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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

LICENCIATURA EM FILOSOFIA
AVALIAÇÃO DE ESTÉTICA 1
PROFESSOR: Pedro Hussak
10/11/2021
ALUNO: Arthur Vinícius de Faria Ferreira
MATRÍCULA: 20210019881

Mímesis em Platão

A mimesis aparece em Platão como elemento fundamental para explicar a distinção


entre tudo que se apresenta de modo sensível por aparência no mundo material, de sua
essência ou forma verdadeira que se encontra em um plano inteligível. Deste modo, toda
arte/ofício(techne), para Platão, seria um trabalho de imitação (mimesis) da Forma (eidos),
sendo que nenhuma produção pode de fato atingir o “igual em si”.

As obras platônicas, em geral, constituem-se de uma série de diálogos, entre Sócrates e


seus discípulos, que têm por um dos objetivos estabelecer um papel exemplar ao filósofo: se
preparar para a morte, visto que a morte para Platão se aplica somente ao corpo, de modo que
a alma se liberta a fim de contemplar o mundo inteligível. Nesta perspectiva, as coisas
mundanas, corpóreas, assumem uma posição secundária ou até mesmo rebaixada,
caracterizando-se simplesmente como uma cópia falsificada da ideia. Logo, o filósofo deve
acautelar-se com a realidade expressa por meio da sensibilidade humana, isto é, qualquer tipo
de afeto, paixão (pathos), memória, entre outras armadilhas sensíveis que podem desvirtuar a
alma do filósofo: “Se verdadeiramente a alma é imortal, cumpre que zelemos por ela [...] E,
entre estes, aqueles que pela filosofia se purificaram de modo suficiente passam a viver
absolutamente sem os seus corpos, durante o resto do tempo, e a residir em lugares ainda mais
belos que os demais” (SOUZA, 1972, p. 121-128).

A partir do postulado da imortalidade da alma, o qual estabelece uma divergência


entre inteligível e sensível, entre a essência e sua aparência, Platão nos leva a refletir sobre o
que de fato é bom e belo. Sócrates, personagem pelo qual Platão expressa seu discurso
filosófico, em seus diálogos, coloca em questão os valores e virtudes pré-estabelecidos pela
educação proveniente de Homero, considerado “educador da Grécia” (PLATÃO, 2001, p.
472), Hesíodo, entre outros poetas. Aedos estes, que a partir de suas poesias, por inspiração
das deusas da memória (musas), fundamentaram a cultura grega ao assentar seus valores
morais, sociais e religiosos. Sócrates portanto, transgredirá a verdade poética, ao conferir
tanto ao próprio ofício do poeta quanto dos rapsodos, enquanto carentes de uma conexão
profunda com o conteúdo essencial do canto, um caráter mimético de imitadores da verdade
sem efetivamente atingi-la (PLATÃO, 2001, p. 461). Com efeito, Platão considera as poesias
como uma fonte de má influência, tendo em vista sua representação errônea dos deuses e
heróis, além de exemplos distorcidos de valores morais que podem ser prejudiciais à
educação dos guardiões “Acaso diremos que é devido à ignorância, à educação defeituosa e à
forma de constituição que surgem aí pessoas e tal jaez?” (PLATÃO, 2001, p. 376).

Ademais, Platão concebe outros tipos de ofício como uma mera “arte de imitar [...]
longe de alcançar a verdade” (PLATÃO, 2001, p. 455) ou o belo. Sendo assim, coloca todo o
artefato como um simulacro ou cópia deficitária da forma ou ideia acessada pelo homem
através da reminiscência. Para Platão, tudo o que existe na forma física, material, seria o
produto de uma rememoração daquilo que um dia a alma contemplou no Hades, que através
do exercício cognitivo do pensamento o homem gradativamente pode acessar, mas sem
alcançar diretamente o belo, ou o igual em si. A mimesis, portanto, se assemelha ao ato de
reproduzir, como uma criança órfã que ao olhar o retrato (eidólon) do pai ausente, apesar de
não ter dele um acesso absoluto e não poder contemplar sua imagem perfeita, o desenha a
partir das dimensões que uma fotografia lhe propõem. Por consequência, apesar de ter uma
noção da arte (techne) de desenhar, traça as linhas em um papel de modo que seu desenho,
embora imperfeito, remeta-o à ideia daquilo que o pai era.

REFERÊNCIAS

Souza, J. C. PLATÃO: banquete, Fédon, Sofista, Político. São Paulo: Abril Cultural, 1979.

Platão. A República. Tradução de Maria Helena da Rocha Pereira. 9 ed. Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian, 2001.

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