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  • Octavio Ianni - A Sociedade Global-Civilização Brasileira (2013) - 1

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    Octavio Ianni - A sociedade global-Civilização Brasileira (2013)-1

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    eee Se eum on) excala internacional, pela emergéncia dos chamados pee ee a) Pee ey cee ee eee eee on Dee ee ek Ee) Ce ee ua rn) planetéria, nascida no seio da primeira revolugho eee nue ecu COE aoa Umberto Cerroni, “Liberalismo e socilismo’ eee) iii Tne Serre Be Nerretcceticera ty COPYRIGHT © Octavio Tanai, 1992, Evel Grumacl PRojeTo GRARCO Etch Gramach e Joao de Souss Leite PREPARACAO DE ORIGINAS Robert Farah Correia de Novses EDITORAGAO ELETRONICA atime” SL. CATALOGAGAO NA FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ anni, Octavio, 1926: it Asociedade global /Octavio lanai, 1S*ed, Rio de Tsved, _aveito: Giviizagio Brasileira, 2013, 192p Incl biblogeafia ISBN 978-85-200-0100-4 1. Civilzagio moderna Séalo XX. 2. Sociologia. 3 Connicagioe tecnologia Tia. pp 303.4 9.0835 CU 316 “Todos ox direitos reservados. Poibida a reprodugdo,armazenamento 08 transmissio de partes dese liveo, através de quaisquer meio, sem a previa ‘aurorizagio por escrito. Diretos desta edigio adguiridos pela EDITORA CIVILIZACAO BRASILEIRA Um slo da EDITORA JOSE OLYMPIO LTDA. Rua Argentina 171 — Rio de Janeiro, RJ ~ 20921-380 ~Tels 2585-2000, Sein um letorpreferencial Record. Cadastre recea informagies Sobre nossoslangamentos fe nossas promogies. Atedimentoe venda dreta 20 ‘ndirero@record com.be Inypeessono Brasil 2013 | IFRN- CM - BIBLIOTECA { (THALDO ARSERIO DE AZEVEDO | Sumario REFACIO O7 1, A grande transformagio 09 2. A sociedade civil mundial 33 3. A hist6ria da mundializagao 51 4. A ocidentalizagao do mundo 69 5. A desterritorializagio. 89 6. O cidado do mundo 107 7. As formas do poder global 125 8. A marcha da historia 147 9. Os horizontes do pensamento 165 sisuiocrara 183 | rw-camus moss.inc | a1auioTEca j ARNALDO ARSENIO DE AZEVEDO | RB____Tombo. | Data 77 aquisiga eo | Ne Chamada; a PREFACIO A idéia de globalizagao est4 em muitos lugares, nos quatro cantos Surge nos acontecimentos € interpretagGes relativos a cional, multinacional, transnacional, mundial e al, assim como nas produces do mundo. tudo que é interna planetario, Esté presente na vida so Ressoa em toda reflex » sobre capitalismo, socialis- inteleceu: mo, Ocidente, Oriente, islamismo, cristianismo, modernidade pés-modernidade. Em escala crescente, as ciéncias sociais estio sendo desafiadas por esta problematic. Sob varios aspectos, a glo- balizagio confere novos significados a individuos e sociedade, modos revolugio, tirania e democracia. Permite pensar o presente, rebus- vida ¢ formas de cultura, etnia ¢ minoria, reforma e car 0 passado e imaginar 0 futuro, Tudo pode ganhar outra luz, quando visto sob a perspectiva aberta da globalizagio, Este livro beneficia-se de amplo didlogo com autores ¢ idéias. ‘ompreende naturalmente 0 debate com intelectuais de diferentes universidades nacionais e estrangeiras. A todos agradeco aqui, , em especial, a0 amigo e colega Renato Ortiz, que também caminha pelo mundo lidando com a globalizacdo. SAO PAULO, JANEIRO DE 1992 OCTAVIO IANNI JERN- Cl - BIBLIOTECA /NALDO ARSENIO DE AZEVEDO { cwirnor A grande transformagao Ha caracteristicas da sociedade mundial que se revelam de modo particularmente nitido quando ocorrem conjunturas criticas. Nessas ocasides, explicitam-se relagdes, processos ¢ estruturas pouco visiveis, ou mesmo insuspeitados. A Primeira Guerra Mundial, de 1914-18, a Grande Depressio Econémica Mundial, iniciada em 1929, e a Segunda Guerra Mundial, dos anos 1939- 45, sio exemplos muitos claros. Revelam articulagdes e antagonis- mos envolvendo nagdes ¢ continentes. A Guerra Fria iniciada em 1946 a partir do discurso de Winston Churchill em Fulton, nos Estados Unidos, e a queda do Muro de Berlim, em 1989, sdo ‘outros acontecimentos reveladores. Em todos esses casos, 0s acon- tecimentos tornam explicitas carateristicas essenciais da sociedade mundial. Além das nagdes pobres e ricas, centrais e periféricas, ominantes e dependentes, revelam-se relagdes, processos ¢ estru- turas ainda pouco conhecidos, operando em escala global. Alls, esses acontecimentos poem em evidéncia caracteristicas Inisicas das sociedades nacionais, algumas das quais também pouco ‘conhecidas; assim como revelam caracteristicas das sociedades vis- tas em Ambito continental. Nos anos 1930, durante a Grande Depressio, quase todos os paises da América Latina tiveram " mudangas bruscas, violentas ou ilegais de governos, regimes e blo- os de poder. Nos anos posteriores ao término da Segundo Guerra Mundial, praticamente todas as coldnias européias na Africa, Asia € América Latina emanciparam-se politicamente. Desde a inaugu- ragio, em 1985, da perestroika e da glasnost pelo governo Gor- bachey, na Unio Soviética, no s6 caiu 0 Muro de Berlim como também todas as sociedades do antigo bloco soviético, no Leste Europeu, mudaram seus governos e regimes. Em poucos anos, a Unido das Repablicas Socialistas Soviéticas (URSS) modificou-se radicalmente. A perestroika pds em préitica mudangas profundas na estrutura do sistema econdmico soviético, com a substituigao dos mecanismos da economia centralmente planificada pelos mecanis ‘mos da economia de mercado. E a glasnost inaugurou a democrati- zac0, a quebra do monopélio da vida politica nacional pelo Partido Comunista, o abandono do esquema Estado-partido-sindi- cato, a transparéncia nas relagGes politicas. Tensoes sociais acumu- Jadas manifestam-se de maneira aberta, precipitando as transfor- mages. O Golpe de Estado comandado por quadros remanescen- tes da burocracia civil e militar do stalinismo, ensaiado e derrotado em agosto de 1991, acabou funcionando como elemento dinamiza- dor das transformagies sociais em curso. Desarticulou-se a URSS. © mundo esté sendo revolucionado outra vez. Algumas trans- formagées sociais, econémicas, politicas e culturais que estavam germinando desde 0 comeco do século aceleraram-se depois da Segunda Guerra Mundial e intensificaram-se ainda mais a partir das reformas iniciadas por Gorbachev desde 1985. A queda do Muro de Berlim em 1989 simboliza nfo s6 a crise dos regimes socialistas do Leste Europeu mas também a abertura de novas fronteiras para a expansdo do capitalismo naqueles paises. A Guerra do Golfo Pérsico tornou explicitas divergéncias latentes tanto entre os pafses europeus como entre estes e os Estados Unidos, além de complicar as relagdes da Europa e dos Estados Unidos com 0 Mundo Arabe. Ao mesmo tempo que o capitalismo se depara com novos horizontes, ja que se abrem os mercados do 2 A GRANDE TRANSFORMAGAO Leste Europeu, particularmente o da Unio Soviética, também cemergem divergéncias e tenses no ambito das nacées capitalistas. Reabrem-se contradigdes sociais que se haviam mantido controla- das durante a vigéncia da Guerra Fria. A cise do socialismo abre varias questdes hist6ricas e teéricas «Ja maior importincia, sem as quais seria dificil compreender algu- mas das caracteristicas da grande transformacdo em curso nesta parte da histori. Em primeiro lugar, agravaram-se as contradigdes entre as for- mas juridico-politicas e ideolégicas de organizacao da sociedade, por um lado, e as manifestagdes reais e potenciais das forcas sociais, por outro. Depois de décadas de industrializagao intensiva extensiva, bem como de urbanizagio, desenvolvimento educa- cional, elevagao do nivel social e intelectual de amplos setores do povo, as formas juridico-politicas e ideol6gicas entraram em des- ‘compasso com as manifestagées reais e as potencialidades politicas © culturais das forcas sociais presentes na sociedade. O regime codificado na férmula “Estado-partido-sindicato”, baseado no partido tinico, no “centralismo democratico” e no planejamento mico centralizado, revelou-se incapaz de responder aos inovimentos, as inquietagdes e &s potencialidades das forcas sociais. As diversas manifestagdes reais e potenciais dos mais dife- rentes setores sociais, politicos, culturais, étnicos, religiosos e ‘outros, pouco ou nada ressoavam nas estruturas juridico-politicas vigentes. A cerrada ideologiza¢ao da ordem estabelecida, em nome «la revolugao e do marxismo-leninismo, isto é, do stalinismo, blo- queava amplamente o didlogo entre os mais distintos setores € 05 mais diferentes grupos dirigentes. “A perestroika € uma necessidade urgente que surgiu da pro- {undidade dos processos de desenvolvimento em nossa sociedade socialista, Esta encontra-se pronta para ser mudada e hé muito empo que anseia por mudangas. Qualquer demora para implantar « perestroika poderia levar, num futuro préximo, a uma situagao interna exacerbada que, em termos claros, constituiria um terreno a fértil para uma grave crise social, econémica ¢ politica (...) A que- da das taxas de erescimento ¢ a estagnacdo econdmica acabaram outros aspectos da sociedade soviética. A esfera por influenci: sativas, 0 que levou social foi seriamente afetada por tendéncias n icordo com 0 ao aparecimento do chamado principio residual, de qual os prc is recebiam o que sobrava do orcamento depois da alocagao mas sociais e cultu recursos para a produgio. Parecia que éramos insensiveis aos problemas sociais. A esfera social comecou a ser relegada a posiges inferiores em relagdo a outras em termos de desenvolvimento tecnolégico, know-how pes- soal e, principalmente, qualidade do trabalho (...) Também no igico, o mecanismo paralisante criou maior resisténcia campo ideo as tentativas de examinar construtivamente os problemas emergen- tes € as novas idéias. A propaganda do sucesso, real ou imaginario, estava ganhando terreno. Os elogios ¢ o servilismo foram encora- jados; as necessidades e opinides dos trabalhadores comuns, geral- mente ignoradas. Nas ciéncias sociais, a teoria escolistica foi esti- mulada e desenvolvida; 0 pensamento criativo, expulso, declaran- do-se juizos voluntaristas e supérfluos como verdades incontesté- veis, As discussdes cientificas e tedricas, indispensdveis ao desen- volvimento do pensamento e ao esforgo criativo, foram emascula- das. Tendéncias negativas semelhantes também influenciaram a cultura, as artes ¢ o jornalismo, bem como os métodos de ensino € a medicina, onde a mediocridade, 0 formalismo e o panegirico retumbante vieram a tona.”! As contradigées entre as estruturas juridico-politicas e ideol6gi- cas, de um lado, ¢ as manifestagdes ou potencialidade das forgas so- ciais, de outro, germinaram em todos os paises do Leste Europeu: Unio Soviética, Tchecoslovéquia, Poldnia, Hungria, Iugoslavia, a, Lituénia, Letonia, Estonia e Albinia. Em todos a, Romé idéias para 0m | + Mikhail Gorbachev, Perestroil u pais € 0 | mundo, trad. de J. Alexandre, Editora Best Seller, Sio Paulo, s/d., pp. | 15, 19 ¢ 20-1. A edigdo em inglés deste livro saiu em 1987. “4 A GRANDE TRANSFORMACAG manifestaram-se ¢ agravaram-se os desencontros, naturalmente segundo as condigdes peculiares de cada um. No conjunto, © que ocorre nas sociedades do Leste Europeu é uma ruptura estrutural, revoluciondria, da maior significagio. Tanto para as sociedades nvolvidas, como para a sociedade global em forma- nnta uma ruptura hist6rica e teOrica de diretament Gio, o que ocorre ali repre: profundas e amplas implicagdes. “0 que aconteceu foi na verdade uma ruptura completa e irre- versivel do sistema rotulado de socialismo real. As caracterfsticas que definem este sistema so as seguintes: 1) Sistema do partido Linico, isto 6, completo monopélio do poder politico e econémico pelo partido tinico de governo. A oligarquia dominante do partido tinha o controle completo do aparato estatal; 2) O Estado, por seu lado, exercia completo controle sobre toda a vida piiblica: polit ca, economia e cultura; 3) Todos os meios de produgdo eram pro- priedade estatal, incluindo-se ai os servigos e as mais pequenas lojas; 4) Os comités de planejamento estatal decidiam até os mini- mos detalhes sobre a producio e distribuigo de mercadorias, acerca de saldrios, pregos € novos investimentos; 5) O conjunto da sociedade era organizado hierarquicamente, como na sociedade pré-moderna. A expressio da hierarquia era o sistema da nomen- clatura, que prescrevia a posigao, as obrigagdes € os privilégios de cada funcionério engajado no processo decisério. Os mais altos escaldes da hierarquia garantiam privilégios e promogdes aos infe- riores, em troca de absoluta lealdade e obediéncia; 6) A cultura era dominada pela ideologia oficial, que era uma versao muito seleti- va, deformada e vulgarizada das idéias de Marx e Lénin; 7) Os problemas de bem-estar-social eram parcialmente resolvidos por meio de uma politica de pleno emprego e pregos subsidiados de alimentos basicos, energia, aluguéis e servigos.”2 Mihailo Markovic, “The Meaning of Recent Social Changes in Eastern Europe", Praxis International, vol. 10, n% 3-4, Cambridge, | outubro de 1990 janciro de 1991, pp. 213-235 cit. da p. 213, 1s Em segundo lugar, cabe reconhever que o socialismo que entrow em crise no Leste Europeu resultou de revolugdes que poderiam ser consideradas prematuras. Se aceitamos que a teoria da revolugio socialista pressupde as condigdes e as contradigées da sociedade capitalista desenvolvida, entdo é possivel afirmar que em todas as sociedades do Leste Europeu aquelas condigdes e contradigées encontravam-se pouco desenvolvidas quando se realizou a conquis- ta do poder pelos partidos comunistas. Em todas, além do predomi nio de segmentos agrarios, havia amplos remanescentes pré-capita~ listas ou propriamente feudais. As préprias classes sociais mais

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