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CONEXÃO UNIFAMETRO 2020

XVI SEMANA ACADÊMICA


ISSN: 2357-8645

NEOPLASIA DE ORIGEM MESENQUIMAL EM INDIVÍDUO DA


ESPÉCIE Carassius auratus (Linnaeus, 1758) – RELATO DE CASO

Renan Carlos De Souza Lima¹, Wládia Patricia Cavalcante Cunha¹, Renata Tempski
Fiedler², Vitória Regina Takeuchi Fernandes³, Ana Karine Rocha de Melo Leite4,
Bárbara Mara Bandeira Santos4.
Discente-Centro Universitário Fametro – Unifametro¹
Médica Veterinária - Clínica Veterinária Wildvet²
Médica Veterinária – Secretária de Estado da Educação do Paraná³
Docente - Centro Universitário Fametro – Unifametro4
renanlimamedvet@gmail.com
Área Temática: Clínica e biotecnologias aplicadas em medicina veterinária
Encontro Científico: VIII Encontro de Iniciação à Pesquisa

RESUMO

Introdução: Os peixes ornamentais da espécie Carassius auratus, mais popularmente


conhecidos como Kinguios, são animais frequentemente encontrados como pet, tanto no âmbito
nacional quanto internacional. Assim como os demais animais de estimação, é importante o uso
de medidas profiláticas e assistência médico veterinária para a manutenção do seu bem-estar.
Dentre as diversas enfermidades que acometem esta espécie, têm-se as formações neoplásicas,
que podem, inclusive, levar o animal ao óbito. Objetivo: Relatar um caso de neoplasia
mesenquimal em um indivíduo da espécie Carassius auratus. Métodos: Foi atendido um peixe
ornamental da espécie Carassius auratus cuja queixa era a presença de massa tumoral na região
dorsal da cabeça. Inicialmente o crescimento apresentava-se lento, porém, nos meses anteriores
à consulta, houve uma evolução rápida em seu tamanho. Foi realizada intervenção cirúrgica,
sob anestesia geral, para a excisão do neoplasma. Fragmentos foram enviados para avaliação
histopatológica. Resultados: Ao exame macroscópico os fragmentos apresentavam-se
irregulares e friáveis, ao corte, observam-se regiões esbranquiçadas e, outras, enegrecidas. Na
avaliação histopatológica verificou-se uma proliferação celular mesenquimal, com padrão
celular frouxo. Anisocitose, anisocariose e grânulos de melanina, com conformação de
fusiformes a arredondadas em algumas células também estavam presentes. O animal apresentou
completa recuperação após o procedimento. Conclusão: Conclui-se que as neoplasias são uma
realidade entre peixes ornamentais, destacando-se as de origem mesenquimal. Nesse relato, o
diagnóstico precoce associado a uma assistência médico veterinária especializada foi essencial
para promover o bem-estar e aumentar a expectativa de vida deste animal.
Palavras-chave: Aquarismo; Clínica Médica Veterinária; Peixes Ornamentais; Neoplasia
maligna.

INTRODUÇÃO
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ISSN: 2357-8645

Os peixes ornamentais estão cada vez mais presentes nos lares brasileiros, sendo
registrados cerca de 19 milhões de indivíduos criados como pet (ABINPET, 2019). Devido a
sua beleza e interação com o tutor, os Kinguios (Carassius auratus) são destaques no aquarismo
(CALADO, 2017).

O Carassius auratus é uma espécie de origem chinesa, popular em todo o mundo e


de fácil manutenção em aquários. Com o avanço das técnicas de seleção genética, surgiram
variações da espécie, como: Red Cap, Telescópio, Cauda-de-foguete, Cálico e Ovo (sem
nadadeira dorsal) (WILDGOOSE, 2001, CALADO, 2017). A variação Cometa Cálico
apresenta um corpo alongado e delgado, com nadadeira caudal bifurcada e longa, e escamas
dispostas em conjunto, formando uma mistura de escamas transparentes e metálicas, que
produzem um efeito perolado (WILDGOOSE, 2001, KUNII, 2010, CALADO, 2017). Esses
animais, assim como quaisquer outros pets, necessitam de cuidados específicos e exames de
rotina, para que a sua expectativa de vida possa ser estendida e seu bem-estar maximizado
(LOPES, 2015; CETERA, 2018).

As neoplasias são enfermidades prevalentes em diversos vertebrados, inclusive


aquáticos (ROCHA et al., 2017). Em peixes, fatores ambientais, genéticos e biológicos, como
o vírus Oncorhynchus maso, podem estar envolvidos na etiologia de formações neoplásicas
(LEATHERLAND, 2006). Neoformações cutâneas, incluindo neoplasmas de origem
mesenquimal, figuram entre as mais frequentemente neoplasias relatadas em peixes teleósteos
(RAMOS & PELETEIRO, 2003; McGAVIN & ZACHARY, 2013; GROFF, 2014).). Estas, em
sua maioria são benignas, porém, vale ressaltar que há relatos de neoplasias malignas nesses
animais, como lipossarcoma e fibrossarcoma. De maneira geral, estes quadros exigem
intervenções cirúrgicas, e para isso, necessita-se de um médico veterinário especializado no
atendimento destes indivíduos (GROFF, 2014; SMITH, 2019).

O diagnóstico da presença de neoplasias em peixes é simples (ROBERTS, 2012),


entretanto, a problemática se encontra na sua diferenciação e classificação, que exige
conhecimentos específicos e difere-se da avaliação histopatológica frequentemente realizada
para outros vertebrados (TERIO et al, 2018). Além disso, estas podem causar graves danos
dependendo de sua localização, como hemorragia e necrose por compressão de órgãos e tecidos
diversos (McGAVIN & ZACHARY, 2013; ROBERTS, 2012).
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Diante dos achados acima descritos, considerando-se a presença de neoplasias em


peixes ornamentais e seu possível impacto sobre a vida do animal, objetiva-se relatar um caso
de neoplasia mesenquimal em um indivíduo da espécie Carassius auratus.

METODOLOGIA

Um indivíduo da espécie Kinguio variedade Cometa Cálico (Carassius auratus),


macho, de aproximadamente 3 anos de idade, foi apresentado para atendimento, com histórico
de presença de massa na região dorsal da cabeça, de coloração pálida, há cerca de 12 meses. À
anamnese foi relatado que o crescimento da formação neoplásica teve um avanço rápido nos
meses anteriores à consulta, atingindo a região próxima ao olho esquerdo (Figura 1A). Foi
indicada intervenção cirúrgica.

A B

Figura 1: A- Peixe da espécie Carassius auratus mostrando massa tumoral na região dorsal da
cabeça. B- Procedimento cirúrgico mostrando a extirpação do tumor.
O procedimento cirúrgico, incluindo o processo de anestesia teve duração de cerca
de 15 minutos (Figura 1B). Como protocolo anestésico foi empregado eugenol por via de
imersão, na dose de 0,75 ml/L. O tempo de recuperação anestésica foi de aproximadamente 15
minutos. Foram excisados através de técnica cirúrgica convencional dois fragmentos
neoplásicos, medindo cerca de 0,6x0,5x0,4 cm e 1,6x1,0x0,7 cm, que foram fixados em
formalina a 10% e enviados para realização de exame histopatológico em laboratório privado.
O material foi processado através de histotécnica convencional e corado com coloração
Hematoxilina-Eosina, Tricrômio de Masson e Alcian Blue, para marcação de estroma mixoide.
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Optou-se pela cicatrização por segunda intenção da ferida cirúrgica e o tutor foi
orientado a acompanhar diariamente o animal até sua completa recuperação. Neste período, o
indivíduo foi mantido em um aquário hospital de 14 litros. Com administração de enrofloxacina
por via de imersão, na dose de 5mg/L uma vez ao dia (s.i.d), durante 7 dias.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O animal não apresentou efeitos adversos à contenção química ou intercorrências


durante a cirurgia. Macroscopicamente, os fragmentos excisados eram irregulares, friáveis ao
corte, de consistência sólida e coloração esbranquiçada entremeada a áreas enegrecidas. A
apresentação de tecidos moles e friáveis com coloração esbranquiçada é tida como característica
geral de neoformações em animais (COELHO 2002; ABBAS et al., 2008.). Sabe-se também
que bordas irregulares da massa tumoral e aspecto sólido são indícios de malignidade (ABBAS
et al., 2008).
Microscopicamente, verificou-se uma proliferação de células mesenquimais, com
um padrão celular frouxo. As células se apresentavam fusiformes a estreladas, afastadas entre
si por matriz mixoide abundante com citoplasma anofílico. Neoplasias de origem mesenquimal
tipicamente caracterizam-se pela presença de células fusiformes e acentuada basofilia
citoplasmática (McGGAVIN; ZACHARY; 2013; COWELL et al., 2001; COELHO, 2002),
achados encontrados neste relato. Assim, diagnosticou-se neoplasia de origem mesenquimal.
Os núcleos celulares eram alongados com cromatina densa a grosseira e um
nucléolo inconspícuo. Também se verificou a presença de anisocitose e anisocariose moderadas
(Figura 2B). Algumas áreas continham células com grânulos de melanina, com conformação
fusiforme a arredondada (melanócito e melanomacrófago). A presença de uma cromatina
grosseira, anisocitose, anisocariose e núcleo alongado são achados comuns em neoplasias
mesenquimais malignas (COWELL et al., 2001; ABBAS et al., 2008).
Não foram encontradas figuras de mitose. Entretanto, sabe-se que apesar de
neoplasias malignas apresentarem caráter celular proliferativo como característica
patognomônica, seu diagnóstico não pode ser baseado apenas por esse achado, visto que outros
processos podem apresentar uma alta atividade mitótica (GROFF, 2014). Dessa forma, a
ausência de visualização de células mitóticas nesse relato não descarta a possibilidade de o
neoplasma apresentado possuir características de malignidade, conforme descrito
anteriormente.
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Verificou-se também a presença de pigmentos de melanina (Figura 2A). Entretanto,


este achado é comum em neoplasmas de peixes, pois os pigmentos são mecanismos protetores
contra poluentes e danos celulares (HARTLEY et al., 1996). Por este fato, segundo
VERGNEAU-GROSSET et al. (2017), neoplasias de origem mesenquimal podem ser
confundidas com neoplasias de células pigmentadas em Carassius auratus.
Os fibrossarcomas são as neoplasias malignas de origem mesenquimal mais
comuns em peixes, todavia, também existem relatos de outros tipos de neoplasias
mesenquimais malignas nestes animais. Para o diagnóstico acurado, seria necessária a
realização de exame de imuno-histoquímica para que pudesse ser avaliado o tipo de neoplasia
apresentado, uma vez que este método fornece informações sobre as características
morfológicas celulares, podendo assim, verificar-se o tipo de célula mesenquimal envolvida
(GROFF, 2014).
Neoplasias malignas tendem a ter um crescimento rápido, porém, também pode
haver crescimento lento por um longo período de tempo e, posteriormente, haver crescimento
acelerado (ABBAS et al., 2008). Fato observado nesse relato. Outro fator preocupante em
relação às neoplasias malignas são as recidivas após a excisão cirúrgica. Entretanto, até o
presente momento, isso não foi observado. O animal não apresentou quaisquer sinais adversos
durante o pós-operatório e teve uma breve recuperação.

A B

Figura 2: Achado histopatológico mostrando tumor mesenquimal. A-. Áreas contendo células
contendo grânulos de melanina, podendo ser fusiformes a arredondadas (melanócito e
melanomacrófago). HE 400X. B- Áreas com anisocitose e anisocariose moderadas (retângulo),
mesenquimal. Áreas contendo células contendo grânulos de melanina, podendo ser fusiformes
a arredondadas (círculo). HE.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS/CONCLUSÃO

Conclui-se que as neoplasias são uma realidade entre peixes ornamentais,


destacando-se as de origem mesenquimal. Nesse relato, o diagnóstico precoce associado a uma
assistência veterinária especializada foi essencial para maximizar o bem-estar e a expectativa
de vida do animal.

REFERÊNCIAS

ABBAS, A. K. et al. Robbins Patologia Básica. Elsevier Brasil, 2008.


ABINPET. (2019). MERCADO PET BRASIL 2019. Disponível em:
http://abinpet.org.br/mercado/. Acesso em: 21 set. 2020.
CALADO, R. et al. Marine ornamental species aquaculture. John Wiley & Sons, 2017.
CETERA, D. (2018). KINGUIOS: CONHEÇA ANTES DE MONTAR UM AQUÁRIO:
Kinguios para Iniciantes: o que você precisa saber antes de montar um aquário de
kinguios. Porto Alegre/RS: © Tropical Import 2020 | desenvolvimento: CatFish Aquarismo
2020. Disponível em: http://www.tropicalimport.com.br/artigos/kinguios-conheca-antes-de-
montar-um-aquario/. Acesso em: 21 set. 2020.
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CONEXÃO UNIFAMETRO 2020
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