Você está na página 1de 15

AULA 4

TEORIAS DA APRENDIZAGEM

Profª Wiviany Mattozo de Araujo


CONVERSA INICIAL

Bem-vindo à aula 4 da disciplina de Teorias da Aprendizagem! Nesta aula


vamos discutir sobre o sociointeracionismo em Vygotsky, teórico relevante que
contribuiu com a psicologia e a educação durante o século XX. Sabemos que nem
todos conhecem o seu nome e nem toda a complexidade da sua obra, no entanto,
qualquer pessoa inserida no âmbito escolar já teve contato com algumas das suas
ideias ou do seu pensamento teórico.
Assim sendo, no primeiro tema vamos explorar quem foi Vygotsky e como,
para esse teórico, o ensino passou a ser entendido como um processo social. No
segundo tema vamos abordar o conceito de pensamento verbal e como esse
importante sistema simbólico influencia no modo de vida. No terceiro tema vamos
discutir a ideia da zona de desenvolvimento proximal, principalmente em relação
ao convívio de crianças de diferentes faixas etárias. No quarto tema iremos falar
sobre a aprendizagem mediada e sobre como a mediação acontece. No quinto
tema vamos retratar as ideias de Vygotsky no ambiente escolar, construindo a
visão do professor e do aluno.
Por fim, nosso objetivo é entender que para este teórico é a sociedade a
responsável pelo desenvolvimento, crescimento e maturação das ações
humanas, pois o desenvolvimento sociocultural transforma e supera as relações
com o ambiente natural em que a criança está inserida.

CONTEXTUALIZANDO

Ao falar sobre sociointeracionismo surgem muitas dúvidas, mesmo essa


sendo uma das teorias mais conhecidas na pedagogia contemporânea. Vygotsky
proporcionou ao professor uma importância no papel de mediador na contrução
do conhecimento. Pensando nesse papel e no convívio escolar, quantas
atividades nossos educandos executam sem entenderem o porquê, ou sem uma
contextualização com base na realidade conhecida, dentre outros problemas que
poderíamos enumerar.
Quantas vezes pensamos em como elaborar critérios efetivos que avaliem
aos alunos, não só pelo conhecimento adquirido naquele momento, mas com
base em suas habilidades? Quantas vezes paramos para refletir e construir uma
autocrítica que nos faça crescer nesses processos?

02
Com base em conteúdos históricos, qual é a grande dificuldade encontrada
por nossos alunos? Eles conseguem estabelecer relações entre fatos históricos
apresentados nos conteúdos programáticos com sua própria realidade? Para
superar essas barreiras, quais atividades podem ser pensadas e executadas com
base no sociointeracionismo? Por exemplo, a compreensão do mundo por parte
do educando é de extrema relevância, é desse modo que este se tornará um
sujeito autônomo, estabelecendo relações que permitam o crescimento tanto
científico como para as vivências e experiências.
Desse modo, são fundamentais as atividades com o intuíto de favorecer
aos educandos a criação e formulação de problemas, que envolvam seu contexto
de vivência auxiliando na construção de uma identidade histórica, tanto individual
como coletivamente. Por fim, poderíamos pensar na construção de identidade,
seja em relação à família, às classes, às etnias, ao gênero, dentre outros, tão
relevantes no contexto atual em que vivemos.

TEMA 1 – VYGOTSKY E O ENSINO COMO PROCESSO SOCIAL

Sabe-se que há inúmeras teorias utilizadas para explicar os processos de


ensino-aprendizagem. Então, qual a importância de Lev Vygotsky para a
pedagogia? Quais foram suas principais contribuições? Como suas ideias são
relevantes até a atualidade? Essas respostas envolvem uma complexa discussão
e nós iremos construí-la no decorrer desta aula ao abordarmos as diferentes
partes do pensamento elaborado por este autor, entendendo os diversos
contextos dessa visão.
Lev Vygotsky (1896-1934) era um bielorrusso contemporâneo a Jean
Piaget (1896-1980) que investigou o desenvolvimento cognitivo, contribuindo com
a compreensão da forma de aprendizagem das crianças, trazendo uma visão
social para o tema. Este teórico propunha que as capacidades psíquicas, como
pensar, falar, sentir, lembrar, emocionar, expressar, entender, interpretar, dentre
outras, são oriundas das nossas relações sociais. E a associação dessas funções
mentais estão presentes no que conhecemos como consciência, sendo esta o
resultado das relações sociais e individuais de cada um.
Para tanto, suas ideias se baseavam no materialismo histórico e dialético.
Vygotsky afirmava que a aprendizagem constitui um componente essencial para
o desenvolvimento das características humanas, pois suas ideias envolviam a
reorganização de uma nova ciência e de uma nova forma de pensar o homem. Ao

03
se deparar com a biografia ou a trajetória de vida desse autor, vamos entender
que o contexto em que este se inseria explica a influência marxista recebida por
ele. Vygotsky, apesar de uma vida curta, conseguiu organizar suas ideias e
publicações.
Os estudos desse autor apresentam ligação direta com os problemas da
sociedade russa da época e com a revolução de 1917 vivida por este, desse modo
é possível perceber suas preocupações em conceber uma nova visão do homem,
sendo este não só produto do meio, mas sim um ser constituído historicamente
nas relações sociais, e nessa correlação o homem internaliza e interpreta
diferentes processos.
Sobre a influência marxista, Vygotsky se destacou por construir
associações psicológicas entre a teoria marxista e as questões psicológicas
concretas. “Por meio da construção de uma nova psicologia pautada na
historicidade do homem e de sua totalidade, possibilitou a compreensão da
constituição do sujeito e de sua subjetividade dentro de um processo” (Nogueira,
2015, p. 151) que caminha em direção ao próprio sujeito.
Com a base da dialética marxista, Vygotsky construiu sua teoria sobre
aprendizagem, mas recebeu duras críticas por não usar como plano de fundo a
luta de classes, por isso teve sua obra censurada por um período de 20 anos na
União Soviética. Também, para seus estudos visitou comunidades para pesquisar
a relação entre o nível de escolaridade, conhecimento e influência das tradições
culturais no desenvolvimento cognitivo.
Podemos citar como a maior contribuição de Vygotsky a ideia que envolve
o pensamento e a linguagem, baseada numa realidade concreta construída
socialmente. A linguagem é extremamente importante, pois é a responsável pela
transmissão da cultura; é por meio dela que o contexto histórico, cultural e social
é apreendido. Um exemplo é que, ao nascer, a criança é uma significação dentro
de um universo de significações. Desse modo, o ensino e a aprendizagem podem
ser entendidos como uma razão de desenvolvimento (não que cada etapa do
processo de aprendizagem equivalha a uma etapa desse desenvolvimento, pois
este processo não é linear).

TEMA 2 – O CONCEITO DE PENSAMENTO VERBAL

Sobre a evolução humana, o que nos diferencia dos demais animais? Quais
são as relações que o indivíduo estabelece que os outros animais não conseguem

04
fazer com a mesma profundidade? A resposta envolve o fato de o indivíduo ter
desenvolvido a linguagem, passando a verbalizar seus sentimentos e ações.
Sabemos do poder das palavras! Sabemos também que é por meio das palavras
que o ser humano pensa. Ao ler o material desta aula e assistir nossos vídeos,
utilizamos das palavras para nos conectarmos.
A linguagem pode ser verbal e gestual, e é parte integrante de um sistema
simbólico importante que nos auxilia na formação e organização do pensamento,
na generalização e abstração que ocorrem por meio da linguagem. Com base
nisso organizamos e compreendemos o mundo em que vivemos, é com base nas
palavras que interpretamos o mundo em que vivemos.
Por meio da linguagem entendemos diferentes atividades, sendo estas as
responsáveis pela constituição das relações humanas e de transformação do
mundo, pois a todo instante o homem se apropria e executa atividades que
permeiam a realidade, e nessa ação há a apropriação e a internalização do novo,
além da articulação entre o que já se conhecia com o novo.
Vygotsky foi inovador para compreender as relações existentes entre
pensamento e linguagem, pois sua proposta era compreender como estes se
comportavam em relação ao outro e como interagiam em suas fases iniciais. Para
isso, analisou o desenvolvimento infantil e pôde constatar que mesmo antes de
dominar a linguagem, a criança já demonstrava capacidade de organização,
resolução de problemas práticos, uso de instrumentos e meios para alcançar seus
objetivos.
E qual a diferença entre essas atividades humanas para as dos demais
animais? Os animais executam atividades para a satisfação biológica, seja ela
fome, reprodução e manutenção da espécie. Situação diferente para o ser
humano, que desenvolve suas capacidades cerebrais para suas atividades
motivado por causas socioculturais, sendo esta uma apropriação da experiência
humana. “Isso ocorre porque, à medida que o indivíduo adquire a capacidade de
planejar, abstrair, reconhecer conexões causais e de antecipar os acontecimentos
imediatos, ele passa a reproduzir sua forma humana de existência” (Nogueira,
2015, p. 153).
Desse modo, entendemos que o ser humano tem o seu desenvolvimento
cognitivo e uso do pensamento de forma generalizante por meio da linguagem,
pois seu intercâmbio social e sua organização de pensamento ocorrem por estes
signos. Significação que envolve toda e qualquer atividade humana, além de
compor a ideia da subjetividade também.
05
Outrossim, há mediação existente entre o sujeito e o objeto (inserido no
mundo); e a estrutura da língua que uma pessoa fala influencia a maneira com
que esta pessoa perceba e interpreta o universo. Portanto, a linguagem é um
instrumento de relação mediada; por exemplo, não nos comunicamos com o outro
por transmissão de pensamento, e sim por meio de signos.
A criança também é capaz de entender que se ela derrubar um objeto da
mesa ela poderá se abaixar para pegar ou solicitar alguém que pegue para ela.
Esse tipo de conhecimento é chamado de primário ou de fase pré-verbal das
estruturas de pensamento e independe da linguagem verbal. Alguns primatas
executam estas tarefas, como pegar uma vareta e cutucar árvores em busca de
comida, como larvas, insetos e mel.
Então, mesmo que a criança não controle a linguagem, seus significados e
sistema simbólico, ela se utiliza de instrumentos para realizar suas manifestações
verbais, como sorrir e chorar, em que estes têm a função de controlar a carga
emocional, mas também servem como contato social e comunicação. Essa fase
pode ser associada ao estágio sensório-motor que vimos na aula 3 sobre Piaget,
em que a criança é muito mais guiada pelos próprios sentidos, seja por meio de
sons ou gestos.
Vygotsky sugere que em torno dos dois anos aproximadamente a criança
começa a compreender a relação entre linguagem e pensamento, passando
assim a ter novas formas de cognição. A fala deixa de ser repetição de sílabas
para assumir uma função simbólica, como a ampliação do vocabulário. Desse
modo, os signos são instrumentos psicológicos que expressam o que é externo
ao sujeito e que o conectam ao outro por meio das atividades. Assim, a linguagem
e o pensamento subsidiam o planejamento, pois diante da fala do outro temos a
representação do que o outro pensa.
Nesse sentido, o pensamento e, principalmente a linguagem ganham
significados. O que é o significado ao falarmos de palavras? Significado é muito
mais do que o simples conceito de uma dada palavra ou signo, pois envolve a
realidade ou o contexto em que a palavra foi usada.
No entanto, sabemos que nem sempre o significado nos é dado
diretamente, pois as ações e pensamentos humanos são muito mais complexos,
como em relação aos sentimentos e emoções. Por isso, é preciso compreender
que há fatos internos que dão amplitude aos significados e assim, temos a ideia
de sentido. O sentido abrange a subjetividade dos signos, envolve os sentimentos
e a emoção que permeiam as relações humanas.
06
“O significado e o sentido não podem ser compreendidos separadamente:
devem se apresentar dentro do simbólico e do emocional, cognição e emoção
sempre juntas, pois quando se realiza uma significação, a emoção está sempre
presente” (Nogueira, 2015, p. 156). Aqui, podemos citar um ditado muito
conhecido popularmente: as palavras possuem inesgotáveis sentidos porque
fazem parte da nossa emoção.
Desse modo, cada palavra ganha um sentido real moldado pela experiência
individual e social do sujeito em uma determinada sociedade, e que será expresso
naquele contexto histórico e social. Por exemplo, ao falarmos a palavra gato. Qual
é o sentido e significado? A palavra determina um tipo específico de animal
mamífero domesticado. Independente da região brasileira, das experiências e
elementos diferentes, todo mundo saberá o que é um gato e qual seu conceito
(desde que todos falem português!).
Mas o desafio envolve mais. Quais são os sentidos que conhecemos para
esta palavra? O que a palavra gato representa para você? Falar em sentido é lidar
com complexidade e emoções, nas quais cada pessoa terá sua experiência, suas
vivências, facilidades e limitações. Então, uma pessoa alérgica vai associar a
palavra gato ao seu problema, outra ao seu amado bicho de estimação, e tantos
outros sentidos que podem ser dados a uma mesma palavra. Outro exemplo se
dá quando aprendemos um idioma novo e, com ele, todo um universo de signos
e símbolos deve ser incorporado.

TEMA 3 – O CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL

Uma das preocupações de Vygotsky era entender o desenvolvimento em


relação ao processo de aprendizagem e da linguagem, assim, a aprendizagem no
âmbito escolar ganhou espaço associado ao desenvolvimento cognitivo das
crianças. Para este autor, a criança iniciava seu processo de aprendizagem antes
de ir para a escola, sendo assim, o crescimento da criança e toda sua evolução
desde que ela nasce é um complexo processo de ensino-aprendizagem.
Desse modo, quando a criança inicia sua vida escolar já possui pré-
-conceitos formados, no entanto, em muitos casos, ao iniciar o Ensino
Fundamental I, esses pré-conceitos não são levados em consideração ou o
conhecimento científico não é associado ao conhecimento existente.
O professor decide se avalia seus alunos por suas deficiências e o
conteúdo já apreendido, fazendo um trabalho inicial de retomada de conceitos e

07
associação destes com a realidade vivida, estimando as potencialidades
existentes naqueles alunos. As decisões associadas são valiosas para a
construção do melhor caminho a ser tomado como estratégia no processo de
ensino-aprendizagem.
Avaliar as dificuldades do aluno é importante, mas perceber suas
particularidades e potencialidades é muito mais relevante no contexto
sociointeracionista, pois não há um estudate igual ao outro. Podemos citar as
diferentes as habilidades que existem e que fazem com que cada criança evolua
a seu tempo.
Então, nesse processo de aprendizagem há muitas dificuldades para a
ação docente? Dificuldades estas que envolvem lidar com individualidades e
tempos de resposta diferentes? A resposta será sim se o professor assumir uma
postura de detentor do conhecimento e de único responsável pela aprendizagem
na sala de aula. Por outro lado, é uma oportunidade para criar troca de experiência
entre os alunos.
Por meio de estudos experimentais, Vygotsky percebeu que os conceitos
demoram para se formar, tendo seu início na infância e se completando na
puberdade, quando o jovem passa a construir pensamentos mais complexos
dentro das suas funções intelectuais. Além dos pensamentos complexos também
passam a existir os conceitos potenciais, que servem para que novas formas de
conhecimento sejam apreendidos.
Esses conceitos podem ter origem no período antes do convívio escolar,
mas a maioria deles nós formamos por meio do conteúdo ensinado na escola, em
que estes recebem a denominação de conceito científico, e devem ser
relacionados com a vida cotidiana, ou melhor, com conceitos cotidianos. Ao
realizar esta relação, o conhecimento se torna mais próximo aos alunos.
Na teoria formulada por Vygotsky, a proposta era que os alunos
convivessem em sala de aula composta de crianças mais adiantadas com outras
que precisavam de apoio para desenvolver seus conhecimentos. Esse
envolvimento pode partir tanto de crianças com diferentes faixas etárias como de
crianças da mesma idade, mas com níveis de desenvolvimento variados.
Se numa mesma turma de Ensino Fundamental II em que as crianças
possuem a mesma idade mental, mas que ao receberem a proposta para
solucionar um problema conseguem resolver sozinhas ou utilizam o conhecimento
de colegas próximos e mais experientes, qual seria sua análise?

08
Ao solicitar ajuda a um colega mais velho ou a um adulto, essa criança vai
se aproximar da sua zona de desenvolvimento proximal (ZDP), que é
caracterizada pela distância entre o nível de desenvolvimento real (NDR), ou seja,
aquilo que a criança consegue resolver sozinha, sem auxílio de outras pessoas; e
o nível de desenvolvimento potencial (NDP), em que a criança estabelece troca
com outro aluno.
Para explicar melhor esses dois níveis de desenvolvimento infantil, o real
(NDR) abrange as funções mentais, que é o resultado das habilidades e
conhecimentos adquiridos pela criança, todavida, nessa questão não aborda só
que ela conseguiria produzir, mas sim o que ela viria a fazer com o auxílio de um
colega mais experiente ou de um adulto, podendo ser este o professor ou um
familiar próximo.
"O nível de desenvolvimento real caracteriza o desenvolvimento mental
retrospectivamente, enquanto a zona de desenvolvimento proximal caracteriza o
desenvolvimento mental prospectivamente" (Vygotsky, 2007, p. 97). Essa ideia é
chave para entender o nível de aproveitamento da criança na escola, pois a zona
de desenvolvimento proximal que a criança apresenta hoje é o nível de
desenvolvimento real do futuro, sendo assim, aquilo que a criança executa hoje
com auxílio de alguém, logo o fará sozinha, pois a zona de desenvolvimento
proximal também representa as funções que ainda não estão amadurecidas, e
sabendo que o processo de aprendizagem é um fluxo contínuo de raciocínio, a
todo instante haverá alterações.
Então, com esse conceito percebemos que a integração nos diferentes
níveis de desenvolvimento é essencial para o processo de aprendizagem. Para o
estudante, sendo o aprendizado seu ponto central, o professor tomará como base
o conhecimento real para auxiliar a criança na construção da zona de
desenvolvimento proximal, atividade que pode ser executada por ela, ou orientada
com auxílio de outro aluno.
Como supracitado, a troca de experiências permite que o professor não
seja a única fonte de informação em sala de aula, até porque se pensarmos na
atualidade, esse é um papel que não cabe ao professor, e nem diminui a
importância da presença docente. Aliás, esse é um tópico que muitos docentes já
discutiram: seria possível o professor perder importância em decorrência da
interação entre os colegas de sala e do uso da tecnologia?
O professor atua como mediador, formando equipes mistas de alunos em
diferentes níveis de aprendizagem, na proposta de atividades que desafiem e
09
estimulem aos alunos, pois o menos experiente aprenderá com o que sabe mais
e esse estímulo é orientado pelo professor. Nesse processo, a ideia é que todos
saiam ganhando ao realizar tarefas com assistência, tanto para que passem a
executar sozinhos as tarefas, como para que os mais experientes se aperfeiçoem
nas habilidades.
Sobre as atividades que estimulem a zona de desenvolvimento proximal, o
professor deve adotar variadas estratégias para a turma e para os diferentes tipos
de alunos. Esse cuidado envolve desde dar oportunidades para todos mostrarem
suas competências e habilidades, como para não colocar alunos que avançam
mais lentamente no desenvolvimento da aprendizagem em condição de
inferioridade.
Outra questão que envolve a zona de desenvolvimento proximal é que esta
tem limite, pois há momentos em que a criança precisa trabalhar sozinha. E nesse
ponto, mais uma vez, é papel do professor intervir e planejar atividades que
auxiliem o desenvolvimento individual e coletivo da turma. Por fim, outro cuidado
deve se relacionar com propostas mal aplicadas com desafios impossíveis de se
resolver, com a formação equivocada de grupos homogêneos.

TEMA 4 – A APRENDIZAGEM MEDIADA

Uma das características da criança ao se desenvolver é explorar o mundo


ao seu redor utilizando seus sentidos. O bebê, por exemplo, ao começar a interagir
leva tudo à boca para conhecer melhor, apertando, mordendo, colocando os
dedos, usando seu corpo como uma extensão desse conhecimento do exterior e
tudo isso faz com que ele conheça diferentes texturas, cheiros, sabores, dentre
outros elementos que poderíamos citar.
Num primeiro momento parece que somente a relação direta com os
objetos é capaz de desencadear a aprendizagem, no entanto, se pensarmos em
mais exemplos, vamos perceber que a interação nem sempre ocorre diretamente
com o objeto de conhecimento, e é sim mediada. Dois ótimos exemplos para quem
convive com crianças pequenas são as tomadas elétricas em casa e as gavetas
dos armários: aguçadas pela curiosidade, as crianças tendem a mexer e ao serem
repreendidas e/ou levaram um pequeno choque ou um dedo espremido,
aprendem que não devem mexer e brincar com ou em tais situações.
Assim, a existência de um elemento intermediário faz com que a mediação
ocorra, sendo essa resultante da internalização e transformação das interações e

010
trocas sociais realizadas pelo indivíduo, existindo um elo intermediário que se
coloca entre o ser humano e o mundo a ser descoberto.
A aprendizagem mediada auxilia a construção do conhecimento, e este é
resultante dos processos mentais superiores que englobam a ideia de planejar
ações, conceber consequências para a tomada de decisões, o uso da imaginação,
manipulação de objetos, dentre outros. E esses fatores ocorrem com o uso de
instrumentos e signos linguísticos os quais contribuem com a vivência e atuação
do indivíduo no mundo, sendo este um agente ativo e transformador.
Os elementos mediadores propostos por Vygotsky envolvem os
instrumentos, que ao interferir no processo de conhecimento entre a criança e o
mundo, aumentam as possibilidades de transformações, assim, com uma faca
podemos cortar as frutas, legumes e carnes, com os copos podemos beber
diferentes tipos de bebidas, e assim por diante, até o uso de instrumentos
altamente tecnológicos para executar uma determinada tarefa. Isso não ocorre
em outras espécies animais, alguns até utilizam elementos da natureza para
auxiliar em tarefas, mas nenhum com o grau de transformação e raciocínio
humano.
Além dos instrumentos, outro elemento mediador são os signos, que nada
mais são que a forma, o objeto e a representatividade de algo. Vimos nessa aula
que os signos compõem a linguagem, como exemplo temos a palavra manga, que
significa uma fruta, mas pode ser também a parte de uma roupa. Ao
pronunciarmos as palavras, elas vêm carregadas de signos com os quais
interpretamos nossa vida em sociedade. Por meio dos signos, também, temos a
liberdade em nos referir a objetos, ações e situações em diferentes espaços e
tempos, sendo assim, as relações mentais utilizam desses elementos mediadores
para que o processo de aprendizagem ocorra e possamos aprofundar e expandir
nosso conhecimento.
A aprendizagem mediada também ocorre por meio da experiência, como
ocorre com a ideia de que brincar com fogo queima (nem todo mundo precisa se
queimar para adquirir esse conhecimento), ou o cuidado que temos que ter ao
entrar em piscinas fundas e no mar, pois mesmo que se saiba nadar há o risco de
afogamento. Os exemplos utilizados nos permitem entender que o conhecimento
pode ser adquirido por meio de conversas, conselhos e observação, pois criamos
a representação mental sobre a possibilidade da ação em questão e
internalizamos o conhecimento.

011
Por fim, o caminho da aprendizagem mediada pode ser resumido pela
relação entre os elementos, sejam eles instrumentos e/ou signos, e a ação de
outra pessoa. É nesse sentido que a aprendizagem mediada é tão discutida na
atualidade, pois esta pode fazer com que o professor assuma um destaque
privilegiado no processo de ensino-aprendizagem, como um elo entre o aluno e o
conhecimento disponível.

TEMA 5 – O SOCIOINTERACIONISMO DE VYGOTSKY NA ESCOLA

Vygotsky apresenta um aprofundamento em questões sobre os processos


de aprendizagem. Seus estudos se baseiam na compreensão do homem como
um ser que se forma e se transforma vivendo em sociedade. Outro ponto-chave
desse teórico foi o fato de atribuir ao professor um papel de agente estimulador
do desenvolvimento do aluno.
O desenvolvimento intelectual bem feito não envolve a ideia de uma escola
conteudista, pois o importante era ensinar a pensar, ou melhor, a construir
diferentes formas de raciocínio, com os quais estes alunos seriam capazes de
solucionar problemas, buscar alternativas de resoluções.
A escola com base no sociointeracionismo de Vygotsky tende a oferecer
possibilidades de desenvolvimento mais aprofundadas, sendo este um espaço de
aprendizagem das relações humanas, principalmente associadas ao momento
histórico vivido. Além de também reunir formas de ação organizadas e
sistematizadas para compor um currículo que leve em consideração questões
mais humanizadas, pensando em objetivos, atividades e avaliações diferenciadas
que propiciem ao aluno a criação de uma autoconsciência.
O professor assume o papel de agente mediador do conhecimento,
devendo considerar a reflexão e a compreensão da dimensão do diálogo como
postura necessária em suas aulas, a necessidade em despertar no aluno o sentido
da curiosidade, os desafios cotidianos e a transformação da realidade.
Além disso, o professor deve criar estratégias que despertem no aluno a
independência e o estímulo do seu conhecimento potencial, criando zonas de
desenvolvimento potencial a todo instante, sejam estas por meio de atividades
individuais, em grupos de trabalho desafiadores ou usando técnicas motivadoras
que facilitem o processo de aprendizagem. Nestes grupos, com a orientação do
professor, devem ser criados ambientes de participação ativa, de colaboração e
de constantes trocas.

012
Mas a responsabilidade da construção do conhecimento não deve estar só
nas mãos da escola e dos educadores. Nessa perspectiva, a aprendizagem deve
ser uma atividade conjunta e colaborativa, e os alunos devem assumir
responsabilidades, devem e podem ter espaço nos processos dialogados.
No entanto, o professor é quem irá propor o planejamento de todo o
processo, que dará espaço para as trocas entre os alunos, que proporcionará
atividades diferenciadas e desafiadoras, e que delimitará em quais momentos
determinadas atividades são mais importantes, trazem mais resultados, dentre
outros. Por fim, no processo de ensino com base nessa teoria, o saber deve ser
antecipado pensando no que o aluno não sabe fazer ou não domina por completo,
promovendo dessa maneira saltos de desenvolvimento nos educandos.

FINALIZANDO

Nessa aula abordamos uma importante teoria cognitiva com base em Lev
Vygotsky, teórico que em sua vasta obra se preocupou com o papel da escola no
desenvolvimento mental das crianças, e sem dúvidas faz parte dos estudos atuais
da pedagogia contemporânea.
Para este autor o sujeito que aprende é interativo com os outros e com o
meio que está inserido, por isso, as pessoas devem ser ativas trocando
experiências e ideias. Para ele, a aprendizagem é uma experiência social e
interativa, que pode ser mediada por meio de elementos como instrumentos e
signos, sendo estes essenciais para que a aprendizagem seja efetivada.
Ao falar do conceito de pensamento verbal, vimos que pensamento e
linguagem são indissociáveis. A linguagem pode ser verbal e/ou gestual, fazendo
parte de um sistema simbólico muito maior que propicia a organização do
pensamento, a forma como enxergamos o mundo. Por exemplo, é por meio dos
signos da nossa linguagem que vamos criando nossas interpretações das
relações sociais, e ao aprender outra língua, aprendemos um novo sistema de
signos para que possamos compreender como outra sociedade vive.
Sobre os signos, estes funcionam como o que significa algo para cada
indivíduo, carregados de simbologia, emoção e sentimentos. É por meio dos
signos que a linguagem falada e escrita se transforma em um elo no processo de
aprendizagem.
Para que a aprendizagem ocorra, Vygotsky propôs que a interação social
deve acontecer dentro de um processo, chamado de zona de desenvolvimento

013
proximal (ZDP), que seria a distância entre o que se sabe, sendo este o nível de
desenvolvimento real (NDR), e aquilo que o indivíduo apresenta potencialidade
para aprender, sendo este o nível de desenvolvimento potencial (NDP).
Assim, a aprendizagem ocorre na zona de desenvolvimento proximal, local
em que o que é conhecimento real pode ser feito sozinho e o potencial, aquele
que precisará de ajuda para se executar.
Nesta aula, também falamos sobre a relevância da aprendizagem mediada,
e de como esta auxilia a construção do conhecimento, pois resulta na ampliação
de processos mentais superiores que proporcionam ao educando independência
no planejamento de ações, no discernimento em executar ações, na tomada de
decisões etc. Processos estes que se bem desenvolvidos contribuem para as
relações sociais do indivíduo como agente ativo e transformador.

014
REFERÊNCIAS

BARONE, L. M. C.; MARTINS, L. C. B.; CASTANHO, M. I. S. Psicopedagogia:


teorias da aprendizagem. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2011.

LAKOMY, A. M. Teorias cognitivas da aprendizagem. Curitiba: InterSaberes,


2014.

NOGUEIRA, M. O. G.; LEAL, D. Teorias da aprendizagem: um encontro entre


os pensamentos filosóficos, pedagógicos e psicológicos. Curitiba: InterSaberes,
2015.
PILETTI, N. Aprendizagem: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2013.

REMOR, I. Behaviorismo na educação. Filosofia do cotidiano. Disponível em:


<http://filosofiadocotidiano.org/behaviorismo-na-educacao/>. Acesso em: 6 nov.
2017.

SANTOMAURO, B. Inatismo, empirismo e construtivismo: três ideias sobre a


aprendizagem. Revista Nova Escola. 2010. Disponível em:
<https://novaescola.org.br/conteudo/41/inatismo-empirismo-e-construtivismo-
tres-ideias-sobre-a-aprendizagem>. Acesso em: 3 nov. 2017.

VYGOTSKY, L. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos


psicológicos superiores. 7ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

015

Você também pode gostar