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INTRODUÇÃO AO ABA Campbell (2003) e Honer, Carr, Stain,

O transtorno do Espectro Autista (TEA) Todd, Reed (2002), ser considerados


é um transtorno do obstáculos para os processos de ensino
neurodesenvolvimento, com alta – aprendizagem e de integração social
herdabilidade e origens genéticas de pessoas com esse diagnóstico.
multifatoriais, ainda não identificadas. O estudo de Lovaas (1987) foi o
Para o diagnóstico deste transtorno, primeiro estudo sobre intervenção
dois aspectos são considerados: comportamental intensiva aplicada ao
1. Déficits na área de comunicação tratamento do autismo. Nele, crianças
social (DSM-5/APA, 2013) com autismo abaixo de 4 anos foram
2. Excessivo engajamento em divididas em 3 grupos: um grupo
comportamentos repetitivos e experimental, formado por 19 crianças,
restritos (DSM-5/APA, 2013) o qual foi exposto à intervenção
As manifestações comportamentais comportamental intensiva por 40 ou
que definem o TEA incluem mais horas semanais, por dois ou mais
comprometimentos qualitativos no anos consecutivos; um grupo controle,
desenvolvimento sociocomunicativo, composto por 19 crianças, que recebeu
bem como a presença de intervenção comportamental mínima,
comportamentos estereotipados e de por 10h semanais ou menos;
um repertório restrito de interesses e Os resultados indicaram que 47% das
atividades, sendo que os sintomas crianças expostas à intervenção
nessas áreas, quando tomados intensiva tiveram redução significativa
conjuntamente, podem limitar ou dos sintomas do autismo,
dificultar o cotidiano do individuo (APA, apresentando desenvolvimento
2013). próximo ao esperado para a idade
De acordo com a intensidade e cronológica; 42% tiveram uma redução
frequência destes sinais, é possível acentuada dos sintomas e 11%
classificar o TEA em diferentes continuaram com sintomas graves do
graus/níveis. O DSM-5 (APA, 2013) traz autismo. As crianças do grupo controle
a classificação de acordo com o nível de que receberam intervenção mínima,
gravidade, o qual pode variar para cada obtiveram resultados muito diferentes;
aspecto/critério diagnóstico, assim, 2% apresentaram desenvolvimento
nível 1 na área de comunicação social próximo ao típico, 45% tiveram uma
não significa, necessariamente, o redução dos sintomas e 53%
mesmo nível para outras áreas. continuaram com sintomas graves de
Os níveis de acordo com o DSM-5 autismo. As crianças do segundo grupo
(APA, 2013) são: Nível 3 – “Exigindo controle, que foram tratadas em outros
apoio muito substancial”, Nível 2 – centros de atendimento que não
“Exigindo apoio substancial” e Nível 1 – realizavam a intervenção
“Exigindo apoio”. comportamental ou intensiva, também
A Associação Americana de Psiquiatria apresentaram resultados muito abaixo
(APA), também considera o TEA como dos obtidos pelas crianças do grupo
um transtorno do desenvolvimento experimental. Os dados gerais
tendo como uma de suas mostraram que 50% das crianças do
características a presença de estudo apresentou desenvolvimento
comportamentos disruptivos. Estes próximo ao típico e que
comportamentos podem, segundo aproximadamente 90% delas
apresentaram melhora no habilidades acadêmicas), habilidades
desenvolvimento. sociais, desenvolvimento motor e
Gomes e Mendes (2010) descrevem os autonomia (Hihbee, 2012), esse
principais objetivos das intervenções trabalho conjunto é essencial para a
realizadas em casos de indivíduos com elaboração de currículos
TEA, destacando a importância de se individualizados que atendam às
ensinar novos comportamentos e necessidades específicas de cada
reduzir comportamentos disruptivos. pessoa com TEA, a partir da proposição
Isso se torna importante para que essas de procedimentos sistemáticos e
crianças possam adquirir uma função graduais de ensino que identifiquem as
mais adaptativa na obtenção de ganhos variáveis controladoras dos
no ambiente físico e social e que sejam comportamentos específicos e ensinem
generalizáveis para uma diversidade classes de comportamentos
maior de ambientes do que aqueles socialmente relevantes.
restritos ao ensino. Crianças com TEA podem aprender a se
Para a adaptação do individuo à comunicar, se socializar e adquirir
sociedade Almeida-Verdu e habilidades importantes que melhorem
colaboradores (2012), os programas de seu nível de funcionamento geral. Um
ensino seguem uma sequência dos objetos da intervenção
curricular individualizada e composta comportamental é melhorar a
pelos comportamentos-alvo a serem qualidade de vida dos estudantes com
ensinados para um determinado algum transtorno do desenvolviemnto,
individuo. Cada programa delineia uma favorecendo seu desenvolvimento de
medida do repertório inicial do aluno, o forma a prepará-la para a vida social e
comportamento alvo a ser alcançado, escolar.
os comportamentos pré-requisitos ou Análise do comportamento aplicada
necessários para se atingir os objetivos, tem um impacto considerável sobre os
os procedimentos a serem aplicados e comportamentos de crianças e adultos
os materiais a serem utilizados. com TEA. Intervenções
Sendo TEA um transtorno que, comportamentais intensivas têm se
geralmente, acomete atrasos nas mostrado promissoras desde a década
diversas áreas do desenvolvimento, de 80, mostrando ganhos significativos
ressalta-se a importância de no desenvolvimento.
intervenções que contemplem Ressalta-se que é considerada
procedimentos de ensino para intervenção comportamental intensiva
ampliação das habilidades de todas as os modelos de trabalho que
áreas em déficit. Para tal, o ideal é a contemplam intervenção
realização de um trabalho fundamentada em princípios de análise
interdisciplinar e uma programação do comportamento, individualizada
detalhada para o ensino de diferentes (um educador para uma criança com
comportamentos que integram o autismo), aplicada de 15 a 40 horas
desenvolvimento. semanais, que abranja várias áreas do
Como as intervenções podem variar desenvolvimento simultaneamente e
entre o ensino de diferentes que seja realizada por pelo menos dois
habilidades, como linguagem (receptiva anos consecutivos.
e expressiva), desenvolvimento O currículo de habilidades foi dividido
cognitivo (com destaque para em cinco áreas: atenção, imitação,
linguagem expressiva, linguagem programa e procedimentos (instrução,
receptiva e pré-acadêmica. O currículo estímulo antecedente, procedimento
de habilidades de autocuidados foi de ensino, hierarquia de dicas,
dividido em 4 partes: alimentação, materiais).
higiene pessoal, vestuário e uso do Antes de iniciar o ensino de cada
banheiro, que englobam habilidades programa, é realizada uma avaliação
variadas. específica (linha de base), também
Os cuidadores realizavam as atividades, registrada neste mesmo protocolo, de
em média, 5 vezes por semana, 3 horas todos os comportamentos alvo
por dia (2 horas de atividades de presentes no programa. O objetivo
habilidades básicas e 1 hora de desta avaliação é não ensinar
autocuidados), totalizando 15 horas comportamentos específicos que a
semanais de estimulação para cada criança já demonstre domínio. De
criança. acordo com os critérios de
ATIVIDADES PARA: aprendizagem estabelecidos
1. Imitação não verbal: (desempenho de 100% de acertos nas
- Sd não vocal cinco primeiras tentativas por duas
- Sd: “Faz igual” sessões de ensino consecutivas), a
- R: criança deverá imitar a ação dificuldade dos comportamentos alvo
- C: avaliar o reforçador ensinados em cada programa vai se
Comportamentos alvo: bater intensificando de forma gradual.
palmas, levantar braços, fazer
tchau
2. Alimentação:
- Sd não vocal: colher, prato,
comida
- Sd vocval: pega...
- R: criança deverá usar o talher
para comer
- C: avaliar o reforço
Comportamentos alvo: comer
com colher, com garfo
3. Imitação verbal:
- Sd não vocal: ...
- Sd vocal: “Diga/repita”
- R: imitar o som
- C: avaliar o reforçador
Comportamentos alvo: a, e, i, o,
u.
Os programas de ensino são
organizados em protocolos, também
adaptados do programa, que contém
nome do aluno, nome do programa,
registro das linhas de base, data da
realização da linha de base, data de
inicio, de manutenções e de término de
todos os comportamentos alvo do

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