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Resumo.
Resumen.
Summary.
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A gestão da sala de aula de um profesor do Ensino Superior
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Campo Abierto, vol. 33, nº 2 - 2014 Robson Macedo Novais, Carmen Fernández
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Nesse modelo, o conhecimento peda- aula? (ii) que concepções sobre a organi-
gógico geral apresenta os seguintes com- zação da sala estão relacionadas com as
ponentes: (i) alunos e aprendizagem, (ii) variadas situações de ensino? (iii) os pro-
gestão da sala de aula, (iii) currículo e fessores podem atuar de forma a criar e
instrução e (iv) outros. O destaque dado sustentar o planejamento e a organização
aos três primeiros componentes sugere das lições para contemplar o comporta-
que eles são fundamentais na composição mento individual e de um grupo? Para o
dessa categoria. Ao tratar sobre “gestão autor, a maneira como o professor organi-
da sala de aula”, a autora evoca como za os alunos e administra as atividades e
principal referência, o texto “Classroom situações de ensino dependem de diversas
Organization and Management”, publi- variáveis, como os propósitos para o en-
cado por Walter Doyle em 1986 e citado sino, o público alvo, o tempo e recursos
acima. disponíveis, as estratégias instrucionais,
Nesse texto autor faz uma sólida re- o sequênciamento dos conteúdos a serem
visão bibliográfica sobre pesquisas refe- abordados, entre outros.
rentes à gestão da sala de aula, orientado Na perspectiva de Doyle, o professor
pelas seguintes questões: (i) como a or- precisa possuir conhecimentos e habilida-
dem é estabelecida e mantida na sala de des relativas a gestão da sala de aula para
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balhos e investigações estão associados a entregue pelo professor para cada aluno
sua prática docente. Esse professor tem se no início do curso. Um PE é realizado em
destacado por anos seguidos na avaliação um período médio de quatro horas. Os
institucional de disciplinas realizada ao GDs são realizados com todos os alunos,
final de cada semestre, na qual os alunos organizados em roda. No GD são discu-
avaliam seus professores por intermédio tidos problemas que articulam as infor-
de um questionário com escala Likert. mações e os conceitos abordados no PE.
Além disso foi eleito no ano de 2013 Tais problemas são disponibilizadas na
como o melhor professor do Instituto apostila ou retiradas do livro texto. Cada
onde trabalha em um processo que envol- GD é realizado em um período médio de
veu a avaliação dos demais docentes. quatro horas.
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Nesse recorte, apresentamos uma pro- para a abordagem de cada tema requer do
gramação para o ensino de dois temas, professor o conhecimento sobre a quanti-
a saber: (i) aminoácidos e (ii) proteínas. dade de conteúdos associados a cada um
Como pode ser observado o tempo dis- deles, as estratégias utilizadas e o estágio
ponível para a abordagem de cada tema de desenvolvimento dos estudantes. No
é variado. Para abordar o tema “aminoá- trecho a seguir, o professor trata sobre o
cidos” o professor sugere dois períodos tempo que disponibiliza para o ensino e o
e para abordar “proteínas” sugere qua- estudo em sua disciplina:
tro períodos. Definir o tempo necessário
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tro horas, que é todos os itens que Até pela estrutura da disciplina
vão ser discutidos no período de ou outras como a nossa, são mui-
estudo, todos os itens que vão ser to mais frouxas, são muito mais
discutidos no grupo de discussão permissivas. E quando eu digo
são previamente discutidos entre permissiva quero dizer, transfere
eles, pra que eles se familiarizem grande parte dessa responsabili-
e possam orientar os colegas, né? dade para os alunos, não fecho
a porta às 8h05, então os alunos
Os monitores também colaboram com chegam à hora que eles querem e
a correção das provinhas e das provas saem à hora em que querem, mas
aplicadas durante a disciplina e são recur- a estrutura da disciplina traz uma
sos humanos importantes no processo de responsabilidade, porque eles sa-
gestão da sala de aula. bem que se eles não estudarem ali,
eles não vão acompanhar a discus-
“[...] não é pertinente exigir dele são.
(aluno) uma rigidez de postura.”
Da mesma maneira o professor lida
Durante os PEs, os alunos ficam li- com o controle da frequência nas aulas:
vres para saírem da sala e realizarem suas
atividades no ritmo que lhes seja conve- [...] você viu a gente não tem lis-
niente. O professor revela lidar com seu ta de presença ou tem uma lista
público alvo de maneira flexível e busca de presença informal, onde eles
criar um clima agradável para aprendiza- percebem que aquilo não vai ter
gem, conforme afirma: “Então, eu acho nenhuma influencia no rendimen-
que não é pertinente exigir dele uma rigi- to deles, não vai ser cobrado efe-
dez de postura. Diferenciando o que é se- tivamente e todos vinham, quer
riedade de austeridade: o indivíduo pode dizer, quando eles não vêm é uma
fazer uma tarefa com muita seriedade, exceção, uma coisa pontual, mas
mas ele não precisa ter aquela cara de em princípio você vê que estavam
quem tá fazendo a coisa mais importante todos lá todos os dias. E por que
do mundo. Isso pode ser leve, alegre, e eles vinham? Porque eles perce-
tudo mais”. bem que vale a pena.
Aqui, ele revela ter conhecimento so-
bre as características de seu público alvo, No trecho, ele demostra ser bastante
que são jovens e adolescentes, e por isso flexível com esse controle e mesmo as-
não exige uma postura rígida de seus alu- sim, poucos alunos faltam às aulas. Para
nos. Para ele, uma postura mais flexível o professor, isso se deve ao fato de que
não implica em falta de seriedade nem do eles reconhecem a importância de parti-
docente e nem dos alunos e que a flexibi- cipar das aulas e esse é um indicativo de
lidade e leveza nas aulas favorece a cons- que abordagem proposta na disciplina é
trução de um clima agradável e “alegre” aprovada pelos alunos.
para a aprendizagem:
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5.2. Gestão da sala de aula na si- eles tendo interesse, não tem mais
tuação de interação com os estudantes problema.
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dades que estimulam a interação entre os tância, se isso não estiver incomo-
agentes da sala de aula, a troca de ideias e dando ninguém, nem os que estão
a construção coletiva de conhecimentos; mais calados, nem os que são mais
evita uma postura passiva do aluno, mes- falantes, está tudo bem, não há ne-
mo que ele participe menos oralmente. cessidade de equalizar isso.
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participar deve ser sutil e estratégica, pois Mas não teve nenhuma dificulda-
se esse aluno se sentir censurado ou ex- de, foi até favorável, ambos apren-
posto poderá deixar de participar e perder deram. Ele e o grupo aprenderam
o interesse pela disciplina. O professor com a situação. Então, quando
relata a seguir, como tratou essa situação acontecem esses casos, que fogem
em sua sala de aula. um pouco da rotina, é preciso con-
versar no grupo, pro grupo enten-
E o andamento da história foi der aquilo como uma situação que
muito favorável, porque lá pelas está ocorrendo ali no grupo e que
tantas os colegas falaram isso pra a gente precisa encontrar a melhor
ele nas discussões que a gente faz solução, sem dramas, sem acu-
às vezes. Ao fim da discussão os sações nem nada. Fala olha, está
meninos falaram olha Marcelo, o acontecendo isso, vamos ver como
que acontece é o seguinte a gente a gente resolve.
não tem tempo de pensar e discu-
tir o tema, porque você fala logo Esse trecho corrobora com a postura
a solução e aí você fica explican- que o professor relata adotar diante do
do pra gente como é que é. Aí ele comportamento dos estudantes, pois eles
falou não, mas eu estava querendo são novamente convidados a atuar dian-
ajudar e tal... Recebeu muito bem te das situações que emergem na sala de
a crítica, então se eu estiver me an- aula e buscarem coletivamente uma so-
tecipando, vocês me avisam e tal. lução que responda às necessidades e ex-
pectativas de toda a turma.
O professor realiza, eventualmente,
rápidas discussões sobre a dinâmica e o 6. Discussão
andamento dos GDs. Essas discussões
ocorrem com maior freqüência no iní- Nessa investigação foi possível recon-
cio da disciplina, pois o grupo ainda está hecer que esse professor realiza o plane-
se ajustando às estratégias de ensino e jamento de sua gestão de aula conside-
aprendendo a se comportar em um gru- rando: (i) suas estratégias de ensino, (ii) a
po. Foi em uma dessas discussões que elaboração de roteiros de estudos para os
os próprios estudantes tiveram a oportu- alunos, (iii) o sequenciamento estratégico
nidade de evidenciar o comportamento de suas atividades, (iv) a organização dos
do colega hiperparticipativo e esclarecer alunos na sala de aula e (v) os recursos
as dificuldades geradas pelo excesso de humanos e materiais disponíveis para o
suas intervenções e “[...] Uma vez que ensino. Ele enfatiza a importância de um
ele foi notificado e tomou consciência da planejamento de ensino detalhado e apre-
situação, as coisas correram muito bem. senta uma organização de atividades sis-
Ele se segurou um pouco mais, os alunos temática baseada na tríade PE, GD e Pro-
tiveram oportunidades.”. vinha; o que constitui um núcleo central
Para ele, essa foi mais uma oportuni- de atividades que direcionam o ensino.
dade de aprendizagem para todos, confor- Sua valorização ao planejamento e
me afirma: a maneira como conduz suas aulas su-
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gere que um de seus objetivos é criar as aos alunos por meio de seu planejamento
condições necessárias para que os pró- de ensino que é compartilhado e discutido
prios alunos implementem esse planeja- no primeiro dia de aulas. Para Gauthier et
mento e ao professor caberia o papel de al. (1998):
supervisionar esse processo. Com essa
abordagem ele define como um de seus O planejamento da gestão da clas-
propósitos para o ensino o desenvolvi- se começa não somente com o
mento competências e habilidades rela- trabalho de preparação, antes do
tivas a autonomia e atuação crítica em início do ano letivo, mas também
grupo, o que é apontado por Rué (2009) com a implementação e a comu-
e Silvia (2011) como uma necessidade nicação de regras, de procedimen-
formativa nesse nível do ensino. Nesse tos, de relações e de expectativas
âmbito, Cunha (2009) destaca o concei- em face dos alunos assim que o
to de “Gestão participativa” como uma ano se inicia. (p.241).
característica de experiências inovadoras
no Ensino Superior, pela qual os sujeitos Esse planejamento começa antes do
envolvidos participam da gestão da sala início do inicio da disciplina e se esta-
de aula, desde a concepção de um plane- belece no decorrer das aulas, como um
jamento para o ensino até a análise dos planejamento em ação, particularmente
resultados e dessa forma “[...] há uma nas primeiras aulas da disciplina, pois
quebra com a estrutura vertical de poder esse momento é fundamental para que os
responsabilizando o coletivo do processo agentes da sala de aula se conheçam e as
de ensino e aprendizagem pelas propos- regras de convivência sejam compartilha-
tas formuladas. (p. 224)”. das (Gauthier et al., 1998).
No caso desse estudo, a gestão Percebe-se um significativo esforço
da sala de aula parece estar associada à para que a disciplina esteja bem planeja-
concepção do professor de como os alu- da e as aulas articuladas ao tema central
nos aprendem e de suas intenções para o por meio de um cronograma que define os
ensino (Novais e Fernandez, 2013). Sua objetivos de estudos de cada uma delas.
ênfase em atividades que proporcionem a Esse esforço do professor pode ser recon-
interação entre os agentes da sala de aula hecido pelos alunos, o que atribui mais
sugerem que para ele a aprendizagem é seriedade ao seu trabalho e à própria dis-
favorecida pela interação entre os alunos ciplina. Existe uma intenção implícita de
(Orts, 2005). Sugere também que trata-se que os alunos percebam que o ensino não
de um processo gradativo, pois os alunos está sendo realizado de qualquer maneira
se aproximam dos conceitos fundamen- e de que o professor é comprometido e
tais no PE, resolvem problemas inter- empenhado com sua aprendizagem.
relacionando tais conceitos nos GDS e, Nas relações interpessoais o professor
por fim, sintetizam e registram suas com- não trata as limitações ou dificuldade dos
preensões nas provinhas. alunos como um problema, mas como si-
Os objetivos de seu curso e as normas tuações que precisam e serão resolvidas.
que regem a dinâmica das aulas são pla- Ele gerencia as relações na sala de aula
nejadas antecipadamente e apresentadas devolvendo ao grupo as questões que
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Em sua gestão da sala de aula reconhe- dos para seu ensino e (iii) seu contexto de
cemos uma forte influência da dimensão atuação. A opção por atividades didáticas
afetiva, particularmente, na manifestação cetradas na interação entre os alunos exi-
de seu interesse em promover a interação ge que o professor realize escolhas e mo-
entre os agentes da sala de aula e com- bilize os recursos necessários para viabi-
partilhar o seu “poder” com os alunos lizá-las, o que lhe demanda um exaustivo
(Silvia, 2011). Esse mecanismo diminui tempo de reflexão e planejamento.
as tensões e ansiedades geradas durante o Fundamentados em nossas consta-
ensino e instaura a confiança entre o pro- tações, destacamos que a perspectiva as-
fessor e os alunos, gerando emoções po- sumida por esse professor para a gestão
sitivas que favorecem o engajamento dos da sala é norteada por quatro princípios
alunos nas atividades e a aprendizagem centrais, a saber a:
dos conteúdos propostos (Orts, 2009;
Brígido et al., 2009; Brígido et al. 2013). • Autonomia, estimulada por um con-
junto de estratégias e condutas do pro-
7. Considerações Finais fessor que ofereçam subsídios para que o
aluno reconheça seus próprios mecanis-
O professor planeja suas aulas de ma- mos de apredizagem, gerencie seu tempo
neira sistemática e coerente com: (i) o de estudo e assuma um papel ativo em
perfil dos alunos, (ii) os propósitos defini- sua própria aprendizagem, sendo capaz
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