. É uma cópia perfeita da minha mulher e a coisa mais linda que já vi
no mundo. Eu a pego no colo, e vejo Sofia revirando os olhos depois de dar
um beijo no topo da cabeça da nossa filha.
— Ciumenta — eu sussurro, e ela me mostra a língua. Eric aparece
alguns momentos depois com minha mãe logo atrás dele. O cabelo castanho-
escuro e encaracolado cai pela sua testa, e o sorriso enorme está no seu rosto
como sempre.
Sofia se abaixa na frente dele, e nosso menino a abraça apertado.
— Como você está, meu amor? — ela pergunta. Minha mãe vem até
mim e dá um beijo no meu rosto antes de dizer que vai resolver alguma coisa
e some.
— A vovó levou a gente pra andar de bicicleta e tinha um menino
implicando com a Bibi, mas eu cuidei dela que nem você mandou, mamãe —
ele conta e cruza os braços fazendo um bico. O sorriso de Sofia só aumenta, e
ela bagunça o cabelo dele.
— Parece que alguém vai ser um mocinho protetor — ela diz e olha
para mim com tanto amor nos olhos. — Puxou o pai.
Ela pega Eric no colo com alguma dificuldade porque ele já está bem
grande e vem até mim. Sinto aquele quentinho no peito de sempre quando
estou com minha família toda junta.
Sofia foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Apareceu do
nada e virou tudo do avesso. Minha mulher linda, doce e inteligente que me
deu a família mais linda que alguém podia pedir.
— Eu te amo — ela diz, e eu me abaixo para dar um selinho na sua
boca.
— Eu te amo, pequena — respondo e sorrio para ela também. — Minha
pequena.
Ela concorda com a cabeça.
— Toda sua.

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