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FÍSICA DO SOLO

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FÍSICA DO SOLO
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EDITOR
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i Quirijn de Jong van Lier

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j -. Viçosci - Minas Gerais.
· 2010
V

Copyright © 2010
Edi,ão 2010 • 1• Edição
N~o é permitida a reprodução total ou pan:ial desta publicação sem a permissao expressa da Sodedode
Brasileira de Ciência do Solo. . i·

EDITOR REVISÃO
Quirijn de Jong van Lier Maria da Glória. T. lgm\cio
Maria Aparecida Soares

CAPA
DIAGRAMAÇÃO
PREFÁCIO
(layout)
Miro Saraiva •
Manuela VieU'.a Novai~

CAPA
(arte)
Miro Sarniva
FOTOS DA CAPA
Genlilmente cedidas por: • Primeira Cepa: foto 1 - Prof.
Hugo Alberto Ruiz (UPV). Foto 2 - Prof. Nairom .Félix de
Barros (UFV). Segunda Capa: foto 1 - .Prof. Hugo Alberto .
Ruiz (UFV), foto 2 - Prof. Roberto Ferreira de Novais (UFVJ
l 1
A publicação deste livro Fís_
ica do Solo constitui um fato marcante para a
comunidade cientifica e àqueles que se dedicam à Ciência do Solo.
Hoje, em pleno século 21, o avanço tecnológico no campo da comunicação
e da ciência como um todo permite, cada vez mais, a difusão do
con11eci.mento de forma rápida para atender a demanda dos usuários.
Considero uma grande honra prefaciá-lo, o que me fez retornar a
Ficha Catalográfica preparada pela. Seção de Catalogação lembranças de um passado longínquo.
da Biblioteca Central da UFV
É bom ressaltar que o ontem é história, o amanhã é um mistério e o hoje
é uma dádiva'. Por isto o chamamos de presente.
Física do solo / editor Quirijn de Jong ;an Lier.
F537 - Viçosa, MG : Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, Nas primeiras décadas de existência da Sociedade Brasileira de Ciência
2010 2010, <lo Solo - SBCS (ontem), um pequeno grupo de pesquisadores, que se
298p. : il. (algumas col.) ; 26cm. dedicava à Física do Solo, plantou sementes que se transformaram hoje em
. Inclui bibliografia.
árvore que ger~ frutos e mais sementes .
ISBN 978-85-86504-06-8. .i · Esse Ii~o, editado pelo professor Quirijn deJong van Lier, escrito por
professores de oito universidades brasileiras, uma da Argentina e uma da
1. Física do solo. 2. Mecânica do solo. 3. Soio - Manejo. Alemanha, é um .e xemplo do presente. · ·
I. Jong van Lier, Quirijn de, 1963-.. II. Sociedade Brasileira
de Ciência do Solo. No trabalho, dividido em oito capítulos, com os seguintes títulos:
Caracterização Física do solo; Mecânica do solo; Agua no solo; Gases no solo; Energia
CDD 22.rd. 631.43 Térniica do solo; Transporte de soluto; rndicadores da quàlidade física do solo;
Disponibilidade de ág~a às pla)Jtas, os.autores·interagem harmonicamente .
. A diversi.d ade doi5 solos'do'.País e as variações regionais dos recurios
SOCIIDADSBRASILllll!A D8Cl~CIADOS0LO naturais exigem, como nÚnca, conh~cimeºn tos através de pesquisas
Tel.: (OXXJ Ji 3899,Un
· qualitativas e quantitativas ba_seadas em resultados dé diagnósticos.
E~ml\il: A~lifh.lFv;~r
t.
htlp\ \www.sbçs.org.lrr O lançamento dessa obra, vem ptoporcfonar aos professores, mestrandos,
'✓ ,
i doutorandos,-pesquisadores e alunos em geral, uma fonte inestimável de
ill li lillillllllllllIli
9 7 U ,SS6 :504068 · conhecimentos, em especial sobre física do Solo.
vi
vii

Cabe aos novos estu dios_os, privil~giados pelo avanço tecnológico,


seguirem o exemplo do editor e dos autores, transformando o mistério do FÍSICA DO SOLO
amanhã em realidade do hoje. ·
Re~ta apenas salientar o esforço e a dedicação dos autores e \:!e todos ABRIL, 2010
aqueles que participaram•dessa obra de fundamental importância para o
ensino e a pesqufsa, representando tUÍla expressiva contribuição à l;ustória
da Ciência do Solo no Brasil. ·

Luiz Bezerra de Olivefra CONTEÚDO


Sócio Honorário SBCS

PREFÁCIO ......................................................................................
.. :.: ...........................
. .
V

1 - CARACTERIZAÇÃO FÍSICA DO SOLO


Mozart Martins Ferreira ............................................................................................... 1

II- MECÂNICA DO SOLO


José Miguel Reichert, Dalvan José Reinert, Luis Eduardo Akiyoshi Sanches
• 1 Suzuki & Ramei;'I-Iom ............................... ........................................................ :......... 29

III - ÁGUA NO SOLO


·. Paulo'Leonel Libanli ......................................................... .'............:................... :.:..... 103

Iy'-ÇASES NO SOLO
Quirijn_de Jong ván Lier .............................:.................... :............:.................... .'...... 153

1 .V- ENERGIA TÉRMICA DO SOLO


Celso Luiz Prevedéllo ..............................................:.................................:...........:.... 177

VI-TRANSPORTE DE SOLUTOS NO SOLO


Hugo Alberto. Ruiz, Paulo Afonso Ferreira; Ge~elício Crusoé ~otha &·. · . ·
·. João _Carlos Peneira•Borges Jr. .:......... .,.:,... :.............:.....:..:........ ,........ :: .. :... :......... :.. 213
. ..
. ·. ·. vn~·INIJICÁDOirns'oA·QuALIDADEFÍS~CADb·soió. ·.
Alvaro Pires da Silva, Cassio Antonio TorfT\ena; Moacir de Souza .
9ias Juni~i:, Silvia Imhoff & Vi~son /\ntonip Klein ............: ............. .': ...............,.:. 241

'· VIII- DISPONIBILIDADE DE ÁGUA As PLANTAS .


Quirijn de Jong van Lier ......................................................................... :;.....:.......... 283
)

)
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)
r'. I ~·CARACTERIZAÇÃO FÍSICA DO ·soLO

Mozart Martins Ferr~ira11


)

) ''Professor do Departamento de Ciência do Solo, Universid ade Fcde.l'al de Lavras (UFLA).


mozartmf@ufln .br
)

Conteúdo

INTRODUÇÃO ............:.. .................................... ·.................................................... ·....................................................... 1 .

TEXTURA DO 501..b ...................................................................................................................................................... 3


Determinação da Textura d o .Solo ............................... ............................................................................................ 4
Métodos de Análise Textural ..................................................................................................................................... 7
) Classificação Textura! ................................................................................................................................................. 9 .
Considerações a réspeíio da Determinação da Textum do Solo ....................................................................... 1 O
)
EST.RUTURA DO SOLO ................:.............................................................................................................................. 12·
) DesenvolvinH,nto. di' Estrutura do Solo ................................................................................................................. 12
Avaliação da Estrutura do Solo .......................................:..................................................................................... 17
)
Densidade de Partículas ........ .'.........................................................................................................;...... ............. 18 ·
Densidade do Solo ...................................................., ..................,.......................................................:.................. 19 ..
Pórosidade·do .Solo ...............................................:.................................................................:....,...'........................ 22.
Distribulq~o de Poros por Tamanho ...................................................................:....................................:...... 23 .
Estabjlidade de Agregados ................:................:·:.................................:..................... :.......................................24

LITERATURA CITADA
) . i

)
INTRODUÇÃO
\
A.Física do Solo constitui-se no ramo ·da Ciência do Solo que tem por objetivo a
•ca;acteiiza"çã.o dos atributos ffsicos ele um soio, b~m como a mcdiçi':o, predição e controle
dos processos físico·s que ocorrem.dentro e a trav~s d~ solo. Essa conceit~ação·denotá ·que
o estúdo da Física do Solo possui ~aturezas· distintas. Na caracterização dos atributos
_l físicos·de .um solo; o estudo é de natureza básica; com.úma abor·d agem fundamental,
buscando. descrevê-los com a maior exatidão possíve1. Po·r outro•lado, tem-se o aspecto
aplicado .da Física do Solo, empregado no equadonam<'into dP. prohlP.mas gerados pela
utilização do solo seja para propósitos próprios, de outras.áreas da Ciência do Solo, bem
como de outros ramos.da Ciência que utilizam o solo como objeto de estudo.
SllCS, .Viçosa, 2010. Plslca do Solo, 298p. (eé.. Quirijn de Jong von Lier).
2 MOZART MAltTINS F f RREllU\ I ~ CARACTERIZAÇÃO FÍSICA DO SOLO 3

Toma-se importante ressaltar que se buscará abord ar no presente cap ítulo aspectos TEXTURA DO SOLO ·
f-und amentais na caracterizaçã~ dos atributos flsicos dos solos brasileiros, seguíndo a
premissa de qu e as p esqu isas que envo lvem esses a tributos serão mais eficientes se A Textura. do Solo constitui-se n uma das caracterís ticas físicas mais estáveis e
baseadas em conceitos e terminologias adequados. Dentro dessa premi~s_a entende-se representa a distribuição q uan titativa das partículas sólidas minerais (menores que 2
q ue embora muitos sejam os estudos desenvolvidos no Brasil, envolvcn&o os atributos m m em diâmetro) quanto ao tamanho. A grande estabilidade faz com que a textura seja
físicos do solo, g rande parcela desses estudos não leva em consíderaçã_o_aspectos considerada característica de gran de impor tância n a d escrição, i dentificação e
específicos de solos tropicais, cujos fundamentos não foràm devidamente estabelecidos, principalmente na classificação do solo. A textura confere alguma qualid ade ao solo'. no
exa iamen te pela aceitação irrestrita da universalidade da Ciência do Solo. Assim é que, entant o, sua avaliação apresenta conotação p rioritariamente quant itativa.
a granc!e maioria dos cursos de Flsica do Solo no Brasil adota como textos básicos, entre
Areia, Silte e Argila são as três frações texturais do solo q ue apresentam ampUtudes
outros, os trabalhos de Baver et al. (1972); Hillel (1982); Kohnke (1968); Koorevanr et.al.
de tamanhos variáveis em função do Sistema de Classificação adotado. Existem d iversos
(1983); Jury et al. (2004). Não obstante a esse aspecto e como forma de reconh ecer o
sistemas de classificação, todos baseados em critérios arbitrários na separação dos
esforço da comunidade científica brasileira para o avanço da Física do Solo no Pals,
tamanhos "das diversas frações. Apen as dois sistemas, contudo, são considerados mais
devem-se destacar os textos de Medina (1975); GTOhmann (1975a,b); Kiehl (1979);
importantes para os propósitos da Ciência do Solo ou Pedologia no Drasil, são eles:
Reichard t (1985), Prevedello (1996) e Resende et al. (2002).
Sistema Norte American.o , desenvolvido pelo Departamento de Agric11ltma dos Estados
O solo do ponto de vista da Ffsi ca do Solo é considerado um sistema trifásico muito U11idos (USDA) e Sistema Internacional ou de Atterberg, desenvolvido pela Sociedade
heterogêneo. As três fases são representadas no solo da seguinte maneira: a fase sólida Internacional de Ciência do Solo (ISSS). O quadro 1 apresenta os dois sistemas com suas
constitui a matriz do selo; a fase líquida q ue consiste na água do solo na qual existem respectivas frações granulométTicas e amplitudes d e tam anh o e a classificação adot~da
substâncias dissolvidas, devendo ser chamada então de solução do solo, e a fase gasosa· pela Sociedade Br asileir a de Ciência do Solo (SBCS), adaptada desses.
que é a almas/em do solo. Considerando que tanto a água quanto o ar do solo variam em.
composição tanto no tempo como no esp aço, ,podendo inclusive estarem ausentes em
deter minadas condições, a caracterização do solo dá-se por meio do estudo da sua fase Quadro 1. Frações granulométticas definidas pelos sistemas de C!Msificação Norte Americano
sólida ou mntriz do solo.A matriz do solo constitui-se de componentes sólidos minerais e (USDA), Internacional (JSSS) e da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (SBCS).
orgânicos.
Sistemas
A parte orgânica, também conhecida como matéria orgânica da solo, é formada pela
acumulação de resíduos animais e vegetais com variados graus de decomposição. Frações USDA ISSS S"BCS
Submetido a constantes ataques dos micro-organismos, o material orgânico ac':'ba por
constituir-se em wn componente.transitório do solo, em consta nte estado de renovação. · 0(mm)
A matéria orgânica exerce importante papel no comp ortamento físico e químico do solo, .Areia muito gr= · . 2-1
atllan doem muitas propriedades deste. Ao estudo particular deste constituinte, contudo, Areia grossa· 1-0,5 2 - 0,2 2 ..: 0,2
são reserva dos espaços em outros r amos da Ciência d o Solo, tais como na Q uímica do
Solo, na Fertilidade do Solo e notadamente na Biologia do Sol_o. Areia média· 0,5-;0,25
· A p arte mineral é constituída de partículas u nitárias, resultantes do intemperismo Areia fina 0,25 - 0,10 0,2-0,02 0,2-0,05
d o ma te rial de origem do solo, apresentando diversas formas, tamanhos, arranjos e Areia muito fina 0,10 -0,05
composições. Embora se saiba pel o estudo minera lógico que as partículas do solo Silte 0,05 - 0,002 0,02 - 0,002 0,05 - 0,002
apresentam formas variadas, podendo inclusive serem amorfas; para vários propósitos-
Argila <0,002 <0,002 <0,002_
da Física do Solo assume-se que as me~ mas apresentam a forma esférica. O conjunto de
par tículas dé vários tamanhos dá origem à Textura do Solo, enquanto o: a:rrnnjo .d est11s
dá drigem à Estrutura .do· Solo. Além d a forma, o estud o d a ·composição qnímica:e
) minera lógica das p art(culas do solo é atribuição da á rea de Química e "Milieralogia do Os ~isternas de classificação são adotados indistintamen"te e a escolha d_e um ou .
Solo. . . Ôutró requer a r espectiva adeqllação do método para·análise da textura <lo solo: Nesse
) . . particular, além das subdivisões da fração areia, ó extremamen te importante atentar
f-inalmente; pode-se sumari= que, em q ue pesem os papéifl exercidos pela matéria
. para as diferenças verificadas nos limites superiores da fraç.ã o siltc dos sistemas. A
· .orgânica e composição•mineralógica no comportamMto físico do·ool o;a sua curacterlzaçãÓ
fração silte tem sido motivo de muitas hipóteses e estudos envolvendo o comportamento
física dá-se basicamente pelo estudo do tamnnlro e (lrrnnjo de suas ,p artículas &ólidas
miner ais. Esses d ois aspectos serão discutidos detalhad amente nas seções seguintes. dos solos tropicais.

F lst CA 00 S OLO FISICA DO Solo


4 Moz..Rr MARTINS FERIIEJRA 1 - CARACTERIZAÇÃO FfSICA DO SOLO 5

,.r
estável durante o decurso da análise textura!. As partículas poderão estar ligadas com
Determinação da Textura do Solo
) pouca força de coesão ou pouca cimentação, de modo que a simples hidratação da argila
A textura do solo é determinada de duas maneiras: 'pode ser su ficiente para que ocorra a dispersão. Por ou tro lado, as argilas ao se
a) Teste de . Campo: é a modalidade de deter minação .adotada pr~cipalfente por desidratarem podem exercer considerável força coesiva, que cimenta vigorosamente os
pedólogos nos exames de perfis de solos. Nesse teste, procura-se correlacionar a agregados do solo. Fica, nesse caso, a dispersão condicionada à sua reidratação. Para
· sensibilidade ao tato com o tanianho e distribu.ição da's partlculas unitárias dp ob ter-se a dispersão máxima das par tículas, há necessidade de submeter u amostra de
solo. A areia produz uma sensação de atrito (asper eza). A fração areia é solta, com solo, simultaneamente, a tratamentos mecânicos e químicos. Mecaniçamente a quebra
grão simples ou com agregadós com baixa estabilidade, não-plástica, não-pegajosa dos agregados é realizada pela agitação. Pode-se agitar a amostra vigorosamente em
e nüo pode ser deformada, A fração si! te é sedosa ao tato e apresenta ligeira coesão uma coqueteleira por alguns minutos ou em agitadores mais lentos durante algumas
) quando seca. A fração argila é p lás tica e pegajosa quando 1'.ímida, dura e mu.ito horas. Neste último caso, é conveniente a introdução de um agente .abrasivo (areia
coesa qua ndo seca e forma agregados com outras partículas. A avaliação da textura grossa por exemplo) para aumentar a eficiência da agitação. Embora ainda pouco
pelo teste de campo é muito subjetiva e corno ta l está suj eita a erros e a divergências u tilizada no Brasil, a dispersão mecânica pode também ser feita por meio da vibração
interpretativas. ultrassônica. A agitação e consequente quebra dos agregados não ga ran te uma
b) Aizálise Textura! ou Granulométrica: a an álise textura! é feita no laboratório e tem por suspensão efe tivamente dispersa, para tanto hó necessidade de substituir os cátions
finalidade fornecer a distribuição quantitativa das partfcula~ unitárias minerais presentes, particularmente bivalentes e trival ente~, por outros m a is hidratáveis. A
menores que 2,0 mm. Para tanto, utiliza-se urna amostra de terra fina seca em estufa presença desses cátions mais hidr atáveis aumenta a espessura da dupla camada difusa
(TFSE) ou term fina seca ao ar (TFSA) com o conte6do de água conhecido. De acordo com· das partículas de argila, proporcionando, assim, condições favoráveis à estabilidade
Medina (1975), o êxito da anãlise textural está na dependênci11 de se conseguirem 'I
das suspensões. Li ', Na•, K+ e NH.♦ são os cátions monovalentes mais hidratáveis t!
suspensões de solo em que suas partfculas apresentem-se realmente individualizadas portanto os que apresentam maior cficiênci11 dispersante. Es tudos envolvendo a
e assim se mantenham até sua separação e quantificação. De modo geral, pode-se eficiência relativa de dispersão de compostos contendo esses diversos elementos
considerar a m archa analltica dos métodos de análise textura! dividid a em três fases: levaram à generalização do uso de compostos de Na. Nesse particular, tem-se usado
pri-lra!amento, dispersão e separação dtls frações doso/o. rotineiramente hidróxido de Na e hexametafos(ato de Na. Embora não utilizados
rotineiramente, compostos contendo K, notadamente o hidróxido de K, também
A fase do Pré-frata111e11to tem por finalidade a eliminação dos agentes cimentantes,
apresentam boa eficiência dispersante.
lons floculantes e sais solúveis que podem afetar a dispersão e a estabilização da
suspensão do solo. Constituem exemplos de pré-tratamentos: Pinalmente, realizada a dispersão das partículas, procede-se a separação das frações
do solo. As &ações mais grosscirus, as areias, são separadas por peneira1m:ntu, utiliza.ndo-
1. Remoção da matfria orgânica: reall~ada em 1,tJ]os com teores de matéria orgfinica
. se de peneiras diversas, conforme o sistema de classificação adotado. É importante
superiore~ a 50 g kg·' por meio da sua o~idação com peróxido de hidrogênio (H20 1). ·
destacar que a utilização-de peneiras é adequada para·partfculas maiores que 50 µm. As
· 2. Remoç110 dos óxidos de ferro e alumínio: realizada com o U:so de ·s olução contendo fraç·ões mais finas, silte e argila, são separadas por-meio da s·e dimentação diferencial.
ditionito-citrato-bicarbonato de sódio (DCB). Urna par\1cula em queda num fluido está sujeita a três forças: gravitação, empuxo e ~
3. Remoção de carbonatos: promovida com o uso de tratamentos ácidos. Recomenda-se força de Stokes. Considerando as parttculas do solo como esféricas com raio r (rn), tem-se:
a utilização do HCI diluído.
(1) A força da gravidade F, (N), a tuando para baixo:
4. Rcmoç110 de sais solúveis: realizada por meio da lixiviação (diálise) dos sais com
água destilada.
Dentre os vários procedimentos de pré-tratamentos citados, apenas a remoção da (1)
matéria· orgânica, na condição estabelecida acima, tem sido realizada nos nossos
·taboratórios. Embora os óxidos 'de Fe e AI p ossuam ação cimentante, eles "inte.gram a · onde m·(k&) ~amassa da partícula, 8' (m s2) é a ·a·~~leração'gravit~cional_e P, é~ densidade ·
não
composição min~'Tnlógica d a fração argila dos solos brà's ileiros, justificando, por tanto, das partículas (kg m·3).
suas ·eliminações. Exceio cm c;onclições muü<is especiais,. não se observa, na quase ·(2) J:, força de empuxo F, (N), atuando para cim;:\:
totalidade dos solos brasileiros, acúmulo de carbonatos e sais que püdesse suscitar sua.
eliminação. · ·. ·
A fase de Dispersão tein por finalidade a des,truição dos · asr"egados d o solo, · (2)
transformando-os em partículas individualizadas, que deverão permanecer em suspensão

Ffs 1CA oo SOLO F fSI CA 00 SOLO


6 MOZART MARTINS FERRfJRA · I - CARACTERIZAÇÃO FÍSICA DO SOLO 7

onde m1 (kg) ê a massa do fluido dcsloca<lo pela partfcuJa e p é a densidade do fluido Quadro 2. Tempo de sedimentação para uma particula de solo em queda em água equivalente
1 a uma distância vertical de 10 cm (•).
(kg m--l).

(3) Aíorça de Stokes, devido à viscosidade ( 71, Pa s) do fluido, atuando no sentid,o con trário Fração do solo diâmetro (µm) Tempo de sed imen tação
ao movimento, no caso para cima. Essa força é descrita pela Lei de Stokes: r' ·
.. Areia muito grossa 2000 (= 2 mm) 0,03 s
• 1· •

(3) Areia fina 200 2,7 s


Silte 20 4,5 min
onde v (m s·1 ) é a velocidade da partícula em relação ao fluido. A viscosidade d a·água
Argila 2 7,7h
diminui com o aumento da temperatura. A 20 ºC, em unidades do SI seu valor é
aproximadament~ 10·3 Pa sou, em unidade do Sistema CGS, 0,01 P (P significa Argila fina 0,2 32d
Poise = g cm·l s·1). Argila ul1l'a fina 0,002 860anos
(") corulderou-ae: \emperaturo 20 "C; densidade do ~gua 1000 kg m·>; densidade de par\kulas 2700 kg mJ;
Quando a s três forças anulam se (quando F1 = F, + FJ pode-se verificai: pela
0
viscosidade da llguo lo-' Pa s .
combinação das equações 1, 2 e 3 que a velocidade final (constante) de queda de uma
pa rtkula esférica num fluido é descrita por
Nota-se pelo quadro 2 que a utilização da equação 5 não é adequada para o
fracionamento de frnções grosseiras (a reias) tampouco para a obtenção de subclassçs da
(4} fração argila. No primeiro caso, o tempo de sedimentação é demasiadamente pequeno e,
como mencionado anteriormente, a separação dessas frações faz-se com a utilização de
peneiras. No segundo, verifica-se que o tempo de sedimentação dns frações menores que
A equação 4 descreve a velocidade de queda de uma pa rtfcu.la cm um fluido 2 µrn é muito elevado. Assim sendo, o fracionamento da fração argila deve ser procedido
qualquer. Rearranjando a equação 4, obtém-se a equação 5, que permite calcular o tempo por meio de procedimentos alternativos, nota damen te, a centrifugação. O que fica evidente,
de sedimentação da partlcula considerada. Para tanto é necessário fixar a distância a ser na exemplificação da aplicação da equação 5 no quadro 2, é que como o tempo de
percorrida pela partícula, ou seja, a altura de queda (lt, m). Assim, considerando que sedimentação é inversamente proporcional ao quadrado do raio da partícula, o tamanho
t = li / v, obtém-se: da partícula é, sem dúvida, alguma o !)rincipal fator determinante do tempo final de
sedimentação e por consequência determinante da exatidão dos _resultados obtidos. Erros
I= 9 lt '7 d e método s!lo encontrados na literatura pela aplicação inadequada da equação 5 no que
2 ( P, - p J )g rl (5) concerne ao estabelecimento dos tamanhos das partículas que se pretende estudar.

Na utilização da equação 5, estão necessariamente implícitas algumas· condições Mé.todos de Análise Textural
de c~ntorno tidas como limitações, são elas:
a) ás partículas são s uficientemente grandes para não serem afetadas pélos movimentos A análise textura! p·o de ser efetuada, basicamente, por dois grupos de métodos,
térmicos das moléculas do fluido; . segundo a técnica utilizada na separação das frações silte e argila:
b) as partículas são rígidas'. esféricas e lisas; a) Método dn Pipeta: foi desenvolvido por volta de 1922 e é especialmente adequado para

) e) todas as IJartículas apresentam a mesma densidade;


d) a suspensão é suficientemente diluída de. tal rnod~·que não ocorre .interferência de ··
.. determinação da fração argila. É um método direto e muitas vezes considerado como
. padrão comparativo entre outros métodos de análise textura!. Nesse método, utiliza-
se de uma pipeta para.colc~ar urna alíquota da suspensão a profundidade e tempo
) · uma· p_a rtfcula com outra e cada·partfcula sédimenta independentemente; · determinados. Assume·-se que, após o tempo calculado, a: suspensão apresentará, aci.i:ná
e) o fluxo ao redor da_partícula é l_a mín~r. · , _ daquela profundidade, somente partkulas menores que deternúhado tamanho._O .
qiétodo da pipeta é bastante simpleR e reconhecido como o mais preciso, entretanto,
O quadro 2, adaptado ·de Jenny (1980), apresenta os "tempos de sedimentação ·
alguns cuidados precisam ser observados, Um aspecto importante, implfcito nas
requeri.d os por várias fraç~es dó solo, calculados pela_e_q uação 5.
limitações da aplicação da equação 5, é que a concentração da suspensão de solo não
deve exceder 20 g L-1• Acima desse valor a sedimentação das partículas individuais
pode ser comprometida. Em função desse aspecto surge outro, qu.e diz respeito à

)
FlsrcA Do Soto . FIS ICA DO SOLO
\

8 MOZART MARTINS FERREIRA I - CARACTERIZAÇÃO FÍSICA DO SOLO 9

alíquota pipelada. A quantidade de material pipetado tem de ser multiplicada por constatação está associada à contribuição da matéria orgânica na disponibilização de
elevado fator de correção para expressar o total de pa·r tlculas presentes na amostra. cargas elétricas. Relativamente aos horizontes de subsuperfície, os Latossolos
Desse modo, pequenos erros nas pipetagens individuais poderão ser seriamente apresentam baixos conteúdos de argila dispersa em água, reflexo d;i baixa atividade
amplificados, comprometendo o resultado final da análise textura!. -7. de sua fraçi'io argila. Outro aspecto importante diz respeito ao fon Al que apresenta
b) Método do HidrômeÍro: foi proposto em 1927, por Bouyoucos, que empresta tJmbém seu grande poder floculante e está sempre presente em abundência nos Latossolos,
no~ne para o método. Sei;nelhantemente ao método da pipeta, baseia-se no ptincfpio de notadamente nos mais intempei:izados. O certo é que os estudos envolvendo esse atributo
que o material em suspensão (silte e argila) confere determinada densidade à mesma. são pouco conclusivos, principalmente pela grande variabilidade que acompanha os
Com a ajuda de um hidrômetro; Bouyoucos relacionou as densidades com o tempo de . resultados das determinações de argila dispersa em água. Ressalte-se ainda qu.e o
leitura e com a temperatura. Com esses dados o hidrômetro foi calibrado e fornece manejo do solo_ na; suas mais variadas modalidades pode interferir decisivamente nos
leituras de g L'1 de material de suspensão e posteriormente chega-se às percentagens resultados.
das p11rtícu.las. O método do hidrômetro é mais rápido, mas por se tratar de um método
calibrado é menos preciso. Como a densidade da suspensão não é uniforme em toda a
Classificação Textural
coluna lfquida, em virtude da sedimentnção diferencial das partículas, e a
profundidade de flutuação do hidrômetro é variável confor~e essa sedimentação,
Uma vez conhecidas as proporções relativas das frações areia, silte e argila procede-
considera-se que o hidrômetro registra a densidade média da coluna. Para melhorar a se a classificação textura! do solo. Para tanto, podem sP.1· utili,:~rlos diagramas de
precisao do método, Carvalho (1985) introduziu à metodologia original uma proveta
triângulos te_x turais. Como existem diferentes sistemas de classificação do tamanho das
especial desenvolvida por Fontes (1982), propiciando a obtenção de uma suspensão
partículas, também existem vários modelos de diagramas texturais, entretanto, tem-se
mais homogênea por ocasião das leituras do hidrômetro. generalizado o uso daquele baseado na classificação Norte Arncricuna (USDA). A
Normalmente nas análises de perfis de solqs além da determin1ição da textura do Sociedade Braslleira de Ciência do Solo acrescentou a classe textura! muito argilosa ao
solo, determina-se o teor de nrgila dispersa em água e calcula-se o índice de jloculnçiio. A triângulo do USDA (Figura 1).
argila dispersa em água pode ser determinada por qualquer um dos métodos de análise
textura!, sem o emprego do dispersante químico, ou seja, a·dispersão é feita somente em
á1,'1la destilada. Pelo fato de a dispersão ser feit_a em água, a argila d ispersa em água é
também denomi nada argiln natural, pois representa aquela porção da argila total que é
)
naturalmente dispersa na presença da água. A argila dispersa em água tem sido utilizada
como um índice de erodibilidade do solo, mas pode representar também a atividade da
fração argila. No caso da eTOdibilidade, a associação que se fa.z é com a estabilidade de
agregados. Agora, considerando que o fenômeno de dispersão representa hidratação da ·
ru:gila, e considerando ainda que tanto a argila quanto .a água possuem cargas elétricas / .
localizadas (a água é um dipo1o eléh·ico), é razoável admitir que quanto mais ativa for a /'
) fração argila, maior será a adsorção de água e consequentemente maior a quantidade de '" ~- '
~; /. \ . ~
argila dispersa ºem água. Para o cálculo do índice de ·f loculação ·utiliza-se a seguinte· '<'~
~' :
\.~ () ~l
,1
) expressão:
e 60
) l.ó
ff=T-A
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x 100 (6)
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sen_do: · / rn'AN '


t · .. ! sn:r ,.
lF ~ fndice de Floculação (%) ~-~/,:, . ~/ .'
T R Fração Argila Total (%) : : .1_ _
===~===_;,-"'---"·' ----'\"- \ :.!,
.;_' _._.L,:..,-_~__,··ioo
100 90 60 70 60 óO ,10 30 20 · 1.íl li
A ~ Fração Argila Dispersa em Água (%) ·. /\rt..i.i, 1;', •

1 Em dado perfil os horizontes superficiais apresentam teores ma.is elevados· de


Figura. 1. Diagrama textura! baseado no sistema Norte Americano de cla~sificação do tamanho das ·
) argila dispersa em água, quando com·p arados com horizontes subsuperficiais. Essa particulas, adotado pela SBCS.

)
f!SJCA oo Solo f!SJCA DO SOLO
10 MO.ZART MARTINS FERREIRA ·
DO SOLO
I - CARACTERIZAÇÃO FÍSICA 11

Os resultados da análise granulométrica podem também ser representados seja um -pais de dimensões continentais com vários domínios pedobioclimáticos e
graficamente pela curva de distribuição do tamanho das partículas, figura 2. apresente várias classes de solos, tem-se que os solos integrantes da classe dos Latossolos
·ocupam mais de 50 % do território brasileiro, constituindo, portanto, a ordem de solos
,
. ,, · mais importante do Pais. Caulinifa, Gibbsita, Goethita e Hematita, em diferentes
1110 1-..
proporções, são os principais constituintes da fração argila desses solos. Análises
.. . ~ t granulométricas de alguns Latossolos br_asileiros têm apresentado com.certa úequência
so ' / resultados superestimando os teores de silte, incompatíveis com o grau de intemperismo
. Solo argilc,so
] 60 dos mesmos. Moura Filho & Buol (1972) constataram que os Latossolos com maior grau
"'5 de intemperismo apresentam microagregados resistentes à dispersáo. Da mesma forma,
:,
<40 Netto (1996) observou em diferentes Latossolos que o índice Kr correlacionou-se
~~ negativamente com o teor de silte, sugerindo que, em solos mais intemperizados, com
20 teores maiores de óxidos de Fe e de AI, a fração silte se.ria incrementada pela presença de
microagregados de argila. Na realidade, sabe-se hoje que parte.desse silte é composto
o ~ - --"'----'------'-----'
-3 -2 por agregados de argila, recebendo as designações "silte funcional" e "pseudo-si/te". A .
dificuldade de se dispersar a argila contida em agregados na fração silte de alguns
Latossolos pode, então, ser relacionada tanto com a presença d.e agentes cimentantes
l'iguT~ 2. , Curva de distribuição do !amanho das partículas (t, em m1u) do solo.
corno também com a pouca eficiência dos procedimentos r otineiramente adotados ·para
dispersão. De acordo com-Dona3emma (2000), á dispersão adequada da amostra de solo
As curvas de distribuição do tamanho das partículas são amplamente utiiizadas tem sido, portanto, um fator limitante na obtenção das frações texturais em alguns
em estudos, envolvendo a área de Mecânica do Solo, principalmente na caracterização Latossolos, com altos teores de óxidos de Fe e de AI.
de material .grosseiro. Delas poderão ser obtidas importantes relações, envolvendo a Estudos mais detalhados sobre a compos ição mineralógica e qlllmtca dos
) caracterização do espaço poroso e grau de uniformidade das partículas presentes. constituintes dessa fração podem cor.fribuir significativamente para a obtenção de
. melhores resultados de análisf.".s laboratoriais para determinar a granulometria do solo.
Considerações a Respeito·da Determinação da Textura do Solo Estudos nessa direção foram desenvolvidos por Vitorino et ai. (20_03). Segundo esses
autores, a composição mineralógica e química dos solos tem efeito marcante na.dispe~são
· Coiúorme mencionado anteriormente, a t extura constitui-se numa das características da argila, com reflexos na fração silte; maiores teoJes de gibbsita provocam ma ior
físicas 'd o solo mais estáveis, _da{ o_fato de apresentar grande importância tanto na . estabilidade dos agregados do tamanho de silte, .enquanto o. aumento dos teores de
1 identificação e classificação dos solos, quanto na-predição de·seu·c omportamento. Assim çaulirúta proporciona efeito inverso e; as'formas de AI determinadas ná fração pseudo-
sendo, algumas considerações precisam ser feitas com rela~ão abs proced:iro.entos de análise, silte estão associadas à maior dificu1dade de dispersão da fração i,irgila do solo.
)
exatidão dos resultados e sigrúficaâo dos mesmos. Desde a proposição.dos métodos de . ,Finalizando essa,s considerações, é importante. destacar e questionar a afim,ativa
) análise, há quase :Jm século, pequenos.foram os avanços registrados. Vfa de regra os feita pelos clássicos autores Kohnke & Franzmeier (1995) segundo os quais os melhores
métodos têm sido adotados universalmente conforme suas proposições originais, sem solos do ponto de vista flsico seriam aqueles que apresentassem cerca de 10 a 20 % de
qualquer questionamento, mesmo sabendo-se que o clima detemúna·o conjunto de . argila, silte e areia em quantidades aproximadamente igúais e uma boa quantidade de
propriedades da maioria dos solos. Não se pode perder de vista que a textura refere-se matéria orgârúca. Essa afirmativa só é válida para condições de clima temperndo por
única é exclusivamente à distribuição proporcional das part!culas inorgânicas que compõem duas razões distintas. A primeira, conforme.discutido anteriormente, está relacionada
determinado solo <panto ao tamanho, não apresentando conotação qualitativa, notadamente com o fato de os.solos brasileiros serem pobres emsilte.ea;i. razão do avançado estádio de
. relativa à sua composição mineralógica . .Sc1be_-se, pelo .estudo da g~nése dos solo~, que inteµiperismo:- A seg~da diz respeito ao comportamento de alguns .solos brasileiros.
· partlê:ú.Ias do tamanho de areia e silte, pela ação dq intemperismo, Lrà.nsformrtm-se em argiia. • Via de regra, solos mµis jovens; qu~ndo possu~lll qúantidades apréciá,veis dessa fração,'
Os.mineràis n:iais· resistentes ao intcmpcrismo permanecem na.forma de ·aréia e a fração· apresentam comportamentos restritívos à sua utili7.aç'ão iI1cliscrimin_a da pe.la:propensão
silte, via 'de consequência, em função da sua instabilidade, passa a constituir oindicador ·à formação de selo superficial, com reflexos no :r;nanejo dos mesmos, seja,pelas implicações
do .grau de intemperism.o do solo. Desse modo,<; consensual e universal a expectativa que no estabelecimento das culturas, seja pela susceptihilidade à erosão. Depree11de-se
'somente os &o!os mais jovens devam apresei:,tar elevada práj:,orção de silte. portanto gue, emborn pouco se tenha avançado .:iu se.possa avançar .nos métodos de
Entretanto, e com muita propriedade no .Brasil, a composição' mineralógica das determinação da textura, o mesmo não pode ser d.it() com respeito à interpretação dos
partículas assume papel de destaque no comportamento físico dos solos. Embora o Ilrasíl seus resultados e ao melhor entend.imento do comportamentQ dos solos brasileiros,

FlsrcA oo SoLo Fl~ICA DO SOLO


)

I - CARACTERIZAÇÃO FÍSICA DO SOLO 13


) 12 MOZART Mfl RTlNS F ERRE!AA

) Seguindo racioclnio anál ogo .à área de gênese, ressalta-se que o tipo de estrutura
Todos os fundamentos e procedimentos metodológicos _para determinação da textura
parlicular de determinado solo é consequ~ncia dos processos ger ais de desenvolvimento.
do solo enco ntram-se devidamente tratad os em publicações especializadas como as de
Assim sendo, os fatores de formação do solo - material de origem, clima, tempo, organismos
Dane & Top,p (2002); Embrap a (1997) e Ruiz (2005).
e relevo - podem todos influenciar o aparecimento de determinada estrutura. Dentro desse
contexto, a Ci~ncia do Solo no Brasil possui vasto conhecimento ·a respeito da gênese das
principais classes d e solos ocorrentes no Pais, sobret udo na classe dos Latossolos. Embora
ESTRUTURA DO SOLO . possa parecer dispensável, é importante ressaltar que·apenas a estrutura do horizonte
diagnóstico de subsuperfk ie (horizonte B) é que se encontra associada a dada classe de
A Estrutura do Solo refere-se ao arranjo das suas partk ulas. Sem entrar no mérito de solo. Independen temente dos fatóres e processos de formação do solo, as camadas mais
qual seria uma mais exa ta definição do termo, a specto amplamente d ivulgado na literatura, superficiais, mantidas em condições naturais, podem corresponder ou não com o horizonte
pode-se seguir a linha de raciocínio proposta p or Mar cos (1968), segundo a qual o estudo A, são muito influenciadas pelas atividades superficiais, notadamente a atividade biológica
da estrutura do solo d o ponto de vista morfol ógico e genético refere-se à maneira como a e apresentam invariavelmente estrutura granular grumosa. .
massa d e terra rompe-se pela aplicação de força. Do ponto de vista físico, é o arranjo e Uma tentativa de proposição de um modelo de estrut~ração para os Latossolos
disposição das partícul~s que compõem a massa de terra, formando um 6istema poroso. brasileiros foi apresentada por Ferreira et. al. (1999a), tendo como base o consagrado_
Esses dóis conceitos, embor·a relacionados, representam pontos de vistas distintos. A modelo de Ilmerson (1959). Os atJtores trabafüaram com amostras·dos horizontes Bw de
esu·uturação do solo no sentido morfogenético é puramente descritivo, Pnqmmto; do ponio diferentes Latossolos da região sudeste do Brasil. Após a respectiva caracterização
de vist a ffsi co, é funcional. Para o perfeito entendimento dos processos que ocorrem no m orfológica, qulmica, flsica, mineralógica e mi.cromorfológica, foram propostos os
solo, t odavia, é impossível d issociar esses dois enfoques, visto que existe forte relação de seguintes modelos de estruturação: · ·
causa-efeito entre elP.s, haja vista que o objeto d e estudo é o mesmo. Muitas interpretações
a) Para Latossolos gibbsíticos: Na figura 3 observa-se a microestrutura de um Latossolo
são referid as como contraditórias porque se basei<1m em resultados obtidos segw1do uma
Vermelho distroférrico cujo plasma aglutinado apresenta excelente estrutura micropédica
visão unívoca acerca desse importante atTibuto d o solo: Isso significa dizer, por exemplo,
(micropeds arredondados). Esse solo apresenta pr edomínio de gibbsita na sua fração
que uma mesma estrutura, segundo o ponto d e vista descritivo, pode condicionar diversos
argila eno perfil macroestrutura gran ular muito pequena. A figura 4 representa o modelo
ambientes fisicos, que se t raduzirão em dife1·e ntes comportamentos do solo e vice-versa.
de estruturação proposto para Latossolos gibbsíticos. O modelo gibbsltico ímplica,
• 1 portanto, o desenvolvimento de macroestrutura do tipo granular, com pequenos grãos
) Desenvolvimento da Estrutura do Solo soltos, com .:ispecto de maciça porosa " in situ". · ·

P ara qu e se·p ossa enten der o desenvolvi.tnento da estrutura do solo, há necessidade


de defi ni-la com bastan te clareza, de forma a atender ao mesmo tempo o ponto.de vista
· ;, fti. · ~ . '
)
genético e funcional: Dentro dessa premissa, uma das definições mais abrangentes para
estrutura do solo é que pode ser corisiderada suficiente para o propósito em questão foi
... ,+)·-
~
;:-,t~~-'.,. .. .~ ~'
~·-·~~~-
· apresentada p o~ Marshall (1962). De acordo com essa definição, entende-se pelo termo · ~ t - --~ . ·.""l... ,, :_..
) estrutura uo arra nj~ das partícu las do solo e do espaço· por_oso entre elas; incluindo
r, · ~ -
.:iinda o taman ho, form": e arraT1jo dos agregad os fo rmados quando p art!culas primárias
> .'
se agrupam e m unidades separávcís". Nessa definição encontram-se implk i Los alg uns·
) aspectos funda menta is que precisam ser d estacados. O p rimeiro é que não existe solo ' .
sem estrutura, ou seja,' mesmo não havendo a ocorrência de agregados; as partfculas do
) solo pr oduz_irl!.o de:erminado arranjo que propiciará _definido ambiente.físico ao solo; as '
· .expressões estru turaçl(o e agregação. p assam a·apresentar $ignificados disti~tqs e, · ,.,
finaimente, q ue a ·est-rutura consti tu i-se n um atributo do solo de natureza êl.iri.âmica.
·Mesmo que a fortna·e o Íamanho ·d as unidàdes estruturais não ~e àltererii, uma simples .· ' ,:-,• .
mudan (;a na sua disp~sição, com c'onsequerité alteração.do espaço poroso, determinàrá .....•: ,

..·
.
1
novo comportamento d os processos que ocor rem dentro d o.solo.-Esse úHimci aspecto é,.
sem dúvida alguma, o ·grande gerad o r de co"'t rovérsias qu ~ndo se búsca associar a
caracterização da estrutura e seus efeitos nos mais diversos estudos que envolvem 11s
Figura 3. Aspecto de microestruturn de wn Latossolo Vermelho distro!énlc~ (Llltossolo Roxo) mos-
trando grãos de qu~rtzo (Q) e plasma aglutinado (A), ·
) Fonte: Fcrrelrn ct ai. (1999a). ·
relações solo-água-plan ta.

i F iS ICA DO SOLO
f iS I CA 0 0 SOLO
14 MOZART MAitTINS FERREIRA I - CARACTERIZAÇÃO FÍSICA DO SOLO 15

• Hematita • Hematita
c==i Gni:thita
D Goethita

Figura <1. Modelo de arranjamento de partfnilas d~ quartzo, gibbsita (A} _e óxidos de Fe (B} o.m Figura 6. Modelo do arranjo de pnrtículos de quartzo, caulinita (A), óxidos de Jle (B) e matéria
agregado de Latossolo gibbsltico. orgânica (C) em agregado de Latossolo càulin!tico.
Font·e : Ferreiro et 111. (1999a). Fonte: Ferreira et al. (1999a).

b} Para Latossolos cauliníticos: A figura 5 mostra o aspecto da microestrutura de um Os modelos de estruturação apresentados por Ferreira et ai. (1999a) estabelecem que
Latossolo Amarelo cóeso <los Tabuleiros Costeiros, em cuja m.incralogia da fração argila
caulinita e gibbsita são os constituintes mineralógicos responsáveis pelo desenvolvimento
predomina a caulinita e macromorfo1ogicarnente a estrutura apresenta aspecto de maciça
da estrutura dos Latossolos. Os óxidos de Fe, goethita e hematita, embora importantes
coesa "in situ", Observa-se que a distribuição dos grãos de quartzo em relação ao plasma é
para o Sistema Brasileiro de dassificação de Solos, pois são responsáveis pela coloração
porfirogrâ.nica, 'isto é, os grãos estão envoltos num plasma densq, continuo, com pouca
do solo, possuell). atuação discreta na formação da estrutura dos Latossolos brasileiros.
) tendência ao desenvolvimento de núcroestrutura. A figura 6 'representa o modelo de
A matéria orgânica pode participar dos dois modelos, atuando de manéiras diferentes.
estruturaç11o paraLatossolos cauliníticos.Nesse modelo, como consequência do ajuste face
a face das lâminas de caulinita, l1á o desenvolvimento de macroestrutura do tipo em blocos.
., Em ambos os modelo, ela pode atuar diretamente como agente cimentante_. Em virtude de .
seu baixo teor no.horizonte B, essa participação é bem discreta. De outro modç,, a matéria . ·
·o rgânica atµa governando o tipo_de óxido de Fe presénte, daí seu aparecimento apenas
,. no modelo do Latossolo caulinltico:
.Associando os modelos propostos a resúlta<los de çaracteriza.ção de alguns atributos
físicos ·do solos, Ferreira et ai. (199%) demonstraram _que,. comparativamente aos
Latossolos·gibbsfticos, os T.a l'osso.los caulin!ticos apresentam màior densidade do solo,
' .. menor estabilidadé~de agregados em água, menor rnacroporosidade e menor
permeabilidade. Outra constatação interessante é que a permeabilidade dos Latossolos
aumenta com o teor de argila.
Os modelos proposto·s p'o c\cm ser · considerados como uma tentativa de
s.istema tizar· ou compil:g o vasto conhecimento, acum~lado nos estudos e ,
. d isponibilizado nas inúmeras publicações das diversas-árcas:da Ciência do Solo no .
_J Brasil.: e no.mund~. Dentro ·desse c.o ntexto, ·a lgúmas inferênci'as ·podem ser··feit11s.no_'
sentido d~ ~e estab~lecer um~ c~mparação, _a inda que bem gerai, entre o compo~tamento .
Hsico dos solos tropicais, notada.mente dos Latossolos, e solqs de clima temperàdo
F_igura.5." Aspecto de micro·estrutu~a de uln Latossolo Amarelo mostrando· a distrib~ição ·· ·i:ndistintàmente. A primeira consider\"çl'io para reflexão ·é a que; numa visão ·b em
porfüogrânica (P) dos grãos de quartzo (Q) em relação ao plasma. ampliada, os Latossolos cauliruticos, representados'pelos LatossolosAmarelos coesos
I'ontc: _Ferreira et ai. (19990).

FÍSICA DO SOLO f iSICA DO SOLO


)
)
16 MOZART M.o,1<TíNS FERRE IRA l - CARACTERIZAÇÃO FÍSICA DO SOLO 17

dos Tabuleiros Costeiros, encontram-se numa posição intermediária entre os extremos, Avaliação da Estrutura do Solo
representados de um lado pelos solos de clima temperado e de outro pelos Latossolos
gibbsfticos. Essa afirmativa que pode ser considerada bastante óbvia, quando se pensa · Várias tentativas de av~Iiar a estrutura db solo, dependentes de cada situação em
em desenvolvimento genético dos solos, é válida também para o entenqjrriento do particular, partem do pressuposto que geralmente solos bern estruturados oferecem
comportamento físico desses solos. Ficou estabelecido que a estrutura dos'Latossolos melhores condições para o desenvolvimento das plantas e ·a persistência dessa
é reflexo da mineralogia da sua fração argila e, por analogia, esse raciodnio pode ser estruturação, de certa forma, opõe-se à degradação do solo. Sendo assim, na avaliação da
estendido para os solos de clima temperado. Assim sendo, a estrutura em blocos, estrutura, procuram-se atributos com vistas em dimensionar a porosidade e a distribuição
reflexo do ajuste face· a face das placas de a.rgila sHicatada, estaria associada aos de poros por tamanho e sua implicação relativa à permeabilidade e à rigidez dos poros,
solos menos intemperizados e a estrutura granular, consequência da ausência do bem como a estabilidade das unidades que compõem a estrutura do solo. É importante
ajuste anterior, presente nos solos mais intemperizados,, ricos em gibbsita. ressaltar a busca de 1ndices que possam servir como referenciais para qualificar as condições
Analogamente ao que conhece com relaçã_o à mineralogia, química e fertilidade do de estruturação dos díferentes solos, entretanto, dada a complexidade de se caracterizar a
solo, verifica-se também que, à medida que se modificam as condições de eslTUtura de determinado solo, de seu caráter dinâmico e da grande variabilidade espacial
o
intempcrismo, muda-se também corriportamenlo do solo rela~ivamentc aos atributos e dos fatores que podem influenciá-la, pouco se tem avançado nesse campo.
Hsi.cos associados à sua esfrutura. Os solos·menos intemperizados são duros e coesos · A avallação da estrutura · é reálizada tanto em condições de campo como' em
quando secos, apresentam baixa estabilidade de agregados em água, são plásticos e laboratório. Existe um número muito grande de métodos para esse fim e a tendência é que
pegajosos c1uando mulliadus "a permeabilidade está inversamente relacionada c·om metodologias sejam ampliadas continuamente. Além' de publicações específicas como as
a quari.tidade de argila.. A baixa estabilidade de agregados erri. água observada nos de Dane & Topp (2002) e Embrapa (1997), existe no Brasil uma divisão da Embrapà, o
Latossolos Amarelos dos Tabuleiros Costeiros demonstra que esses solos perdei:n o Centro Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento de Instrumentação Agropecuária
caráter coeso quando úm.idos, constituindo importante indicativo para a~ operações (CNPOTA), que se ocupa fundamentalmente com a pesquisa e desenvolvimento de
de 1nanejo dos mesmos. Contrariamente a es~es aspectos, os l.,atossolo8 gibbsíticos métodos e instrumentos para avaliaçõeE de atributos do solo. Assim sendo, não se justifica
são macios quando secos e friáveis quando úmidos, os agregados são bastante estáveis nesta seção analisar comparativamente os diversos métodos utilizados na avaliação da
em água, resistentes à erosão e muito permeáveis até quando muito argilosos. estrutura do solo.
Co11trastando com o que ocorre em relação às composições químicas e de fertilidade
A figura 7 representa esquematicamente uma porção do solo, considerada corrio um
do solo; esse comportamento dos Latossolos os qualificam .c omo possuidores de
) sistema trifásico, refletindo em dado instante a sua condiçuo estrutural. A avaliação da
condições físicas mais favoráveis às operações de manejo, quando comparados aos
estrutura é realizada por meio de algumas relações envolvendo a fase sólida, Hqu icla e
solos de clima temperado.
gasosa que se alteram qualitativa e quantitativamente, em maior ou menor grau, em
Independentemente da condição climática, é consensual o entendimento que a função da sazonalidade das condições climáticas e de forças externas.aplica.das·ao solo, ·
estruturação do solo modifica as manifestações dá sua composição textura!. Por outro notadamen.te aquelas P.nvolvendo_o se·J uso e manejo. .
lado, a elevada resistência à dispersão dos microag.regados de alguns .Latossoíos
brâsileiros mostra claramente que, ao contrário do que acontece em condições de clima
temperado, mais do que ·a textura, .a estrutura do solo reflete mais ·claramente o
comportamento físico desses solos.· .
As conside.rações feitas aqui pretendem unicamente apresentar uma disçus·~ão
--------------·

)
universalizada a respeito do desenvolvimento genético da estrutura dos solos. Dentró
desse contexto, entende-se que assim se apresentam as diversas class!!s de solos nas
suas C(?ndições naturais. Todavia, considerando que a estrutura é atributo dinâmico çfo
1 111;i =:=:=:=:=~~~=:=:=-.=: .
-------------: :
solo, sendo fortemente afetada por atividade biológica e notadamente por práticas de .
) manej~ do solo, b1Ja avaliação, Índepe'n dentemente das considerações feitas, pass·a a ter .
ui:rt' aspecto funcional. Assim sendo,.entende-se que nas avaliações que envolvem as ·
_!
·. relações soÍó-água·-planta·nãó é significativo o fato de o·$o lo·apreséntâr descritivamente ·
'; determinado tipo de estrutura, mas, sim, o ambiente produzido por aquele arranjo e a
sna persist~ncin on 11ão. A av,ili;,ção ·d esse ambi~nte é feita-pela determinação de uma
1 série d1útributos relacionados com a esl:ruturaçã_ó do solo, cuja discussão será apresentad~
) na seção:seguinte.' Figura 7. Diagrama representando o solo como um sist~ma trifásico.

FislCA DO S OLO FISTCA DO· SOLO


)
18 MOZART MARTINS FERREIRA
1 - CARACTERIZAÇÃO FÍSICA DO SOLO 19

Na figura 7, estão representadas as relações de massa e volume das fases sólida, estabilidade dos valores da p5 , é razoável admitir que·o manejo do solo poderá modificar
} líquida e gasosa. De acordo com a representação feita, a massa de ar (m,,) é desprezível. o séu valor ao longo do tempo, se, com esse manejo, houver alteração significativa no
A quantidade de água presente representa o conteúdo de água do solo, que pode ser conteúdo de matéria·orgânica.
expresso tanto em base de massa como em base de volume. Água e 11r ocupam o mesmo
espaço que são os poros, desse modo, o volume de ar (V.,) mais ó volume cfé.água (V.) Para determinar a p5, utiliza-se amostra de /erra fina seca em e_stufa ou terra fina seca ao
ar, nesse caso, com o ·conteúdo de água conhecido. A maior dificuldade nessa
equivalem ao volume de poros (V~....)- No solo, dependendo do clima e época do ano; as
determinação está na ·q uantificação do volume ocupado pela massa de partículas sólidas
quantidades de ar e água variam sazonalmente. Hip_oteticamente, o solo pode apresentar-
(VJ É exat~ente o procedimento de quantificação desse volume que define o método a
se provido de apenas duas fases e até mesmo de uma única fase. Quando con:ipletamente
\ serempregàdo na determinação da p5._Os métodos mais usados são o Método do PiC11ômclro,
saturado, o solo mostra a fase sólida e líquida e, quando completamente seco, apresenta
que usa água destilada desaerada sob vácuo, e o Método do Baliio Volumétrico, que usa
a fase sólida e gasosa. Com uma única fase seria a hipótese do solo numa condição de
álcool etfüco. Tanto a água destilada quanto o álcool etílico têm a função de preencher o
vácuo; como é o caso do solo lunar, nesse caso só ocorreria a fase sólida. A fase sólida é
espaço poroso da massa de partículas. Os dois métodos diferem bastante com relação
a única permanente no solo em qualquer circunstância, sendo, portanto, a que o
aos procedimentos de análise e todos os detalhes metodológicos para determinação de p5
caracteriza. A massa de sólidos (m,) representa a massa de solo seco em estufa (105 a
para ambos·os métodos, incluindo aspectos rehttivos à exatidão e precisão desses, poderão
110 •q e o volume de sólidos (V.) representa o volume ocupado 'a penas pelas part!cuJas
ser encontrados em Dane & Topp (2002) e Embrapa (1997).
do solo. Finalmente, o volume total (V,.,,,) representa o volume total de uma amostra do
solo com estruturá natural, ou seja, amostra jnddormada. Fazendo uso das relações de Várias são as aplicações de p, e, dentre elas, podem-se citar: cálculo da porosidade
massa e volume, obtêm-se alguns índices pa.ra avaliação da estrutura do solo. . · total do solo, cálculo do .tempo de sedimentação dás partículas na análise textura] e
separação de minerais leves e pesados, em estudos mineralógicos, envolvéndo a fração
grosseira do solo. ·
Densidade de Partículas
)
) A Densidade de Partículas ou Densidade dos Sólidos (P,, kg rri.·3), em textos antigos Densidade do Solo
também denominada Densidade Real, representa a relação entre a massa de solo seco em
0

estufa {m:, kg) e o seu respectivo volume de sólidos ou·part!culas (V,, rnSJ. Ela po de ~er A Densidade do Solo (p, kg rn·3), no passado também denominada Densidade Aparente
expressa pela seguinte equação: 1 e Dénsidude Gloánl, representa a relação entre a massa de solo seco em estufa (m,, kg) e o
seu respectivo volume total ( V, m 3), ou seja, volume do solo incluindo os espaço~ ocupados
m, pela água (V,) e pelo ar (V.,). De acordo com a figura 7, a P, pode então ser expressa pela
P, =V (7) seguinte equa_ção:

Das várias relações que são obtidas a partir dá figura 7, a p 5 é a única que não reflete
., . m
p = -1..
V (8)
as condições de estruturação do solo. A p 5 é um . atributo f ísico muito estável, .cuja
magnitude depende exclusivamente da composição_das part!culas sólidas. Dentro desse A pé um atributo que reflete primariamente .º arranjÓ das partículas c!o solo, que,
contexto, os valores de p 5 serão dependentes tanto das proporções relativas das frações por sua vez, define as características do sistema poroso. Por outro lado; qualquer
) mineral e orgânica, quanto ·da composição da parte mineral, ou seja, composição manifestação que pôssa influenciar a disposição das parl'fculas do solo refletirá
) -mineralógica do solo. A Ps pode ser interpretada também como sendo a média ponderada diretamente nos valores de p. Em síntese, num sentido amplo, a p depende da estru t1Jra
das massas especificas dos diversos componentes dafração sólida do solo. Na maior parte do solo em todos os seus aspectos. Inicialmente, diante da discussão apresentada a
) . dos solos minerais, a p5·varia de 2600a 2,700 kg m.J, refletindo a presença dominante do . respeito da gênese da estrutura do solo nas diferentes condições climáticas, tem-se que a
quartzo, cuja massa específica é igual a 2650 kg m'.;_A presença de óxidos de Fe e metais.' estrutura e, pçr.consequên~ia, os valores de ·p, são ~eflexos da composição mincralói,rica
) pes·a dos aumenta· o vaiar -d e p 5 , enquàntô a matéria orgãnic·a; ·com massa específica ao. -dà fração argila dos solos, Sendo assim; comparando diferentes solos ou cámaéfas de
) · redor de 1200 kg m:3, contribui _para .º .seu abaixamento. A titulo de exemplo ·da · ·s olos, encontra-se grande amplitude·de valores de p, reflexo.das diferentes.es_trúturas
. cÕntribuiçüo de cotnpostÔs ferruginosos na p 5 ; tem-se·que o horizonte B de Làtossolos apresentadas. Soi:nente 'na classe dos La tossolos bras,ileiros, são enco:ntraéfos nos seus
) Vermelhos.férricos pode apresei~tàr valores de Ps superiores a 3000 kg m·3, por causa·da horizontes diagnósticos de subsuper!fcie_(horizontes B,.), valores de'p variando de 900 a
presimç,i ne,110gnetitn; cuja massa especíiica é da ordem de 5200 kg m·3 • Em determinado· ~~~ .
solo, .os valores de Ps das·camadas mais superficiais; ricas e·rn matéria org5nica, são
Os valores mais baixos de p estão associados. a solos ou camadas de solos com .
relativamente inferiores a.o s. das camadas subsuperficiais. Não. obstante a graride
estrutura granular, ao passo que os valores mais elevados e.~tão associados à e'struturn

FISICA DO SOLO FisrcA DO SOLO


)
)
20 MOZART M~RTINS fERRE[RA I • CARACTERIZAÇÃO FÍSICA DO SOLO 21
J
> do tipo em blocos ou similar. Esse último aspecto motivou, dentre as várias correntes que uma amostra representativa do solo ou da camada de solo a ser avaliada. Essa amostra,
estudam o fenômeno da compactação do solo, a distinção entre crimada adensada e camada além de ser representativa no aspecto geral, deve apresentar-se individualmente com a
compactada. Assim, de acordo com Grohmann (1975b), a camada adensada seria aquela rnfoima perturbação possível, refletindo o solo na condição mais próxima possível da
cuja compacidade é devida aos processos pedogenéticos (adensamento), ~nquanto a sua condição natural. Dentre esses métodos, podem-se citar o método do anel ou cilindro
camada compactada é devida ao uso intensivo do solo (compactação). Além darfüneralogia, volumétrico e o método do torrão impermeabilizado. No método do cilindro volumétrico,
Ot.ltras características do-s olo interferem nos valores de p de determinado solo, podendó- introduz-se na camada de solo um cilindro de volume conhecido V (m3). A amostra de
se destacar a textura ·e o teor de matéria orgânica. Com relação à textura do solo, a solo contidà 'no cilindro é levada para secar em estufa a 105 -110 "C. ,A p será obtida
tendência é que solos ou camadas mais arenosas apresentem valores mais elevados de p. pelo relação entre a massa do solo sec? em estufa (m,, kg) e o volume do cilindro (m').
\
Um aspecto importante a ser registrado ainda com relação à textura diz respeito ao qúe · Considerando que a pé uma b'Tandeza intensiva, o tamanho da amostra (volume do
pode ser observado na classe dos Argissolos ou outras afins, q_ue apresentem horizonte cilindro) não representa qualquer risco quanto à representatividade do valor
B textural. Em solos dessa classe, o gradiente textura] verificado entre os horizontes A e encontrado. O importante é definir o tamanho da rimostra adequadamente em relação
B pode fazer com que o horizonte A, possuindo textura menos argilosa que o B, apreseme à espessura da camada a ser analisada. O método do torrão impermeabilizado utiliza
maior p . Ao contrário do q ue se possa inferir, nesse caso, a maior p do horizonte A não como amostra indeformada um torrão representativo da camada de solo a ser estudada.
implica necessariamente menor permeabilidade e o acréscimo de argila no horizonte 8 . Nesse método," a dificuldade está em se determinar o volume do torrão. Para tanto,
não caracteriza adensamento. A matéria orgânica também tem influência destacada nos utiliza-se algum composto qu[mico repelente à água que possa revestir e
valores de p dos solos. A participação da matéria orgâ11ica é fundamental na estruturação impermeabilizar o torrão. Normalmente, tem-se utilizado a parafina fundida à_
das camadas superficiais dos solos. Conforme comentado anteriormente, as camadas temperatura de± 60 ºC. O volume do torrão é d etermina do pesamlo-o .no a r e
mais superficiais dos solos apresentam invariavelmente estrutura granular grumosa. A mergulhado em água. Pelo·princípio de Arquimedes, calcula-se o volume do torrão
maior ou menor expressão dos grumos dependerá da quantidade e qualidade da matéria mais parnfina, que é igual à massa de água deslocada. Dedm.indo o volume da paraíina,
orgânico presente. Esse tipo de estrutura caracteriza-se pela elevada porosidade obtém-se o volume do torrão. Para ambos os métodos devem ser tomados cuidados
encontrada dentro e entre os agregados formados, que, por· via de consequência específicos e, mesmo assim, por serem diferentes, podem produzir resultados diferentes
deterr.ninorá valores ma is baixos de p, comparativamente a camadas mais subsuperficiais para amostras semelhantes.Os métodos não-destrutivos são aqueles cuja determinação
com menores teores de matéria orgânica. de pé realizada no solo em condições de campo, sem a necessidade da retirada de
Uma vez estabelecidos os condicionantes ·da p dos diferentes solos e tendo-se em amostras. Esses métodos fazem uso de técnicas especiais, inclusive que envolvem a
conta que a estrutura do solo é uai. atributo dinâmico, conclui-se então que os valores de aplicação de eriergia nuclear. Denh·e essas técnicas, destacam0 se a da atenuação ou
ppoderiio ser alterados pelo uso e manejo do solo, na medida em que se possa alterara moderação de nêutrons, absorção de raios,gama e raios-X. Os métodos não-destrutivos
disposição das partic:ulas d o solo. Assim sendo, o monitoramento dos valores de p ao são indiretos e necessitam <le calibração. Os métodos apresentados, destrutivos ou
longo do tempo pcderá fornecer informações importantes a respeito da infl1'ência do uso não-destrutivos, o'prescntam vantagens -e desvantagens e, como apontado no início
e manejo do solo na sustentabilidade da, exploração a que o solo acha-se submetido·."
Dentro desse contexto, muitos estudos n?°alizados destacam aspectos relativos ao tema
l dessa seção, esses aspéctos são_discutidos convenientemente nas publicações
espedficas citadas.
Compactação do Solo. Deve-se ressaltar ainda que existe·mais uma variável extremamente .· , O co·nhecimento do co'!'portamento da p_pode constituir importante indicativo das
importante a ser incluída nos estudos, envolvendo as alterações da p em função do uso ·, c·ondições de manejo de determinado solo. Como se sabe; o v"alor de p reflete, em última
e manejo dos solos. Trata-se do conteúdo de água no solo. Como se sabe, o conteúdo de análise, algumas dsis, características do sist ema poroso do solo. Como as raízes das
água afeta a consist~ncia dos solos e o grau de mudança da consistência, que é furtÇãO'
plantas d~senvolvem-se nos poros, admite-se que qualquer alteração significativa no
) dos atributos do solo, fará com que diferentes solos respondam de maneiras diferentes à
sistema poroso <lo solo pode resultar em interferência no desenvolvimento delas. Nesse
·semelhantes intervenções feitas, ou vice versa. Em estudos relativos à compactação do
sentido, a determinação da ppode servir de importante balisador na tomada de decisão ,

)
solo, não raramente explicita-se a preocupação de estabelecimento de valores de p
restritivos ao desffivolvime~tó do· sistema radicular das, culturas.- Diante. de· toda .i i
disc~ssão apresentada para se cara,cterizar a p, fica·.evidente àpresunção qt1e q~alq~ er
l
1
1
quanto ao sistema de manej() do solo_a ser ado'tado. Cohsiderando ainda que a dinâmica,_
'da água do solo=tení:urri componente irnportante associado com as características do seu
-sistema poroso, ela poderá correlacionar-se com a p. Assim s"endo, a determinação da p ·
estudo comparativo env~lve~do esse atributo deve levar em consideração uma m·a is· .
completa caracterização do solo. Essa preôcupação deve ser ainda· maior nas·recentcs
l · poderá servir de·indfrador da capacidade de armaze1;1amenfo de água para às piantas,·
) envolvendo estudos de disponibilidade de água ·para ·as plantas. Ainda dentro desse
· correntes de estudos que· buscam o desenvolvimento de modelos.,parn expressar a . · 1 contexto, appoderá auxiliar na ~mada de d ecisão quanto ao estabclccitnento de práticas
sustentabJiid àd~ dos diferentes ststemas de uso e manejo dos s_olos. · ·
I agronômicas vfsando à conservação do solo e água e ainda constituir imp01·t'a:nte variável
Existem vários métodos de determinação da pque podem ser agrupados em métodos para a elaboração de projetos de engenharia nas áreas de irrigação e drenagem. ·
}
destrutivos e não-destrutivos. Os destrutivos são aqueles que dependem da retirada de

ffsrcA DO SOLO FlsrcA oo Soto


) 22 MOZART MARTINS FERREIRA I • CARACTER!Z.!\ÇÃO FÍSICA DO SOLO 23
)
Porosidade do Solo A caracterização do sistema poroso é importante nos estudos que -envolvem
)
armazenamento e movimento de água e gases no solo; em estudos do desenvolvimento
A Porosidade do Solo ou Porosidade Total (a, m3 m •!) represer\ta·li.fração do solq em do sistema radkular das plantas; em problemas relativos ao fluxo e retenção de calor e
volume.não ocupada por sólidos. Fazendo uso das relaçõés de massafê volume . nas investigações de resis_tência mecânica dos solos. Para tais propósitos, contudo, a
representadas na figura 71 tem-se: simples determinação da porosidade total fornece informações de utilidade limitada,
sendo fundamental o conhecimento da distribuição dos tamanhos dos _poros do solo.
V,, . V.,+ V,
a=-= - - - (9)
V V Distribuição de Poros por Tamanho
' A determinação da porosidade total constitui-se na mais simples caracterizaçf'io
A utili:.:ação da distribuição de poros por tan,anho como um a tribu_to ffsko do solo
parcial do sistema poroso do solo. O cálculo da porosidade total pode·ser realizado a
requer a aceitação de que o espaço poroso do solo pode ser representado pelo modelo de
partir das determinações das densidades do solo e de particulas, bastando para tanto
capilaridade. Dentro dessa premissa e segundo Kiehl {1979), foi Schumacher ainda em
apenas as conversões dos dados de densidades para volume.
1860 o responsável pela classificação da porosidi\de do solo em duas categorias:
Da equação 8 deduz-se que microporosidade e mncroporosidade. Os microporos são importantes para a retenção e
arma7.enamPnlo rle água pelo solo, ao passo que os macroporos são responsáveis pela
infiltração, rápida redistribuição e aeração do solo. Os valores limitrofes de diâmetro para·.
(10) separar as duas classes são arbitrários e por isso mesmo variam nos diferentes estudos. A
importância relativa desses conjuntos de poros depende, dentre outros fatores do tipo de
Do mesmo modo, pela equação 7, obtém-se , cultivo, condições climáticas, posição do lençol freático, possibilidade de irrigação e controle
ambienhll. São encontrados valores variando de 30 µm (0,03 mm) a 100 µm (O, 10 mm), com
uma ligeira tendência de generalizar-se a adoção do valor 50 µm (0,05 mm).
(11) Conforme estabelecido anteriormente, os núcroporos são responsáveis pela retenção
. 1 de água e os ma,c roporos pela drenagem e aeração ·do solo. O solo como meio de
A divisão da equação 11 pela 10 resulta em crescimento das plantas deve proporcionar ambiente favorável à germinação das
sementes, emergência das plãntulas1 e$tabclccimcnto e funcionamento do sistema
radicular da cultura. Dentro desse contexto, foi demonstrado que, além da importância
(12) de atributos quimicos e outros-físicos, o desenvolvimento das raízes e o cre•scimento das
plantas estão diretamente relacionados ·c om a porosidade de aemção do solo. A aeraçãcr do
solo consiste na troca gasosa do CO1 presente no espaço poroso pelo 0 1 atmosférico. O
Como VJV representa a fraç~o do solo ern volume ocupada por sólidos, e a
CO1 é produzido e o O2 é consumido no solo no processo respiratório das ralzes <las
p~rosidade tota l é definida c9m,o a fração do solo em volume_n ão ocupada por sólidos,
plantas e pela atividade dos microrganismos aeróbicos. Considerando que a taxa de
tem-seque:
difusão tanto doCO,como do O,naágua é 10.000 vezes menor que no ar, há necessidade .
que parte da porosidâde do solo seja constituída de macroporos, para que a aeração da
solo seja realizada adequadamente. Estudos desenvolvidos por volta de 1940 mostraram
(13)
que porosidade de aeração inferior a 10 % é prejudicial para a produção agrícola. Esse
valor foi adotado como referencial e tem sido u tiliz:ado como índice da qualidade física
O arranjo ou a geometria .d as partlculas do 's olo det~rminam_a quantidade.e n;tureza. do solo nos estudos envolvendo a caracterização da distribuição de poros por tamanho ..
dos poros existentes.' Con:i,o as partículas variam cm tamanho,· forma, regularidade .e · O assunto é discutido com mais detalhes ilo Capilulo IV do presente li~ro.:
ten_d ênda de expans.ã o_pel.a água,"os poros düerem consideravel.m'entc quanto à forma;
· ConsidÚando a d i~tt:ibuiçã6 de poros por !~anho.uma fu~ção da estrutura e-textura
comprimento, largura ·e tortuosidade e·princip;ilmente continuidade. Todas as variávefs
·.do soio, mais uma·vez' há necessidade de·avaliar o comportamento dos Latossolos
· c_ondicionantes da estruh.m1, portanto, incluindo ainda t~xtura e matéria ·orgânica, .
· brasileiros·co~parati,v arnente a·outros solos, nota damente com os de clima temperado.
influenciarão os valore" da porosidade total do solo. Co11,.iuérando ·o s valores de pe P, dos ·

-
Conforme· discutido nà seção relativa à gênese da estrutura, os Latossolos gibbsíticos
diferentes solos,· estima-se que a porosidade total deve· variar ·entre 0,30 e 'o,70 m 3 m.J,
apresentam estrutura granular. Esses solos, embora possam apresentar textura muito
constítuindo-se ainda num· atributo bastante influenciado pelo uso e manejo do solo. ·
argilosa, sãomÚito permeáveis à água, reflexo de uma.elevada macroporosidade. Ferreira

FfsICA DO SOLO Fi5ICA 00 SOLO


24 MOZART MARTINS fEAAEJRA I • CARACTERIZAÇÃO FiSICA DO SOLO 25

et al. {1999b), trabalhando com Latossolos da regiãosudei,te do Brasil encontraram va !ores A literatura apresenta nu merosos trabalhos que buscam caracterizar a estrutura
de macroporosidade variando de 0,13 a 0,29 m 3 m·3 • Embora todos os solos fossem do solo por meio da análise de agregados. Considerando que os propósitos das análises
atBilosos, os menores valor es associaram-se à presença de caulinita na fração coloidal e são d iferentes, uma variedade de procedimentos tem sido usada. Dentre os fatores que
os maiores valores à presença da gibbsita. Os Latossolos gibbsfticos são bastante porosos afetam a agregação, a água (!, pr ovavelmente, o que mais atenção tem recebido dos
e apresentam u_m equillbrio entre as quantidades de macro e microp·oros. Sehdo assim, pesquisadores. Os estudos realizados partem da premissa de que ·a s características da
apresentam boa retenção de água e excelentes condições de aeração. Submetidos a chuvas· agregação que resistem à ação da água· têm importância e significação para ·o
intensas, cara'c terísticas do clima tropical, esses solos drenam rapidamente, não comportamento do solo e·m condições de exploração agrlcola. Assim sendo, o método
oferecendo q ualquer restrição ao desenvolvimento cio sistema radicular das cu lhuas. mais u tilizado tem sido o método do peneíramento úmido, proposto p or Tiulin em 1928 e
Esses resultados demonstram mais uma vez as excelentes condições físicas p resentes em m odificado por Yoder em 1936. Essa técnica envolve a t.1tilízação de urna amostra de
a lguns Latossolos brasileiros, notadamente naqueles presen tes no domínio agregados {com tamanhos variando, por exemplo, de 4,76 a 8 mm) secos ao ar, que são
pedobioclimático do cerrado. fracionados em várias classes de tamanhos através de peneiras com diferentes aberturas
de malhas que são agitadas dentro de um reservatório com água. Normalmente, são
utilizados conjuntos de peneiras com aberturas de 2, 1, 0,5, 0,25, 0,105 mm e ou tras,
Estabilidade de Agregados dispostas sempre em ordem decrescente, que são.agitadas em água por determinado
intervalo de tempo.
Quando duas ou mais part!cu.Ias primárias agrupam-se e a forç'à qnP. -~me 1a.is
parUculas é maior que a força de união entre partfculas adjacentes, fica caracterizada a A avaliação da estabilidade de agregados, em que pesem as variações de .
formação do agregado. O pré-requisito para a agregação é que a argila esteja floculada. procedimentos anallticos encontrados nos diferentes laboratórios, tais como: número e
Entretanto, a floculação é uma condição necessária mas não suficiente. A coerência dos tipos de peneiras utilizadas, tempo e velocidade de agitação e, ainda, padronização do
agregados requer a presença de substâncias cimentantes. No it-em Desenvolvimento da conteúdo de água na amostra pelo pré-umedecimento, constitui-se numa determinação
Estruturn do Solo, discutiu-se sobie ~estruturado solo, tendo-se concluído que, em última extremamente simples. A 8Tllnde cilliculdade da análise de agregados estó justamente na
análise, a qualidade do rnaterial coloidal, reflexo das condições climáticas, é responsável . definição da melhor maneira de expressar os seus resultados. Neste estudo, de maneira
pela estruturação do solo. Naquela ocasião, proc u·r ou-se chamar a atenção para o fato de geral, busca-se expressar os dados rel ativos à distribuição de agregados por tamanl10
que estruturação não era sinônimo de agregação e a discussão feita ficou circunscrita ao por um simples índice, como propósito de testar diferenças no comportamento dos solos
desenvolvimento _d a estrutura dos horizontes d iagnósticos de subsuperffcie. ou entre os tratàmentos a que fora submetido o solo, bem como correlacioná-l os com a
A análise da estabilidade de agregados normalmente é feita no rruiterial represen tativo produção das culturas. Dentro desse contexto, a estabilidade de agregados pode ser
das camadas superficiais do solo. Essas camadas têm sua estrutur~,ão influenciada; expressa por índices tais como: % agregados >2 mm; % agregados> 1 mm;% agregadoR >
prioritariamente, pela atividade biológica, razão da presença invariavelmente da estrutura 0,25 mm; diâmetro médio geométrico (DMG); diâmetro médio ponderado (DMP); diâmelro médio
do tipo grumosa. Esse aspecto é de extrema importância que seja ress~ltado, Lendo cm ajuslado (DMA), dentre outros. · ·
conta que ficou demonstrado, anteriormente, que a q ualidade do material coloidal é O diâmetro médio geométrico (DMG) que tem tido a preferência de utilização foi
responsável também pelo ·grau de estab ilidade dos agregados . das camadas· proposto por Mazurak {1950) e originalmente pode ser calculado pela seguinte expressão:
subs_uperficiais do solos, porção do perfil com quase total ausência de atividade biológica ..
1
A avaliação da estabilidade de agregados é a avaliação da distribuição de agregados· !1
por tamanho, considerando a elevada correlação verificada entre esses aspectos rel ativos
. 1
à estrutura do solo. A importância da avaliação da distribuição de agregados por tamanho (i4)
está no ia to de que o tamanho do agrega do determim1 sua suscep tibilidade ao movimento
pela água e vento e é importante na determinação das dimcnsões·do espaço poroso em
solos cultivados. Nos ·e studos relativos à estabilidade de agrega cios, bui,ca-se av~líar a
ação _de_forças responsáveis pela_destruição dos . agregados do. solo, estando elas · send o:
relacionadas com o cultivo d o solo, erosão ou ó simples umedecimento solo. O importante_ DMG =diâmetro médio geométrico (mm)
. é ter-se em mente que a persistência de estrutura do solo é fundamental para o suprimento w l = massa de·agrega.d os na classe de tamanho com: d iâmetro méd io X;
de áb'1la e I]U trientes, manutenção de elevadas taxas d e infi1tração de água no solo,
resistência à ·erosão, manutenção de um equiHb1io favorável para o crescimento· e 'I, w, ·;, ~assa total da amostra
desenvolvimento das rafzes das plantas e, consequentemente, concorre para a manutenção. i• t

das ativid ades de exploração dos solos agricultados sustentáveis.

F fSICA oo SOLO FfsiCA DO SOLO


26 MOZART MARTINS fER\EIRA . I - CARACTERIZAÇÃO FíSICA DO SOLO 27

Considerando que a grande parte d os laboratórios brasileiros expr essam em% os GROHMANN, F. Porosidade. ln: MONIZ,A.C., comd. Elemento; de pedologia. Rio de Janeiro,
resul tados da distribuição de agregados por tamanho, as seguin tes variações da expressão Livros Técnicos e Cíentfficos, 1975a. p.77-91.
original de Mazurak (1950) são utilizadas: GROHMANN, F. Compacidade. ln: MONIZ, A.C., coord. Elementos de pedologia. Rio de
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i>1
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F fsICA DO SOLO F !SJCA DO SOLO


II l\1ECÂNICA DO SOL0 1

José Miguel Reichc;t", Dalva n José Rei nert'I, Luis Eduardo Ak iyoshi Sanches
Su zuki 31 & Rainer Horn"'

11Prof@ssor do Departamenlo de Solos, Universidade Fed•ral de Santi\ Maria (UFSM).


reichert@smaiLu fsm .br
' 1Professor d o Depa r tamento de Solos, Un iversidade f'ederal de S,, nta Maria (UFSM).
dBlvan@ccr. ufsm.br
"Professor do Oepart•mento de Solos, Universidade Federal de Pelnlas (UPPel).
luis.suzuki@u fpe l.ed u .br
41Profossor do l nstltut fU r Pflan?.PnnnNhnmg u nd Hodcnkunde, Chrisllan ..J\lbroch to~Univcroitltt
(CAU), Kie l• Alema nha.
rhorn@soi!..uni· kiel.de

Conteúdo

INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................. 30

CARACrERfsTICAS GERAIS DO SOLO ............................................................................................................ 31

CONSlmNCIA DO SOLO ................................................................. ................'...................................................... 33


Formas de Consistên<;la .......................................................................: ....................................................:.....:.......... 36
Limites d e Consist~nciR ....................................................................................:..................................................... 3 9
Reotropia ...........................................................................: ...................................................................................... 39
Atividade de Argila ................................................................................................................................................... 10
TEORIA DOS PROCESSOS.MECÂNICOS DO SOLO .......................................:.................................................. 41
Teoria das Tensões ................................................................................................................................................... 41
Teoria d a Deformação ............................................................................................................................................... d4.
Relações entre Tensão•Deformação ......................................................................................................................... 4 7
DEFORMAÇÃO DEPEN U!:N'J'E DO TEMPO ....................................................................................................... 5 1 ·
RES!Stl:NCIA DO SOLO .................................................................: ..........., ...........................................'.................... 54
Avalinçilo Úll Resistência ......:......:...,..................... ......:...........:........... ...:..............................................'................... 55

COMPRESSÃO DO SOLO ..................................................... ~ ..........:.............:..............- :.:.. .............: ................. 57


. Métodos para Avalia,llo da Compressl!o do Selo ..........:............,................................................................:..... 57

, ' llu:;tr.iÇ'Õ<:9 rcollzadas por Carlos Gust1vo Mutiru rtoelzcl e Bvandro Berto!., dt1 8q?ipe Multidisciplinar HTJC - BaD • UPSM.

S BCS, Viços•, 2010. Flslc,1 d o Solo, 298p. (ed. Quirljn de Jon g vM Lier).
30 Jost'.: M(GUEL RErCHERT E1 AL. II - MECÂNICA DO SOLO 31
j
Eslimotiva dn Pres,;io de Pré•consolidnç[o ........................................................................................................... 64 Dessas, as que impõem maiores alterações ao solo são a s pressões causadas pel as
) Descarregrunento das Pressões no Teste de Compressão Ur1inxial .................................................................. 65 máquinas.
CISALHAMENTO 00 SOLO ..................................................................................................................................... ú8 Quando submetido a uma pressão, o solo apl'esenta uma reação que é variável cm
Fatores que Afetnm a Resistência ao Cisalhamento de Areias ...............................:....................... ~/;............... 71 função do tipo de solo, do local e do tipo de máquina, de acordo com o manejo e condições
Resistência Inter e lntra-Ai;regadoo ..........................................·............................................................'.................. 72 estruturais. Por exemp lo, após seu revolvimento, o solo será compactado novamente
Causas Físicas da Resistência ao Cisn.lhamento dos Solos ................................................................................ 75 . · pelo tráfego na seme.a dura. Essa primeira compactação é denominada pré-compactação, ·
Teoria Adesiva do Atrito ......................................................................................................................................... 75 que afetará a resistência do solo das seguintes ·formas: · ·
Esforços Normais e Resistência das Part!culas do Solo ...................................................................................... 76· a) Em virtude da p:rê-ci:>mpactação, o número de partículas por unidade de volume
Métodos d e Avaliação da Re,ist~ncia ao Çjr.alhamcnto do Solo ...................................................................... 78 aumentará, ou seja, haverá um aumento d a densidade do solo. O conteúdo de
COMPACTAÇÃO DO sow .........................................................................................................:··· ..··...·................. 81 água ótimo para a compactação depende da pressão aplicada ao solo, que
Definição de Compactação do Solo ........................................................................................................................ 81 determinará sua intensidade;
Processo de Compactaç[o do Solo .......................................................................: ................................................. 81 b) a distribuição das partfculas será mais uniforme, pois os agregados podem ser
CONSOLIDAÇÃO DO SOLO .........................................................................'........................................................... 82 comprimidos e compactados. Sob elevado conteúdo ·de água, as parllculas de
argila podem ser forçadas a reorientar-se paralelamente, alterando o movimento
DENSIDADE MÁXIMA DO SOLO ........................................................................................................................... 82 rlP ~gua e de ar;
DIN ÂMICA DO SOLO ........................................................................................................................................,........ 84 . e) o vol4me de água aumentará coma redução do volume de solo;
Dir.tribuiçõo ·das Tensões no .Solo ............................................................................................................................ 84 d) a distribuição do conteúdo de água será alterada por causa da distribuição
Dislribuiç~o Unifotme d.1S Tensões em Corpos de Solo Finítos ....................................................................... 85 desuniforme da p ressão e do movimento das partículas do solo;
PRESSÕES CAUSADAS PELOS IMPLEM.llNTOS AGRfCOLl'.S ....................................................................... 90 e) as liga ções entre partfculas do solo serão estabelecidas e rompidas num processo
MEDIDAS PAl(A AlEN'UAR A DE['QRMAÇÃO DO SOLO ............................................................................. 91
seletivo, de modo que alguns tipos de ligações serão rompidos, mas apenas as
ligações entre as partk ulas minerais serão restabelecidas;
LTMTTES CRÍTICOS PARA A DEFORMAÇÃO DO SOLO ................................................................................. 93
f) a distribuição das ligações será mais homogênea e esse efeito será maior com o
APLICAÇÕES PBÁ'TICAS ............................................................................... :..............: ........................................... 94 aumento çló conteúdo de água.
Co11Sislo!nd" do Solo .. ...................................................................................................................................... 94 Várias publicnções abordam a mecânica do solo, tanto para a área da
Grau de Compactação da Sola ...................................................................................................................._. ........... 97 engenharia (Terzaghi & Peck, 1948; Holtz & Kovacs, 1981; Das, 19/l~; Ortigílo,
f<esisli!ncia do.Solo à Penetrnção ...................................................,...................................,..................................: .. 97 1995), como da agronomia (Koolen & Kuipers, 1983). No Brasil, existem textos de
mecânica do solo para a engenharia civil (Caputo; 1983; Vilar & Bueno, .1985;
' .
Pressão de Pr~-ronsolidaçno do Solo .....::.........................:.....'............... ,...:............................................................ 98

LITERATURA CJTADA ..................................................................................................:............................................ 98 Pinto, 2000; Fiori & Carmignani, 2001; •Azevedo, ·2007), mas não para solos
agrícolas e flores tais.
LISTA DE S1MBOLC6 E ABREVIATURAS .......................................: ..............:.......................................:............ 100

CARACTERÍSTICAS GERAIS DO SOLO


INTRODUÇÃO
Não há um conceito único desolo, pois o entendimento do que é o solo varia conforme
·. A mecânica do·solo é um campo da engenharia civiÍ, ligado à geotecnia, qué estuda. a atividade ou a for/J)ação profissional das pessoas. Além d isso, o solo apresenta diversas
o solo como um meio de sustentação de estruturas. Na agronomia, geralmente, a mecânica· . funções, .s endo possfvel elaborar um concéito para cad~.uma delas. O Sistema Brasiléj.ro
. do solo está inseridá junto à f.isica do solo, estudando o comportamento inecânico do de Classificação de Solos define-o como sendo uma .coleção de corpos nat urais,
. ·s olo e sua ·re.laç~o com as p lantas, com·os ,anim.àis e cc;>m as máquinas e·equipamentos · constituídos por partes sólidas, líquidas. e. ga.sos.as, tridimensionais, dinâmicas, ·
agrícolas e florestais. . · · · · · formadas pcir materiais· minerais e o.rgâ.nicos, que ocupa a· maior parte do manto
Na ·agricultura, pecuária .e s ilvicu l tura, o solo é s ubmetído a pressões :pelo' superficial das exte~ões continentais do nosso planeta, contém matéria v iva e pode
tr'áfcgo de.máquinas, pisoteio animal, forças impostas pelo crescimento das rahes ser v~getado na natureza onde ocorre e, eventualmente, ter sido modificado por
das plantas, peso das carnudas de solo e processo de umedecimento e secagem. interferências antrópicas.

f1SlCA DO SOLO flS!CA DO SOLO


)

)
32 José MrGUEL REICHERT ET Al.
II - MECÂNICA DO SOLO 33

Do ponto de vista da física, o solo é um meio poroso, não-rígido, trifásico (constituído


Nos tópicos seguintes, apresenta-se o comportamento mecânico do solo pelo uso .
pelas fases ar, água e solo), formado de partículas que apresentam complexidade de
agrícola, pecuário e florestal.
forma, tamanho e estrutura mineralógica, e de algumas partículas finítamente divididas
de maneira a apresentar uma grande área superficial. Este conceito da físiql'_do solo é
importante para entender seu comportamento mecânico. . f
A diversidade de solos, _·com suas características intrínsecas (físicas, químicas; CONSISTÊNCIA DO SOLO
biológicas, mineralógicas e morfológicas) e extrínsecas (relevo, pedregosidade e clima),
faz com que os solos apresentem respostas diferená adas ao manejo, tráfego de máquinas A consistência do solo refere-se às manifestações das forças físicas de coesão,
e pisoteio de animais.
entre partículas do solo, e de adesão, entre as partículas e outros materiais, conforme
Um solo sofre alterações no tempo, pela influência do clima, manejo e crescimento variação do conteúdo de água. É relacionada com a força de atração ent·re partículas
da plantas. Alguns fatores que determinam a resistência do solo e sua alteração temporal individuais ou entre os agregados dessas partkulas, sendo mais fácil perceber a
são: consistência do que descrevê-la quantitativamente. A consistência varia com o conteúdo
a) o número de partículas por unidade de volume e o volume'de poros: quando uma de água, textura, matéria orgânica, quantidade e natureza do material coloidal e o tipo
força atua em determinado volume de solo, a movimentação de partículas será de cátion adsorvido.
_determinada pelo seu número. Havendo mais partículas, as forças entre os pontos Além da t~nsiin snperficial, os solos podem apresentar coesão, em virtude das
de contato das partícul as serão menores; ligações de partículas por meio de pontes formadas por cátions; da atração
b) a distribuição espacial das parUculas e a distribuição do tamanho dos poros: as eletrostática· entre as partículas das argilas carregadas negativamente e dos bordos
par tículas podem ser distribuídas uniformemente no espaço, ou pode haver imperfeitos das argilas, que expõem cargas positivas; da atração entre partfculas
par tículas agregadas, alternando com espaços vazios. Neste último caso, as pelas forças de van der Waals, que variam inversamente com o cubo da distância
tensões concentram-se nas áreas mais densas e mais resistentes, pois os espaços entre as partículas; dos efoilos a greg~dores da matéria orgânica e dos óxidos de ferro
vazios tornam o solo rrienos resistente. Outra característica importante na e alumínio. Com o aumento do conteúdo d e água do solo, n área de contato aumenta,
resist<"ncia do solo é a orientação das partículas, pois esta nem sempre se enquanto a tensão superficial por unidade de área diminui. A coesão é mais efetiva
apresenta aleatória, ocorre.ndo tLma orientação paralela, tipo lâmina, em áreas quando as partículas individuais (especialmente a argila) são orientadas de modo
dffln~ ' que fiquem próximas entre si (Figura 1).
c) o conteúdo de água à base de volume no solo: a água nas camadas superiores do
solo está normalmente sob tensão, sendo as partículas aproximadas pela força ,
) resultante.·/\. determinada porosidade, o volume de'água presente determinará a
. área na qual as forças de ligação atuarão; · ·
d) a distribuiçao da água: um poro pode estar isolado ou conectado a outros pela
água. A distribuição da ·á gua e do tamanho de poros determina a tensão da água, . '\ .

li
que variará espacialmente, resultando numa distribuição mais uniforme da água,
pelo seu movimento na fase líquida ou gasosa;
e) as ligações ent~e partículas: a união da.s parl!culas do solo pode ocorrer por forças
entre partículas minerais,partfculas minerais e orgânicas, partícu1as minerais e
óxidos ou hidróxidos. e entre partku.las orgânicas e óxidos ou hidróxidos. Por .
li
Forte Leve grnu
outro lado, podem ocorrer forças repulsivas entre partfculas minerai_s com carga ·• ,c oes5o de cµesão.
elétrica similar; · · ·..· ·
às
f) a distribuição das ligaç°ões: ligàções podem oco~e~ nos po~tos de contato das ·: .
partículas, em maior ou menor proporção. Principalmente após o revolvimento
do solo, pode.ocorrer srande número de pontos de contato com ligaçõco fracao ou
muito fracas·. · · ·
.'l~;!~i;t~i~I~,•--,,,·,•-~::;1t~~)t~fií~J-
..
P1;aticamente
nenhuma toosão

Figura 1. Conteúdo de água e posição relativa das paxtículas de argila afetando a coesão.

FiSICA DO Smo
ffsICA DO SOLO

.1
)
34 Jost MIGUEL REICHERT ET AL, II • MECÂNICA DO SOLO 35

Por ser resultado da atração molecul ar e da tensiio superficial, a consistência A gibsita, os óxidos de :Pc (hematita, goethita) e a matéria orgânica tendem a
apresenta dois p ontos de máxima e dois pontos de mínima, em função do conteúdo de desorganizar as partículas no seu aspecto microestrutural', a carretando um arranjo mais
água, sendo elevada no extremo no solo seco, devido à coesão, e, novamente em solo casualizado das partículas de argila silica tadas, que geralmen te têm a forma laminar.
molhado, por causada adesão. A consistência é mínima em solo muito molhado.,e saturado Esse arranjo diminui a coesão e a adesão do solo.
) (Figura 2). Essas relações são signiíicativM apenas para solos com teor de argild:suficiente Em condições de campo, quando se está descrevendo um perfil de solo, procura-se
para permitir que a atração molecular seja e fetiva. A atração molecular de areia e silte é . determinar a consistência nos ttês estados de conteúdo de água: seco, úmido e molhado. ·
) pouco significativa. :J Solo macio (seco), muito fr iável (úmido), pouco plástico e pouco pegajoso (molhado) ·
) Além do teor de argila e água no solo, outros fatores também podem afetar sua indica riqueza em óxidos de Fe e AI, cerno é o caso dos Latossolos. Por outro lado, solo
consistencia: a) tipo de argila: argilomineral do grupo das esmectitas, como a duro (seco), fim1e (Cunido), muito plástico e muito pegajoso (molhado) permite inferir que
montomorilonito', imprime maior consistência do que o argilomineral caulinita3; b) se trata de solo pobre em óxidos de Fe e AI e bem provido de argilas com maior capacidade
granu lometria: a coesividade aumenta com ·decréscimo do tamanho de partículas; e) de troca catiônica, menos intemperizado e mais rico e.m nutrientes. Quanto mais argiloso
; matéria orgânica: causa maior coesão q ue areia e silte, mas menor do que a argila; d) um solo, maior a expressão das forças de coesão e adesão. Para solos com o mesmo teor
estrutura: um solo compactado tem maior coesão que os bem agregados, pois aquele de argila, quanto menos intem perizado e maior o teor de argilas mais ativas, maior será
apresenta mais áreas de contato entre part!culas individuais. A compactação orienta as a expressão das forças de coesão e adesão. O Quadro 1 relaciona o manejo e a mineralogia
partlculas de argila, de modo que elas fiquem paralelas entre si e preencham os poros com a consistência do solo.
maiores, reduz.indo o espaço poroso. Na secagem, a consistência aumenta, em virtude do
aume11to das superfícies de contato. Além d isso, colóidcs d ispersos causam maior Quadro 1. Relações entre a organizaç~o microscópica das parllculas de argila, condições em
consistC!ncia do que colóides floculados. que ocorrem e seu efeito na consist~ncia

Orgm ização
Partículas bem organizadas; aumento de Partículas mal organizadas;
coesão e adesão. diminuição de coesão e adesão.

Agentes :
Compressão; uso de máquinas · em solo . Presença de altos teores de. óxidos
. coin_ elevado conteúdo de água; argilns de AI, de Fe e matéria orgânica;
11 '---.....C' - - - ' - - -- - - -- - = - - - --100% com .ilta área superficial especifica; ciclos argila com baixa · área superficiai'
Seco Útnidu Moll\iH\O n~ll~i!~o Saturad o de expansão e contração. especifica (caulinita).
Condições em que ococrem com frequência
Solos desferrilicados, cinzentos e pobres Solos de natureza latossólica; solos
Figura 2.. Efeito do cont_eúdo dc_água nos dois principais componentes da consist~ncia do solo. em matéria orgânica; solos menos com altos teores de matéria org-anica
intemperizados; pobres em matéria orgfu:rica. e c.áJcio.
. . . ·Efeitos n a consistência ·
2
A monlmorilonlta, uma esmcctita Ii~a ctn t18- :8 u~ ~rgilomlnerai do ti~ 2;1, expans.lvo, c~m ~ubstitu ll;õee d..e. •
AP• por Mg2' noa octa,dros. Sua capacidade d e troco de cãtions é de 50 a 160 cmol kg·• • uma.,rea superficial Aumento de dureza, plasticidade e Aumento de friabilidade.
) · espccUica. em torno de 800 m1 g· 1, com gr:,mde capacidade de reler tons (C:1•1, ·Me•1, K•., etc.) e moléculas
(herhlcidu, compostos orgBnic:os, água) nos cntTCca.madas. _ ·
• A coullnlta e um argllc~eral do tipo l :l' nlo expans1vo. Na cau linita., as lâminas d e Si e'as d.e AI W'lcm-sc por ·
___ __
pegajosidade. ..,_
Fonto, Adaptado de Rcsénde et à.l. (2002).
) meto doe. oxigêo.ios aplc..ils do tetraedro, formundo u camadas, a.s quals ee reúnem entre si com muita rigidez,
por melo de pontes de H, tomando a estrutura rígida e n ão C!Xpanslvel. A cnu..llnlte, nos solos, apresenta .1pcnas
~ Agregados pequenos, mlcc0ttgrcgados arredondados· que podc-m
J a sua superlfcie ex.terna em contato com n fase liquida, por não &er expanuívcl, !lt>r menor que 1 mm de di.ftmetro.

FfSICA DO SOLO FISICA 00 SOLO

)
) 36 JOSÉ MIGUEL REICHERT ET AL, II • MECÂNICA DO SOLO . 37

Formas de Consistência Quanto maior o teor de argila, mais ampla a faixa de conteúdo de água em que o
solo é plástico. A matéria orgânica do solo aumenta a quantidade de água
As diferentes formas de consistência são resultantes das diferenças no·conteúdo de necessária para saturar a argila e ·tomar o solo plástico. Consequentemente, os
água no so_lo . A terminologia para consistência inclui termos distintos para ~,descrição limites de liquidez e plasticidade aumentam, tp.as o fadice de plasticidade
em três estados de conteúdo de água padronizados: seco, úmido e molhado, sem o que a praticamente não é afetado.
descrição do solo não será considerada completa. Consistência do solo quando seco: é
caracterizada pela dureza ou tenacidade. Consistência do solo quando. úmidÓ: é
caracterizada pela friabilidade. Consistência do solo quando molhado; é caracterizada
ESTADQDE
pela plasticidade e pela pegajosidade. CONlEUDO SfCO. OMIDO MOLHADO
DE GUA ·
Com a redução gradual do conteúdo de água, o solo passa de um estado fluído
ContE!i1dos · Conteúdo e· ld d Acitna da · · r,edo)Tlinio
para pastoso e de pastoso para pegajoso. Posteriormente, a pegajosidade desaparece de água Equi1lbrio de áuu,1 · apac ª e capacídadr. da fase
com O ar equivalente de rnmpo de caMpo líquida
e o solo pode ser moldado, sendo o solo, nesse conteúdo de água, pl ástico. Na
sequência, a plasticidade é perdida e o material torna-se difícil de manejar, e a um Fórmâsde Â- ........ ~ ... , ~- ...,- - .. ..... ,,. .. ..... -E- ... .. -- .. ., .. .. , .. -G~--...,-~.. , r _,,. ..... . i
conteúdo de água mais baixo, o solo adquire propriedades de um sólido. Mais
consistê~da Tena1 , ,. ",.." F11,\vt1:I g, ..i ' rlá5tica fr "'.,
0
~ ~r~ ~il H, ,. ' , Flmda

a lgumas considerações sobre as formas de consistência do solo podem ser


apontadas:
a) solo seco; caracterizado pela consistência dura ou te11az e a atração entre moiéculas
) sólida-sólida é elevada. As partículas, quando se separam, não se unem novamente.
A consistência em solos secos depende d11 quantidade de superfícies de contato
)
por unidade de volume; sendo assim, a te11acidade será màior quanto menores
forem as partículas. Para carac_terizar um solo tenaz, prepara-se um corpo de
prova umedecendo uma amostra de solo até o estado pastoso, e colocando-a em
) uma forma cilíndrica de 0,05 x 0,05 m. Ao secar em estufa e comprimir esse material
entre placas, o corpo de prova rompe- se em fragmentos grandes e produz pouco
)
material fino (Figura 3).
b) solo úmido: caiacterizado pela consistência friável; o solo mantém as partículas
ligeiramer:te aderidas e é macio. Para caracterizar a consistência friável,
prepara-se ~m corpo de prova com solo'ámido e, quando apresentar, ao ser aderência
comprimido, uma-leve deformaçi'io e sinais de rachaduras, antes de se romper,
atinge a consistência friável. O material resultante do rompimento é formado, ·
em sua rna:oria, de agregados que permitem a reconstrução .d o' corpo de prova
(Figura 3).
c) solo molhado: o solo no estado molhado .a presenta três formas de consistência: a
) plástica, a aderente e a fluida.A plasticidade é a habilidade de um material mudar
Figura 3. Fo~mas de consistência do solo de acordo com o conteúdo de água.
de forma continuamente, sob influência de uma pressão aplicada; e permanecer Fonte: Adaptado de Kiehl (1979).
. na nova for:na após remoção da pressão, diferindo do·material elástico, que retorna
à sua forma original ao _s e remover a pressão, e do_m atcrial l!quido.qu1:1 nãomailtém
sua p rópria forma sob pressão. A _consistência p_lástica caracteri_za-se pela A consistência aderénte, pegajo~a ou viséosa· ocorre em um conteúdo dé ág~a·
moldabillda~e sem perder sua.coer~ncia. Ao prensar o corpo de prova preparado . superior acida consistência plástica. O corpo de prova, nessa condição de conteúdo .
com solo molhado, ele llch atá:se sem se romper, podendo air1da ser moldado para · · . de água,' ·ao ser prensado, :achafa-se ·como ocorre na consistência plástica. Ao.
reconstituir o corpo de prova original. Apenas as menores particulas do sólo separarem-se, contudo, as placas da prensa, a amostra de solo adere a ambas as
(argi las e, até certo ponto; o silte) apresentam comportamento plásticó: A placas, fato que não é obse1·vado com u ~ulu na. consistência plástica. Na consistência
quantidade de argila necessária para tornar o solo p lásticó depende do tipo de fluida, o solo enco.ntra-se muito molhado ou saturado, adquire uma consistência
argila,-da quantidadexelativa de areia e siltee da percentagem de matéria orgânica. viscosa, podendo fluir sob pressão ou simplesmente por gravidade. O solo adere aos

FlstCA 00 Smó ffSICA DO SOLO

\
)
Josf M IGUEL Rer~ERT ET /\L. II - MECÂNICA DO SOLO 39
38

objetos. Uma amostra d e solo na consistência flui da adquire a fo rma do recipien te Limites de Consistência
que a contém, podendo ser vertida como u m llquido denso.
A seq uencia das consist~nc.ias (tenaz, fr iável, plástica, pegajosa e fluida) ocorre com Limite de Contração
o aumento do con~eúdo de água. Cada uma d essas formas de consistência temtu.m máximo
1 No limite· de contração, o conteúdo de água encontra-se no l.iriiite e~Íre os estados
e um mínimo, representado na figura 3 pelas linhas pontilhadas. ·
semi-sólido e sólido, não alterando o solo seu volume ao secar.
Em baixo conteúdo ·de água, ·os filmes de água for mam anéis ao redor dos vários
pontos ent re as partfcu las do solo, havendo ntuação das forças de coesão, que diminuem
com aumento do conteúdo de água. O solo seco não apresenta coesão por causa da Limite de Plasticidade
ausência dos filmes de água; ela aumenta, contudo, com a formação desses fil mes, e
diminui, com o aumento da espessura dos filmes entte as partkulas. Em virtude da Para solos não-plásticos, pode ser impossível avaliar os limites de plasticidade e
maior quantidade de filmes e área de contato, a argila apresenta maior coesão em relação liquidez, ou o limite de plasticidade pode exceder o limite de liquidez, e, em qualqL1er
à areia fin a. Sob conteúdo de água superior à de máxima coesão, a água fica aderida uma dessas situações, o solo é considerado não-plástico, fato que ocorre nos solos qu.e
menos firmemente às partlculas do solo e é atraída na superfféie úmida de objetos. A apresentam p equenas quantidades de parllculas finas. A plasticid ade, pata os solos
quantidade de água necessária para formar filmes ao redor de cada purtícula e para qL1e argilosos, ocorre por causa da interação das suas partículas. As forças entre as partfco las
ocorra ori entação das partículas e subsequente deslizamento de uma sobre a outra envolvidas dependem do tamanho e forma dos minerais de ar3ila bem como do tipo de
corresponde :io conteúdo de água em que o solo deixa de ser friável·e, com o excesso de argila. Quando um solo é deformado plasticamente, as par tkulas se movem umas cm
água, os fil m es de água tornam-se tão espessos que a coesão entTe as partículas diminui relação às outras, alcançando novo equillbrio de posições.
e a massa de solo toma-se viscosa e fluída. ·
O conteúdo de água no ponto mfnimo de plasticidade, representado pela letra D Limite rle Liquidez
na figura 3, foi c!esignado por Atterberg$ como sendo o limite inferior de plasticidade
ou limi te de plasticidade (LP); o ponto F, onde supõe-se ocorrer o mínimo da O limite de liquidez depende apenas da presença de partículas finas. O limite de
p lasticidade e o inicio dc1 pegajosidade, Atterberg denominou de limite superi or de liquidez de uma mistura de argila e areia diminui com o decréscimo da percentagem de
plasticidade ou limite de liquidez (LL). O fndice de plasticidade (IP) é obtido pela argila da mistura, embora o limite de liquidez por unidade de massa da argila permaneça
diferença dos resultados dos limites citados (IP= LL - LP). Em mecânica do solo, o praticamente constante. ·
lndice de plasticidade não apresenta unidade, emb ora esteja relacionado com o
conteúdo de água no solo. O índice de pl asticidade, portanto, indica uma faixa de
conteúdo de ág,..:a na qual um solo coesivo apresenta .as proprieda,des de um material Reotropia
plástico. Alguns intervalos de índice de pla~ticidade definidos por Atlerberg estão
no Quadro 2.
A reotropia é uma redução da resistência ao cisalhamento, em vir:tude de u m
rompimento mecânico das estruturas floculadas de argila. Muitos solos argilosos exibem
a propriedade de reotropia em conteó.do de água acima do limite de liquidez e, em menor
Quadro 2. Intervalos de índice de plasticidade definidos por Atterberg grau,' sob conteúdo de água na faixa plástica. Essa é uma mudança de uma consistência
mais fluida na perturbação; quando esta cessa, o sistema volta à sua condição menos
índice de CaTacterísticas do solo fluida ou Iigida, que é geralmente denominada tixotropia (termo que também será visto
Tipo de solo Coesão
plasticidade pela plasticidade no tópico Avaliação da resistência"). Em uma definição mais rígida, a tixotropia é urna
N

transformação isotérmica sol-gel (estado lfquido - estaçlo semi sólido) reversível.


o não-plástico arenoso · não-coesivo · .·• Em solos argilosos, a reotropia pode ser avaliada de várias ll)aneiras:-por·meio de
<7 pouco-plástko • siltoso parcialmente coesivo : .· aparelhos de cisalhamento; por exemplo o "vanc shear'', ·.ou, a elevados contéúdos de
7-17 · média plasticidade argilo.siltoso coesivo água, com o viscosímctro, qu~ é um aparelho utili7.ado pará detemúnar a viscosidade. O
>17 alta.plasticidade argiloso . coesivo apàrelho "vane shear" é o método·mais comum para estimar a resistência ao cisalhamento
do solo não drenado. Neste.método, um~·haste com uma ponta tipo hélice é introduzida
numa pru!undidêde de solo requerida para avaliar a resistência ao cisalhamento. Esta
haste é girada e a força de torção exigida para causar o cisalhamento do solo é
determinada.· ·
• Albert Atlcrberg (1846-1916) foi um químico suc,,o que· criou•• limites de Atterh<rg.

ffS ICA oo SOLO ffSICA DO SOLO


40 José MrGÚEL REICH ERT.IT AL. II - MECÂNICA DO SOLO 41

Uma perda na resistência ao cisàlhamento de solos argilosos sem . estrutura Em mecânica do solo, a atividade da argila não apresenta unidade, assim como
geralmente é observada. Se tal solo é testado em incrementos de tempo após sua o 1ndke de plasticidade, embora este último esteja relacionado com o conteúdo de
desestruturação, verifica-se geralmente, um aumento na resistência com o tempo água.
(Figura 4), mas toda a resistência, corno a pe uma amostra preservada, p9._cie não ser
As argilas com atividade entre 0,75 e 1,25 são classificadas como "normais", enquanto
recuperada. Essa recuperação da resistência é denominada ''recuperação tiÍ<otrópica",
as com atividade menor que 0,75 são argilas inativas e maior que 1,25, argilas ativas.
embora seja mais propriamente chamada de endurecimento temporal.
A propriedade de endurecimento temporal tem sido explicada por mudanças nci ·
rearrnnjo das particulas e nas forças entre partículas, ou pelas mudanças na água
adsorvida. Na agitação, as partículas e os grupos de partlculas são rearranjados e as TEORIA DOS PROCESSOS MECÂNICOS DO SOLO
ligações entre as part(culas e as unidades são rompidas. Além disso, a estrutura da água
adsorvida é rompida e a massa de argila será mais suscept!vel à deformação sob o próprio Antes de apresentar os métodos de avaliação das propriedades mecânicas do solo,
peso. Após a deformação, a argila atingirá um estado de minima energia, com máxima alguns termos e teorias precisam ser definidos.
atração entre as partículas e grupos de partículas,
Teoria das Tensões
O co_m portamento mecânico do solo (alterações no. volume e resisrnncia ao
cisalhamento) pode ser descrito por seu estado de tensão. Tensões na superfície
conduzirão a tensões no seu interior, podendo rnsultar cm deformação tridimensional,
ou ser transmitida como um corpo rígido.
RL•sistênl·ii1 dC" i1t)1ostrJ coni c.-st1·ulttl'tl prescJ·vad:t O número de variáveis necessárias para definir o estado de tensão depende
primariamente do mim.erode fases (sólida, líquida, gasosa) envolvidas. Em condições
sahtradas, a tensão efetiva (o', kPa) é a diferença entre a tensão total (o, kPa) e a tensão
neutra (uw, kPa), que é igual à pressão de água. A o' é transmitida pela fase sólida e a uw
pela fase liquidá. ·

(2)
Tempo,'_1
~---------~~'----------
Re_slElência de.amostra com ~tJ·11tu_ra lllfo preservada .
E~ solos não saturados, as tensões são.transmitidas pelas diversas fases: sólida,
líquida e gasosa. A equação (2) fica na s.e gqinte forma:-

Figura 4·. Influên'cia do tempo no a-qmenlo da resistência ·de uma argila com estrutura não , (3)
. preservada. . . · .

sendo: u. ~ pressão de ar nos poros (kPa); uw = tensão de água nos poros (kPa); x, = fator
dependente da saturação efetiva (na sucção de água('!') a OkPa, X= 1; na 1v =10 kPa, X= O) ..
Atividade de Argila
Para· solos·arenosos, menos compressíveis e não agregados, o X pode ser calculado .
· A atividade da argila apresenta boa. correlação ~om o tipo ·d e argilomineral. Por pela seguinte equação: . ·
. . exemplo; ri rnontmorilonita apresentá alta atividade, por ser pequena e apresentar
elevados índices de plasticidade. . . . .
. (4)
A atividade da afgila,_é ·expréssa pela equação: : .
. .
· sendo: 0 =s~turação efetiva(~' m:').
..' · . - . - ·
Atividade da argila=
de
ínüic~ plasticidade ·
. ·
Para ·solos ;íltosos é argilosos, os valo~es do~ pnrdtnctro<> ,;_ns cqunçõe_s anteriores .
teor de argila · (1) dependem'da agregàção do solo, do arranjo e da resistência dos poros e das propriedades
hidráulicas. As funções dos ·componentes em solos· estruturado6 são válidas somente · ··

fiSICA DO SOLO fiSICA DO SOLO


42 Jo~ M IGUEL R HCHERT ET AL, II - MECÂNICA DO SOLO 43

enquanto a resistência intem a do solo não for excedida pela aplicação externa de tensões.
As funções mudam, por exemplo, se os ag.regados forem destru!dos durante a deformação íl)
e as p ropriedades estrutura.is redu zidas de acordo com a Lextura.
Para desçrever a tensão no ponto A da figu ra 5, deve-se primeirament~selecionar
um sistema de coordenad as xyz. Considere-se um cu bo no ponto A, com lados
p aralelos aos planos de coordenadas. A linha pontilhada r ep r esenta os limites do· . ,.
corpo qu e sofreu a pressão (Figura Sa). A p ressão na face direita d o cubo pode ser
resolv ida como um compon en te p erpendicular, denominado " tensão normal" ( cr - é
7
u sado y por que a tensão normal é paralela ao eixo y) e·dois componentes tangenciais
a o plano, d enominados " tensões cisal hantes" ('tr• e 'trx - ó primeir o subscrito IJireçilo cr,
representa a tensão paraleh1 ao eixo x ou y, e o segundo subscrito denot; a coordenada
paralela ao eixo da tensão ci salhante c on siderada), paralela às coor denadas axiais b)
(Figura 5b). As figuras Se e 5d descrevem a condição, r cspe·c tivamente, pa ra o p lano
s uper ior e frontal.

Fi gura 6. Delernúnação da tensão em um plano I a;bitrário, quando a maior e o menor tensão

~
e) d) são conhecidas.
a) : I>) Pon te: /\d optado d e Koolon & Kuípcrs (1983).

~ 1--F-
a-c e-;a-t-er_a_l-1
Ti}/
Face
'0 º' >"
Face
Na fi gura 6a, a tensão principal é no ponto A e a segunda é perpendicular ao plano do
desenho. A tensão no plano r, no ângulo 0 com a horizontal, pode ser calculada. A tensão
no plano t será igual à tensão no plano pq paralelo a ~ pois um pequeno deslocamento
paralelo não altera a tensão. Assim, o e 1 têm de ser calculados e, portanto, deve-se
direita s uperior · fronta l considerar o equilfbrio das forças no corpo pqr. Considerando que esse corpo tenha largura
-· igual na direção perp endicular ao desenho, ó comprimento pq é denominado L e também
re presenta a área do lado inclinado do corpo pqr. Os outros lados possuem áreas rq =L sen e
Figura 5. Componentes da fensão do sol~. e pr = L cose. A multiplicação das áreas com as correspondentes tensões dos componentes ..
Fonte: Ada ptado de Koolcn &: Kuiper, (1983). for nece os componentes de força. Equaciona ndo cada soma dos c omponentes de força
hori_7.cmtal e vertical e igualando-os a zero, obtê_m-se as equações que descrevem o equillbrio: ·
Os nove componentes das figuras Sb,'s c e 5d sã·o combinados É!m. uma matriz: . 1
Luscn 0 -Li-cosfJ-Lu 3 sen0 = O

(:: ª'··]·..
Lucas O- L,senB- La3 cos0 = O
't' xy ••M ·· •
O' y r,, Resolvendo as equações para obter ue i:

·. r,.. r,,. ~= 0'1 ros


2
O+u 3sen 1 8 (5)
... . '
.;
·r = (u, - <13 penOcosQ (6)
A matriz.é ~rria d~~jição ·comp leta d ~s tensões·no pont~ A, ~nde.·ca.d a·~ ~po~~; tc
tem sua posição na matriz. {>,.s·t~!'sões norm ais estão rta ·~iagonal; do tóp o, à esquerda Um método para repre~entaras tensõe~ em qualquer plano em·u~ p onto é conhecido . ·
pai-a baixo, e as tensões 'de cisalhamento estão nas ou ti:as p osi<;ões. · . ·· .·: .. . por círculo d e Mohr, ·exemplificado na figura·6a;'represenlando cre rpara determinado
A ma~ iz ap resenta várias propriedades, sendo u~a. delas a de que a matriz de dado cr1 e cr3,. mas com di_reção 0 variável. As variáveis envolvidas são !lpresen.tadas à
L·cm 1purnmtes de iensões de um s istema de coordenadas conheci_d o·con;esponde·às fensiles · esquerda na Figura 6b e a sólução, à d.ireita. Para obter o-e r p ara qualquer 0, se.a, e Oj são
nó ponto con siderado, o que significa que tensões em qualquer di reção podem ser conh ecidos, deve-se desenhar um sistema de coord en adas a e , retangular; representar .
calculadas (Figura 6). · u1 e u3 no eixo-a; desenhar um círculo através de cr, e cr, com seu centro no eixo-a ; desenhar

FfstcA Do S mo Ffs1cA DO SoLo


44 José MIGUEL REICHERT Eí AL. II - MECÂNICA DO SOLO 45

uma linha ab, a partir de cr3 , em um ângulo 0 na horizontal; a linha cruza o circulo em b; A deformação em um ponto pode ser descrita da seguinte forma: na figura 7b a linha
determinar as coordenadas no ponto b; essas coordenadas representam, respectivamente, pontilhada indica um solo com um ponto A sem sofrer pressão. Considerando o sistema
ae r. O círculo da Figura 6b representa o local das duas equações anteriores. de coordenada xyz e supondo um solo na forma de cubo, infinitamente pequeno com
A transmissão de tensões em urn meio granular ocorre pelos pontos de copta to entre lados paralelos ao eixo das três coordenadas, se é aplicada uma pressão no solo e ele se
as partículas individuais. Esses pontos de contato estão espalhados ao acaso, devido ao deforma, o cubo também será deformado e, de modo geral, ficará na forma de um
arranjo casualiz_ado das partículas. paralelepípedo, pois é -tão pequeno que os lados paralelos permanecem paralelos. Os
1 lados mudarão em comprimento: ··

Teoria da Deformação 1 Deformação normal na direção x é denominad~ g t


Deformação normal na direção y é denominada eY

l
O termo reologia originou-se do grego ("r/reo'', fluxo) e é o ramo da mecânica dos
Deformação normal na direção zé denominada 6,
fluidos que estuda as propriedades físicas que influenciam o movimento de um fluido.
Relaciona-se com o estudo de todos os tipos de deformação, sendo a mecânica dos fluidos O cubo que não sofreu pressão possui ângulos retos, mas quando sofre uma pressão
apenns um deles. A reologia pode ser descrita como a mecânica dos corpos deformáveis. esses ângulos mudarão:
Em cada pressão aplicada ao solo, h á um estado de tensão e um estado de
deformação, sendo essa última descrita de modo semelhante à tensão. A tens11o é Deformação de cisalhamento entre a.s dir.eções x e y é denominada E,,
1
desenvolvida em tensões normal e de cisalhamento, enquanto a deformação é descrita ! Defmmação de cisàlharnento entre as direções x e z ·é denominada &"'
em deformações normal e de cisalhamento. Deformação de cisalhamento entre as direções y e zé denominada e,,. .
A deformação 11.0rmaJ é definida da se~uinte forma: se um segmento linear
Essas seis considerações formam uma matriz simétrica, denominada matriz de tensor
infinitmnente pequeno possui um comprimento t(m), antes da deformação (Figura 7a)
da deformação, que, juntamente com o sistema de coordenada, descreve a deformação em
e comprimento r+ M, após a deformação, a deformação normal da linha é t:i.r/r. A
um ponto. As propriedades dessa matriz são, na maioria, as mesmas do tensor da tensão.
deformação de cisalhame.nto é definida na base de um ângulo antes da' deformação
As deformações normais são referidas como deformações principais EL, E2 e El' e a direção
(Figura 7a), com lados infinitamente pequenos. Se o lado vertical é girado no sentido
das coordenadas ,c omo direções principais. Nesse caso, a matriz será:

l
horário, acima do pequeno ângulo a e o lado horizontal rotacionado no sentido anti-
horário, acima do pequeno ângulo p, a deformaç~o de cisa!hamento do ângulo direito
P.½(ri.+B). &,
0
º º0
li2
[
. Ü Ó t·,
. . . '
Também hú uma posição na qual a deformação de cisalhamento apresenta um vnlor
ª: . 1
'
: ten,.lodo • ..!..(n •II)
; d~lhame:nlo 2
máximo
2 (e, - e,), ou r m., = e, - 63• A primeira invariável da deformação de tensor é:
(7)

sendo J1 uma fração do volume alterado do cubo.

.
['·
~yx
Exy

ty
·· 1
Eyz'. . .
. A def;:rmação· nor.mal octaedral e a def~rmação de cisalhamento octaedral são, •
respe~tivameate: .

-e2)( .t-zy . E, (8)

l'isura 7. Definição dos componentes de cisalhamento (a) e o tensor de cisalhamento (b). (9)
Ponto: Adaptado de Koolcn & Kulpers (1983).

f!SICA DO SOLO flSICA DO Sol o


) 46 Jos~ MIGUEL REIOiERT !TAL. fI • MECÂNI CA DO SOLO 47

As matrizes de tensor da deformação podem ser adicionadas ou decompostas. Uma Relações entre Tensão e Deformação
maneira comum de decomposição usa Elff = .!.
3 (sX +ef + e) resultando em·•
&
A reação de um corpo sob ação d e uma força, ou de uma·combinação d e forças, pode
ser ca,racterizada em termos de sua deformação relativa. O exemplo m ais simples é um
corpo retangular ou cilíndrico, sujeito a uma força direta ao longo de seu eixo principal
(Figura 8a). Sendo o_ccimprimento inicial L, (m) e a mudança no seu comprimento AL (m),
a deformação longitudinal (E) é:

LlL
&=- (14)
A segunda matriz mostra a mudança de vollm e e a terceira ma!Tiz a deformação l
1
Lo
sem a lteração de volume do cubo. A deformação também pode ser representada l
graficamente pelo cir culo de Mohr. . l. a) b)
Ás teorias para cubos infinitamente pequenos também podem ser estendidas para F,
corpos de solo finit os, se a deformação é a mesma ao longo do solo.
Considerando o solo como um meio cuntinuum, seu mo_vimento é descrito como um
campo de translação ã('i:,t), c~jas propriedades locais são geralmente caracterizadas 1· li-;, / F,
pelos três componentes de sua derivação espacial: ·1 '
1, :7-,'
.L i:.......,
..._ __,,

(10)

1) rotação Figura 8. Deformação longitudlnal de um corpo submetido a urna pressão axial (a) e deformação
angular de um cubo (b).
Fonfe:. Ad,ptodo do Hillel (199B).

(11) . Outra forma pela qual a deformação pode ocorrer é quando tanto os ângulos quanto
o comprimento do corpo alteram-se. Uma ~eformação simples é apresentada na figura 8b.
1 •
A medlda da deformação de cisalhamento y (ou deformação tangencial, N m -') é a
)
· 2) compactação/ deÍ;compactação =divergência= deformação no volum e alteração rela tiva do ân gulo -i nicialmente reto: ·
u
(12) r=,; (15)

sendo: u - deslocamento lateral (tangencial); h = altura do corpo (m).


} 3) cisalha mento
. A relação 1,1/lz:é, portan'to; a tangente do ân gulo cie defor mação. Sendo uma relação
)
de comprimento, a deformação é muito pequena e é expressa como sendo uma.fração ou
) e,~½(v~d~(vxriY).:.tdiv(J).[~ -~ ~1-. . (13) .·
· p ercentagem da dimensão o·riginal.
O poder de ·uma força de causar deformação é. relacion ado diretamente céi~ a
· O O .1
' · Em bor~ ·s·eja ú til es tudar os pr~cessos de com pact ação/ desco~pactáção ·e
cisalharnento como efeitos dif erenciados, todas as deformações que ocorrem n os solos.
magnitude da força e inversamente relacionado com a área na .qual ela alua. A relação
entre força e área, ·o u seja, força por Í.inidade de área, é denominada tensão. Uma lensiio
normal é causada por uma força cuja direção é perpendicular à área em que ela atua. Essa •
-, são combinações de ambos. tensão, equivalente a uma p ressao, geralmente é desib•1rnda com o o (kPa). Então,
)
F fsrcA DD SOLO Ffs!CA DO S OLO
48 Jost MtGUEL RerOiERT ET AL, II - MECÂNICA DO SOLO 49

N
. G' = - (16) (19)
A

sendo: N (kN)= força normal; A (m2 ) ~ área·unitária. {;e .,


i
(20)
· Quando a direção da força é paralela, em vez de perpendicular à ·superfície da área,
ela representa uma te11são tangencia! r(kPa) também chamada de tensão de cisalhamento, e
usualmente designada como:
(21)
r = F, (17) '
A
sendo: F, • (kN) = força tangencial; A (m 2) = área unitária. (2.2)

De modo geral, as tensões e deformações que_o correm no solo são d ependentes do


l+v ·
tempo, podendo tais processos ser descritos usando um cubo. A matriz para tal processo & = - - r ·. (2,)
.n E .u:
é a seguinte (Koolen & Kuipers, 1983):
Ou a matriz a seguir: ·

~-" ] E [E., 0
Ey, +--- 0 e.,
E -ô 3(1-2v) 0 0
z Ili
A relação entre tens!lo e deformação 6 específica para cada solo. Solos resistentes
sofrem pouca deformação, quando submetidos a uma tensão, enquanto solos menos
sendo: r: • módulo de elasticidade (kPa); v • relação de Poisson. Essas são constantes·
resistentes apresentam alta deformação, quando aplicada uma tensão. Essa relação é
representada pela.matriz: que descrevem o comportamento mecânico de um material linearmente elástico . .

Um sistema transdutor de deslocamento (DísplacementTransducer System - DTS)


. [[c,(I) s,,y(t)
e,.(t)ll foi desenvolvido para avaliar a natureza da tensão que induz os movimentos das·
part!culas do solo. Se quatro DTS forem instalados em várias poslçõe~ e 1.li~ta.ncias
= f c_,,(t) c~(I) Cy,(t)
do rodado, as direções da d'e for mação e a ·deformação volumétrica podem ser
E,,( t) . E,it) c,(t) quantificadas.'
O sistema de a valiação da tensão1/ deformação do solo consiste ém urna
Essas duas matrizes são aplicáveis apenas para pequen.as defomÍ.açõ~. Para combinação de sensores SST/DTS (" soíl stress trnnsducér/displacement transducer system''.
deformações maiores, a posição das faces do paralelepipedo será diferente da posiçi!o = transdutor de tensão no solo/ sistema t ransdutor de deslocamento), que é conectada
das faces usadas para descrever as tensões. A função f ê especifica para·cada solo e pode â um dispositivo móvel de leitura, de mod o que os movimentos nas direções x a z são
ser determinada experimentalmente, submetendo um solo, no formato de um cubo, cilindro dete.r mlnados (Figura 9a). Os sensores de tensão são constituídos por cinco sensores
ou esfera, a uma tensão ou deformação uniforme e medindo a tensão ou deformação de pressã,o (Figura 9b), instalados em é anais horizontais no soio, n.a linha de tráfego .
· resultante. · · · de máquinas ou nos locais de pisoteio a_nim·a 1, em diferentes profundidades
· Quando·o solo se comporta como um material linearmente elástico, podem-se aplicar · (Figura 9a). ·
as seguintes funções: . · · · .i, Um exemplo da utilizaçl'io do sistema de àv'a liação êia·te~são/ d~formàção do·solo
' ' ' . '1
1 pelo SST/DTS foi demonstrado por Horn etal. (2004). Para avaliar a \ensão causada por
r
um veiculo de colheita florestal (Forwarder HSM 901.), os sensores foram insto lodo:, na
(16)
profundidade de 0,20 m, abaixo dos pneus frontais.~ veiculo chegou após 160 segundos
e causou uma.tensão máximà al de quase 200 kPa (Figura 10). Durante os p róximos·1000

Fis TCA DO SOLO F tsJCA 00 Solo


1
)

) 50 José MIGUEL R EIOiERT er I\L II - MECÂNICA DO SOLO 51

segundos, quatro picos.foram coletad os pel os sensores. As diferentes op erações, aos 560 DEFORMAÇÃO DEPENDENTE DO TEMPO
segundos (primeiro pico); 720 segundos (segundo pico) e 1100 segundos {terceiro e qua1to
picos juntos) causaram ten sões d e até 230 kPa. O 'lefculo começou o deslocamen to aos Um fator importan te ~m reelogia é o tempo de ap licação da t ensão e a d efor mação
1200 segundos, quando causou o ma ior im p acto durante as leitur as, com uma tensão dependente do t empo. As relações tensão-defor mação-tempo de um materia l
máxima cr1 dequase 300 k:ª· t determinam seu caráter reológko, ou seja, se ele é elástico, sólido, liquido ou outro tipo
de material. A definição física pad.r ão de um sólido é um material com uma estrutura
in terna ordenada. O critério reol ógico pata um sólido depende não apena s de sua
estrutura interna, mas também de seu com portamento mecânico. Os corpos sólidos
a} b) apresentam diferen tes fo rmas e podem exibir diferentes compor tamentos quando
Rodado
ílãJl
~ sujeitos a tensões. Um cor po elástico deforma-se instantaneamente e permanece em
Riidio ;ç----- sua nova forma durante o tempo em que a tensão é mantida, voltando a suas dimensões
receptor .. ·--· · or iginais assim q u e a tensão é liberada. ·

~••HJJ ~11
Baseado na observação de Robert Hooke• de que molas submetidas a uma p ressão
esticavam-se ou comp rimiam-se proporcionalmente à carga aplicada a elas, uma equação
40cmo-- ' conhecida como lei de !Iooke foi elaborndo. A equação demonstra que, para corpos
GOcmo- - 'iiMio elásticos, a deformação é proporcional à tensão a. Isso implica que a deformação ocorre
@ili trnnsmJ~or inslanlaneamente, quando a tensão é aplicada, e desaparece, imediata e completamente,
quando a tensão é alivi ada. Então,

Figura 9. Esboço esquemático do sistema de avali;.çlo da tensão/ deformação do solo pelo O'
SST/DTS (a) e arranjo das sondas de pressão no sensor SST (b). li = - (24)
E
Ponto: Adoptado· de Horn el oi. (2004).
sendo: E =constante de proporcionalidade conhecida como m odulus de Young 7 .

A equação d~ elasticidade para deformação cisalhante r, análoga à equação anterior, é

1'
r =- . (25)
G
)
sendo: G = módulo dé cisalhamcnto,_uma medida da rígldez d o corpo.
-~ lOO
~: ,\_.,
~· ri...._ 1
à
'Zl lst·
ri Quando um corpo está sujeito a uma pressão isotrópica, seu volume diminui em
lii ~ Ih,., --..J pr op orção à pressão aplicada. A constan te de proporcionalidade, nesse caso, é
1- lto·
= ---'
denominada módulo ~e ~mensão k. Então,

" p
• o ,.. 400 ... IOO
Tempo,.s
1000 UH .... 1401 1101
&V =,z (26)

sendo: e,= volume de com pressão ou expansão, relativo ao volume ori~inal.


Figura 1.0. Tt=ões causadas nâ: profu~d idede. d e ·0,~0 P.'l por uin v~fculo ·a e colhéita -florestal
. . (Forwarder HSM 904),· com ·pressão de inflação no·pneu de·. 250 kPa e massa vazia. Ele O módulo dé dimensão éa reciproca do coeficiente de compressibilidade [C =p·1 (dp/ dP)],
) . 8710 kg. 'maximum str1:ss all.• tensãn máxima o; "mean normal stress 'MNS" '= tensão ·q ue é uma mudança ~-ela tiva. da_densida?:e p {kg m-3) c_o m à variação da press.'io P {kPa),
·. média normal"; "octahedral ·sh éar stress QCTSS' = tensãó octaed,'a1 de dsaÍh~'aiento
OCTSS.
0

fonte: Adopla<\o d • Horn' ct ol. (2004). • Robert Hookc (1635 - 1703) foi um clc,;lista experimenlnl inglês que cm 1660 descobriu • lei de Hooke da
) e1a3tlcldade, que descreve a variação linear da t.msão com" extetisAo de uma moln elástico.
'Thomo• Yo un g (1773 - 1829) foi um lngl~, que ralrnlo u o módulo de elasticidade, que é a medida da ·r1ure2a de
) um material, definida c:omo a taxa de alt<!r.w;do da tema.o com a deformação.

)
F ísICA DO S OLO FfSICA DO SOLO

)
52 Jost MIGUEL R EI CHERT ET AL, lI • MECÂNICA DO SOLO 53

Em con traste com a elasticidad e, a plasticidade é uma propriedade d e um corpo d e


não apen as se dcíormar sob tensão, mas também de manter essa deformação quando a
tensão é liberada. De modo geral, um solo sujeito a tensões deformar-se-á até certo ponto.
Se a magnitud e e duração d a tensão ap licad<1 é p equena, a d eformaçã\( pod e ser
pratfcamenle irnperceptlvel e desaparecer a pós a remoção da tensão. Se a rna~nilude da
tensão é, entretanto elevada, considerável deformaçã·o pode resul.tar em recuperação
parcial ou ·nenhuma recu pe ra ção, de modo que resultaria en\ defor mação permanente.
O tem po necessário para u ma amostra d e solo consolidar-se sob a aplicação d e uma e L., ... !

pressão é variável, podendo ser de 24 a· 48 h oras ou a té mais. Geralmente, esses d ados -o 7S · · -···•· - -··· L,. í._;_ . . i.. ..
são apresentados em uma escala semilogarftmica para as leituras de deformação versus 1~ .,. __;_ _ . ·•-~ --i•• -L..---- -.
"' 80 : \ 1,~r,'9'•t'.~l,;.I~....
tempo (em escala logar(tmica) em minutos, pà ra cada incremento de carga. A maior § ,__......:","_,_' r1.~u:1 . .,. •· ·1 · 1 '.
compressão da amostra de solo ocorre logo a pós a aplicação da carga, sen do n ecessário ci 85 1
dar importância nessa parte da cu rva. o ····: !· ·-·-··
90 .. . .. ·~. .... , ....
A lgumas vezes, os dados de "consolidação tempo ra l"" são apresentados,
consítlcrnndo as leituras de defor mação VP.l"Sus .jtrmpo (em m inutos). Esse método foi 95
desenvolvido por Taylor (1948), que verificou que esse método forneceu resultados 00 ..
. --'---,..- ~ ~ - . . _____________
confiáveis para solos argilosos de Boston. O ~ 6 8 10 I? 14 16 18 20 22 2~ 26 18 3ll 3,

A partir de um gráfico de leituras de deform.içüo_versus Jogdotempo ou -J lernpo (Figuras 11 \JT1•111pn, min"'•


e 12), podem-se obter o D100 (lei tura correspondente a100% de consolidação), D., D50' e seus
tempos correspondentes (t,aY 150' etc) para que isso ocorra, para cada incremento de pressão. A Figura 12. Deform~çiio do solo versus a raiz quadrada do tempo.
deformação do solo pode ser expressa em metros, centímetros, milímetros, rnicrômetros ou até
mesmo em percentagem ou em relação a sua forma original, deno~da deformação relativa.
Para obter a D 1001 que é definida pela leitura da deformação do solo versus log do
tempo, traçam-sé tangentes n as partes médias e finais da curva (Figura 11). Na interseção
'· d as tan gen tes, p rojeta-se horizontalmen te ao eixo das ordenadas, para ler a D,00' Para
obter t,00 (tempo em que ocorre essa deformação), projeta-se h orizontalmente da intersecção
da tangente para a curva e, então, ve~ticalmente, para baixo, para a abscissa para o valor
do tempo. Esse método é ligeiramente arbitrário, n1as amplamen te utilizado. Nesse
método, supõe-se que a parte final da curva qu e d efine a compressão secundária é linear, ·
corno na parte da curva de consolidação primária; logo, a descontinuidade da curva é a
D100·

Para ob ter D0 (teorica men te a leitura no t ~ O, p ois não é possível representar o


logaritmo do tem po para t = O) na escala semilogarltmica, se a parte inicial da curva é
parabólica, selecionam-se u m tempo l1 e um tempo t2 .. 4t1• Mede-se a ordenada y de t,
para t, na curva e, n essa posição, esse mesmo valor de y, verticalmente, sob t 1 . Desenha-
se uma ·linha horizon tç1l.nesse ·ponto e puxa-se o intercepto dessa linha na leitura: de
dcformâção na ord~nada D 0 (Figura ur
Resultados mais refinados.podem ser ~btidos,
... ..· · usando outros p ontos ao longo da curva para t1 e t2 e pegai\do a linha ho: iiontal çom a. '
média dos vnlores d e·y obtid os. se· esse valor de D 0 é consi deravelmente diferente da
•leitura atual no 10 (que supostamente D1 representa), ou
se a parte inicial da curva não é .
11i gura 11 ..Deformação do solo versus tempo. par abólica; usa-se a leitura atual da deformação no t0 para D0 , Com 0 0 eD100 estabelecidos,
pode-se obter a leitur a de d eformação corresp ondente a 50 % de consolidação, D50, d a
• Úme-si:ltlem~11t, em inglês. ..

seguinte forma:

F iS ICA 00 S olo FISICA DO S OLO


54 Jost MIGUEL REICHERT ET AL. II - MECÁNICA DO SOLO ·55

Além disso, a resistência é alcançada por dois d iferentes mecanismos: por aumento
(27) no número total de pontos de contato entre partículas individuais (por exemplo, um
aumento na tensão efetiva), ou pelo aumento na resistência de cisalhamento por ponto
Pelo método da raiz quadrada do tempo, representando-se a l.e itura da d!!formação de contato. Sob sistema de manejo conservacionista, espera-se um sistema poroso mais
. , j .
está,;eJ, que pode ser mantido se, dura."\te as operações de manejo, a resistência interna
versus ✓1e111po , obté~-.s e o tempo correspondente a determinada leitura; por exem~lo, se
não for excedJda pelas tensões aplicadas ao solo. Cada deformação do solo exige, contudo,
t • 25 min, .Jtempo = 5, que é represen tado com a.leitura de deformação para 25 minutos. um espaço poroso e, ou, elevada con dutividade hidráulica para que a água scj.i·drenada
Parn obter DO' recomenda-se ajustar uma r eta a partir das seis primeiras leituras no dos poros. Quanto menor a condutividade hidráulica e continuidade de poros, mais
deflet ômetro e estender esta linha até a interseção, no eixo das ordenadas (Figura 12- estável será o solo pela aplicação de carga d urante curto intervalo de tempo. Em solos
linha A), e da raiz quadrada do tempo, no eixo das abscissas, que·corresponde ao tempo arenosos, esse efeito é menor, pois a deformação inicial é similar à total. Com o aumento do
zero. A partir desse ponto, é desenhada uma segund a linha 15% ma-ior que o valor teor de argila, o tempo necessário para a consolidação primária é reduzido. Isso resu !ta em
correspondente na primeira linha (Fieura 12). Na interseção dessa seeun da linha com um aumento na pressão de pré-consolidação por um curto período de tempo, com aplicação
os pontos obtidos, é definido o tempo no qual ocorre 90% de defç,rmação da amostra de de carga.
solo. D,00 pode ser computado da seguinte forma: ·
Avaliação da Resistência
(28)
A resistência à pene tração tem sido utilizáda para identificar camadas compactadas
e mudanças nas propriedades físicas do solo associadas aos seus horizontes.
Embo.ra pareça fácil definir a resistência do solo, sua medição não é tão simples,
RESISTÊNCIA DO SOLO send o uma propriedade altamente variável, visto q ue o solo pode tanto diminu ir como
aumentar sua 1·esistência à deformação. Por exemplo, cm solos não saltuados, a resistência
Qualitativamente, a resistência d o solo é a capacidade de ele suportar forças sem pode aumentar num solo mais compacto; por outro lado, em solos saturados, as tensões
apresentar fall1as, seja por ruptura, fragmentação ou fluxo. Em termos quantitativos, podem causar perda de coesão e até mesmo causar liquefação 9 (fenômeno conhecido
essa resistência pode ser definid a como a máxima tensão que um solo pode suportar sem como tixotropia), O modo e a taxa de tensão podem, portanto, influ'en.ciar tanto o padrão
ocorrer falho. de deformação como o modo de falha.
Q uando uma tensão é aplicada ao solo, ocorre deformação no p onto mais fraco da A resistência do solo à penetração pode ser av,ilia<la por melo de penetrógrafos
matriz do solo e, com o aumento na tensão, ocorrerão zonas de falha. A resistência nessa (Figura 13a) ~u penetrômetros automáticos (Figuras 13b, 13c), de anel djnanométrico ou
zona de falha é ig-J.al à energia exigida para criar uma nova unidade de área superficial de impacto (Figura 13d). Trabalhos têm sido realizados comparando os diferentes
ou para iniciar uma rachadura, sendo chamada de eneq~ia superficial aparente. aparelhos. Comparando o penctiOmetro de anel dii,anométrico (resistência estática) com
Consequentemente, a estabilidade do solo é relacionada com a d istribuição da·rcsistência o de-impacto (resistência dinâmica), em meios menos compressiveis de pouca elasticidade
z:tessas zonas. A estrutura do solo será estável se a tensã.o aplicada for menor do que a (solos arenosos), _a força estática e a dinâmica são semelhantes, enquanto, nos meios
resistê ncia na zona de fal há. · · sujeitos a compressõc;i.elástkas (solos argilosos), a resistência dinâmica deve ser maior
A resistê.ncia de um solo estruturado com parâmetros internos comparáveis depende que a estática, e a diferença percentual aumentar com a resistência do meio.
da agr egação, secagem prévia máxima e atual, composição e arranjo do sistema poroso Alguns·~~dados devem ser tomados nesse tipo de determinação para que não ocorram
dos solos. Para textura e poro-pressão comparáveis, a resistência aumenta com a erros de interpretação. A resistência à penetração depende do conteódo de água, da
agregação (coeso< prismático< bloco< lam,\nar < bloco su~angular). Se uma redução densidade do solo e da distribuição do tamanho de part!cula.s. Portanto, um solo seco oú
relativa nos poros.preenchidos com água 6 menor do qu e um atual decréscimo:na poro 0
-
mais denso apre13~nta maior resistência, se_con;;parado a um solo úmido ou menos denso,
prcssão (mais negativo), o solo torna-se ma.i s resistente. · ·enquanto, para \lffi mesmo conteúdo de água, utn argiloso apresenta maior resistência que
· As m~dan ças dinâmicaR em.sua!) propriedades m,ecânicas também dependem-da um solo arenoso, Além disso, a resistência à. penetração não é capaz de identificar o efeito
frequência de eventos de _expansão/conttação e umedecimento/ secagem e da real poro- de richaduras e de po ros biológicos existentes. Essas são regiões ·ci:e menor resistência em
pressão. O solo toma-se mais resistente quando é seco e re-umedecido.e·se? gradiente de que as rnfzes
. ..
se desenvolvem, mesmo cm solo~ rnm PIPvada resistência' à penetração.
.
poro-pressão, a maiores distâncias, promove o movimento e rearranjo 'de partfculas, até
que a entropia seja red.uzida.
' t.lquef~çOÓ: tor~ar-sc llquldo.

Fls1cA 00 SOLO F fSI CA 00 S o LO


)

56 José MIGUEL REtCHERT ET AL, II - MECÂNICA DO SOLO 57

do solo, não sendo incluído o conteúdo de água. Um modelo simples, relacionando a


resistência à penetração e conteúdo de água do solo, pode não ser possível, quando
vários tratamentos, incluindo diferentes culturas e manejas do solo, estão envolvidos,
sendo necessárias correções individuais para cada tratamento.

COMPRESSÃO DO SOLO

Compressão do solo é o processo que descreve um aumento na massa de solo por


uiúdade de volume(= aumento na densidade) sob uma carga aplicada externamente ou
sob alterações da poro-pressão interna.
Em solos saturados o processo de compressão ~ denominado consolidação, e, nos
(a) (b) não saturados, compactação. A consolidação depetide da drenagem do excesso de água
(e) (d)
do solo, determinada pela condutividade hidráulica e gradiente, Na compactação, o ar
Figura 13, PenetT6grafo (a), penetrômetro automático (b), penetrôrnetro mannnl automático será expulso em função da permeabilidade do ar, continuidade do poro e saturação de
(e) e penetrômelro de imp<1cto (d), água no perfil.

No campo, normalmente, recomenda-se a ava'.i ação da resistência à penetração com Métodos para Avaliação da Compressão do Solo
conteúdo de água no solo próximo à capacidade de campo. Urna melhor avaliação da
resistência é obtida, contudo, se essa medida é feita em distintos conteúdos de água. Os princlpais tipos de ensaios de solos relacionados com as propriedades de tensão-
Embora seja um método fácil e de rápida obtenção dos dados, a resistência à deformação são as compressões isotrópica, oedométrica e triaxial (Figura 14),.
penetração apresenta o inconveniente de depender de alguns fatores já mencionados,
optando-se, muitas vezes, pela avaliação de outras propriedades, com.o a densidade do Compressão IsiÚópica
solo, que apresenta uma menor interferência desses fatores, especialmente do conteúdo
de águ.a . Nesse sentido, sugere-se que a avaliação da resistência à penetração deva ser Na compressão isotrópica, o estado de tensão aplicado corresponde à condição cr, =
aliada a outras avaliações ou observações d~ campo. Sua avaliação, juntamente com a o-2 = o 3 (Figura 14a). A trajetória das ten_sões em s:t coincide com o _eixo-hidrostático. Esse ·
determinação da densidadç, ou a abertura de trind.e iras para observação do cresciment.o teste é utilizado para deformações sob tensões muito elevadas; portanto, pouco utilizado
radicular, é fundamental para um melhor embasaJnento ·dos resultados de resistência à e:m mecânica de solos. · ·
penetração:

·· Compressão Óedométrica
Funções para Estimativa da Resistência à Penetração
Na compressão oedométrica, dcfonnações laterais nulas são impostas (i; = E3 = O), o
Pelo fato de a resistência à penetração ser função de algumas propriedades do solo que é uma condição verificada in sil1t durante a formação dos solos sedimentares
já mencionadas, modelos matemáticos têm sido efaborados no intuito de incluir o efeito (Figura 14b). A trajetória das tensões efetiva (TI'E) segue uma relação K 0• O ensaio de
. desses parâmetros na resistência à penetração. .
compressão oedométricaé muito utilizadó, sendo útil para avaliação das deformações
' ', o modelo não-linear desenvolvido po_r Bússcher º(1990) (RP-= aOb p') considera; nó ' . ·a ntes da ruptura.- ·
ajuste da resistência à penetração (MPa), o conteúdo dé água à base de volume (8,'m3 m-3),
a densidade do solo (p, kg m ·3) é parâmetros e.mpiricos (a,b, e). E~se modelo tem sido
amplamente utilizádo em estudos de compactação e qualidade do·solo. . .. Compressão 'l'rilixiál
. ' '
Ou.tros ,modelos são.aprescnt:idoG na litcratu.r a, embora mais rest'rlUvo;, t!,,vido aõ ·
N~ ·ensaio de compressão triàxial, variam as tensões radr~l· e·axial. Esse 'teste é
menor número de parâmetros incluídos no modelo, como o que considera a resistência à
realizado em duas fases: na primeira fase, é aplicada.uma tensão confinante cr, isàtrópica
penetração como sendo furição da textura, representada pelo teor de argila, e da densidade
e, na segunda, denominada fase de cisalhamento, 9 valor de crc é mantido constante e ci

FiSICA DO SOLO f fSCCA 00 · SoLD


58 José MIGUCL REICHERT ET AL. li - MECÂNICA DO SOLO 59

valor da tensão axial cr, awnei,ta, pela aplicação da tensão-desvio ou dcsviatóda t.cr1 • cr1 • cr3 uma carga vertical. A pressão axia l vertical é aplicada nessa amostra por meio de um
(Figura 14c). A trajetória das tensões é composta por um trecho horizon tal, que cabeçote. A pressão é transmitida centralmente, do cabeçote para uma es.fera de aço,
corresponde à compressão isotrópica, e outro tr echo, inclinado 45° à d ire ita, que que é distribulda em uma placa circular, promovendo uma distribuição uniforme na
corresponde ao aumento da tensão desvio. O ensaio de compressão triaxial é u tilizado· amostra de solo, que é submetida a pressões predeterminadas. A pressão aplicada
) tanto ·para o estudo de resistência quanto ao de relações tensão-deformação. i' externamente na amostra comprime o solo, diminuindo seu espaço poroso e expulsando
ar e água do espaço de vazios, r eduzindo a altura da amostra. Essa deformação da
am ostra de solo, que depende do conteúdo de água, é indicada por um ponteiro. As
leituras de deformação são Tealiza_das em intervalos de tempo definidos para cada
pressão.

>\Y:.::.';(:::',-;i;c);·~.º\iii,ri~sit~ id~xifti?:•··:)\::J;?<
lóO. (a)

g;----,
l"' 1"""" ~ Fig ura 15. Conso~idômetro semiautomático. (a) com detall:\es da base que comporta a amostra .

-□~·.
1 '
) de solo (b) e consoli.dômetro automatizado.com armazenamento eletrônico dos dados (c) .
.
~,,i,.:. . ~·
t Nesse teste, uma tensão normal vertical (cr1) é ~plicada na amostra.de solo, enquanto
)
t '1
.tensões nas direções cr2 e o, são indefinidas, por causa·da pared e rígida do cilindro que
contém a amostra de.solo. O confinamento da amostra no cilindro não permite sua
Figura 14. Tensões e deformações aplicadas em ensaio, geotécnicos de laboratório e trajetória expansão lateral o que, contudo, normalmente ocorre no campo com a passagem de uma
de tensões nos casos de compressão: isotrópica (a), oedométrica (b) e t riaxial {e). máquina.
fonte: OrHg~o (1995).
A aplicação de cargas deve acrescentar em uma progressão geométrica, com lllllª

Teste de Compressão Uniaxial relação ~a p;e~~~o .àp .=.:l, co~o uma sequê~cia de cargas; exe~ pl~ica'd.a à seguir':
P· .
25,
O comportamento compressivo d~ solo ger~lmente é avalia.d o por um' a·j,arelhó
1
••i,..
eu
50, 100,.200, 400, 800, 1600 (e ai mas v~zes 3200) kPa. Uma sequência altero.ativa pode_.
ser: 5, 10, 20, 4Ó, 80, 160, ., .. kPa, ·
. · denominado consolidõmet:r;o (Figuras 15a, 15c) e o teste é denominado teste de compressã.o
.
}
W1iaxia1.' Esse aparelho é constih1í1fo de uma base ríbrida e uin ancl,'quc comporta a
amostra de solo (Figura 15b). Acima e abaixo da amostra, há uma pedra porosa que
Outros incrementos de pressão podem ser utiliza_d os. Se a relação de incremento páp
permite a drenagem da água expulsa dos espaços vazios da amostra sob a aplicação de não é, contudo, grande o suficiente, o solo ténde ~ apresentar uma resistência interna à _

FISICA DO SOLO FfsrcA oo SoLo


60 Jost MIGUEL RerDiERT IT AL. II - MECÂNICA DO SOLO 61
) 1

pressão e a deforoação total da amostra será menor que a obtidn se a relação de incremento
1
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partt Ili - - - - - .

" 1 Fluiio de Agva •o por'o :


Nessa técnica, algumas fontes de erros poss!veis devem ser e·v itadas. N~•~oleta das li ' 1
h 11
) amostras, deve-se ter o cuidado de não coletar amostras com espaços vazios não 1 ·º ''
) r epresentativos do tratamento, ou deformando-as, poís, no momento da compressiio da '
)
amostra, quanto maior o espaço aéreo, maior a sua deformação, que poderá estar associada l .!'
ao lTatamento ou à coleta inadequada da amostra. A toalete das amostras deve ser ''
'
realizada considerando precisamente o volume do cilindro, sem sobrar amostra na parte :'

l
superior ou inferior do cilindro, pois o cálculo da deformação do solo e, consequentemer.te,
) os demais cálculos serão realizados de acordo com a altura e volume do cilindro, qne
corresponderá à altura e volume da amostra de solo. Ao colocar a amostra no
consolidômetro, deve ser observado se, no momento da aplicação da carga, não ocorre
atrito do cilindro com a superffcie que aplica a pressão, impedindo a deformação da 1
amostra ou uma deformação irregular.
Um aparato para avaiiar a compressibilidade confinada e não confinada no 1
campo foi projetado por Mosaddeghi et ai. (2006). O a parato consiste em uma armação '
mecíinica acoplada a um trator, um conjunto de controle e um computador portátil \ Figura 16. Elementos de uma curva de consolidação temporal de um solo coesivo ,1 lUna carga
com o software de controle. São utili zados uma célula d e carga com capacidade de constante.
1
100 kN e um calibrador digital para medir, respectivamente, a força vertical e o Fonte: Adaptado de Jumiki• (1967),
deslocamento. !
' ' Para obtel", na curva de comp ressão10, o ponto que representa a pressão de pré-
O efeito do tempo na deformação de um solo confinado lateralmente consiste em três consolidação11, C_a~agrande (1936) sugeriu um método empírico. Na ctirva de compresslio
parles distintas (Figura 16): · d o solo, identifica-se o ponto de máxima curvatura e, por ele, traçam-se uma paralela ao
a) do tempo O a tl, o ar é expulso d os espaços vazios do solo, após a aplicação da eixo das abscissas e uma tangente à cu1va. Do ângulo formado entre essas duas retas,
pressão; traça-sP. um.a bissetriz. A abscissa referente ao ponto de intercessão da bissetriz com o
b) do tempo tl a t2, os póros preenchidos com água são comprimidos e a· água é prolongamento da reta virgem corresponde à pressão de pré-c_onsolidação (Figura 17). ·
expulsa em virtude da aplicação de pressiio, resultando na chamada " deformação Um programa computacional denominado 'Compress', que ajusta um modelo
principal", ou "consolidaçn'o primári a" do solo. Após algum tempo, a água em simüar ao de van Genuchten· (1980), para cakular· alguns parâmetros do teste de
excesso é . drenada e o solo alcança um estado de equilfbrio, naquela pressão. compressão uníaxial, foi desenvolvido por Reinert etal. (2003). No programa, em vez de
Após o aumento da pressão, o processo de drenagem do solo inicia-se novamente ·. usar pares de d.a des de · conteúdo de água e potencial mah-icial, são usados dados
e continua, até que um novo estado de equílíbrio seja alcançado. observados de índice. de va7.ios e pressão de. pré-consolidação. Após cada pressão
c) do tempo t2 a t3, os processos químiéo-coloidais e o·fenõmeno superficial torn'âm- aplicada no teste de·~~mpressão, o programa calculi1 a densidade do solo, o índice de
sc aHvos, tais como: o filme de água.ao redor das partículas, a tensão superficial vazios, o cõ'nteúdo de água à base de volume e a deformação, alt'.!m da pressão de pré-
nas arestas das particulas de solo, mudanças na viscosidaçe e densidade nos consolidação e do !ndicc de compressão. O programa é constituído, basicamente, de urna
filmes de água, forças moleculares de \llraçiio, entre as part!culas de .solo e os· planilha de entrada de dados, com -as especificações do cilindro de coleta da amostra de..
filmes de água, potei1ciais eletrocinéticos induzidos e outros processos..O efeito solo, a densidade de part!culas e · as lejturas realizadas -no consolidômetro para cada
das cargas elétricas ·e· da dupla camada difusa torn·a-se. mais p ronunciado no. pr~ssão aplicada (Figura 18a). O programa· <!justa o mode\o analftico e, a partir dele,
fluxo de escoamento da água. nessa fase do que antes. A deformação~ durante · CStí~a a pressão de pré-consolidação e Ómdice_de compressão (Figura 18b):.
esse perlodo de tempo, é denominada u pós-deformação" ou "consolíd~ção
) secundária". 1°Cul'Va. de comp.rcssão do solo: relaciona o logaritmo da pr~ssão npLicada no solo êom o fndlce d<!' vazios ou
densidade do solo, que são paT~metros relacionados com o i\rranjo de partículas e, ou, estrutura do .,olo.
Na prátit:'a, apenas_a consolidação primária é norm~lmente considerada, por causa
ltPressão de prl!:--consolidaçiio: t'arnbém dcnominndapress3o'de pré-c:ompact.içffo. ~ umn estimAtiva da capacid.nde
da dificuldade em determinar o limite para a consolidação secundária. ·
j de suport«: de. carga do 110l0. ·

Fls1cA oo SoLO FISICA · ºº SOLO


62 Jos~ MIGUEL R EJCHERT ET Al, II - MECÂNICA DO SOLO 63

Por meío d a cUiva d e compress ão do solo, que con s idera o !n díce d e vazios ou a
1'\'0lollÇOO,l'lllO d, •~~ d ensidade d o solo com o loga ritmo da p ressão a p licad a, obtém-s e a pressão de pré-
1,4

1,

1,2
_t· · ·•. . ~•n•m~,:~~::. 1
consolidação, que é um indicativo d a capacidade de suporte d e carga d o solo. Quando
o solo não sofreu nenhuma pressão prévia , essa r elação é lin ear (Figura 19a) e a
a p'Jicaçi!o de qualq u er pressão r esultará e m d efo rmaçõ e s n ão -r ecuper á ve is
"'o
.N
~fl,
Ponto c1t
- -··
h~1•1tlt (Figura 19b). Quando o s olo já exp'erimentou p ressões p révias e, ou, ciclos de
"'li>
.,V
"O
1,

1,0
~-. t
- - ::::::--
r,!, •• •'!IM'••• p<>o10
umedecimento e secagem, adquire, em consequ ência, um es tado d e comp acidade mais
elevado, em qu e a compactação ad icional poderá ou não ocorrer com a aplicação de
n ovas p ressões.
jf.lt!A d, ,~scat11fl(~1M>
.:a
..s o,
0,8
- - Cane9ílment o b)
0,7 · ••·· • Deltatr•o~mcoto
Presst\o \fo
Recatregamento
o.o
10 100
ClJl
1000 10000
-~ - -~...........
>
l pn!--conSC1lidn1.,1,o

..," rM,rie
!'ressão, kl-'a
1
.,
~ í'un~., dt.•
(1llt\J1íCS~\ O
sl'.'Cu1\\.l,\ri.1
lC'~'l l1l)l'l'SS.'°
\f1rgt•m

Figura 17. Exemplo de curva d o compr essão com indicações da rela vi rgt:m, d a reta de
d escompressão, da pressão de p ré-consoliclaçã_o (crp) e do útdice de compressão (Cc). 6e, =
variução do índice de v~zios durante o carregamento do solo; 6e• = variação do índice de
vazios durante o desc.irrcgomento do solo; e. ª coelicientc de descompressão do solo; Cc
• (ndke de compressão" (coeficien te de compressibílidode do solo); crp = pressão de pré-
consolidação.