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Carlos Pereira de Novaes

HIDROLOGIA PARA O CURSO DE


GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL

2008

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HIDROLOGIA PARA O CURSO DE
GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL

3
4
GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA

GOVERNADOR
Dr. Jacques Wagner

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

REITOR
Professor José Carlos Barreto de Santana.

VICE-REITOR
Professor Washington Almeida Moura.

DIRETOR DO DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA


Professor Renato Souza Cruz.

5
Carlos Pereira de Novaes
Professor de Hidráulica,
Drenagem Urbana e Hidrologia
do Departamento de Tecnologia
da Universidade Estadual de Feira de Santana - BA
e
Mestre em Hidráulica e Saneamento
pelo Departamento de Hidráulica e Saneamento
da Escola de Engenharia de São Carlos - USP

HIDROLOGIA PARA O CURSO DE


GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL

Universidade Estadual de Feira de Santana

Feira de Santana, Estado da Bahia

2009

6
Universidade Estadual de Feira de Santana

Reitor
José Carlos Barreto de Santana

Vice-Reitor
Washington Almeida Moura

Universidade Estadual de Feira de Santana.


Departamento de Tecnologia.
Avenida Transnordestina, S/N- Novo Horizonte
Caixa Postal 252 e 292 Tel (75)3224-8200
CEP: 44 036-900. Feira de Santana-BA- Brasil
http://www.uefs.br

Telefones. : (075) 32248056


E-mail: carlospdenovaes@gmail.com

EDITORAÇÃO

Núcleo de Editoração Gráfica da UEFS

Ficha catalográfica: Biblioteca Central Julieta Carteado

Novaes, Carlos Pereira de.


N815 Hidrologia para o curso de graduação em
Engenharia Civil / Carlos Pereira de Novaes.
Feira de Santana: Universidade Estadual de
Feira de Santana, 2004.
141 páginas: il.

ISBN 85-7395-103-6

1. Hidrologia. I. Título.

CDU: 556

7
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho:

A Deus,
Emanador de toda luz do universo.

Aos meus pais, Accacio José de Novaes e Maria Pereira de Novaes,


cujas presenças redivivas invadem meu lar.

Aos nossos alunos.

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AGRADECIMENTOS

À Universidade Estadual de Feira de Santana, dirigida pelo Magnífico


Reitor Professor José Carlos Barreto de Santana.

Ao Departamento de Tecnologia da Universidade Estadual de Feira


de Santana, dirigido pelo Professor Renato Souza Cruz.

Ao Professor Evandro Nascimento,


Chefe de Gabinete da Reitoria da UEFS.

Ao senhor Nivaldo Assis da Silva Filho e demais funcionários da Gráfica da


Universidade Estadual de Feira de Santana.
.
Aos alunos da matéria hidrologia aplicada.

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Prefácio do autor

É com muita honra que apresentamos aos nossos alunos uma edição
de notas de aulas do curso de hidrologia, publicado pelo Departamento de
Tecnologia e a Gráfica da UEFS.
Foi nossa idéia editar estas notas de aulas na forma de uma série de um
livro didático editados sequencialmente, de forma a facilitar o aprendizado e
subsidiar didaticamente os trabalhos dos alunos durante o curso.
O seu conteúdo é eminentemente técnico e didático e foi elaborado para
que os nossos alunos possam acompanhar o curso de hidrologia de um modo
bem simples e direto, direcionado ao desenvolvimento da matéria e evitando,
assim, perdas desnecessárias de tempo.
Não é pretensão deste professor substituir o conteúdo do presente livro
pelo de outros livros também dedicados ao assunto. Não. Decidimos elaborá-lo
a partir do momento que se verificou a abrangência da matéria dada e dos
assuntos estudados, cujos conteúdos dificilmente seriam dados sem um livro
auxiliar e que fosse, ao mesmo tempo, didático e funcional e que servisse de
texto aos alunos, pois o conteúdo da matéria hidrologia é muito extenso para
ser ministrado na forma tradicional e sem a ajuda de um livro dentro do período
letivo, que é de somente quatro meses, aproximadamente.
Este volume, dada à extensão desta matéria, abrange somente alguns
assuntos iniciais da mesma, ou: introdução à hidrologia, precipitação, análise
de freqüência e chuvas intensas, medições de escoamento livre, escoameneto
superficial, infiltração e método racional, com muitos exemplos e exercícios,
sugerindo também, quando é necessário, alternativas de leituras em outros
livros que porventura tratam destes assuntos, para dar aos alunos uma visão
mais ampliada sobre os temas expostos.
Evidentemente, que por se tratar de um livro-texto didático, aplicado ao
desenvolvimento formal de uma matéria obrigatória, na estrutura do curso de
engenharia civil, o mesmo exige, freqüentemente, dos alunos, o conhecimento,
prévio, de algumas matérias tidas normalmente como pré-requisitos, como, por
exemplo, mecânica dos fluidos, hidráulica, e, principalmente, estatística, cujos
conteúdos são muito extensos, cabendo ao leitor colaborar e fazer, às vezes,
uma revisão desses assuntos, sendo que este volume já tem um capítulo só de
estatística, bem prático, para facilitar a compreensão do texto e do curso.
Um outro detalhe didático do livro, é que todos os exercícios contidos no
mesmo não têm respostas. Por quê? A resposta é simples, dentro do nosso
humilde entendimento, é claro: as respostas dão ao aluno que quer aprender o
conteúdo da matéria, uma pseudo-base, ou mesmo, às vezes, uma presunção,
de conhecimento, que o aluno, na realidade, não tem, ainda. Neste aspecto, os
exercícios sem respostas são mais eficientes, pois o que prevalece, sempre, é
a dúvida e, portanto, a prudência, em relação ao assunto estudado. É como na
própria vida profissional de qualquer um de nós, os problemas vão aparecendo
normalmente, precisando de respostas, imediatas, firmes, sem vacilações, que
só a experiência e o tempo podem oferecer, através do exercício constante da
profissão. É claro que, em aula, é função do professor a correção dos mesmos
e a elucidação das dúvidas, que, porventura, os alunos tiverem.
Agradecendo a atenção do leitor, nos despedimos, informando que este
livro está à disposição na Livraria Inter-universitária da UEFS, cujo endereço e
telefone se encontram na terceira contracapa.

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Sumário

Capítulo 1 Introdução à hidrologia. 13


1.1 O que é hidrologia? 15
1.2 O que é ciclo hidrológico? 15
1.2.1 Síntese e aprofundamento sobre o ciclo hidrológico. 19
1.3 O que é uma bacia hidrográfica? 19
1.3.1 Características físicas principais de uma bacia. 20
1.4 Balanço hídrico simplificado de uma bacia de contribuição. 23
1.4.1 Definição de rendimento e o uso do método racional. 24
1.4.2 Recolhimento da água da chuva em áreas impermeabilizadas. 28
Capítulo 2 Precipitação. 29
2.1 Introdução à hidrologia. 29
2.2 Conceitos de estabilidade e instabilidade atmosférica. 29
2.3 Tipos principais de precipitações. 31
2.4 Medidas pluviométricas. 31
2.4.1 Pluviômetros. 33
2.4.2 Pluviógrafos. 34
2.5 Manipulação de dados pluviométricos. 35
2.6 Precipitação média sobre uma bacia. 37
2.6.1 Média aritmética. 37
2.6.2 Método de Thiesen. 38
2.6.3 Método das isoietas. 38
2.7 Teste de homogeneidade e análise de duplas massas. 40
2.7.1 Teste de homogeneidade de um único posto pluviométrico. 40
2.7.2 Análise de duplas massas. 41
2.7.3 Preenchimento de falhas de dados pluviométricos. 44
Capítulo 3 Análise de freqüência. 45
3.1 O que é uma análise de freqüência? 45
3.2 Introdução sobre alguns conceitos de probabilidades utilizados
em análises de freqüências. 45
3.3 Análise de freqüência de um jogo simples de dado. 48
3.4 Análise de freqüência de séries temporais. 49
3.5 Tipos de análises de freqüências de séries temporais. 50
3.6 Análise de freqüência dos totais precipitados anuais de um
posto pluviométrico, através de séries anuais. 50
3.6.1 Análise de freqüência das precipitações observadas. 50
3.6.2 Análise gráfica dos resultados da análise de freqüências. 54
3.7 Ajuste dos dados através de distribuições teóricas. 56
3.7.1 Ajuste dos dados através da distribuição normal. 57
3.7.1.1 Apresentação e comparação gráfica dos resultados. 61
3.8 Conceito de risco permissível. 65
3.9 Ajuste através da distribuição de Gumbel. 68
3.10 Inconsistência e ajuste de dados estatísticos. 69
3.10.1 Intervalos de confiança. 71
3.10.1.1 Limites fiduciais de grandes amostras. 72
3.10.1.2 Limites fiduciais de pequenas amostras. 74
3.10.2 Método de Ven-Te-Chow. 75

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Capítulo 4 Análise de chuvas intensas. 76
4.1 O que é análise de chuvas intensas? 76
4.2 Como se analisam as chuvas intensas? 77
4.3 Análise das alturas precipitadas em função das durações. 77
4.4 Análises das intensidades em função das durações. 81
4.5 Equações de chuvas intensas. 82
4.6 Precipitação intensa média na bacia de contribuição. 85
Capítulo 5 Medições de vazões de escoamentos livres 87
5.1 Introdução. 87
5.2 Medição direta e análise estatística das medições de vazões. 87
5.2.1 Utilizando-se uma proveta graduada e um cronômetro. 87
5.2.2 Utilizando-se balança e cronômetro. 88
5.3 Erros e análise estatística das medições de vazões. 88
5.4 Medição de vazões através de vertedores. 90
5.5 Medidas diretas de vazões em rios. 92
5.5.1 Método simplificado de medição em pequenos riachos. 93
5.5.2 Método da integração das velocidades sobre as áreas. 94
Capítulo 6 Escoamento superficial. 97
6.1 O que é escoamento superficial? 97
6.2 Características do escoamento superficial. 98
6.3 Hidrógrafa de enchente uma chuva simples. 99
6.3.1 Determinação do volume superficial de uma hidrógrafa. 102
6.4 Tipos de enchentes segundo o critério de Horton. 10
Capítulo 7 Infiltração. 107
7.1 O que é infiltração. 107
7.2 Definição da velocidade ou capacidade de infiltração. 107
7.3 Alguns fatores que influenciam a capacidade de infiltração. 108
7.4 Medidas de infiltração. 109
7.4.1 Infiltrômetros. 109
7.5 Infiltração em bacias de drenagem. 113
7.5.1 Determinação prática do coeficiente de run-off ou de deflúvio. 114
7.5.2 Determinação do índice de infiltração médio para a bacia e
do hietograma de precipitações efetivas. 115
7.5.3 Precipitação efetiva sobre uma bacia. 116
Capítulo 8 Método racional. 117
8.1 Uso do método racional no cálculo de vazões de enchentes. 117
8.1.1 Cálculo do tempo de concentração. 117
8.1.2 Estimativa e adoção do coeficiente de deflúvio ou run-off. 119
8.1.3 Adoção do tempo de recorrência para o método racional. 121
8.1.4 Estimativa da intensidade de precipitação máxima provável. 121
8.1.4.1 Estimativa da intensidade de precipitação média na bacia. 121
8.1.5 Utilização do método racional. 122
8.1.6 Determinação de precipitações intensas para locais que não
dispõem de dados pluviógráficos e equações de chuvas
intensas. 128

Lista de símbolos utilizados 137

Referências bibliográficas 139

12
Capítulo 1
Introdução à hidrologia.

1.1 O que é hidrologia?

É muito comum aos alunos que vão fazer o curso de hidrologia aplicada,
se perguntarem o que é esta matéria e o seu significado, já que , normalmente,
os alunos, quando vão estudá-la, já fizeram mecânica dos fluidos e hidráulica,
que são duas matérias básicas, na área de recursos hídricos, dentro do curso
de engenharia civil, cujos escopos, no entanto, são bem diferentes desta?
Bem, hidrologia significa, basicamente, o estudo da água, já que, hidro
significa água e logia, estudo, com ambas as palavras provenientes do grego.
Existem muitas matérias, diferentes, que estudam a água e a hidrologia
se preocupa, principalmente, em quantificar e qualificar a sua ocorrência no
globo terrestre, na forma de vapor, já que tanto a atmosfera como as nuvens,
contêm água neste estado, basicamente; no estado líquido, como nos mares,
rios e lagos ou no estado sólido, na forma de gelo ou neve, que existem mais
em regiões glaciais, como as regiões polares, que estão à grandes latitudes,
ou em regiões montanhosas, de grandes altitudes, muito frias.

Tabela 1.1 Distribuição aproximada da água no globo terrestre (7).

Distribuição Percentagem Volume


Em trilhões de toneladas
3
ou de m .

Água salgada 95,5 1.238.000


(Oceanos e mares)

Água congelada 2,2 29.920


(Calotas polares e geleiras)

Água doce 2,3 31.280


(Subsolo, rios e lagos)

Total 100 1.360.000

Ora, pela análise da tabela 1.1, vê-se que 97,7 % de toda água contida
no planeta ou é salgada ou está congelada, tornando o seu uso inadequado ou
precisando de tratamento, que é muito oneroso e de baixa produção.
Como o que mais interessa a sociedade é a água no seu estado líquido
e doce, tem-se a conclusão que somente 2,3 % do total, ou seja 31280 trilhões
de metros cúbicos, estão disponíveis, para o uso, na natureza.
Se levássemos em conta somente a população humana, que reside do
nosso planeta, que é de 6 bilhões de pessoas, aproximadamente, ter-se-ia um
3
volume de 5.213.333 m de água, para cada habitante.

13
A razão acima, embora inadequada, já que á água não é só para o uso
dos seres humanos, mostra que a água doce é um recurso natural abundante,
embora mal distribuído, na geografia do planeta, tanto em termos superficiais,
como subterrâneos, pois existem regiões riquíssimas, como certas partes da
América do Sul, da Ásia e ao norte dos Estados Unidos, na região dos grandes
lagos e regiões paupérrimas, como certas regiões da África, por exemplo.
Ora, o volume acima, de 31 280 trilhões de m3, não é toda ela formada
de água, digamos, fácil, de se extrair, pois 99,1 % desta água, doce, está nos
subsolos, ou seja, só pode ser retirada através de poços tubulares profundos,
cuja tecnologia, à medida que se aprofunda, é cara, como mostra a tabela 1.2.

Tabela 1.2 Distribuição aproximada de água doce no globo terrestre (7).

Distribuição Percentagem Volume


Em Trilhões de toneladas
ou de m3.
Solo e subsolo 99,1 30.000
Lagos e pântanos 0,42 130
Rios e atmosfera 0,48 150
Total 100 31.280
3
Logo, de toda a água doce contida no planeta, de 31 280 trilhões de m ,
3
só aproximadamente,1 %, ou seja, 313 trilhões de m , são águas superficiais e
encontradas em rios e lagos. Portanto, se fizéssemos o mesmo cálculo já feito,
3
teríamos, agora, 52.133 m de água, para cada habitante, o que já não é uma
quantidade de água tão grande, por habitante, pois ela precisa ser consumida
por uma série muito grande de outros processos e consumidores, que existem
na natureza, como os animais, os vegetais, nos processos de evaporação e de
evapotranspiração, para se manter a vida vegetal, os próprios rios escoando e
outros milhares de outros usos consultivos naturais, todos eles importantes.
A água subterrânea, obtida através de poços artesianos mais profundos,
tem sido tão utilizada, principalmente após a revolução industrial que se iniciou
na Inglaterra, por causa da fabricação em série, de bombas especiais, que são
tão fartas, em certas regiões do nosso planeta, como, por exemplo, o Aqüífero
Guarani, que se situa ao sul da Brasil. Ela já encontra dificuldades de captação
em certas regiões da Ásia, como é, por exemplo, na China, devido às altas
concentrações populacionais, ao uso industrial e para a agricultura (67).
Ou seja, uma das finalidades da hidrologia e quantificar e qualificar, de
forma mais clara, essas quantidades, que, em muitas regiões do planeta não
são tão bem conhecidas assim, principalmente os aqüíferos mais profundos,
além de conhecer-se melhor, também, o processo de alimentação ou recarga
desses aqüíferos, até para não sobrecarregá-los, ou seja, conhecer, também e
melhor, as regiões de recarga desses aqüíferos, pois elas são regiões naturais
que precisam ser bem protegidas, o que nem sempre ocorre.
As explicações dadas nos parágrafos acima, mostram que as utilizações
da água, pela humanidade, são, preferencialmente, das águas superficiais e
das águas subterrâneas. Que utilizações são estas?
Se fizermos uma pesquisa, veremos que o uso consultivo de água tem
aumentado muito, principalmente após o advento da revolução industrial, que
conglomerou as populações dos campos nas cidades, alterando, também, os

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seus hábitos, outrora, frugais, e também com a chamada agronomia moderna,
que utiliza muita água para a irrigação, cujos métodos, precisam ser bastante
melhorados, para terem melhores eficiências de uso, tendência esta que tem
se mostrado, sempre, ascendente, em termos de consumo, isto, fora o uso
industrial e o uso consultivo da água nas cidades, também sempre crescentes.
É obvio que todos os processos humanos de produção, nas cidades e
no campo, principalmente os mais modernos, geram resíduos, de toda sorte,
lixo, esgoto doméstico e industrial que, via de regra, não são bem alocados ou
dispostos e, muitas vezes jogados in natura nas próprias águas superficiais ou
em regiões de abastecimento de grandes lençóis de água subterrâneos, os
chamados aqüíferos, que, via de regra, são artesianos, ou, em outras palavras,
são enormes volumes de água, retidos em rochas porosas que se situam entre
camadas de outras rochas, impermeáveis, uma verdadeira dádiva da natureza,
provocando a poluição e, muitas vezes, também, a sua própria contaminação,
com resíduos químicos e materiais pesados, às vezes, através de processos
irreversíveis e criminosos a estes próprios mananciais.
Ou seja, a hidrologia não se preocupa, só com a quantificação da água,
mas também com a sua qualificação, que são dois aspectos imprescindíveis da
água para o uso humano e os outros processos. Que usos são estes?
O abastecimento doméstico, industrial, das hortas e lavouras modernas,
para recreação, piscicultura, navegação, para a manutenção da vida animal.
São inúmeros usos diferentes, que se ampliam constantemente. Há pessoas
que se arriscam a dizer que os grandes conflitos da humanidade, no futuro,
serão causados pelo controle da água doce, já que a utilização de águas mais
salinizadas, do mar, por exemplo, ainda permanece um problema sério, pois os
processos de dessalinização que existem agora, não fornecem, ainda, grandes
volumes de água a preços compensatórios, além de produzirem resíduos.
Este pensamento leva a crer que a utilização e o manuseio da água, no
futuro, será quase policialesca, ou seja, o seu uso será muito bem controlado e
a disposição dos resíduos, de qualquer espécie ou tipo, será, também, muito
bem controlada, além de ser mais reciclada, como já, em parte, ocorre, agora.
É obvio que a leitura acima leva a definir que hidrologia é a ciência que
estuda, qualitativa e quantitativamente, as diversas etapas da água dentro do
ciclo hidrológico, que é o ciclo natural da água na natureza, nos três estados,
ou seja, líquido, sólido e gasoso, de forma a subsidiar respostas aos diversos
problemas de engenharia dos recursos hídricos, ou seja, ela lida com qualquer
processo para se quantificar ou qualificar a água doce disponível na natureza.

1.2 O que é ciclo hidrológico?

Define-se o ciclo hidrológico como à circulação da água no globo, seja


nas formas, líquida, de vapor ou sólida, influenciada, principalmente, pela
radiação oriunda do sol, da inclinação do globo e de suas movimentações.
A água, no planeta, nunca está parada, há não ser em regiões muito
profundas do solo ou das geleiras, impelida pela alternância do aquecimento e
do resfriamento do continente e do mar, na sua rotação, nos dias e nas noites.
Se inicialmente ela está no mar, se aquecida, ela sobe a superfície, se
evapora, sobe a atmosfera, no estado de vapor, se resfria, nesta subida, forma
as nuvens, que são o aspecto visual da atmosfera local, já bem saturada, com
infinitas moléculas de água já no estado líquido, na forma de pequeníssimas

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gotículas que flutuam ao sabor das turbulências dos vetos, que, a depender
das características da própria atmosfera local, de instabilidade ou estabilidade,
que é um conceito que será explicado mais à frente, pode provocar as chuvas,
propriamente ditas, através do resfriamento mais acentuado desta massa de
vapor de água, ou também podem viajar através de milhares de quilômetros,
junto com os ventos, provocando as chuvas, mais tarde, em outra região.
A maioria das chuvas ocorre sobre o próprio mar, já que dois terços da
superfície terrestre é marítima, mas uma boa parte ocorre sobre o continente,
principalmente sobre as regiões mais altas, de serras ou de cordilheiras, que
provocam a ascensão, mecânica, e o resfriamento dessas grandes massas de
ar saturado de vapor de água, fazendo com que a água da chuva caia sobre a
terra, sobre as florestas e sobre os lagos, renovando, nestes ambientes, parte
do seu ciclo inicial, que é sempre contínuo.
Quando cai sobre a terra, parte da água se infiltra nos terrenos e parte
da água excedente, corre superficialmente nesta, pela ação da gravidade, indo
a formar, mais à frente, os regatos, os lagos e os grandes rios, indo finalmente
a cair no mar, daí o nome ciclo hidrológico, pois a água sempre volta ao mar.
Parte da água que se infiltra nos terrenos, por ação da gravidade, vão
formar os aqüíferos freáticos, artesianos e os escoamentos subterrâneos.
Os aqüíferos freáticos são as acumulações de água superficiais que se
armazenam sobre as rochas e normalmente são captadas por poços rasos, na
ordem de dezenas de metros, que são poços perfurados com certa facilidade,
com aparelhos mais rudimentares, sendo utilizados desde a antiguidade tardia.
É obvio que, à medida que, estes aqüíferos vão se enchendo, a própria água
vai descendo os terrenos para formarem os novos lençóis, que, porventura, se
situam mais abaixo e, também, as fontes surgentes, que são as nascentes dos
rios, a depender da própria geologia da região e do tipo de solo local. Ou seja,
os aqüíferos freáticos, em geral, são abastecidos nas regiões onde se situam.
Os aqüíferos artesianos já são grandes acumulações de água que ficam
confinadas em rochas bem porosas, que se situam entre rochas impermeáveis
e normalmente se situam em grandes regiões de grandes depressões naturais,
cujo abastecimento se faz em outras regiões normalmente mais altas, ao largo
de seu perímetro, como indica a figura 1.1.

Região de abastecimento
......... .... ... Rocha impermeável ........
................... Solo ...........
..................... ............
............................. ...............
.............................................................................
Aqüífero .............................................................
.....................................
Rocha porosa

Figura 1.1 Esboço mostrando uma região com um aqüífero artesiano.

É obvio que nos aqüíferos chamados artesianos, a água fica confinada e


sob pressão, o que não ocorrem com os aqüíferos freáticos, que são mais
superficiais, daí existirem, a depender das posições relativas entre os poços e
o nível estático geral, do aqüífero, na região, poços jorrantes e não-jorrantes.

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Nível estático do aqüífero Poço jorrante
Poço não jorrante
......... .... ... ........
................... ...........
..................... ............
............................. ...............
.............................................................................
.............................................................
.....................................

Figura 1.2 Esboço mostrando o posicionamento relativo dos poços.

A água da chuva que se infiltra no solo, pode abastecer os reservatórios


subterrâneos ou voltar à atmosfera, na forma de vapor, através da evaporação
da água que se situa nas superfícies dos solos das bacias, que, geralmente,
são as camadas de solos mais fáceis de evaporarem, ou voltam à atmosfera
através da transpiração dos vegetais que existem nas bacias, fazendo parte da
fisiologia ou do metabolismo natural dos vegetais, ou também podem formar os
escoamentos subterrâneos e vir a formar novos reservatórios freáticos mais
inferiores, a depender da geologia da região, já que a água é sempre atraída
para baixo, pela gravidade, ou mesmo voltar para os rios das bacias.
Os escoamentos subterrâneos são os escoamentos resultantes da água
infiltrada no solo, que se acumula sobre as rochas, formam aqüíferos freáticos,
com grandes volumes do subsolo saturado, que escoam sobre estas camadas
de rochas e sob a ação da gravidade.
Parte da água reservada subterraneamente nos mananciais freáticos e
artesianos é que vão manter os rios principais das bacias hidrográficas sempre
escoando, quando são perenes, ou seja, que escoam sempre, como é, por
exemplo, o rio São Francisco, na forma de escoamentos que, em hidrologia,
chamam-se de básicos ou oriundos dos subsolos, dessas regiões.
Um ciclo bem importante, também, é o formado pelas zonas das franjas
capilares, que é um dos ciclos da água dos aqüíferos freáticos, saturados, que
sobe, por capilaridade, para os solos acima destes, mantendo a região úmida,
para que a água possa ser absorvida pelas grandes vegetações da bacia.
Como, em hidrologia, no meio natural de uma bacia hidrográfica, que é
um conceito que também será discutido mais à frente, muitas vezes, é difícil se
separar a água evaporada, do solo, dos rios ou dos lagos, da água transpirada
pelos vegetais, que vivem nestes solos, é comum se referir a estes fenômenos,
de forma conjunta, como evapotranspiração, para facilitar a sua compreensão.
É a água oriunda do subsolo de uma região, o escoamento básico, mais
a água oriunda das superfícies desses solos, o escoamento superficial direto, é
que irão formar os escoamentos dos regatos, dos rios e dos lagos, que são
chamados, genericamente, em hidrologia, de escoamentos superficiais totais.
Partes destes escoamentos superficiais voltam à atmosfera na forma de
água evaporada e parte segue o próprio rio, de volta para o mar, para começar
um novo ciclo, mais tarde, pois é este ciclo hidrológico, das águas marinhas e
a partir dela, principalmente, já que dois terços da superfície de nosso planeta
é marítima, é que mantém o equilíbrio térmico da atmosfera e do globo.

17
Por exemplo, em regiões mais desérticas as variações das temperaturas
ambientes são grandes, devido, essencialmente, a falta de umidade, ou seja,
uma das utilidades do ciclo hidrológico é a de ser o radiador do mundo, que, do
contrário, teria variações e temperaturas grandes demais.
Este professor, toda vez que fala deste assunto, sempre fala da água e
de suas propriedades divinas e esta é uma delas, ou seja, a vida neste planeta
existe por causa da presença da água nos três estados, sempre se alternando,
amenizando as temperaturas e propiciando o abastecimento do planeta.
Um outro ciclo da água bem importante, também, em engenharia dos
recursos hídricos, é a retenção da água da chuva nos vegetais de uma bacia,
para posterior evaporação, e também, a retenção e o armazenamento da água
nas depressões que existem nas superfícies das bacias, que tanto influenciam
os coeficientes de run-off ou de deflúvio, máximos das bacias nos dias com
temporais, que é um outro conceito que mais adiante também será explicado.
O ciclo hidrológico descrito acima é apenas uma síntese do mesmo vista
por um engenheiro de recursos hídricos. Se este mesmo ciclo fosse descrito
por um biólogo ou por um engenheiro agrônomo, por exemplo, eles falariam de
outros ciclos da água que são bem importantes, nestas matérias, como é, por
exemplo, o orvalho, ou mais sobre transpiração e evapotranspiração, já que a
água, na realidade, tem inúmeros caminhos na natureza. O seu ciclo sólido,
por exemplo, é muito pouco comentado aqui, porque este ciclo, no Brasil, seja
na forma de neve ou de gelo, é ínfimo, existindo, apenas, em regiões de serras
muito altas e em espaços de tempos bem curtos, ou seja, o ciclo hidrológico é
sempre enfatizado de acordo com o assunto estudado por profissão.
Portanto, as principais partes do ciclo hidrológico, no que diz respeito à
engenharia de recursos hídricos são: a evaporação, o seu trajeto aéreo, tanto
na forma de vapor, difuso na atmosfera, como na forma de nuvens saturadas,
a precipitação, a retenção da água nos vegetais, o armazenamento da água
nas depressões naturais das bacias, a infiltração nos solos, o escoamento
subterrâneo, que vão formar os reservatórios freáticos e artesianos da região,
o escoamento superficial, o escoamento básico, que ocorre do solo para os
rios, os escoamentos das franjas capilares, a transpiração dos vegetais e a
evapotranspiração nas bacias hidrográficas.

Nuvens
Sol
Vento e resfriamento

Irradiação Precipitação
Transpiração

Evaporação Solo Esc. superficial Rios

Mares, rios e lagos Infiltração


Evapotranspiração Esc. básico
Escoamento subterrâneo

Figura 1.3 Fases principais do ciclo hidrológico.

18
1.2.1 Síntese e aprofundamento sobre o ciclo hidrológico.

a) A evaporação das águas superficiais do globo terrestre é resultado


da absorção de parte da energia do sol que aquece as suas superfícies, mais
principalmente as dos oceanos, dos rios e lagos, que irão propiciar a formação
das nuvens, que é formada, principalmente, por água, nos estados de vapor,
líquido e, também, sólido, através de pequeníssimas gotículas que flutuam no
ar, devido às forças ascendentes das turbulências dos ventos.
O mecanismo termodinâmico da evaporação, que absorve energia do
meio para transformar a água do estado líquido para o gasoso, ajuda, também,
a manter o equilíbrio térmico do planeta. Aliás, é este mesmo mecanismo, o de
evaporação, que mantém a moringa e a sua água sempre fresquinha.
b) A precipitação, seja na forma de chuva, de neve ou de granizo, é o
resultado do resfriamento da atmosfera, que modifica o equilíbrio instável do
meio, propiciando a ascensão, o resfriamento, a saturação e a condensação,
do vapor d’água do meio atmosférico, que é o resultado natural da evaporação
das superfícies líquidas que existem na terra, principalmente dos oceanos.
Todos estes fenômenos seqüenciais, provocam o aparecimento e o
acúmulo de um grande número de gotículas de água, que se condensam em
torno de núcleos de condensação, que, normalmente, são cloretos de sódio
ou outros sais, que compõem o próprio ar atmosférico, que flutuam, em virtude
das próprias turbulências dos ventos, dando formação a grupos de nuvens
com as suas colorações mais escuras. Este acúmulo acentuado das gotículas,
em suspensão, provoca a coalescência ou a aglutinação dessas gotículas, que
passam a precipitar em virtude de seus pesos próprios, quando passam a ser
maiores que as forcas ascensionais das turbulências dos ventos, geralmente
na forma de chuva, aumentando o volume das gotas no seu trajeto, devido às
sucessivas aglutinações que ocorrem. Se o resfriamento do ar é muito intenso,
o vapor d’água pode sublimar e passar, diretamente, para o estado sólido,
provocando a neve. A chuva de granizo, por outro lado, já é o resultado da
aglutinação e do congelamento de parte dessas gotículas, no seu trajeto, que
também aumentam os seus volumes, por aglutinações sucessivas, de outras
gotículas, no seu trajeto vertical na atmosfera.
c) A retenção da água da chuva, nos vegetais e o seu armazenamento
da água nas depressões naturais, são ciclos bem importantes, principalmente
para a drenagem superficial das bacias.
Esses dois ciclos são importantes, também, para a retenção e posterior
infiltração das águas das chuvas nas bacias e a manutenção dos seus lençóis,
pois são estes é que manterão a perenidades dos rios nas bacias.
d) A infiltração é o fenômeno de penetração das águas das chuvas nas
camadas superficiais do solo, em função da gravidade. São estas águas que
escoam e que formam os aqüíferos freáticos, que são volumes concentrados
de água que se localiza acima do cristalino, que são as camadas de rochas
impermeáveis, abaixo do solo ou do subsolo e ficam sujeitos em sua superfície
à pressão atmosférica. Já os aqüíferos artesianos são volumes concentrados
de água que se localizam entre camadas de rochas mais impermeáveis mais
profundas e que, normalmente, ocupam grandes dimensões territoriais. Estes
aqüíferos ficam sujeitos às próprias pressões resultantes do peso da própria
água e dão origem aos poços artesianos jorrantes ou não-jorrantes.

19
d) O escoamento das franjas capilares é ocasionado pelo fenômeno
da capilaridade, que é a ascensão natural da água dos aqüíferos para o solo
superior, pelos seus poros e é esta água que alimenta as arvores pelas raízes.
e) A transpiração é parte da água que passa para o estado de vapor
resultante do metabolismo ou da fisiologia natural dos vegetais, que é retirada
do solo e devolvida à atmosfera.
f) A evapotranspiração, é o somatório da evaporação da água contida
no solo superficial, de todas as águas superficiais e da transpiração que ocorre
com os vegetais de uma determinada bacia hidrográfica.
g) O escoamento superficial é considerado, em geral, como, qualquer
escoamento que ocorre na superfície terrestre, como os dos riachos, dos rios
ou dos lagos, e é formado tanto pela água superficial, oriunda diretamente das
precipitações, chamado de escoamento superficial direto, como da água vinda
do próprio lençol freático ou artesiano, da região, na forma de escoamentos
que, em hidrologia, chama-se de básicos.
h) O escoamento básico é o escoamento gravitacional que ocorre nos
subsolos para a alimentação natural dos rios nas bacias, decorrente das águas
oriundas dos lençóis freáticos ou artesianos na região. São estes escoamentos
subterrâneos é que abastecem continuamente e provocam a perenidade das
fontes, dos lagos e dos rios, de uma região.
i) O escoamento total ou deflúvio total de uma bacia, como também é
chamado, é o somatório dos escoamentos básico mais o superficial direto.

1.3 O que é uma bacia hidrográfica?

Bacia hidrográfica é uma espécie de área ou superfície, côncava, bem


irregular, cujo perímetro é definido, topograficamente, pelos elementos naturais
de cotas mais altas de seu próprio relevo, chamados de divisores topográficos.
Em engenharia, a bacia hidrográfica ou a bacia de contribuição provável de um
rio é definida através do uso de mapas altimétricos, onde são demarcados os
divisores ou partes altas que definem o seu perímetro, a área da bacia contida
entre estes divisores, além de outras características da bacia de contribuição,
como a sua declividade e a declividade do álveo do rio principal.
Quando tratamos da bacia total de um rio principal ou de seu afluente,
denominamos de bacia hidrográfica. Por exemplo, a bacia hidrográfica do rio
2
São Francisco tem 634.000 km ; quando tratamos, apenas, de parte da bacia,
referente a um determinado ponto, que, em hidrologia, chamamos de exutória,
é comum a denominarmos de bacia de contribuição. Por exemplo, a bacia de
contribuição do rio São Francisco, em Jaceaba, que fica no Estado de Minas
Gerais, tem uma área de 2.470 km2 (2).

Exemplo 1.1 e Exercício 1.1 Siga o exemplo 1.1, dado pelo professor,
de determinação prática de uma pequena bacia de contribuição de um afluente
do Rio Paraguaçu-BA e determine o perímetro, a área, a curva hipsométrica e
a declividade do seu riacho principal, a partir da exutória, demarcada para esta
bacia. No presente exemplo foi escolhida uma bacia bem simples, com apenas
um único riacho, intermitente, no mapa planialtimétrico da região de Itaberaba,
Folha SD.24-V-B-IV, na escala de 1:100.000, com curvas de nível de 40 em
40m, obtido no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística de Salvador - BA.

20
1.3.1 Características físicas principais de uma bacia.

Para a hidrologia, as principais características físicas de uma bacia são:


a sua área, o seu comprimento, a forma, a sua declividade média, o sistema de
drenagem e a sua altitude média, embora exista outras características que são
importantes, como o tipo de solo ou pedológicas; as características do relevo
natural; as características da cobertura vegetal; as características do subsolo,
além das características induzidas pelo homem, como represas.
a) O sistema de drenagem de uma bacia, composto pelo rio principal e
seus afluentes, que podem ser rios perenes, intermitentes e efêmeros, é o
resultado do trabalho natural incessante desenvolvido pelas precipitações no
relevo e no solo das bacias, ao longo de milhões de anos, tornando-se, assim,
o alvo principal para o estudo do escoamento superficial.
Os rios efêmeros são aqueles resultantes dos escoamentos superficiais
diretos das chuvas e só ocorrem durante ou logo após os períodos das chuvas.
Os rios intermitentes, que só escoam durante as estações mais chuvosas, que
são comuns em regiões semi-áridas, resultam do escoamento superficial direto
das bacias mais o seu escoamento básico, que, no entanto, é pobre, já que os
níveis dos leitos desses rios ficam um pouco acima dos níveis médios dos
próprios reservatórios freáticos, resultando em rios que só escoam por curtos
períodos de tempo, nas estações chuvosas. Já os rios perenes são aqueles
cujos leitos se situam sempre abaixo dos próprios níveis dos lençóis freáticos,
nas bacias, resultando em rios que escoam o ano inteiro e sem interrupções. A
retirada das florestas, que retêm parte das águas das chuvas, para a formação
dos lençóis freáticos, tem levado muitos rios a perderem a sua perenidade.
b) A área de drenagem é a projeção horizontal da área inclusa entre os
divisores topográficos da bacia e define, a partir do regime de precipitações na
região e das características do solo, do clima e do relevo, as magnitudes das
vazões que ocorrem nas bacias, ou seja, quanto maior é a área de uma bacia,
maiores serão as vazões produzidas, de um modo geral.
c) O comprimento da bacia influencia, principalmente, o seu tempo de
concentração, que é um conceito que será explicado mais adiante com mais
profundidade, mas que reflete o tempo médio do escoamento superficial direto
das águas das chuvas na bacia.
d) A declividade da bacia e, portanto, as declividades dos álveos dos
rios, influenciam as velocidades dos escoamentos superficiais dos rios e, logo,
também, o tempo de concentração.
Por exemplo, duas bacias que possuem áreas e outras características
físicas semelhantes, em que uma tem maior tempo de concentração, ou seja,
tem a área e outras características semelhantes, mas tem menor declividade,
por exemplo, retém, por mais tempo, a água do escoamento superficial direto
na bacia de contribuição e produzem hidrógrafas ou hidrogramas, que são os
gráficos que mostram a variação das vazões do rio em relação ao tempo, nas
exutórias das bacias, para uma chuva intensa que cai na mesma, com menor
pico de vazão e, geralmente, mais longas, como nos mostra a situação tipo A
da figura 4.1. É comum, aos nadadores, de regiões muito montanhosas, se
afastarem dos rios na presença de chuvas fortes ou mesmo de indicadores de
chuvas, como nuvens escuras, por causa da intensa variação das vazões nos
rios, já que os tempos de concentrações dessas bacias são muito pequenos.

21
Q Maior tempo de concentração Q Menor tempo de concentração
Menor pico Maior pico

A B
t t

Figura 1.4 Hidrógrafas resultantes de duas ondas de cheias ocorridas


em duas bacias semelhantes, mas com tempos de concentrações diferentes.

Uma outra influência marcante da declividade da bacia é na infiltração,


já que as bacias mais íngremes tendem a ter menores índices de infiltração do
que as bacias mais planas, cujo escoamento superficial é mais lento e permite
que a infiltração seja mais demorada.
e) A forma da bacia, normalmente estudada através de coeficientes que
relacionam a área e o comprimento da bacia influi na magnitude das vazões de
enchentes. Duas bacias semelhantes, onde uma, no entanto, é mais alongada,
tem, normalmente, ondas de cheias mais atenuadas e com menores picos do
que as bacias mais arredondadas.
f) A altitude da bacia influencia, principalmente, as características do
clima, como a temperatura, e também as precipitações, a depender da posição
relativa das correntes de ventos mais úmidos, que vêm do mar, principalmente,
ou de regiões úmidas, provocando as chamadas precipitações orográficas.
g) As características do solo de uma bacia ou pedológicas influenciam,
principalmente, os mecanismos de infiltração.
h) As características do relevo de uma bacia, ou seja, a aparência da
sua superfície influencia principalmente a declividade e, logo, a velocidade do
escoamento superficial, a sua capacidade de infiltração e a sua capacidade de
armazenamento superficial das depressões superficiais da bacia.
i) A cobertura vegetal influencia a evapotranspiração, a retenção e a
infiltração da água da chuva no solo, a formação dos aqüíferos, evita a erosão
e aumenta o tempo de concentração das bacias.
Veja, por exemplo, o nosso famoso rio São Francisco, que, hoje, já não
é navegável, por causa da erosão do solo da bacia, que soterrou o seu álveo,
que não é retido porque esta bacia perdeu significativa parte de sua cobertura
vegetal e, também, por causa da mudança do regime de vazões. Vejamos.
Antigamente, boa parte da água da chuva se infiltrava na bacia e, mais
tarde, virava escoamento básico, retornando, bem lentamente, ao próprio rio,
mantendo o seu regime de vazões, por causa da sua cobertura vegetal natural.
Hoje em dia, esta parte excedente, que se infiltrava no solo, virou escoamento
superficial direto, escoando rapidamente nas estações mais chuvosas, ou seja,
nestas estações, se aumentou os picos e, conseqüentemente, os volumes das
ondas de escoamentos diretos, e nas secas, as vazões básicas diminuíram.
j) As características do subsolo de uma bacia hidrográfica, associada à
posição do seu cristalino, determinam a capacidade dos lençóis em reterem a
água e manterem, também, a perenidade de seus rios.

Trabalho 1.1 Leia, sintetize e apresente, por escrito, uma síntese do


capítulo Análise de Bacias Hidrográficas, da bibliografia número 15 e do item
Características Físicas das Bacias Hidrográficas, da bibliografia número 69.

22
1.4 Balanço hídrico simplificado de uma bacia de contribuição.

O balanço hídrico, simplificado, de uma bacia, é semelhante ao balanço


contábil, e relaciona e pondera todos os volumes de entradas VE, de saídas VS
e o armazenamento volumétrico de água, ∆V, que ocorre no subsolo da bacia,
ao longo de um determinado tempo, geralmente longo. Assim:

VE - VS = ∆V 1.1

O volume de entrada é o da precipitação, VP. Os volumes de saída são:


o da evapotranspiração, VEVP, e do escoamento superficial, VES, e a variação
dos volumes, ∆V, ocorre através da variação do volume de água armazenado
no subsolo da bacia, no tempo. Assim:

VP - VEVP - VES = ∆V(SUBTERRÃNEO) 1.2

VP VEVP

Bacia Rio
Sub-solo
VES

AB ∆V(SUBTERRÃNEO)

Figura 1.5 Balanço hídrico simplificado em uma bacia.

Como, ao longo do tempo, geralmente longo, grande parte dos volumes,


infiltrado e armazenado, nos lençóis, ∆V, volta aos rios da bacia, na forma de
escoamento básico, e como, também, é muito difícil medir-se esta variação, no
subsolo, é comum admitir-se que:
∆V = 0 1.3

Portanto, substituindo-se este valor de ∆V na equação 1.2, tem-se:

VP - VEVP - VES = 0 1.4

Como, genericamente, quaisquer volumes relativos, à bacia, são iguais


à altura vezes a sua área, ou:
V = H . AB 1.5
Logo,
HP - HEVP - HES = 0 1.6

A altura precipitada HP e conseqüentemente o volume precipitado VP é


medido através da média das alturas acumuladas nos pluviômetros instalados
na bacia, no tempo considerado, que geralmente é de muitos anos, de forma a
ter-se boa consistência. O volume escoado, VES, e, portanto, a altura escoada,
HES, é avaliada através da utilização de medidores de vazões, que se instalam
nas exutórias das bacias, também no tempo considerado, geralmente grande,
igual ao mesmo tempo utilizado para se medir a precipitação média HP.

23
Esta operação é feita através da integral das vazões ocorridas no tempo
considerado, ou: Média Tempo considerado
t2 _ _
VES = ∫ Q . dt = Q . (t2 - t1) 1.7
t1

Logo, pela equação 1.6, tem-se que a água evapotranspirada na bacia,


HEVP, também denominada de déficit de escoamento (46), é medida através da
diferença entre a altura precipitada, HP, e a altura escoada superficialmente,
HES, no tempo considerado, ou:
HEVP = HP - HES 1.8

1.4.1 Definição de rendimento e o uso do método racional.

Define-se como rendimento de uma bacia, RB, muitas vezes chamado,


também, de coeficientes de run-off ou deflúvio, a relação percentual que existe
entre os volumes médios que escoam superficialmente, VES, e que precipitam,
VP, em uma bacia, ou:
RB = VES / VP 1.9

Dividindo-se ambos os volumes, pela área da bacia, tem-se:

RB = HES / HP 1.10

O valor do rendimento de uma bacia, em engenharia é muito variável e


difícil de ser determinado, mais corretamente, quando se necessita avaliar-se,
por exemplo, o potencial teórico de uma determinada bacia, pois ele depende,
na realidade, de muitas variáveis ligadas ao clima, à topografia, ao relevo, ao
solo e ao subsolo, das bacias, muito difíceis de serem concatenadas, em uma
única equação ou método.
A tabela 1.3 apresenta o banco hídrico simplificado de algumas bacias
hidrográficas brasileiras mais importantes, cujos dados foram extraídos do livro
“Modelos para Gerenciamento de Recursos Hídricos” (4), onde consta, o nome
da bacia hidrográfica, a área, a precipitação média, o escoamento superficial, a
evapotranspiração e o rendimento.

Tabela 1.3 Bacia, área, precipitação, evapotranspiração, escoamento


superficial e rendimento médio de algumas bacias hidrográficas importantes.

Bacia Área Precipitação Esc. Sup. Ev.trans. Rendimento


HP HES HEVP %
(Km2) (mm) (mm) (mm)

Amazonas 6.112.000 2548 1042 1506 43


Tocantins 757.000 1767 470 1297 27
São Francisco 634.000 987 151 836 15
Paraná 877.000 1437 402 1035 28
Paraguai 368.000 1400 115 1285 8
Uruguai 178.000 1700 716 984 42

24
A tabela 1.4 mostra a área, a altura do escoamento superficial, em mm,
3
a vazão média, em m /s, e a vazão específica, ou seja, é a vazão média por
unidade de área, q, em, l/s.Km2, das bacias analisadas na tabela 3.1.

Tabela 1.4 Área, escoamento superficial, vazão e vazão específica de


algumas bacias hidrográficas importantes, no Brasil.

Bacia Área Esc. Sup. Vazão média Vazão média


HES Q específica
2 3
(Km ) (mm) (m /s) q
2
l/s.Km

Amazonas 6.112.000 1042 202.181 33,08


Tocantins 757.000 470 11.292 14,92
São Francisco 634.000 151 3.039 4,79
Paraná 877.000 402 11.192 12,76
Paraguai 368.000 115 1.343 3,65
Uruguai 178.000 716 4.045 22,70

Obs: 1 l/s/km2 = 0,001m3/s/1.000.000 m2 = 1.10-9 m/s = 0,0315 m/ano = 31,5 mm/ano

A tabela 1.5 apresenta a área, a estação ou a localidade, a vazão média


e a vazão específica, q, de algumas bacias importantes, situadas no Estado da
Bahia, cujos dados foram obtidos e analisados a partir da referencia 54.

Tabela 1.5 Área, estação, vazão e vazão específica, q, de algumas das


bacias mais importantes do Estado da Bahia.
Bacia Estação Área Vazão média Vazão média
Q especifica
(Km2) (m3/s) Q
L/s.Km2
São Francisco Barra 421.400 2.621 6,22
São Francisco Juazeiro 510.800 2.781 5,44
Corrente S. M. Vitória 28.500 212 7,44
Grande Boqueirão 67.380 45 0,67
Salitre Junco 14.032 1,7 0,12
V.Barris Jeremoabo 8.685 1,84 0,21
Itapicuru Us. Altamira 35.150 37,7 1,07
Real Itanhi 4.320 13,2 3,06
Paraguaçu P. do Cavalo 53.866 143 2,65
Inhambupe Corte Grande 4.140 11,7 2,83
Subaúma Cambuís 1.040 4,9 4,70
Pojuca Tiriririca 4.860 33,9 6,98
Jacuípe Emboacica 770 16,6 8,57
Subaé Subaé 390 2,7 6,92
Jaguaribe Nazaré 1.480 12,5 1,69
Jiquiriça Jiquiriça 5.970 18,1 3,03
Cachoeira G. Itaberá 310 6,88 22,19
Jequié Nilo Peçanha 2.830 50,7 17,9
Rio de Contas Ubaitaba 56.290 17.2 0,31
Pardo Mascote I 30.970 53,9 1,74
Almada Provisão 1.300 19,8 15,23
Cachoeira Itabuna-Pte. 3.850 15,8 4,1
Jequitinhonha Itaebi 61.910 442 7,10
Buranhém Faz. Limoeiro 2.324 25,7 11,06
Frade B. Norte Guaratinga 58 2,14 36,9
Juruaçu B. do Sul Faz. R. do Sul 1.189 28,7 24,14
Itanhém F. Cascata 5.084 38,8 7,63
Peruípe Helvécia 2.641 22,7 8,6

25
Observação: É muito difícil prever-se o rendimento ou mesmo a vazão
específica de uma determinada bacia, com a finalidade de aproveitamento de
seus recursos hídricos, quando não se têm dados de vazões, o que, aliás, é
bem comum, em engenharia dos recursos hídricos, no interior do Brasil.
É interessante ir ao local da futura obra; inspecionar a exutória, onde se
quer fazer a obra; examinar e levantar, topograficamente, a secção transversal
o leito do rio e analisar a sua granulometria; perguntar a população local sobre
os comportamentos do rio ou quando ele escoa, quando é intermitente; inquirir
sobre todos os seus níveis, médios e máximos; observar a topografia, o relevo
e o tipo de solo predominante, da bacia; avaliar a vazão e comparar os dados
com os de outras bacias semelhantes na redondeza, cujos coeficientes já são
conhecidos, caso sejam conhecidos, ou seja, é um trabalho profissional e bem
especializado, cujo resultado, é bom que se diga, nem sempre é preciso.
Em média, as vazões específicas e os escoamentos superficiais para as
diversas regiões brasileiras, são apresentadas na tabela 1.6.

Tabela 1.6 Vazões específicas e escoamentos superficiais médios das


diversas regiões brasileiras (Associação brasileira de recursos hídricos).

Região Área vazão específica Escoamento superficial


2 2
(km ) (l/s/km ) (mm/ano)

Norte 3.581.180 34 1071


Nordeste 1.543.672 4 126
Sudeste 924.935 11 347
Sul 577.732 20 630
Centro-oeste 1.879.455 15 773

Para a região nordeste interior, com clima semi-árido, com precipitações


anuais, HP, compreendidas entre 500 e 1000 mm, cujos rendimentos, RB, são
baixos, é muito utilizada, a equação de Francisco Aguiar (10), onde:

RB = CA . (0,00000018 . HP2 - 0,000073 . HP + 0,042) 1.11

Na equação 1.11 RB é o coeficiente de run-off ou o rendimento da bacia,


em algarismos decimais, HP é a precipitação média anual, em mm, e CA é um
coeficiente que depende de algumas características da bacia.

Tabela 1.7 Coeficientes, CA, da equação de Francisco Aguiar.

Características da bacia Coeficiente CA

Pequenas, íngremes e rochosas 1,35


Acidentadas e sem depressões evaporativas 1,2
Com características médias 1,0
Ligeiramente acidentadas 0,80
Ligeiramente acidentada e com depressões evaporativas 0,70
Quase plana com terreno argiloso 0,65
Quase plana com terreno variável ou ordinário 0,60
Quase plana com terreno arenoso 0,50

26
Uma outra equação muito utilizada para se avaliar a evapotranspiração
em bacias, é a equação de Turc:
HP
HEVP = ------------------------------- 1.12
2 2
0,90 +( HP / CT )
Onde,
CT = 0,05 . T3 + 25 . T + 300 1.12.1
O
Na equação 1.13, T é a temperatura média anual em C e H em mm.
Se RB é igual a HES/HP e se HES é igual a HP-HEVP, logo, tem-se que:
)
RB = (HP -HEVP /HP 1.13

Observação: Conforme pode ser visto, pela análise da tabela 1.5, a


simples utilização das equações citadas não fornecem, de maneira nenhuma,
rendimentos que estejam, efetivamente, corretos, pois os desvios observados
para os coeficientes destas equações são muito grandes. Assim é prudente, ao
projetista, trabalhar, também, com fatores de segurança.
Conhecido o rendimento, RB, que em muitos livros de hidrologia, levam
o nome de coeficiente de run-off ou de deflúvio, pode-se estabelecer a vazão
média do escoamento da bacia, QESC, através do método racional, a equação
1.14, onde i é igual à intensidade média da precipitação, ou HP/D, onde HP é a
altura precipitada anual e D é a unidade de tempo, tomada, aqui, como o ano:

QESC = R . i. AB = RB . ( HP / D ) . AB 1.14

Por exemplo, se uma bacia do semi-árido tem rendimento RB igual 0,10;


50 km2 de área e, na região, precipita, em média, 700 mm anuais, tem-se que
a vazão média anual é de:
700 mm
QESC = RB . i. AB = R . ( HP / D ) . AB = 0,10 . ------------- . 50 km2 1.15
Ano
Ou,
QESC = 0,10 . 0,0000000222 m/s . 50.000.000 m2 = 0,11 m3/s 1.16

Exercício 1.2 Se a bacia do exemplo tivesse um rendimento, RB, de 3%,


área de 150 km2 e um índice pluviométrico de 650 mm, qual seria a vazão?

Exercício 1.3 Estime, através das equações 1.11 e 1.13, ambos os


rendimentos, RB, e as vazões médias escoadas, QESC, de uma bacia com 50
km2, considerada, durante a inspeção do técnico aos seus terrenos, como uma
bacia quase plana e com o terreno areno-siltoso, localizada em Serrinha-BA,
onde HP é igual a 850 mm e a temperatura média anual, T, é de 24 0C. Quanto
você adotaria como o rendimento desta bacia, em um projeto real? Justifique.

Exercício 1.4 Com o rendimento adotado, para a bacia do exercício 1.3,


e com a precipitação anual, HP, que é de 850 mm, qual seria a altura escoada
desta bacia, HESC, e qual seria a sua vazão específica, q, em (l/s/Km2)?

27
2
Exercício 1.5 Para uma bacia com 200 km de área, situada em uma
região do semi-árido com um índice pluviométrico médio de 600 milímetros e
0
com temperatura de 26 C, determine:

a) Qual é o rendimento provável da bacia?


3
b) Qual é a altura escoada, em mm, e o volume médio anual em, m , relativos
ao escoamento superficial da bacia?
3
c) Qual é a vazão média anual, Q, em m /s e a sua vazão específica escoada
pelo rio principal desta bacia, q, em (l/s/km2) e (m3/s /km2)?
3
d) Quais são a altura e o volume evapotranspirado, em m e em mm?

1.4.2 Recolhimento da água da chuva em áreas impermeabilizadas.

É muito comum no interior se recolher a água das chuvas e reservá-las,


de forma conveniente, de forma a se evitar a sua evaporação, já que esta água
é de boa qualidade, normalmente através dos telhados das residências e dos
currais das fazendas, ou mesmo através da impermeabilização conveniente de
pequenas áreas de morros ou de colinas ou de áreas que ficam em altitudes
maiores que o ponto de utilização. Ou seja, a bacia, agora, é artificial, cercada,
impermeabilizada e demarcada convenientemente, de forma que toda a água
seja canalizada até o reservatório, por gravidade.

Observação: Nesses casos específicos, onde a perda é por evaporação


e não mais por evapotranspiração, é baixa, se recomenda utilizar, nos cálculos,
coeficientes, RB, pertos do unitário.

Observação: É comum, nestes tipos de instalações, construir-se caixas


d’águas para a reserva da água, que, normalmente, em pequenas instalações,
é um reservatório enterrado ou sobre o solo, quando a instalação de captação
é construída sob colinas próximas ao local e a água é aduzida por gravidade.
O cálculo correto do volume mínimo é visto no item que trata de regularização
de vazões, de modo que esta reserva contenha água suficiente para atender a
demanda população nas épocas de estio.

Exercício 1.6 Uma residência localizada no interior do Estado da Bahia,


onde moram 5 pessoas, terá uma parte, da sua área de cobertura, captada,
canalizada e reservada para o consumo nos períodos secos. Sabendo-se que
o índice pluviométrico médio, na região, é de 650 mm, pergunta-se:

a) Qual é o volume médio anual coletado de água da chuva?


b) Sabendo-se que, em média, o consumo diário de água fica em torno
de 100 l/d.pessoa, pergunta-se: Qual deveria ser a área de captação mínima
da residência, para garantir o abastecimento anual?

Observação: Como a metodologia empregada acima é muito simples,


já que se usa apenas a precipitação média, não se prevendo as variações para
as épocas de estiagens, além de não se ter mais dados sobre a demanda, que
também varia. Assim, deve-se adotar coeficientes de segurança nos cálculos e
o bom senso para a utilização efetiva da mesma.

28
Capítulo 2
Precipitação.

2.1 Como ocorre a precipitação?

A precipitação, seja nas formas de chuva, neve ou granizo é o resultado


do resfriamento da atmosfera a grandes altitudes, que modifica o equilíbrio
termodinâmico e instável do meio, propiciando, a ascensão, o resfriamento, a
saturação e a condensação, do vapor d’água contido na atmosfera, que é o
resultado da evaporação das superfícies líquidas. Todos estes fenômenos,
seqüenciais, provocam o aparecimento e o acúmulo de um grande número de
gotículas de água que se condensam, em torno de núcleos de condensação,
que, normalmente são cloretos de sódio ou outros sais, que compõe o próprio
ar e que flutuam, em virtude da própria turbulência e das forças ascensionais
dos ventos, dando formação a grupos de nuvens com coloração mais escuras.
Este acúmulo mais acentuado de gotículas em suspensão na atmosfera,
provocam as aglutinações dessas gotículas, que precipitam em virtude de seus
próprios pesos, geralmente como chuvas, aumentando os seus volumes nos
trajetos verticais, devido às sucessivas aglutinações posteriores, que ocorrem.
Se o resfriamento do ar é muito intenso, o vapor d’água pode sublimar
e passar diretamente para o estado sólido, provocando a neve. O granizo, por
outro lado, a chamada “chuva de gelo”, é o resultado do congelamento dessas
gotículas a grandes altitudes, que aumentam os seus volumes por aglutinações
de mais gotículas líquidas no seu trajeto, produzindo pedrinhas de gelo.

2.2 Conceitos de estabilidade e instabilidade atmosférica.

Para entendermos, melhor, a formação das precipitações, é necessário


conhecer, também, o que é estabilidade ou instabilidade atmosférica.
Normalmente diz-se que as condições do tempo estão estáveis quando
há poucas nuvens no céu, geralmente esbranquiçadas e bem esparsas, o que
mostra que estas nuvens não estão saturadas e contém pouco vapor d’água e,
por conseguinte, poucas gotículas, em suspensão, porque a cor das nuvens é,
apenas, o aspecto visual da sua transparência, no céu.
Por outro lado, diz-se que as condições do tempo são instáveis quando
há muitas nuvens no céu, geralmente muito escuras e bem densas, com o céu
coberto ou nebuloso, o que mostra que as nuvens estão saturadas e contém
muito vapor d’água e, por conseguinte, muitas gotículas, em suspensão.
Por que acontece esta diferenciação? É por causa de dois conceitos de
análises chamados de estabilidade e instabilidade convectiva da atmosfera,
que acontece por causa dos gradientes de temperaturas que podem existir na
atmosfera, ou seja, a variação das temperaturas com as altitudes, que podem
ser maiores ou menores que um determinado limite.
Quando uma molécula de água se evapora, de uma superfície qualquer,
ela normalmente tem o peso específico menor que o do ar local e geralmente
ascende na atmosfera, através de convecção normal ou forçada, pelos ventos.

29
Quando esta molécula, ou grupos de moléculas, ascende na atmosfera,
ela sempre encontra regiões superiores com menores pressões e, portanto, se
expandem, em termos de seu próprio volume.
Se nós considerarmos, pelo menos, teoricamente, já que os processos
de ascensão do vapor e de formação das nuvens são bastante rápidos, estes
processos como adiabáticos secos, ou seja, sem perdas de energia e em um
meio seco, não saturado, é claro que as temperaturas dessas moléculas de
vapor, em ascensão, vão perder temperatura, se resfriando, e esta variação ou
gradiente de temperatura é de aproximadamente 1º/100 m (69), e este será o
nosso referencial, para a ascensão da massa de vapor, na atmosfera.
Vejamos agora outro ponto de vista, o do ar, na atmosfera, que também
pode sofrer os mesmos processos de ascensão, ou por convecção normal ou
forçada, pelos ventos, que, em virtude do gradiente de pressões na atmosfera,
que diminui as temperaturas do ar, à medida que se aumenta à altitude, além
de poder se resfriar ou esquentar também em virtude das frentes ou das
correntes de ventos que vem de outras regiões mais quentes ou mais frias que
a analisada, como o mar, que, às vezes, está mais quente ou mais frio que o
continente, ou frentes que podem vir da Antártica, dos Andes, do Equador etc.
É claro que o gradiente de temperatura do ar local ora é maior que o da
massa de vapor em ascensão e ora pode ser menor.
Os gradientes mais comuns são em torno da média, de 0,60 º/100m, ou
seja, nesses dias, o gradiente de temperaturas, médio, do ar, é menor que o
gradiente das massas de vapor em ascensão, considerado como de 1º/100 m,
ou seja, nesses dias, mais freqüentes, a massa de vapor tenderá, à medida
que subir na atmosfera, a ser mais fria que o próprio ar circundante, e, logo,
mais densa ou pesada, que este ar, e o movimento de ascensão das massas
de vapor cessa naturalmente e não se tem a formação das nuvens de chuvas
e, logo, o céu fica bem claro, com o tempo estável, como indica a figura 2.1.

Altitude Estabilidade da atmosfera

Ascensão e resfriamento do vapor


Gradiente Adiabático seco

1º/100 m Gradiente médio


de temperatura do ar.
0,60 º/100m

Temperaturas
Figura 2.1 Esquema indicativo de estabilidade da atmosfera.

É muito comum, no entanto, o aparecimento das chamadas frentes frias,


que são movimentos de grandes massas de ar, bem frio, que se deslocam de
regiões do globo terrestre com baixas temperaturas e altas pressões, como,
por exemplo, a Antártida ou a Cordilheiras dos Andes, já que o abaixamento da
temperatura do ar aumenta a sua densidade e, portanto, as pressões locais,
em relação às pressões de outras localidades que são mais quentes, geradas
pela insolação solar e o movimento de rotação do planeta (66).

30
Nesses dias, é obvio que existe um abaixamento das temperaturas na
atmosfera, provocando gradientes de temperaturas do ar que são maiores que
o adiabático seco, considerado como de 1º/100 m, e nesses dias frios, que são
menos freqüentes, a massa de vapor de água tenderá, a mediada que subir,
na atmosfera, a ser mais quente que o ar circundante, e, logo, menos densa ou
leve, que o ar, e o movimento de ascensão da massa de vapor não cessa, e se
tem a formação de nuvens de chuvas ou de nebulosidades, com o céu com o
aspecto bem escuro, ou seja, o tempo está instável, como indica a figura 2.2.

Altitude Instabilidade da atmosfera

Ascensão e resfriamento do vapor


Gradiente Adiabático seco

1º/100 m
Gradiente médio
de temperaturas do ar
> 1º/100 m

Temperaturas

Figura 2.2 Esquema indicativo de instabilidade da atmosfera.

Se vai chover ou não, com a atmosfera instável, já é um outro problema,


pois a ocorrência de chuvas depende, também, da quantidade de vapor destes
processos, já que a umidade de uma região pode não ser suficiente para se ter
à formação de chuvas, já que é muito comum o tempo fechar, como se diz
habitualmente, e depois, as nuvens se dissiparem, sem chuvas.
Segundo, estes processos de instabilidades podem ser também breves
ou momentâneos e não provocarem chuvas. É bem comum, no verão, o tempo
fechar totalmente, indicando instabilidade atmosférica e, de repente, uma brisa
suave e quente dissipar as nuvens e não haver chuvas, ou seja, a instabilidade
convectiva é necessária, mas não é suficiente, para provocar chuvas.

2.3 Tipos principais de precipitações.

Os processos de formação das chuvas e outros tipos de precipitações


são sempre os mesmos, baseado, sempre, no resfriamento da atmosfera, de
um modo geral, conforme já foi bem explicado nos itens anteriores. Existem,
no entanto, três causas, principais, para estes resfriamentos, que provocam os
seguintes tipos de precipitações:
a) Precipitações convectivas: São aquelas precipitações que ocorrem
em dias quentes e ensolarados, principalmente no verão. Nesses dias, a água
evaporada de grandes superfícies ou vindas, com o vento, de outros locais, na
forma de vapor, satura a atmosfera local, que está quente e inchada, como se
diz popularmente, com uma grande capacidade de absorção de vapor, já que
as altas temperaturas desses ambientes aumentam o volume e diminui o peso
específico do ar. À tarde, geralmente, com a rotação da terra e o declínio do
sol, o ar resfria, retrai e se satura, provocando chuvas.

31
Para se entender este processo, deve-se comparar o ar atmosférico
com uma esponja: de manhã, ele se expande e absorve a umidade. À tarde,
embora, nem sempre, estes tipos de chuvas aconteçam durante as tardes, ele
começa a se esfriar e a se retrair, e necessita espremer todo esta umidade em
excesso, provocando as chuvas.
Este tipo de chuva é mais conhecido como precipitação convectiva e,
normalmente, são de curtas durações e de grandes intensidades e ocorrem em
pequenas áreas. São os chamados temporais, que causam grandes problemas
em pequenas e médias bacias urbanas, principalmente.
b) Precipitações ciclônicas frontais: São as precipitações de decorem
da movimentação de frentes ou a movimentação de grandes massas de ar
com temperaturas e densidades diferentes das do local em que elas cairão. A
frente mais comum é a chamada frente fria, tão noticiadas nas televisões,
embora em certos locais são comuns também as chamadas frentes quentes.
Os ventos sempre se movimentam de regiões com altas pressões para
regiões com baixas pressões. É muito comum, nas frentes frias, que são os
tipos de frentes mais comuns e freqüentes, imensas quantidades de ar frio se
deslocarem, de regiões mais frias para outras, mais quentes.
A primeira coisa que acontece, no local, nestes casos, e o abaixamento
das temperaturas ambientes, já que o ar mais frio e denso, das frentes frias,
não se mistura tão facilmente com o ar mais quente da região, e tende a entrar
como uma cunha na região e suspender a massa de ar mais quente, fazendo
com que ela se resfrie, nesta subida. A depender da quantidade de vapor de
água envolvida nestes processos, de subida, estas frentes podem produzir
chuvas que normalmente são prolongadas e, geralmente, caem em vastas
regiões geográficas. São esses tipos de precipitações, que têm intensidades
variáveis, é que mantém os regimes de escoamentos dos rios das grandes
bacias hidrográficas e a perenização dos grandes rios.
Nas frentes quentes, já é diferente. É o ar mais quente, que tem menor
densidade que o local, que é mais frio, que se desloca, se eleva e se resfria,
e, a depender do grau de umidade que dispõe, podem provocar chuvas.
c) Precipitações orográficas: Resultam da ascensão e o resfriamento
de grandes massas de ar úmido, normalmente oriundas de regiões com muita
umidade e carregadas pelos ventos, sobre altas barreiras naturais, como, por
exemplo, as chuvas que ocorrem à barlavento da Serra do Mar, que é onde os
ventos úmidos ascendem e se resfriam, ou as famosas chuvas das monções,
que ocorrem na Ásia, nas vastas regiões montanhosas que existem juntas ao
Monte Everest. Normalmente são muito freqüentes e muito intensas.

2.4 Medidas pluviométricas.

Normalmente, em hidrologia, as medidas sempre são feitas em termos


de alturas, tendo-se, sempre, uma área de controle, como por exemplo, as
alturas precipitadas na área de contribuição de uma bacia hidrográfica; as
alturas de água evaporadas nas áreas dos lagos de uma região qualquer; a
altura evapotranspirada de uma determinada bacia e a precipitação, do mesmo
jeito, também, é medida em termos de altura, ou seja, ela é a variação dos
volumes precipitados e acumulados da água da chuva, que cai em uma
determinada área referencial, que, normalmente, é a área superior interna dos
medidores de chuvas, aquela que capta a água no aparelho.

32
Este mesmo conceito se aplica, também, aos países de clima mais frio,
onde os medidores de precipitações derretem a neve, antes da medida (13).
Antigamente, antes da revolução industrial, as medidas das chuvas já
eram feitas desde a idade média, por causa da agricultura, para se conhecer
melhor os regimes de precipitações locais, ou seja, as estatísticas das chuvas
locais, feitas com aparelhos bem simples, medindo-se as alturas das chuvas
que caiam em suas áreas de recepções horizontais, já que as padronizações e
as sofisticações, dos aparelhos de medições, só apareceram após a revolução
industrial, já que, na Europa, tem-se dados e estatísticas de precipitações que
são multi-centenárias, e, portanto, efetuadas bem antes desta revolução.
Os princípios de medição nunca mudaram e o que mudou, até hoje, foi a
tecnologia, já que, atualmente, as precipitações são medidas em tempo real e
os dados analisados, até, com o apoio de satélites meteorológicos e, depois,
mandados para órgãos de diversos países, através da Internet e outros meios.
Em termos propedêuticos e didáticos, no entanto, a medição das chuvas
tem sido feita por dois tipos de aparelhos: os pluviômetros e os pluviógrafos.

2.4.1 Pluviômetros: São aparelhos bem simples, destinados a medir os


volumes precipitados e acumulados das chuvas, em determinadas localidades
e nasceram, principalmente, por causa da necessidade básica dos agricultores
em conhecer e analisar os seus regimes de precipitações locais. No Brasil, o
seu uso mais generalizado e a sistematização das medidas de chuvas, através
de órgãos específicos, só se sistematizou após a primeira fase da república, já
que as nossas séries históricas de precipitações mais antigas, remontam até o
tempo do império e, atualmente o seu uso está difundido entre os fazendeiros.
No Brasil, as medidas, normalmente, são feitas diariamente, de manhã e
em horários padronizados, normalmente às sete horas.
Não existe, até hoje, uma padronização para a medição de chuvas e os
tipos de pluviômetros mais utilizados, no Brasil, são o tipo Ville de Paris, com
o diâmetro interno de 22,57cm e o tipo Paulista, com o diâmetro de 25,23 cm.
Veja o site WWW.hidrotel.com.br/pluviômetro.htm.
O seu princípio de funcionamento é simples: a precipitação diariamente
é recolhida, passa por uma tela bem fina, que a livra de sujeiras e de insetos, e
depois é encaminhada através de um funil bem fino, que diminui a evaporação,
para um depósito, e medida, todas as manhãs, através da análise dos volumes
recolhidos, que se divididos pela área horizontal, da recepção do pluviômetro,
fornece as alturas precipitadas, em mm, que é a unidade adotada no Brasil.

Pluviômetro Tela Área


Proveta
Funil
Depósito
1,10 m

Suporte Registro

Solo

Figura 2.3 Desenho esquemático de um pluviômetro simples.

33
Observação: O volume precipitado diário normalmente é medido com
uma proveta especial, graduada em milímetros, para facilitar as medidas.
Ao se comprar ou adquirir um pluviômetro em lojas, deve-se, sempre,
como medida de segurança, verificar se a proveta, que acompanha o medidor
e graduada em milímetros, é compatível com as dimensões do aparelho.
Para tanto, deve-se:
1º) Colocar-se um volume de água conhecido na proveta graduada que
acompanha o aparelho e ler-se a altura medida correspondente em milímetros.
2º) Pegar-se a mesma quantidade de água da proveta, medir-se o seu
volume e dividi-lo pela área superior interna do pluviômetro.
As duas medidas devem sempre coincidir, se a proveta for à adequada.
Caso não coincida, é por que a proveta não é adequada ao aparelho.
Observação: O pluviômetro deve ser instalado em campo aberto, e em
local desprovido ou, pelo menos, bem longe, de árvores e protegido por cercas
de arames farpados ou de tela e instalado, de forma que, a sua borda superior,
fique bem nivelada e a 1,10 m, do nível do chão. A estação deve ser resistente
e ter um tamanho compatível com o seu trabalho.
Periodicamente, o pluviômetro deve ser bem observado, para ver se não
existem vazamentos ou outros estragos no aparelho ou no seu registro inferior,
e, também, para a sua limpeza e manutenção, já que na tela, que existe dentro
da sua parte superior, acumulam-se insetos e folhas, trazidas pelo vento.
Periodicamente, também, recomenda-se colocar um recipiente protegido
da água da chuva, e uma mangueira acoplada ao bocal inferior do pluviômetro,
de forma a indicar possíveis vazamentos, no registro inferior do aparelho.

Tela
Pluviômetro Alça
Moerão

Suporte vertical

Figura 2.4 Desenho da estação de medição ou posto pluviométrico.

2.4.2 Pluviógrafos: São aparelhos de medição bem mais sofisticados e


normalmente só são encontrados em estações climatológicas. Os pluviógrafos
mais antigos eram equipados com mecanismos de relógios e papel registrador,
especialmente fornecido pelos fabricantes, capaz de medir o início, a variação
e o fim, das alturas precipitadas das chuvas. O analista, após recolher o papel
e o gráfico, podia fazer uma análise completa de toda a precipitação.
O principio de funcionamento do pluviógrafo que funciona com sifão, já
que existem outros tipos de pluviógrafos, é o seguinte: A água da chuva é
captada em uma câmara de captação, superior, e aduzida a outra câmara mais
inferior, de medição, que quando atinge um certo limite máximo de altura ou de
volume, preenche também um tubo bem estreito, de um sifão, instalado nesta
câmara, que, prontamente, a esvazia, automaticamente, para dar início a uma
nova medição, já que, durante tempestades muito prolongadas e fortes, essas
operações, de sifonamentos, se realizam várias vezes.

34
Acoplado a esta câmera, de medição, existe uma bóia, que é presa a
uma haste com uma caneta especial, que registra, convenientemente, todas as
variações de subidas, das chuvas, e de decidas, dos sifonamentos, que é bem
rápida e, portanto, nesta fase, é representada por linhas verticais, no papel.
O papel é feito especialmente pelo fabricante e fica preso a um cilindro,
que gira de acordo com o mecanismo de um relógio, marcando, desta maneira,
as horas do dia e o comportamento dinâmico das precipitações, através dos
próprios desenhos da pena, que marca o papel, de acordo com as próprias
chuvas. Visite o site WWW.jctm.hidromet.com.br/pluviógrafo%20PLG7.htm.

Área de recepção Cilindro


2
(200 cm )
Tela Pena
Papel


Bóia Gráfico
Câmara de
medição

Sifão Mecanismo
de relógio

Figura 2.5 Esquema simplificado de funcionamento de um pluviógrafo.

É evidente que, atualmente, os pluviógrafos mais modernos, em virtude


do próprio avanço da tecnologia. Seguem dispositivos de funcionamento bem
diferentes do apresentado, já que, agora, estes aparelhos são construídos com
mecanismos eletrônicos moderníssimos, cujos dados, podem, até, serem tele-
transmitidos, prontamente, por satélites e em tempo real, o que não invalida o
princípio, propedêutico e didático, exposto acima.
O formato dos gráficos das chuvas, no papel especial, normalmente, é
bem parecido com o mostrado na figura 2.6, onde as linhas verticais indicam
os períodos de sifonagem, que são muito rápidos, normalmente para cada
centímetro de chuva captada, e as curvas irregulares inclinadas, os períodos
de chuvas. A troca do papel é feita a cada 24 horas. Assim, estes gráficos
indicam, o início, a variação e o fim, das chuvas, como mostra a figura 2.6.

H início sifonagem fim


mm

Tempo
Figura 2.6 Formato do papel e do gráfico de uma chuva.

Atualmente, ao invés de um só pluviógrafo, que só consegue descrever


as variações pontuais das precipitações no posto, os pesquisadores trabalham
com a sua distribuição espacial, com vários pluviógrafos, em conjunto.

35
O uso dos pluviógrafos nasceu da necessidade de muitas ciências, que
precisavam conhecer o comportamento das precipitações de curtas durações,
que não podiam ser medidas, convenientemente, com os pluviômetros, como a
hidrologia, e que provocam as enchentes, por exemplo, nas bacias.
As enchentes têm, como uma das causas principais, as chuvas intensas
que ocorrem nas bacias além de outras causas como por exemplo a infiltração,
nos terrenos, ou a ocorrência de transportes de sedimentos e a sua deposição,
nos leitos ou nos álveos dos rios. Como medir estas chuvas?
É obvio que a resposta a esta pergunta só apareceu após a revolução
industrial, na Europa, com a fabricação, em série, de aparelhos sofisticados de
medições, em geral, que antes, não existiam ou eram artesanais.

2.5 Manipulação de dados pluviométricos.

Com já dissemos, o uso de pluviômetros nasceu da necessidade de se


conhecer melhor, ou seja, quantificar, o regime de precipitações das diversas
localidades com finalidades de utilização na agricultura, principalmente.
Como se conhecer o regime de chuvas de uma localidade? O regime é
conhecido recolhendo-se, durante muitos anos seguidos, os dados de chuvas,
diariamente, que são acumulados durante os meses e nos anos. Normalmente,
as estatísticas são analisadas ou em termos do conhecimento da distribuição
das alturas de chuvas nos diversos meses do ano, como são mais conhecidas
ou chamadas, as “Normais das Precipitações”, que são úteis em agricultura, ou
através do conhecimento da distribuição da precipitação anual, no posto.
A tabela 2.1 mostra as estatísticas das precipitações médias mensais e
0
anuais para o município de Feira de Santana-BA, cuja latitude é de 12 16’,
longitude igual a 380 58’ e altitude de 257 m, onde constam as médias, µ, os
desvios padrões, σ, e os números de anos, N, de cada estatística, retirados do
site do Departamento de Ciências da Atmosfera, da Ufpb: WWW.dca.ufpb.br.

Tabela 2.1 Estatística sobre precipitações médias mensais e anuais, em


mm, em Feira de Santana-BA.

Meses J F M A M J J A S O N D Ano

µ 58,8 58,9 85,0 92,0 101,7 88,3 88,9 54,2 41,3 39,1 86,5 75,0 863,0
σ 61,4 56,7 89,6 54,6 50,3 64,4 50,6 26,8 35,5 32,2 85,6 83,0 255,0
N 53 53 52 52 52 51 52 52 52 53 52 52 49

São através de tabelas, como a apresentada acima, que os fazendeiros


podem, conhecendo as necessidades de água de suas lavouras, saber quais
são as necessidades médias e máximas de água para a sua irrigação.
Por exemplo, vamos supor que um fazendeiro de Feira de Santana, quer
irrigar uma plantação e tenha uma necessidade hídrica específica média anual
de 1 l/s.ha, que é uma vazão média específica, q, indicada pelo técnico.
Logo, a vazão específica para a irrigação da lavoura, que é chamada
também de dotação de regra, seria igual a 1 l/s.ha, que equivaleria a 0,001
m3/s.10.000 m2 ou 0,0000001 m/s ou 0,26 m/mês, sendo igual a 260 mm/mês
ou de 3.120 mm/ ano. Portanto, pela tabela 2.1, o déficit total médio anual de
água seria igual a 3.120 mm/ ano menos 863 mm/ano ou de 2257 mm/ano.

36
Além das tabelas, as precipitações, principalmente os dados médios e
os desvios normalmente são apresentados ou em mapas de isoietas ou mapas
de manchas. O mapa de isoietas é semelhante às curvas de níveis sobre os
terrenos e indica as localidades do mapa com iguais alturas pluviométricas e o
mapa de manchas, com suas cores ou desenhos característicos, normalmente
indicam as variações das precipitações, geralmente indicadas nos próprios
mapas, conforme pode ser visto no site do Instituto Nacional de Meteorologia:
WWW.inmet.gov.br., alem de outros endereços que também lidam com dados
meteorológicos e climatológicos, na Internet.

2.6 Precipitação média sobre uma bacia.

Em hidrologia, onde a base de cálculo é sempre alguma área, como por


exemplo, a área da bacia hidrográfica, pode ser que, às vezes, os dados ou as
estatísticas de um único posto qualquer não seja suficiente para quantificar-se
satisfatoriamente alguma variável desejada para a bacia.
Por exemplo, suponha-se que um engenheiro, em um pequeno projeto
de aproveitamento hídrico, esteja trabalhando com uma bacia de 50 km2, no
município de Feira de Santana e precise da precipitação média anual da bacia.
É claro que numa bacia tão pequena, de 50 km2, não existem grandes
variações climáticas e um único dado, no caso, do município, de 863 mm, pela
tabela 2.1, já seria suficiente, para estabelecermos a sua média aproximada.
Vejamos, agora, outra questão. Qual é a precipitação média da bacia do
rio Paraguaçu, por exemplo? Bem, a questão, agora, já é muito diferente, pois
a sua bacia tem, na represa de Pedra do Cavalo, pela tabela 5.1, uma área de
53.866 km2 sendo, assim, já bem grande, cujo rio passa por muitos municípios
com climas bem diferentes, da Chapada Diamantina, na Bahia, até o litoral.
É claro que, agora, para sabermos a média das precipitações na bacia,
precisamos calculá-la, convenientemente, e os processos para a obtenção de
médias espaciais mais utilizados em hidrologia, são, os da média aritmética,
da média calculada pelo método de Thiessen e da média calculada pelo
método das isoietas, os seja, em hidrologia, se trabalha com médias simples,
ou aritméticas, ou médias ponderadas, tomando-se, sempre, algumas áreas de
influências dos diversos postos pluviométricos, que existem nas bacias.

2.6.1 Média aritmética: O processo da média aritmética é o processo


mais simples e consiste em se somar todas as precipitações, dos postos, na
bacia, Hi, e dividir o somatório pelo número de postos considerados, n.

HM = ∑ Hi / n 2.1

Este método é muito utilizado para se calcular, de forma simplificada, a


precipitação média de grandes regiões ou para se obter dados aproximados,
de precipitações médias de determinadas bacias hidrográficas. Por exemplo,
quando se fala que a precipitação média do Estado da Bahia é de 1200 mm
anuais (4), isto significa que a soma de todas as precipitações médias anuais
de todos os postos deste estado dividida pelo número de postos, irá fornecer
este valor médio. Este tipo de média, que é bem simplificada, só fornece bons
resultados quando os dados são densos e bem distribuídos na região.

37
2.6.2 Método de Thiessen: A média dos dados, calculada através deste
método, já é uma média do tipo ponderada, baseada naquilo que o método
define como áreas de influências, de cada posto pluviométrico.
É um método muito utilizado em pesquisa, pois fornece resultados mais
precisos de precipitações médias, principalmente em bacias hidrográficas com
poucos dados pluviométricos ou mesmo outro tipo qualquer de dados a serem
avaliados e que variem na área da bacia em questão, já que o método fornece,
na realidade, é a média ponderada dos dados, na bacia.
A obtenção da área de influência, de cada posto, na bacia analisada, é
feita unindo-se cada posto, dentro da bacia, com os outros postos que estejam
em sua volta, dentro e também nas cercanias da bacia, com linhas tracejadas.
Após traçar estas primeiras linhas, tracejadas, no centro das mesmas,
traçam-se outras linhas perpendiculares a estas, preferencialmente com linhas
cheias, para diferenciá-las das primeiras.
As confluências seqüenciais de todas estas linhas cheias, que existem,
em volta de cada posto da bacia, é que irão determinar a área de influência de
cada posto, dentro de toda a bacia hidrográfica, conforme indica a figura 2.7,
que mostra a área de influência de um único posto, na bacia.

• • Posto i
Área de influência i, na bacia
• •


• •

Figura 2.7 Determinação da área de influência de cada posto.

Ao final do trabalho, verifica-se que, as áreas dos postos, localizados na


bacia e, também, nas cercanias da mesma, tem o aspecto parecido com os de
favos de mel irregulares de uma colméia. Assim, verifica-se que cada posto, i,
situado na bacia ou nas cercanias, têm uma determinada altura precipitada, Hi,
e uma área de influência Ai, dentro da bacia. A precipitação média ponderada,
na bacia, HM, será igual ao somatório dado pela equação:

HM = ∑ Hi . Ai / AB 2.2

Na equação 2.2, AB é a área da bacia, que deve ser igual ao somatório


das diversas áreas de influências dos postos, Ai, na bacia.

2.6.3 Método das isoietas: Isoietas são curvas semelhantes às curvas


de níveis, em topografia, sendo assim, linhas imaginárias, que representam os
pontos que têm as mesmas altitudes em um mapa. Assim, seguindo a mesma
idéia, as isoietas são curvas que indicam as mesmas alturas precipitadas.
O seu traçado é obtido interpolando-se as precipitações de uma região e
os desenhos indicam, graficamente, a distribuição dessas precipitações.
Por exemplo, a figura 2.8 mostra a distribuição das precipitações médias
anuais em mm, no centro e na região nordeste do Estado da Bahia.

38
Figura 2.8 Mapa de Isoietas indicando as precipitações médias anuais
no centro e na região nordeste do estado da Bahia.

Em hidrologia, as isoietas são mais utilizadas para as visualizações das


distribuições espaciais de precipitações. Assim, devido à própria dificuldade de
construção das isoietas, eles vêm sendo substituídos por gráficos de sombras,
que são mais simples, como pode ser visto em muitos sites da Internet. Assim,
este método é mais utilizado em trabalhos científicos, que normalmente exigem
mais rigor na apresentação, além de permitira visualização, mais detalhada, de
uma distribuição espacial de qualquer precipitação.
Quando se quer calcular uma precipitação média ponderada na bacia,
pelo método das isoietas, pode-se utilizar também a equação 2.2, admitindo-se
que a área de influência de cada isoieta, Ai, como indica a isoieta de 300 mm,
por exemplo, na figura 2.9, é a área de influência desta isoieta.

350 300 mm 250 200 150


A300 mm

∑ Hi . Ai
HM = ---------------
AB

Figura 2.9 Determinação da área de influência de cada isoieta.

39
2.7 Teste de homogeneidade e análise de duplas massas.

2.7.1 Teste de homogeneidade de um único posto pluviométrico.

Teste de homogeneidade é uma análise estatística que se realiza com


os dados de precipitações anuais de um posto, quando se necessita utilizá-lo,
para observarmos se os dados de uma série histórica são homogêneos, ou
seja, é um teste que se faz com os dados do posto para se observar se houve
alguma mudança sistemática de funcionamento do posto, durante o tempo da
serie analisada, como, por exemplo, uma mudança do seu local, o que faz com
que os dados desta série modifiquem o seu comportamento.
Para se fazer o teste é simples, pois basta acumular os dados da série e
observar o seu comportamento, no gráfico.
Se os dados acumulados da série são homogêneos, o gráfico terá um
aspecto de uma linha reta, bem caracterizada, conforme mostra a figura 2.10,
à esquerda. Em caso contrário, ou seja, se o gráfico mostrar uma tendência de
ter duas retas, ou mesmo mais, é porque os dados do posto pluviométrico não
são homogêneos, conforme mostra o desenho da figura 2.10, à direita, ou seja,
nesse caso, houve alguma irregularidade com o posto.

HAC HAC Ano da .


. mudança .
. .
. Dados . Dados não
. homogêneos . homogêneos

Ano Ano

Figura 2.10 Precipitações acumuladas no posto e a media da região.

Por exemplo, observe o gráfico da figura 2.11, obtido através do uso de


uma planilha Excel aos dados de precipitações anuais da cidade de Salvador,
dispostos na tabela 2.2.

Tabela 2.2 Dados pluviométricos de Salvador-BA (Sudene).

Ordem Ano H (mm) Ordem Ano H (mm) Ordem Ano H (mm)

1 1912 2263 12 1923 1487 23 1950 1535


2 1913 2440 13 1924 2413 24 1951 1636
3 1914 2304 14 1925 1495 25 1956 2291
4 1915 1920 15 1933 645 26 1957 1559
5 1916 1693 16 1936 2215 27 1958 1821
6 1917 2440 17 1937 1748 28 1960 1958
7 1918 2674 18 1938 1924 28 1961 947
8 1919 2091 19 1939 1628 30 1962 1421
9 1920 1651 20 1940 1824 31 1963 1838
10 1921 2047 21 1941 2454 32 1964 3438
11 1922 2068 22 1942 1678 33 1965 1847

40
70000
60000
50000
Hacm. (mm)

40000
30000
20000
10000
0
0 5 10 15 20 25 30 35
Ordem
Figura 2.11 Precipitações acumuladas em Salvador-BA.

O formato do gráfico da figura 2.11, de uma reta, embora, não perfeita,


indica que os dados de Salvador são, relativamente, bem homogêneos.

Exercício 2.1 A tabela 2.3 mostra os dados pluviométricos de Feira de


Santana- BA. Verifique a homogeneidade dos dados da série em uma planilha
da Excel. Você acha que os dados da série histórica são homogêneos?

Tabela 2.3 Dados pluviométricos de Feira de Santana-BA (Sudene).

Ordem Ano H (mm) Ordem Ano H (mm) Ordem Ano H (mm)

1 1954 680 11 1964 1554 21 1974 846


2 1955 684 12 1965 709 22 1975 864
3 1956 810 13 1966 - 23 1976 628
4 1957 904 14 1967 1167 24 1977 860
5 1958 868 15 1968 1323 25 1978 962
6 1959 487 16 1969 1169 26 1979 743
7 1960 1411 17 1970 817 27 1980 879
8 1961 504 18 1971 633 28 1981 738
9 1962 831 19 1972 619 29 1982 828
10 1963 798 20 1973 902 30 1983 824

2.7.2 Análise de duplas massas.

A análise de duplas massas é um tipo de teste de homogeneidade que


se faz com os dados de um determinado posto, levando-se em conta os outros
postos da região, considerada homogenia, sob o ponto de vista meteorológico,
não só para conhecer a irregularidade, mas também para atualizar os dados,
levando-se em conta as precipitações médias dos outros postos, na região.
Ao se confrontar os dados acumulados do posto que se analisar com os
de outros postos na região, cujos dados são homogêneos, o método identifica
a irregularidade e possibilita a correção ou a atualização dos dados.
O teste se baseia no confronto dos dados acumulados do posto, no qual
se quer analisar a homogeneidade com as medias aritméticas acumuladas dos
dados de outros postos na região, no qual se sabe, com certeza, que os dados
são homogêneos, também, ano após ano e no mesmo período.

41
Ao se confrontar os dados acumulados nos anos, do posto, que se quer
analisar, HAC, com a média acumulada dos outros postos, MAC, se os dados do
posto, forem homogêneos, o confronto das duas séries resultará em uma
seqüência de pontos em forma de reta, conforme mostra, de novo, o gráfico à
esquerda da figura 2.12. Se não forem, os dados acumulados mostrarão dois
seguimentos de retas que são bem distintas, do mesmo jeito que no teste de
homogeneidade com um único posto, o que mostra que houve irregularidades.
O encontro das duas retas indicará o ano em que houve o início do problema.

HAC . HAC .
. Início .
. .
. Dados . Dados não
. homogêneos . homogêneos
. .

MAC MAC

Figura 2.12 Precipitações acumuladas no posto e a media da região.

Constatada a irregularidade, pode-se corrigir, ou melhor, atualizar, os


dados do mesmo, estatisticamente, já que este teste mostra que houve alguma
irregularidade sistemática com os dados do posto, a partir daquele ano, como
por exemplo, uma mudança do seu local, o que é muito comum em séries de
dados muito antigas, cujas mudanças, muitas vezes, foram registradas, mas se
perderam, o que é comum de ocorrer em repartições públicas mais antigas, ou
seja, assim, os dados que pertenciam à condição antiga, da estação, passam a
pertencer à nova situação ou atualizadas e, dessa maneira, não se perdem os
dados da série, conforme mostraremos.
Observe o seguinte exemplo 2.2. A tabela 2.4 mostra as precipitações
de quatro postos pluviométricos situados em uma região, que é considerada
homogenia: os postos P.1, P.2, P.3 e P.4. Verifique a homogeneidade dos
dados do posto 4, P.4, a partir dos dados de precipitações dos outros três,
cujos dados são considerados homogêneos.

Tabela 2.4 Dados pluviométricos de quatro postos em uma região.

Ordem Ano P. 1 P. 2 P. 3 P. 4

1 1980 883 873 816 760


2 1981 1021 1022 989 946
3 1982 898 890 835 780
4 1983 945 988 1031 1020
5 1984 1034 1047 1005 963
6 1985 811 864 917 759
7 1986 855 841 782 663
8 1987 928 924 872 767
9 1988 856 842 783 664
10 1989 998 1005 960 869

42
Para se testar a homogeneidade, faz-se uma tabela, abaixo, aonde são
postos os dados do posto 4 e a média dos outros postos, na região.

Tabela 2.5 Dados do posto a ser analisado, P.4, e média dos outros
três, com os dados acumulados nas colunas 4 e 5.

Ordem Ano P. 4 M.123 P.4 AC M.123 AC

1 1980 760 857 760 857


2 1981 946 1011 1706 1868
3 1982 780 874 2486 2742
4 1983 1020 988 3506 3730
5 1984 963 1029 4469 4759
6 1985 759 864 5228 5623
7 1986 663 826 5891 6449
8 1987 767 908 6658 7357
9 1988 664 827 7322 8184
10 1989 869 988 8191 9171

10.000

1989
P.4AC
Reta com tendência
recente (MA)
5000
1985
Reta com tendência
antiga (MR)

1980

0
0 5.000 10.000 M.123 AC

Figura 2.13 Gráfico dos dados do posto a ser analisado, P.4, e a média
dos outros três postos na região, acumulados, em função da tabela 4.2.

A atualização dos dados da reta antiga para a recente, de linha cheia e


em negrito, na figura 2.13, é calculada através da equação 2.3, onde, PREC são
as precipitações da reta recente, MREC, é o coeficiente angular da reta recente,
PANT, são as precipitações da reta mais antiga e, MANT, é o coeficiente angular
da reta antiga, ou:
MANT
PREC = --------- . PA 2.3
MREC

Ajustando os dados, antigos e recentes, das colunas 4 e 5 da tabela 2.5,


pelo método dos mínimos quadrados, tem-se: MANT é 0,954 e MREC é 0,833.

43
Portanto: PREC = 0,954 / 0,833 . PA = 1,145 . PA 2.4

A partir da equação 2.4, pode-se atualizar os dados do posto 4, ou:

Tabela 2.6 Dados pluviométricos homogeneizados dos postos.

Ordem Ano P. 1 P. 2 P. 3 P. 4

1 1980 883 873 816 760


2 1981 1021 1022 989 946
3 1982 898 890 835 780
4 1983 945 988 1031 1020
5 1984 1034 1047 1005 963
6 1985 811 864 917 869
7 1986 855 841 782 759
8 1987 928 924 872 878
9 1988 856 42 783 760
10 1989 998 1005 960 995

Observação: É muito comum, em livros de hidrologia, se ver os testes


de homogeneidade e as análises de duplas massas, tomando-se os dados dos
tempos em ordem inversa (46 e 68), o que não foi feito aqui, para simplificar a
execução dos trabalhos, nas planilhas eletrônicas. Nesses casos, onde tanto
os dados da tabela 2.5 como o do gráfico 2.13, estão em ordem inversa, deve-
se inverter a equação 2.3, ou:
MREC
PREC = --------- . PA 2.5
MANT

2.7.3 Preenchimento de falhas de dados pluviométricos.

O método do preenchimento de falhas não tem capacidade de verificar


se houve irregularidades, mas somente repor os dados, quando se sabe que
estão errados, já que em uma série histórica não deve haver falhas.

1 HMER HMER HMER


PER = ---- . ( ----------. PA + --------- . PB + --------- . PC ) 2.6
3 HMA HMB HMC

Na equação 2.6, PER é a precipitação errada de um determinado posto,


de uma região homogênea, PA, PB, e PC são as precipitações dos postos A, B
e C e HMER, HMA, HMB e, HMC são as precipitações médias anuais do posto
errado e dos postos A, B e C.

Exercício 2.1 Um dia de chuva, um posto ficou sem leitura. Sabendo-se


que a precipitação média deste posto, HMER, é de 800 mm anuais e que, na
região, HMA, HMB, HMC são de 850, 890 e 950 mm e que neste dia choveu nos
postos A, B e C ou seja, PA, PB, e PC, respectivamente, 50, 60 e 65 mm,
pergunta-se: qual é a precipitação provável do posto sem dado?

44
Capítulo 3
Análise de freqüência.

3.1 O que é uma análise de freqüência?

Em hidrologia e também em muitas outras ciências naturais, se trabalha


freqüentemente com o conceito de análise de freqüência, que é a análise de
certos fenômenos que ocorrem na natureza sob o ponto de vista estatístico, ou
seja, os mesmos são analisados levando-se em conta as suas magnitudes
individuais e a suas probabilidades de suas ocorrências.
Por exemplo, um vulcão, como o Vesúvio, na Itália, aquele que destruiu
completamente a célebre cidade de Pompéia, de quanto em quanto tempo ele
pode entrar em erupção. Quais podem ser as magnitudes das suas erupções?
Outro exemplo, de quanto em quanto tempo podem ocorrer vagalhões, aquelas
ondas muito fortes, em uma praia, e quais são as magnitudes dessas ondas e
as velocidades dos ventos que as provocaram?
Estes são dois típicos eventos que só ocorrem eventualmente e podem
ser estudados através de análise de freqüências, pois basta agrupar uma série
destes eventos que já ocorreram, as chamadas séries históricas, anotar-se os
anos em que ocorreram esses fenômenos e suas características principais e
fazer-se as análises de freqüência. É claro que alguns tipos de fenômenos são
muito difíceis de serem analisados, como, por exemplo, as erupções de certos
vulcões, já que estas só ocorrem raramente, ou seja, de séculos em séculos ou
mesmo, de milênios em milênios e os cientistas, dessa maneira, não podem
fazer os registros diretos das intensidades destas efemérides, cujos intervalos
de ocorrências, nestes casos, são grandes demais.
Existem outros fenômenos, no entanto, que já são bem mais freqüentes,
cujos intervalos de ocorrências já são bem menores, como os vagalhões, que
podem ocorrer todos os anos, provocados pelas velocidades dos ventos. Ou
seja, nesse caso, teremos duas análises, uma sobre a altura das ondas e uma
outra sobre as velocidades dos ventos que as produzem.
Em hidrologia existe, uma série muito grande de fenômenos que podem
ser estudados sob esta égide, e um dos mais comuns, são as precipitações
acumuladas anuais de um posto pluviométrico.

3.2 Introdução sobre alguns conceitos de probabilidades utilizados


em análises de freqüências.

Para entendermos bem o que é uma análise de freqüência, já que este


texto é propedêutico, é necessário, primeiro, entendermos alguns conceitos de
probabilidades bem simples, e para isto, analisar-se-á a freqüência de uma
série de jogadas com um dado, que é uma análise também bem simples.
Primeiramente, os números dos dados só vão de 1 a 6 e, portanto,
podem ser classificados como variáveis discretas, ou contrário das variáveis
naturais, como os totais precipitados anuais de um posto, que podem assumir
valores contínuos, como 915,5 mm ou 1.533,6 mm, etc.

45
Portanto, a probabilidade de cair qualquer número x, do dado, é igual a:

P (x = 1, 2 .... 6) = 1 / 6 = 0,166 3.1

Logo, a probabilidade de dar qualquer número, do jogo de dado, é igual


a 1/6, porque a distribuição deste jogo é uniforme, como mostra a figura 3.1.

P (x=x’) Distribuição uniforme

1/6

x
1 2 3 4 5 6

Figura 3.1 Probabilidades de cair qualquer número do dado.

As distribuições dos eventos naturais podem assumir outros aspectos,


bem diferentes, mas, nunca ou raramente, elas são uniformes, dependendo
dos próprios fenômenos estudados.
Por exemplo, as distribuições das alturas dos seres humanos tendem a
ter a chamada distribuição normal de probabilidade, conforme mostra a figura
3.2, ou seja, para esta distribuição, os seus extremos, superiores ou inferiores,
tendem a ser mais raros, e é por isto é que difícil achar-se homens baixinhos,
com apenas 1,00 m de altura ou menos, ou os gigantes, com 2,00 m de altura
ou mais, o que não acontece com a tendência central, que é muito freqüente.

Extremo inferior Tendência central Extremo superior

P
Raros Raros

freqüêntes Alturas

Figura 3.2 Aspecto da distribuição normal de probabilidades.

Em hidrologia, no entanto, não é comum se trabalhar com o conceito de


um determinado evento, como por exemplo, a precipitação anual, ser igual a
certos números inteiros, como é no jogo de dado.
Por exemplo, qual é a probabilidade de precipitar 1200 mm, em um ano,
em um posto do Município de Feira de Santana? Esta pergunta, como é feita, é
simplesmente impossível, de ser respondida, exatamente, pois, na realidade,
podem precipitar infinitos valores pertos e diferentes de 1.200 mm.
É bem mais comum se trabalhar com intervalos de ocorrência, como por
exemplo, a probabilidade de uma certa precipitação anual ser, igual ou maior,
que um determinado limite ou, igual ou menor que outro limite, ou estar contida
entre um determinado intervalo, como, por exemplo:

P (H ≥ 500 mm) ou P (H ≤ 1000 mm) ou P (500 ≥ H ≥ 1000) 3.2

46
Se eu perguntar, agora, qual é a probabilidade de ocorrer precipitações
iguais ou maiores que 1000 mm, P (H≥ ≥1.000 mm), ou iguais ou menores que
700 mm, P (H ≤ 700 mm), ou qual é a probabilidade de ocorre precipitações no
intervalo de 700 a 1000 mm, P (700 mm ≤ H ≤ 1000 mm), na Cidade de Feira
de Santana, basta se fazer uma análise de freqüência, para respondê-las.
Portanto, modificando-se os conceitos da análise de freqüência do jogo
de dados, que estamos fazendo, trabalhando-se, agora, por exemplo, com o
conceito de menor ou igual, teríamos, a partir da equação 3.1, que:

P (x ≤ 1, 2 .... 6) = x / 6 = 0,166 . x 3.3

Que representa equação teórica de distribuição de probabilidades para


um jogo de dados simples.
Portanto, pela equação 3.3, em termos de gráfico, podemos ter também
na figura 3.3:
P (x ≤ x’)

1
P (x ≤ x’) = 0,166 . x

x
1 2 3 4 5 6

Figura 3.3 Gráfico da distribuição de probabilidades.

Em estatística, é muito comum se trabalhar com gráficos de densidades


de probabilidade ou de áreas, onde as probabilidades das variáveis analisadas
serem menores que um certo limite, P (x ≤ x’), ou maiores, são analisadas em
termos de área ou de integrais, de algumas funções, como veremos depois.
Desta maneira, para o jogo de dados, que tem distribuição uniforme de
probabilidades, pode-se desenhar o gráfico de densidade de probabilidades,
como mostra a figura 3.4, onde, a soma das áreas, que têm listras inclinadas, á
esquerda e à direita, é igual à unidade:

Área total = 1
1/6

P (x<x’) ≥x’)
P(x≥

x
1 2 3 4 5 6

Figura 3.4 Gráfico da distribuição de probabilidades do jogo de dado.

Portanto, pela figura 3.4, tem-se que a probabilidade de um evento ser


<x’) é sempre igual a 1 - P(x≥
menor que um certo limite P (x< ≥x’).
Em termos práticos, no entanto, pode-se escrever que:

≤x’) = 1 - P(x≥
P (x≤ ≥x’) 3.4

47
3.3 Análise de freqüência de um jogo simples de dado.

Vejamos, por exemplo, uma única série com 18 jogadas com um dado,
conforme mostra a tabela 3.1.

Tabela 3.1 Análise de freqüência de um jogo de dados.

1 2 3 4
X F.ABS. F. REL. F. ACU.

1 4 0,222 0,222
2 4 0,222 0,444
3 2 0,111 0,555
4 2 0,111 0,666
5 4 0,221 0,888
6 2 0,111 0,999

∑ 18 0,999 0,999

Na tabela 3.1, que vai somente de 1 a 6, X, é a variável analisada; na


coluna 2, tem-se a freqüência absoluta, F.ABS, ou seja, é o número de vezes
que a variável analisada, X, caiu, no total de jogadas com os dados, que são
dezoito; na coluna 3, tem-se a freqüência relativa, F.REL, ou seja, é a razão
entre a freqüência absoluta e o número total de jogadas, e na coluna 4 tem-se
a freqüência acumulada, F.ACU, que é a soma das freqüências relativas.
Colocando-se em gráfico os valores das freqüências acumuladas como
função da variável X e sobrepondo, a estes dados, a equação que representa
a distribuição teórica de distribuição de probabilidades de um jogo de dado, a
equação 3.3, chega-se à conclusão que as freqüências acumuladas, do jogo
de dados, representam, na realidade, as probabilidades, digamos, observadas,
das freqüências igualarem ou serem menores que um dado valor de x’, ou
seja, P (x ≤ x’), ou, em outras palavras, probabilidades e freqüências são faces
de uma mesma moeda e representam, aqui, a mesma coisa. Quando se fala
de observações, nós as chamamos de freqüências. Já quando queremos falar
de hipóteses, nós as chamamos de probabilidades, ou seja:

F.ACM. ≅ P ( x ≤ x’ ) 3.5

F.ACM. ou P (x ≤ x’)
1
P ( x ≤ x’ )
Freq. observada

0 x
0 1 2 3 4 5 6

Figura 3.5 Distribuição de probabilidades teóricas e observadas.

48
As freqüências relativas, F.REL, na coluna 3 da tabela 3.1, representam
as probabilidades, observadas, de um valor qualquer de x igualar-se a um
certo número ou P (x = x’), já que as variáveis analisadas neste exemplo são
discretas, enquanto que a coluna 4 representa as probabilidades, observadas,
de um valor de x igualar ou ser menor um certo número, ou P (x ≤x’).
Observação: Quando se analisam quaisquer freqüências, de quaisquer
tipos de dados, em ordem crescente, como foi a nossa análise, as freqüências
acumuladas representam as probabilidades de P (x ≤ x’).
Observação: Quando se analisam quaisquer freqüências, de quaisquer
tipos de dados, em ordem decrescente, as freqüências acumuladas, nestes
casos, representam as probabilidades de P (x ≥ x’).
Vamos citar um exemplo que é bem prático desta segunda observação,
os testes de granulometria, feitos nos laboratórios de mecânica dos solos (9).
O teste de granulometria é uma análise de freqüência dos diâmetros dos
grãos de um determinado tipo de solo. Se as aberturas, das peneiras ficam
dispostas em ordem decrescente, ou seja, em cima, as peneiras têm maiores
aberturas e em baixo, as peneiras têm menores aberturas, o gráfico final da
percentagem acumulada, que, na matéria mecânica dos solos, é chamada de
percentagem retida do solo, representa as probabilidades de certos diâmetros
excederem ou serem maiores que certos limites, ou seja, P (d ≥ d’).
Se você ainda se lembra deste detalhe desta matéria, você vai ver que o
gráfico, que mostra a percentagem que passa, ou P (d ≥ d’), como função das
aberturas, tomadas como os diâmetros dos grãos do solo analisado, tem o seu
aspecto invertido, como mostra a figura 3.6, além do desenho não ser uma
reta, justamente porque a distribuição dos grãos de um solo não é uniforme,
como é a distribuição do jogo de dado.

% retida ou P (d ≥ d’)

Aspecto aproximado
da distribuição

d (mm)

Figura 3.6 Aspecto do desenho do teste de granulometria de um solo.

3.4 Análise de freqüência de séries temporais.

As séries temporais são as séries de dados estatísticos de fenômenos


que variam com o tempo, sendo o ano, a unidade de tempo mais utilizada, em
hidrologia, como são, por exemplo, as precipitações acumuladas anuais ou as
precipitações máximas diárias, de um posto pluviométrico ou as vazões médias
mínimas, médias ou máximas anuais, de um determinado posto fluviométrico.
As séries não-temporais, já são séries de dados estatísticos que não
dependem do tempo, como por exemplo, a granulometria de um determinado
solo ou a resistência do concreto da estrutura de um edifício. Vejam que aqui
não existe uma variação temporal explícita da variável analisada.

49
3.5 Tipos de análises de freqüências de séries temporais.

Em hidrologia, normalmente se trabalha, bem mais, com as análises de


freqüências de séries temporais, que podem ser estudadas através de séries
anuais ou parciais.
a) Série anual: é utilizada quando se pega e analisa, apenas, um dado
representativo, da série, por ano, que é a unidade de tempo adotada.
Exemplos: A precipitação acumulada anual, de um posto pluviométrico,
ou da vazão média anual, de um posto fluviométrico.
Justificativa: Só se tem 1 dado de precipitação acumulada anual ou de
vazão média, do ano, portanto, a série analisada tem que ser anual.
b) Série parcial: é utilizada quando se pega e analisa, mais de um dado
representativo, da série, ao ano.
Exemplos: O estudo da precipitação máximas diárias que ocorrem em
um posto pluviométrico ou das vazões máximas de enchentes que ocorrem em
um posto fluviométrico.
Justificativa: As precipitações máximas diárias ou as vazões máximas
de enchentes podem ocorrer várias vezes ao ano e, portanto, a série analisada
deve ser, preferencialmente, parcial.
Observação: A série deve ser preferencialmente parcial não significa
que a mesma tem que ser parcial, pois se pode estudar, esta mesma série de
eventos, através de séries anuais, embora as parciais sejam as mais corretas.
Por exemplo, a série de vazões máximas de enchentes de um posto
fluviométrico pode ser estudada através de séries anuais ou séries parciais. No
primeiro caso, a série anual, pega-se os n maiores valores de enchentes nos n
anos, da série histórica. Já no segundo caso, a série parcial, toma-se os m
maiores valores de vazões de enchentes de toda a série analisada, nos n anos
de estudo, já que m, normalmente, é bem maior que n.

3.6 Análise de freqüência dos totais precipitados anuais, de um


posto pluviométrico, através de séries anuais.

3.6.1 Análise de freqüência das precipitações observadas.

Análise de freqüência dos totais precipitados anuais é a análise que se


faz com as precipitações acumuladas anualmente, em um posto.
Verifica-se que as precipitações acumuladas anuais, quando analisadas
em termos de série histórica anual, é uma variável aleatória e contínua, cuja
distribuição de probabilidades é do tipo não-linear, cuja formato aproximado
tende a distribuição normal, conforme mostram os livros de hidrologia.
Na verdade, as distribuições de precipitações, se analisadas com rigor,
não são simétricas, como requer a curva normal.
Todo o trabalho executado aqui, sobre análise de freqüência, será com
o uso de uma planilha eletrônica, que facilita as análises.

Exemplo 3.1 Analise as freqüências das precipitações anuais medidas


na cidade de Salvador, no Estado da Bahia, cujos dados foram obtidos através
dos registros da Sudene, Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste,
de 1912 a 1965, que constam na tabela 2.3.

50
Tabela 3.2 Dados pluviométricos de Salvador-BA (Sudene).

Ordem Ano P (mm) Ordem Ano P (mm) Ordem Ano P (mm)

1 1912 2263 12 1923 1487 23 1950 1535


2 1913 2440 13 1924 2413 24 1951 1636
3 1914 2304 14 1925 1495 25 1956 2291
4 1915 1920 15 1933 645 26 1957 1559
5 1916 1693 16 1936 2215 27 1958 1821
6 1917 2440 17 1937 1748 28 1960 1958
7 1918 2674 18 1938 1924 28 1961 947
8 1919 2091 19 1939 1628 30 1962 1421
9 1920 1651 20 1940 1824 31 1963 1838
10 1921 2047 21 1941 2454 32 1964 3438
11 1922 2068 22 1942 1678 33 1965 1847

1º) Ao analisar-se a freqüência dos eventos, na forma de séries anuais,


deve-se colocar a série a ser analisada na forma de gráfico. Para tanto, deve-
se copiar os dados da tabela 2.3 em uma planilha, com os dados das ordens
ou os anos e das precipitações, como mostra a figura 3.7.
Segundo, seleciona-se, na própria planilha Excel, o ícone de assistente
de gráfico e escolhe-se o tipo de gráfico para trabalhar. Normalmente, nesses
casos, é do tipo Dispersão (XY). Depois, disso, avança-se duas vezes, conclui
a tarefa e copia-se o gráfico, conforme é mostrado abaixo.

4000
3500
3000
2500
H (mm)

2000
1500
1000
500
0
1900 1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970
Anos

Figura 3.7 Gráfico de linhas das precipitações de Salvador-BA.

2º) A partir deste ponto, calcula-se a média da amostra de chuvas com a


função estatística, MED, o desvio padrão, com a função DESVPAD, o número
de anos, com a função CONT.NUM, e o coeficiente de variação, dividindo-se o
desvio-padrão pela média, conforme mostra a tabela 3.3.
Para aqueles alunos que ainda não fizeram estatística, a média, µ, é o
valor médio das precipitações e exprime a tendência central da amostra; já o
desvio-padrão, σ, é uma espécie de módulo da média dos desvios observados
entre as precipitações e exprime o grau de dispersão da amostra analisada. Já
o coeficiente de variação, CV, que é a razão entre o desvio-padrão e a média,
exprime a dispersão relativa da amostra, que sempre deve ser acompanhada
com o número de anos da série analisada, N.

51
Tabela 3.3 Média, desvio-padrão de Salvador-BA (Sudene).

Média Desvio-padrão Número de anos Coeficiente de variação


µ σ N CV

1850 mm 512 mm 33 anos 0,277

As equações da média, o desvio-padrão e o coeficiente de variação da


amostra, são:
∑ (H-µ) σ
2
∑H
µ = ------- σ = ------------------ CV = ----- 3.6
N N-1 µ

3º) Para analisar-se a freqüência das precipitações, deve-se, primeiro,


analisar-se os valores máximo e mínimo da série, onde será visto que o menor
valor de precipitação é de 645 mm e o maior é de 3438 mm.
A partir desta observação, vê-se que a amplitude total da análise deve ir
desde 600mm a 3600mm, em números redondos, para se abranger todos os
números da série, ou seja, com uma amplitude total de 3000 mm.
Quando se analisa a freqüência de fenômenos naturais, com as alturas
das precipitações anuais, deve-se trabalhar com intervalos de classe, já que
estas distribuições não são mais discretas, como o jogo de dados.
A partir deste ponto, na própria planilha, monta-se a tabela 3.4.
Na coluna 1, da tabela 3.4, aparecem a ordenação, dos intervalos, cujas
amplitudes adotadas, na análise, foram de 200 mm.
Na coluna 2, têm-se os intervalos de classes considerados.
Na coluna 3, tem-se o ponto médio, de cada intervalo.
Na coluna 4, aparecem as freqüências absolutas, F.ABS, que são iguais
aos números de eventos encontrados em cada intervalo adotado.
Na coluna 5, têm-se as freqüências relativas, calculadas pelo Método de
Kimbal, dividindo-se as freqüências absolutas, F.ABS, pelo número de anos da
série, N, mais uma constante unitária.

F.ABS F.ABS F.ABS


F.RE = ---------- = ----------- = -------- 3.7
N+1 33 + 1 34

Na coluna 6, acumulam-se as freqüências relativas. Como a série foi


analisada em ordem crescente, conforme mostra a coluna 2, as freqüências
acumuladas correspondem às probabilidades das precipitações serem iguais
ou menores que um dado limite, ou seja:

F.AC ≅ P ( H ≤ H’ ) 3.8

Na coluna 7 calcula-se os tempos de recorrência relativos aos eventos,


mínimos prováveis ou as precipitações anuais mínimas prováveis.
Bem, neste ponto, vamos introduzir um novo conceito estatístico que só
aparece em análise de freqüências de séries temporais, o chamado tempo de
recorrência ou período de retorno, muito conhecido, em engenharia.

52
Tempo de recorrência, em uma linguagem bem simples, é o período de
tempo médio para que determinados eventos extremos, mínimos ou máximos,
ocorram, em uma série histórica.
Por exemplo, vamos admitir que em um determinado local, a média da
precipitação seja de 1000 mm. Portanto, todas as precipitações que ocorrerem
abaixo desse valor serão considerados como eventos mínimos prováveis ou
períodos de secas, enquanto que todas as precipitações que ocorrerem acima
desse valor serão considerados como eventos máximos prováveis ou períodos
de altas pluviosidades.
Por exemplo, para esta localidade, qual seria a probabilidade de ocorrer
chuvas iguais ou maiores que 1500 mm, P(h ≥1500)? Ora, intuitivamente, se a
média é 1000 mm, a probabilidade de precipitar 1500 mm ou mais, é pequena,
portanto, esses fenômenos extremos só acontecem de muito em muito tempo,
caracterizados por grandes intervalos de tempos médios.
E se este limite, de 1500 mm, for maior ainda, como 2000 mm? Bem, aí,
a probabilidade seria menor ainda e o intervalo médio de tempo, para ocorrer
estas precipitações, seria maior ainda.
Para os eventos mínimos prováveis, é a mesma coisa, à medida que se
diminui a precipitação, menor é a probabilidade de sua ocorrência e maior é o
intervalo de tempo médio necessário para ocorrer estes eventos.
Ou seja, o tempo de recorrência é o inverso da probabilidade.
Define-se tempo de recorrência como o período de tempo, médio, para
que um determinado evento seja igualado ou superado, pelo menos uma vez.
Logo, lembrando que igualar ou superar, em estatística, pode ser tanto
ser igual ou maior, como igual ou menor, que:
a) Para eventos mínimos prováveis, ou seja, relativos aos anos com
secas, cujos valores de precipitações normalmente são menores que a média
da série, que é de 1850 mm, tem-se, através da coluna 7 da tabela 3.4, que:

1
T = ----------------- 3.9
P ( H ≤ H’)

Portanto, para preencher a coluna 7, até o valor médio da precipitação,


pois acima disto, os eventos já passam a ser máximos prováveis, basta pegar
as freqüências acumuladas mostradas na coluna 6, iguais as probabilidades
dos eventos igualarem ou superarem certos limites, P ( H ≤ H’), e invertê-las.
b) Para eventos máximos prováveis, ou seja, relativos aos anos com
muita chuva, cujos valores das precipitações são maiores que a média, que é
de 1850 mm, tem-se, através da coluna 8 da tabela 3.4, que.

1
T = ---------------- 3.10
P ( H ≥ H’)

Como a tabela 3.4 não apresenta valores de P ( H ≥ H’), já que a série


foi analisada em ordem crescente, tem-se que recorrer a equação 3.4, onde:

P ( H ≥ H’ ) = 1 - P ( H ≤ H’) 3.11

53
Assim, para eventos máximos prováveis, tem-se que:

1
T = -------------------- 3.12
1 - P( H ≤ H’)

Portanto, para preencher a coluna 8, até o valor médio da precipitação,


pois abaixo disto os eventos já passam a ser mínimos prováveis, basta pegar
as freqüências acumuladas mostradas na coluna 6, iguais as probabilidades
dos eventos igualarem ou serem menores que certos limites, P (H ≤ H’), e
aplicá-las na equação 3.12.

Tabela 3.4 Análise de freqüência das precipitações anuais de Salvador.


1 2 3 4 5 6 7 8

Ordem Intervalos P. médio F.AB. F. RE. F.AC. T T


De classe P(H ≤H’) Ev. min.prov. Ev. máx.prov.

mm F.AB./∑N+1 Anos Anos

1 600-800 700 1 0,0294 0,0294 34,0


2 800-1000 900 1 0,0294 0,0588 17,0
3 1000-1200 1100 0 0,0000 0,0588 17,0
4 1200-2400 1300 0 0,0000 0,0588 17,0
5 1400-1600 1500 5 0,1471 0,2059 4,9
6 1600-1800 1700 6 0,1765 0,3824 2,6
7 1800-2000 1900 7 0,2059 0,5882 2,4
8 2000-2200 2100 3 0,0882 0,6765 3,1
9 2200-2400 2300 4 0,1176 0,7941 4,9
10 2400-2600 2500 4 0,1176 0,9118 11,3
11 2600-2800 2700 1 0,0294 0,9412 17,0
12 2800-3000 2900 0 0,0000 0,9412 17,0
13 3000-3200 3100 0 0,0000 0,9412 17,0
14 3200-3400 3300 0 0,0000 0,9412 17,0
15 3400-3600 3500 1 0,0294 0,9706 34,0
∑ =33 0,9706

3.6.2 Análise gráfica dos resultados da análise de freqüências.

Normalmente, quando se analisam os resultados das análises em forma


de gráficos, de pontos ou de colunas, se destacam alguns gráficos que devem
ser analisados.
a) O gráfico que relaciona as freqüências relativas com as precipitações
médias dos intervalos, como mostra o gráfico de colunas da figura 3.8.
b) O gráfico que relaciona as freqüências acumuladas com os dados de
precipitações, como mostra a figura 3.9.
c) E, finalmente, o gráfico que relaciona os tempos de recorrências dos
eventos mínimos e máximos prováveis, que normalmente são colocados juntos
com os dados das precipitações, como mostra a figura 3.9, e apresentado com
ambas às escalas dos eixos cartesianos no formato aritmético comum, já que é
muito comum, em muitos livros de hidrologia, se apresentarem estes gráficos
em escalas especiais normais, onde os pontos tendem a retas.

54
0,2500

0,2000

0,1500
F.rel.

0,1000

0,0500

0,0000
700 900 1100 1300 1500 1700 1900 2100 2300 2500 2700 2900 3100 3300 3500
Ponto médio (mm)

Figura 3.8 Gráfico que relaciona as precipitações de Salvador-BA, com


as freqüências relativas, F.REL..

A figura 3.8 mostra o gráfico que relaciona as precipitações médias de


cada intervalo com as suas freqüências relativas, onde se nota claramente que
a distribuição de probabilidades já não é mais linear, mas com o aspecto de
um sino, característico da distribuição normal. É através deste gráfico e da
tabela 4.3 que podemos analisar as probabilidades de ocorrerem precipitações
em Salvador. Por exemplo, a probabilidade de ocorrerem precipitações entre
1800mm a 2000 mm, é igual a, aproximadamente, 0,21 ou 21 %.
Na figura 3.9, aparecem as relações entre as precipitações médias, dos
intervalos de classes, e as freqüências acumuladas, iguais a P(h ≤h’).
Por exemplo, a probabilidade de ocorrer precipitações anuais iguais ou
inferiores a 1900 mm, P(h ≤1900mm), é de aproximadamente, 0,59 ou 59 %.

1,2000

1,0000

0,8000
F.acm.

0,6000

0,4000

0,2000

0,0000
700 900 1100 1300 1500 1700 1900 2100 2300 2500 2700 2900 3100 3300 3500
Pontos médios (mm)

Figura 3.9 Gráfico que relaciona as precipitações de Salvador-BA, com


as freqüências acumuladas, F.ACM.

A figura 3.10 mostra a relação entre as precipitações médias, para cada


intervalo de classe, com o tempo de recorrência, para os eventos mínimos e os
máximos prováveis.
Esses gráficos são mais utilizados quando os engenheiros que desejam
analisar as probabilidades de existirem estiagens ou períodos de muita chuva
em determinadas localidades, o que é importante, por exemplo, em agricultura,
para avaliar-se a falta ou o excesso de água da chuva no planejamento das
irrigações ou das drenagens das plantações.

55
4000
3500

Ponto médio (mm)


3000
2500
2000
1500
1000
500
0
0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0 40,0
T (Anos)

Figura 3.10 Gráfico que relaciona as precipitações de Salvador-BA,


com os tempos de recorrências, para eventos mínimos e máximos prováveis.

Por exemplo, em Salvador, para períodos de retorno de 5 anos, pode-se


ter precipitações mínimas prováveis com cerca de 1500 mm e máximas com
2300 mm. Quem determina esses tempos de recorrências, necessários para a
análise, são os técnicos, que normalmente, também, analisam as precipitações
mensais, de cada mês do ano, e não só as anuais.

3.7 Ajuste dos dados através de distribuições teóricas.

Em engenharia dos recursos hídricos, nem sempre os engenheiros e os


planejadores trabalham com tempos de recorrências pequenos, pois existem
certas análises que necessitam de uma extrapolação para os dados, mínimos
e máximos prováveis, com grandes tempos, bem maiores que a série histórica.
Como se lida com tais problemas, se as nossas séries históricas têm, no
máximo, algumas dezenas de anos? Por exemplo, as precipitações anuais, na
região nordeste só começaram a ser analisadas, sistematicamente, a partir da
fase do império e início da primeira república.
Segundo, é bem comum, em sites de órgãos governamentais ou mesmo
revistas especializadas, que lidam com dados hidrológicos, só apresentarem
listas ou mesmo tabelas, onde só constam alguns dados estatísticos sobre as
séries históricas analisadas, como a média, o desvio-padrão e o número de
anos das séries, e não as séries históricas, para serem analisadas, talvez por
uma questão de economia da memória dos computadores, já que estes órgãos
guardam milhares de séries de muitos tipos diferentes de dados, do país.
Bem, aí normalmente se utiliza uma série de equações ou de métodos,
em função do fenômeno que se quer analisar, pois os fenômenos naturais têm,
em geral, as suas peculiaridades, em termos de ocorrência ou de freqüência,
daí o grande número de distribuições teóricas que existem.
Como se fazer uma inferência estatística para muitos anos de tempo de
recorrência, sejam elas máximas ou mínimas, com os dados destas tabelas?
Para a extrapolação de dados de precipitações acumuladas anuais, por
exemplo, é muito comum, no exercício da engenharia dos recursos hídricos, se
utilizar a distribuição de probabilidades normal, que segundo os hidrólogos, se
ajusta bem a estes tipos de séries históricas temporais, embora este professor
prefira utilizar a distribuição de Gumbel, que mais a frente analisaremos.

56
3.7.1 Ajuste dos dados através da distribuição normal.

A distribuição normal é uma das funções mais conhecidas em estatística


para a análise e a extrapolação de dados de séries históricas, principalmente
para aquelas onde só se tem alguns dados da série, como a média e o desvio-
padrão, como mostra a tabela 3.5, para Salvador, cujos dados foram obtidos
através do endereço eletrônico WWW.dca.ufpb.br, referente ao Departamento
de Ciências da Atmosfera, da Universidade Federal da Paraíba.
Como se fazer uma inferência estatística para muitos anos de tempo de
recorrência, sejam elas máximas ou mínimas, com os dados destas tabelas?

Tabela 3.5 Estatística sobre precipitações médias mensais e anuais, em


mm, em Salvador-BA.

Meses J F M A M J J A S O N D Ano

µ 87,7 125,0 160,2 311,9 312,8 232,5 205,0 128,6 94,2 107,7 124,5 110,1 1994,7
σ 91,4 80,6 96,4 153,1 145.6 79,2 84,1 61,2 55,7 71,3 94,7 89,1 451,3
N 52 51 53 53 53 51 50 49 50 51 51 50 43

Nesses casos, onde só se conhecem alguns dados da série, é que são


necessárias as distribuições teóricas, que são muitas, todas elas analisadas
normalmente em função de certas análises mais específicas. A curva normal,
por exemplo, é de Gauss e apareceu com a análise das alturas dos seres
humanos e, no entanto, é usada para uma série de eventos diferentes, como
as chuvas anuais, ditos fenômenos normais.
Por exemplo, para se lidar com dados de precipitações anuais, têm-se
verificado que esses fenômenos se ajustam razoavelmemte bem à distribuição
normal (32 e 69).
y P ( tN ≤ tN’ )

tN’ tN

Figura 3.11 Aspecto da distribuição normal padrão.

Por esta distribuição, a probabilidade de um evento, tN, igualar ou ser


≤t’), é dada pela integral da função abaixo:
menor que um certo limite, P (t≤

tN tN 1 - 0,5 . tN2
P ( tN ≤ tN’ ) = ∫ y . dt = ∫ ---------- . e . dtN 3.13
-∞ -∞ 2.π

Na equação 3.13, y é a função de distribuição de probabilidades teórica


e tN é a variável reduzida, deduzida em função da variável analisada, que aqui
é a precipitação H,onde µ é a média e σ é do desvio-padrão da amostra, ou:

H-µ
tN = ---------- 3.14
σ

57
Tabela 3.6 Tabela que relaciona os valores de P(tN≤tN’), em função de
variável reduzida tN, pela distribuição normal.
3 5
PN ≅ P(tN≤ tN’) ≅ 0,5 + 0,5 . tanh(0,79728. tN +0,03724. tN −0,00038738. tN )

tN 0,00 0,02 0,04 0,06 0,08


P ( tN ≤ tN’ )

-2,5 0,00621 0,00587 0,00554 0,00523 0,00494


-2,4 0,00820 0,00776 0,00734 0,00695 0,00657
- 2,3 0,01072 0,01017 0,00964 0,00914 0,00866
- 2,2 0,01390 0,01321 0,01255 0,01191 0,01130
- 2,1 0,01786 0,01700 0,01618 0,01539 0,01463
- 2,0 0,02275 0,02169 0,02068 0,01970 0,01876
- 1,9 0,02872 0,02743 0,02619 0,02500 0,02385
- 1,8 0,03593 0,03438 0,03288 0,03144 0,03005
- 1,7 0,04457 0,04272 0,04093 0,03920 0,03754
- 1,6 0,05480 0,05262 0,05050 0,04846 0,04648
- 1,5 0,06681 0,06426 0,06178 0,05938 0,05705
- 1,4 0,08076 0,07780 0,07493 0,07215 0,06944
- 1,3 0,09680 0,09342 0,09012 0,08691 0,08379
- 1,2 0,11507 0,11123 0,10749 0,10383 0,10027
- 1,1 0,13567 0,13136 0,12714 0,12302 0,11900
- 1,0 0,15866 0,15386 0,14917 0,14457 0,14007
- 0,9 0,18406 0,17879 0,17361 0,16853 0,16354
- 0,8 0,21186 0,20611 0,20045 0,19489 0,18943
- 0,7 0,24196 0,23576 0,22965 0,22363 0,21770
- 0,6 0,27425 0,26763 0,26109 0,25463 0,24825
- 0,5 0,30854 0,30153 0,29460 0,28774 0,28096
- 0.4 0,34458 0,33724 0,32997 0,32276 0,31561
- 0,3 0,38209 0,37448 0,36693 0,35942 0,35197
- 0,2 0,42074 0,41294 0,40517 0,39743 0,38974
- 0,1 0,46017 0,45224 0,44433 0,43644 0,42858
0,0 0,50000 0,50798 0,51595 0,52392 0,53188
+ 0,1 0,53983 0,54776 0,55567 0,56356 0,57142
+ 0,2 0,57926 0,58706 0,59483 0,60257 0,61026
+ 0,3 0,61791 0,62552 0,63307 0,64058 0,64803
+ 0,4 0,65542 0,66276 0,67003 0,67724 0,68439
+ 0,5 0,69146 0,69847 0,70540 0,71226 0,71904
+ 0,6 0,72575 0,73237 0,73891 0,74537 0,75175
+ 0,7 0,75804 0,76424 0,77035 0,77637 0,78230
+ 0,8 0,78814 0,79389 0,79955 0,80511 0,81057
+ 0,9 0,81594 0,82121 0,82639 0,83147 0,83646
+ 1,0 0,84134 0,84614 0,85083 0,85543 0,85993
+ 1,1 0,86433 0,86864 0,87286 0,87698 0,88100
+ 1,2 0,88493 0,88877 0,89251 0,89617 0,89973
+ 1,3 0,90320 0,90658 0,90988 0,91309 0,91621
+ 1,4 0,91924 0,92220 0,92507 0,92785 0,93056
+ 1,5 0,93319 0,93574 0,93822 0,94062 0,94295
+ 1,6 0,94520 0,94738 0,94950 0,95154 0,95352
+ 1,7 0,95543 0,95728 0,95907 0,96080 0,96246
+ 1,8 0,96407 0,96562 0,96712 0,96856 0,96995
+ 1,9 0,97128 0,97257 0,97381 0,97500 0,97615
+ 2,0 0,97725 0,97831 0,97932 0,98030 0,98124
+ 2,1 0,98214 0,98300 0,98382 0,98461 0,98537
+ 2,2 0,98610 0,98679 0,98745 0,98809 0,98870
+ 2,3 0,98928 0,98983 0,99036 0,99086 0,99134
+2,4 0,99180 0,99224 0,99266 0,99305 0,99343
+2,5 0,99379 0,99413 0,99446 0,99477 0,99506

58
Como a integral da equação da curva normal não tem solução explícita,
é comum apresentar-se, as probabilidades de P (tN≤t’N), na forma de tabelas,
ou seja, com as probabilidades teóricas calculadas em computadores, através
de integração numérica, conforme mostra os dados da tabela 3.6. A equação
acima da tabela 3.6 é uma aproximação para a curva normal.
Para se ajustar os dados de precipitações, utilizando-se a curva normal,
é muito simples, conforme veremos.
Suponha-se que a média, µ, e o desvio-padrão das precipitações anuais
de Salvador, σ, calculada em nosso exemplo pela tabela 3.3, sejam de 1850
mm e 512 mm, e, portanto, um pouco diferentes dos dados da tabela 3.5, cuja
série é bem maior que a analisada aqui, neste exemplo, calculem quais são as
precipitações anuais mínimas e máximas prováveis adotando-se um tempo de
recorrência de 100 anos, pela distribuição normal?
Primeiro, o cálculo da precipitação mínima provável.
Se o tempo de recorrência, T, é igual a 100 anos, e se, para o cálculo
de eventos mínimos prováveis, ele é definido como:

1
T = 100 = ---------------- 3.15
P ( H ≤ H’ )

Portanto, a probabilidade P ( H ≤ H’) é igual a 0,010.


Logo, pela tabela 3.6, que relaciona as probabilidades de um evento ser
igual ou menor que um certo limite, P ( H ≤ H’ ), com a variável reduzida, que t
é igual a - 2,32, pois a sua parte inteira e a sua primeira casa decimal é lida à
esquerda da tabela e a segunda casa decimal é lida na sua parte superior.
Logo, se tN é igual a -2,32, pela equação 3.14, tem-se que:

H - 1850
-2,32 = ---------------- 3.16
512

Assim, a altura mínima provável é de 662 mm.


Segundo, calcula-se a precipitação máxima provável que pode ocorrer
em Salvador, para um tempo de recorrência, T, de 100 anos, que é definido,
para a análise dos eventos máximos prováveis, como:

1
T = ---------------- 3.17
P ( H ≥ H’ )

Portanto, a probabilidade de P(H ≥ H’) é igual a 0,010 e a probabilidade


de P(h ≤ h’) , pela equação 3.4, é igual a 0,990. Logo, pela tabela 3.6, tem-se
que t é igual a 2,32. Assim podemos escrever que:

H -1850
2,32 = ---------------- 3.18
512

Portanto, a altura máxima provável é de 3037 mm.

59
Exercício 3.2 Verifique quais devem ser as precipitações acumuladas
anuais mínimas e máximas prováveis de Feira de Santana, baseadas na média
e de desvio-padrão mostrada na tabela 3.7, para um tempo de recorrência de
10 anos, pela distribuição normal.

Tabela 3.7 Estatística sobre precipitações médias mensais e anuais, em


mm, em Feira de Santana-BA.

Meses J F M A M J J A S O N D Ano

M 58,8 58,9 85,0 92,0 101,7 88,3 88,9 54,2 41,3 39,1 86,5 75,0 863,0
D 61,4 56,7 89,6 54,6 50,3 64,4 50,6 26,8 35,5 32,2 85,6 83,0 255,0
N 53 53 52 52 52 51 52 52 52 53 52 52 49

Assim, para o ajuste dos dados das precipitações anuais para Salvador,
com uma média, µ, e um desvio padrão, σ, iguais a 1850 mm e 512 mm,
através da distribuição normal, tem-se que se fazer uma nova tabela, a tabela
3.8, semelhante à tabela 3.4, onde:
Na coluna 1, aparecem as ordens dos intervalos de classes adotados,
que, em geral, são os mesmos da analise de freqüência e acrescidos de outros
Na coluna 2, têm-se os intervalos de classes considerados, iguais aos
da tabela 3.4.
Na coluna 3, tem-se o ponto médio de cada intervalo.
Na coluna 4, aparecem as variáveis reduzidas tN, onde:

tN = ( H - µ ) / σ 3.19

Se a precipitação média e o desvio padrão da distribuição são iguais,


respectivamente, a 1850 mm e 512 mm, tem-se que:

tN = ( H - 1850 ) / 512 3.20

Na coluna 5, têm-se as probabilidades das precipitações ocorrerem nos


intervalos de classes com extremos tN1 e tN2, P (tN1≤tN≤ tN2).
Se quisermos, por exemplo, a probabilidade das precipitações caírem no
intervalo de 600 mm a 800 mm, o que corresponde a variáveis reduzidas tN
entre -2,44 e -2,04, teríamos que ela seria igual à probabilidade de P(H≤ ≤800)
menos a probabilidade de P(H≤ ≤600), correspondente, em termos de variável
reduzida, à probabilidade de P(tN≤-2,04) menos P(tN≤-2,44), ou, seja, 0,02068 -
0,00734. Logo, a probabilidade P(600 mm ≤ H≤ ≤800 mm) seria igual a 0,01334.
Na coluna 6 têm-se as probabilidades dos eventos serem menores ou
iguais a certos limites, P (tN ≤tN’), extraídas da tabela 3.6, em função de tN.
Por exemplo, a probabilidade de ocorrer precipitações anuais iguais ou
menores que 1500 mm, ou seja, tN, igual a -0,68, em Salvador, é de 0,24712.
Na coluna 7 têm-se as probabilidades dos eventos serem ou iguais ou
menores a certos limites, P (tN ≤tN’), igual a 1 - P (tN ≤tN’).
Na coluna 7, calculam-se os tempos de recorrências que são relativos
as precipitações mínimas prováveis, tomadas como função os pontos médios
dos intervalos de classes, mostrados na coluna 3.

60
Portanto,
1
T = ---------------- 3.21
P ( h ≤ h’)

Na coluna 8, calcula-se os tempos de recorrência relativos aos eventos


ou às precipitações máximas prováveis, ou seja:

1
T = ----------------- 3.22
P ( h ≥ h’)

Tabela 3.8 Ajuste das precipitações de Salvador, pela curva normal,


calculada em uma planilha Excel.

1 2 3 4 5 6 7 8 9

Ordem Intervalos P. T T
de classe médio tN P(tN1≤tN≤tN2) P (tN≤tN’) P (tN≥tN’) Ev.mín.prov. Ev.máx.prov.
(mm) Anos Anos

1 600-800 700 -2,25 0,01283 0,01235 0,98765 81,0


2 800-1000 900 -1,86 0,02830 0,03176 0,96824 31,5
3 1000-1200 1100 -1,46 0,05368 0,07148 0,92852 14,0
4 1200-2400 1300 -1,07 0,08760 0,14136 0,85864 7,1
5 1400-1600 1500 -0,68 0,12295 0,24712 0,75288 4,0
6 1600-1800 1700 -0,29 0,14843 0,38477 0,61523 2,6
7 1800-2000 1900 0,10 0,15412 0,53890 0,46110 2,2
8 2000-2200 2100 0,49 0,13766 0,68732 0,31268 3,2
9 2200-2400 2300 0,88 0,10575 0,81027 0,18973 5,3
10 2400-2600 2500 1,27 0,06988 0,89787 0,10213 9,8
11 2600-2800 2700 1,66 0,03972 0,95156 0,04844 20,6
12 2800-3000 2900 2,05 0,01942 0,97986 0,02014 49,6
13 3000-3200 3100 2,44 0,00816 0,99268 0,00732 136,7
14 3200-3400 3300 2,83 0,00295 0,99769 0,00231 432,4
15 3400-3600 3500 3,22 0,00092 0,99936 0,00064 1574,5

3.7.1.1 Apresentação e comparação gráfica dos resultados.

Normalmente, o que mais interessa ao engenheiro de recursos hídricos


são as probabilidades das precipitações acontecerem, em termos de tempo de
recorrência, embora muitas vezes as comparações através de outros gráficos,
são também necessárias, a depender da análise que se quer realizar.
Neste item vamos analisar, por uma questão didática, todos os gráficos
pertinentes à análise de freqüência.
A tabela 9.3 mostra, sinteticamente, os diversos intervalos de classes;
os pontos médios dos intervalos; as freqüências relativas e as probabilidades
teóricas relativas à distribuição normal de probabilidades caírem nos intervalos
e, finalmente, as freqüências acumuladas e as probabilidades teóricas normais
das precipitações serem iguais ou menores que determinados limites máximos
adotados, com todos os dados extraídos das tabelas 3.4 e 3.9.

61
Tabela 3.9 tabela para comparação entre os resultados da análise de
freqüência e do ajuste através da distribuição normal.

1 2 3 4 6 7
5
Intervalos Ponto médio F. RE.
Ordem de classe P (tN1≤tN≤ tN2) F.acm. (tN≤tN’)
(mm) M/∑M+1

1 600-800 700 0,0294 0,01283 0,0294 0,01235


2 800-1000 900 0,0294 0,02830 0,0294 0,03176
3 1000-1200 1100 0,0000 0,05368 0,0588 0,07148
4 1200-2400 1300 0,0000 0,08760 0,0588 0,14136
5 1400-1600 1500 0,1471 0,12295 0,0588 0,24712
6 1600-1800 1700 0,1765 0,14843 0,2059 0,38477
7 1800-2000 1900 0,2059 0,15412 0,3824 0,53890
8 2000-2200 2100 0,0882 0,13766 0,5882 0,68732
9 2200-2400 2300 0,1176 0,10575 0,6765 0,81027
10 2400-2600 2500 0,1176 0,06988 0,7941 0,89787
11 2600-2800 2700 0,0294 0,03972 0,9118 0,95156
12 2800-3000 2900 0,0000 0,01942 0,9412 0,97986
13 3000-3200 3100 0,0000 0,00816 0,9412 0,99268
14 3200-3400 3300 0,0000 0,00295 0,9412 0,99769
15 3400-3600 3500 0,0294 0,00092 0,9706 0,99936

Os gráficos da figura 3.12 mostram as freqüências relativas, cujas linhas


são pontilhadas e quebradas, e as probabilidades teóricas, calculadas através
da distribuição normal, com a linha pontilhada e contínua e com o seu aspecto
característico, na forma de um sino.
É comum, também, em livros de estatística, analisar-se os gráficos da
figura 3.12 na forma de gráficos de colunas, com seus aspectos diferentes.

0,2500

0,2000
F.rel (obs. e teor.)

0,1500

0,1000

0,0500

0,0000
700 900 1100 1300 1500 1700 1900 2100 2300 2500 2700 2900 3100 3300 3500
Ponto médio (mm)

Figura 3.12 Relação entre as freqüências relativas e as probabilidades


teóricas das precipitações caírem nos diversos intervalos de precipitações.

Já o gráfico da figura 3.13 relaciona as freqüências acumuladas com as


probabilidades teóricas das precipitações serem menores que certos limites.
Pela análise de ambos os gráficos, mostrados nas figuras 3.11 e 3.12,
verifica-se que o ajuste da curva normal aos dados da análise de freqüência,
deu uma boa aderência, o que justifica a sua utilização, em hidrologia.

62
1,20000
F. acm. (obs. e teor.)
1,00000

0,80000

0,60000

0,40000

0,20000

0,00000
700 900 1100 1300 1500 1700 1900 2100 2300 2500 2700 2900 3100 3300 3500
Ponto médio (mm)

Figura 3.13 Relação entre as freqüências acumuladas e as probabilidades


teóricas das precipitações serem menores que certos limites.

A tabela 3.10 mostra as precipitações máximas e mínimas prováveis em


função dos tempos de recorrências, relativas tanto à análise de freqüência,
com os dados extraídos da tabela 3.4, como relativas ao ajuste teórico através
da curva normal.
Para análise dos eventos mínimos prováveis, pela distribuição normal,
até a linha 6 da coluna 4, onde T é igual a 1/P(H ≤H’), pega-se um valor de T,
na coluna 3, calcula-se o valor de P(H ≤H’) e daí, o valor de tN, pela tabela 3.6,
e depois H, onde:
H = µ + tN . σ = 1847 + 512. tN 3.23

Para a análise dos eventos máximos prováveis, da linha 7 a linha 15, da


coluna 4, é a mesma coisa, lembrando-se que T é igual a 1/(1 - P(H ≤H’)).

Tabela 3.10 Comparação entre os resultados da análise de freqüência e


do ajuste através da distribuição normal.

1 2 3 4
Análise de freqüência Distribuição normal
Ordem T (Anos) H (mm) H (mm)
1 34,0 700 880
2 17,0 900 880
3 17,0 1100 1046
4 17,0 1300 1046
5 4,9 1500 1046
6 2,6 1700 1427
7 2,4 1900 1694
8 3,1 2100 1961
9 4,9 2300 2081
10 11,3 2500 2267
11 17,0 2700 2539
12 17,0 2900 2648
13 17,0 3100 2648
14 17,0 3300 2648
15 34,0 3500 2814

63
4000
3500
Ponto médio (mm) 3000
2500
2000
1500
1000
500
0
0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0 40,0
T (Anos)

Figura 3.14 Gráfico que relaciona as precipitações máximas e mínimas


prováveis com os tempos de recorrências, calculados através da análise de
freqüência e da distribuição normal.

Exercício 3.3 Analise a freqüência das precipitações anuais de Feira de


Santana-BA, através dos dados da tabela 11.3, obtidos através do arquivo de
micro-fichas da Sudene, Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste,
mostrando todos os gráficos pertinentes à análise.

Tabela 3.11 Precipitações anuais de Feira de Santana-BA.

Ano H (mm) Ano H (mm) Ano H (mm)

1954 680 1964 1554 1974 846


1955 684 1965 709 1975 864
1956 810 1966 - 1976 628
1957 904 1967 1167 1977 860
1958 868 1968 1323 1978 962
1959 487 1969 1169 1979 743
1960 1411 1970 817 1980 879
1961 504 1971 633 1981 738
1962 831 1972 619 1982 828
1963 798 1973 902 1983 824

Exercício 3.4 Ajuste os dados do exercício 3.3 através da distribuição


normal, mostrando todos os gráficos pertinentes á análise.

Exercício 3.5 Para um local que tem altura média precipitada anual, µ,
de 700 mm e desvio padrão, σ, de 200 mm, pergunta-se, baseado no uso da
distribuição normal de probabilidades:

a) Quais são as precipitações mínima e máxima provável deste local,


referente a um tempo de recorrência de 50anos?
b) Qual é o tempo de recorrência relativo a uma precipitação máxima
provável de 1100 mm, para esta localidade?
d) Qual é o tempo de recorrência relativo a uma precipitação mínima
provável de 300 mm, para esta localidade?

64
3.8 Conceito de risco permissível.

Define-se risco permissível como a probabilidade de um evento igualar


ou superar um certo limite que ocorre com uma freqüência média que equivale
ao tempo de recorrência, dentro da vida útil da obra.
Para entendermos bem o conceito de risco permissível, vamos supor,
por exemplo, que desejamos construir uma pequena ponte sobre um rio.

Rio Ponte

yMÁX,

Figura 3.15 Desenho de um rio e da futura ponte.

Bem, para se fazer uma ponte sobre um rio, precisa-se calcular e fazer
uma série de coisas em engenharia, mas a nossa pergunta é, somente, uma:
qual deve ser a altura mínima que a mesma deve ter acima do nível máximo do
rio, para não sofrer riscos da água não passar sobre a mesma, nas enchentes?
Assim, vamos estabelecer um limite, ou seja, uma vazão máxima de
enchente QMÁX para um tempo e recorrência de, T, anos, ou seja, nós vamos
admitir, implicitamente, que, de T em T anos, em média, passará, pelo menos,
uma vazão maior que a estabelecida, para o projeto da ponte.
Estabelecida a vazão máxima provável, pode-se estabelecer também,
através das equações de hidráulica fluvial, a altura máxima provável da lâmina
liquida do rio, yMÁX, e, conseqüentemente, um nível, seguro, para a construção
da estrutura da ponte.
Ora, segurança, em engenharia de recursos hídricos, não é um conceito
absoluto, mas um conceito relativo, pois implicitamente estamos admitindo que
de, T, em, T, anos, em média, poderão passar vazões e, conseqüentemente,
ter alturas das lâminas líquidas maiores que a lâmina líquida máxima provável,
admitida para a construção da ponte, conforme mostra a figura 3.16.

Hidrógrafas (Q≥QMAX)

QMÁX

Tempo

T anos T anos

Figura 3.16 Desenho mostrando os picos de vazões que podem ocorrer


na seção do rio onde a ponte será construída, onde, de, T, em, T, anos, em
média, podem passar, pelo menos, uma vazão maior que a máxima adotada.

65
Agora vamos supor outra coisa, que a ponte, entre a sua construção e a
sua vida de trabalho, ou seja, a sua vida útil, seja feita para durar N anos.
Ora, se a vida útil da ponte ocorrer entre dois picos de vazões máximas
maiores que a admitida, a obra funcionará muito bem, já que todas as vazões
de enchentes anuais serão menores que estas, mas, se, por acaso, a sua vida
útil ocorrer numa época em que se observe alguma vazão de enchente maior
que a admitida, a ponte fatalmente será encoberta.
Resumindo-se, pode-se dizer que, ao se construir uma ponte, ou mesmo
outra obra hidráulica, com as características citadas acima, a depender da sua
vida útil e a depender também da época e das magnitudes das enchentes, a
ponte pode funcionar bem, como também pode funcionar mal, o que significa
que, toda obra hidráulica tem um risco de funcionamento, que é chamado, em
hidrologia, de risco permissível e é definido da seguinte maneira.
Como já foi visto, a probabilidade de ocorrer a maior enchente máxima
provável, durante os intervalos médios iguais aos tempos de recorrências, de T
anos, é igual a 1/P(Q≥≥Q’), conforme ilustram as figuras 3.16 e 3.17.

(Q ≤Q’) y P (Q ≥ Q’) = 1/T

t’ t

Figura 3.17 Aspecto das probabilidades e da distribuição teórica.

Portanto, a probabilidade de ocorrerem vazões menores que a máxima,


nestes intervalos médios, é de P(Q ≤Q’).
Assim, durante a vida útil da obra, que se considerará ter N anos e são
menores que, T, a probabilidade de ocorrerem vazões menores que a máxima,
N
que também são menores do que P(Q ≤Q’), é de (P(Q≤ ≤Q’)) .
Logo, durante a vida útil da obra, que é de N anos, a probabilidade de
N
ocorrerem vazões maiores que a máxima será de 1- (P(Q≤ ≤Q’)) , que é igual ao
próprio risco admissível, conforme a sua definição inicial.
Se 1 - P(Q≥≥Q’) é igual a P(Q ≤Q’), que é igual a T, tem-se:

N
K = 1- (1 - 1 / T) 3.24
Ou também:
1
T = --------------------------- 3.25
1/N
1-(1-K)

Onde, K, é o risco permissível, em algarismos decimais, N é a vida útil


da obra, em anos, e T é o tempo de recorrência, também em anos.
Por exemplo, se uma determinada obra foi projetada com um tempo de
recorrência de 23 anos e se a sua vida útil é de 5 anos, qual é o risco da obra
e o que ele significa?
5
K = 1- ( 1 - 1 /23 ) = 0,20 = 20% 3.26

66
Se o risco é igual a 0,20 ou 20%, isto significa que uma, em cada cinco
obras, podem vir a funcionar inadequadamente, ou seja, quando se trabalha
com risco permissível, admite-se, implicitamente, a hipótese da vazão máxima
de projeto ser superada, o que não é, necessariamente, o mesmo risco desta
obra vir a ser danificada, mas sim, de funcionar precariamente.
Existem alguns tipos de obras hidráulicas em que o conceito de risco
não tem muita aplicação prática, como, por exemplo, nos sistemas de micro ou
macro-drenagens urbanas. Por quê?
As obras dos sistemas de drenagem urbanas, normalmente, são feitas
para drenar o excesso de água da chuva que correm livremente nas ruas e nas
bacias urbanas e que podem trazer prejuízos ao meio urbano, tanto de ordem
financeira como sanitária e são feitas para durarem muitos anos, na ordem de
dezenas ou mesmo, centenas, de anos, já que alguns sistemas no Brasil foram
feitos à época de D. Pedro II ou na primeira fase da República do Brasil.
Se fosse aplicado o conceito de risco nestes tipos de projetos, teríamos
que adotar tempos de recorrências muito grandes, para os mesmos, o que os
inviabilizaria financeiramente. Assim é mais comum, nestes casos, o projetista
adotar tempos de recorrência definidos, muitas vezes, até bem menores que a
vida útil destas obras, ou seja, o projetista já sabe que de tanto em tanto tempo
estas obras não funcionaram a contento e pronto.
Por exemplo, para galerias de micro-drenagens urbanas, que são todas
aquelas obras que captam as águas das chuvas nas ruas, como as grelhas, as
bocas-de-lobo, os coletores pluviais e os poços-de-visita, a depender de sua
localização e do tipo de bairro, é comum adotar-se tempos de recorrências que
variam na ordem de 2 a 5 anos. Em bairros comerciais, áreas administrativas
ou aeroportos, estes tempos podem chegar até a 10 anos.
Já para obras de macro-drenagem, como os grandes canais que captam
a água da chuva de grandes áreas urbanas ou emissários, é comum adotar-se
tempos de recorrência na faixa de 15 anos ou até mais.
Existem alguns tipos de obras hidráulicas exigem a adoção de tempos
de recorrência extraordinariamente grandes, como por exemplo, os vertedores
de barragens. Os vertedores são equipamentos de segurança das barragens,
que só funcionam, ou seja, extravasam, o excesso de água contido nos lagos
das barragens, quando existe excesso de água proveniente da chuva na bacia
de drenagem, cujos níveis d’água, se subirem demais, podem passar sobre as
cristas das barragens e virem a danificarem ou mesmo destruí-las, totalmente,
principalmente se a barragem for de terra ou de enrocamento.
Como a jusante de barragens, cujas vidas úteis normais são de dezenas
ou mesmo centenas de anos, sempre existem povoamentos, é comum admitir,
nestes casos, riscos baixíssimos, na ordem de 2%, 1%, ou mesmo menos.

Exercício 3.6 Qual é o tempo de recorrência que você adotaria para o


projeto de um vertedor de uma barragem de terra, cuja vida útil é estimada em
100 anos, adotando-se um risco permissível de 1%?

Em geral, para vertedores de barragens de concreto, se adotam tempos


de recorrência de 500 anos, para barragens de terra se adotam tempos de
recorrência de 1000 anos ou mesmo mais, a depender do risco admitido para
a obra e do perigo que representa a obra para as populações ribeirinhas.

67
3.9 Ajuste através da distribuição de Gumbel.

São muitas as distribuições teóricas utilizadas em hidrologia, em geral,


para a extrapolação de dados de análises de freqüências. Cada uma dessas
distribuições se adapta a cada tipo de análise de freqüência específica.
A distribuição normal, como já dissemos, foi deduzida estudando-se as
alturas dos seres humanos, cujos desvios são bem menores que as médias e,
cujo formato, de um sino, veja a figura 3.11, é a de uma distribuição simétrica,
ou seja, nesses casos, presume-se que tanto a variação dos eventos máximos
prováveis como dos mínimos prováveis, são simétricas, em relação à média, o
que só acontece com amostras de precipitações anuais com grandes valores
médios e baixos desvios padrões, como é a amostra de Salvador, por exemplo.
Em algumas regiões, com clima semi-árido, por exemplo, existem locais
cujas médias são baixas e cujos desvios são altos, bem próximos das médias,
como é, por exemplo, em Campo do Cavalo, no município de Juazeiro-BA, cuja
média e desvio-padrão são iguais a 434 mm e a 272 mm (54). Outro exemplo é
a distribuição das precipitações mensais, as normais das precipitações, como
as de Salvador, por exemplo, mostradas na tabela 3.5, que, no mês de janeiro,
tem uma média de 87,7 mm e um desvio-padrão de 91,4 mm.
É claro que tais distribuições não podem se coadunar com a distribuição
normal, pois mesmo para poucos anos de tempos de recorrências já se teriam
valores de precipitações negativas, na análise dos eventos mínimos prováveis,
o que seria incongruente.
Para essas análises, é preferível usar-se a distribuição de Gumbel, que
é uma distribuição assimétrica, onde a probabilidade de um evento igualar ou
superar um certo limite, P (H ≥ H ’), é igual a:
- tG
-e
P ( H ≥ H’ ) = 1 - e 3.27
Onde T, é igual a:
1
T = ------------------ 3.28
P ( H ≥ H’ )

Por este método, a variável reduzida, tG, mostrada como um expoente,


na equação 3.27, é igual a:
1
tG = ---------------- ( H - µ + 0,45 . σ ) 3.29
0,7797 . σ

Exercício 3.7 Para uma localidade de uma região sem-árida que tem a
altura média precipitada anual, µ, de 500 mm e desvio padrão, σ, de 300 mm,
pergunta-se, baseado na utilização da distribuição de Gumbel:
a) Quais são as precipitações mínimas e máximas prováveis referentes
a um tempo de recorrência de 50 anos?
c) Qual é o tempo de recorrência relativo a uma precipitação máxima
provável de 1100 mm, nesta localidade?
d) Qual é o tempo de recorrência relativo a uma precipitação mínima
provável de 300 mm, nesta localidade?

68
3.10 Inconsistência e ajuste de dados estatísticos.

É bem comum o hidrólogo ter que analisar dados de séries históricas


pouco consistentes, com poucos anos de dados. Mas o que é inconsistência?
Para respondermos a esta pergunta, vamos analisar novamente a série
histórica de Salvador, na tabela 12.3, com 33 anos de dados, e perguntarmos
se esta série histórica é consistente?

Tabela 3.12 Dados pluviométricos de Salvador-BA (Sudene).

Ordem P (mm) Ano Ordem P (mm) Ano Ordem P (mm) Ano

1 1912 2263 12 1923 1487 23 1950 1535


2 1913 2440 13 1924 2413 24 1951 1636
3 1914 2304 14 1925 1495 25 1956 2291
4 1915 1920 15 1933 645 26 1957 1559
5 1916 1693 16 1936 2215 27 1958 1821
6 1917 2440 17 1937 1748 28 1960 1958
7 1918 2674 18 1938 1924 28 1961 947
8 1919 2091 19 1939 1628 30 1962 1421
9 1920 1651 20 1940 1824 31 1963 1838
10 1921 2047 21 1941 2454 32 1964 3438
11 1922 2068 22 1942 1678 33 1965 1847

Bem, primeiramente vamos dividir esta série histórica em três períodos


consecutivos, de onze anos cada um, e analisarmos as suas médias, os seus
desvios-padrões e os seus respectivos coeficientes de variações, como mostra
os dados da tabela 3.13.

Tabela 3.13 Análise estatística dos pluviométricos de Salvador-BA.


o o o
1 período 2 período 3 período

µ (mm) 2145 1774 1845


σ (mm) 318 506 629
CV 0,15 0,29 0,34

É obvio, que cada período analisado apresenta uma estatística diferente


uma da outra, porque as séries analisadas são muito pequenas, ou seja, são
muito inconsistentes e a suas respectivas análises não levariam a obtermos
boas conclusões, mas mesmo assim, podem ser muito úteis em engenharia.
Por exemplo, se pegássemos os dados estatísticos do primeiro período,
teríamos uma média alta, mas um desvio-padrão baixo; no segundo período, já
teríamos uma média muito baixa, mas um desvio-padrão alto. Qual é correto?
Portanto, a primeira conclusão que tiramos, é que uma série histórica,
para ter uma boa consistência, precisa ter um bom número de anos, pois, do
contrário, todas as inferências que tiramos delas podem não ser confiáveis.
Mas que número de anos mínimo é este?
Para respondermos a esta pergunta vamos fazer uma segunda análise
na série de Salvador, pois esta pergunta é complexa e relativa, como veremos.

69
Vamos fazer agora uma outra análise com os dados de Salvador: vamos
calcular as estatísticas móveis, da série, ou seja, aumentando-se, sempre, o
número de anos da série, a partir do segundo ano até o último ano: a média
móvel e o desvio-padrão móvel, conforme mostra os dados da tabela 3.13 e os
gráficos das figuras 3.15, 3.16.

Tabela 3.14 Análise estatística pluviométrica de Salvador-BA.

Série Ano µ σ

2 1913 2352 Estatística 125 Estatística


3 1914 2336 das 93 dos
4 1915 2232 médias 221 Desvios
5 1916 2124 móveis 308 Móveis
6 1917 2177 304
7 1918 2248 335
8 1919 2228 315
9 1920 2164 352
10 1921 2152 334
11 1922 2145 318
12 1923 2090 358
13 1924 2115 354
14 1925 2070 378
15 1933 1975 518
16 1936 1990 504
17 1937 1976 492
18 1938 1973 477
19 1939 1955 470
20 1940 1949 459
21 1941 1973 460
22 1942 1959 454
23 1950 1941 452
24 1951 1928 446
25 1956 1943 443
26 1957 1928 441
27 1958 1924 432
28 1960 1925 424
29 1961 1891 455
30 1962 1876 455
31 1963 1874 447
32
1964 1923 µµ = 2039 mm 520 µσ =396 mm
33
1965 1921 σµ = 138 mm 512 σσ = 106 mm

Pela análise dos gráficos das figuras 3.18, 3.19, verifica-se que a média
aritmética e o desvio-padrão só começam a se estabilizarem a partir do décimo
quinto ano da série, sendo muito comum, os estatísticos aceitarem, como uma
amostra relativamente grande, um número igual ou superior a trinta anos (60).
Mas, mesmo assim, a nossa série, de 33 anos, tem sua inconsistência,
ou seja, a média de Salvador, de 1850 mm, e o seu desvio-padrão, de 512
mm, são dados relativamente confiáveis. Mas como é que se lida com este
fato, quando quisermos extrapolar dados para maiores tempos de recorrência?

70
2500

2000

1500
Média

1000

500

11

13

15

17

19

21

23

25

27

29

31
1

9
Número de dados

Figura 3.18 Análise da média aritmética móvel dos dados.

600

500
Desvio-padrão.

400

300

200

100

0
11

13

15

17

19

21

23

25

27

29

31
1

Número de dados.

Figura 3.19 Análise do desvio-padrão móvel dos dados.

Para respondermos a esta pergunta, temos que dizer que a estatística


não é uma ciência das certezas, mas sim, das incertezas. Quanto maior for à
série, maior é a certeza, mas sempre existirá a probabilidade das incertezas.
Para tentar redimirmos esta incerteza, quando ela for necessária, pois
nem todo projeto de engenharia exige este requinte, vamos analisar o conceito
de intervalos de confiança.

3.10.1 Intervalos de confiança.

Em estatística, tudo pode ser considerado como variável, e, da mesma


maneira que estudamos a análise de freqüência dos totais precipitados anuais,
podemos, também, analisar a freqüência das médias, dos desvios-padrões ou
outra variável qualquer, conforme mostra, por exemplo, a tabela 3.14.
Quando nós estudamos a análise de freqüência dos totais precipitados
anuais, nós dividimos os eventos em mínimos prováveis e máximos prováveis,
e mostramos que eles variam em função do tempo de recorrência. Aqui, é a
mesma coisa: as médias e os desvios, também variam em função do tempo de
recorrência, só que tem que, aqui, se trabalha com o critério de probabilidades,
os seja, com o inverso do tempo de recorrência requerido para o projeto.
Qualquer variável estatística, V, que consideraremos como normalmente
distribuída, têm os seus limites fiduciais, ou seja, os limites mínimos e máximos
prováveis, de confiança, conforme mostra a figura 3.20.

71
P(V ≤ VMÍN) y IC P(V ≥ VMÁX)

VMÍN VMÁX Variável

Figura 3.20 Aspecto da distribuição normal de probabilidades.

Intervalo de confiança, IC, é o grau de confiança, ou a probabilidade que


a variável, que está sendo analisada, vai cair no intervalo requerido, ou seja:

IC = 1 - P(V ≤ VMÍN) - P(V ≥ VMÁX) 3.30

Portanto, se estamos trabalhando, em nosso projeto, com um tempo de


recorrência de 100 anos, tanto para a análise dos eventos mínimos, como dos
máximos prováveis, isto significa que a probabilidade de P(V ≤ VMÍN), que deve
ser igual ao inverso do próprio tempo de recorrência, será igual a 0,01 e que a
probabilidade de P(V ≤ VMÍN), do mesmo modo, será também igual a 0,01.
Portanto, o nosso intervalo de confiança, IC, será igual a 0,98.
Conhecido o intervalo de confiança requerido, IC, como se conhecem os
limites fiduciais da variável analisada?
Em estatística, se trabalha com duas hipóteses: ou a amostra é grande,
como é a de Salvador, com 33 anos, ou a amostra é pequena. Os estatísticos
estabelecem um limite de 25 anos para amostras pequenas e grandes

3.10.1.1 Limites fiduciais de grandes amostras.

Quando a amostra analisada tem mais de trinta anos de dados, pode-se


considera-la grande e trabalhar com a distribuição normal.
Para se conhecer os limites fiduciais da média, pode-se usar a seguinte
equação:
µF = µ ± tN . σ/N0,5 3.31

Já os limites fiduciais do desvio-padrão, podem ser calculados através


da equação:
σF = σ ± tN . σ/(2.N)0,5 3.32

Por exemplo, a média e o desvio-padrão da amostra de Salvador deram,


respectivamente,1850 mm e 512 mm. Quais são os seus limites fiduciais para
a média e o desvio padrão, para um tempo de recorrência igual a 100 anos?
Se T é igual a 100 anos, logo, a probabilidade de P( tN ≥ tN’ ) é de 0,01,
portanto, a probabilidade de P( tN ≤ tN’ ) é igual a 0,99. Assim, pela tabela 3.6,
tem-se que tN é igual a 2,34.
Logo, substituindo-se o valor da variável reduzida tN nas equações 3.31
e 3.32, têm-se que:

µF = µ ± tN . σ/N0,5 = 1850 ± 2,34 . 512/330,5 = 1850 ± 208 3.33


E,
σF = σ ± tN . σ/(2.N)0,5 = 512 ± 2,34 . 512/(2.33)0,5 = 512 ± 147 3.34

72
Ou seja, para um tempo de recorrência de 100 anos, ou também, em
outras palavras, para um grau de confiança igual a 98 %, a média de Salvador
pode estar, na realidade, entre 1642 mm e 2058 mm e o desvio-padrão entre
365 mm e 659 mm.
Por quê? É porque o formato dos gráficos das análises da média móvel
e do desvio-padrão móvel, para Salvador, que são mostrados nas figuras 3.15
e 3.16, não são os únicos. Eles dependem também da época que se começa a
se medir as variáveis, ou seja, se o período é chuvoso ou é seco. Se o período
é muito seco, o gráfico das médias móveis é crescente; Se o período é muito
chuvoso, o gráfico das médias móveis tende a ser decrescente, inicialmente.
Veja que a média e o desvio-padrão das médias móveis e a média e o
desvio-padrão dos desvios-padrões móveis, mostrado ao final da tabela 3.14 e
abaixo, e os compare com os limites fiduciais dos intervalos de segurança e a
conclusão que se tem é que o argumento de se utilizar intervalos de confiança
procede, quando o importante é a segurança de determinadas obras.

Tabela 3.15 Análise das médias e dos desvios-padrrões do histórioco de


médias móveis e desvios prões móveis dos dados pluviométricos de Salvador,
Estado da Bahia.

Médias móveis Desvios móveis

µµ 2039 mm µσ 396 mm
σµ 138 mm σσ 106 mm

Ou seja, quando o projeto requer muita confiança, ao invés de utilizar-se


as médias e os desvios padrões calculados de uma estatística qualquer, pode
se utilizar outros limites dentro do intervalo de segurança. Esta é uma maneira
de se trabalhar com mais segurança quando a obra assim o requer.
Por exemplo, ao invés de utilizar a média e o desvio-padrão, calculados
para Salvador, de 1850 mm e 512 mm, o engenheiro poderia utilizar, para 100
anos de recorrência, uma média de 2058 mm e um desvio de 659 mm, para o
cálculo dos eventos máximos prováveis, pela distribuição normal, por exemplo,
utilizando-se a equação 3.14.
H = µ + tN . σ 3.35
Ou,
H = 2058 + 2,32 . 659 = 3586 mm 3.36

Ou seja, a altura máxima provável, agora, de 3586 mm seria um pouco


maior que a calculada no item 6.1, pela curva normal, de somente 3037 mm.
Esta maneira de se trabalhar é mais segura.

Exercício 3.8 Qual é a precipitação máxima provável de Salvador, para


20 anos de tempo de recorrência, utilizando-se uma média de 1850 mm e um
desvio padrão de 512 mm, e o conceito de intervalo de confiança?

Exercício 3.9 Qual é a precipitação mínima provável de Salvador, para


20 anos de tempo de recorrência, utilizando-se uma média de 1850 mm e um
desvio padrão de 512 mm, e o conceito de intervalo de confiança?

73
3.10.1.2 Limites fiduciais de pequenas amostras.

Quando a amostra analisada tem menos de trinta anos de dados, pode


se trabalhar, por exemplo, com a distribuição Student, que é uma distribuição
de probabilidades mais adaptada a pequenas amostras e que tende também a
distribuição normal, quando os graus de liberdades, GL, que é igual a, N -1, ou
seja, o número de anos da série menos a unidade, é superior a trinta.

y A distribuição de Student
tende à normal para N ≥30
P( tS≤tS’ )

tS Variável reduzida

Figura 3.21 Aspecto da distribuição de Student.

Para se conhecer os limites fiduciais da média, pode-se usar, também, a


seguinte equação:
µF = µ ± tS . σ/N
0,5
3.37

Já os limites fiduciais do desvio-padrão, podem ser calculados também


através da equação:
σ F = σ ± tS . σ/(2.N)0,5 3.38

As variáveis reduzidas utilizadas na distribuição de Student, tS, como a


distribuição normal, também são tabeladas, em função do grau de liberdade,
GL, e da probabilidade de P(tS≥tS’), na tabela 3.15.

Exemplo: Calcule a precipitação anual máxima provável de Fortaleza,


no município de Xique-Xique, no Estado da Bahia, através da distribuição de
Student e para um tempo de recorrência de 50 anos, sabendo-se que a média
e o desvio-padrão, de uma amostra com 18 anos, são de 696 mm e 189 mm,
utilizando o conceito de intervalo de confiança?
Se o tempo de recorrência é de 50 anos, o grau de confiança será de:

IC = 1 - P(V ≤ VMÍN) - P(V ≥ VMÁX) = 1 - 0,02 - 0,02 = 0,96 3.39

Logo, a probabilidade de P( tN ≥ tN’ ) será de 0,02.


Portanto, a probabilidade de P( tN ≤ tN’ ) será igual a 0,98. Assim, pela
tabela 3.15, com um grau de liberdade igual a 17, tem-se que tN é igual a 2,22.
Logo, para se conhecer os limites fiduciais da média e do desvio através
da equação 34.3 e 35.3, tem-se que:

µF = µ ± tS . σ/N0,5 = 696 ± 2,22 . 189/180,5 = 696 ± 99 3.40

σF = σ ± tS . σ/(2.N) = 189 ± 2,22 . 189/(2.18)0,5 = 189 ± 70


0,5
3.41

74
Tabela 3.15 Variáveis reduzidas da na distribuição de Student, tS, como
função do grau de liberdade, GL, igual a N-1, e da probabilidade P(tS≥tS’).

GL P(tS≤τS’) 0,800 0,900 0,933 0,950 0,960 0,980 0,990

5 0,92 1,48 1,79 2,02 2,19 2,76 3,36


6 0,91 1,44 1,74 1,94 2,10 2,61 3,14
7 0,90 1,41 1,70 1,89 2,05 2,52 3,00
8 0,89 1,40 1,67 1,86 2,00 2,45 2,90
9 0,88 1,38 1,65 1,83 1,97 2,40 2,82
10 0,88 1,37 1,63 1,81 1,95 2,36 2,76
11 0,88 1,36 1,62 1,80 1,93 2,33 2,72
12 0,87 1,36 1,61 1,78 1,91 2,30 2,68
13 0,87 1,35 1,60 1,77 1,90 2,28 2,65
14 0,87 1,35 1,59 1,76 1,89 2,26 2,62
15 0,87 1,34 1,59 1,75 1,88 2,25 2,60
16 0,86 1,34 1,58 1,75 1,87 2,24 2,58
17 0,86 1,33 1,58 1,74 1,86 2,22 2,57
18 0,86 1,33 1,57 1,73 1,86 2,21 2,55
19 0,86 1,33 1,57 1,73 1,85 2,20 2,54
20 0,86 1,33 1,56 1,72 1,84 2,20 2,53
21 0,86 1,32 1,56 1,72 1,84 2,19 2,52
22 0,86 1,32 1,56 1,72 1,84 2,18 2,51
23 0,86 1,32 1,56 1,71 1,83 2,18 2,50
24 0,86 1,32 1,55 1,71 1,83 2,17 2,49
25 0,86 1,32 1,55 1,71 1,82 2,17 2,49
26 0,86 1,31 1,55 1,71 1,82 2,16 2,48
27 0,86 1,31 1,55 1,70 1,82 2,16 2,47
28 0,85 1,31 1,55 1,70 1,82 2,15 2,47
29 0,85 1,31 1,54 1,70 1,81 2,15 2,46
30 0,85 1,31 1,54 1,70 1,81 2,15 2,46

Logo, a média de Fortaleza, em Xique-Xique, pode estar entre 597 mm


e 795 mm e o desvio-padrão entre 119 mm e 259 mm.
Se o exemplo foi feito para calcular-se a precipitação máxima provável,
utilizaremos a precipitação média de 795 mm e o desvio de 259 mm.
Se T é de 50 anos, logo, a probabilidade de P( tN ≥ tN’ ) será de 0,02.
Logo, pela equação 3.27, tem-se que:
- tG
-e
0,02 = 1 - e 3.42

Logo, tG é igual a 3,9. Substituindo-se tG na equação 3.29, junto com o


limite fiducial superior da média e o desvio, tem-se que:

3,9 = (1/0,7797 . 259 ) . ( H - 795+ 0,45 . 259 ) 3.43

Portanto a altura máxima provável será igual a 1466 mm.

75
3.10.2 Método de Ven-Te-Chow.

Tanto a curva normal como o método de Gumbel foram elaborados para


se analisar séries históricas com muitos dados, o que raramente ocorre, na
prática diária de hidrologia, pois a maioria de nossas séries históricas, de uma
série bem longa de eventos diferentes, normalmente, são pequenas.
Ven-Te-Chow propõe, para esses casos, a utilização de um método de
análise simples, apropriado para a extrapolação de dados de séries temporais
curtas, através da seguinte equação:

Q = µ + tV . σ 3.44

Na equação 3.44, Q é o evento máximo provável analisado, µ e σ são,


respectivamente, a média e o desvio padrão da série analisada, em termos de
séries anuais e tV é o fator de freqüência, tabelado como função do número de
anos de estudo da série temporal, N, e do tempo de recorrência, T.

Tabela 3.16 Fatores de freqüências tV do método de Ven-Te-Chow.

T 5 10 15 20 25 50 100
N

10 1,058 1,848 2,289 2,606 2,847 3,588 4,323


11 1,034 1,809 2.284 2,533 2,789 3,516 4,238
12 1,013 1,777 2,202 2,509 2,741 2,436 4,166
13 0,996 1,748 2,168 2,470 2,699 3,405 4,105
14 0,981 1,724 2,138 2,437 2,663 3,360 4,052
15 0,967 1,703 2,112 2,410 2,632 3,321 4,005
16 0,955 1,682 2,087 2,379 2,601 3,283 3,959
17 0,943 1,664 2,066 2,355 2,575 3,250 3,921
18 0,934 1,649 2,047 2,335 2,552 3,223 3,888
19 0,926 1,636 2,032 2,317 2,533 3,199 3,860
20 0,919 1,625 2,018 2,302 2,517 3,179 3,836
21 0,911 1,613 2,004 2,286 2,500 3,157 3,810
22 0,905 1,603 1,992 2,272 2,484 3,138 3,787
23 0,899 1,593 1,980 2,259 2,470 3,121 3,766
24 0,893 1,584 1,969 2,247 2,457 3,104 3,747
25 0,888 1,575 1,958 2,235 2,444 3,088 3,729
30 0,866 1,541 1,917 2,188 2,393 3,026 3,653
35 0,851 1,516 1,886 2,152 2,354 2,979 3,598
40 0,838 1,495 1,862 2,126 2,326 2,943 3,554
45 0,828 1,478 1,842 2,104 2,303 2,913 3,519
50 0,820 1,466 1,827 2,086 2,283 2,889 3,490
60 0,807 1,446 1,802 2,059 2,253 2,852 3,416

Exercício 3.10 Para uma localidade com altura média precipitada anual,
µ, de 800 mm e desvio padrão, σ, de 300 mm, com uma amostra de somente
10 anos, pergunta-se, baseado na utilização da distribuição de Ven-Te-Chow:
a) Qual é a precipitação máxima provável que é referente a um tempo
de recorrência de 50 anos?
c) Qual é o tempo de recorrência relativo a uma precipitação máxima
provável de 1487 mm, para esta localidade?

76
Capítulo 4
Análise de chuvas intensas.

4.1 O que é análise de chuvas intensas?

A análise de chuvas intensas é a análise de freqüência das chuvas mais


intensas que ocorrem em um determinado local, chamadas de temporais, e
são de grande importância para o dimensionamento de diversos equipamentos
de drenagem dos nossos meios urbanos, como as grelhas, as bocas-de-lobo,
os bueiros, as galerias de drenagem, os emissários e os grandes canais para a
macro-drenagem, que é a drenagem de grandes áreas urbanas.
Assim como foi as precipitações anuais, cada localidade, a depender de
seu clima, da sua altitude, da sua umidade, da distancia do mar e de uma série
bem grande de fatores, tem a sua caracterização, própria, de chuvas intensas.

4.2 Como se analisam as chuvas intensas?

As análises de freqüência das chuvas intensas são realizadas a partir


das análises dos dados dos temporais, que são precipitações bem fortes, com
durações totais bem variadas, de alguns minutos a 24 horas ou mais.
As precipitações muito curtas são, normalmente, de origem convectiva e
as precipitações muito longas, normalmente, originam-se ou de frentes frias ou
precipitações orográficas, quando a localidade se situa em vertentes de serras
onde existem correntes de ar úmidas, embora essas tendências são variáveis.
O aparelho medidor de chuvas intensas é o pluviógrafo, que, depois de
muitos anos de estudos, para que a pesquisa seja consistente e da separação
de dados de gráficos que contenham as maiores precipitações já ocorridas no
local, com durações bem diferentes, desde as mais curtas até as mais longas,
são então analisados, conforme mostraremos, a s análises de freqüências.
Quando se analisam freqüências de precipitações intensas, na verdade,
se analisam os intervalos das precipitações mais intensos. Por exemplo, um
grande temporal, com duas horas de duração total, pode produzir dados para
uma série de precipitações iguais ou menores que duas horas.
Assim, a análise de chuvas intensas é, na realidade, várias análises de
freqüências que se faz com as diversas precipitações máximas que ocorrem
em um determinado posto pluviométrico, cujas durações, normalmente, são
iguais a: 5, 15, 30 minutos e 1, 2, 4, 8, 14, 24 horas, respectivamente, ou mais,
sendo que alguns pesquisadores incluem até dados de pluviômetros (44).

4.3 Análise das alturas precipitadas em função das durações.

Analisadas e separadas as máximas precipitações ocorridas no local em


estudo, para as várias durações diferentes, elas são organizadas em tabelas e
as suas freqüências normalmente são analisadas através de séries parciais, ou
seja, se separam as, M, máximas precipitações que ocorreram no local, para
cada duração escolhida, nos, N, anos de análises. Portanto, serão feitas 9, ou
mais, análises de freqüências diferentes para as durações indicadas acima.

77
Como o interesse direto são as análises específicas das precipitações
máximas prováveis, analisam-se os dados em ordem decrescente, de maneira
que as freqüências acumuladas, para cada duração analisada, representem as
probabilidades das precipitações igualarem ou serem maiores que
determinados limites máximos P ( H ≥ H’ ).
Portanto, o tempo de recorrência, T, para as análises das precipitações
máximas prováveis, é definido como:

T = 1 / P ( H ≥ H’ ) 4.1

A tabela 4.1 mostra os resultados obtidos das análises para a cidade de


Salvador, no Estado da Bahia, cujas precipitações, P, em mm, de 5 minutos a
24 horas, estão em função dos tempos de recorrências e foram extraídas dos
gráficos do livro “Chuvas intensas no Brasil” (44).

Tabela 4.1 Resultado gráfico da análise de freqüência das precipitações


intensas máximas de Salvador-BA, P, em mm.

T (Anos) 1 2 5 10 20
D P (mm)
5 min. 9,0 9,8 10,0 12 13
15 min. 18 20 25 29 36
30 min. 25 30 38 42 50
1 h. 35 40 47 60 64
2 h. 42 50 64 70 72
4 h. 50 62 81 85 92
8 h. 62 75 90 110 120
14 h. 72 88 100 115 140
24 h. 88 100 120 150 160

Quando se ajustam dados de alturas precipitadas, pode-se utilizar a


equação proposta no livro “Chuvas Intensas no Brasil”, abaixo:

[ α + ( β / T0,25 )]
P=T . [ a . t + b . log10 ( 1 + c .t )] 4.2

Na equação 4.2, P é a precipitação intensa, em mm; T é o tempo de


recorrência, em anos; α é uma constante, que depende da própria duração da
precipitação; β é uma constante, que depende da duração e da localidade; a, b
e c são constantes da localidade e t é a duração da chuva, em horas, onde o
termo,
[ a . t + b . log10 ( 1 + c .t )] 4.3

é a precipitação referente a um ano de tempo recorrência, e o termo,

[ α + ( β / T0,25 )]
P=T 4.4

é o fator de freqüência, para maiores tempos de recorrência.

78
A tabela 4.2 mostra os valores de α, para as durações de 5 minutos e
1, 4, 8 e 24 horas e a tabela 4.3 mostra os valores da constante β , em função
da duração e para cada localidade da Região Nordeste do Brasil.

Tabela 4.2 Valores da constante α, em função da duração da chuva.

Durações 5 minutos 1 hora 4 horas 8 horas 24 horas

α 0,108 0,156 0,174 0,176 0,170

Tabela 4.3 Valores da constante β , para cada localidade e em função


da duração, para a Região Nordeste do Brasil.
.
Ordem Localidade UF Situação 5 minutos 1 hora 4 horas 8 horas 24 horas

1 Aracajú SE Litoral 0,00 0,20 0,20 0,20 0,20


2 Fortaleza CE Litoral 0,04 0,08 0,08 0,08 0,08
3 João Pessoa PB Litoral 0,00 0,08 0,08 0,08 0,08
4 Maceió AL Litoral 0,00 0,20 0,20 0,20 0,20
5 Natal RN Litoral -0,08 0,12 0,12 0,12 0,12
6 Olinda PE Litoral 0,04 0,20 0,20 0,20 0,20
7 Salvador BA Litoral -0,04 0,12 0,12 0,12 0,12
8 São Luiz MA Litoral -0,08 0,08 0,08 0,08 0,08
9 Turiaçu MA Litoral 0,04 0,04 0,04 0,04 0,04
10 Barra da Corda MA Interior -0,08 0,12 0,12 0,12 0,12
11 Guaramiranga CE Interior -0,04 0,08 0,08 0,08 0,08
12 Nazaré da Mata PE Interior -0,04 0,08 0,08 0,08 0,08
13 Quixeramobim CE Interior -0,08 0,12 0,12 0,12 0,12
14 Teresina PI Interior 0,12 0,12 0,12 0,12 0,12

A tabela 4.4 mostra os valores das constantes a, b e c, para os locais da


região nordeste. Todos os dados das tabelas 4.1, 4.2 e 4.3 foram extraídos do
livro Chuvas Intensas no Brasil (44).

Tabela 4.4 Valores das constantes a, b e c, para cada localidade da


Região Nordeste do Brasil.
.
Ordem Localidade UF Situação A B C

1 Aracajú SE Litoral 0,6 24 20


2 Fortaleza CE Litoral 0,2 36 10
3 João Pessoa PB Litoral 0,6 33 10
4 Maceió AL Litoral 0,5 29 10
5 Natal RN Litoral 0,7 23 20
6 Olinda PE Litoral 0,5 35 10
7 Salvador BA Litoral 0,6 33 10
8 São Luiz MA Litoral 0,4 42 10
9 Turiaçu MA Litoral 0,6 30 20
10 Barra da Corda MA Interior 0,1 28 20
11 Guaramiranga CE Interior 0,5 22 20
12 Nazaré da Mata PE Interior 0,4 20 20
13 Quixeramobim CE Interior 0,2 17 60
14 Teresina PI Interior 0,2 33 20

As tabelas 4.5, 4.6 e 4.7 mostram as precipitações intensas relativas às


durações de 5 minutos, 1, 4, 8 e 24 horas e tempos de recorrência de 2, 10 e
20 anos para algumas localidades da região nordeste, ajustadas de acordo
com a equação 2.4. As duas últimas linhas das tabelas 4.5, 4.6 e 4.7 mostram
as médias e os desvios-padrões das amostras, na região nordeste.

79
Tabela 4.5 Valores de precipitações intensas, P, em mm, de 5 min, 1, 4, 8 e 24 h, calculados
através da equação 4.2, para as localidades da região nordeste e tempo de recorrência, T, de 2 anos.

Ordem Localidade UF Situação P (mm)

5 minutos 1 hora 4 horas 8 horas 24 horas

1 Aracajú SE Litoral 11,1 40,5 61,1 73,3 99,6


2 Fortaleza CE Litoral 10,5 43,8 69,6 83,2 106,7
3 João Pessoa PB Litoral 9,4 40,8 65,7 80,2 109,6
4 Maceió AL Litoral 8,3 38,4 61,8 75,3 102,5
5 Natal RN Litoral 10,1 37,2 56,5 68,3 94,7
6 Olinda PE Litoral 10,2 46,3 74,1 89,9 120,6
7 Salvador BA Litoral 9,2 41,8 67,3 82,1 112,2
8 São Luiz MA Litoral 11,4 51,5 82,0 96,7 129,2
9 Turiaçu MA Litoral 14,1 45,9 66,9 82,1 109,2
10 Barra da Corda MA Interior 12,3 44,4 65,1 75,8 93,5
11 Guaramiranga CE Interior 9,9 34,5 52,0 62,2 83,7
12 Nazaré da Mata PE Interior 9,0 31,3 47,0 56,0 74,5
13 Quixeramobim CE Interior 13,6 36,5 50,0 57,2 70,6
14 Teresina PI Interior 16,3 52,4 77,2 90,2 112,6
Média 10,9 41,6 64,1 76,4 101,2
Desvio padrão 2,1 6,1 10,2 12,2 17,0

Tabela 4.6 Valores de precipitações intensas, P, em mm, de 5 min, 1, 4, 8 e 24 h, calculados


através da equação 4.2, para as localidades da região nordeste e tempo de recorrência, T, de 10 anos.

Ordem Localidade UF Situação P (mm)

5 minutos 1 hora 4 horas 8 horas 24 horas

1 Aracajú SE Litoral 13,2 60,0 93,2 112,2 151,0


2 Fortaleza CE Litoral 12,8 59,1 97,5 116,9 148,5
3 João Pessoa PB Litoral 11,2 55,5 92,1 112,7 152,6
4 Maceió AL Litoral 9,8 57,0 94,3 115,3 155,4
5 Natal RN Litoral 11,4 52,0 81,4 98,7 135,6
6 Olinda PE Litoral 12,5 68,6 113,0 137,6 182,8
7 Salvador BA Litoral 10,6 58,5 97,0 116,7 160,7
8 São Luiz MA Litoral 12,6 70,1 114,8 138,7 179,9
9 Turiaçu MA Litoral 17,3 60,7 93,8 112,1 147,6
10 Barra da Corda MA Interior 13,8 44,5 93,9 109,6 133,9
11 Guaramiranga CE Interior 11,5 47,0 72,8 87,4 116,5
12 Nazaré da Mata PE Interior 10,4 42,6 65,8 78,7 103,8
13 Quixeramobim CE Interior 15,3 51,1 72,2 82,7 101,1
14 Teresina PI Interior 21,1 73,3 111,2 130,4 161,2
Média 13,1 57,3 93,6 108,6 145,0
Desvio padrão 3,1 9,4 12,8 17,8 24,6

Tabela 4.7 Valores de precipitações intensas, P, em mm, de 5 min, 1, 4, 8 e 24 h, calculados


através da equação 4.2, para as localidades da região nordeste e tempo de recorrência, T, de 20 anos.

Ordem Localidade UF Situação P (mm)

5 minutos 1 hora 4 horas 8 horas 24 horas

1 Aracajú SE Litoral 14,2 68,5 107,8 129,9 174,0


2 Fortaleza CE Litoral 13,9 66,3 111,1 133,4 168,7
3 João Pessoa PB Litoral 12,1 62,5 104,9 128,6 173,3
4 Maceió AL Litoral 10,6 65,0 109,0 133,5 179,1
5 Natal RN Litoral 12,2 58,8 93,2 113,2 154,6
6 Olinda PE Litoral 13,5 78,3 130,7 159,2 210,7
7 Salvador BA Litoral 11,4 66,1 111,0 136,1 183,4
8 São Luiz MA Litoral 13,7 78,9 130,8 158,2 204,4
9 Turiaçu MA Litoral 18,9 68,0 106,3 127,3 167,1
10 Barra da Corda MA Interior 14,7 70,2 107,5 125,7 152,9
11 Guaramiranga CE Interior 12,3 52,9 83,0 99,7 132,3
12 Nazaré da Mata PE Interior 11,2 48,0 75,0 89,8 117,9
13 Quixeramobim CE Interior 16,3 57,8 82,4 94,8 115,4
14 Teresina PI Interior 23,0 82,9 127,3 149,5 184,0
Média 14,1 66,2 105,3 126,9 165,4
Desvio padrão 3,4 9,9 17,9 21,6 28,5

80
4.4 Análises das intensidades em função das durações.

No, Brasil, à exceção das análises de freqüências que foram realizadas


no livro ”Chuvas intensas no Brasil” (44), não é comum encontrar-se trabalhos
científicos onde as análises das precipitações intensas sejam feitas em termos
de alturas precipitadas, em mm, sendo mais comum a analise e o ajuste dos
dados de chuvas intensas com intensidades de precipitações máximas, i, em
mm/h, cujas equações de ajuste são bem mais simples que a apresentada no
livro “Chuvas Intensas no Brasil”, a equação 4.2.
Portanto, ao invés de se analisar as alturas precipitadas, se constrói dez
novas tabelas, para se analisar as intensidades de precipitações, em mm/h.
A tabela 4.8 mostra os resultados obtidos das análises para a cidade de
Salvador, cujas intensidades de precipitações, i, em mm/h, de 5 minutos a 24
horas, foram calculadas a partir dos dados da tabela 4.1, também mostrados
nos gráficos da figura 4.1.
Por exemplo, vamos supor que, uma determinada precipitação intensa,
de 5 minutos, na tabela 4.1, tenha altura precipitada de 9,0 mm. Na nova
tabela, de intensidades, em mm/h, a tabela 4.8, constará, para esta mesma
duração, a intensidade de 9 mm/5 min, igual a 1,8 mm/min ou a 108 mm/h.

Tabela 4.8 Resultado gráfico da análise de freqüência das intensidades


de precipitações intensas máximas de Salvador-BA, em mm/h.

T (Anos) 1 2 5 10 20

DC mm/h

5 min. 108,0 117,6 120,0 144,1 156,1


15 min. 72,0 80,0 100,0 116,0 144,0
30 min. 50,0 60,0 76,0 84,0 100,0
1 h. 35,0 40,0 47,0 60,0 64,0
2 h. 21,0 25,0 32,0 35,0 36,0
4 h. 12,5 15,5 20,3 21,3 23,0
8 h. 7,8 9,4 11,3 13,8 15,0
14 h. 5,1 6,3 7,1 8,2 10,0
24 h. 3,7 4,2 5,0 6,3 6,7
180,0
160,0
140,0 20 anos
120,0
i (mm/h).

10 anos
100,0
5 anos
80,0
60,0 2 anos
40,0 1 ano
20,0
-
- 200,0 400,0 600,0 800,0 1.000,0 1.200,0 1.400,0 1.600,0

Duração (min).

Figura 4.1 Intensidades de precipitações intensas, i, em mm/h, para a


cidade de Salvador-BA, como função da duração e do tempo de recorrência.

81
4.5 Equações de chuvas intensas.

Os dados de intensidades de precipitações intensas, i, como função do


tempo de recorrência e para as diversas durações , mostradas nas tabela 4.8 e
figura 4.1, para a cidade de Salvador, se ajustam, muito bem, às equações, do
tipo potência, mostrado abaixo:
a . Tb
i = ----------------- 4.5
d
( DC + c )

Na equação 4.5, I é a intensidade da precipitação, em mm/h, T é o


tempo de recorrência, em anos, e DC é a duração, em minutos; a, b, c e d são
constantes locais, determinadas através da utilização do método dos mínimos
quadrados, como veremos, mais adiante.
É comum, em projetos de engenharia, que necessitam de equações de
chuvas intensas, alguns engenheiros completarem os dados de intensidades
de precipitações, da tabela 4.8, para cada duração e para maiores tempos de
recorrências, utilizando-se distribuições teóricas de probabilidades, como, por
exemplo, a distribuição teórica de Gumbel ou mesmo outra. Esta operação é,
no entanto, opcional.
Vejamos alguns exemplos de equações de chuvas intensas ou relação
intensidades-duração-freqüência mais conhecidas para algumas cidades no
Brasil:
0,172 1,025
Cidade de São Paulo: iM = 3463 . T / ( DC + 22 ) 4.6

0,15 0,74
Cidade do Rio de Janeiro: iM = 1129 . T / ( DC + 20 ) 4.7

0,10 0,84
Cidade de belo Horizonte: iM = 1148 . T / ( DC + 22 ) 4.8

Nas equações acima, iM é a intensidade média temporal da precipitação,


em mm/h, DC é a duração, em min, e T é o tempo de recorrência, em anos.

Observação: Para a determinação das equações de chuvas intensas em


alguamas cidades da Bahia bem como o estudo de equações regionalizadas,
recomenda-se o estudo da bibliografia “Chuvas intensas na Bahia, equações e
metodologias de regionalizações.

Exemplo Calcular a intensidade de precipitação média e os hietogramas


prováveis de distribuição de intensidades e de alturas precipitadas, para uma
chuva intensa para a Cidade de São Paulo com 1 hora de duração e através
da equação 7.4, utilizando-se intervalos de tempo de 10 minutos e um tempo
de recorrência de 50 anos?
a) O cálculo da intensidade média e da altura precipitada. Substituindo o
valor da duração, D, de 60 min, e do tempo de recorrência, T, de 50 anos, na
equação 4.6, da cidade de São Pulo:

3463 . T0,172 3463 . 500,172


iM = ----------------------- = ---------------------- = 74 mm/h 4.9
1,025
DC + 22 ) ( 60 + 22 ) 1,025

82
Portanto, a altura total precipitada, P, será igual à intensidade média
temporal da precipitação multiplicada pela própria duração i . DC, que é igual
a 74 mm/h . 1h. Assim, a altura total da precipitação será de 74 mm.
b) Cálculo dos hietogramas de alturas precipitadas e de intensidades de
precipitações. Hietograma é o gráfico da distribuição temporal da precipitação,
em termos de alturas precipitadas e é obtido dos gráficos dos pluviógrafos.
São aceitas, no entanto, por extensão, as designações de hietogramas
de alturas precipitadas e de intensidades, que mostram as distribuições das
alturas precipitadas e das intensidades de precipitações, da chuva, no tempo.
Apresenta-se um método muito utilizado para se calculá-los, conforme
mostra a seqüência abaixo e a tabela 4.9.
a) Coloca-se a equação de chuvas intensas da localidade, com o tempo
de recorrência requerido, T, de 50 anos, e em função da duração DC.

3463 . 500,172 6790


i = ------------------------- = ------------------------ 4.10
( DC + 22 )1,025 ( DC + 22 ) 1,025

b) Na coluna 3 da tabela 9.4, se calculam as intensidades, i, para cada


valor de duração DC, pela equação 4.10.
c) Na coluna 4, se calcula as precipitações acumuladas, para cada valor
de DC, multiplicando-se as intensidades pelas próprias durações, i.DC.
d) Na coluna 5, calculam-se as alturas precipitadas nos intervalos, igual
à precipitação, da ordem seguinte, menos a da anterior.

Tabela 4.9 Cálculo dos hietogramas prováveis de alturas precipitadas e


de intensidades de precipitações.

1 2 3 4 5 6 7
Ordem Duração Intensidade Precipitação ∆h = hi +1 - hi Arranjo mais Arranjo
provável de mais
(min) (mm /h) (mm) (mm) ∆h provável de
mm) i.
D I h=i.D i = ∆ h / ∆D
(Bom senso) (mm/ h)

1 0 - 0
32 3 18
2 10 195 32
18 9 54
3 20 147 50
9 32 192
4 30 118 59
7 18 108
5 40 99 66
5 7 42
6 50 85 71
3 5 30
7 60 74 74
∑h = 74

83
e) Para se calcular o hietograma de alturas precipitadas, em mm, na
coluna 6, é necessário bom censo, pois os resultados fornecidos pela coluna 5
são a de um hietograma com de natureza decrescente, muito diferenciado, e o
que se vê, na natureza, normalmente, são chuvas que, no seu início, são mais
fracas, que aumentam gradativamente, nos seus intervalos médios, para, por
fim, declinarem. Ou seja, a necessário remanejar os dados da coluna 5.
f) Para se calcular o hietograma de intensidades, em mm/h, basta pegar
as alturas verificadas na coluna 6 e dividi-las pelo intervalo de duração, ∆DC.

H (mm)

30

∑ H = 74 mm
20

10

0 DC (minutos)

0 10 20 30 40 50 60

Figura 4.2 Hietograma de alturas precipitadas.

i (mm/h)
200

150

Intensidade média
100
iMED = 74 mm/h

50

0 DC (minutos)
0 10 20 30 40 50 60

Figura 4.3 Hietograma de intensidades de precipitações.

Exercício 4.1 Calcule a intensidade de precipitação média, a altura total


e os hietogramas de precipitações e de intensidades de precipitações, de uma
chuva intensa em Belo Horizonte com 2 horas de duração e com intervalos de
20 minutos, para um tempo de recorrência, T, igual a 30 anos.

84
4.6 Precipitação intensa média na bacia de contribuição.

Todos os cálculos e análises referentes às chuvas intensas, mostradas


até agora, dizem respeito às precipitações máximas observadas, localmente,
nos pluviógrafos, que são tomados com os valores máximos das distribuições
espaciais de precipitações, na bacia.
Quando se analisa a ocorrência de precipitações intensas distribuídas
em grandes áreas, como, por exemplo, em uma bacia de drenagem urbana,
tem-se que trabalhar com valores médios de intensidades que podem ocorrer
na área, iMA, e que representem melhor essas distribuições geográficas.
Em hidrologia, trabalha-se com o índice de distribuição de precipitações
intensas IDP, que é definido como a razão entre a intensidade média da chuva
na bacia de contribuição, iMA, e a intensidade máxima da chuva no seu ponto
máximo, iM, que é admitida ocorrer, normalmente, para finalidades de cálculo
das intensidades de precipitações intensas na bacia, no próprio pluviógrafo,
considerado como o baricentro da distribuição geográfica da precipitação, na
bacia, conforme tenta mostrar o desenho da figura 4.4.

Pluviógrafo Distribuição espacial da precipitação


iMA iM

Bacia

Figura 4.4 Esquema mostrando um distribuição espacial imaginária de


uma precipitação, mostrando o valor máximo da intensidade iM, no pluviógrafo,
e o valor médio da precipitação na bacia de drenagem iMA.

Portanto, iMA
IDP = ------- 4.11
iM

Na prática de hidrologia, ainda são muitos controvertidos os resultados


finais dessas análises sobre essas distribuições de precipitações em bacias de
drenagens, de uma maneira geral, em função de alguns fatores que concorrem
ou podem concorrer com a obtenção ou a caracterização destes índices, como
por exemplo, a área da bacia de drenagem e o seu comprimento característico;
a duração total da chuva; a sua direção predominante em relação à bacia e
também o tipo de chuvas precipitação, já que as precipitações convectivas, por
exemplo, tendem a distribuir-se mais localmente, em termos de área, do que,
por exemplo, as precipitações intensas de frentes, que ocorrem geralmente em
grandes áreas geográficas; isso, só para citar alguns fatores que são mais
preponderantes e que concorrem com as distribuições de precipitações.
De uma maneira bem simplificada, quando as bacias de drenagens são
pequenas, com áreas de até 2 km2, como pequenas bacias urbanas, pode-se
usar a equação de Fhrulling, onde a área da bacia de drenagem, A, é em m2:
0,25
IDP = iMA / iM = 1 - 0,0054 . A 4.12

85
Para bacias de contribuições de médias áreas, como são, por exemplo,
as provenientes de pequenos rios, na ordem de muitos quilômetros quadrados,
recomenda-se utilizar, para o cálculo de precipitações médias, o gráfico que é
proposto por Linsley, mostrado na figura 5.4.

Figura 4.5 Valores de IDP, como função da área da bacia, em km2,e da


duração total da chuva.

IDP 1,0
24 h
6h

3h
1h
30 min

0,5
0 500 1000 A (km2)

Se, por exemplo, ambos os hietogramas de precipitações e intensidades


de precipitações, calculados através da tabela 4.9 e mostrados nas figuras 4.2
e 4.3, com duração total, DC, igual a de 1 hora, fossem elaborados para serem
utilizados em uma bacia com a área A igual a 1 km2, todas as suas ordenadas,
referentes às precipitações Hp e às intensidades de precipitações i, teriam que
ser multiplicadas, pela equação de Fhrulling, por uma constante, igual a 0,83,
conforme mostra a tabela 4.10, continuação da tabela 4.9, nas colunas 8 e 9.
Para grandes bacias, o assunto já foge do escopo deste livro inicial.

Tabela 4.10 Continuação do cálculo dos hietogramas de distribuição de


precipitações e de intensidades de precipitações de uma chuva intensa de 1
hora e período de retorno de 50 anos, para a Cidade de São Paulo, utilizando-
se a equação de Fhrulling, para uma bacia com área de 1 km2.

1 2 3 4 5 6 7 8 9
Ordem D i H ∆h = hi +1 - hi Arranjo mais Arranjo mais Arranjo mais Arranjo mais
provável de ∆h provável de i. provável de provável de i
(min) (mm /h) (mm) (mm) ( mm) i = ∆ h / ∆D ∆h na bacia I na bacia
(Bom senso) (mm/ h) (mm) (mm/h)
h = i.D
1 0 - 0
32 3 18 2,5 15,0
2 10 195 32
18 9 54 7,5 45,8
3 20 147 50
9 32 192 326,5 159,0
4 30 118 59
7 18 108 15,0 89,6
5 40 99 66
5 7 42 5,8 34,8
6 50 85 71
3 5 30 4,2 24,9
7 60 74 74

86
Capítulo 5
Medições de vazões de escoamentos livres

5.1 Introdução.

Medição de vazões é um assunto longo e complexo. Simplificadamente,


no entanto, já que o presente livro é propedêutico e destinado, principalmente,
ao futuro engenheiro, que precisa saber somente o essencial em medições de
escoamentos livres, nós podemos dividir o presente capítulo em quatro itens: o
primeiro item se refere às medições diretas de vazões e a análise estatística
dessas medidas; já o segundo é sobre o uso de vertedores; o terceiro item se
refere à medição de pequenas vazões diretamente em pequenos rios e por fim,
o quarto item, trata da medição de vazões em rios já maiores, onde se utilizam
processos de medições complexos, usando-se molinetes, aparelhos parecidos
com papa-ventos ou hélices de barcos, que giram, a depender das velocidades
das próprias correntes e medem as vazões através da integração numérica
dessas velocidades em toda a seção transversal do escoamento do rio, e que,
normalmente, são serviços executados por órgãos públicos ou por empresas
especializadas, já que é um processo difícil de ser executado e que precisa de
gente especializada e de uma série de equipamentos auxiliares.

5.2 Medição direta e análise estatística das medições de vazões.

È o processo mais simples de se medir uma vazão e, normalmente, só é


empregado para pequenas vazões, como a de uma torneira, por exemplo, e só
é utilizado onde existem quedas dos escoamentos, para o recolhimento direto
do volume ou dos volumes que serão medidos.
O processo se baseia na própria definição de vazão, Q, que é definida
como a razão entre o volume escoado na unidade de tempo analisada.

5.2.1 Utilizando-se uma proveta graduada e cronômetro.

Quando a vazão a ser medida é pequena, como, por exemplo, a de uma


torneira, pode-se usar uma proveta graduada em mililitros, cuja leitura é bem
simples e um cronômetro, ou seja:
V
Q = --------- 5.1
t

O processo para determinação da vazão é feito medindo-se o volume


escoado, V, diretamente na proveta, em relação ao tempo de operação, t.
Quando se analisam vazões diretas, para se ter uma boa precisão de
medida, é necessário analisar-se os volumes recolhidos em uma quantidade
correta de tempo, ou seja, o volume medido deve ser suficientemente grande
para que as medições tenham os menores erros relativos possíveis e o tempo
necessário também deve ser relativamente grande embora ele não precise ser
grande demais, para não atrasar a operação de medida.

87
Por exemplo, para analisar-se a vazão de uma torneira, cuja vazão varia
em torno de 0,1 a 0,2 l/s, temos que usar uma proveta com, pelo menos, 1 l ou
1000 ml, já que o tempo de medição será de 5 a 10 segundos. O ideal, para
estes tipos de medições seria uma proveta um pouco maior, de forma que as
medições fossem mais prolongadas, mas que, também, não fosse pesada
demais, para não trazer imprecisões excessivas na hora de manuseá-las para
recolherem-se os volumes de água para as medições.

5.2.2 Utilizando-se balança e cronômetro.

Quando a vazão medida já é um pouco maior, tem-se que avaliar os


volumes escoados em recipientes sem marcações de volumes, como baldes e
tonéis. Nesses casos é preferível medir-se o volume líquido escoado pesando
o seu peso líquido, PL, ou seja, descontando do peso total, o peso do aparelho
medidor, ou seja, o volume escoado, V, será igual ao peso líquido recolhido
dividido pelo peso específico da água, γ, que é de, aproximadamente, 1 kgf/l.

PL
V = -------- 5.2
γ

Exercício 5.1 Para verificar-se a vazão de uma tubulação utilizando-se


uma balança, pesou-se um volume líquido de água de 8,60 kgf em um tempo
34, 65 segundos. Qual é a vazão do escoamento?

5.3 Erros e análise estatística das medições de vazões.

Não é muito correto, ao se medir uma vazão, apanhar-se somente uma


amostra, medi-la e aceitar-se o valor lido, sem se analisar a sua estatística.
O correto é fazer-se um bom número de medições, quando é possível,
e analisar alguns parâmetros estatísticos sobre as medidas.
Toda vez que fazemos uma medição qualquer, cometemos um erro ou
imprecisão. Para se medir uma vazão, que é uma grandeza composta, temos
que medir duas grandezas, o volume e o tempo.
Se medirmos, por exemplo, um volume, escoado por uma torneira, com
uma proveta com 1000 ml, veremos que as subdivisões da proveta são de 10
ml. Logo, o erro máximo absoluto de leitura será de 5 ml, ou seja, a metade da
leitura da subdivisão mínima, já que a leitura tem que ser feita na base do
menisco, que é a curvatura da água dentro da proveta.

900

Leitura Menisco

800

Figura 5.1 Subdivisões da proveta de 1000 mililitros.

88
Por exemplo, na figura 5.1, a leitura do volume daria 860 ml, embora se
veja que o volume dá um poço mais, que é impreciso. Assim a erro absoluto da
medição seria de, no máximo, 5 ml e o erro relativo seria de 5ml/860 ml ou de
0,0058 ou 0,58 %, ou seja, é bem pequeno.
Vejamos agora o erro do tempo, que é o grande vilão desta história,
como veremos. Se você pegar um cronômetro e avaliar um gesto de, por
exemplo, a introdução da proveta embaixo da torneira, você verá que o gesto é
relativamente lento e leva, normalmente, alguns centésimos de segundo, de
imprecisão, que é, no entanto, bem indefinido, pois depende da destreza do
medidor, ou seja, na medida do tempo de medida, já não vale mais o critério
de subdivisões mínimas da leitura, pois existe o erro ou a imprecisão humana.
Suponhamos, no entanto, faça esta experiência você mesmo, que este
gesto leve 30 centésimos de segundo. Se uma torneira escoa uma vazão de
0,1 l/s, por exemplo, e se o volume lido fosse de 860 ml ou de 0,86 l, como
mostra a figura 5.1, o tempo de leitura seria de:

V 0,86 l
t = ------- = --------- = 8,6 s 5.3
Q 0,1 l/s

Neste caso, o erro relativo da leitura de tempo seria de 0,30 s/ 8,6 s ou


de 0,034 ou 3,4 %, sendo bem maior que o erro da leitura do volume.
O erro máximo da leitura da vazão escoada, εQ, dependeria, neste caso,
da divisão das leituras de ambos os erros, tanto do volume como do tempo, já
que a vazão escoada é de 0,1 l/s ou 100 ml/s, ou seja:

V ± εV 860 ml l ± 0,5 ml
Q ± εQ = --------- = ------------------------ = 100 ml/s ± 3,67 ml/s 5.4
t ± εt 8,6 s ± 0,30 s

O problema é que o erro, da medida de tempo, é indefinido e o que se


pode fazer em medições de vazões é a análise estatística das medições.
Vamos ver como se faz este tipo de análise.
Faça algumas medições, umas dez, por exemplo, em uma torneira, com
uma proveta de um litro e um cronômetro, analisando o processo.
Abaixo, são apresentadas 10 medições feitas por alunos, no laboratório.

Tabela 5.1 Série com dez medidas de vazões feitas por alunos.

V (l) t (s) Q (l/s)

0,838 9,150 0,092


0,784 8,240 0,095
0,806 7,750 0,104
0,810 8,560 0,095
0,796 8,130 0,098
0,784 8,410 0,093
0,806 8,600 0,094
0,788 8,500 0,093
0,814 8,740 0,093
0,819 8,720 0,094

89
Se analisarmos a estatística de vazões da tabela, veremos que a média,
µ, é de 0,095 l/s, que o desvio padrão, σ, é de 0,0036 l/s e que o coeficiente
de variação, CV, é de 0,0379 ou 3,79 %.
Ou seja, quando se faz a análise estatística, o coeficiente de variação já
representa o erro médio, aproximado, das medições que, no caso, é de 3,8 %.
Se nós fizermos muitas medições, neste mesmo escoamento, veremos
que a distribuição das medidas é aproximadamente normal.

µ-σ µ µ +σ
σ Q (l/s)
0,0914 0,095 0,0986

Figura 5.2 Curva normal de probabilidades.

Ou seja, na presente medição, só o primeiro algarismo, da vazão média,


de 0,095 l/s, o nove, é significativamente certo, o segundo, o cinco, já é incerto.
A pergunta é: como se diminui o erro de leitura do tempo de operação?
A resposta é: evitando processos de medidas em que o medidor, que no
caso é uma proveta com 1000 ml, seja levada e retirada, do escoamento a ser
medido lentamente, com as mãos segurando a proveta, diretamente.
Em laboratórios de hidráulica se utilizam medidores volumétricos que
desviam quase que instantaneamente a mangueira de entrada, que escoa a
vazão que será medida, como mostra o desenho da figura 5.3, através de uma
haste basculante, que é muito rápida, mas o erro de medida sempre existirá.

Mangueira de entrada (Basculante).


Régua volumétrica

Registro.

Figura 5.3 Medidor volumétrico equipado com entrada basculante.

5.4 Medição de vazões através de vertedores

O processo de medição direta de vazões é limitado pela própria vazão,


pelas condições de recolhimento do volume medida e outros problemas.
O processo mais simples para medições de vazões de pequenos cursos
d’água, quando as suas medições já são freqüentes, é através dos vertedores,
que consistem em aparelhos que barram a água dos riachos, criando piscinas,
forçando a água do rio a se remansar, à montante dos próprios vertedores, e a
cair, por gravidade, em um orifício vertical aberto na parede frontal do vertedor,
cuja seção geométrica normalmente tem uma forma determinada e conhecida.

90
Estrutura do vertedor
Remanso Vertedor
Fluxo d’água

Fluxo d’água original


Régua de nível (Linhas tracejadas)
ou limnimétrica

Figura 5.4 Vista superior ou de cima, de um vertedor.

O tipo, mais comum e também simples, de se construir, é o vertedor


com a seção de escoamento retangular, com dupla contração no escoamento
no canal de adução, que, no caso, é o próprio leito rio, com paredes delgadas
e biseladas (Figura 5.6), para diminuir a resistência do escoamento.

Régua graduada Vertedor Leito do fundo do rio


ou limnimétrica B Estrutura

Figura 5.5 Vista frontal ou de topo de um vertedor retangular.

Para este tipo de vertedor, a vazão escoada pode ser avaliada através
da equação de Francis:
3/2
Q = 1,84 . ( B - H / 10 ) . H 5.5

Onde, Q é a vazão, em m3/s, H é altura da lâmina líquida acima da base


do vertedor, lida na régua limnimétrica, onde o zero da régua fica nivelado com
a própria base do vertedor, em m, e B é a base, do vertedor, em m.
Observações: a) As dimensões máximas para um vertedor devem ser
calculadas em função das vazões máximas que podem escoar pelo riacho nas
chuvas, calculadas através do método racional, por exemplo.
Devem ser escolhidos trechos do rio retilíneos e uniformes que facilitem
a construção do mesmo. A sua régua limnimétrica deve ser mantida sempre
limpa e colocada a uma distância do vertedor que possibilite a tranqüilização
da água e o efeito do remanso e sempre, bem maior, se possível, que 5 vezes
a própria altura máxima provável da lamina líquida, HMÁX.

91
As vazões mínimas também devem ser levadas em consideração, pois
um vertedor grande tem pouquíssimas condições de medir vazões pequenas.
É muito comum se construir vertedouros que ficam totalmente afogados
e impossibilitados de medirem vazões nas épocas de cheias extremas que não
foram previstas no projeto, por causa do custo deste aparelho. Por causa disso
devem se prever estruturas fortes que suportem bem estes problemas.

L ≥ 5 . HMAX.

Régua limnimétrica

Corte biselado
H

Solo do rio medido

Figura 5.6 Vista lateral de um vertedor e da bacia de tranquilização.

A largura do vertedor, B, não pode ser muito grande, de forma a permitir


uma altura da lâmina que permita a sua leitura com um mínimo de erro relativo,
pois senão, na estação das secas, quando as vazões são pequenas, a lâmina,
H, fica muito pequena e não permite a sua avaliação correta.
Deve-se colocar um poço tranqüilizador junto à régua de medição para
evitar que a velocidade da corrente aumente o nível estático da água na régua,
além de evitar sujeiras se junte a régua criando empecilhos às leituras.
Quando a vazão é pequena e muito variável, deve-se utilizar vertedores
com o seu formato triangular, isósceles, com o ângulo da sua abertura, α, de
0
90 ou menores, que permite mais precisão nas leituras dessas vazões.

Régua graduada Vertedor Leito do rio


ou limnimétrica Estrutura

900

Figura 5.7 Vista frontal ou de topo de um vertedor triangular.

Para este tipo de vertedor, triangular, isósceles, com paredes delgadas


e com a abertura com um ângulo de 900, a vazão escoada pode ser avaliada
através da equação de Thomson, onde, Q é a vazão, em m3/s, H é altura da
lâmina líquida acima da base do vertedor, lida na régua limnimétrica, em m.
5/2
Q = 1,40 . H 5.6

92
5.5 Medidas diretas de vazões em rios.

5.5.1 Método simplificado de medição em pequenos riachos.

Quando não se faz medições freqüentes de vazões, não compensa se


dimensionar e fazer um vertedor. Nestes casos e preferível fazer-se medições
diretas das velocidades médias das correntes do riacho e transformá-las em
vazão, multiplicando-as pela seção transversal do escoamento.
O método consiste em medir-se a velocidade média superficial da água,
em uma seção longitudinal com o seu tamanho adequado e conhecido, com
uma bola ou outro objeto, leve e flutuante, e um cronômetro e através de várias
medidas das velocidades superficiais, VS, na seção transversal, para o cálculo
da velocidade média superficial do escoamento, VMS.
VMS

Perfil de velocidades superficiais do riacho

Comprimento
VS da seção

Figura 5.8 Vista da seção longitudinal e transversal de medição.

A depender da largura e da profundidade do córrego, pode-se fazer de


somente uma ou várias medições, pois as velocidades tendem a ser maiores
no centro do escoamento e menores nas margens.
Estabelecida a velocidade média superficial, VMS, pode-se estabelecer a
velocidade média do escoamento, VME, sabendo-se que as velocidades das
correntes tendem a ser maiores na superfície e menores no fundo e ficam em
torno de oitenta por cento das velocidades superficiais.
VMS

VME
Y
VME ≅ 0,8 . VMS

Figura 5.9 Vista aproximada do perfil das velocidades na corrente.

Determinada a velocidade média do escoamento VME, determina-se a


área média transversal da seção longitudinal de medida e a vazão escoada.

Q = VME . A 5.7

Área do escoamento

Figura 5.10 Seção transversal do escoamento na seção de medida.

93
5.5.2 Método da integração das velocidades sobre as áreas.

Quando a seção do rio é muito grande e os dados das vazões precisam


de mais consistência, ou seja, não devem ser apenas meras estimativas, as
medidas das velocidades nos vários pontos do escoamento devem ser feitas
com molinetes, que permitem mais precisão na medida das velocidades.
Molinetes são instrumentos calibrados pela fábrica, bem parecidos com
ventiladores ou papa-ventos, que, quando são colocados, transversalmente, às
correntes, giram, com velocidades proporcionais às velocidades locais.

Haste c/ conta giros


Superfície do escoamento
Hélice Leme direcional

Fundo

Figura 5.11 Aspecto aproximado dos molinetes.

Com o molinete, no ponto exato da corrente, em que se quer medir, se


faz a leitura da velocidade local do escoamento em um mostrador e com muito
boa precisão. Para saber mais sobre os molinetes, visite alguns sites sobre
estes aparelhos na Internet, utilizando as seguintes palavras-chaves para a
busca: “medidor de velocidade com molinete”.
Normalmente, para se medir vazões em rios, se constroem as estações
fluviométricas ou fluviográficas, que medem as vazões através do nível do rio e
se constrói a curva-chave do rio no local, que é uma curva média ajustada dos
dados e que relaciona os níveis do rio com as suas respectivas vazões. Nas
estações floviométricas as leituras dos níveis são visuais e são feitas por um
operador, que tem as horas de medições pré-determinadas. Já nas estações
fluviográficas, a leitura é constante e automática, onde já se usam aparelhos
medidores mais sofisticados e automáticos. Como se constrói a curva-chave?
Este trabalho normalmente é feito por empresas privadas ou estatais e
equipes especializadas, pois precisa de uma série de equipamentos, como, por
exemplo, barcos, pessoas treinadas, cordas, topógrafos, molinetes e muitas
outras coisas, que não caberia citar aqui. No Brasil, quem faz muito estes tipos
de medida, é a CPRM, Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais, por
exemplo, cujo site pode ser acessado facilmente na Internet.
Quando se trabalha com molinetes, normalmente se divide a seção do
rio a ser medida, em varias partes, a depender de sua largura, além de se
instalar uma ou mesmo mais réguas limnétricas, na seção de medida do rio, a
depender de sua profundidade, largura, vazões mínimas e máximas.

Réguas limnimétricas

Rio

Figura 5.12 Aspecto da seção transversal do posto fluviométrico.

94
Os postos pluviométricos normalmente são colocados em trechos retos,
cujos leitos são bem estabilizados e a montante de controles naturais, como as
pedras das cachoeiras, que criam, normalmente, a montante, seções com os
escoamentos remansados e propícios a estas atividades.

Seção de medição Remanso Controle natural

Cachoeira

Leito

Figura 5.13 Corte do escoamento na seção de medição.

Estabelecida à seção de medida, divide-se esta seção em várias partes


para se fazer as medidas de vazões, que, normalmente, abrangem um longo
período de tempo, que contém estiagens e vazões de enchentes e em vários
anos, pois quanto mais abrangente, melhor e mais fidedigna é a curva-chave.
Esta divisão da seção transversal, que é constante, tem que ser tal que
abranja tanto os períodos de secas, caracterizados por baixos níveis dos rios e
de vazões, como os de enchentes.
Régua limnimétrica
X H

1 2 3 4 N
Y

Figura 5.14 Divisão da seção do rio em várias subseções.

Constrói-se uma tabela, onde constam, para cada medida diferente das
vazões, os seguintes itens, como mostra a tabela 5.2.

Tabela 5.2 Cálculo da vazão através da integração das velocidades em


toda a seção transversal do escoamento.

1 2 3 4 5 6

Seção X Y A VM Q

1 X1 Y1 A1 VM1 Q1
2 X2 Y2 A2 VM2 Q2
3 X3 Y3 A3 VM3 Q3
N XN YN AN VMN QN
∑Q

95
As larguras de cada subseção, Xi, de toda a seção transversal, podem
ser constantes ou não, para cada medida feita, a depender do medidor e do
tipo de operação que será realizada.
As alturas médias das subseções, ao seu centro, Yi, são variáveis, para
cada nível ou medida de vazão feita, é são medidas durante as medições nas
épocas de estiagens ou nas de grandes cheias.
A área de cada subseção é, Bi .Yi.
A velocidade média em cada subseção, VM, ao seu centro, pode ser
determinada com o molinete medindo-se as velocidades em dois níveis: no
nível superior, a 20% da altura de cada subseção, Yi; no nível inferior, a 80%
da altura de cada subseção, Yi, em função do gradiente de velocidades locais.

Molinete 0,2.Y V
V0,2. Y + V0,8. Y
Y V. Media ≅ -------------------
0,8.Y 2

Figura 5.15 Alturas de medição em cada seção transversal.

A vazão de cada subseção, Qi,é igual à velocidade média vezes a área.


A vazão da seção, ∑Qi,que é igual ao somatório de todas as vazões das
subseções, Qi, devem ser colocadas no gráfico em função das suas alturas
dos níveis da água de cada medida, Hi, mostrado na figura 5.12.
O gráfico resultante, que relaciona as vazões, Q, com as alturas das
lâminas, H, é que é denominado de curva-chave. Através dele, basta ler-se a
altura, na régua limnimétrica, para se conhecer a vazão média do rio.
Como este método exige equipamento, pessoal e equipe organizada,
normalmente este tipo de trabalho é feito por empresas estatais que operam
no ramo, como, por exemplo, a CPRM, Companhia de Pesquisas de Recursos
Minerais e também outras.
O método exige que se façam muitas medições para diferentes níveis de
água, para que se possa ajustar-se a curva-chave da seção, que não tem uma
forma definida, pois esta depende da geometria da seção transversal.

Q (m3 /s)
. .
. .
. .
. .
H (m)

Figura 5.16 Alturas de medição em cada seção transversal.

Trabalho 5.1 Leia e sintetize, para complementar os assuntos tratados


neste capítulo, sobre medição de vazões em escoamentos livres, os capítulos
sobre vertedores e medição de vazão, nas bibliografias de números 39 e 64 e
para complementar o assunto pesquisando, estude também a bibliografia de
número 20, sobre medição de vazões em condutos forçados.

96
Capítulo 6
Escoamento superficial.

6.1 O que é escoamento superficial?

Em hidrologia, uma definição mais genérica de escoamento superficial


abrangeria desde o excesso de precipitação, que é definido como uma parte
da chuva que escoa superficialmente sobre a bacia, quando a intensidade da
precipitação é superior à capacidade de infiltração média do solo da bacia, cuja
água vai formar os filetes de água e os pequenos regatos efêmeros, que por
sua vez, vão formar os riachos, até o escoamento superficial total dos riachos e
rios perenes de uma bacia propriamente dito, que tanto podem ser alimentados
pelo excesso de precipitação, como pela água oriunda do subsolo de uma
bacia, que é denominado, em hidrologia, de escoamento básico.
Se olharmos um rio perene, veremos que o mesmo escoa sempre, daí a
palavra perene, às vezes, com grandes vazões, nas enchentes, em função do
excesso de precipitação que ocorre na bacia, e, às vezes, com baixas vazões,
nas estiagens, em função da escassez das chuvas na bacia, mas o rio sempre
escoa, em função das reservas de água que existem no subsolo da bacia, que
é abastecido pelas chuvas que se infiltra nos seus solos, que vai liberando as
vazões destes imensos reservatórios subterrâneos aos poucos, à medida que
os próprios níveis dos lençóis vão rebaixando em virtude desta liberação.

Solo Rio Lençol

Figura 6.1 Corte de uma bacia mostrando um rio e o lençol subterrâneo.

Assim, podemos dizer que os principais fatores que podem influenciar o


escoamento superficial de um rio em uma bacia, são:
a) O regime de precipitações na bacia hidrográfica, ou seja, a média que
precipita sobre a bacia e as suas distribuições, tanto ao longo dos anos, como
no decorrer dos anos. Por que a região nordeste tem em seu interior tantos rios
intermitentes? Entre outras coisas, é por causa do clima, que é semi-árido, e
da distribuição de chuvas, que é relativamente pouca e se concentra somente
em poucos meses do ano, com muitos meses de estiagens.
b) A capacidade de infiltração dos solos superficiais da bacia, pois é ela
que irá propiciar o abastecimento e o aparecimento dos lençóis no subsolo.
c) A cobertura vegetal das bacias, que retém parte da água da chuva na
bacia e aumenta a sua capacidade de infiltração, além de inibir o carreamento
do solo superficial para dentro dos rios, inibindo, assim, a erosão.
d) A área, o relevo e a topografia superficial das bacias das bacias, pois
quanto maior é a área, maior é a capacidade de produção aqüífera da bacia.
Já o relevo e a topografia, de um modo geral, influenciam mais é a capacidade
de retenção superficial da água da chuva na bacia e, portanto, a sua infiltração.
e) A estruturação do subsolo e das rochas que suportam o subsolo, que
formam os lençóis freáticos da bacia e que produzem o escoamento básico.

97
Quando a bacia tem baixa declividade, ela influencia mais a infiltração e
a capacidade dos lençóis e, portanto, o seu escoamento básico. Quando, por
outro lado, a bacia tem maior declividade, ela passa a influenciar mais o seu
escoamento direto que vão formar os rios, pois a água da chuva, nestes casos,
tem menos oportunidade de se infiltrar, nos solos da bacia.
f) A posição relativa do cristalino em relação à superfície do solo, pois o
posicionamento das rochas em relação à superfície do solo, ou seja, em outras
palavras, a profundidade do solo e do subsolo que, junto com a capacidade de
infiltração superficial da bacia, é que irão propiciar o aparecimento dos grandes
lençóis, pois estas camadas de rochas é que são os berços inferiores onde se
apóiam os lençóis freáticos que abastecem os rios nas bacias.
f) O subsolo da bacia, pois são as características do subsolo, como a
porosidade e o seu diâmetro médio, por exemplo, é que, entre outras coisas a
mais, é que irão definir a capacidade dos lençóis freáticos.

6.2 Características do escoamento superficial.

As principais grandezas que caracterizam o escoamento superficial são:


a) A vazão, que é definida, genericamente, como o volume escoado
pelo rio na unidade de tempo considerada, que, dependendo da sua própria
utilização podem ser tomadas como: vazão média plurianual; vazões médias
anuais; vazões médias mensais; vazões médias diárias ou mesmo vazões
instantâneas, que são as vazões em um instante considerado.
b) A hidrógrafa ou o hidrograma, é representação gráfica mais comum
de uma distribuição temporal de vazões, de uma determinada seção de um rio,
que, normalmente, pode ser representadas através de diagrama de colunas,
quando se tratam de vazões médias, anuais, mensais ou diárias, ou através do
próprio desenho de sua variação, quando se tratam de vazões instantâneas,
conforme mostram ambos os desenhos da figura 6.2.

Diagrama de colunas das vazões Hidrógrafa instantânea de uma


médias mensais, na exutória de chuva simples, na exutória de
uma bacia. uma bacia

Q Q

Meses do ano t Horas

Figura 6.2 Tipos de representações das hidrógrafas ou hidrogramas.

c) O coeficiente de deflúvio ou run-off, médio, de uma bacia, CD, que é


chamado também de rendimento médio da bacia, R, e é definido como a razão
entre o volume escoado superficialmente em um rio, em uma certa seção final
de uma bacia de drenagem, a sua exutória, e o volume precipitado que ocorreu
na área da bacia de drenagem, em um determinado tempo considerado.
Sobre este coeficiente, apesar de sua definição genérica, ele pode ter
na realidade duas definições bem distintas, como será comentado.

98
Assim, genericamente, tem-se:
VESC
CD = ----------- 6.1
VPREC

Primeiro, é bom lembrar que a relação adimensional da equação 6.1,


pode se referir às relações máximas, que existem, entre os volumes escoados
pelos rios em suas exutórias e os volumes precipitados nas bacias, logo após
uma chuva qualquer geralmente intensa, e, assim, a sua conceituação, nestes
casos, está estritamente ligada ao fenômeno da infiltração da água da chuva
nos solos da bacia quando ocorre uma precipitação bem intensa, sendo esta
relação ou coeficiente muito utilizado em drenagem superficial.
No segundo caso, o coeficiente de run-off define o rendimento médio da
produção aqüífera da bacia e é determinado em função da evapotranspiração
que ocorre na bacia e assim, nestes casos, além da designação de coeficiente
de run-off, ele, em língua portuguesa, também é chamado de rendimento da
bacia e reflete a capacidade percentual de produção de água da bacia.
Ambos são dois coeficientes bem diferentes um do outro, embora os
seus nomes sejam os mesmos e tenham as mesmas definições.
Neste capítulo, utilizaremos a primeira definição, a usada em drenagem.

6.3 Hidrógrafa de enchente uma chuva simples.

Chama-se hidrógrafa de uma chuva simples, a hidrógrafa resultante de


um escoamento superficial, quando uma chuva simples precipita sobre a bacia.

i
Hietograma de intensidades de precipitações médias
na bacia de drenagem.

Recessão do escoamento superficial


t

N
(QMAX, yMAX)
Q
Hidrógrafa de uma
Chuva simples
Q3 > Q1
y3 > y1
(Q1,y1) E. superficial (Q3,y3)

E. básico

t1 t2 t3 t

E. básico inicial E. básico + E. superficial E. básico fina

Figura 6.3 Hietograma e hidrograma de uma chuva simples, na bacia.

99
Denomina-se de chuvas simples, aquelas chuvas, geralmente intensas,
de origem convectiva, que se inicia, precipita e termina, sem intervalos, como
mostra o hietograma de intensidades de precipitações da figura 6.3.
Antes dessas precipitações caírem, em uma bacia urbana, por exemplo,
o que se têm nos gráficos da figura 6.3, que analisaremos aqui, em termos de
hidrograma, é o hidrograma do escoamento básico, chamado, na figura 6.3, de
básico inicial, caracterizado por níveis e vazões que são ligeiramente variáveis
no tempo, iguais à y1 e Q1, no tempo t1, já que os escoamentos básicos são
sempre declinantes, embora isto nem sempre possa ser notado facilmente, na
exutória considerada da bacia, pois esta variação é muito pequena no tempo.

Bacia de drenagem

Exutória

Rio principal

Figura 6.4 Bacia de drenagem com o rio principal e sua exutória.

Quando começa a chover bem forte e de maneira uniforme, na bacia,


um pouco antes do tempo t1, na figura 6.3, parte da água da chuva se infiltra,
nos solos e parte corre como escoamento superficial, sobre o solo e flui para o
rio, escoando até a exutória considerada da bacia, quando começa a chamada
hidrógrafa do escoamento total, no tempo t1, já que de agora em diante, o rio,
na sua exutória, onde serão medidas as vazões do hidrograma mostrado na
figura 6.3, terá uma parte do escoamento na forma de escoamento básico e a
outra parte, na forma de escoamento superficial direto, cujas vazões ascendem
geralmente rápidas, até o pico do hidrograma, no tempo 2, t2, quando ocorre o
declínio das intensidades da chuva intensa e, portanto, o declínio das vazões
totais, na sua exutória. Esta parte do hidrograma, de vazões totais, é chamada
de curva de recessão ou de depleção do escoamento total, que vai do tempo t2
até t3, quando termina o escoamento total, já que daí em diante, já não existirá
mais o escoamento superficial direto e começa, já com um outro nível e uma
outra vazão, y3 e Q3, bem diferentes da inicial, um outro escoamento básico,
que chamamos de final, na figura 3, já que depois das chuvas, o lençol freático
da bacia aumenta de nível, influenciando as suas próprias vazões básicas.

Níveis freáticos
Bacia Níveis do rio

Situação 3
Situação 2
Situação 1

Figura 6.5 Corte médio da bacia mostrando os níveis médios do lençol


freático, com linhas tracejadas e do rio, com linhas cheias, nos tempos 1, 2 e 3.

100
Na situação 1 ou no tempo 1, tanto na figura 6.5 como na exutória, tanto
o nível do lençol freático, como o do rio, y1, e, conseqüentemente, a vazão, Q1,
que é abastecida pelo próprio lençol freático da bacia, tem valores mínimos.
No tempo 2, quando a vazão de pico do rio é a máxima, é o rio que
abastece o lençol freático, já que, nesses poucos instantes, o seu nível é maior
que o nível do lençol freático.
No tempo 3, onde começa a segunda fase do escoamento básico, que é
chamado, aqui, de final, tanto o nível do lençol freático com o nível do rio, y3, e
logo a sua vazão, Q3, já serão maiores que nas condições iniciais.
Na prática, obtida a hidrógrafa do escoamento total, na exutória, que é o
somatório das vazões do escoamento básico mais o superficial, é bem difícil se
separar, corretamente, as vazões da hidrógrafa do escoamento básico, que é
proveniente do lençol subterrâneo, da hidrógrafa do escoamento superficial,
que escoa diretamente pela superfície do solo da bacia. Assim, esta separação
normalmente é feita, simplificadamente, alongando-se a linha da depressão da
hidrógrafa do escoamento básico inicial, no tempo 1, que é geralmente reta,
até o ponto em que a hidrógrafa do escoamento total atinge o seu máximo, no
tempo 2, para depois ser ligada através de outra linha reta, até o tempo 3.
Esta dificuldade acontece porque entre os tempos 2 e 3, na figura 6.3, o
nível do rio é maior que o do lençol e, teoricamente, abastece o próprio lençol
da bacia e o escoamento básico deste período ou, em pelo menos, parte dele,
deveria ser teoricamente negativo, como sugere o desenho da figura 6.6.

Formato simplificado

E. superficial

E. básico

t
Formato teoricamente correto da hidrógrafa do escoamento básico

Figura 6.6 Formato correto e simplificado do escoamento básico.

Uma outra coisa. Na prática, a determinação exata, do ponto 3, também


é muito complexa. Como os comportamentos individuais da curva de depleção
do escoamento total, que vai do tempo 2 ao 3, como da curva de depleção do
escoamento básico final, que ocorre depois do tempo 3 em diante, tem taxas
de decréscimos de suas vazões ao longo do tempo diferentes, e ambas têm os
seus formatos aproximados a uma função logarítmica, é comum a analise dos
dados em gráficos com papel mono-logarítmico, que apresentam ambas as
hidrógrafas como duas retas ligeiramente diferenciadas uma da outra, quando
são observadas no gráfico. A duração, que leva, do tempo 2 ao 3, é chamada
de tempo de recessão do escoamento superficial, N.
Assim, baseado nas dificuldades expostas, é comum admitir-se, para
estes tipos de cálculos, erros bem grandes de estimativas para os parâmetros
relacionados à hidrógrafa do escoamento superficial, como será visto.

101
6.3.1 Determinação do volume superficial de uma hidrógrafa.

Estabelecida a hidrógrafa de escoamento superficial, que é mostrada na


figura 6.7, em negrito, o volume escoado, VESC, será definido como a integral,
numérica das vazões do escoamento superficial, QSUP, em relação ao tempo,
entre os tempos 1 e 3.
t3
VESC = ∫ QSUP . dt 6.2
t1

VESC

t1 t2 t3 t

Figura 6.7 Estabelecimento da hidrógrafa de escoamento superficial e


seu volume, calculado através de integral numérica.

Para a determinação do volume escoado, VESC, de uma hidrógrafa de


uma chuva simples é necessário, primeiramente, desenhar a hidrógrafa em um
gráfico com papel milimetrado.
Após esta operação, deve-se analisar e marcar, no próprio gráfico da
hidrógrafa do escoamento total, os tempos 1 , 2 e 3, que são relativos ao início,
1, ao tempo em que a vazão total é máxima, 2, e relativa ao final da hidrógrafa,
de escoamento superficial, 3, separando-se nestes três pontos as hidrógrafas
relativas aos escoamentos básico e superficial, como mostra a figura 6.7.
O volume escoado superficialmente pela hidrógrafa deve ser calculado
através da integral da equação 6.2, utilizando-se de qualquer método numérico
adequado com os valores, já separados, de tempos e de vazões superficiais.
Estes tipos de problemas podem ser resolvidos, por exemplo, de forma
gráfica, para uma melhor visualização do mesmo, ou também de forma tabular,
transformando a integral da equação 6.2 em um somatório, como será visto no
próximo exemplo.
n
VESC = ∑ QSUP . ∆t 6.3
i

Exemplo 6.1 Na tabela 6.1 aparecem os dados numéricos relativos a


uma hidrógrafa de escoamento total de uma chuva simples, ocorrida em uma
bacia, cujas vazões dos escoamentos básicos iniciais e finais são constantes,
de propósito, para simplificar a visualização e resolução do exemplo. Separe a
hidrógrafa de escoamento básico da hidrógrafa de escoamento superficial e
verifique qual é o volume relativo ao escoamento superficial direto na bacia.

102
Tabela 6.1 Dados da hidrógrafa de escoamento total.
3
t (min) Q (m /s)

0 0,50
10 0,50
20 0,50
30 1,00
50 2,50
80 5,50
100 4,70
130 2,70
150 1,60
170 1,00
180 0,80
190 0,70
250 0,70
300 0,70

Resolução: Abaixo, na figura 6.8, está mostrada, com as linhas cheias e


retas, a hidrógrafa do escoamento total, separada da hidrógrafa referente ao
escoamento básico, que se situa abaixo, e do escoamento superficial.

Q (m3/s)

3
QSUP
2
QBAS
1 1 2 3

0 50 100 150 200 250 300 t (min)

Figura 6.8 Hidrógrafas dos escoamentos, total, básico e superficial.

A tabela 6.2 apresenta o problema proposto, na forma tabular.


Na coluna 2, tem-se a hidrógrafa do escoamento total.
Na coluna 3, a hidrógrafa do escoamento básico inicial, até o tempo de
20 minutos, a hidrógrafa de escoamento básico final, que vai de 190 minutos
em diante e a hidrógrafa do escoamento básico entre os tempos de 20 e 190
minutos, cujos dados são calculados através de interpolação linear.
Na coluna 4, os dados da hidrógrafa do escoamento superficial, que são
iguais às vazões totais da coluna 2 menos as vazões básicas da coluna 3.
Na coluna 5, às vazões médias superficiais, QMED.SUP, iguais às médias
aritméticas das vazões, da coluna 4, nos diversos intervalos de tempos.
Na coluna 6, os diversos intervalos de tempo, ∆t.
Na coluna 7, os diversos incrementos de volumes, ∆V, em m /s. min.
3

103
Veja que o volume final da hidrógrafa de escoamento superficial deu um
3 3
volume de 364,9 m /s.min, que é igual a 21 894 m .

Tabela 6.2 Cálculo do volume escoado superficialmente, através da


integração numérica dos dados de vazões superficiais diretas.

1 2 3 4 5 6 7

t Q QBAS QSUP QMED.SUP ∆t QMED.SUP. ∆t


(min) (m3/s) (m3/s) (m3/s) (m3/s) (min) (m3/s. min)

0 0,50 0,50 0,00


0,00 10 0,00
10 0,50 0,50 0,00
0,00 10 0,00
20 0,50 0,50 0,00
0,25 10 2,5
30 1,00 0,50 0,50
1,25 20 25,0
50 2,50 0,50 2,00
3,50 30 105,0
80 5,50 0,50 5,00
4,58 20 91,6
100 4,70 0,55 4,15
3,13 30 93,9
130 2,70 0,59 2,11
1,54 20 30,8
150 1,60 0,63 0,97
0,66 20 13,2
170 1,00 0,66 0,34
0,23 10 2,3
180 0,80 0,68 0,12
0,06 10 0,6
190 0,70 0,70 0,00
0,00 60 0,00
250 0,70 0,70 0,00
0,00 50 0,00
300 0,70 0,70 0,00
∑ = 364,9

Exercício 6.1 Na tabela 6.3 aparecem os dados da hidrógrafa de uma


chuva simples, ocorrida em uma bacia. Verifique qual é o volume relativo ao
escoamento superficial direto na bacia.

Tabela 6.3 Dados da hidrógrafa de escoamento total.


3
t (horas) Q (m /s)

0 5,0
1 5,0
2 5,0
3 10,0
4 15,0
5 20,0
6 15,0
7 10,0
8 8,0
9 7.0
10 7,0

104
6.4 Tipos de enchentes segundo o critério de Horton.

Horton, de forma simplificada, divide os hodrogramas das enchentes em


quatro tipos principais diferentes.
Para entendermos, melhor, estes conceitos, vejamos a explicação.
O solo de uma bacia quando está seco, tem sempre uma deficiência de
umidade, DUS, e para entendermos o que é esta deficiência de umidade, temos
que compará-lo com uma esponja seca. Quando uma esponja de plástico está
seca, se jogarmos um pouco de água sobre ela, veremos que ela absorve bem
o conteúdo de água e não o deixa cair, por gravidade. E por que isto ocorre? È
por causa da tensão superficial das moléculas da água, das famosas pontes
de hidrogênio, que unem as moléculas de água ao material da esponja. A água
só começa a cair, quando atinge uma condição máxima de umidade, ou seja,
quando está ensopada, quando o peso da água supera as forças que o resiste.
No solo, é a mesma coisa, a água da chuva quando cai, parte se infiltra
e umedece o solo superficial, que, à medida que atinge uma certa capacidade
máxima de umidade, que, em hidrologia, é chamada de capacidade de campo,
permite que as camadas de solo inferiores a ela absorvam água também, até
que, esta frente vertical de umidade, que têm velocidades de movimentação
muito variáveis, a depender de uma série de características do solo e também
do subsolo, como o tipo, a estrutura, a granulometria, a espessura e os seus
diferentes graus de deficiência de umidades, que variam como um gradiente,
com maiores deficiências na superfície do solo e menores, à medida que se
aprofunda, até que se atinja a superfície do aqüífero freático, que é saturada.
O aqüífero é a zona mais inferior do subsolo, que fica sobre o cristalino,
onde a água fica semi-confinada, mas se movimenta, sobre o próprio cristalino,
devido à força da gravidade, e com o subsolo local, que a envolve, saturado. É
este aqüífero que produz a vazão básica que alimenta o rio, na bacia.
Vamos supor, agora, uma bacia que tenha um escoamento básico, mas
esteja com uma grande deficiência de umidade do solo, DUS, como mostram os
vários hidrogramas do diagrama de Horton, na figura 6.9.
A classificação de Horton leva em conta a intensidade da precipitação
média na bacia, iC, a altura total precipitada, HP, e algumas características do
solo, como a sua capacidade de infiltração média, temporal e territorial, iS, e a
deficiência de umidade do solo, DUS.
Vamos supor, também, que sobre esta bacia precipitem vários tipos de
chuvas, desde as mais fracas até as mais fortes, e desde as chuvas rápidas às
mais demoradas.
O tipo de cheia, do tipo 0, segundo Horton, só existe, ou melhor falando
inexiste, como veremos, quando chove na bacia, mas a intensidade média da
chuva, iC, é muito baixa, menor que a capacidade média de infiltração do solo,
iS ou seja, toda a água da chuva se infiltra e não há escoamento superficial, e
cuja precipitação total, HP, que é igual à intensidade, iC, vezes a duração da
chuva, DC, é menor que a própria deficiência de água do solo, DUS, ou seja,
chove, a água se infiltra, mas o solo fica apenas umedecido, mas não atinge a
sua capacidade de campo e, portanto, os aqüíferos não se alteram, em termos
de seu volume. Ou seja, é aquele tipo de chuva fraca e curta, em solo seco.
É claro que, nestes casos, a vazão básica continuará a declinar, como
antes, em função do declínio do aqüífero, que não se alterou.

105
O tipo de cheia, do tipo 1 só existe quando a intensidade da chuva, iC, é
menor que a capacidade média de infiltração do solo, iS, ou seja, não existe o
escoamento superficial direto, QSD, mas a precipitação total, HP, é maior que a
deficiência de umidade do solo, DUS, ou seja, o solo se umedece demais, passa
da capacidade do campo, a água se infiltra, profundamente, e altera o volume
do seu lençol freático. Ou seja, só existe a alteração da vazão do rio por causa
do aumento da vazão básica. Este tipo de hidrograma é típico das chuvas que
têm poucas intensidades mas são de longas durações.
O tipo de cheia, do tipo 2 só existe quando a intensidade da chuva, iC, é
maior que a capacidade média de infiltração do solo, iS, ou seja, agora existe o
escoamento superficial direto, QSD, mas a precipitação total, HP, é menor que a
deficiência de umidade do solo, DUS, ou seja, o solo se umedece, mas retém a
água e não altera volume freático. Ou seja, só existe alteração momentânea da
vazão do rio por causa do seu escoamento superficial. Este tipo de hidrograma
é típico de chuvas intensas, mas de curtas durações.
O tipo de cheia, do tipo 3, só existe quando a intensidade da chuva, iC,
é bem maior que a capacidade média de infiltração do solo, iS, ou seja, existe o
escoamento superficial direto, QSD, e a precipitação total, HP, também é bem
maior que a deficiência de umidade do solo, DUS, ou seja, o solo se umedece,
só retém parte da água da chuva e altera o volume do lençol freático. Ou seja,
existe a alteração momentânea das vazões do rio, por causa do escoamento
superficial e a alteração das vazões totais devido à alteração da vazão básica.
Este é o tipo de hidrograma típico de chuvas intensas de longa duração, que
permite o aumento do escoamentos básicos e superficiais.

Tipo 0 Tipo 1 Tipo 2 Tipo 3

Q Q Q Q

T t t T

Intensidade da
IC < iS IC < iS IC > iS IC > iS
chuva iC
Deficiência de
umidade do
DUS > HP HP > DUS DUS > HP HP > DUS
Solo DUS

Escoamento
superficial Não existe Não existe Existe Existe
direto QSD
Acréscimo de
água no Não existe Existe Não existe Existe
aqüífero AF
Aumento da Existe: Existe: Existe:
vazão total QT Não existe
Q Bás Q Sup Q Bás + Q Sup

Figura 6.9 Diagramas de cheias, de Horton.

106
Capítulo 7
Infiltração

7.1 O que é infiltração.

É o fenômeno de umidificação e de penetração da água da chuva nas


camadas de solos próximas à superfície da bacia, à medida que as camadas
superficiais vão atingindo as suas capacidades de campo, gradativamente, no
sentido vertical, para depois, sob a ação da gravidade e mais profundamente,
formarem os lençóis subterrâneos das bacias, no subsolo e sobre o cristalino.
Em hidrologia, o estudo da infiltração é muito importante, e é analisada
de acordo com o que se deseja, na prática.
Por exemplo, em agronomia, a avaliação da capacidade de infiltração
superficial dos solos, que é chamada de curva de infiltração, é muito utilizada
em irrigação, para não se desperdiçar a água a ser irrigada, que é cara, já que
as intensidades das irrigações devem ser, sempre, menores que as próprias
capacidades de infiltrações dos solos a serem irrigados. Um outro exemplo,
agora em saneamento do meio, principalmente o rural, é o conhecimento da
capacidade média de infiltração do solo para o dimensionamento de fossas
sépticas domesticas. Normalmente estes dois ensaios, tanto para agronomia
como para o saneamento, são realizados localmente, através de metodologias
um pouco diferenciadas uma da outra.
Em hidrologia, pode-se estudar, também, a capacidade de infiltração em
bacias de drenagens, ao invés de analisá-la localmente, para a determinação
do coeficiente de run-off ou de deflúvio, ou da curva ou índice de infiltração de
bacia de drenagens, que são muito utilizados para o cálculo de vazões de
enchentes, como veremos.

7.2 Definição da velocidade ou capacidade de infiltração.

É a capacidade com que um solo é capaz de absorver água através de


uma determinada área horizontal, por estar seco e por ação da aceleração da
gravidade. Esta velocidade fictícia é igual à vazão que se infiltra dividida pela
área horizontal da secção transversal do solo, incluindo aí, não só as áreas
relativas aos grãos de solo, como também às áreas dos canalículos existentes
nos interstícios no solo, por onde a água realmente circula verticalmente, já
que a velocidade real seria a vazão dividida pelas áreas dos poros do solo.

Precipitação

Área (A) ⇒ Esc. Superficial


Infiltração

Figura 7.1 Balanço hídrico simplificado de uma pequena área de solo.

107
Portanto, define-se como capacidade de infiltração, i, como:

Vazão Vol. H.A


i = ----------- = -------------------- = ----------- 7.1
Área tempo . Área t.A

Logo, a unidade de capacidade de infiltração é:

H
i = -------- = (mm/h) 7.2
t

Onde i é a capacidade de infiltração ou a velocidade virtual da infiltração.

Observação: Quando se realizam ensaios de infiltração localizados dos


solos, a velocidade média real de infiltração da água no solo, já que a água só
circula realmente nos interstícios do solo, ou seja, nos seus espaços vazios, é
igual à capacidade de infiltração no solo local, i, dividido por sua porosidade,
como foi estudado no curso de mecânica dos solos, sendo este valor real, no
entanto, menos utilizado que a virtual, já que em hidrologia, quando se faz os
balanços hídricos, se trabalha com o conceito de bacias e, conseqüentemente,
se utilizam as suas áreas superficiais.

7.3 Alguns fatores que influenciam a capacidade de infiltração.

De forma bem sintética, pois os mecanismos de infiltração em bacia são


bem complexos, os fatores que mais influenciam a infiltração superficial, nas
bacias de drenagens, são:

a) A umidade do solo. Quanto mais seco estiver o solo da bacia, maior


é a deficiência de água e, portanto, maior, é a capacidade de infiltração.
b) A permeabilidade do solo. A infiltração depende da granulometria e
do grau de compactação do solo superficial.
c) A temperatura do solo. Influencia a viscosidade da água. No verão,
maior é a temperatura do solo e da água e menor é a viscosidade da água e,
logo, maiores são as capacidades de infiltrações, relativas.
d) A declividade da bacia. As bacias que são planas, com menores
declividades, tendem a ter maiores capacidades de infiltração, se comparadas
com as de bacias de drenagens mais íngremes.
e) A cobertura vegetal e a presença de seres vivos. A cobertura
vegetal Inibe o escoamento superficial da água da chuva no terreno superficial
da bacia, favorecendo a infiltração. A presença de matéria orgânica e, logo, de
alimentos, favorece, também, o aparecimento de uma cadeia de insetos e de
minhocas e também de pequenos mamíferos, que perfuram o terreno da bacia,
favorecendo também os mecanismos da infiltração.
f) As atividades humanas. Modificam as características superficiais do
solo das bacias urbanas, introduzindo pavimentos artificiais sobre os solos das
cidades ou através de plantações, utilizando-se ou não, curvas de níveis, além
de destruírem as florestas nativas das bacias, que retém parte da água chuva
e diminuem o escoamento superficial direto nas bacias.

108
7.4 Medidas de infiltração.

Os métodos utilizados para se medir da infiltração, sejam elas locais ou


em bacias, estão muito ligados ás próprias finalidades para os quais elas se
destinam. Assim, dependendo da característica do fenômeno estudado, pode-
se empregar alguns métodos específicos, como:

7.4.1 Infiltrômetros.

São aparelhos específicos, destinados a medir as capacidades locais de


infiltração dos terrenos, e trabalham utilizando-se várias metodologias.

a) Infiltrômetros de inundação.

Este tipo de teste, devido a sua facilidade de execução, é muito utilizado


em agronomia, e consiste em fincar-se, no solo, dois cilindros concêntricos,
sendo um de diâmetro maior que o outro. A medição da infiltração é realizada
somente através do cilindro menor, mais interno, verificando-se os volumes
infiltrados nas unidades de tempo, na área do cilindro menor interno, Ai.

Proveta graduada
em volume
Cilindro de medição
Nível d’água
Terreno

Ai Bulbo de infiltração
↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓

Figura 7.2 Infiltrômetro de inundação.

∆ Vol
i = ------------ (mm/h) 7.3
A . ∆t

O teste é simples: fincados os dois tubos, concêntricos, no solo, até que


ambas as bordas fiquem, mais ou menos, a uns cinco milímetros ou menos, da
superfície do solo, para tentar simular uma enchente da irrigação na plantação,
com o tubo exterior um pouquinho mais elevado do que o interior, para não
deixar a água cair para fora do aparelho. Depois, enche-se ambos os tubos até
que os níveis, do tubo exterior e do interior, sejam o mesmo, e, a partir deste
tempo, inicia-se o ensaio, preenchendo-se, sempre, os volumes infiltrados do
tubo interno que vão se escoando, com a proveta graduada, de forma que a
altura inicial da água, no tubo interno, fique constante, durante todo o ensaio,
medindo-se os respectivos volumes que infiltram no tempo, toda vez que o
nível abaixa. O nível do tubo externo é mantido com outra fonte de água e não
é medido, pois ele só serve para minimizar o avanço lateral do bulbo.

109
Estes testes permitem determinar-se a família de curvas, em função das
umidades iniciais do solo, para cada início de ensaio, se for realizados vários
ensaios, ou simplesmente, uma única curva, quando se faz, apenas, um único
ensaio, conforme tenta mostrar a figura 7.3, com o seu formato de uma curva
exponencial típica.
-K . t
i i = iF +( iI - iF ). e
Curva de Horton
Terreno mais seco
Terreno mais úmido iF = Vel. básica de infiltração

Figura 7.3 Curvas típicas de infiltração de um solo.

Nestes tipos de curvas de infiltração, muito estudadas por Horton, iF, é a


velocidade final, que é bem baixa, em relação a inicial e, aproximadamente,
constante, já que ao final do ensaio, o solo superficial ensaiado já está bem
saturado, sendo denominada de velocidade básica de infiltração. A velocidade
inicial, ii, é bem mais alta que a velocidade final, já que no início do ensaio, o
solo está seco e a infiltração se processa em um meio não-saturado.

Observação: Este tipo de teste, apesar de simples, danifica o terreno,


na hora de se fincar os cilindros sobre o solo, e mascara os resultados. Já os
dois cilindros, são colocados porque nestes tipos de ensaios, na realidade, a
frente de infiltração não é vertical, mas sim, com o formato de um bulbo, daí se
utilizar apenas os volumes infiltrados no cilindro interno, cujo escoamento, com
dois cilindros, é bem mais vertical.

b) Teste de percolação.

Este tipo de teste é muito utilizado para o dimensionamento correto do


sumidouro de fossas, principalmente no meio rural. O mesmo já é padronizado
e realizado aproximadamente como se segue (36):
a) Faz-se um buraco no solo com o formato de um cubo regular com 30
cm de arestas. No fundo, coloca-se uma camada com 5 cm de brita.
b) Enche-se o buraco com água, várias vezes, deixando que a água se
infiltre o solo, até que as velocidades de infiltração sejam mínimas ou iguais às
velocidades básicas de infiltração, com o meio, ao seu redor, já bem saturado.

Solo 30 cm
Nível d’água

Solo
30 cm
Britas

Figura 7.4 Buraco no solo para o ensaio de percolação.

110
c) Após um bom tempo de ensaio, quando as velocidades de infiltração
forem mínimas, medir o tempo, em minutos, para que o nível da água, no
infiltrômetro, caia um centímetro, com uma régua graduada.
d) A velocidade básica de infiltração, também chamada de coeficiente
2
de infiltração, Ci, em l/m /dia, é calculada pela equação abaixo, onde o tempo
de rebaixamento, tR, é medido em minutos:

490
Ci = ------------- 7.4
t R+ 2,5

Em geral, os coeficientes de infiltração, Ci, se situam aproximadamente


nas faixas mostradas na tabela 7.1.

Tabela 7.1 Coeficientes de infiltração, em função do tipo de solo.


2
Tipo de solo Ci (l/m /dia)

Areia grossa > 90


Areia com silte ou argila 60 a 90
Argila com areia ou silte 40 a 60
Argila com pouco silte 20 a 40
Rocha com argila < 20

Exemplo 7.1 Suponha-se que uma casa produza um volume efluente


de esgoto, VE, igual a 1.000 l por dia e que o ensaio de percolação local
precisou de 5 minutos para rebaixar a água cerca de 1 cm. Pergunta-se, qual
deve ser a área de infiltração do sumidouro, Ai, que será de forma cilíndrica,
por onde a água se infiltrará, e qual deverá ser a sua altura, admitindo-se que
o mesmo terá um diâmetro interno, DS, de 1,5 m, e será construído com tijolos
perfurados e apoiado em britas, tanto nas laterais como no fundo?

Solo

NA
NA
Tubo de entrada
Fossa

Alvenaria de
tijolos maciços
Alvenaria de
tijolos vazados
Sumidouro
Britas
1,50 m

Figura 7.5 Fossa séptica tradicional e sumidouro.

111
Resolução: Se tR é igual a 5 minutos, tem-se que:

490
2
Ci = ------------- = 65 l/m /dia 7.5
5 + 2,5

Logo, a área de infiltração do sumidouro, Ai, por onde a água se infiltra,


será de:
VE 1.000 l/dia
2
Ai = --------- = ----------------- = 15 m 7.6
2
Ci 65 l/m /dia

Portanto, se a área total de infiltração do sumidouro, de forma cilíndrica,


é igual a 15 m2 e se o se diâmetro interno é de 1,5 m, tem-se que:

AS = π . DS2/4 + π . DS.HS 7.7


Logo
HS = 2,80 m 7.8

c) Simulação da precipitação com aspersores.

É um outro método de avaliação da capacidade de infiltração bem


utilizado em agronomia e consiste em cercar-se uma determinada área, com a
área conhecida, um pouco inclinada, para permitir que a água que fica sobre o
solo escoe por gravidade e mede-se, durante a irrigação, que normalmente
tem intensidades bem maiores que a própria capacidade de infiltração do solo,
a altura precipitada, através de micro-pluviômetros, que são instalados na área
de simulação e a altura que escoa superficialmente e que cai, por gravidade,
na superfície de medição e sai da mesma, ao final da bacia.

Micro-pluviômetros Declives
o o o o

Saída

o o o o


Área delimitada e micro-murada Vol. escoado.

Figura 7.6 Área para o cálculo do índice de infiltração.

a) Mede-se a altura precipitada média total nos micro-pluviômetros.


b) Mede-se a altura escoada, que igual ao volume escoado na área.
c) Calcula-se a altura infiltrada total na área de ensaio, subtraindo-se da
altura precipitada, a altura escoada.
d) Calcula-se o índice médio de infiltração do terreno, que é admitido no
ensaio como constante e igual à altura escoada dividida pela própria duração
do ensaio, e que, geralmente, é superior a velocidade básica de infiltração.

112
A tabela 7.2 mostra, a título de ilustração, alguns valores de velocidades
básicas de infiltrações, em função do tipo de solo e do seu peso específico
aparente, que é igual ao peso do solo dividido por seu volume total.

Tabela 7.2 Alguns valores de velocidades básicas de infiltração médias


em função da textura e do peso específico aparente do solo.

Textura do solo Velocidades básicas Peso específico


de infiltração aparente do solo
3
(mm/h) (Kg/l ou Ton/m )
Arenoso 50 1,65
Barro-arenoso 25 1,50
Barro 13 1,40
Barro-argiloso 8 1,35
Argilo-arenoso 2,5 1,30
Argiloso 0,5 1,25

Exercício 7.1 Você notou que a tabela 7.1 apresenta os coeficientes de


infiltração, Ci, em l/m2/dia e que a tabela 7.2 apresenta as velocidades básicas
em mm/h. Se o coeficiente de infiltração, de um solo bem arenoso, fosse de
60 l/m2/dia, quanto este seria, adotando as suas unidades como mm/h?

7.5 Infiltração em bacias de drenagem.

Os métodos para se determinar o índice de infiltração em bacias já são


mais complexos, pois eles exigem o emprego de um medidor de vazão, ao final
da bacia, para se conhecer a hidrógrafa do escoamento total, resultante da
própria chuva na bacia, além da separação desta hidrógrafa em hidrógrafas de
escoamentos básico e superficial, para se determinar o volume escoado direto
superficialmente, como já foi estudado no item 6.2.1 e mostra a figura 7.7.
Ele exige também, pelo menos, um pluviógrafo instalado na bacia, para
se observar o hietograma pontual da precipitação e de vários pluviômetros na
bacia, para se medir a precipitação média sobre ela e se corrigir o hietograma,
analisado através do pluviógrafo. A correção é feita através do confronto da
precipitação média da chuva e da precipitação total medida no pluviógrafo.
A infiltração e analisada através do balanço hídrico da precipitação e do
escoamento superficial direto.

HP
Hietograma de intensidades de precipitações
médio na bacia

t
Q Hidrógrafa de uma
chuva simples

E. superficial
Escoamento básico

t
Figura 7.7 Hietograma da precipitação e hidrógrafa resultante na bacia.

113
7.5.1 Determinação prática do coeficiente de run-off ou de deflúvio.

O coeficiente de deflúvio máximo provável de uma bacia, que não deve


ser confundido com o coeficiente de deflúvio médio da bacia, e que é mais
conhecido como rendimento da bacia, conforme mostra o item 1.4.1, pode ser
observado durante as tormentas, já que partes dos volumes precipitados, na
bacia, escorrem sobre o solo, na forma de escoamento superficial direto, e vão
provocar as enchentes. Como se define e se calcula este coeficiente?
Define-se o coeficiente de deflúvio ou run-off, C, como a razão entre os
volumes, escoado superficialmente e o precipitado, de uma chuva simples, ou:

VESC
C = ----------- 7.9
VPREC

Na equação 7.9, VESC é o volume escoado superficialmente pela bacia,


definido através da integração numérica da vazão do escoamento superficial,
QSUP, conforme mostra o item 6.2.1.
t3
VESC = ∫ QSUP . dt 7.10
t1

O volume total precipitado, VPREC, é calculado através do somatório das


alturas precipitadas, do hietograma, HP, estudado no item 4.5, vezes a área da
bacia, AB, ou:
VPREC = ∑ HP . AB 7.11

Exercício 7.1 Nas tabela abaixo aparecem os dados do hietograma de


uma chuva simples, à direita, e da hidrógrafa, de uma cheia ocorrida em uma
2
pequena bacia, com área igual a 2 km , à esquerda. Reveja, se for necessário,
os itens 6.2.1 e 4.5, e verifique qual é o coeficiente de run-off, C, da bacia.

Tabela 7.2 Dados da hidrógrafa de escoamento total e do hietograma


de alturas precipitadas de uma chuva simples.

Dados da hidrógrafa Dados do hietograma


3
t (min) Q (m /s) t (min) H (mm)

0 0,20 0 0
10 0,20 10 2,0
20 0,20 20 4,0
30 2,00 30 13,0
50 5,00 40 8,0
80 10,00 50 5,0
100 9,00 60 3,0
130 5,00 70 2,0
150 3,00 80 1,0
170 2,00
180 1,50
190 1,00
250 0,40
300 0,40

114
7.5.2 Determinação do índice de infiltração médio para a bacia e do
hietograma de precipitações efetivas.

O índice de infiltração, tomado como constante, é muito utilizado para se


avaliar a capacidade de infiltração média de bacias, porque o cálculo da curva
de infiltração, para bacias, é bem complexo, fugindo do escopo desta parte
inicial deste livro, que propedêutico e destinado a alunos de graduação.
O índice de infiltração, Ii, é definido como a capacidade média temporal
de infiltração dos terrenos de uma bacia. Como ele é determinado?
O índice de infiltração, que é constante para uma bacia, tanto em termos
temporais como geográficos, é uma concepção simples de se trabalhar com a
infiltração, já que a determinação das curvas de infiltração para bacias, é mais
complexa, onde Ii é igual a:
hiT
Ii = --------- 7.12
DTi

Na equação 7.12, Ii é o índice de infiltração, hiT é a altura infiltrada total


e DTi é a duração total da infiltração, que é admitida como igual à duração da
precipitação, DTP, já que, primeiro, o tempo médio de infiltração na bacia, é
difícil de se determinar, na prática, e já que, segundo, a infiltração só ocorre,
aproximadamente, durante o próprio período da chuva, podendo assim ser
determinado facilmente, através do gráfico do pluviógrafo.
Como a altura infiltrada total da água da chuva na bacia, hiT, é igual à
diferença entre a altura precipitada total, hpT, e a altura escoada total direta,
heT, na bacia, tem-se que:
hpT - heT
I = --------------- 7.13
DTP

A determinação do índice de infiltração de uma bacia, normalmente é


realizada como se segue (51):
a) Escolhe-se uma bacia onde se conheçam a sua área e o talvegue ou
o leito de saída das águas superficiais, a sua exutória.
b) Instala-se um pluviógrafo e um ou mais pluviômetros no terreno onde
se encontra a bacia a ser estudada, de forma a medir-se, convenientemente,
todas as alturas precipitadas, hpT, e todas as durações das precipitações, DT,
que ocorrerem na bacia, durante a fase de experimentos.
c) Instala-se um medidor de vazão ao final da bacia, para medir-se as
hidrógrafas de escoamentos totais, básicos e assim, as superficiais, e verificar
as alturas escoadas superficialmente, heT.
d) Determina-se o índice de infiltração da bacia, através da equação
7.13, subtraindo-se, da altura precipitada total, hpT, a altura escoada total, heT,
e dividindo-se pela duração total da chuva, DT.

Exercício 7.2 Verifique, continuando a análise realizada neste capítulo,


sobre infiltração, qual é o índice de infiltração em, mm/h, correspondente aos
dados do exercício 7.1.

115
7.5.3 Precipitação efetiva sobre uma bacia.

Dado um hietograma de intensidade de precipitações de uma chuva e a


curva ou o índice de infiltração característico da bacia, chama-se precipitação
efetiva que cai sobre a bacia, as partes da precipitação que não se infiltram e
que ocasiona o aparecimento da hidrógrafa de escoamento superficial.
Em outras palavras, pode-se dizer também que a definição dada acima
significa que a precipitação efetiva é toda a precipitação que ocorre, menos à
parte ou o volume da precipitação que se infiltra nos terrenos da bacia, sendo,
portanto, como mostra o desenho que fica à esquerda, da figura 7.8, a parte
superior do hietograma de intensidades de precipitações, que está em negrito,
e que corresponde às intensidades de precipitações do hietograma i menos o
índice de infiltração I. Esta precipitação efetiva é a que, efetivamente, provoca
o escoamento superficial na bacia, assinalado também em negrito, no desenho
à direita da figura 7.8 (51).

Hietograma de intensidades de precipitações efetivas

i (mm/h) Q (m3/s) Escoamento


superficial

Índice de infiltração
Escoamento
básico
Parte da chuva
que infiltra -------------------- I

0 0
0 t 0 t

Figura 7.8 Hietogramas conjuntos de intensidades de precipitações e de


intensidades de precipitações efetivas, mostrado em negrito, e hidrógrafa do
escoamento superficial na bacia, também em negrito.

Exercício 7.3 Verifique, a partir da análise mostrada no presente item,


qual é o hietograma de intensidades de precipitações efetivas, relativo aos
dados do exercício 7.1?

Exercício 7.4 Verifique, continuando a resolução dos exercícios 7.3,


qual é a duração total do hietograma de intensidades de precipitações efetivas
relativa aos dados do exercício 7.1?

Observação: É bem comum, principalmente em livros de hidrologia que


são mais avançados, se trabalhar não com o índice de infiltração, I, que nós
tentamos explicar ao prezado leitor, mas com as curvas de infiltração, para se
definir o hietograma de precipitações efetivas, cujas metodologias de cálculo
são bem mais complexas do que a do índice de infiltração e que, do ponto de
vista prático, didático e propedêutico, não traria grandes benefícios ao nosso
leitor, que esta apenas se iniciando neste campo da ciência.

116
Capítulo 8
Método racional.

8.1 Uso do método racional no cálculo de vazões de enchentes.

O método mais simples e utilizado para cálculos de vazões máximas de


enchentes em bacias, é o método racional. Por este método, a vazão extrema
que escoa pelo rio de uma bacia, quando ocorre um temporal, cuja duração
seja igual ou superior ao tempo de concentração da bacia, é calculada pela
equação:
Q = CD . iMB . A 8.1

Na equação 8.1, que é homogênea, Q é a vazão máxima, cuja unidade


3
normalmente adotada é em m /s, iMB é a intensidade média de precipitação na
bacia, em m/s, A é a área da bacia em m2 e CD é o coeficiente adimensional
de deflúvio. Na equação 8.1, a intensidade média iMB é calculada através da
equação de chuvas intensas da localidade analisada, para uma duração, D,
normalmente igual ao próprio tempo de concentração da bacia, tC, e para um
tempo de recorrência, T, pré-arbitrado, pelo calculista.

8.1.1 Cálculo do tempo de concentração.

Por definição, pode-se dizer que o tempo de concentração da bacia, tc,


é o tempo que leva, desde o início de uma dada chuva intensa qualquer, para
que toda a área da bacia concorra com o escoamento superficial.
Ora, para que “toda a área da bacia” concorra com a vazão ao seu final,
é uma definição bem complicada, pois existem certas áreas das bacias, como,
por exemplo, as áreas gramadas, com densa vegetação, que quase que não
deixam a água da chuva se movimentar livremente na sua superfície, durante
os temporais, ou seja, por menor que fosse a bacia, o tempo de concentração
seria de horas, o que seria incoerente, enquanto outros tipos de áreas, como
as pavimentadas e lisas, deixam a água se mover com muita facilidade.
Como se ponderar, então, sobre o tempo de concentração de bacias,
que tem uma diversidade muito grande de detalhes, como a rugosidade do seu
solo, o relevo; a sua vegetação, rasteira e de grande porte; a sua declividade; a
presença de riachos ou rios; a presença de micro e macro-depressões, onde
aparecem, eventualmente, lagoas; a presença de superfícies artificiais feitas
pelo homem; a direção e o sentido das chuvas e outras características, de uma
maneira simples, levando-se em consideração apenas as suas características
superficiais principais? É claro que uma resposta mais exata seria complexa.
Em projetos de drenagem, de uma maneira simplificada e direta, pode-
se considerar o tempo de concentração tC como o somatório dos tempos que
as águas da chuva levam para cumprir as seguintes etapas mostradas abaixo:
a) Umidificar as camadas superficiais do solo dos terrenos da bacia de
drenagem, tUS, para, posteriormente, escoar pela superfície do solo da bacia,
já que no inicio da chuva, quase toda a água precipitada geralmente se infiltra,
nos solo seco da bacia, embora isto também não seja um regra geral.

117
i (mm/h)
Intensidades das precipitações

Tempo onde começa o


escoamento superficial
propriamente dito

Curva de infiltração
(Pontilhada)

Tempo inicial de 0
umidificação do solo. 0 D ( min )

Período inicial em que quase toda


tUS a água da chuva se infiltra.

Figura 8.1 Representação, junto com o hietograma de intensidades de


chuvas, do tempo de umidificação inicial do solo, tUS.

b) Preenchimento das depressões naturais que existem não terreno da


bacia, tPD, antes de começar a escoar efetivamente no terreno da bacia. Ora,
em todas as bacias existem depressões, pequenas ou grandes, e a água da
chuva só escoa efetivamente sobre o terreno da bacia depois de preencher as
depressões, evidentemente depois que umidificar o solo, que é a primeira fase.
Observação: Em anteprojetos de drenagem de pequenas bacias, tanto o
tempo requerido para a umidificação do terreno ou solo da bacia, tUS, como o
tempo requerido para o preenchimento das micro-depressões, tPD, são muito
difíceis de serem analisados, sendo estimados, empiricamente, a depender da
experiência do projetista, com valores entre 0, ou seja, desprezível, a 5 min, a
depender também das características superficiais da bacia de drenagem.
Se houver grandes depressões, com lagos ou açudes, ao final da bacia
o tempo para que a água leva para preencher o volume deficitário do lago,
tem que ser computado também. Este, normalmente é calculado através de
cálculos iterativos, dede que se conheça o volume deficitário do lago, VL, como
será visto mais à frente.
c) Período de tempo para que a água do escoamento superficial leva
para se deslocar livremente sobre a superfície do terreno, até atingir a exutória
da bacia de contribuição, tES, ou o seu ponto considerado.
De uma maneira simplificada, esta duração pode ser estimada, com
uma razoável precisão, utilizando-se a fórmula de Picking, embora existam
outras.
tES = 5,3 . ( L2 / SB )1/3 8.2

Na equação 8.2, tES é o tempo de percurso da água na superfície do


terreno da bacia, em minutos, L é o comprimento do terreno, em Km, e SB é
a declividade média da bacia, em m/m.

118
Observação: Na realidade, a equação de Picking só deveria analisar o
tempo do escoamento superficial da distancia média do escoamento superficial
da bacia, ou seja, até o rio ou os rios, da bacia, já que no escoamento dos rios,
propriamente dito, a velocidade média do escoamento deveria ser analisada
através de equações de escoamentos uniformes em canais ou em rios, como
por exemplo, a equação de Manning, trazendo mais complicações para os
cálculos dos tempos de concentração total na bacia, já que quando chove
fortemente na bacia, nunca se conhece as características dos escoamentos do
rio, como o seu raio hidráulico e a sua rugosidade, que é bem variável, em rios
arenosos, que tem o leito móvel. Logo, para se simplificar este cálculo, pode-se
utilizar a equação a equação 8.2, em toda a extensão da bacia, mas isto não é
correto, embora seja aceitável, já que estes cálculos são aproximados.
Assim, dependendo da localização ou do ponto considerado na bacia, a
sua exutória, tem-se que o tempo de concentração total , tC, é o somatório de
várias durações, que se sobrepõem, para: umedecer os solos superficiais da
bacia, preencher as depressões e escoar sobre as superfícies da bacia. Assim,
tem-se aproximadamente que:
tC = tUS + tPD + tES 8.3

Exercício 8.1 Calcular o tempo de concentração, tC, do terreno de uma


bacia de chácara totalmente cercada e fechada com muros de tijolos maciços,
que não tenha contribuições do escoamento superficial de chuvas que ocorrem
exteriores a mesma, admitindo-se que os tempos referentes à umidificação do
terreno da chácara tUS e ao preenchimento de suas depressões tPD totalizem 5
minutos. O terreno, onde se localiza a chácara, tem também um comprimento
L, no sentido da própria declividade longitudinal, igual a 800 metros e a sua
declividade média, Se, igual a 0,005 m/m ou de 0,5 %.

8.1.2 Estimativa e adoção do coeficiente de deflúvio ou run-off.

No item 7.5.1 foi estudado como se calcula, de forma experimental, o


coeficiente de run-off de uma de uma bacia, para uma dada tormenta.
Em projetos de engenharia, no entanto, dificilmente se pode calcular um
coeficiente de run-off de uma bacia, devido as suas dificuldades, já que um
projeto exige respostas bem rápidas e baratas, por parte de seus projetistas, e
o que se faz, normalmente, é analisar-se, detalhadamente, todos os aspectos
mais importantes e suas respectivas áreas, na bacia, como: a sua declividade;
o tipo de solo predominante; as vegetações; os revestimentos artificiais, para
depois se calcular, através de uma média ponderada dos diversos coeficientes
individuais que existem na bacia, a média ponderada deste coeficiente.
A adoção de um coeficiente de deflúvio, que caracterize razoavelmente
bem uma determinada bacia, com a finalidade de utilização no método racional
é uma tarefa que deve ser realizada com muita calma e depende, também, de
muita experiência do projetista, já que na maioria das vezes o mesmo só utiliza
dados pré-tabulados, conforme podem ser observados na tabela 8.1, e já que
a pesquisa de campo, que seria a solução mais correta, é de difícil realização.
Ao se adotar coeficientes de deflúvio, para anteprojetos de drenagem, é
recomendável, também, uma visita à bacia, para o seu reconhecimento, já que
é muito comum o uso de mapas, em geral, que nem sempre são atualizados.

119
Tabela 8.1 Alguns valores de coeficientes de run-off, CD, utilizados em
projetos urbanos, em função do tipo de ocupação, de solo e das declividades
médias dos terrenos.

Característica da ocupação CD
Áreas residenciais unifamiliares (Conjuntos) 0,30 a 0,40
Apartamentos com jardins 0,50 a 0,60
Áreas comerciais 0,80 a 0,90
Áreas de asfalto e concreto 0,85 a 1,00
Áreas de paralelepípedos 0,75 a 0,85
Áreas com pedregulhos 0,15 a 0,30
Superfícies não revestidas 0,10 a 0,30
Parques e jardins 0,10 a 0,20
Áreas industriais leves 0,50 a 0,80
Áreas industriais pesadas 0,60 a 0,90
Parques e cemitérios 0,10 a 0,25
Ruas ou áreas com asfalto 0,70 a 0,95
Ruas ou áreas com concreto 0,85 a 0,95
Ruas ou áreas com paralelepípedos 0,75 a 0,85
Ruas ou áreas com pedregulhos 0,15 a 0,30

Característica do terreno CD
Terrenos relvados (Solos arenosos )
Com baixa declividade (SB < 2 %) 0,05 a 0,10
Com média declividade (2% < SB < 7 %) 0,10 a 0,15
Com alta declividade (SB > 7 %) 0,15 a 0,20

Terrenos relvados (Solos mais pesados)


Com baixa declividade (SB < 2 %) 0,15 a 0,20
Com média declividade (2% < SB < 7 %) 0,20 a 0,25
Com alta declividade (SB > 7 %) 0,25 a 0,30

Exercício 8.2 Qual o coeficiente de run-off, CD, médio ponderado, que


você adotaria, para um projeto de drenagem superficial de uma bacia urbana,
cujo terreno fosse constituído de solo pesado areno-siltoso com a declividade
média, SB, de 1,0 %, e que tivesse as seguintes características de ocupação,
mostradas na tabela 8.2, pelos dados individuais de coeficientes de deflúvios,
mostrados na tabela 8.1?

Tabela 8.2 Tipos de ocupações da bacia urbana.


Área de lazer 10 % da área total
Área de comércio e escolas 5 % da área total
Ruas com paralelepípedos. 15 % da área total
Área residencial unifamiliar 25 % da área total
Apartamentos com jardins 15 % da área total
Áreas desocupadas 30 % da área total

Observação: Quando o projeto em questão é urbano é conveniente que


o projetista preveja, também, junto com um urbanista, o crescimento natural do
bairro a ser drenado e o tipo de ocupação futura que pode ocorrer, prevendo,
caso seja possível, as percentagens de áreas impermeáveis da bacia urbana,
com asfalto e outros revestimentos, que sempre tendem a aumentar.

120
8.1.3 Adoção do tempo de recorrência para o método racional.

Não existem ainda normas definidas ou padronizadas para a adoção de


tempos de recorrência em obras de drenagem. Em obras de drenagem urbana,
dependendo da própria obra, tem-se utilizado tempos de recorrência que vão
desde 2 até 5 anos, para as obras de micro-drenagem urbana, ou mesmo 10
anos, para obras de drenagem em áreas comerciais e administrativas e até 20
ou mais anos, a depender do projetista e de suas justificativas, para as obras
civis de macro-drenagem urbana, como os canais e galerias de nossos centros
urbanos. Em áreas comerciais mais valorizadas, em calçadões, em Shoppings
Centers e em Terminais Aeroportuários, este tempo pode chegar a 10 anos.
Por exemplo, para o dimensionamento dos extravasadores de grandes
barragens de enrocamento ou de terra, este tempo varia, geralmente, de 1000
até 10.000 anos; para barragens de concreto, este tempo varia de 500 a 1.000
anos, em função da vida útil da obra e do risco permissível adotado.

8.1.4 Estimativa da intensidade de precipitação máxima provável.

O método racional trabalha com o conceito estatístico de intensidades


médias de precipitações máximas prováveis i, analisado no capitulo 4 e mais
detalhadamente no item 4.5, tomando-se a duração das precipitações, DC,
iguais ao tempo de concentração das bacias,tC.
Por exemplo, para projetos na cidade de São Paulo, pode-se trabalhar
com a equação 7.4, mostrada abaixo:
0,172
3463 . T
Cidade de São Paulo: iM = --------------------- 8.4
1,025
( DC + 22 )

Na equação 8.4, iM é a intensidade média temporal da precipitação, em


mm/h, DC é a duração, em min, e T é o tempo de recorrência, em anos.
Se, por exemplo, o tempo de concentração calculado, tC, na exutória de
uma bacia é de 40 min, que tomaremos como sendo a duração total da chuva
máxima provável, DC, se adotarmos, para o projeto, um tempo de recorrência,
T, de 10 anos, teremos que a intensidade média pontual da chuva será de:
0,172 0,172
3463 . T 3463 . 10
iM = --------------------- = ---------------------- ≅ 75 mm/h 8.5
( DC + 22 )1,025 ( 40 + 22 )1,025

8.1.4.1 Estimativa da intensidade de precipitação média na bacia.

O método racional geralmente só é mais empregado para a obtenção de


vazões de enchentes de bacias com no máximo 1km2, embora, certos autores
indiquem que o dimensionamento de bueiros de estradas, de bacias que são
bem maiores que esta área, possam ser calculado através deste método. Para
obras de micro-drenagem urbana, com bacias extremamente pequenas, com,
cerca de, 20.000 m2 ou mesmo um pouco mais, recomenda-se utilizar índices
de distribuição de precipitações intensas na bacia, IDP, igual a 1, já que nestes
casos verifica-se pouca variação das precipitações em relação a média.

121
2
Quando as bacias são pequenas, com áreas de drenagem de até 1 km ,
deve-se usar a equação de Fhrulling, para se calcular o índice de distribuição
de precipitações intensas na bacia, IDP, onde a área da bacia de drenagem, A,
é em m2:
0,25
IDP = iMA / iM = 1 - 0,0054 . A 8.6

Se no nosso exemplo, mostrado no item 8.1.4, deu a intensidade média


pontual de 75 mm/h, se a bacia de drenagem tivesse 1 km2 ou 1.000.000 m2,
o índice, IDP, para esta bacia seria de:
0,25
IDP = iMA / iM = 1 - 0,0054 . 1.000.000 = 0,83 8.7

E a intensidade média da chuva na bacia, iMA, seria de:

iMA = IDP . iMA = 0,83 . 75 = 62 mm/h 8.8

Para bacias maiores, sugere-se que o índice de distribuição de chuvas


intensas na bacia, IDP, seja função da área total da bacia de drenagem, A, e da
duração total da precipitação, DC, e a utilização do gráfico mostrado na figura
2
8.2, onde a área é em Km e a duração é em horas, embora seja reconhecido
que o método racional não forneça resultados precisos para grandes bacias.

IDP 1,0
24 h
6h

3h
1h
30 min

0,5
0 500 1000 A (km2)

Figura 8.2 Valores de IDP, como função da área da bacia, em km2, e da


duração total da chuva.

8.1.5 Utilização do método racional.

A utilização do método racional é simples: primeiro, estima-se o tempo


de concentração da bacia, tC. Com o tempo de concentração admitido neste
método, como igual á própria duração da chuva intensa, DC, determina-se a
intensidade média pontual da chuva intensa, iM, o índice de distribuição de
precipitação, IDP, e a intensidade média na área da bacia iMA, utilizando-se a
equação de chuvas intensas do local e um tempo de recorrência, T, arbitrado.
A seguir, adota-se um coeficiente de deflúvio médio C que caracterize bem o
comportamento da bacia de contribuição e com o valor da área de drenagem
da bacia A, determina-se a vazão máxima provável de enchente, que pode
escoar pela mesma, Q, utilizando-se a equação 8.9. Quando a bacia tem rios
perenes é comum se somar a vazão média do rio a esta vazão calculada.

122
No método racional, o hietograma da chuva intensa, que tem a duração
igual ao tempo de concentração da bacia, tem a intensidade média uniforme e
constante, iMA, em toda a área da bacia, e o hidrograma da cheia tem o
formato triangular isósceles, com a sua altura máxima igual a, C.iMA, A, e o
tempo de base é igual ao dobro do tempo de concentração, tC, como mostra a
figura 8.3.

Q = CD . iMA . AB 8.9

i D = tC

Hietograma de intensidades iMA

Q QMAX = CD. iMA. AB

Hidrogama triangular de cheia

t
2 . tC

Figura 8.3 Hidrograma triangular do método racional

Exemplo 8.1 Calcule qual é a vazão máxima provável escoada por uma
chácara totalmente cercada com muros, admitindo-se que as durações iniciais
referentes à umidificação do terreno da chácara, tUS, e ao preenchimento das
micro-depressões, tPD, totalizem 5 minutos. O terreno da chácara é composto
por solo arenoso bem estável, tem um comprimento, longitudinal, L, no sentido
da própria declividade longitudinal, igual a 600 metros, uma declividade média
Se igual a 0,85 % e uma área de 24 ha. Para o cálculo da intensidade média
pontual da precipitação, iM, admitir que a chácara se situa no município de São
Paulo-SP e que o tempo de recorrência, T, utilizado é igual a 5 anos.
Resolução: O tempo de concentração é de:

tES = 5 +5,3 . ( L2 / Se )1/3 = 5 +5,3 . ( 0,62 / 0,0085 )1/3 = 23 min 8.10

Logo, a intensidade pontual da precipitação, para T igual a 10 anos, é


de:
3463 . T0,172 3463 . 50,172
iM = --------------------- = ---------------------- ≅ 92 mm/h 8.11
( DC + 22 )1,025 ( 23 + 22 )1,025

O índice de distribuição de precipitações intensas na bacia, IDP, onde a


área da bacia de drenagem, A, é em m2:
0,25
IDP = iMA / iM = 1 - 0,0054 . A = 1 - 0,0054 . 240.0000,25 = 0,88 .12

123
Logo, a intensidade da precipitação média na bacia é de:

iMA = IDP . iM = 0,88 . 92 = 81 mm/h 8.13

Se, pela tabela 8.1, a chácara é composta de solo arenoso, com a sua
declividade igual a 0,85 %, já que estão faltando, no enunciado, mais dados
sobre a sua ocupação, pode-se dizer que o seu coeficiente de run-off fica na
faixa de 0,05 a 010. Logo, a favor da segurança, toma-se, CD, igual a 0,10.
Observação: Em anteprojetos, deve-se ser bem mais atencioso quanto à
adoção de coeficientes de run-off, como mostra o item 8.1.2.
Logo a vazão máxima provável será de:

Q = CD . iMA . AB = 0,10 . 81 mm/h . 24 ha 8.14


Ou,
Q = 0,10 . 0,0000225 m/s . 240 000 m2 = 0,54 m3/s 8.15

Ou seja, se tivéssemos que colocar um bueiro, por exemplo, ao final da


chácara, a sua vazão de projeto seria de 0,54 m3/s.

Exemplo 8.2 Vamos supor, agora, que, nesta mesma chácara, antes do
local onde se construirá o bueiro, ao seu final, tem-se uma grande depressão
natural do terreno, que, quando chove, forma uma lagoa, de aproximadamente,
3
300 m de volume, que no entanto, infiltra, em poucos dias, já que o terreno da
chácara é arenoso. Qual seria, agora, a nova vazão máxima de projeto?
Resolução: Bem, para resolvermos este problema teremos, apresenta-
se, exposta abaixo, para uma melhor compreensão do leitor, uma metodologia
simplificada para o cálculo do tempo de preenchimento de depressões naturais
do terreno maiores, tpd, localizadas, de forma simplificada, no próprio talvegue
do rio principal e ao final da bacia de contribuição, conforme mostra o desenho
da figura 8.4.
Bacia de contribuição
Depressão
natural do
terreno

Bueiro
Talvegue do rio principal

Figura 8.4 Esboço, sem escala, de uma bacia de drenagem com uma
depressão natural ao final da mesma.

Quando chove intensamente, em uma bacia qualquer, se a intensidade


de precipitação média na área da bacia iMA for constante e uniforme na bacia e
se a duração da precipitação, DC, for maior que o tempo de concentração da
bacia, tC, pelo método racional, a chuva provocará, na exutória da bacia, uma
hidrógrafa retilínea de escoamento superficial, cujo aspecto se assemelha ao
mostrado na hidrógrafa do desenho da figura 8.5.

124
iMA Chuva constante e uniforme
na bacia

Q Hidrógrafa de
escoamento superficial

1 2 3

0 tC DC ( DC+tc ) t

Figura 8.5 Hidrógrafa de uma precipitação intensa em uma bacia, com a


intensidade i constante e uniforme e com a duração total D maior que o tempo
de concentração, tC, pelo método racional.

No período assinalado por 1, com as durações da chuva t menores que


o tempo de concentração, tC, as vazões do escoamento superficial, Q, pelo
método racional, são iguais a:
t
Q = C . iMA . AB . ------ 8.16
tC

No período assinalado por 2, onde a duração da chuva, t, é igual ao


superior ao tempo de concentração, tC, e menor que a duração total da chuva,
DC, a vazão máxima da hidrógrafa, Q, pode ser calculada pelo método racional
através da seguinte equação:
Q = CD . iMA . AB 8.17

O período assinalado por 3, após a finalização da chuva, corresponde à


reta de recessão do escoamento superficial na bacia; a sua duração total, pelo
método racional, também é igual ao tempo de concentração da bacia, tC .
O preenchimento das depressões naturais do terreno, que, normalmente
existem em toda bacia, se processa durante o período ou fase assinalada por
1 na hidrógrafa de escoamento superficial, mostrada no desenho da figura 8.5.
Neste período, a vazão de escoamento, Q, é variável e proporcional ao tempo
e o volume escoado pela hidrógrafa, em relação ao tempo, é dado pela integral
definida:
t
V = ∫ Q . dt 8.18
0

Substituindo-se a vazão Q, na fase assinalada por 1, na hidrógrafa de


escoamento superficial, equação 8.16, na equação 8.18, tem-se que:

CD . iMA . AB t
V = -------------- . ∫ t . dt 8.19
tC 0

O volume total pode ser calculado integrando-se a equação 8.19 em


relação a variável tempo, tendo-se que a constante de integração é zero.

125
Logo,
2
CD . iMA . AB . t
V = ------------------- 8.20
2 . tC
Portanto,
2 . V . tC
t= ------------------ 8.21
CD . iMA . AB
3
Na equação 8.21, que é homogênea, t é em s; V é em m ; tC é em s; CD
2
é adimensional; iMA é em m/s e AB é em m . A equação 8.21 só é válida para
bacias que tenham o tempo de enchimento t menor que o de concentração tC.
Assumindo que o volume da depressão natural ao final de uma bacia de
contribuição seja igual ao mesmo volume V da equação 8.21, pode-se calcular
o tempo mínimo provável aproximado para o enchimento desta depressão tpd.
Este método, que é iterativo, exige, no entanto, que se conheça, a priori, entre
outras variáveis, o tempo de concentração inicial, da bacia de drenagem, tC,
calculado somente em função das características morfológicas da bacia.
3
Se V é igual a 300 m ; se tC é igual a 23 min ou 1.380 s; se C é igual a
0,10; se iMA é igual a 81 mm/h ou 0,0000225 m/s e se a área A é igual a 24 há
ou 240.000 m2, tem-se:
2 . 300 . 1380
t= ---------------------------------- = 1.240 s = 21 min 8.22
0,1. 0,0000225. 240.000

Portanto, o novo tempo de concentração, já que o bueiro será feito após


a lagoa, será igual ao inicial mais o tempo de enchimento, ou de:

tES = 23 min + 21 min = 44 min 8.24

Logo, a intensidade pontual da precipitação, para T igual a 10 anos, é


de:
3463 . T0,172 3463 . 50,172
iM = --------------------- = ---------------------- ≅ 62 mm/h 8.25
1,025 1,025
DC + 22 ) ( 44 + 22 )

Se o índice de distribuição de precipitações intensas, IDP, é o mesmo ou


igual a 0,88, logo, a intensidade da precipitação média na bacia é de:

iMA = IDP . iM = 0,88 . 62 = 55 mm/h 8.26

Se, tomarmos o mesmo coeficiente de run-off, CD, igual a 0,10, portanto,


a vazão máxima provável será de:

Q = CD . iMA . AB = 0,10 . 55 mm/h . 24 ha 8.27


Ou,
Q = 0,10 . 0,0000153 m/s . 240 000 m2 = 0,36 m3/s 8.28
3
Ou seja, a vazão do bueiro, agora, seria de 0,36 m /s.

126
Observação: Quando determinado lago ou reservatório se encontra na
parte central da bacia, e não ao seu final, como mostra a figura 8.6, o cálculo
do tempo de concentração da bacia tem que ser calculado iterativamente, por
etapas, ou seja, calcula-se para a parte inicial da, bacia, da forma tradicional,
assinalado por 1, na figura 8.6; depois, calcula-se o tempo de enchimento do
lago, para um volume certo deficitário, assinalado por 2, que nem sempre é o
volume total da depressão, que só foi escolhido, no nosso exemplo, porque o
terreno do exemplo é arenoso e toda água da depressão se infiltrava; soma-se
o tempo de enchimento da depressão ou do lago ao tempo de concentração
inicial, para depois calcular a vazão máxima na saída do lago; com esta vazão,
calcula-se o tempo de escoamento da fase 3. O tempo de concentração total
será a soma dos três tempos distintos, ou seja: o de concentração inicial, o de
enchimento da depressão e o tempo de escoamento final da bacia, na fase 3,
calculado através de uma equação de escoamento uniforme. Esta observação
só foi feita para o leito refletir como é complicado este cálculo, muitas vezes.

Bacia de contribuição
Depressão
natural
1 2
3

Talvegue do rio principal

Figura 8.6 Esboço, sem escala, de uma bacia de drenagem com uma
depressão natural ao final da mesma.

Observação: Alguns projetistas não levam em consideração, nem o


tempo de umidificação inicial do terreno, tUS, e nem o tempo de preenchimento
das micro-depressões, tPD, no cômputo geral do tempo de concentração tC, na
equação 8.3, alegando que algumas precipitações intensas podem acontecer
precedidas de outras chuvas mais fracas, que umedecem o terreno da bacia e
preenchem as suas depressões, tornando, assim, desnecessário, calcular-se
essas duas parcelas, quando ocorrer uma tormenta muito intensa.

Exercício 8.3 Qual é a sua opinião a respeito da dicotomia que existe


entre a observação citada acima e a teoria dada? Justifique a sua resposta.

Exercício 8.4 Calcule qual é a vazão máxima provável escoada por um


sítio totalmente cercado com muros, admitindo-se que as durações iniciais
referentes a umidificação do terreno da chácara, tUS, e ao preenchimento das
micro-depressões, tPD, totalizem 3 minutos. O terreno do sítio é composto por
solo pesado areno-siltoso, tem um comprimento, longitudinal, L, no sentido da
própria declividade longitudinal, igual a 300 metros, uma declividade média Se
igual a 0,50 % e uma área de 4,50 ha. Para o cálculo da intensidade média
pontual da precipitação, iM, admitir que o sitio se situa na cidade do Rio de
Janeiro-RJ e que o tempo de recorrência, T, utilizado é igual a 3 anos.

127
Observação: Um aspecto muito interessante, que devemos comentar, a
respeito do desenvolvimento dos exemplos e exercícios deste livro, é que as
bacias citadas, muitas vezes, são muradas, o que impede a entrada da água
superficial que escoa da parte externa destas bacias.
A resposta a esse detalhe se deve ao fato de que a apresentação das
bacias, nesta forma, simplifica a visualização de sua área e de outros fatores
que concorrem com o desenvolvimento dos exemplos e exercícios, tornando-
se, assim, bacias que poderíamos classificar como didáticas.
A grande variedade de bacias de drenagem, que necessitam de projetos
de drenagem, não possui esta configuração simplificada, já que as mesmas,
normalmente, como sub-bacias, fazem parte de uma bacia de contribuição que
é bem maior e bem mais complexa. Para estes tipos mais comuns de bacias,
que, em geral, são bem mais freqüentes, em projetos de drenagens, existem
contribuições do escoamento superficial de áreas localizadas fora do perímetro
do projeto, em si, ou da área considerada, o que não acontece em muitos dos
nossos exercícios e exemplos, já que as bacias aqui são todas muradas, o que
impede a passagem da água superficial exterior à sua própria área.
Por exemplo, a chácara do exemplo 8.1, se não fosse murada, em seu
perímetro, muito certamente, seria uma parte de uma bacia bem maior que a
sua própria área, como mostra a figura 8.7. Portanto, se a chácara não fosse
murada e nós fossemos fazer qualquer obra de recursos hídricos, na saída da
chácara, no talvegue do rio principal da bacia, e se, por acaso, tivéssemos que
utilizar o método racional, nós teríamos que trabalhar com as características da
bacia não da chácara, o que não ocorreu no exemplo 8.1, porque os muros
impedem a passagem da água e desvia o rio principal, atuando como divisor.
.
Bacia do rio principal

Chácara

Figura 8.7 Localização da chácara do exemplo 8.1 na bacia

Exercício 8.5 Calcule qual é a vazão máxima provável escoada por uma
bacia urbana, admitindo-se que as durações iniciais referentes à umidificação
dos seus terrenos, tUS, e ao preenchimento das suas micro-depressões, tPD,
totalizem 5 minutos. O terreno da bacia é composto por solo pesado areno-
siltoso, tem um comprimento, longitudinal, L, no sentido da própria declividade
longitudinal, igual a 2.000 metros, uma declividade média Se igual a 0,50 % e
uma área de 1,6 Km2. Considerar a ocupação futura, da área da bacia, como:
50 % com residências unifamiliares ou conjuntos; 20 % de apartamentos; 12 %
com paralelepípedos e 3 % com asfalto e 15 % de parques.
Para o cálculo da intensidade média pontual da precipitação, iM, admitir
que a bacia situa perto de Belo Horizonte, no Estado de Minas gerais, e que o
tempo de recorrência, T, utilizado é igual a 5 anos.

128
8.1.6 Determinação de precipitações intensas para locais que não
dispõem de dados pluviográficos e equações de chuvas intensas.

O leitor deve ter se perguntado: mas por que os exemplos e exercícios,


deste livro, só são sobre bacias situadas em São Paulo ou no Rio de janeiro?
É porque estas duas localidades já têm equações de chuvas intensas bem
conhecidas, como as equações 4.6 e 4.7. Atualmente, já existem outras
equações para outras localidades do Brasil, que não foram citadas neste texto
porque ele é apenas propedêutico, didático. Se as bacias de nossos exemplos
e exercícios fossem, por exemplo, em capitais do nordeste, poderíamos utilizar
os dados da tabela 4.4, 4.5 e 4.6, transformá-los em equações de chuvas
intensas, utilizando-se o método dos mínimos quadrados, detalhe que será
ensinado um pouco mais à frente, e resolveríamos o problema do mesmo jeito.
A pergunta é: como um engenheiro pode desenvolver projetos em locais
que não dispõem de dados pluviográficos? A resposta é: em localidades onde
não se dispõem de pluviógrafos e, portanto, de dados pluviográficos, é comum
determinar-se às precipitações intensas de forma aproximada, utilizando-se
dados de precipitações diárias, oriundas de pluviômetros, já que estes dados
são bem mais comuns.
E como se faz esta análise?
É através da analise de freqüência das precipitações máximas diárias, já
que os dados pluviométricos são lidos diariamente, pela manhã, embora você
não conheça a duração das precipitações que ocorreram durante o dia que foi
analisado, mas somente a altura acumulada diária da chuva, cujas médias, no
entanto, estão próximas das médias das precipitações intensas de 24 horas,
cujos dados são lidos nos gráficos dos pluviógrafos, estas sim, chuvas intensas
que precipitam seguidamente por 24 horas e que nos interessam.
Calculada a equação de chuvas intensas das precipitações máximas
diárias, de forma aproximada, a partir desta análise, pode-se determinar a
equação das precipitações intensas máximas prováveis de 24 horas, de forma
aproximada e outras durações de chuvas, também de forma aproximada, para
os diversos tempos de recorrências, como veremos no exemplo 8.3.

Exemplo 8.3 Determine, usando-se os valores médios de razões entre


precipitações intensas de diversas durações e de 24 horas, obtidas através do
livro Chuvas intensas no Brasil e mostradas através da tabela 8.5, quais são as
precipitações intensas máximas prováveis que podem ocorrer no Município de
Feira de Santana, no Estado da Bahia. A análise da série de precipitações
máximas diárias é feita através da utilização de série parcial, utilizando-se os
dados de precipitações diárias fornecidos pela SUDENE (3). O posto analisado
o
foi o de n 4.842.508, localizado no município de Feira de Santana-BA, com
latitude de 120 36’, longitude de 380 58’ e altitude de 257 m.

Resolução: Foram colhidos, da série histórica de precipitações diárias,


os 60 maiores dados de precipitações máximas diárias, iguais ou superiores a
50 mm; que é um valor mínimo de referência para aquilo que efetivamente se
pode chamar de precipitação intensa diária, compatível com a série analisada,
já que, toda vez, que analisamos dados estatísticos máximos, nós temos que
estabelecer um limite mínimo, prático, para a análise. A série histórica foi de 49
anos e vai de 1937 a 1985, cuja síntese consta na tabela 8.3.

129
Tabela 8.3 Precipitações máximas diárias de Feira de Santana, BA.

Ano P ( mm )

1937 94,2
1938 -
1939 61,0
1940 62,9
1941 114,4 82,5
1942 54,9
1943 -
1944 -
1945 57,4
1946 -
1947 78,7 58,0 54,0
1948 57,8 53,4
1949 74,0
1950 66,0
1951 68,0 61,0 60,0
1952 74,0
1953 -
1954 118,0 58,5
1955 173,0
1956 56,0
1957 55,0
1958 80,0 50,0
1959 -
1960 72,5 66,3 52,5 65,3 57,2
1961 52,2
1962 72,4 56,2 66,4 58,0
1963 57,5
1964 62,0
1965 96,0
1966 -
1967 57,6
1968 76,5 50,0
1969 75,6
1970 119,6
1971 -
1972 53,6
1973 54,0
1974 52,2
1975 55,8
1976 59,0
1977 68,0 61,0
1978 75,4 54,6
1979 -
1980 61,0
1981 78,0 76,2
1982 72,0 53,4
1983 -
1984 -
1985 75,0 50,2 61,0

130
A análise de freqüência das precipitações máximas diárias é mostrada
na planilha da tabela 8.4 e é calculada como se segue:

a) A coluna 1 apresenta a ordenação utilizada na tabela.


b) A coluna 2 apresenta os intervalos utilizados, analisados em ordem
decrescente, cuja amplitude é de 10 mm.
c) Na coluna 3 aparecem os pontos médios de cada intervalo.
d) A colunas 4 apresenta as freqüências absolutas, FABS.
e) Na coluna 5 têm-se as freqüências relativas, FREL, calculadas pelo
método Califórnia, onde N é o número de anos da série, ou:

FABS FABS
FREL = --------- = -------- 8.29
N 49

f) A coluna 6 mostra as freqüências acumuladas, FACM.


g) Na coluna 7 tem-se o tempo de recorrência T, em anos, igual ao
inverso da freqüência acumulada, Fac, ou:
1
T = -------- 8.30
FACM

Correlacionando-se as precipitações máximas diárias, P1d, mostrados na


coluna 3 da tabela 8.4, com os tempos de recorrência, T, na coluna 7, através
do método dos mínimos quadrados (46), tem-se a equação de chuvas intensas
de um dia, P1d, tipo potência, mostrada abaixo, com coeficiente de correlação,
r, igual a 0,97.
P1d = 59 . T0,24 8.31

Na equação 8.31, P1d é em mm e T é em anos.


Sugerirmos ao leitor que durante a leitura, coloque os dados analisados
em uma planilha Excel e pratique este método, pois, do contrário, a leitura será
difícil, lembrando que na planilha Excel, só existe ajuste de retas, ou seja, é
necessário se trabalhar com os logaritmos dos dados de P1d, na coluna do eixo
dos Y, e com os logaritmos dos dados de T, no eixo dos X, já que esta análise
supõe que a distribuição de dados é de uma equação tipo potência.
Assim, teremos, da análise, se trabalharmos com logaritmos neperianos,
a seguinte reta, com coeficiente de correlação, r, igual a 0,97:

ln(P1d) = 4,077 + 0,24 . ln(T) 8.32

Utilizando-se o valor médio da razão entre as precipitações intensas de


24 horas, e as precipitações intensas de 1 dia, verificadas através dos dados
do livro Chuvas intensas no Brasil, P24h/P1d, que é igual a 1,14, tem-se, pela
equação 8.31, que as precipitações intensas máximas prováveis de 24 horas,
P24h, para a localidade de Feira de Santana, é igual a:

P24h = 67 . T0,24 8.33

131
Tabela 8.4 Análise de freqüência dos dados observados na tabela 8.7,
correspondentes às precipitações máximas diárias em Feira de Santana-BA.
1 2 3 4 5 6 7

Ordem Intervalo Pto. Médio F. absoluta F.relativa F.acumulada T

( mm ) ( mm ) Fa Fr Fac (anos )

1 180-170 175 1 0,020 0,020 50,0


2 170-160 165 0 0,000 0,020 50,0
3 160-150 155 0 0,000 0,020 50,0
4 150-140 145 0 0,000 0,020 50,0
5 140-130 135 0 0,000 0,020 50,0
6 130-120 125 0 0,000 0,020 50,0
7 120-110 115 3 0,061 0,081 12,3
8 110-100 105 0 0,000 0,081 12,3
9 100-90 95 2 0,041 0,122 8,2
10 90-80 85 2 0,041 0,163 6,1
11 80-70 75 12 0.245 0,408 2,4
12 70-60 65 14 0,286 0,694 1,4
13 60-50 55 26 0,531 1,225 0,8
∑ = 60

A tabela 8.5, organizada a partir dos dados das relações médias entre
precipitações intensas com durações diferentes D, extraídas do livro Drenagem
Urbana - Manual de Projeto, cujos valores foram calculados através dos dados
do livro Chuvas intensas no Brasil, mostra alguns valores de razões entre as
precipitações intensas de várias durações e as de 24 horas, P/P24h.

Tabela 8.5 Relações médias entre alturas precipitadas horárias e de 24


horas P/P24h, extraídas do livro Drenagem Urbana - Manual de Projeto.
D / 24 h P / P24 h
5min / 24 h 0,11
30 min / 24 h 0,31
1 h / 24 h 0,42
6 h / 24 h 0,72
12 h / 24 h 0,85

Por exemplo, a precipitação máxima diária para Feira de Santana, P1d,


para um tempo de recorrência, T, de 10 anos, pela equação 8.31, é de:

P1d = 59 . T0,24 = 59 . 100,24 = 103 mm 8.34

Logo, em média, a precipitação máxima de 24 horas, P24h, através da


equação 8 34, é de 117 mm. Assim, a precipitação máxima provável de 5
minutos, por exemplo, pela tabela 8.5, P5 min,seria de 13 mm.
Assim, utilizando-se as relações médias entre precipitações intensas de
várias durações e de 24 horas, P/P24h, mostradas na tabela 8.5, e os valores
de precipitações intensas de 24 horas de duração, P24h, como função do tempo
de recorrência, dados pela equação 8.33, pode-se montar os dados da tabela
8.6, de precipitações intensas prováveis para a Cidade de Feira de Santana.

132
Tabela 8.6 Dados médios prováveis de precipitações intensas em Feira
de Santana - BA, em milímetros, como função da duração, D, e do tempo de
recorrência, T, em anos.
Precipitações (mm)

T ( Anos ) 1 10 50 100
Duração

5 min 7 13 19 22
30 min 21 36 53 63
1h 28 49 72 85
6h 48 84 123 145
12 h 57 99 145 172
24 h 67 116 171 202

Conhecida a distribuição de precipitações intensas prováveis, mostrada


na tabela 8.6, para a localidade de Feira de Santana, pode-se determinar a
equação de chuvas intensas, que tem a forma mostrada abaixo:

A’ . TB’
i = ----------------- 8.35
D’
( DC + C’ )

Na equação 8.35, denominada de equação de chuvas intensas ou de


equação de intensidade-duração-freqüência, i é a intensidade da precipitação
intensa, normalmente em mm/h; T é o tempo de recorrência, em anos; DC é a
duração da precipitação; em minutos, e A’, B’, C’ e D’ são constantes locais,
que podem ser determinadas através da utilização do método dos mínimos
quadrados, conforme mostra o exemplo 8.4.
Bem, um problema é determinar é determinar as precipitações intensas
médias prováveis que podem ocorrer em uma determinada localidade, através
dos dados de precipitações diárias, como foi mostrado. Um outro problema é
determinar a equação de chuvas intensas, que já é um problema de estatística
e de ajuste de curvas complexas, que mostraremos a seguir, mas que depende
de muita atenção, do leitor, e também necessita de ser acompanhado através
de uma planilha Excel ou de uma máquina avançada Hewlett-Packard.

Exemplo 8.4 Determine, utilizando o método dos mínimos quadrados, a


equação de intensidade-duração-freqüência aproximada para o Município de
Feira de Santana, através dos dados da tabela 8.6.

Resolução: Existem outras maneiras para se abordar e se resolver este


problema, usando-se o método dos mínimos quadrados. À que analisaremos a
seguir é uma metodologia que achamos ser uma das mais simples, para o seu
entendimento, e que fornece bons resultados, em termos de análise.
Para resolvermos o exemplo 8.4, primeiramente, nós precisaremos
transformar os dados de precipitações da tabela 8.6 em dados de intensidades
de precipitações, i, de forma que, nesta nova tabela, os dados de intensidades
estejam em, mm/h, os dados de durações, DC, estejam em, minutos, e os
dados de tempos de recorrência T, estejam em, anos, conforme as unidades
usadas na equação 8.35, conforme mostram os dados da tabela 8.7.

133
Tabela 8.7 Dados médios prováveis de Intensidades de precipitações
intensas no Município de Feira de Santana - BA, em mm/h, como função da
duração, DC, em minutos, e do tempo de recorrência, T, em anos.

Intensidade de precipitações (mm/h)

T (Anos) 1 10 50 100
Duração
(Minutos)
5 84,0 156,0 228,0 264,0
30 42,0 72,0 106,0 126,0
60 28,0 49,0 72,0 85,0
360 8,0 14,0 20,5 24,2
720 4,8 8,3 12,1 14,3
1440 2,8 4,8 7,1 8,4

A partir dos dados da tabela 8.7, monta-se uma nova tabela 8.8, tipo
matriz, para ser utilizada na máquina de calcular ou no computador. Essa nova
tabela deve conter, por exemplo, os tempos de recorrência, T, na coluna 1, as
durações, DC, na coluna 2 e as intensidades de precipitações, i, na coluna 3.

Tabela 8.8 Matriz de dados contendo os tempos de recorrência, T, em


anos, durações DC, em minutos, e de intensidades de precipitações intensas,
em mm/h, para o Município de Feira de Santana - BA.

X Y Z

T DC i
(Anos) (Minutos) (mm/h)
1 5 84,0
1 30 42,0
1 60 28,0
1 360 8,0
1 720 4,8
1 1440 2,8
10 5 156,0
10 30 72,0
10 60 49,0
10 360 14,0
10 720 8,3
10 1440 4,8
50 5 228,0
50 30 106,0
50 60 72,0
50 360 20,5
50 720 12,1
50 1440 7,1
100 5 264,0
100 30 126,0
100 60 85,0
100 360 24,2
100 720 14,3
100 1440 8,4

Em primeiro lugar, analisa-se a relação funcional entre as intensidades


de precipitações, i, como função dos tempos de recorrência, T.

134
Analisando-se os dados de intensidades, i, e tempos de recorrências, T,
utilizando-se o método dos mínimos quadrados, verifica-se a seguinte equação
abaixo, tipo potência, com coeficiente de correlação, r, igual a 0,327:

i = 14,8 . T0,241 8.36

O que leva a concluir que o valor médio da constante B’, da equação


8.36, para os dados analisados, é igual a 0,241.
Nesta análise inicial, nem o valor do coeficiente de correlação, r, igual a
0,327 e nem o valor inicial da constante, A’, igual a, 14,8, são importantes: a
análise serve apenas para indicar o valor da constante B’.
Logo, a partir desta conclusão inicial, tomando-se o valor da constante
B’ igual a 0,241, pode-se analisar a equação 8.35 através da seguinte forma,
mostrada abaixo:
i A’
----------- = ----------------- 8.37
0,241 D’
T ( DC + C’ )

A partir deste ponto este problema tem que ser resolvido por tentativas.
Isto é, se analisarmos, novamente, todos os dados da tabela 8.8, através de
várias tentativas, veremos que a relação entre o termo i/T0,241 como função das
durações somadas a uma constante arbitrária, DC+C’, que deve ser modificada
a cada tentativa, utilizando-se o método dos mínimos quadrados, veremos que
os dados se ajustam melhor a uma curva tipo potência, que é o melhor tipo de
curva para este tipo de análise, com o valor da constante c’ igual a 11.
Assim, tendo-se que a constante c’ é igual a 11, tem-se, com coeficiente
de correlação r, igual a -0,9999, a seguinte equação de ajuste:

i 716
----------- = -------------------- 8.38
T0,241 ( DC + 11 )0,761

O que leva a concluir que a equação de chuvas intensas que melhor se


ajusta aos dados da tabela 8.8 é a equação:

716 . T0,241
i = --------------------- 8.39
( DC + 11 )0,761

A equação 8.39 representa a equação aproximada de chuvas intensas


ou de intensidade-duração-frequência para a cidade de Feira de Santana, no
Estado da Bahia. Na mesma, i é em mm/h, D é em minutos e T é em anos.

Exercício 8.5 Qual é a intensidade de precipitação e a precipitação total


de uma chuva intensa ocorrida em Feira de Santana - BA, pela equação 8.39,
para DC de 45 minutos e T de 5 anos?
Veja qual é a precipitação intensa máxima provável, para esta mesma
duração e freqüência para Salvador, no Estado da Bahia e responda: qual é,
destas duas cidades, a localidade mais chuvosa?

135
Exercício 8.6 Determine, seguindo os exemplos 8.1 e 8.2, quais são as
precipitações intensas máximas prováveis para Jequié-BA, cuja série histórica
de precipitações máximas diárias está disposta na tabela 8.9, e determine qual
é a equação de chuvas intensas aproximada para Jequié-BA.

Tabela 8.9 Série histórica de precipitações máximas diárias, maiores


que 50 mm, observadas no município de Jequié, no Estado da Bahia.

Ano P
(mm)
1912 58,3 71,1 65,8 65,3 59,4 77,3
1913 62,3 60,9 62,4
1914
1915
1916 64,0 64,0 64,0 64,0 64,0 64,0
1917 50,0 72,0 84,0
1918 53,0 80,9
1919 89,4 87,7 73,2 99,2 85,3 79,8 88,0 88,0 94,9 94,0
64,5 53,0 56,4 89,5 79,2 64,0 55,2 88,4 74,0 84,8
89,3 70,3 73,3 77,0 74,0
1920 54,6 58,7 79,7 58,9 89,9 129,6 258.0 95,3 105,8 75,0
1921 59,7
1922
1923 64,0
1924
1925
1926 68,7 72,4 73,6
1927 56,4
1928 99,8 99,6 99,9
1929 85,4 80,4
1930 63,0
1931 63,0
1932 64,2 52,2
1933 56,0 64,6
1934
1935 51,0 54,5
1936
1937 73,0
1938
1939 52,6
1940 79,0
1941 55,1 56,6
1942
1943 60,0
1944 84,5 60,0 50,5
1945 52,0 53,0
1946
1947 54,0
1948
1949 55,4
1950 54,7 60,5
1951
1952
1953 50,7
1954 53,3
1955 62,3
1956 66,3
1957
1958 62,3 65,4 75,8 68,3
1959 52,8
1960 71,4
1961
1962 88,2 76,6
1963 52,2 99,4 64,5
1964 67,5
1965
1966 57,2
1967
1968 53,2 86,6

136
Lista de símbolos utilizados.

A Constante.
Ai Área de infiltração.
B Constante.
B Base do vertedor.
C Constante.
AB Área da bacia.
CA Coeficiente da equação de Francisco Aguiar.
CD Coeficiente de deflúvio.
Ci Coeficiente de infiltração.
CT Coeficiente da equação de Turc.
CV Coeficiente de variação.
D Duração.
DTi Duração total da infiltração.
DTP Duração total da precipitação.
DC Duração da chuva.
DUS Deficiência de umidade do solo.
d Diâmetro.
F Freqüência.
FABS Freqüência absoluta.
FREL Freqüência relativa.
FACM Freqüência acumulada.
H Altura.
HiT Altura infiltrada total.
H Altura da lâmina líquida do vertedor.
HM Altura média.
HAC Altura acumulada.
HE Altura de entrada.
HEVP Altura evapotranspirada.
HES Altura do escoamento superficial.
HP Altura precipitada.
HpT Altura precipitada total.
HeT Altura escoada total.
HS Altura de saída.
HS Altura do sumidouro.
i Intensidade da precipitação.
i Intensidade da infiltração.
iM Intensidade média temporal da precipitação.
iMB Intensidade média da precipitação na bacia.
iS Capacidade de infiltração superficial.
Ii Índice de infiltração.
IC Intervalo de confiança.
IDP Índice de distribuição de precipitações intensas.
K Risco permissível.
L Comprimento do vertedor a régua limnimétrica.
log10 Símbolo de logaritmo decimal.
ln Símbolo de logaritmo neperiano.
MAC Média acumulada.
n Número.
N Número de anos.
P Posto.

137
P Probabilidade.
P1d Precipitação de um dia.
P24H Precipitação de vinte e quatro horas.
PL Peso líquido.
q Vazão específica.
Q Vazão.
QBA Vazão do escoamento básico.
QESC Vazão escoada.
QSUP Vazão do escoamento superficial.
r Coeficiente de correlação.
RB Rendimento da bacia.
SB Declividade da bacia.
t Tempo.
tC Tempo de concentração.
tES Tempo de escoamento superficial.
tUS Tempo inicial de umidificação do solo.
tPD Tempo de preenchimento das micro depressões.
t Variável reduzida.
tN Variável reduzida da distribuição normal.
tG Variável reduzida da distribuição de Gumbel.
tS Variável reduzida da distribuição de Student.
tV Variável reduzida da distribuição de Vem-Te-Chow.
T Tempo de recorrência.
T Temperatura.
V Volume.
V Velocidade.
VS Velocidade superficial.
VMS Velocidade média superficial.
VME Velocidade média do escoamento.
V Variável.
VE Volume de entrada.
VEVP Volume evapotranspirado.
VESC Volume escoado.
VP Volume precipitado.
VS Volume de saída.
Y Altura da lâmina líquida.
ε Erro.
µ Média aritmética.
µµ Média aritmética das médias aritméticas.
µσ Média aritmética dos desvios-padrões.
σ Desvio-padrão.
σ Constante.
β Constante.
σµ Desvio-padrão das médias aritméticas.
σσ Desvio-padrão dos desvios-padrões.
∑ Somatório.
∞ Símbolo de infinito.

138
Referências bibliográficas

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McGraw-Hill Book Company. Nova Dheli. 1980.

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Hídricos. Coleção ABRH de Recursos Hídricos. Associação
Brasileira de Recursos Hídricos. Nobel. São Paulo. 1987.

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Energia. Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica.1984.

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Blucher. 1985.

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São Paulo 1980.

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