Estou contando até dez para não perder a paciência com o idiota que
está do meu lado, mas é uma puta tarefa difícil porque ele é um incompetente.
— Eu tenho uma reunião em vinte minutos, Macedo. Cadê a porra do
contrato?
O advogado da empresa me olha como se fosse um ratinho assustado e
começa a gaguejar enquanto procura uma desculpa esfarrapada qualquer para
ter feito merda de novo.
— Não é como se tivesse sido minha culpa — ele tenta se justificar e
arruma a gravata. — Aquele homem é louco. Você viu as coisas que ele
pediu?
Bato na mesa com força, e Macedo praticamente pula na cadeira,
tomando um susto. Respiro fundo, irritado.
— Eu estou pouco me fodendo se ele quer que você se vista de palhaço
e corra em círculos! — grito e vejo Macedo se encolher na cadeira. — Se ele
quiser colocar uma algema nas suas bolas, vai colocar a porra de uma algema
nas suas bolas e você vai dizer que gostou, fui claro?
Macedo faz que sim com a cabeça, mas não fala mais nada. Era só o
que me faltava. Agora eu tenho que entrar naquela reunião e explicar para o
dono da maior rede de shoppings da região que meus funcionários são uns
inúteis e por isso o contrato que ele veio assinar hoje não está pronto.
E cadê a irresponsável da nova secretária?
Puxo a manga da camisa social para olhar a hora no relógio de pulso e
vejo que são sete e dez. Atrasada no primeiro dia. Essa garota não vai durar
aqui. Ela escolheu o dia errado para testar minha paciência.
Meu humor está uma merda desde sexta-feira, depois que aquela louca
me deixou de pau duro na boate.
Sou Daniel Vilella, porra. Ninguém me deixa na mão daquele jeito. Deu
vontade de encontrar aquela garota e dar umas boas palmadas naquele
traseiro dela para aprender a não provocar um homem como eu.
É claro que ela foi esquecida imediatamente e encontrei outra mulher
disposta a resolver o problema sem qualquer dificuldade. Passei o final de
semana inteiro enterrado em bocetas muito dispostas, mas meu humor não
melhorou.
Junta isso com o caos que essa empresa está, e é uma péssima ideia
cruzar meu caminho hoje.
— O que você ainda está fazendo aqui? — pergunto para Macedo, que
só continua me olhando. A vontade que tenho de o colocar no olho da rua é
enorme, e eu faria exatamente isso se dar um emprego para ele não tivesse
sido um acordo com um cliente. Um acordo merda para mim, consigo ver
claramente agora. Está explicado por que ele não conseguia arrumar um
trabalho por conta própria. — Está esperando um convite para sair? Some da
minha frente!
Ele se levanta praticamente em um pulo e sai da sala, batendo a porta
no caminho. Bufo e volto a ler o documento que tenho aberto no computador.
Essa reunião é a chance de conseguir uma parceria milionária e não posso
perder essa oportunidade. Não vou perder essa oportunidade.
Quando o relógio marca sete e vinte, pego meu celular e saio do meu
escritório para ir para a sala de reuniões. Sem prestar atenção para onde estou
indo, começo a digitar um e-mail para Raquel, minha secretária que saiu de
licença-maternidade, para perguntar onde a substituta dela se enfiou, até que
esbarro em alguma coisa.
Alguma coisa não, alguém. Alguém estabanado que deixa várias pastas
caírem no chão.
— Droga — ela diz e se abaixa no chão para começar a arrumar a
bagunça.
Com o cenho franzido, assisto à cena. A garota tem um cabelo loiro
preso no topo da cabeça e, de onde eu estou, com ela ajoelhada na minha
frente, consigo ver a sombra dos seios pequenos por dentro do decote da
blusa de botões. Só tiro os olhos da curva delicada quando ela finalmente
olha para cima. Os olhos verdes arregalados estão completamente
aterrorizados, e a boca rosada está com os lábios partidos.
Ela parece não ter ideia do que dizer e continua ali, me olhando de
baixo com a cara de boneca inocente de porcelana.
— E você, quem é? — pergunto quando essa situação ridícula começa a
se estender por tempo demais. Cruzo os braços no peito, gostando de como
ela parece tão pequena assim. A garota pisca algumas vezes e parece confusa.
— Você… — Ela pigarreia depois de a voz sair como um fio. — Você
não sabe quem eu sou? — pergunta. Solto uma risada seca e ergo uma
sobrancelha.
— Eu pareço ter tempo para perder com conversa fiada? Se disse que
não sei, é porque não sei — respondo seco.
Ela parece chocada por um segundo, mas se recupera rapidamente. Joga
o queixo para cima em um desafio que seria adorável se eu não estivesse
quase atrasado. Olho a hora de novo e volto a olhar para ela a tempo de ver se
colocar de pé segurando as pastas na frente do corpo como se fosse um
escudo protetor. De pé em cima dos saltos, a garota continua sendo muito
pequena. Percorro os olhos pelo seu corpo antes de voltar para o seu rosto e
ver que a pele branca está avermelhada.
— Sofia Pires — ela se apresenta, estendendo uma mão para mim.
Quando vê que não vou cumprimentar de volta, recolhe os dedos. — Sua
nova secretária.
— Ah — digo, desdenhoso. — A irresponsável atrasada no primeiro
dia de trabalho.
Preciso me segurar para não rir da mudança brusca no seu rosto. Ela
passa de assustada para ofendida.
— Eu cheguei no horário — ela se defende. — Você estava…
— Senhor — corrijo. Ela joga os ombros para trás, arrumando a
postura.
— … estava com companhia e não quis interromper. Cheguei às sete e
comecei a organizar sua agenda para o dia como Raquel me instruiu. Você…
— Ela pausa quando aperto os olhos em um aviso claro. — O senhor tem
uma reunião em poucos minutos com Arthur Duarte. Ele está esperando na
sala de reuniões. Já levei água e pedi para o menino do outro andar buscar
café para ele e para os advogados na loja aqui embaixo.
Eu a olho de cima a baixo de novo, sem dar o braço a torcer. Dou um
passo na sua direção, e ela quase se encolhe no lugar. Sorrio, finalmente.
— Quantos anos você tem, garota? — pergunto a poucos centímetros
de distância.
— Vinte — responde, mordendo a pontinha do lábio. Perco o fio do
pensamento por um segundo encarando aquele pedaço do seu corpo. Respiro
fundo e volto a atenção para os seus olhos.
— Uma criança — declaro. — Vou confiar que Raquel sabia o que
estava fazendo quando me mandou uma pirralha mal saída das fraldas, mas
não tenho vocação para babá. Você trabalha para mim e vai ser muito bem
paga, mas isso significa que vou exigir competência. Fui claro?
— Sim, senhor — ela sussurra, e uma onda estranha de satisfação corta
meu corpo ao ouvir as duas palavras saindo dos lábios grossos.
— Muito bem — digo, passando por ela e seguindo em direção ao
elevador. Aperto o botão e olho por cima do ombro para encontrar a garota
estática no mesmo lugar, me olhando como se eu fosse uma assombração. —
Nós temos uma reunião, senhorita. Ou ainda não entendeu que precisa ser
minha sombra?
Que bosta de dia é esse que todo mundo está esperando um convite para
fazer o próprio trabalho?
Ela se recupera rapidamente, coloca as pastas na mesa e se inclina para
pegar uma agenda. Aproveito o ângulo para conferir o traseiro redondo
dentro da saia apertada, satisfeito com a vista.
Se essa menina for uma completa idiota e não souber fazer nada, pelo
menos é uma boa visão.
Entramos no elevador e assisto deliciado enquanto ela tenta não olhar
para mim a cada dois segundos. Sofia mal consegue disfarçar o interesse.
Quando chegamos ao andar certo, ela começa a recitar meia dúzia de
anotações que tem na agenda, e eu me surpreendo quando noto que são
informações bastante úteis. Assim que chegamos à sala de reuniões, paro com
a mão na maçaneta e olho para ela.
— Preparada? — pergunto. Ela move a cabeça para cima e para baixo
em positivo. Seus olhos estão interessados e desejosos enquanto me encara, e
dou um passo para mais perto dela, me aproveitando do andar vazio e sem
plateia. — Algum problema? — questiono.
Sofia derruba os olhos pelo meu corpo do mesmo jeito que fiz com ela
alguns segundos atrás e respira fundo, balançando a cabeça em negativa
rapidamente. Mas vejo seu pescoço enrubescer e seu peito subir e descer em
uma respiração funda.
O cheiro doce do perfume que ela usa me parece familiar, mas não me
lembro de onde. O que sei é que meu humor melhora um pouco com a visão
da garota tão desconcertada com a minha presença. Meu pau decide que o
final de semana ocupado não foi o suficiente para ficar satisfeito, porque dá
sinal de vida dentro da calça.
É uma pena que eu tenha uma regra tão rígida de não me envolver com
funcionárias, porque o jeito que ela me olha deixa claro que Sofia seria uma
ótima diversão.
SOFIA
Como assim ele não se lembra de quem eu sou? Não que isso importe
na minha vida, porque eu só vi o homem uma vez, mas não posso mentir que
me chateio de ser tão esquecível assim.
Eu não devia estar chateada com isso, nem mesmo um pouco. Penso
nisso durante todo o dia, como um mantra, para ver se meu cérebro burrinho
entende de uma vez.
Devia ter ficado feliz, porque só Daniel Vilella não se lembrando de
que fez… aquilo nos meus peitos para não me demitir já no primeiro dia de
trabalho. Não tenho sorte mesmo na vida. O dia que decido ser menos eu
mesma e me deixo levar pelas sensações e emoções, faço isso justamente
com o cara que calhou de ser meu chefe. Preciso falar com a Dai
urgentemente. Ela vai saber como me orientar nesse momento tão
embaraçoso.
Me escondo em uma das cabines do banheiro e respiro fundo,
segurando o celular na mão com tanta força que sinto meus dedos doendo.
Controlo o tremor que não me abandonou pelo resto do dia e respiro fundo
mais uma vez antes de discar o primeiro número da minha agenda. O celular
chama várias vezes, mas minha amiga não me atende. Provavelmente está
ocupada no trabalho. Coisa que eu deveria estar também, mas precisei de uns
minutos para lidar com a intensidade do meu novo chefe. Que homenzinho
mais arrogante. O que tem de bonito e de charmoso tem de pentelho! Isso, de
certa forma, é algo positivo para mim porque faz com que quebre um pouco
do feitiço do dia da boate. Ali, o homem com cara mafioso parecia educado,
cavalheiro, sedutor e sorridente, mas aqui no trabalho, só vejo a fachada do
CEO grosso e mal-humorado.
Agora me lembro de onde o conheço. Não é muito difícil ver seu rosto
em propagandas dos produtos que comercializa. Só de pensar nisso, sinto
meu rosto quente porque não sou exatamente experiente em sexo para não
corar ao pensar os tipos de produtos que ele vende.
Antes que possa discar para Daiane de novo, escuto a porta do banheiro
abrindo e logo risadas altas de mulheres com vozes finas demais.
— Você viu a coisinha que é a secretária nova dele? Acho que não dura
uma semana! Quer apostar? — Inclino a cabeça para o lado e aguço minha
audição, tentando confirmar se é de mim que elas estão falando. — De tantas
opções boas aqui dentro, o poderoso e gostoso chefão tinha que contratar uma
tapada sem graça?
— Ah, amiga, se ele não fosse tão rígido com a regra de não se
relacionar com funcionárias, eu sei bem em que ele ia se interessar nela —
outra mulher fala, com um tom mais ameno, mas ainda assim venenoso.
— Jura? Porque eu não vejo nada de mais. Os caras estão todos
babando na coisinha sem graça, mas só porque é carne nova. Não podem ver
uma mulherzinha sonsa, com carinha de boneca inflável, que se interessam.
Sou mais eu.
Coloco a mão nos lábios, chocada com a maldade que sai da boca das
duas mulheres em relação a mim. Eu nem as conheço. Cheguei hoje! Como
podem ter feito um dossiê desses ao meu respeito assim tão rápido?
Espero que elas saiam do banheiro e não consigo mais evitar o choro.
Acho até que fui forte demais nessas cinco horas de trabalho, porque quis
chorar no primeiro grito mal-educado do meu chefe infeliz.
Controlo os espasmos que o meu corpo dá e respiro fundo, porque não
posso desistir assim tão rápido. A voz de Daiane ecoa na minha mente,
dizendo que preciso ser mais forte.
Me levanto da tampa fechada da privada e abro a porta da cabine, indo
para frente do espelho. Estou uma bagunça só. Solto meus cabelos e os
espalho pelos ombros para tentar esconder a vermelhidão que aparece no meu
pescoço sempre que choro demais. Limpo embaixo dos olhos com delicadeza
e agradeço por não ter passado maquiagem hoje, porque senão ia estar uma
bagaceira. Normalmente, um batom para mim é mais do que suficiente.
Fico mais cinco minutos ali, sentindo minhas pernas trêmulas, mais
choro querendo sair e uma vontade insana de sair correndo desse prédio. Não
imaginei que a vida adulta ia ser tão difícil.
Saio do banheiro de cabeça erguida, mesmo que a vontade seja de
desviar o olhar de todos os que me encaram no caminho até minha mesa. Mal
me sento na cadeira e escuto o telefone infernal tocando. Meus dedos tremem
ao atender e solto um suspiro antes de dizer:
— Senhor Daniel, precisa de alguma coisa?
— Posso saber por que motivo não me trouxe a pasta que te pedi há
cinco minutos? Não tenho tempo para esperar por sua eficiência, Sofia.
— Já estou indo, senhor. Apenas fui ao banhe…
Ele não me espera terminar a frase e desliga na minha cara. Respiro
fundo e abaixo a saia, me sentindo esmagada dentro do tecido apertado.
Organizo as folhas dentro da pasta e ando até sua sala. Bato devagar e ouço
um resmungo mal-humorado antes de entrar.
— Com licença, senhor. Trouxe o que pediu.
Daniel faz um gesto com os dedos sem me olhar e me aproximo de sua
mesa lentamente, prendendo a respiração para não sentir o cheiro masculino
que impregnou na sala.
— Da próxima vez, seja mais rápida no banheiro.
Quando não respondo, ele ergue a cabeça e vejo a testa franzir
levemente ao olhar para meu rosto. Com certeza não consegui disfarçar
completamente a cara de choro e isso é uma merda, pois tenho certeza de que
a enxurrada vai vir de novo caso ele grite comigo por isso também. Já basta
de gritos.
— Até que durou muito sua coragem, Sofia. Estava fazendo apostas
para saber quanto tempo ia durar — ele fala sem parar de me olhar e inclina a
cabeça para o lado, parecendo me olhar atentamente pela primeira vez desde
que eu cheguei. — Não tem motivo para ter medo de mim se fizer seu
trabalho direito. Eu sou o melhor no que faço, por isso procuro os melhores
para trabalhar comigo. Não estou errado, estou?
— Não, senhor — respondo baixinho, controlando para não desviar o
olhar do seu.
Seria tão mais fácil se ele não me olhasse como se eu fosse um
cordeirinho indo para o abate.
— Você pode aprender muito aqui, Sofia. Agora pode ir.
Ele faz um gesto com a mão e volta a se concentrar no computador à
sua frente. Coloco a pasta que ainda segurava como um escudo em frente ao
corpo e quase corro em direção à porta, mas me controlo. Só preciso adquirir
um pouco de controle na minha vida. Nunca fui boa nisso, porque sempre fui
acostumada a ter todo mundo tomando decisões por mim, dizendo como eu
deveria agir, falar e me expressar. Na verdade, eu me acostumei a isso. E,
antes de tudo acontecer com Marcos, realmente pensava que isso era uma
coisa boa, que as pessoas não queriam que eu me estressasse à toa. Agora,
percebo o quanto isso me prejudicou na vida. Com meus vinte anos, posso
dizer que não tenho experiência com nada na vida; namoro, emprego,
estudos. Absolutamente nada. Adiei meus planos de faculdade porque
atrapalhariam os que meu ex-noivo fazia em relação à nossa mudança após o
casamento. Igualmente para um emprego.
Em uma coisa tenho que concordar com Daiane: eu me acomodei na
minha relação com Marcos. E estou completamente aterrorizada por ter que
mudar minha vida inteira a essa altura do campeonato.
Volto para minha mesa e trabalho concentrada, tentando memorizar
tudo o que Raquel, a antiga secretária de Daniel, me passou. É um trabalho
com muitas informações. Pelo que fiquei sabendo, o CEO grosseirão precisa
quase de uma babá para resolver tudo relacionado à empresa e às vezes até
para assuntos pessoais.
Penso que preciso do dinheiro agora que não sei o que vai ser da minha
vida e consigo sobreviver até o final do primeiro dia de expediente. Respiro
fundo e pego meu celular, vendo que tive chamadas perdidas de Daiane.
Estava tão concentrada em não surtar no resto do dia que nem mexi no
telefone, morrendo de medo de ser repreendida pelo carrasco por isso
também.
Junto minhas coisas rapidamente, com medo de cruzar com Daniel, que
ainda está trabalhando na sua sala, e praticamente corro até o elevador. Não
pensei em como vou voltar para casa, porque recebi carona para vir, mas não
planejei como retornar. Considero pegar um ônibus para economizar, mas
meus pés cansados imploram que eu esbanje um pouco e pegue um Uber.
Obedeço à vontade deles.
Pego o celular da bolsa e peço o carro pelo aplicativo. Enquanto espero,
observo o movimento das ruas cheias graças às pessoas saindo do trabalho.
Estou concentrada respondendo minhas mensagens do dia quando sinto
um toque conhecido no meu braço. Ergo a cabeça e me afasto para trás como
se a palma tivesse me queimado.
— O que está fazendo aqui? — pergunto baixo, tentando esboçar toda a
mágoa que sinto do homem à minha frente.
— Te liguei, mas você não me atendeu, Sof. Precisamos conversar.
— Não temos mais nada para conversar, Marcos. Qualquer conversa
que a gente podia ter foi cancelada no segundo em que te vi dentro de outra
pessoa — respondo com a mandíbula travada, controlando o choro.
Meu coração está miúdo porque a facada que levei nas costas volta a
me entristecer. É muito difícil ser machucada por alguém que você acha que
conhece bem.
— Não é assim, Sof. Você nem deixou eu te explicar nada. Tenho
certeza de que vai me entender depois que a gente conversar.
— Já disse que não.
Faço menção a andar e o deixar ali, mas as mãos dele seguram meus
braços.
— Por favor, coração. Você sempre foi sensata e inteligente. Sabe que
eu jamais te magoaria de propósito, não é? — diz com um tom brando,
inclinando a cabeça e piscando os cílios longos e cheios que sempre me
encantaram. — Eu te amo tanto, amor. Estou sofrendo de saudade de você. É
impossível te esquecer.
Solto uma risada baixa e irônica e desvio meu olhar, porque sua fala
contrasta bastante com a atitude do CEO mafioso. Para ele, parece que eu sou
completamente esquecível, já que o homem não pareceu mesmo me
reconhecer depois de um dia inteiro na minha companhia. Isso porque ele
chupou meus peitos!
— Já te machuquei de propósito alguma vez, Sof? — Marcos insiste, e
eu seco a lágrima que desce pelo rosto, negando com a cabeça. — Pois
então… Tudo tem uma explicação, amor.
Olho para longe para desviar meu olhar do seu e vejo Daniel na saída
do prédio, olhando para o celular com a expressão carrancuda de sempre.
Quando ele desvia os olhos da tela e me encara, o vinco profundo em sua
testa se intensifica ainda mais ao ver as mãos de Marcos ao redor dos meus
braços.
— OK, vamos ter uma conversa — respondo para meu ex-noivo antes
que possa pensar direito.
Não sei por que fiz isso. Se para me livrar da angústia e da saudade que
sinto de Marcos ou se para provar para não sei quem que alguém se lembra
da minha existência, que sente minha falta.
Eu me afasto do toque que ainda me prende e sigo meu ex-noivo até seu
carro. Cancelo a corrida do Uber e não olho para a entrada do prédio
novamente. Não que Daniel Vilella tenha algo, ou sequer se interesse, com a
minha vida pessoal, mas não queria ter de ver sua expressão carrancuda
novamente. Ela parece não sair do seu rosto nunca.
Quando o carro começa a andar, eu me pergunto se não agi por impulso
ao aceitar ouvir Marcos de novo. Como não sou uma pessoa impulsiva,
coloco na cabeça que tomei a decisão certa, que estou agindo mais como eu
mesma. O problema é que, desde aquela noite na boate, não estou querendo
agir assim. Pelo contrário, sinto vontade de ser aquela garota impulsiva que
se entrega a um desconhecido.
DANIEL
É o caos absoluto que reina desde que comecei a trabalhar com Daniel
Vilella. Coisas demais aconteceram desde o meu primeiro e terrível dia de
trabalho. Muitas mesmo.
Para começar, decidi dar uma segunda chance para Marcos, que vem
demonstrando estar arrependido pelo que fez. Ainda assim, eu me sinto
estranha quando estou com ele. É como se a cada vez que ele sorrisse, eu o
visse enterrado naquela mulher. Talvez por tudo ser muito recente ainda. Mas
tenho fé de que as coisas vão se acertar entre nós dois.
Ele não ficou muito feliz por eu ter arrumado um emprego. E Daiane
não ficou muito feliz por eu ter reatado com ele. Meus pais não ficaram
felizes após descobrirem que eu terminei momentaneamente com Marcos por
uma besteira — palavra deles — e ainda que arrumei um trabalho nesse meio
tempo. Resumindo: caos absoluto.
Mas, apesar de tudo, eu estou feliz por fazer algo meu pela primeira vez
na vida, já que adiei muitas coisas que queria fazer em função do meu
casamento com Marcos, como minha faculdade de administração, por
exemplo. Estou empolgada por descobrir habilidades que não sabia que eu
tinha, como a de organização.
Já disse que não é fácil trabalhar com o CEO mafioso, não é? Ele é
exigente e quer tudo do seu jeito, no seu tempo. Ainda assim, Daniel vem me
ensinando muito, principalmente a ser forte, pois não é nada difícil querer
chorar quando ele fecha aquela carranca para mim e desata a dar ordens
naquele tom arrogante que tem.
— Pronta, Sofia? Ou preciso esperar que seus devaneios acabem? —
Salto da cadeira de uma vez ao ouvir o timbre grave e tão perto do meu
ouvido e recolho meu tablet para o caso de precisar anotar algo.
Não estou me sentindo nada confortável por estar aqui a essa hora com
esse homem. São nove horas da noite, e todos os funcionários do andar já
foram embora, restando apenas eu e o irresistível — e austero — chefe.
Ah, isso não vai ser nada fácil.
— Estou pronta, senhor.
Sigo até sua sala, e ele não me dá passagem, entrando na minha frente
com passos largos e elegantes. Cavalheiro como um cavalo.
— Feche a porta e se sente aqui — diz e segue até sua cadeira preta
atrás da mesa de mogno.
Obedeço e me sento no assento em frente a ele, cruzando as pernas duas
vezes, tentando não me sentir acuada com sua presença tão imponente e com
a expressão sempre séria. Custava sorrir só um pouquinho para não espantar
as pessoas? Custava?
— Como eu disse, vou precisar da sua opinião a respeito dessas novas
amostras.
Eu o vejo abrindo uma caixa escura em cima da mesa e olho com
curiosidade para o conteúdo. O homem parece atento às minhas reações, e
tenho a impressão de que um pequeno sorriso zombeteiro se forma no seu
rosto, mas logo some. Só pode ser miragem mesmo, porque Daniel Vilella
não sorri. Nunca. Nem um mísero sorrisinho quando algum conhecido vem
visitá-lo no escritório. Não sei como não dói o rosto de tão travado que é.
— São produtos inovadores no mercado. Foram feitos para ativar os
sentidos e a sensibilidade feminina — fala com a voz grave, e eu aceno, me
segurando para não corar. E falhando miseravelmente. — Me dê sua mão.
Aperto meus dedos e os estico para frente, os sentindo completamente
trêmulos.
— Este aqui é um vibrador que solta um gel prolongador de orgasmo ao
sentir a boceta se contraindo. Quanto maior a contração, maior o estímulo e a
quantidade do líquido que sai. — Engasgo com a fala chula e completamente
inapropriada para o local e arregalo os olhos para ele, me lembrando da
boate, quando achei que ele fosse um cavalheiro sedutor. — Feche as mãos
ao redor dele e sinta, Sofia.
— Senhor… — Antes que eu proteste, ele coloca o vibrador rosa e
enorme na minha mão.
Vou morrer de vergonha, é isso mesmo. Flores no caixão, por favor.
Ainda com os olhos esbugalhados, encaro o CEO boca-suja se encostar
no assento e me encarar com um olhar de desafio no rosto, como se sentisse
prazer por me deixar constrangida.
— Aperta, Sofia. Devagarinho para não se sujar muito.
— Eu não sei…
— Não sabe apertar? — pergunta baixo, e balanço com a cabeça em
negativa. — Do mesmo jeito que se aperta um pau de um homem. Precisa de
ajuda com isso?
Tenho vontade de tacar esse vibrador na cara dele e pedir para apertar
ele mesmo o pinto do avô dele, mas seria desrespeitoso e não vou dar o
gostinho de Daniel me ver ainda mais constrangida. E de me demitir.
— Não, eu consigo. — Empino meu nariz e aperto devagar, mas nada
acontece.
— Mais forte.
Aceno fraco e coloco mais força. Imediatamente, um jato quente de um
líquido sai da ponta do vibrador e escorre pela minha mão, caindo na minha
saia. Se as coisas podiam piorar…
— É quente — sussurro.
— Exatamente. A intenção é que o prazer seja abrasador até mesmo na
hora da masturbação individual — fala, voltando a deixar o corpo mais para
frente. E existe masturbação coletiva? Meu Senhor Deus… — O que achou?
Seria algo que usaria no seu dia a dia?
Abro e fecho a boca e coloco o produto de volta na caixa aberta em
cima da mesa. Não seria mesmo.
— Acho bastante comercial, senhor — respondo, tentando passar uma
confiança que não sinto.
— Muito bem. O próximo… — Ele tira outro objeto de dentro da caixa
preta, e solto um pigarro, tentando me manter profissional.
Isso que dá ouvir sua melhor amiga louca! Você acaba se metendo em
uma empresa de sex shop sendo uma virgem careta.
Parabéns, Sofia!
— Esse aqui é para os casais. É meu preferido de todos dessa linha
nova, se quer saber a minha opinião.
Eu me assusto quando o homem se levanta e prendo a respiração
enquanto se aproxima da minha cadeira.
— Esse é um prendedor que serve para os seios e para o clitóris ao
mesmo tempo — fala, e ouço o barulhinho das correntes do objeto, me
deixando tensa demais. — Nesse que vou precisar ainda mais da sua ajuda,
Sofia. Preciso que teste para mim.
— O-O quê? — gaguejo e ergo os olhos.
— Testar, garota.
Ele passa a mão grande pelos fios escuros do cabelo e entrega a
correntinha na minha mão. Observo com atenção e não tenho nem ideia de
como usar isso. Parecendo notar minha hesitação, Daniel se aproxima mais
ainda e para em frente à minha mesa.
— Levanta — manda, e eu obedeço. — Estica os dedos indicadores.
— Senhor Daniel, eu…
Ele pega minhas mãos, e tremo de leve com o calor das suas palmas. É
a primeira vez que ele me toca. Quer dizer, aqui no trabalho. Quase consigo
ouvir minha respiração alta enquanto Daniel, com destreza, ajusta os
pregadores na ponta dos meus dedos.
— Esses aqui você prende nos bicos dos seus seios. — Enquanto fala,
seu olhar vai rapidamente para meu decote, e ele inclina a cabeça para o lado,
como se estivesse curioso. — Esse aqui você prende no clitóris, devagarinho.
Quando você se mexer, o pregador de baixo puxa de uma vez.
Ele demonstra o que fala, e eu dou um saltinho, arfando.
Droga! Tenho certeza de que não deveria estar me sentindo tão quente
assim com uma demonstração de brinquedos eróticos. Mas é pedir demais
que essa voz rouca não me seduza e que minha imaginação não vá longe.
— De onde que me lembro desse decote, Sofia? — Daniel fala baixo,
ainda olhando para meus seios, e dou um passo para trás, fazendo os
pregadores saírem do meu dedo.
— De lugar nenhum, senhor. E não devia estar olhando para isso —
falo, brava, me esquecendo de que ele pode destruir minha carreira que só
iniciou há pouco mais de um mês.
Daniel inclina ainda mais a cabeça para o lado, e sinto meu colo dos
seios esquentando com seu olhar tão incisivo. Sinto minha respiração
falhando conforme ele se aproxima novamente.
— Você parece um bichinho delicado, Sofia. Isso é medo ou excitação?
— Ele repete a mesma pergunta que me fez na boate, e travo minha
mandíbula, sentindo uma raiva pela falta de vergonha na cara dele.
— Fala isso para todas, não é? — indago, erguendo meu queixo, mas
me perco no raciocínio quando Daniel passa a língua pelos lábios,
lentamente, me provocando, voltando a aflorar o lado meu que nunca
aparece. O que parece só despertar quando esse homem está assim, tão perto
de mim.
— De onde eu me lembro desse decote, Sofia? — pergunta baixo
novamente e levanta meu queixo com a ponta do dedo indicador. Solto o ar
rapidamente e mordo o lábio, sem saber se olho para sua boca, para seus
olhos de predador ou se me concentro na mão que se aproxima da minha
cintura.
Tento pensar que ele não vai avançar o sinal, mesmo que eu queira
muito que isso aconteça. Tento pensar que Daniel não vai infringir as regras
que ele colocou sobre não se envolver com funcionárias — segundo as
venenosas do banheiro. Tento pensar em algo!
Mas qualquer coisa se torna impossível perto desse homem.
Antes que eu possa me afastar, implorar para que ele finalmente me
beije, que arranque minha roupa, ou sei lá o que as pessoas fazem quando
estão no ápice da excitação, meu chefe encosta os lábios no meu pescoço e
inspira, cheirando minha pele que deve estar vermelha como um tomate.
— Esse cheiro… — Seus dedos brincam no meu decote, e prendo a
respiração. — Posso, Sofia?
Não sei o que ele pergunta, mas aceno em confirmação e afasto a
cabeça para trás em um deslumbramento sem controle enquanto sua boca
quente ainda desliza pelo meu pescoço. Jogo minhas mãos para me apoiar
nos braços da cadeira antes que eu caia no chão e sinto os dedos de Daniel
entrando na minha blusa, apertando meu mamilo direito com força.
Não tenho coragem de abrir meus olhos, então os aperto com força e
apenas me perco nas sensações. Eu me permito desfrutar de cada contato com
a pele quente desse homem enlouquecedor.
Mas acaba rápido demais.
Daniel se afasta bruscamente, e o vejo desconcertado pela primeira vez,
mas rapidamente a postura some, voltando a de controle e de arrogância.
— Então achou legal fugir de mim aquele dia, Sofia? — ele questiona,
e eu arregalo meus olhos.
Ah, Deus, ele se lembrou!
E o que eu estava fazendo? De novo?
De novo, Sofia! Ai, meu Deus! O Marcos…
Como eu pude me esquecer de que agora eu estou noiva de novo? De
que o homem que estava com a boca no meu seio de novo não é mais um
desconhecido qualquer em uma boate, mas sim o meu novo chefe? Como
posso ficar tão aérea e desconectada do mundo quando essa criatura me olha
assim?
— E-Eu… Me desculpa…
— Saia, Sofia. — Ele me dá as costas e passa a mão pelos cabelos,
parecendo nervoso.
Mas o que eu fiz? O homem me ataca duas vezes e a culpa agora é
minha?
— Mas…
— Saia, Sofia.
Abaixo a cabeça e arrumo meu decote, tentando me recompor do caos
que ele me causou. Apesar de tudo o que meu cérebro grita, dizendo que não
sou muito diferente de Marcos no final das contas, só consigo pensar que
ainda gostaria de estar sob o toque de Daniel.
Qual o meu maldito problema?
Eu sou mesmo um caos.
DANIEL
***
***
***
Eu queria ser criança para sempre. Queria não ter responsabilidade, não
ter consciência de coisas que machucam, de palavras que ferem ao serem
ouvidas. Queria simplesmente acordar e a minha maior preocupação ser se
chegarei a tempo na aula, se o desenho que amo vai cancelado ou não.
Infelizmente, querer não é poder.
Estou ferida, magoada e despedaçada por dentro.
Terminei meu noivado novamente, mas desta vez não foi porque
encontrei Marcos com outra pessoa. Não sei se continuou me traindo depois
que reatamos, só acabei tudo de novo porque descobri que parei de me
importar. Quando penso na ideia de vê-lo com outra pessoa, não me machuco
mais. Foi aí que descobri que havia algo de errado com nosso
relacionamento. Ele tentou me convencer a não acabar, implorou, tentou me
comprar com a promessa de um futuro perfeito — agora só na cabeça dele
—, mas não deu certo. Pela primeira vez em muito tempo, não titubeei e disse
um “não” decidido. Acabou.
Coloquei na minha cabeça de que tudo foi por causa da nossa relação
falida e nada tinha a ver com o CEO com cara de mafioso que é meu chefe.
De que nada tem a ver com o fato de ele estar… diferente, nem o de eu me
sentir deslumbrada quando estou perto dele. De que nada ter a ver com as
reações diversas que causa no meu corpo; na forma como minha mão sua
quando chega perto, em como meu coração acelera assim que o vejo ou em
como minha pele se arrepia quando ele fala perto de mim.
Não tem nada a ver com isso.
Daniel é um homem peculiar. Ao mesmo tempo em que está na pose de
homem arrogante e imbatível, está com uma expressão de menino quando
está perto da mãe. Não sei se ele nota como age de forma distinta do que
busca transparecer quando a senhora aparece, mas é uma cena bonitinha de
ser ver ele sendo mais… humano.
Digo que é por isso que estou abaixando o muro que ergui ao redor de
mim desde que me impus para Daniel e não porque ele me causa coisas que
não devia sentir.
Tento me desligar um pouco da minha vida pessoal e me entregar de
cabeça nessa viagem a trabalho, mas está cada vez mais difícil quando
lembro que não é somente o término do meu noivado que me incomoda.
— Sofia, você não vai ficar a viagem toda com essa expressão de choro
e com esse bico, vai? Já não basta você ter ficado de cara virada durante todo
o voo — Daniel fala após fazermos o check-in no hotel que reservei.
Fiquei em silêncio por todo o caminho até aqui, evitando responder as
suas perguntas insistentes, porque não queria desabar no choro na sua frente.
Ainda estou me segurando para que isso não ocorra.
— Não vou, senhor. Só preciso tomar um banho e ficar uns minutinhos
sozinha para me recuperar. Eu vou ficar bem — respondo e o olho andando
ao meu lado, com a pequena ruguinha charmosa que aparece sempre que ele
franze ali, presente.
— Tem certeza? — Aceno confiante, me sentindo uma mentirosa,
porque não sei o que vai ser da minha vida daqui para frente. De verdade.
Quando chegamos em frente ao quarto dele, abro um sorriso fraco e
forçado e aperto meus dedos.
— Precisa de mim antes do primeiro evento, senhor?
— Não, tudo bem. Pode se acalmar. Espero por você às onze horas.
Terá a abertura da conferência com algumas palestras e em seguida um
almoço. É importante que esteja bem vestida.
— Pode deixar.
Aceno devagar e ando até a porta do quarto ao lado. Vai ser bom para
mim ficar algumas horas sem o seu olhar em cima de mim, tentando me ler.
No último mês de convívio nosso, descobri que Daniel se irrita quando não
consegue ler as pessoas, o que normalmente ele faz muito bem. É por isso
que o homem fica me encarando com os olhos apertados o tempo todo, isso
quando não está de cara feia.
Estou quase fechando a porta, quando ele me chama. Dou um passo
para trás e o olho com a testa franzida.
— Se precisar de alguma coisa, me diga.
— Eu… — gaguejo, com os olhos arregalados com a simpatia
repentina e rara. — Obrigada.
Ele apenas sacode a cabeça de leve e franze o cenho, olhando para o
lado, como se questionasse a própria fala. Escuto sua porta fechando e entro
no quarto de hotel, vendo minhas malas ao lado da cama. Os funcionários as
trouxeram enquanto fazíamos o check-in. Vou imediatamente para a janela
para apreciar a vista dos arranha-céus de São Paulo. Nunca tinha viajado
assim, sem meus pais. Essa viagem promete ser mais uma mudança na minha
zona de conforto. Apesar de tudo, estou animada. Vai ser difícil aproveitar
para conhecer coisas novas, mas vou tentar.
Fico mais uns minutinhos na janela vendo os carros passando a toda
velocidade nas pistas abaixo do hotel de vinte andares de onde estou antes de
ir esvaziar a mala. Trouxe de tudo um pouco pensando nos imprevistos,
desde roupas sociais até um vestido de gala até roupas casuais. Exigência do
meu querido chefe. Consigo organizar tudo nos cabides do guarda-roupa e
aproveito para tomar um banho rápido para tirar o cansaço da viagem. Após
sair do banheiro da suíte, visto um roupão e me deito na cama de casal
enorme. Solto um suspiro ao sentir a maciez do colchão, mas meu momento
de aproveitamento é interrompido por uma batida de leve na porta. Franzo a
testa aí ir até lá, pensando se é alguém do hotel com alguma recomendação
ou para cobrar alguma coisa, mas me surpreendo ao dar de cara com Daniel
ali. O choque é não apenas pela sua presença, mas pela sua vestimenta que
me permite algumas tatuagens saindo pela manga da camiseta.
— O-O que foi? Você… precisa de alguma coisa? — pergunto
baixinho, sentindo meu corpo quente, e aperto o roupão com força para que
não passe a vergonha de ficar nua na frente desse homem de forma acidental.
Noto tarde demais que, assim como eu o devoro com os olhos, Daniel
também me olha de um jeito intenso demais.
— Pensei em darmos uma volta pela cidade já que ainda faltam
algumas horas para a abertura. Não posso te deixar trancada e chorando num
quarto de hotel.
— Eu não sei, senhor.
— Daniel.
— Oi? — indago, tentando ver de forma discreta o desejo que preenche
o braço direito e se estende até os bíceps.
— Aproveitando o clima informal da viagem, mesmo que a trabalho,
me chame de Daniel aqui.
Franzo a testa e encaro seu rosto, sentindo meus dedos coçando para
tocar as novas descobertas. Sempre fui fã de tatuagem, mas nem preciso dizer
que meus pais não aprovam essa ideia de marcar o corpo para sempre.
— Mas…
— Nada de “mas”, Sofia. E aí? Vamos?
— Tudo bem. Deixa eu só… — Tento fechar a porta, indicando o
banheiro com o polegar, mas meu chefe me surpreende entrando no quarto.
De repente ficou quente aqui, não é?
— Te espero aqui — ele fala com a voz grave, passando os dedos na
barba.
Ele fica completamente diferente sem o terno e a gravata. Nunca o vi
assim tão despojado antes e confesso que gosto do que vejo, mesmo o
achando lindo com roupas formais.
O que estou falando? Sou paga para auxiliar Daniel Vilella no que ele
precisar e não para ficar babando no tipo de roupa que ele usa ou deixa de
usar.
Sacudo a cabeça devagar para tirar os pensamentos insanos da minha
cabeça e vou até o banheiro, pegando a primeira roupa que vejo no guarda-
roupa no caminho. Esta situação é estranha demais para meu gosto. Não é
normal ficar de roupão na frente do chefe. Mesmo que nossa relação, se é que
podemos chamar assim, não seja das mais tradicionais, afinal, ele não se
relaciona com funcionárias só que chupou meus seios mais vezes do que
consigo descrever, ainda assim é estranho.
Enrolo o máximo que consigo no banheiro para ficar apresentável e saio
pronta, vendo que Daniel está sentado confortavelmente na minha cama.
Engulo em seco com a visão, imaginando como ele seria sem roupa, e me
repreendo baixo, fechando os olhos.
— Algum problema?
— Não. Só é… estranho — respondo, sendo metade sincera.
— O que é estranho?
— Você aqui, todo informal, sem gritar comigo — digo e meus olhos
se arregalam o máximo quando vejo uma simulação de um sorriso aparecer
no seu rosto.
— Não grito com as pessoas que trabalham direito.
Arqueio a sobrancelha questionando, porque não sei até que ponto isso
é verdade, afinal, Daniel grita por tudo, por nada, e nem sempre com
fundamento.
— Ok, talvez eu me estresse com facilidade, mas virou algo natural
para mim.
— Pois não devia. Já li em algum lugar que a boa liderança não é a que
bota medo, mas a que impõe respeito.
Eu me arrependo da minha fala na hora quando o vejo fazer uma careta
e se levantar, olhando para mim enquanto se aproxima.
— Está questionando minha liderança, Sofia? — pergunta sério, e eu
abro e fecho a boca rapidamente, sem saber o que dizer.
— E-Eu n-não…
— Prefiro te ver assim, com essa sua nova língua solta e afiada, a
chorando. — Pisco várias vezes para ver se estou mesmo acordada e respiro
fundo, sem resistir a aspirar seu cheiro gostoso. Daniel inclina a cabeça para
o lado e toca minha bochecha com o indicador de leve. — Você vai me
contar o que aconteceu?
— Eu fui… expulsa de casa.
— O quê? O que aconteceu?
Ele se afasta para me olhar direito, e abaixo a cabeça, desviando do
olhar que não me deixa pensar direito.
— É… complicado.
— Acho que sou capaz de entender, Sofia.
Mordo o lábio com força, com todas as sensações de tristeza voltando,
querendo me invadir, me afogar.
— Eu tinha um noivo praticamente desce que era uma pentelha. Nossas
famílias são amigas há décadas. Há um pouco mais de um mês, ele me traiu.
Eu… vi tudo e, obviamente, terminei — falo, tentando me livrar de tudo.
Falar sempre me ajudou, mas como não tenho Daiane aqui, meu cérebro
achou uma boa relembrar tudo e falar para meu chefe. Como isso pode ser
uma boa ideia? Não é. Mas isso não me impede de continuar falando. —
Aquele dia que você me viu na entrada do prédio, eu aceitei conversar com
ele e acabamos voltando, mas…
Daniel me escuta em silêncio, examinando meu rosto como se, de fato,
estivesse interessado no que tenho a dizer. Estranho isso porque ele é o
primeiro a falar que não se interessa pelos assuntos que não estejam
relacionados à empresa.
— Terminei anteontem com ele. Acontece que… Meus pais não
ficaram felizes. Com nada disso, aliás. Por eu ter terminado, por ter arrumado
um emprego e muito menos com essa viagem.
— Mas por quê?
— Porque eles querem me colocar numa gaiola — sussurro, agora
enxergando isso.
Fiquei surpresa com o quão cega eu era, com o quanto achava que
minha vida seria um conto de fadas ao viver do jeito que Marcos queria, da
maneira que minha família praticamente me obrigava. Muita burrice.
— Por isso estava chorando? — ele pergunta, franzindo as sobrancelhas
escuras.
— Não, é pior. Meu pai me… expulsou de casa. Não tenho para onde ir
— falo, soltando um suspiro alto. — Tenho minha amiga, mas não quero
abusar dela por muito tempo. Sei que ela vai me acolher porque não me
deixaria na rua, só que odeio abusar. Sem falar que ela não me deixaria ajudar
com nada e eu me sentiria culpada…
Quando vejo, estou despejando todas as minhas angústias e
inseguranças para quem, há pouco tempo, dizia que não se interessava. Mas
Daniel me escuta sem me interromper. Não sei se realmente está prestando
atenção e absorvendo tudo o que estou falando, mas só de eu estar
despejando isso em alguém, me sinto mais leve.
— Me desculpa, senhor. Não sei o que deu para falar tanto.
— Daniel. E você falou porque eu pedi — fala, secando uma lágrima
que nem vi que tinha caído. — Te julguei mal, Sofia. Mas não se preocupe
com isso agora, apenas absorva tudo o que puder daqui, pois as coisas vão se
ajeitar.
Abro um sorriso fraco para ele, sem acreditar muito nisso. Sinto seu
olhar queimando o meu e me sinto atraída como uma formiga por um doce.
De forma impulsiva, seguindo mais uma vez meus instintos, fico na ponta
dos pés, querendo beijar a boca do homem que está à minha frente. Esqueço
mais uma vez quem ele é, o que viemos fazer aqui, e todas as milhares de
coisas que deveriam impedir que eu me aproximasse dele.
— Sofia… — ele murmura, e tomo isso como um estímulo, mas antes
que a minha boca alcance a dele, Daniel desvia o rosto. — O que aconteceu
com a relação profissional que você queria manter?
— Eu… Me desculpa. — Sinto meu rosto quente de vergonha pela
rejeição.
Daniel abre um sorriso fraco, sem mostrar os dentes, e diz:
— Só queria te ver corando — fala, afastando meus cabelos molhados
para longe do meu pescoço, e percorre os dedos na minha pele. — É uma
coisa bonita de se ver.
— Não tem gr…
Não consigo terminar de falar, porque ele invade minha boca de
surpresa, tomando meus lábios como se pertencessem a ele desde sempre.
Retribuo a carícia alucinante com tudo de mim, enlaçando seu pescoço com
as mãos. O homem me morde e chupa meu lábio, me fazendo gemer baixinho
de prazer.
— Você é fascinante, garota.
— Shhh, continua fazendo isso. Me faz esquecer de tudo.
Ele encaixa a mão na minha nuca, e tenho a impressão de ouvir algo
como “da mesma forma que você me faz esquecer” quando beija meu
pescoço, mas eu me perco novamente quando sua boca volta a invadir a
minha.
Eu me perco no meu chefe, a última pessoa do mundo que eu devia me
entregar e me apegar.
DANIEL
***
Desisto de tentar dormir quando são quase três da manhã e saio da cama
depois de ter ficado rolando de um lado para o outro por horas. Sem me dar
ao trabalho de vestir mais do que só a boxer que pego da gaveta do armário,
vou até a cozinha em busca de água. Quando estou voltando para o quarto,
vejo Sofia sentada na varanda com os pés em cima da cadeira e abraçando os
joelhos.
— O que está fazendo aqui? — pergunto quando me aproximo.
Ela quase dá um pulinho no lugar e abaixa as pernas. Olha para mim
como se fosse dizer alguma coisa, mas para no meio do caminho com a boca
aberta e os olhos descendo pelo meu corpo. Me dou conta do que estou
vestindo, mas não faço qualquer menção a recuar. Fica claro que Sofia gosta
da vista, e eu gosto do jeito que me olha. Me aproximo e paro de frente para
ela. Sofia para os olhos no volume do meu pau por alguns segundos e morde
a porcaria do lábio, o que me faz precisar de cada gota de autocontrole para
não endurecer na hora. Ela volta a olhar para mim.
— Não estava conseguindo dormir — diz e coloca uma mecha do
cabelo atrás da orelha. Agora também presto atenção no que ela está
vestindo: um conjuntinho minúsculo de camiseta e short que deixa mais pele
exposta que coberta. Se ela percebe que a visão me excita, finge muito bem
que não. — A vista é linda.
Sento do seu lado e olho para o que ela estava olhando: a vista da praia
à noite que é bem visível daqui. Concordo com a cabeça.
— Tem razão. Não aprecio isso o suficiente — comento e olho para ela,
encontrando seus olhos em mim.
— Por que não? — pergunta. Umedece os lábios e tomba a cabeça para
o lado. — O senhor é… estranho.
— Estranho?
— É. É um amor com a sua mãe, me abrigou quando eu não tinha para
onde ir, então eu sei que tem coração. Mas é grosso com todo mundo o tempo
inteiro. Por quê?
— Por que não? — rebato, dando de ombros. — Não tenho paciência
para ficar fingindo o que não sou, Sofia. É cansativo. Você deve saber muito
bem disso, já que disse que passou a vida inteira sendo o que os outros
queriam.
Ela parece pensar por um instante e concorda com a cabeça.
— É cansativo — concorda e volta a puxar os joelhos para cima,
apoiando o queixo entre eles.
Sem pensar no que estou fazendo, toco seu cabelo delicadamente.
— Agora você pode ser quem quiser — digo e recolho a mão, ficando
de pé. — Vai dormir, garota. Para de perder sono por quem não merece.
Viro as costas e começo a seguir de volta para o quarto. Quando estou
com a mão na porta, ela me chama.
— Daniel? — Olho na sua direção e vejo os olhos verdes enormes me
encarando. — Obrigada por me dar abrigo. Eu estava mesmo precisando ser
resgatada dessa vez.
Percorro os olhos pelo corpo pequeno e sinto meu pau latejar com a
lembrança da boca pequena ao meu redor, dos gemidos baixinhos, da boceta
doce.
— Cama, Sofia — digo e abro a porta. — Não se atrase amanhã.
Bato a porta e vou para o quarto, soltando um palavrão no caminho.
Porra de garota.
SOFIA
Não sei mais quantas vezes vou dizer que perdi a cabeça. A essa altura
já entendi que quando o assunto é Sofia, esse é praticamente meu mantra.
Perdi a porra da cabeça.
Mergulho na piscina aquecida da cobertura, vendo o sol nascer ao
longe. Nem sei quanto tempo fico aqui, mas eventualmente ouço o som de
passos hesitantes se aproximando e levanto os olhos para ver Sofia chegando
na varanda.
Trinco os dentes para a visão da garota na minha frente. O cabelo está
completamente bagunçado, a pele está toda avermelhada, o maldito lábio está
preso entre os dentes e ela me olha como se não tivesse a menor ideia do que
fazer. Ótimo, somos dois então, porque eu também não sei. Não estou
acostumado a ter que lidar com mulher nenhuma que fodi na manhã seguinte.
Para completar, ela está dentro de uma camiseta minha que não cobre nada.
Uma camiseta minha. Mulher nenhuma nunca vestiu roupa minha.
— Oi — ela diz baixinho.
— Oi — respondo ainda olhando para ela, mas Sofia desvia o olhar e
encara os seus pés.
— Eu…
— Vem aqui — ordeno, e ela volta a me olhar. — Entra na água.
Ela separa os lábios e aperta as sobrancelhas.
— Eu não estou de biquíni.
Arqueio a sobrancelha.
— Não tem nada aí que eu não tenha visto, Sofia. Entra na água.
Ela pisca algumas vezes e concorda com a cabeça. Começa a puxar a
blusa devagar para fora do corpo e a derruba no chão. Sinto meu pau pulsar
com a visão do corpo nu. Sofia senta na beirada da piscina e coloca os pés
dentro da água. Eu me aproximo e a puxo pelas pernas. Ela solta um gritinho
quando afunda junto comigo, e a prendo no canto da piscina. Puxo suas
pernas ao redor do meu quadril e afundo o nariz no seu pescoço.
— Daniel…
— Você está dolorida? — pergunto. Cubro sua boceta com a palma da
mão, e ela geme baixinho.
— Um pouco — diz, o pescoço corando daquele jeito gostoso.
Suspiro e mordisco o lóbulo da sua orelha.
— Te machuquei muito?
Ela balança a cabeça dizendo que não, e respiro quase aliviado. Que
porra está acontecendo comigo? Por que me importo para começo de
conversa? Não é Sofia que insiste que é uma mulher adulta, que sabe o que
está fazendo? Eu não devia precisar me preocupar se sua primeira vez foi boa
ou não, mas aqui estou eu preocupado.
Sofia aperta meu quadril com as pernas. A cabeça do meu pau roça na
sua entrada, e ela suspira.
— Não sabia que você estava nadando sem roupa.
— Estou dentro da minha casa, Sofia. Para que vou ficar vestido? —
pergunto. Aperto sua cintura e me imprenso mais contra ela. — Por que você
está calada desse jeito?
— É… estranho. A gente…
— A gente transou — completo por ela e vejo seu rosto ficar
completamente vermelho. — Foi bom?
— Foi gostoso — ela responde enquanto olha para a minha boca.
— Ótimo — respondo. — Mas ainda não te fodi do jeito que eu queria.
Sofia estremece nos meus braços, apoia as duas mãos nos meus ombros
e me olha com os lábios entreabertos.
— Você vai me deixar te foder, pequena? — pergunto, arrastando o
polegar no seu lábio. — Vai me deixar te colocar de quatro e enterrar nessa
boceta apertadinha que você tem?
Ela ofega e se agarra ainda mais em mim.
— Você… quer?
Rio e levo uma mão até o meio das suas pernas. Começo a estimular
seu clitóris, e ela solta um dos gemidos deliciosos que tem.
— Se eu quero te comer, Sofia? Preciso te foder, garota. Você está me
enlouquecendo.
— Mas e o trabalho, Daniel? Eu ainda trabalho para você, as coisas vão
ficar estranhas. Você é meu chefe. Meu Deus, isso não devia nem ter
acontecido.
Sinto um revirar no estômago com esse tom de arrependimento dela e
pressiono seu corpo ainda mais na beira da piscina. Ego ferido é uma bosta
mesmo. Mulher nenhuma nunca se arrependeu de ter trepado comigo, e ela
não vai ser a primeira. É isso.
— As coisas só vão ficar estranhas se você deixar que fiquem — corrijo
e deslizo um dedo para dentro dela. Sofia geme. — No trabalho, a gente
trabalha. Nada mudou, pequena. Ainda sou seu chefe.
— É meu chefe, mas a gente…
— Seu chefe que te fodeu gostoso e quer foder de novo — completo
para ela. — Só por hoje. Só para eu matar a vontade de você, garota. Diz que
vai ser minha hoje, Sofia.
Ela geme baixinho enquanto a penetro com os dedos, e eu coloco a
outra mão no seu pescoço.
— Responde, pequena.
— Vou ser sua, Daniel — sussurra e morde o lábio. — Sou sua.
***
— Parece que está tudo certo.
Eu me levanto da cadeira e forço um sorriso no rosto enquanto aperto a
mão do homem que acabou de assinar um contrato de exclusividade com a
gente. Agora a rede de lojas de produtos femininos mais famosa da cidade
pode vender somente os nossos produtos.
— Obrigado pela confiança — eu digo e troco meia dúzia de palavras
com o homem e seus advogados.
Essa reunião parecia que não ia acabar nunca. Faz pelo menos três
horas que estamos aqui com uma equipe inteira de advogados e marketing
para convencer esse cara de que a proposta era vantajosa. Ele inclusive pediu
uma amostra dos produtos, então a mesa está lotada de vibradores,
lubrificantes e brinquedos sexuais variados.
Foi uma puta de uma tortura manter a expressão séria e concentrada
enquanto eu assistia Sofia ficar cada vez mais vermelha e boquiaberta a cada
produto novo que a equipe apresentava. Depois desse tempo todo e de todas
as vezes que comi essa garota até não aguentar mais, Sofia ainda parece a
coisinha mais inocente que já existiu nesse mundo.
Faz três semanas que eu prometo que vai ser a última vez e continuo
fodendo Sofia no segundo em que pisamos no meu apartamento. É uma
maldita tentação ficar o dia inteiro encarando sua bunda apertada dentro da
saia e seus peitos esmagados pelo decote.
— Foi ótimo fazer negócio com você, Daniel — o homem fala e se
despede. Ele sai da sala acompanhado da sua equipe e aos poucos os meus
funcionários vão também. Vejo pelas janelas que o andar está vazio, e não era
para menos já que passam das sete da noite. Sei que todo mundo vai embora
imediatamente, e sobramos somente eu e Sofia dentro da sala de reuniões.
Ela não presta atenção em mim. Está ocupada anotando alguma coisa
na agenda e olhando furtivamente para alguns dos brinquedos espalhados
pela mesa.
— Do que você gostou? — pergunto, e ela dá um pulinho no lugar.
Levanta os olhos verdes arregalados para mim e separa os lábios. Arqueio
uma sobrancelha e espero pela resposta.
Sofia estica a mão e segura um plug anal.
— O que é isso? — ela pergunta. Trinco os dentes, e meu pau pulsa
imediatamente dentro da calça. Olho para ela por alguns segundos antes de
fechar todas as persianas da sala e trancar a porta.
— Do que mais você gostou? — pergunto, ignorando a pergunta dela.
Sofia larga o plug e passa os olhos pela mesa de novo. Pega um dildo.
Ando até ela e tomo da sua mão. Eu a puxo pelo braço e a viro de frente
para mim. Sofia arregala os olhos, e vejo seu peito subir e descer com a
respiração acelerada.
— Um pau de borracha, Sofia? — pergunto entredentes. Seguro seu
rosto e começo a subir sua saia com a outra mão. — O meu não está sendo o
suficiente para você?
— O que você está fazendo? — ela pergunta ofegante. Invado sua
calcinha com os dedos e encontro sua boceta úmida. Arqueio uma
sobrancelha para ela.
— Molhadinha, Sofia? — pergunto e começo a circular seu clitóris. —
É por isso que você estava vermelha a reunião inteira? No que estava
pensando, garota? — praticamente rosno no seu ouvido enquanto enfio um
dedo dentro dela.
— Daniel…
— Eu te fiz uma pergunta, pequena — insisto. Desço a boca pelo seu
pescoço até chegar nos seus seios e começo a chupar sua pele ali por onde a
blusa deixa.
— Vocês estavam falando de sexo, prazer e orgasmos como se não
fosse nada demais.
— É literalmente meu trabalho — interrompo.
— E eu estava pensando em você — sussurra. Afasto o rosto dos seus
seios e olho para ela com uma sobrancelha arqueada. — Eu estava…
— Você estava fantasiando comigo, Sofia? Com o seu chefe, durante
seu horário de trabalho? — pergunto e acelero mais os dedos dentro dela. Ela
geme e joga a cabeça para trás. — O que eu faço com você, garota?
Tiro as mãos de cima dela só para poder puxar Sofia para cima e a
colocar sentada em cima da mesa. Jogo para o lado tudo que está no caminho
e empurro seu ombro para baixo para que ela deite na mesa. Embolo a saia na
sua cintura e coloco sua calcinha para o lado.
— Daniel, nós estamos no trabalho. Alguém pode entrar — ela diz
quando vê que estou desafivelando meu cinto. Ignoro e abro a calça. Seguro
meu pau duro e me masturbo algumas vezes olhando para a cena deliciosa
dela deitada na mesa com as pernas bem abertas para mim.
— Essa empresa é minha — digo e puxo suas coxas para mim. Ela
prende os calcanhares atrás da minha bunda. — Se eu quiser te foder em cima
da mesa, vou te foder em cima da mesa. — Posiciono meu pau na sua entrada
e forço para dentro. Ela morde o lábio com força. — Se eu quiser te fazer
gritar para a porra do andar inteiro ouvir, vou te fazer gritar.
Estoco com força e de uma vez só, e Sofia grita.
Seguro sua bunda e meto com força. Gemo quando Sofia geme meu
nome, vendo seus seios balançarem com o movimento. Acelero a velocidade
das estocadas e vejo Sofia começar a derreter debaixo de mim. Nessas
semanas, aprendi a ler seu corpo. Sei quando ela está prestes a gozar. O jeito
que abre a boca e joga a cabeça para trás, o jeito que seu corpo começa a
tremer. Então eu paro antes que ela possa gozar e saio de dentro dela.
Sofia pisca confusa.
— Fica de quatro para mim — ordeno, e seus olhos se arregalam
quando entende. Essa virou a posição favorita dela depois que trepamos uma
vez na bancada da cozinha. Sofia goza bem rápido quando está com essa
bunda empinada para mim.
Ela se arrasta para fora da mesa, e eu viro seu corpo de costas para mim
com um movimento brusco que a faz ofegar. Empurro seu peito contra a
mesa e puxo uma perna para cima antes de meter de uma vez só de novo.
— Que delícia de bocetinha apertada, Sofia — digo no seu ouvido
enquanto estoco fundo. Puxo seu cabelo para trás, e ela geme baixinho. — De
quem é essa boceta, pequena?
— Sua — ela geme, e eu perco o pouco controle que tinha. Acho que
nunca a fodi tão forte quanto agora. A mesa balança, e Sofia geme alto. Levo
uma mão ao seu pescoço e aperto a pele avermelhada.
— Minha — rosno. — A única coisa que você vai ter dentro dessa
boceta é o meu pau, Sofia. Ouviu? — pergunto quando tudo que ela faz é
gemer. — Repete para mim.
— Só o seu… Daniel…
Estapeio sua bunda e acelero ainda mais as estocadas.
— Repete — digo entredentes.
— Só o seu pau — diz ofegante, e eu lago outro tapa forte na sua
bunda.
— Nem pinto de borracha, nem o pau de mais ninguém — aviso,
arrastando a mão pelo seu pescoço. — Acha que não vi o jeito que aquele
filho da puta estava te olhando?
Um dos advogados passou a porra da reunião inteira babando nela. Sem
nem se dar ao trabalho de disfarçar. Se ela percebeu, eu não sei e não me
importo.
— Daniel…
— Essa boceta é minha, Sofia — decreto e levo os dedos ao seu clitóris.
Ela geme mais alto e começa a tremer debaixo de mim. — Goza para mim,
pequena. Goza no meu pau.
Ela obedece, e sinto meu pau sendo esmagado quando se desfaz
debaixo de mim. Sofia mela minha ereção, geme meu nome e me descontrola
por completo. Não preciso de mais do que algumas estocadas fortes para
gozar também e desabar em cima dela.
Passo a mão pela sua bunda e encaixo o polegar entre as bandas. Ela
estremece.
— Esse cu vai ser meu em breve também — aviso. Ela me olha por
sobre o ombro com o rosto completamente vermelho e o cabelo despenteado.
Os olhos estão arregalados, e eu sorrio. — Isso é medo ou excitação,
pequena?
Ela morde a pontinha do lábio.
— Os dois.
Saio de dentro dela e puxo Sofia para um beijo bruto.
— Repete — ordeno contra a sua boca. Ela entende o que quero.
— Só sua, Daniel.
DANIEL
***
Hoje o dia está bonito, daqueles em que a gente sente esperança. O sol
entra pela fresta da janela enquanto eu me arrumo para ir à faculdade. O sono
está sendo meu fiel companheiro nos últimos meses e por várias vezes só
sinto vontade de ficar deitada, chorando em posição fetal, mas agora mais do
que nunca preciso reagir e seguir em frente. Preciso finalmente começar a
viver a minha vida.
— TOC TOC. — Me viro e vejo Daiane com duas xícaras na mão.
— Caiu da cama, Dai? — pergunto com um sorriso no rosto enquanto
prendo meu cabelo em um rabo de cavalo apertado.
— Não posso deixar a minha melhor amiga do mundo ir embora sem
tomar um descafeinado e ganhar um abraço meu.
Ela estende a xícara para mim, e agradeço.
— Como você está hoje? — pergunta, com uma expressão de
preocupação.
Não sei o que seria de mim sem essa mulher, honestamente. Daiane é a
irmã que nunca tive e me mostrou nos últimos três meses que sempre vai
estar presente para o que eu precisar, literalmente para tudo.
— Melhor, Dai. Cada dia que passa, eu aceito melhor a minha vida real.
Não sei como vai ser daqui para frente, mas estou vivendo um dia de cada
vez — digo e sento na cama, virando o líquido na boca com uma careta.
Que saudade da cafeína.
— Já te disse, mas repito: estou aqui para tudo, Sof. Qualquer coisa, a
qualquer hora.
— Eu sei, amiga. E eu te amo muito por isso. Mas preciso começar a
arrumar um lugar para eu morar. Não posso ficar para sempre aqui.
— Quem disse que não? A dona da casa sou eu.
Reviro os olhos e deixo a xícara na mesa de cabeceira do quarto que
Dai me cedeu depois que saí da casa dele. Conforme previ, assim que contei
tudo para minha amiga, que estava sem saber de nada desde que fui expulsa
de casa, Daiane deu um jeito de voltar o mais rápido possível. Sua tia, graças
a Deus, estava melhor. Dai não pensou duas vezes em me oferecer um quarto
na sua casa depois de eu passar uma semana em um hotel barato. Ela me
salva sempre.
Mas cansei das pessoas me resgatando de tudo. Sou grata, claro.
Sempre serei. Só que preciso depender mais de mim mesma, principalmente
agora.
— É sério, Sofia. As suas despesas vão aumentar drasticamente. Você
conseguiu passar na federal, mas tem alimentação, transporte. O dinheiro do
estágio mal vai dar para o…
— Não quero pensar nisso agora, Dai. Ainda não. Está sendo… difícil.
— Eu sei, amiga, mas você precisa. — Ela segura minhas mãos e as
aperta, olhando para mim com uma expressão de compaixão. — Sempre que
penso naquele desgraçado, tenho vontade de ir lá e…
— Não foi culpa dele, Daiane. — Solto um suspiro e me levanto, sem
querer ficar parada pensando nele.
Daniel.
Não saiu da minha cabeça um dia sequer, mas cada dia fica mais fácil
viver sem ele estar presente. Tudo na vida é questão de costume. Dói todos os
dias, mas já não choro como antes, já não sinto meu coração sangrando
sempre que seu rosto aparece na minha mente. Só me lembro dos momentos
bons que vivemos e me sinto grata, apesar de tudo.
Com ele que descobri a paixão, o desejo, o amor — este último só da
minha parte, claro. Com ele que aprendi a me soltar mais, a me entregar de
cabeça ao momento intenso ou a aproveitar a calmaria de uma tarde. Apesar
das palavras duras que disse na última vez em que o vi, eu não me arrependo
de ter o conhecido. Ele me trouxe a melhor coisa que podia.
— Você vai se atrasar — Daiane fala, me despertando dos meus
pensamentos constantes.
— Deixa eu ir. Beijo, Dai. Não perca a hora de novo. — Ela me dá
língua e em seguida me abraça apertado, como tem feito todos os dias. — Te
amo, amiga.
— E eu amo você.
Ando até a saída do seu apartamento e dou de cara com as pessoas que
menos esperava ver na vida: meus pais. Também fazia muito tempo que não
os via, mais precisamente quando fui pegar o restante das minhas coisas de
lá. Eles não quiseram falar comigo na época, então me surpreende que
estejam aqui agora, a essa hora da manhã.
— Oi, Sofia. — É meu pai quem inicia a conversa, olhando para o
apartamento com curiosidade. — Nós podemos entrar para conversar?
— Eu… — respondo tardiamente, ainda me recuperando do choque. —
Estou atrasada para a aula.
— Fiquei sabendo que você começou a faculdade. Parabéns, meu
amor… — mamãe diz, e eu aceno, sem me permitir olhar muito para ela.
De todas as pessoas, dona Rose é quem mais me desapontou ao me
deixar para fora de casa.
— Entrem. Mas não posso demorar — falo e vejo Daiane aparecendo
na sala. Ela arqueia uma sobrancelha de interrogação, em uma comunicação
silenciosa que adquirimos ao longo dos anos, e só dou de ombros. Minha
amiga cumprimenta meus pais de um jeito polido e faz um sinal para mim de
que vai estar no quarto. — Sentem.
Meus pais se sentam no sofá em frente para mim e olham para tudo
com curiosidade. O apartamento de Daiane é chamativo, colorido e de muito
bom gosto, então é normal que todo mundo que aparece aqui perca uns
minutos de apreciação.
— E então…
— Nós recebemos uma ligação do seu plano de saúde de que seu…
exame tinha ficado pronto — meu pai fala, mexendo nos dedos.
Meus olhos se arregalam, e sinto meu corpo fraco. Era só o que me
faltava.
— Você… — mamãe completa. — Você está grávida, filha? Por que
não nos contou? Nós teríamos… não sei.
— Vocês teriam me oferecido um lar de novo? Teriam se sentido
menos culpados por expulsarem a filha que buscava apenas independência de
casa? — falo, soltando uma risada seca.
Eles realmente acham que teriam me apoiado se eu falasse que
engravidei fora do casamento, do meu chefe que nem mesmo sabe da
existência desse bebê?
— Nós entendemos sua revolta, Sofia… — meu pai diz.
— Não, vocês não entendem.
Ele parece diferente. Ressentido, culpado, com a guarda baixa, como
nunca vi antes. Mas isso não me comove. Não mais.
Nesses três meses, treinei para não ser a pessoa que aceita tudo, que
perdoa tudo. Criei uma casca grossa no meu coração que só engrossa mais
dia após dia. Não vou ser uma pessoa fria e sem compaixão, porque isso não
faz parte de mim, mas não vou ser trouxa também.
— Passei a minha vida inteira achando que sabia o que era ser feliz —
falo, sentindo o engasgo de um choro que não vai sair. — Foram vinte anos.
Vinte anos, pai. Vocês me dizendo tudo o que eu podia ou não fazer, quem eu
podia ou não ver, quem eu podia ou não me relacionar. Até o que eu podia
comer!
— Nós queríamos proteger você, meu amor.
— Vocês queriam viver a minha vida! — grito, me exaltando. — Não
tenho culpa das frustrações de vocês, dos sonhos não realizados. Vou viver a
minha vida a partir de hoje, então, seja lá o que tenham vindo fazer aqui, não
vai rolar.
Eles se entreolham, e não consigo reconhecer o que tem no olhar dos
dois.
— Não viemos brigar — papai fala. — Viemos te pedir desculpa por
tudo. A gente não devia ter sido tão radical e duro na sua criação, mas a
gente…
Ele solta um suspiro e se cala.
— A gente te ama, Sofia. Mais que tudo no mundo. Perdoa a gente…
— minha mãe completa, e vejo meu pai com o rosto perdido nas palmas das
mãos.
— Eu também amo vocês, mas o perdão vai demorar para vir. Fui
muito ferida e prejudicada pelo que fizeram.
— Tudo bem — dona Rose fala rapidamente, acenando com a cabeça e
limpando o rosto. — Como você está? Precisa de alguma coisa? Por que você
não…
— Mãe, eu estou bem. Não preciso de nada.
— Ok, tudo bem.
Meu pai levanta o olhar e acena. Sei que ele segura muito as palavras,
mas sei que me ama. Isso não muda as coisas e nem tudo o que fizeram, mas
eles me amam.
— Nós seremos avós — ela diz e olha para meu pai, com um sorriso
brando no rosto. — E o… pai da criança?
— Não quero falar sobre isso, mas esse bebê vai ser muito amado por
mim. Ele é meu filho — respondo e me levanto. Eles fazem o mesmo,
constrangidos, mas não tenho como me preocupar com isso agora. Já estou
sendo muito generosa de receber os dois assim depois de tantos meses de
silêncio. Preciso ser mais egoísta e pensar em mim e na criança que carrego.
Vou ser mãe.
Aceitei essa realidade há três semanas depois que minha menstruação
atrasou. Ela nunca atrasava. Nunca mesmo. Era tão regular que parecia que
eu usava anticoncepcional. Não precisei de muito para saber o que tinha
errado. Quer dizer, não considero essa criança um erro. Sempre me imaginei
mãe de muitas crianças, com uma casa grande e um jardim florido. Claro que
tinha um marido que me ama envolvido na fantasia, mas os planos mudam.
Foi um choque. Ainda está sendo, na verdade. Mas é um bebê. Meu
bebezinho que surgiu de uma loucura, mas que vai ter meu amor, apoio,
cuidado e suor diário. Jamais vou deixar que meu bebê se sinta menos amado,
menos querido. Jamais vou escolher seu destino como fizeram comigo. Não
vou repetir os erros dos meus pais.
— Filha… — meu pai fala a caminho da porta, enquanto torce os
dedos. — Se precisar de alguma coisa, nos procure. Deixe que a gente faça
parte da vida dessa criança. Sabe que nós sempre sonhamos em ter um neto.
Aconteceu em circunstâncias diferentes do que a gente esperava, mas a gente
está feliz.
Apenas aceno, sem conseguir dizer muito. Fico feliz que eles não
tenham me afastado mais, mas ainda não estou pronta para demonstração de
afetos. Sei que vai chegar o dia em que vou perdoar os dois, porque não sou
de guardar mágoa por muito tempo, mas preciso do meu tempo.
— Bom, a gente já vai. Fica bem — ele continua, e mamãe acena.
— Até mais, meu amor — dona Rose diz, e eles saem.
Quando fecho a porta, encosto na madeira e solto um suspiro. Um dia
de cada vez. Uma batalha de cada vez.
Daiane sai do quarto e nem pergunta nada, porque provavelmente ouviu
a conversa toda.
— Estou tão orgulhosa de você, minha amiga. — Ela me abraça
apertado, e eu me permito fraquejar.
Minha amiga agora é a única que vê a verdadeira Sofia, a garota doce
que ainda vive aqui, porque o resto do mundo está aprendendo a lidar com a
outra eu que está nascendo, a minha versão mais dura.
— Essa criança vai ter a melhor mãe de todo o mundo — completa e se
afasta, acariciando meu rosto com a ponta do dedo. — E a melhor tia, claro.
Sorrio fraco e sacudo a cabeça, a abraçando de novo, encaixando a
cabeça no seu ombro.
— Sof, quando você vai contar para o desgraçado do Olimpo sobre o
bebê? — pergunta. — Você está evitando o assunto, mas ele precisa saber.
— Ele não vai saber, Daiane. Meu bebê não vai conhecer a rejeição.
Nunca. Não de quem devia o amar.
— Sof…
— Não vai — repito. — Preciso ir. Agora estou mesmo atrasada.
Beijos.
Pego a mochila abandonada no sofá e saio do apartamento, descendo as
escadas correndo para não me atrasar ainda mais. De tão atordoada que estou,
quase sou atropelada por uma bicicleta no meio do caminho.
— Vai com calma, idiota! Tem uma grávida aqui, seu infeliz! — grito,
vendo algumas pessoas saindo de dentro da cafeteria ao lado do prédio de
Daiane para bisbilhotarem.
Algumas pessoas saem dali para perguntarem se estou bem, e apenas
aceno, constrangida pelo rompante de fúria. São os hormônios, perdão.
Meu coração dispara freneticamente quando vejo quem é uma delas.
Daniel.
DANIEL
Sofia.
Grávida?
Olho ao redor para ver se não está falando de outra pessoa, se não tem
uma amiga com ela em algum lugar, mas vejo que está sozinha.
— Você está bem, moça? — um moleque qualquer pergunta e coloca a
mão no braço dela. Uma sensação estranha toma conta do meu corpo, e um
milhão de perguntas inunda a minha cabeça.
Ela está grávida… de quem? Não sei qual alternativa é pior. Esse filho
pode ser meu, e um bebê é a última coisa que pensei em ter nessa vida. Ou
esse filho pode ser de outra pessoa, e isso significa que outro homem tocou
nela.
— Eu estou bem — responde baixinho sem tirar os olhos de mim.
— Precisa de ajuda com alguma cois…
— Ela disse que está bem — eu o interrompo e me aproximo. Tiro a
mão dele de cima dela, odiando ver essa cena. O homem arregala os olhos,
joga as mãos para cima e se afasta. Toco seu antebraço e ela parece congelar
no lugar. — Sofia…
Seu lábio treme, e ela pisca meio erraticamente por alguns segundos.
Aproveito que está desconcertada e olho para a sua barriga. Mal dá para notar
o contorno da barriga por baixo da roupa.
Ela dá um passo abruptamente para trás e fecha a cara.
— Daniel — diz com uma frieza que me faz congelar no lugar. Ela
está… diferente. Não parece mais a menina que eu conheci, não tem mais
aquela inocência bonita no olhar. Sofia empina o queixo e pressiona os lábios
fechados.
Pela primeira vez na vida, eu não tenho a menor ideia do que dizer.
Estou completamente perdido.
— Você… está grávida? — pergunto. Ela abraça o próprio corpo.
— Não é da sua conta — diz e tenta passar por mim. Seguro seu braço e
impeço que ela se afaste.
— De quem é esse filho, Sofia? — pergunto, e ela trava. Os olhos
verdes que têm atormentado meu sono nos últimos três meses se arregalam, e
a boca dela cai aberta.
— De quem… — Ela ri e puxa o braço da minha mão. Sofia me olha de
cima a baixo com uma expressão que nunca vi no seu rosto. — Meu —
responde e começa a andar de novo para longe de mim.
Eu vou atrás dela, e não é difícil a alcançar. Seguro seu braço de novo e
ela puxa com força para longe da minha mão.
— Que droga, Daniel, para com isso! — reclama e volta a andar em
passadas duras.
— Eu te fiz uma pergunta, garota! — praticamente grito quando vou
atrás dela.
Olho ao redor e puxo Sofia pelo braço para um canto escondido entre os
prédios. Ela protesta, mas não é difícil fazer com que venha comigo. Eu a
coloco de costas contra uma parede e cubro seu corpo com o meu.
A proximidade me atinge como um soco no estômago.
Faz tanto tempo…
O cheiro doce ainda é o mesmo. Quase posso sentir seu coração
batendo forte quando a imprenso mais.
— Me deixa ir, Daniel.
— Eu te fiz uma pergunta — insisto. Seguro seu rosto e me esqueço do
mundo por um instante quando toco sua pele macia. Passo o polegar no seu
lábio inferior e aproximo o rosto do dela. — Eu te fodi sem camisinha
algumas vezes.
Eu me lembro agora. Não prestei atenção na hora e fico chocado ao
perceber isso. Nunca transo sem camisinha com mulher nenhuma, mas Sofia
comeu a porra do meu juízo e eu não estava conseguindo pensar direito perto
dela.
— Você claramente não foi o único, já que eu estou grávida — ela
cospe e é como um soco na minha cara. Eu a imprenso ainda mais na parede,
com raiva.
— Quem encostou em você? — pergunto entredentes.
— Não é da sua conta — ela responde.
— Sofia… — digo entredentes e pouso a boca sobre a sua. — Quem foi
que encostou em você? De quem é esse filho?
Todas as imagens se misturam na minha cabeça de uma vez só. O jeito
que ela me virou do avesso na sua primeira vez quando entrou debaixo da
minha pele daquele jeito. Todas as vezes que eu me enterrei nela em todos os
cômodos da casa. O jeito que seu corpo reage ao meu, o jeito que goza
chamando meu nome. E a ideia de que algum filho da puta tenha tido isso me
enche de mais raiva do que eu imaginei poder sentir.
— Não é da sua conta — ela responde e cruza os braços. O que só faz
com que esmague os seios e é ali que eu olho.
— Pela última vez, garota — digo já sem paciência e coloco a boca no
seu ouvido. — Esse filho é meu?
Ela hesita antes de responder e não diz nada por muito segundos, mas
responde por fim:
— Não.
Trinco os dentes e me afasto dela. Meu corpo todo queima, e uma dor
desconhecida me atinge. Passo a mão pelo cabelo, nervoso, e esfrego o rosto.
Olho de novo para a barriga dela e abro um sorriso seco.
— Você não perdeu tempo mesmo — murmuro, e a boca de Sofia cai
aberta. Ela se recupera rápido.
— Olha quem fala, pelo menos eu não saí no meio da noite para comer
uma mulher qualquer enquanto você estava na minha casa — ela rebate, e eu
me aproximo um passo de novo, ainda muito irritado com aquela noite.
Ainda não consigo acreditar que ela foi embora daquele jeito, que se
demitiu e sumiu completamente do mapa por três malditos meses sem dar
uma porra de justificativa. Se não fosse por causa da faculdade, eu teria
ficado sem saber se Sofia estava viva ou morta.
— Eu já disse que nós dois não tínhamos nenhum compromisso, Sofia
— repito o que eu disse para ela naquela noite.
O que Sofia não entendeu foi que eu não estava sendo grosso nem
tentando a machucar. Eu estava repetindo isso para mim mesmo para tentar
controlar a merda do coração descompassado sem motivo toda vez que eu
olhava para ela. Não podia estar me apaixonando por uma menina com idade
para ser minha filha, uma que era inocente demais para esse mundo. Eu não
podia estar me apaixonando e pronto. Não sirvo para isso.
— E eu não tenho que dar satisfação da minha vida, Daniel. Eu e meu
filho não temos nada a ver com você.
Demoro a reagir, e ela desaparece completamente da minha frente.
***
— Daniel?
Ela me olha confusa e dá um passo na minha direção, mas eu estou
olhando para o homem com uma cara de puto que está atrás dela.
— É esse aí? — ele pergunta me olhando com desdém.
— Marcos! — Sofia repreende.
Reconheço o nome e solto uma risada ácida. Entro no apartamento e o
encaro.
— É esse o noivinho? — pergunto, trincando os dentes. Mas é claro.
Como não pensei nisso antes. É claro que ela voltou para ele. Esfrego o rosto.
— Não acredito nisso, Sofia — murmuro.
— Não acredita em quê, babaca? — ele pergunta e se coloca na frente
dela. Ignoro o idiota e olho para ela, que parece não saber o que fazer
olhando de um para o outro.
— Não acredito que você voltou com ele depois de tudo que esse
merdinha fez — digo.
Arrasto a mão no cabelo e suspiro. O efeito da bebida começa a passar e
o que fica é só uma dor recém-descoberta. Eu senti falta dela nesses meses,
mas agora estou completamente desesperado por perceber que ela nunca mais
vai ser minha de verdade.
— Porque você me tratou muito melhor, né, Daniel? — ela rebate e
cruza os braços.
— Ele te traiu! — grito e aponto para ele.
— Você também! — ela grita de volta. Balança a cabeça em negativa e
vejo seus olhos marejados. — Não, espera! A gente não tinha nada! Não foi
traição, né?
Dou um passo na sua direção, me sentindo vulnerável demais. Nunca
me senti assim antes, definitivamente não por causa de uma mulher. Mas
Sofia tomou conta da minha vida inteira sem eu nem perceber. Meus dias
eram muito melhores com ela e sou um filho da puta de merda que perdi isso
porque estava com medo demais de admitir.
— Eu não fiz nada, pequena — digo e vejo uma lágrima escorrer pelo
rosto dela. Sofia balança a cabeça de novo, e eu dou outro passo na sua
direção. — Me escuta, Sofia…
Mas o tal noivinho entra na minha frente e bloqueia o meu caminho.
— É melhor você sair — aviso, olhando de verdade para ele pela
primeira vez.
Ele ri e estufa o peito. Sai da minha frente, mas é só para ir até Sofia.
Dou um passo mais para frente quando vejo que ele chegou perto demais, e
ela olha para os lados como se estivesse com medo.
— Você é inacreditável mesmo, Sofia — diz e aponta um dedo no rosto
dela. — Ficou se fazendo de boa moça nosso relacionamento inteiro só para
virar uma vagabunda que abre as pernas para o primeiro cara que aparece na
sua frente. Aliás, não tenho garantia nenhuma de que não estava fazendo isso
antes de terminar comigo.
Meu punho fechado acerta o rosto dele no segundo em que ele segura o
braço dela, e Sofia ofega. Ele cai no chão e solta um gemido de dor. Sofia
solta um gritinho e a tal amiga dela que estava calada até agora solta um
palavrão e vem até a gente.
Ele se levanta e vem para cima de mim, mas desvio sem dificuldade.
— Para com isso vocês dois! — a amiga dela grita.
— Daniel! — Ouço a voz de Sofia e me distraio. Isso faz com que o
idiota consiga me acertar. — Marcos, para com isso!
Eu o acerto de novo e o derrubo no chão. Acerto outro soco antes de
sentir uma mão pequena e conhecida no meu ombro.
— Daniel! Chega!
Saio de cima dele e vejo o filete de sangue no seu rosto.
— Não quero saber quem você é e estou pouco me fodendo se é o pai
do filho dela. Encosta nela de novo, e eu acabo com essa sua vida inútil.
Ele passa a mão na boca para limpar e franze o cenho.
— Eu? Pai do filho dessa vadia? — diz e começa a se levantar. A única
coisa que me impede de ir para cima dele de novo é a mão de Sofia no meu
antebraço. — Eu dei foi sorte de ter escapado dessa. Foi só começar a
trabalhar que resolveu dar por aí. Esse filho não é meu não, e tenho pena do
coitado que é o pai.
Dessa vez o toque delicado dela não consegue me impedir e a próxima
coisa que sei é que o prendi na parede pela gola da camisa.
— Desaparece da minha frente — rosno no seu rosto. — Some daqui e
nunca mais chega perto dela.
— Com prazer — ele responde e se solta de mim. Marcos sai do
apartamento, e eu passo a mão pelo rosto, desconcertado.
— Você está bem? — pergunto para ela. Sofia tem o rosto molhado por
lágrimas e rasga meu coração. Ela abraça o próprio corpo e parece estar
tremendo. Corto a distância entre nós dois e a alcanço, mas ela dá um passo
para trás e não me deixa a tocar. — Ele te machucou.
Ela faz que não com a cabeça, e só então o que ele disse começa a
assentar. O filho não é dele. É claro que existe a possibilidade de ela ter
conhecido outra pessoa, mas… É Sofia. Minha doce Sofia.
Meu coração bate descompassado no peito quando a possibilidade se
torna real demais.
— Pequena… — sussurro e olho para a sua barriga. — Se ele não é o
pai, então quem é?
Volto a olhar para o seu rosto, e ela morde o lábio. Uma lágrima escorre
pelo seu rosto, e Sofia faz que não com a cabeça.
— Amiga, você vai ter que contar alguma hora — Dai diz. — Olha, vou
deixar vocês sozinhos para conversar, mas estou logo ali no quarto. Se esse
idiota fizer alguma coisa, é só gritar que eu venho.
Continuo olhando para Sofia com o coração batendo completamente
descompassado.
— Sofia? — chamo e me aproximo de novo. Ela não se afasta dessa
vez. Toco seu rosto e ela fecha os olhos. — Esse filho é meu?
Ela não responde nada por muitos segundos, mas por fim faz que sim
com a cabeça. E meu mundo inteiro desabada.
Sinto medo. Pânico. Completo terror. Mas sinto outras coisas também,
que nunca senti antes. Uma felicidade estranha toma conta do meu corpo, e
eu levo a mão até a barriga dela. Sofia volta a olhar para mim com os lábios
entreabertos.
— Eu não quero nada de você — ela diz e seca as lágrimas que estavam
escorrendo. — Nós dois estamos bem e não precisamos de nada. Você pode
voltar para a sua vida e continuar dormindo com todas as mulheres que vê
pela sua frente. Está tudo bem, Daniel. Esse filho é meu, e eu vou cuidar dele.
— Você ficou louca? — pergunto e a puxo pela cintura para mim.
Abaixo o rosto no seu pescoço. — Como eu senti falta desse seu cheiro,
pequena.
— Não, Daniel! — ela protesta e tenta me empurrar, mas não deixo que
saia dos meus braços. — Você não pode fazer isso. Não vou deixar você
fazer o que quiser comigo e partir meu coração depois. Já entendi. Você não
tem relacionamentos. Então sai da minha vida e me deixa cuidar do meu filho
em paz.
Seguro seu rosto e faço com que olhe para mim. Seus olhos estão
marejados, mas ela segura as lágrimas.
— Você disse que estava apaixonada por mim — digo, e ela franze os
lábios.
— Estava. No passado — fala, mas cada detalhe do seu corpo trêmulo
diz que é mentira.
— Tem ideia de como eu senti sua falta? — pergunto e escovo o
polegar pelo seu lábio. — Você virou minha vida de cabeça para baixo e
depois foi embora, deixou tudo de pernas para o ar. Está completamente fora
de si se acha que vou te deixar ir embora agora que… — Passo a mão pela
sua barriga, sem entender a emoção estranha que sinto. — Um filho? —
sussurro, testando a palavra.
— E eu vou ficar aqui fazendo o que, Daniel? — ela pergunta e se solta
de mim rapidamente. — Vou ficar esperando sua boa vontade de ficar
comigo enquanto transa com outras mulheres por aí?
Balanço a cabeça em negativa e esfrego as mãos no cabelo.
— Eu não transei com ninguém, Sofia. Não desde que você entrou na
minha vida.
Ela ri como se não acreditasse em mim.
— Claro, eu estou ficando louca e não tinha uma marca de batom no
seu pescoço.
Respiro fundo e prendo os olhos nela para que Sofia veja que estou
falando a verdade.
— Eu tentei — admito e balanço a cabeça. — Eu saí naquela noite
porque queria foder alguém até te tirar da minha cabeça.
Vejo dor cortar os olhos claros, e ela dá um passo para trás, mas
continuo:
— Eu estava desesperado, Sofia. Nunca senti medo na minha vida
antes, mas estava completamente desesperado. Não queria me apaixonar por
você. Precisava te tirar da cabeça, mas não consegui.
— Como assim não conseguiu? — ela pergunta, cruzando os braços.
— Não consegui — repito. — O que quer que eu diga? Que meu pau
não subiu? Que nem consegui beijar outra mulher porque você não saiu da
minha cabeça? Porque foi exatamente isso que aconteceu.
Ela pisca confusa, e sua boca cai aberta. Aproveito para me aproximar
de novo.
— Tudo que eu conseguia pensar era em você, Sofia. Eu não quis outra
mulher naquela noite e não quis outra mulher em noite nenhuma desde que
você foi embora.
— Daniel…
— Eu me apaixonei por você também, pequena. Não sei como isso
aconteceu, nem sabia que era possível, mas me apaixonei por você.
Ela balança a cabeça que não e tenta se afastar.
— Eu sei que sou um filho da puta às vezes, mas estou tentando, Sofia.
Prometo que vou ser melhor, por você, pelo nosso filho. Por favor…
Ela finalmente de rende às lágrimas, e eu inclino meu rosto sobre o seu.
Que saudades dessa boca… Mas Sofia não me deixa beijá-la. Consegue
escapar dos meus braços e atravessa o cômodo para ficar o mais longe de
mim possível.
— Mas você quis — ela declara, e franzo o cenho. — Pode não ter
conseguido… — Acena com a mão para mim e solta um gemido baixo. —
Mas você tentou. E o que vale é a intenção. O que você espera que eu faça?
Fique aqui esperando você surtar de novo e sair por aí tentando dormir com
outra mulher quando estiver com medo do que está sentindo? Eu não sei nem
se acredito que você sente alguma coisa, Daniel!
— Pequena…
— Não — ela diz, categórica. — Se você quiser fazer parte da vida
dessa criança, tudo bem. Não vou impedir meu filho de ter um pai, mas eu
não sou sua. E não vou ser de novo.
— Sofia.
— Por favor, vai embora — ela pede em um sussurro. — Esse show de
vocês dois foi o suficiente por hoje. Eu preciso descansar.
Ela abraça a barriga, e não consigo tirar os olhos dali. Do nosso filho.
Concordo com a cabeça porque não entendo nada de grávidas e não sei
se vai ser ruim para o bebê se ela continuar se estressando assim.
— Eu vou voltar — aviso, porque é verdade. Sofia suspira e dá de
ombros. Não se move enquanto eu vou até a porta e olho para ela uma última
vez antes de sair do apartamento. Esfrego o rosto e apoio a testa na parede do
corredor.
— Eu vou te ter de volta, pequena. Você e nosso filho.
SOFIA
***
A casa está uma bagunça. Consigo ouvir os gritos de crianças e as
risadas altas assim que eu abro a porta.
— Papai!
Beatriz vem correndo na minha direção, e eu me abaixo para pegar a
minha menina. Ela herdou o cabelo claro de Sofia e seus olhos enormes e
verdes. É uma cópia perfeita da minha mulher e a coisa mais linda que já vi
no mundo. Eu a pego no colo, e vejo Sofia revirando os olhos depois de dar
um beijo no topo da cabeça da nossa filha.
— Ciumenta — eu sussurro, e ela me mostra a língua. Eric aparece
alguns momentos depois com minha mãe logo atrás dele. O cabelo castanho-
escuro e encaracolado cai pela sua testa, e o sorriso enorme está no seu rosto
como sempre.
Sofia se abaixa na frente dele, e nosso menino a abraça apertado.
— Como você está, meu amor? — ela pergunta. Minha mãe vem até
mim e dá um beijo no meu rosto antes de dizer que vai resolver alguma coisa
e some.
— A vovó levou a gente pra andar de bicicleta e tinha um menino
implicando com a Bibi, mas eu cuidei dela que nem você mandou, mamãe —
ele conta e cruza os braços fazendo um bico. O sorriso de Sofia só aumenta, e
ela bagunça o cabelo dele.
— Parece que alguém vai ser um mocinho protetor — ela diz e olha
para mim com tanto amor nos olhos. — Puxou o pai.
Ela pega Eric no colo com alguma dificuldade porque ele já está bem
grande e vem até mim. Sinto aquele quentinho no peito de sempre quando
estou com minha família toda junta.
Sofia foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Apareceu do
nada e virou tudo do avesso. Minha mulher linda, doce e inteligente que me
deu a família mais linda que alguém podia pedir.
— Eu te amo — ela diz, e eu me abaixo para dar um selinho na sua
boca.
— Eu te amo, pequena — respondo e sorrio para ela também. — Minha
pequena.
Ela concorda com a cabeça.
— Toda sua.