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ESCOLA DE MINAS
DEPARTAMENTO DE GEOLOGIA
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
i
ii
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
Reitor
Vice-Reitor
ESCOLA DE MINAS
Diretor
Vice-Diretor
DEPARTAMENTO DE GEOLOGIA
Chefe
Issamu Endo
iii
EVOLUÇÃO CRUSTAL E RECURSOS NATURAIS
iv
CONTRIBUIÇÕES ÀS CIÊNCIAS DA TERRA
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
(MG)
Orientador
Co-orientadores
OURO PRETO
2011
v
Universidade Federal de Ouro Preto – http://www.ufop.br
Escola de Minas - http://www.em.ufop.br
Departamento de Geologia - http://www.degeo.ufop.br/
Programa de Pós-Graduação em Evolução Crustal e Recursos Naturais
Campus Morro do Cruzeiro s/n - Bauxita
35.400-000 Ouro Preto, Minas Gerais
Tel. (31) 3559-1600, Fax: (31) 3559-1606 e-mail: pgrad@degeo.ufop.br
ISSN 85-230-0108-6
Depósito Legal na Biblioteca Nacional
Edição 1ª
CDU: 551.243:551.7:556.51(815.1)
Catalogação: sisbin@sisbin.ufop.br
vi
vii
viii
“À minha família, Dona Maria, Seu Zé e Hudson, obrigado por acreditarem...”
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Agradecimentos
Aos orientadores Fernando Flecha Alkmim, Antonio Carlos Pedrosa Soares e Maria Silvia Carvalho
Barbosa, pela oportunidade, orientação e amizade.
À Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), pela disponibilização das
seções sísmicas e dados de poço, especialmente à Glauce Burlamaqui pela grande atenção durante
todo o processo.
Aos professores do Departamento de Geologia da Escola de Minas (UFOP), pelas valiosas discussões
e sugestões, especialmente aos professores Issamu Endo, Caroline Janette Gomes e André Danderfer
Filho.
Aos geólogos Renato Fonseca e Andréia Vaz de Melo França, pelo apoio e pelas produtivas
discussões.
Aos amigos Miguel Nassif, Glauber Rezende, Guilherme Suckau, Paulo Zaeyen, Frederico Zogheib e
Lucas Martins, pela boa companhia e auxílio durante os trabalhos de campo.
Aos bons e velhos amigos, Rodrigo Foltz, Dougla Leal, Rafael Lisboa, Daniel Mansur, Gilvana
Gomes, Ketty Gomes, Letícia Faria e Bruno Pádua.
AGRADECIMENTOS .......................................................................................................................... xi
LISTA DE FIGURAS ......................................................................................................................... xvii
LISTA DE TABELAS ....................................................................................................................... xxiii
LISTA DE ANEXOS .......................................................................................................................... xxv
RESUMO............................................................................................................................................. xxvii
ABSTRACT ......................................................................................................................................... xxix
1 - - INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 1
1.1 Natureza do estudo realizado...........................................................................................................1
1.2 Objetivos.............................................................................................................................................2
1.3 Localização da área de estudo.........................................................................................................2
1.4 Metodologia.......................................................................................................................................2
1.4.1 Confecção de mapas radiométricos e magnetométricos.................................................... 5
1.4.2 Confecção dos mapas gravimétricos ..................................................................................... 6
2 - CONTEXTUALIZAÇÃO GEOLOGICA DA PORÇÃO SUDOESTE DA BACIA DO SÃO
FRANCISCO .............................................................................................................................................. 9
2.1 A Bacia do São Francisco................................................................................................................9
2.1.1 Estratigrafia ............................................................................................................................ 10
2.1.1.1 O embasamento............................................................................................................... 10
2.1.1.2 O Supergrupo Espinhaço ............................................................................................... 11
2.1.1.3 O Supergrupo São Francisco ........................................................................................ 12
2.1.1.4 Unidades fanerozóicas: os grupos Santa Fé, Areado, Mata da Corda e Urucuia .. 19
2.1.2 Arcabouço estrutural ............................................................................................................. 21
2.1.2.1 Grandes estruturas do embasamento............................................................................ 21
2.1.2.2 Estruturas envolvendo as unidades de preenchimento .............................................. 22
2.3 A porção sudoeste da Bacia do São Francisco............................................................................23
2.3.1 Estratigrafia ............................................................................................................................ 23
2.3.2 Arcabouço estrutural ............................................................................................................. 25
2.3.2.1 Estruturas pré-cambrianas ............................................................................................. 25
2.3.2.2 Estruturas cretácicas ........................................................................................................... 28
3 - ESTRATIGRAFIA DA REGIÃO DO BAIXO INDAIÁ ........................................................ 31
3.1 – Introdução ................................................................................................................................... 31
3.2 – Expressão sísmica das unidades pré-Bambuí ........................................................................ 31
3.3 – O Grupo Bambuí ........................................................................................................................ 33
3.3.1 Formação Lagoa do Jacaré ................................................................................................... 34
3.3.2 Formação Serra da Saudade ................................................................................................. 36
xiii
3.3.2.1 Membro Felixlândia ....................................................................................................... 38
3.3.3 Formação Três Marias ........................................................................................................... 42
3.3.4 Expressão sísmica e dados de poço do Grupo Bambuí .................................................... 46
3.3.4.1 Expressão em seções sísmicas ...................................................................................... 46
3.3.4.2 O Poço 9-PSB-16-MG e correlações estratigráficas .................................................. 46
3.3.5 Ambientes de sedimentação ................................................................................................. 51
3.4- Os grupos Areado e Mata da Corda .......................................................................................... 53
3.4.1 Grupo Areado ......................................................................................................................... 53
3.4.2 Grupo Mata da Corda ............................................................................................................ 56
3.4.3 Ambientes de sedimentação ................................................................................................. 56
3.5- Artigo: Expressão magnetométrica e gamaespectrométrica da porção sudoeste da Bacia do
São Francisco, Folha Serra Selada (1:100.000), MG .................................................................... 58
4 - ARCABOUÇO ESTRUTURAL DA REGIÃO DO BAIXO INDAIÁ ................................. 77
4.1 - Introdução .................................................................................................................................... 77
4.2-A estrutura do embasamento revelada por métodos geofísicos potenciais e sísmica de
reflexão .................................................................................................................................................. 77
4.1.1 Estruturas do embasamento em mapas gravimétricos ...................................................... 77
4.2.2 Expressão das estruturas do embasamento em mapas magnetométricos ....................... 81
4.2.3 As estruturas do embasamento em seções sísmicas .......................................................... 83
4.3-Arcabouço estrutural das rochas do Grupo Bambuí ................................................................ 84
4.3.1 O Compartimento Oeste: a Saliência de Três Marias ....................................................... 85
4.3.1.1 Dobras .............................................................................................................................. 85
4.3.1.2 Falhas de empurrão......................................................................................................... 87
4.3.1.3 Falhas transcorrentes ...................................................................................................... 89
4.3.1.4 Juntas ................................................................................................................................ 89
4.3.1.5 O descolamento basal e a estruturação geral da Saliência de Três Marias ............. 93
4.3.2 O Compartimento Leste (CL)............................................................................................... 96
4.4-Arcabouço estrutural das unidades cretácicas ........................................................................... 97
4.4.1 Estruturas distensionais associadas à deposição do Grupo Areado ................................ 98
4.5-Evolução estrutural da região do baixo Indaiá ........................................................................ 101
4.5.1 A Fase D1 e a estruturas pré-Bambuí ................................................................................ 101
4.5.2 A Fase D2 e a Saliência de Três Marias ............................................................................ 104
4.5.2.1 Saliência de Três Marias .............................................................................................. 105
4.5.3 Fase D3 e a formação da Sub-Bacia Abaeté (Cretácio Inferior) .................................... 109
5 - SOBRE O CONTROLE ESTRUTURAL DAS EXSUDAÇÕES DE GÁS NATURAL DO
VALE DO RIO INDAIÁ.......................................................................................................................111
5.1 Introdução........................................................................................................................................111
xiv
5.2 Breve histórico do reconhecimento das zonas de exsudação de gás na Bacia do São
Francisco ............................................................................................................................................. 111
5.3 Controle estrutural........................................................................................................................112
6 - CONCLUSÕES.........................................................................................................117
xv
xvi
Lista de Figuras
Figura 1.1 Localização da área de estudo, principais vias de acesso à partir de Belo Horizonte (BH) e
área de cobertura dos projetos do Projeto Alto Paranaíba(1:100.000) (Pedrosa-Soares et al. 2011 ) e
levantamento aerogeofísico concedido pela CODEMIG (Lasa 2007)............................................... 3
Figura 1.2 Localização da Área 9, Programa de Levantamentos Aerogeofísicos do Estado de Minas
Gerais (2005/2006). Fonte: Lasa (2007). ............................................................................................... 5
Figura 1.3 Fluxograma das etapas de processamento dos dados aeromagnetométricos e
aerogamaespectrométricos. ...................................................................................................................... 6
Figura 1.4 Correção Bouguer aplicada sobre os dados de anomalia free-air obtidos.. .................. 7
Figura 1.5 Fluxograma mostrando as principais etapas de processamento dos dados gravimétricos e
topográficos obtidos por satélite (TOPEX/POSEIDON)..................................................................... 7
Figura 2.1 A Bacia do São Francisco como parte do cráton homônimo, com as principais unidades de
preenchimento e feições de relevo. ......................................................................................................... 9
Figura 2.2 Coluna estratigráfica simplificada da bacia intracratônica do São Francisco (Alkmim &
Martins-Neto (2001). .............................................................................................................................. 11
Figura 2.3 Litoestratigrafia simplificada do Supergrupo São Francisco. Modificado de Costa &
Branco (1961), Plufg & Renger (1963), Braun (1968), Dardenne (1978), Karfunkel & Hoppe (1988),
Uhlein (1991), Castro & Dardenne (2000), Martins-Neto & Alkmim (2001), Castro (2004). .... 13
Figura 2.4 Coluna estratigráfica do Grupo Bambuí. Modificado de Martins-Neto & Alkmim (2001). 14
Figura 2.5 Sistema de paleocorrentes proposto para a Formação Três Marias por Chiavegatto (1992)
na região homônima. ............................................................................................................................... 19
Figura 2.6 Mapa geológico simplificado da Bacia do São Francisco e mapa esquemático com as
principais estruturas do embasamento da bacia. Modificado de Alkmim (2004). ......................... 22
Figura 2.7 Localização e contexto geotectônico da região do baixo Rio indaiá e Três Marias. (a) Mapa
geológico simplificado e compartimentação da bacia intracratônica do São Francisco. (b) Mapa
estrutural simplificado da porção sul da Bacia do São Francisco e descrição da principais feições
tectônicas observadas ao longo dos compartimentos deformados leste (E) e oeste (W).. Modificado de
(Alkmim et al. 1993, Alkmim & Martins-Neto 2001 e Alkmim 2011 ).......................................... 27
Figura 2.8 Mapa estrutural simplificado da porção sudoeste da Bacia do São Francisco. Os traços
estruturais (falhas e dobras) são localmente obliterados por transcorrências sinistrais. Extraído de
Alkmim & Martins-Neto (2001) e modificado de Magahães (1989)............................................... 28
Figura 2.9 Mapa geológico simplificado da Sub-bacia Abaeté (sudoeste da Bacia do São Francisco).
O perfil a esquerda mostra, segundo Sawasato (1995), a reativação negativa das falhas de João
Pinheiro e Traçadal durante a deposição do Grupo Areado no Cretáceo Inferior (retirado de Alkmim &
Martins-Neto 2001). ................................................................................................................................ 29
Figura 3.1 Interpretação simplificada da seção sísmica 0240-0293 em tempo duplo (TWT/ms)
mostrando a principais associações reconhecidas. I: Embasamento, II: Unidades pré-Bambuí (Pb1 ,
Pb2), III: Grupo Bambuí (unidades Inferior – BI- e Superior – BS)................................................ 32
Figura 3.2 Mapa geológico simplificado da região do baixo Rio Indaiá e Três Marias. Modificado de
Costa et al. (2011), Knauer et al. (2011), Martins et al. (2011) e Reis (2011). As estrelas
correspondem aos pontos de exsudação de gás natural do vale do Rio Indaiá e da região da Serra
Vermelha. ................................................................................................................................................. 34
xvii
Figura 3.3 Coluna estratigráfica com as principais associações litológicas do Grupo Bambuí
aflorantes na região de Águas Claras, Município de Tiros, onde são cobertas, em discordância, pelos
depósitos continentais do Grupo Areado.............................................................................................. 35
Figura 3.4 Coluna estratigráfica representativa do Grupo Bambuí na região da Serra do Palmital,
divisa entre os municípios de Paineiras, Abaeté e Cedro do Abaeté (MG)..................................... 37
Figura 3.5 Coluna estratigráfica do Grupo Bambuí ao longo do vale do baixo Rio Indaiá, próximo a
base da Formação Três Marias e detalhe sobre o as principais fácies do Membro Felixlândia (Parenti-
Couto 1980), aflorante nas proximidades da Represa de Três Marias (Ponto 582 – Anexo 03). .40
Figura 3.6 Modelo de distribuição dos subambientes plataformais e respectivas icnofácies.
Modificado de Walker & Plint (1992). ................................................................................................. 42
Figura 3.7 (A) Coluna estratigráfica do Grupo Bambuí aflorante a nordeste de Morada Nova de
Minas. (B) Coluna estratigráfica do Grupo Bambuí a sul de Morada Nova de Minas, mostrando a
passagem gradacional entre as formações Serra da Saudade (contendo lente de pelito carbonoso) e
Três Marias.. ............................................................................................................................................. 43
Figura 3.8 Esquema comparativo entre as medidas de paleocorrentes, cristas de ripples e lineações de
partição registradas para as formações Serra da Saudade e Três Marias, comparadas às informações
obtidas por Chiavegatto (1992).. ........................................................................................................... 44
Figura 3.9 (A) Calcarenito fino (recristalizado) da Formação Lagoa do Jacaré (Ponto 330, Região de
Águas Claras). (B) Pelito laminado e levemente basculado da Formação Serra da Saudade, Córrego
Jacu (Ponto 476 – Anexo 03). (C) Calcarenito intercalado por estratos mili a centimétricos de
ooesparrudito da Formação Serra da Saudade, Fazenda do Gabriel (Ponto 344 – Anexo 03). (D)
Associação entre pelito verde (verdete) e arenito da Formação Serra da Saudade, Serra do Palmital.
Note a estratificação cruzada do tipo hummocky, indicando retrabalhamento por ondas de tempestade.
(E e F) Ripples marks em arenitos arcoseanos micáceos da Formação Três Marias. Em (F) a acentuada
simetria indica a atuação de fluxos ondulatórios durante a sedimentação da unidade (Ponto 289 –
Anexo 03). ................................................................................................................................................ 45
Figura 3.10 (A) Localização das seções sísmicas e do poço 9-PSB-16-MG. TM: Três Marias, Ti:
Tiros, Mn: Morada Nova de Minas e Co: Corinto. (B) Detalhe da seção sísmica em tempo duplo 0240-
0296 (destacada em A e C) mostrando a geometria e as principais características sísmicas do Grupo
Bambuí face às unidades subjacentes. (C) Composição das seções sísmicas 0240-0298 e 0240-0296
(em tempo duplo - TWT) e interpretação simplificada, mostrando a continuidade e geometria dos
refletores atribuídos ao Grupo Bambuí... ............................................................................................. 47
Figura 3.11 Perfil composto do Poço 9-PSB-16-MG (CPRM/PETROBRÁS), locado imediatamente a
norte da cidade de Corinto (Fig. 3.8).. .................................................................................................. 49
Figura 3.12 Correlação aproximada entre as colunas levantadas na região do baixo Rio Indaiá (Figs.
3.3, 3.4 e 3.7-b) e o Poço 9-PSB-16-MG (CPRM/PETROBRÁS). .................................................. 50
Figura 3.13 (A) Estratificação cruzada de porte decamétrico em arenito bem selecionado e com
estratificação bimodal do Grupo Areado. (B) Arenito conglomerático do Grupo Areado com
estratificações tabulares plano-paralelas e cruzadas tangenciais em discordância angular erosiva com
os sedimentos do Grupo Bambuí. (C) Argilito vermelho do Grupo Areado com camada centimétrica
de arenito esbranquiçado exibindo perturbações por carga. Repare nos pequenos plútons de areia em
meio às frações pelíticas. (D) Icnofóssil (Taenidium isp. ?) em arenito fluidizado do Grupo Areado
(Ponto 174 – Anexo 03). (E) Ciclos centimétricos de granodecrescência ascendente (gda) em rocha
epiclástica do Grupo Mata da Corda (Ponto 352 – Anexo 03). (F) Contato discordante angular e
erosivo entre arenito estratificado e vulcanoclástica alterada dos grupos Areado e Mata da Corda,
respectivamente........................................................................................................................................ 54
Figura 3.14 Coluna estratigráfica do Grupo Areado na região de Jaguara (Ponto 159 – Anexo 03)
mostrando associação local dos arenitos bem selecionados e unidades psamo-rudíto-pelíticas.. 55
xviii
Artigo Figura 1. Mapa de localização da Folha Serra Selada (1:100.000) no contexto da Bacia do São
Francisco, mostrando as principais vias de acesso a partir de Belo Horizonte e os mais importantes
centros urbanos locais. ............................................................................................................................ 61
Artigo Figura 2 Mapa geológico simplificado da Folha Serra Selada (1:100.000), modificado de Reis
(2010). ....................................................................................................................................................... 63
Artigo Figura 3 Localização da Área 9, Programa de Levantamentos Aerogeofísicos do Estado de
Minas Gerais (2005/2006). Fonte: Lasa (2007). ................................................................................. 64
Artigo Figura 4 Fluxograma das etapas de processamento dos dados aeromagnetométricos e
aerogamaespectrométricos na confecção dos mapas geofísicos da Folha Serra Selada (1:100.000).
.................................................................................................................................................................... 65
Artigo Figura 5 Mapa do Campo Magnético Anômalo (retirado IGRF) interpretado da Folha Serra
Selada (1:100.000).. ................................................................................................................................ 67
Artigo Figura 6 Mapa da Primeira Derivada Vertical do Campo Anômalo, Folha Serra Selada
(1:100.000).. ............................................................................................................................................. 68
Artigo Figura 7 Mapa do Campo Anômalo Residual, Folha Serra Selada (1:100.000). ............. 69
Artigo Figura 8 Sobreposição do Mapa da Amplitude do Sinal Analítico e a distribuição das
principais unidades magnéticas aflorantes (compilado a partir de dados de campo), Folha Serra Selada
(1:100.000). .............................................................................................................................................. 70
Artigo Figura 9 Gamaespectrometria nos canais de K, Th e U na área da Folha Serra Selada
(1.100.000). Sobre a imagem ternária foram lançados os traços das principais falhas e unidades
litoestratigráficas mapeadas (grupos Bambuí, Areado e Mata da Corda). ...................................... 71
Artigo Figura 10 Teores de potássio (K%) ao longo de um perfil (A-B) de orientação N-S e que corta
a zona de exsudações de gás natural da porção nordeste da Folha Serra Selada. Os teores de potássio
foram obtidos do Mapa Gamaespectrométrico - canal K, apresentado na Figura 9. Localizações das
zonas de emanações e do perfil acima são mostradas nas figuras 2 e 9, respectivamente. ........... 73
Figura 4.1 Mapa de Anomalia Bouguer com a interpretação das principais anomalias do Cráton do
São Francisco (Cruz & Alkmim 2006) e as respectivas conformações gravimétricas destacadas na
Tabela 4.1.. ............................................................................................................................................... 78
Figura 4.2 Perfis gravimétricos ao longo do Cráton do São Francisco e faixas dobradas adjacentes (a e
b) comparados com modelo esquemático de uma colisão de placas tectônicas e anomalia gravimétrica
associada (c). Este último modificado de Fountain & Salisbury 1981 (in Oliver 1983)............... 79
Figura 4.3 Mapa de Anomalia Bouguer (TOPEX/POSEIDON), detalhando a região do Alto de Três
Marias.. ..................................................................................................................................................... 82
Figura 4.4 Campo Magnético Anômalo (Lasa 2007) mostrando lineamentos predominante orientados
segundo NE. As linhas tracejadas aparentemente correspondem a diques não aflorantes, cuja anomalia
magnética é ressaltada nas regiões em que o embasamento encontra-se mais próximo da superfície... 82
Figura 4.5 Digrama tridimensional com interpretação das seções sísmicas 0240-0295, 0240-0293 e
0240-0294.. ............................................................................................................................................... 83
Figura 4.6 Lineamentos e alinhamentos interpretados sobre imagem Geocover (Landsat). Tanto os
depósitos cretácicos (grupos Areado e Mata da Corda) quanto as coberturas neógenas são destacados,
as demais regiões associam-se aos sedimentos neoproterozóicos do Grupo Bambuí. Estes últimos
compõem o compartimento leste (CL), deformado e subdividido nos domínios SE (DSE), SW (DSW),
e N (DN), e o compartimento oeste (CO), indeformado. A linha contínua delimita a zona estrutural
relacionada às unidades cretácicas. Os diagramas representam as principais direções de
lineamentos/alinhamentos obtido na imagem e respectivos comprimentos acumulados. ............. 85
xix
Figura 4.7 Dobra em kink de porte decamétrico nas proximidades da foz do Rio Indaiá na Represa de
Três Marias. A intersecção entre as kink bands tem a orientação em torno de SSW (Ponto 130 – Anexo
03). ............................................................................................................................................................. 86
Figura 4.8 (A) Dobra em chevron fechada e levemente vergente para oeste (Ponto 302 – Anexo 03).
A estrutura exibe encurtamento aproximado de 40% e ângulo interflanquial de 50º. (B) Traço da
superfície axial (PA) em dobra chevron assimétrica (Ponto 290 – Anexo 03). (C) Estreograma
sinóptico dos eixos de dobra (B) ao longo do copartimento oeste. (D) Dobras apertadas a isoclinais em
verdete da Formação Serra da Saudade, próximo a zona de falha.................................................... 87
Figura 4.9 Diagramas sinópticos de juntas (a e b). Em (c) junta plumosa em arenito da Formação Três
Marias (Ponto 545 – Anexo 03)............................................................................................................. 90
Figura 4.10 Estereogramas de pólos do acamamento (So), eixos de dobras (B) e rosetas de juntas para
os distintos domínios do compartimento oeste e zonas de transcorrência de Paineiras e Serra Vermelha
(De E). Os diagramas de So sugerem uma sutil vergência geral para E, ao passo que a concentração de
eixos B mostra um leve caimento geral para norte nos domínios SE e SW (A e B), enquanto no
domínio N (C) estas estruturas tendem a cair para sul (geral). Em D e E é possível notar a mudança na
orientação das estruturas ao longo das zonas de transcorrências. DT: direção de transporte tectônico
inferido conforme Modelo de Hansen (Twiss & Moores 2007). ...................................................... 91
Figura 4.11 Figura esquemática mostrando as principais relações entre as juntas (J), eixos de dobra
(Lb) e estrias (Le) ao longo do domínio SE (Serra do Palmital). Eixos geométricos (a, b e c) segundo
Hobbs et al. (1976). ................................................................................................................................. 93
Figura 4.12 Arranjo tridimensional das seções sísmicas 0240-0295, 0240-0298 e 0240-0293 em
tempo duplo (TWT/ms), localizadas no Domínio Deformado (A). (B) TM: Três Marias, Ti: Tiros e
Co: Corinto. .............................................................................................................................................. 94
Figura 4.13 Bloco diagrama mostrando as seções sísmicas (TWT/ms) da Figura 4.8 interpretadas e
sua relação com a topografia e algumas das principais estruturas geológicas mapeadas em superfície..95
Figura 4.14 Orientação das principais estruturas observadas ao longo do compartimrnto leste (região
de Morada Nova de Minas).. .................................................................................................................. 97
Figura 4.15 Roseta mostrando os conjuntos principais de juntas das unidades cretácicas. À esquerda,
as mesmas estruturas afetando arenitos do Grupo Areado. ............................................................... 98
Figura 4.16 Afloramento próximo às margens do Rio Borrachudo, na região da Fazenda Pindaíbas
(Ponto 505 – Anexo 03). Pelitos dobrados do Grupo Bambuí (porção inferior) são cortados por feixe
de falhas normais mergulhantes para oeste e responsáveis pelo espessamento generalizado dos
depósitos do Grupo Areado, assentados sobre os pelitos neoproterozóicos através de discrodância
erosiva e angular. ..................................................................................................................................... 99
Figura 4.17 Paleotensões calculadas pelo Método dos Diedros Retos através de medidas de juntas
cisalhantes e falhas (A). Os diagramas mostram um regime de deformação distensional puro,
exibindo índice R’=0.4 (sensu Delvaux et al. 1997 apud Lipski 2002 ). (B) Junta cisalhante em pelito
do Grupo Bambuí relacionada à deposição do Grupo Areado. É possível notar a superfície estriada
(Le) e coberta por óxido de manganês. Em (C) rosetas e estereogramas mostrando as principais
características dos planos e estrias medidos.. .................................................................................... 100
Figura 4.18 Interpretação simplificada das seções sísmicas 0240-0295 (a), 0240-0298 (b) 3 0240-0296
(c) mostrando a continuidade dos principais refletores sísmicos ao longo de toda porção centro-sul da
Bacia do São Francico.. ........................................................................................................................ 103
Figura 4.19 Ilustração mostrando a influência das estruturas da bacia e espessura sedimentar na
geometria curva do cinturão de falhas e dobras (a, b, c e d). Os desenhos à direita de cada figura
mostram os traços das falhas gerados em modelo de caixa de areia (Retirado de Marshak 2004). (f)
Mapa de lineamentos e principais traços estruturais da ao longo da região do baixo Rio Indaiá. A linha
tracejada corresponde ao limite externo da Saliência de Três Marias............................................ 108
xx
Figura 4.20 Esquema evolutivo da região centro-oeste da Bacia do São Francisco, no baixo Rio
Indaiá.. ..................................................................................................................................................... 110
Figura 5.1 Seção sísmica 0240-0293 em tempo duplo (TWT/ms). As linhas tracejadas destacam as
descontinuidades (traço pontilhado) próximas às zonas axiais das dobras regionais e relacionadas às
zonas de exsudação de gás natural (estrelas). .................................................................................... 113
Figura 5.2 Exsudações de gás em córrego na região de Serra Vermelha (Morada Nova de Minas) (a e
b) e no baixo Rio Indaiá (c). As setas vermelhas indicam os pontos de emanação. Em (a) é possível
observar os seeps alinhados segundo a direção NW e sua relação com flanco de antiforme suave ao
fundo. (d) Falha normal oblíqua cretácica (fase de deformação D3) em arenito da Formação Três
Marias, cuja direção parece influir localmente na orientação das exsudações de hidrocarbonetos.114
xxi
xxii
Lista de Tabelas
Artigo Tabela 1 Reposta gamaespectrométrica das principais litologias do Grupo Bambuí na área
abrangida pela Folha Serra Selada (1:100.000). ................................................................................. 74
Tabela 4.1 Principais anomalias gravimétricas observadas ao longo do Cráton do São Francisco
. ................................................................................................................................................................... 79
Tabela 4.2 Relação das principais fases de deformação, etapas e estruturas associadas que afetam as
unidades estratigráficas analisadas ao longo da região do baixo Rio Indaiá. ............................... 102
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Lista de Anexos
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Resumo
A região do baixo curso do Rio Indaiá, situada no setor sudoeste da Bacia do São Francisco, nas
proximidades das cidades Tiros, Paineiras, Morada Nova de Minas e Três Marias em Minas Gerais,
encerra um grande número de exsudações naturais de gás. Visando à caracterização do cenário
geológico de tais emanações, realizou-se na região um estudo estratigráfico e estrutural fundamentado
em trabalhos de campo e interpretação geofísica. Além do embasamento, constituído por uma
assembléia de rochas arquenas e paleoproterozóicas, cinco outras unidades litoestratigráficas foram
reconhecidas na área de estudo. As unidades mais antigas, designadas pré-Bambuí (Pb1 e Pb2) não
afloram e foram caracterizadas apenas em seções sísmicas. Constituem sucessões sedimentares de
idade incerta que preenchem e cobrem baixos e altos do embasamento limitados por falhas normais de
direção preferencial NE. Sobre estas unidades jazem as rochas neoproterozóicas do Grupo Bambuí
que, em superfície, é representado pelas formações Lagoa do Jacaré, Serra da Saudade e Três Marias,
compostas por pelitos e carbonatos marinhos, capeados por tempestitos arcoseanos. As rochas
sedimentares e vulcanogênicas cretácicas dos grupos Areado e Mata da Corda são as unidades mais
jovens que ocorrem na região. Os elementos tectônicos presentes são relativos a três fases de
formação. A primeira fase (D1), de natureza distensional, gerou grabens e horsts de direção NE que
envolvem apenas embasamento e parte das unidades pré-Bambuí. A fase D2, compressional, foi
responsável pelo desenvolvimento de um cinturão de dobras e falhas de empurrão epidérmico de
antepaís, no qual tomam parte somente as rochas do Grupo Bambuí. Este cinturão, que é a
manifestação intracratônica do front orogênico da Faixa Brasília, formou-se em nível crustal
relativamente raso, sob um campo compressivo WNW-ESE. As estruturas D1 descrevem, em mapa,
uma grande curva com a concavidade voltada para oeste, a Saliência de Três Marias, cuja geometria
resulta de variações de espessura do Grupo Bambuí e irregularidades do embasamento local.
Elementos da fase de deformação D3 se superpõem aos das demais fases e relaciona-se à geração e
evolução da Sub-bacia Abaeté, no Cretáceo Inferior. Nesta fase, desenvolveram-se falhas normais de
direção N-S, geralmente associadas ao crescimento de seções estratigráficas do Grupo Areado, e
juntas de cisalhamento de direção NNE e NW. Quando examinadas a luz dos resultados obtidos no
estudo, as exsudações de gás natural do vale do Rio Indaiá se mostram associadas a estruturas
distensionais tanto da fase D2 quanto na fase D3. A íntima associação destas ocorrências com a
culminação da Saliência de Três Marias sugere algum controle desta feição tanto sobre elas, quanto
sobre as acumulações de hidrocarbonetos em profundidade.
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Abstract
The lower Indaiá River valley, located in the southwestern portion of the São Francisco Basin near the
towns of Tiros, Paineiras, Morada Nova de Minas and Três Marias, in Minas Gerais state, contains a
large number of gas seepages. In order to characterize the geologic scenario of the seepages, a
stratigraphic and structural study was carried out in the region, based on field data and geophysical
analyses. Besides the basement, which is made up of Archean and Paleoproterozoic rock assemblages,
five other lithostratigraphic units have been recognized in the study area. The oldest units, pre-Bambuí
Pb1 and Pb2, are not exposed and were observed only in seismic sections. They correspond to
successions of uncertain age that fills and covers NE-trending basement grabens and horsts. These
units are overlain by the Neoproterozoic Bambuí Group, represented in the field by the Lagoa do
Jacaré, Serra da Saudade and Três Marias formations, composed of pelites and carbonates caped by
arcosic tempestites. The cretaceous sedimentary and volcanic rocks of the Areado and Mata da Corda
groups are the youngest units exposed in the region. The tectonic fabric elements recognized in the
lower Indaiá river valley are products of three deformation phases. The first phase (D1) was
extensional and generated NE-trending grabens and horsts, that affect only basement and part of the
pre-Bambuí units. The second phase, the compressional D2, was responsible for the development of a
thin-skinned foreland fold-thrust belt that involves only the Bambuí Group. This belt, which
corresponds to the intracratonic manifestation of the Brasilia belt orogenic front, developed at shallow
crustal level under a WNW-ESE oriented contraction. D2-structures describe in map view a large
curve, whose concave side faces west: the basin controlled Três Marias Salient. D3-phase structures
overprint the older fabric elements and are associated to the development and evolution of the Abaeté
Sub-basin, during Lower Cretaceous. This phase nucleated NS-trending normal faults coeval to the
deposition of the Areado Group, as well as NNE and NW-oriented shear fractures. When examined in
the light of the obtained results, the lower Indaiá river gas seepages seem to be controlled by
extensional structures of both D2 and D3 deformational phases. The relation between the distribution of
the seepages and the apex of Três Marias Salient suggests some influence of this structure upon their
occurrence and the subsurface hydrocarbon accumulations.
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CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO
Inserida no setor sudoeste da bacia sedimentar do São Francisco, a região do baixo Rio Indaiá foi
foco de importantes estudos geológicos de cunho regional desde o início do século XX. Os primeiros
esforços se devem a Freyberg (1932), que foi o responsável pela subdivisão da então chamada Série
Bambuí (Rimann 1917) nas camadas Indaiá e Gerais. Após a descoberta de ocorrências de gás natural na
região de Três Marias entre as décadas de 60 e 80 (Araújo 1988 apud Pinto et al. 2001), a região foi alvo
de novos estudos (Menezes Fº et al. 1978), os quais culminaram nos levantamentos geofísicos executados
pela PETROBRÁS, bem como descrições de novas ocorrências ao final da década de 80 (Projeto
PETROBRÁS-METAMIG 1989 apud Signorelli et al. 2003). Alguns anos mais tarde, a área foi objeto de
novos projetos de mapeamento geológico regional (Signorelli et al. 2003, Pedrosa-Soares et al. 2011 ),
constituindo atualmente um dos alvos das pesquisas de hidrocarbonetos na Bacia do São Francisco.
Sobre a região do baixo Rio Indaiá e arredores da Represa de Três Marias, onde se concentra um
grande número de emanações de gás natural, uma série de questões geológicas ainda espera por respostas.
Muitas destas questões decorrem principalmente da intensa deformação experimentada pelas rochas do
Grupo Bambuí, que, aliada ao avançado grau intempérico, dificultam o reconhecimento direto de relações
estratigráficas e a análise estrutural de feições regionais. Ao mesmo tempo, o crescente interesse nos
sistemas de hidrocarbonetos ao longo de toda Bacia do São Francisco trouxe a tona uma nova série de
problemas relativos às ocorrências de gás natural já documentadas. Todas estas questões podem ser
resumidas em uma só pergunta: qual é o cenário geológico da zona de emanações de hidrocarbonetos do
baixo Indaiá?
1.2 - OBJETIVOS
Visando caracterizar o cenário geológico das exsudações de gás da região do baixo Indaiá e
também contribuir com o conhecimento acerca da Bacia do São Francisco, o estudo realizado teve como
objetivos específicos os seguintes:
Caracterizar o arcabouço estrutural da Bacia do São Francisco ao longo da região do baixo Rio
Indaiá, com ênfase especial na determinação da geometria em sub-superfície do front
deformacional neoproterozóico e suas relações com estruturas do embasamento.
Caracterizar a evolução tectônica da Bacia do São Francisco na região do baixo Rio Indaiá.
Caracterizar cenário geológico e os controles das exsudações de gás natural da região em foco.
A área de estudo, localizada na porção centro-oeste de Minas Gerais, aborda parte dos municípios
de Morada Nova de Minas, Tiros, Paineiras, Biquinhas, São Gonçalo do Abaeté e Três Marias. Baliza-se
pelas coordenadas geográficas 45º00’W- 19º00’S e 46º00’W- 18º00’S e engloba as regiões do baixo Rio
Indaiá e da Represa de Três Marias. Esta região é coberta pelas folhas topográficas (1:100.000) Serra
Selada, Serra das Almas, Três Marias e Morada Nova de Minas (Serviço Geográfico do Exército – SGE).
O acesso, a partir de Belo Horizonte, pode ser feito tanto pela rodovia BR262, quanto pela BR040,
em distâncias de cerca de 300 km e 250 km, respectivamente (Fig. 1.1).
1.4 - METODOLOGIA
Com o objetivo de alcançar os objetivos propostos, as análises foram realizadas com o emprego de
múltiplas ferramentas.
Figura 1.1 Localização da área de estudo e principais vias de acesso à partir de Belo Horizonte (BH). TM: Três
Marias, Ti: Tiros. Projeto Alto-Paranaíba (1:100.000) (Pedrosa-Soares et al. 2011 ): I – Folha Luz; II- Folha Campos
Altos; III-Folha São Gotardo; IV-Folha Carmo do Paranaíba; V – Folha Serra Selada; VI – Folha Morada Nova de
Minas; VII – Folha Três Marias; VIII – Folha Serra das Almas; IX – Folha Presidente Olegário. A região hachurada
corresponde a área coberta pelo levantamento geofísico concedido pela CODEMIG (Lasa 2007).
A análise estrutural foi realizada com o emprego da sua metodologia clássica e também contou
com o emprego de dados gravimétricos, magnetométricos e sísmicos de reflexão.
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Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
1) Levantamento bibliográfico e compilação dos principais dados existentes ao longo da porção oeste
da Bacia do São Francisco, bem como estudos realizados na região do baixo Rio Indaiá e Três
Marias.
2) Estudo e interpretação de imagens de satélite e dados aerogeofísicos. Para tal, foram utilizados
dados dos sensores remotos Landsat 7 (Miranda 2005) e Aster (GDEM)1 e os levantamentos
aerogamaespectrométricos e aeromagnetométricos disponibilizados pela Companhia de
Desenvolvimento de Minas Gerais (CODEMIG) (Lasa 2007).
3) Obtenção dos dados gravimétricos, tratamento, produção de mapas de anomalia Bouguer e
interpretação.
4) Numa primeira campanha de campo, foram descritas estações na área abrangida pela Folha Serra
Selada (1:100.000) (Fig. 1.1). Esta etapa foi realizada em conjunto com o Projeto Alto Paranaíba
(Pedrosa-Soares et al. 2011). Posteriormente, foram levantados perfis estruturais-estratigráficos
ao longo das regiões contempladas pelas seções sísmicas concedidas ao projeto (Fig. 1.1). Ainda
foi foco desta etapa, a descrição de estruturas rúpteis e respectivas ornamentações. Na terceira e
última campanha, foram coletados dados de estruturas rúpteis (rúpteis-ducteis) ao longo do baixo
Rio Indaiá e Represa de Três Marias, bem como catalogadas e descritas as principais zonas de
exsudação de gás natural.
5) Análises macro e microscópicas das rochas neoproterozóicas e cretácicas dos grupos Bambuí (em
especial dos carbonatos do Membro Felixlândia, Formação Serra da Saudade) e Areado
aflorantes na Folha Serra Selada (1:100.000).
6) Interpretação das seções sísmicas e dados de poço concedidos ao projeto pela Agência Nacional
do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Trata-se de 5 seções sísmicas (0240-0293,
0240-0294, 0240-0295, 0240-0296 e 0240-0298), em tempo duplo e estaqueadas, que cobrem
cerca de 230 km e perfil composto de poço (9PSB16-MG) locado na região de Corinto-MG (Fig.
1.1). Uma vez que os dados de poços disponíveis não continham perfis sônicos, não foi possível
amarrar as linhas sísmicas ao poço.
1
Disponível para download em https://wist.echo.nasa.gov/wist-bin/api/ims.cgi?mode=MAINSRCH&JS=1
4
Contribuições às Ciências da Terra
7) Confecção de mapa estrutural com base nas informações obtidas nas etapas anteriores e
compilação dos dados recuperados do Projeto Alto Paranaíba (Pedrosa-Soares et al. 2011);
8) Redação da dissertação.
Figura 1.2 Localização da Área 9, Programa de Levantamentos Aerogeofísicos do Estado de Minas Gerais
(2005/2006). Fonte: Lasa (2007).
A partir dos dados obtidos no levantamento foram gerados, com auxílio do software Oasis
montaj® (sistema GEOSOFT), os mapas do Campo Magnético Anômalo, Gradiente Vertical (de primeira
ordem) do Campo Anômalo, Campo Residual e Amplitude do Sinal Analítico, bem como os mapas
gamaespectrométricos nos canais K, Th e K e Imagem Ternária. As principais fases de tratamento dos
dados são ilustradas no fluxograma da Figura 1.3.
5
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
Figura 1.3 Fluxograma das etapas de processamento dos dados aeromagnetométricos e aerogamaespectrométricos
na confecção dos mapas geofísicos.
Para a confecção dos mapas gravimétricos foram utilizados os dados de anomalia free-air e
topográficos, obtidos por satélite (TOPEX/POSEIDON). Os dados apresentam resolução espacial de 1
minuto e encontram-se disponíveis em ftp://topex.ucsd.edu/pub/. A conversão dos valores obtidos para
dados de anomalia Bouguer foi realizada conforme a correção indicada na Figura 1.4.
Com auxíllio do software Oasis Motaj® (Geosoft), foram gerados o mapa de anomalia Bouguer
regional, cobrindo parte do Cráton do São Francisco e faixas dobradas adjacentes, e o mapa de anomalia
bouguer de detalhe, destacando os principais contrastes gravimétricos no entorno da área de estudo (ver
Cap. 4). Para a interpolação das informações, utilizou-se o método da curvatura mínima, segundo a rotina
do programa. O fluxograma da Figura 1.5 ilustra as principais etapas de processamentos dos dados.
6
Contribuições às Ciências da Terra
Figura 1.4 Correção Bouguer aplicada sobre os dados de anomalia free-air obtidos. Foram utilizadas densidades
médias de 2,6g/cm3 para a crosta continental e nula para o ar.
Figura 1.5 Fluxograma mostrando as principais etapas de processamento dos dados gravimétricos e topográficos
obtidos por satélite (TOPEX/POSEIDON). A linha tracejada (c) corresponde aos limites do Cráton do São Francisco
segundo Alkmim et al. (1993) e modificado por Cruz & Alkmim (2006), a partir do qual foram individualizados os
diferentes domínios gravimétricos. A-A’ e B-B’ corresponde à localização dos perfis apresentados na Figura 4.2.
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Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
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CAPÍTULO 2
A bacia sedimentar do São Francisco, que cobre quase integralmente porção oeste e
meridianamente alongada do cráton homônimo (Fig. 2.1), encerra sucessivos ciclos bacinais posteriores a
1,8Ga (Alkmim & Martins-Neto 2001). Inclui as unidades pré-cambrianas dos supergrupos Espinhaço e
São Francisco (e correlatos), bem como os depósitos fanerozóicos dos grupos Santa Fé, Areado, Mata da
Corda e Urucuia.
Figura 2.1 A Bacia do São Francisco como parte do cráton homônimo. Em (a) o mapa geológico simplificado com
as principais unidades de preenchimento. Em (b) o modelo digital do terreno, mostrando as principais feições de
relevo e os limites da bacia. SC Serra do Cabral; SCT Serra Central; SP Serra de Palmas de Monte Alto; SG Serra
Geral de Goiás.
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
A Bacia do São Francisco se estende por uma área aproximada de 500.000km2 e ocupa parte dos
estados de Minas Gerais, Goiás e Bahia. Segundo Alkmim & Martins-Neto (2001), a mesma é delimitada
pelas seguintes feições (Fig. 2.1):
A leste, pelo setor externo do Orógeno Araçuaí (Pedrosa-Soares et al. 2001, Alkmim et al.
2007).
A oeste e a norte, pelas faixas Brasília e Rio Preto, respectivamente (Almeida 1977).
2.1.1 Estratigrafia
A principal unidade aflorante nos domínios da Bacia do São Francisco é o supergrupo homônimo,
que assenta discordantemente sobre as rochas metassedimentares do Supergrupo Espinhaço aflorantes ao
longo das serras do Cabral, Água Fria e Bicudo, na porção oeste da bacia em Minas Gerais. Localmente, o
Supergrupo São Francisco é coberto, em discordância, pelas unidades fanerozóicas dos grupos Santa Fé,
Areado, Mata da Corda e Urucuia (Figs. 2.2 e 2.6).
2.1.1.1 O embasamento
Considerando as definições propostas por Alkmim & Martins-Neto (2001), fazem parte do
embasamento da Bacia do São Francisco todas as unidades paleoproterozóicas e arqueanas mais antigas
que 1,8Ga. As principais exposições do embasamento ocorrem no setor sul da bacia, ao longo do Alto de
Sete Lagoas, a norte do Quadrilátero Ferrífero, e junto ao seu limite nordeste. Elas incluem complexos de
gnaisses e migmatitos TTG (tonalito-trondhjemito-granodiorito), corpos graníticos e seqüências do
greenstone belt, além de pacotes metassedimentares paleoproterozóicos (e.g.: Pinho 2008, Teixeira et al.
2000 in Martins-Neto & Alkmim 2001, Noce et al. 2007).
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Contribuições às Ciências da Terra
Figura 2.2 Coluna estratigráfica simplificada da bacia intracratônica do São Francisco, mostrando as principais
unidades de preenchimento (Alkmim & Martins-Neto 2001).
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Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
Na região da Serra do Cabral (MG), porção leste da Bacia do Francisco, as unidades média e
superior do Supergrupo Espinhaço são expostas ao longo de uma grande culminação antiformal. Estas são
compostas, predominantemente, quartzitos intercalados com filitos, localmente exibindo lentes de
metabrechas e seções carbonáticas. Correspondem aos registros de ambiente eólico da Formação Galho do
Miguel, sotopostos aos sedimentos marinhos plataformais do Grupo Conselheiro Mata e que, juntos,
alcançam espessuras superiores aos 2000m (Scholl & Fogaça 1979, Almeida-Abreu 1995, Souza Fº 1995).
Por outro lado, na região das serras Central (MG) e Palmas de Monte Alto (BA), afloram seções
correlacionáveis às porções inferior e superior do supergrupo (Bertholdo 1995 in Alkmim 2011, Knauer et
al. 2005).
Inicialmente nomeada “Série São Francisco” por Derby (1880 apud Magalhães 1989) e redefinida
com o status de grupo por Plfug & Renger (1973), esta unidade litoestratigráfica foi alvo de importantes
trabalhos regionais ao longo das últimas décadas (e.g.: Freyberg 1932, Costa & Branco 1961, Braun 1968,
Dardenne 1978, Dardenne 1981). O Supergrupo São Francisco é dividido em duas grandes unidades
litoestratigráficas, os grupos Macaúbas e Bambuí, que representam uma sucessão de sedimentos
neoproterozóicos depositados, predominantemente, em ambiente marinho plataformal, com contribuição
glaciogênica.
Nos domínios da Bacia do São Francisco, o Grupo Macaúbas é representado pelas unidades
correlatas da Formação Jequitaí (e.g.: Karfunkel & Hoppe 1988, Hercos 2008), enquanto o Grupo Bambuí
corresponde aos depósitos pelito-carbonáticos do Subgrupo Paraopeba (sensu Braun 1968), sobrepostos
pelos psamitos e pelitos da Formação Três Marias (Dardenne 1978, Dardenne 1981). Conforme Costa &
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Contribuições às Ciências da Terra
Branco (1961) e Castro & Dardenne (2000), são também incluídos no Grupo Bambuí os conglomerados
Carrancas e a Formação Samburá (Fig. 2.3).
Figura 2.3 Litoestratigrafia simplificada do Supergrupo São Francisco. Modificado de Costa & Branco (1961), Plufg
& Renger (1963), Braun (1968), Dardenne (1978), Karfunkel & Hoppe (1988), Uhlein (1991), Castro & Dardenne
(2000), Martins-Neto & Alkmim (2001), Castro (2004).
A Formação Jequitaí
As principais exposições da Formação Jequitaí ocorrem na região homônima e ao longo das serras
do Cabral, Água Fria e Bicudo (proximidades de Corinto – MG), na porção leste da bacia. A formação é
composta, essencialmente, por diamictitos, pelitos e psamitos, assentados discordantemente sobre as
unidades superiroes do Supergrupo Espinhaço (Dardenne & Walde 1979, Hercos 2008).
Tais depósitos são interpretados como sedimentos de origem glacial (Karfunkel & Hoppe 1988,
Uhlein et al. 2004, Hercos 2008), com idades máximas de deposição em torno de 880Ma, em
concordância com as idades de zircões detríticos obtidas por Rodrigues (2008).
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Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
O Grupo Bambuí
O Grupo Bambuí aflora ao longo de toda a Bacia do São Francisco e constitui uma sucessão
pelito-carbonatada plataformal, que passa em direção ao topo para depósitos tempestíticos e sucessões
areno-argilosas e arcoseanas, também marinhas (Dardenne 1978, Chiavegatto 1992). Podem ser
distinguidos, pelo menos, três megaciclos em shallowing-upward no Grupo Bambuí (Dardenne, 1981;
Martins-Neto & Alkmim, 2001), os quais envolvem as alternâncias dos pacotes lutíticos e carbonáticos do
Subgrupo Paraopeba (sensu Braun, 1968) e os psamitos de topo da Formação Três Marias (Fig. 2.3).
Conforme dados de poços compilados por Fugita & Clark Fº (2001), o grupo apresenta espessuras
variáveis de poucas centenas de metros na região de Montalvânia (MG) a cerca de 1800m nas
proximidades de Remanso do Fogo (MG). Por outro lado, dados de campo e seções sísmicas indicam
espessuras superiores a 2000m ao longo da borda ocidental da Bacia do São Francisco (Dardenne 1981,
Zalán & Romeiro-Silva 2007).
Figura 2.4 Coluna estratigráfica do Grupo Bambuí, mostrando as relações entre suas principais unidades, bem como
os sucessivos ciclos em shallowing upward. Modificado de Martins-Neto & Alkmim (2001).
14
Contribuições às Ciências da Terra
Embora exista certo consenso a respeito do ambiente tectônico dos depósitos psamo-pelíticos da
Formação Três Marias (e.g.: Uhlein 1991; Chiavegatto 1992), o mesmo não pode ser dito sobre as
sequências basais do Grupo Bambuí. Consideradas por alguns autores como correspondentes aos de uma
bacia intracratônica não influenciada por sobrecargas tectônicas marginais (e.g.: Uhlein 1991, Zalán &
Romeiro-Silva 2007), a seção basal deste grupo ainda é alvo de grande discussão.
Inicialmente aventada por Chang et al. (1988) e Barbosa et al. (1970), a hipótese de todo Grupo
Bambuí corresponder ao registro de uma bacia de antepaís foi novamente levantada por Martins-Neto &
Alkmim (2001). Segundo estes autores, uma série de evidências corrobora tal interpretação, incluindo a
geometria observada em seções sísmicas regionais, a distribuição de fácies sedimentares e sua relação com
o front deformacional da Faixa Brasília, entre outras. Dados geocronológicos recentemente publicados
indicam uma idade máxima de deposição para o Subgrupo Paraopeba de 610 Ma, obtida através de zircões
detríticos da Formação Sete Lagoas (Figs. 2.3 e 2.4, Rodrigues 2008). Aliada à marcante presença de
zircões ediacaranos ao longo de toda a sequência Bambuí, tal dado indica uma importante área-fonte
situada nos domínios da Faixa Brasília, a oeste. A proveniência de sedimentos do Orógeno Araçuaí não
pode ser também descartada, uma vez que, já a esta época, começavam a se desenvolver os primeiros
registros acrescionários do cinturão (Pedrosa-Soares et al. 2007). Por outro lado, isócronas Pb/Pb de
740Ma ±22Ma obtidas em cap carbonates da porção basal do Grupo Bambuí (Babinski et al. 2007),
indicam uma evolução pretérita e, portanto, mais complexa para o grupo.
O Grupo Bambuí é subdividido em cinco formações: Carrancas, Sete Lagoas, Samburá, Serra de
Santa Helena, Lagoa do Jacaré, Serra da Saudade e Três Marias.
Embora a posição estratigráfica da Formação Carrancas ainda seja tema de discussões (e.g.:
Dardenne 1978), esta unidade foi inserida na base do Grupo Bambuí por Costa & Branco (1961). Suas
principais exposições se restringem à região de Sete Lagoas (MG), onde ocorrem sob os carbonatos da
Formação Sete Lagoas.
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Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
As principais exposições da Formação Sete Lagoas ocorrem na região homônima (MG), com
unidades correlativas ao longo da porção centro-norte da Bacia do São Francisco e nos arredores da Serra
de São Domingos (GO) (Dardenne 1979). Embora discutível, alguns autores correlacionam a esta
formação parte das rochas carbonáticas expostas nas regiões de Arcos e Pains, na porção sudoeste da bacia
(Madalosso & Veronese 1978, Heineck et al. 2003). Na sua área tipo, é composta por uma sucessão de
margas, pelitos, dolomitos e calcários, que, localmente, contêm estromatólitos colunares e porções
oolíticas (Dardenne 1981). Vieira et al. (2007) descrevem na porção basal da unidade calcilutitos com
leques de psdeudomorfos de aragonita.
A Formação Sete Lagoas é interpretada com uma seqüência de rampa carbonática dominada por
tempestades e arranjada segundo dois ciclos transgressivos (Vieira et al. 2007). Conforme Babinski et al.
(2007) a seção basal, com leques aragoníticos, representa uma sucessão de carbonatos pós-glaciais, cujos
valores isotópicos de δ13C passam de negativos a positivos, nas unidades sobrejacentes.
Conforme análises de zircões detríticos realizadas em rochas das regiões de Sete Lagoas e Serra
de São Domingos, Rodrigues (2008) indica fontes com um amplo espectro de idades, variando de
arquenas a neoproterozóicas. Os zircões mais jovens encontrados na unidade possuem idade em torno de
610Ma. Babinski et al. (2007) indica para os cap carbonates basais idade deposicional de 740±22Ma,
obtida através de isócronas Pb/Pb.
Aflorante apenas no setor sudoeste da Bacia do São Francisco, a Formação Samburá foi
correlacionada à Formação Jequitaí por Dardenne (1978, 1981), esta última entendida pelo autor como
base do Grupo Bambuí. Posteriormente, Magalhães (1988), em uma interpretação similar, posiciona a
unidade na porção basal do Grupo Bambuí, diretamente abaixo dos carbonatos e depósitos pelíticos
aflorantes nas regiões de Arcos e Pains (MG). É composta por orto e paraconglomerados, com seixos de
quartzo, xisto, gnaisses, milonitos, quartzitos e filitos. Em direção ao topo, estes depósitos intercalam-se
com siltitos e argilitos feldspáticos (Magalhães 1989). Em estudos abrangendo as regiões da Serra da
Pimenta e alto Rio São Francisco, Castro & Dardenne (2000) interpretam estas unidades como depósitos
de fan delta, tendo como fonte principal os domínios da Faixa Brasília. Estes mesmos autores atribuem à
Formação Samburá uma espessura aproximada de 200m e a posicionam sobre os carbonatos basais do
Grupo Bambuí. Dardenne et al. (2003) reportam para Formação Samburá zircões detríticos com idades
entre 1,8 e 0,65Ga.
16
Contribuições às Ciências da Terra
A Formação Serra de Santa Helena tem suas principais exposições na porção sudeste da Bacia do
São Francisco, onde jaz concordantemente sobre os carbonatos da Formação Sete Lagoas. Individualizada
como membro por Branco & Costa (1961), a formação engloba folhelhos e siltitos cinza a cinza
esverdeados laminados, frequentemente intercalados por arenitos finos e calcários acinzentados (Dardenne
1978, Dardenne 1981). Correspondem a sedimentos marinhos depositados em plataforma siliciclástica
distal (Vieira et al. 2007). Idades obtidas em zircões detríticos por Rodrigues (2008) mostram
espectro similar ao da Formação Sete Lagoas, com picos em torno de 650 e 750Ma.
As exposições mais expressivas da Formação Lagoa do Jacaré ocorrem nas regiões da Serra do
Cabral/Serra Mineira (MG) e na região de Januária (MG), onde se assenta concordantemente sobre as
unidades da Formação Serra de Santa Helena. Segundo Dardene (1978; 1981), a Formação Lagoa do
Jacaré é composta por uma alternância de calcários oolíticos e pisolíticos, cinza-escuros, fétidos e ricos em
matéria orgânica, siltitos e margas acinzentados.
Em trabalhos realizados ao longo do vale do Rio São Francisco (região de Januária), Iglesias &
Uhlein (2009) descrevem como principais estruturas sedimentares para esta formação,
estratificações/laminações plano-paralelas, marcas onduladas, gretas de ressecamento e, localmente,
estruturas similares a estratificações cruzadas hummocky. Nesta região, os litotipos carbonato-pelíticos da
Formação Lagoa do Jacaré assentam-se em contato gradacional sobre as unidades sotopostas e mostram
espessuras de até 140m. Conforme os autores, tais sedimentos correspondem a depósitos plataformais de
alta energia, sujeita a constante retrabalhamento e episódios de tempestade. Tal interpretação está em
concordância com as conclusões de Souza Fº (1995) e Hercos (2008) ao estudarem as unidades correlatas
aflorantes na região da Serra do Cabral (MG).
Originalmente, a Formação Serra da Saudade foi posicionada por Branco & Costa (1961) sobre os
sedimentos da Formação Três Marias (quando individualizada como membro). Entretanto, estudos
posteriores mostraram que esta unidade assenta-se concordantemente sobre os depósitos da Formação
Lagoa do Jacaré (e.g.: Braun 1968, Dardenne 1978;1981, Chiavegatto 1992).
A Formação Serra da Saudade aflora ao longo de toda a Bacia do São Francisco e, segundo
Dardenne (1981), corresponde a siltitos, argilitos e folhelhos cinzentos e verdes, intercalados por calcários
negros, ricos em matéria orgânica, bem como bancos oolíticos e pisolíticos com estratificações cruzadas
acanaladas.
17
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
Nos arredores de Cedro do Abaeté (MG), esta formação hospeda importantes ocorrências de
fosforitos, as quais se associam a ritmitos pelito-arenosos verdes e ricos em glauconita (verdetes). Tais
depósitos foram detalhadamente estudados por Lima et al. (2007). Conforme estes autores, nesta região, a
Formação Serra da Saudade corresponde a uma seqüência plataformal, que exibe padrão geral em
coarsening upward e culminando em depósitos relativamente rasos e influenciados por ondas de
tempestade. Lima et al. (2007) concluem que os minerais fosfáticos precipitaram-se em ambientes mais
profundos e redutores, sendo posteriormente reconcentrados na forma de fosforitos através do
retrabalhamento por ondas de tempestade.
Análises U/Pb em cerca de 50 zircões detríticos dessa formação revelam fontes com idades
arquenas a neoproterozóicas, cujos principais picos se situam em torno de 650 e 800Ma (Rodrigues 2008).
Originalmente definidos como “Arenitos Pirapora” por Eschwege (1832 apud Chiavegatto 1992),
as rochas da Formação Três Marias foram nomeadas Membro Três Marias por Costa & Branco (1961),
que posicionaram-nas estratigraficamente abaixo das unidades do então Membro Serra da Saudade.
Posteriormente, Braun (1968) e Dardenne (1978; 1981) atribuem o status de formação à sequencia
aflorante ao longo da região de Três Marias e interpretam-na como topo do Grupo Bambuí.
A Formação Três Marias é composta, predominantemente, por arcóseos e siltitos verdes a cinza-
esverdeados, localmente, avermelhados, assentados sobre os sedimentos da Formação Serra da Saudade
através de um contato gradacional (Dardenne 1981). Conforme Gomes (1988) estes depósitos apresentam
em sua composição quartzo, feldspato, mica e clorita detríticas, bem como fragmentos líticos e minerais
opacos. Segundo este autor, a formação experimentou uma história diagenética em quatro estágios, um
dos quais foi responsável pela precipitação da hematita que confere a cor avermelhada para alguns
litotipos.
Segundo Chiavegatto (1992), as rochas expostas na região de Três Marias (MG) correspondem a
sedimentos plataformais rasos, depositados sob intensa influência de ondas de tempestade. Este autor
reconhece ainda, um padrão geral regressivo e demonstra, através de análises sedimentológicas apuradas,
que a principal área-fonte destes sedimentos encontra-se a noroeste da região de Três Marias (Fig. 2.5).
Embora o autor tenha sugerido uma espessura máxima em torno de 220m para a formação nos arredores
de Três Marias, Alvarenga & Dardenne (1978 apud Chiavegatto 1992) atribuem espessuras em torno de
1050m para unidade nos arredores da Serra de São Domingos (MG), borda oeste da Bacia do São
Francisco.
18
Contribuições às Ciências da Terra
Chiavegatto et al. (1997) descrevem, na região nordeste da Bacia do São Francisco (MG), um
contato de natureza erosiva entre as formações Três Marias e Serra da Saudade. Este contato é definido
por conglomerado oligomítico, marcado por abundantes quantidades de clastos de carbonatos e arcóseos.
Populações de zircões detríticos obtidas nas regiões de Três Marias e Santa Fé de Minas e datadas
por Rodrigues (2008), mostram espectro de áreas-fonte similar às demais unidades do Grupo Bambuí.
Entretanto, predominam as fontes neoproterozóicas, cujos picos se situam em 770 e 630 Ma.
Figura 2.5 Sistema de paleocorrentes proposto para a Formação Três Marias por Chiavegatto (1992) na região
homônima.
2.1.1.4 Unidades fanerozóicas: os grupos Santa Fé, Areado, Mata da Corda e Urucuia
19
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
(Campos & Dardenne 1997a, Sgarbi et al. 2001). O grupo ocorre em afloramentos restritos ao longo do
eixo central da Bacia do São Francisco.
É composto por tilitos, folhelhos com seixos pingados e arenitos, alcançando espessuras máximas
de 180m na região de Santa Fé de Minas (MG) (Campos & Dardenne 1997a). Comumente, estes depósitos
ocorrem associados a pavimentos estriados sobre os arcóseos da Formação Três Marias (Sgarbi et al.
2001).
O Grupo Areado aflora ao longo de todo o eixo central da Bacia do São Francisco, apresentando
suas exposições mais contínuas ao longo da denominada Sub-bacia Abaeté (Campos & Dardenne 1997a).
Engloba os sedimentos das formações Abaeté Quiricó e Três Barras, com espessura máxima da ordem de
300m (Kattah 1991) e assentados discordantemente sobre as unidades neoproterozóicas do Grupo Bambuí.
O Grupo Mata da Corda aflora apenas na porção sudoeste da Bacia do São Francisco e exibe
espessura máxima em torno de 200m (Sgarbi et al. 2001). Engloba as formações Patos e Capacete, e é
composto por rochas vulcânicas a sub-vulcânicas, depósitos vulcanoclásticos e sedimentos epiclásticos
(Campos & Dardenne 1997a). Estas unidades associam-se aos importantes complexos alcalinos-
carbonatíticos-fosforíticos que ocorrem ao longo de todo o setor sudoeste da Bacia do São Francisco
(Marchão et al. 2008).
A idade neocretácica atribuída ao Grupo Mata da Corda é indicada por datações K-Ar em micas
de corpos kamafugíticos da Formação Patos (Sgarbi 2011).
As principais exposições do Grupo Urucuia ocorrem na porção norte da Bacia do São Francisco,
ao longo do vale do rio homônimo (Campos & Dardenne 1997a). É composto predominantemente por
arenitos eólicos e aluviais, com espessura máxima de c.a. 200m na região de São Domingos (GO). A
unidade é interpretada como neocretácica e assenta-se, em grande parte da bacia, discordantemtente sobre
os sedimentos do Grupo Bambuí (e.g.: Campos & Dardenne 1997a, Sgarbi et al. 2001).
20
Contribuições às Ciências da Terra
Com base em dados geofísicos, de campo e poços (Magalhães 1989, Souza Fº 1995, Fugita &
Clark Fº 2001, Zalán & Romeiro-Silva 2007, Coelho 2007, Hercos 2008), podem ser destacadas as
seguintes estruturas do embasamento ao longo da Bacia do São Francisco:
Baixo de Pirapora – Em mapas gravimétricos Bouguer (Fig. 2.6-b) correspondem a uma grande
anomalia negativa orientada segundo NW. Sugerida primeiramente por Souza Fº (1995), esta
estrutura foi intepretada por Alkmim & Martins-Neto (2001) como um braço do sistema de rifes
Espinhaço. Linhas sísmicas regionais mostram que ao longo desta estrutura ocorre um marcante
espessamento das unidades paleo/mesoproterozóicas que preenchem a bacia (Coelho 2007, Zalán
& Romeiro-Silva 2007, Hercos 2008).
Alto de Januária – Manifesta-se como marcadas anomalias magnetométricas (Borges & Drews
2001) e gravimétricas (Fig. 2.6-b). Conforme Alkmim (2011), assim como o Alto de Sete Lagoas,
pode ser intepretado como a continuação, bacia à dentro, do embasamento exposto junto ao limite
nordeste da bacia. Ao longo desta estrutura, dados de poços mostram um notável adelgaçamento
das unidades neoproterozóicas do Grupo Bambuí, região de Montalvânia (MG) (Fugita & Clark Fº
2001).
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Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
Figura 2.6 (a) Mapa geológico simplificado da Bacia do São Francisco, enfatizando as principais unidades de
preenchimento e os principais traços estruturais. (b) Mapa esquemático com as principais feições do embasamento da
bacia. Modificado de Alkmim (2004).
Sob o ponto de vista estrutural, a bacia compreende quatro compartimentos estruturais distintos
(Alkmim et al. 1993), três deles deformados e um indeformado (Fig. 2.6). Os compartimentos deformados
leste, oeste e norte correspondem a cinturões de antepaís e representam a expressão intracratônica das
faixas brasilianas Araçuaí, Brasília e Rio Preto, respectivamente. Exibem, de uma maneira geral,
polaridade tectônica centrípeta, voltada para o interior cratônico.
Os compartimentos leste e oeste correspondem a cinturões de dobras e falhas com orientação geral
N-S e envolvem somente as unidades pré-cambrianas de cobertura (Alkmim 2004). Tais cinturões são
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Contribuições às Ciências da Terra
separados pelo compartimento central, onde as rochas neoproterozóicas do Grupo Bambuí ocorrem
indeformadas (Figs. 2.6, 2.7).
Segundo Alkmim & Martins-Neto (2001), além das vergências opostas, os cinturões de antepaís
destes compartimentos exibem diferenças significativas no que se refere ao metamorfismo e estilo
deformacional. As principais diferenças se devem a ausência de metamorfismo e clivagens penetrativas no
compartimento oeste. Neste setor, zonas transcorrentes desempenham importante papel na acomodação da
deformação, marcando corredores de deformação sinistrais NW-SE em sua porção meridional e zonas
transcorrentes destrais NE-SW em seu setor extremo setentrional.
Por outro lado, no compartimento leste, as rochas dos supergrupos Espinhaço e São Francisco
comumente exibem clivagen penetrativas e metamorfismo relativamente mais alto, alcançando, junto à
Serra do Espinhaço, metamorfismo na fácies xisto verde. Neste compartimento são raras as falhas
direcionais, sendo observáveis, frequentemente, pares de juntas conjugados de direção NE-SW e NW-SE
(Figs. 2.6, 2.7). Tais diferenças sugerem que os dois compartimentos estão expostos em níveis estruturais
distintos. Aparentemente, o compartimento leste experimentou um soerguimento mais expressivo que o
compartimento oeste.
A porção sudoeste da Bacia do São Francisco, onde se localiza a área estudada, é caracterizada
por exposições de rochas neoproterozóicas do Grupo Bambuí e depósitos cretácicos dos grupos Areado e
Mata da Corda. As rochas neoproterozóicas tomam parte de um cinturão de antepaís epidérmico com
vergência geral para leste, enquanto as unidades cretácicas, assentadas discordantemente sobre os
sedimentos pré-cambrianos, encontram-se horizontalizadas e indeformadas (Fig. 2.7).
2.2.1 Estratigrafia
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Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
parte destas unidades faz contato com os metassedimentos dos grupos Canastra e Vazante (Magalhães
1989, Bacellar 1989, Alkmim & Martins-Neto 2001).
A fácies carbonática aflora nos arredores de Arcos e Pains (MG) e corresponde a uma sucessão de
calcilutitos, calcarenitos, calcarenitos dolomíticos e dolarenitos, localmente relacionados a corpos
estromatolíticos hemisferoidais e porções oolíticas e intraclásticas. Estas rochas exibem
estratificações/laminações plano-paralelas, cruzadas tabulares, gretas de ressecamento e, por vezes,
estratificações cruzadas hummocky. Segundo as observações de Magalhães (1989) estes litotipos se
arranjam segundo um padrão do tipo shallowing upward. Embora correlacionados à Formação Sete
Lagoas por Madalosso & Veronese (1978), a sua posição na coluna proposta por Dardenne (1978, 1981)
ainda é discutível (Alkmim 2011).
24
Contribuições às Ciências da Terra
A fácies psamo-pelítica aflora ao longo de todo o setor sudoeste da Bacia do São Francisco e
engloba argilitos laminados, argilitos com intercalações siltosas e camadas de diamictitos, em sua porção
média, terminando em argilitos com lentes de arenito, no topo. Esta fácies engloba ainda pelitos verdes
(verdetes), jaspelitos e arenitos ferruginosos, os dois últimos descritos na região de Lagoa Formosa (MG)
e Córrego D’Anta (MG), respectivamente, por Seer et al. (1987 apud Alkmim 2011) e Magalhães (1989).
Conforme este autor, boa parte desta fácies pode ser correlacionada à Formação Serra da Saudade.
A Formação Três Marias, aflorante ao longo da região homônima, foi descrita por Signorelli et al.
(2003) como duas associações de fácies distintas, que englobam uma sucessão de siltitos, arcóseos,
arenitos arcoseanos e, subordinadamente, siltitos e argilitos amarronzados e ferruginosos.
Assim como em diversos setores da Bacia do São Francisco, estas unidades são parcialmente
cobertas pelas unidades fanerozóicas dos grupos Areado e Mata da Corda.
De acordo com os estudos realizados por Magalhães (1989), Bacellar (1989), Alkmim et al.
(1993) e Sawasato (1995), podem ser reconhecidos no setor sudoeste da bacia dois grandes conjuntos de
estruturas, um envolvendo as unidades pré-cambrianas e outro relacionado aos registros fanerozóicos.
Como mostrado por Coelho (2007) e Coelho et al. (2008), o cinturão de antepaís do
compartimento oeste da bacia (Alkmim et al. 1993) é de natureza epidérmica e articulado em um
descolamento próximo à base do Grupo Bambuí (Fig. 2.7). Possui dobras e falhas que, ao longo do setor
sudeste da Bacia do São Francisco, representa a porção externa da Faixa Brasília (Alkmim & Martins-
Neto 2001). Neste setor, a deformação brasiliana foi acomodada na forma de dobras em todas as escalas,
falhas de empurrão e sistemas de falhas transcorrentes (Alkmim 2004). Limita-se a oeste por uma grande
falha de orientação geral N-S que alça os metassedimentos do Grupo Canastra sobre os depósitos do
Supergrupo São Francisco.
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Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
Segundo Magalhães (1989), podem ser reconhecidas, na região, duas famílias de estruturas, ambas
geradas em duas etapas distintas durante a Orogenia Brasiliana. Constituem elementos formados em
condições crustais relativamente rasas, como indicado pela ausência de metamorfismo e clivagens
penetrativas (Fig. 2.8):
Assim como indicado por Bacelar (1989), Magalhães (1989) postula que esta deformação afetou
o Grupo Bambuí posteriormente à fase de deformação dúctil responsável por parte da estruturação das
rochas do Grupo Canastra, a oeste da Bacia do São Francisco. Segundos os autores, evidências de campo
mostram que os sedimentos do Grupo Canastra foram deformados em nível crustal inferior, antes mesmo
da deposição do Grupo Bambuí.
Na região de Três Marias (MG), Bacellar (1989) descreve um evento compressivo similar ao
descrito por Magalhães (1989) no extremo sudoeste da bacia. Conforme este autor, as principais estruturas
aflorantes ao longo desta região correspondem às falhas inversas/empurrão de João Pinheiro e Traçadal
(não–aflorante), localmente responsáveis pela inversão estratigráfica das unidades do Grupo Bambuí.
Signorelli et al. (2003), por outro lado, interpreta a Falha de Traçadal como um sistema transcorrente
sinistral.
26
27
Figura 2.7 Localização e contexto geotectônico da região do baixo Rio indaiá e Três Marias. (A) Mapa geológico simplificado e compartimentação
da bacia intracratônica do São Francisco. Cidades: SL-Sete Lagoas, TM-Três Marias, P-Paracatu, C-Cristalina. (B) Mapa estrutural simplificado da
porção sul da Bacia do São Francisco e descrição da principais feições tectônicas observadas ao longo dos compartimentos deformados leste (E) e
oeste (W). No extremo sul o embasamento arqueano/paleoproterozóico é exposto ao longo do Alto de Sete Lagoas. Localização da figura em (a).
Contribuições às Ciências da Terra
Modificado de (Alkmim et al. 1993, Alkmim & Martins-Neto 2001 e Alkmim 2011 ).
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
Figura 2.8 Mapa estrutural simplificado da porção sudoeste da Bacia do São Francisco. Os traços estruturais (falhas
e dobras) são localmente obliterados por transcorrências sinistrais. A seção geológica mostra a relação entre as
principais unidades aflorantes. Extraído de Alkmim & Martins-Neto (2001) e modificado de Magahães (1989).
Em estudos de detalhe ao longo da Sub-bacia Abaeté (Campos & Dardenne 1997b), proximidades
de Presidente Olegário (MG), Sawasato (1995) descreve uma série de estruturas posteriores à deformação
pré-cambriana. Estas estruturas se superimpõem à deformação brasiliana e relacionam-se às unidades
cretácicas dos grupos Areado e Mata da Corda. Assim como postulado por Hasui & Haraly (1991 apud
Sgarbi et al. 2001), o autor indica importantes reativações das estruturas neoproterozóicas durante o
Cretáceo Inferior (Fig. 2.9). Podem ser individualizados os seguintes conjuntos de estruturas:
28
Contribuições às Ciências da Terra
Falhas normais sinistrais de direção NE-SW que, aparentemente, exercem grande controle
sobre os principais sistemas de drenagens locais e regionais de orientação similar. Tais
estruturas afetam os arenitos do Grupo Areado e nuclearam-se após a diagênese destes
depósitos.
Figura 2.9 Mapa geológico simplificado da Sub-bacia Abaeté (sudoeste da Bacia do São Francisco). O perfil a
esquerda mostra, segundo Sawasato (1995), a reativação negativa das falhas de João Pinheiro e Traçadal durante a
deposição do Grupo Areado no Cretáceo Inferior (retirado de Alkmim & Martins-Neto 2001).
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Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
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CAPÍTULO 3
3.1 – INTRODUÇÃO
Embora contemplada com importantes estudos geológicos ao longo dos últimos anos, a região do
baixo Rio Indaiá ainda representa, sob o ponto de vista estratigráfico, um problema. Grande parte dele se
deve, à deformação impressa sobre os sedimentos do Grupo Bambuí e à qualidade das exposições, o que
dificulta significativamente a condução de uma análise estratigráfica e sedimentológica e,
conseqüentemente, uma interpretação paleoambiental.
Por não aflorarem ao longo da área de trabalho as unidades inferiores ao Grupo Bambuí serão
brevemente discutidas com base apenas na interpretação de seções sísmicas.
As seções sísmicas disponíveis para a área do baixo Indaiá mostram, pelo menos, quatro
associações litológicas distintas. A primeira corresponde ao embasamento e representa o grupo de
refletores inferiores sem qualquer padrão de distribuição. Localmente, exibem uma série de
descontinuidades, aqui interpretadas como falhas normais responsáveis pela acomodação da associação
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
Figura 3.1 Interpretação simplificada da seção sísmica 0240-0293 em tempo duplo (TWT/ms) mostrando a
principais associações reconhecidas. I: Embasamento, II: Unidades pré-Bambuí (Pb1 , Pb2), III: Grupo Bambuí
(unidades Inferior – BI- e Superior – BS). Notar ao aumento de espessura das Unidades pré-Bambuí em direção a
norte e as discordâncias angulares entre estas e o Grupo Bambuí Inferior (BI).
32
Contribuições às Ciências da Terra
Diretamente sobre Pb1, ocorre a associação Pb2, marcada pela quase inexistência de refletores
internos. Quando estes ocorrem, constituem elementos de baixa amplitude, relativamente contínuos e
subparalelos. Esta unidade tende acunhar-se e praticamente desaparecer em direção à região sul da área
(norte de Paineiras), onde os depósitos superiores do Grupo Bambuí ocorrem em onlap sobre a mesma
(Fig. 3.1). Embora ocorra em praticamente todas as seções analisadas, somente sua geometria e padrões
sísmicos não permitem interpretações seguras sobre sua gênese. Por outro lado, dadas as geometrias
observadas e sua continuidade regional, a mesma poderia corresponder aos depósitos pós-rift, que
sucederiam à unidade inferior (Pb1).
As unidades do Grupo Bambuí aflorantes no setor oeste da área estudada encontram-se em geral
deformadas e se distribuem ao longo de anticlinais e sinclinais de caráter regional, cujos eixos orientam-se
aproximadamente na direção N-S. No extremo leste da região aqui enfocada, os componentes do grupo
acham-se praticamente indeformados e horizontalizados (Fig. 3.2).
É possível reconhecer, da base para o topo do Grupo Bambuí, três grandes associações litológicas
principais: associação carbonática, associação pelito-psamo-carbonática e associação psamo-pelítica.
Aparentemente, estas associações exibem entre si desde passagens bruscas a gradacionais e são
correlacionáveis, respectivamente, às formações Lagoa do Jacaré, Serra da Saudade e Três Marias, no
sentido de Dardenne (1978; 1981) (Figs. 3.2, 3.3 e 3.4).
As formações basais do Grupo Bambuí afloram apenas nas proximidades de Traçadal e não foram
observadas em campo. Nesta região, as unidades encontram-se alçadas sobre os sedimentos da Formação
Três Marias pela Falha de Traçadal (Anexo 01). Embora individualizadas nas formações Sete Lagoas e
Serra de Santa Helena por Costa et al. (2011) e Martins et al. (2011), as suceções pelito-carbonatadas
descritas pelos mesmos serão aqui consideradas como Subgrupo Paraopeba indiviso (Fig. 3.2). Conforme
interpretações sísmicas, as unidades aflorantes na região parecem corresponder aos sedimentos de toda
porção inferior/intermediária do Grupo Bambuí.
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Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
Figura 3.2 Mapa geológico simplificado da região do baixo Rio Indaiá e Três Marias. Modificado de Costa et al.
(2011), Knauer et al. (2011), Martins et al. (2011) e Reis (2011). 1: Falha de João Pinheiro, 2: Falha do Pontal, 3:
Falha do Rio Borrachudo e 4: Falha do Traçadal. ZTP: Zona de Transferência Paineiras, ZTSV: Zona de
Transferência Serra Vermelha. TM: Três Marias, Mn: Morada Nova de Minas, Sga: São Gonçalo do Abaeté e Pa:
Paineiras. As estrelas correspondem aos pontos de exsudação de gás natural do vale do Rio Indaiá e da região da
Serra Vermelha.
34
Contribuições às Ciências da Terra
Figura 3.3 Coluna estratigráfica com as principais associações litológicas do Grupo Bambuí aflorantes na região de
Águas Claras, Município de Tiros, onde são cobertas, em discordância, pelos depósitos continentais do Grupo
Areado.
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Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
Constitui uma das unidades que afloram praticamente ao longo de toda área em foco, distribuindo-
se de maneira mais expressiva a sul e sudeste da Represa de Três Marias. Nela predominam argilitos e
siltitos laminados (Fig. 3.9-b), localmente intercalados com frações margosas a francamente carbonáticas
que mostram laminações cruzadas tabulares de porte centimétrico. Quando frescos, os pelitos exibem
cores variando entre tons acinzentados e esverdeados. Quando intemperizados são amarelados a
avermelhados. Possuem como constituintes principais quartzo, argilominerais e mica detrítica, comumente
disposta sobre os planos de estratificação.
Na Serra do Palmital (Anexo 01), a formação contém ainda ritmitos pelito-arenosos verdes
(verdetes), que, localmente, mostram gradação normal (Figs. 3.4 e 3.9-d). Em lâmina, estes ritmitos
exibem a passagem gradual de leitos arenosos milimétricos para termos argilosos de coloração verde mais
intensa.
Segundo Lima et al. (2007) a coloração verde nestes litotipos reflete as elevadas quantidades de
glauconita, presentes especialmente nas frações mais finas. É importante notar que estes ritmitos
apresentam ainda elevadas quantidades de K, aparentemente concentradas em feldpatos e na própria
glauconita (Lima et al. 2007). Tal característica, por sua vez, permite a fácil identificação das seqüências
ritmicas verdes através de mapas gamaespectrométricos (vide Cap. 3.5).
36
Contribuições às Ciências da Terra
Associadas a esta formação, foram descritas, nas regiões do Ribeirão Santa Marta, Traçadal,
Morada Nova de Minas e oeste da localidade de Lagoa (São Gonçalo do Abaeté), lentes centi a
decimétricas, negras e de caráter argilo-carbonoso (pontos 373, 520, 547 e 557 – Anexo 03, Fig. 3.7-b).
Lâminas palinológicas foram preparadas, seguindo a rotina laboratorial padrão, e revelaram a existência
de matéria orgânica (Meyer 2010 com. verb.). Entretanto, análises em luz azul refletida-fluorescência
ainda carecem ser realizadas, a fim de determinar quais componentes sob estão sendo decompostos.
Nos perfis levantados na Serra do Palmital, os ritmitos do topo da unidade exibem ripples
assimétricos, cujas cristas de orientam-se preferencialmente segundo NE e, desta forma, indicam
paleocorrentes dirigidas para SE (Fig. 3.8).
Figura 3.4 Coluna estratigráfica representativa do Grupo Bambuí na região da Serra do Palmital, divisa entre os
municípios de Paineiras, Abaeté e Cedro do Abaeté (MG).
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Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
Na sucessão da Formação Serra da Saudade, destaque especial pode ser dado para uma seção de
pouco mais de 2,5 metros aflorante ao longo do Rio Indaiá, nas proximidades da Represa de Três Marias
(Ponto 582 – Anexo 03). Situado alguns metros abaixo do contato entre as formações Serra da Saudade e
Três Marias (Fig. 3.5-a), este pacote é composto por dololutitos, dolorruditos e biolititos e possui
contínuidade até a região de Felixlândia (cerca de 70 km a oeste). Correspondente ao Membro Felixlândia
da Formação Serra da Saudade, originalmente descrito por Parenti-Couto (1980). No vale do Indaíá pode
ser subdividido, da base para o topo, em quatro litofácies que vão descritas a seguir (Fig. 3.5-b).
Trata-se de dololutito intercalado com lâminas de doloargilito cinza-claro (Fig. 3.5-f) e cortado
por micro-vênulas calcíticas, oblíquas ao acamamento. Exibe estratificação tabular plano-paralela
centimétrica, levemente ondulada. Localmente, as porções mais finas exibem laminação milimétrica
irregular. Em lâmina, corresponde a um micrito, quase totalmente substituído por dolomita microespática.
1
Classificação de carbonatos disponível em http://sepmstrata.org/thinsections/classification.html
38
Contribuições às Ciências da Terra
bioclastos lembram desde restos algálicos a microfósseis com carapaça (?) (Fig. 3.5-e). Micro-cristais de
fluorita e clastos de fosfato (?) ocorrem localmente.
Estromatólito (FET)
Esta litofácies é constiuída por estromatólito bulboso dolomitizado, com laminações irregulares de
espaçamento milimétrico a centimétrico. Laminações escuras são essencialmente milimétricas e ocorrem
em menor freqüência. Em alguns pontos, desenvolvem-se intumescências (bulbos pouco desenvolvidos),
entre os quais pode ocorrer material rudítico. Em corte transversal, estas seções podem exibir zona axial
de até 4 cm. Corresponde a biostroma onde o material original foi completamente substituído por dolomita
(micro) espática, com algumas lâminas micríticas mais escuras preservadas. Localmente, os cristais de
dolomita encontram-se substituídos por calcita, indicando a ocorrência de processos de dedolomitização
(Fig. 3.5-d).
Em lâmina, a rocha varia de grainstone a packstone, com porções micríticas da matriz substituída
por dolomita espática, localmente mostrando crescimento sintaxial (em continuidade ótica com o
arcabouço). Os aloquímicos correspondem a boundstone, wackestone, mudstone (com cavidades
preenchidas por microesparita em algumas porções), grainstone e pellets micríticos. Dissolution seems
ocorrem nos contatos entre mudstone/wackestone e demais aloquímicos. Injeções locais de lama
carbonática sugerem elevada plasticidade durante a consolidação, bem como alguma inversão textural,
uma vez que, por vezes, os aloquímicos encontram-se submersos nas frações lamosas (Fig. 3.5-c).
39
40
Figura 3.5 (A) Coluna estratigráfica do Grupo Bambuí ao longo do vale do baixo Rio Indaiá, próximo a base da Formação Três Marias. (B) detalhe
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
sobre o Membro Felixlândia (Parenti-Couto 1980), aflorante nas proximidades da Represa de Três Marias (Ponto 582 – Anexo 03). (C) Dolorrudito da
fácies FDRT, à direita fotomicrografia mostrando clasto de estromatólito da fácies subjacente (Et) e dissolution seems (Dsm) no contato com mudstone
(Lc). Em (D) estromatólito bulboso exibindo material grosseiro (MIC) entre as “intumescências”. À direita, fotomicrografia (luz polarizada) monstrando
a relação entre a laminação (Lamin) e demais feições do biolitito. A cor rosada corresponde à reação de Alizarina com cristais de calcita. (E)
Fotomicrografias (luz transmitida) mostrando pellets micríticos (P), dolomita espática (DoE) e bioclastos? (B) da fácies FDRB. (F) Contato entre as
fácies FDRB e FDE às margens do Rio Indaiá.
Contribuições às Ciências da Terra
Marcando um aumento de energia em direção ao topo, os depósitos das fácies FDRB, FET
e FDRT parecem representar depósitos de ambientes intermaré a submaré. Dessa forma, o
provável retrabalhamento de dololutitos da fácies inferior (FDE) em FDRB indica uma
intensa ação de correntes remobilizando depósitos distais para regiões mais próximas à
costa, ou mesmo, uma considerável diminuição da lâmina d’água. Franjas isópacas
desenvolvidas sobre os aloquímicos desta unidade sugerem uma cimentação marinha.
Paralelamente, a granocrescência ascendente poderia representar retrabalhamento por
ondas de tempo bom em ambiente praiano, com alguma progradação da linha de costa
(Nichols 2008). Os prováveis bioclastos algálicos e de organismos com carapaça (?)
encontrados, bem como a notável quantidade de pellets micríticos nesta porção, podem
revelar, se confirmados como tais, intensa atividade biológica. Por raramente viverem em
ambientes tão energéticos como o foreshore (Nichols 2008), os bioclastos poderiam
provir de zonas mais profundas (shoreface) e terem sido retrabalhados nas áreas praianas.
A fácies FET indica atividade biológica na zona fótica, sendo que a alta energia do
subambiente seria responsável pela natureza grosseira dos clastos localmente depositados
entres os bulbos. Tais características sugerem um ambiente do tipo shoreface a foreshore,
sob constante influência de correntes, as quais desfavoreceriam o desenvolvimento de
estruturas colunares e ramificações. É importante ressaltar que, esta unidade exibe alguns
indicadores de dedolomitização, o que mostra mais de uma fase de substituição dos
minerais primários.A fácies FDRT parece constituir depósito de ambiente similar a
FDRB. Entretanto, a maior contribuição lamosa na matriz e feições cársticas podem
indicar alguma influência inter a supramaré.
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Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
Figura 3.6 Modelo de distribuição dos subambientes plataformais e respectivas icnofácies. Modificado de Walker &
Plint (1992).
A Formação Três Marias constitui a principal unidade aflorante no setor centro-norte da represa
homônima. Apresenta-se, em geral, muito pouco ou nada deformada, à exceção dos afloramentos situados
mais a oeste, na região de Canastrão (distrito de Tiros) e Lagoa (localidade de São Gonçalo do Abaeté). É
composta essencialmente por uma sucessão areno-pelítica, muitas vezes mostrando expressivas
quantidades de feldspato e mica detrítica em sua composição. Quando alteradas, estas rochas exibem cores
variando entre tons avermelhados, passando a verde, cinza ou roxo, quando frescas. Podem ocorrer na
forma de corpos arenosos de espessura até decamétrica ou ritmitos areno-argilosos (pelíticos), sendo
notável a predominância das frações psamíticas, em relação à formação subjacente.
De uma maneira geral, os psamitos são constituídos essencialmente por quartzo, com quantidades
significativas de muscovita (sericita), feldspato (alcança às vezes até 10% dos clastos) e, freqüentemente,
cimentados por calcita espática. Ocorrem ainda, pequenas quantidades de minerais opacos, clorita
(detrítica), zircão e apatita, comumente representando até 5% da rocha. Estes minerais exibem, na maioria
das vezes, grãos de baixa esfericidade a esféricos e subarredondados a angulosos. Tanto em amostras de
mão, quanto em lâmina delgada é possível observar as micas orientadas segundo os planos de
acamamento.
42
Contribuições às Ciências da Terra
Figura 3.7 (A) Coluna estratigráfica do Grupo Bambuí aflorante a nordeste de Morada Nova de Minas. À direita,
detalhe de uma pequena seção arenosa (arcoseana) com intercalações pelíticas e rudíticas, mostrando estratificações
cruzadas hummocky de pequeno porte discordância interna e lineações de partição (L.P) associadas a arenito
laminado. (B) Coluna estratigráfica do Grupo Bambuí a sul de Morada Nova de Minas, mostrando a passagem
gradacional entre as formações Serra da Saudade (contendo lente de pelito carbonoso) e Três Marias. Nesta, ocorrem
ritmitos areno-pelíticos com estratificações cruzadas e, localmente, granodecrescência ascendente.
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Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
Figura 3.8 Esquema comparativo entre as medidas de paleocorrentes, cristas de ripples e lineações de partição
registradas para as formações Serra da Saudade e Três Marias, comparadas às informações obtidas por Chiavegatto
(1992). Embora o volume de medidas não tenha, a princípio, grande significado estatístico, é considerável a
similaridade entre os dados obtidos pelo autor e os aqui propostos, isso, para ambas as formações.
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Contribuições às Ciências da Terra
Figura 3.9 (A) Calcarenito fino (recristalizado) da Formação Lagoa do Jacaré (Ponto 330, Região de Águas Claras).
(B) Pelito laminado e levemente basculado da Formação Serra da Saudade, Córrego Jacu (Ponto 476 – Anexo 03).
(C) Calcarenito intercalado por estratos mili a centimétricos de ooesparrudito da Formação Serra da Saudade,
Fazenda do Gabriel (Ponto 344 – Anexo 03). (D) Associação entre pelito verde (verdete) e arenito da Formação
Serra da Saudade, Serra do Palmital. Note a estratificação cruzada do tipo hummocky, indicando retrabalhamento por
ondas de tempestade. (E e F) Ripples marks em arenitos arcoseanos micáceos da Formação Três Marias. Em (F) a
acentuada simetria indica a atuação de fluxos ondulatórios durante a sedimentação da unidade (Ponto 289 – Anexo
03).
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Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
Na região de Canastrão foi identificada, na base do domínio Bambuí Inferior, uma sismofácies
sem refletores internos e limitada em seu topo por refletor de amplitude intermediária (BIi). A unidade foi
observada apenas na seção sísmica 0240-0295. Aparentemente, tal sismofácies exerce importante papel
na propagação da deformação compressional que afeta os sedimentos neoproterozóicos (Figs. 4.12 e 4.13,
Cap. 4) .
Assim como na região do baixo Rio Indaiá, o poço exibe da base para o topo, uma sucessão
pelito-carbontada coberta por psamitos. De uma maneira geral, a curva de raios gama (GR) mostra valores
baixos, com pequenas variações diretamente relacionadas às heterogeneidades litológicas. Carbonatos
comumente exibem valores menos elevados, seguidos dos arenitos, siltitos e argilitos/folhelhos.
46
Contribuições às Ciências da Terra
Figura 3.10 (A) Localização das seções sísmicas e do poço 9-PSB-16-MG. TM: Três Marias, Ti: Tiros, Mn: Morada
Nova de Minas e Co: Corinto. (B) Detalhe da seção sísmica em tempo duplo 0240-0296 (destacada em A e C)
mostrando a geometria e as principais características sísmicas do Grupo Bambuí face às unidades subjacentes. (C)
Composição das seções sísmicas 0240-0298 e 0240-0296 (em tempo duplo - TWT) e interpretação simplificada,
mostrando a continuidade e geometria dos refletores atribuídos ao Grupo Bambuí. Note o contraste entre este grupo e
as unidades subjacentes, onde se observa constantes truncamentos e descontinuidades entre os refletores internos. O
quadro amarelo corresponde à seção mostrada em detalhe em (B).
O perfil SP mostra uma série de pequenas incursões negativas que, quando relacionadas a
incursões negativas no perfil de resistividade (RES) parecem indicar o aumento das frações arenosas. Essa
feição é especialmente observada no topo do poço e acompanha uma sutil diminuição no perfil de raios
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Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
gama (GR). Provavelmente ela corresponde à passagem gradacional dos pelitos da Formação Serra da
Saudade para os arenitos da Formação Três Marias descrita em diversos pontos da bacia (e.g.: Chiavegatto
1992),
É importante notar que, embora descritos ao longo de todo o furo, grande parte dos calcários
(limestones) intercalados nos siltitos inferiores/intermediários parecem constituir siltitos carbonáticos. Tal
fato explicaria a grande similaridade radioativa (GR) entres estes litotipos. Por outro lado, as pequenas
incursões negativas no perfil SP observadas nestas porções poderiam ser explicadas pelo aumento das
frações psamíticas neste siltito carbonático (Fig. 3.11).
Dessa forma, assim como os dados levantados em superfície na região do baixo Rio Indaiá, o poço
parece contemplar apenas o Bambuí Superior (BS) observado nas seções sísmicas (e.g.: Figs. 3.1 e 3.10).
Neste sentido, o refletor de maior amplitude, que limita a base desta unidade sísmica, corresponderia aos
carbonatos da Formação Lagoa do Jacaré, enquanto os refletores secundários, na porção interior a
intermediária, seriam relacionados às intercalações carbonáticas em meio aos pelitos da Formação Serra
da Saudade. Em virtude do corte de dados próximos a superfície, não é possível estabelecer correlações
entre a Formação Três Marias e as seções sísmicas.
A Figura 3.12 mostra a correlação proposta entre os perfis estratigráficos levantados na região do
baixo Rio Indaiá e o poço 9-PSB-16-MG (CPRM/PETROBRÁS). Embora a correlação sugira espessuras
praticamente constantes para as formações superiores do Grupo Bambuí na porção centro-sul da Bacia do
São Francisco, as seções sísmicas (Figs. 4.12 e 4.13) sugerem um sutil espessamento da unidade como um
todo em direção ao extremo oeste. Por outro lado, é importante lembrar que a espessura indicada na
coluna de Águas Claras (Fig. 3.3) é aproximada, em virtude da intensa deformação impressa nos
sedimentos pré-cambrianos.
48
Contribuições às Ciências da Terra
Figura 3.11 Perfil composto do Poço 9-PSB-16-MG (CPRM/PETROBRÁS), locado imediatamente a norte da
cidade de Corinto (Fig. 3.8). As setas azuis, vermelhas e verdes indicam incursões observadas nos perfis de raio
gama (GR), potencial espontâneo (SP) e resistividade (RES), respectivamente. As regiões destacadas em amarelo
correspondem às porções aqui entendidas como francamente carbonáticas, enquanto a reta azul tracejada representa o
padrão médio de argilosidade dos siltitos. A estrela verde mostra ponto de elevação anômala da resistividade.
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Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
Figura 3.12 Correlação aproximada entre as colunas levantadas na região do baixo Rio Indaiá (Figs. 3.3, 3.4 e 3.7-b)
e o Poço 9-PSB-16-MG (CPRM/PETROBRÁS).
50
Contribuições às Ciências da Terra
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Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
Ainda no topo desta unidade, a glauconita presente nos ritmitos pelito-arenosos verdes (verdetes)
é um importante indicador de ambiente marinho plataformal relativamente raso (entre 50 e 500m),
marcando o limite entre as zonas oxigenada e redutora (Nichols 2009). Como se trata de um mineral
autigênico formado sob condições onde a taxa de sedimentação é muito baixa, pode constituir ainda
importante indicador de superfície de inundação máxima. Neste momento, com o avanço da linha de costa
para o continente, pouca argila em suspensão chega ao offshore, diminuindo, portanto, o aporte de
sedimentos na zona de cristaização da glauconita (Potter et al. 2005). Ao mesmo tempo, os fosforitos
encontrados associados a estas unidades na região de Cedro do Abaeté (Lima et al. 2007) podem
corresponder a depósitos originalmente formados em condições similares, favorecidos por surgências de
águas mais profundas e ricas em nutrientes.
A existência de lentes pelíticas contendo matéria orgânica nesta formação corrobora tal hipótese,
uma vez que grande parte de depósitos similares antigos foram formados em situações análogas de
elevação do nível do mar. A elevação do nível do mar permite a formação de ambientes anóxicos
profundos (baixa circulação de águas oxigenadas) e diminui a diluição da matéria orgânica (baixa taxa de
sedimentação), possibilitando sua deposição e preservação no registro estratigráfico (e.g.: Nichols 2009,
Potter et al. 2005).
O gradual aumento das frações psamíticas em direção ao topo da unidade sugere condições de
marinhas cada vez mais rasas (shallowing upward). Neste contexto, grande parte dos materiais
glauconíticos e fosfáticos (Lima et al. 2007) teriam sido retrabalhados por tempestades em ambiente
plataformal cada vez mais raso. Este retrabalhamento é evidenciado pela associação destes sedimentos e
termos arenosos, por vezes exibindo estratificações cruzadas hummocky/swaley e seções centimétricas
com granodecrescência ascendente associadas. Tais condições culminariam com a deposição dos arenitos,
arcóseos e pelitos da Formação Três Marias, marcados pela intensa ação de ondas de tempestade
(Chiavegatto 1992). Nas colunas estratigráficas levantadas, o retrabalhamento por ondas de tempestade é
indicado principalmente pela grande frequência de estratificações cruzadas hummocky/swaley. Tais
estruturas comumente ocorrem associadas a ripple marks (simétricas e asimétricas), lineções de partição
(em arenitos laminados) e pequenas seções rudíticas, indicando a atuação de correntes unidirecionais de
alta energia e níveis locais de erosão (e redeposição) gerados durante as tempestades. Estruturas de carga
ocasionais e seções centimétricas com granodecrescência ascendente sugerem substratos inconsolidados e
correntes de turbidez, respectivamente.
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Contribuições às Ciências da Terra
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Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
Figura 3.13 (A) Estratificação cruzada de porte decamétrico em arenito bem selecionado e com estratificação
bimodal do Grupo Areado. (B) Arenito conglomerático do Grupo Areado com estratificações tabulares plano-
paralelas e cruzadas tangenciais em discordância angular erosiva com os sedimentos do Grupo Bambuí. (C) Argilito
vermelho do Grupo Areado com camada centimétrica de arenito esbranquiçado exibindo perturbações por carga.
Repare nos pequenos plútons de areia em meio às frações pelíticas. (D) Icnofóssil (Taenidium isp. ?) em arenito
fluidizado do Grupo Areado (Ponto 174 – Anexo 03). (E) Ciclos centimétricos de granodecrescência ascendente
(gda) em rocha epiclástica do Grupo Mata da Corda (Ponto 352 – Anexo 03). (F) Contato discordante angular e
erosivo entre arenito estratificado e vulcanoclástica alterada dos grupos Areado e Mata da Corda, respectivamente.
54
Contribuições às Ciências da Terra
Figura 3.14 Coluna estratigráfica do Grupo Areado na região de Jaguara (Ponto 159 – Anexo 03) mostrando
associação local dos arenitos bem selecionados e unidades psamo-rudíto-pelíticas. As fácies presentes sugerem a
atuação de sistemas aluviais sucedidos por depósitos tipicamente eólicos (desérticos). Estes últimos são
representados pelos arenitos bem selecionados, bimodais e com estratificações cruzadas decamétricas de grande
porte (g.p.).
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Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
Taenidium isp. (Carvalho 2009 com verb.), provavelmente relacionados ao escape de pequenos artrópodes
durante o colapso das camadas.
Os depósitos desta unidade ocorrem restritos aos topos e encostas de chapada, geralmente muito
alterados e podem ser facilmente confundidos com as coberturas detrito-lateríticas associadas. Assentam-
se sobre os sedimentos do Grupo Areado através de uma discordância angular e erosiva e exibem, na
região, espessuras entre 20 e 80m (Fig. 3.13-f). Correspondem a tufos cineríticos, lapilli-tufos e
aglomerados, localmente associados a brechas vulcânicas. Normalmente, ocorrem como grânulos a
calhaus de rocha caulinizada, emersos e um material argiloso. Quando menos alterados, exibem
estratificações tabulares plano-paralelas. São identificadas ainda, bombas vulcânicas de porte métrico,
relacionadas tanto a estas rochas quanto aos arenitos do grupo subjacente.
Fazem também parte do Grupo Mata da Corda rochas epiclásticas, as quais geralmente
correspondem a arenitos líticos e conglomerados de cores amareladas a esverdeadas. Nestes litotipos,
predominam, no arcabouço, clastos de rochas vulcânicas afaníticas a (sub) porfiríticas e,
subordinadamente, de pelito, quartzo de veio, quartzito, arenito vermelho bem selecionado, gnaisse e
filito. Exibem, na maioria das vezes, estratificações cruzadas tabulares e acanaladas, comumente
alcançando o porte métrico. Em alguns pontos, é possível reconhecer pequenos ciclos de granoderescência
ascendente (Fig. 3.13-e). De uma maneira geral, estes litotipos podem ocorrer intercalados ou
interdigitados com as unidades vulcanoclásticas.
56
Contribuições às Ciências da Terra
al. 2001), os arenitos com estratificações cruzadas de grande porte e com estratificações plano-paralelas
corresponderiam, respectivamente, a depósitos de dunas e interdunas, acumulados em um ambiente
desértico. Neste sentido, é importante lembrar que, o icnogênero Taenidium isp. ocorre comumente
associado a depósitos eólicos similares de idade Mesozóica (Fernandes et al. 2008), muito embora este
tipo de icnofóssil pareça, até então, não ter sido identificado em sedimentos do Grupo Areado.
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Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
Abstract: Located in the southwestern portion of São Francisco Basin, the region covered by the Serra
Selada quadrangle (1:100.000) contains deformed rocks of the Neoproterozoic Bambuí Group, unconformably
overlain by Cretaceous sedimentary and volcaniclastic rocks of the Areado and Mata da Corda groups, respectively.
The aerogeophysical data shows two main magnetometric domains. A low frequency anomalies domain is apparently
related to deep structures of Precambrian basement. High frequency anomalies represent the volcaniclastic/epiclastic
deposits of Mata da Corda Group. The Bambuí Group exhibits intermediate-to-high K and Th contents (1 to 3 % and
10 to 16 ppm, respectively), while U-levels are around 2.5 ppm. Significant changes in these values are caused by the
distribution of rock types, tectonic features and hydrocarbon exudations. Areado Group sediments show low K (< 1
%), low Th (< 10 ppm) and low U (< 2 ppm). Mata da Corda Group volcanics and associated covers exhibit very low
K (sub-traces), and high Th and U concentrations (> 20 and 3 ppm, respectively). These values seem to be strikingly
influenced by weathering processes. The performed analyses confirm the applicability of aerogeophysical data in
geological mapping, and represents an important tool for the study of both the tectonic scenario and hydrocarbon
accumulations in southwestern São Francisco Basin.
Resumo: Localizada na porção sudoeste da Bacia do São Francisco, a área abrangida pela Folha Serra
Selada (1:100.000) contém rochas sedimentares deformadas do Grupo Bambuí (Neoproterozóico), localmente
recobertas, em pronunciada discordância, pelos sedimentos e depósitos vulcanoclásticos/epiclásticos cretáceos dos
grupos Areado e Mata da Corda, respectivamente. Os dados aerogeofísicos mostram dois domínios magnetométricos
principais. Um deles é caracterizado por anomalias de baixa freqüência (ABF), aparentemente relacionadas a
2
Artigo submetido à Revista Brasileira de Geofísica (RBGf) em fevereiro de 2011
58
Contribuições às Ciências da Terra
estruturas do embasamento pré-cambriano local. O outro é marcado por anomalias de alta freqüência (AAF),
representando os depósitos vulconoclásticos/epiclásticos do Grupo Mata da Corda. O Grupo Bambuí exibe teores de
K e Th intermediários a altos (1 a 3 % e 10 a 16 ppm, respectivamente), enquanto os teores de U giram em torno de
2,5 ppm. Esse dados mostram algumas variações, geralmente influenciadas pela distribuição dos diferentes litotipos,
feições estruturais e ocorrência de emanações de hidrocarbonetos. Os sedimentos do Grupo Areado, por sua vez,
mostram baixos conteúdos de K, Th e U (< 1 %, < 10 ppm e < 2 ppm, respectivamente). As rochas do Grupo Mata
da Corda e coberturas associadas têm teores muito baixos de K (sub-traços) e altas concentrações de Th e U (> 20
ppm e > 3 ppm, respectivamente). Estes valores parecem sofrer grande influencia dos processos de intemperismo. As
análises realizadas confirmam a grande aplicabilidade dos levantamentos aerogeofísicos no mapeamento geológico e
constituem excelentes ferramentas no entendimento do cenário tectônico e dos depósitos de hidrocarbonetos da
região sudoeste da Bacia do São Francisco.
INTRODUÇÃO
A Bacia do São Francisco ocupa praticamente toda a porção de orientação meridiana do cráton
homônimo, cobrindo uma área de cerca de 500.000 km2 ao longo dos estados de Minas Gerais, Goiás e
Bahia (Alkmim & Martins-Neto 2001) (Fig.1). Seus limites oeste, noroeste e leste coincidem com os
limites do cráton, ao passo que seu limite sul é de natureza erosiva. O limite nordeste, ao longo da Serra
do Espinhaço Setentrional, é feito com o Corredor do Paramirim, que corresponde a uma zona deformação
intracratônica (Alkmim et al. 1993). Localizada na porção sudoeste da bacia, em Minas Gerais, a Folha
Serra Selada (1:100.000) baliza-se pelas coordenadas geográficas 45º30’ - 46º00’W e 18º30’ - 19º00’S, e
cobre uma área de aproximadamente 3.000 km2. A folha abrange parte das microrregiões de Patos de
Minas, Três Marias e Paracatu, sendo que o acesso a partir de Belo Horizonte pode ser feito tanto pela
rodovia BR262 quanto pela BR040, em distâncias de 300 e 250 km, respectivamente (Fig. 1).
Os primeiros estudos de maior detalhe na região abrangida pela Folha Serra Selada foram
realizados pela PETROBRAS e pela METAMIG (hoje englobada na CODEMIG), entre as décadas de 60
e 80, focados principalmente na prospecção de hidrocarbonetos gasosos (Fugita & Clark Fº 2001; Araújo,
1988 apud Pinto et al. 2001). As descobertas feitas desencadearam, posteriormente, trabalhos de
reconhecimento regional, incluindo levantamentos geofísicos e geoquímicos. Paralelamente, ainda na
década de 70, foram desenvolvidas campanhas de mapeamento geológico na escala 1:250.000, as quais
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Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
cobriram toda a região de Três Marias (Menezes-Filho et al. 1977). Em 2003, grande parte da Bacia do
São Francisco voltou a ser alvo de levantamentos geológicos de superfície nas escalas 1:250.000 e
1:100.000 ( e.g.: Signorelli et al. 2003). A região em foco foi uma das áreas do mapeamento geológico
realizado pelo Projeto Alto Paranaíba (contrato CODEMIG-UFMG, em processo de publicação), e
corresponde a um dos blocos concedidos à ORTENG Ltda e empresas associadas para prospecção de
hidrocarbonetos gasosos.
CONTEXTO GEOLÓGICO
A Bacia do São Francisco (Fig. 1) cobre o setor meridional do cráton homônimo (Almeida 1977).
Em seu registro estratigráfico encerra sucessivos ciclos bacinais posteriores a 1,8 Ga (Alkmim & Martins-
Neto 2001), que vão desde depósitos pré-cambrianos, parcialmente deformados e metamorfisados, a
seqüências indeformadas permo-carboníferas, cretácicas e coberturas associadas (e.g.: Dardenne 1981;
Campos & Dardenne 1997a, 1997b).
60
Contribuições às Ciências da Terra
Figura 1. Mapa de localização da Folha Serra Selada (1:100.000) no contexto da Bacia do São Francisco, mostrando
as principais vias de acesso a partir de Belo Horizonte e os mais importantes centros urbanos locais (BH: Belo
Horizonte, TM: Três Marias e TI: Tiros).
Nesta área ocorrem depósitos neoproterozóicos do Grupo Bambuí, sedimentos do Grupo Areado e
rochas vulcânicas do Grupo Mata da Corda, ambos do Cretáceo, e coberturas cenozóicas (Reis 2010).
61
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
Grupo Bambuí
Alcança uma espessura total aflorante superior a 1200 m, sendo representado, em superfície, pelas
formações Lagoa do Jacaré, Serra da Saudade e Três Marias (Fig. 2).
A Formação Lagoa do Jacaré caracteriza-se por uma sucessão de carbonatos acinzentados com
alguma contribuição de frações margosas e terrígenas. Predominam calcilutito e calcarenito fino,
laminados/estratificados com contribuições rudíticas e de siltitos laminados. Aflora na metade oeste da
área estudada, na forma de camadas de direção geral N-S, alçadas por falhas de empurrão sobre os
sedimentos da Formação Serra da Saudade.
A Formação Serra da Saudade, que ocorre na maior parte da Folha Serra Selada, é composta
predominantemente por siltito e argilito, cinzas a esverdeados (verdetes), com laminação/estratificação
plano-paralela, localmente intercalados com frações margosas e calcareníticas, às vezes oolíticas.
Localmente, estas rochas carbonáticas exibem estratificações cruzadas acanaladas. Em direção ao topo, a
contribuição psamítica aumenta significativamente, marcando estratos areníticos e arcoseanos métricos
intercalados ou em forma de lentes centimétricas com estruturas hummocky.
A Formação Lagoa Formosa, por sua vez, é composta por siltitos e argilitos laminados associados,
à oeste, com diamictitos mono a polimítcos. Aparentemente, estes depósitos correlacionam-se às unidades
da Formação Serra da Saudade.
A Formação Três Marias assenta-se sobre os sedimentos da Formação Serra da Saudade através
de contato gradacional. É composta por arenito fino e micáceo, arenito arcoseano, arcóseo e argilito. Exibe
estratificações tabulares plano-paralelas, cruzadas tabulares, estrutura hummocky, marcas onduladas,
estruturas de carga e laminações cruzadas por onda.
Figura 2 Mapa geológico simplificado da Folha Serra Selada (1:100.000), modificado de Reis (2010).
Sobre o Grupo Areado jazem as rochas vulcanoclásticas e sedimentares do Grupo Mata da Corda.
São representadas por tufos cineríticos, lapilli-tufos, aglomerados, brechas vulcânicas (localmente), além
de conglomerados e arenitos epiclásticos. Seu contato basal com o Grupo Areado é de natureza angular e
erosiva, diretamente relacionada ao início de um importante evento magmático alcalino que atingiu grande
parte do Brasil Central no Cretáceo Superior e constitui a Província Alcalina Minas-Goiás (Sgarbi &
Gaspar 2001 apud Sgarbi et al. 2001).
63
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
METODOLOGIA
Os dados geofísicos utilizados neste trabalho foram cedidos pela Companhia de Desenvolvimento
de Minas Gerais (CODEMIG) e fazem parte do Programa de Levantamentos Aerogeofísicos de Minas
Gerais – 2005/2006. A Folha Serra Selada insere-se na Área 9 deste levantamento (João Pinheiro-
Presidente Olegário-Tiros), a qual abrange os municípios de Biquinhas, Carmo do Paranaíba, Cedro do
Abaeté, João Pinheiro, Lagoa Formosa, Morada Nova de Minas, Paineiras, Patos de Minas, Presidente
Olegário, São Gonçalo do Abaeté, Tiros e Varjão de Minas (Fig. 3).
64
Contribuições às Ciências da Terra
A partir dos dados obtidos no levantamento foram gerados, com auxílio do software Oasis montaj
® (sistema GEOSOFT), os mapas do Campo Magnético Anômalo, Gradiente Vertical (de primeira ordem)
do Campo Anômalo, Campo Residual e Amplitude do Sinal Analítico, bem como os mapas
gamaespectrométricos nos canais K, Th e K e Imagem Ternária (Fig. 4).
65
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
RESULTADOS
Magnetometria
66
Contribuições às Ciências da Terra
anomalias de alta freqüência mais sutis na região SE da folha correspondem a uma cobertura laterítica,
associada a pelitos neoproterozóicos.
Figura 5 Mapa do Campo Magnético Anômalo (retirado IGRF) interpretado da Folha Serra Selada (1:100.000). As
áreas hachuradas correspondem a anomalias de alta freqüência; as demais a domínios de anomalias de baixa
freqüência (background magnetométrico). Os traços pretos correspondem a lineamentos magnéticos interpretados.
67
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
A anomalia de direção NW, persistente em grande parte da folha, pode representar dique máfico
não aflorante. Diques similares foram descritos ao longo da porção meridional do Cratón do São Francisco
e fazem parte famílias de lineamentos magnéticos de direção NW. Carneiro & Oliveira (2005 apud
39
Carneiro & Barbosa 2008) obtiveram idades Ar/40Ar de 1,7 Ga para tal magmatismo, o que sugere
relação com os eventos de rifteamento estaterianos descritos nas faixas adjacentes ao Cráton do São
Francisco (e.g.: Knauer 2007, Valeriano et al. 2004).
Figura 6 Mapa da Primeira Derivada Vertical do Campo Anômalo, Folha Serra Selada (1:100.000). Os traços pretos
correspondem a lineamentos magnéticos interpretados. Embora suprimidas pela filtragem, as anomalias de fontes
mais profundas passam a destacar novos lineamentos magnéticos orientados segundo as direções NW e ENE.
Dessa forma, tomando o Mapa da Amplitude do Sinal Analítico (Fig. 8) é possível delimitar os
principais corpos magnéticos aflorantes do Grupo Mata da Corda e coberturas eluvionares associadas,
bem como demarcar as principais coberturas detrito-lateríticas distribuídas nas regiões SE e E da folha.
Por outro lado, o Mapa do Campo Residual pode indicar concentrações superficiais de minerais
68
Contribuições às Ciências da Terra
ferromagnéticos ao longo dos principais eixos de drenagem (Fig. 7). Considerada a ocorrência de placers
diamantíferos ao longo dos rios Abaeté, Borrachudo e Indaiá, alguns destes minerais ferromagnéticos
constituiriam importantes indicadores para a prospecção de diamantes.
Figura 7 Mapa do Campo Anômalo Residual, Folha Serra Selada (1:100.000). Corpos anômalos superficiais
distribuem-se em regiões topograficamente elevadas, nas porções W e central da folha, bem como ao longo dos
principais eixos de drenagem. Estes últimos provavelmente correspondem a concentrações de minerais magnéticos
em aluviões.
Gamaespectrometria
Os dados gamaespectrométricos exibem, de uma maneira geral, três grandes domínios, os quais
aparecem diretamente relacionados com as três principais unidades geológicas aflorantes: os grupos
Bambuí, Areado e Mata da Corda e respectivas coberturas (Fig. 9). Em função disto, os domínios serão
aqui descritos de acordo com as unidades que representam e serão analisados segundo uma escala relativa
(de baixo a alto) de valores registrados nos limites da área de trabalho.
69
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
Figura 8 Sobreposição do Mapa da Amplitude do Sinal Analítico e a distribuição das principais unidades magnéticas
aflorantes (compilado a partir de dados de campo), Folha Serra Selada (1:100.000).
Grupo Bambuí
Apresenta teores de K intermediários a altos (entre 1 e 3 %). Com base em dados de campo,
conclui-se que os altos relacionam-se principalmente aos litotipos da Formação Três Marias
(especialmente arcóseo e arenitos arcoseanos) e aos pelitos das formações Lagoa Formosa e Serra da
Saudade. Tais concentrações podem ser explicadas tanto pela presença de feldspato nos pacotes
arcoseanos, quanto pela capacidade de adsorção de potássio por argilominerais. Os pelitos e arenitos finos
verdes (verdetes) da Formação Serra da Saudade representam importantes fontes potássicas ricas em
glauconita (Lima et al. 2007), sendo possível na grande maioria das vezes demarcá-los diretamente sobre
o mapa gamaespectrométrico – Canal K (Fig. 9).
70
Contribuições às Ciências da Terra
Figura 9 Gamaespectrometria nos canais de K, Th e U na área da Folha Serra Selada (1.100.000). Sobre a imagem
ternária foram lançados os traços das principais falhas e unidades litoestratigráficas mapeadas (grupos Bambuí,
Areado e Mata da Corda). Altos expressivos de potássio, por vezes, marcam os limites dos corpos de verdete
aflorantes predominantemente na porção sudeste da folha.
71
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
O Grupo Bambuí exibe, na Folha Serra Selada, teores médios a altos de Th, variando de 10 a 16
ppm. As unidades deste grupo exibem concentrações mais elevadas nas regiões centro-norte, leste e
nordeste da folha, marcando relativamente bem os arenitos arcoseanos e arcóseos da Formação Três
Marias. Teores mais elevados, localizados na porção centro-sul da folha, podem se relacionar aos arenitos
de topo da Formação Serra da Saudade (Fig. 9). As maiores concentrações nas regiões SE e E (em torno
de 20 ppm,) associam-se diretamente às coberturas detrito-lateríticas, comumente relacionadas aos pelitos
indeformados do Grupo Bambuí. Neste caso, sua concentração relativa poderia ser explicada pela sua
grande imobilidade diante dos processos intempéricos. Uma vez associado a minerais pesados como
monazita e zircão, os altos valores relativos de Th nas frações psamíticas pode estar diretamente ligado a
maior concentração destes minerais em arenitos.
Normalmente, regiões de ocorrência de rochas carbonáticas exibem teores relativos menores para
os isótopos de K e Th.
72
Contribuições às Ciências da Terra
natural na região, assim como em outras áreas, essa concentrações “anômalas” podem relacionar-se à
lixiviação e reconcentração de potássio (Fig. 10). A acidificação de águas meteóricas, promovida por
compostos como o dióxido de carbono presente em sistemas de hidrocarbonetos, seria um dos principais
responsáveis pelo transporte do elemento (Matolin et al. 2008). Íons de potássio são extremamente móveis
e se mostram altamente solúveis em meios com pH inferior a 7.
Figura 10 Teores de potássio (K%) ao longo de um perfil (A-B) de orientação N-S e que corta a zona de exsudações
de gás natural da porção nordeste da Folha Serra Selada. Os teores de potássio foram obtidos do Mapa
Gamaespectrométrico - canal K, apresentado na Figura 9. Localizações das zonas de emanações e do perfil acima são
mostradas nas figuras 2 e 9, respectivamente.
Grupo Areado
De uma maneira geral, as rochas aflorantes e coberturas associadas deste grupo exibem baixo teor
de potássio (< 1%), baixo Th (< 10 ppm) e baixo U (< 2 ppm). Estes baixos valores podem ser explicados
tanto pela lixiviação de elementos solúveis durante o intemperismo (como é o caso do K) quanto aos
prováveis baixos teores das fontes sedimentares. Para o primeiro caso, é importante notar que, estas
unidades ocorrem em regiões topograficamente mais elevadas, sujeitas a processos intempéricos mais
intensos.
73
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
Tabela 1 Reposta gamaespectrométrica das principais litologias do Grupo Bambuí na área abrangida pela Folha
Serra Selada (1:100.000).
Os litotipos e coberturas relacionadas a esta unidade exibem baixo teor de potássio (próximos a
zero) e altos teores relativos de tório e urânio (maiores que 20 e 3 ppm, respectivamente). Embora se
relacione a termos magmáticos de afinidade potássica/ultrapotássica em outros pontos da bacia (Campos e
Dardenne 1997, Sgarbi 2010), a ausência de quantidades significativas do elemento pode se relacionar
diretamente ao intenso intemperismo e lixiviação no topo das chapadas. Por outro lado, os elevados teores
nos demais elementos podem ser explicados pela maior concentração natural dos mesmos em unidades
vulcânicas e/ou vulcanoclásticas, bem com sua baixa mobilidade diante dos processos intempéricos.
DISCUSSÃO E CONCLUSÕES
O Grupo Bambuí é marcado por baixos valores magnéticos. Grandes anomalias de baixa
freqüência (ABF) relacionam-se ao seu substrato e se expressam na forma de dipolos orientados segundo
74
Contribuições às Ciências da Terra
NE nos setores nordeste e centro-norte da folha. Dados de subsuperfície sugerem que estas anomalias
magnéticas correspondem altos e baixos do embasamento (Reis et al. 2010). As rochas das formações
Lagoa do Jacaré, Serra da Saudade/Lagoa Formosa e Três Marias exibem distintos padrões
gamaespectrométricos (Tabela 1), cujas concentrações de K e Th sofrem marcantes redistribuições ao
longo de falhas de empurrão neoproterozóicas. Aparentemente, os teores de potássio parecem sofrer
grande influência das acumulações de gás natural no setor NE da folha (Fig. 10). Neste sentido, sua
redistribuição teria sido influenciada pela atuação de ácidos relacionados a acumulações de
hidrocarbonetos .
As diferentes coberturas cenozóicas podem ser facilmente delimitadas tanto através dos mapas de
Amplitude do Sinal Analítico (coberturas detrito-lateríticas; setor sudeste da folha), quanto em virtude de
sua elevada concentração de U e Th (imóveis diante dos processos intempéricos).
75
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
análise de dados geofísicos potenciais e gamaespectrométricos vem sendo utilizadas cada vez mais na
exploração de hidrocarbonetos (e.g.: Nabighian et al. 2005)3.
3
Os autores agradecem à Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (CODEMIG) pelo
financiamento durante as pesquisas de campo e a concessão dos dados aerogeofísicos, e ao Centro de Pesquisa
Manoel Teixeira da Costa (CPMTC) pelo suporte logístico e infra-estrutura. O primeiro autor agradece ao Conselho
Nacional de Desenvolvimento da Pesquisa (CNPq) pela bolsa de mestrado concedida. F.F. Alkmim e A.C. Pedrosa-
Soares agradecem ao CNPq pelas bolsas de produtividade em pesquisa.
76
CAPÍTULO 4
ARCABOUÇO ESTRUTURAL DA REGIÃO DO BAIXO INDAIÁ
4.1 - INTRODUÇÃO
Três grandes conjuntos de estruturas se fazem presentes na região do vale do Indaíá. O primeiro
corresponde a estruturas profundas que envolvem apenas o embasamento e as unidades estratigráficas pré-
Bambuí. O segundo afeta as rochas do Grupo Bambuí e o terceiro, associado aos sedimentos e rochas
vulcanoclássticas/epiclásticas cretácicas dos Grupos Areado e Mata da Corda, se superpõem a todas as
unidades presentes na área de estudo.
Para a confecção dos mapas gravimétricos, foram utilizados os dados de anomalia free-air e
topográficos, obtidos por satélite (TOPEX/POSEIDON) e disponíveis em ftp://topex.ucsd.edu/pub/.
Embora se trate de informações obtidas por satélite, os dados utilizados exibem uma excelente resolução
para análises de caráter regional e sub-regional. A metodologia empregada no tratamento dos dados é
apresentada no Capítulo 1.3.
O Cráton do São Francisco como um todo se caracteriza por anomalias gravimétricas variáveis
entre -33 e -115 mGal e é, em grande parte, delimitado por anomalias gravimétricas do Tipo II de Haraly
& Hasui (1985) (Fig. 4.1). Tais anomalias correspondem aos pontos de inflexão na curva gravimétrica
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
Bouguer, entre os domínios de anomalia gravimétrica mínima (faixas Brasília e Araçuaí) e os domínios de
anomalia intermediária (cráton) (Fig. 4.2-a e b).
Figura 4.1 Mapa de Anomalia Bouguer com a interpretação das principais anomalias do Cráton do São Francisco
(Cruz & Alkmim 2006) e as respectivas conformações gravimétricas destacadas na Tabela 4.1. São destacadas ainda
feições gravimétricas relacionadas às faixas margiais e bacias faneorozóicas adjacentes ao cráton.
Com base na sua expressão gravimétrica, o Cráton do São Francisco pode ser dividido em três
setores C1, C2 e C3 (Fig. 4.1). As principais anomalias de cada um destes setores estão discriminadas na
Tabela 4.1.
78
Contribuições às Ciências da Terra
Figura 4.2 Perfis gravimétricos ao longo do Cráton do São Francisco e faixas dobradas adjacentes (a e b)
comparados com modelo esquemático de uma colisão de placas tectônicas e anomalia gravimétrica associada (c).
Este último modificado de Fountain & Salisbury 1981 (in Oliver 1983). Localização dos perfis (a e b) na Figura 4.1.
Tabela 4.1 Principais anomalias gravimétricas observadas ao longo do Cráton do São Francisco (ver Fig. 4.1).
SETOR C1 SETOR C2 SETOR C3
Alto de Januária Baixo do Paramirim
Alto de Sete Lagoas-Belo Horizonte Baixo do Rio Preto Baixo da Chapada Diamantina-Irecê
Alto de Patrocínio
Baixo de Pirapora
Baixo de Luz
79
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
Quando comparados com os dados de superfície (e.g.: Lagoeiro 1990, Danderfer Fº 1990, Alkmim
et al. 1993 e Campos & Dardenne 1997) e subsuperfície (e.g.: Zalán & Romeiro-Silva 2007 e Coelho
2007), tal assinatura gravimétrica parece refletir, em grande parte, altos e baixos do embasamento
cratônico (Fig. 4.1).
Sob o ponto de vista tectônico é possível destacar, ao longo da Bacia do São Francisco (Martins-
Neto & Alkmim 2001), anomalias gravimétricas relativas, pelo menos, a três fases distintas. A primeira
corresponde aos sistemas Espinhaço-Araí/Macaúbas-Paranoá (e correlatos), sendo responsável, entre
outros, pelo desenvolvimento dos baixos do Paramirim, Chapada Diamantina-Irecê e Pirapora (Tabela
4.1). Dados sísmicos mostram para este último um relativo aumento na espessura de tais seqüências
(Coelho 2007, Zalán & Romeiro-Silva 2007). Geradas anteriormente às orogêneses brasilianas, tais
estruturas parecem ter desempenhado importante papel na propagação da deformação ao longo das
coberturas cratônicas. Isso explicaria tanto a grande saliência definida pelo Sistema Espinhaço no setor
sudeste do cráton, quanto geometrias similares observadas ao longo do Aulacógeno do Paramirim
(Alkmim et al. 1993, Souza Fº 1995, Alkmim & Martins-Neto 2001, Cruz & Alkmim 2006).
et al. 2008) representa importante fator de alteração da assinatura gravimétrica da Bacia do São Francisco
no Cretáceo Superior. Sua destacada anomalia Bouguer em relação aos demais complexos de idade similar
(Fig. 4.2-a) pode sugerir uma importante ascensão mantélica local.
A pronunciada anomalia gravimétrica (valores entre -90 e -75 mGal) observada ao longo de toda a
região de Três Marias aparentemente corresponde a um grande um alto do embasamento (Fig. 4.3 ). A
borda oeste desta feição orienta-se na direção N-S, em sua porção meridional, e passa a NE, em seu setor
setentrional. O seu limite nordeste é feito com o Baixo Gravimétrico de Pirapora (Fig. 4.1), orientado
segundo NW e interpretado por Alkmim et al. (2007) como parte de um sistema rifte fóssil, o Aulacógeno
Pirapora.
Fazendo-se a superposição do mapa geológico com o mapa Bouguer da Figura 4.3, observa-se que
o limite ocidental da grande anomalia positiva de Três Marias coincide com o traço meridional da Falha
de João Pinheiro, sugerindo relação entre esta estrutura e estruturas profundas do embasamento.
O mapa aeromagnetométrico disponível para a região do baixo Rio Indaiá (Lasa 2007) (Fig. 4.4),
cobre apenas uma parte do setor sul da área enfocada no mapa Bouguer da Figura 4.3. Mostra anomalias
magnéticas lineares de grande comprimento de onda preferencialmente orientadas na direção NE. Tais
feições relacionam-se ao embasamento e são facilmente distinguíveis de anomalias rasas, uma vez que
estas últimas exibem mais alta freqüência e associam-se às unidades vulcanoclásticas do Grupo Mata da
Corda. Subordinadamente observam-se anomalias lineares de intensidade variável segundo a direção NW.
81
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
Figura 4.3 Mapa de Anomalia Bouguer (TOPEX/POSEIDON), detalhando a região do Alto de Três Marias. (1) e (2)
representam falhas das bordas ocidental e oriental, respectivamente, do Alto Estrutural de Três Marias. (1) coincide
parcialmente com o traço superficial da porção meridional da Falha de João Pinheiro, enquanto (2) deve representar
a borda sul do Aulacógeno Pirapora (Alkmim et al. 2007).
Figura 4.4 Campo Magnético Anômalo (Lasa 2007) mostrando lineamentos predominante orientados segundo NE.
As linhas tracejadas aparentemente correspondem a diques não aflorantes, cuja anomalia magnética é ressaltada nas
regiões em que o embasamento encontra-se mais próximo da superfície. As linhas pontilhadas destacadas em
vermelho correspondem às seções sísmicas 0240-0295, 0240-0293 e 0240-0294 mostradas na Figura 4.2. TM: Três
Marias, Mn: Morada Nova, Pa: Paineiras e Sga: São Gonçalo do Abaeté. Os dados referentes a porção leste da área
investigada não encontram-se disponíveis.
82
Contribuições às Ciências da Terra
Figura 4.5 Digrama tridimensional com interpretação das seções sísmicas 0240-0295, 0240-0293 e 0240-0294.
Nota-se considerável espessamento das unidades pré-Bambuí em direção a N e W, controlado por sistemas de falhas
normais. I: Embasamento; II: unidades Pré-Bambuí Inferior (1) e Superior (2); III: Grupo Bambuí Inferior (BI) e
Superior (BS).
83
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
84
Contribuições às Ciências da Terra
Figura 4.6 Lineamentos e alinhamentos interpretados sobre imagem Geocover (Landsat). Tanto os depósitos
cretácicos (grupos Areado e Mata da Corda) quanto as coberturas neógenas são destacados, as demais regiões
associam-se aos sedimentos neoproterozóicos do Grupo Bambuí. Estes últimos compõem o compartimento leste
(CL), deformado e subdividido nos domínios SE (DSE), SW (DSW), e N (DN), e o compartimento oeste (CO),
indeformado. A linha contínua delimita a zona estrutural relacionada às unidades cretácicas. Os diagramas
representam as principais direções de lineamentos/alinhamentos obtido na imagem e respectivos comprimentos
acumulados.
4.3.1.1 Dobras
interflanquiais variáveis entre 60º e 100º, desarmônicas e com superfícies axiais sub-verticais (Figs. 4.8-a,
b e 4.10). Subordinadamente, ocorrem dobras em cúspide, elípticas (sensu Davis & Reynolds 1996),
dobras em kink e kink bands. As dobras em kink, que predominam nas zonas de transição para setores
indeformados e chegam a alcançar dimensões decamétricas, muitas vezes passam a dobras em chevron ao
longo das suas zonas axiais (Fig. 4.7). Os eixos dessas dobras orientam-se preferencialmente na direção
N-S (Fig. 4.8), mostrando, todavia, consideráveis variações ao longo de todo compartimento. As dobras
observáveis em afloramentos correspondem a elementos parasíticos de sinclinórios e anticlinórios de
proporções quilométricas.
Figura 4.7 Dobra em kink de porte decamétrico nas proximidades da foz do Rio Indaiá na Represa de Três Marias. A
intersecção entre as kink bands tem a orientação em torno de SSW (Ponto 130 – Anexo 03).
Estrias com espaçamento milimétrico (Le), orientadas preferencialmente na direção E-W (ou seja
seja perpendicularmente aos eixos das dobras) constituem lineações comumente observadas sobre os
planos de acamamento (Fig. 4.11). Estas lineações, quando presentes em camadas horizontalizadas,
aflorantes nas margens do baixo Rio Indaiá e na região de Morada Nova de Minas, mostram dispersão
entre as direções NE e SE.
86
Contribuições às Ciências da Terra
Figura 4.8 (A) Dobra em chevron fechada e levemente vergente para oeste (Ponto 302 – Anexo 03). A estrutura
exibe encurtamento aproximado de 40% e ângulo interflanquial de 50º. (B) Traço da superfície axial (PA) em dobra
chevron assimétrica (Ponto 290 – Anexo 03). (C) Estreograma sinóptico dos eixos de dobra (B) ao longo do
copartimento oeste. (D) Dobras apertadas a isoclinais em verdete da Formação Serra da Saudade, próximo a zona de
falha.
No campo as zonas de exposição destas grandes falhas são caracterizadas pelas seguintes feições:
87
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
Além disso, conforme mostrado no Capítulo 3.5, as principais zonas de falha do compartimento
são facilmente identificadas em imagens gamaespectrométricas, pelos altos nos canais de Th e K.
Seguindo a trajetória dos eixos das dobras, as grandes falhas possuem traços curvilíneos em planta
(Anexo 02) e, embora grande parte das superfícies não possam ser diretamente medidas em campo,
parecem possuir, majoritariamente, mergulhos pouco acentuados para W, WNW e WSW.
A Falha de João Pinheiro possui traço em planta orientado em torno da direção N-S e é
responsável pela colocação dos carbonatos da Formação Lagoa do Jacaré (?) sobre os pelitos e arenitos da
Formação Serra da Saudade.
A Falha do Pontal possui traço horizontal de direção N-S em sua extremidade meridional,
passando à NNW em sua porção setentrional. Não é associada a nenhuma inversão estratigráfica de
grande escala e, apesar de mostrar em planta traços sem grandes sinuosidades, quando aflorante, a
descontinuidade exibe mergulhos baixos a moderados.
A Falha do Rio Borrachudo exibe orientação preferencial NNE em sua porção sul, onde define um
par saliência/recesso e inverte tectonicamente os carbonatos e pelitos da Formação Lagoa do Jacaré sobre
os sedimentos da Formação Serra da Saudade. Em sua extremidade setentrional, passa à direção NNW,
onde parece se relacionar à uma feição similar e de menor expressividade regional (Martins et al. 2011).
A Falha de Traçadal aflora no setor extremo nordeste, onde exibe direção geral NNW e alça os
sedimentos basais do Grupo Bambuí sobre os arenitos e arcóseos da Formação Três Marias (Costa et al.
2011). Naquele setor, marca o limite dos compartimentos deformado e indeformado da bacia. A partir da
zona de culminação da Saliência de Três Marias, a sul, não mais aflora. Nesta região, se manifesta em
superfície como uma estrutura antiformal de cobertura (fold-propagation-fold), cuja charneira cai para
NNW e NNE (Anexo 02).
88
Contribuições às Ciências da Terra
Além das dobras e falhas de empurrão, observa-se ainda no compartimento oeste um conjunto de
zonas transcorrentes sinistrais de orientação preferencial NW. Seccionam as extremidades sul e norte da
Falha do Rio Borrachudo e, frequentemente, são responsáveis pela dispersão e rotação dos eixos de dobra
característicos do compartimento (Fig. 4.10-d e 4.10-e). São aqui denominadas Zona de Transcorrência de
Paineiras (ZTP) e Zona de Transcorrência da Serra Vermelha (ZTSV) (Anexo 02).
A Zona de Transcorrência de Paineiras (ZTP) aflora a sul da cidade homônima e parece separar
dois setores estruturais distintos. Enquanto a sul o encurtamento regional é acomodado através de falha de
empurrão, a norte foram documentados apenas grandes estruturas sinformais e antiformais (e.g.: Sinclinal
do Baixo Indaiá, ver mapa estrutural no Anexo 02). Embora se relacione a obliteração de estruturas pré-
existentes, tal heterogeneidade deformacional sugere para a mesma zona um caráter transferente (Twiss &
Moores 2007).
4.3.1.4 Juntas
Os dois últimos conjuntos devem constituir um par conjugado de fraturas de cisalhamento, que se
associa geneticamente ao conjunto de juntas plumosas (trativas) (Fig. 4.9).
89
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
Figura 4.9 Diagramas sinópticos de juntas (a e b). No diagrama (b) J corresponde às direções de juntas cisalhantes
ou sem ornamentação e P à direção preferencial das juntas plumosas, aproximadamente na bissetriz aguda das
descontinuidades J. Em (c) junta plumosa em arenito da Formação Três Marias (Ponto 545 – Anexo 03,
N56W/80NE).
90
91
subdividido três domínios estruturais, os domínios SE, SW e N (Figs. 4.6 e 4.10).
Figura 4.10 Estereogramas de pólos do acamamento (So), eixos de dobras (B) e rosetas de juntas para os distintos domínios do
compartimento oeste e zonas de transcorrência de Paineiras e Serra Vermelha (De E). Os diagramas de So sugerem uma sutil vergência
geral para E, ao passo que a concentração de eixos B mostra um leve caimento geral para norte nos domínios SE e SW (A e B),
enquanto no domínio N (C) estas estruturas tendem a cair para sul (geral). Em D e E é possível notar a mudança na orientação das
estruturas ao longo das zonas de transcorrências. DT: direção de transporte tectônico inferido conforme Modelo de Hansen (Twiss &
Contribuições às Ciências da Terra
Em função da orientação adquirida pelas estruturas presentes, o compartimento oeste pode ser
O domínio SE (Serra do Palmital) é limitado a oeste pela Falha do Rio Borrachudo. Seu limite
leste é assinalado pela zona de desaparecimento das dobras características deste compartimento (Fig. 4.6).
Ao longo deste domínio os eixos das mesodobras orientam-se segundo NNE e os conjuntos de juntas mais
freqüentes mostram direções NW e NE (Fig. 4.10-a). Todas as estruturas do domínio são localmente
obliteradas pela Zona de Transcorrência de Paineiras (ZTP). Nas suas proximidades, os eixos das dobras
rotacionam-se para direção NW, em conformidade com sentido sinistral da zona de transcorrência, e
exibem uma dispersão em torno de WSW (Fig. 4.10-d). Diagramas π sugerem, ao longo do
compartimento, uma sutil assimetria das dobras, mostrando vergência para ESE. A Figura 4.11 mostra o
arranjo geral das juntas ao longo do domínio e sua relação com as dobras e estrias.
O domínio SW, limitado a leste pela Falha do Rio Borrachudo, estende-se por toda a porção
sudoeste do compartimento e abarca, em sua porção central, uma proeminente estrutura sinformal, o
Sinclinório do Canastrão, que tem sua calha ocupada pelas rochas da Formação Três Marias. Nesta região,
os eixos de dobra caem preferencialmente para norte, as falhas de empurrão presentes possuem direção N-
S e os conjuntos principais de juntas posicionam-se em torno de WNW e WSW (Fig. 4.10-b).
O domínio N estende-se desde o limite norte da área de trabalho até a altura do paralelo 18º30’.
Os eixos das mesodobras tendem a assumir direção NNW, acompanhados por mudanças similares na
atitude das falhas de empurrão. As juntas ficam predominantemente orientadas segundo WNW, com
concentrações também significativas em torno de NE e NW (Fig. 4.10-c). A geometria adquirida em mapa
pelas rochas do Grupo Bambuí sugere uma culminação sinformal para o Sinclinório de Canastrão (anexos
01 e 02), cujo traço axial acompanha a orientação geral das mesodobras anteriormente descritas. Neste
domínio, a Falha do Rio Borrachudo é seccionada pela Zona de Transcorrência da Serra Vermelha nas
proximidades da Represa de Três Marias.Ao longo desta área, eixos de dobra tendem para a direção E-W,
sendo acompanhados por dispersões nas direções de juntas (Fig. 4.10-e) e mudanças significativas no sinal
gamaespectrométrico. O sentido de cisalhamento sinistral da zona de transferência é indicado tanto pelo
padrão radiométrico, quanto pela distribuição em superfície das formações Serra da Saudade e Três
Marias (anexos 01 e 02).
92
Contribuições às Ciências da Terra
Figura 4.11 Figura esquemática mostrando as principais relações entre as juntas (J), eixos de dobra (Lb) e estrias
(Le) ao longo do domínio SE (Serra do Palmital). Estatisticamente, é possível notar a predominância de juntas
trativas (T) em detrimento aos demais planos de ruptura. Eixos geométricos (a, b e c) segundo Hobbs et al. (1976).
Assim como observado em outras regiões da porção oeste da Bacia do São Francisco (Coelho et
al. 2005; Coelho 2008), os dados sísmicos indicam que todo o cinturão de dobras e empurrões do
compartimento oeste é balizado em profundidade por um descolamento alojado próximo à base do Grupo
Bambuí (Figs. 4.12 e 4.13). Abaixo do descolamento, as estruturas presentes são falhas normais, não
invertidas, o que confere ao cinturão um caráter claramente epidérmico (thin skinned). A superfície de
descolamento principal emerge na região de Traçadal na forma da falha homônima, alçando as unidades
basais do Grupo Bambuí sobre os depósitos da Formação Três Marias (Fig. 4.5). Mais a sul, na região de
93
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
Morada Nova de Minas, esta estrutura não aflora e se expressa em superfície como uma dobra de
propagação de falha (fault-propagation-fold) (Figs. 4.12 e 4.13, Anexo 02).
Figura 4.12 Arranjo tridimensional das seções sísmicas 0240-0295, 0240-0298 e 0240-0293 em tempo duplo
(TWT/ms), localizadas no Domínio Deformado (A). (B) TM: Três Marias, Ti: Tiros e Co: Corinto.
O exame das seções sísmicas, reproduzidas nas Figuras 4.12 e 4.13, mostra ainda um segundo
descolamento, mais antigo e que emerge, influenciado por uma irregularidade do embasamento, na forma
da Falha do Rio Borrachudo. Tal descolamento desenvolveu-se no contato entre a sismofácies BIi (não-
aflorante) e as demais unidades da porção inferior do Grupo Bambuí, onde ocorre dobrado e,
aparentemente, rotacionado. Em superfície, esta estrutura relaciona-se com o setor onde os sedimentos
94
Contribuições às Ciências da Terra
Figura 4.13 Bloco diagrama mostrando as seções sísmicas (TWT/ms) da Figura 4.8 interpretadas e sua relação com
a topografia e algumas das principais estruturas geológicas mapeadas em superfície. (A) É possível observar a
deformação thin skinned afetando apenas os sedimentos do Grupo Bambuí, em um sistema de leques imbricados com
vergência geral para leste e articulado em um descolamento próximo a base desta unidade. No detalhe da seção 0295
(canto inferior esquerdo) podem ser vistas duas superfícies de descolamento, uma mais antiga e deformada e outra
mais nova e que emerge em superfície com a Falha de Traçadal a nordeste. (B) Localização, em planta, das seções
sísmicas apresentadas. I: Embasamento; II: Unidades Pré-Bambuí; III: Grupo Bambuí (unidades Inferior e Superior,
BI e BS, respectivamente). 1) Falha do Pontal; 2)Sinclinório de Canastrão; 3) Falha do Rio Borrachudo; 4) Zona de
Transferência da Serra Vermelha; 5) Falha de Traçadal. TM: Três Marias; Ti: Tiros e Co: Corinto.
95
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
neoproterozóicos encontram-se mais intensamente deformados. Uma estrutura em duplex, balizada (em
profundidade) por este descolamento e uma falha não-aflorante de menor expressão, envolve os depósitos
basais do Grupo Bambuí (Fig. 4.13).
As seções sísmicas indicam ainda que o limite entre os compartimentos oeste e leste ocorre ao
longo de um grande alto estrutural do embasamento (ver seção 4.2), com os depósitos neoproterozóicos
horizontalizados a leste da zona de influência da Falha de Traçadal (Figs. 4.12 e 4.13).
No compartimento leste, as rochas das formações Serra da Saudade e Três Marias ocorrem
horizontalizadas, exibindo juntas com máximos em torno de NNE e NW e raras dobras abertas, chevrons e
kinks, localizados, preferencialmente, nas proximidades do limite com o compartimento oeste (Fig. 4.14).
96
Contribuições às Ciências da Terra
Figura 4.14 Orientação das principais estruturas observadas ao longo do compartimrnto leste (região de Morada
Nova de Minas). (A) Roseta de juntas (J) e foto mostrando o padrão geral das mesmas estruturas em campo, em
arenitos da Formação Três Marias. (B) Diagrama do acamamento e foto de esporádica dobra aberta nos sedimentos
da Formação Três Marias.
Figura 4.15 Roseta mostrando os conjuntos principais de juntas das unidades cretácicas. À direita, as mesmas
estruturas afetando arenitos do Grupo Areado e associadas a feições de deferruginização.
Embora expostos somente em algumas localidades do vale do Rio Borrachudo, sistemas de falhas
normais com direção preferencial N-S mostram-se associados a feições de crescimento na base do Grupo
Areado (Fig. 4.16). Possuem rejeitos relativamente pequenos e não passam de dimensões hectométricas,
sendo muitas vezes relacionadas a drag folds métricos desenvolvidos nas rochas do Grupo Bambuí. Além
destas estruturas, foram observadas, nas rochas do Grupo Bambuí, um conjunto de fraturas de
cisalhamento com direções variáveis em torno de NNE e NW e mergulhos altos a moderados.
Frequentemente, as suas superfícies encontram-se revestidas por óxido de manganês e estriados. Estas
estruturas se distinguem daquelas anteriormente descritas nos compartimentos leste e oeste do Grupo
Bamuí em função dos indicadores de movimento observados (Fig. 4.17). Foram descritas ainda, raras
juntas trativas com orientação NW e E-W.
98
Contribuições às Ciências da Terra
Figura 4.16 Afloramento próximo às margens do Rio Borrachudo, na região da Fazenda Pindaíbas (Ponto 505 –
Anexo 03). Pelitos dobrados do Grupo Bambuí (porção inferior) são cortados por feixe de falhas normais (280/85)
mergulhantes para oeste e responsáveis pelo espessamento localizado dos depósitos do Grupo Areado, assentados
sobre os pelitos neoproterozóicos através de discrodância erosiva e angular. Em laranja, seções rudíticas do Grupo
Areado.
99
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
Quando tratadas em programa de regressão tensorial (Win-Tensor 2.1.4 ®1), tanto as falhas
normais, quanto as juntas de cisalhamento indicam atuação de deformação distensional, com a tensão
principal máxima σ1 posicionada na vertical e as tensões principais intermediária (σ2) e mínima (σ3)
horizontais, orientados, respectivamente, segundo N57W e N33E (Fig. 4.17).
Figura 4.17 Paleotensões calculadas pelo Método dos Diedros Retos através de medidas de juntas cisalhantes e
falhas (A). Os diagramas mostram um regime de deformação distensional puro, exibindo índice R’=0.4 (sensu
Delvaux et al. 1997 apud Lipski 2002 ). (B) Junta cisalhante em pelito do Grupo Bambuí relacionada à deposição do
Grupo Areado. É possível notar a superfície estriada (Le) e coberta por óxido de manganês. Em (C) rosetas e
estereogramas mostrando as principais características dos planos e estrias medidos. Note que as juntas geralmente
orientam-se em torno de NNE e NNW, sendo associados as estrias com caimento predominantemente superior a 40º.
No programa foram incluídos dados coletados na região de Morada Nova de Minas, baixo Rio Indaiá e nas
proximidades do vale do Rio Borrachudo (região da Fazenda Pindaíbas). S1, S2 e S3 correspondem a σ1, σ2 e σ3,
respectivamente.
1
Programa cedido por Dr. D. Delvaux (Royal Museum for Central Africa - Dept. Geology & Mineralogy) e disponível em
http://users.skynet.be/damien.delvaux/Tensor/WinTensor/win-tensor_download.html.
100
Contribuições às Ciências da Terra
A coincidência entre as direções destas juntas (Fig. 4.17-c) e aquelas verificadas no Grupo
Bambuí (Fig. 4.14-a e 4.10), sugere importante reativação de estruturas pré-existentes. Embora necessite
de estudos mais detalhados, o regime deformacional e a orientação do campo de tensões obtido (Fig. 4.17)
indicam uma distensão perpendicular à direção das juntas plumosas documentadas no Grupo Bambuí (Fig.
4.9-c). Porém, nestas a disposição das franjas e da linha de propagação são indicativas de uma tensão
máxima posicionada na horizontal. Já as falhas normais, observadas na região do Rio Borrachudo (Fig.
4.16), exibem orientação coincidente com os traços estruturais do compartimento oeste.
Como demonstram os dados anteriormente apresentados, pelo menos três fases de deformação
distintas podem ser caracterizadas na região estudada (Tabela 4.2). A fase D1, de caráter distensional, afeta
o embasamento e unidades Pré-Bambuí. A fase D2, responsável pelas estruturas compressionais
observadas no Grupo Bambuí, desenvolveu-se em nível estrutural raso/intermediário e correlaciona-se à
fase de deformação principal De descrita por Muzzi-Magalhães (1989) para áreas próximas a sul. A fase
D3 se superpõe às fases anteriores e representa o evento formador da Sub-bacia Abaeté, tal como descrito
por Sawasato (1995) na região de Presidente Olegário.
Como indicam as seções sísmicas, a associação Pb1 é coberta pelas unidades da associação Pb2
através de uma sutil discordância angular. A ausência feições de crescimento e truncamentos internos,
além da continuidade lateral dos refletores sísmicos associados a esta sequencia revelam a evolução para
um ambiente tectônico relativamente mais calmo.
101
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
Tabela 4.2 Relação das principais fases de deformação, etapas e estruturas associadas que afetam as unidades
estratigráficas analisadas ao longo da região do baixo Rio Indaiá.
FASE ETAPA ESTRUTURAS ASSOCIADAS
Uma vez que os depósitos das unidades pré-Bambuí e estruturas associadas não afloram na área
estudada, não foi possível analisar o significado tectônico da fase deformacional D 1. Entretanto, se
comparadas a interpretações sísmicas mais regionais (Coelho 2007, Zalán & Romeiro-Silva 2007, Hercos
2008), as associações Pb1 e Pb2 poderiam correlacionar-se aos sistemas Espinhaço/Araí,
Canastra/Paranoá ou Macaúbas. Esta correlação pode ser verificada na continuidade sísmica da associação
Pb2 (Fig. 4.18) em direção a região da Serra do Cabral, localizada na porção oriental da Bacia do São
Francisco. Nesta região, as unidades Pb1 e Pb2 podem ser correlacionadas às rochas do Supergrupo
Espinhaço superior e da Formação Jequitaí. Tal correlação indica, grosseiramente, que a fase D1
desenvolveu-se entre o Paleoproterozóico e Neoproterozóico Inferior, intervalo de deposição destas
unidades litoestatigráficas (Machado et al. 1989, Martins-Neto & Alkmim 2001).
102
103
Figura 4.18 Interpretação simplificada das seções sísmicas 0240-0295 (a), 0240-0298 (b) 3 0240-0296 (c) mostrando a continuidade dos principais
refletores sísmicos ao longo de toda porção centro-sul da Bacia do São Francico. É possível notar que, embora quase desapareçam no Alto de Três
Marias, as unidades Pré-Bambuí, em especial a associação Pb2 (superior), ocorrem desde a região do baixo Rio Indaiá até a região da Serra do Cabral,
onde afloram. A composição mostra ainda o contraste estrutural entre as bordas leste e oeste da bacia. Nestas regiões observa-se, respectivamente,
Contribuições às Ciências da Terra
A segunda fase de deformação (D2) promoveu a geração do cinturão de dobras e empurrões que
afeta os sedimentos neoproterozóicos do Grupo Bambuí. Os indicadores de paleotensões observados
sugerem que, durante esta fase, atuou um campo compressional com a tensão principal máxima σ1 sub-
horizontal e orientada aproximadamente segundo WNW.
A ausência de metamorfismo e a escassez de estruturas tectônicas formadas em grande
profundidade indicam para a fase D2, condições de nível crustal relativamente raso. Além disso, a
predominância de dobras simétricas e normais como as principais formas de acomodação da deformação,
associada ao número relativamente pequeno de falhas de empurrão, pode implicar em baixo coeficiente de
fricção de ambas as superfícies de descolamento atuantes no processo de desenvolvimento do cinturão
(e.g.: Ribeiro 2001). A predominância de dobras kink e chevrons gerados durante esta fase pode ser
explicada, entre outros fatores, pelo caráter laminado e a baixa fricção entre os estratos dos pelitos e
arenitos finos do Grupo Bambuí (Ramsey & Huber 1987, Twiss & Moores 2007). Dessa forma, as estrias
(Le) perpendiculares aos eixos de dobra, freqüentemente observadas sobre as superfícies de acamamento
(So) indicam a atuação do mecanismo de deslizamento interestratal (Fig. 4.11).
As relações de corte e superposição entre as estruturas da fase D2 permitem a individualização de
duas etapas deformacionais principais, aqui designadas por E1 e E2.
Na etapa E1 foram formadas as grandes superfícies de descolamento desenvolvidas próximo à base
do Grupo Bambuí, bem como as megadobras e falhas de empurrão com direção geral N-S associados.
Dentre estas últimas destacam-se as falhas de João Pinheiro, Pontal, do Rio Borrachudo e de Traçadal
(Anexo 02). Neste episódio, desenvolveram-se ainda as dobras mesoscópicas e principais traços
estruturais orientados entre NNW e NNE que compõem os domínios SE, SW e N (Fig. 4.10) do
compartimento oeste (CO).
O diacronismo na geração das estruturas durante a etapa E1 é indicado pelas diferentes superfícies
de descolamento observadas em seções sísmicas e que emergem em superfície como as falhas do Rio
Borrachudo e de Traçadal ( Figs.s 4.12 e 4.13). Com a propagação do descolamento em direção a leste, as
estruturas mais antigas, posicionadas acima do segmento preexistente foram deformadas passivamente. Ou
seja, a superfície de descolamento pretérita foi corrugada, as dobras preexistentes reapertadas e as falhas
rotacionadas em direção ao pós-país.
Embora as estruturas da fase anterior (D1) não tenham sofrido reativações significativas durante
esta etapa, as irregularidades condicionadas pelas mesmas parecem ter sido responsáveis pela emersão do
104
Contribuições às Ciências da Terra
descolamento basal identificado em superfície na forma da Falha do Rio Borrachudo e nucleado durante a
etapa E1 (Fig. 4.13).
Na etapa E2, o desenvolvimento das zonas transcorrentes sinistrais de Paineiras e Serra Vermelha
foi responsável pela rotação anti-horária e dispersão dos eixos de dobra (B) e traços estruturais formados
na etapa anterior, segundo corredores de direção geral NW (Figs. 4.10-d e 4.10-e, Anexo 02).
O aparente caráter transferente da Zona Transcorrente de Paineiras sugere para esta estrutura
história complexa e atividade desde a etapa E1, quando funcionou limitando dois setores de encurtamento
distinto. A norte da Zona Transcorrente de Paineiras o encurtamento foi acomodado na forma de grandes
dobras, cujas charneiras caem para ENE, ao passo que, a sul, grande parte da deformação se acomodou
através de uma falha de empurrão.
Descrita de forma semelhante por Magalhães (1989) e Bacellar (1989), ao longo da porção
ocidental da Bacia do São Francisco, a fase de deformação D2 pode ser diretamente relacionada à
evolução da Faixa de Dobramentos Brasília, durante o fim do neoproterozóico. Conforme estes autores, tal
deformação desenvolveu-se tardiamente em relação às primeiras fases compressivas que afetaram o
orógeno brasiliano a oeste.
Uma vez considerado o modelo de bacia de antepaís para a deposição do Grupo Bambuí (Martins-
Neto & Alkmim 2001), como é indicado pelas idades de zircões detríticos em siltitos da Formação Sete
Lagoas (Rodrigues 2008), é possível inferir que a fase de deformação D2 desenvolveu-se, na área
investigada, após a deposição dos sedimentos da Formação Três Marias lá preservados. As seções
sísmicas não mostram qualquer espessamento das unidades do Grupo Bambuí nas proximidades das falhas
de empurrão, nem quaisquer outras feições de crescimento.
É importante notar, entretanto, que tanto a freqüente alternância de depósitos carbonáticos
plataformais e seções pelíticas na Formação Serra da Saudade, quanto a composição e vetores de
dispersão sedimentar das unidades de topo do Grupo Bambuí (Fig. 3.8), sugere ambiente deposicional
tectonicamente influenciado (Chiavegatto 1992, Martins & Lemos 2007). Tal influência aparentemente foi
responsável pelo soterramento abrupto dos carbonatos do Membro Felixlândia e pelo padrão shallowing
upward observado ao longo dos depósitos neoproterozóicos (Figs.s 3.3, 3.4, 3.5 e 3.7).
A grande curvatura convexa para o antepaís das estruturas D2 ao longo da área estudada
corresponde de uma feição típica de cinturões de dobras e empurrões. Curvaturas dessa natureza foram
105
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
estudadas ao longo das últimas décadas por diversos autores (e.g.: Marshak 1988, Macedo & Marshak
1999), que distinguem dois tipos genéticos básicos: as rotacionais (oroclinais) e as não rotacionais. Os
tipos rotacionais correspondem às curvaturas geradas após o desenvolvimento das estruturas principais,
enquanto no tipo não-rotacional a curvatura é desenvolvida contemporaneamente à nucleação das
estruturas dominantes (Marshak 1988).
Segundo Macedo & Marshak (1999), curvaturas com convexidade voltada para o antepaís são
comumente designadas de saliências, enquanto curvaturas com concavidade voltada para o antepaís são
denominadas recessos ou reentrâncias.
Dentre os principais mecanismos de formação destas estruturas, destacam-se (Ribeiro 2001,
Marshak 2004):
Aqui denominada Saliência de Três Marias, a estrutura observada ao longo da região homônima
engloba, em seu interior um pequeno par saliência/recesso definido pela Falha do Rio Borrachudo (Fig.
4.19). Os dados levantados neste trabalho, comparados a estudos regionais da Bacia do São Francisco,
mostram que diferentes mecanismos atuaram em conjunto durante a fase D2 na modelagem das geometrias
desta estrutura. Enquanto variações na espessura do Grupo Bambuí ao longo do eixo N-S da bacia
parecem ter exercido papel principal no desenvolvimento da saliência, irregularidades locais do
embasamento foram responsáveis pela formação do pequeno par saliência/recesso subordinado à estrutura
regional. Como principais fatores para sua formação têm-se:
Espessamento estratigráfico
106
Contribuições às Ciências da Terra
convertidas em profundidade, as seções sísmicas analisadas neste trabalho sugerem uma espessura
relativamente maior para o Grupo Bambuí na região do baixo Indaiá, se comparadas às demais
seções analisadas por Coelho (2007) e Hercos (2008). Tais observações sugerem que o depocentro
da “Bacia Bambuí” é aproximadamente coincidente com a culminação da Saliência do Baixo Rio
Indaiá. Tal relação está em conformidade com diversas saliências controladas pelo espessamento
sedimentar documentadas ao redor do mundo (Ribeiro 2001, Macedo & Marshak 1999).
A expressão da Falha de Traçadal como um fault-propagation-fold no ápice da saliência (região
de Morada Nova) é uma feição frequentemente associada às zonas de maior espessura sedimentar
envolvidas pelos cinturões de dobras e falhas (Fig. 4.19-d).
Em âmbito regional, pode ser destacada a influência dos sistemas de falhas direcionais conjugadas
descritas por Magalhães (1989) e Bacellar (1989) ao longo da borda oeste da Bacia do São Francisco.
107
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
Figura 4.19 Ilustração mostrando a influência das estruturas da bacia e espessura sedimentar na geometria curva do
cinturão de falhas e dobras (a, b, c e d). Os desenhos à direita de cada figura mostram os traços das falhas gerados
em modelo de caixa de areia (Retirado de Marshak 2004). (f) Mapa de lineamentos e principais traços estruturais da
ao longo da região do baixo Rio Indaiá. A linha tracejada corresponde ao limite externo da Saliência de Três Marias.
A estrutura exibe geometria complexa com um par saliência/recesso definido pela Falha do Rio Borrachudo (3) e
mostra convergência geral dos traços estruturais na porção sudoeste da área. No vértice da saliência a Falha de
Traçadal (4) se manifesta como um fault-propagation-fold. (1) Falha de João Pinheiro. (2) Falha do Pontal. Cidades:
TM - Três Marias, Mn – Morada Nova de Minas, Pa – Paineiras e Sga – São Gonçalo do Abaeté.
108
Contribuições às Ciências da Terra
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Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
Figura 4.20 Esquema evolutivo da região centro-oeste da Bacia do São Francisco, no baixo Rio Indaiá. D1, D2 e D3 correspondem às fases
de deformação identificadas. 1: Falha de João Pinheiro, 2: Falha do Rio Borrachudo e 3: Falha de Traçadal.
CAPÍTULO 5
SOBRE O CONTROLE ESTRUTURAL DAS EXSUDAÇÕES DE GÁS
NATURAL DO VALE DO RIO INDAIÁ
5.1 - INTRODUÇÃO
Conhecidas desde o fim da década de 80, as exsudações de gás natural do vale do Rio Indaiá
constituem atualmente importantes feições prospectivas para hidrocarbonetos na Bacia do São Francisco.
Com o objetivo de caracterizar um possível controle estrutural das exsudações de gás na região do baixo
Rio Indaiá, são discutidas a seguir as principais relações entre tais emanações e as principais estruturas
descritas nos capítulos anteriores. São aqui consideradas tanto as emanações do vale do Rio Indaiá (Porto
de Corredeiras e nas proximidades da foz na Represa de Três Marias), quanto novo ponto descrito mais a
norte, na região da Serra Vermelha (Ponto 566, Fig. 5.2-b, anexos 01 e 02).
Depois de acidentalmente constatada a existência de gás natural em poços rasos de água (região de
Montalvânia) e a retomada de levantamentos realizados pela PETROBRÁS durante os anos 70 e 80,
foram descobertas as primeiras zonas de emanação natural de gás na região de Remanso do Fogo (Fugita
& Clark 2001). Em 1988, a extinta METAMIG (englobada pela atual CODEMIG) indicava, pela primeira
vez, importantes exsudações de gás ao longo dos rios Borrachudo e Indaiá, nas proximidades da Represa
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
de Três Marias (Projeto METAMIG-PETROBRÁS 1989 in Signorelli et al. 2003). Pioneiro no estudo do
controle estrutural das emanações naturais de gás de Remanso do Fogo, Oliveira (1998) aponta estruturas
de direção NE e NW como principais condicionantes das emanações na região de Remanso do Fogo.
5.3-CONTROLE ESTRUTURAL
As zonas de exsudação de gás ocorrem no interior de uma estrutura sinformal com caimento para
NNE e balizada a oeste pela Falha do Rio Borrachudo. As emanações podem ser observadas tanto na
região de Porto de Corredeira e proximidades da Represa de Três Marias, quanto em córrego a SW da
Serra Vermelha, onde as rochas do Grupo Bambuí encontram-se fracamente deformadas (Anexo 02).
112
Figura 5.1 Seção sísmica 0240-
0293 em tempo duplo
(TWT/ms). As linhas tracejadas
destacam as descontinuidades
(traço pontilhado) próximas às
zonas axiais das dobras
regionais e relacionadas às
113
zonas de exsudação de gás
natural (estrelas). Note que, na
região de Porto Corredeiras,
estas descontinuidades se
assemelham a estrutura em flor
positiva e, aparentemente,
relacionam-se a acomodação da
deformação durante o
dobramento. É notável ainda,
que todas as zonas de emanação
de hidrocarbonetos ocorrem
associadas ao alto do
embasamento. I: Embasamento;
II: Unidades pré-Bambuí; II:
Grupo Bambuí (inferior e
superior BI e BS,
respectivamente). TM: Três
Marias; Ti: Tiros; Mn: Morada
nova de Minas e Co: Corinto.
Contribuições às Ciências da Terra
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
Figura 5.2 Exsudações de gás em córrego na região de Serra Vermelha (Morada Nova de Minas) (a e b) e no baixo
Rio Indaiá (c). As setas vermelhas indicam os pontos de emanação. Em (a) é possível observar os seeps alinhados
segundo a direção NW e sua relação com flanco de antiforme suave ao fundo. (d) Falha normal oblíqua cretácica
(fase de deformação D3) em arenito da Formação Três Marias, cuja direção parece influir localmente na orientação
das exsudações de hidrocarbonetos.
Tal cenário mostra importante controle estrutural no escape dos gases ao longo das regiões
analisadas. Os dados apresentados sugerem que, com a migração de zonas mais profundas, os fluidos
tendem a emanar em superfície aproveitando, preferencialmente, estruturas de caráter distensional.
Conforme mostrado, estas descontinuidades foram geradas tanto durante a fase de deformação
compressional D2 (neoproterozóico) quanto durante a fase distensional pura D3 (Eocretáceo).
Aparentemente, a acumulação ao longo das zonas de charneira de antiformes suaves locais tende a
114
Contribuições às Ciências da Terra
Outro ponto interessante, também revelado pelo exame das zonas de exsudação em mapa, é que
todos os pontos de ocorrência de gás descritos, bem como os apresentados pelo Projeto METAMIG-
PETROBRÁS (1989 in Signorelli et al. 2003), distribuem-se ao longo do ápice da Saliência de Três
Marias. Segundo Macedo & Marshak (1999), quando visualizados em planta grande parte dos campos de
hidrocarbonetos em bacias foreland em torno do mundo ocorrem segundo a culminação de saliências
controladas pela bacia. Os autores atribuem tal associação às diversas similaridades compartilhadas entre
os pré-requisitos geológicos para a geração e acumulação dos hidrocarbonetos e os fatores controladores
das saliências, como a espessura sedimentar e a estruturação dos depósitos. Ao mesmo tempo em que o
espessamento estratigráfico favorece o maior volume de rochas geradoras/reservatório, o mesmo controla
a localização do ápice da saliência e culminações de dobras regionais. Este tipo de estrutura comumente
funciona como trapa em sistemas de hidrocarbonetos.
O aparente espessamento sedimentar da seção neoproterozóica (Cap. 4.5) e a ocorrência local de
unidades contendo matéria orgânica no Grupo Bambuí (Cap. 3.3) na área de estudo, sugerem contexto
similar ao observado por Macedo & Marshak (1999). Levando em conta estas observações, é possível
presumir que a distribuição em mapa das zonas de exsudação do vale do baixo Rio Indaia e da região da
Serra Vermelha parece refletir ainda, a distribuição dos sistemas de hidrocarbonetos em sub-superfície.
115
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...
116
CAPÍTULO 6
CONCLUSÕES
Do estudo realizado na região do Baixo Indaiá podem ser tidas as seguintes conclusões:
3) Os dados obtidos sugerem que as exsudações de gás natural do vale do Rio Indaiá e região da
Serra Vermelha são controladas por estruturas de, pelo menos, duas fases de deformação distintas.
A migração sub-superficial parece ocorrer através de grandes descontinuidades associadas a
118
Contribuições às Ciências da Terra
119
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127
Anexos
ANEXO 01 - Mapa Estrutural da região do baixo Rio Indaiá, SW da Bacia do São Francisco (MG)
Contextualização Geotectônica 45°45'0"W 45°30'0"W 45°15'0"W 45°0'0"W
ESTRATIGRAFIA
Coberturas cenozócas
Unidades cretácicas
c
O
Grupo Bambuí (c: unidades carbonáticas)
ISC
a eté
Ab
C
R io
AN
FR
O
SÃ
s
l ma ESTRUTURAS
O
TM
RI
A
das
18°15'0"S
e r ra 05 Acamamento Orientação de
S Acamamento horizontal junta plumosa
10
Eixo de dobra Estria
(Alkmim & Martins-Neto 2001 in Pedrosa-Soares et al. 2010) 60
75
Junta Clivagem
Imagem Ternária
Antiforme/Anticlinal/Anticlinório
(Lasa 2007)
do
Amn Anticlinal de Morada Nova
Sga orr
ac
hu
Antiforme/Anticlinal/Anticlinório inferido
o B
Ri
4
0240-0293
Sinforme/Sinclinal/Sinclinório
elha
Sc Sinclinório do Canastrão;
Serra Verm
ZTS Si Sinclinal do baixo Indaiá.
V Tr Sinforme/Sinclinal/Sinclinório inferido
0240
-029
4 6
-0 2 9
La 0240 Falha de empurrão 1 Falha de João Pinheiro; 2 Falha do
Sc Pontal; 3 Falha do Rio Borrachudo;
Falha de empurrão inferida 4 Falha de Traçadal.
18°30'0"S
295
Si Lineamento obtido por sísmica
l ad a
Ca Lineamento fotointerpretado
a Se
Bp Mn
Se r r
0240-029
8 CONVENÇÕES
Pontal A’
(Lasa 2007) A 3 Zona de exsudação de gás natural Perfil Geológico
A
5
0- 0 29 Seção sísmica
024
Amn
ros
Rio/Ribeirão/Córrego
Ág u
sT
i
18°45'0"S
o do
eirã
Cidades
A’
Rib
2
TM - Três Marias; Pa- Paineiras; Mn - Morada Nova
de Minas; Sga - São Gonçalo do Abaeté
hudo
orrac
Distritos
iá
Inda
Rio B
Rio
Localidades
La - Lagoa; Tr - Traçadal
ZT
llmita
P
Pa
Serra do Pa
1
0 4 8 16 24 32
Km
Datum horizontal: South American 1969
(Lasa 2007) Declinação magnética no centro da área 22º7’ W, com
variação anual de 5’ W (NOAA’s Geophysical Center)
Ribeirão Ribeirão dos
Areado Tiros Rio Borrachudo Rio Indaiá Autoria: Humberto Luis Siqueira Reis
1000m (modificado e adaptado de Costa et al. 2011, Martins et al. 2011,
Knauer et al. 2011 e Reis 2011)
750m
Programa de Pós-Graduação em Evolução Crustal e
500m
Recursos Naturais (PPECRN) - EM - UFOP
A A’
0 8km
ANEXO 02 - Mapa Geológico simplificado da região do baixo Rio Indaiá, SW da Bacia do São Francisco (MG)
ESTRATIGRAFIA
Contextualização Geotectônica
COBERTURAS ALUVIONARES
COBERTURAS CENOZÓICAS
GRUPO AREADO
O
SC
a eté
Ab
IC
Rio
AN
GRUPO BAMBUÍ
FR
O
SÃ
as
O
Alm TM
RI
a s Formação Três Marias
r ad
Se r
Formação Serra c
da Saudade
(Alkmim & Martins-Neto 2001 in Pedrosa-Soares et al. 2010)
Subgrupo Paraopeba
Formação Lagoa c: unidades carbonáticas
Imagem Ternária do Jacaré
(Lasa 2007)
do
Sga orr
ac
hu
o B
Ri
4
0240-0293
ESTRUTURAS
elha
05 Acamamento Orientação de
Acamamento horizontal junta plumosa
Serra Verm
ZTS
V Tr 10
0240 Eixo de dobra Estria
-029 60
4 2 96
75
Junta Clivagem
-0
La 0 24 0
Sc Antiforme/Anticlinal/Anticlinório
Amn Anticlinal de Morada Nova
Antiforme/Anticlinal/Anticlinório inferido
baeté
024 Sinforme/Sinclinal/Sinclinório
0 -0 Sc Sinclinório do Canastrão;
Rio A
2 95
Si Sinclinal do baixo Indaiá.
Si Sinforme/Sinclinal/Sinclinório inferido
da
Se l a
Ca
Bp Mn Falha de empurrão
a
1 Falha de João Pinheiro; 2 Falha do
Serr
0240-029
8 Pontal; 3 Falha do Rio Borrachudo;
Pontal
Falha de empurrão inferida 4 Falha de Traçadal.
(Lasa 2007) 3
ZTSV Zona Transcorrente da Serra Vermelha
Zona Transcorrente Sinistral
ZTP
Amplitude do Sinal Analítico - ASA Jaguara Zona Transcorrente de Paineiras
s l
ra
Cla
Ág u
s Ti
o do
CONVENÇÕES
e i rã
Rib
2 Cidades
Zona de exsudação de
gás natural
do
0 24
Inda
o
Rio B
Distritos
Rio
La - Lagoa; Tr - Traçadal
P
Pa
l
Serra do Pa
1
0 4 8 16 24 32
Km
Datum horizontal: South American 1969
(Lasa 2007) Declinação magnética no centro da área 22º7’ W, com
variação anual de 5’ W (NOAA’s Geophysical Center)
TM
c e
b
d
e té a
Aba
eté
Rio
Ab a
Br
isco
04
Rio
0
c
Fran
áai
Ind
São
Ri o
Projeto Alto Paranaíba
BH
Rio
(CODEMIG/UFMG)
IV V VI
III
II I
Legenda
Rio Borrachudo
e té
BH BR
Cidade
04
0
Rodovia Área de Trabalho a Seções sísmicas
Ri o
3
0 2 4 0 -0 2 9
Legenda
96
0 -0 2
024
253
Pontos
024
0-02
95
295 Seção sísmica
0 -0
0 24
Cidades
TM - Três Marias; Pa- Paineiras; Mn - Morada Nova
de Minas; Sga - São Gonçalo do Abaeté
do
hu
Ind
Pa
Ri o