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Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul

1ª Câmara Cível

Agravo de Instrumento - Nº 1401455-10.2020.8.12.0000 - Campo Grande


Relator(a) – Exmo(a). Sr(a). Des. Geraldo de Almeida Santiago
Agravante : Keila da Costa Rocha
Advogado : Caio Henrique Tegon (OAB: 25054/MS)
Agravado : Estado de Mato Grosso do Sul

EMENTA - AÇÃO DE NATUREZA PESSOAL DE SERVIDOR


PÚBLICO – CAUSA VALORADA EM QUANTIA INFERIOR A SESSENTA (60)
SALÁRIOS-MÍNIMOS – COMPETÊNCIA DO JUIZADO ESPECIAL DA
FAZENDA PÚBLICA – AUSÊNCIA DE QUAISQUER DAS HIPÓTESES DE
EXCLUSÃO DA COMPETÊNCIA PREVISTAS NO § 1º, DO ART. 2º, DA LEI Nº
12.153, DE 22/12/2009 – RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. 1) Discute-se
no presente recurso a competência dos Juizados Especiais da Fazenda Pública para
processo e julgamento de ação de natureza pessoal de servidor público. 2) A
competência do Juizado Especial da Fazenda Pública é absoluta para causas com valor
inferior a sessenta (60) salários-mínimos (art. 2º, caput, e § 4º, da Lei nº 12.153, de
22/12/2009), ressalvas as hipóteses de exclusão de competência previstas no § 1º, do
art. 2º, da Lei nº 12.153, de 22/12/2009. 3) A Resolução-TJMS nº 235, de 03 de março
de 2021, aprovada pelo Órgão Especial, previu, em seu inciso IV do art. 2º, que "IV –
as 4ª e 6ª Varas – Fazenda Pública – para a competência prevista no art. 2º da Lei
Federal nº 12.153, de 22 de dezembro de 2009, tais como processar, conciliar e julgar
causas cíveis do interesse da fazenda pública, até o valor de 60 (sessenta) salários
mínimos, em face das Fazendas Públicas Estaduais e Municipais, observadas as
restrições previstas no § 1º do mesmo artigo.". 3) No presente caso, não há
enquadramento nas hipóteses de exceção previstas no citado dispositivo legal -
impugnação da pena de demissão imposta a servidores públicos civis ou sanções
disciplinares aplicadas a militares -, de modo que acertou o juízo a quo ao declinar da
competência. Recurso conhecido e não provido, decisão de primeira instância mantida.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, ACORDAM, em sessão permanente e


virtual, os(as) magistrados(as) do(a) 1ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Mato
Grosso do Sul, na conformidade da ata de julgamentos, a seguinte decisão: Por
unanimidade, negaram provimento ao recurso, nos termos do voto do Relator..

Campo Grande, 22 de março de 2021

Des. Geraldo de Almeida Santiago


Relator(a) do processo
Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul
Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul
R E L A T Ó R I O
O(A) Sr(a). Des. Geraldo de Almeida Santiago.

Keila da Costa Rocha, inconformada com a decisão proferida pelo


juízo da 2ª Vara Cível de Fazenda Pública e de Registros Públicos da Comarca de
Campo Grande, que reconheceu, de ofício, a incompetência para processar e julgar a
demanda nos autos da ação declaratória e indenizatória c/c obrigação de fazer nº
0801109-08.2020.8.12.0001, movida em desfavor de Estado de Mato Grosso do Sul,
agrava a este Tribunal.
Relata que o magistrado a quo declinou a competência para processar
e julgar a demanda em questão, remetendo os autos para o Juizado Especial da Fazenda
Pública da comarca de Campo Grande.
Sustenta que, embora a Lei nº 12.153/09 estabeleça, para definição da
competência, o valor de alçada correspondente a 60 (sessenta) salários mínimos, o art.
2º da Resolução nº 42/2010 do Tribunal de Justiça de MS excetua da competência do
Juizado Especial da Fazenda Pública às ações de natureza pessoal de servidor público,
independentemente do valor atribuído à causa.
Argumenta que o caso em análise envolve direito pessoal de servidor
público estadual, sendo, portanto, a Vara de Fazenda Pública competente para processar
e julgar o feito, ainda que valor da causa seja menor que 60 (sessenta) salários
mínimos.
Pede a concessão do efeito suspensivo e, ao final, pugna pelo
provimento do presente recurso, reformando-se a decisão impugnada, a fim de que seja
declarada a competência do juiz da 2ª Vara de Fazenda Pública e de Registros Públicos
da Comarca de Campo Grande para o processamento e julgamento da presente
demanda, com o devido retorno dos autos à Vara de origem.
Postula, ainda, pela concessão dos benefícios da justiça gratuita.
Despacho de fls. 11/2 intimou a recorrente para trazer aos autos
documentos que pudessem comprovar a incapacidade financeira alegada, sob pena de
indeferimento do pedido. E, em atendimento ao despacho, a agravante trouxe aos autos
os documentos de fls. 15/28.
Na decisão de fls. 30/33, este Relator conheceu do recurso, atribuindo-
lhe efeito suspensivo, bem como deferiu a gratuidade de justiça.
Sem intimação da parte agravada, uma vez que não houve a
angularização processual na primeira instância. Além do mais, após a sua citação, terá
oportunidade e prazo recursal para se insurgir contra a decisão proferida neste recurso.
É o relatório.
Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul
V O T O
O(A) Sr(a). Des. Geraldo de Almeida Santiago. (Relator(a))

Conforme relatado, Keila da Costa Rocha, inconformada com a


decisão proferida pelo juízo da 2ª Vara Cível de Fazenda Pública e de Registros
Públicos da Comarca de Campo Grande, que reconheceu, de ofício, a incompetência
para processar e julgar a demanda nos autos da ação declaratória e indenizatória c/c
obrigação de fazer nº 0801109-08.2020.8.12.0001, movida em desfavor de Estado de
Mato Grosso do Sul, agrava a este Tribunal.
Relata que o magistrado a quo declinou a competência para processar
e julgar a demanda em questão, remetendo os autos para o Juizado Especial da Fazenda
Pública da comarca de Campo Grande.
Sustenta que, embora a Lei nº 12.153/09 estabeleça, para definição da
competência, o valor de alçada correspondente a 60 (sessenta) salários mínimos, o art.
2º da Resolução nº 42/2010 do Tribunal de Justiça de MS excetua da competência do
Juizado Especial da Fazenda Pública às ações de natureza pessoal de servidor público,
independentemente do valor atribuído à causa.
Argumenta que o caso em análise envolve direito pessoal de servidor
público estadual, sendo, portanto, a Vara de Fazenda Pública competente para processar
e julgar o feito, ainda que valor da causa seja menor que 60 (sessenta) salários
mínimos.
Pede a concessão do efeito suspensivo e, ao final, pugna pelo
provimento do presente recurso, reformando-se a decisão impugnada, a fim de que seja
declarada a competência do juiz da 2ª Vara de Fazenda Pública e de Registros Públicos
da Comarca de Campo Grande para o processamento e julgamento da presente
demanda, com o devido retorno dos autos à Vara de origem.
Postula, ainda, pela concessão dos benefícios da justiça gratuita.
Despacho de fls. 11/2 intimou a recorrente para trazer aos autos
documentos que pudessem comprovar a incapacidade financeira alegada, sob pena de
indeferimento do pedido. E, em atendimento ao despacho, a agravante trouxe aos autos
os documentos de fls. 15/28.
Na decisão de fls. 30/33, este Relator conheceu do recurso, atribuindo-
lhe efeito suspensivo, bem como deferiu a gratuidade de justiça.
Sem intimação da parte agravada, uma vez que não houve a
angularização processual na primeira instância. Além do mais, após a sua citação, terá
oportunidade e prazo recursal para se insurgir contra a decisão proferida neste recurso.
Passo ao voto.
Conheço do recurso, porquanto presentes os pressupostos de
admissibilidade, ato contínuo, examino as razões do agravante.
A decisão ora guerreada consignou:
Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul
(...)

No caso em tela, trata-se de demanda de natureza pessoal de servidor


público e o valor desta causa não supera o limite de 60 salários mínimos,
nem se enquadra nas exceções legais, revelando a incompetência deste
Juízo para processar e julgar a presente. A competência absoluta para
conhecer e decidir a presente é da 6ª Vara do Juizado Especial da comarca
de Campo Grande Juizado Especial da Fazenda Pública, nos termos do
art. 2º, §4º, da Lei 12.153/2009 e do art. 2º,da Resolução n.º 200/2018, do
Órgão Especial do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul.

Da revogação da Resolução nº 42/2010 pela Resolução nº 200/2018, do


Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul.

A competência do Juizado Especial da Fazenda Pública, definida por meio


da Lei Federal nº 12.153, de 22 de dezembro de 2009, está regulamentada
pela Resolução nº 200, de 23 de maio de 2018, nos seguintes termos:

Art.2º As varas dos Juizados Especiais da comarca de Campo Grande têm


a seguinte competência

...

IV – a 6ª Vara – Fazenda Pública – para competência prevista no artigo 2º


da Lei Federal nº 12.153, de 22 de dezembro de 2009, tais como processar,
conciliar e julgar causas cíveis do interesse da fazenda pública, até o valor
de 60 (sessenta) salários mínimos, em face das Fazendas Públicas
Estaduais e Municipais, observadas as restrições previstas no §1º do
mesmo artigo. (...) (negritos)

A Resolução nº 200/2018, ao substituir a Resolução nº 551/2008, revogou


integralmente a Resolução nº 42/2010 (com redação da Resolução nº
48/2011), extinguindo a restrição da competência quanto às ações de
natureza pessoal dos servidores públicos.

Note-se que tal restrição foi permitida em caráter temporário pelo art. 23
da Lei Federal nº 12.153/2009 e, vencido o prazo lá fixado, a restrição de
competência desapareceu, ou seja, a redução da competência plena do
Juizado Especial da Fazenda Pública inserida na Resolução nº 42/2010
CADUCOU em 23/06/2015, termo final permitido pela Lei Federal nº
12.153/2009.

Especificamente em relação aos servidores públicos, a Lei nº. 12.153/2009


exclui da competência dos Juizados da Fazenda Pública somente as
matérias afetas à impugnação de pena de demissão imposta a servidor
público civil e as sanções disciplinares aplicadas a militares.

(...)

Pois bem.
Não assiste razão à agravante.
Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul
Ab initio insta salientar que reviso meu entendimento acerca da
matéria, pelas razões que passo a delinear:
Em março do presente ano, este E. Tribunal de Justiça editou a
RESOLUÇÃO Nº 235, in verbis:
(...)
Autoriza a transformação da 4ª Vara dos Juizados Especiais Cíveis e
Criminais da comarca de Campo Grande em 4ª Vara – Fazenda Pública e
dá outras providências.

O ÓRGÃO ESPECIAL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE


MATO GROSSO DO SUL, no uso de suas atribuições conferidas pelo art.
31 do Código de Organização e Divisão Judiciárias - Lei nº 1.511, de 5 de
julho de 1994, c/c os incisos XVII e XXXIV do art. 150 da Resolução nº
590, de 13 de abril de 2016;
Art. 1º Autorizar a transformação da 4ª Vara dos Juizados Especiais Cíveis
e Criminais na 4ª Vara - Fazenda Pública, de modo a ter idêntica
competência da 6ª Vara – Fazenda Pública.
Parágrafo único. Para o atendimento efetivo da política administrativa de
centralização dos serviços judiciários dos Juizados Especiais, a Vara de
que trata o caput deste artigo será realocada, oportunamente, de sua
instalação física do bairro Moreninhas para o Centro Integrado de Justiça
– CIJUS.
Art. 2º A partir da efetiva transformação de que trata o art. 1º desta
Resolução, as redações dos incisos I e IV do art. 2º e do 4º da Resolução nº
200, de 23 de maio de 2018, passam a vigorar nos seguintes termos:
“Art.2º..............................................................................................................
I – as 1ª, 2ª, 3ª, 5ª, 7ª, 10ª e 11ª Varas para processar e julgar as ações
cíveis e criminais previstas na Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995 –
LJE;
..........................................................................................................................
IV – as 4ª e 6ª Varas – Fazenda Pública – para a competência prevista no
art. 2º da Lei Federal nº 12.153, de 22 de dezembro de 2009, tais como
processar, conciliar e julgar causas cíveis do interesse da fazenda
pública, até o valor de 60 (sessenta) salários mínimos, em face das
Fazendas Públicas Estaduais e Municipais, observadas as restrições
previstas no § 1º do mesmo artigo.
...............................................................................................................” (NR)
“Art. 4º Nos Juizados Especiais Criminais, a competência será
determinada pelo local onde foi praticada a infração penal, na forma do
art. 63 da Lei nº 9.099/1995.” (NR)
Art. 3º Caberá ao Presidente do Tribunal de Justiça estabelecer, por ato
próprio, a data da transformação e modificação de competência de que
trata esta Resolução, quando, então, a 4ª Vara dos Juizados Especiais
Cíveis e Criminais passará a denominar-se 4ª Vara - Fazenda Pública e,
assim, dar-se-á sua realocada na instalação física do Centro Integrado de
Justiça – CIJUS; bem assim, também constará do Ato em questão outros
critérios que se fizerem necessários ao devido cumprimento deste diploma,
especialmente no que diga respeito às regras de redistribuição dos
processos.
Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul
Art. 4º Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação, gerando
seus efeitos a contar da edição do ato de que trata o art. 3º desta
Resolução.
Art. 5º Ficam revogados os arts. 3º, 5º e 7º da Resolução nº 200, de 23 de
maio de 2018. (grifei e sublinhei)

Assim, a competência do Juizado Especial da Fazenda Pública é


absoluta para causas com valor inferior a sessenta (60) salários-mínimos, nos moldes
do que dispõe o diploma federal de regência desse microssistema – Lei 12.153/2009:
(...)
Art. 2o É de competência dos Juizados Especiais da Fazenda Pública
processar, conciliar e julgar causas cíveis de interesse dos Estados, do
Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, até o valor de 60
(sessenta) salários mínimos.
§ 1o Não se incluem na competência do Juizado Especial da Fazenda
Pública:
I – as ações de mandado de segurança, de desapropriação, de divisão e
demarcação, populares, por improbidade administrativa, execuções fiscais
e as demandas sobre direitos ou interesses difusos e coletivos;
II – as causas sobre bens imóveis dos Estados, Distrito Federal, Territórios
e Municípios, autarquias e fundações públicas a eles vinculadas;
III – as causas que tenham como objeto a impugnação da pena de
demissão imposta a servidores públicos civis ou sanções disciplinares
aplicadas a militares.
§ 2o Quando a pretensão versar sobre obrigações vincendas, para fins de
competência do Juizado Especial, a soma de 12 (doze) parcelas vincendas
e de eventuais parcelas vencidas não poderá exceder o valor referido
no caput deste artigo.
(grifei)

Cumpre lembrar que no âmbito do TJ/MS, a Resolução nº 200, de


23/05/2018, aprovada pelo Órgão Especial, previu o seguinte, acerca da competência
do Juizado Especial da Fazenda Pública na Comarca de Campo Grande-MS:
Art. 2º As varas dos Juizados Especiais da comarca de Campo Grande têm
a seguinte competência:

[...]

IV – a 6ª vara – fazenda pública – para a competência prevista no artigo 2º


da Lei Federal nº 12.153, de 22 de dezembro de 2009, tais como processar,
conciliar e julgar causas cíveis do interesse da fazenda pública, até o valor
de 60 (sessenta) salários mínimos, em face das Fazendas Públicas
Estaduais e Municipais, observadas as restrições previstas no § 1º do
mesmo artigo."

A Resolução-TJMS nº 42, de 16/06/2010, também aprovada pelo


Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul
Órgão Especial, previu, em seu art. 2º, que os Juizados Especiais da Fazenda Pública,
instalados a partir do dia 23 de Junho de 2010, terão a competência prevista no artigo
2º da Lei Federal nº 12.153, de 22 de dezembro de 2009, excluídas as ações de
natureza pessoal de servidor público, em face das Fazendas Públicas Estaduais e
Municipais e, observadas, ainda, as restrições previstas no § 1º do mesmo artigo.
Posteriormente, a Resolução-TJMS nº 48, de 16/03/2011, também
aprovada pelo Órgão Especial do TJ/MS, alterou a redação do art. 2º, da
ResoluçãoTJMS nº 42, de 16/06/2010, o qual passou a prever que os Juizados
Especiais da Fazenda Pública, instalados a partir do dia 23 de Junho de 2010, terão a
competência prevista no artigo 2º da Lei Federal nº 12.153, de 22 de dezembro de
2009, excluídas as ações de natureza pessoal de servidor público, em face das
Fazendas Públicas Estaduais e Municipais e, observadas, ainda, as restrições
previstas no § 1º do mesmo artigo.
A limitação da competência do Juizado Especial da Fazenda Pública
pelo Órgão Especial do TJ/MS, se deu com base no art. 23, da Lei nº 12.153, de
22/12/2009, que estabeleceu regra de transição no sentido de que os Tribunais de
Justiça poderão limitar, por até 5 (cinco) anos, a partir da entrada em vigor desta Lei,
a competência dos Juizados Especiais da Fazenda Pública, atendendo à necessidade
da organização dos serviços judiciários e administrativos.
A Lei nº 12.153, de 22/12/2009, entrou em vigor seis (6) meses após
a sua publicação (art. 28), de sorte que, após 21/06/2015, a competência absoluta
prevista no art. 2º, da Lei nº 12.153, de 22/12/2009, restou cabalmente restabelecida.
Assim, para as ações propostas após a referida data, com valor inferir a sessenta
salários mínimos, não há se cogitar de qualquer limitação da competência, que não
aquelas prevista no § 1º, do art. 2º, da Lei nº 12.153, de 22/12/2009.
Prova disso é o fato de que a Resolução-TJMS nº 235, de 03/3/2021,
aprovada também pelo Órgão Especial do TJ/MS, não fez qualquer ressalva quanto à
eventual exclusão das ações de natureza pessoal de servidor público da competência
dos Juizados Especiais da Fazenda Pública da Comarca de Campo Grande-MS, fazendo
menção apenas à exclusão de competência prevista no § 1º, do art. 2º, da Lei nº 12.153,
de 22/12/2009.
No caso dos autos, a autora/recorrente pleiteia o pagamento de verba
de natureza pessoal de servidor público e a sua propositura ocorreu em 19/1/2020 (f.
01-07, na origem), tendo sido dada à causa o valor de R$ 4.145,28 (quatro mil cento e
quarenta e cinco reais e vinte e oito centavos) - quantia inferior à 60 salários mínimos.
Logo, por ter sido proposta a ação após a perda da vigência e eficácia das Resoluções-
TJMS nº 42, de 16/06/2010, e nº 48, de 16/03/2011, bem como por ter sido a causa
valorada em quantia inferior à sessenta (60) salários mínimos, induvidosa a
competência do Juizado Especial da Fazenda Pública no caso dos dos autos.
Nesse sentido:
E M E N T A – AGRAVO INTERNO - AÇÃO DE COBRANÇA DE VERBA
INDENIZATÓRIA - SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL - DISTRIBUIÇÃO
Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul
AO JUÍZO DA VARA DE FAZENDA PÚBLICA E DE REGISTROS
PÚBLICOS - DECLÍNIO DA COMPETÊNCIA PARA O JUIZADO
ESPECIAL DA FAZENDA PÚBLICA - AÇÃO DE NATUREZA PESSOAL -
RESOLUÇÃO TJMS Nº 42/2010 - COMPETÊNCIA DA VARA DE
FAZENDA PÚBLICA ESTADUAL - DECISÃO MANTIDA - RECURSO
CONHECIDO E IMPROVIDO. Os Juizados Especiais da Fazenda Pública
possuem competência absoluta para processar e julgar ações cíveis de
interesse dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos
Municípios, até o valor de 60 (sessenta) salários mínimos, com exceção das
hipóteses previstas no artigo 2°, §1°, da Lei n° 12.153/2009, e também das
ações de natureza pessoal de servidor público ajuizadas em desfavor das
Fazendas Públicas Estaduais e Municipais. Recurso conhecido não
provido." (Agravo Interno Cível nº 1412714-36.2019.8.12.0000, 1ª Câmara
Cível, Rel. Juiz Luiz Antônio Cavassa de Almeida, DJe 06/03/2020)

AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE


DE ATO ADMINISTRATIVO – SERVIDOR PÚBLICO – DECLÍNIO DA
COMPETÊNCIA PARA JUIZADO ESPECIAL DA FAZENDA PÚBLICA –
DECISÃO MANTIDA – RECURSO DESPROVIDO. A limitação prevista no
artigo 2.º, da Resolução n.º 42, de 16.06.2010 (com a redação alterado
pela Resolução n.º 48, de 16.03.2011) deste Tribunal de Justiça persistiu
somente até junho de 2015, por força da previsão contida no artigo 23, da
Lei n.º 12.153/2009. Decorrido este prazo, a competência absoluta dos
Juizados da Vara da Fazenda é plena, nos termos do artigo 2.º, do referido
diploma legal, não mais subsistindo os motivos que levaram a edição da
Resolução pelo Tribunal de Justiça que limitou a competência dos Juizados
Especiais da Fazenda Pública para atender a necessidade da organização
dos serviços judiciários e administrativos. (Agravo de Instrumento nº
1415028-52.2019.8.12.0000, 2ª Câmara Cível, Rel. Des. Eduardo Machado
Rocha, DJe 21/01/2020)

Portanto, não há razão alguma para se cogitar de eventual reforma da


decisão agravada.

Dispositivo
Diante do exposto, conheço o recurso interposto por Keila da Costa
Rocha mas NEGO-LHE PROVIMENTO, mantendo incólume a sentença proferida
pelo togado de primeira instância.
É como voto.

D E C I S Ã O
Como consta na ata, a decisão foi a seguinte:

POR UNANIMIDADE, NEGARAM PROVIMENTO AO


RECURSO, NOS TERMOS DO VOTO DO RELATOR.
Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul
Presidência do(a) Exmo(a). Sr(a). Des. Marcos José de Brito
Rodrigues

Relator(a), o(a) Exmo(a). Sr(a). Des. Geraldo de Almeida Santiago

Tomaram parte no julgamento os(as) Exmos(as). Srs(as). Des.


Geraldo de Almeida Santiago, Des. João Maria Lós e Des. Divoncir Schreiner Maran.

Campo Grande, 22 de março de 2021.

in

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