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Curso Técnico em Mecânica

Resistência dos Materiais


Armando de Queiroz Monteiro Neto
Presidente da Confederação Nacional da Indústria

José Manuel de Aguiar Martins


Diretor do Departamento Nacional do SENAI

Regina Maria de Fátima Torres


Diretora de Operações do Departamento Nacional do SENAI

Alcantaro Corrêa
Presidente da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina

Sérgio Roberto Arruda


Diretor Regional do SENAI/SC

Antônio José Carradore


Diretor de Educação e Tecnologia do SENAI/SC

Marco Antônio Dociatti


Diretor de Desenvolvimento Organizacional do SENAI/SC
Confederação Nacional das Indústrias
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

Curso Técnico em Mecânico

Resistência dos Materiais

José Vieira

Florianópolis/SC
2010
É proibida a reprodução total ou parcial deste material por qualquer meio ou sistema sem o prévio
consentimento do editor. Material em conformidade com a nova ortografia da língua portuguesa.

Equipe técnica que participou da elaboração desta obra

Coordenação de Educação a Distância Design educacional, Ilustração,


Beth Schirmer Projeto Gráfico Editorial, Diagramação
Equipe de Recursos Didáticos
Revisão Ortográfica e Normatização SENAI/SC em Florianópolis
FabriCO
Autor
Coordenação Projetos EaD José Vieira
Maristela de Lourdes Alves

Ficha catalográfica elaborada por Kátia Regina Bento dos Santos - CRB 14/693 - Biblioteca do SENAI/SC
Florianópolis.

V658r
Vieira, José
Resistência dos materiais / José Vieira. – Florianópolis : SENAI/SC, 2010.
65 p. : il. color ; 28 cm.

Inclui bibliografias.

1. Materiais - Resistência. 2. Sistema métrico. I. SENAI. Departamento


Regional de Santa Catarina. II. Título.

CDU 620.17

SENAI/SC — Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial


Rodovia Admar Gonzaga, 2.765 – Itacorubi – Florianópolis/SC
CEP: 88034-001
Fone: (48) 0800 48 12 12
www.sc.senai.br
Prefácio
Você faz parte da maior instituição de educação profissional do estado.
Uma rede de Educação e Tecnologia, formada por 35 unidades conecta-
das e estrategicamente instaladas em todas as regiões de Santa Catarina.

No SENAI, o conhecimento a mais é realidade. A proximidade com as


necessidades da indústria, a infraestrutura de primeira linha e as aulas
teóricas, e realmente práticas, são a essência de um modelo de Educação
por Competências que possibilita ao aluno adquirir conhecimentos, de-
senvolver habilidade e garantir seu espaço no mercado de trabalho.

Com acesso livre a uma eficiente estrutura laboratorial, com o que existe
de mais moderno no mundo da tecnologia, você está construindo o seu
futuro profissional em uma instituição que, desde 1954, se preocupa em
oferecer um modelo de educação atual e de qualidade.

Estruturado com o objetivo de atualizar constantemente os métodos de


ensino-aprendizagem da instituição, o Programa Educação em Movi-
mento promove a discussão, a revisão e o aprimoramento dos processos
de educação do SENAI. Buscando manter o alinhamento com as neces-
sidades do mercado, ampliar as possibilidades do processo educacional,
oferecer recursos didáticos de excelência e consolidar o modelo de Edu-
cação por Competências, em todos os seus cursos.

É nesse contexto que este livro foi produzido e chega às suas mãos.
Todos os materiais didáticos do SENAI Santa Catarina são produções
colaborativas dos professores mais qualificados e experientes, e contam
com ambiente virtual, mini-aulas e apresentações, muitas com anima-
ções, tornando a aula mais interativa e atraente.

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deste universo. Seja bem-vindo e aproveite por completo a Indústria
do Conhecimento.
Sumário
Conteúdo Formativo 9 36 Unidade de estudo 3
Solicitações
Apresentação 11 Mecânicas

37 Seção 1 - Força normal e


12 Unidade de estudo 1 tensões
Sistemas de 37 Seção 2 - Esforços de tração
Unidades e compressão
45 Seção 3 - Esforços de cisalha-
mento
13 Seção 1 - Sistema Internacio- 46 Seção 4 - Esforços de torção
nal de Unidades
52 Seção 5 - Esforços de flexão
13 Seção 2 - Unidades funda-
mentais de referência 56 Seção 6 - Esforços de flamba-
gem
15 Seção 3 - Unidades inglesas
de referência

Finalizando 59
18 Unidade de estudo 2
Princípios e Concei- Referências 61
tos Fundamentais

19 Seção 1 - Grandezas físicas


20 Seção 2 - Física aplicada
22 Seção 3 - Centro de gravi-
dade
26 Seção 4 - As três leis de
Newton
27 Seção 5 - Equilíbrio de forças
e momentos
31 Seção 6 - Treliças
8 CURSOS TÉCNICOS SENAI
Conteúdo Formativo
Carga horária da dedicação

Carga horária: 60 horas

Competência

Aplicar os conceitos de resistência dos materiais para o dimensionamento de


peças e componentes mecânicos em máquinas e equipamentos.

Conhecimentos

▪▪ Física aplicada;
▪▪ Grandezas físicas e unidades de medida;
▪▪ Dilatação;
▪▪ Solicitações mecânicas (tração, compressão, cisalhamento, flexão, torção, flamba-
gem);
▪▪ Cálculos de reações;
▪▪ Diagrama de equilíbrio de força;
▪▪ Centro de gravidade de figuras simples e compostas;
▪▪ Diagrama comparativo entre tensão e deformação.

Habilidades

▪▪ Ler, interpretar e aplicar manuais, catálogos e tabelas técnicas;


▪▪ Identificar os diversos tipos de materiais (com base nas propriedades mecânicas);
▪▪ Aplicar conceitos de resistência dos materiais;
▪▪ Identificar o tipo dos esforços aplicados às estruturas e conjuntos mecânicos;
▪▪ Aplicar as equações de equilíbrio para determinar a intensidade dos esforços apli-
cados às estruturas e conjuntos mecânicos;
▪▪ Dimensionar componentes mecânicos submetidos às solicitações mecânicas.

RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS 9


Atitudes

▪▪ Assiduidade;
▪▪ Pró-atividade;
▪▪ Relacionamento interpessoal;
▪▪ Trabalho em equipe;
▪▪ Cumprimento de prazos;
▪▪ Zelo com os equipamentos;
▪▪ Adoção de normas técnicas, de saúde e segurança no trabalho;
▪▪ Responsabilidade ambiental.

10 CURSOS TÉCNICOS SENAI


Apresentação
Neste momento, em que vivemos num mundo globalizado, sabemos José Vieira
que é fundamental e importante o desenvolvimento pessoal e profissio-
nal. A sociedade e os núcleos trabalhistas almejam sempre indivíduos José Vieira, nascido em 15 de
capacitados e bem formados, profissionais com atitude ética, com ações agosto de 1959, em Jaraguá do
pró-ativas, buscando cada vez mais seu desenvolvimento e crescimento. Sul (SC), graduou-se em Tec-
nologia Mecânica pelo CEFET/
Convidamos você a iniciar, a partir de agora, esta nova etapa de desen- UNERJ de Jaraguá do Sul (1995),
volvimento através de uma formação aprofundada em conhecimentos, fez pós-graduação nível de es-
mergulhando em uma abordagem dinâmica e integrada dos assuntos pecialização em Tecnologia Me-
tratados nesta unidade curricular. cânica na UFSC/UNERJ – Jaraguá
A Unidade Curricular de Resistência dos Materiais foi desenvolvida de do Sul (1997). Tem Licenciatura
Plena e participou do Programa
forma clara e objetiva, com o intuito de fornecer conhecimentos e fun-
Especial de Formação Pedagógi-
damentos mecânicos e físicos com base em um aprendizado interessante ca para Formadores da Educa-
e atraente, contribuindo para o crescimento profissional. Procuramos ção Profissional na UNISUL – Pa-
estabelecer ligações com atividades cotidianas com vistas ao aperfeiçoa- lhoça/SC (2006).
mento profissional, pessoal e social. Trabalhou com desenvolvimen-
Então, aceita o convite? Seja bem-vindo e bom curso! to profissional na indústria, com
larga experiência em processos
de fabricação destinados à con-
fecção de estampos para corte
e dobra de chapas, moldes para
injeção de alumínio e plásticos.
Atualmente atua como Especia-
lista de Ensino no SENAI/SC e na
coordenação de cursos técnicos
e superiores na área de Mecâ-
nica.

RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS 11


Unidade de
estudo 1
Seções de estudo

Seção 1 – Sistema Internacional de


Unidades
Seção 2 – Unidades fundamentais de
referência
Seção 3 – Unidades inglesas de referência
Sistemas de Unidades

As informações aqui apresentadas irão ajudar você a compreender me-


lhor as unidades de medida adotadas no Brasil. Segundo as informações Inmetro: Instituto Nacional
publicadas pelo Inmetro, podemos acompanhar a evolução dos siste- de Metrologia, Normalização
mas de medidas desde sua origem. e Qualidade Industrial.
Segundo as informações postadas pelo Inmetro, a necessidade de medir
é muito antiga e remonta à origem das civilizações. Por muito tempo
cada país, cada região teve o seu próprio sistema de medidas, com base Côvado: “Antiga unidade
em unidades arbitrárias e imprecisas como, por exemplo, aquelas que se de medida equivalente a
três palmos, ou seja, 66 cm;
referenciavam no corpo humano: palmo, pé, polegada, braça, e o côva-
cúbito” (FERREIRA, 2010).
do.
Em 1789, numa tentativa de solucionar os problemas decorrentes dessa
inexatidão, o governo republicano francês pediu à Academia de Ciências Conmetro: Conselho Nacio-
da França que criasse um sistema de medidas baseado numa “constante nal de Metrologia, Normali-
natural”. Assim foi elaborado o Sistema Métrico Decimal. Posterior- zação e Qualidade Industrial.
mente, muitos outros países adotaram esse mesmo sistema, inclusive o
Brasil, aderindo à “Convenção do Metro”. O Sistema Métrico Decimal
estipulou, inicialmente, três unidades básicas de medida: o metro, o litro
e o quilograma.

Seção 1
Sistema Internacional de Unidades
Com o desenvolvimento científico, técnico e tecnológico das indústrias
e a intercambiabilidade das peças de máquinas e equipamentos em geral,
passou-se a exigir medições cada vez mais precisas e diversificadas. Por
isso, em 1960 o Sistema Métrico Decimal foi substituído pelo Sistema
Internacional de Unidades, mais complexo e sofisticado, adotado tam-
bém pelo Brasil em 1962 e ratificado pela Resolução nº 12 de 1988 do
Conmetro, tornando-se de uso obrigatório em todo o território nacio-
nal.

Seção 2
Unidades fundamentais de referência
No Sistema Internacional de Unidades (cuja sigla, muito utilizada, é SI)
distinguem-se duas classes: unidades de base e unidades derivadas.
Sob o aspecto científico, a divisão das unidades nessas duas classes é ar-
bitrária porque não é uma imposição da física. Entretanto, a Conferência
Geral de Pesos e Medidas (CGPM), levando em consideração as vanta-
gens de se adotar um sistema prático único para ser utilizado mundial-
mente nas relações internacionais, no ensino e no trabalho científico, de-
cidiu basear o SI em sete unidades perfeitamente definidas, consideradas
independentes sob o ponto de vista dimensional. Observe o quadro 1.

RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS 13


Unidades de base
Unidade Símbolo Grandeza
metro m comprimento
quilograma kg massa
segundo s tempo
ampere A corrente elétrica
kelvin K temperatura termodinâmica
mol mol quantidade de matéria
candela cd intensidade luminosa
Quadro 1 – Unidades de Base

A segunda classe de unidades do Sistema Internacional abrange as uni-


dades derivadas, isto é, as unidades que podem ser formadas combinan-
do-se unidades de base segundo relações algébricas que interligam as
grandezas correspondentes. Diversas dessas expressões algébricas, em
razão de unidades de base, podem ser substituídas por nomes e símbo-
los especiais, o que permite sua utilização na formação de outras unida-
des derivadas. Acompanhe o quadro.

Exemplos de unidades derivadas

Grandeza Unidade Nome da unid. Símbolo

velocidade metro/segundo m/s m/s

aceleração metro/segundo ao quadrado m/s² m/s²

força quilograma x metro/segundo ao quadrado Newton N

pressão Newton/metro quadrado Pascal Pa


Quadro 2 – Unidades Derivadas

Há um conjunto de prefixos adotado para uso das unidades do SI, a fim


de exprimir os valores de grandezas que são muito maiores ou muito
menores do que as unidades padrão.
Na tabela seguinte estão alguns exemplos de prefixos que podem ser
aplicados com qualquer unidade de base e com as unidades derivadas
com nomes especiais. Veja.

14 CURSOS TÉCNICOS SENAI


O uso da expressão “En-
Prefixo Símbolo Fator de multiplicação
glish System” ou “English
terra T 10¹²= 1 000 000 000 000 Unit” é comum nos Estados
Unidos, mas é problemática e
giga G 109 = 1 000 000 000 pode ser ambígua. Geralmen-
te, refere-se ou ao Sistema Im-
mega M 106 = 1 000 000
perial ou ao Sistema Comum
quilo K 10³ = 1 000 dos EUA, e nos casos em que
os dois sistemas divergem, não
hecto h 10² = 100 fica claro qual sistema está sen-
do utilizado. Algumas pessoas
deca da 10
nos Estados Unidos também
unidade --- --- denominam o sistema de “Bri-
tish System”.
deci d 10-1 = 0,1

centi c 10-2 = 0,01


Jarda: “Unidade de medida
mili m 10-3 = 0,001 de comprimento, do siste-
ma inglês, equivalente e três
micro µ 10-6 = 0,000 001 pés ou 0,9144 m” (FERREIRA,
nano n 10-9 = 0,000 000 001 2010).
Tabela 1 – Prefixo, Múltiplos e Submúltiplos

Para formar o múltiplo ou submúltiplo de uma unidade, basta colocar o


símbolo do prefixo desejado na frente da unidade.
Exemplo: 10³ m = 1 000 m = 1Km

Seção 3
Unidades inglesas de referência
O uso de unidades inglesas disseminou-se através da Grã-Bretanha e de
suas colônias. Essas unidades formam a base do Sistema Imperial, anti-
gamente utilizado nos países da Comunidade das Nações, e no sistema
usual utilizado nos Estados Unidos. Apesar da grande semelhança entre
os dois sistemas, existem também diferenças notáveis.
Desde 2007, os únicos países do mundo que ainda adotam esse sistema
são: Libéria, Birmânia e Estados Unidos.
Nos Estados Unidos, o sistema para medir comprimento baseia-se na
polegada, no pé, na jarda e na milha.

Grandeza Unidade Comparativo Sistema Métrico


polegada in (“) 2,54 cm
pé foot (‘) 30,48 cm
jarda yd 91,44 cm
milha mi 1.609,344 m
Tabela 2 – Unidades de Comprimento

RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS 15


Para medir área, o sistema utiliza como unidade de referência as uni-
dades da polegada, do pé, da jarda e da milha quadrada (sq = square =
quadrada).

Grandeza Unidade Comparativo Sistema Métrico

polegada quadrada sq in ou in² 6,4516 cm²

pé quadrado sq ft ou ft² 929,0304 cm²

jarda quadrada sq yd ou yd² 0,83612736 m²

milha quadrada sq mi ou mi² 2,589988110336 km²


Tabela 3 – Unidades de área

A polegada, o pé, a jarda e a milha cúbica também são utilizados com


frequência para medir o volume, mas existem dois grupos de unidades
específicas mais apropriados para a medição do volume de líquidos e de
materiais secos.

Grandeza Unidade Comparativo Sistema Métrico

polegada cúbica cu in ou in³ 16,387064 cm³

pé cúbico cu ft ou ft³ 28,316846592 dm³

jarda cúbica cu yd ou yd³ 764,554857984 dm³

milha cúbica cu mi ou mi³ 4,1681818254406 km³


Tabela 4 – Unidades de Volume

Unidades para medir volume em materiais secos:

Grandeza Unidade Comparativo Comparativo Sistema Métrico

pinto pt - 550,610471358 ml

quarto qt 2 pt 1,10122094272 l

galão gal 4 qt 4,40488377086 l

peck pk 2 gal 8,80976754172 l


Tabela 5 – Unidades de Volume para Materiais Secos

16 CURSOS TÉCNICOS SENAI


Unidades para medir volume em materiais líquidos:

Grandeza Unidade Comparativo Comparativo Sistema Métrico


pinto pt - 473,176473 ml
quarto qt 2 pt 0,946352946 l
galão gal 4 qt 3,785411784 l
barril pk 42 gal 158,987294928 l
Tabela 6 – Unidades de Volume para Materiais Líquidos

Neste trabalho, apresentamos uma síntese com os principais tópicos


relacionados à unidade curricular de Resistência dos Materiais. Para
informações mais detalhadas sobre o assunto, você poderá acessar
diretamente o site: http://www.inmetro.gov.br, em Unidades Legais
de Medida.

RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS 17


Unidade de
estudo 2
Seções de estudo

Seção 1 – Grandezas físicas


Seção 2 – Física aplicada
Seção 3 – Centro de gravidade
Seção 4 – As três leis de Newton
Seção 5 – Equilíbrio de forças e momentos
Seção 6 – Treliças
Princípios e Conceitos Fundamentais

Em todas as construções, as peças


e componentes mecânicos devem
Seção 1 Tempo: O tempo, na mecâ-
ser dimensionados adequadamen- Grandezas físicas nica Newtoniana, é absoluto
te para suportar os esforços im- e uniforme. Absoluto pelo
postos sobre eles. Para entender As grandezas mais importantes fato de existir independen-
os efeitos gerados, utilizaremos utilizadas para o dimensionamen- temente da matéria e do es-
os princípios da estática a fim de to de estruturas e componentes paço e, uniforme, porque em
mecânicos são: o comprimento, qualquer ocasião ele trans-
determinar tanto as forças atuan-
corre da mesma forma, não
tes como as forças internas sobre a massa, o tempo e a força. Veja-
evoluindo mais depressa ou
seus vários elementos. mos cada uma delas. mais devagar em função da
As dimensões de um elemento, ▪▪ Comprimento: é necessário região do espaço, ou da pre-
seu deslocamento e sua estabili- para localizar a posição de um sença de matéria, do fenô-
dade não dependem apenas das meno físico que ocorra, ou
ponto no espaço, descrevendo
cargas internas, mas também do de qualquer outra circuns-
assim a dimensão do sistema tância.
tipo de material com o qual foi físico. Uma vez definida uma
fabricado. unidade padrão de comprimento,
podemos definir quantitativa-
mente as distâncias e as proprie-
Consequentemente, o enten- dades geométricas de um corpo.
dimento e a determinação ▪▪ Massa: é uma propriedade
precisa do comportamento
da matéria pela qual podemos
do material serão de vital
importância para o desenvol- comparar a ação de um corpo
vimento das equações da me- com a de outro. Esta propriedade
cânica dos materiais. fornece desde uma medida quan-
titativa da resistência da matéria
até mudanças de velocidade.
Os textos que tratam dos pro- ▪▪ Tempo: embora os princípios
blemas relacionados ao dimen- da estática sejam independentes
sionamento de componentes e do tempo, esta grandeza tem
estruturas compreendem maté- uma função muito importante no
rias específicas para as unidades estudo da dinâmica.
de projetos, que além de verificar ▪▪ Força: podemos definir força
todas as condições de esforços como a interação entre dois
aplicados, preocupam-se também ou mais corpos. É um agente
com sua viabilidade. Neste traba- externo empurrando ou puxando
lho usaremos somente os concei- um corpo sobre o outro, o qual
tos relacionados à unidade de Re- muda ou tende a mudar o estado
sistência dos Materiais. Há muita de repouso ou movimento de um
descoberta ainda por vir. Fique corpo. Também pode mudar sua
antenado! direção e forma. Esta interação
pode ocorrer quando existe con-
tato direto entre os corpos, como
no caso de alguém tentar levantar
uma caixa ou mesmo quando
existe uma distância de separação

RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS 19


entre os corpos, mas existe uma
atração entre eles. Nesse último
Seção 2
caso, podemos citar como exem- Física aplicada
plo as forças gravitacionais ou as
forças magnéticas. Em quaisquer Uma grandeza física é tudo aquilo
dos exemplos, a força é comple- que pode ser medido. Se a grande-
tamente caracterizada pelo seu za ficar bem definida apenas com
módulo, direção, sentido e ponto o conhecimento de seu valor nu-
de aplicação. mérico e da sua unidade, chama- Figura 2 – Vetor Indicando a Direção
remos essa grandeza de escalar. de uma Força

A força gravitacional está relacio- O tempo, a massa, a energia e o


nada à quantidade de matéria dos espaço percorrido são exemplos Somente podemos dizer que dois
corpos e apresenta uma relação de grandezas escalares. vetores são iguais quando eles
direta com a concentração des- Por outro lado, se além do mó- possuírem mesmo módulo, mes-
sa matéria. Podemos dizer que a dulo e da unidade, uma grandeza ma direção e mesmo sentido.
força gravitacional relaciona-se à física necessitar de uma direção e Um vetor é representado grafi-
massa dos corpos e é diretamente de um sentido para ser bem de- camente por de um segmento
proporcional à ela. Quanto maior finida, será chamada de grandeza orientado. A representação gráfi-
a massa dos corpos, maior será a vetorial. A velocidade, a acelera- ca permite-nos executar uma série
força entre eles. Entretanto, no ção e o deslocamento são exem- de operações com vetores como
caso de um corpo localizado na plos de grandezas vetoriais. a soma e a subtração. Para execu-
superfície da Terra, ou próximo Para que possamos representar tar essas operações, utilizamos os
a ela, existe uma única força gra- geometricamente uma grandeza métodos do polígono e do para-
vitacional de módulo significativo vetorial, utilizamos uma conven- lelogramo.
que age entre a Terra e o corpo. A ção matemática chamada vetor. Imagine que queiramos somar os
essa força damos o nome de peso. O vetor é um segmento de reta três vetores abaixo.
Podemos desenvolver uma ex- orientado usado para determinar
pressão matemática aproximada o módulo, a direção e o sentido
para encontrar o peso de um cor- de uma grandeza física (aplicação
po. Se admitirmos a Terra como de uma força), como mostrado na
uma esfera que não gira, tendo figura a seguir.
uma densidade e uma massa de
corpo constantes, temos: P = m.g.
Figura 3 – Vetores Indicando a Dire-
ção e o Módulo
A unidade de força Newton
(N) é derivada da equação Pelo método do polígono, vamos
F = m.a. Assim, 1 Newton é
enfileirando os vetores, tomados
igual à força necessária para Figura 1 – Representação Gráfica de
impor a 1 quilograma de mas-
ao acaso, fazendo coincidir a ori-
um Vetor
sa uma aceleração de 1 m/s² gem de um vetor com a extremi-
(N = kg.m/s²). Se o peso de dade do anterior. Veja como fazer:
um corpo deve ser determi- A inclinação do vetor representa-
nado em Newtons, para efei- da pelo ângulo θ determina a di-
to de cálculos, podemos dizer reção da grandeza que ele repre-
que o valor de 1 g (aceleração senta; a seta representa o sentido,
da gravidade) equivale a 9,81 e seu tamanho é proporcional ao
m/s², onde um corpo com módulo da grandeza. Utilizamos
massa de 1 kg tem um peso uma letra do alfabeto sobrescrita
de 9,81 N. por uma seta para representarmos Figura 4 – Representação do Posicio-
um vetor. Observe na figura que namento dos Vetores
segue.

20 CURSOS TÉCNICOS SENAI



O vetor soma R (ou resultante) A partir da extremidade de um c. Quando o ângulo θ = 90°, os
terá seu início na origem do pri- dos vetores, traçamos uma reta vetores são perpendiculares
meiro vetor e o final na extremi- paralela ao outro. entre si.
dade do último vetor.

R = a² + b²

Outra maneira de obtermos o ve-


tor resultante de uma composição
vetorial é a utilização do procedi-
mento algébrico. Com esse pro-
Figura 5 – Representação da Resultante cedimento, podemos aplicar a lei
Figura 8 – Representação do Paralelo-
dos Vetores
gramo dos senos e a lei dos cossenos,
Fonte: SENAI/MG (2004).
conforme demonstrado a seguir.

Embora esse método seja gráfico, O vetor soma R (ou resultante)
podemos identificar perfeitamen- terá origem na origem comum Lei dos senos
te o módulo do vetor resultante. dos dois vetores e extremidade no
encontro das paralelas traçadas. Os módulos e a direção dos com-
O método do paralelogramo so- ponentes de uma força podem ser
mente pode ser empregado para determinados com a lei dos senos.
somarmos vetores de dois em
dois. Vamos somar os dois veto-
res da figura seguinte:

Figura 9 – Resultante da soma de


vetores

Figura 6 – Vetores Posicionados no O módulo do vetor resultante é


Espaço dado pela expressão:
Fonte: SENAI/MG (2004).

Inicialmente, devemos fazer coin- R = a² + b² + 2.a.b.cosθ


Figura 10 – Lei dos Senos
cidir as origens dos dois vetores.
Note que os dois vetores formam
Relembrando: as funções trigo-
entre si um ângulo θ. a. Quando o ângulo θ = 0°, os nométricas básicas são as relações
vetores possuem a mesma di- entre as medidas dos lados do
reção e mesmo sentido. triângulo retângulo e seus ângu-
los. As três funções básicas mais
R=a+b importantes da trigonometria são:
seno, cosseno e tangente. O ângu-
lo é indicado pela letra x. Observe
o quadro que segue.
b. Quando o ângulo θ = 180°, os
Figura 7 – Vetores Posicionados no
mesmo Ponto de Origem
vetores possuem a mesma di-
reção, mas sentidos opostos.

R = a - b(a>b)

RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS 21


Função Notação Definição

medida do cateto oposto a x


seno sen(x)
medida da hipotenusa

medida do cateto adjacente a x


cosseno cos(x)
medida da hipotenusa Figura 13 – Decomposição do Vetor
no eixo das coordenadas
medida do cateto oposto a x
tangente tan(x) Podemos entender essas proje-
medida do cateto adjacente a x ções como sendo pedaços do

Quadro 3 – Funções Trigonométricas vetor V desenhados nos eixos
cartesianos. Os módulos dessas
componentes são:
Lei dos cossenos
O módulo e a força resultante po- Para efetuar a decomposição do
dem ser determinados com a lei →
vetor V devemos inicialmente Vetor(x ) = V. cos α
dos cossenos. traçar um sistema de eixos car-
tesianos de tal forma que a sua Vetor(y ) = V.senα
origem coincida com a origem do
C = A ² + B² - A.B. cosc próprio vetor.

DICA
Decomposição de ve- Essas expressões serão
tores muito utilizadas na decom-
posição de forças para os
Com a decomposição de veto- cálculos das treliças.
res, a partir de um vetor inicial
podemos obter outros dois. A
decomposição do vetor deverá Figura 12 – Posicionamento do Vetor
ser em componentes ortogonais.

no Eixo das Coordenadas Seção 3
Observamos um vetor V inclina-
do com um ângulo α em relação à Centro de gravidade

horizontal, conforme representa- Da extremidade do vetor V de-
do na figura. senhamos duas retas, uma paralela Para determinar o centro de gra-
ao eixo x e outra paralela ao eixo vidade de uma figura plana, pode-
y. As interseções entre as retas mos dividi-la em figuras geomé-
desenhadas e os eixos cartesianos tricas, cujos centros de gravidade
determinam as componentes or- são conhecidos, tais como: qua-
→ drados, retângulos, triângulos, cír-
togonais do vetor V .
culos, semicírculos etc. Por meio
do somatório do momento está-
tico e da área total dessas figuras,
determinamos as coordenadas do
Figura 11 – Representação do Posicio- centro de gravidade.
namento de um Vetor Para relembrar, apresentamos
uma sequência com o centro de
gravidade de algumas figuras pla-
nas conhecidas. Vamos juntos!

22 CURSOS TÉCNICOS SENAI


Quadrado

Xe = Ye = a
2

Figura 14 – Ponto de Equilíbrio do Quadrado

Retângulo

Xe = b
2

Ye = h
2

Figura 15 – Ponto de Equilíbrio do Retângulo

Triângulo

Xe = b
3

Ye = h
3

Figura 16 – Ponto de Equilíbrio do Triângulo

RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS 23


Círculo

Figura 17 – Ponto de Equilíbrio do Círculo

Semicírculo

Figura 18 – Ponto de Equilíbrio do Semicírculo

Quadrante

Figura 19 – Ponto de Equilíbrio do Quadrante

24 CURSOS TÉCNICOS SENAI


Como exemplo, calcular o centro de gravidade da figura:

Figura 20 – Desenho para Simulação do Cálculo do Centro de Gravidade

Para solucionar o problema, iniciamos dividindo a figura em formas


geométricas conhecidas e traçamos o eixo de coordenadas situando a
figura no espaço.

Figura 21 – Divisão em Formas Conhecidas

Na sequência, determinamos a área e traçamos as coordenadas para cada


figura do sistema.

RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS 25


Fig. Área da figura(F) Coord. X Coord. Y (X. F) (Y. F)

1 20 x 20 = 400 10 30 4000 12000

2 60 x 20 = 1200 30 10 36000 12000

∑ F = 1600 ∑ X.F = 40000 ∑ Y.F = 24000

X=
∑ XF = 40000 = 25
∑ F 1600
Y=
∑ YF = 24000 = 15
∑ Y 1600
Tabela 7 – Cálculo do Centro de Gravidade

Para melhor visualização, o resultado pode ser apresentado conforme a


figura.

Figura 22 – Centro de Gravidade

Seção 4
As três leis de Newton
Todos os preceitos da mecânica de corpos rígidos são formalizados com
base nas três leis de movimento de Newton, cuja validade é assegurada
por observações experimentais. Essas leis aplicam-se aos movimentos
de partículas medidos segundo um sistema de referência sem aceleração.
Elas podem ser estabelecidas em poucas palavras, conforme a seguir.

A primeira lei de Newton ou princípio da inércia – Um corpo que esteja


em movimento ou em repouso tende a manter seu estado inicial.

26 CURSOS TÉCNICOS SENAI


Uma partícula originalmente em A terceira lei de Newton ou lei da ▪▪ Que o somatório dos momen-
repouso, ou movendo-se em uma ação e reação – Para toda força tos que atuam sobre um ponto
linha reta com velocidade cons- aplicada, existe outra de mesmo qualquer do corpo seja nulo.
tante, permanecerá nesse estado módulo, mesma direção e sentido
de movimento desde que não seja oposto.
submetida à ação de uma força ∑M = 0
desbalanceadora.

Convenções
∑ Fx = 0 → (+)

Figura 25 – Representação de duas ∑ Fy = 0 ↑ (+)


partículas interagindo ∑M=0 (+)
Fonte: SENAI/MG (2004) Quadro 4 – Convenções para Indicar o
Sentido das Forças

Seção 5 Exemplo 1: Determinar as rea-


Equilíbrio de forças e ções nos apoios da viga carregada
conforme mostra a figura 26.
Figura 23 – Representação de uma
momentos
Partícula em Equilíbrio
Fonte: SENAI/MG (2004) Princípio da ação e reação: toda
Desenho esquemático da
ação sobre um corpo produz uma solicitação
A segunda lei de Newton ou reação igual e oposta, de modo
princípio fundamental da dinâmi- que ação e reação são duas forças
ca – A resultante das forças que iguais, mas de sentido contrário.
agem num corpo é igual ao pro- Para solucionar um problema
duto de sua massa pela aceleração envolvendo o princípio da ação
adquirida. Se a força F é aplicada e reação, precisamos elaborar o
a uma partícula de massa m, esta diagrama de corpo livre do ob-
lei pode ser expressa matematica- jeto em estudo, em que fazemos
mente como: a análise do corpo isoladamente,
isto é, livre de vínculos físicos. O Diagrama de corpo livre
módulo, a direção e o sentido das
F = m.a forças externas conhecidas devem
ser claramente mostrados no dia-
grama. Deve-se tomar muito cui-
dado para ser indicado o sentido
Quanto maior a força aplicada a
das forças exercidas sobre o cor-
um corpo, maior a aceleração que
po, e não o das forças exercidas
ele adquire. Quanto maior a mas-
pelo corpo livre. Figura 26 – Desenho de uma viga
sa de um corpo, menor será a ace-
leração que ele adquire. Para que um determinado corpo carregada
esteja em equilíbrio estático, é ne-
cessário que sejam satisfeitas as
seguintes condições: ∑M=0 (+)
∑ Ma = 0 ∑ Mb = 0
▪▪ Que a resultante das forças
que atuam sobre o corpo seja Rb(a+b)=P.a Ra(a+b)=P.b
nula. P.a P.b
Rb = Ra =
Figura 24 - Representação de uma (a + b) (a + b)
Partícula em Movimento ∑ Fx = 0 , ∑ Fy = 0 , ∑ Fz = 0 ,
Fonte: SENAI/MG (2004)

RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS 27


Exemplo 2: Calcular as forças e as reações nos apoios da viga carregada
conforme figura.

Figura 27 – Viga Carregada com Cargas Concentradas

a. Iniciamos o cálculo das reações nos apoios (Ra e Rb) com a decom-
posição das forças nos eixos de coordenadas (x e y) conforme o dia-
grama ilustrado na figura.

Figura 28 – Diagrama de Forças em Equilíbrio

b. Decomposição das forças

F1y = sen.30° × 80 F1x = cos .30° × 80

F1y = 0,5 × 80 F1x = 0,866 × 80

F1 y = 40kgf F1 x = 69,28kgf

F2 y = sen.45 × 60 F2x = cos .45 × 60

F2 y = 0,707 × 60 F2x = 0,707 × 60

F2 y = 42,42kgf F2 x = 42,42kgf

28 CURSOS TÉCNICOS SENAI


c. Satisfazendo as condições de equilíbrio das forças

∑ Fy = 0 ↑ (+) ∑ Fx = 0 , → (+)
  
RA + RB − 40 − 200 − 42,42 = 0 Rx + 69,28 − 42,42 = 0
  
RA + RB = 282,42kgf Rx + 26,82 = 0

Rx = ( 26 ,82)kgf

d. O somatório dos momentos deverá ser nulo.

∑M = 0 (+)

∑ M = (40 × 2) + (200 × 4) + (42,42 × 6) − (RB × 8) = 0

RB = (80 + 800 + 254,52) ÷ 8
 1134,52
RB =
8

RB = 141,82kgf

e. Substituindo na equação:
 
RA + RB = 282,42kgf

RA + (141,82) = 282,42

RA = 282,42 − 141,82

RA = 140,60kgf

Carga distribuída
Até o momento procuramos trabalhar somente com as cargas concen-
tradas, isto é, que atuam somente em um determinado ponto. A carga
distribuída que veremos no próximo tópico atua ao longo de toda uma
superfície e pode ser:

Carga distribuída uniforme – Quando o carregamento é distribuído


uniformemente por um determinado comprimento ou por toda a su-
perfície.

Figura 29 – Carga Uniformemente Distribuída

RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS 29


Carga variável – Quando a carga não segue uma uniformidade na sua b. O somatório dos momentos
distribuição, podendo ser progressiva ou disforme. deverá ser nula, onde:

∑M = 0 (+)
∑ MA = 0 ∑ MB = 0
   
RA = q × R B = q  ×
2 2
   
RA = q RB = q
2 2

Figura 30 – Carga Distribuída Variável

Podemos citar como exemplo de cargas distribuídas o peso próprio de


uma viga, as paredes de um reservatório de água, o peso de uma laje
sobre uma parede.

Para melhor compreensão do assunto, acompanharemos o desenvolvi-


mento dos cálculos para solução do problema proposto.

a. Determinar as reações nos apoios da viga conforme figura abaixo.

Figura 31 – Viga Carregada com Cargas Distribuídas

Como podemos observar, para essa condição a carga está uniformemen-


te distribuída e sua resultante atuará no ponto central da viga, em relação
aos apoios “A” e “B”. Podemos criar um diagrama de esforços para a
viga, melhorando a visualização das forças aplicadas.

Figura 32 – Diagrama de Forças com Distribuição Uniforme

30 CURSOS TÉCNICOS SENAI


Podemos utilizar dois métodos para o dimensionamento das treliças pla-
Seção 6 nas. O método dos nós ou o método das seções.
Treliças
Denomina-se treliça o conjunto Método dos nós
de barras interligadas entre si por Pelo fato de os elementos de uma treliça serem todos retilíneos e apoia-
rótulas, sob a forma geométrica rem-se num mesmo plano, as forças atuantes em cada nó são coplanares
triangular, que visam formar uma e concorrentes. Consequentemente, o equilíbrio dos momentos deverá
estrutura rígida, com a finalidade ser atendido em cada nó, satisfazendo as condições.
de resistir apenas a esforços nor-
mais. As treliças surgiram como
um sistema mais econômico que Σ Fx=0
as vigas para vencer grandes vãos
Σ Fy=0
e suportar maiores cargas.
Embora o caso mais geral seja o
de treliças espaciais, o mais fre- Ao utilizar o método dos nós, é necessário construir o diagrama de cor-
quente é o de treliças planas, que po livre, observando os seguintes passos:
será o estudado em nosso curso.
A denominação treliça plana de- ▪▪ determinação das reações de apoio.
ve-se ao fato de que todos os ele- ▪▪ iIdentificação do tipo de solicitação em cada barra (barra tracionada
mentos do conjunto pertencem a ou barra comprimida)
um único plano. A sua utilização ▪▪ verificação do equilíbrio de cada nó da treliça, iniciando-se sempre
na prática pode ser observada os cálculos pelo nó que tenha o menor número de incógnitas.
em pontes, viadutos, coberturas,
guindastes, torres etc.
Exemplo: Determinar as forças normais nas barras da treliça.
Para compreender uma treliça, é
necessário inicialmente que co-
nheçamos a força desenvolvida
em cada um de seus elementos e
aos seus pontos de união, quando
a mesma estiver submetida a um
carregamento.

Para verificar as condições


de equilíbrio e fazermos o di-
mensionamento das barras,
devemos conhecer algumas
regras básicas:

▪▪ todas as cargas devem ser


aplicadas nos nós.
Figura 33 – Treliça Analisada pelo Método dos Nós 
▪▪ os elementos das treliças
são unidos nos nós (rótulas)
através de pinos, parafu-
sos ou solda. Assim, cada
elemento estará, por con-
venção, recebendo apenas
uma força de tração ou de
compressão. Rótulas não
absorvem momentos.

RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS 31


a. Cálculo das reações de apoio
As reações de apoio em RA e em RB são iguais, pois a carga P está apli-
cada simetricamente aos apoios. Portanto,

P
R A = RB =
2

b. Identificação dos esforços nas barras


As barras 1 e 5 estão comprimidas, pois equilibram as reações de apoio.
A barra 3 está tracionada, pois equilibra a ação da carga P no nó D. As
barras 2 e 4 estão tracionadas, pois equilibram as componentes horizon-
tais das barras 1 e 5.

c. Cálculo dos esforços nas barras


Inicia-se o cálculo dos esforços pelo nó A, que juntamente com o nó B,
é o que possui o menor número de incógnitas.

Figura 34 – Diagrama do nó “A”

Determinada a força na barra 2, o nó que se torna mais simples para os


cálculos é o nó D.

Figura 35 – Diagrama do Nó “D”

32 CURSOS TÉCNICOS SENAI


Para determinar a força normal na barra 5, utiliza-se o nó B.

Figura 36 – Diagrama do Nó “B”

As forças normais nas barras 4 e 5 podem ser determinadas através da


simetria da estrutura e do carregamento aplicado.

Métodos das Seções ou Método de Ritter


Para calcular as cargas axiais atuantes nos elementos de uma treliça pla-
na, através do método de Ritter, devemos proceder da seguinte maneira:
Separar a treliça em duas partes.
Tomar uma das partes para verificar o equilíbrio. Ao secionar a treliça,
deve-se garantir que o corte a intercepte de tal forma que se apresentem
no máximo três incógnitas na parte em estudo, para que possa haver
solução através das equações de equilíbrio.

É importante ressaltar que entrarão nos cálculos somente as barras da tre-


liça onde foram cortadas as forças ativas e reativas da parte adotada para a
verificação de equilíbrio.

Repetir o procedimento, até que todas as barras da treliça estejam cal-


culadas.
Neste método podemos considerar todas as barras tracionadas, ou seja,
barras que “puxam” os nós. As barras que apresentarem o sinal negativo
nos cálculos estarão sendo comprimidas.

Exemplo: Determinar as forças normais nas barras da treliça dada.

Figura 37 – Treliça Analisada pelo Método das Seções

RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS 33


A altura h é determinada através da tangente de 53°:

h = tg.53 0 ∴h = 1,33m

a. Cálculo das reações de apoio


As reações de apoio em RA e em RB são iguais, pois a carga P está apli-
cada simetricamente aos apoios. Portanto:

P
R A = RB =
2

b. Cálculo dos esforços nas barras


Para determinar a carga axial nas barras 1 e 2, aplica-se o corte AA na
treliça e adota-se a parte à esquerda do corte para verificar o equilíbrio.

Figura 38 – Indicações dos Cortes

Figura 39 – Seção da Treliça (A – A)

34 CURSOS TÉCNICOS SENAI


Através do corte BB, determinam-se as forças nas barras 3 e 4.

Figura 40 – Seção da Treliça (B – B)

Como a treliça é simétrica, pode-se concluir que:

F7 = F1 = - 0,625 P F6 = F2 = + 0,375 P F5 = F3 = + 0,625 P

Figura 41 – Treliça com as Barras Calculadas

Depois de conhecer os princípios e conceitos fundamentais relaciona-


dos aos materiais, agora vamos estudar solicitações mecânicas. Vamos
juntos!

RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS 35


Unidade de
estudo 3
Seções de estudo

Seção 1 – Força normal e tensões


Seção 2 – Esforços de tração e
compressão
Seção 3 – Esforços de cisalhamento
Seção 4 – Esforços de torção
Seção 5 – Esforços de flexão
Seção 6 – Esforços de flambagem
Solicitações Mecânicas

Seção 1
Esforços internos: Força nor-
Força normal e tensões mal e tensões.

Por meio dos cálculos de estática,


é possível determinar as forças
externas atuantes sobre um de-
terminado elemento. No entanto,
com os cálculos de resistência dos
materiais torna-se possível o estu- Figura 42 - Sentido da Força em Rela-
do dos efeitos causados por essas ção ao Eixo
forças no seu interior.
De maneira geral, os elementos
a serem dimensionados não são Seção 2
considerados perfeitamente rígi-
dos, fazendo com que as forças
Esforços de tração e
aplicadas no conjunto gerem for- compressão
ças e tensões internas, promoven-
do sua deformação. A resistência Podemos afirmar que uma peça
dos materiais visa justamente di- está submetida a esforço de tração
mensionar esse componente para ou compressão quando uma car-
evitar que ocorram deformações ga normal F atuar sobre a área de
críticas e, com isso, permitir que seção transversal da peça, na di-
resistam aos mais diversos tipos reção do eixo longitudinal. Quan-
de solicitações que lhe são impos- do a carga atuar com o sentido
tos. dirigido para o exterior da peça
O primeiro passo para solucionar (puxando), a mesma estará tracio-
um problema de resistência dos nada. Quando o sentido de carga
materiais é identificar as forças estiver dirigido para o interior da
internas a que o corpo ou compo- peça (apertando), a mesma estará
nente está sujeito. Um dos méto- comprimida. Veja!
dos para identificar essas forças é
o método das seções transversais,
que utiliza o princípio de que os
esforços internos devem sempre
resistir às forças externas.

Força normal – Define-se como


força normal ou axial aquela for-
ça que atua perpendicularmente
sobre a área de uma seção trans-
versal da peça. A denominação
normal ocorre em virtude de a
força ser perpendicular à seção
transversal da peça. Observe a
imagem. Figura 43 - Sentido das Tensões em Relação às Forças

RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS 37


Tensões As tensões normais também poderão ser representadas nos cálculos
com outras unidades de medidas, onde no final deverão ser convertidas
As tensões atuantes em cada se- para as unidades conhecidas ou padrões. Podemos citar como unidades
ção de um componente mecâni- usuais para tensões normais:
co podem ser determinadas pela
força interna existente e da área
da seção transversal. A direção kgf/m² kgf/cm² kgf/mm² N/m² N/mm² kp/mm² Lb/pol²
da tensão depende do tipo de
solicitação, ou seja, da direção das
cargas atuantes. Algumas equivalências para conversões de unidades:
As tensões provocadas por tração,
compressão e flexão ocorrem na
Unidades equivalentes
direção perpendicular à área da
seção transversal, por isso são 1 N / mm² = 100 N / cm² 1 Pa = 1 N / m²
chamadas de tensões normais,
1 kgf = 9,8 N 1 Mpa = 1 N / mm²
representadas pela letra grega
“sigma” (σ). 1 kgf / cm² = 14,223 lb / pol² 1kN / mm² = 102 kp / mm²
A expressão matemática que defi- Tabela 8 – Unidades equivalentes
ne o valor da tensão normal é:
Todos os elementos construtivos sob o efeito de esforços de tração ou
compressão apresentam deformações que podem ser classificadas como
σ= F elástica ou plástica. As deformações elásticas são aquelas que são rever-
A síveis e desaparecem quando a tensão é removida.
As deformações plásticas são provocadas por tensões que ultrapassam
o limite de elasticidade dos materiais e são irreversíveis porque resultam
σ = tensão normal. Sua unida- do deslocamento permanente dos átomos e não desaparecem quando a
de padrão é o Pa (Pascal) onde tensão é removida.
(1 Pa = 1 N / m²). De uma maneira geral, para efeito de dimensionamento, devemos con-
F = força normal ou axial. Sua siderar somente as deformações elásticas, pois não é desejável que a
unidade padrão é o N (Newton). peça sofra deformações plásticas ou permanentes, que possam provocar
sua ruptura prematura. Todo corpo, quando tracionado ou comprimido,
A = área da seção transversal da
apresenta um alongamento ou encurtamento (∆ℓ), a partir do qual o
peça. Sua unidade padrão é o m².
comprimento inicial “ℓo” passa para um comprimento final “ℓ” sob a
ação da força, causando assim uma variação no comprimento (∆ℓ).
Exemplo: Uma barra de seção cir-
cular com 50 mm de diâmetro é
tracionada por uma carga normal
de 36.000 N. Determine a tensão
normal (σ) atuante na barra.

Figura 44 - Barra Circular Sujeita a Tração

38 CURSOS TÉCNICOS SENAI


O coeficiente de Poisson (ν) é a
relação entre a deformação (ε) e a
%  Δ.100   estricção (ψ).
ο
O valor do coeficiente de Poisson
flutua para diversos materiais em
uma faixa relativamente estreita.
A deformação transversal (εt) Geralmente está nas proximi-
determina-se através do produto dades de 0,25 a 0,35. Em casos
entre a deformação unitária (ε) e extremos podem atingir valores
o coeficiente de Poisson (ν). baixos como 0,1 para alguns con-
cretos e elevados como 0,5 para
borracha.
Essa constante é característica de
ε.t  ν.ε   cada material.

Material Coeficiente
Como:
Aço v = 0,30
F. fundido v = 0,25
Δ    ο Borracha v = 0,50
ε   
ο ο Tabela 9 - Coeficiente de Poisson

Figura 45 - Variação do Comprimento


pela Tração e Compressão nas Peças O módulo de elasticidade é a
podemos deduzir que: constante determinada a partir
Se essa variação do comprimento da relação entre a tensão (σ) e a
for relacionada com o compri- deformação (ε) na região elástica
mento inicial do corpo de prova, de um material. Ao cessarmos a
νσ tensão, se o valor do módulo de
tem-se o valor do alongamento ε.t 
Ε elasticidade não tiver sido ultra-
por unidade de comprimento (ε),
chamado de deformação. passado, o material retorna ao seu
ou  comprimento original.
O módulo de elasticidade (E),
Δ também conhecido como “Módu-
ε.t  ν   
 lo de Young”, é característico para
cada material e seus valores são en-
contrados em tabelas. Desde que

Figura 46 - Alongamento por Tração

A deformação (ε) é adimensional,


ou seja, sem unidade, portanto
representamos seu valor em por-
centagem em relação à medida
inicial.

Figura 47 - Deformação Transversal Causada pelo Alongamento

RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS 39


a deformação (ε) é adimensional, Lei de Hooke Diagrama de tensão x
a dimensão (unidade) do módulo
de elasticidade (E) é a mesma Para muitos cálculos da resistên- deformação
da tensão (σ), isto é, força por cia dos materiais é importante sa- Para a disciplina que estuda a
unidade de área (Pa) ou (N/m²). ber qual a relação existente entre a Resistência dos Materiais, é ne-
Para diversos materiais, os valores tensão (σ) e a deformação (ε) den- cessário termos conhecimentos
de (E) são idênticos para os tro do limite elástico dos materiais sobre o comportamento de todos
esforços de tração e compressão. durante a aplicação do esforço. A os elementos estruturais, quando
Seu valor pode ser obtido pela ex- lei que rege esse comportamento submetidos a esforços externos.
pressão: denomina-se Lei de Hooke. Para obtermos essas informações,
Quando submetidos a esforços de são realizados ensaios mecânicos
tração ou compressão, os corpos em amostras dos materiais, cha-
sólidos deformam-se inicialmen- madas de corpo de prova.
te dentro de um limite, no qual
σ a deformação ocorrerá somente
Ε  
ε enquanto a força estiver atuando.
Quando essa força deixar de atu-
ar, a forma do corpo será resta-
belecida. Verifica-se que, variando
E = Módulo de elasticidade. Sua a força, existe uma relação linear
unidade padrão é o Pascal (Pa). entre a tensão, a área e a deforma- Figura 48 - Desenho Esquemático de
σ = tensão normal. Sua unidade ção, isto é: um Corpo de Prova
padrão é o Pascal (Pa).
ε = deformação longitudinal na Um dos ensaios mais utilizados
região elástica do material. para esta análise é o ensaio de
σ  Ε.ε   tração, onde o corpo de prova é
submetido a uma carga normal
(F). À medida que aumentamos a
O coeficiente de proporcionalida- força de tração, observamos um
de (E) é denominado módulo de alongamento no comprimento do
elasticidade e é característico de corpo de prova, e uma redução na
cada material. área da seção transversal devido à
perda de resistência local. A esse
A validade da Lei de Hooke
fenômeno é dado o nome de es-
σ ≤ σP , sendo σP a chamada ten-
tricção (ψ). Após ter começado a
são limite de proporcionalidade.
estricção, um carregamento mais
baixo é o suficiente para a defor-
mação do corpo de prova, até a
sua ruptura.

40 CURSOS TÉCNICOS SENAI


Corpo de prova, Corpo de prova,
material ductel material frágil

Estricção (ψ) e
ruptura Ruptura

Figura 49 - Comparativo entre os Corpos de Prova para Material Dúctil e Frágil

A partir da medição da variação dessas grandezas, realizada pela máqui-


na de ensaio, são obtidos os diagramas de tensão x deformação.
Com a utilização dos diagramas (σ x ε), podemos analisar uma série de
materiais quanto ao seu comportamento mecânico e fazer sua classifica-
ção quanto à ductilidade ou fragilidade.
Os materiais dúcteis, como o aço, o cobre, o alumínio e outros, são
caracterizados por apresentarem escoamento a temperaturas normais.
O corpo de prova é submetido a um carregamento crescente, e com
isso seu comprimento aumenta, de início lenta e proporcionalmente ao
carregamento. Desse modo, a parte inicial do diagrama é uma linha reta
com grande coeficiente angular. Entretanto, quando é atingido um valor
crítico de tensão, o corpo de prova sofre uma grande deformação com
pouco aumento da carga aplicada.

Figura 50 - Representação da Tensão x Deformação

RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS 41


Analise o quadro evidenciando a mudança de comportamento mecânico
dos materiais dúcteis e sua classificação quanto à ductibilidade.

Nº Ponto Avaliação do gráfico Tensão x deformação materiais dúcteis

▪▪ O material obedece à Lei de Hooke. A tensão no ponto “A” é a σP (tensão limite de


1 0-A
proporcionalidade).

▪▪ A curva começa a se afastar da reta “OA” até que em “B” começa o chamado escoa-
mento.
2 A-B
▪▪ O ponto “B” marca o fim da zona elástica. Se tirarmos o carregamento, permanecerá
uma pequena deformação residual (0,001).

▪▪ Escoamento. Caracteriza-se por um aumento relativamente grande de deformação


com variação pequena da tensão.
3 B-D ▪▪ Depois do escoamento, o material estará encruado (endurecimento por deformação
a frio).
▪▪ No ponto “B” começa a zona plástica do material.

▪▪ No ponto “E” inicia-se a fase de ruptura, caracterizada pelo fenômeno da estricção,


que é uma diminuição da seção transversal do corpo de prova.
4 E-F ▪▪ A ruptura ocorre no ponto “F” (εr ≥ 5% , normalmente ).
▪▪ As tensões correspondentes aos pontos “E” e “F” chamam-se, respectivamente, ten-
são máxima (σmax) e tensão de ruptura (σr).

Tabela 10 - Avaliação do Gráfico Tensão x Deformação para Materiais Dúcteis

Os materiais frágeis, como fer-


ro fundido, vidro e pedra, são ca-
racterizados por uma ruptura que
ocorre sem nenhuma mudança
sensível no modo de deformação
do material. Então, para os mate-
riais frágeis não existe diferença
entre tensão de resistência e ten-
são de ruptura. Além disso, nos
materiais frágeis a deformação
até a ruptura é muito pequena em
relação aos materiais dúcteis. Não
há estricção e a ruptura se dá em
uma superfície perpendicular ao
carregamento.

Figura 51 - Gráfico Tensão x Deformação para Materiais Frágeis

42 CURSOS TÉCNICOS SENAI


Analise o quadro evidenciando a Carga estática: ocorre quando a carga aplicada é constante com o pas-
mudança de comportamento me- sar do tempo. Podemos citar como exemplo a força exercida por um
cânico dos materiais frágeis e sua parafuso que fixa um quadro na parede ou uma luminária no teto.
classificação quanto à fragilidade.

Avaliação do
gráfico Tensão
Nº Ponto
x Deformação
Materiais Frágeis
Não apresentam
fenômenos de
escoamento. A
01 O-A ruptura acontece
com uma pequena
deformação.
(εr ≤ 5%) Figura 52 - Representação de Carga Estática
Tabela 11 - Avaliação do Gráfico Tensão
x Deformação Materiais Frágeis Carga intermitente: sua ação é gradual até atingir os valores máximos
e mínimos num determinado espaço de tempo. Podemos citar como
O coeficiente de segurança é exemplo os dentes de uma engrenagem reta, a corrente de uma talha
utilizado no dimensionamento suspendendo uma carga.
dos elementos de construção, vi-
sando assegurar o equilíbrio entre
a qualidade da construção e seu
custo. Seus valores dependem do
maior ou menor conhecimento
do material, da confiabilidade do
processo de cálculo e do caso de
aplicação da carga.
O coeficiente de segurança é sem-
pre representado por um número
maior do que um (1), que pode ser
obtido através de uma tabela téc- Figura 53 - Representação de Carga Intermitente
nica de engenharia ou fornecido
pela norma de projeto do compo- Carga alternada: neste tipo de solicitação, a carga aplicada na peça varia
nente em fabricação. do ponto máximo positivo para o ponto máximo negativo ou vice versa,
Para determinar os índices aplica- constituindo a pior situação para um material.
dos na composição do coeficiente
de segurança, precisamos conhe- Quando um material está sujeito a ciclos repetitivos de tensões ou defor-
cer os tipos de carregamentos im- mações, podem ocorrer falhas por fadiga do material. Os valores típicos
postos ao sistema. do limite de resistência à fadiga para materiais empregados em constru-
Podemos classificar os esforços ção mecânica são informados pelos próprios fornecedores dos materiais
em três tipos. Acompanhe. ou encontrados em normas técnicas.
Podemos citar como exemplo os esforços sofridos por um fuso de esfe-
ras em um centro de usinagem e a ação das molas em geral.

RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS 43


εx = εy = εz = α.∆t

Sendo α o coeficiente de dilatação


térmica do material que é deter-
minado experimentalmente e que
dentro de uma faixa moderada de
temperatura, permanece razoavel-
Figura 54 - Representação de Carga Alternada
mente constante. Seus valores são
fornecidos em tabelas próprias,
seguindo as características de cada
material. Para materiais isotrópi-
O coeficiente de segurança, em Fatores utilizados para alguns ma- cos, uma pequena deformação
função das situações apresenta- teriais: (x) térmica linear pode ser aditada às
das, deve utilizar a seguinte ex- deformações lineares decorrentes
pressão: da tensão. Assim podemos incluir
Fator x Tipo de material
a deformação térmica na equação.
1,25 a
Para aços de qualidade
k = x.y.z.w 1,5
1,5 a 2 Para aços comuns
Δ
4a8 Para ferro fundido σ  Ε.ε  Ε  Ε.α.Δt  
Fatores utilizados para as solicita- 
2,5 a
ções: (y). Para madeira
7,5
Tabela 14 - Valores de x para Formar o
Coeficiente de Segurança Se a temperatura de uma barra
Fator y Tipo de solicitação
prismática varia de ∆t (tf - to), seu
1 Para carga constante comprimento sofrerá uma varia-
Fatores utilizados para falhas de
2 Para carga intermitente fabricação: (w) ção de ∆ℓ (ℓf - ℓo ).
3 Para carga alternada
Tabela 12 - Valores de Y para Formar o
Coeficiente de Segurança Fator w Falhas de fabricação
1 a 1,5 Para aços
Fatores utilizados para tipo de 1,5 a 2 Para ferro fundido
cargas: (z) Tabela 15 - Valores de w para Formar o
Coeficiente de Segurança

Fator z Tipo de carga


1 Para carga gradual Tensão Térmica
1,5 Para choques leves Alem das tensões já conhecidas,
as mudanças de temperatura tam- Figura 55 - Variação do Comprimento
2 Para choques bruscos
Tabela 13 - Valores de z para formar o bém podem provocar deforma- pelo Aumento de Temperatura
Coeficiente de Segurança ções nos materiais. Para os ma-
teriais isotrópicos homogêneos,
uma mudança na temperatura
(∆t) provoca uma deformação li-
near (εxyz) uniforme em cada dire-
ção. Matematicamente, podemos
definir a equação da deformação
térmica como:

44 CURSOS TÉCNICOS SENAI


Para anular o alongamento ocor- Matematicamente, podemos ex- A tensão de cisalhamento também
rido pelo aumento da temperatu- pressar a tensão admissível pelas é caracterizada como sendo
ra (∆ℓ = ℓ.α.∆t) deve ser aplicada seguintes fórmulas: a intensidade média da força
uma força (F) de contenção tal atuante por unidade de área da
▪▪ Para materiais dúcteis:
que: seção transversal da peça, pois as
tensões atuantes são distribuídas
de maneira não uniforme pela
σe área de corte. O resultado obtido
F = σ.A σadm   
K pela equação da tensão definida
por cisalhamento representa uma
A tensão admissível (σ adm) é tensão média da região do corte.
indicada como a ideal para o ma- São aqueles que, ao serem sub- Na maior parte dos materiais
terial nas circunstâncias de traba- metidos a um ensaio de tração, metálicos,a tensão de cisalhamen-
lho. Geralmente essa tensão deve apresentam deformação elástica to (τ) está relacionada com a pró-
ser mantida na região de defor- (reversível) e plástica (irreversível) pria tensão de ruptura do material
mação elástica do material, porém antes de romper-se. São exemplos (σr). Para o dimensionamento po-
existem situações em que a ten- de materiais dúcteis: aço, alumí- demos utilizar os valores corres-
são admissível deverá estar muito nio, cobre, bronze, latão, níquel. pondentes.
próxima da região de deformação
plástica, visando a redução de ▪▪ Para materiais frágeis:
peso e custo da estrutura.
σ r  0,7τ cis  
A tensão admissível é determina-
σr
da através da relação entre tensão σadm   
de escoamento (σe) e o coeficien- K
te de segurança (K) para os ma- A expressão matemática que defi-
teriais dúcteis e tensão de esco- ne o valor da tensão cisalhante é:
amento (σe) e tensão de ruptura São aqueles que, ao serem subme-
(σr) para os materiais frágeis. tidos a um ensaio de tração, não
apresentam deformação plástica,
passando da deformação elástica
Q
τ  
Os valores característicos da para o rompimento. São exem- Acis
tensão admissível são tabela- plos de materiais frágeis: concre-
dos e sua escolha é feita em to, vidro, cerâmica, gesso, cristal,
função do tipo de material, do acrílico.
τ = tensão de cisalhamento. Sua
tipo de esforço e do tipo de
solicitação existente na seção unidade padrão é o Pa (Pascal).
dimensionada. Seção 3 Q = Carga cortante. Sua unidade
padrão é o N (Newton).
Esforços de Acis = área da seção transversal
cisalhamento da peça. Sua unidade padrão é o
m².
As tensões provocadas por
torção e cisalhamento atuam na
direção tangencial à área da seção
transversal da peça e, por isso, são
chamadas de tensões tangenciais
ou cisalhantes. São representadas
pela letra grega “tau” (τ).

RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS 45


E  
G
2(1  ν)

Por exemplo: calcular os valores


de G para o aço.
E = 2,10 x 106 kp/cm².
Figura 56 - Tensão de Cisalhamento v = 0,3

As condições de cisalhamento podem ocorrer de duas formas: Respondendo à questão: G = 8,08


▪▪ simples, onde temos apenas uma área com espessura fina sujeita ao x 105 kp/cm²
corte. As forças de atrito entre as partes podem ser desprezadas.
▪▪ duplo, onde temos duas ou mais áreas sobrepostas sujeitas ao corte. É possível traçarmos diagramas
A força cortante atua em cada área presente na conexão dos compo- de tensão x deformação para o
nentes. caso do cisalhamento, de manei-
ra análoga à do ensaio de tração,
Como observado durante o estudo das tensões normais, as tensões de sendo que sua configuração é se-
cisalhamento também poderão aparecer nos cálculos com outras unida- melhante.
des de medida, onde no final deverão ser convertidas para as unidades Para efetuar os cálculos relativos
padrão. Podemos citar como unidades usuais para tensões de cisalha- às forças cortantes ou as tensões
mento: de cisalhamento, devemos obser-
var que em muitos casos utiliza-
mos as tensões de ruptura do ma-
Kgf/m² Kgf/cm² Kgf/mm² N/m² N/mm² kp/mm² Lb/pol² terial, pois o objetivo é evidenciar
o secionamento do material.

Deformação do cisa-
lhamento
Seção 4
τ
γ   Esforços de torção
Com a aplicação das forças cor- G
tantes, além das tensões também Uma peça é submetida a um es-
ocorrem as distorções das peças. forço de torção quando nela for
A distorção é a variação do ângu- induzido um torque em uma de
lo medido em radianos, portan- Onde:
γ = distorção (rad) suas extremidades e um contra-
to, adimensional, sendo expresso torque na extremidade oposta.
através da relação entre a tensão τ = tensão de cisalhamento atuante
Quando o sistema apresentar ple-
de cisalhamento atuante e o mó- (Pa)
na liberdade para a deformação
dulo de elasticidade do material. G = Módulo de elasticidade das seções transversais, denomi-
transversal do material (Pa) namos de torção uniforme, que
encontramos nos eixos e nos per-
Uma vez que durante a aplicação fis sem engastamento. Se um eixo
cisalhante o material obedece à é submetido a um torque externo,
Lei de Hooke, existe uma propor- pela condição de equilíbrio um
cionalidade entre a tensão (τ) e a torque interno também deverá ser
deformação (γ). O coeficiente de desenvolvido. O torque é definido
proporcionalidade (G) chama-se pelo produto entre a carga “F” a
módulo de elasticidade transversal distância entre o ponto de aplica-
Figura 57 - Representação da Deforma- e é uma propriedade mecânica de ção da mesma, e o centro da seção
ção por Cisalhamento cada material. Podemos mostrar a transversal da peça. No caso de ei-
relação entre G e E como sendo: xos, temos:

46 CURSOS TÉCNICOS SENAI


Mt = 2.F.ℓ Mt = Ft.r

Onde:
Onde:
Mt = momento torçor em N.m
Mt = Torque (N.m)
F = carga aplicada em N. Ft = Força tangencial (N)
ℓ = distância entre o ponto de aplicação da carga e o centro da seção
r = Raio da peça (m)
transversal.

No caso de árvores acionadas por


motores, o momento torçor pode
ser calculado com a equação:

N
Mt  71620   
n

Onde:
N = Potência do motor em (cv)
n = Rotação do motor (rpm)
Mt = Momento torçor (kgf.cm)

A expressão matemática que de-


Figura 58 - Momento Torçor
termina o torque pode ser assim
escrita:
Para determinar o momento torçor ou torque, em transmissões mecâni-
cas construídas por motores, eixos, polias, engrenagens e rodas de atrito,
usamos as seguintes expressões: P
T  
2 π  f

Onde:
T = Torque. (N.m ; KN.m ; Lb.in.)
P = potência. (W)
f = frequência (Hz)

Figura 59 - Torque

RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS 47


Para converter rotações por mi- Temos a seguinte expressão: Quando a potência não for for-
nuto (rpm) em hertz (Hz), basta necida em watt (W), veja algumas
dividir por 60. equivalências.
Assim: P=Fxv
Unidades Equivalentes
para Potência
n   Onde: 1 hp
f P = Potência em (W) 1 hp = 745,7 W
60 = 550 ft.Lb/s
F = força. (N) 1 hp
1 cv = 735,5 W
v = velocidade (m/s²) = 6600 in.Lb/s
Onde: 1 kp.m/s 1 cv
f = frequência em hertz Nos movimentos circulares, utili- = 9,81 W = 75 kp.m/s
zamos a seguinte expressão: 1 kW
n = rotações por minuto 1 kW = 1,36 cv
= 102 kp.m/s
Tabela 16 - Unidades Equivalentes
Potência é a realização de um tra- P = Ft x vp
balho por uma unidade de tempo,
onde podemos concluir: Ângulos de distorção (γ) e de
torção (θ) em peças de seção cir-
Onde: cular. Consideramos uma barra
P = Potência em (W) de comprimento (ℓ) submetida a
τ trabalho um momento de torção. O tor-
P    Ft = força tangencial (N)
t tempo que atuante provoca na barra um
vp = velocidade periférica (m/s²)
deslocamento na seção transver-
sal, formando no comprimento
Podemos escrever a equação que uma deformação denominada
Como: determina a potência (P) da se- distorção (ℓ), que é determinada
guinte forma: em radianos através da tensão de
cisalhamento atuante e o módulo
τ  Fs   de elasticidade transversal do ma-
terial.
2π  n
P  T  
60
Conclui-se que:

Portanto:
Fs
P  
t
π  T n
P  
30
Mas se:

Onde:
s P = Potência em (W)
v  
t T = Torque (N.m)
n = rotações por minuto (rpm)

48 CURSOS TÉCNICOS SENAI


Onde:

π  d4
Jp   
32

R = raio externo.

Eixo oco (tubo):

π
Jp   (R 4  r 4 )  
2
Figura 60 - Ângulo de Distorção na Barra Cilíndrica
G = módulo de elasticidade trans-
versal do material. (Pa)
Onde:
Jp = momento de inércia da área
τ de seção transversal. (m4; mm4;...)
γ  
G
π  (D 4  d 4 )
Para conversão do resultado para Jp   
graus, multiplique por 180 e divi- 32
Onde: da por “π”.

γ = distorção (radianos). R = raio externo.


τ = tensão atuante (Pa). Mt    180
  r = raio interno.
θ
G = Módulo de elasticidade trans- Jp  G  π
versal do material (Pa). A unidade de Jp pode ser o: mm4,
cm4, m4, in4.
Na seção transversal da barra há No dimensionamento de peças, a
uma rotação que forma um ângu- torção admite somente deforma-
lo de torção ( ) que pode ser defi- ções elásticas. A tensão de traba- Tensões Tangenciais
nido através da fórmula: lho é fixada pelo fator de seguran- As tensões tangenciais produzidas
ça “n” ou pela tensão admissível. pelo momento de torção são per-
Para calcular o momento de inér- pendiculares aos raios e propor-
Mt   cia da área da seção transversal Jp, cionais a eles, onde a constante
θ   devemos conhecer a forma geo- de proporcionalidade é: Mt / Jp.
Jp  G
métrica do elemento utilizado no Logo:
projeto. Como exemplo prático,
descrevemos a fórmula de Jp para
Onde: os seguintes casos: Mt  
τ r
Eixo maciço: Jp
θ = ângulo de torção (radianos)
Mt = momento torçor ou torque
(N.m; N.mm;...) π R4
Jp   
ℓ = comprimento da peça (m; 2
mm...)

RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS 49


Tensão de cisalhamento Onde:

A tensão de cisalhamento na torção (τ max) pode ser determinada atra-


vés da equação.
Mt
Para: d  1,72  3  
τ

R  0  τ o 
Para seção circular vazada, de
diâmetros “D” e “d”, o módulo
pode ser descrito:
Para:

Mt  Rmax Mt Mt π  (D 4  d 4 )
Wp   
Rmax  τmax      16  D
Jp Jp Wp
Rmax

Para o dimensionamento de árvo-


res devemos observar as condi-
Pela definição de módulo de resis- Ao analisarmos esta expressão,
ções de resistência dos materiais,
tência polar, sabe-se que: constatamos que a tensão aumen-
utilizando somente os valores
ta à medida que o ponto analisado
correspondentes às tensões ad-
aproxima-se da periferia e que no
missíveis por material.
centro da seção transversal a ten-
Jp
Wp    são é nula.
R Exemplo
Qual a força máxima que pode ser
As tensões de torção comparti-
aplicada na árvore oca conforme
lham uma propriedade comum a
Onde: figura abaixo, fabricada a partir de
todas as tensões tangenciais, onde
um aço ABNT 1050? Determinar
em planos perpendiculares as ten-
a deformação sofrida, sabendo-se
sões tangenciais são iguais e con-
que G = 800 000 kgf /cm, e que
Mt vergem ou divergem da intersec-
τmax    o comprimento da árvore é de
Wp ção destes planos.
800 mm.
Para a seção circular cheia de diâ-
metro “d”, o módulo de resistên-
cia “Wp” vale.
τmax = tensão máxima devido
a torção. Sua unidade pode ser:
N.m; KN.m; Lb.in.
π  d3
Mt = torque Wp   
16
Rmax = raio externo da peça.
Jp = momento de inércia polar da
área de seção transversal.
Onde:
Wp = módulo de resistência po-
lar.

16Mt
d3  
π τ Figura 61 - Desenho da Árvore Oca

50 CURSOS TÉCNICOS SENAI


Cálculo do momento de inércia Cálculo do momento torçor: Cálculo da deformação:
polar:

τmax = 11,5kgf/mm2 Mt  
θ  
π  (D 4  d 4 ) Jp  G
Jp    τmax = 1150kgf/cm2
32

Onde:
Onde:
Mt
τmax    57293 80
Wp θ  
4
π  (7  5 )4 800000 174,36
Jp   
32
Onde:
Onde:
Onde:
Mt = Wp x τmax θ = 0,032859rad

Jp = 174,36cm2 Mt = 49,82 x 1150

Para converter o resultado para


graus, multiplicamos por 180 e di-
Cálculo do módulo de resistência Onde:
vidimos por Pi (π)
polar:

Mt = 57293kgf.cm
Mt    180 57293  80  180
Jp θ θ  
Wp    Jp  G  π 800000  174,36  3,14
R
Cálculo da força: Mt    180 57293  80  180
θ θ   θ  1,88 o  
Jp  G  π 800000  174,36  3,14
Onde: Mt    180 57293  80  180
θ Mt
θ = Ft x r  θ  1,88 o  
Jp  G  π 800000  174,36  3,14

174,36 Onde:
Wp   
3,5

Mt 57293
Ft    
Onde: r 3,5

Wp = 49,82cm3 Onde:

Ft = 16369,43kgf

RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS 51


também seu valor máximo. Deste
Seção 5 método terão origem dois diagra-
Esforços de flexão mas, um para momento fletor e
outro para força cortante. Primei-
Uma viga esta submetida à flexão quando em suas seções transversais o ramente, algumas regras devem
esforço solicitado é o momento fletor, acompanhado ou não de forças ser observadas:
cortantes.
▪▪ consideramos uma estrutura
A seção “x” da barra em figura esta solicitada parte a compressão e parte sujeita a flexão pura somente se
a tração, isto é, as linhas superiores da barra são comprimidas e as linhas o valor do momento for dife-
inferiores tracionadas. rente de zero e o valor da força
cortante for igual a zero (M ≠ 0
e V = 0).
▪▪ consideramos uma estrutura
sujeita a flexão simples somen-
te se o valor do momento e da
força cortante forem diferentes
de zero (M ≠ 0 e V ≠ 0).
▪▪ por convenção, a parte esquer-
da da estrutura é tomada como a
Figura 62 – Representação das Tensões no Momento Fletor origem do plano de coordenadas,
gerando valores de x positivos
O momento fletor (Mf) representado na figura pode ser definido como para a direita.
a soma algébrica dos momentos em relação a x, de todas as forças que ▪▪ observam os tais valores para
precedam ou que sigam a seção, conforme demonstrado no exemplo a determinar as equações matemá-
seguir. ticas que expressam a variação do
momento e da força cortante.

Figura 64 – Ponto de Origem e


Sentido das Forças em X

Se tomarmos o lado esquerdo da


Figura 63 – Momento Fletor em Relação a Seção X estrutura, a força cortante será di-
recionada para baixo (↓) e o mo-
Neste exemplo o momento fletor em relação a x é expresso pela equa- mento fletor terá sinal positivo
ção: (sentido anti-horário).

Mf = (F1.a) – (R1.b) + (F2.c)

O procedimento de análise utilizado consiste basicamente em determi-


nar como varia o momento fletor ao longo de uma estrutura, obtendo
seu valor máximo, através das condições básicas de equilíbrio. Partindo Figura 65 – Por convenção, Mo-
deste princípio, fazemos o mesmo com a força cortante, encontrando
mento Fletor Positivo

52 CURSOS TÉCNICOS SENAI


Se tomarmos o lado direito da estrutura, a força cortante será direciona- Forças cortantes
da para cima (­-) e o momento fletor terá sinal negativo (sentido horário).
Um ponto qualquer de uma barra
fletida, além das tensões normais
de tração e compressão prove-
nientes do momento fletor, está
sujeito também a tensões tangen-
ciais de cisalhamento provenien-
tes de forças cortantes.
Chama-se de força cortante “Q”
da seção “x” a soma algébrica de
todas as forças que precedem ou
seguem a seção.

Figura 66 – Por Convenção, Momento Fletor Negativo

Em estruturas sujeitas as cargas concentradas, o momento fletor varia


linearmente ao longo dos trechos descarregados. Para traçarmos um
diagrama basta calcular os momentos fletores nas seções em que são
aplicadas as forças e unir os valores por meio de retas. Figura 68 – Barra fletida. Tensão de
A seção mais solicitada é aquela em que o momento fletor é máximo, Tração, Compressão e Cisalhamento
conforme podemos observar no exemplo abaixo.
Calcular as reações de apoio e fazer o diagrama do momento fletor para Exemplo para força cortante na
as seções indicadas na figura abaixo (carregamento concentrado). secção “x”. Por convenção: forças
(↑ +)

∑ FV = 0 Por convenção (↑ +)
R1 + R2 = 55 kgf.

∑ M1 = 0 Por convenção
(15 x 4) – (40 x 4) + (R2 x 8) = 0
R2 = 12,5 kgf

Figura 69 – Forças Cortantes


R1 + R2 = 55 kgf; onde R1 = 42,5 kgf.

Desse modo, calculam-se as for-


Mf1 = 15 x 0 = 0 ças cortantes de cada seção da
barra e com esses valores traça-se
Mf2 = 15 x 2 = 30 kgf
o diagrama, conforme exemplo a
Mf3 = 15 x 4 = 60 kgf seguir.
Mf4 = (15 x 6) – (42,5 x 2) = 5 kgf
Mf5 = (15 x 8) – (42,5 x 4) = -50 kgf.

Figura 67 – Diagrama Momento Fletor

Mf6 = (15 x 10) – (42,5 x 6) + (40 x 2) = -25 kgf


Mf7 = (15 x 12) – (42,5 x 8) + (40 x 4) = 0

RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS 53


Forças cortantes para as secções: 1; 2; 3; e 4. Para figuras planas:

Q = -P1 + R1
b × h2
Wf =
6
Q1 = -10 kgf.
Para figuras cilíndricas:
Q2 = -10 + 38 = 28 kgf.

Q3 = -10 + 38 – 20 = 8 kgf. π × d3
Wf =
32
Q4 = (-10 + 38 – 20 – 28)

A unidade padrão para o módu-


Q4 = -20 kgf,
lo de resistência a flexão é o m³.
Quanto maior for o módulo de
resistência a flexão, maior será a
Figura 70 – Diagrama para Forças Cortantes
resistência da peça flexionada.
No dimensionamento de peças
Módulos de flexão a flexão, admitimos somente de-
formações elásticas. O fator de
Como já estudamos no item anterior, a flexão é a solicitação que tende a
trabalho é fixado pelo fator de se-
modificar o eixo geométrico de uma peça, tanto em compressão como
gurança, ou pela tensão admissí-
em tração. Dependendo do tipo de seção e de sua posição relativa, con-
vel. Toda secção crítica sujeita ao
forme mostra o exemplo abaixo, podemos empregar maior ou menor
rompimento por fadiga deve ser
resistência, alterando a linha de centro geométrica.
verificada, através dos cálculos da
tensão a flexão, que é determina-
da pela fórmula.

Mf
σf = ; onde;
Wf
σf = Tensão na flexão.
Mf = Momento fletor.
Wf = Módulo de resistência a fle-
xão.

Exercício de fixação: Dimensio-


nar o eixo representado na figura
abaixo quanto à flexão e o cisalha-
mento: Material – Aço SAE 1030.
Figura 71 – Alteração no Módulo de Flexão pela Posição Relativa da Peça (σ tr = 53 kgf / mm²).

Os módulos de flexão Wf para os vários tipos de secções são encontra-


dos em tabelas. Os mais comuns podemos definir como:

54 CURSOS TÉCNICOS SENAI


τcis = 0,7 x σ tr
2
τ cis = 37 kgf / mm
σ f = 8 kgf / mm² = 800 kgf / cm²

Por convensão: R1 = R2 = 250 kgf

Mf1 = 0 Por convenção


Mf2 = (-250 x 25) = -6250 kgf
Mf3 = (-250 x 50) + (500 x 25) = 0

Q1 = 250 kgf
Q2 = 250 – 500 = -250 kgf
Q3 = 250 – 500 + 250 = 0

Figura 72 – Diagrama para Momento Fletor e Forças Cortantes

Dimensionar o eixo quanto a flexão:

Mf 32 × M f 32 × 6250
σf = ∴ σ f = Mf 3 ∴ d = 3 ∴ d=3 ∴ d = 4,3cm
Wf π×d π× σf π × 800
32

Dimensionar quanto à forças cortantes ou cisalhamento.

Pmax
τ cis = ∴ τ cis = 2502 ∴ d = 250 × 4 ∴ d = 2,93.mm
S seção π×d π × 37
4

RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS 55


λ = índice de esbeltez (adimensio-
Seção 6 nal).
Esforços de flambagem f = comprimento de flambagem
(m; mm....).
Conforme mostrado na figura 73, quando uma barra prismática for
Imin = raio de giração mínimo da
submetida a uma carga “P” em direção ao seu eixo longitudinal, pode
secção da barra (m; mm....)
ocorrer um encurvamento lateral, conhecido como flambagem. A carga
na qual se inicia esse fenômeno é determinada como sendo a carga de J = momento de inércia. Depende
flambagem “Pfl” e a tensão resultante é determinada como “σfl”. da forma geométrica da secção do
material.

Assim, uma barra mais esbelta


(λ com maior valor) flamba com
menor tensão, enquanto uma bar-
ra menos esbelta (λ com menor
valor) flamba com uma tensão
maior. A representação gráfica da
função que relaciona a tensão de
flambagem com o índice de es-
beltez para cada material pode ser
acompanhada com a curva traça-
da no gráfico abaixo.
Figura 73 – Barra Sujeita à Flambagem

Em função do tipo de fixação das suas extremidades, as peças apre-


sentam diferentes comprimentos livres de flambagem “f ”, que são de-
monstrados na figura 74.

Figura 75 – Curva para Análise de


Flambagem das Peças

σncp = Tensão de proporcionalida-


de a compressão.
λo = Índice de esbeltez corres-
pondente a σncp.

Figura 74 – Comprimentos de Flambagem


Analisando a curva do gráfico,
podemos notar que: uma barra
Devido ao formato, certas barras flambam com mais facilidade do que com λ > λo (muito esbelta) flamba
outras. Esse fato pode ser expresso através do índice de esbeltez, repre- com uma tensão σfl abaixo da ten-
sentado pela letra grega “lambda” (λ). O índice de esbeltez é definido são de proporcionalidade.
pela relação entre o comprimento de flambagem “f ”, e o raio de giração Outra barra com λ > λo (pou-
mínimo da seção transversal da barra, onde: co esbelta) flamba somente com
uma tensão σfl acima de σcp. Nes-
f f se caso, pode ocorrer inclusive a
λ= onde: λ= ruptura do material antes da barra
imin J flambar.

56 CURSOS TÉCNICOS SENAI


No caso em que λ > λo (pouco esbelta), o cálculo da tensão de flexão σccp
ou da carga “Pfl” é determinada com seguinte expressão:

π2 × E × J π2 × E × J
PfL = σ
; e fL = ; onde:
 2f  2f × S

E = módulo de elasticidade do material


J = momento de inércia. Depende da forma geométrica da secção do
material
S = área da secção
f = comprimento de flambagem

Com o tema Esforços de Flambagem concluímos, aqui, esta unidade


curricular. Esperamos que você tenha aproveitado as tantas descobertas
que lhe reservamos.

RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS 57


Finalizando
No desenvolvimento deste material, levamos em consideração o perfil formativo do curso e mui-
tos momentos de práticas vivenciadas em atividades da indústria.
Os temas e conhecimentos abordados são de fundamental importância para o crescimento pro-
fissional, pessoal e social. No mundo do trabalho e na sociedade, o aluno poderá oportunizar sua
capacitação, tornando-se um conhecedor e um disseminador de ações relacionadas à Resistência
dos Materiais.
Terminamos este trabalho sabedores de que muito mais poderia ser feito, mas temos a certeza
de que atingimos os objetivos propostos. Desejamos a você que utilizou este material um cresci-
mento profissional aprofundado em conhecimentos, habilidades e atitudes.
Siga em frente e sucesso!

RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS 59


Referências
▪▪ ARRIVABENE, Vladimir. Resistência dos materiais. São Paulo: Makron Books, 1994.
400 p.

▪▪ BEER, Ferdinand Pierre; JOHNSTON, E. Russell. Resistência dos materiais. 3. ed. São
Paulo, SP: Makron Books, 1995. 1255 p.

▪▪ FERREIRA, A. B. de H. Dicionário eletrônico Aurélio. 3. ed. Curitiba: Positivo, 2010.

▪▪ MELCONIAN, Sarkis. Elementos de máquinas. São Paulo: Érica, 2000. 342 p.

▪▪ MELCONIAN, Sarkis. Mecânica técnica e resistência dos materiais. 11. ed. São Paulo:
Érica, 2000. 360 p.

▪▪ POPOV, E. P.. Introdução à mecânica dos sólidos. São Paulo, SP: Edgard Blücher, 1978.
534 p.

▪▪ SENAI. Resistência dos materiais. Divinópolis, MG: Departamento Regional de Minas


Gerais. Centro de Formação Profissional Anielo Greco, 2004. Apostila.

▪▪ SENAI. Resistência dos materiais. Sabará, MG: Departamento Regional de Minas Gerais.
Centro de Formação Profissional Michel Michels, 2005. Apostila.

RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS 61


Anexo

Anexo 1 – Características dos principais aços empregados na construção mecânica


Classif.
Aços
ABNT
1010 1020 1030 1040
Laminado Trefilado Laminado Trefilado Laminado trefilado Laminado Trefilado
σr 33 37 39 43 48 53 53
Características

σe 18 31 21 36 26 45 29
mecânicas

Along.
28 20 25 15 20 12 18
%10cm
HB 95 105 111 121 137 149 149
solicitado Correg. TENSÃO ADMISSÍVEL SEGUNDO BACH (kg/mm²)
I 8,0 10,0 10,0 14,0 13,5 15,5 15,0

σt II 5,0 6,5 9,0 9,0 8,5 10,0 9,5
III 3,5 4,5 4,5 6,5 6,0 7,5 7,0
I 8,0 10 10 14,0 13,5 15,5 15,0

σc II 5,0 6,5 9,0 9,0 8,5 10,0 9,5
III 3,5 4,5 4,5 6,5 6,0 7,5 7,0
I 8,5 11,0 11,0 15,0 14,5 17,0 16,5
σ–f II 5,5 7,0 7,0 10,0 9,5 11,0 10,5
III 4,0 5,0 5,0 7,0 6,5 8,0 7,5
I 5,0 6,5 6,5 8,5 8,0 10,0 9,5

τt II 3,0 4,0 4,0 5,5 5,0 6,5 6,0
III 2,0 3,0 3,0 4,0 3,5 5,0 4,5

RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS 63


Classif.
Aços Aços fundido
ABNT
1050 3525AF 4524AF 6015AF 6020AF 7010AF
laminado Trefilado ----------- ----------- ------- ------- ---------
60 63 70 35 45 60 60 70
Características
mecânicas

50 35 59 22 42
12 15 10 25 24 15 20 10
170 179 197 130 170 180 200
solicitado Correg. TENSÃO ADMISSÍVEL SEGUNDO BACH (kg/mm²)
I 21,0 20,0 22,0 6,5-10,0 10,0-15,0 12,5-19,0 12,5-19,0 14,021,0
σ–t II 13,5 12,5 14,5 4,5-6,5 6,5-9,5 8,0-12,0 8,0-12,0 9,0-13,0
III 9,0 8 10,0 3,0-4,5 4,5-7,0 5,5-8,5 5,5-8,5 6,0-9,5
I 21,0 20,0 22,0 7,5-11,0 11,6-16,5 14,0-20,5 14,0-20,5 15,5-23,0

σc II 13,5 12,5 14,0 4,5-7,0 7,0-10,5 8,5-13,0 8,5-13,0 9,5-14,5
III 9,0 8 10,0 3,0-4,5 4,5-7,0 5,5-8,5 5,5-8,5 6,0-9,5
I 23,0 22,0 24,0 7,5-11,0 11,0-16,5 14,0-20,5 14,0-20,5 15,5-23,0

σf II 15,0 14,0 16,0 4,5-7,0 7,0-10,5 8,5-13,0 8,5-13,0 9,5-14,5
III 10,5 9,5 11,5 3,0-5,0 5,0-7,5 6,0-9,0 6,0-9,0 7,0-10,5
I 12,5 11,5 13,5 4,5-6,5 6,5-9,5 8,0-12,0 8,0-12,0 9,0-13,0

τt II 8,0 7,0 9,0 2,5-4,0 4,0-6,0 4,5-7,5 4,5-7,5 5,5-8,4
III 6,0 5,0 7,0 2,0-30 3,0-4,5 3,5-5,5 3,5-5,5 4,0-6,0

64 CURSOS TÉCNICOS SENAI


Anexo 2 – Características dos principais materiais empregados na construção mecânica
Módulo de Tensão de escoamento (kg/ Tensão de admissível (kg/
Tensão de ruptura (kg/cm²)
elasticidade cm²) cm²)
MATERIAL
E (km/ G (km/
cm²) cm²)
στ = σf σc σc = στ στ = σf σc σc = σt σt = σf σc σc = σt
r r r r r e e e e e

Aço fundido 2 000 000 850 000 5040 5040 3600 2736 2736 2 000 ----- ------- -----

Aço para
2 000 000 850 000 4320 4320 3240 2520 2520 1900 1400 1400 900
estruturas
Aço doce 2 200 000 850 000 4680 5760 2376 3240 4320 2400 ------- ------- -----
Aço meio
2 000 000 850 000 5760 7200 2880 4320 5760 3200 -------- ------- -----
carbono
Aço duro 2 000 000 850 000 8640 11520 4320 7200 10080 5400 -------- ------- -----
Alumínio
700 000 --------- 1080 864 864 468 396 350 -------- ------- -----
fundido
Alumínio 500-
700000 --------- 1872 --------- ------ 936 --------- 700 ------- -----
laminado 600
Alvenaria de
------------- --------- ------- 200 ------ --------- -------- ------- --------- 5-10 -----
tijolo
Borracha 1000 --------- ------- -------- ------ -------- --------- ------- --------- ---- -----
Bronze
1 000000 --------- 3600 -------- ------ 1728 --------- ------- --------- ----- -----
fosforoso
Cobre
--------- --------- 1800 2880 2160 432 --------- ------- --------- ------ ----
fundido
800-
Cobre em fios 1 200 000 -------- ------- --------- ------ ------ --------- ------- ----- -----
1000
Cobre
1 200 000 480 000 2520 2304 ------ 720 --------- ------- --------- ----- -----
laminado
Concreto 144000 -------- ------ -------- ------ ------- -------- ------- -------- 40-50 -----
Duralumínio 750 000 --------- 5400 -------- ------ 3400 --------- ------- 1000 ------- -----
200-
Ferro fundido 800 000 --------- 1296 5760 1440 432 1440 300 1000 -----
300
1200- 1200-
Ferro forjado 2 000 000 700 000 3600 3600 3024 1944 1944 1400 -----
1400 1400
Latão comum 650 000 ------- 1512 2160 2592 432 ------- 300 --------- --------- -----
Madeira (II
108 000 -------- 720 460 ------ 237 150 ------ 80-100 60-75 -----
fibra)
Pinho (II
105225 -------- ------- ------ ------ ------ --------- ------- 87,3 51,4 6,3
Fibra)
Pinho (I fibra) 105225 -------- ------- --------- ------ -------- --------- ------- 87,3 15,4 9,5
Pedra 504000 --------- ------- --------- ------ -------- --------- ------- --------- 50-100 -----
Textolite
30000 ---------- 1270 1680 ------ 750 1150 ------- --------- --------- -----
(fibra)

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