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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

ESCOLA DE MINAS
DEPARTAMENTO DE GEOLOGIA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

ESTRATIGRAFIA E TECTÔNICA DA BACIA DO SÃO FRANCISCO NA


ZONA DE EMANAÇÕES DE GÁS NATURAL DO BAIXO RIO INDAIÁ
(MG)

HUMBERTO LUIS SIQUEIRA REIS

Ouro Preto, março de 2011


ESTRATIGRAFIA E TECTÔNICA DA BACIA DO SÃO

FRANCISCO NA ZONA DE EMANAÇÕES DE GÁS NATURAL

DO BAIXO INDAIÁ (MG)

i
ii
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
Reitor

João Luiz Martins

Vice-Reitor

Antenor Rodrigues Barbosa Júnior

Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação

André Barros Cota

ESCOLA DE MINAS

Diretor

José Geraldo Arantes de Azevedo Brito

Vice-Diretor

Wilson Trigueiro de Sousa

DEPARTAMENTO DE GEOLOGIA

Chefe

Issamu Endo

iii
EVOLUÇÃO CRUSTAL E RECURSOS NATURAIS

iv
CONTRIBUIÇÕES ÀS CIÊNCIAS DA TERRA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

ESTRATIGRAFIA E TECTÔNICA DA BACIA DO SÃO FRANCISCO

NA ZONA DE EMANAÇÕES DE GÁS NATURAL DO BAIXO INDAIÁ

(MG)

Humberto Luis Siqueira Reis

Orientador

Fernando Flecha Alkmim

Co-orientadores

Antonio Carlos Pedrosa Soares

Maria Sílvia Carvalho Barbosa

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Evolução Crustal e Recursos Naturais do


Departamento de Geologia da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto como requisito
parcial à obtenção do Título de Mestre em Ciências Naturais, Área de Concentração: Geologia
Estrutural e Tectônica

OURO PRETO

2011

v
Universidade Federal de Ouro Preto – http://www.ufop.br
Escola de Minas - http://www.em.ufop.br
Departamento de Geologia - http://www.degeo.ufop.br/
Programa de Pós-Graduação em Evolução Crustal e Recursos Naturais
Campus Morro do Cruzeiro s/n - Bauxita
35.400-000 Ouro Preto, Minas Gerais
Tel. (31) 3559-1600, Fax: (31) 3559-1606 e-mail: pgrad@degeo.ufop.br

Os direitos de tradução e reprodução reservados.


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ou reproduzida por meios mecânicos ou eletrônicos ou utilizada sem a observância das normas de
direito autoral.

ISSN 85-230-0108-6
Depósito Legal na Biblioteca Nacional
Edição 1ª

Catalogação elaborada pela Biblioteca Prof. Luciano Jacques de Moraes do


Sistema de Bibliotecas e Informação - SISBIN - Universidade Federal de Ouro Preto

R375e Reis, Humberto Luis Siqueira.


Estratigrafia e tectônica da Bacia do São Francisco na zona de emanações
de gás natural do baixo Rio Indaiá (MG) [manuscrito] / Humberto Luis
Siqueira Reis – 2011.

xxviii, 127 f.: il., color., tabs., mapas


(Contribuições às Ciências da Terra. Série M, v. 68, n. 296)
ISSN: 85-230-0108-6

Orientador: Prof. Dr. Fernando Flecha de Alkmim.


Co-orientador: Prof. Dr. Antônio Carlos Pedrosa Soares.
Co-orientadora: Profa. Dra. Maria Silvia Carvalho Barbosa.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Ouro Preto.


Departamento de Geologia. Programa de pós-graduação em Evolução
Crustal e Recursos Naturais.
Área de concentração: Geologia estrutural e Tectônica.

1. Geologia estrutural - Teses. 2. Estratigrafia - Teses. 3. Bacias


hidrográficas - Teses. 3. São Francisco, Rio, Bacia - Teses. 4. Gás natural -
Teses. I. Universidade Federal de Ouro Preto. II. Título.

CDU: 551.243:551.7:556.51(815.1)

Catalogação: sisbin@sisbin.ufop.br

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“À minha família, Dona Maria, Seu Zé e Hudson, obrigado por acreditarem...”

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x
Agradecimentos
Aos orientadores Fernando Flecha Alkmim, Antonio Carlos Pedrosa Soares e Maria Silvia Carvalho
Barbosa, pela oportunidade, orientação e amizade.

À Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (CODEMIG), pelo apoio financeiro e liberação


dos levantamentos aerogeofísicos e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico (CNPQ),
pela concessão da bolsa de pós-graduação.

À Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), pela disponibilização das
seções sísmicas e dados de poço, especialmente à Glauce Burlamaqui pela grande atenção durante
todo o processo.

Ao Departamento Nacional de Estradas e Rodagens (DER), pelas fotos aéreas, especialmente ao


Adílson por toda a atenção.

Aos professores do Departamento de Geologia da Escola de Minas (UFOP), pelas valiosas discussões
e sugestões, especialmente aos professores Issamu Endo, Caroline Janette Gomes e André Danderfer
Filho.

Aos profissionais do Centro de Pesquisas Professor Manoel Teixeira da Costa (CPMTC/IGC/UFMG)


pelo auxílio e competência e aos professores Lúcia Maria Fantinel, Luiz Guilherme Knauer, Ricardo
Diniz da Costa, Marcel Auguste Dardenne, Thomas Fairchild, Hildor Seer, Lucia Castanheira e Ismar
Carvalho pelas idéias e sugestões.

Aos geólogos Renato Fonseca e Andréia Vaz de Melo França, pelo apoio e pelas produtivas
discussões.

Aos grandes companheiros de pós-graduação: Daniel Fragoso, Matheus Kuchenbecker, Monica


Mendes, Dora Atman, Tatiana Dias, Paulo Amorim, Daniel Gradim, Fabrício Caxito, Tiago Lopes,
Francisco Vilela, Tiago Novo, Leandro Duque, Glayton Dias, Tiago Duque, Leonardo e Cristiane
Gonçalves, Fernanda Costa, Francisco Assis, Fernanda Brito, Dianne Farias, Alex Freitas.

Aos amigos Miguel Nassif, Glauber Rezende, Guilherme Suckau, Paulo Zaeyen, Frederico Zogheib e
Lucas Martins, pela boa companhia e auxílio durante os trabalhos de campo.

Reproduzindo as palavras de um grande companheiro, à minha família geológica: Galvão, Alemão,


Monica, Dôra, Tia, Bidu, Guilherme, Lúcia e Gláucia, pelos bons momentos e ensinamentos.

A Lara, cujo incentivo me conduziu a este caminho.

Aos bons e velhos amigos, Rodrigo Foltz, Dougla Leal, Rafael Lisboa, Daniel Mansur, Gilvana
Gomes, Ketty Gomes, Letícia Faria e Bruno Pádua.

A Deus, por tornar tudo possível.


xi
xii
Sumário

AGRADECIMENTOS .......................................................................................................................... xi
LISTA DE FIGURAS ......................................................................................................................... xvii
LISTA DE TABELAS ....................................................................................................................... xxiii
LISTA DE ANEXOS .......................................................................................................................... xxv
RESUMO............................................................................................................................................. xxvii
ABSTRACT ......................................................................................................................................... xxix
1 - - INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 1
1.1 Natureza do estudo realizado...........................................................................................................1
1.2 Objetivos.............................................................................................................................................2
1.3 Localização da área de estudo.........................................................................................................2
1.4 Metodologia.......................................................................................................................................2
1.4.1 Confecção de mapas radiométricos e magnetométricos.................................................... 5
1.4.2 Confecção dos mapas gravimétricos ..................................................................................... 6
2 - CONTEXTUALIZAÇÃO GEOLOGICA DA PORÇÃO SUDOESTE DA BACIA DO SÃO
FRANCISCO .............................................................................................................................................. 9
2.1 A Bacia do São Francisco................................................................................................................9
2.1.1 Estratigrafia ............................................................................................................................ 10
2.1.1.1 O embasamento............................................................................................................... 10
2.1.1.2 O Supergrupo Espinhaço ............................................................................................... 11
2.1.1.3 O Supergrupo São Francisco ........................................................................................ 12
2.1.1.4 Unidades fanerozóicas: os grupos Santa Fé, Areado, Mata da Corda e Urucuia .. 19
2.1.2 Arcabouço estrutural ............................................................................................................. 21
2.1.2.1 Grandes estruturas do embasamento............................................................................ 21
2.1.2.2 Estruturas envolvendo as unidades de preenchimento .............................................. 22
2.3 A porção sudoeste da Bacia do São Francisco............................................................................23
2.3.1 Estratigrafia ............................................................................................................................ 23
2.3.2 Arcabouço estrutural ............................................................................................................. 25
2.3.2.1 Estruturas pré-cambrianas ............................................................................................. 25
2.3.2.2 Estruturas cretácicas ........................................................................................................... 28
3 - ESTRATIGRAFIA DA REGIÃO DO BAIXO INDAIÁ ........................................................ 31
3.1 – Introdução ................................................................................................................................... 31
3.2 – Expressão sísmica das unidades pré-Bambuí ........................................................................ 31
3.3 – O Grupo Bambuí ........................................................................................................................ 33
3.3.1 Formação Lagoa do Jacaré ................................................................................................... 34
3.3.2 Formação Serra da Saudade ................................................................................................. 36

xiii
3.3.2.1 Membro Felixlândia ....................................................................................................... 38
3.3.3 Formação Três Marias ........................................................................................................... 42
3.3.4 Expressão sísmica e dados de poço do Grupo Bambuí .................................................... 46
3.3.4.1 Expressão em seções sísmicas ...................................................................................... 46
3.3.4.2 O Poço 9-PSB-16-MG e correlações estratigráficas .................................................. 46
3.3.5 Ambientes de sedimentação ................................................................................................. 51
3.4- Os grupos Areado e Mata da Corda .......................................................................................... 53
3.4.1 Grupo Areado ......................................................................................................................... 53
3.4.2 Grupo Mata da Corda ............................................................................................................ 56
3.4.3 Ambientes de sedimentação ................................................................................................. 56
3.5- Artigo: Expressão magnetométrica e gamaespectrométrica da porção sudoeste da Bacia do
São Francisco, Folha Serra Selada (1:100.000), MG .................................................................... 58
4 - ARCABOUÇO ESTRUTURAL DA REGIÃO DO BAIXO INDAIÁ ................................. 77
4.1 - Introdução .................................................................................................................................... 77
4.2-A estrutura do embasamento revelada por métodos geofísicos potenciais e sísmica de
reflexão .................................................................................................................................................. 77
4.1.1 Estruturas do embasamento em mapas gravimétricos ...................................................... 77
4.2.2 Expressão das estruturas do embasamento em mapas magnetométricos ....................... 81
4.2.3 As estruturas do embasamento em seções sísmicas .......................................................... 83
4.3-Arcabouço estrutural das rochas do Grupo Bambuí ................................................................ 84
4.3.1 O Compartimento Oeste: a Saliência de Três Marias ....................................................... 85
4.3.1.1 Dobras .............................................................................................................................. 85
4.3.1.2 Falhas de empurrão......................................................................................................... 87
4.3.1.3 Falhas transcorrentes ...................................................................................................... 89
4.3.1.4 Juntas ................................................................................................................................ 89
4.3.1.5 O descolamento basal e a estruturação geral da Saliência de Três Marias ............. 93
4.3.2 O Compartimento Leste (CL)............................................................................................... 96
4.4-Arcabouço estrutural das unidades cretácicas ........................................................................... 97
4.4.1 Estruturas distensionais associadas à deposição do Grupo Areado ................................ 98
4.5-Evolução estrutural da região do baixo Indaiá ........................................................................ 101
4.5.1 A Fase D1 e a estruturas pré-Bambuí ................................................................................ 101
4.5.2 A Fase D2 e a Saliência de Três Marias ............................................................................ 104
4.5.2.1 Saliência de Três Marias .............................................................................................. 105
4.5.3 Fase D3 e a formação da Sub-Bacia Abaeté (Cretácio Inferior) .................................... 109
5 - SOBRE O CONTROLE ESTRUTURAL DAS EXSUDAÇÕES DE GÁS NATURAL DO
VALE DO RIO INDAIÁ.......................................................................................................................111
5.1 Introdução........................................................................................................................................111

xiv
5.2 Breve histórico do reconhecimento das zonas de exsudação de gás na Bacia do São
Francisco ............................................................................................................................................. 111
5.3 Controle estrutural........................................................................................................................112
6 - CONCLUSÕES.........................................................................................................117

REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... ............121


ANEXOS.............................................................................................................................................. ..127

xv
xvi
Lista de Figuras

Figura 1.1 Localização da área de estudo, principais vias de acesso à partir de Belo Horizonte (BH) e
área de cobertura dos projetos do Projeto Alto Paranaíba(1:100.000) (Pedrosa-Soares et al. 2011 ) e
levantamento aerogeofísico concedido pela CODEMIG (Lasa 2007)............................................... 3
Figura 1.2 Localização da Área 9, Programa de Levantamentos Aerogeofísicos do Estado de Minas
Gerais (2005/2006). Fonte: Lasa (2007). ............................................................................................... 5
Figura 1.3 Fluxograma das etapas de processamento dos dados aeromagnetométricos e
aerogamaespectrométricos. ...................................................................................................................... 6
Figura 1.4 Correção Bouguer aplicada sobre os dados de anomalia free-air obtidos.. .................. 7
Figura 1.5 Fluxograma mostrando as principais etapas de processamento dos dados gravimétricos e
topográficos obtidos por satélite (TOPEX/POSEIDON)..................................................................... 7
Figura 2.1 A Bacia do São Francisco como parte do cráton homônimo, com as principais unidades de
preenchimento e feições de relevo. ......................................................................................................... 9
Figura 2.2 Coluna estratigráfica simplificada da bacia intracratônica do São Francisco (Alkmim &
Martins-Neto (2001). .............................................................................................................................. 11
Figura 2.3 Litoestratigrafia simplificada do Supergrupo São Francisco. Modificado de Costa &
Branco (1961), Plufg & Renger (1963), Braun (1968), Dardenne (1978), Karfunkel & Hoppe (1988),
Uhlein (1991), Castro & Dardenne (2000), Martins-Neto & Alkmim (2001), Castro (2004). .... 13
Figura 2.4 Coluna estratigráfica do Grupo Bambuí. Modificado de Martins-Neto & Alkmim (2001). 14
Figura 2.5 Sistema de paleocorrentes proposto para a Formação Três Marias por Chiavegatto (1992)
na região homônima. ............................................................................................................................... 19
Figura 2.6 Mapa geológico simplificado da Bacia do São Francisco e mapa esquemático com as
principais estruturas do embasamento da bacia. Modificado de Alkmim (2004). ......................... 22
Figura 2.7 Localização e contexto geotectônico da região do baixo Rio indaiá e Três Marias. (a) Mapa
geológico simplificado e compartimentação da bacia intracratônica do São Francisco. (b) Mapa
estrutural simplificado da porção sul da Bacia do São Francisco e descrição da principais feições
tectônicas observadas ao longo dos compartimentos deformados leste (E) e oeste (W).. Modificado de
(Alkmim et al. 1993, Alkmim & Martins-Neto 2001 e Alkmim 2011 ).......................................... 27
Figura 2.8 Mapa estrutural simplificado da porção sudoeste da Bacia do São Francisco. Os traços
estruturais (falhas e dobras) são localmente obliterados por transcorrências sinistrais. Extraído de
Alkmim & Martins-Neto (2001) e modificado de Magahães (1989)............................................... 28
Figura 2.9 Mapa geológico simplificado da Sub-bacia Abaeté (sudoeste da Bacia do São Francisco).
O perfil a esquerda mostra, segundo Sawasato (1995), a reativação negativa das falhas de João
Pinheiro e Traçadal durante a deposição do Grupo Areado no Cretáceo Inferior (retirado de Alkmim &
Martins-Neto 2001). ................................................................................................................................ 29
Figura 3.1 Interpretação simplificada da seção sísmica 0240-0293 em tempo duplo (TWT/ms)
mostrando a principais associações reconhecidas. I: Embasamento, II: Unidades pré-Bambuí (Pb1 ,
Pb2), III: Grupo Bambuí (unidades Inferior – BI- e Superior – BS)................................................ 32
Figura 3.2 Mapa geológico simplificado da região do baixo Rio Indaiá e Três Marias. Modificado de
Costa et al. (2011), Knauer et al. (2011), Martins et al. (2011) e Reis (2011). As estrelas
correspondem aos pontos de exsudação de gás natural do vale do Rio Indaiá e da região da Serra
Vermelha. ................................................................................................................................................. 34

xvii
Figura 3.3 Coluna estratigráfica com as principais associações litológicas do Grupo Bambuí
aflorantes na região de Águas Claras, Município de Tiros, onde são cobertas, em discordância, pelos
depósitos continentais do Grupo Areado.............................................................................................. 35
Figura 3.4 Coluna estratigráfica representativa do Grupo Bambuí na região da Serra do Palmital,
divisa entre os municípios de Paineiras, Abaeté e Cedro do Abaeté (MG)..................................... 37
Figura 3.5 Coluna estratigráfica do Grupo Bambuí ao longo do vale do baixo Rio Indaiá, próximo a
base da Formação Três Marias e detalhe sobre o as principais fácies do Membro Felixlândia (Parenti-
Couto 1980), aflorante nas proximidades da Represa de Três Marias (Ponto 582 – Anexo 03). .40
Figura 3.6 Modelo de distribuição dos subambientes plataformais e respectivas icnofácies.
Modificado de Walker & Plint (1992). ................................................................................................. 42
Figura 3.7 (A) Coluna estratigráfica do Grupo Bambuí aflorante a nordeste de Morada Nova de
Minas. (B) Coluna estratigráfica do Grupo Bambuí a sul de Morada Nova de Minas, mostrando a
passagem gradacional entre as formações Serra da Saudade (contendo lente de pelito carbonoso) e
Três Marias.. ............................................................................................................................................. 43
Figura 3.8 Esquema comparativo entre as medidas de paleocorrentes, cristas de ripples e lineações de
partição registradas para as formações Serra da Saudade e Três Marias, comparadas às informações
obtidas por Chiavegatto (1992).. ........................................................................................................... 44
Figura 3.9 (A) Calcarenito fino (recristalizado) da Formação Lagoa do Jacaré (Ponto 330, Região de
Águas Claras). (B) Pelito laminado e levemente basculado da Formação Serra da Saudade, Córrego
Jacu (Ponto 476 – Anexo 03). (C) Calcarenito intercalado por estratos mili a centimétricos de
ooesparrudito da Formação Serra da Saudade, Fazenda do Gabriel (Ponto 344 – Anexo 03). (D)
Associação entre pelito verde (verdete) e arenito da Formação Serra da Saudade, Serra do Palmital.
Note a estratificação cruzada do tipo hummocky, indicando retrabalhamento por ondas de tempestade.
(E e F) Ripples marks em arenitos arcoseanos micáceos da Formação Três Marias. Em (F) a acentuada
simetria indica a atuação de fluxos ondulatórios durante a sedimentação da unidade (Ponto 289 –
Anexo 03). ................................................................................................................................................ 45
Figura 3.10 (A) Localização das seções sísmicas e do poço 9-PSB-16-MG. TM: Três Marias, Ti:
Tiros, Mn: Morada Nova de Minas e Co: Corinto. (B) Detalhe da seção sísmica em tempo duplo 0240-
0296 (destacada em A e C) mostrando a geometria e as principais características sísmicas do Grupo
Bambuí face às unidades subjacentes. (C) Composição das seções sísmicas 0240-0298 e 0240-0296
(em tempo duplo - TWT) e interpretação simplificada, mostrando a continuidade e geometria dos
refletores atribuídos ao Grupo Bambuí... ............................................................................................. 47
Figura 3.11 Perfil composto do Poço 9-PSB-16-MG (CPRM/PETROBRÁS), locado imediatamente a
norte da cidade de Corinto (Fig. 3.8).. .................................................................................................. 49
Figura 3.12 Correlação aproximada entre as colunas levantadas na região do baixo Rio Indaiá (Figs.
3.3, 3.4 e 3.7-b) e o Poço 9-PSB-16-MG (CPRM/PETROBRÁS). .................................................. 50
Figura 3.13 (A) Estratificação cruzada de porte decamétrico em arenito bem selecionado e com
estratificação bimodal do Grupo Areado. (B) Arenito conglomerático do Grupo Areado com
estratificações tabulares plano-paralelas e cruzadas tangenciais em discordância angular erosiva com
os sedimentos do Grupo Bambuí. (C) Argilito vermelho do Grupo Areado com camada centimétrica
de arenito esbranquiçado exibindo perturbações por carga. Repare nos pequenos plútons de areia em
meio às frações pelíticas. (D) Icnofóssil (Taenidium isp. ?) em arenito fluidizado do Grupo Areado
(Ponto 174 – Anexo 03). (E) Ciclos centimétricos de granodecrescência ascendente (gda) em rocha
epiclástica do Grupo Mata da Corda (Ponto 352 – Anexo 03). (F) Contato discordante angular e
erosivo entre arenito estratificado e vulcanoclástica alterada dos grupos Areado e Mata da Corda,
respectivamente........................................................................................................................................ 54
Figura 3.14 Coluna estratigráfica do Grupo Areado na região de Jaguara (Ponto 159 – Anexo 03)
mostrando associação local dos arenitos bem selecionados e unidades psamo-rudíto-pelíticas.. 55

xviii
Artigo Figura 1. Mapa de localização da Folha Serra Selada (1:100.000) no contexto da Bacia do São
Francisco, mostrando as principais vias de acesso a partir de Belo Horizonte e os mais importantes
centros urbanos locais. ............................................................................................................................ 61
Artigo Figura 2 Mapa geológico simplificado da Folha Serra Selada (1:100.000), modificado de Reis
(2010). ....................................................................................................................................................... 63
Artigo Figura 3 Localização da Área 9, Programa de Levantamentos Aerogeofísicos do Estado de
Minas Gerais (2005/2006). Fonte: Lasa (2007). ................................................................................. 64
Artigo Figura 4 Fluxograma das etapas de processamento dos dados aeromagnetométricos e
aerogamaespectrométricos na confecção dos mapas geofísicos da Folha Serra Selada (1:100.000).
.................................................................................................................................................................... 65
Artigo Figura 5 Mapa do Campo Magnético Anômalo (retirado IGRF) interpretado da Folha Serra
Selada (1:100.000).. ................................................................................................................................ 67
Artigo Figura 6 Mapa da Primeira Derivada Vertical do Campo Anômalo, Folha Serra Selada
(1:100.000).. ............................................................................................................................................. 68
Artigo Figura 7 Mapa do Campo Anômalo Residual, Folha Serra Selada (1:100.000). ............. 69
Artigo Figura 8 Sobreposição do Mapa da Amplitude do Sinal Analítico e a distribuição das
principais unidades magnéticas aflorantes (compilado a partir de dados de campo), Folha Serra Selada
(1:100.000). .............................................................................................................................................. 70
Artigo Figura 9 Gamaespectrometria nos canais de K, Th e U na área da Folha Serra Selada
(1.100.000). Sobre a imagem ternária foram lançados os traços das principais falhas e unidades
litoestratigráficas mapeadas (grupos Bambuí, Areado e Mata da Corda). ...................................... 71
Artigo Figura 10 Teores de potássio (K%) ao longo de um perfil (A-B) de orientação N-S e que corta
a zona de exsudações de gás natural da porção nordeste da Folha Serra Selada. Os teores de potássio
foram obtidos do Mapa Gamaespectrométrico - canal K, apresentado na Figura 9. Localizações das
zonas de emanações e do perfil acima são mostradas nas figuras 2 e 9, respectivamente. ........... 73
Figura 4.1 Mapa de Anomalia Bouguer com a interpretação das principais anomalias do Cráton do
São Francisco (Cruz & Alkmim 2006) e as respectivas conformações gravimétricas destacadas na
Tabela 4.1.. ............................................................................................................................................... 78
Figura 4.2 Perfis gravimétricos ao longo do Cráton do São Francisco e faixas dobradas adjacentes (a e
b) comparados com modelo esquemático de uma colisão de placas tectônicas e anomalia gravimétrica
associada (c). Este último modificado de Fountain & Salisbury 1981 (in Oliver 1983)............... 79
Figura 4.3 Mapa de Anomalia Bouguer (TOPEX/POSEIDON), detalhando a região do Alto de Três
Marias.. ..................................................................................................................................................... 82
Figura 4.4 Campo Magnético Anômalo (Lasa 2007) mostrando lineamentos predominante orientados
segundo NE. As linhas tracejadas aparentemente correspondem a diques não aflorantes, cuja anomalia
magnética é ressaltada nas regiões em que o embasamento encontra-se mais próximo da superfície... 82
Figura 4.5 Digrama tridimensional com interpretação das seções sísmicas 0240-0295, 0240-0293 e
0240-0294.. ............................................................................................................................................... 83
Figura 4.6 Lineamentos e alinhamentos interpretados sobre imagem Geocover (Landsat). Tanto os
depósitos cretácicos (grupos Areado e Mata da Corda) quanto as coberturas neógenas são destacados,
as demais regiões associam-se aos sedimentos neoproterozóicos do Grupo Bambuí. Estes últimos
compõem o compartimento leste (CL), deformado e subdividido nos domínios SE (DSE), SW (DSW),
e N (DN), e o compartimento oeste (CO), indeformado. A linha contínua delimita a zona estrutural
relacionada às unidades cretácicas. Os diagramas representam as principais direções de
lineamentos/alinhamentos obtido na imagem e respectivos comprimentos acumulados. ............. 85

xix
Figura 4.7 Dobra em kink de porte decamétrico nas proximidades da foz do Rio Indaiá na Represa de
Três Marias. A intersecção entre as kink bands tem a orientação em torno de SSW (Ponto 130 – Anexo
03). ............................................................................................................................................................. 86
Figura 4.8 (A) Dobra em chevron fechada e levemente vergente para oeste (Ponto 302 – Anexo 03).
A estrutura exibe encurtamento aproximado de 40% e ângulo interflanquial de 50º. (B) Traço da
superfície axial (PA) em dobra chevron assimétrica (Ponto 290 – Anexo 03). (C) Estreograma
sinóptico dos eixos de dobra (B) ao longo do copartimento oeste. (D) Dobras apertadas a isoclinais em
verdete da Formação Serra da Saudade, próximo a zona de falha.................................................... 87
Figura 4.9 Diagramas sinópticos de juntas (a e b). Em (c) junta plumosa em arenito da Formação Três
Marias (Ponto 545 – Anexo 03)............................................................................................................. 90
Figura 4.10 Estereogramas de pólos do acamamento (So), eixos de dobras (B) e rosetas de juntas para
os distintos domínios do compartimento oeste e zonas de transcorrência de Paineiras e Serra Vermelha
(De E). Os diagramas de So sugerem uma sutil vergência geral para E, ao passo que a concentração de
eixos B mostra um leve caimento geral para norte nos domínios SE e SW (A e B), enquanto no
domínio N (C) estas estruturas tendem a cair para sul (geral). Em D e E é possível notar a mudança na
orientação das estruturas ao longo das zonas de transcorrências. DT: direção de transporte tectônico
inferido conforme Modelo de Hansen (Twiss & Moores 2007). ...................................................... 91
Figura 4.11 Figura esquemática mostrando as principais relações entre as juntas (J), eixos de dobra
(Lb) e estrias (Le) ao longo do domínio SE (Serra do Palmital). Eixos geométricos (a, b e c) segundo
Hobbs et al. (1976). ................................................................................................................................. 93
Figura 4.12 Arranjo tridimensional das seções sísmicas 0240-0295, 0240-0298 e 0240-0293 em
tempo duplo (TWT/ms), localizadas no Domínio Deformado (A). (B) TM: Três Marias, Ti: Tiros e
Co: Corinto. .............................................................................................................................................. 94
Figura 4.13 Bloco diagrama mostrando as seções sísmicas (TWT/ms) da Figura 4.8 interpretadas e
sua relação com a topografia e algumas das principais estruturas geológicas mapeadas em superfície..95
Figura 4.14 Orientação das principais estruturas observadas ao longo do compartimrnto leste (região
de Morada Nova de Minas).. .................................................................................................................. 97
Figura 4.15 Roseta mostrando os conjuntos principais de juntas das unidades cretácicas. À esquerda,
as mesmas estruturas afetando arenitos do Grupo Areado. ............................................................... 98
Figura 4.16 Afloramento próximo às margens do Rio Borrachudo, na região da Fazenda Pindaíbas
(Ponto 505 – Anexo 03). Pelitos dobrados do Grupo Bambuí (porção inferior) são cortados por feixe
de falhas normais mergulhantes para oeste e responsáveis pelo espessamento generalizado dos
depósitos do Grupo Areado, assentados sobre os pelitos neoproterozóicos através de discrodância
erosiva e angular. ..................................................................................................................................... 99
Figura 4.17 Paleotensões calculadas pelo Método dos Diedros Retos através de medidas de juntas
cisalhantes e falhas (A). Os diagramas mostram um regime de deformação distensional puro,
exibindo índice R’=0.4 (sensu Delvaux et al. 1997 apud Lipski 2002 ). (B) Junta cisalhante em pelito
do Grupo Bambuí relacionada à deposição do Grupo Areado. É possível notar a superfície estriada
(Le) e coberta por óxido de manganês. Em (C) rosetas e estereogramas mostrando as principais
características dos planos e estrias medidos.. .................................................................................... 100
Figura 4.18 Interpretação simplificada das seções sísmicas 0240-0295 (a), 0240-0298 (b) 3 0240-0296
(c) mostrando a continuidade dos principais refletores sísmicos ao longo de toda porção centro-sul da
Bacia do São Francico.. ........................................................................................................................ 103
Figura 4.19 Ilustração mostrando a influência das estruturas da bacia e espessura sedimentar na
geometria curva do cinturão de falhas e dobras (a, b, c e d). Os desenhos à direita de cada figura
mostram os traços das falhas gerados em modelo de caixa de areia (Retirado de Marshak 2004). (f)
Mapa de lineamentos e principais traços estruturais da ao longo da região do baixo Rio Indaiá. A linha
tracejada corresponde ao limite externo da Saliência de Três Marias............................................ 108

xx
Figura 4.20 Esquema evolutivo da região centro-oeste da Bacia do São Francisco, no baixo Rio
Indaiá.. ..................................................................................................................................................... 110
Figura 5.1 Seção sísmica 0240-0293 em tempo duplo (TWT/ms). As linhas tracejadas destacam as
descontinuidades (traço pontilhado) próximas às zonas axiais das dobras regionais e relacionadas às
zonas de exsudação de gás natural (estrelas). .................................................................................... 113
Figura 5.2 Exsudações de gás em córrego na região de Serra Vermelha (Morada Nova de Minas) (a e
b) e no baixo Rio Indaiá (c). As setas vermelhas indicam os pontos de emanação. Em (a) é possível
observar os seeps alinhados segundo a direção NW e sua relação com flanco de antiforme suave ao
fundo. (d) Falha normal oblíqua cretácica (fase de deformação D3) em arenito da Formação Três
Marias, cuja direção parece influir localmente na orientação das exsudações de hidrocarbonetos.114

xxi
xxii
Lista de Tabelas

Artigo Tabela 1 Reposta gamaespectrométrica das principais litologias do Grupo Bambuí na área
abrangida pela Folha Serra Selada (1:100.000). ................................................................................. 74
Tabela 4.1 Principais anomalias gravimétricas observadas ao longo do Cráton do São Francisco
. ................................................................................................................................................................... 79
Tabela 4.2 Relação das principais fases de deformação, etapas e estruturas associadas que afetam as
unidades estratigráficas analisadas ao longo da região do baixo Rio Indaiá. ............................... 102

xxiii
xxiv
Lista de Anexos

Anexo 01 Mapa estrutural da região do baixo Indaiá


Anexo 02 Mapa geológico da região do baixo Indaiá
Anexo 03 Mapa de pontos

xxv
xxvi
Resumo
A região do baixo curso do Rio Indaiá, situada no setor sudoeste da Bacia do São Francisco, nas
proximidades das cidades Tiros, Paineiras, Morada Nova de Minas e Três Marias em Minas Gerais,
encerra um grande número de exsudações naturais de gás. Visando à caracterização do cenário
geológico de tais emanações, realizou-se na região um estudo estratigráfico e estrutural fundamentado
em trabalhos de campo e interpretação geofísica. Além do embasamento, constituído por uma
assembléia de rochas arquenas e paleoproterozóicas, cinco outras unidades litoestratigráficas foram
reconhecidas na área de estudo. As unidades mais antigas, designadas pré-Bambuí (Pb1 e Pb2) não
afloram e foram caracterizadas apenas em seções sísmicas. Constituem sucessões sedimentares de
idade incerta que preenchem e cobrem baixos e altos do embasamento limitados por falhas normais de
direção preferencial NE. Sobre estas unidades jazem as rochas neoproterozóicas do Grupo Bambuí
que, em superfície, é representado pelas formações Lagoa do Jacaré, Serra da Saudade e Três Marias,
compostas por pelitos e carbonatos marinhos, capeados por tempestitos arcoseanos. As rochas
sedimentares e vulcanogênicas cretácicas dos grupos Areado e Mata da Corda são as unidades mais
jovens que ocorrem na região. Os elementos tectônicos presentes são relativos a três fases de
formação. A primeira fase (D1), de natureza distensional, gerou grabens e horsts de direção NE que
envolvem apenas embasamento e parte das unidades pré-Bambuí. A fase D2, compressional, foi
responsável pelo desenvolvimento de um cinturão de dobras e falhas de empurrão epidérmico de
antepaís, no qual tomam parte somente as rochas do Grupo Bambuí. Este cinturão, que é a
manifestação intracratônica do front orogênico da Faixa Brasília, formou-se em nível crustal
relativamente raso, sob um campo compressivo WNW-ESE. As estruturas D1 descrevem, em mapa,
uma grande curva com a concavidade voltada para oeste, a Saliência de Três Marias, cuja geometria
resulta de variações de espessura do Grupo Bambuí e irregularidades do embasamento local.
Elementos da fase de deformação D3 se superpõem aos das demais fases e relaciona-se à geração e
evolução da Sub-bacia Abaeté, no Cretáceo Inferior. Nesta fase, desenvolveram-se falhas normais de
direção N-S, geralmente associadas ao crescimento de seções estratigráficas do Grupo Areado, e
juntas de cisalhamento de direção NNE e NW. Quando examinadas a luz dos resultados obtidos no
estudo, as exsudações de gás natural do vale do Rio Indaiá se mostram associadas a estruturas
distensionais tanto da fase D2 quanto na fase D3. A íntima associação destas ocorrências com a
culminação da Saliência de Três Marias sugere algum controle desta feição tanto sobre elas, quanto
sobre as acumulações de hidrocarbonetos em profundidade.

xxvii
xxviii
Abstract
The lower Indaiá River valley, located in the southwestern portion of the São Francisco Basin near the
towns of Tiros, Paineiras, Morada Nova de Minas and Três Marias, in Minas Gerais state, contains a
large number of gas seepages. In order to characterize the geologic scenario of the seepages, a
stratigraphic and structural study was carried out in the region, based on field data and geophysical
analyses. Besides the basement, which is made up of Archean and Paleoproterozoic rock assemblages,
five other lithostratigraphic units have been recognized in the study area. The oldest units, pre-Bambuí
Pb1 and Pb2, are not exposed and were observed only in seismic sections. They correspond to
successions of uncertain age that fills and covers NE-trending basement grabens and horsts. These
units are overlain by the Neoproterozoic Bambuí Group, represented in the field by the Lagoa do
Jacaré, Serra da Saudade and Três Marias formations, composed of pelites and carbonates caped by
arcosic tempestites. The cretaceous sedimentary and volcanic rocks of the Areado and Mata da Corda
groups are the youngest units exposed in the region. The tectonic fabric elements recognized in the
lower Indaiá river valley are products of three deformation phases. The first phase (D1) was
extensional and generated NE-trending grabens and horsts, that affect only basement and part of the
pre-Bambuí units. The second phase, the compressional D2, was responsible for the development of a
thin-skinned foreland fold-thrust belt that involves only the Bambuí Group. This belt, which
corresponds to the intracratonic manifestation of the Brasilia belt orogenic front, developed at shallow
crustal level under a WNW-ESE oriented contraction. D2-structures describe in map view a large
curve, whose concave side faces west: the basin controlled Três Marias Salient. D3-phase structures
overprint the older fabric elements and are associated to the development and evolution of the Abaeté
Sub-basin, during Lower Cretaceous. This phase nucleated NS-trending normal faults coeval to the
deposition of the Areado Group, as well as NNE and NW-oriented shear fractures. When examined in
the light of the obtained results, the lower Indaiá river gas seepages seem to be controlled by
extensional structures of both D2 and D3 deformational phases. The relation between the distribution of
the seepages and the apex of Três Marias Salient suggests some influence of this structure upon their
occurrence and the subsurface hydrocarbon accumulations.

xxix
xxx
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO

1.1 - NATUREZA DO ESTUDO REALIZADO

Inserida no setor sudoeste da bacia sedimentar do São Francisco, a região do baixo Rio Indaiá foi
foco de importantes estudos geológicos de cunho regional desde o início do século XX. Os primeiros
esforços se devem a Freyberg (1932), que foi o responsável pela subdivisão da então chamada Série
Bambuí (Rimann 1917) nas camadas Indaiá e Gerais. Após a descoberta de ocorrências de gás natural na
região de Três Marias entre as décadas de 60 e 80 (Araújo 1988 apud Pinto et al. 2001), a região foi alvo
de novos estudos (Menezes Fº et al. 1978), os quais culminaram nos levantamentos geofísicos executados
pela PETROBRÁS, bem como descrições de novas ocorrências ao final da década de 80 (Projeto
PETROBRÁS-METAMIG 1989 apud Signorelli et al. 2003). Alguns anos mais tarde, a área foi objeto de
novos projetos de mapeamento geológico regional (Signorelli et al. 2003, Pedrosa-Soares et al. 2011 ),
constituindo atualmente um dos alvos das pesquisas de hidrocarbonetos na Bacia do São Francisco.

Sobre a região do baixo Rio Indaiá e arredores da Represa de Três Marias, onde se concentra um
grande número de emanações de gás natural, uma série de questões geológicas ainda espera por respostas.
Muitas destas questões decorrem principalmente da intensa deformação experimentada pelas rochas do
Grupo Bambuí, que, aliada ao avançado grau intempérico, dificultam o reconhecimento direto de relações
estratigráficas e a análise estrutural de feições regionais. Ao mesmo tempo, o crescente interesse nos
sistemas de hidrocarbonetos ao longo de toda Bacia do São Francisco trouxe a tona uma nova série de
problemas relativos às ocorrências de gás natural já documentadas. Todas estas questões podem ser
resumidas em uma só pergunta: qual é o cenário geológico da zona de emanações de hidrocarbonetos do
baixo Indaiá?

Visando responder esta pergunta e, consequentemente, contribuir para o conhecimento geológico


da Bacia do São Francisco, o presente trabalho busca, através da cartografia geológica, análise estrutural e
investigações geofísicas, avaliar o contexto estratigráfico e tectônico da região de exsudações de gás
natural do baixo Rio Indaiá.
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

1.2 - OBJETIVOS

Visando caracterizar o cenário geológico das exsudações de gás da região do baixo Indaiá e
também contribuir com o conhecimento acerca da Bacia do São Francisco, o estudo realizado teve como
objetivos específicos os seguintes:

 Caracterizar a sucessão estratigráfica da região do baixo Indaiá, bem como a distribuição


geográfica e as relações entre as unidades lá aflorantes.

 Caracterizar o arcabouço estrutural da Bacia do São Francisco ao longo da região do baixo Rio
Indaiá, com ênfase especial na determinação da geometria em sub-superfície do front
deformacional neoproterozóico e suas relações com estruturas do embasamento.

 Caracterizar a evolução tectônica da Bacia do São Francisco na região do baixo Rio Indaiá.

 Caracterizar cenário geológico e os controles das exsudações de gás natural da região em foco.

1.3 - LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

A área de estudo, localizada na porção centro-oeste de Minas Gerais, aborda parte dos municípios
de Morada Nova de Minas, Tiros, Paineiras, Biquinhas, São Gonçalo do Abaeté e Três Marias. Baliza-se
pelas coordenadas geográficas 45º00’W- 19º00’S e 46º00’W- 18º00’S e engloba as regiões do baixo Rio
Indaiá e da Represa de Três Marias. Esta região é coberta pelas folhas topográficas (1:100.000) Serra
Selada, Serra das Almas, Três Marias e Morada Nova de Minas (Serviço Geográfico do Exército – SGE).

O acesso, a partir de Belo Horizonte, pode ser feito tanto pela rodovia BR262, quanto pela BR040,
em distâncias de cerca de 300 km e 250 km, respectivamente (Fig. 1.1).

1.4 - METODOLOGIA

Com o objetivo de alcançar os objetivos propostos, as análises foram realizadas com o emprego de
múltiplas ferramentas.

A caracterização estratigráfica foi conduzida através de descrições de campo, análise de colunas


levantadas ao longo da área de interesse, interpretação de mapas magnetométricos e
2
Contribuições às Ciências da Terra

gamaespectrométricos. Para a determinação da continuidade das unidades em subsuperfície, bem como


para caracterização de outras não aflorantes, foram analisadas seções sísmicas e dados de um poço na
região de Corinto (MG), perfurado pela CPRM/PETROBRÁS.

Figura 1.1 Localização da área de estudo e principais vias de acesso à partir de Belo Horizonte (BH). TM: Três
Marias, Ti: Tiros. Projeto Alto-Paranaíba (1:100.000) (Pedrosa-Soares et al. 2011 ): I – Folha Luz; II- Folha Campos
Altos; III-Folha São Gotardo; IV-Folha Carmo do Paranaíba; V – Folha Serra Selada; VI – Folha Morada Nova de
Minas; VII – Folha Três Marias; VIII – Folha Serra das Almas; IX – Folha Presidente Olegário. A região hachurada
corresponde a área coberta pelo levantamento geofísico concedido pela CODEMIG (Lasa 2007).

A análise estrutural foi realizada com o emprego da sua metodologia clássica e também contou
com o emprego de dados gravimétricos, magnetométricos e sísmicos de reflexão.

3
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

Tanto a etapa de caracterização estratigráfica quanto a etapa de análise estrutural, envolveram a


compilação dos dados do Projeto Alto-Paranaíba (Pedrosa-Soares et al. 2011 ), realizado na escala
1:100.000, via contrato CODEMIG-UFMG 2009.

A pesquisa foi conduzida de acordo com as seguintes etapas:

1) Levantamento bibliográfico e compilação dos principais dados existentes ao longo da porção oeste
da Bacia do São Francisco, bem como estudos realizados na região do baixo Rio Indaiá e Três
Marias.
2) Estudo e interpretação de imagens de satélite e dados aerogeofísicos. Para tal, foram utilizados
dados dos sensores remotos Landsat 7 (Miranda 2005) e Aster (GDEM)1 e os levantamentos
aerogamaespectrométricos e aeromagnetométricos disponibilizados pela Companhia de
Desenvolvimento de Minas Gerais (CODEMIG) (Lasa 2007).
3) Obtenção dos dados gravimétricos, tratamento, produção de mapas de anomalia Bouguer e
interpretação. 
4) Numa primeira campanha de campo, foram descritas estações na área abrangida pela Folha Serra
Selada (1:100.000) (Fig. 1.1). Esta etapa foi realizada em conjunto com o Projeto Alto Paranaíba
(Pedrosa-Soares et al. 2011). Posteriormente, foram levantados perfis estruturais-estratigráficos
ao longo das regiões contempladas pelas seções sísmicas concedidas ao projeto (Fig. 1.1). Ainda
foi foco desta etapa, a descrição de estruturas rúpteis e respectivas ornamentações. Na terceira e
última campanha, foram coletados dados de estruturas rúpteis (rúpteis-ducteis) ao longo do baixo
Rio Indaiá e Represa de Três Marias, bem como catalogadas e descritas as principais zonas de
exsudação de gás natural.
5) Análises macro e microscópicas das rochas neoproterozóicas e cretácicas dos grupos Bambuí (em
especial dos carbonatos do Membro Felixlândia, Formação Serra da Saudade) e Areado
aflorantes na Folha Serra Selada (1:100.000).
6) Interpretação das seções sísmicas e dados de poço concedidos ao projeto pela Agência Nacional
do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Trata-se de 5 seções sísmicas (0240-0293,
0240-0294, 0240-0295, 0240-0296 e 0240-0298), em tempo duplo e estaqueadas, que cobrem
cerca de 230 km e perfil composto de poço (9PSB16-MG) locado na região de Corinto-MG (Fig.
1.1). Uma vez que os dados de poços disponíveis não continham perfis sônicos, não foi possível
amarrar as linhas sísmicas ao poço.

1
Disponível para download em https://wist.echo.nasa.gov/wist-bin/api/ims.cgi?mode=MAINSRCH&JS=1
4
Contribuições às Ciências da Terra

7) Confecção de mapa estrutural com base nas informações obtidas nas etapas anteriores e
compilação dos dados recuperados do Projeto Alto Paranaíba (Pedrosa-Soares et al. 2011);
8) Redação da dissertação.

1.4.1 - Confecção de mapas radiométricos e magnetométricos

Os dados radiométricos e magnetoméricos utilizados foram cedidos pela Companhia de


Desenvolvimento de Minas Gerais (CODEMIG) e fazem parte do Programa de Levantamentos
Aerogeofísicos de Minas Gerais – 2005/2006. Foram utilizados os dados referentes a Área 9 deste
levantamento (João Pinheiro-Presidente Olegário-Tiros), o qual abrange a porção oeste da área deste
trabalho (Figs. 1.1 e 1.2).

Figura 1.2 Localização da Área 9, Programa de Levantamentos Aerogeofísicos do Estado de Minas Gerais
(2005/2006). Fonte: Lasa (2007).

A partir dos dados obtidos no levantamento foram gerados, com auxílio do software Oasis
montaj® (sistema GEOSOFT), os mapas do Campo Magnético Anômalo, Gradiente Vertical (de primeira
ordem) do Campo Anômalo, Campo Residual e Amplitude do Sinal Analítico, bem como os mapas
gamaespectrométricos nos canais K, Th e K e Imagem Ternária. As principais fases de tratamento dos
dados são ilustradas no fluxograma da Figura 1.3.

5
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

Figura 1.3 Fluxograma das etapas de processamento dos dados aeromagnetométricos e aerogamaespectrométricos
na confecção dos mapas geofísicos.

1.4.2 Confecção dos mapas gravimétricos

Para a confecção dos mapas gravimétricos foram utilizados os dados de anomalia free-air e
topográficos, obtidos por satélite (TOPEX/POSEIDON). Os dados apresentam resolução espacial de 1
minuto e encontram-se disponíveis em ftp://topex.ucsd.edu/pub/. A conversão dos valores obtidos para
dados de anomalia Bouguer foi realizada conforme a correção indicada na Figura 1.4.

Com auxíllio do software Oasis Motaj® (Geosoft), foram gerados o mapa de anomalia Bouguer
regional, cobrindo parte do Cráton do São Francisco e faixas dobradas adjacentes, e o mapa de anomalia
bouguer de detalhe, destacando os principais contrastes gravimétricos no entorno da área de estudo (ver
Cap. 4). Para a interpolação das informações, utilizou-se o método da curvatura mínima, segundo a rotina
do programa. O fluxograma da Figura 1.5 ilustra as principais etapas de processamentos dos dados.

6
Contribuições às Ciências da Terra


Figura 1.4 Correção Bouguer aplicada sobre os dados de anomalia free-air obtidos. Foram utilizadas densidades
médias de 2,6g/cm3 para a crosta continental e nula para o ar.

Figura 1.5 Fluxograma mostrando as principais etapas de processamento dos dados gravimétricos e topográficos
obtidos por satélite (TOPEX/POSEIDON). A linha tracejada (c) corresponde aos limites do Cráton do São Francisco
segundo Alkmim et al. (1993) e modificado por Cruz & Alkmim (2006), a partir do qual foram individualizados os
diferentes domínios gravimétricos. A-A’ e B-B’ corresponde à localização dos perfis apresentados na Figura 4.2.

7
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

8
CAPÍTULO 2

CONTEXTUALIZAÇÃO GEOLÓGICA DA PORÇÃO SUDOESTE DA


BACIA DO SÃO FRANCISCO

2.1 - A BACIA DO SÃO FRANCISCO

A bacia sedimentar do São Francisco, que cobre quase integralmente porção oeste e
meridianamente alongada do cráton homônimo (Fig. 2.1), encerra sucessivos ciclos bacinais posteriores a
1,8Ga (Alkmim & Martins-Neto 2001). Inclui as unidades pré-cambrianas dos supergrupos Espinhaço e
São Francisco (e correlatos), bem como os depósitos fanerozóicos dos grupos Santa Fé, Areado, Mata da
Corda e Urucuia.

Figura 2.1 A Bacia do São Francisco como parte do cráton homônimo. Em (a) o mapa geológico simplificado com
as principais unidades de preenchimento. Em (b) o modelo digital do terreno, mostrando as principais feições de
relevo e os limites da bacia. SC Serra do Cabral; SCT Serra Central; SP Serra de Palmas de Monte Alto; SG Serra
Geral de Goiás.
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

A Bacia do São Francisco se estende por uma área aproximada de 500.000km2 e ocupa parte dos
estados de Minas Gerais, Goiás e Bahia. Segundo Alkmim & Martins-Neto (2001), a mesma é delimitada
pelas seguintes feições (Fig. 2.1):

 A sul, pelo contato de natureza discordante entre o embasamento e as unidades do


Supergrupo São Francisco.

 A leste, pelo setor externo do Orógeno Araçuaí (Pedrosa-Soares et al. 2001, Alkmim et al.
2007).

 A oeste e a norte, pelas faixas Brasília e Rio Preto, respectivamente (Almeida 1977).

 A nordeste, pelo corredor intracratônico de deformação do Paramirim (Cruz & Alkmim


2006).

2.1.1 Estratigrafia

A principal unidade aflorante nos domínios da Bacia do São Francisco é o supergrupo homônimo,
que assenta discordantemente sobre as rochas metassedimentares do Supergrupo Espinhaço aflorantes ao
longo das serras do Cabral, Água Fria e Bicudo, na porção oeste da bacia em Minas Gerais. Localmente, o
Supergrupo São Francisco é coberto, em discordância, pelas unidades fanerozóicas dos grupos Santa Fé,
Areado, Mata da Corda e Urucuia (Figs. 2.2 e 2.6).

2.1.1.1 O embasamento

Considerando as definições propostas por Alkmim & Martins-Neto (2001), fazem parte do
embasamento da Bacia do São Francisco todas as unidades paleoproterozóicas e arqueanas mais antigas
que 1,8Ga. As principais exposições do embasamento ocorrem no setor sul da bacia, ao longo do Alto de
Sete Lagoas, a norte do Quadrilátero Ferrífero, e junto ao seu limite nordeste. Elas incluem complexos de
gnaisses e migmatitos TTG (tonalito-trondhjemito-granodiorito), corpos graníticos e seqüências do
greenstone belt, além de pacotes metassedimentares paleoproterozóicos (e.g.: Pinho 2008, Teixeira et al.
2000 in Martins-Neto & Alkmim 2001, Noce et al. 2007).

10
Contribuições às Ciências da Terra

Figura 2.2 Coluna estratigráfica simplificada da bacia intracratônica do São Francisco, mostrando as principais
unidades de preenchimento (Alkmim & Martins-Neto 2001).

2.1.1.2 O Supergrupo Espinhaço

O Supergrupo Espinhaço engloba uma seqüência composta, predominantemente, por


metassedimentos, aflorantes ao longo da serra homônima e cujas principais exposições, nos domínios da
Bacia do São Francisco, ocorrem nas regiões da Serra do Cabral, Serra da Água Fria e Serra do Bicudo
(Souza Fº 1995, Hercos 2008). São descritas ainda, exposições ao longo das serras Central (MG) e
Palmas de Monte Alto (BA) (Alkmim & Martins-Neto 2001, Alkmim 2011 ).

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Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

O Supergrupo Espinhaço é representado por uma alternância de quartzitos, filitos e metarruditos,


localmente intercalados por rochas metavulcânicas (Scholl & Fogaça 1979, Knauer 1990, Almeida-Abreu
1995) e cuja deposição se iniciou em torno de 1,71Ga, durante o Paleoproterozóico (Machado et al. 1989,
Dussin & Dussin 1995, Renger & Knauer 1995). Embora interpretado por diversos autores como uma
única seqüência rifte-sinéclise (Dussin & Dussin 1995, Martins-Neto 1999), correlações com outras
unidades ao longo do Orógeno Araçuaí (Almeida-Abreu 1995, Knauer 2007) e estudo s geocronológicos
mais recentes (Chemale et al. 2010) indicam uma evolução mais complexa para o supergrupo.

Na região da Serra do Cabral (MG), porção leste da Bacia do Francisco, as unidades média e
superior do Supergrupo Espinhaço são expostas ao longo de uma grande culminação antiformal. Estas são
compostas, predominantemente, quartzitos intercalados com filitos, localmente exibindo lentes de
metabrechas e seções carbonáticas. Correspondem aos registros de ambiente eólico da Formação Galho do
Miguel, sotopostos aos sedimentos marinhos plataformais do Grupo Conselheiro Mata e que, juntos,
alcançam espessuras superiores aos 2000m (Scholl & Fogaça 1979, Almeida-Abreu 1995, Souza Fº 1995).
Por outro lado, na região das serras Central (MG) e Palmas de Monte Alto (BA), afloram seções
correlacionáveis às porções inferior e superior do supergrupo (Bertholdo 1995 in Alkmim 2011, Knauer et
al. 2005).

2.1.1.3 O Supergrupo São Francisco

Inicialmente nomeada “Série São Francisco” por Derby (1880 apud Magalhães 1989) e redefinida
com o status de grupo por Plfug & Renger (1973), esta unidade litoestratigráfica foi alvo de importantes
trabalhos regionais ao longo das últimas décadas (e.g.: Freyberg 1932, Costa & Branco 1961, Braun 1968,
Dardenne 1978, Dardenne 1981). O Supergrupo São Francisco é dividido em duas grandes unidades
litoestratigráficas, os grupos Macaúbas e Bambuí, que representam uma sucessão de sedimentos
neoproterozóicos depositados, predominantemente, em ambiente marinho plataformal, com contribuição
glaciogênica.

Nos domínios da Bacia do São Francisco, o Grupo Macaúbas é representado pelas unidades
correlatas da Formação Jequitaí (e.g.: Karfunkel & Hoppe 1988, Hercos 2008), enquanto o Grupo Bambuí
corresponde aos depósitos pelito-carbonáticos do Subgrupo Paraopeba (sensu Braun 1968), sobrepostos
pelos psamitos e pelitos da Formação Três Marias (Dardenne 1978, Dardenne 1981). Conforme Costa &

12
Contribuições às Ciências da Terra

Branco (1961) e Castro & Dardenne (2000), são também incluídos no Grupo Bambuí os conglomerados
Carrancas e a Formação Samburá (Fig. 2.3).

Figura 2.3 Litoestratigrafia simplificada do Supergrupo São Francisco. Modificado de Costa & Branco (1961), Plufg
& Renger (1963), Braun (1968), Dardenne (1978), Karfunkel & Hoppe (1988), Uhlein (1991), Castro & Dardenne
(2000), Martins-Neto & Alkmim (2001), Castro (2004).

A Formação Jequitaí

As principais exposições da Formação Jequitaí ocorrem na região homônima e ao longo das serras
do Cabral, Água Fria e Bicudo (proximidades de Corinto – MG), na porção leste da bacia. A formação é
composta, essencialmente, por diamictitos, pelitos e psamitos, assentados discordantemente sobre as
unidades superiroes do Supergrupo Espinhaço (Dardenne & Walde 1979, Hercos 2008).

Tais depósitos são interpretados como sedimentos de origem glacial (Karfunkel & Hoppe 1988,
Uhlein et al. 2004, Hercos 2008), com idades máximas de deposição em torno de 880Ma, em
concordância com as idades de zircões detríticos obtidas por Rodrigues (2008).

O Grupo Vazante, constituído por uma sucessão predominatemente pelito-carbonática e aflorante


no extremo oeste da bacia, junto à Faixa Brasília, é uma unidade cujo posicionamento estratigráfico tem
sido matéria de muitas discussões. Recentemente, Rodrigues (2008) em estudo geocronológico de várias
unidades da bacia, demonstrou que as unidades Vazante e Jequitái possuem populações de zircões
detríticos similares. Com base em tais similaridades e dados isotópicos obtidos por Coelho (2007),
Alkmim (2011) sugere a correlação entre a Formação Jequitaí e o Grupo Vazante.

13
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

O Grupo Bambuí

O Grupo Bambuí aflora ao longo de toda a Bacia do São Francisco e constitui uma sucessão
pelito-carbonatada plataformal, que passa em direção ao topo para depósitos tempestíticos e sucessões
areno-argilosas e arcoseanas, também marinhas (Dardenne 1978, Chiavegatto 1992). Podem ser
distinguidos, pelo menos, três megaciclos em shallowing-upward no Grupo Bambuí (Dardenne, 1981;
Martins-Neto & Alkmim, 2001), os quais envolvem as alternâncias dos pacotes lutíticos e carbonáticos do
Subgrupo Paraopeba (sensu Braun, 1968) e os psamitos de topo da Formação Três Marias (Fig. 2.3).

Conforme dados de poços compilados por Fugita & Clark Fº (2001), o grupo apresenta espessuras
variáveis de poucas centenas de metros na região de Montalvânia (MG) a cerca de 1800m nas
proximidades de Remanso do Fogo (MG). Por outro lado, dados de campo e seções sísmicas indicam
espessuras superiores a 2000m ao longo da borda ocidental da Bacia do São Francisco (Dardenne 1981,
Zalán & Romeiro-Silva 2007).

Figura 2.4 Coluna estratigráfica do Grupo Bambuí, mostrando as relações entre suas principais unidades, bem como
os sucessivos ciclos em shallowing upward. Modificado de Martins-Neto & Alkmim (2001).

14
Contribuições às Ciências da Terra

Embora exista certo consenso a respeito do ambiente tectônico dos depósitos psamo-pelíticos da
Formação Três Marias (e.g.: Uhlein 1991; Chiavegatto 1992), o mesmo não pode ser dito sobre as
sequências basais do Grupo Bambuí. Consideradas por alguns autores como correspondentes aos de uma
bacia intracratônica não influenciada por sobrecargas tectônicas marginais (e.g.: Uhlein 1991, Zalán &
Romeiro-Silva 2007), a seção basal deste grupo ainda é alvo de grande discussão.

Inicialmente aventada por Chang et al. (1988) e Barbosa et al. (1970), a hipótese de todo Grupo
Bambuí corresponder ao registro de uma bacia de antepaís foi novamente levantada por Martins-Neto &
Alkmim (2001). Segundo estes autores, uma série de evidências corrobora tal interpretação, incluindo a
geometria observada em seções sísmicas regionais, a distribuição de fácies sedimentares e sua relação com
o front deformacional da Faixa Brasília, entre outras. Dados geocronológicos recentemente publicados
indicam uma idade máxima de deposição para o Subgrupo Paraopeba de 610 Ma, obtida através de zircões
detríticos da Formação Sete Lagoas (Figs. 2.3 e 2.4, Rodrigues 2008). Aliada à marcante presença de
zircões ediacaranos ao longo de toda a sequência Bambuí, tal dado indica uma importante área-fonte
situada nos domínios da Faixa Brasília, a oeste. A proveniência de sedimentos do Orógeno Araçuaí não
pode ser também descartada, uma vez que, já a esta época, começavam a se desenvolver os primeiros
registros acrescionários do cinturão (Pedrosa-Soares et al. 2007). Por outro lado, isócronas Pb/Pb de
740Ma ±22Ma obtidas em cap carbonates da porção basal do Grupo Bambuí (Babinski et al. 2007),
indicam uma evolução pretérita e, portanto, mais complexa para o grupo.

O Grupo Bambuí é subdividido em cinco formações: Carrancas, Sete Lagoas, Samburá, Serra de
Santa Helena, Lagoa do Jacaré, Serra da Saudade e Três Marias.

Embora a posição estratigráfica da Formação Carrancas ainda seja tema de discussões (e.g.:
Dardenne 1978), esta unidade foi inserida na base do Grupo Bambuí por Costa & Branco (1961). Suas
principais exposições se restringem à região de Sete Lagoas (MG), onde ocorrem sob os carbonatos da
Formação Sete Lagoas.

A formação é composta por conglomerados fluviais polimíticos de matriz carbonática, com


gradação normal e intercalados a lentes de arenitos com seixos (Vieira et al. 2007). Populações de zircões
detríticos obtidos nas proximidades de Vespasiano (MG) sugerem importante contribuição de fontes
arqueanas para estes sedimentos, provavelmente relacionadas às rochas do Complexo Belo Horizonte
(Rodrigues 2008).

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Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

As principais exposições da Formação Sete Lagoas ocorrem na região homônima (MG), com
unidades correlativas ao longo da porção centro-norte da Bacia do São Francisco e nos arredores da Serra
de São Domingos (GO) (Dardenne 1979). Embora discutível, alguns autores correlacionam a esta
formação parte das rochas carbonáticas expostas nas regiões de Arcos e Pains, na porção sudoeste da bacia
(Madalosso & Veronese 1978, Heineck et al. 2003). Na sua área tipo, é composta por uma sucessão de
margas, pelitos, dolomitos e calcários, que, localmente, contêm estromatólitos colunares e porções
oolíticas (Dardenne 1981). Vieira et al. (2007) descrevem na porção basal da unidade calcilutitos com
leques de psdeudomorfos de aragonita.

A Formação Sete Lagoas é interpretada com uma seqüência de rampa carbonática dominada por
tempestades e arranjada segundo dois ciclos transgressivos (Vieira et al. 2007). Conforme Babinski et al.
(2007) a seção basal, com leques aragoníticos, representa uma sucessão de carbonatos pós-glaciais, cujos
valores isotópicos de δ13C passam de negativos a positivos, nas unidades sobrejacentes.

Conforme análises de zircões detríticos realizadas em rochas das regiões de Sete Lagoas e Serra
de São Domingos, Rodrigues (2008) indica fontes com um amplo espectro de idades, variando de
arquenas a neoproterozóicas. Os zircões mais jovens encontrados na unidade possuem idade em torno de
610Ma. Babinski et al. (2007) indica para os cap carbonates basais idade deposicional de 740±22Ma,
obtida através de isócronas Pb/Pb.

Aflorante apenas no setor sudoeste da Bacia do São Francisco, a Formação Samburá foi
correlacionada à Formação Jequitaí por Dardenne (1978, 1981), esta última entendida pelo autor como
base do Grupo Bambuí. Posteriormente, Magalhães (1988), em uma interpretação similar, posiciona a
unidade na porção basal do Grupo Bambuí, diretamente abaixo dos carbonatos e depósitos pelíticos
aflorantes nas regiões de Arcos e Pains (MG). É composta por orto e paraconglomerados, com seixos de
quartzo, xisto, gnaisses, milonitos, quartzitos e filitos. Em direção ao topo, estes depósitos intercalam-se
com siltitos e argilitos feldspáticos (Magalhães 1989). Em estudos abrangendo as regiões da Serra da
Pimenta e alto Rio São Francisco, Castro & Dardenne (2000) interpretam estas unidades como depósitos
de fan delta, tendo como fonte principal os domínios da Faixa Brasília. Estes mesmos autores atribuem à
Formação Samburá uma espessura aproximada de 200m e a posicionam sobre os carbonatos basais do
Grupo Bambuí. Dardenne et al. (2003) reportam para Formação Samburá zircões detríticos com idades
entre 1,8 e 0,65Ga.

16
Contribuições às Ciências da Terra

A Formação Serra de Santa Helena tem suas principais exposições na porção sudeste da Bacia do
São Francisco, onde jaz concordantemente sobre os carbonatos da Formação Sete Lagoas. Individualizada
como membro por Branco & Costa (1961), a formação engloba folhelhos e siltitos cinza a cinza
esverdeados laminados, frequentemente intercalados por arenitos finos e calcários acinzentados (Dardenne
1978, Dardenne 1981). Correspondem a sedimentos marinhos depositados em plataforma siliciclástica
distal (Vieira et al. 2007). Idades obtidas em zircões detríticos por Rodrigues (2008) mostram
espectro similar ao da Formação Sete Lagoas, com picos em torno de 650 e 750Ma.

As exposições mais expressivas da Formação Lagoa do Jacaré ocorrem nas regiões da Serra do
Cabral/Serra Mineira (MG) e na região de Januária (MG), onde se assenta concordantemente sobre as
unidades da Formação Serra de Santa Helena. Segundo Dardene (1978; 1981), a Formação Lagoa do
Jacaré é composta por uma alternância de calcários oolíticos e pisolíticos, cinza-escuros, fétidos e ricos em
matéria orgânica, siltitos e margas acinzentados.

Em trabalhos realizados ao longo do vale do Rio São Francisco (região de Januária), Iglesias &
Uhlein (2009) descrevem como principais estruturas sedimentares para esta formação,
estratificações/laminações plano-paralelas, marcas onduladas, gretas de ressecamento e, localmente,
estruturas similares a estratificações cruzadas hummocky. Nesta região, os litotipos carbonato-pelíticos da
Formação Lagoa do Jacaré assentam-se em contato gradacional sobre as unidades sotopostas e mostram
espessuras de até 140m. Conforme os autores, tais sedimentos correspondem a depósitos plataformais de
alta energia, sujeita a constante retrabalhamento e episódios de tempestade. Tal interpretação está em
concordância com as conclusões de Souza Fº (1995) e Hercos (2008) ao estudarem as unidades correlatas
aflorantes na região da Serra do Cabral (MG).

Originalmente, a Formação Serra da Saudade foi posicionada por Branco & Costa (1961) sobre os
sedimentos da Formação Três Marias (quando individualizada como membro). Entretanto, estudos
posteriores mostraram que esta unidade assenta-se concordantemente sobre os depósitos da Formação
Lagoa do Jacaré (e.g.: Braun 1968, Dardenne 1978;1981, Chiavegatto 1992).

A Formação Serra da Saudade aflora ao longo de toda a Bacia do São Francisco e, segundo
Dardenne (1981), corresponde a siltitos, argilitos e folhelhos cinzentos e verdes, intercalados por calcários
negros, ricos em matéria orgânica, bem como bancos oolíticos e pisolíticos com estratificações cruzadas
acanaladas.

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Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

Nos arredores de Cedro do Abaeté (MG), esta formação hospeda importantes ocorrências de
fosforitos, as quais se associam a ritmitos pelito-arenosos verdes e ricos em glauconita (verdetes). Tais
depósitos foram detalhadamente estudados por Lima et al. (2007). Conforme estes autores, nesta região, a
Formação Serra da Saudade corresponde a uma seqüência plataformal, que exibe padrão geral em
coarsening upward e culminando em depósitos relativamente rasos e influenciados por ondas de
tempestade. Lima et al. (2007) concluem que os minerais fosfáticos precipitaram-se em ambientes mais
profundos e redutores, sendo posteriormente reconcentrados na forma de fosforitos através do
retrabalhamento por ondas de tempestade.

Análises U/Pb em cerca de 50 zircões detríticos dessa formação revelam fontes com idades
arquenas a neoproterozóicas, cujos principais picos se situam em torno de 650 e 800Ma (Rodrigues 2008).

Originalmente definidos como “Arenitos Pirapora” por Eschwege (1832 apud Chiavegatto 1992),
as rochas da Formação Três Marias foram nomeadas Membro Três Marias por Costa & Branco (1961),
que posicionaram-nas estratigraficamente abaixo das unidades do então Membro Serra da Saudade.
Posteriormente, Braun (1968) e Dardenne (1978; 1981) atribuem o status de formação à sequencia
aflorante ao longo da região de Três Marias e interpretam-na como topo do Grupo Bambuí.

A Formação Três Marias é composta, predominantemente, por arcóseos e siltitos verdes a cinza-
esverdeados, localmente, avermelhados, assentados sobre os sedimentos da Formação Serra da Saudade
através de um contato gradacional (Dardenne 1981). Conforme Gomes (1988) estes depósitos apresentam
em sua composição quartzo, feldspato, mica e clorita detríticas, bem como fragmentos líticos e minerais
opacos. Segundo este autor, a formação experimentou uma história diagenética em quatro estágios, um
dos quais foi responsável pela precipitação da hematita que confere a cor avermelhada para alguns
litotipos.

Segundo Chiavegatto (1992), as rochas expostas na região de Três Marias (MG) correspondem a
sedimentos plataformais rasos, depositados sob intensa influência de ondas de tempestade. Este autor
reconhece ainda, um padrão geral regressivo e demonstra, através de análises sedimentológicas apuradas,
que a principal área-fonte destes sedimentos encontra-se a noroeste da região de Três Marias (Fig. 2.5).
Embora o autor tenha sugerido uma espessura máxima em torno de 220m para a formação nos arredores
de Três Marias, Alvarenga & Dardenne (1978 apud Chiavegatto 1992) atribuem espessuras em torno de
1050m para unidade nos arredores da Serra de São Domingos (MG), borda oeste da Bacia do São
Francisco.

18
Contribuições às Ciências da Terra

Chiavegatto et al. (1997) descrevem, na região nordeste da Bacia do São Francisco (MG), um
contato de natureza erosiva entre as formações Três Marias e Serra da Saudade. Este contato é definido
por conglomerado oligomítico, marcado por abundantes quantidades de clastos de carbonatos e arcóseos.

Populações de zircões detríticos obtidas nas regiões de Três Marias e Santa Fé de Minas e datadas
por Rodrigues (2008), mostram espectro de áreas-fonte similar às demais unidades do Grupo Bambuí.
Entretanto, predominam as fontes neoproterozóicas, cujos picos se situam em 770 e 630 Ma.

Figura 2.5 Sistema de paleocorrentes proposto para a Formação Três Marias por Chiavegatto (1992) na região
homônima.

2.1.1.4 Unidades fanerozóicas: os grupos Santa Fé, Areado, Mata da Corda e Urucuia

O Grupo Santa Fé é constituído por uma sucessão de sedimentos glaciogênicos continentais de


idade permo-carbonífera, depositados em discordância erosiva sobre as unidades do Grupo Bambuí

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Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

(Campos & Dardenne 1997a, Sgarbi et al. 2001). O grupo ocorre em afloramentos restritos ao longo do
eixo central da Bacia do São Francisco.

É composto por tilitos, folhelhos com seixos pingados e arenitos, alcançando espessuras máximas
de 180m na região de Santa Fé de Minas (MG) (Campos & Dardenne 1997a). Comumente, estes depósitos
ocorrem associados a pavimentos estriados sobre os arcóseos da Formação Três Marias (Sgarbi et al.
2001).

O Grupo Areado aflora ao longo de todo o eixo central da Bacia do São Francisco, apresentando
suas exposições mais contínuas ao longo da denominada Sub-bacia Abaeté (Campos & Dardenne 1997a).
Engloba os sedimentos das formações Abaeté Quiricó e Três Barras, com espessura máxima da ordem de
300m (Kattah 1991) e assentados discordantemente sobre as unidades neoproterozóicas do Grupo Bambuí.

O grupo é composto por conglomerados, pelitos e arenitos depositados em sistemas aluviais,


lacustres e eólicos. Conforme Sgarbi et al. (2001), constituem sequencias de ambiente desértico, cuja
idade eocretácica é atestada pelo rico acervo paleontológico.

O Grupo Mata da Corda aflora apenas na porção sudoeste da Bacia do São Francisco e exibe
espessura máxima em torno de 200m (Sgarbi et al. 2001). Engloba as formações Patos e Capacete, e é
composto por rochas vulcânicas a sub-vulcânicas, depósitos vulcanoclásticos e sedimentos epiclásticos
(Campos & Dardenne 1997a). Estas unidades associam-se aos importantes complexos alcalinos-
carbonatíticos-fosforíticos que ocorrem ao longo de todo o setor sudoeste da Bacia do São Francisco
(Marchão et al. 2008).

A idade neocretácica atribuída ao Grupo Mata da Corda é indicada por datações K-Ar em micas
de corpos kamafugíticos da Formação Patos (Sgarbi 2011).

As principais exposições do Grupo Urucuia ocorrem na porção norte da Bacia do São Francisco,
ao longo do vale do rio homônimo (Campos & Dardenne 1997a). É composto predominantemente por
arenitos eólicos e aluviais, com espessura máxima de c.a. 200m na região de São Domingos (GO). A
unidade é interpretada como neocretácica e assenta-se, em grande parte da bacia, discordantemtente sobre
os sedimentos do Grupo Bambuí (e.g.: Campos & Dardenne 1997a, Sgarbi et al. 2001).

20
Contribuições às Ciências da Terra

2.1.2 Arcabouço estrutural

2.1.2.1 Grandes estruturas do embasamento

Com base em dados geofísicos, de campo e poços (Magalhães 1989, Souza Fº 1995, Fugita &
Clark Fº 2001, Zalán & Romeiro-Silva 2007, Coelho 2007, Hercos 2008), podem ser destacadas as
seguintes estruturas do embasamento ao longo da Bacia do São Francisco:

 Alto de Sete Lagoas – Corresponde à continuidade, bacia à dentro, do embasamento


arqueano/paleoproterozóico exposto na região homônima, sul da Bacia do São Francisco. A
estrutura é acompanhada por elevada anomalia gravimétrica e adelgaçamento das unidades basais
do Grupo Bambuí (Magalhães 1989, Alkmim 2011) (Fig. 2.6-b).

 Baixo de Pirapora – Em mapas gravimétricos Bouguer (Fig. 2.6-b) correspondem a uma grande
anomalia negativa orientada segundo NW. Sugerida primeiramente por Souza Fº (1995), esta
estrutura foi intepretada por Alkmim & Martins-Neto (2001) como um braço do sistema de rifes
Espinhaço. Linhas sísmicas regionais mostram que ao longo desta estrutura ocorre um marcante
espessamento das unidades paleo/mesoproterozóicas que preenchem a bacia (Coelho 2007, Zalán
& Romeiro-Silva 2007, Hercos 2008).

 Alto de Januária – Manifesta-se como marcadas anomalias magnetométricas (Borges & Drews
2001) e gravimétricas (Fig. 2.6-b). Conforme Alkmim (2011), assim como o Alto de Sete Lagoas,
pode ser intepretado como a continuação, bacia à dentro, do embasamento exposto junto ao limite
nordeste da bacia. Ao longo desta estrutura, dados de poços mostram um notável adelgaçamento
das unidades neoproterozóicas do Grupo Bambuí, região de Montalvânia (MG) (Fugita & Clark Fº
2001).

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Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

Figura 2.6 (a) Mapa geológico simplificado da Bacia do São Francisco, enfatizando as principais unidades de
preenchimento e os principais traços estruturais. (b) Mapa esquemático com as principais feições do embasamento da
bacia. Modificado de Alkmim (2004).

2.1.2.2 Estruturas envolvendo as unidades de preenchimento

Sob o ponto de vista estrutural, a bacia compreende quatro compartimentos estruturais distintos
(Alkmim et al. 1993), três deles deformados e um indeformado (Fig. 2.6). Os compartimentos deformados
leste, oeste e norte correspondem a cinturões de antepaís e representam a expressão intracratônica das
faixas brasilianas Araçuaí, Brasília e Rio Preto, respectivamente. Exibem, de uma maneira geral,
polaridade tectônica centrípeta, voltada para o interior cratônico.

Os compartimentos leste e oeste correspondem a cinturões de dobras e falhas com orientação geral
N-S e envolvem somente as unidades pré-cambrianas de cobertura (Alkmim 2004). Tais cinturões são

22
Contribuições às Ciências da Terra

separados pelo compartimento central, onde as rochas neoproterozóicas do Grupo Bambuí ocorrem
indeformadas (Figs. 2.6, 2.7).

Segundo Alkmim & Martins-Neto (2001), além das vergências opostas, os cinturões de antepaís
destes compartimentos exibem diferenças significativas no que se refere ao metamorfismo e estilo
deformacional. As principais diferenças se devem a ausência de metamorfismo e clivagens penetrativas no
compartimento oeste. Neste setor, zonas transcorrentes desempenham importante papel na acomodação da
deformação, marcando corredores de deformação sinistrais NW-SE em sua porção meridional e zonas
transcorrentes destrais NE-SW em seu setor extremo setentrional.

Por outro lado, no compartimento leste, as rochas dos supergrupos Espinhaço e São Francisco
comumente exibem clivagen penetrativas e metamorfismo relativamente mais alto, alcançando, junto à
Serra do Espinhaço, metamorfismo na fácies xisto verde. Neste compartimento são raras as falhas
direcionais, sendo observáveis, frequentemente, pares de juntas conjugados de direção NE-SW e NW-SE
(Figs. 2.6, 2.7). Tais diferenças sugerem que os dois compartimentos estão expostos em níveis estruturais
distintos. Aparentemente, o compartimento leste experimentou um soerguimento mais expressivo que o
compartimento oeste.

2.2 A PORÇÃO SUDOESTE DA BACIA DO SÃO FRANCISCO

A porção sudoeste da Bacia do São Francisco, onde se localiza a área estudada, é caracterizada
por exposições de rochas neoproterozóicas do Grupo Bambuí e depósitos cretácicos dos grupos Areado e
Mata da Corda. As rochas neoproterozóicas tomam parte de um cinturão de antepaís epidérmico com
vergência geral para leste, enquanto as unidades cretácicas, assentadas discordantemente sobre os
sedimentos pré-cambrianos, encontram-se horizontalizadas e indeformadas (Fig. 2.7).

2.2.1 Estratigrafia

As principais unidades aflorantes ao longo do setor sudoeste da Bacia do São Francisco


correpondem aos pelitos e carbonatos do Subgrupo Paraopeba (Fig. 2.3), que, em direção à porção central
da bacia, são cobertos pelos tempestitos da Formação Três Marias. Nos extremos oeste e sudeste da bacia,

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Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

parte destas unidades faz contato com os metassedimentos dos grupos Canastra e Vazante (Magalhães
1989, Bacellar 1989, Alkmim & Martins-Neto 2001).

Dentre as principais características da porção sudoeste da Bacia do São Francisco, destaca-se a


histórica dificuldade em estabelecer uma coluna estratigráfica de validade regional e comparável à
proposta por Dardenne (1978) para o Grupo Bambuí (Braun 1968, Magalhães 1989, Signorelli et al.
2003), especialmente para suas unidades basais e intermediárias. Grande parte desta dificuldade se deve a
intensa deformação imposta sobre as unidades neoproterozóicas e a carência de bons marcadores
estratigráficos ao longo da seção. Vale ressaltar que, embora existam excelentes exposições carbonáticas
nas regiões de Arcos e Pains (MG), as características destas rochas e suas relações com as demais
unidades do Grupo Bambuí ainda são pontos de intensos debates.

Considerando tais dificuldades, diversos autores propuseram a divisão em fácies e associações


informais de fácies para as unidades neoproterozóicas (e.g.: Magalhães 1989, Signorelli et al. 2003).
Tendo em vista a subdivisão proposta por Magalhães (1989) e os estudos realizados por Castro &
Dardenne (2000) nos arredores de Arcos (MG), o Subgrupo Paraopeba pode ser subdividido, da base para
o topo, em quatro fácies informais distintas (Alkmim 2011): pelítica, carbonática, conglomerática e
psamo-pelítica. Em direção da região de Três Marias, estas unidades são cobertas pela formação
homônima através de um contato gradacional (Chiavegatto 1992, Signorelli et al. 2003).

A fácies pelítica assenta-se diretamente sobre o embasamento, na região de Arcos (MG) e


corresponde a um pacote de argilitos e siltitos laminados que passam gradualmente aos depósitos da fácies
carbonática e, localmente, da fácies psamo-pelítica. Por vezes, ao longo do contato com o embasamento,
ocorrem matacões, calhaus e seixos líticos isolados, bem como pacotes delgados de diamictitos,
interpretados por alguns autores como prováveis registros glaciais (Kuchenbecker et al. 2011).

A fácies carbonática aflora nos arredores de Arcos e Pains (MG) e corresponde a uma sucessão de
calcilutitos, calcarenitos, calcarenitos dolomíticos e dolarenitos, localmente relacionados a corpos
estromatolíticos hemisferoidais e porções oolíticas e intraclásticas. Estas rochas exibem
estratificações/laminações plano-paralelas, cruzadas tabulares, gretas de ressecamento e, por vezes,
estratificações cruzadas hummocky. Segundo as observações de Magalhães (1989) estes litotipos se
arranjam segundo um padrão do tipo shallowing upward. Embora correlacionados à Formação Sete
Lagoas por Madalosso & Veronese (1978), a sua posição na coluna proposta por Dardenne (1978, 1981)
ainda é discutível (Alkmim 2011).

24
Contribuições às Ciências da Terra

A fácies conglomerática correlaciona-se à Formação Samburá e é composta por conglomerados


clasto ou matriz-suportados com intercalações locais de siltitos e argilitos (Castro & Dardenne 2000).
Aflora principalmente na região da Serra da Pimenta, nos vales dos rios Samburá e São Francisco.

A fácies psamo-pelítica aflora ao longo de todo o setor sudoeste da Bacia do São Francisco e
engloba argilitos laminados, argilitos com intercalações siltosas e camadas de diamictitos, em sua porção
média, terminando em argilitos com lentes de arenito, no topo. Esta fácies engloba ainda pelitos verdes
(verdetes), jaspelitos e arenitos ferruginosos, os dois últimos descritos na região de Lagoa Formosa (MG)
e Córrego D’Anta (MG), respectivamente, por Seer et al. (1987 apud Alkmim 2011) e Magalhães (1989).
Conforme este autor, boa parte desta fácies pode ser correlacionada à Formação Serra da Saudade.

A Formação Três Marias, aflorante ao longo da região homônima, foi descrita por Signorelli et al.
(2003) como duas associações de fácies distintas, que englobam uma sucessão de siltitos, arcóseos,
arenitos arcoseanos e, subordinadamente, siltitos e argilitos amarronzados e ferruginosos.

Assim como em diversos setores da Bacia do São Francisco, estas unidades são parcialmente
cobertas pelas unidades fanerozóicas dos grupos Areado e Mata da Corda.

2.2.2 Arcabouço estrutural

De acordo com os estudos realizados por Magalhães (1989), Bacellar (1989), Alkmim et al.
(1993) e Sawasato (1995), podem ser reconhecidos no setor sudoeste da bacia dois grandes conjuntos de
estruturas, um envolvendo as unidades pré-cambrianas e outro relacionado aos registros fanerozóicos.

2.2.2.1 Estruturas pré-cambrianas

Como mostrado por Coelho (2007) e Coelho et al. (2008), o cinturão de antepaís do
compartimento oeste da bacia (Alkmim et al. 1993) é de natureza epidérmica e articulado em um
descolamento próximo à base do Grupo Bambuí (Fig. 2.7). Possui dobras e falhas que, ao longo do setor
sudeste da Bacia do São Francisco, representa a porção externa da Faixa Brasília (Alkmim & Martins-
Neto 2001). Neste setor, a deformação brasiliana foi acomodada na forma de dobras em todas as escalas,
falhas de empurrão e sistemas de falhas transcorrentes (Alkmim 2004). Limita-se a oeste por uma grande
falha de orientação geral N-S que alça os metassedimentos do Grupo Canastra sobre os depósitos do
Supergrupo São Francisco.

25
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

Segundo Magalhães (1989), podem ser reconhecidas, na região, duas famílias de estruturas, ambas
geradas em duas etapas distintas durante a Orogenia Brasiliana. Constituem elementos formados em
condições crustais relativamente rasas, como indicado pela ausência de metamorfismo e clivagens
penetrativas (Fig. 2.8):

 Na primeira etapa, foram gerados sistemas de falhas inversas/empurrão associadas a


dobras flexurais com orientação geral N-S. Muitas vezes estas estruturas relacionam-se a
inversões estratigráficas e podem estar conectadas a planos de descolamento ou
compondo sistemas de leques imbricados.

 Na segunda etapa, nuclearam-se sistemas transcorrentes sinistrais de orientação NW-SE.


Estes sistemas de falhas persiste desde a Faixa Brasília até o embasamento
arqueano/paleoproterozoico no extremo sul do Cráton do São Francisco (Alkmim &
Martins-Neto 2001). Estas transcorrências se formaram tardiamente durante o Evento
Brasiliano e foram responsáveis pela rotação anti-horária das estruturas da etapa anterior.

Assim como indicado por Bacelar (1989), Magalhães (1989) postula que esta deformação afetou
o Grupo Bambuí posteriormente à fase de deformação dúctil responsável por parte da estruturação das
rochas do Grupo Canastra, a oeste da Bacia do São Francisco. Segundos os autores, evidências de campo
mostram que os sedimentos do Grupo Canastra foram deformados em nível crustal inferior, antes mesmo
da deposição do Grupo Bambuí.

Na região de Três Marias (MG), Bacellar (1989) descreve um evento compressivo similar ao
descrito por Magalhães (1989) no extremo sudoeste da bacia. Conforme este autor, as principais estruturas
aflorantes ao longo desta região correspondem às falhas inversas/empurrão de João Pinheiro e Traçadal
(não–aflorante), localmente responsáveis pela inversão estratigráfica das unidades do Grupo Bambuí.
Signorelli et al. (2003), por outro lado, interpreta a Falha de Traçadal como um sistema transcorrente
sinistral.

É importante ressaltar que, na porção sudoeste da Bacia do São Francisco, o compartimento


estrutural oeste se manifesta como uma grande curvatura de concavidade voltada para oeste, designada por
Alkmim (2011) de Saliência de Três Marias.

26
27
Figura 2.7 Localização e contexto geotectônico da região do baixo Rio indaiá e Três Marias. (A) Mapa geológico simplificado e compartimentação
da bacia intracratônica do São Francisco. Cidades: SL-Sete Lagoas, TM-Três Marias, P-Paracatu, C-Cristalina. (B) Mapa estrutural simplificado da
porção sul da Bacia do São Francisco e descrição da principais feições tectônicas observadas ao longo dos compartimentos deformados leste (E) e
oeste (W). No extremo sul o embasamento arqueano/paleoproterozóico é exposto ao longo do Alto de Sete Lagoas. Localização da figura em (a).
Contribuições às Ciências da Terra

Modificado de (Alkmim et al. 1993, Alkmim & Martins-Neto 2001 e Alkmim 2011 ).
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

Figura 2.8 Mapa estrutural simplificado da porção sudoeste da Bacia do São Francisco. Os traços estruturais (falhas
e dobras) são localmente obliterados por transcorrências sinistrais. A seção geológica mostra a relação entre as
principais unidades aflorantes. Extraído de Alkmim & Martins-Neto (2001) e modificado de Magahães (1989).

2.2.2.2 Estruturas cretácicas

Em estudos de detalhe ao longo da Sub-bacia Abaeté (Campos & Dardenne 1997b), proximidades
de Presidente Olegário (MG), Sawasato (1995) descreve uma série de estruturas posteriores à deformação
pré-cambriana. Estas estruturas se superimpõem à deformação brasiliana e relacionam-se às unidades
cretácicas dos grupos Areado e Mata da Corda. Assim como postulado por Hasui & Haraly (1991 apud
Sgarbi et al. 2001), o autor indica importantes reativações das estruturas neoproterozóicas durante o
Cretáceo Inferior (Fig. 2.9). Podem ser individualizados os seguintes conjuntos de estruturas:

 Falhas normais de direção NNW e fraturas de tração de direção NW-SE. A nucleação


destas estruturas foi acompanhada da reativação negativa da Falha de João Pinheiro

28
Contribuições às Ciências da Terra

(região de Galena) e as mesmas se mantiveram ativas durante a deposição da base do


Grupo Areado.

 Estruturas deformacionais intra-estratais e geradas no estágio pré-litificação dos


sedimentos Areado, que incluem principalmente dobras convolutas.

 Dobras, falhas e fraturas aleatórias, associadas às intrusões cretácicas do Grupo Mata da


Corda e que afetam os sedimentos do Grupo Areado.

 Falhas normais sinistrais de direção NE-SW que, aparentemente, exercem grande controle
sobre os principais sistemas de drenagens locais e regionais de orientação similar. Tais
estruturas afetam os arenitos do Grupo Areado e nuclearam-se após a diagênese destes
depósitos.

Figura 2.9 Mapa geológico simplificado da Sub-bacia Abaeté (sudoeste da Bacia do São Francisco). O perfil a
esquerda mostra, segundo Sawasato (1995), a reativação negativa das falhas de João Pinheiro e Traçadal durante a
deposição do Grupo Areado no Cretáceo Inferior (retirado de Alkmim & Martins-Neto 2001).

29
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

30
CAPÍTULO 3

ESTRATIGRAFIA DA REGIÃO DO BAIXO INDAIÁ

3.1 – INTRODUÇÃO

Embora contemplada com importantes estudos geológicos ao longo dos últimos anos, a região do
baixo Rio Indaiá ainda representa, sob o ponto de vista estratigráfico, um problema. Grande parte dele se
deve, à deformação impressa sobre os sedimentos do Grupo Bambuí e à qualidade das exposições, o que
dificulta significativamente a condução de uma análise estratigráfica e sedimentológica e,
conseqüentemente, uma interpretação paleoambiental.

Foram levantadas colunas estratigráficas esquemáticas ao longo de toda região, contemplando as


principais associações litológicas aflorantes. Como será visto mais adiante (seção 3.5), estas unidades
mostram características geofísicas (magnetométricas e gamaespectrométricas) específicas, o que facilitou
significativamente o detalhamento de sua distribuição geográfica. À luz destes dados, foram brevemente
discutidos os principais ambientes de sedimentação para as unidades pré-cambrianas e cretácicas.

Por não aflorarem ao longo da área de trabalho as unidades inferiores ao Grupo Bambuí serão
brevemente discutidas com base apenas na interpretação de seções sísmicas.

É importante notar que, neste trabalho, a abordagem limita-se fundamentalmente a


litoestratigrafia. Os termos da estratigrafia de seqüência e sismoestratigrafia utilizados, o foram de
maneira informal e em auxílio às interpretações paleoambientais cabíveis. Estudos estratigráficos de maior
detalhe em regiões vizinhas, tanto das unidades pré-cambrianas aflorantes quanto dos depósitos cretácicos,
podem ser encontrados em Kattah (1991), Lima (2005) e Lima et al. (2007).

3.2 - EXPRESSÃO SÍSMICA DAS UNIDADES PRÉ-BAMBUÍ

As seções sísmicas disponíveis para a área do baixo Indaiá mostram, pelo menos, quatro
associações litológicas distintas. A primeira corresponde ao embasamento e representa o grupo de
refletores inferiores sem qualquer padrão de distribuição. Localmente, exibem uma série de
descontinuidades, aqui interpretadas como falhas normais responsáveis pela acomodação da associação
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

sobrejacente (Pb1). Embora frequentemente apresente refletores internos subparalelos e de menor


amplitude, a associação Pb1 é marcada por descontinuidades laterais e crescimento localizado de seção,
jazendo discordantemente sobre o embasamento. Sua geometria em profundidade sugere depósitos do tipo
rifte (Fig. 3.1), cuja espessura aumenta tanto para norte quanto para oeste da área aqui enfocada.
Geralmente, este aumento de espessura é acompanhado pelo aumento de rejeito da falhas normais e
conseqüente aprofundamento do embasamento.

Figura 3.1 Interpretação simplificada da seção sísmica 0240-0293 em tempo duplo (TWT/ms) mostrando a
principais associações reconhecidas. I: Embasamento, II: Unidades pré-Bambuí (Pb1 , Pb2), III: Grupo Bambuí
(unidades Inferior – BI- e Superior – BS). Notar ao aumento de espessura das Unidades pré-Bambuí em direção a
norte e as discordâncias angulares entre estas e o Grupo Bambuí Inferior (BI).

32
Contribuições às Ciências da Terra

Diretamente sobre Pb1, ocorre a associação Pb2, marcada pela quase inexistência de refletores
internos. Quando estes ocorrem, constituem elementos de baixa amplitude, relativamente contínuos e
subparalelos. Esta unidade tende acunhar-se e praticamente desaparecer em direção à região sul da área
(norte de Paineiras), onde os depósitos superiores do Grupo Bambuí ocorrem em onlap sobre a mesma
(Fig. 3.1). Embora ocorra em praticamente todas as seções analisadas, somente sua geometria e padrões
sísmicos não permitem interpretações seguras sobre sua gênese. Por outro lado, dadas as geometrias
observadas e sua continuidade regional, a mesma poderia corresponder aos depósitos pós-rift, que
sucederiam à unidade inferior (Pb1).

3.3 - O GRUPO BAMBUÍ

As unidades do Grupo Bambuí aflorantes no setor oeste da área estudada encontram-se em geral
deformadas e se distribuem ao longo de anticlinais e sinclinais de caráter regional, cujos eixos orientam-se
aproximadamente na direção N-S. No extremo leste da região aqui enfocada, os componentes do grupo
acham-se praticamente indeformados e horizontalizados (Fig. 3.2).

É possível reconhecer, da base para o topo do Grupo Bambuí, três grandes associações litológicas
principais: associação carbonática, associação pelito-psamo-carbonática e associação psamo-pelítica.
Aparentemente, estas associações exibem entre si desde passagens bruscas a gradacionais e são
correlacionáveis, respectivamente, às formações Lagoa do Jacaré, Serra da Saudade e Três Marias, no
sentido de Dardenne (1978; 1981) (Figs. 3.2, 3.3 e 3.4).

As formações basais do Grupo Bambuí afloram apenas nas proximidades de Traçadal e não foram
observadas em campo. Nesta região, as unidades encontram-se alçadas sobre os sedimentos da Formação
Três Marias pela Falha de Traçadal (Anexo 01). Embora individualizadas nas formações Sete Lagoas e
Serra de Santa Helena por Costa et al. (2011) e Martins et al. (2011), as suceções pelito-carbonatadas
descritas pelos mesmos serão aqui consideradas como Subgrupo Paraopeba indiviso (Fig. 3.2). Conforme
interpretações sísmicas, as unidades aflorantes na região parecem corresponder aos sedimentos de toda
porção inferior/intermediária do Grupo Bambuí.

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Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

Figura 3.2 Mapa geológico simplificado da região do baixo Rio Indaiá e Três Marias. Modificado de Costa et al.
(2011), Knauer et al. (2011), Martins et al. (2011) e Reis (2011). 1: Falha de João Pinheiro, 2: Falha do Pontal, 3:
Falha do Rio Borrachudo e 4: Falha do Traçadal. ZTP: Zona de Transferência Paineiras, ZTSV: Zona de
Transferência Serra Vermelha. TM: Três Marias, Mn: Morada Nova de Minas, Sga: São Gonçalo do Abaeté e Pa:
Paineiras. As estrelas correspondem aos pontos de exsudação de gás natural do vale do Rio Indaiá e da região da
Serra Vermelha.

3.3.1 Formação Lagoa do Jacaré

A Formação Lagoa do Jacaré caracteriza-se por uma sucessão de carbonatos acinzentados,


aflorantes principalmente nas proximidades do Rio Borrachudo, na região de Águas Claras (Fig. 3.3,
Anexo 01). Distribui-se ao longo de uma estreita faixa de direção NE-SW (NW-SE), ao longo da qual se
encontra invertida e lançada por falha sobre as rochas da Formação Serra da Saudade. Ocorre ainda, em
afloramentos localizados e em situação estrutural similar a nordeste de São Gonçalo do Abaeté (Martins et
al. 2011) e a oeste, associada à Falha de João Pinheiro (Fig. 3.2).

34
Contribuições às Ciências da Terra

Predominantemente, a Formação Lagoa do Jacaré é constituída por calcilutitos e calcarenitos finos


acinzentados (carbonosos ou não), os quais exibem estratificações e/ou laminações tabulares, plano-
paralelas (Fig. 3.9-a), bem como elevada reatividade ao HCl (10%). Estes litotipos são freqüentemente
cortados por vênulas calcíticas milimétricas e distribuídas aleatoriamente. Em lâmina mostram-se
recristalizados. Aparentemente, estes carbonatos passam lateralmente para argilito siltoso avermelhado
(alterado) com laminações plano-paralelas e, localmente, tabulares cruzadas.

Relações cartográficas e de campo sugerem espessuras em torno de 700m para a unidade,


entretanto, não se descarta aqui o espessamento tectônico parcial do pacote (Fig. 3.3).

Figura 3.3 Coluna estratigráfica com as principais associações litológicas do Grupo Bambuí aflorantes na região de
Águas Claras, Município de Tiros, onde são cobertas, em discordância, pelos depósitos continentais do Grupo
Areado.

35
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

3.3.2 Formação Serra da Saudade

Constitui uma das unidades que afloram praticamente ao longo de toda área em foco, distribuindo-
se de maneira mais expressiva a sul e sudeste da Represa de Três Marias. Nela predominam argilitos e
siltitos laminados (Fig. 3.9-b), localmente intercalados com frações margosas a francamente carbonáticas
que mostram laminações cruzadas tabulares de porte centimétrico. Quando frescos, os pelitos exibem
cores variando entre tons acinzentados e esverdeados. Quando intemperizados são amarelados a
avermelhados. Possuem como constituintes principais quartzo, argilominerais e mica detrítica, comumente
disposta sobre os planos de estratificação.

Quando ocorrem, as seções carbonáticas geralmente correspondem a calcarenitos finos


estratificados, por vezes intercalados com lâminas de calcilutitos, ambos acinzentados. Localmente,
exibem estratificações cruzadas por onda e climbing ripples, além de estratificações cruzadas tabulares de
porte métrico. Podem ocorrer ainda ooesparrudito e calcirrudito associados a marcas onduladas (Fig. 3.9-
c). Tais litotipos ocorrem, principalmente, nas porções intermediária a superior da formação e parecem
não ultrapassar espessuras métricas.

Em direção ao topo da formação, frações psamíticas, ricas em mica detrítica e, às vezes,


arcoseanas passam gradativamente a predominar (Figs. 3.3, 3.4 e 3.7). Freqüentemente, ocorrem
intercaladas como lentes ou como bancos centiméticos a decimétricos nos termos pelíticos. Nestas
porções, ocorrem estratificações cruzadas tabulares (até decimétricas), do tipo hummocky, ripple marks e
laminações onduladas.

Na Serra do Palmital (Anexo 01), a formação contém ainda ritmitos pelito-arenosos verdes
(verdetes), que, localmente, mostram gradação normal (Figs. 3.4 e 3.9-d). Em lâmina, estes ritmitos
exibem a passagem gradual de leitos arenosos milimétricos para termos argilosos de coloração verde mais
intensa.

Segundo Lima et al. (2007) a coloração verde nestes litotipos reflete as elevadas quantidades de
glauconita, presentes especialmente nas frações mais finas. É importante notar que estes ritmitos
apresentam ainda elevadas quantidades de K, aparentemente concentradas em feldpatos e na própria
glauconita (Lima et al. 2007). Tal característica, por sua vez, permite a fácil identificação das seqüências
ritmicas verdes através de mapas gamaespectrométricos (vide Cap. 3.5).

36
Contribuições às Ciências da Terra

Associadas a esta formação, foram descritas, nas regiões do Ribeirão Santa Marta, Traçadal,
Morada Nova de Minas e oeste da localidade de Lagoa (São Gonçalo do Abaeté), lentes centi a
decimétricas, negras e de caráter argilo-carbonoso (pontos 373, 520, 547 e 557 – Anexo 03, Fig. 3.7-b).
Lâminas palinológicas foram preparadas, seguindo a rotina laboratorial padrão, e revelaram a existência
de matéria orgânica (Meyer 2010 com. verb.). Entretanto, análises em luz azul refletida-fluorescência
ainda carecem ser realizadas, a fim de determinar quais componentes sob estão sendo decompostos.

Nos perfis levantados na Serra do Palmital, os ritmitos do topo da unidade exibem ripples
assimétricos, cujas cristas de orientam-se preferencialmente segundo NE e, desta forma, indicam
paleocorrentes dirigidas para SE (Fig. 3.8).

Figura 3.4 Coluna estratigráfica representativa do Grupo Bambuí na região da Serra do Palmital, divisa entre os
municípios de Paineiras, Abaeté e Cedro do Abaeté (MG).

37
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

3.3.2.1 Membro Felixlândia

Na sucessão da Formação Serra da Saudade, destaque especial pode ser dado para uma seção de
pouco mais de 2,5 metros aflorante ao longo do Rio Indaiá, nas proximidades da Represa de Três Marias
(Ponto 582 – Anexo 03). Situado alguns metros abaixo do contato entre as formações Serra da Saudade e
Três Marias (Fig. 3.5-a), este pacote é composto por dololutitos, dolorruditos e biolititos e possui
contínuidade até a região de Felixlândia (cerca de 70 km a oeste). Correspondente ao Membro Felixlândia
da Formação Serra da Saudade, originalmente descrito por Parenti-Couto (1980). No vale do Indaíá pode
ser subdividido, da base para o topo, em quatro litofácies que vão descritas a seguir (Fig. 3.5-b).

Dololutito estratificado (FDE)

Trata-se de dololutito intercalado com lâminas de doloargilito cinza-claro (Fig. 3.5-f) e cortado
por micro-vênulas calcíticas, oblíquas ao acamamento. Exibe estratificação tabular plano-paralela
centimétrica, levemente ondulada. Localmente, as porções mais finas exibem laminação milimétrica
irregular. Em lâmina, corresponde a um micrito, quase totalmente substituído por dolomita microespática.

Dolorrudito basal (FDRB)

Assenta-se discordantemente sobre a litofácies FDE e corresponde a dolorrudito com arcabouço


composto, predominantemente, por seixos e grânulos de dololutito laminado cinza-claro (fácies FDE) e,
aparentemente, mostrando sutil gradação inversa (Fig. 3.5-b e f). Os clastos são bem arredondados,
subesféricos a esféricos, emersos em matriz de dolomita espática. Petrograficamente, pode ser classificado
como um intraesparrudito bioclástico oncolítico1, que contém pellets micríticos, clastos de mudstone e
grainstone-packstone. Grande parte dos aloquímicos exibe vestígios de franja isópaca pouco desenvolvida
e/ou envoltórios (por vezes irregulares) fibrosos ou parcialmente substituídos por dolomita espática. Os

1
Classificação de carbonatos disponível em http://sepmstrata.org/thinsections/classification.html

38
Contribuições às Ciências da Terra

bioclastos lembram desde restos algálicos a microfósseis com carapaça (?) (Fig. 3.5-e). Micro-cristais de
fluorita e clastos de fosfato (?) ocorrem localmente.

Estromatólito (FET)

Esta litofácies é constiuída por estromatólito bulboso dolomitizado, com laminações irregulares de
espaçamento milimétrico a centimétrico. Laminações escuras são essencialmente milimétricas e ocorrem
em menor freqüência. Em alguns pontos, desenvolvem-se intumescências (bulbos pouco desenvolvidos),
entre os quais pode ocorrer material rudítico. Em corte transversal, estas seções podem exibir zona axial
de até 4 cm. Corresponde a biostroma onde o material original foi completamente substituído por dolomita
(micro) espática, com algumas lâminas micríticas mais escuras preservadas. Localmente, os cristais de
dolomita encontram-se substituídos por calcita, indicando a ocorrência de processos de dedolomitização
(Fig. 3.5-d).

Dolorrudito de topo (FDRT)

Macroscopicamente, esta litofácies corresponde a dolorrudito com clastos compostos,


predominantemente, por seixos de dololutito laminado/maciço cinza-claro, com estromatólito e
dolorrudito cinza a cinza-claro, em menor quantidade (Fig. 3.5-c). O arcabouço é clasto-suportado com
seixos arredondados, esféricos a subesféricos, deformados e com bordas parcialmente recristalizadas nos
contatos. A matriz é arenosa e dolomítica. Sulcos lineares de orientação WNE constituem, aparentemente,
feições cársticas, onde clastos do pelito sobrejacente encontram-se dispostos.

Em lâmina, a rocha varia de grainstone a packstone, com porções micríticas da matriz substituída
por dolomita espática, localmente mostrando crescimento sintaxial (em continuidade ótica com o
arcabouço). Os aloquímicos correspondem a boundstone, wackestone, mudstone (com cavidades
preenchidas por microesparita em algumas porções), grainstone e pellets micríticos. Dissolution seems
ocorrem nos contatos entre mudstone/wackestone e demais aloquímicos. Injeções locais de lama
carbonática sugerem elevada plasticidade durante a consolidação, bem como alguma inversão textural,
uma vez que, por vezes, os aloquímicos encontram-se submersos nas frações lamosas (Fig. 3.5-c).

39
40
Figura 3.5 (A) Coluna estratigráfica do Grupo Bambuí ao longo do vale do baixo Rio Indaiá, próximo a base da Formação Três Marias. (B) detalhe
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

sobre o Membro Felixlândia (Parenti-Couto 1980), aflorante nas proximidades da Represa de Três Marias (Ponto 582 – Anexo 03). (C) Dolorrudito da
fácies FDRT, à direita fotomicrografia mostrando clasto de estromatólito da fácies subjacente (Et) e dissolution seems (Dsm) no contato com mudstone
(Lc). Em (D) estromatólito bulboso exibindo material grosseiro (MIC) entre as “intumescências”. À direita, fotomicrografia (luz polarizada) monstrando
a relação entre a laminação (Lamin) e demais feições do biolitito. A cor rosada corresponde à reação de Alizarina com cristais de calcita. (E)
Fotomicrografias (luz transmitida) mostrando pellets micríticos (P), dolomita espática (DoE) e bioclastos? (B) da fácies FDRB. (F) Contato entre as
fácies FDRB e FDE às margens do Rio Indaiá.
Contribuições às Ciências da Terra

Embora o pacote se encontre parcialmente dolomitizado e intensamente neomorfisado, com a


conseqüente substituição dos grãos originais, podem ser tecidas as seguintes considerações genéticas:

 A ausência de estruturas diagnósticas de exposição subaérea nos dololutitos estratificados


basais sugere que a fácies FDE foi depositada em um subambiente do tipo offshore/distal
(Walker & Plint 1992). Neste contexto, a ausência de estratificações cruzadas e depósitos
mais energéticos indicam relativa calmaria durante a sedimentação da unidade.

 Marcando um aumento de energia em direção ao topo, os depósitos das fácies FDRB, FET
e FDRT parecem representar depósitos de ambientes intermaré a submaré. Dessa forma, o
provável retrabalhamento de dololutitos da fácies inferior (FDE) em FDRB indica uma
intensa ação de correntes remobilizando depósitos distais para regiões mais próximas à
costa, ou mesmo, uma considerável diminuição da lâmina d’água. Franjas isópacas
desenvolvidas sobre os aloquímicos desta unidade sugerem uma cimentação marinha.
Paralelamente, a granocrescência ascendente poderia representar retrabalhamento por
ondas de tempo bom em ambiente praiano, com alguma progradação da linha de costa
(Nichols 2008). Os prováveis bioclastos algálicos e de organismos com carapaça (?)
encontrados, bem como a notável quantidade de pellets micríticos nesta porção, podem
revelar, se confirmados como tais, intensa atividade biológica. Por raramente viverem em
ambientes tão energéticos como o foreshore (Nichols 2008), os bioclastos poderiam
provir de zonas mais profundas (shoreface) e terem sido retrabalhados nas áreas praianas.

 A fácies FET indica atividade biológica na zona fótica, sendo que a alta energia do
subambiente seria responsável pela natureza grosseira dos clastos localmente depositados
entres os bulbos. Tais características sugerem um ambiente do tipo shoreface a foreshore,
sob constante influência de correntes, as quais desfavoreceriam o desenvolvimento de
estruturas colunares e ramificações. É importante ressaltar que, esta unidade exibe alguns
indicadores de dedolomitização, o que mostra mais de uma fase de substituição dos
minerais primários.A fácies FDRT parece constituir depósito de ambiente similar a
FDRB. Entretanto, a maior contribuição lamosa na matriz e feições cársticas podem
indicar alguma influência inter a supramaré.

41
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

Figura 3.6 Modelo de distribuição dos subambientes plataformais e respectivas icnofácies. Modificado de Walker &
Plint (1992).

3.3.3 Formação Três Marias

A Formação Três Marias constitui a principal unidade aflorante no setor centro-norte da represa
homônima. Apresenta-se, em geral, muito pouco ou nada deformada, à exceção dos afloramentos situados
mais a oeste, na região de Canastrão (distrito de Tiros) e Lagoa (localidade de São Gonçalo do Abaeté). É
composta essencialmente por uma sucessão areno-pelítica, muitas vezes mostrando expressivas
quantidades de feldspato e mica detrítica em sua composição. Quando alteradas, estas rochas exibem cores
variando entre tons avermelhados, passando a verde, cinza ou roxo, quando frescas. Podem ocorrer na
forma de corpos arenosos de espessura até decamétrica ou ritmitos areno-argilosos (pelíticos), sendo
notável a predominância das frações psamíticas, em relação à formação subjacente.

De uma maneira geral, os psamitos são constituídos essencialmente por quartzo, com quantidades
significativas de muscovita (sericita), feldspato (alcança às vezes até 10% dos clastos) e, freqüentemente,
cimentados por calcita espática. Ocorrem ainda, pequenas quantidades de minerais opacos, clorita
(detrítica), zircão e apatita, comumente representando até 5% da rocha. Estes minerais exibem, na maioria
das vezes, grãos de baixa esfericidade a esféricos e subarredondados a angulosos. Tanto em amostras de
mão, quanto em lâmina delgada é possível observar as micas orientadas segundo os planos de
acamamento.

42
Contribuições às Ciências da Terra

Figura 3.7 (A) Coluna estratigráfica do Grupo Bambuí aflorante a nordeste de Morada Nova de Minas. À direita,
detalhe de uma pequena seção arenosa (arcoseana) com intercalações pelíticas e rudíticas, mostrando estratificações
cruzadas hummocky de pequeno porte discordância interna e lineações de partição (L.P) associadas a arenito
laminado. (B) Coluna estratigráfica do Grupo Bambuí a sul de Morada Nova de Minas, mostrando a passagem
gradacional entre as formações Serra da Saudade (contendo lente de pelito carbonoso) e Três Marias. Nesta, ocorrem
ritmitos areno-pelíticos com estratificações cruzadas e, localmente, granodecrescência ascendente.

Os pacotes psamíticos, comumente, exibem estratificações tabulares plano-paralelas, cruzadas


tabulares, cruzadas hummocky/swaley, bem como estruturas de carga e ripple marks (Fig. 3.9–e, f).
Localmente é possível observar lineções de partição orientadas segundo NW e associadas a arenitos
laminados, além de seções centimétricas exibindo gradação normal e porções rudíticas pouco espessas
(Fig. 3.7). Por outro lado, os pelitos mostram-se, muitas vezes, laminados.

Cristas de wave ripples ocorrem orientadas segundo NW (região do Distrito de Canastrão),


enquanto ripples assimétricas nos arredores de Biquinhas e a sul de Morada Nova de Minas indicam
paleocorrentes para ESE e pra ENE, respectivamente (Fig. 3.8). Embora não constituam números

43
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

estatisticamente significativos, tais medidas mostram algum paralelismo às paleocorrentes e linhas de


costa sugeridas por Chiavegatto (1992).

Figura 3.8 Esquema comparativo entre as medidas de paleocorrentes, cristas de ripples e lineações de partição
registradas para as formações Serra da Saudade e Três Marias, comparadas às informações obtidas por Chiavegatto
(1992). Embora o volume de medidas não tenha, a princípio, grande significado estatístico, é considerável a
similaridade entre os dados obtidos pelo autor e os aqui propostos, isso, para ambas as formações.

44
Contribuições às Ciências da Terra

Figura 3.9 (A) Calcarenito fino (recristalizado) da Formação Lagoa do Jacaré (Ponto 330, Região de Águas Claras).
(B) Pelito laminado e levemente basculado da Formação Serra da Saudade, Córrego Jacu (Ponto 476 – Anexo 03).
(C) Calcarenito intercalado por estratos mili a centimétricos de ooesparrudito da Formação Serra da Saudade,
Fazenda do Gabriel (Ponto 344 – Anexo 03). (D) Associação entre pelito verde (verdete) e arenito da Formação
Serra da Saudade, Serra do Palmital. Note a estratificação cruzada do tipo hummocky, indicando retrabalhamento por
ondas de tempestade. (E e F) Ripples marks em arenitos arcoseanos micáceos da Formação Três Marias. Em (F) a
acentuada simetria indica a atuação de fluxos ondulatórios durante a sedimentação da unidade (Ponto 289 – Anexo
03).

45
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

3.3.4 Expressão sísmica e dados de poço do Grupo Bambuí

3.3.4.1 Expressão em seções sísmicas

O Grupo Bambuí exibe um arranjo de refletores praticamente paralelos e contínuos ao longo de


toda porção centro-sul da Bacia do São Francisco (Fig. 3.10). Neste setor da bacia, dois domínios sísmicos
principais podem ser reconhecidos no intervalo correspondente ao Grupo Bamuí: um inferior (BI) e um
superior (BS). O domínio inferior é delimitado na base e no topo por refletores de amplitude relativamente
alta e exibe pouca ou nenhuma reflexão interna. O domínio superior, por outro lado, é limitado em sua
base por um refletor de alta amplitude e mostra uma série de refletores internos subparalelos e de menor
amplitude. Como as seções encontram-se parcialmente obliteradas (remoção de ruídos de superfície), não
é possível estabelecer o limite superior do domínio. Em virtude da intensa deformação no setor ocidental
da bacia é difícil estender a mesma interpretação para a região situada a oeste da Serra da Saudade.

Na região de Canastrão foi identificada, na base do domínio Bambuí Inferior, uma sismofácies
sem refletores internos e limitada em seu topo por refletor de amplitude intermediária (BIi). A unidade foi
observada apenas na seção sísmica 0240-0295. Aparentemente, tal sismofácies exerce importante papel
na propagação da deformação compressional que afeta os sedimentos neoproterozóicos (Figs. 4.12 e 4.13,
Cap. 4) .

3.3.4.2 O Poço 9-PSB-16-MG e correlações estratigráficas

Embora localizado na região de Corinto, a cerca de 100 km a leste da área de estudo, o


paralelismo e a continuidade lateral das unidades do Grupo Bambuí, observadas em seções sísmicas
regionais, permitem uma comparação satisfatória entre os dados estratigráficos aqui levantados e o poço
9-PSB-16-MG (Fig. 3.11).

Assim como na região do baixo Rio Indaiá, o poço exibe da base para o topo, uma sucessão
pelito-carbontada coberta por psamitos. De uma maneira geral, a curva de raios gama (GR) mostra valores
baixos, com pequenas variações diretamente relacionadas às heterogeneidades litológicas. Carbonatos
comumente exibem valores menos elevados, seguidos dos arenitos, siltitos e argilitos/folhelhos.

46
Contribuições às Ciências da Terra

Figura 3.10 (A) Localização das seções sísmicas e do poço 9-PSB-16-MG. TM: Três Marias, Ti: Tiros, Mn: Morada
Nova de Minas e Co: Corinto. (B) Detalhe da seção sísmica em tempo duplo 0240-0296 (destacada em A e C)
mostrando a geometria e as principais características sísmicas do Grupo Bambuí face às unidades subjacentes. (C)
Composição das seções sísmicas 0240-0298 e 0240-0296 (em tempo duplo - TWT) e interpretação simplificada,
mostrando a continuidade e geometria dos refletores atribuídos ao Grupo Bambuí. Note o contraste entre este grupo e
as unidades subjacentes, onde se observa constantes truncamentos e descontinuidades entre os refletores internos. O
quadro amarelo corresponde à seção mostrada em detalhe em (B).

O perfil SP mostra uma série de pequenas incursões negativas que, quando relacionadas a
incursões negativas no perfil de resistividade (RES) parecem indicar o aumento das frações arenosas. Essa
feição é especialmente observada no topo do poço e acompanha uma sutil diminuição no perfil de raios

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Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

gama (GR). Provavelmente ela corresponde à passagem gradacional dos pelitos da Formação Serra da
Saudade para os arenitos da Formação Três Marias descrita em diversos pontos da bacia (e.g.: Chiavegatto
1992),

É importante notar que, embora descritos ao longo de todo o furo, grande parte dos calcários
(limestones) intercalados nos siltitos inferiores/intermediários parecem constituir siltitos carbonáticos. Tal
fato explicaria a grande similaridade radioativa (GR) entres estes litotipos. Por outro lado, as pequenas
incursões negativas no perfil SP observadas nestas porções poderiam ser explicadas pelo aumento das
frações psamíticas neste siltito carbonático (Fig. 3.11).

Finalmente, é interessante ressaltar uma elevação anômala da resistividade na porção


intermediária/basal do poço. Embora não haja nada similar descrito para o Grupo Bambuí, resistividades
tão elevadas são comumente observadas em camadas de sal (Barbosa 2009).

Dessa forma, assim como os dados levantados em superfície na região do baixo Rio Indaiá, o poço
parece contemplar apenas o Bambuí Superior (BS) observado nas seções sísmicas (e.g.: Figs. 3.1 e 3.10).
Neste sentido, o refletor de maior amplitude, que limita a base desta unidade sísmica, corresponderia aos
carbonatos da Formação Lagoa do Jacaré, enquanto os refletores secundários, na porção interior a
intermediária, seriam relacionados às intercalações carbonáticas em meio aos pelitos da Formação Serra
da Saudade. Em virtude do corte de dados próximos a superfície, não é possível estabelecer correlações
entre a Formação Três Marias e as seções sísmicas.

A Figura 3.12 mostra a correlação proposta entre os perfis estratigráficos levantados na região do
baixo Rio Indaiá e o poço 9-PSB-16-MG (CPRM/PETROBRÁS). Embora a correlação sugira espessuras
praticamente constantes para as formações superiores do Grupo Bambuí na porção centro-sul da Bacia do
São Francisco, as seções sísmicas (Figs. 4.12 e 4.13) sugerem um sutil espessamento da unidade como um
todo em direção ao extremo oeste. Por outro lado, é importante lembrar que a espessura indicada na
coluna de Águas Claras (Fig. 3.3) é aproximada, em virtude da intensa deformação impressa nos
sedimentos pré-cambrianos.

48
Contribuições às Ciências da Terra

Figura 3.11 Perfil composto do Poço 9-PSB-16-MG (CPRM/PETROBRÁS), locado imediatamente a norte da
cidade de Corinto (Fig. 3.8). As setas azuis, vermelhas e verdes indicam incursões observadas nos perfis de raio
gama (GR), potencial espontâneo (SP) e resistividade (RES), respectivamente. As regiões destacadas em amarelo
correspondem às porções aqui entendidas como francamente carbonáticas, enquanto a reta azul tracejada representa o
padrão médio de argilosidade dos siltitos. A estrela verde mostra ponto de elevação anômala da resistividade.

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Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

Figura 3.12 Correlação aproximada entre as colunas levantadas na região do baixo Rio Indaiá (Figs. 3.3, 3.4 e 3.7-b)
e o Poço 9-PSB-16-MG (CPRM/PETROBRÁS).

50
Contribuições às Ciências da Terra

3.3.5 Ambientes de sedimentação

De uma maneira geral, os carbonatos da Formação Lagoa do Jacaré parecem corresponder a


depósitos plataformais rasos, acumulados sob condições de temperatura e luminosidade relativamente
elevadas e marcadas pelo baixo aporte de material siliciclástico. Paralelamente, uma vez associada à
presença de carbono, a cor escura dos litotipos pode indicar ambientes de sedimentação redutores ou
pouco oxigenados. É importante notar, entretanto, que a escassez de dados e a alta deformação impressa
sobre os depósitos na região dificultam o maior detalhamento paleoambiental da unidade.

Os pelitos laminados da Formação Serra da Saudade indicam ambiente marinho relativamente


profundo, com predomínio de águas calmas em uma plataforma siliciclástica lamosa. Este sistema, por
vezes, seria perturbado por fracas correntes, responsáveis pela formação local de laminações cruzadas de
porte centimétrico.

Em direção ao topo, a formação passa a exibir registros de significativas mudanças


paleoambientais sazonais, responsáveis principalmente pela formação das seções carbonáticas. Neste
contexto, o Membro Felixlândia marca a deposição direta de depósitos gradativamente mais rasos sobre os
pelitos mais distais. Considerando as fácies descritas ao longo de seus poucos metros, esta sucessão
passaria de sedimentos depositados no subambiente offshore a regiões mais rasas do tipo
shoreface/foreshore, estes últimos exibindo algum sinal de exposição subaérea. A grande continuidade e
as pequenas variações de fácies e de espessura desta unidade ao longo do setor centro-sul da bacia,
associada às características observadas, sugere uma deposição em uma rampa carbonática rasa. Neste
contexto, a passagem da plataforma siliciclástica lamosa se daria de maneira praticamente gradual,
conforme o contato basal gradual observado na região de Felixlândia. Posteriormente, teria lugar um
afogamento quase instantâneo da plataforma carbonática e conseqüente retomada da deposição lamosa.
Este súbito afogamento é evidenciado pelo contato dos pelitos superiores (mais profundos) diretamente
sobre os depósitos submaré/intermaré da fácies FDRT (Fig. 3.5).

É importante lembrar que, se confirmados como restos de organismos, os fragmentos e respectivas


estruturas observadas na fácies FDRB representariam o primeiro registro macrofaunístico documentado
para o Grupo Bambuí. Isso, por sua vez, ressalta ainda mais a intensidade das mudanças ambientais
experimentadas pela Bacia do São Francisco durante a deposição da Formação Serra da Saudade.

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Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

Ainda no topo desta unidade, a glauconita presente nos ritmitos pelito-arenosos verdes (verdetes)
é um importante indicador de ambiente marinho plataformal relativamente raso (entre 50 e 500m),
marcando o limite entre as zonas oxigenada e redutora (Nichols 2009). Como se trata de um mineral
autigênico formado sob condições onde a taxa de sedimentação é muito baixa, pode constituir ainda
importante indicador de superfície de inundação máxima. Neste momento, com o avanço da linha de costa
para o continente, pouca argila em suspensão chega ao offshore, diminuindo, portanto, o aporte de
sedimentos na zona de cristaização da glauconita (Potter et al. 2005). Ao mesmo tempo, os fosforitos
encontrados associados a estas unidades na região de Cedro do Abaeté (Lima et al. 2007) podem
corresponder a depósitos originalmente formados em condições similares, favorecidos por surgências de
águas mais profundas e ricas em nutrientes.

A existência de lentes pelíticas contendo matéria orgânica nesta formação corrobora tal hipótese,
uma vez que grande parte de depósitos similares antigos foram formados em situações análogas de
elevação do nível do mar. A elevação do nível do mar permite a formação de ambientes anóxicos
profundos (baixa circulação de águas oxigenadas) e diminui a diluição da matéria orgânica (baixa taxa de
sedimentação), possibilitando sua deposição e preservação no registro estratigráfico (e.g.: Nichols 2009,
Potter et al. 2005).

O gradual aumento das frações psamíticas em direção ao topo da unidade sugere condições de
marinhas cada vez mais rasas (shallowing upward). Neste contexto, grande parte dos materiais
glauconíticos e fosfáticos (Lima et al. 2007) teriam sido retrabalhados por tempestades em ambiente
plataformal cada vez mais raso. Este retrabalhamento é evidenciado pela associação destes sedimentos e
termos arenosos, por vezes exibindo estratificações cruzadas hummocky/swaley e seções centimétricas
com granodecrescência ascendente associadas. Tais condições culminariam com a deposição dos arenitos,
arcóseos e pelitos da Formação Três Marias, marcados pela intensa ação de ondas de tempestade
(Chiavegatto 1992). Nas colunas estratigráficas levantadas, o retrabalhamento por ondas de tempestade é
indicado principalmente pela grande frequência de estratificações cruzadas hummocky/swaley. Tais
estruturas comumente ocorrem associadas a ripple marks (simétricas e asimétricas), lineções de partição
(em arenitos laminados) e pequenas seções rudíticas, indicando a atuação de correntes unidirecionais de
alta energia e níveis locais de erosão (e redeposição) gerados durante as tempestades. Estruturas de carga
ocasionais e seções centimétricas com granodecrescência ascendente sugerem substratos inconsolidados e
correntes de turbidez, respectivamente.

52
Contribuições às Ciências da Terra

A freqüente ocorrência de arcóseos e arenitos arcoseanos, associada à imaturidade textural


comumente observada nas rochas da Formação Três Marias, indicam uma área-fonte cada vez mais
próxima e, provavelmente, localizada a noroeste (Chiavegatto 1992). Paralelamente, considerando a
composição mineralógica exibida por estes litotipos (melhor estudadas por Gomes 1988), os mesmos
poderiam corresponder a depósitos orógeno-reciclados (sensu Dickinson & Suczek 1979 apud Jorda
1995).

3.4- OS GRUPOS AREADO E MATA DA CORDA

Estratigraficamente acima dos sedimentos pré-cambrianos e sobre uma pronunciada discordância


angular e erosiva, assentam-se os depósitos cretácicos do Grupo Areado (Figs. 3.3 e 3.14), que, por sua
vez, são cobertos pelas rochas vulcânicas e sedimentares do Grupo Mata da Corda, atribuídas ao Cretáceo
Superior. Na grande maioria das vezes, ambos os depósitos encontram-se sub-horizontalizados, mostrando
contatos erosivos e angulares entre si.

3.4.1 Grupo Areado

O Grupo Areado compreende, principalmente, a arenitos finos a médios vermelhos e bem


selecionados. Afloram principalmente no setor oeste da área de estudo, muitas vezes ao longo dos
interflúvios das principais drenagens da região do baixo Rio Indaiá. Comumente, estas rochas exibem
estratificações cruzadas tabulares, acanaladas e tangenciais de porte até decamétrico (Fig. 3.13-a). Podem
ocorrer também na forma de corpos levemente mais argilosos, com estratificações plano-paralelas. Na
região do baixo Indaiá, o Grupo Areado apresenta espessura em torno dos 100m.

Os arenitos tem como constituinte principal o quartzo, e secundariamente, feldspato e minerais


opacos. Freqüentemente, estes litotipos exibem bimodalidade granulométrica, com camadas centimétricas
de areia fina que se alternam com camadas de areia média. Na região de Tiros, são observados arenitos
coesos, geralmente com cimento silicoso e estruturas de fluidização (dobras convolutas).

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Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

Figura 3.13 (A) Estratificação cruzada de porte decamétrico em arenito bem selecionado e com estratificação
bimodal do Grupo Areado. (B) Arenito conglomerático do Grupo Areado com estratificações tabulares plano-
paralelas e cruzadas tangenciais em discordância angular erosiva com os sedimentos do Grupo Bambuí. (C) Argilito
vermelho do Grupo Areado com camada centimétrica de arenito esbranquiçado exibindo perturbações por carga.
Repare nos pequenos plútons de areia em meio às frações pelíticas. (D) Icnofóssil (Taenidium isp. ?) em arenito
fluidizado do Grupo Areado (Ponto 174 – Anexo 03). (E) Ciclos centimétricos de granodecrescência ascendente
(gda) em rocha epiclástica do Grupo Mata da Corda (Ponto 352 – Anexo 03). (F) Contato discordante angular e
erosivo entre arenito estratificado e vulcanoclástica alterada dos grupos Areado e Mata da Corda, respectivamente.

54
Contribuições às Ciências da Terra

Localmente, na base da unidade, observam-se pacotes contendo arenitos conglomeráticos,


paraconglomerados brechas matriz-suportadas e argilito, geralmente recobertos pelas unidades psamíticas
bem selecionadas. Estas associações podem exibir estratificações cruzadas tabulares e acanaladas de porte
até métrico, estruturas de carga, bem como ventifactos (Fig. 3.14).

Figura 3.14 Coluna estratigráfica do Grupo Areado na região de Jaguara (Ponto 159 – Anexo 03) mostrando
associação local dos arenitos bem selecionados e unidades psamo-rudíto-pelíticas. As fácies presentes sugerem a
atuação de sistemas aluviais sucedidos por depósitos tipicamente eólicos (desérticos). Estes últimos são
representados pelos arenitos bem selecionados, bimodais e com estratificações cruzadas decamétricas de grande
porte (g.p.).

Ocorrem ainda associações psamo-rudito-pelíticas, as quais podem exibir pequenos ciclos de


granodecrescência ascendente, bem como marcas onduladas, estruturas de carga e estratos
silicificados/calcitizados. Tais depósitos, por vezes, sugerem pequenos ciclos de Bouma incompletos
(Nichols 2009). Estas mesmas unidades podem ocorrer associadas a grandes corpos pelíticos (maciços ou
laminados/estratificados) com pequenos “plútons” arenosos, provavelmente formados por sobrecarga (Fig.
3.13-c).

Icnofosseis ocorrem relacionados a estruturas de fluidização (slumps) em meio às sequencias


arenosas bem-selecionadas, a sul de Jaguara (Fig. 3.13-d). Consituem vestígios de escavações meniscadas,
com dimensões centimétricas e de orientação variável. Tais registros podem corresponder ao icnogênero

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Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

Taenidium isp. (Carvalho 2009 com verb.), provavelmente relacionados ao escape de pequenos artrópodes
durante o colapso das camadas.

3.4.2 Grupo Mata da Corda

Os depósitos desta unidade ocorrem restritos aos topos e encostas de chapada, geralmente muito
alterados e podem ser facilmente confundidos com as coberturas detrito-lateríticas associadas. Assentam-
se sobre os sedimentos do Grupo Areado através de uma discordância angular e erosiva e exibem, na
região, espessuras entre 20 e 80m (Fig. 3.13-f). Correspondem a tufos cineríticos, lapilli-tufos e
aglomerados, localmente associados a brechas vulcânicas. Normalmente, ocorrem como grânulos a
calhaus de rocha caulinizada, emersos e um material argiloso. Quando menos alterados, exibem
estratificações tabulares plano-paralelas. São identificadas ainda, bombas vulcânicas de porte métrico,
relacionadas tanto a estas rochas quanto aos arenitos do grupo subjacente.

Fazem também parte do Grupo Mata da Corda rochas epiclásticas, as quais geralmente
correspondem a arenitos líticos e conglomerados de cores amareladas a esverdeadas. Nestes litotipos,
predominam, no arcabouço, clastos de rochas vulcânicas afaníticas a (sub) porfiríticas e,
subordinadamente, de pelito, quartzo de veio, quartzito, arenito vermelho bem selecionado, gnaisse e
filito. Exibem, na maioria das vezes, estratificações cruzadas tabulares e acanaladas, comumente
alcançando o porte métrico. Em alguns pontos, é possível reconhecer pequenos ciclos de granoderescência
ascendente (Fig. 3.13-e). De uma maneira geral, estes litotipos podem ocorrer intercalados ou
interdigitados com as unidades vulcanoclásticas.

Um pequeno afloramento de rocha vulcânica muito alterada na região de Porto Corredeiras,


associado à anomalia magnetométrica (ASA), parece parte de um pequeno corpo ígneo intrudido nas
sequencias do Grupo Bambuí (Ponto 285 – Anexo 03).

3.4.3 Ambientes de sedimentação

Considerando o predomínio de arenitos bem selecionados, com estratificação bimodal e


estratificações cruzadas de grande porte, o Grupo Areado representa, na região estudada, um sistema de
deposição eólica, com contribuições locais de sistemas aluviais. Conforme diversos autores (e.g.: Sgarbi et

56
Contribuições às Ciências da Terra

al. 2001), os arenitos com estratificações cruzadas de grande porte e com estratificações plano-paralelas
corresponderiam, respectivamente, a depósitos de dunas e interdunas, acumulados em um ambiente
desértico. Neste sentido, é importante lembrar que, o icnogênero Taenidium isp. ocorre comumente
associado a depósitos eólicos similares de idade Mesozóica (Fernandes et al. 2008), muito embora este
tipo de icnofóssil pareça, até então, não ter sido identificado em sedimentos do Grupo Areado.

Localmente, a instalação de sistemas aluviais seria responsável pela deposição de seqüências


arenosas com estratificações cruzadas acanaladas, associadas a conglomerados e corpos argilosos. Muitas
vezes associados à ventifactos, estes depósitos poderia representar fluxos aquosos sazonais de clima árido.

Paralelamente, a existência de arenitos com gradação normal, diamictitos e corpos argilosos


associados poderia indicar ambientes lacustre relativamente profundos. Nestes ambientes, correntes de
turbidez e debris flows localizados seriam responsáveis pela deposição das sequencias com
granodecrescência ascendente (ciclos de Bouma incompletos?) e rudíticas, respectivamente (Fragoso,
2010 com verb.).

Os depósitos vulcanoclásticos do Grupo Mata da Corda representam a expressão de um


importante evento magmático no Cretáceo Superior que atingiu todo o Brasil Central (Sgarbi & Gaspar,
2001 apud Sgarbi et al., 2001). Sua intercalação/interdigitação com sedimentos epiclásticos indica pulsos
magmáticos episódicos entremeados por ciclos de retrabalhamento superficial, aparentemente, subaquoso.
Levantamentos mais sistemáticos seriam necessários para revelar as condições em que foram formadas
estruturas de gradação normal, localmente observadas em arenitos líticos/conglomerados epiclásticos.

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Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

3.5- ARTIGO: EXPRESSÃO MAGNETOMÉTRICA E GAMAESPECTROMÉTRICA DA


PORÇÃO SUDOESTE DA BACIA DO SÃO FRANCISCO, FOLHA SERRA SELADA
(1:100.000), MG 2

Abstract: Located in the southwestern portion of São Francisco Basin, the region covered by the Serra
Selada quadrangle (1:100.000) contains deformed rocks of the Neoproterozoic Bambuí Group, unconformably
overlain by Cretaceous sedimentary and volcaniclastic rocks of the Areado and Mata da Corda groups, respectively.
The aerogeophysical data shows two main magnetometric domains. A low frequency anomalies domain is apparently
related to deep structures of Precambrian basement. High frequency anomalies represent the volcaniclastic/epiclastic
deposits of Mata da Corda Group. The Bambuí Group exhibits intermediate-to-high K and Th contents (1 to 3 % and
10 to 16 ppm, respectively), while U-levels are around 2.5 ppm. Significant changes in these values are caused by the
distribution of rock types, tectonic features and hydrocarbon exudations. Areado Group sediments show low K (< 1
%), low Th (< 10 ppm) and low U (< 2 ppm). Mata da Corda Group volcanics and associated covers exhibit very low
K (sub-traces), and high Th and U concentrations (> 20 and 3 ppm, respectively). These values seem to be strikingly
influenced by weathering processes. The performed analyses confirm the applicability of aerogeophysical data in
geological mapping, and represents an important tool for the study of both the tectonic scenario and hydrocarbon
accumulations in southwestern São Francisco Basin.

Resumo: Localizada na porção sudoeste da Bacia do São Francisco, a área abrangida pela Folha Serra
Selada (1:100.000) contém rochas sedimentares deformadas do Grupo Bambuí (Neoproterozóico), localmente
recobertas, em pronunciada discordância, pelos sedimentos e depósitos vulcanoclásticos/epiclásticos cretáceos dos
grupos Areado e Mata da Corda, respectivamente. Os dados aerogeofísicos mostram dois domínios magnetométricos
principais. Um deles é caracterizado por anomalias de baixa freqüência (ABF), aparentemente relacionadas a

2
Artigo submetido à Revista Brasileira de Geofísica (RBGf) em fevereiro de 2011

Reis, H. L. Sa,b, Alkmim, F. F. a, Barbosa, M. S. C. a, Pedrosa-Soares, A. C b


a
Programa de Pós-Graduação em Evolução Crustal e Recursos Naturais (PPECRN) - Escola de Minas (UFOP)
b
Centro de Pesquisas Professor Manoel Teixeira da Costa (CPMTC) – Instituto de Geociências (UFMG)

58
Contribuições às Ciências da Terra

estruturas do embasamento pré-cambriano local. O outro é marcado por anomalias de alta freqüência (AAF),
representando os depósitos vulconoclásticos/epiclásticos do Grupo Mata da Corda. O Grupo Bambuí exibe teores de
K e Th intermediários a altos (1 a 3 % e 10 a 16 ppm, respectivamente), enquanto os teores de U giram em torno de
2,5 ppm. Esse dados mostram algumas variações, geralmente influenciadas pela distribuição dos diferentes litotipos,
feições estruturais e ocorrência de emanações de hidrocarbonetos. Os sedimentos do Grupo Areado, por sua vez,
mostram baixos conteúdos de K, Th e U (< 1 %, < 10 ppm e < 2 ppm, respectivamente). As rochas do Grupo Mata
da Corda e coberturas associadas têm teores muito baixos de K (sub-traços) e altas concentrações de Th e U (> 20
ppm e > 3 ppm, respectivamente). Estes valores parecem sofrer grande influencia dos processos de intemperismo. As
análises realizadas confirmam a grande aplicabilidade dos levantamentos aerogeofísicos no mapeamento geológico e
constituem excelentes ferramentas no entendimento do cenário tectônico e dos depósitos de hidrocarbonetos da
região sudoeste da Bacia do São Francisco.

Keywords: magnetometria, gamaespectrometria, Folha Serra Selada, Bacia do São Francisco

INTRODUÇÃO

A Bacia do São Francisco ocupa praticamente toda a porção de orientação meridiana do cráton
homônimo, cobrindo uma área de cerca de 500.000 km2 ao longo dos estados de Minas Gerais, Goiás e
Bahia (Alkmim & Martins-Neto 2001) (Fig.1). Seus limites oeste, noroeste e leste coincidem com os
limites do cráton, ao passo que seu limite sul é de natureza erosiva. O limite nordeste, ao longo da Serra
do Espinhaço Setentrional, é feito com o Corredor do Paramirim, que corresponde a uma zona deformação
intracratônica (Alkmim et al. 1993). Localizada na porção sudoeste da bacia, em Minas Gerais, a Folha
Serra Selada (1:100.000) baliza-se pelas coordenadas geográficas 45º30’ - 46º00’W e 18º30’ - 19º00’S, e
cobre uma área de aproximadamente 3.000 km2. A folha abrange parte das microrregiões de Patos de
Minas, Três Marias e Paracatu, sendo que o acesso a partir de Belo Horizonte pode ser feito tanto pela
rodovia BR262 quanto pela BR040, em distâncias de 300 e 250 km, respectivamente (Fig. 1).

Os primeiros estudos de maior detalhe na região abrangida pela Folha Serra Selada foram
realizados pela PETROBRAS e pela METAMIG (hoje englobada na CODEMIG), entre as décadas de 60
e 80, focados principalmente na prospecção de hidrocarbonetos gasosos (Fugita & Clark Fº 2001; Araújo,
1988 apud Pinto et al. 2001). As descobertas feitas desencadearam, posteriormente, trabalhos de
reconhecimento regional, incluindo levantamentos geofísicos e geoquímicos. Paralelamente, ainda na
década de 70, foram desenvolvidas campanhas de mapeamento geológico na escala 1:250.000, as quais

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Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

cobriram toda a região de Três Marias (Menezes-Filho et al. 1977). Em 2003, grande parte da Bacia do
São Francisco voltou a ser alvo de levantamentos geológicos de superfície nas escalas 1:250.000 e
1:100.000 ( e.g.: Signorelli et al. 2003). A região em foco foi uma das áreas do mapeamento geológico
realizado pelo Projeto Alto Paranaíba (contrato CODEMIG-UFMG, em processo de publicação), e
corresponde a um dos blocos concedidos à ORTENG Ltda e empresas associadas para prospecção de
hidrocarbonetos gasosos.

A identificação de padrões geofísicos e sua correlação com os dados geológicos de campo


constituem ferramentas rotineiramente empregadas no entendimento do contexto tectono-estratigráfico
local. Dessa forma, a interpretação de informações radiométricas e potenciais vem se mostrando
extremamente útil, tanto no auxílio ao mapeamento geológico, quanto na identificação de alvos para
exploração mineral e de hidrocarbonetos (e.g.: Menezes et al. 2006; Carneiro & Barbosa 2008; Matolin et
al. 2008).

Neste trabalho, são analisados dados aeromagnetométricos e aerogamaespectrométricos da região


coberta pela Folha Serra Selada, os quais, uma vez integrados, permitem a delimitação de diferentes
pacotes litológicos, bem como o reconhecimento de estruturas e corpos magnéticos, aflorantes e
encobertos. Por mostrarem uma boa correlação com os dados geológicos obtidos em superfície, estes
levantamentos configuram importante base para a individualização de unidades e descoberta de novas
feições geológicas.

CONTEXTO GEOLÓGICO

A Bacia do São Francisco (Fig. 1) cobre o setor meridional do cráton homônimo (Almeida 1977).
Em seu registro estratigráfico encerra sucessivos ciclos bacinais posteriores a 1,8 Ga (Alkmim & Martins-
Neto 2001), que vão desde depósitos pré-cambrianos, parcialmente deformados e metamorfisados, a
seqüências indeformadas permo-carboníferas, cretácicas e coberturas associadas (e.g.: Dardenne 1981;
Campos & Dardenne 1997a, 1997b).

60
Contribuições às Ciências da Terra

Figura 1. Mapa de localização da Folha Serra Selada (1:100.000) no contexto da Bacia do São Francisco, mostrando
as principais vias de acesso a partir de Belo Horizonte e os mais importantes centros urbanos locais (BH: Belo
Horizonte, TM: Três Marias e TI: Tiros).

É importante notar que, os depósitos pré-cambrianos distribuem-se ao longo de quatro


compartimentos estruturais distintos na Bacia do São Francisco (Alkmim et al. 1993). Três destes são
deformados e exibem estruturas com vergência centrípeta, ocupando as bordas leste, oeste e noroeste da
bacia. Representam a expressão intracratônica das faixas Araçuaí, Brasília e Riacho do Pontal,
respectivamente. Ao longo do setor central, por outro lado, tais sedimentos exibem-se pouco a
indeformados.

GEOLOGIA DA FOLHA SERRA SELADA

Nesta área ocorrem depósitos neoproterozóicos do Grupo Bambuí, sedimentos do Grupo Areado e
rochas vulcânicas do Grupo Mata da Corda, ambos do Cretáceo, e coberturas cenozóicas (Reis 2010).

61
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

Grupo Bambuí

Alcança uma espessura total aflorante superior a 1200 m, sendo representado, em superfície, pelas
formações Lagoa do Jacaré, Serra da Saudade e Três Marias (Fig. 2).

A Formação Lagoa do Jacaré caracteriza-se por uma sucessão de carbonatos acinzentados com
alguma contribuição de frações margosas e terrígenas. Predominam calcilutito e calcarenito fino,
laminados/estratificados com contribuições rudíticas e de siltitos laminados. Aflora na metade oeste da
área estudada, na forma de camadas de direção geral N-S, alçadas por falhas de empurrão sobre os
sedimentos da Formação Serra da Saudade.

A Formação Serra da Saudade, que ocorre na maior parte da Folha Serra Selada, é composta
predominantemente por siltito e argilito, cinzas a esverdeados (verdetes), com laminação/estratificação
plano-paralela, localmente intercalados com frações margosas e calcareníticas, às vezes oolíticas.
Localmente, estas rochas carbonáticas exibem estratificações cruzadas acanaladas. Em direção ao topo, a
contribuição psamítica aumenta significativamente, marcando estratos areníticos e arcoseanos métricos
intercalados ou em forma de lentes centimétricas com estruturas hummocky.

A Formação Lagoa Formosa, por sua vez, é composta por siltitos e argilitos laminados associados,
à oeste, com diamictitos mono a polimítcos. Aparentemente, estes depósitos correlacionam-se às unidades
da Formação Serra da Saudade.

A Formação Três Marias assenta-se sobre os sedimentos da Formação Serra da Saudade através
de contato gradacional. É composta por arenito fino e micáceo, arenito arcoseano, arcóseo e argilito. Exibe
estratificações tabulares plano-paralelas, cruzadas tabulares, estrutura hummocky, marcas onduladas,
estruturas de carga e laminações cruzadas por onda.

Dados de sub-superfície e levantamentos de campo relativos ao Grupo Bambuí permitiram a


caracterização de dois domínios estruturais na área da Folha Serra Selada: a oeste, um setor onde as rochas
do grupo acham-se deformadas; a leste, um compartimento onde os depósitos do grupo não foram
atingidos por deformação compressional. No primeiro, os litotipos Bambuí encontram-se envolvidos em
um cinturão de dobras e empurrões (fold-thrust belt) de direção geral N-S. Sinclinórios e anticlinórios com
charneiras pendentes para N e NNE são balizados por grandes falhas inversas, como as de Galena e do Rio
Borrachudo, além de outras de menor rejeito (Fig. 2). Tais falhas se articulam a um grande descolamento
alojado na base do Grupo Bambuí (Coelho et al. 2005, Coelho 2007). No domínio indeformado, setor
62
Contribuições às Ciências da Terra

nordeste (e extremo E) da área de trabalho, os depósitos de topo do Grupo Bambuí ocorrem


horizontalizados, com raras dobras suaves a abertas, bem como kink bands isoladas.

Figura 2 Mapa geológico simplificado da Folha Serra Selada (1:100.000), modificado de Reis (2010).

Grupos Areado e Mata da Corda

Recobrindo os sedimentos pré-cambrianos, acima de pronunciada discordância angular e erosiva,


ocorrem os depósitos cretácicos do Grupo Areado (Campos & Dardenne 1997a, Sgarbi et al. 2001, Sgarbi
2010a). Nos domínios da Folha Serra Selada, o Grupo Areado constitui-se, principalmente, de arenitos
eólicos, associados a depósitos fluvio-deltaicos (?) (conglomerado clasto-suportado e arenito mal
selecionado) e lacustres (pelito e arenito lítico de matriz carbonática).

Sobre o Grupo Areado jazem as rochas vulcanoclásticas e sedimentares do Grupo Mata da Corda.
São representadas por tufos cineríticos, lapilli-tufos, aglomerados, brechas vulcânicas (localmente), além
de conglomerados e arenitos epiclásticos. Seu contato basal com o Grupo Areado é de natureza angular e
erosiva, diretamente relacionada ao início de um importante evento magmático alcalino que atingiu grande
parte do Brasil Central no Cretáceo Superior e constitui a Província Alcalina Minas-Goiás (Sgarbi &
Gaspar 2001 apud Sgarbi et al. 2001).
63
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

Ambas as unidades cretácicas encontram-se regionalmente indeformadas. Localmente, porém,


podem exibir estruturas deformacionais adiastróficas e constituem o preenchimento barremiano-
maastrichtiano da denominada Bacia Sanfranciscana de Campos & Dardenne (1997a, 1997b).

METODOLOGIA

Os dados geofísicos utilizados neste trabalho foram cedidos pela Companhia de Desenvolvimento
de Minas Gerais (CODEMIG) e fazem parte do Programa de Levantamentos Aerogeofísicos de Minas
Gerais – 2005/2006. A Folha Serra Selada insere-se na Área 9 deste levantamento (João Pinheiro-
Presidente Olegário-Tiros), a qual abrange os municípios de Biquinhas, Carmo do Paranaíba, Cedro do
Abaeté, João Pinheiro, Lagoa Formosa, Morada Nova de Minas, Paineiras, Patos de Minas, Presidente
Olegário, São Gonçalo do Abaeté, Tiros e Varjão de Minas (Fig. 3).

Figura 3 Localização da Área 9, Programa de Levantamentos Aerogeofísicos do Estado de Minas Gerais


(2005/2006). Fonte: Lasa (2007).

Os principais parâmetros de aquisição dos dados foram os seguintes (Lasa 2007):

 Direção das linhas de vôo: N-S;

64
Contribuições às Ciências da Terra

 Espaçamento entre as linhas de vôo: 0,4km;

 Direção das linhas de controle: E-W;

 Espaçamento entre as linhas de controle: 8,0km;

 Intervalo entre medições consecutivas: 0,10s (magnetômetro) e 1,0s (espectrômetro);

 Altura média de vôo: 100m;

 Velocidade aproximada de vôo: 270km/h.

A partir dos dados obtidos no levantamento foram gerados, com auxílio do software Oasis montaj
® (sistema GEOSOFT), os mapas do Campo Magnético Anômalo, Gradiente Vertical (de primeira ordem)
do Campo Anômalo, Campo Residual e Amplitude do Sinal Analítico, bem como os mapas
gamaespectrométricos nos canais K, Th e K e Imagem Ternária (Fig. 4).

Figura 4 Fluxograma das etapas de processamento dos dados aeromagnetométricos e aerogamaespectrométricos na


confecção dos mapas geofísicos da Folha Serra Selada (1:100.000).

65
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

RESULTADOS

Magnetometria

A partir do Mapa do Campo Magnético Anômalo (retirado o IGRF- International Geomagnetic


Reference Field) é possível distinguir dois domínios, um composto por anomalias de alta freqüência
(AAF) e outro caracterizado por anomalias de baixa freqüência (ABF; Fig. 5). Considerando a relação
freqüência/profundidade de anomalias magnéticas, pode-se inferir que se trata de anomalias rasas e
profundas, respectivamente. As anomalias mais profundas devem corresponder à resposta do
embasamento e constituir o background magnetométrico local.

Em ambos os domínios, observam-se lineamentos magnetométricos preferencialmente orientados


na direção NE, sendo que no domínio de alta freqüência, percebe-se, localmente, uma maior contribuição
de lineamentos ENE (Fig. 5). É importante notar que na porção centro-sul da folha, bem como em sua
porção NNE ocorrem, no Domínio ABF, marcantes anomalias de direção ENE a E-W, respectivamente.
Em virtude da diferente polarização, pode-se deduzir que a magnetização ocorreu em tempos distintos
para cada um dos domínios. Ainda na Figura 5, é possível identificar um lineamento magnético bem
marcado e de orientação NW, nos quadrantes NE e SE. Este lineamento, aparentemente, é mais novo que
as anomalias do Domínio ABF e mais velho que as anomalias do Domínio AAF.

Quando observados os mapas do Gradiente Vertical (primeira ordem) e Campo Residual do


Campo Magnético Anômalo (Fig.s 6 e 7) pode-se perceber que as anomalias de alta freqüência foram
ressaltadas e, portanto, representam corpos superficiais. Por outro lado, as anomalias de baixa freqüência
correspondem a corpos mais profundos, tendo sido suprimidas na filtragem dos dados. No Mapa do
Campo Magnético Residual (Fig. 7), é possível observar ainda, anomalias orientadas segundo as
principais drenagens que cortam a área mapeada, bem como a baixa profundidade relativa da fonte
anômala (lineamento magnético) de direção NW. É importante lembrar que os filtros aplicados em mapas
magnetométricos de gradiente vertical são apropriados para realçar fontes rasas, sem necessariamente
alterar a polaridade das anomalias magnéticas (Carneiro & Barbosa 2008).

Em campo, o domínio de alta frequência (AAF) relaciona-se às unidades


vulcânicas/vulcanoclásticas e epiclásticas do Grupo Mata da Corda, as quais exibem quantidades
consideráveis de Ti-magnetita (Sgarbi 2010), explicando assim seu comportamento geofísico. As

66
Contribuições às Ciências da Terra

anomalias de alta freqüência mais sutis na região SE da folha correspondem a uma cobertura laterítica,
associada a pelitos neoproterozóicos.

Figura 5 Mapa do Campo Magnético Anômalo (retirado IGRF) interpretado da Folha Serra Selada (1:100.000). As
áreas hachuradas correspondem a anomalias de alta freqüência; as demais a domínios de anomalias de baixa
freqüência (background magnetométrico). Os traços pretos correspondem a lineamentos magnéticos interpretados.

Já o domínio de baixa freqüência (ABF), parece refletir, em grande parte, o comportamento do


embasamento, uma vez que tanto os sedimentos do Grupo Bambuí quanto os depósitos do Grupo Areado
não apresentam quantidades significativas de minerais ferromagnéticos. Dessa forma, os grandes dipolos
orientados segundo NE nas porções nordeste e centro-norte da folha representariam altos e baixos do
embasamento, respectivamente. Tal proposta está em acordo com o que mostram perfis sísmicos e
estruturas observadas em superfície (Reis et al. 2010).

67
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

A anomalia de direção NW, persistente em grande parte da folha, pode representar dique máfico
não aflorante. Diques similares foram descritos ao longo da porção meridional do Cratón do São Francisco
e fazem parte famílias de lineamentos magnéticos de direção NW. Carneiro & Oliveira (2005 apud
39
Carneiro & Barbosa 2008) obtiveram idades Ar/40Ar de 1,7 Ga para tal magmatismo, o que sugere
relação com os eventos de rifteamento estaterianos descritos nas faixas adjacentes ao Cráton do São
Francisco (e.g.: Knauer 2007, Valeriano et al. 2004).

Figura 6 Mapa da Primeira Derivada Vertical do Campo Anômalo, Folha Serra Selada (1:100.000). Os traços pretos
correspondem a lineamentos magnéticos interpretados. Embora suprimidas pela filtragem, as anomalias de fontes
mais profundas passam a destacar novos lineamentos magnéticos orientados segundo as direções NW e ENE.

Dessa forma, tomando o Mapa da Amplitude do Sinal Analítico (Fig. 8) é possível delimitar os
principais corpos magnéticos aflorantes do Grupo Mata da Corda e coberturas eluvionares associadas,
bem como demarcar as principais coberturas detrito-lateríticas distribuídas nas regiões SE e E da folha.
Por outro lado, o Mapa do Campo Residual pode indicar concentrações superficiais de minerais
68
Contribuições às Ciências da Terra

ferromagnéticos ao longo dos principais eixos de drenagem (Fig. 7). Considerada a ocorrência de placers
diamantíferos ao longo dos rios Abaeté, Borrachudo e Indaiá, alguns destes minerais ferromagnéticos
constituiriam importantes indicadores para a prospecção de diamantes.

Figura 7 Mapa do Campo Anômalo Residual, Folha Serra Selada (1:100.000). Corpos anômalos superficiais
distribuem-se em regiões topograficamente elevadas, nas porções W e central da folha, bem como ao longo dos
principais eixos de drenagem. Estes últimos provavelmente correspondem a concentrações de minerais magnéticos
em aluviões.

Gamaespectrometria

Os dados gamaespectrométricos exibem, de uma maneira geral, três grandes domínios, os quais
aparecem diretamente relacionados com as três principais unidades geológicas aflorantes: os grupos
Bambuí, Areado e Mata da Corda e respectivas coberturas (Fig. 9). Em função disto, os domínios serão
aqui descritos de acordo com as unidades que representam e serão analisados segundo uma escala relativa
(de baixo a alto) de valores registrados nos limites da área de trabalho.

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Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

Figura 8 Sobreposição do Mapa da Amplitude do Sinal Analítico e a distribuição das principais unidades magnéticas
aflorantes (compilado a partir de dados de campo), Folha Serra Selada (1:100.000).

Grupo Bambuí

Apresenta teores de K intermediários a altos (entre 1 e 3 %). Com base em dados de campo,
conclui-se que os altos relacionam-se principalmente aos litotipos da Formação Três Marias
(especialmente arcóseo e arenitos arcoseanos) e aos pelitos das formações Lagoa Formosa e Serra da
Saudade. Tais concentrações podem ser explicadas tanto pela presença de feldspato nos pacotes
arcoseanos, quanto pela capacidade de adsorção de potássio por argilominerais. Os pelitos e arenitos finos
verdes (verdetes) da Formação Serra da Saudade representam importantes fontes potássicas ricas em
glauconita (Lima et al. 2007), sendo possível na grande maioria das vezes demarcá-los diretamente sobre
o mapa gamaespectrométrico – Canal K (Fig. 9).

70
Contribuições às Ciências da Terra

Figura 9 Gamaespectrometria nos canais de K, Th e U na área da Folha Serra Selada (1.100.000). Sobre a imagem
ternária foram lançados os traços das principais falhas e unidades litoestratigráficas mapeadas (grupos Bambuí,
Areado e Mata da Corda). Altos expressivos de potássio, por vezes, marcam os limites dos corpos de verdete
aflorantes predominantemente na porção sudeste da folha.

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Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

O Grupo Bambuí exibe, na Folha Serra Selada, teores médios a altos de Th, variando de 10 a 16
ppm. As unidades deste grupo exibem concentrações mais elevadas nas regiões centro-norte, leste e
nordeste da folha, marcando relativamente bem os arenitos arcoseanos e arcóseos da Formação Três
Marias. Teores mais elevados, localizados na porção centro-sul da folha, podem se relacionar aos arenitos
de topo da Formação Serra da Saudade (Fig. 9). As maiores concentrações nas regiões SE e E (em torno
de 20 ppm,) associam-se diretamente às coberturas detrito-lateríticas, comumente relacionadas aos pelitos
indeformados do Grupo Bambuí. Neste caso, sua concentração relativa poderia ser explicada pela sua
grande imobilidade diante dos processos intempéricos. Uma vez associado a minerais pesados como
monazita e zircão, os altos valores relativos de Th nas frações psamíticas pode estar diretamente ligado a
maior concentração destes minerais em arenitos.

Os dados gamaespectrométricos no canal de U mostram, para as unidades aflorantes do grupo,


valores predominantemente intermediários (em torno de 2,5 ppm), com teores mais elevados (> 3,5 ppm)
relacionados às coberturas detrito-lateríticas das porções sudeste e leste da folha. Similarmente ao Th, o
urânio mostra relativa imobilidade diante dos processos intempéricos, o que explica sua concentração
maior concentração nestes depósitos.

Normalmente, regiões de ocorrência de rochas carbonáticas exibem teores relativos menores para
os isótopos de K e Th.

Importantes lineamentos de orientação NE a NW podem ser demarcados pelos canais de K e Th.


Estes lineamentos correspondem a estruturas observáveis em imagem Geocover-Landsat e relacionam-se
às direções dos eixos de dobras métricas a decamétricas e demais sistemas de fraturas observadas
principalmente nos sedimentos deformados do Grupo Bambuí. Grandes altos de K e Th ao longo do vale
do Rio Borrachudo e na região oeste da folha representam importantes falhamentos inversos que afetam
apenas as rochas desta unidade. Aparentemente, essa elevada concentração pode ser o resultado da
percolação de fluidos hidrotermais e da conseqüente ilitização de argilas ao longo das superfícies das
falhas e respectivas zonas de dano. De maneira similar, o elevado teor de tório e potássio, denotando
lineamento de direção NE no setor oriental (Fig. 9), pode corresponder à expressão em superfície da Falha
de Traçadal, não mapeada nos limites da Folha Serra Selada.

É necessário ressaltar ainda, a existência de elevados teores de K no extremo nordeste da folha


(em torno de 3%, região da Represa de Três Marias). Dada a ocorrência de importantes exsudações de gás

72
Contribuições às Ciências da Terra

natural na região, assim como em outras áreas, essa concentrações “anômalas” podem relacionar-se à
lixiviação e reconcentração de potássio (Fig. 10). A acidificação de águas meteóricas, promovida por
compostos como o dióxido de carbono presente em sistemas de hidrocarbonetos, seria um dos principais
responsáveis pelo transporte do elemento (Matolin et al. 2008). Íons de potássio são extremamente móveis
e se mostram altamente solúveis em meios com pH inferior a 7.

A Tabela 1 resume as principais rochas do Grupo Bambuí aflorantes e suas respostas


gamaespectrométricas.

Figura 10 Teores de potássio (K%) ao longo de um perfil (A-B) de orientação N-S e que corta a zona de exsudações
de gás natural da porção nordeste da Folha Serra Selada. Os teores de potássio foram obtidos do Mapa
Gamaespectrométrico - canal K, apresentado na Figura 9. Localizações das zonas de emanações e do perfil acima são
mostradas nas figuras 2 e 9, respectivamente.

Grupo Areado

De uma maneira geral, as rochas aflorantes e coberturas associadas deste grupo exibem baixo teor
de potássio (< 1%), baixo Th (< 10 ppm) e baixo U (< 2 ppm). Estes baixos valores podem ser explicados
tanto pela lixiviação de elementos solúveis durante o intemperismo (como é o caso do K) quanto aos
prováveis baixos teores das fontes sedimentares. Para o primeiro caso, é importante notar que, estas
unidades ocorrem em regiões topograficamente mais elevadas, sujeitas a processos intempéricos mais
intensos.

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Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

Tabela 1 Reposta gamaespectrométrica das principais litologias do Grupo Bambuí na área abrangida pela Folha
Serra Selada (1:100.000).

Litotipo Arcóseos, arenitos Argilitos e Siltitos Verdetes Carbonatos


arcoseanos
Unidade estratigráfica Serra da Saudade, Serra da Saudade Lagoa do Jacaré
Três Marias e Serra Lagoa Formosa e
da Saudade Tres Marias

Resposta no canal K Alto Intermediário a Alto Alto Baixo

Resposta no canal Th Intermediário/Alto Intermediário Intermediário Intermediário/Baixo

Resposta no canal U Intermediário Intermediário Intermediário Intermediário/Baixo

Grupo Mata da Corda

Os litotipos e coberturas relacionadas a esta unidade exibem baixo teor de potássio (próximos a
zero) e altos teores relativos de tório e urânio (maiores que 20 e 3 ppm, respectivamente). Embora se
relacione a termos magmáticos de afinidade potássica/ultrapotássica em outros pontos da bacia (Campos e
Dardenne 1997, Sgarbi 2010), a ausência de quantidades significativas do elemento pode se relacionar
diretamente ao intenso intemperismo e lixiviação no topo das chapadas. Por outro lado, os elevados teores
nos demais elementos podem ser explicados pela maior concentração natural dos mesmos em unidades
vulcânicas e/ou vulcanoclásticas, bem com sua baixa mobilidade diante dos processos intempéricos.

DISCUSSÃO E CONCLUSÕES

Na região correspondente à Folha Serra Selada (1:100.000), afloram as rochas neoproterozóicas


do Grupo Bambuí, parcialmente cobertas por rochas sedimentares e vulcanoclásticas dos grupos Areado e
Mata da Corda, de idade cretácica. Estes litotipos exibem características magnetométricas e
gamaespectrométricas distintas, por vezes fortemente influenciadas por processos tectônicos.

O Grupo Bambuí é marcado por baixos valores magnéticos. Grandes anomalias de baixa
freqüência (ABF) relacionam-se ao seu substrato e se expressam na forma de dipolos orientados segundo

74
Contribuições às Ciências da Terra

NE nos setores nordeste e centro-norte da folha. Dados de subsuperfície sugerem que estas anomalias
magnéticas correspondem altos e baixos do embasamento (Reis et al. 2010). As rochas das formações
Lagoa do Jacaré, Serra da Saudade/Lagoa Formosa e Três Marias exibem distintos padrões
gamaespectrométricos (Tabela 1), cujas concentrações de K e Th sofrem marcantes redistribuições ao
longo de falhas de empurrão neoproterozóicas. Aparentemente, os teores de potássio parecem sofrer
grande influência das acumulações de gás natural no setor NE da folha (Fig. 10). Neste sentido, sua
redistribuição teria sido influenciada pela atuação de ácidos relacionados a acumulações de
hidrocarbonetos .

Os sedimentos do Grupo Areado exibem baixa magnetização e baixos teores de radionuclídeos.


Estes valores resultam tanto da própria composição das rochas quanto dos processos intempéricos atuantes
em regiões mais elevadas, nas quais ocorrem.

As rochas do Grupo Mata da Corda apresentam valores magnetométricos relativamente elevados


em virtude da sua alta concentração em minerais magnéticos. Exibem, além disso, elevadas concentrações
de Th e U (> 20 e 3 ppm, respectivamente), aparentemente influenciadas pela concentração relativa destes
elementos durante o intemperismo. Este último seria o responsável pela baixa concentração de K nos
topos de chapada.

As diferentes coberturas cenozóicas podem ser facilmente delimitadas tanto através dos mapas de
Amplitude do Sinal Analítico (coberturas detrito-lateríticas; setor sudeste da folha), quanto em virtude de
sua elevada concentração de U e Th (imóveis diante dos processos intempéricos).

Os resultados obtidos mostram a grande aplicabilidade dos métodos magnetométrico e


gamaespetrométricos na individualização de diferentes unidades litológicas e estruturas tectônicas. No
âmbito da Folha Serra Selada (1:100.000), a comparação com os dados geológicos de campo (Fig. 2)
constituiu importante passo no entendimento do arranjo tectono-estratigráfico do setor de transição entre o
Domínio Deformado Ocidental da Bacia do São Francisco e o Domínio Central Indeformado (sensu
Alkmim et al. 1993). Em face da potencialidade prospectiva da região, tais dados configuram os primeiros
passos na delimitação de zonas potenciais de acumulação/migração de hidrocarbonetos gasosos. É
importante notar que, em virtude do menor custo e do recorrente sucesso na aplicação destas técnicas, a

75
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

análise de dados geofísicos potenciais e gamaespectrométricos vem sendo utilizadas cada vez mais na
exploração de hidrocarbonetos (e.g.: Nabighian et al. 2005)3.

3
Os autores agradecem à Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (CODEMIG) pelo
financiamento durante as pesquisas de campo e a concessão dos dados aerogeofísicos, e ao Centro de Pesquisa
Manoel Teixeira da Costa (CPMTC) pelo suporte logístico e infra-estrutura. O primeiro autor agradece ao Conselho
Nacional de Desenvolvimento da Pesquisa (CNPq) pela bolsa de mestrado concedida. F.F. Alkmim e A.C. Pedrosa-
Soares agradecem ao CNPq pelas bolsas de produtividade em pesquisa.

76
CAPÍTULO 4
ARCABOUÇO ESTRUTURAL DA REGIÃO DO BAIXO INDAIÁ

4.1 - INTRODUÇÃO

Três grandes conjuntos de estruturas se fazem presentes na região do vale do Indaíá. O primeiro
corresponde a estruturas profundas que envolvem apenas o embasamento e as unidades estratigráficas pré-
Bambuí. O segundo afeta as rochas do Grupo Bambuí e o terceiro, associado aos sedimentos e rochas
vulcanoclássticas/epiclásticas cretácicas dos Grupos Areado e Mata da Corda, se superpõem a todas as
unidades presentes na área de estudo.

Neste capítulo, serão analisadas e discutidas primeiramente as estruturas que envolvem o


embasamento e seqüências pré-Bambuí. Como estas unidades não afloram na área investigada, serão feitas
considerações apenas com base em dados gravimétricos, magnetométricos e sísmicos. Posteriormente,
serão discutidas as estruturas relacionadas às unidades neoproterozóicas e cretácicas aflorantes. As
descrições serão feitas à luz das informações obtidas em campo e dados geofísicos disponíveis.

4.2-A ESTRUTURA DO EMBASAMENTO REVELADA POR MÉTODOS GEOFÍSICOS


POTENCIAIS E SÍSMICA DE REFLEXÃO

4.1.1 Estruturas do embasamento em mapas gravimétricos

Visando caracterizar a estruturação do embasamento da região do baixo Indaiá, foram gerados,


primeiramente, mapas de anomalia gravimétrica (free-air e Bouguer) para toda a Bacia do São Francisco.
Uma vez caracterizado o cenário regional, passou-se ao estudo das feições locais.

Para a confecção dos mapas gravimétricos, foram utilizados os dados de anomalia free-air e
topográficos, obtidos por satélite (TOPEX/POSEIDON) e disponíveis em ftp://topex.ucsd.edu/pub/.
Embora se trate de informações obtidas por satélite, os dados utilizados exibem uma excelente resolução
para análises de caráter regional e sub-regional. A metodologia empregada no tratamento dos dados é
apresentada no Capítulo 1.3.

O Cráton do São Francisco como um todo se caracteriza por anomalias gravimétricas variáveis
entre -33 e -115 mGal e é, em grande parte, delimitado por anomalias gravimétricas do Tipo II de Haraly
& Hasui (1985) (Fig. 4.1). Tais anomalias correspondem aos pontos de inflexão na curva gravimétrica
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

Bouguer, entre os domínios de anomalia gravimétrica mínima (faixas Brasília e Araçuaí) e os domínios de
anomalia intermediária (cráton) (Fig. 4.2-a e b).

Figura 4.1 Mapa de Anomalia Bouguer com a interpretação das principais anomalias do Cráton do São Francisco
(Cruz & Alkmim 2006) e as respectivas conformações gravimétricas destacadas na Tabela 4.1. São destacadas ainda
feições gravimétricas relacionadas às faixas margiais e bacias faneorozóicas adjacentes ao cráton.

Com base na sua expressão gravimétrica, o Cráton do São Francisco pode ser dividido em três
setores C1, C2 e C3 (Fig. 4.1). As principais anomalias de cada um destes setores estão discriminadas na
Tabela 4.1.

78
Contribuições às Ciências da Terra

Figura 4.2 Perfis gravimétricos ao longo do Cráton do São Francisco e faixas dobradas adjacentes (a e b)
comparados com modelo esquemático de uma colisão de placas tectônicas e anomalia gravimétrica associada (c).
Este último modificado de Fountain & Salisbury 1981 (in Oliver 1983). Localização dos perfis (a e b) na Figura 4.1.

Tabela 4.1 Principais anomalias gravimétricas observadas ao longo do Cráton do São Francisco (ver Fig. 4.1).
SETOR C1 SETOR C2 SETOR C3
 Alto de Januária  Baixo do Paramirim

 Alto de Sete Lagoas-Belo Horizonte  Baixo do Rio Preto  Baixo da Chapada Diamantina-Irecê

 Alto de Três Marias  Baixo de Unaí

 Alto de Patrocínio

 Baixo de Pirapora

 Baixo de Presidente Olegário

 Baixo de Luz

O setor C1 exibe, predominantemente, lineamentos/alinhamentos variáveis entre NW e NE,


localmente orientados em torno de E-W. Ocorrem pequenos picos anômalos com valores máximos
próximos a -70mGal, geralmente separados por baixos que exibem anomalias menores que -80mGal.

79
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

No setor C2, passam a predominar valores superiores a -80mGal e os lineamentos/alinhamentos


em torno da direção E-W tornam-se mais expressivos. Por outro lado, o setor C3 exibe lineamentos
predominantemente orientados segundo NW, sendo marcado por um grande baixo anômalo de orientação
similar e limitado a leste por setor de anomalia mais elevada (> 70mGal).

Quando comparados com os dados de superfície (e.g.: Lagoeiro 1990, Danderfer Fº 1990, Alkmim
et al. 1993 e Campos & Dardenne 1997) e subsuperfície (e.g.: Zalán & Romeiro-Silva 2007 e Coelho
2007), tal assinatura gravimétrica parece refletir, em grande parte, altos e baixos do embasamento
cratônico (Fig. 4.1).

Sob o ponto de vista tectônico é possível destacar, ao longo da Bacia do São Francisco (Martins-
Neto & Alkmim 2001), anomalias gravimétricas relativas, pelo menos, a três fases distintas. A primeira
corresponde aos sistemas Espinhaço-Araí/Macaúbas-Paranoá (e correlatos), sendo responsável, entre
outros, pelo desenvolvimento dos baixos do Paramirim, Chapada Diamantina-Irecê e Pirapora (Tabela
4.1). Dados sísmicos mostram para este último um relativo aumento na espessura de tais seqüências
(Coelho 2007, Zalán & Romeiro-Silva 2007). Geradas anteriormente às orogêneses brasilianas, tais
estruturas parecem ter desempenhado importante papel na propagação da deformação ao longo das
coberturas cratônicas. Isso explicaria tanto a grande saliência definida pelo Sistema Espinhaço no setor
sudeste do cráton, quanto geometrias similares observadas ao longo do Aulacógeno do Paramirim
(Alkmim et al. 1993, Souza Fº 1995, Alkmim & Martins-Neto 2001, Cruz & Alkmim 2006).

As flexuras neoproterozóicas, desenvolvidas sobre as margens do Cráton do São Francisco com a


edificação dos orógenos brasilianos adjacentes (e.g.: Valeriano et al. 2004, Pimentel et al. 2004, Pedrosa-
Soares et al. 2007), são evidenciadas por pequenos baixos gravimétricos de borda (Fig. 4.2). É possível
perceber que, quando comparadas, a anomalia desenvolvida na porção oeste mostra-se mais proeminente
que sua contraparte a leste. Aparentemente, esta diferença reflete uma influência mais significativa da
carga tectônica imposta pela Faixa Brasília na deformação do antepaís. Dados de superfície, poços e linhas
sísmicas mostram o aumento de espessura das unidades neoproterozóicas do Grupo Bambuí,
especialmente marcado em direção à borda oeste da bacia (Dardenne 1981, Chiavegatto 1992, Fugita &
Clark Fº 2001, Zalán & Romeiro-Silva 2007, Coelho 2007).

Rearranjos crustais fanerozóicos obliteraram parcialmente estas assinaturas gravimétricas e deram


origem a novas estruturas, como é caso da Sub-Bacia Areado (Campos & Dardenne 1997, Sgarbi et al.
2001), cuja espessura alcança valores da ordem de 300m sobre o Baixo de Presidente Olegário. A
colocação dos corpos alcalinos-carbonatíticos-fosforíticos dos complexos Serra Negra e Salitre (Marchão
80
Contribuições às Ciências da Terra

et al. 2008) representa importante fator de alteração da assinatura gravimétrica da Bacia do São Francisco
no Cretáceo Superior. Sua destacada anomalia Bouguer em relação aos demais complexos de idade similar
(Fig. 4.2-a) pode sugerir uma importante ascensão mantélica local.

O mapa de anomalia Bouguer confeccionado para a área estudada mostra lineamentos e


alinhamentos preferencialmente orientados segundo NE e NW (Fig. 4.3). Relacionam-se a valores
gravimétricos entre -105 e -70 mGal, eventualmente alcançando termos inferiores a -115 mGal.

A pronunciada anomalia gravimétrica (valores entre -90 e -75 mGal) observada ao longo de toda a
região de Três Marias aparentemente corresponde a um grande um alto do embasamento (Fig. 4.3 ). A
borda oeste desta feição orienta-se na direção N-S, em sua porção meridional, e passa a NE, em seu setor
setentrional. O seu limite nordeste é feito com o Baixo Gravimétrico de Pirapora (Fig. 4.1), orientado
segundo NW e interpretado por Alkmim et al. (2007) como parte de um sistema rifte fóssil, o Aulacógeno
Pirapora.

Fazendo-se a superposição do mapa geológico com o mapa Bouguer da Figura 4.3, observa-se que
o limite ocidental da grande anomalia positiva de Três Marias coincide com o traço meridional da Falha
de João Pinheiro, sugerindo relação entre esta estrutura e estruturas profundas do embasamento.

4.2.2 Expressão das estruturas do embasamento em mapas magnetométricos

O mapa aeromagnetométrico disponível para a região do baixo Rio Indaiá (Lasa 2007) (Fig. 4.4),
cobre apenas uma parte do setor sul da área enfocada no mapa Bouguer da Figura 4.3. Mostra anomalias
magnéticas lineares de grande comprimento de onda preferencialmente orientadas na direção NE. Tais
feições relacionam-se ao embasamento e são facilmente distinguíveis de anomalias rasas, uma vez que
estas últimas exibem mais alta freqüência e associam-se às unidades vulcanoclásticas do Grupo Mata da
Corda. Subordinadamente observam-se anomalias lineares de intensidade variável segundo a direção NW.

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Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

Figura 4.3 Mapa de Anomalia Bouguer (TOPEX/POSEIDON), detalhando a região do Alto de Três Marias. (1) e (2)
representam falhas das bordas ocidental e oriental, respectivamente, do Alto Estrutural de Três Marias. (1) coincide
parcialmente com o traço superficial da porção meridional da Falha de João Pinheiro, enquanto (2) deve representar
a borda sul do Aulacógeno Pirapora (Alkmim et al. 2007).

Figura 4.4 Campo Magnético Anômalo (Lasa 2007) mostrando lineamentos predominante orientados segundo NE.
As linhas tracejadas aparentemente correspondem a diques não aflorantes, cuja anomalia magnética é ressaltada nas
regiões em que o embasamento encontra-se mais próximo da superfície. As linhas pontilhadas destacadas em
vermelho correspondem às seções sísmicas 0240-0295, 0240-0293 e 0240-0294 mostradas na Figura 4.2. TM: Três
Marias, Mn: Morada Nova, Pa: Paineiras e Sga: São Gonçalo do Abaeté. Os dados referentes a porção leste da área
investigada não encontram-se disponíveis.

82
Contribuições às Ciências da Terra

4.2.3 As estruturas do embasamento em seções sísmicas

Analisadas em conjunto com as seções sísmicas disponíveis para a região, as anomalias


gravimétricas e magnetométricas mais proeminentes se expressam na forma de altos e baixos do
embasamento, internos ao Alto de Três Marias, e limitados por falhas normais de direção NE (Figs. 4.3,
4.4 e 4.5). As seções sísmicas mostram ainda que a transição para setores mais profundos da Bacia do São
Francisco é acompanhada pelo espessamento das unidades pré-Bambuí, espessamento este controlado
pelo mesmo sistema de falhas normais (Fig. 4.5).

Figura 4.5 Digrama tridimensional com interpretação das seções sísmicas 0240-0295, 0240-0293 e 0240-0294.
Nota-se considerável espessamento das unidades pré-Bambuí em direção a N e W, controlado por sistemas de falhas
normais. I: Embasamento; II: unidades Pré-Bambuí Inferior (1) e Superior (2); III: Grupo Bambuí Inferior (BI) e
Superior (BS).

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Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

Embora não aflorantes na região estudada, as anomalias magnéticas de direção NW (tracejadas na


Fig. 4.4) parecem corresponder a diques intrudidos no embasamento, conforme observado ao longo de
toda porção meridional do Cráton do São Francisco (e.g.: Carneiro & Barbosa 2008). Dessa forma,
quando o embasamento encontra-se mais raso, tais anomalias tendem a ser ressaltadas, como acontece a
norte da cidade de Paineiras (Fig. 4.4).

4.3-ARCABOUÇO ESTRUTURAL DAS ROCHAS DO GRUPO BAMBUÍ

As rochas neoproterozóicas do Subgrupo Paraopeba e da Formação Três Marias tomam parte, na


área estudada, de dois compartimentos tectônicos distintos: o compartimento oeste (CO), onde se
encontram deformadas em intensidade variável e o compartimento leste (CL), no qual se acham
praticamente indeformadas (Fig. 4.6).

No compartimento oeste, as rochas do Grupo Bambuí estão envolvidas em um cinturão de dobras


e empurrões (fold-and-thrust belt) de direção geral N-S. Neste setor, sinclinórios e anticlinórios com eixos
pendentes para NNW, N e NNE são balizados por falhas de empurrão articuladas a um descolamento
posicionado próximo a base da unidade. Entre as grandes zonas de falha, ocorrem amplos setores nos
quais a deformação das rochas presentes é desprezível ou muito pequena. O cinturão de dobras do
compartimento oeste exibe-se, em mapa, como uma grande saliência de concavidade voltada para oeste,
localmente cortada por zonas transcorrentes sinistrais de direção aproximada NW: a Saliência de Três
Marias (Anexo 02). Outro traço característico do cinturão do compartimento oeste é a escassez de
mesodobras com vergência definida.

No compartimento leste, as rochas do Grupo Bambuí encontram-se horizontalizados, podendo


mostrar, entretanto, raras dobras isoladas, suaves a abertas, bem como kink bands e falhas localizadas. A
ocorrência aleatória destas estruturas sugere uma transição, em saltos, para o compartimento oeste.

84
Contribuições às Ciências da Terra

Figura 4.6 Lineamentos e alinhamentos interpretados sobre imagem Geocover (Landsat). Tanto os depósitos
cretácicos (grupos Areado e Mata da Corda) quanto as coberturas neógenas são destacados, as demais regiões
associam-se aos sedimentos neoproterozóicos do Grupo Bambuí. Estes últimos compõem o compartimento leste
(CL), deformado e subdividido nos domínios SE (DSE), SW (DSW), e N (DN), e o compartimento oeste (CO),
indeformado. A linha contínua delimita a zona estrutural relacionada às unidades cretácicas. Os diagramas
representam as principais direções de lineamentos/alinhamentos obtido na imagem e respectivos comprimentos
acumulados.

4.3.1 O Compartimento Oeste: a Saliência de Três Marias

4.3.1.1 Dobras

No interior da grande Saliência de Três Marias, a deformação é acomodada principalmente na


forma de dobras. No campo, estas estruturas se apresentam em chevron, fechadas a abertas, com ângulos
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Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

interflanquiais variáveis entre 60º e 100º, desarmônicas e com superfícies axiais sub-verticais (Figs. 4.8-a,
b e 4.10). Subordinadamente, ocorrem dobras em cúspide, elípticas (sensu Davis & Reynolds 1996),
dobras em kink e kink bands. As dobras em kink, que predominam nas zonas de transição para setores
indeformados e chegam a alcançar dimensões decamétricas, muitas vezes passam a dobras em chevron ao
longo das suas zonas axiais (Fig. 4.7). Os eixos dessas dobras orientam-se preferencialmente na direção
N-S (Fig. 4.8), mostrando, todavia, consideráveis variações ao longo de todo compartimento. As dobras
observáveis em afloramentos correspondem a elementos parasíticos de sinclinórios e anticlinórios de
proporções quilométricas.

Figura 4.7 Dobra em kink de porte decamétrico nas proximidades da foz do Rio Indaiá na Represa de Três Marias. A
intersecção entre as kink bands tem a orientação em torno de SSW (Ponto 130 – Anexo 03).

Estrias com espaçamento milimétrico (Le), orientadas preferencialmente na direção E-W (ou seja
seja perpendicularmente aos eixos das dobras) constituem lineações comumente observadas sobre os
planos de acamamento (Fig. 4.11). Estas lineações, quando presentes em camadas horizontalizadas,
aflorantes nas margens do baixo Rio Indaiá e na região de Morada Nova de Minas, mostram dispersão
entre as direções NE e SE.

86
Contribuições às Ciências da Terra

Figura 4.8 (A) Dobra em chevron fechada e levemente vergente para oeste (Ponto 302 – Anexo 03). A estrutura
exibe encurtamento aproximado de 40% e ângulo interflanquial de 50º. (B) Traço da superfície axial (PA) em dobra
chevron assimétrica (Ponto 290 – Anexo 03). (C) Estreograma sinóptico dos eixos de dobra (B) ao longo do
copartimento oeste. (D) Dobras apertadas a isoclinais em verdete da Formação Serra da Saudade, próximo a zona de
falha.

4.3.1.2 Falhas de empurrão

O segundo elemento componente da Saliência de Três Marias é representado por falhas de


empurrão, localmente responsáveis pela inversão estratigráfica das unidades proterozóicas. As principais
dentre estas estruturas são, a oeste, as falhas de João Pinheiro e do Pontal; na zona central, a Falha do Rio
Borrachudo, parcialmente aflorante no vale homônimo; e, a leste, a Falha de Traçadal, aflorante no
extremo nordeste do compartimento (Anexo 02).

No campo as zonas de exposição destas grandes falhas são caracterizadas pelas seguintes feições:

87
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

 as dobras características do compartimento passam a isoclinais e apertadas e em alguns


pontos, exibem geometrias em bainha (Fig. 4.8-d);

 desenvolvimento de clivagem espaçada de direção aproximada N-S e mergulho para W;

 aumento significativo da densidade de juntas e de microvênulas de quartzo.

Além disso, conforme mostrado no Capítulo 3.5, as principais zonas de falha do compartimento
são facilmente identificadas em imagens gamaespectrométricas, pelos altos nos canais de Th e K.

Seguindo a trajetória dos eixos das dobras, as grandes falhas possuem traços curvilíneos em planta
(Anexo 02) e, embora grande parte das superfícies não possam ser diretamente medidas em campo,
parecem possuir, majoritariamente, mergulhos pouco acentuados para W, WNW e WSW.

A Falha de João Pinheiro possui traço em planta orientado em torno da direção N-S e é
responsável pela colocação dos carbonatos da Formação Lagoa do Jacaré (?) sobre os pelitos e arenitos da
Formação Serra da Saudade.

A Falha do Pontal possui traço horizontal de direção N-S em sua extremidade meridional,
passando à NNW em sua porção setentrional. Não é associada a nenhuma inversão estratigráfica de
grande escala e, apesar de mostrar em planta traços sem grandes sinuosidades, quando aflorante, a
descontinuidade exibe mergulhos baixos a moderados.

A Falha do Rio Borrachudo exibe orientação preferencial NNE em sua porção sul, onde define um
par saliência/recesso e inverte tectonicamente os carbonatos e pelitos da Formação Lagoa do Jacaré sobre
os sedimentos da Formação Serra da Saudade. Em sua extremidade setentrional, passa à direção NNW,
onde parece se relacionar à uma feição similar e de menor expressividade regional (Martins et al. 2011).

A Falha de Traçadal aflora no setor extremo nordeste, onde exibe direção geral NNW e alça os
sedimentos basais do Grupo Bambuí sobre os arenitos e arcóseos da Formação Três Marias (Costa et al.
2011). Naquele setor, marca o limite dos compartimentos deformado e indeformado da bacia. A partir da
zona de culminação da Saliência de Três Marias, a sul, não mais aflora. Nesta região, se manifesta em
superfície como uma estrutura antiformal de cobertura (fold-propagation-fold), cuja charneira cai para
NNW e NNE (Anexo 02).

88
Contribuições às Ciências da Terra

4.3.1.3 Falhas transcorrentes

Além das dobras e falhas de empurrão, observa-se ainda no compartimento oeste um conjunto de
zonas transcorrentes sinistrais de orientação preferencial NW. Seccionam as extremidades sul e norte da
Falha do Rio Borrachudo e, frequentemente, são responsáveis pela dispersão e rotação dos eixos de dobra
característicos do compartimento (Fig. 4.10-d e 4.10-e). São aqui denominadas Zona de Transcorrência de
Paineiras (ZTP) e Zona de Transcorrência da Serra Vermelha (ZTSV) (Anexo 02).

A Zona de Transcorrência de Paineiras (ZTP) aflora a sul da cidade homônima e parece separar
dois setores estruturais distintos. Enquanto a sul o encurtamento regional é acomodado através de falha de
empurrão, a norte foram documentados apenas grandes estruturas sinformais e antiformais (e.g.: Sinclinal
do Baixo Indaiá, ver mapa estrutural no Anexo 02). Embora se relacione a obliteração de estruturas pré-
existentes, tal heterogeneidade deformacional sugere para a mesma zona um caráter transferente (Twiss &
Moores 2007).

A Zona de Transcorrência da Serra Vermelha aflora a norte da localidade de Lagoa (Município de


São Gonçalo do Abaeté). Exibe em planta rejeito relativamente pequeno e sua influência estende-se à
dentro da região indeformada entre as Falhas do Rio Borrachudo e de Traçadal (Anexo 02).

4.3.1.4 Juntas

Outras estruturas macroscópicas encontradas no compartimento são as juntas. Os seguintes


conjuntos podem ser observados:

 juntas plumosas ou destituídas de qualquer ornamentação, cuja orientação preferencial, na


porção oriental do compartimento, é N60W (Figs. 4.9-a e 4.9-c);

 Juntas estriadas ou destituídas de ornamentação, cuja orientação preferencial é N60E (Fig.


4.9-b);

 Juntas estriadas ou destituídas de ornamentação, cuja orientação preferencial é N45W


(Fig. 4.9-b).

Os dois últimos conjuntos devem constituir um par conjugado de fraturas de cisalhamento, que se
associa geneticamente ao conjunto de juntas plumosas (trativas) (Fig. 4.9).
89
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

Figura 4.9 Diagramas sinópticos de juntas (a e b). No diagrama (b) J corresponde às direções de juntas cisalhantes
ou sem ornamentação e P à direção preferencial das juntas plumosas, aproximadamente na bissetriz aguda das
descontinuidades J. Em (c) junta plumosa em arenito da Formação Três Marias (Ponto 545 – Anexo 03,
N56W/80NE).

90
91
subdividido três domínios estruturais, os domínios SE, SW e N (Figs. 4.6 e 4.10).

Figura 4.10 Estereogramas de pólos do acamamento (So), eixos de dobras (B) e rosetas de juntas para os distintos domínios do
compartimento oeste e zonas de transcorrência de Paineiras e Serra Vermelha (De E). Os diagramas de So sugerem uma sutil vergência
geral para E, ao passo que a concentração de eixos B mostra um leve caimento geral para norte nos domínios SE e SW (A e B),
enquanto no domínio N (C) estas estruturas tendem a cair para sul (geral). Em D e E é possível notar a mudança na orientação das
estruturas ao longo das zonas de transcorrências. DT: direção de transporte tectônico inferido conforme Modelo de Hansen (Twiss &
Contribuições às Ciências da Terra

Em função da orientação adquirida pelas estruturas presentes, o compartimento oeste pode ser

Moores 2007). Intervalo de contorno igual a 10.


Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

O domínio SE (Serra do Palmital) é limitado a oeste pela Falha do Rio Borrachudo. Seu limite
leste é assinalado pela zona de desaparecimento das dobras características deste compartimento (Fig. 4.6).
Ao longo deste domínio os eixos das mesodobras orientam-se segundo NNE e os conjuntos de juntas mais
freqüentes mostram direções NW e NE (Fig. 4.10-a). Todas as estruturas do domínio são localmente
obliteradas pela Zona de Transcorrência de Paineiras (ZTP). Nas suas proximidades, os eixos das dobras
rotacionam-se para direção NW, em conformidade com sentido sinistral da zona de transcorrência, e
exibem uma dispersão em torno de WSW (Fig. 4.10-d). Diagramas π sugerem, ao longo do
compartimento, uma sutil assimetria das dobras, mostrando vergência para ESE. A Figura 4.11 mostra o
arranjo geral das juntas ao longo do domínio e sua relação com as dobras e estrias.

O domínio SW, limitado a leste pela Falha do Rio Borrachudo, estende-se por toda a porção
sudoeste do compartimento e abarca, em sua porção central, uma proeminente estrutura sinformal, o
Sinclinório do Canastrão, que tem sua calha ocupada pelas rochas da Formação Três Marias. Nesta região,
os eixos de dobra caem preferencialmente para norte, as falhas de empurrão presentes possuem direção N-
S e os conjuntos principais de juntas posicionam-se em torno de WNW e WSW (Fig. 4.10-b).

O domínio N estende-se desde o limite norte da área de trabalho até a altura do paralelo 18º30’.
Os eixos das mesodobras tendem a assumir direção NNW, acompanhados por mudanças similares na
atitude das falhas de empurrão. As juntas ficam predominantemente orientadas segundo WNW, com
concentrações também significativas em torno de NE e NW (Fig. 4.10-c). A geometria adquirida em mapa
pelas rochas do Grupo Bambuí sugere uma culminação sinformal para o Sinclinório de Canastrão (anexos
01 e 02), cujo traço axial acompanha a orientação geral das mesodobras anteriormente descritas. Neste
domínio, a Falha do Rio Borrachudo é seccionada pela Zona de Transcorrência da Serra Vermelha nas
proximidades da Represa de Três Marias.Ao longo desta área, eixos de dobra tendem para a direção E-W,
sendo acompanhados por dispersões nas direções de juntas (Fig. 4.10-e) e mudanças significativas no sinal
gamaespectrométrico. O sentido de cisalhamento sinistral da zona de transferência é indicado tanto pelo
padrão radiométrico, quanto pela distribuição em superfície das formações Serra da Saudade e Três
Marias (anexos 01 e 02).

92
Contribuições às Ciências da Terra

Figura 4.11 Figura esquemática mostrando as principais relações entre as juntas (J), eixos de dobra (Lb) e estrias
(Le) ao longo do domínio SE (Serra do Palmital). Estatisticamente, é possível notar a predominância de juntas
trativas (T) em detrimento aos demais planos de ruptura. Eixos geométricos (a, b e c) segundo Hobbs et al. (1976).

4.3.1.5 O descolamento basal e a estruturação geral da Saliência de Três Marias

Assim como observado em outras regiões da porção oeste da Bacia do São Francisco (Coelho et
al. 2005; Coelho 2008), os dados sísmicos indicam que todo o cinturão de dobras e empurrões do
compartimento oeste é balizado em profundidade por um descolamento alojado próximo à base do Grupo
Bambuí (Figs. 4.12 e 4.13). Abaixo do descolamento, as estruturas presentes são falhas normais, não
invertidas, o que confere ao cinturão um caráter claramente epidérmico (thin skinned). A superfície de
descolamento principal emerge na região de Traçadal na forma da falha homônima, alçando as unidades
basais do Grupo Bambuí sobre os depósitos da Formação Três Marias (Fig. 4.5). Mais a sul, na região de

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Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

Morada Nova de Minas, esta estrutura não aflora e se expressa em superfície como uma dobra de
propagação de falha (fault-propagation-fold) (Figs. 4.12 e 4.13, Anexo 02).

Figura 4.12 Arranjo tridimensional das seções sísmicas 0240-0295, 0240-0298 e 0240-0293 em tempo duplo
(TWT/ms), localizadas no Domínio Deformado (A). (B) TM: Três Marias, Ti: Tiros e Co: Corinto.

O exame das seções sísmicas, reproduzidas nas Figuras 4.12 e 4.13, mostra ainda um segundo
descolamento, mais antigo e que emerge, influenciado por uma irregularidade do embasamento, na forma
da Falha do Rio Borrachudo. Tal descolamento desenvolveu-se no contato entre a sismofácies BIi (não-
aflorante) e as demais unidades da porção inferior do Grupo Bambuí, onde ocorre dobrado e,
aparentemente, rotacionado. Em superfície, esta estrutura relaciona-se com o setor onde os sedimentos
94
Contribuições às Ciências da Terra

Figura 4.13 Bloco diagrama mostrando as seções sísmicas (TWT/ms) da Figura 4.8 interpretadas e sua relação com
a topografia e algumas das principais estruturas geológicas mapeadas em superfície. (A) É possível observar a
deformação thin skinned afetando apenas os sedimentos do Grupo Bambuí, em um sistema de leques imbricados com
vergência geral para leste e articulado em um descolamento próximo a base desta unidade. No detalhe da seção 0295
(canto inferior esquerdo) podem ser vistas duas superfícies de descolamento, uma mais antiga e deformada e outra
mais nova e que emerge em superfície com a Falha de Traçadal a nordeste. (B) Localização, em planta, das seções
sísmicas apresentadas. I: Embasamento; II: Unidades Pré-Bambuí; III: Grupo Bambuí (unidades Inferior e Superior,
BI e BS, respectivamente). 1) Falha do Pontal; 2)Sinclinório de Canastrão; 3) Falha do Rio Borrachudo; 4) Zona de
Transferência da Serra Vermelha; 5) Falha de Traçadal. TM: Três Marias; Ti: Tiros e Co: Corinto.

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Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

neoproterozóicos encontram-se mais intensamente deformados. Uma estrutura em duplex, balizada (em
profundidade) por este descolamento e uma falha não-aflorante de menor expressão, envolve os depósitos
basais do Grupo Bambuí (Fig. 4.13).

A geometria dos descolamentos e demais estruturas da saliência definem um leque imbricado,


vergente para leste e cuja relação temporal entre seus elementos indica um sistema de propagação de
falhas em direção ao antepaís (piggyback thrusting). Com o desenvolvimento tardio do descolamento
aflorante na região de Traçadal, o descolamento previamente nucleado (aflorante como a Falha do Rio
Borrachudo) foi desativado, passivamente dobrado e rotacionado em direção ao pós-país.

As seções sísmicas indicam ainda que o limite entre os compartimentos oeste e leste ocorre ao
longo de um grande alto estrutural do embasamento (ver seção 4.2), com os depósitos neoproterozóicos
horizontalizados a leste da zona de influência da Falha de Traçadal (Figs. 4.12 e 4.13).

4.3.2 O Compartimento Leste (CL)

No compartimento leste, as rochas das formações Serra da Saudade e Três Marias ocorrem
horizontalizadas, exibindo juntas com máximos em torno de NNE e NW e raras dobras abertas, chevrons e
kinks, localizados, preferencialmente, nas proximidades do limite com o compartimento oeste (Fig. 4.14).

96
Contribuições às Ciências da Terra

Figura 4.14 Orientação das principais estruturas observadas ao longo do compartimrnto leste (região de Morada
Nova de Minas). (A) Roseta de juntas (J) e foto mostrando o padrão geral das mesmas estruturas em campo, em
arenitos da Formação Três Marias. (B) Diagrama do acamamento e foto de esporádica dobra aberta nos sedimentos
da Formação Três Marias.

4.4-ARCABOUÇO ESTRUTURAL DAS UNIDADES CRETÁCICAS

Restringindo-se às regiões topograficamente elevadas e topos de chapadas, as rochas dos grupos


Areado e Mata da Corda exibem, em imagens de satélite, lineamentos preferencialmente orientados na
direção NW, com máximo em torno de N10W e concentrações significativas em torno das direções
N40W, N80W e N35E (Fig. 4.6). Em mapa, na região do baixo Rio Indaiá, as rochas destas unidades
distribuem-se segundo a direção N30E, ao longo dos interflúvios das principais redes de drenagem, e
praticamente indeformadas.
97
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

Na área estudada, detectaram-se registros discretos do evento distensivo responsável pela


acumulação dos sedimentos do Grupo Areado, bem como conjuntos de fraturas que afetam toda a
sucessão cretácica. Estas últimas são sub-verticais e apresentam máximos em torno de N-S e WNW (Fig.
4.15). Embora persistentes ao longo das unidades cretácicas, não foram obtidos dados confiáveis para sua
caracterização genética e não serão aqui discutidas em detalhe.

Figura 4.15 Roseta mostrando os conjuntos principais de juntas das unidades cretácicas. À direita, as mesmas
estruturas afetando arenitos do Grupo Areado e associadas a feições de deferruginização.

4.4.1 Estruturas distensionais associadas à deposição do Grupo Areado

Embora expostos somente em algumas localidades do vale do Rio Borrachudo, sistemas de falhas
normais com direção preferencial N-S mostram-se associados a feições de crescimento na base do Grupo
Areado (Fig. 4.16). Possuem rejeitos relativamente pequenos e não passam de dimensões hectométricas,
sendo muitas vezes relacionadas a drag folds métricos desenvolvidos nas rochas do Grupo Bambuí. Além
destas estruturas, foram observadas, nas rochas do Grupo Bambuí, um conjunto de fraturas de
cisalhamento com direções variáveis em torno de NNE e NW e mergulhos altos a moderados.
Frequentemente, as suas superfícies encontram-se revestidas por óxido de manganês e estriados. Estas
estruturas se distinguem daquelas anteriormente descritas nos compartimentos leste e oeste do Grupo
Bamuí em função dos indicadores de movimento observados (Fig. 4.17). Foram descritas ainda, raras
juntas trativas com orientação NW e E-W.

98
Contribuições às Ciências da Terra

Figura 4.16 Afloramento próximo às margens do Rio Borrachudo, na região da Fazenda Pindaíbas (Ponto 505 –
Anexo 03). Pelitos dobrados do Grupo Bambuí (porção inferior) são cortados por feixe de falhas normais (280/85)
mergulhantes para oeste e responsáveis pelo espessamento localizado dos depósitos do Grupo Areado, assentados
sobre os pelitos neoproterozóicos através de discrodância erosiva e angular. Em laranja, seções rudíticas do Grupo
Areado.

99
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

Quando tratadas em programa de regressão tensorial (Win-Tensor 2.1.4 ®1), tanto as falhas
normais, quanto as juntas de cisalhamento indicam atuação de deformação distensional, com a tensão
principal máxima σ1 posicionada na vertical e as tensões principais intermediária (σ2) e mínima (σ3)
horizontais, orientados, respectivamente, segundo N57W e N33E (Fig. 4.17).

Figura 4.17 Paleotensões calculadas pelo Método dos Diedros Retos através de medidas de juntas cisalhantes e
falhas (A). Os diagramas mostram um regime de deformação distensional puro, exibindo índice R’=0.4 (sensu
Delvaux et al. 1997 apud Lipski 2002 ). (B) Junta cisalhante em pelito do Grupo Bambuí relacionada à deposição do
Grupo Areado. É possível notar a superfície estriada (Le) e coberta por óxido de manganês. Em (C) rosetas e
estereogramas mostrando as principais características dos planos e estrias medidos. Note que as juntas geralmente
orientam-se em torno de NNE e NNW, sendo associados as estrias com caimento predominantemente superior a 40º.
No programa foram incluídos dados coletados na região de Morada Nova de Minas, baixo Rio Indaiá e nas
proximidades do vale do Rio Borrachudo (região da Fazenda Pindaíbas). S1, S2 e S3 correspondem a σ1, σ2 e σ3,
respectivamente.

1
Programa cedido por Dr. D. Delvaux (Royal Museum for Central Africa - Dept. Geology & Mineralogy) e disponível em
http://users.skynet.be/damien.delvaux/Tensor/WinTensor/win-tensor_download.html.
100
Contribuições às Ciências da Terra

A coincidência entre as direções destas juntas (Fig. 4.17-c) e aquelas verificadas no Grupo
Bambuí (Fig. 4.14-a e 4.10), sugere importante reativação de estruturas pré-existentes. Embora necessite
de estudos mais detalhados, o regime deformacional e a orientação do campo de tensões obtido (Fig. 4.17)
indicam uma distensão perpendicular à direção das juntas plumosas documentadas no Grupo Bambuí (Fig.
4.9-c). Porém, nestas a disposição das franjas e da linha de propagação são indicativas de uma tensão
máxima posicionada na horizontal. Já as falhas normais, observadas na região do Rio Borrachudo (Fig.
4.16), exibem orientação coincidente com os traços estruturais do compartimento oeste.

4.5-EVOLUÇÃO ESTRUTURAL DA REGIÃO DO BAIXO INDAÍA

Como demonstram os dados anteriormente apresentados, pelo menos três fases de deformação
distintas podem ser caracterizadas na região estudada (Tabela 4.2). A fase D1, de caráter distensional, afeta
o embasamento e unidades Pré-Bambuí. A fase D2, responsável pelas estruturas compressionais
observadas no Grupo Bambuí, desenvolveu-se em nível estrutural raso/intermediário e correlaciona-se à
fase de deformação principal De descrita por Muzzi-Magalhães (1989) para áreas próximas a sul. A fase
D3 se superpõe às fases anteriores e representa o evento formador da Sub-bacia Abaeté, tal como descrito
por Sawasato (1995) na região de Presidente Olegário.

4.5.1 A Fase D1 e a estruturas pré-Bambuí

A fase de deformação D1 relaciona-se a estruturação do embasamento e deposição das unidades


pré-Bambuí. Foi responsável pela acomodação da associação Pb1 (Fig. 3.1) através de um sistema de
horsts e grabens de orientação geral NE-SW, internos ao Alto Estrutural de Três Marias (Fig. 4.3). A
contemporaneidade entre o tectonismo e a deposição destas unidades é evidenciada pelo recorrente
crescimento de seções associados a falhas normais. Tais feições podem ser observadas nas seções sísmicas
0240-0295 e 0240-0293 (Figs.s 3.1, 4.12 e 4.13).

Como indicam as seções sísmicas, a associação Pb1 é coberta pelas unidades da associação Pb2
através de uma sutil discordância angular. A ausência feições de crescimento e truncamentos internos,
além da continuidade lateral dos refletores sísmicos associados a esta sequencia revelam a evolução para
um ambiente tectônico relativamente mais calmo.

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Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

Tabela 4.2 Relação das principais fases de deformação, etapas e estruturas associadas que afetam as unidades
estratigráficas analisadas ao longo da região do baixo Rio Indaiá.
FASE ETAPA ESTRUTURAS ASSOCIADAS

D1 -  falhas normais de direção preferencial NE, afetando o embasamento e parte das


unidades pré-Bambuí.

 descolamentos alojados na base do Grupo Bambuí, dobras e falhas de empurrão de


orientação geral N-S (Falha de João Pinheiro, Falha do Rio Borrachudo, Falha de
Traçadal, Sinclinório do Canastrão, entre outras);
E1
 estrias com espaçamento milimétrico perpendiculares aos eixos das mesodobras (B);

D2  juntas de cisalhamento orientadas preferencialmente segundo N60E e N45W, e juntas


plumosas WNW.

 zonas transcorrentes sinistrais de direção NW (Zona de Transcorrência de Paineiras e


Zona de Transcorrência da Serra Vermelha).
E2
 dobras e juntas da etapa E1, rotacionadas e dispersas segundo os corredores
transcorrentes.

 falhas normais de direção N-S;


D3 -
 juntas de cisalhamento (estriadas) de direção NNE e NW.

Uma vez que os depósitos das unidades pré-Bambuí e estruturas associadas não afloram na área
estudada, não foi possível analisar o significado tectônico da fase deformacional D 1. Entretanto, se
comparadas a interpretações sísmicas mais regionais (Coelho 2007, Zalán & Romeiro-Silva 2007, Hercos
2008), as associações Pb1 e Pb2 poderiam correlacionar-se aos sistemas Espinhaço/Araí,
Canastra/Paranoá ou Macaúbas. Esta correlação pode ser verificada na continuidade sísmica da associação
Pb2 (Fig. 4.18) em direção a região da Serra do Cabral, localizada na porção oriental da Bacia do São
Francisco. Nesta região, as unidades Pb1 e Pb2 podem ser correlacionadas às rochas do Supergrupo
Espinhaço superior e da Formação Jequitaí. Tal correlação indica, grosseiramente, que a fase D1
desenvolveu-se entre o Paleoproterozóico e Neoproterozóico Inferior, intervalo de deposição destas
unidades litoestatigráficas (Machado et al. 1989, Martins-Neto & Alkmim 2001).

102
103
Figura 4.18 Interpretação simplificada das seções sísmicas 0240-0295 (a), 0240-0298 (b) 3 0240-0296 (c) mostrando a continuidade dos principais
refletores sísmicos ao longo de toda porção centro-sul da Bacia do São Francico. É possível notar que, embora quase desapareçam no Alto de Três
Marias, as unidades Pré-Bambuí, em especial a associação Pb2 (superior), ocorrem desde a região do baixo Rio Indaiá até a região da Serra do Cabral,
onde afloram. A composição mostra ainda o contraste estrutural entre as bordas leste e oeste da bacia. Nestas regiões observa-se, respectivamente,
Contribuições às Ciências da Terra

estilo deformacional thick skinned e thin skkined.


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4.5.2 A Fase D2 e a Saliência de Três Marias

A segunda fase de deformação (D2) promoveu a geração do cinturão de dobras e empurrões que
afeta os sedimentos neoproterozóicos do Grupo Bambuí. Os indicadores de paleotensões observados
sugerem que, durante esta fase, atuou um campo compressional com a tensão principal máxima σ1 sub-
horizontal e orientada aproximadamente segundo WNW.
A ausência de metamorfismo e a escassez de estruturas tectônicas formadas em grande
profundidade indicam para a fase D2, condições de nível crustal relativamente raso. Além disso, a
predominância de dobras simétricas e normais como as principais formas de acomodação da deformação,
associada ao número relativamente pequeno de falhas de empurrão, pode implicar em baixo coeficiente de
fricção de ambas as superfícies de descolamento atuantes no processo de desenvolvimento do cinturão
(e.g.: Ribeiro 2001). A predominância de dobras kink e chevrons gerados durante esta fase pode ser
explicada, entre outros fatores, pelo caráter laminado e a baixa fricção entre os estratos dos pelitos e
arenitos finos do Grupo Bambuí (Ramsey & Huber 1987, Twiss & Moores 2007). Dessa forma, as estrias
(Le) perpendiculares aos eixos de dobra, freqüentemente observadas sobre as superfícies de acamamento
(So) indicam a atuação do mecanismo de deslizamento interestratal (Fig. 4.11).
As relações de corte e superposição entre as estruturas da fase D2 permitem a individualização de
duas etapas deformacionais principais, aqui designadas por E1 e E2.
Na etapa E1 foram formadas as grandes superfícies de descolamento desenvolvidas próximo à base
do Grupo Bambuí, bem como as megadobras e falhas de empurrão com direção geral N-S associados.
Dentre estas últimas destacam-se as falhas de João Pinheiro, Pontal, do Rio Borrachudo e de Traçadal
(Anexo 02). Neste episódio, desenvolveram-se ainda as dobras mesoscópicas e principais traços
estruturais orientados entre NNW e NNE que compõem os domínios SE, SW e N (Fig. 4.10) do
compartimento oeste (CO).
O diacronismo na geração das estruturas durante a etapa E1 é indicado pelas diferentes superfícies
de descolamento observadas em seções sísmicas e que emergem em superfície como as falhas do Rio
Borrachudo e de Traçadal ( Figs.s 4.12 e 4.13). Com a propagação do descolamento em direção a leste, as
estruturas mais antigas, posicionadas acima do segmento preexistente foram deformadas passivamente. Ou
seja, a superfície de descolamento pretérita foi corrugada, as dobras preexistentes reapertadas e as falhas
rotacionadas em direção ao pós-país.
Embora as estruturas da fase anterior (D1) não tenham sofrido reativações significativas durante
esta etapa, as irregularidades condicionadas pelas mesmas parecem ter sido responsáveis pela emersão do

104
Contribuições às Ciências da Terra

descolamento basal identificado em superfície na forma da Falha do Rio Borrachudo e nucleado durante a
etapa E1 (Fig. 4.13).
Na etapa E2, o desenvolvimento das zonas transcorrentes sinistrais de Paineiras e Serra Vermelha
foi responsável pela rotação anti-horária e dispersão dos eixos de dobra (B) e traços estruturais formados
na etapa anterior, segundo corredores de direção geral NW (Figs. 4.10-d e 4.10-e, Anexo 02).
O aparente caráter transferente da Zona Transcorrente de Paineiras sugere para esta estrutura
história complexa e atividade desde a etapa E1, quando funcionou limitando dois setores de encurtamento
distinto. A norte da Zona Transcorrente de Paineiras o encurtamento foi acomodado na forma de grandes
dobras, cujas charneiras caem para ENE, ao passo que, a sul, grande parte da deformação se acomodou
através de uma falha de empurrão.
Descrita de forma semelhante por Magalhães (1989) e Bacellar (1989), ao longo da porção
ocidental da Bacia do São Francisco, a fase de deformação D2 pode ser diretamente relacionada à
evolução da Faixa de Dobramentos Brasília, durante o fim do neoproterozóico. Conforme estes autores, tal
deformação desenvolveu-se tardiamente em relação às primeiras fases compressivas que afetaram o
orógeno brasiliano a oeste.
Uma vez considerado o modelo de bacia de antepaís para a deposição do Grupo Bambuí (Martins-
Neto & Alkmim 2001), como é indicado pelas idades de zircões detríticos em siltitos da Formação Sete
Lagoas (Rodrigues 2008), é possível inferir que a fase de deformação D2 desenvolveu-se, na área
investigada, após a deposição dos sedimentos da Formação Três Marias lá preservados. As seções
sísmicas não mostram qualquer espessamento das unidades do Grupo Bambuí nas proximidades das falhas
de empurrão, nem quaisquer outras feições de crescimento.
É importante notar, entretanto, que tanto a freqüente alternância de depósitos carbonáticos
plataformais e seções pelíticas na Formação Serra da Saudade, quanto a composição e vetores de
dispersão sedimentar das unidades de topo do Grupo Bambuí (Fig. 3.8), sugere ambiente deposicional
tectonicamente influenciado (Chiavegatto 1992, Martins & Lemos 2007). Tal influência aparentemente foi
responsável pelo soterramento abrupto dos carbonatos do Membro Felixlândia e pelo padrão shallowing
upward observado ao longo dos depósitos neoproterozóicos (Figs.s 3.3, 3.4, 3.5 e 3.7).

4.5.2.1 Saliência de Três Marias

A grande curvatura convexa para o antepaís das estruturas D2 ao longo da área estudada
corresponde de uma feição típica de cinturões de dobras e empurrões. Curvaturas dessa natureza foram

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Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

estudadas ao longo das últimas décadas por diversos autores (e.g.: Marshak 1988, Macedo & Marshak
1999), que distinguem dois tipos genéticos básicos: as rotacionais (oroclinais) e as não rotacionais. Os
tipos rotacionais correspondem às curvaturas geradas após o desenvolvimento das estruturas principais,
enquanto no tipo não-rotacional a curvatura é desenvolvida contemporaneamente à nucleação das
estruturas dominantes (Marshak 1988).
Segundo Macedo & Marshak (1999), curvaturas com convexidade voltada para o antepaís são
comumente designadas de saliências, enquanto curvaturas com concavidade voltada para o antepaís são
denominadas recessos ou reentrâncias.
Dentre os principais mecanismos de formação destas estruturas, destacam-se (Ribeiro 2001,
Marshak 2004):

 Os obstáculos impostos por irregularidades do embasamento.


 A geometria da bacia envolvida na deformação.
 Variações abruptas do coeficiente de fricção do descolamento basal.
 Mudanças na espessura das seções estratigráficas.
 Influência de agentes endentantes e a direção de convergência durante a deformação.
 Arqueamento de um cinturão retilíneo.

Aqui denominada Saliência de Três Marias, a estrutura observada ao longo da região homônima
engloba, em seu interior um pequeno par saliência/recesso definido pela Falha do Rio Borrachudo (Fig.
4.19). Os dados levantados neste trabalho, comparados a estudos regionais da Bacia do São Francisco,
mostram que diferentes mecanismos atuaram em conjunto durante a fase D2 na modelagem das geometrias
desta estrutura. Enquanto variações na espessura do Grupo Bambuí ao longo do eixo N-S da bacia
parecem ter exercido papel principal no desenvolvimento da saliência, irregularidades locais do
embasamento foram responsáveis pela formação do pequeno par saliência/recesso subordinado à estrutura
regional. Como principais fatores para sua formação têm-se:

Espessamento estratigráfico

 Conforme observado em seções sísmicas, poços e levantamentos regionais, a espessura do Grupo


Bambuí varia de algumas centenas de metros nas regiões dos altos de Sete Lagoas e Januária (Fig.
4.1) (e.g.: Dardenne 1981, Fugita & Clark 2001, Zalán & Romeiro-Silva 2007, Coelho 2007) até
alguns quilômetros na região de Remanso do Fogo (Buritizeiro – MG). Embora não tenham sido

106
Contribuições às Ciências da Terra

convertidas em profundidade, as seções sísmicas analisadas neste trabalho sugerem uma espessura
relativamente maior para o Grupo Bambuí na região do baixo Indaiá, se comparadas às demais
seções analisadas por Coelho (2007) e Hercos (2008). Tais observações sugerem que o depocentro
da “Bacia Bambuí” é aproximadamente coincidente com a culminação da Saliência do Baixo Rio
Indaiá. Tal relação está em conformidade com diversas saliências controladas pelo espessamento
sedimentar documentadas ao redor do mundo (Ribeiro 2001, Macedo & Marshak 1999).
 A expressão da Falha de Traçadal como um fault-propagation-fold no ápice da saliência (região
de Morada Nova) é uma feição frequentemente associada às zonas de maior espessura sedimentar
envolvidas pelos cinturões de dobras e falhas (Fig. 4.19-d).

Recesso/saliência associados à Falha do Rio Borrachudo x Estruturas do embasamento

 A coincidência entre o traço em superfície da Falha do Rio Borrachudo e a elevação do


embasamento, mostrada pelas seções sísmicas e mapas geofísicos potenciais (Figs. 4.3, 4.4, 4.12,
4.13, Anexo 02), indica que esta feição profunda foi responsável pela emersão da Falha do Rio
Borrachudo e sua orientação na região do baixo Rio Indaiá.
 O estreitamento entre os traços estruturais nas proximidades do recesso (região de Águas Claras;
Fig. 5.2) é uma feição comumente observada em modelos analógicos para cinturões controlados
por irregularidades do embasamento (Macedo & Marshak 1999, Marshak 2004).
 A orientação, posição e cinemática sinistral da Zona Transcorrente de Paineiras sugere que, pelo
menos em parte da sua história evolutiva, a zona atuou como zona transferente na borda sul da
irregularidade do embasamento.

Em âmbito regional, pode ser destacada a influência dos sistemas de falhas direcionais conjugadas
descritas por Magalhães (1989) e Bacellar (1989) ao longo da borda oeste da Bacia do São Francisco.

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Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

Figura 4.19 Ilustração mostrando a influência das estruturas da bacia e espessura sedimentar na geometria curva do
cinturão de falhas e dobras (a, b, c e d). Os desenhos à direita de cada figura mostram os traços das falhas gerados
em modelo de caixa de areia (Retirado de Marshak 2004). (f) Mapa de lineamentos e principais traços estruturais da
ao longo da região do baixo Rio Indaiá. A linha tracejada corresponde ao limite externo da Saliência de Três Marias.
A estrutura exibe geometria complexa com um par saliência/recesso definido pela Falha do Rio Borrachudo (3) e
mostra convergência geral dos traços estruturais na porção sudoeste da área. No vértice da saliência a Falha de
Traçadal (4) se manifesta como um fault-propagation-fold. (1) Falha de João Pinheiro. (2) Falha do Pontal. Cidades:
TM - Três Marias, Mn – Morada Nova de Minas, Pa – Paineiras e Sga – São Gonçalo do Abaeté.

108
Contribuições às Ciências da Terra

4.5.3 Fase D3 e a formação da Sub-Bacia Abaeté (Cretácio Inferior)

A fase de deformação D3 se superpõe às fases anteriores e é responsável pela geração da bacia


cretácica que recebeu os sedimentos do Grupo Areado. Afeta os depósitos do Grupo Bambuí e é
responsável pela geração de falhas normais de direção N-S e sistemas de juntas de cisalhamento em torno
de NW e NNE (Figs. 4.16 e 4.17). Dados preliminares mostram que tais estruturas foram desenvolvidas
segundo campo de tensão distensional puro, com σ1 sub-vertical e σ3 horizontal e orientado na direção
N33E (Fig. 4.17). Neste momento, a reativação de estruturas pré-existentes é sugerida pela coincidência
entre os elementos gerados na fase D2 e as atitudes das juntas e falhas atribuídas à fase D3.
Sob o ponto de vista regional, esta fase correlaciona-se ao evento formador da Sub-Bacia Abaeté,
contemporâneo à abertura do Atlântico Sul no Eocretáceo (Campo & Dardenne 1997). Estruturas
atribuídas a este evento foram detalhadamente descritas por Sawasato (1995) na região de Presidente
Olegário. Segundo o autor, nesta região, a atuação de vetores tectônicos similares aos obtidos para fase D3
(Fig. 4.17) foi responsável pela reativação negativa da Falha de João Pinheiro e o conseqüente
espessamento máximo dos depósitos cretácicos do Grupo Areado.
A coincidência entre as juntas cisalhantes de direção NNE atribuídas a esta fase de deformação
(Fig. 4.17) e a forte orientação dos rios Abaeté, Borrachudo e Indaiá, sugere que tais estruturas
desempenharam importante papel na modelagem geomorfológica regional. Segundo Alkmim & Martins
Neto (2001), falhas normais sinistrais de direção NE são comuns na região e podem ser relacionadas a
tectonismo posterior à fase D3.
Embora descritos por diversos autores (Sawasato 1995, Campos & Dardenne 1997b), os dados
obtidos neste trabalho não são suficientes para individualizar fases ou eventos deformacionais posteriores
ao Cretáceo Inferior. Entretanto, é importante ressaltar que os conjuntos de fraturas com direção N-S e
NW (Fig. 4.15), que afetam principalmente os sedimentos do Grupo Areado, parecem representar
elementos nucleados posteriormente à fase D3.

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Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

Figura 4.20 Esquema evolutivo da região centro-oeste da Bacia do São Francisco, no baixo Rio Indaiá. D1, D2 e D3 correspondem às fases
de deformação identificadas. 1: Falha de João Pinheiro, 2: Falha do Rio Borrachudo e 3: Falha de Traçadal.
CAPÍTULO 5
SOBRE O CONTROLE ESTRUTURAL DAS EXSUDAÇÕES DE GÁS
NATURAL DO VALE DO RIO INDAIÁ

5.1 - INTRODUÇÃO

Conhecidas desde o fim da década de 80, as exsudações de gás natural do vale do Rio Indaiá
constituem atualmente importantes feições prospectivas para hidrocarbonetos na Bacia do São Francisco.
Com o objetivo de caracterizar um possível controle estrutural das exsudações de gás na região do baixo
Rio Indaiá, são discutidas a seguir as principais relações entre tais emanações e as principais estruturas
descritas nos capítulos anteriores. São aqui consideradas tanto as emanações do vale do Rio Indaiá (Porto
de Corredeiras e nas proximidades da foz na Represa de Três Marias), quanto novo ponto descrito mais a
norte, na região da Serra Vermelha (Ponto 566, Fig. 5.2-b, anexos 01 e 02).

5.2-BREVE HISTÓRICO DO RECONHECIMENTO DAS ZONAS DE EXSUDAÇÃO DE


GÁS NA BACIA DO SÃO FRANCISCO

As primeiras menções sobre a presença de hidrocarbonetos na Bacia do São Francisco são


atribuídas ao Pe. Joaquim Veloso de Miranda, a pouco mais de 200 anos atrás (Pinto et al. 2001). Pe.
Joaquim Miranda teria encontrado vestígios de um tipo de óleo negro e inflamável na região de Urucuia
(adjacências de Paracatu), do qual foram, posteriormente, enviadas amostras para Portugal. Anos mais
tarde, durante a década de 60, o crescente interesse prospectivo para hidrocarbonetos em bacias
proterozóicas levou a PETROBRÁS aos primeiros estudos em torno de sistemas petrolíferos em Minas
Gerais (Fugita & Clark 2001). Entretanto, tais estudos indicaram probabilidade muito baixa à nula para a
ocorrência de hidrocarbonetos na Bacia do São Francisco.

Depois de acidentalmente constatada a existência de gás natural em poços rasos de água (região de
Montalvânia) e a retomada de levantamentos realizados pela PETROBRÁS durante os anos 70 e 80,
foram descobertas as primeiras zonas de emanação natural de gás na região de Remanso do Fogo (Fugita
& Clark 2001). Em 1988, a extinta METAMIG (englobada pela atual CODEMIG) indicava, pela primeira
vez, importantes exsudações de gás ao longo dos rios Borrachudo e Indaiá, nas proximidades da Represa
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

de Três Marias (Projeto METAMIG-PETROBRÁS 1989 in Signorelli et al. 2003). Pioneiro no estudo do
controle estrutural das emanações naturais de gás de Remanso do Fogo, Oliveira (1998) aponta estruturas
de direção NE e NW como principais condicionantes das emanações na região de Remanso do Fogo.

5.3-CONTROLE ESTRUTURAL

As zonas de exsudação de gás ocorrem no interior de uma estrutura sinformal com caimento para
NNE e balizada a oeste pela Falha do Rio Borrachudo. As emanações podem ser observadas tanto na
região de Porto de Corredeira e proximidades da Represa de Três Marias, quanto em córrego a SW da
Serra Vermelha, onde as rochas do Grupo Bambuí encontram-se fracamente deformadas (Anexo 02).

Quando posicionados em seções sísmicas, as exsudações de Porto de Corredeiras e das


proximidades da Represa de Três Marias relacionam-se a pequenas falhas de empurrão enraizadas na
porção inferior do Grupo Bambuí. Embora mostrem geometria similar à flor positiva na seção, estas falhas
parecem refletir a compressão na zona axial interna de dobramento suave (Fig. 5.1), gerado na fase de
deformação D2. Os seepages de Serra Vermelha, por outro lado, guardam alguma relação
descontinuidades que cortam apenas a porção superior do Grupo Bambuí. Tais estruturas, aparentemente,
associam-se à Zona Transcorrente de Serra Vermelha (Fig. 5.1, Anexo 02).

Em mesoescala, as emanações orientam-se, preferencialmente, segundo a direção NW, sendo


localmente associados a dobras suaves e de proporções até decamétricas (Fig. 5.2-a). Por vezes, são
descritas exsudações alinhadas em torno de N-S. Ambas as orientações de escape podem ser diretamente
relacionadas com estruturas pré-cambrianas, bem como descontinuidades cretácicas que afetam o Grupo
Bambuí. Conforme discutido anteriormente, a direção NW corresponde tanto à orientação das juntas
trativas da fase de deformação D2 (Fig. 4.9) quanto à direção de maior extensão relacionada ao campo de
tensões cretácico (Fig. 4.17). Por outro lado, em torno da direção N-S orientam-se as falhas normais e
juntas de cisalhamento (com componente normal) associadas à fase de deformação D3 (Fig. 5.2-d).

112
Figura 5.1 Seção sísmica 0240-
0293 em tempo duplo
(TWT/ms). As linhas tracejadas
destacam as descontinuidades
(traço pontilhado) próximas às
zonas axiais das dobras
regionais e relacionadas às

113
zonas de exsudação de gás
natural (estrelas). Note que, na
região de Porto Corredeiras,
estas descontinuidades se
assemelham a estrutura em flor
positiva e, aparentemente,
relacionam-se a acomodação da
deformação durante o
dobramento. É notável ainda,
que todas as zonas de emanação
de hidrocarbonetos ocorrem
associadas ao alto do
embasamento. I: Embasamento;
II: Unidades pré-Bambuí; II:
Grupo Bambuí (inferior e
superior BI e BS,
respectivamente). TM: Três
Marias; Ti: Tiros; Mn: Morada
nova de Minas e Co: Corinto.
Contribuições às Ciências da Terra
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

Figura 5.2 Exsudações de gás em córrego na região de Serra Vermelha (Morada Nova de Minas) (a e b) e no baixo
Rio Indaiá (c). As setas vermelhas indicam os pontos de emanação. Em (a) é possível observar os seeps alinhados
segundo a direção NW e sua relação com flanco de antiforme suave ao fundo. (d) Falha normal oblíqua cretácica
(fase de deformação D3) em arenito da Formação Três Marias, cuja direção parece influir localmente na orientação
das exsudações de hidrocarbonetos.

Tal cenário mostra importante controle estrutural no escape dos gases ao longo das regiões
analisadas. Os dados apresentados sugerem que, com a migração de zonas mais profundas, os fluidos
tendem a emanar em superfície aproveitando, preferencialmente, estruturas de caráter distensional.
Conforme mostrado, estas descontinuidades foram geradas tanto durante a fase de deformação
compressional D2 (neoproterozóico) quanto durante a fase distensional pura D3 (Eocretáceo).
Aparentemente, a acumulação ao longo das zonas de charneira de antiformes suaves locais tende a
114
Contribuições às Ciências da Terra

favorecer o escape dos gases e sua consecutiva visualização em superfície.


É importante notar que, quando analisados em mapa (Anexo 02), parte dos seepages
documentados orienta-se conforme a direção do Rio Indaiá (N30E). Como discutido no Capítulo 4, esta
forte orientação da drenagem pode se relacionar tanto à estruturas eocretacicas (Hasui & Haralyi 1991 in
Sgarbi et al. 2001) quanto a elementos gerados em tectonismos posteriores à fase D3. Tal fato sugere a
influência de mais de duas gerações de estruturas no controle de escape dos gases. Por outro lado, a
orientação em mapa pode, simplesmente, ser conseqüência da dificuldade de visualização das emanações
fora de cursos d’água.

Outro ponto interessante, também revelado pelo exame das zonas de exsudação em mapa, é que
todos os pontos de ocorrência de gás descritos, bem como os apresentados pelo Projeto METAMIG-
PETROBRÁS (1989 in Signorelli et al. 2003), distribuem-se ao longo do ápice da Saliência de Três
Marias. Segundo Macedo & Marshak (1999), quando visualizados em planta grande parte dos campos de
hidrocarbonetos em bacias foreland em torno do mundo ocorrem segundo a culminação de saliências
controladas pela bacia. Os autores atribuem tal associação às diversas similaridades compartilhadas entre
os pré-requisitos geológicos para a geração e acumulação dos hidrocarbonetos e os fatores controladores
das saliências, como a espessura sedimentar e a estruturação dos depósitos. Ao mesmo tempo em que o
espessamento estratigráfico favorece o maior volume de rochas geradoras/reservatório, o mesmo controla
a localização do ápice da saliência e culminações de dobras regionais. Este tipo de estrutura comumente
funciona como trapa em sistemas de hidrocarbonetos.
O aparente espessamento sedimentar da seção neoproterozóica (Cap. 4.5) e a ocorrência local de
unidades contendo matéria orgânica no Grupo Bambuí (Cap. 3.3) na área de estudo, sugerem contexto
similar ao observado por Macedo & Marshak (1999). Levando em conta estas observações, é possível
presumir que a distribuição em mapa das zonas de exsudação do vale do baixo Rio Indaia e da região da
Serra Vermelha parece refletir ainda, a distribuição dos sistemas de hidrocarbonetos em sub-superfície.

115
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

116
CAPÍTULO 6

CONCLUSÕES

Do estudo realizado na região do Baixo Indaiá podem ser tidas as seguintes conclusões:

1) Cinco unidades estratigráficas maiores ocorrem na região.

a. As unidades pré-Bambuí (Pb1 e Pb2), visualizadas em seções sísmicas, não afloram. A


Unidade Pb1 é representada por refletores descontínuos, marcados por uma série de
trucamentos internos, e constantes feições de crescimento, se assentando
discordantemente sobre o embasamento da bacia. A Unidade Pb2 exibe poucas reflexões
internas e recobre, através de uma discordância angular, a Unidade Pb1. Ambas as
sucessões tendem a se espessar nos sentidos norte e leste da área estudada.

b. O Grupo Bambuí, neoproterozóico, constitui dois domínios principais em seções sísmicas:


Bambuí Inferior (BI) e Bambuí Superior (BS). Estes pacotes são definidos por refletores
sub-paralelos, e aparentemente, contínuos por grande parte da porção centro-sul da Bacia
do São Francisco. Em superfície, o grupo é representado principalmente pelas rochas
carbonáticas e pelito-arenosas plataformais das formações Lagoa do Jacaré e Serra da
Saudade. Adicionalmente, esta última formação hospeda os dolomitos e biolititos de
rampa carbonática do Membro Felixlândia, além de lentes pelíticas ricas em matéria
orgânica. Em grande parte correlacionáveis ao domínio superior interpretado nas seções
sísmicas, estas sucessões passam gradualmente, em direção ao topo, para os tempestitos
arenosos e arcoseanos da Formação Três Marias, definindo um ciclo do tipo shallowing
upward.

c. Os sedimentos cretácicos do Grupo Areado correspondem, predominantemente, a arenitos


eólicos, com afloramentos esparsos de depósitos aluviais e lacustres e que se assentam
através de uma discordância angular e erosiva sobre as unidades neoproterozóicas do
Grupo Bambuí. Estas sucessões são localmente recobertas pelas rochas vulcanoclásticas e
epiclásticas do Grupo Mata da Corda, neocretácico.
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

2) As estruturas reconhecidas na região são relativas a três fases de deformação:

a. A fase distensional D1 envolve apenas o embasamento e a porção inferior das unidades


pré-Bambuí (Pb1). É representada por falhas normais de direção NE que, em conjunto,
definem um sistema de grabens e horsts, internos ao Alto Estrutural de Três Marias.
Crescimento de seções comumente associadas a estas descontinuidades sugerem alguma
contemporaneidade entre o tectonismo e a deposição da Unidade Pb1.

b. A fase D2, de caráter compressivo, envolve apenas os sedimentos neoproterozóicos do


Grupo Bambuí em um cinturão epidérmico e vergente para o antepaís. Este cinturão
corresponde à expressão intracratônica da Faixa Brasília e, aparentemente, se desenvolveu
em nível crustal relativamente raso, com tensão principal máxima (σ1) orientada em torno
de WNW. As estrutural D2 formam uma grande saliência regional, a Saliência de Três
Marias, controlada pela geometria da bacia. Relações de corte e superimposição das
estruturas permitem o reconhecimento de duas etapas distintas durante esta fase: E 1 e E2.
Durante a etapa E1 foram formadas as grandes superfícies de descolamento desenvolvidas
próximo à base do Grupo Bambuí, bem como as megadobras e empurrões com direção
geral N-S que compõem a Saliência de Três Marias. Estas estruturas definem um leque
imbricado vergente para leste e cujo sistema de propagação de falhas se desenvolveu em
direção ao antepaís (piggyback thrusting). Durante a segunda etapa de deformação (E2)
foram nucleadas as zonas de transcorrência sinistrais de direção geral NW. Estas zonas
são responsáveis pela dispersão dos eixos de dobra e rotação das estruturas da etapa
anterior.

c. A fase de deformação D3 relaciona-se ao desenvolvimento da Sub-Bacia Abaeté, no


Cretáceo Inferior, quando foram geradas falhas normais de direção N-S, que controlam
localmente a deposição das unidades basais do Grupo Areado, além de juntas cisalhantes
NNE e NW. Estas estruturas foram geradas em um campo distensional puro, com a tensão
máxima (σ1) sub-vertical e a tensão mínima (σ3) horizontal e orientada segundo N33E.

3) Os dados obtidos sugerem que as exsudações de gás natural do vale do Rio Indaiá e região da
Serra Vermelha são controladas por estruturas de, pelo menos, duas fases de deformação distintas.
A migração sub-superficial parece ocorrer através de grandes descontinuidades associadas a

118
Contribuições às Ciências da Terra

estruturas regionais da fase D2 e o escape, ao longo juntas plumosas (trativas) e estruturas


distensionais de direção NW, das fases D2 e D3, respectivamente.

4) A íntima associação das zonas de escape de hidrocarbonetos com a culminação da Saliência de


Três Marias, gerada durante a fase D2, sugere algum controle desta estrutura sobre a distribuição
das acumulações sub-superficiais de hidrocarbonetos e, conseqüentemente, sobre as exsudações.

119
Reis, H. L. S. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na região de emanações de gás...

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Anexos
ANEXO 01 - Mapa Estrutural da região do baixo Rio Indaiá, SW da Bacia do São Francisco (MG)
Contextualização Geotectônica 45°45'0"W 45°30'0"W 45°15'0"W 45°0'0"W

ESTRATIGRAFIA

Coberturas cenozócas

Unidades cretácicas
c

O
Grupo Bambuí (c: unidades carbonáticas)

ISC
a eté
Ab

C
R io

AN
FR
O

s
l ma ESTRUTURAS

O
TM

RI
A
das

18°15'0"S
e r ra 05 Acamamento Orientação de
S Acamamento horizontal junta plumosa
10
Eixo de dobra Estria
(Alkmim & Martins-Neto 2001 in Pedrosa-Soares et al. 2010) 60
75
Junta Clivagem

Imagem Ternária
Antiforme/Anticlinal/Anticlinório
(Lasa 2007)
do
Amn Anticlinal de Morada Nova
Sga orr
ac
hu
Antiforme/Anticlinal/Anticlinório inferido
o B
Ri
4

0240-0293
Sinforme/Sinclinal/Sinclinório

elha
Sc Sinclinório do Canastrão;

Serra Verm
ZTS Si Sinclinal do baixo Indaiá.
V Tr Sinforme/Sinclinal/Sinclinório inferido
0240
-029
4 6
-0 2 9
La 0240 Falha de empurrão 1 Falha de João Pinheiro; 2 Falha do
Sc Pontal; 3 Falha do Rio Borrachudo;
Falha de empurrão inferida 4 Falha de Traçadal.
18°30'0"S

ZTSV Zona Transcorrente da Serra Vermelha


baeté

Zona Transcorrente Sinistral


024 ZTP Zona Transcorente de Paineiras
0 -0
Rio A

295
Si Lineamento obtido por sísmica

l ad a
Ca Lineamento fotointerpretado

a Se
Bp Mn

Se r r
0240-029
8 CONVENÇÕES
Pontal A’
(Lasa 2007) A 3 Zona de exsudação de gás natural Perfil Geológico
A
5
0- 0 29 Seção sísmica
024

Amplitude do Sinal Analítico - ASA Jaguara


s l
ra

Represa Três Marias


Cla
as

Amn
ros

Rio/Ribeirão/Córrego
Ág u
sT
i
18°45'0"S

o do
eirã

Cidades
A’
Rib

2
TM - Três Marias; Pa- Paineiras; Mn - Morada Nova
de Minas; Sga - São Gonçalo do Abaeté
hudo
orrac

Distritos

Inda
Rio B

Rio

Ca - Canastrão; Bp - Bom Sucesso de Patos

Localidades
La - Lagoa; Tr - Traçadal
ZT
llmita

P
Pa
Serra do Pa

1
0 4 8 16 24 32
Km
Datum horizontal: South American 1969
(Lasa 2007) Declinação magnética no centro da área 22º7’ W, com
variação anual de 5’ W (NOAA’s Geophysical Center)
Ribeirão Ribeirão dos
Areado Tiros Rio Borrachudo Rio Indaiá Autoria: Humberto Luis Siqueira Reis
1000m (modificado e adaptado de Costa et al. 2011, Martins et al. 2011,
Knauer et al. 2011 e Reis 2011)
750m
Programa de Pós-Graduação em Evolução Crustal e
500m
Recursos Naturais (PPECRN) - EM - UFOP
A A’
0 8km
ANEXO 02 - Mapa Geológico simplificado da região do baixo Rio Indaiá, SW da Bacia do São Francisco (MG)
ESTRATIGRAFIA
Contextualização Geotectônica

COBERTURAS ALUVIONARES

COBERTURAS CENOZÓICAS

GRUPO MATA DA CORDA

GRUPO AREADO

O
SC
a eté
Ab

IC
Rio

AN
GRUPO BAMBUÍ

FR
O

as

O
Alm TM

RI
a s Formação Três Marias
r ad
Se r
Formação Serra c
da Saudade
(Alkmim & Martins-Neto 2001 in Pedrosa-Soares et al. 2010)
Subgrupo Paraopeba
Formação Lagoa c: unidades carbonáticas
Imagem Ternária do Jacaré
(Lasa 2007)
do
Sga orr
ac
hu

o B
Ri
4

0240-0293
ESTRUTURAS

elha
05 Acamamento Orientação de
Acamamento horizontal junta plumosa

Serra Verm
ZTS
V Tr 10
0240 Eixo de dobra Estria
-029 60
4 2 96
75
Junta Clivagem
-0
La 0 24 0
Sc Antiforme/Anticlinal/Anticlinório
Amn Anticlinal de Morada Nova
Antiforme/Anticlinal/Anticlinório inferido
baeté

024 Sinforme/Sinclinal/Sinclinório
0 -0 Sc Sinclinório do Canastrão;
Rio A

2 95
Si Sinclinal do baixo Indaiá.
Si Sinforme/Sinclinal/Sinclinório inferido

da
Se l a
Ca
Bp Mn Falha de empurrão

a
1 Falha de João Pinheiro; 2 Falha do

Serr
0240-029
8 Pontal; 3 Falha do Rio Borrachudo;
Pontal
Falha de empurrão inferida 4 Falha de Traçadal.
(Lasa 2007) 3
ZTSV Zona Transcorrente da Serra Vermelha
Zona Transcorrente Sinistral
ZTP
Amplitude do Sinal Analítico - ASA Jaguara Zona Transcorrente de Paineiras
s l
ra
Cla

Lineamento obtido por sísmica


as
ros

Ág u
s Ti
o do

CONVENÇÕES
e i rã
Rib

2 Cidades
Zona de exsudação de
gás natural
do

TM - Três Marias; Pa- Paineiras; Mn - Morada


u

Nova de Minas; Sga - São Gonçalo do Abaeté


rrach

295 Seção sísmica


0 -0

0 24
Inda
o
Rio B

Distritos
Rio

Represa Três Marias


Ca - Canastrão; Bp - Bom Sucesso de Patos
Rio/Ribeirão/Córrego
Localidades
ZT
mital

La - Lagoa; Tr - Traçadal
P
Pa
l
Serra do Pa

1
0 4 8 16 24 32
Km
Datum horizontal: South American 1969
(Lasa 2007) Declinação magnética no centro da área 22º7’ W, com
variação anual de 5’ W (NOAA’s Geophysical Center)

Autoria: Humberto Luis Siqueira Reis


(modificado de Costa et al. 2011, Martins et al. 2011,
Knauer et al. 2011 e Reis 2011)
Programa de Pós-Graduação em Evolução Crustal e
Recursos Naturais (PPECRN) - EM - UFOP
ANEXO 03 - Mapa de Pontos, região do baixo Rio Indaiá (MG)

TM
c e
b
d

e té a
Aba

eté
Rio

Ab a
Br

isco
04

Rio
0

c
Fran
áai
Ind

São
Ri o
Projeto Alto Paranaíba
BH

Rio
(CODEMIG/UFMG)

TM IX VIII VII BR262

IV V VI
III
II I

Legenda
Rio Borrachudo
e té

Bacia do São Francisco Represa de Três Marias Drenagem


Sga
Aba

BH BR

Cidade
04
0
Rodovia Área de Trabalho a Seções sísmicas
Ri o

3
0 2 4 0 -0 2 9

Poço 9PSB16-MG (CPRM/PETROBRÁS)


0 2 4 0 -0
2 94

Legenda
96
0 -0 2
024
253
Pontos
024
0-02
95
295 Seção sísmica
0 -0
0 24

Mn Represa Três Marias


0240-029
8 Rio/Ribeirão/Córrego

Cidades
TM - Três Marias; Pa- Paineiras; Mn - Morada Nova
de Minas; Sga - São Gonçalo do Abaeté
do
hu

Datum horizontal: South American 1969


aiá
ac

Ind

Declinação magnética no centro da área 22º7’ W, com


rr
Bo

variação anual de 5’ W (NOAA’s Geophysical Center)


Rio

Pa
Ri o

Autoria: Humberto Luis Siqueira Reis


Programa de Pós-Graduação em Evolução Crustal e
Recursos Naturais (PPECRN) - EM - UFOP

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