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Paulo Roberto Sales História da Filosofia Social e Política

Professor: Marcos Costa

Pensamento político de Guilherme de Ockham

Guilherme de Ockham, nascido na Inglaterra, Frade Menor, foi aluno e professor


na Universidade de Oxford. Viveu em um período em que a autoridade eclesiástica
possuía grande intervenção política efetiva no interior da sociedade da época, anulando
quase que por completo o universo de vozes contrárias a seus postulados, quer fossem
expressos em publicações, debates públicos, etc, que de alguma forma questionassem
alguns tabus tradicionais à época. O pensamento político de Ockham nasceu justamente
das contradições daí decorrentes, frente à conjuntura política e as pretensões do papado
naquele período. Em 1324 foi intimado a comparecer à cúria papal para se explicar a
respeito de algumas teses que expusera em determinados trechos de sua produção
filosófico-teológica. Enquanto aguardava o exame de seus escritos pela comissão papal,
Ockham se viu diante da disputa política entre o Papa João XXII e o imperador
Ludovico IV de Wittelsbach, acerca da plenitude do poder, inclusive na esfera temporal,
que o papa reinvindicava para si, em decorrência dos conflitos ideológicos entre a tese
política hierocrática e a autonomia administrativa para a Alemanha e as demais regiões
do império, pleiteada por Ludovico VI.
Ockham, que fora dentre outros, excomungado pelo Papa e em decorrência
disto, um dos tantos poucos franciscanos fugitivos de Avinhão, é obrigado a buscar
asilo político em Munique (Alemanha) sob proteção de Ludovico VI, e é justamente na
sua estadia em Munique que Ockham se destaca como um pensador político-social
defendendo a autonomia da esfera secular e do Império; a negação da hierocracia
pontifícia, bem como a tentativa de restabelecer a harmonia entre os poderes espiritual e
temporal, considerados isoladamente, e os grupos sociais que a constituíam. Tratou e
debateu profundamente o relevante problema medieval no interior das relações entre os
poderes espiritual e secular, bem como outras tantas questões decorrentes destes temas.
Tais como as esferas próprias de atuação de cada poder e suas conjunturais intervenções
exteriores ao próprio âmbito, no que tange às suas finalidades; esforçou-se em elaborar
um melhor regime político para a Igreja e o Estado, bem como a conduta ética que deve
nortear a ação política dos representantes eclesiásticos e dos governantes seculares,
segundo o seu pensamento.
A atualidade do pensamento de Ockham consiste, em parte, pela sua incisiva
crítica aos desdobramentos práticos utilizados através da Igreja e seu âmbito de
intervenção política e cultural no interior da sociedade; a tomando como uma instituição
de finalidade não meramente religiosa, mas também de carácter político, tal qual
expressava em seus discursos e em sua respectiva elaboração reflexiva; a
compreendendo como um monstruoso mecanismo de difusão cultural, isto é, Ockham
toma a “instituição-humana” Igreja, como um privilegiado espaço, no qual as suas mais
“íntimas” convicções políticas, éticas e religiosas pudessem ser passíveis de efetivação.
No período histórico que vivera, esteve diante de uma época de progressiva
centralização do poder político, configurado aí, no âmbito da monarquia imperial, que
produzira, dentre outros desdobramentos, o surgimento de uma outra burocracia, um
pouco diferente da eclesiástica, que abarcava em seu âmbito, um exército dirigido por
sua respectiva aristocracia a partir da estrutura do Império; que “fortalecera a sua

Abraão Carvalho: Das relações entre Igreja e Estado no pensamento político de Guilherme de Ockham
Paulo Roberto Sales História da Filosofia Social e Política
Professor: Marcos Costa

justiça”; que arrecadava impostos e promovia a unificação monetária, bem como,


asfixiava a outrora “autonomia” das “cidades”; e sobretudo, Ockham vivera em uma
época, na qual o pensamento hegemônico, justificava uma certa “teorização do poder”,
que afirmava e legitimava a hierarquia supostamente existente entre as figuras do pai, de
Deus, do Papa e do Imperador, respectivamente. Além de os relacionar com a ideia de
verdade e com a ideia de lei, reproduzindo assim, a hierarquia celeste na eclesiástica e
esta na sociedade, tal qual a idealizada por Pseudo Dionísio, de modo a formular uma
ordem que se desdobra de cima para baixo, em graus hierárquicos e que se difunde no
interior da humanidade, tendo a Igreja, bem como a burocracia eclesiástica, a função de
intermediar a relação entre Deus e seus súditos, que por sua vez teriam como seus
dirigentes os membros da hierarquia eclesiástica, que possuem a obrigatoriedade,
devido ao seu ofício, de difundir a lei de Cristo “pela face da terra e a todos os homens”,
pois para este modo de pensamento, partindo da compreensão de que a desordem e a
desigualdade provocadas pelo pecado são hegemônicas no interior da humanidade, “uns
devem mandar enquanto outros estão fadados unicamente a obedecer”, obedecer a uma
ordem na qual a sua própria procedência lhes é inatingível, e sobretudo desconhecida,
região esta onde habitam os entes superiores no âmbito do pensamento predominante no
interior da Idade Média.
A experiência de Ockham, certamente esteve marcada, no que se refere ao seu
período histórico, por intensas disputas políticas travadas no interior da sociedade que
vivera, que se mostravam aos olhos do franciscano fugitivo de Avinhão, nas formas das
aristocracias tradicionais daquele período, isto é, enquanto agrupamentos econômicos
com intervenção política, de caráter efetivo e real, inclusive no interior da instituição
Igreja, não obstante a isto, pois tais disputas também nos são visíveis atualmente, o que
de fato preocupava e de certo modo impulsionava a escrita de caráter político do
Venerabilis Inceptor consistia por um lado, nos rumos que a difusão da fé cristã estava
tomando, bem como as suas consequências ulteriores, e por outro, nas contradições daí
decorrentes no âmbito ético e político no raio não só da cristandade, mas também da
sociedade como um todo, pois de fato esta, está sob seu alcance.

Abraão Carvalho: Das relações entre Igreja e Estado no pensamento político de Guilherme de Ockham

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